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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DIÁLOGO ABERTO COM A SUPERVISÃO ESCOLAR Por: CLEIDE GERALDA FERREIRA DE LIMA Professor Orientador: CARLOS ALBERTO CEREJA DE BARROS Rio de Janeiro Setembro/2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DIÁLOGO ABERTO

COM A SUPERVISÃO ESCOLAR

Por: CLEIDE GERALDA FERREIRA DE LIMA

Professor Orientador: CARLOS ALBERTO CEREJA DE BARROS

Rio de Janeiro

Setembro/2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

SUPERVISÃO ESCOLAR PROJETO A VEZ DO MESTRE

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DIÁLOGO ABERTO

COM A SUPERVISÃO ESCOLAR

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Supervisão Escolar.

Por: CLEIDE GERALDA FERREIRA DE LIMA

Rio de Janeiro

Setembro/2004

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Carlos Alberto Cereja de Barros

da Pós-Graduação em Supervisão Escolar

da Universidade Candido Mendes,

grande incentivador, amigo

e que soube nos ensinar.

Muito Obrigada!

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RESUMO

A pesquisa tem como objeto o estudo do problema da gravidez na

adolescência, no âmbito do Ensino Médio, buscando responder porque

atinge dezenas de jovens, verificando ainda alguns conceitos como a

questão da autonomia e da liberdade, que abordados na LDB 9394/96,

estariam imbricados no problema da sexualidade, cujo texto oferece

espaço de flexibilidade para que os sistemas de ensino operem,

criativamente, os seus ordenamentos. Para desenvolver a pesquisa,

identificamos no primeiro capítulo, algumas teorias sobre a sexualidade,

apresentamos no segundo capítulo o diagnóstico da pesquisa de

Werthein (2004) sobre a sexualidade e a gravidez na adolescência e,

procuramos no terceiro capíbulo, uma melhor orientação para a atividade

da Supervisão Escolar frente ao problema da gravidez precoce, que pode

apresentar soluções, mas depende de todos, familiares, professores e

alunos em seu meio social, de acordo com seus grupos e normas para

que os resultados sejam positivos.

METODOLOGIA

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A metodologia da pesquisa se baseia num pequeno levantamento

bibliográfico envolvendo a pesquisa sobre Juventude e Sexualidade de

Werthein (2004) e as idéias que permeiam o trabalho de dois educadores

nacionais, Paulo Freire e Rubem Alves, à luz das teorias de estudiosos

atuantes na última década dentro da sociologia do conflito, como Edgar

Morin e Hugo Assmann.

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

TEORIAS SOBRE A SEXUALIDADE CAPÍTULO II

A SEXUALIDADE EM CENA: A PESQUISA DA UNESCO CAPÍTULO III

A SUPERVISÃO ESCOLAR FRENTE À GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

ANEXOS

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“Quem pensa certo está cansado de saber

que as palavras a que falta a corporeidade do exemplo, pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo.”

Paulo Freire

“Olhar é uma coisa... ver o que se olha é outra coisa.

Compreender o que se vê é uma terceira.

Aprender com o que se compreende é ainda outra coisa.

Mas agir, segundo o que se aprende é tudo

o que realmente interessa.”

Harward Business Review

INTRODUÇÃO

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A sexualidade é como um fantasma que ronda as cercanias e os interiores da

sala de aula. Não é o único, sabemos disso. Mas é, sem dúvida, um daqueles que,

quanto mais se mexe, mais assombra a cada esquina. E isso, há séculos, ao que indica a

história.

As drogas, a bebida e a violência vêm mostrando seu traçado e incomodando

há menos tempo, mas com força e colorido muito semelhantes.

Diferentemente das questões cruciais do ensino brasileiro, como a evasão e a

reprovação, sobretudo nas primeiras séries do ensino público, a sexualidade não ocorre

somente numa classe social, apesar de estar na mira de estratégias de controle. Contudo,

tem deixado igualmente marcas de fracasso nos caminhos de seu combate.

Por isso, é a vez de pensarmos a sexualidade. E foi o que fizemos, procurando

produzir um trabalho que representasse o produto final do curso de Pós-Graduação em

Supervisão Escolar, da Universidade Cândido Mendes, ao tratar do tema da Supervisão

Escolar frente à gravidez na adolescência.

Dessa forma, o objeto da pesquisa foi estudar o problema da gravidez na

adolescência, no âmbito do Ensino Médio, buscando responder porque atinge dezenas

de jovens, verificando ainda alguns conceitos como a questão da autonomia e da

liberdade, que abordados na LDB 9394/96, estariam imbricados no problema da

sexualidade, cujo texto oferece espaço de flexibilidade para que os sistemas de ensino

operem, criativamente, os seus ordenamentos.

Efetuamos diferentes leituras de teóricos sobre o tema, para notar que ainda há

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falta de diálogo, de participação junto aos adolescentes por parte de responsáveis e

educadores, daí que a hipótese com a qual a pesquisa foi orientada constitue-se em

nossa crença de que quanto mais estudos sobre a gravidez na adolescência, melhor se

pode compreender o problema, pois mais bem informados estaremos para divulgá-lo

junto aos adolescentes e combatê-lo.

A pesquisa também torna-se importante pois verificamos através das

estatísticas que os adolescentes precisam estar mais bem informados e orientados, no

sentido de se combater a gravidez precoce, mas esta não seria uma grande preocupação

das escolas em geral.

Enfim, percebemos que o estudo, na verdade, é uma investigação inquietante,

pelo fato de efetuarmos uma pesquisa em educação, vinculando a gravidez na

adolescência ao trabalho do Supervisor Escolar, à luz das aprendências sobre a vida, a

justiça e a moral, de acordo com as teorias principais ministradas em nosso curso de

Pós-Graduação da Universidade Cândido Mendes.

A pesquisa apresenta as diferentes variações sobre a sexualidade, a autonomia

e a liberdade e segue-se mostrando que se pode aprender outras novas, que passam a ser

faladas, mas mostra que também se deve esquecer as formas já estabelecidas, para se

criar as formas novas, com outros significados mais condizentes com a postura do atual

Supervisor Escolar. Mas entendendo melhor a lingüística moderna, verifica-se que os

significantes (a palavra sexualidade, autonomia, liberdade com sons, sílabas escritas)

têm bastante autonomia em relação aos significados, ou seja, a sexualidade, a autonomia

e a liberdade são conceitos relativos e que até se relacionam.

Por isso, como objetivo da pesquisa procura-se compreender o significado dos

conceitos sexualidade, autonomia e liberdade junto aos adolescentes, para melhor

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orientarmos os alunos, procurando diminuir os conflitos e ansiedades que geram tantas

atitudes impensadas e irresponsáveis diretamente vinculadas ao tema da gravidez na

adolescência, e também para se entender que quanto mais divulgação do problema da

gravidez precoce, mais protegidos estarão os alunos dos riscos de passarem por

situações semelhantes.

Objetivamos ainda combater a incidência da gravidez na adolescência com

sabedoria e conhecimento de causa, transformando a autonomia do adolescente,

principalmente no que diz respeito à sua vida sexual, em atitudes que estejam

preocupadas com a vida, a justiça e a moral.

Nosso trabalho está inspirado na mais abrangente pesquisa sobre Juventude e

Sexualidade já realizada no Brasil, recém lançada pela Unesco através de Werthein

(2004), auxiliado por vários pesquisadores, que apresenta um diagnóstico surpreendente

e ao mesmo tempo preocupante da realidade dos jovens brasileiros.1

Razão pela qual, a metodologia foi realizada por um pequeno levantamento

bibliográfico envolvendo a pesquisa sobre Juventude e Sexualidade de Werthein e as

idéias que permeiam o trabalho de educadores nacionais, Paulo Freire e Rubem Alves, à

luz de teorias de estudiosos atuantes na última década dentro da sociologia do conflito,

como Edgar Morin e Hugo Assmann.

