Área temática: Ensino de Administração

Grounded Theory: Uma Análise de Procedimentos Metodológicos utilizados em Trabalhos Científicos no Brasil

AUTORES EDVALDA ARAUJO LEAL Universidade Federal de Uberlandia edvalda@facic.ufu.br LUCIMAR ANTÔNIO CABRAL DE ÁVILA Universidade Federal de Uberlândia lcavila@ufu.br Resumo: Dentre as metodologias utilizadas para a consecução de pesquisas de cunho qualitativo, encontra-se a teoria fundamentada ou teoria embasada, também conhecida por Grounded Theory, cujo diferencial concentra-se na possibilidade de geração de novos preceitos teóricos com base na observação de fenômenos sociais e a interpretação humanística. O objetivo do presente trabalho é identificar as publicações nacionais na área de Administração que utilizaram a abordagem metodológica qualitativa da Grounded Theory, e verificar se as publicações que adotaram o método de fato atendem os procedimentos e as fases metodológicas propostas por Pandit (1996), Guba e Lincoln (1982), Merriam (1998), Strass e Corbin (1998) e Goulding (2002) para determinar a teoria fundamentada, elencando as categorias conceituais da teoria substantiva. Para tanto, o objeto de estudo foram os principais periódicos da área de Administração no Brasil – RAE, RAC, RAUSP e O&S – e ainda os anais do ENANPAD. O período avaliado foi de 2000 a 2009. Por meio de análise de conteúdo, foram analisados 25 trabalhos científicos nacionais. Constatou-se a ausência, em um número significativo de artigos analisados, da circularização entre as fases de coleta e de análise de dados, o que restringe a qualidade da teoria substantiva proposta pelo método em estudo. Palavras-chaves: grounded theory; procedimentos; metodológicos Abstract Among the methods used to achieve a qualitative research, is grounded theory or theory based, also known as Grounded Theory, which focuses on the differential ability to generate new theoretical principles based on observation of social phenomena and humanistic interpretation. The aim of this study is to identify national publications in the area of administration that used the qualitative methodological approach of Grounded Theory, and whether the publications that have adopted the method in fact meet the procedures and the methodological steps proposed by Pandit (1996), Guba and Lincoln (1982), Merriam (1998), Strass and Corbin (1998) and Goulding (2002) to determine the grounded theory, listing the conceptual categories of substantive theory. Therefore, the object of study were the main journals of Directors in Brazil - RAE, RAC, RAUSP and O & S - and still the annals of

ENANPAD. The reporting period was from 2000 to 2009. Through content analysis, we analyzed 25 national scientific papers. It was noted the absence in a significant number of articles analyzed the circularization between phases of data collection and data analysis, which restricts the quality of substantive theory proposed by the method under study. Keywords: grounded theory, procedures, methodological

1. INTRODUÇÃO A constante busca pela melhoria e aperfeiçoamento da qualidade dos trabalhos

acadêmicos produzidos no Brasil, e a adoção de metodologias de pesquisa adequadas podem determinar a diminuição ou eliminação de equívocos conceituais que permeiam inúmeras publicações científicas, principalmente, no campo da pesquisa qualitativa. A investigação qualitativa emprega diferentes argumentações de conhecimento, estratégias de pesquisa e métodos de coleta e análise de dados. Esses, se não forem perfeitamente interpretados e compreendidos, podem ocasionar desvios nos processos de pesquisa e viés nos resultados alcançados (DENZIN e LINCOLN, 2006).

A pesquisa qualitativa é emergente, e não estritamente pré-configurada, o que exige a transparência, coerência e comunicabilidade, que são indicadores de credibilidade para a abordagem qualitativa (AUERBACH e SIVERSTEIN, 2003). A amplitude de possibilidades derivadas de pesquisas qualitativas constitui-se de um ferramental vasto para as mais diversas áreas da pesquisa, mas sua utilização carece de cuidados e observações cruciais à aplicação de modelos e metodologias adequadas para a retratação dos fenômenos sociais. As diversas técnicas aplicadas à pesquisa qualitativa derivam da necessidade de adequada rotinização de procedimentos, almejando vislumbrar inferências lógicas, e sem juízo de valor para modificação ou transformação por parte do pesquisador. Manter o caráter restrito de observação e interpretação da realidade vivenciada é essencial para o fiel cumprimento dos requisitos de reconhecimento de um novo fundamento teórico.

Dentre as metodologias utilizadas para a consecução de pesquisas de cunho qualitativo, encontra-se a teoria fundamentada ou teoria embasada, também conhecida por Grounded Theory, cujo diferencial concentra-se na possibilidade de geração de novos preceitos teóricos com base na observação de fenômenos sociais e a interpretação humanística (GOULDING, 2002; BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2007). Justamente pela peculiaridade que permite ao pesquisador a observação da realidade e seu relato sob a forma de teoria substantiva, a Grounded Theory carrega a necessidade de estabelecimento de rigor metodológico preciso, pois negligenciar as diversas etapas e rotinas prescritas como fundamentação aos resultados que serão obtidos pode significar uma desorientação na atribuição de preceitos teóricos aos fenômenos estudados. Nesse sentido, o presente estudo objetiva identificar as publicações nacionais na área de Administração que utilizaram a abordagem metodológica da Grounded Theory, e verificar se as publicações que adotaram o método de fato atendem os procedimentos e as fases metodológicas propostas por Pandit (1996), Guba e Lincoln (1982), Merriam (1998), Strass e Corbin (1998) e Goulding (2002) para determinar a teoria fundamentada, elencando as categorias conceituais da teoria substantiva.

Para o alcance do objetivo proposto, delimitou-se o objeto de estudo, que foram os principais periódicos da área de Administração no Brasil – RAE, RAC, RAUSP e O&S – e ainda os anais do ENANPAD, tendo sido avaliado o período de 2000 a 2009. Para operacionalização do estudo, foram analisados os trabalhos científicos que apresentaram o tipo de pesquisa empírica, utilizando-se a análise de conteúdo para o tratamento e apresentação dos dados. Também foram identificadas as características substantivas e qualitativas dos estudos analisados.

A estrutura do artigo é composta por cinco seções. Após esta introdução, é apresentada a revisão da literatura sobre a pesquisa qualitativa e o método Grounded Theory. Na terceira seção, explicita-se a metodologia da pesquisa, com caracterização da base de dados e a forma de sua obtenção, subdivisão e classificação. A quarta trata das discussões dos resultados e, na quinta, são apresentadas as considerações finais.

