gt estudos e pesquisas em espaço, trabalho, inovação e...

12
GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade Modalidade da apresentação: Comunicação oral A ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS NOS SETORES CULTURAIS E FUNCIONAIS, NA CIDADE DE NATAL/RN Resumo: O agrupamento dos setores culturais e funcionais sob a alçada da Economia Criativa veio chamar a atenção sobre estes últimos setores. Os setores funcionais incluem a moda, o design, a arquitetura e a publicidade e se constituem como um modelo econômico para os setores culturais ao apresentar o mercado como alternativa à dependência do financiamento público dos setores culturais, artísticos e patrimoniais. Desse modo, este artigo tem por objetivo demonstrar a importância da realização de eventos nos setores funcionais para divulgar projetos, produtos e serviços culturais dos profissionais e empresas do âmbito das criações criativas e funcionais. Desse modo, optamos pela pesquisa qualitativa concretizada a partir da realização de entrevistas semiestruturadas com responsáveis pela organização desses eventos, tomando como recorte territorial a cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte. Concluímos que apesar das dificuldades sentidas por esses profissionais para realizarem seu trabalho, os eventos são primordiais em uma cidade que vê crescer anualmente o número de profissionais e a oferta de produtos e serviços nos setores funcionais. Palavras-Chaves: Cultura. Eventos públicos. Economia Criativa. Setores culturais e funcionais. 1 INTRODUÇÃO O aumento da especialização e competitividade colocaram em pauta a necessidade de uma política de inovação. O âmbito cultural não é alheio a este desiderato e colocou no seu centro a necessidade de aumentar a criatividade no ciclo econômico dos produtos e serviços culturais e funcionais. A Economia Criativa definida pela primeira vez por John Howkins, em 2001, veio agregar os setores culturais, artísticos, patrimoniais e funcionais (HOWKINS, 2013). Por outro lado, veio marcar o desenvolvimento econômico, cultural e social, a partir dos setores referidos, gerando empregos e promovendo o surgimento de novas e

Upload: others

Post on 01-Nov-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e

Sustentabilidade

Modalidade da apresentação: Comunicação oral

A ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS NOS SETORES CULTURAIS E FUNCIONAIS, NA CIDADE DE NATAL/RN

Resumo: O agrupamento dos setores culturais e funcionais sob a alçada da Economia Criativa veio chamar a atenção sobre estes últimos setores. Os setores funcionais incluem a moda, o design, a arquitetura e a publicidade e se constituem como um modelo econômico para os setores culturais ao apresentar o mercado como alternativa à dependência do financiamento público dos setores culturais, artísticos e patrimoniais. Desse modo, este artigo tem por objetivo demonstrar a importância da realização de eventos nos setores funcionais para divulgar projetos, produtos e serviços culturais dos profissionais e empresas do âmbito das criações criativas e funcionais. Desse modo, optamos pela pesquisa qualitativa concretizada a partir da realização de entrevistas semiestruturadas com responsáveis pela organização desses eventos, tomando como recorte territorial a cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte. Concluímos que apesar das dificuldades sentidas por esses profissionais para realizarem seu trabalho, os eventos são primordiais em uma cidade que vê crescer anualmente o número de profissionais e a oferta de produtos e serviços nos setores funcionais.

Palavras-Chaves: Cultura. Eventos públicos. Economia Criativa. Setores culturais e funcionais.

1 INTRODUÇÃO

O aumento da especialização e competitividade colocaram em pauta a

necessidade de uma política de inovação. O âmbito cultural não é alheio a este

desiderato e colocou no seu centro a necessidade de aumentar a criatividade no

ciclo econômico dos produtos e serviços culturais e funcionais. A Economia

Criativa definida pela primeira vez por John Howkins, em 2001, veio agregar os

setores culturais, artísticos, patrimoniais e funcionais (HOWKINS, 2013). Por outro

lado, veio marcar o desenvolvimento econômico, cultural e social, a partir dos

setores referidos, gerando empregos e promovendo o surgimento de novas e

Page 2: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

inovadoras indústrias criativas que no Brasil se designam por setores criativos.