O nosso estudo traz à tona as contradições de uma sociedade que, embora

esteja mais aberta a tratar da sexualidade, não vem conseguindo responder aos anseios

dos jovens. O tema, que desperta curiosidade, sentimentos de prazer e amorosidade,

também provoca medos e dúvidas não só entre os jovens, mas entre pais e professores.

1 WERTHEIN, Jorge. representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil. Juventude e sexualidade. 2004.

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Enfim, por trás dos números impactantes relacionados aos jovens, existe

significativa falta de informação por parte dos pais e professores e despreparo das

escolas, uma vez que muitos responsáveis não dialogam com os filhos sobre o tema e

uma parte considerável dos professores não têm informações suficientes.

As conversas sobre sexo, no que diz respeito aos professores, costumam estar

restritas às aulas de ciências e biologia, por isso há que se expandir e muito as

divulgações sobre a sexualidade.

Logo, para adequar-se às políticas de juventude, ao perfil do novo jovem do

século XXI, importantes ações devem ser desenvolvidas nos espaços escolares, com os

alunos, professores e pais, com intervenção direta do Supervisor Escolar.

É preciso intensificar, em sala de aula e em casa, o diálogo e a divulgação de

conhecimentos sobre ética pela vida e responsabilidade sexual, mas não no sentido do

ajuizamento de valores e sim da troca de idéias e experiências afetivo-sexuais.

Um dos caminhos é a escola constituir-se em espaço de participação, onde os

jovens sintam-se bem e protegidos, e passar a lidar não só com a aprendizagem em

temas clássicos do conhecimento, mas também com aqueles relevantes à cultura juvenil.

A escola, através da Supervisão Escolar, precisa aliar ensino de qualidade a

afetividade e respeito nas relações entre os diversos atores. Também deve promover a

capacitação de professores de todas as áreas, desde artes até matemática ou física, para

que discutam sexualidade em sala de aula. Por serem agentes de grande confiabilidade

junto aos alunos, o Supervisor Escolar e os professores podem ainda informar sobre

serviços de atendimento em casos de violência sexual, assédio e estupros, dos quais

muitos jovens são vítimas hoje.

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Faz-se necessário também que os próprios jovens sejam multiplicadores dessas

idéias e para tanto, as escolas devem recorrer ao apoio do governo e, se preciso, até de

ONGs.

A ampliação do Programa de Disponibilização de Preservativos do governo

federal também é uma importante medida de prevenção, uma vez que os jovens

menosprezam os riscos de contaminação por HIV/AIDS e muitos não usam camisinha.

Por parte da Unesco, uma das medidas previstas é a inserção do tema

sexualidade na agenda escolar do fim de semana.

Por isso tem-se que concordar com Assmann (2002), que a vida e o

conhecimento são, antes de mais nada, processos auto-organizativos. Logo, o

Supervisor Escolar que educa desencadeia processos de auto-organização nos neurônios

e nas linguagens de professores e alunos.

O Supervisor Escolar diagnostica as necessidades, oferecendo sugestões e

ajuda a ambos professores e alunos, por isso precisa sempre estabelecer boas relações

humanas com toda a comunidade dentro e fora da escola, procurando que as pessoas

promovam e ajudem nos projetos de melhoria comum, principalmente no caso do

problema da sexualidade, envolvendo a gravidez na adolescência.

Mas, acima de tudo o Supervisor Escolar ajuda na formação da consciência

quanto a direitos e deveres, quanto ao que é justo e injusto, procurando com isso a

construção de uma sociedade mais livre e mais autônoma.

Investir em educação, saúde e assistência às crianças e aos adolescentes de

agora certamente resultará em lucros sociais e econômicos para os que vivem hoje e

para as gerações futuras.

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Para desenvolver os estudos, a pesquisa foi dividida em três capítulos. No

primeiro capítulo, identificamos algumas teorias sobre a sexualidade, de modo que o

Supervisor Escolar possa ter um entendimento do grau de relatividade da autonomia e

da liberdade do adolescente. No segundo capítulo, apresentamos o diagnóstico da

pesquisa de Werthein (2004) sobre a sexualidade e a gravidez na adolescência, o que

pode auxiliar o trabalho do Supervisor Escolar. No terceiro capítulo, procurando uma

melhor orientação para a atividade da Supervisão Escolar frente ao problema da

gravidez precoce, percebe-se que para a realização de um trabalho positivo, necessita-se

da participação de todos, familiares, professores e alunos em seu meio social, de acordo

com suas próprias normas e grupos.

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CAPÍTULO I

TEORIAS SOBRE A SEXUALIDADE

... ser livre é ter a opção de dizer sim ou não, de acordo com o que

achamos mais certo e que nos fará um bem maior...

(Machado, 1994)

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1.1. OS CONCEITOS: SEXUALIDADE E AUTONOMIA

Para o substantivo SEXUALIDADE, o Dicionário Aurélio registra: 1)

qualidade do sexual; 2) conjunto dos fenômenos da vida sexual; 3) sexo. Por sua vez, o

Petit Robert registra: caráter do que é sexuado; conjunto dos caracteres próprios a cada

sexo. Na biologia, o termo só aparece em 1838 e, na psicanálise, o dicionário oferece a

data de 1924, o que é um equívoco se lembrarmos que Freud escreve em 1905 as Três

Conferências sobre a Teoria da Sexualidade. De qualquer modo, o termo não existe

antes do século XIX. Para a psicanálise, o Petit Robert registra o seguinte sentido:

conjunto de comportamentos relativos ao instinto sexual e à sua satisfação, quer estejam

ou não ligados à genitalidade. O equívoco agora está em falar num “instinto sexual”,

pois uma das descobertas principais de Freud foi a separação entre SEXUALIDADE e

instinto. O Dicionário de Psicanálise, de Laplanche e Pontalis, considera que a

SEXUALIDADE não se confunde com um instinto sexual porque um instinto é um

comportamento fixo e pré-formado, característico de uma espécie, enquanto a

SEXUALIDADE se caracteriza por grande plasticidade, invenção e relação com a

história pessoal de cada um.

Autonomia (do grego: “autós” próprio e “nómos” lei; autogoverno). Esse termo

tem múltiplos usos no direito, na política, na informática, em biologia e na educação. A

noção bastante vaga de autonomia se vincula em Maturama e Varela (1995) à origem do

conhecimento nos seres vivos. E como autonomia e conhecimento são conceitos que se

reclamam reciprocamente, a autonomia adquire, assim, um sentido bem preciso; um

sistema é autônomo na medida em que é auto autopoiético (que se faz a si mesmo), e é

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autopoiético enquanto é capaz de aprender (cognitivo). Nos sistemas autopoiéticos

(seres vivos), os processos de autoconstituição são possíveis na medida em que as

conexões com o meio se mantêm como fator co-determinante da emergência do si-

próprio relativo de cada ser vivo.

1.2. DO TEMIDO SEXO DOS ANJOS EM FREUD

Numa de suas famosas conferências proferidas aos americanos no início deste

século, Freud desfere um argumento difícil de rebater diante da resistente e desconfiada

platéia que o ouvia.

O assunto era A VIDA SEXUAL DOS SERES HUMANOS (Freud, 1916-1917),

e o conferencista explicava, uma vez mais, que a sexualidade não era, como sempre se

pensou, algo que surgisse na adolescência. As crianças, desde o nascimento,

apresentavam atividades auto-eróticas que, da sucção à masturbação, passando pelo

controle das fezes como estímulo à mucosa anal, faziam-se acompanhar de fantasias e

constituíam assim a história amorosa desses supostos anjos. A genitalidade, com a

atividade auto-erótica que lhe corresponderia (a masturbação), estava sendo considerada

por ele apenas como uma das formas da sexualidade: aquela que, em verdade e dentre

todas, mais anunciaria sua qualidade sexual. Teria ela início, ainda na primeira infância,

numa fase que batizou como fálica porque, na imaginação dos infantes, os homens e as

mulheres possuiriam, por natureza, pênis. Na adolescência, o que estaria, então,

acontecendo? Somente o ressurgimento, depois de longos anos de latência (entre 7 e 12

anos, aproximadamente), da genitalidade.