2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Características da Pesquisa Qualitativa

A Pesquisa Qualitativa é fundamentada no modelo interpretativista, e constitui-se de uma amplitude de investigação relevante pela diversidade de potencialidades que gera para o campo da teorização, e pelo uso de múltiplas formas na obtenção de dados, que são interativos e humanísticos. As informações possibilitam a compreensão de diversos fatores e entendimentos ou conceitos atribuídos ao cotidiano pelos indivíduos, o que permite uma visualização da realidade em seus cenários naturais. Isso significa que a interpretação dos dados, feita pelo pesquisador, na pesquisa qualitativa, filtra esses dados por meio de uma lente pessoal em determinado momento sociopolítico e histórico específico, o que impossibilita a não interpretação pessoal na análise de dados qualitativos (DENZIN e LINCOLN, 2006; ROSSMAN e RALLIS, 1998).

Os estudos que aplicam a metodologia qualitativa buscam descrever a complexidade de determinado problema de pesquisa e compreender de forma adequada a natureza de um fenômeno social. Nesse contexto, Richardson (1989) aborda o que o método proporciona à pesquisa: “analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos”.

Os procedimentos de coleta de dados na pesquisa qualitativa incluem determinar no estudo as modalidades para a obtenção de informações, como: entrevistas semi-estruturadas, observações, documentos e materiais visuais (DENZIN e LINCOLN, 2006; CRESWELL, 2007). Esses autores consideram que as diversas modalidades de coleta de dados, sejam escritos verbais, formais ou informais, com o uso de imagens ou documentação, dentre outros, constituem o instrumental que ampara o vasto arcabouço de mecanismos utilizados em pesquisa qualitativa para se retratar o cotidiano das pessoas.

As pesquisas de campo qualitativas, em relação aos procedimentos metodológicos, exploram as técnicas de observação e entrevistas com o objetivo de penetrar na complexidade do fenômeno em estudo, e as pesquisas documentárias buscam analisar o conteúdo e a análise histórica. Os procedimentos para o registro de dados podem ser por meio de: um protocolo observacional para registrar os dados de observação, ou mesmo o protocolo ou formulário para registrar as informações; um protocolo de entrevista para registrar informações durante uma entrevista qualitativa; e o registro de documentos e materiais visuais baseados em estrutura de anotações (RICHARDSON, 1989; CRESWELL, 2007).

Para a análise e interpretação dos dados na pesquisa qualitativa, é necessário: extrair sentido dos dados de texto e imagem; envolve preparar os dados para analise; aprofundar-se no entendimento dos dados; fazer representação e interpretar o significado mais amplo dos dados (CRESWELL, 2007). Nesse processo, inclui-se a codificação dos dados para gerar uma descrição do cenário ou dos indivíduos, além das categorias ou dos temas para análise. A coleta e a análise de dados devem ser processos simultâneos na pesquisa qualitativa (MERRIAM, 1998).

A validação dos resultados da pesquisa, segundo Creswell (2007, p.200), “é vista como um ponto forte da pesquisa qualitativa, mas é usada para determinar se os resultados são acurados do ponto de vista do pesquisador, do participante ou dos leitores”. A validação depende de todas as etapas desenvolvidas no estudo qualitativo. É importante destacar que esta validade vem acompanhada de confiabilidade, ou seja, a capacidade que devem ter os instrumentos utilizados de produzir medições constantes quando aplicados a um mesmo fenômeno, pois interferem inclusive na generalização dos resultados (RICHARDSON, 1989).

Alguns pesquisadores da área de metodologia apontam que a estruturação metodológica constituída na abordagem qualitativa tem-se demonstrado muitas vezes inadequada, concentrada exclusivamente na prática, principalmente, com o predomínio de estudos de caso, mas que não atendem às exigências do protocolo padrão previsto para esta estratégia de pesquisa, e tem frágil validação acadêmica (MERRIAM, 1998). A ausência de consistência metodológica gera uma baixa qualidade para as pesquisas qualitativas.

O estudo proposto neste trabalho busca identificar a aplicabilidade dos procedimentos metodológicos indicados pelo método qualitativo da Grounded Theory, que apresenta como principal característica a construção de uma teoria substantiva (GLASER E STRAUSS, 1967). No próximo tópico, são delineados os conceitos, as características, os procedimentos e as fases metodológicas propostas pelo método. 2.2 Grounded Theory: abordagem metodológica aplicada à pesquisa qualitativa

A estruturação metodológica utilizada de forma correta na realização de trabalhos de pesquisa constitui-se condição indispensável para a obtenção de contribuições teóricas fundamentais para o desenvolvimento científico. Algumas metodologias de pesquisa exigem, além de requisitos normais de fundamentação teórica ou empírica e sua correta evidenciação, roteiros ou passos primordiais para o atingimento dos objetivos do estudo proposto, sob pena de se invalidar os esforços do pesquisador pela ausência de rigor metodológico inerente ao formato de pesquisa escolhido.

O processo de pesquisa da Grounded Theory consiste em uma coleta direcionada de dados, concomitante com sua análise, com o objetivo de gerar uma teoria substantiva sobre fenômenos ou processos sociais. É caracterizada como uma metodologia indutiva de percepção e transformação de observações em teorias, amparada por procedimentos delineados em fases de elaboração bem definidas, na busca por evidenciação empírica de fatos que permitam inferências acerca de fenômenos (GLASER; STRAUSS, 1967; CORBIN; STRAUSS, 1998).

A Grounded Theory tem origem no interacionismo simbólico, e abrange uma metodologia interpretativista de pesquisa, que busca compreender a realidade e explicar a ação coletiva como resultado da intersubjetividade dos indivíduos e suas relações com o ambiente e a sociedade (GOULDING, 2002; BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2007). A metodologia oferece uma multiplicidade de procedimentos que aumentam a credibilidade dos resultados, e encoraja a criatividade e a descoberta de problemas de pesquisa a serem investigados, e que retratam a realidade e a interação dos sujeitos envolvidos.