Esta combinação de valores econômicos e culturais é o que diferencia a Nova

Economia ou Economia Criativa dos setores econômicos tradicionais. De fato, a

atividade cultural nunca se assumiu verdadeiramente como setor econômico. No

entanto, hoje, os setores criativos são vistos como expressões do valor cultural e

econômico e têm um olhar crescente nas políticas nacionais e internacionais

(MIGUEZ, 2007).

Para a Organização das Nações Unidas sobre Comércio e

Desenvolvimento (UNCTAD), os setores criativos lidam com a interação de

vários setores que foram agrupados em quatro grandes categorias: Patrimônio,

Artes, Mídia e Criações funcionais. Estes, por sua vez, estão subdivididos em

nove subgrupos, conforme a Figura 1.

Figura 1: Classificação dos Setores Criativos (UNCTAD)

Fonte: UNCTAD, 2010.

Para a UNCTAD (2010), as indústrias culturais são consideradas como as

indústrias que “combinam a criação, produção e comercialização de conteúdos

que são intangíveis e culturais por natureza. Estes conteúdos são tipicamente

protegidos por direitos autorais e podem assumir a forma de bens ou serviços”.

São, também, “centrais na promoção e manutenção da diversidade cultural e na

Page 3: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

garantia de acesso democrático à cultura” (UNCTAD, 2010). Essa aliança entre

a cultura e a economia dá aos produtores culturais uma nova perspectiva

profissional.

Da mesma forma, as indústrias culturais foram definidas como um

conjunto de atividades econômicas que combinam as funções de criação,

concepção e produção de cultura com mais funções industriais, em grande

escala e comercialização de produtos.

Por volta de 1970, a Organização das Nações Unidas para a Educação,

a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Conselho da Europa, já realizavam

pesquisas sobre as indústrias culturais. Em 1988, ocorreu a Primeira

Conferência Internacional, nos Estados Unidos, com o tema: “Artes e a Cidade

em Transformação: uma agenda de regeneração urbana”; para discutir a relação

da vida na cidade com a cultura e a criatividade, destacando a cidade como um

ambiente favorável aos setores criativos. O pioneiro nessa associação foi o

inglês Charles Landry, ao introduzir o conceito de Cidade Criativa definido como

“lugar que permite ao indivíduo fazer parte da criação do ambiente em que vive.

Do ponto de vista da administração, é a cidade que encontra soluções criativas

e oportunidades interessantes para seus problemas.” (LANDRY, 2014).

Em 1994, a Austrália introduziu uma política cultural denominada “Nação

Criativa” com a seguinte justificativa:

Esta política cultural é também uma política econômica. A cultura cria riqueza. Em sentido lato, nossas indústrias culturais geram 13 bilhões de dólares por ano. A cultura cria emprego. Cerca de 336.000 australianos são trabalham em indústrias relacionadas com a cultura. A cultura agrega valor, trazendo uma contribuição fundamental para a inovação, o marketing e o design. É um símbolo de nossa indústria. O nível de nossa criatividade determina substancialmente a nossa capacidade de adaptação a novos imperativos econômicos. É uma exportação valiosa em si mesma e um acompanhamento essencial para a exportação de outras mercadorias. Ela atrai turistas e estudantes. É essencial para o nosso sucesso econômico. (AUSTRALIA, 1994).

Em 2004, em São Paulo (Brasil), realizou-se a XI Conferência Ministerial

da Conferência da UNCTAD. Foi o marco inicial para o fortalecimento do

desenvolvimento da Economia Criativa nos países do Sul. Uma consequência

desta Conferência, ao nível da política cultural brasileira deu-se em 2012, com a

criação da Secretaria da Economia Criativa (SEC), na dependência do Ministério

Page 4: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

da Cultura, com a aprovação do seu plano, políticas, diretrizes e ações para

o quadriênio 2011-2014 (CRUZ, 2014).

