grandes debates da ciÊncia dez das maiores contendas de todos os tempos

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Autor HAL HELLMAN GRANDES DEBATES DA CIÊNCIA DEZ DAS MAIORES CONTENDAS DE TODOS OS TEMPOS Editors-Executivs Cristi!e R"ri# Tr$du%&o de 'os( Osc$r de A)*eid$ M$r+ues Editore,s-Assiste*e M$ri$ Do)ores Pr des ./ rei*0ress&o Editor$ 1NESP P$#i!$ ... CAP2T1LO 3 O B1LDOG1E DE DAR4IN CONTRA SAM 5ESCORREGADIO5 AS G1ERRAS DA E6OL178O P$rte I9 o s(cu)o :I: O s$)&o !$ 1!iversid$de de Ox;ord est$v$ )ot$do !$+ue)e s<=$do de .>?@ M$is de @@ 0esso$s )< se co*0ri*i$* o ce!tro ocu0$do 0 *$ss$ !e#r$ de <=itos c)eric$is Dis0erses 0e)o rest$!te do s$)&o 0oucos de;e!sores d$s !ov$s e extr$v$#$!tes teori$s de C$r)es D$ e!co!tro $!u$) d$ Associ$%&o BritF!ic$ 0$r$ o Pro#resso d$ Ci !ci$ Ju!o $0roxi*$d$*e!te sete *eses de0ois d$ 0u=)ic$%&o do 0rovoc$ D$r i! A ori#e* d$s es0(cies 0or *eio d$ se)e%&o !$tur$) N$+ue)e i!st$!te 'o! 4i))i$* Dr$0er te*0or$ri$*e!te i*0ort$d de Nov$ Kor u*=i$ *o!oto!$*e!te so=re 5O dese!vo)vi*e!to i!te)e Euro0$ co!sider$do e* re)$%&o s 0ers0ectiv$s do Sr D$r i!5 - !$ 0$)estr$ so=re d$r i!is*o e 0ro#resso soci$) As i*0)ic$%"es de J< est$v$* se!do reco!ecid$s e discutid$s P$#i!$ .. M$s todos s$=i$* +ue o i)ustre =is0o de Ox;ord S$*ue) 4i)=er;or u* 0es$do $t$+ue ec)esi<stico s 0eri#os$s !ov$s idei$s de D$r i!

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Autor Hal Hellman

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Autor HAL HELLMANGRANDES DEBATES DA CINCIADEZ DAS MAIORES CONTENDAS DE TODOS OS TEMPOSEditors-Executivs Christine RhrigTraduo de Jos Oscar de Almeida MarquesEditore4s-Assisteme Maria Dolores Prdes1 reimpressoEditora UNESPPagina 111 CAPTULO 5 O BULDOGUE DE DARWIN CONTRA SAM "ESCORREGADIO" AS GUERRAS DA EVOLUO Parte I: o sculo XIX O salo na Universidade de Oxford estava lotado naquele sbado tarde do vero de 1860. Mais de 700 pessoas l se comprimiam, o centro ocupado por uma slida massa negra de hbitos clericais. Disperses pelo restante do salo achavam-se alguns poucos defensores das novas e extravagantes teorias de Charles Darwin. A ocasio era o encontro anual da Associao Britnica para o Progresso da Cincia; a data, 30 de junho, aproximadamente sete meses depois da publicao do provocativo novo livro de Darwin, A origem das espcies por meio da seleo natural. Naquele instante, John William Draper, temporariamente importado da Universidade de Nova York, zumbia monotonamente sobre "O desenvolvimento intelectual da. Europa considerado em relao s perspectivas do Sr. Darwin" - na realidade, uma palestra sobre darwinismo e progresso social. As implicaes de longo alcance da teoria j estavam sendo reconhecidas e discutidas.Pagina 112 Mas todos sabiam que o ilustre bispo de Oxford, Samuel Wilberforce, estava armando um pesado ataque eclesistico s perigosas novas ideias de Darwin Quanto a Darwin, ele estava recolhido sua casa, doente, mas teria sido de pouca valia em todo caso. Nascido em 1809, completara justamente 50 anos quando sua Origem das espcies foi publicada. Nessa poca, ele se convertera de um jovem e vigoroso explorador em um homem recluso e de sade frgil, que raramente saa rua. Embora suas ideias sobre a evoluo fossem consideradas ofensivas, ele prprio era uma pessoa extraordinariamente tmida, e jamais teria sido capaz de enfrentar um s da retrica como o Bispo Wilberforce. O apelido "Sam Escorregadio" dado a Wilberforce em Oxford pelos estudantes hoje frequentemente tomado em sentido estritamente pejorativo. Na poca, contudo, estava implcito um genuno respeito por sua destreza na oratria, especialmente por sua habilidade de injetar, quando necessrio, charme e humor juntamente com o veneno. Wilberforce tinha tambm alguma reputao como matemtico e, alm- disso, apesar de no ser um cientista, tinha sido cuidadosamente municiado para o ataque a Darwin por Sir Richard Owens reconhecido como o maior expoente da poca em anatomia comparada. Embora a obra tivesse sido publicada h apenas alguns meses, j havia causado um furor extraordinrio. Uma das razes para isso foi o fato de Darwin ser um naturalista reconhecido e respeitado, que pouco antes do