A busca pela definição de uma teoria, utilizando a Grounded Theory, consiste em uma gama de procedimentos metodológicos no sentido de angariar subsídios para a fixação de preceitos teóricos inerentes à observação da realidade. Esses procedimentos devem perpassar por rotinas conjuntas e constantes, buscando uma condução capaz de propiciar o aperfeiçoamento contínuo do processo de obtenção de informações, codificação, categorização e análise desses dados (BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2007).

O rigor metodológico na aplicação das técnicas propostas pela Grounded Theory está ligado ao uso de múltiplas fontes de obtenção de dados, conhecida como triangulação (GUBA e LINCOLN, 1982; MERRIAM, 1998 e STRAUSS e CORBIN, 1998). Esses autores consideram que tais procedimentos evitam a geração de um viés na conduta da pesquisa. Elencam ainda outras técnicas imprescindíveis, como: a atenção especial das proposições teóricas encontradas; o confronto dos dados obtidos com os informantes ou respondentes; o cuidado de permanência na coleta de dados, com olhar especial ao momento de saturação dos dados obtidos, procurando refinar o processo de observação da realidade dos indivíduos

pesquisados; o tratamento de informações obtidas em contextos diferenciados, que podem trazer distorções parciais ou gerais aos dados encontrados; e ainda um processo chamado de auditoria, que procura identificar todos os procedimentos da pesquisa, desde a motivação para escolha do objeto até o cumprimento das etapas para o seu desenvolvimento e conclusão (BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2007).

Os autores Eisenhardt (1989); Pandit (1996) e Strauss e Corbin (1998) propõem um conjunto de procedimentos e técnicas para a construção da Grounded Theory, os quais podem ser apresentados como um roteiro (fases) para a aplicabilidade do método: desenho de pesquisa e definição da questão de pesquisa; trabalho no campo, com sobreposição de coleta e análise; ordenação e análise, com identificação das categorias conceituais e seus interrelacionamentos; amostragem teórica e teste das proposições; comparação das proposições com a literatura existente; e o fechamento, refino da teoria encontrada. Bandeira-de-Mello e Cunha (2007) propõem três características de processo de pesquisa com a Grounded Theory: balanceamento entre sensibilidade e objetividade; circularidade entre as fases de coleta e análise dos dados; e interação entre o pesquisador e a realidade dos sujeitos. A primeira demonstra a necessidade de o pesquisador abstrair-se de conceitos e julgamentos pré-concebidos ou avaliações baseadas em suas percepções passadas ou carregadas de crenças pessoais. Deve ater-se à observação da realidade e sua descrição interpretada. Na segunda característica, evidencia-se a necessidade de confrontos e comparações permanentes durante todo o processo de pesquisa, possibilitando o surgimento de evidências importantes para o trabalho, além de permitir um aprimoramento constante do modelo de obtenção de dados. Bandeira-de -Mello e Cunha (2007, p.252) ressaltam ainda que “a indissociabilidade entre as fases de coleta e análise de dados também se manifesta nas atividades de codificação”. Por fim, a terceira característica citada pelos autores conduz à necessidade de desenvolvimento de perspicácia por parte do pesquisador com o intuito de ser fidedigno aos aspectos observados na realidade pesquisada, e primordial no sentido de evitar interpretações dos fenômenos com base em conceitos pré-existentes, não circunscritos ao fenômeno estudado. Conforme preceituam Strauss e Corbin (1998), o método da Grounded Theory prevê a coerência com a realidade dos sujeitos envolvidos para a geração de uma teoria substantiva, considerando alguns elementos básicos como: conceitos, categorias e propriedades. Esses elementos são gerados por um processo interativo; não são gerados a priori e testados posteriormente. A ênfase na geração da teoria é a partir dos dados e não a partir da teoria existente. Nesse contexto, na sequência, é apresentado o percurso metodológico adotado para este estudo. 3. METODOLOGIA

O objetivo deste trabalho foi identificar as publicações nacionais na área de Administração que utilizaram a abordagem metodológica da Grounded Theory, e verificar se as publicações que adotaram o método de fato atendem os procedimentos e as fases metodológicas propostas por Pandit (1996), Guba e Lincoln (1982), Merriam (1998), Strass e Corbin (1998) e Goulding (2002) para determinar a teoria fundamentada, elencando as categorias conceituais da teoria substantiva.

O estudo proposto caracteriza-se como uma pesquisa exploratória e qualitativa, realizada por meio de pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo. Além de quantificar as publicações científicas, utilizando processos variados de levantamentos, tratamento e apresentação dos dados, foram identificadas as características substantivas e qualitativas dos estudos analisados.

A amostra da pesquisa (objeto da pesquisa) é composta por artigos publicados em periódicos e anais de evento científico nacionais na área de Administração. Um primeiro grupo de informações refere-se a dados gerais da produção cientifica: artigos publicados selecionados por ano em periódicos e anais, e a área temática dos trabalhos. Os dados são descritos nos tópicos a seguir. 3.1. A Base de Dados / Periódicos e Anais Científicos

As publicações consultadas, como fontes de dados para o levantamento dos artigos

nacionais (empíricos e teóricos) que constituem a amostra da pesquisa aqui proposta, foram: a Revista de Administração de Empresas (RAE), a Revista de Administração Contemporânea (RAC), a Revista de Administração da USP (RAUSP), a Revista Organização e Sociedade (O&S) e os Anais do Enanpad- Encontro Nacional dos Cursos de Pós-Graduação em Administração. O período analisado foi de 2000 a 2009.

Após a seleção dos periódicos e do evento acadêmico, foram selecionados os artigos a serem analisados. O critério utilizado foi a existência do termo Grounded Theory no título, resumo e/ou palavras-chave dos trabalhos. Quanto aos periódicos, foi utilizado o sistema de busca constante no site de cada um deles, e, quanto ao Enanpad, foram pesquisados os CDs dos anais do evento. A pesquisa foi realizada durante o mês de Março de 2010.

Posteriormente, foram selecionados, para a análise do estudo, vinte cinco artigos (tabela 1), tanto em estudos teóricos quanto aqueles que envolvem pesquisa empírica.