A SEC veio definir a Economia Criativa como:

a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta dos talentos criativos, que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços criativos. Por se caracterizar pela abundância e não pela escassez, a nova economia possui dinâmica própria e, por isso, desconcerta os modelos econômicos tradicionais, pois seus novos modelos de negócio ainda se encontram em construção, carecendo de marcos legais e de bases conceituais consentâneas com os novos tempos. (BRASIL, 2012).

No mesmo Plano da SEC, os Setores Criativos foram definidos como:

aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social. (BRASIL, 2012).

No entanto, consideramos que a definição de Economia Criativa carece de

precisão, pelo que concordamos com Cruz (2014) que a define pelas:

atividades econômicas que têm objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado. Deste modo, compreendemos o ciclo econômico de criação, produção, distribuição, difusão, consumo, fruição de bens e serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais ou artísticos. Afastamos desta concepção as atividades culturais e artísticas que não têm intuito econômico. O elemento simbólico e intangível são elementos que importam às atividades econômicas e que quando incorporados nestas, lhes altera o valor econômico. (CRUZ, 2014)

Nesse sentido, propomos definir os setores criativos como os

empreendimentos incluídos na Economia Criativa que têm por objeto a cultura e

a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor

do bem ou serviço prestado.

No Brasil, a partir do Plano da Secretaria da Economia Criativa foi adotado

um novo modelo de categorias culturais e de setores criativos que difere do

proposto pela UNCTAD. No entanto, entendemos com Cruz (2014) que não existe

divergências significativas, conforme se pode ver na Figura 2.

Page 5: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

Figura 2 – Comparação dos setores criativos, entre SEC e UNCTAD

Fonte: Cruz, 2014.

É de destacar, contudo que a UNCTAD agrupa na categoria cultural

“Criações Funcionais”, os setores criativos de design, novas mídias e serviços

criativos (Arquitetura, Publicidade, Cultural e Recreativo e Pesquisa e

Desenvolvimento criativo) enquanto a SEC denomina a categoria correspondente

de “Criações Culturais e Funcionais” agregando os setores da moda, design e

arquitetura.

Os setores criativos vêm participando do mercado global e ao mesmo

tempo como elementos de promoção da identidade local e das relações

internacionais, gerando aproximações entre as nações através da simpatia

provocada pelas manifestações culturais locais (WYSZOMIRSKI, 2004, p. 1).

Page 6: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

Profissionalmente, hoje, há uma demanda maior de produtores culturais e

artísticos devido ao reconhecimento dos setores que representam.

A organização e a realização de eventos são de fundamental importância

para a divulgação de bens e serviços, facilitando assim, a colocação destes no

mercado urbano, regional e mesmo nacional. Os eventos servem, ao mesmo

tempo, para se constituírem como mercados temporários facilitando, por isso, o

acesso aos consumidores. Os eventos culturais são capazes de reforçar ainda a

identidade e a diversidade cultural e, gerar renda para os profissionais da área,

além de os valorizar. Para a UNESCO, essa diversidade cultural é a força motriz

para o desenvolvimento, não só em relação ao crescimento econômico, mas

também como meio de incentivar valores morais, emocionais, intelectuais e

espirituais (BRASIL, 2012).

Deste modo, a organização de eventos culturais e funcionais favorece as

tendências da procura de atividades culturais, acompanhadas pelo crescimento

da oferta. Ademais, os eventos culturais e funcionais podem ser vistos como

fatores de renovação e revitalização de espaços públicos, não só do setor

econômico, mas também ao nível das competências paisagísticas, como da

preservação do patrimônio cultural e histórico. Trata-se, por isso, de eventos que

influenciam positivamente a imagem externa e interna de uma cidade ou território.

2 OS EVENTOS NA CIDADE DE NATAL

A pesquisa se caracteriza como qualitativa, uma vez que procuramos

compreender a realização e organização de eventos no âmbito da categoria das

criações criativas e funcionais. Neste sentido, foram considerados os setores

criativos da Moda, Design, Arquitetura e Publicidade. A principal técnica de

pesquisa utilizada foram as entrevistas semiestruturadas com

profissionais/produtores culturais. A opção pela tipologia da entrevista

semiestruturada permitiu-nos aprofundar as questões que constavam no roteiro

de entrevista, sempre que se mostrou necessário. O roteiro definiu como tópicos

passíveis de aprofundamento, os seguintes:

1. Divulgação dos eventos;

2. Estrutura do evento, tanto em termos físicos como humanos;

3. Fatores positivos e negativos com a realização do evento;

Page 7: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

4. Influência da cidade de Natal nos eventos;

5. Políticas Públicas ou medidas necessárias para a organização dos

eventos.