aparecimento do livro havia recebido a indicao para o ttulo honorfico de cavaleiro. A proposta j havia recebido o aval do Prncipe Albert, mas, com a publicao da Origem, os conselheiros eclesisticos da Rainha Vitria - entre eles o Bispo Wilberforce - manifestaram-se contra a indicao, que acabou sendo derrotada. Darwin, deve-se. notar, no foi o primeiro a apresentar uma teoria da evoluo. A ideia de que espcies no so inalterveis, mas podem mudar e adaptar-se ao longo do tempo tinha sido proposta um sem-nmero de vezes. O prprio av de Darwin, Erasmus Darwin, j havia defendido a ideia, assim como tinha feitoPagina 113Lamarck (que acreditava que as mudanas causadas pela exposio a influncias ambientais poderiam ser transmitidas aos descendentes). No obstante, na poca de Darwin, o nmero de pessoas violentamente opostas a qualquer forma de evoluo era muito maior que o das pessoas a favor. Um tratado anterior pr-evoluo, Vestgios da histria natural da criao, tinha sido publicado em 1844 por Robert Chambers, um bem-sucedido autor de livros de divulgao cientfica. Esperando uma recepo indignada, ele no colocara seu nome no trabalho. E foi mesmo indignada: Adam Sedgwick, professor de geologia de Darwin em Cambridge, grunhiu que a evoluo e a gerao espontnea uniram-se em um "casamento ilegtimo" e geraram um monstro horrendo; seria um ato de misericrdia esmagar "a cabea do aborto imundo e pr um fim a seus rastejes".1 Sedgwick, afinal, acreditava que um balano adequado entre os seres vivos e o mundo em que viviam era mantido pela interveno divina, sempre que necessrio. Darwin estava destruindo esse elo, para no mencionar o elo entre o mundo moral e o mundo material. O livro de Chambers tinha sido tambm severamente atacado pelo prprio Wilberforce no influente Quarterly Review; pois, infelizmente, os Vestgios eram, na verdade, um pastiche de coisas sensatas e absurdos. O prprio Darwin tinha certas dvidas sobre o livro. Ao mesmo tempo em que enxergava problemas nos fundamentos cientficos que o sustentavam, especialmente nas primeiras edies, Darwin tambm percebeu que o livro estava funcionando, quem sabe, para desviar um pouco do tiroteio que ele esperava em reao a seu prprio tratado longamente gestado e poderia mesmo estar aplainando o terreno para ele. Os ataques s ideias evolucionrias, conquanto excessivos, no eram inteiramente despropositados. Os evolucionistas argumentavam, essencialmente, contra a necessidade de um sem nmero de atos especficos de criao, isto , um ato para cada uma das espcies de vida sobre a Terra. Nos Vestgios, entretanto, assim como em outras tentativas anteriores, essas ideias no passavam de pura especulao, sem quase nada que as sustentasse, e absolutamente desprovidas de qualquer mecanismo capaz de explicar comoPagina 114 a evoluo ocorre. A concepo criacionista era to boa quanto qualquer outra. O mecanismo faltante a seleo natural - foi o que Darwin acrescentou, juntamente com uma imensa massa -de dados de apoio e um argumento bem articulado. Eis uma breve descrio da seleo natural, em suas prprias palavras:citao: Tenha-se tambm em mente quo infinitamente complexas e intimamente associadas so as relaes mtuas de todos os seres orgnicos uns com os outros e com suas condies fsicas de vida; e, consequentemente, quo infinitamente variadas as diversidades de estrutura que poderiam ser de utilidade para cada ser se as condies de vida se modificassem ... Caso essas (variaes) efetivamente ocorram, poderiam os porventura duvidar (lembrando-nos de que nascem muito mais indivduos do que os que podem sobreviver) de que indivduos dotados de alguma vantagem, por menor que seja, sobre outros, teriam melhores chances de sobreviver e de procriar sua espcie?... A essa preservao de diferenas e variaes individuais favorveis, e destruio das que so malficas, chamei Seleo Natural, ou Sobrevivncia do Mais Apto. 2 Isto no soa nada ameaador aos ouvidos da maioria das pessoas, mas esse foi o aspecto rapidamente identificado como um real perigo pelo clero. Por isso, eles julgaram importante demolir toda a estrutura darwiniana o mais rpido possvel. Para esse fim, o encontro de 1860 da Associao Britnica para o Progresso