Tabela 1 – Artigos por Periódico/Enanpad

%RAE RAC RAUSP O&S ENANPAD TOTAL ANO

2000 - - - - - - -2001 - - - - 1 1 4%2002 - - - - - - -2003 - - - - - - -2004 1 1 - - 2 4 18%2005 - - - - 3 3 14%2006 - - - - 2 2 7%2007 - - - 1 4 5 21%2008 1 - - - 6 7 25%2009 - - - 1 2 3 11%

TOTAL 2 1 0 2 20 25 100%

NÚMERO DE ARTIGOSANO

Fonte: dados coletados pelos autores

É importante ressaltar que, durante o levantamento, verificou-se a ocorrência de três artigos publicados em duplicidade nas fontes pesquisadas, o que pode ser explicado pelo fato da seleção incluir, simultaneamente, os anais de congressos e revistas científicas. Optou-se, portanto, por excluir os artigos na referência dos anais do Enanpad, visto que nos periódicos foram feitas pequenas alterações nos trabalhos com o intuito de aumentar a qualidade da publicação.

Verifica-se na amostra de trabalhos analisados, em relação ao ano de publicação e aos anais do evento e periódicos em que foram publicados, um crescimento de mais de 100% (cem por cento) no número de artigos publicados no período de 2004 a 2009, sendo 4 artigos em 2004 e 10 artigos (2008 e 2009). A concentração de textos nos anais do ENANPAD sugere duas explicações distintas: de um lado, confirma-se que o método da Grounded Theory

tem recebido crescente atenção de representantes da academia; por outro, reflete a maior flexibilidade nos anais (eventos científicos), seja porque comporta maior número de artigos publicados concomitantemente, seja porque, tradicionalmente, acolhe temas emergentes e novas abordagens.

A reduzida presença de artigos nos principais periódicos da área, com a aplicação do método, no entanto, revela que a maior parte da produção difundida em eventos científicos (congressos) pode não estar sendo transformada em textos competitivos para a publicação nos periódicos melhor avaliados. Ressalta-se a que a representatividade das publicações (40%) em anais do Enanpad foi nos anos de 2008 e 2009, indicando que os trabalhos possam ter sido submetidos à avaliação dos periódicos e ainda não obtiveram respostas.

3.2 Área Temática dos Artigos Na tabela 2, são apresentados os artigos selecionados por área temática publicados nos anais do ENANPAD. Aqueles publicados em periódicos não contavam com áreas temáticas definidas, e portanto não são evidenciados. Em avaliação mais detalhada, foi possível identificar que: um desses artigos publicados em periódico se referia à temática estratégia empresarial; dois, a estudos organizacionais; um, a ensino e pesquisa em Administração; e um, à gestão de ciência e tecnologia. Tabela 2 – Área temática/Artigos Enanpad

2001 2004 2005 2006 2007 2008 2009Ensino e Pesquisa em Administração 1 2 1 2 6 30%Marketing 2 1 3 15%Estudos Organizacionais 1 1 5%Gestão de Pessoas e Relações de trabalho 1 1 5%Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação 1 1 2 10%Administração da Informação 1 2 3 15%Estratégia em Organizações 1 1 1 3 15%Contabilidade 1 1 5%TOTAL 1 2 3 2 4 6 2 20 100%

NÚMERO DE ARTIGOSÁREAS TEMÁTICAS TOTAL %

Fonte: Dados coletados pelos autores

Verifica-se que a área temática com maior representatividade de publicações com a utilização da abordagem metodológica da Grounded Theory foi Ensino e Pesquisa em Administração (30%), seguida por três áreas com (15%): Marketing, Administração da Informação e Estratégia em Organizações.

No próximo tópico, é apresentado o segundo grupo de informações que envolveram o planejamento do percurso analítico a ser seguido. 3.3 Delineamento da Estratégia de Investigação

O segundo grupo de informações, fundamentais para atender o objetivo proposto no

estudo, foi obtido pela análise de conteúdo em todos os artigos selecionados que utilizaram a pesquisa qualitativa com o método Grounded Theory. Cada trabalho foi lido e analisado, procurando-se desvendar a abordagem metodológica empreendida, as técnicas de coleta de dados e as fases propostas para validar a teoria substantiva. Organizou-se, então, uma ficha-resumo, com o objetivo de reter a identificação, o registro, o armazenamento das informações e a caracterização dos pressupostos implícitos de cada um dos artigos analisados, tomando por referência o modelo proposto por Antonello e Godoy (2009).

As informações obtidas foram organizadas a partir de características analíticas, conforme exposto no quadro 1, que reúnem informações de um ou mais campos da ficha-resumo, com o propósito de visualizar as informações de forma integral, sem perder de vista o artigo como um todo (ANTONELLO e GODOY, 2009).

Características Analíticas Campos da Ficha-ResumoFocos de Investigação - Caracterização do Periódico ou anais Identificação do Períodico ou anais - Título do Artigo Identificação do título - Área temática Temática do estudo - Questões de Pesquisa Objetivos do estudo - Objetivos dos estudos Objetivos e Natureza do estudo

Natureza do estudo Tipo de estudo

Bases teóricas Revisão de literatura, bases teóricas

Tipos de pesquisa Tipo de estudo

Amostra e/ou sujeitos pesquisados

Principais achados e resultados / teoria substantiva gerada

Análise metodológica aplicada à Grounded Theory baseada em Pandit (1996); Guba e Lincoln (1982); Merriam (1998); Strass e Corbin (1998) ; Golding (2002); Bandeira-de-Mello e Cunha (2007)

Percurso metodológico adotado com base teórica

Identificação da amostra e/ou sujeitos

Principais achados e resultados, evidenciação da teoria que emergiu dos dados.

Fonte: Adaptado de Antonello e Godoy (2009) Quadro 1 – Investigação Analítica

Foram registrados, nas fichas-resumos, os tópicos que permitiram caracterizar a natureza do estudo e os tipos de pesquisa. Assim, após leitura atenciosa e detalhada dos itens referentes à metodologia da pesquisa e à apresentação dos resultados, cada um dos vinte e cinco trabalhos, todos qualitativos, foi classificado como empírico (estudo de caso) ou teórico (ensaio teórico ou revisão da literatura). No quadro 2, é evidenciada a classificação dos tipos de pesquisas identificadas.

TIPOS DE PESQUISA PERIÓDICOS ANAIS TOTAL %TeóricosEnsaio Teórico 1 6 7 28%Revisão de Literatura 0 3 3 12%

EmpíricoEstudo de caso 4 11 15 60%

Total 5 20 25 100% Fonte: Dados coletados pelos autores Quadro 2 – Tipos de pesquisa

Conforme abordado na revisão da literatura, o método da Grounded Theory é apresentado como uma abordagem de pesquisa interpretativista, que é usada para obter

melhor compreensão a respeito de um fenômeno; o foco do pesquisador está na construção de significados (BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA, 2007).