Foram entrevistados profissionais que organizaram ou participaram de

forma direta na organização de eventos na cidade de Natal:

Pedro Lacerda, Assistente do Núcleo de Arte e Cultura (NAC) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); membro na

organização da Cientec Cultural, especialmente na Semana de

Ciência, Tecnologia e Cultura da UFRN;

Mateus Tinôco, designer; organizou a Debulha, evento de

estudantes de Design da UFRN;

Verônica Melo, gestora do SEBRAE - Rio Grande do Norte (RN);

promoveu um desfile para mostrar os resultados do projeto da

Indústria da Moda do RN;

Luíza Islau, publicitária; produtora de eventos independentes com

artistas locais e festivais de cinema, com foco no evento Coletivo

Músicas Instrumentais;

Gustavo Guedes, produtor cultural; trabalha com o projeto de

audiovisual UrbanoCine.

A) Divulgação dos eventos

As redes sociais ganharam o gosto popular e invadiram a vida da grande

maioria das pessoas pela praticidade de contato com o público-alvo, além de

serem plataformas de comunicação interativa gratuita de fácil acessibilidade.

Assim, para divulgar seus eventos, os produtores culturais, em grande maioria,

utilizam as redes sociais. Usam, por isso, as páginas públicas do Facebook e

perfis no instagram para divulgar seus trabalhos e ideias. Porém, alguns eventos

como a CIENTEC e a Debulha ainda possuem outras características de

divulgação como a afixação de cartazes e a distribuição de panfletos em locais

públicos, para além da página web institucional.

B) Estrutura do evento, em termos físicos e humanos

A maioria dos eventos não demandam uma grande estrutura física. O

Page 8: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

Coletivo só precisa de um espaço disponível e som de boa qualidade. É um

evento de características colaborativas composto por 20 membros que se

dividem em direção, produção, publicidade e direção de arte. Natal Pensando

Moda está dividido em várias equipes: cabeleireiro, maquiagem, modelos e

produção. É tudo produzido por empresas contratadas, inclusive, o próprio local

em que se realiza o evento que é, geralmente, o teatro. Para a Debulha, o espaço

utilizado é o Departamento de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte e conta com a ajuda voluntária dos alunos do curso de Design. O

UrbanoCine, também, não necessita uma mega estrutura, mas de espaço para

a exibição de filmes, de caixas de som e de um telão. Hoje tem uma equipe de

12 pessoas. Já a CIENTEC trabalha com uma estrutura de grande porte. Com

grandes palcos e iluminação e esta, consequentemente, é a que precisa de uma

grande quantidade de pessoas para planejar, auxiliar e apoiar na montagem

dessa estrutura.

C) Fatores positivos e negativos para a realização do evento

Os principais aspectos positivos abordados na CIENTEC é a interação

entre os alunos e o público com intuito de incentivar e expor pesquisas e

apresentações culturais. Para a Debulha, é citada a satisfação do sucesso do

evento a cada ano e a oportunidade de poder ter contato com pessoas de grande

influência no setor do design. No Natal Pensando Moda é comentada a vontade

das empresas participarem e a forma de desenvolver um novo modelo de

coleção. O Coletivo encontra de positivo o “feeling” das bandas, a interação entre

elas e o público, como forma de divulgação, também. O UrbanoCine, nesse

aspecto, mostrou a satisfação em ver aceitação do público ligados aos pedidos

de retorno do evento ao local realizado.

Quanto às dificuldades encontradas, cada evento tem sua peculiaridade.