da Cincia (a sigla em ingls BAAS), pareceu-lhes a ocasio ideal. Os defensores de Darwin, em pequeno nmero, alimentavam esperanas de que algum se erguesse contra Wilberforce. Entre esses defensores estava Thomas Henry Huxley, um cientista altamente respeitado que tinha feito importantes contribuies em zoologia, geologia e mesmo antropologia. Tambm escrevera sobre educao e religio, em um estilo claro e primoroso, e era um consumado orador. Huxley tinha uma razo adicional para apoiar Darwin. Como ele observou a um colega, o clrigo Charles Kingsley, " claro para mim que, se esse grande e poderoso instrumento, para o bem ou para o mal, que a Igreja d Inglaterra, tiver de ser salvo do estilhaPagina 115amento diante da mar crescente da cincia - um acontecimento que eu lamentaria muito presenciar, mas que ir inevitavelmente ocorrer se a direo de seu destino estiver a cargo de homens como Samuel Wilberforce -, isso dever ser alcanado pelos esforos de homens que, como voc, sabem a maneira de combinar a prtica da Igreja com o esprito da cincia". 3 Em outras palavras, a cincia evolucionria e a religio podem coexistir, mas no em meio a um bombardeio extremista. Um dos problemas com as ideias de Darwin veio logo tona. O conceito bsico, modificao da espcie pela seleo natural, era ao mesmo tempo to simples que Huxley pde dizer "Por que eu mesmo no pensei nisso?" e, contudo, to profundo que podia significar muitas coisas diferentes para diferentes pessoas, tanto para seus defensores quanto para seus oponentes - to profundo, de fato, que as geraes posteriores ainda no foram capazes de compreender seu plano global. Outra das dificuldades da teoria sua natureza dual primeiro, a evoluo ela mesma, e segundo, a seleo natural, que parece ser o grande obstculo. O principal problema com a seleo natural era, e ainda , que no h um selecionado r ativo no processo de "seleo". Trata-se, antes, de um processo a posteriori: a natureza faz a seleo. Talvez "preservao natural" poderia ter sido um termo de 'mais fcil aceitao. De acordo com Ernst Mayr, um dos "buldogues" de maior escalo nos dias de hoje, o prprio Huxley nunca acreditou no processo darwiniano de seleo natural. H outros que tambm argumentaram contra a seleo natural e ofereceram uma variedade de alternativas para explicar o mecanismo de variao. Com uma nica exceo, nenhuma dessas alternativas se manteve. A exceo o saltacionismo, que envolve saltos na evoluo. Huxley j havia questionado a insistncia de Darwin no gradualismo: pequenas mudanas que, somando-se, produzem finalmente as grandes diferenas entre as espcies. Nisto Huxley pode ter tido razo. Em nossa prpria poca, o muito respeitado bilogo evolucionista Srephen Jay Gould e seu colega Niles Eldridge propuseram sua prpria verso da concepo saltacionista, que eles chamam "equiPagina 116 lbrio pontuado". Gould, entretanto, nota cuidadosamente que esse saltacionismo de modo algum nega a integridade bsica da seleo natural.4 Seja como for, todos os evolucionistas, quaisquer que fossem suas diferenas, eram unnimes em sua rejeio doutrina da criao especfica.Tema: Entrando na arenaHuxley, sabendo do compreensvel nervosismo de Oarwin em relao a seu trabalho, tinha-lhe escrito na vspera da publicao da Origem para oferecer apoio e encorajamento: "E quanto aos curas que vo latir e uivar, voc deve lembrar-se de que alguns de seus amigos, em todo caso, possuem uma boa carga de combatividade, que (embora voc a tenha muitas vezes reprovado com razo) pode ser-lhe agora de boa serventia. J estou afiando minhas garras e meu bico em prontido". 5 Embora soubesse que Wilberforce era "um polemista de primeira linha", o prprio Huxley tinha adquirido uma reputao de slido debatedor e expositor. Em fevereiro de 1860, contudo, fizera uma conferncia sobre as ideias de Darwin na prestigiada Royal Institution6 - com dois resultados surpreendentes. Em primeiro lugar, ele tinha "desapontado e desagradado" todo mundo, ao tentar apresentar todos os lados da questo. Em segundo lugar, ao buscar arrancar a cincia do controle eclesistico, ele se surpreendeu assumindo uma atitude decididamente de confronto em relao ao partido da Igreja - em grau muito maior do que Darwin havia feito.7 Sabendo que a sesso em Oxford estaria apinhada de clrigos, Huxley inicialmente decidira no comparecer. Como escreveu mais tarde, "Eu sabia muito bem que se ele (Wilberforce) jogasse corretamente suas cartas, teramos pouca chance, com uma tal audincia, de fazer uma defesa eficiente". 