Dessa e de outras fases, também eróticas, pouco ou nada nos lembraríamos

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com o esforço da consciência, mas, com certeza, guardaríamos marcas, mais ou menos

indiretas, em nossa vida psíquica. A repressão, conduzida em grande parte pelas

atitudes e reações dos pais às manifestações espontâneas de seus filhos, seria a causa

tanto do esquecimento quanto do reaparecimento distorcido, em sonhos, sintomas ou

angústias de toda espécie, dessa história do desejo sexual.

Freud expunha, outra vez, agora para um público estrangeiro, as fundações de

sua psicanálise. Tentava provar a propriedade da teoria que, há quase duas décadas,

parecia ter vindo para incomodar as concepções sobre o homem e, especificamente,

sobre a criança. Como imaginá-la capaz de pensamentos tão impuros?

Acostumado que devia estar com as contraposições, antecipa-se nos

argumentos e golpeia, numa retórica impecável, seus ouvintes médicos, professores e

pais de família, naquela ocasião: se, de fato, não acreditassem na sexualidade desde a

infância, por que haveriam de estar constantemente reprimindo as crianças nas escolas,

em casa e nas prescrições de conduta saudáveis? Imbatível. E prossegue: além disso, se

não nos lembramos de nós, na mesma idade, é porque fomos também reprimidos!

Dá para contra-argumentar? Com essa lógica fica-se vencido hoje ainda, como

devem ter ficado aquelas pessoas naquele dia. Coisas de Freud. Parece ter falado para a

eternidade...

Apesar de todas as críticas ao seu raciocínio, é inegável que ele nos desaloja e

nos põe a tratar de forma menos convicta do que vínhamos fazendo, o tema da

sexualidade. No mínimo, temos de parar e pensar se ele não teria razão.

Com o tempo e todas as mudanças sociais, econômicas e culturais que nele se

implicam, quase um século depois, pode-se notar que as idéias de Freud tiveram um

destino curioso:

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(a) propagaram-se entre a população

(b) retraíram-se entre os especialistas

(c) foram selecionadas no contato com outras áreas do conhecimento

O fato é que qualquer discurso sobre sexualidade faz parada obrigatória em

Freud. Como neste texto, em que partimos dele. Agora, vamos ver aonde podemos

chegar.

1.3. DA VONTADE DE SABER EM FOUCAULT

Se nos incluímos no terceiro grupo dos que reconhecem na teoria de Freud as

virtudes do pioneirismo sério e rigorosamente conseqüente a respeito dessa questão e o

acolhemos para articulá-lo a outros pensadores, podemos considerar que a repressão

tem modos de agenciamento social que fazem com que a sexualidade, nas malhas dos

dispositivos institucionais criados para reprimir, como diria Foucault, difunda-se,

circule, aconteça. Aliás, esta é a hipótese desse autor.

Foucault escreveu em 3 volumes uma HISTÓRIA DA SEXUALIDADE (1985).

A hipótese repressiva, no caso a freudiana, para Foucault não daria conta de explicar os

destinos do desejo ou da sexualidade. Ele parte da afirmação de que a sexualidade é o

sexo no discurso. Parte ainda da afirmação de que os discursos se produzem como

dispositivos institucionais. Daí que a sexualidade não escapa do agenciamento por tais

dispositivos, já que grande parte deles têm suas formas de trazer o sexo para o discurso.

Foucault fala em A VONTADE DE SABER, sobre a sexualidade perversa;

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entendendo aí toda forma de sexualidade que não fosse heterossexual, exercida na

intimidade das quatro paredes do casal, com fins de reprodução, incluindo, a

homossexualidade, a masturbação, o exibicionismo, o voyeurismo e até o adultério.

Argumenta esse autor, que a hipótese de que a sexualidade tenha sido

reprimida ostensivamente na era vitoriana e de que restos dessa repressão cheguem até

hoje em nossas cabeças não conseguiria explicar a difusão e classificação de certas

práticas sexuais como perversas. Segundo ele, os dispositivos criados para reprimir

acabam por ter efeitos contrários àqueles a que se propõem. Isso por um motivo muito

simples: as práticas sociais, instituídas em nome da contenção, colocam as pessoas na

condição de confessar a intimidade de seus erros e, com isso, presentificam ou atribuem

estatuto de existência ao que é negado.

Nesse livro, Foucault discute, mais detalhadamente os dois estandartes da

difusão e criação da representação social da sexualidade perversa: a psicanálise e a

confissão na religião católica.

As pessoas que acreditam no sacramento da confissão, a cada vez que se

confessam, põem no dicurso, entre seus pecados, os da carne e, com isso, fazem circular

uma forma de sexualidade à margem daquela heterossexual, exercida com vistas à

reprodução, na intimidade do casal.

O que dizer, então, das psicoterapias, da psicanálise? Nelas há o reinado

absoluto dessa intimidade compartilhada na fala, exatamente com um terceiro que, por

princípio, está ali para ouvir, pontuar ou interpretar os rumos do desejo.

Para Foucault são exercícios ou práticas sociais que agenciam uma sexualidade

supostamente reprimida e, com ela, o prazer volta pela porta da frente a alimentar o que

se diz querer erradicar. Pensar deste modo, faz muito sentido, não faz?

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1.4. EXEMPLO LITERÁRIO PARA A SALA DE AULA

Um exemplo do jogo repressão-difusão da sexualidade estaria na relação

indissolúvel entre prostituição e família, que encontra-se no romance de Mario de

Andrade, Amar Verbo Intransitivo, onde a difusão se dá por meio do contrato de

trabalho e a repressão, pelo prazo limitado de validade do contrato e pela caracterização

da prostituta como estrangeira (outra língua, outros hábitos, outras terras).

O pai de família, pertencente à alta burguesia paulista dos anos 20, resolve

imitar amigos que solucionaram o espinhoso problema da iniciação sexual de seus

filhos adolescentes. Para evitar que o menino contraia doenças venéreas freqüentando

bordéis, ou se apaixone por uma prostituta criando dificuldades para a família, contrata

uma jovem alemã como preceptora, mas com a função real de iniciar sexualmente o

menino, de modo higiênico, afetuso, hábil, lento, gradual e seguro, sob o controle da

família.

Entre outros aspectos, o romance de Mário de Andrade possui 3 aspectos muito

sugestivos:

Primeiramente, situa a prostituição como peça fundamental para conservação

da instituição familiar, fazendo da prostituta parte da família literalmente, visto que

mora sob o mesmo teto que a família e atua sob os olhos vigilantes do pai e da mãe.

Além disso, para uma sociedade como a brasileira do período, muito agrária e próxima

da escravidão, onde as escravas tinham o papel dessa iniciação sexual dos meninos, o

romance acentua o caráter urbano, moderno e capitalista do mercado (compra e venda

de mão-de-obra) da nova prostituta. A imigrante que substitui a escrava, como os

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camponeses e operários que substituíram os escravos, racionalizando e modernizando a

produção.

Em segundo lugar, o menino possui duas irmãs, uma delas quase de sua idade,

mas por quem ninguém mostra a menor preocupação, sua sexualidade sendo tão

reprimida pela família que é como se não existisse ou não merecesse cuidado e atenção.

Sexualidade à flor da pele, que o romancista apresenta nos impulsos incestuosos da

menina pelo irmão, nos seus impulsos homossexuais pela preceptora, que tanto é sua

rival quanto objeto de seu amor na rivalidade com o irmão; na agitação e ansiedade que

a fazem amassar flores, rasgar vestidos, matar insetos, arrebentar bonecas.