Nesse contexto, verificou-se, na amostra analisada, que o estudo de caso, ou seja, os estudos empíricos foram os mais encontrados (60%). É importante ressaltar que cinco artigos enquadram-se como alinhados ao paradigma positivista, considerando a maneira como os autores apresentaram e discutiram os resultados, e principalmente pelas referências usadas para fundamentar as opções metodológicas utilizadas (Roberto K. Yin e Kathleen M. Eisenhardt), embora alguns autores discutam a sua opção por uma abordagem interpretacionista, identificada no embasamento metodológico de uma visão positivista para a modalidade de estudo de caso apresentado (ANTONELLI e GODOI, 2009).

Para avaliar o conjunto de técnicas de coleta de dados e as fases propostas para a validação de uma teoria substantiva (Grounded Theory), será evidenciada, no próximo tópico, a discussão dos resultados identificados nos trabalhos empíricos (15 artigos). 4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os trabalhos empíricos selecionados na amostra foram analisados em relação às fases (roteiro) e características exigidas para a construção da Grounded Theory. A categorização das fases (roteiro) de análise baseou-se nos estudos feitos por Pandit (1996), Guba e Lincoln (1982), Merriam (1998), Strass e Corbin (1998) e Goulding (2002). O processo de construção da Grounded Theory inicia-se pela fase de desenho de pesquisa (definição da questão de pesquisa). Na segunda etapa, o trabalho de campo (coleta de dados) com a sobreposição de coleta e análise. Como terceira etapa, a análise, com a identificação das categorias conceituais e seus interrelacionamentos, amostragem teórica e testes de proposições. Na quarta etapa, a comparação das proposições com a literatura existente, e, na última etapa, a definição da teoria substantiva, que prevê a descrição do modelo e suas relações com o fenômeno em estudo (EISENHARDT, 1989; PANDIT, 1996; STRAUSS e CORBIN, 1998). O quadro 3 traz o roteiro para a construção da Grounded Theory, que foi utilizado para analisar a qualidade metodológica dos trabalhos empíricos publicados nos periódicos e anais do Enanpad, todos da área de administração, que apontaram o uso do método.

ROTEIRO / GROUNDED THEORY FONTE1- Desenho da Pesquisa1.1 Revisão da Literatura ( Definição da questão de pesquisa) Pandit (1996); Golding (2002); Eisenhardt (1989),1.2 Seleção de Casos ( objeto de pesquisa) Pandit (1996); Bandeira-de-Melo e Cunha (2006)2 - Coleta de Dados

2.3 Ordenar dos dados ( ordem cronológica) - tempo no campo

3 - Análise dos Dados3.1 Identificação de códigos (codificação aberta) Pandit (1996); Strauss e Corbin (1998); Golding (2002)

4 - Resultados/ Comparação de Literatura

4.2 Definição da Teoria ( descrição do modelo e das relações)

4.1 Sumarização dos Conceitos (formulação da categoria principal)- comparação das proposições com a literatura existente

Eisenhardt (1989), Pandit (1996) e Strauss e Corbin (1998); Golding (2002)

Eisenhardt (1989), Pandit (1996) e Strauss e Corbin (1998); Golding (2002)

Guba e Lincoln (1982); Strauss e Corbin (1998); Merriam (1998); Golding (2002)3.2 Desenvolviemnto de categorias conceituais (codificação axial)

2.1 Desenvolver Protocolo Rigoroso para coleta de dados ( triângulação de dados - empregar múltiplos métodos)

Pandit (1996); Guba e Lincoln (1982); Strauss e Corbin (1998); Merriam (1998)

Pandit (1996); Guba e Lincoln (1982); Strauss e Corbin (1998); Merriam (1998)

2.2 Circularização entre as fases de coleta e de análise - checagem com os sujeitos

Guba e Lincoln (1982); Strauss e Corbin (1998); Merriam (1998)

Fonte: Dados coletados pelos autores Quadro 3 – Roteiro para a Construção da Grounded Theory

Considerando o roteiro para a constituição da teoria fundamentada (Grounded

Theory), na tabela 3, apresentam-se os resultados da análise dos artigos empíricos que fazem parte da amostra e que adotaram o referido método.

Tabela 3– Roteiro da Grounded Theory evidenciado nas publicações

ROTEIRO / GROUNDED THEORY PERIÓDICOS % ANAIS %Desenho da Pesquisa Revisão da Literatura ( Definição da questão de pesquisa) 4 100% 9 82%Seleção de Casos ( objeto de pesquisa) 4 100% 9 82% Coleta de DadosTriângulação de dados (empregar múltiplos métodos) 3 75% 6 55%Circularização entre as fases de coleta e de análise 2 50% 4 36% Ordenar dos dados ( ordem cronológica) - tempo no campo 1 25% 2 18%Análise dos Dados Identificação de códigos (codificação aberta) 3 75% 8 73% Desenvolvimento de categorias conceituais 3 75% 7 64% Resultados/ Comparação de Literatura Sumarização dos Conceitos (formulação da categoria principal) 2 50% 4 36% Definição da Teoria ( descrição do modelo e das relações) 2 50% 4 36%Observação:Total da amostra dos trabalhos empíricos nos periódicos = 04Total da amostra dos trabalhos empíricos nos anais/Enanpad = 11

