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Novo coNflito com o Grupo radical Hamaspõe em xeque a possibilidade de um acordode paz Na faixa de Gaza

Guerrasemfim

aprovou uma proposta de cessar-fogo, que logo foi rejeitada pelosdois lados. O Hamas, grupo extre-mista que governa Gaza, afirmouque a resolução não atendia aosinteresses do povo palestino. E ogoverno israelense afirmou que aofensiva continuaria até que oExército completasse sua missão.

O governo israelense buscoutransformar uma vitória militar(previsível, dada a diferença de for-ças) em um novo e imponente obs-táculo para a paz.“Há muitos anoso governo de Israel acredita queserá capaz de jogar a populaçãopalestina contra seus líderes.Jamais conseguiu”, diz o historia-dor israelense Tom Segev.

Foi por isso que, ante a vitóriado Hamas nas eleições municipaisde 2006 e a posterior expulsão dogrupo rival, Fatah, com quem Israelmantém negociações de paz, o go-verno israelense optou por reforçaro bloqueio a Gaza, enquanto dei-xava a economia da Cisjordânia (aoutra parte dos territórios pales-tinos) prosperar, com crescimentode 10% ao ano. A ideia era que,com menos roupas, frutas e atéágua, os palestinos deixariam deapoiar o Hamas. Só conseguiu au-mentar o ódio contra Israel.

A ofensiva israelense, que teveinício em 27 de dezembro, termi-nou oficialmente no dia 21 de ja-neiro, logo após a posse do presi-dente americano Barack Obama.

Com a ajuda do Egito, um novoacordo de paz foi firmado. Ficoudefinido que as agressões mútuasseriam suspensas por um ano,com possibilidade de renovaçãopor mais um — tempo conside-rado suficiente para que se elabo-re um plano mais consistentepara a pacificação da Palestina. Ogoverno israelense não gosta daideia de uma trégua com datamarcada nem vê no Hamas umcompromisso efetivo em parar dereceber armas contrabandeadas

lançamento de 3.484foguetes contra Israeldesde a desocupaçãoda Faixa de Gaza pelastropas israelenses, em

agosto de 2005, parecia prenunciarcom clareza uma resposta dura. EIsrael não poupou esforços: bom-bardeou seus alvos não só comataques aéreos, mas armou umaofensiva por terra em Gaza em re-taliação aos ataques palestinos. Oconflito, que se estendeu por 22dias e causou a morte de cerca de1.300 palestinos — entre eles 700civis —, mostra o quão difícil é

firmar um cessar-fogo duradourona região e indica que um acordode paz entre israelenses e palesti-nos é cada vez mais uma utopia.

Os ataques israelenses serviramnão apenas como resposta aos fo-guetes que estavam sendo lançadospelos palestinos a seu território,mas também como uma demons-tração de força de seu Exército e,principalmente, para reduzir a ca-pacidade militar do Hamas, acer-tando prédios e construções dogrupo político palestino.

Para tentar conter os conflitos,o Conselho de Segurança da ONU

israel mundo

O

DESTRUIÇÃOataques à faixa deGaza mataram 1.300palestinos e adiarama possibilidade detrégua na região

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Tom Segev, histo-riador, é especializado noconflito entre árabes eisraelenses. Com acessoaos documentos oficiaisde Israel, construiu umaobra polêmica sobre ahistória do país.

Como avaliar as mortes decivis em Gaza?Tom Segev – Elas nãoprecisavam ter ocorrido.É claro que o Exércitoisraelense não enviou umtanque para atacar umaescola de crianças. Mas,quando você resolve levara guerra para dentro deuma cidade superpopulo-sa como Gaza, já sabe queisso poderá acontecer.

É possível negociar como Hamas?Segev – Acho que deve-mos negociar, emboraestejamos falando depessoas que não sãoboas nem confiáveis. Elasnão consideram a vidahumana como o principalvalor. Pensam que Deus ea sua ideologia são maisimportantes. Por essarazão, conseguem enviarum garoto de 15 anospara explodir bombas nocentro de Tel Aviv e matarpessoas. O Hamas écapaz de esconder mísseisnas áreas residenciais dascidades, o que é uma ma-neira de forçar a popula-ção a aderir à luta armada.Mesmo assim, a negocia-ção é a única saída.

2 perguntas

conheça os principaisfatos Do embate entreisraelenses e palestinos:

Após a Segunda GuerraMundial, os judeus tomamparte da Palestina e criam em1948 o Estado de Israel. Atomada do território obrigaos palestinos que moravamlá a se refugiar na Cisjordâniae na Faixa de Gaza. Entre600 e 800 mil palestinosforam expulsos de suas casas.

Em 1967, os países deorigem árabe (Egito, Síria eJordânia) entram em guerracom Israel, por não aceitarema existência do país. O episó-dio, conhecido como Guerrados Seis Dias, terminoucom a vitória de Israel, queconquistou a Faixa de Gaza, aCisjordânia e a zona orientalde Jerusalém. Cerca de 800pessoas foram mortas.

Em 1987, os palestinosorganizam um levante contraa ocupação de Israel em Gazae na Cisjordânia. O movimen-to, chamado de primeira In-tifada, estendeu-se até 1993.Durante a revolta, é criado oHamas, grupo radical políticoe militar que luta pela criaçãode um Estado palestino.

Em 2005, após acordointernacional, Israel retiraseus colonos e tropas deGaza, mas mantém o controledas fronteiras. Dois anosdepois, o grupo islâmicoHamas ganha as eleições epassa a governar o território.Também em 2007, Israel eEgito impõem um bloqueioeconômico à região, por nãoaceitarem a vitória do Hamas.

60 anoSde confliTo

vÁ fundo

para ler• Israel e a Palestina, Gilberto Dupas. unesp• Israel, fábio bourbon. manole

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por meio de túneis clandestinos— a fonte dos foguetes que ater-rorizam as cidades perto da fron-teira com Gaza. Já o grupo pales-tino discordou da proposta egíp-cia no que se referia à retomadado diálogo com o Fatah, partidosecular que governa a Cisjordâniae que foi expulso de Gaza em2007. O Hamas defende a instau-ração de um regime islâmico emtoda a região — seu projeto incluia destruição do Estado de Israel.

Desde 1947, a comunidade inter-nacional propõe a solução de doisEstados na região, um para os ára-bes e outro para os judeus. Era es-se o teor da resolução da ONU queos árabes não aceitaram e que, apósuma guerra, levou à criação doEstado de Israel, em 1948. Com oacordo de Oslo, 45 anos depois, osdois lados pareciam ter finalmen-te rompido o impasse. Foi esseacordo que estabeleceu a adminis-tração da Autoridade Palestinasobre Gaza e a Cisjordânia. Logoficou claro que, se as negociaçõesentre os dois lados é difícil, as di-visões dentro de cada lado sãoainda mais complicadas.

Existe outra proposta: um Estadoúnico para judeus e palestinos, ad-ministrado por um governo secu-lar. “Se este modelo persistir, osterritórios palestinos vão virarguetos, e o sentimento de segrega-ção aumentará”, diz Naseer Aruri,do Instituto de Pesquisas Trans-Árabes. O problema é que emborao quadro final pareça ideal, é difícilimaginar as etapas que levariamaté ele sem que antes seja derra-mado muito sangue.

Da revista Época

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