8 No dia anterior sesso, contudo, Huxley tinha por acaso encontrando-se com Robert Chambers, autor dos Vestgios, o tratado anterior sobre evoluo. Ele falou a Chambers de sua deciso de no comparecer, pois no "via nenhum benefcio em abandonar a paz e tranquilidade para serPagina 117episcopalmente esmurrado".9 Chambers, talvez com a esperana de alguma tardia vingana contra o homem que tinha espezinhado seu livro, tanto fez que conseguiu persuadir Huxley a comparecer e dar uma resposta a Sam "Escorregadio". Assim, um dos grandes picos dos anais do debate cientfico foi montado. Infelizmente, os detalhes esto atolados em mistrio e confuso. O resultado, de fato, um Rashomon de primeira classe, com vrios reprteres dando cada qual sua prpria verso. Apesar das muitas variaes, todos os que mais tarde escreveram sobre o episdio concordam quanto ao tom geral. Draper zumbiu por urna hora, at que; finalmente, abriu-se a palavra ao plenrio. A expectativa chegou ao mximo, e ento, corno j estava acertado, Wilberforce ergueu-se para fazer uns "poucos comentrios". Com uma fluncia apropriada a um debate de alta classe, Wilberforce comeou resumindo brevemente o terreno comum entre a cincia e a Igreja - pois tratava-se, afinal, de um encontro cientfico. Ele at cumprimentou Huxley, que, ele estava certo, estava prestes a demoli-lo. Ento, ps as mos obra. Mais uma vez, h dvidas sobre as palavras exatas, mas ele acusou em parte a teoria de ser meramente "urna hiptese, alada de forma muito pouco filosfica dignidade de uma teoria causal" .10 Objees semelhantes so apresentadas ainda hoje. Depois de uma boa meia hora de divagao retrica, ele observou quo extremamente desconfortvel se sentiria se algum pudesse demonstrar que um macaco no zoolgico era seu ancestral (algo que Darwin nunca disse ou pensou). Voltou-se ento para Huxley e perguntou-lhe maliciosamente se era atravs de seu av ou de sua av que ele alegava descender de um macaco. A audincia explodiu em gargalhadas e aplausos. Huxley meramente murmurou: "O Senhor entregou-o em minhas mos". Essa era uma poca pr-eletrnica, contudo, e Huxley sabia que no possua a voz penetrante de um Wilberforce. Ele permaneceu, portanto, sem responder at que a audincia comeou a clamar, "Huxley, Huxley". S ento levantou-se e ofereceu sua breve resposta. "Estou aqui apenas no interesse da cincia, e no ouvi nada, que possa prejudicar a causa de meu augusto cliente". Aps maisPagina 118 algumas poucas observaes em defesa do ponto de vista darwiniano, ele concluiu: "Finalmente, quanto a descender de um macaco, no vejo como uma vergonha erguer-se de tal origem. Mas eu sentia vergonha de ter descendido de um homem que prostituiu os dons da cultura e da eloquncia a servio do preconceito e da falsidade".11 Tenha em mente que insultar um bispo naqueles dias era uma coisa muito sria. A reao foi previsvel: o clero rugiu sua afronta; os partidrios de Darwin aplaudiram; e os estudantes sem dvida aplaudiram ambos os lados. Uma mulher, Lady Brewster, desfaleceu pelo choque. Houve mais. Sir John Lubbock, um conhecido astrnomo e cientista da natureza, ergueu-se e fez alguns comentrios favorveis s ideias de Darwin. Em contraste, Robert Fitzroy, com quem Darwin tinha navegado durante a pica viagem de cinco anos com a qual provavelmente tudo comeou, e que era agora um almirante e ex-governador da Nova Zelndia, ergueu-se e, brandindo sua Bblia, clamou que ela era a fonte de toda verdade. A seguir, o famoso botnico e taxionomista britnico Joseph Dalton Hooker acrescentou uma poderosa concluso. Depois de declarar que Wilberforce obviamente no havia lido o livro de Darwin e tambm ignorava de forma igualmente bvia os rudimentos da cincia botnica, desferiu o golpe final: "Eu soube dessa teoria 15 anos atrs. Na poca, fui completamente oposto a ela ... mas desde ento devotei-me infatigavelmente