QUANTIDADE DE ARTIGOS

Fonte: Dados coletados pelos autores Analisando os resultados em relação às publicações em periódicos, verificou-se que as trabalhos, em sua totalidade, enunciam os problemas de pesquisa (o desenho da pesquisa). Na coleta de dados, 75% das publicações apresentaram múltiplos

métodos na coleta de dados, 50% evidenciaram a circularização entre as fases de coleta e de análise e somente um trabalho apresentou o tempo no campo. Na análise dos dados dos artigos publicados em periódicos, 75% apresentaram a identificação dos códigos e das categorias conceituais; já a sumarização dos conceitos para comparação das proposições com a literatura existente e a definição da teoria substantiva foi evidenciada em 50% dos trabalhos. Quanto às publicações nos anais, verificou que 82% apresentam o desenho de pesquisa (enunciam o problema de pesquisa de maneira clara). Em relação à coleta de dados, somente 36% evidenciaram a circularização entre as fases de coleta e de analise, o que demonstra que um percentual significativo dos estudos (64%) não adotaram a validação da Grounded Theory. Segundo Bandeira-de-Mello e Cunha (2007), a circularização ocorre para a comparação constante dos dados, um processo que se inicia no nível conceitual, abstrato, ao nível dos dados, o que confere uma lógica de inferência abdutiva ao método. A identificação de códigos e desenvolvimento de categorias está presente, respectivamente, em 73% e 64% das publicações analisadas. Glaser e Strauss (1967) apontam como característica fundamental para a construção da Grounded Theory a análise e a conceitualização que são obtidas através do processo principal de coleta de dados e comparação constante. Os dados devem ser comparados com construtos e conceitos existentes, visando validar uma categoria existente, formar uma nova ou estabelecer novos pontos de relação entre categorias Verificou-se ainda que, em relação aos resultados apresentados nos estudos, no que tange à formulação da categoria central, à definição da teoria e à comparação das proposições com a literatura existente, esses foram encontrados somente em 36% das pesquisas. A proposta principal do método é a construção da teoria, e não somente a codificação de dados (GLASER e STRAUSS, 1967). Com o intuito de exemplificar os procedimentos metodológicos adotados e evidenciados nas publicações cientificas analisadas, no quadro 4, são transcritos textos dos artigos analisados neste estudo.

Procedimentos Metodológicos Qualitativos / Método Grounded Theory Coleta de dados (múltiplas fontes) “A coleta de dados foi feita através de entrevistas em profundidade [...] do tipo semi-estruturada [...], a análise dos dados foi iniciada enquanto se fazia a coleta dos mesmos, através de anotações em um diário de campo das observações e reflexões sobre o que estava se passando”. (Artigo P2, 2004, p.6) “Foram entrevistados 10 professores de Marketing com diferentes níveis de experiência [...]. As entrevistas duraram entre 40 e 180 minutos e foram realizadas entre 09/12/2003 e 07/12/2004, resultando em aproximadamente 16 horas de gravações e pouco mais de 200 páginas transcritas” (Artigo P3, 2007, p. 154) “Para realizar a coleta dos dados, foi adotada a abordagem da história de vida [...] assim como aos dados provenientes de outras fontes – testemunho de outras pessoas no interior e no exterior de cada PME, artigos de jornal, documentos da empresa e dados captados pelo pesquisador no campo.” (Artigo A4, 2005 p.8) “A principal técnica de campo foi a entrevista em profundidade [...]. Foram também utilizadas as técnicas de observação participante acerca da interação e atuação dos alunos em oito workshops e a realização de grupos de foco, perfazendo um total de 130 horas; anotações da participação e orientação (tutoria)”. (Artigo A5, 2006, p.7) “Os dados de fontes primárias foram obtidos no campo pelos pesquisadores através de entrevistas em profundidade. Os dados secundários consistiram de publicações da empresa, reportagens de jornais e

revistas sobre o setor e sobre a empresa, bem como divulgação de informações relevantes sobre a empresa para seus investidores”. (Artigo A8, 2007, p.5) “As entrevistas foram gravadas, transcritas, e analisadas obedecendo às exigências do método. [...]A observação não participante foi outra fonte utilizada para a coleta de dados primários, a fim de possibilitar informações adicionais”. [...] .Quando não foram permitidas as gravações das entrevistas, foram tomadas notas de campo. A duração média das entrevistas variou entre 2 (duas) a 3 (três) horas totalizadas aproximadamente 24 horas ou 1.440 minutos em dois momentos distintos de coletas caracterizando uma pesquisa longitudinal sempre com os mesmos gestores”. (Artigo A9, 2008, p.4) Uso de software para codificação dos dados: “As atividades de análise concentraram-se entre fevereiro e novembro de 2001, com apoio do software ATLAS/ti. Foram tomadas as devidas precauções para evitar os problemas decorrentes do uso de softwares no auxílio ao tratamento interpretativo de dados.” (Artigo P1, 2004, p.157) “Quanto ao tratamento dos dados, as entrevistas gravadas em fita cassete foram preparadas para serem analisadas com o auxílio do programa Atlas-ti. Assim, a quase totalidade das entrevistas foi transcrita e o registro sonoro de algumas poucas foi usado diretamente no computador sob a forma de arquivos “.MP3”.” (Artigo A4, 2005, p.8) “No processo de codificação aberta foi utilizado o software ATLAS.ti versão 5.0, tendo sido obtidos 317 códigos especificamente relacionados com os temas “Marketing enquanto disciplina e prática[...]”. (Artigo P3, 2007, p.154) “A análise dos dados e a construção da teoria foram auxiliadas pelo software ATLAS/ti, para organização textual, construção de modelos e análise hermenêutica [...]”. (Artigo A8, 2007, p.5) Organização dos dados para análise:

“A transliteração de cada entrevista permitiu a análise de linha a linha dos conteúdos encontrados e a identificação das principais palavras e frases que caracterizam as categorias encontradas. [...]. A partir disto, operou-se a codificação dos dados. [...]. A seguir, códigos abertos que descrevem as diferentes unidades de significado e semelhanças entre as entrevistas foram “garimpados”. (Artigo A2, 2004, p.4)

“ As unidades de significado, categorias, e subcategorias surgiram a partir da análise das transcrições das entrevistas realizadas pelos quatorze gestores envolvidos nesta pesquisa. Os agrupamentos foram realizados com base na semelhança dos assuntos que foram abordados pelos entrevistados e também pela orientação das ferramentas analíticas do método de pesquisa.” (Artigo A9, 2008, p.5) Circularização entre as fases de coleta e de análise (checagem com os sujeitos) “[...] a partir da emergência de conceitos articulados uns aos outros (embrião de um quadro teórico), identificou-se categorias que deveriam ser melhor desenvolvidas, o que levou a entrevistas com novos respondentes, ampliando a diversidade de respondentes.[...] quando os dados foram re-examinados, novos conceitos emergiram, mas os mesmos não se acomodavam no conjunto de categorias e propriedades existente, gerando questionamentos em relação ao modelo. Essas descobertas levaram a novas entrevistas em algumas das empresas buscando uma melhor compreensão e desenvolvimento do conjunto de categorias, propriedades e seus relacionamentos, retornando à fase de coleta de dados” (Artigo A7, 2007, p.8) “ Na primeira fase foram 12 entrevistados, entre médicos e administradores de hospitais [...]. Na segunda etapa da pesquisa foram entrevistados 11 pessoas com ocupação profissional de destaque no mercado. São proprietários ou administradores em posição de gerência ou de diretoria de empresas fabricantes de equipamentos eletro-médicos em São Paulo” (Artigo P4, 2009, p.08) “Na primeira fase foram envolvidos 151 participantes (profissionais de diferentes níveis hierárquicos, de analista a superintendentes) e foram formados 30 grupos de análise. Na segunda fase foram envolvidos