Na CIENTEC, foi fácil notar que, apesar de ser um grande evento, com uma

grande circulação de pessoas, ainda deixa a desejar por falta de recursos

financeiros suficientes, com cortes orçamentais, principalmente na área cultural.

Para a Debulha, evento de Design da UFRN, o financeiro também é apontado

como dificuldade, mas, além disso, é apontado a falta de conhecimento das

pessoas em relação ao design. Para o Natal Pensando Moda, do SEBRAE, não

foram citados fatores negativos. Para o Coletivo, as dificuldades começam nas

Page 9: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

estruturas físicas, como som, por exemplo, dos bares de Natal para receber os

músicos aliados ao evento, destacando também a falta de regulamentação e

incentivo para a realização do evento em praças, anfiteatros e espaços públicos

em geral. Já para o UrbanoCine, a maior dificuldade encontrada é o espaço e

em seguida, o processo de sedução para encontrar apoios, por ser um evento

que necessita de um orçamento elevado.

D) Influência da cidade de Natal nos eventos

Dos eventos pesquisados, o Debulha não tem características locais já que

procura promover a aplicação de conhecimentos locais e globais, no mundo do

design. A CIENTEC tem a sua programação cultural voltada para a apresentação

de artistas, como dançarinos e músicos, da cidade ou do RN. Natal Pensando

Moda tem inspiração local, visível nas estampas das roupas com traços da

cultura potiguar, bem como da estrutura física e natural de Natal e do próprio RN.

O Coletivo também trabalha com músicos e bandas de Natal, no intuito de

divulgá-las. Já o UrbanoCine divulga filmes e documentários que podem ou não

ter influência local.

E) Políticas Públicas ou medidas necessárias para a organização dos

eventos

Foram citadas várias políticas e medidas que podem favorecer esses

eventos. Desse modo, os entrevistados revelaram a falta de oficinas de

interiorizações atreladas às políticas de incentivo. Alguns eventos são

beneficiados pelo poder público, como por exemplo, através da lei Rouanet que

é de incentivo à cultura. Verificamos ainda, a demanda de abertura de editais

sem tantas restrições e burocracia que permitam dar a conhecer o artista como,

também, o patrimônio cultural, locais. Políticas voltadas para a economia criativa

também foram citadas como incentivo às ações que envolvam diversos grupos

de artistas que mostrem sua arte para fortalecer e potencializar as riquezas do

estado. No geral, para esses produtores, uma política que poderia beneficiar a

área da cultura seria a regulamentação/regularização da organização de eventos

no setor cultural e criativo.

Page 10: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Economia Criativa é um modelo de gestão que tem como princípio o

desenvolvimento de produtos e serviços dos setores culturais e funcionais,

gerando emprego e renda, através da utilização de novas tecnologias. Para isso,

propõe ainda repensar o ciclo econômico, propondo soluções de integração de

setores econômicos tradicionais com os setores culturais, artísticos, patrimoniais

e funcionais. Como podemos perceber, a Economia Criativa trouxe para pauta a

relevância econômica dos referidos setores culturais e funcionais. Desta

maneira, percebemos a necessidade de aumentar a participação dos setores

criativos na economia brasileira.

Para o desenvolvimento das atividades culturais e, consequentemente,

para o desenvolvimento dos setores criativos, nota-se a importância da

realização de eventos como forma de dinamizar os referidos setores. Estes

eventos permitem não apenas divulgar produtos e serviços culturais, artísticos,

patrimoniais e funcionais, mas também aumentar as fontes de renda, a partir das

vendas geradas nos mesmos.

A organização de eventos na categoria cultural das Criações Criativas e

Funcionais na cidade de Natal se mostra assim de extrema importância. Durante

as entrevistas realizadas com os coordenadores e membros da coordenação de

eventos dos setores funcionais, verificamos a dificuldade sentida pelos mesmos,

em realizar seu trabalho no RN, nomeadamente para conseguirem espaço e

incentivos. Há, no entanto, que relevar o caráter empreendedor dos

organizadores dos eventos no âmbito das Criações Criativas e Funcionais que

pode ser estimulado pelo Poder Público. Desse modo, de acordo com as

Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa, os empreendedores devem

procurar soluções no mercado para fazerem face à ausência de financiamento

público para a organização de eventos culturais. No entanto, é exigível dos

poderes públicos o apoio à organização dos mesmos que muitas vezes, não se

reduz a questões financeiras. Dar visibilidade aos eventos das Criações

Culturais e Funcionais é bom para profissionais e a oferta de bens e serviços,

mas também para a dinâmica econômica da cidade de Natal e do próprio estado

do Rio Grande do Norte.