Em terceiro lugar, com fina ironia, o romancista inventa uma professora-

prostituta alemã e jovem, zombando do imaginário sexual brasileiro que fantasia a

mulher européia como experiente “professora de sexo” que, por vir de clima frio, não

cai em envolvimentos sentimentais, coisa de gente dos trópicos. Zomba, ainda, do modo

como, no Brasil, foi interpretada a tentativa de educação e liberação sexuais feitas na

Alemanha, naquela década - o que era busca de nova atitude perante o sexo - aqui

transposta, deu em prostituição de luxo. Além disso, na qualidade de mulher branca, a

preceptora-prostituta será necessariamente superior, limpa e cultivada. Em suma, as

fantasias sexuais repressivas estão carregadas de mitologias, preconceitos e racismos.

O título do livro fala por si mesmo: para a “professora de sexo” alemã, o verbo

amar é intransitivo. Mas será transitivo na relação amorosa que mantém por carta com o

distante noivo alemão, com quem, graças à prostituição que lhe dá recursos financeiros,

poderá casar-se e constituir uma família honesta. Assim, a prostituição fecha o círculo,

reaparecendo indissoluvelmente ligada à existência e conservação da família, tal como a

conhecemos.

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Foucault considera que a repressão, seja a que for, não se reduz aos aspectos

proibitivos ou negadores [ao ‘não faça, não diga, não pense, não queira’], mas só pode

operar graças a aspectos positivos. Estes não se reduzem às permissões [aos ‘sim’]. São

sobretudo procedimentos criados por uma sociedade para realizar a repressão, estando

tanto em idéias quanto em instituições [como exemplo, o bordel, o manicômio...]

1.5. EXEMPLO ARTÍSTICO PARA A SALA DE AULA

Outro exemplo do jogo repressão-difusão da sexualidade conhecemos no

Brasil, no ano de 1995. De norte a sul, assistimos à ascensão meteórica de uma banda

musical: Mamonas Assassinas.

Desde fitas-piratas no Nordeste, aos CD’s nos grandes centros urbanos,

ouviam-se e repetiam-se, à exaustão, letras inteiras em ritmos diversos e estranhamente

familiares. A censura impediu a transmissão via rádio e a televisão, vacilante e

desconfiada, apresentava algumas imagens em entrevistas, videoclipes ou trechos de

shows daqueles 5 rapazes irreverentes.

Irreverência pouco habitual para uma banda: nada da sugestão de

autodestruição e consumo de drogas, típica dos similares ingleses, escoceses ou norte-

americanos; nada dos cenários apocalípticos e dos sons dodecafônicos; nada que

lembrasse os tempos de drugs, sex and rock’n roll. Uma irreverência feita de

brincadeiras rápidas com as palavras, os gestos e as imitações; por um visual à moda

dos Irmãos Metralha, do Chapolin Colorado (mais rápido que uma tartaruga, mais

inteligente que um asno), do Robin sem o Batman, do palhaço de circo. Todos anti-

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heróis que, com graça, apresentavam-se pelo avesso da força e do poder.

Dinho, Júlio, Sérgio, Samuel e Bento provenientes, sem exceção, de segmentos

pobres da população, moradores de uma cidade cujo destaque nacional se devia ao fato

de alojar o Aeroporto Internacional de São Paulo (Guarulhos), ganharam notoriedade

ímpar, em meia dúzia de meses, com o lançamento de seu primeiro e único CD.

Parodiando o estilo das letras e das melodias de cantores e compositores de

época como Waldick Soriano (anos 60), Belchior (anos 70), Titãs (anos 80/90) e outros,

mantinham o “ar” daquelas produções em músicas que faziam rir pelo humor esperto,

enquanto dessacralizavam mitos como o da originalidade. Assim, foram do Trash Music

até o Vira.

O cotidiano dos segmentos maiores da população brasileira, seus gostos,

tendências e hábitos: o Brasil cantava baiano e o baiano cantava o Brasil. Não o baiano

das estrelas, mas dos andaimes e das construções. Não como o Chico Buarque o fez em

Construção, mas como o próprio migrante o faz, de segunda a sábado para descansar no

domingo num passeio ao “Choppis Center, dando um rolezinho, comendo uns bicho

estranho num pão de gergelim e preferindo aipim”. Com sotaque e tudo.

Também as praias cantadas não foram de Ipanema ou Itapuã, belezes regionais

para inglês (americano ou argentino) ver, mas sim a Praia Grande, reduto brega de

banhistas sem tantas posses. Crônica e crítica social feitas de dentro, pois afinal falavam

de sua realidade socioeconômica, cultural, regional: brasília amarela com roda gaúcha;

peládios em Santios; eu queira apartamento no Guarujá, mas o melhor que consegui foi

um barraco em Itaquá (pelo fone 1406); pitxula; meu docinho de coco; music is very

good (óxente, ai, ai, ai!); comprei um Reebok e uma calça Fiorucci e ela não quer usar

(óxente Paraguai!); eu te ai love iuuu; monei que é good nóis num have; quando eu

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repeti a quinta série, tirava E, D, de vez em quando C; subiu a serra e me deixou no

Boqueirão, fiquei na merda das areias do destino; nós dois éramos dois, eu feijão você

arroz, temperados com sazón; e assim por diante.

Impossível não reconhecer aí o esdrúxulo perfil das subjetividades nacionais,

forjadas nas vendas por “telefácil” (disque 1406), nas propagandas comerciais, nas

reprovações escolares, na americanização de nossa língua, nas expectativas de consumo

e nas práticas de lazer e trabalho, entre outras. No entanto, isso que diverte a razão e os

costumes talvez não tenha sido o mote do sucesso repentino.

O que visivelmente puxou o fenômeno que eles representaram e como eles

encantaram, foi o SEXO que eles colocaram no discurso e que autorizaram ser cantado,

do antigo OIAPOQUE (CABURAÍ, a partir do ano 2000) ao CHUÍ.

Com a licença da música, do ritmo, do som, as bocas se enchiam de palavras,

nem sempre compreendidas pelas crianças, mas intuídas em seu sentido quase imediato:

suruba; cabelos do saco; bunda; putaria; teta; peido fedorento; fodido; pinto; bazuca

anal; cu; tesão.

A começar pelo símbolo do grupo: dois grandes seios rotundos e um fruto de

mamona. Peito e saco em desordenada e sugestiva combição. Tudo transpirava

analidade e perversão. E as músicas brincavam com isso de vários modos, a ponto de

qualquer menina de 8 anos cantar com trejeitos românticos (porque a melodia,

descolada da letra tinha um quê de balada), para um namorado imaginário: “minha

brasília amarela / tá de portas abertas / pro mode a gente se amar / peladios em

Santios” ou “e as vaquinhas / que por onde passam / deixam um rastro de bo-o-o-o-

osta”.

Vira, Robocop gay, Bois don’t cry, Mundo animal, Sabão crá-crá e Pelados

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em Santos eram os títulos mais cantados. E eram sátiras à ingenuidade preconceituosa

(Vira), à homossexualidade caricaturizada (Robocop gay), à infidelidade sabida e

consentida (Bois don’t cry), à paixão narcísica (Pelados em Santos). Metáforas e

escrachos fundiam-se e não se percebia até onde ia um e começava o outro. Mundo

animal e Sabão crá-crá eram sonoras e literalmente alusivas: comer tatu é bom, que

pena que dá dor nas costas; os cachorros comem suas mães, irmãs e suas tias; as

pombas têm bazuca anal com mira a laser. cujo tiro sai sempre fatal; os camelos têm as

bolas nas costas e os elefantes têm pintos grandes; é bom não deixar os cabelos do saco

se enrolarem aos do brruu (som vibrado com os lábios, para mimetizar a palavra cu).

Temos que dizer que escrevendo ISSO existe um certo desconforto. Claro, sem

impedimento, mas tudo que nos fizesse concordar com Freud, no que ele diz do caráter

transgressivo. Um constrangimento que contrasta hoje visivelmente com a desenvoltura

com que se podia cantarolá-las enquanto alguém dirigisse o carro ou quando andasse

pelos corredores da Universidade. E contrasta mais ainda, com a desenvoltura com que

meninos rebolavam e faziam trejeitos caracteristicamente gays, numa fiel imitação do

temido veado. Com certeza, normalmente, menino seria menino e não poderia sequer

dar sinais de gostar de coisas socialmente delegadas às meninas. Mas, com os Mamonas

na boca e no corpo, tudo se podia!