134 participantes (profissionais de diferentes níveis hierárquicos, de analista a diretores) e foram formados 13 grupos de análise.” ( Artigo A11, 2009, p.5) Desenvolvimento de códigos para descrição e identificação de categorias “Os dados revelaram que no relacionamento entre firma e ambiente [...]. Esse padrão de comportamento, identificado nos dados, possibilitou a elaboração da hipótese fundamental da teoria substantiva” (Artigo P1, 2004, p.168) “As categorias que emergiram dos dados foram as seguintes [...]. Elas foram classificadas em dois níveis de análise: propriedades e dimensões”.(Artigo P2, 2004, p.7) “As categorias surgidas das entrevistas feitas para este trabalho ensejam algumas sugestões gerenciais e acadêmicas”.(Artigo A2, 2004, p.13) “Enquanto que a codificação aberta pretendia gerar livremente categorias e especificar conceitos elementares presentes nos dados, a codificação axial procura agrupar os códigos em categorias. [...]. Para a codificação axial, deve-se tentar especificar as relações entre as categorias conceituais, que têm propriedades que devem ser identificadas. [...] Na figura 2 estão mostrados os cinco conceitos emergentes da codificação axial.” (Artigo A6, 2006, p.8) “A partir das entrevistas os dados foram lidos e categorizados em conceitos sugeridos pelos próprios dados. [...]. Os conceitos que emergiram da análise foram organizados em temas. [...] deram origem às categorias e os conceitos às propriedades ou sub-categorias, estabelecendo o relacionamento entre elas (axial coding)”( Artigo A7, 2007, p.8) “No total, foram gerados 137 códigos, 545 citações e 41 notas de análise. Destes, 129 são códigos de primeira ordem, diretamente ligados às citações, e 8 são construtos teóricos abstratos. Todos os códigos emergiram dos dados e todas as categorias foram definidas por propriedades identificadas por meio do exame detalhado dos dados.” (Artigo A8, 2007, p.6) “Os resultados da pesquisa de campo e da saturação teórica permitiram identificar oito categorias conceituais relacionadas ao processo [...]. Essas categorias, considerando suas propriedades e conexões, representam os conceitos centrais do trabalho e correspondem aos elementos do processo de planejamento que são analisados.” ( Artigo A11, 2009, p.5) Apresentação dos resultados (formulação da categoria principal e comparação das proposições com a literatura existente); “A literatura foi avaliada com as proposições da Teoria Substantiva de Administração do Risco [...]. Para gerar a teoria substantiva foram apresentadas três proposições [...]”.(Artigo P1, 2004, p. 175). “O modelo proposto baseia-se em dois eixos centrais e complementares. Um deles identifica um conjunto de variáveis institucionais [...]. O outro propõe uma estrutura que integra indicadores de sustentabilidade aos indicadores de negócio, categorizando-os de tal forma a promover uma visão multidimensional da organização.” (Artigo A7, 2007, p.9) “São apresentadas as proposições centrais da teoria identificada.[...] Os resultados desta pesquisa foram comparados com a literatura. Após as análises, pudemos constatar que não existe uma única corrente teórica [...]”. (Artigo A8, 2007, p.14) “Com base na estrutura que emergiu dos dados nesta pesquisa – “Ciclo contínuo de acompanhamento para o desenvolvimento de uma Política de Segurança de Informações em Organizações Hospitalares” foi possível desenvolver um esboço do que representaria o conteúdo de uma política “formalmente aceitável” em organizações hospitalares.” (Artigo A9, 2008, p.8) “A teoria substantiva proposta consiste de um conjunto de proposições que explicam o relacionamento entre os elementos do processo de planejamento da instituição considerada de forma abrangente e integrada. [...]. A proposta contém cinco proposições inter-relacionadas, sendo que a primeira é a proposição central, ou seja, aquela que direciona o foco da pesquisa. A segunda proposição proporciona

a sustentação da proposta e decorre dos achados de campo em termos de quais elementos do processo (as categorias) deveriam ser tratados de forma integrada e abrangente.” ( Artigo A11, 2009, p.10) Fonte: Dados coletados pelos autores Quadro 4 – Procedimentos metodológicos adotados/ Grounded Theory As citações apresentadas no quadro 6 foram organizadas na coleta da dados deste trabalho, e, conforme citado anteriormente, foi feita a análise de conteúdo em todos os artigos selecionados, o que proporcionou o registro na ficha-resumo de cada trabalho, incluindo as técnicas de coleta de dados, as fases propostas para validar a teoria substantiva e outras informações fundamentais para atender o objetivo proposto neste estudo. Todos os artigos analisados receberam, na ficha-resumo, um número de identificação para controle, sendo os artigos dos periódicos classificados por P1;P2,P3 e P4, e dos anais, por A1;A2;A3 ....A11. Foram também classificados pelo ano de publicação.

As pesquisas que adotam a abordagem qualitativa dependem da coleta e análise de dados para a melhor compreensão de um fenômeno. No caso da Grounded Theory, não é diferente. A teoria emerge dos dados e deve ser coerente com a realidade da área substantiva especificada para o estudo (STRAUSS e CORBIN, 1998). Os procedimentos detalhados da coleta e análise dos dados é que irão aumentar a credibilidade dos resultados. A coleta deve ser por meio de múltiplas fontes – entrevistas não estruturadas, observações do comportamento, imagens e documentos ( BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2007; CRESWELL, 2007).