Page 11: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

REFERÊNCIAS

AUSTRALIA. Creative nation: Commonwealth cultural policy, Office for the Arts. 1994. Disponível em: <http://apo.org.au/node/29704>. Acesso em: 04 Jun 2015 BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: Políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014. Brasília: Ministério da Cultura. 2012. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/documents/10913/636523/PLANO+DA+SECRETARIA+DA+ECONOMIA+CRIATIVA/81dd57b6-e43b-43ec-93cf-2a29be1dd071. Acesso em: 11 Dez 2015. BUFELLI, L. A importância dos eventos culturais – agregando valores à população. Espaço RP. 2012. Disponível em: https://espacorp.wordpress.com/2012/04/04/a-importancia-dos-eventos-culturais-agregando-valores-a-populacao/. Acesso em: 10 Ago 2015. CRUZ, F. M. R. Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus na cidade de Natal/RN. In: Linhares, Bianca de Freitas et al., (orgs). [Anais do] IV EICS - Encontro Internacional de Ciências Sociais: espaços públicos, identidades e diferenças, de 18 a 21 de novembro de 2014. Pelotas, RS: UFPel. 2014. HOWKINS, J. Economia Criativa – como ganhar dinheiro com ideias criativas. São Paulo: M. Books. 2013. LANDRY, C. Charles Landry, consultor: 'Maioria das cidades não ensina o cidadão a pensar'. O Globo. 2014. Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/charles-landry-consultor-maioria-das-cidades-nao-ensina-cidadao-pensar-13955043. Acesso em: 9 Dez 2015. MIGUEZ, P. Economia criativa: uma discussão preliminar. In: NUSSBAUMER, Gisele Marchiori (Org.). Teorias & políticas da cultura: visões multidisciplinares. Salvador: EDUFBA. 2007. p. 95-113 NEWBIGIN, J. A Economia Criativa: um guia introdutório. Londres: British Council. 2010. Disponível em: http://creativeconomy.britishcouncil.org/media/uploads/files/Intro_guide_-_Portuguese.pdf. Acesso em: 10 Dez 2015. OLIVEIRA, J. M.; ARAUJO, B. C.; SILVA, L. V. Panorama da Economia Criativa no Brasil. IPEA – Texto para Discussão. Rio de Janeiro: IPEA. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1880.pdf. Acesso em: 10 Dez 2015.

Page 12: GT Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e ...seminario2016.ccsa.ufrn.br/assets/upload/papers/2c8f392f... · GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação

SANTOS, D. Políticas públicas para o desenvolvimento da economia criativa: estudo comparativo do plano da Secretaria da Economia Criativa (Brasil, 2013) e o relatório da Economia Criativa (UNCTAD, 2010). Trabalho de Conclusão de Curso. Natal, RN: UFRN. 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/15732033/Pol%C3%ADticas_P%C3%BAblicas_para_o_desenvolvimento_da_economia_criativa_estudo_comparativo_do_Plano_da_Secretaria_da_Economia_Criativa_Brasil_2011_e_o_Relat%C3%B3rio_de_Economia_Criativa_UNCTAD_2010_. Acesso em: 8 Dez 2015. UNCTAD. Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável. Genebra: Nações Unidas. 2010 WYSZOMIRSKI. M. J. Defining and Developing Creative Sector Initiatives. In: Creative Industries: A measure for urban development? Viena: Fokus/Wiwipol, 2004. p. 25-57. Disponível em: <http://www.fokus.or.at/fileadmin/fokus/user/downloads/ reader.pdf>. Acesso em: 06 mar 2014.