Aqui se reconhece este entrar pela porta da frente que um dispositivo

institucional permite à sexualidade supostamente reprimida.

Descompressão geral. Nas escolas, nas ruas, em casa, na frente de pai e mãe,

nas boates minha pistola é de plástico; o meu bumbum era flácido; hoje eu sou um gay;

gaúcho também pode, não tem que disfarçar; um robocop gay. Um pouco atônitos os

professores também logo aderiram. Pelo menos fingiram não ouvir seus alunos

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deixando cair as máscaras.

Desse mesmo cenário, descendiam os outros termos do rosário da sexualidade:

os “palavrões” como porreta, porra, veado, suruba, que foram objeto de pesquisa até

em dicionários. Aulas de Ciências? Português? Estudos Sociais? Não teve jeito! O

negócio era trazer para o “círculo da cultura”.

E assim foi, até com a morte, por acidente aéreo de todos os componentes da

banda (março de 1996). E foram as próprias crianças, em entrevistas exploradas pela

mídia (que até então vacilava de divulgação de um discurso tão ofensivo à moral de

costumes um tanto quanto hipócritas), que disseram o que as fascinava: a oportunidade

de dizer nas palavras e nas melodias dos Mamonas aquilo que, por elas e pelos adultos,

jamais se autorizariam a dizer.

Como foi dito no início, o que daria em parte razão a Freud é que aquilo que, à

flor da pele, se reprime, quando devidamente agenciado, como diria Foucault, alastra-se

no discurso e, por ele, tem lugar a céu aberto.

1.6. SEXO E LIBERDADE

Percebemos como a sexualidade penetra na vida de todos, meninos e meninas,

de forma diferenciada. E observamos que a sociedade geralmente utiliza-se de um duplo

padrão moral para tratar do comportamento sexual. Adolescentes masculinos e

femininos são educados de modos diferentes.

Os rapazes, desde muito cedo, têm que provar que são homens e para isso

precisam mostrar algum desempenho na área sexual. Há sempre a competição de quem

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mais beijou, mais ficou, mais namorou, mais transou. Quem foge a essa regra é rotulado

de “bicha”, de fraco, de criança...

O que interessa é a quantidade com que se usa o sexo e não a qualidade, o

tratamento do outro com respeito e consideração, que é deixada de lado.

Por isso, ainda imaturos e influenciáveis os rapazes vão aprendendo a buscar

no sexo apenas um modo de se auto-afirmarem, sem se preocupar com a outra pessoa,

sem buscar uma verdadeira parceria.

A responsabilidade do que se pode ou não fazer no sexo é sempre da moça.

Dele não se espera responsabilidade alguma. Ela que pense no que faz, pois se for fraca

e deixar ele se sente no direito de tirar todo o proveito. Afinal, ele é homem!

As pressões para o uso do sexo em quantidade exercidas sobre o rapaz são tão

fortes que muitos não têm a liberdade de escolha e se comportam mais em função do

que os outros cobram deles. E, para provar aos colegas que é macho, se vê na obrigação

de dizer SIM a todas as oportunidades sexuais que lhe apareçam pela frente. Isto porque

se ele disser NÃO, logo começam a desconfiar de sua masculinidade.

Para a maioria das moças, a pressão existe mais no sentido de que ela evite se

expressar sexualmente (a não ser no casamento). Será mais aceita socialmente, como

uma moça madura e responsável, quanto mais ela disser NÃO às oportunidades sexuais

com as quais se defrontar.

De um modo geral, a virtude do exercício da sexualidade está em quantos SIM

os rapazes disserem e em quantos NÃO as moças disserem.

Será que não existe para os adolescentes um caminho melhor onde eles

possam, sem obrigações nem proibições, perceber os seus limites e escolher a maneira

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mais adequada para se expressarem sexualmente? Um caminho que os leve a viver sua

sexualidade de maneira prazerosa, mas não desgastante e vazia? Uma sexualidade de

modo alegre, sem ser uma simples brincadeira? Uma sexualidade livre e responsável?

Até quando permitiremos essa mentalidade de se esperar dos rapazes que eles

retirem o máximo de proveito de qualquer oportunidade sexual, enquanto que, para uma

moça “de respeito”, as intimidades sexuais devem ser muito discretas, comedidas e

dentro do socialmente preestabelecido, nos namoros firmes e com certo compromisso?

Por que o sexo não pode representar um bem e um instrumento de prazer para

rapazes e moças, com dignidade e respeito, nem demais para eles, nem de menos para

elas?

O desafio é o de se repensar o comportamento sexual, não só da mulher, mas

de ambos os sexos. Do jeito que as coisas vão, nenhum dos dois pode servir de modelo

um para o outro.

Mas, constatamos que este velho padrão, que ainda hoje vigora, não fornece as

melhores condições para um relacionamento homem-mulher harmonioso e de

crescimento mútuo, pois uma das conseqüências negativas desse machismo é,

atualmente a GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA.

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CAPÍTULO II

A SEXUALIDADE EM CENA: A PESQUISA DA UNESCO

“O ideal seria que todos nós recebêssemos uma educação sexual

mais livre de preconceitos, mais verdadeira, de modo que

os nossos relacionamentos fossem mais abertos e comunicativos

e que a vida adquirisse mais gosto e sentido.”

(Machado, 1994)

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2.1. A PESQUISA DA UNESCO E AS IMPLICAÇÕES

A pesquisa, Juventude e Sexualidade de Werthein, aonde baseamos nosso

estudo, leva à reflexão sobre a necessidade de mudanças estruturais nas políticas

públicas de educação, da saúde, da assistência social, dos direitos humanos e da

cidadania.

É a mais abrangente pesquisa sobre juventude e sexualidade já realizada no

Brasil, que recém lançada pela Unesco, apresenta um diagnóstico surpreendente e ao

mesmo tempo preocupante da realidade dos jovens brasileiros.

Por um lado, demonstra aspectos positivos do comportamento sexual dos

jovens, como a busca por mais conhecimento, e o fato de não se caracterizarem por

atitudes promíscuas, ainda que questionem os tabus sexuais das gerações passadas e as

diferenças entre gêneros.

Verificamos no trabalho que os adolescentes tendem a iniciar a vida sexual

cada vez mais cedo. A não dar importância à virgindade. E a considerar o sexo tão

importante para homens quanto para mulheres.

Por outro lado, muitos não se protegem contra as Doenças Sexualmente

Transmissíveis (DST) e a AIDS, enfrentam a gravidez precoce e tendem a discriminar

os homossexuais.

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Percebemos que o estudo de Werthein revela um retrato atual do adolescente

brasileiro e aponta caminhos para que pais, escola, governo e sociedade civil ajudem no

desenvolvimento dos jovens e na redução dos riscos.

Observamos nesse estudo, um dos mais abrangentes sobre o tema já realizado

no Brasil, a participação de mais de 16 mil alunos da faixa etária de 10 a 24 anos, todos

matriculados entre a 5a. série do ensino fundamental e o 3o. ano do ensino médio de

colégios públicos e privados. Foram ouvidos também cerca de 4.500 pais e mães, além

de 3 mil educadores.

Porém, um dos graves problemas identificados na pesquisa (é bom ressaltar

que aqui falamos de jovens que vão à escola e, portanto, não são os mais excluídos

socialmente) é o da gravidez precoce: 14.7% das entrevistadas declararam ter

engravidado, pela primeira vez entre 10 e 14 anos.

Os indicadores sugerem que é preciso investir em educação, mas como?

O estudo traz à tona as contradições de uma sociedade que, embora esteja mais

aberta a tratar da sexualidade, não vem conseguindo responder aos anseios dos jovens.

O tema, que desperta curiosidade, sentimentos de prazer e amorosidade, também

provoca medos e dúvidas não só entre os jovens, mas entre pais e professores.