Nesse sentido, verificou-se nos estudos em análise o detalhamento da coleta e análise dos dados (tabela 4):

Tabela 4 – Detalhamento da coleta e análise de dados

Detalhamento da Coleta e Análise de Dados PERIÓDICOS % ANAIS %Coleta de DadosEntrevistas não Estruturadas 4 100% 11 100%Observação 2 50% 7 64%Pesquisa documental (fonte secundárias) 2 50% 4 36%Tempo e detalhamento das entrevistas 2 50% 5 45%Análise de dadosUso de software para codificação dos dados 3 75% 5 45%Apresentou Codificação dos dados 2 50% 5 45%Apresentou as categorias conceituais 2 50% 5 45%Observação:Total da amostra dos trabalhos empíricos nos periódicos = 04Total da amostra dos trabalhos empíricos nos anais/Enanpad = 11

QUANTIDADE DE ARTIGOS

Fonte: Dados coletados pelos autores

Verifica-se que os resultados apontam que as entrevistas não estruturadas e as observações foram as fontes mais utilizadas nos trabalhos pesquisados. Na análise de resultados, a apresentação da codificação dos dados e a apresentação das categorias que emergiram dos dados foram evidenciadas em 50% nos periódicos e 45% nos anais.

As múltiplas fontes de obtenção de dados usadas nas pesquisas qualitativas auxiliam na busca de divergências que possam comprometer a amplitude e validação da investigação científica, além de proporcionar a potencialidade de recursos para o estudo de um fenômeno social (CRESWELL, 2007).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a intenção de identificar as publicações nacionais na área de administração que utilizaram a abordagem metodológica da Grounded Theory, e verificar se aquelas que adotaram o método de fato atendem os procedimentos e as fases metodológicas indicadas pela teoria, o presente trabalho analisou artigos científicos publicados em periódicos nacionais na área de administração, bem como os anais do evento ENANPAD, no período de 2000 a 2009.

Foram identificados 25 artigos que apresentaram a abordagem metodológica da Grounded Theory, sendo esses de diversas áreas temáticas: 6 na área de Ensino e Pesquisa em Administração e o restante distribuídos nas áreas de Marketing, Administração da Informação, Estratégia em Organizações, Gestão de Ciência e Tecnologia, Teoria das Organizações, Gestão de Pessoas e Contabilidade. Do total de artigos analisados, 15 apresentam a abordagem empírica, que foi o foco deste estudo para avaliar a estruturação metodológica indicada pelo método.

Conforme descrito na discussão dos resultados, os trabalhos empíricos selecionados foram analisados em relação às fases (roteiro) e características exigidas para a construção da Grounded Theory, indicadas pelos autores Pandit (1996), Guba e Lincoln (1982), Merriam (1998), Strass e Corbin (1998), Goulding (2002) e Bandeira-de-Mello e Cunha (2007).

Verificou-se que, tanto as publicações em periódicos como nos anais, em sua totalidade, enunciam os problemas de pesquisa. Nos periódicos, 75% das publicações apresentaram múltiplos métodos na coleta de dados, e, nos anais, 55% evidenciaram a triangulação de dados. Quanto à circularização entre as fases de coleta e de análise de dados, nos periódicos, essa foi verificada em 50% dos trabalhos, enquanto, nos anais, em 36%.

A principal característica indicada para a construção da Grounded Theory é o processo de coleta e análise de dados, que propõe a comparação constante, ou seja, o pesquisador necessita estar no campo para compreender a realidade dos sujeitos para fundamentar a teoria nessa realidade, para validar a relação entre as categorias que emergem dos dados.

Constata-se a ausência, em um número significativo de artigos analisados, da circularização entre as fases de coleta e de análise de dados, o que restringe a qualidade da teoria substantiva proposta pelo método em estudo.

Na análise dos dados, o método da Grounded Theory propõe a codificação dos dados e o desenvolvimento das categorias. Nesse quesito, 75% das publicações em periódicos evidenciaram a codificação e o desenvolvimento de categorias. Já, nos anais, 73% apresentaram a codificação, e 64% demonstraram o desenvolvimento de categorias. Quanto à definição da teoria (formulação da categoria principal) e a comparação com a literatura existente, verificou-se que 50% dos estudos publicados em periódicos e 36% das publicações em anais apresentaram essa fase, ou seja, verifica-se que um número relevante de pesquisas não atende às exigências do protocolo padrão para a construção de Grounded Theory.

Percebe-se que as pesquisas que utilizaram o método em estudo demonstraram com maior frequência a codificação de dados e não a construção da teoria fundamentada nos dados, que é o objetivo essencial do método. É importante ressaltar que a ausência dos requisitos sugeridos para atingir a Grounded Theory

afeta a qualidade da prática da pesquisa, e, consequentemente, a generalização dos resultados, ao ponto de perder a relevância para os envolvidos.

Surgem, assim, alguns questionamentos: em relação aos estudos que citam a metodologia Grounded Theory, quantos verdadeiramente cumprem todos os critérios sugeridos pelo método? Cumprir parcialmente o método implica em validar os resultados do mesmo? Qual(is) etapa(s) é(são) mais importante para a construção da Grounded Theory?

A contribuição deste estudo é fundamentalmente direcionada aos pesquisadores que se interessam pela pesquisa qualitativa, e, principalmente, pelo método da Grounded Theory, abordagem recente nas pesquisas brasileiras, com indicação para que se atenham à estrutura metodológica requisitada por este, o que contribuirá para o fortalecimento da pesquisa qualitativa em sua amplitude e potencialidade de investigação. A abrangência do estudo envolveu quatro periódicos nacionais na área de administração e os anais do evento ENANPAD. Entretanto, é necessário ressaltar que outros periódicos e eventos acadêmicos na área poderão ser objeto de estudos para futuros trabalhos, incluindo publicações internacionais que aplicaram o método da Grounded Theory, até mesmo para confrontação com os resultados encontrados neste estudo. Referências Bibliográficas ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. Uma Agenda Brasileira para os Estudos em Aprendizagem Organizacional. Rae, v. 49, n.3, Jul./ Set.,2009. AUERBACH, C.F. & SIVERSTEIN, L.B. Qualitative data: an introduction to coding and analysis. New York University Press. New York. 2003. BANDEIRA-DE-MELO R.; CUNHA, C.J.C.A. Grounded theory. In GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELO, R.; SILVA, A. B (organizadores). Pesquisa Qualitativa em Estudos Organizacionais: Paradigmas, Estratégias e Métodos. São Paulo: Saraiva, 2007.

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