Enfim, são números importantes referentes à juventude, porém os pais não têm

tanta informação assim, nem os professores e as escolas têm tanto preparo. E estes

dados são confirmados pois um terço dos pais ouvidos na pesquisa da Unesco, não

dialoga com os filhos sobre o tema; 40% não têm conhecimento sobre DST; e 27% dos

professores não têm informações suficientes. As conversas sobre sexo costumam estar

restritas às aulas de ciências e biologia. Há que se expandir e muito as divulgações

sobre a sexualidade.

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Para adequar-se às políticas de juventude ao perfil do novo jovem do século

XXI, importantes ações devem ser desenvolvidas nos espaços escolares, com os alunos,

professores e pais.

É preciso intensificar, em casa e em sala de aula, o diálogo e a divulgação de

conhecimentos sobre ética pela vida e responsabilidade sexual, mas não no sentido do

ajuizamento de valores e sim da troca de idéias e experiências afetivo-sexuais.

Um dos caminhos é a escola constituir-se em espaço de participação, onde os

jovens sintam-se bem e protegidos, e passar a lidar não só com a aprendizagem em

temas clássicos do conhecimento, mas também com aqueles relevantes à cultura juvenil.

A escola precisa aliar ensino de qualidade a afetividade e respeito nas relações

entre os diversos atores. Também deve promover a capacitação de professores de todas

as áreas, desde artes até matemática ou física, para que discutam sexualidade em sala de

aula. Por serem agentes de grande confiabilidade junto aos alunos, os professores

podem ainda informar sobre serviços de atendimento em casos de violência sexual,

assédio e estupros, dos quais muitos jovens são vítimas hoje.

Faz-se necessário também que os próprios jovens sejam multiplicadores - para

tanto, as escolas devem recorrer ao apoio do governo e de ONGs.

A ampliação do Programa de Disponibilização de Preservativos do governo

federal também é uma importante medida de prevenção, uma vez que os jovens

menosprezam os riscos de contaminação por HIV/AIDS e muitos não usam camisinha.

Por parte da Unesco, uma das medidas previstas é a inserção do tema

sexualidade na agenda escolar do fim de semana.

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Investir em educação, saúde e assistência às crianças e aos adolescentes de

agora certamente resultará em lucros sociais e econômicos para os que vivem hoje e

para as gerações futuras.

Observando a sugestão dos indicadores percebemos que é preciso investir em

educação, prevenção e acesso a um planejamento familiar para a população jovem,

sensível ao gênero e à forma de ser desta geração, um trabalho que o Supervisor Escolar

pode realizar no contato com professores e alunos.

2.2. O ADOLESCENTE E O SEXO NA CABEÇA

Os jovens brasileiros estão cada vez mais distantes dos tabus sexuais das

gerações passadas. Mais da metade deles não dá importância à virgindade. Em geral,

transam cada vez mais cedo e vêem a sexualidade de homens e mulheres em pé de

igualdade. Ao contrário de gerações anteriores, 77% dos jovens acham que sexo é tão

importante para as mulheres quanto para os homens e a maioria acredita que gostar de

ficar não é um comportamento exclusivamente masculino.

Estas constatações fazem parte do estudo da Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

São revelações que até as mais bravas feministas da década de 70

consideravam utopia. Ao mesmo tempo em que mostra tamanha liberalidade, a pesquisa

revela que em alguns campos os jovens seguem uma cartilha conservadora. Mais da

metade é contra o aborto em casos de estupro ou risco para a mãe, em ambos garantido

por lei desde 1940.

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E, ao final, um dado grave: há muita falta de informação e prevenção. Eles

ainda menosprezam os riscos. A maioria usa “camisinha” ou não “dependendo da cara”

do parceiro. Um em cada dez nunca a usa, em hipótese alguma.

Nos últimos três anos, os pesquisadores descobriram um país mergulhado em

contrastes. Seguindo o mapa da sexualidade, observamos a percepção dos jovens

estudantes brasileiros sobre temas como gravidez e aborto, em uma pesquisa realizada

em 14 capitais:

Porto Alegre: cidade onde mais jovens acreditam que virgindade é coisa do

passado, 68,1% pensam assim. Florianópolis: é onde mais garotas dispensam a

“camisinha” porque “confiam no parceiro”. Metade delas age assim.

São Paulo: está entre as quatro capitais onde as meninas têm relações sexuais

mais cedo. Elas começam aos 15 anos, em média. Rio de Janeiro: mostra a maior

aceitação do aborto em caso de estupro, 71% das moças e 57% dos rapazes acham a

medida justificável.

Vitória: lá os meninos começam a vida sexual mais cedo. A iniciação ocorre

em média aos 13 anos. Salvador: tem os rapazes mais desconfiados. Apenas 28% dos

garotos acham que a namorada transa só com ele.

Maceió: tem o menor uso de métodos contraceptivos, 17% das meninas e 13%

dos meninos transam sem proteção. Recife: é, ao lado de Maceió, a campeã de abortos,

11% das moças admitem já ter interrompido uma gravidez.

Fortaleza: é o lugar onde menos garotas sabem o que é período fértil – 51%,

mais da metade, admitem não ter conhecimentos suficientes. Belém: é a capital onde

mais adolescentes entre 10 e 14 anos já tiveram relações sexuais. É assim com 31% dos

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meninos e 9% das meninas.

Manaus: tem a mior presença de gestantes em escolas, 69% das meninas sabem

que alguma aluna do colégio está grávida. Cuiabá: junto com o Rio, é onde menos

garotas acreditam na chance de contrair AIDS, 28% delas dispensam a “camisinha” por

esse motivo.

Goiânia: tem o maior índice de moças que vêem homossexualidade como

doença, 14% delas pensam assim. Distrito Federal: 29% dos rapazes acham que o

aborto é justificável quando a mãe não quer o filho. É o maior índice do país.

Colocando várias informações sobre os adolescentes, vemos, por exemplo,

que:

“A menina não precisa casar virgem, mas, se quiser, também pode. Isso não tem de ser um tabu. Diz respeito a cada um, e mais ninguém.” (Sofia Boito, 16 anos, 3o. ano do ensino médio privado) “Gosto de ficar. É menos dor de cabeça. A gente não tem de dar satisfação. Meu recorde foi o Carnaval de 2003. Beijei 16 meninas.” (Rafael Martins, 16 anos, 2o. ano do ensino médio da rede pública)

“Há no Brasil várias juventudes, que pensam e agem de formas distintas. As

diferenças regionais são imensas”, diz Werthein. Tanto que a conclusão do trabalho

programado para ser lançado em livro pela Unesco, ganhou o nome de “Juventude e

Sexualidade”.

2.3. MÃES ANTES DA HORA

A pesquisa Juventude e Sexualidade traz uma cifra espantosa: uma em cada

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dez estudantes engravida antes dos 15 anos. Isso significa que a adolescente brasileira

tem mais probabilidade de engravidar (o que acontece com 14%), do que se formar

numa faculdade, já que hoje somente 7% das mulheres possuem diploma de curso

superior, segundo o IBGE.

Entre as adolescentes com menos de 19 anos, a proporção de grávidas cresce

desde a década de 70, ao contrário do que ocorre em todas as outras faixas etárias.

Só no Estado de São Paulo, nos últimos cinco anos, nasceram cerca de 650 mil

crianças da barriga dessas meninas-mães, mais que a população de uma cidade como

São José dos Campos. As adolescentes são responsáveis por quase 20%, segundo

Werthein, dos bebês paulistas.

Em maior ou menor grau, todas essas jovens deixam sonhos de lado para

assumir uma responsabilidade grande demais para sua idade.

O fenômeno se espalha por toda a pirâmide social. Famílias que ganham até

um salário mínimo per capita concentram 65% das adolescentes grávidas, quase a

metade delas no Norte e Nordeste, as regiões mais pobres do país.

Segundo confirmação do Instituto de Saúde Pública do Rio de Janeiro, da

Fundação Oswaldo Cruz, 70% dessas mães ficarão desempregadas depois. “A mãe

adolescente pobre vai perpetuar a pobreza. É uma armadilha contra o

desenvolvimento”, diz Werthein. Na classe média, a gravidez inesperada atrapalha os

estudos da jovem, suas perspectivas de carreira e de relacionamentos futuros (a relação

que originou a gravidez quase nunca dura).

Quando a gravidez prossegue, o bebê também pesa nos ombros dos avós - no

mínimo, como uma bomba sobre as finanças familiares, porque segundo a pesquisa,

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calcula-se que criar um filho de classe média, estudando em escola particular, custe R$

420 mil, do nascimento aos 21 anos. E a avó acaba sendo requisitada para cuidar da

criança, justamente na hora em que o esforço para criar os filhos parecia próximo do

fim.

O que mais espanta nas estatísticas, porém, é como tem crescido a proporção

de adolescentes grávidas em famílias abastadas, com acesso a informação, orientação

médica e anti-concepcionais.

O número de nascimentos só não é maior por causa dos abortos, feitos em

clínicas clandestinas. Mesmo assim, em dez anos, a participação das garotas de classe

média entre as grávidas aumentou 34% e já se reflete na rede de saúde particular.

Nesse período, os partos de adolescentes no Hospital São Luiz, por exemplo,

uma das maiores maternidades de São Paulo, quadruplicaram.

Esses jovens pais e mães estudam em colégios privados e crescem num

ambiente em que se ouve falar de sexo seguro abertamente, quando não na sala de

jantar, ao menos na TV e nas revistas.

É uma questão que afronta as soluções óbvias. Ao contrário de gerações

anteriores, os jovens de hoje são bombardeados pelas campanhas publicitárias e pela

educação sexual no colégio, mas é surpreendente como velhos tabus e fantasias ainda os

confundem.

No começo do século XXI, muitas adolescentes ainda crêem que não há perigo

de engravidar durante as “primeiras transas”, como dizem. E os garotos, por sua vez, se

recusam a usar camisinha nas relações sexuais, já que muitos “têm medo de broxar com

o preservativo”, como falam.

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CAPÍTULO III

A SUPERVISÃO ESCOLAR FRENTE A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

“Não será a falta de um ideal, de uma meta a ser perseguida,

que deixa as pessoas desorientadas e confusas

na vivência de sua

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sexualidade?”

(Machado, 1994)

As competências necessárias ao Supervisor Escolar para organizar junto à

escola, aos professores, alunos, incluindo aí os adolescentes que iniciam sua vida

sexual as muitas situações de aprendizagem e as prevenções necessárias para evitar a

gravidez precoce são principalmente identificadas no trabalho de Philippe

PERRENOUD (1996) e MORIN (2002).

O Supervisor Escolar precisaria conhecer as disciplinas, construir com os

professores o planejamento e a seqüência diária, comprometer os adolescentes em

atividades de pesquisa e projetos de conhecimento de educação sexual. Em conjunto, o

Supervisor Escolar e os professores deveriam trabalhar a partir de experiências dos

adolescentes, dos erros e dos seus problemas que geram a gravidez precoce.

O Supervisor Escolar deveria gerir a progressão da aprendizagem, conhecendo

e gerindo as situações-problemas ajustadas aos alunos e adolescentes, tendo uma visão

longitudinal dos objetivos, estabelendo laços afetivos e fazendo balanços dos trabalhos

conjuntos na escola, sempre com ênfase no problema da gravidez.

O Supervisor Escolar pode conceber e fazer evoluir dispositivos de

diferenciação entre professores e adolescentes, guiando heterogeneidades, com práticas

de apoio-integradas aos trabalhos com as alunas grávidas e desenvolvendo cooperação

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entre todos.

O Supervisor Escolar pode estar implicado com os adolescentes em sua

aprendizagem e com os professores em seu trabalho, ressuscitando o desejo de

aprender, de estar orientado no âmbito sexual, sem esquecer do lugar do saber, o

coração, explicando a relação com o conhecer, o trabalho escolar, desenvolvendo a

capacidade de todos se auto-avaliarem, restituindo o conselho dos alunos, oferecendo

atividades de formação e favorecendo a definição de projetos pessoais dos alunos,

inclusive das alunas grávidas.

O Supervisor Escolar deve trabalhar em equipe, ao elaborar o projeto com a

equipe, ao animar os trabalhos em grupo de professores e alunos, ao conduzir as

reuniões, formando e renovando a equipe pedagógica, confrontando e analisando

assuntos e situações complexas, até mesmo as discriminações atribuídas aos

adolescentes e, principalmente, ao procurar soluções para as crises de cada gravidez

precoce dentro da escola.

O Supervisor Escolar deve participar na elaboração de projetos escolares que

procurem soluções para o problema da gravidez na adolescência, gerindo recursos,

coordenando com todos, funcionários, educadores, educandos, pais e comunidade,

organizando e fazendo evoluir, na escola, a participação de todos os alunos.

O Supervisor Escolar deve informar e implicar os pais no processo ensino-

aprendizagem das adolescentes grávidas e seus parceiros, se possível, animando

reuniões, com debates e informações, conduzindo entrevistas, implicando os pais no

trabalho dos professores e valorizando a construção de uma solução em conjunto.

O Supervisor Escolar deve utilizar tecnologias novas, utilizando softwares,

explorando potencialidades, materiais didáticos, conhecimento à distância, utilizando a

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multimídia no ensino, procurando conhecer cada vez mais sobre os adolescentes, e

nestes sobre as alunas grávidas e seus parceiros, para que possa integrá-los também às

tecnologias atuais.

O Supervisor Escolar ainda deve enfrentar os deveres e dilemas éticos da

profissão, prevenindo a gravidez de seus alunos em idade escolar, lutando contra os

preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas, raciais e que envolvam as alunas que

porventura fiquem grávidas, participando e implantando regras, analisando a relação

pedagógica, de autoridade, de comunicação em cada classe, desenvolvendo

responsabilidades, solidariedades e sentimentos de justiça, para evitar casos futuros de

gravidez precoce.

O Supervisor Escolar que procura o desenvolvimento da aprendizagem,

através da educação pautada num trabalho de atendimento a todos professores, alunos e

adolescentes grávidas, com suas múltiplas inteligências, tem que gerir um programa de

formação contínua, sabendo explicar a sua prática, estabelecendo seu próprio balanço

de competências e seu programa pessoal de formação contínua, negociando com os

professores os projetos de formação, envolvendo-se em tarefas e acolhendo a

participação de outros profissionais.

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CONCLUSÃO

Percebemos que a Supervisão Escolar, ao levar em conta o problema da

gravidez na adolescência, busca atingir vários objetivos, através da implantação do

planejamento participativo na Escola, entre eles: a integração dos alunos aos novos

problemas que se apresentam, à sexualidade, à autonomia e à liberdade, procurando

situar os alunos no tempo e no espaço em função de suas vivências no ambiente escolar,

o trabalho de familiarização da adolescente grávida à nova situação de vida,

estabelecendo relações entre a Escola x Família x Comunidade e, principalmente, a

possibilidade de atividade contínua, tanto pedagógica quanto de lazer e de trabalho.

Além do trabalho direto realizado pela Supervisão Escolar, há a elaboração e

incentivo às reuniões escolares com todos da comunidade.

O Supervisor Escolar pode orientar os pais como proceder com as adolescentes

grávidas, como elaborar os exercícios em casa, quanto ao afeto e a alimentação, além de

orientar os professores quanto ao posicionamento e relacionamento nas classes, de

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acordo com as necessidades de cada turma, orientando ainda os funcionários em relação

ao tratamento carinhoso e a atenção para com as adolescentes.

Tudo isso visando o bem-estar das alunas grávidas, conceder-lhe maior

independência e a sua integração com a família, a escola e com o meio social.

Somente procedendo dessa forma pode a escola se tornar inclusiva, onde todas

as pessoas têm as mesmas oportunidades de ser e de estar, de forma participativa,

incluindo aí as adolecentes grávidas, e onde as relações entre o acesso às oportunidades

e às características individuais não sejam marcadas por outros motivos que não a

igualdade de valor entre todos.

FREIRE vai além indicando que a escola deve ser o lugar onde se faz amigos:

“...Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, gente que estuda, gente que se alegra e se conhece, se estima. O diretor é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor, na medida em que cada ser se comporta como colega, como amigo. Nada de ilha cercada de gente por todos os lados. Nada de ser como tijolo que forma parede indiferente, fria, só. Importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se amarrar nela. Ora, é lógico... em uma escola assim vai ser fácil estudar, crescer, fazer amigos, educar e ser feliz.” (1996)

A escola precisa sempre estar atenta aos progressos e às dificuldades dos

alunos, principalmente do aluno que inicia sua vida sexual, sempre atenta ao seus

relacionamenos e à sua integração com os outros, para que com o seu aprendizado e

desenvolvimento diários, os alunos possam evitar a gravidez, uma vez que todos, pais,

alunos, professores, funcionários e comunidade são responsáveis para que o mundo seja

melhor para eles.

A terapia devidamente orientada e o Supervisor Escolar podem contribuir de

várias formas para o crescimento satisfatório das alunas grávidas, facilitando a sua

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integração e possibilitando melhor convivência, pois muitas vezes existe o seu

isolamento social.

Só assim, a escola, finalmente, levará em conta o valor infinito da vida

humana, reconhecendo a individualidade de cada um que aprende e ensina sobre a

vivência sexual.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Campinas, SP : Papirus, 2000.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando;

introdução à filosofia. SP : Moderna, 1986.

CHAUÍ, Marilena. Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida. SP : Brasiliense,

1991.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. RJ : Graal, 1985.

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FREITAS, Nilson Guedes de. Pedagogia do amor; caminho da libertação na relação

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FREUD, S. A vida sexual dos seres humanos (orig. 1916-1917). In: Obras Completas

(v.XVI). RJ : Imago, 1976.

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MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita; repensar a reforma, reformar o pensamento. RJ :

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___________. Educação e complexidade; os sete saberes e outros ensaios. SP : Cortez,

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___________. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa : Instituto Piaget, 1991.

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DF : UNESCO, 2002.

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SALTINI, Cláudio J.P. Afetividade e inteligência; a emoção na educação. RJ : DP&A,

2002.

WERTHEIN, Jorge. representante da Organização das Nações Unidas para a Educação,

a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - TEORIAS SOBRE A 14 SEXUALIDADE

1.1. OS CONCEITOS: SEXUALIDADE E AUTONOMIA 15

1.2. DO TEMIDO SEXO DOS ANJOS EM FREUD 16

1.3. DA VONTADE DE SABER EM FOUCAULT 18

1.4. EXEMPLO LITERÁRIO PARA A SALA DE AULA 20

1.5. EXEMPLO ARTÍSTICO PARA A SALA DE AULA 22

1.6. SEXO E LIBERDADE 26

CAPÍTULO II - A SEXUALIDADE EM CENA: 29 A PESQUISA DA UNESCO

2.1. A PESQUISA DA UNESCO E AS IMPLICAÇÕES 30

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2.2. O ADOLESCENTE E O SEXO NA CABEÇA 33

2.3. MÃES ANTES DA HORA 35

CAPÍTULO III - A SUPERVISÃO ESCOLAR FRENTE 38 À GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 44

ÍNDICE 45

ANEXOS 46

ANEXOS

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE

PLANO DE PROJETO DE PESQUISA

Nome da Aluna: CLEIDE GERALDA FERREIRA DE LIMA

Curso: SUPERVISÃO ESCOLAR

TEMA DA MONOGRAFIA fato ou fenômeno

A Supervisão Escolar frente à gravidez na adolescência

1. TÍTULO

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA:

DIÁLOGO ABERTO COM A SUPERVISÃO ESCOLAR

2. PROBLEMA

De que modo a Supervisão Escolar pode combater a gravidez na adolescência?

3. JUSTIFICATIVA

Por que desejamos estudar sobre esse tema? Por que acreditamos que quanto mais estudos sobre a gravidez na adolescência melhor se compreende o problema, pois mais bem informados estaremos para divulgá-lo e combatê-lo. Por que verificamos, através das estatísticas, que os adolescentes têm que estar também muito bem informados e

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orientados sobre a gravidez precoce, mas esta não é uma grande preocupação das escolas em geral. Por que constitui-se uma investigação inquietante, o fato de efetuarmos uma pesquisa em educação, vinculando a gravidez na adolescência ao trabalho do Supervisor Escolar, à luz das aprendências sobre a vida, a justiça e a moral, de acordo com as teorias principais ministradas em nosso curso de Pós-Graduação da UCAM.

4. OBJETIVOS

Para quê desejamos estudar sobre esse tema? Para melhor orientarmos os alunos, a fim de diminuir os seus conflitos e ansiedades, o que geram tantas atitudes impensadas e irresponsáveis. Para entendermos que quanto mais divulgado o problema da gravidez na adolescência, mais protegidos estarão os alunos dos riscos de passarem por situações semelhantes. Para combatermos a incidência da gravidez na adolescência com sabedoria e conhecimento de causa, transformando a autonomia do adolescente, principalmente no que diz respeito à sua vida sexual, em atitudes que estejam preocupadas com a vida, a justiça e a moral.

5. HIPÓTESE

A Supervisão Escolar pode atuar no combate à gravidez na adolescência, se mostrar um trabalho vinculado à contrução da solidariedade, fazendo com que os alunos percebam a escola como um lugar de grande preocupação com a vida, um local de tolerância moral e de preocupação com os ideais de justiça, além de ser um lugar de pesquisa, de estudo e de solução de dúvidas. Outro modo da Supervisão Escolar atuar no combate à gravidez na adolescência, seria atuando com eficiência, junto a cada professor comprometido com a qualidade de seu ensino, orientando-o, ajudando-o a realizar o seu trabalho com os alunos, cooperando para com todas as ações, que identiquem a construção de uma pedagogia para a solidariedade.

6. DELIMITAÇÃO

Qual o objeto de nossa pesquisa? Para facilitar o estudo, delimitamos a análise do problema da gravidez na adolescência, ao âmbito do Ensino Médio, procurando responder porque atinge dezenas de jovens, verificando ainda outros conceitos que também estão embricados ao problema como a questão da sexualidade, da autonomia e da liberdade. Para auxílio na interpretação dos conceitos recorremos a três educadores conhecidos atualmente, Paulo Freire, Edgar Morin e Rubem Alves.

7. PROCEDIMENTO A pesquisa constará de um pequeno levantamento bibliográfico de três obras de Edgar Morin, como também

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METODOLÓGICO das obras de dois educadores nacionais, Paulo Freire e Rubem Alves, além de comentadores conhecidos.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Campinas, SP : Papirus, 2000. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita; repensar a reforma, reformar o pensamento. RJ : Bertrand Brasil, 2002. ____________. Educação e complexidade; os sete saberes e outros ensaios. SP : Cortez, 2002. ____________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. SP : Cortez; Brasília, DF : UNESCO, 2002. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo : Paz e Terra, 1996. FREITAS, Nilson Guedes de. Pedagogia do amor; caminho da libertação na relação professor-aluno. RJ : WAK, 2002. ROSSINI, Maria A.Sanches. Pedagogia afetiva. Petrópolis, RJ : Vozes, 2001. SALTINI, Cláudio J.P. Afetividade e inteligência; a emoção na educação. RJ : DP&A, 2002.

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

SUPERVISÃO ESCOLAR PROJETO A VEZ DO MESTRE

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DIÁLOGO ABERTO

COM A SUPERVISÃO ESCOLAR

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DATA DA ENTREGA: 25/09/2004

AVALIADO POR: _________________________________GRAU: _____

Rio de Janeiro, RJ, ______ de _______________ de 2004.