histria natural; e nessas pesquisas fui levado a dar volta ao mundo. Fatos dessa cincia que antes eram para mim inexplicveis foram, um por um, explicados por essa teoria, e com isso a convico imps-se gradualmente a um relutante converso12 Essas podem ter sido as ltimas palavras na batalha, mas de forma alguma as ltimas palavras na guerra. Alguns dias aps o debate, a resenha da Origem escrita por Wilberforce apareceu na prestigiada revista Quarterly Review. Nessa macia crtica de 17 mil palavras, ele apoiou-se em solo mais firme. E tambm atacou com mais fora em uma rea que Darwin procurara evitar: em todo o volume Darwin tinha se mantido consistentemente afastado daquela batata quente chamada "homem". O mais perto que chegou foi predizer, em suas observaes finais, que com a ajuda dePagina 119posteriores "pesquisas de mxima importncia ... muita luz seria lanada sobre a origem do homem e sua histria". 13 Wilberforce, no entanto, sabia que esse era um ponto sensvel, e precipitou-se sobre ele. Afirmou que Darwin tinha aplicado o esquema da seleo natural no apenas a animais, mas tambm a seres humanos. Isso era demasiado. "A supremacia obtida pelo homem sobre a Terra; o poder do homem de articular a fala; a razo que foi dada ao homem; a vontade livre e a responsabilidade do homem, a queda do homem e a redeno do homem; a encarnao do Filho Eterno, a habitao do Esprito Eterno, - todas essas coisas so igualmente impossveis de conciliar com a degradante noo de uma origem animalesca daquele que foi criado imagem de Deus";14 Em outras palavras, diga o que voc quiser sobre o resto do reino animal; os seres humanos foram especialmente criados - e h alguns poucos milhares de anos - ponto final. Nos anos seguintes, muitos dos contemporneos mais progressistas de Darwin seguiram o exemplo de Hooker e aderiram ao campo evolucionrio, embora, mais uma vez, essas adeses tenham tido significados diversos. Ento, 12 anos aps a Origem, Darwin retomou com uma nova contribuio, A descendncia do homem e a seleo em relao ao sexo, na qual ele de fato apresenta a seleo natural como aplicando-se igualmente a seres humanos. Mais uma vez as penas voaram. De acordo com Mayr, "nenhuma ideia darwinista foi menos aceitvel aos vitorianos do que a derivao humana de um ancestral primitivo ... A origem primata do homem ... levantou imediatamente questes sobre a origem da mente e da conscincia que so at hoje controversas15 Como mostro mais frente, o ataque concentrou-se principalmente nessa ideia; a seleo natural raramente foi mencionada depois disso. 16 Entre as vozes mais turbulentas de ambos os lados do argumento da evoluo, estavam os satiristas e cartunistas que, na Inglaterra vitoria na constituam uma classe jornalstica parte. Referindo-se batalha em andamento entre Huxley e Richard Owen (o especialista em anatomia comparada e paleontologia que havia preparado Wilberforce para sua fala de 1860), Punch previu em maio de 1861:Pagina 120Poema:Ento Huxley e Owen, Ardendo de rivalidade, Com pena e-tinta correm para a linha de partida; Crebro contra crebro, At que um deles perea; Por Jpiter, ser uma luta aguerrida! 17 Tambm os panfleteiros fizeram a festa. Em um panfleto, Huxley e Owen foram acusados de trocar os mais horrveis xingamentos; Huxley chamando Owen de "Piteco Bimanuado Braqucfalo Ortgnato mentiroso" e Owen respondendo que Huxley "no passava de um completo Primara Arquienceflico" .18 Owen tambm objetou que Huxley no podia testemunhar sob juramento porque no acreditava em nada. (Huxley mais tarde introduziu o termo agnstico para descrever sua prpria filosofia.) A cincia em geral tambm foi ridicularizada. Outro panfleto se referia a um artigo intitulado "Sobre a Passagem de Luz Palarizada (sic) atravs de vidro esfumaado, um muro de tijolos, uma chapa de ao de quatro polegadas e um quarto escuro". Os signatrios incluam "A. B. Surdo, A. L Quimia, O. Visio Nrio e D. Sordemf". Com a fotografia ainda em seus primeiros estgios, os cartuns eram um mtodo de ilustrao poderoso e muito disseminado. Um tema comum era Darwin como macaco ou smio. Um cartum mostrava um macaco lendo um livro de Darwin com ar de aprovao. Em outro, um Darwin simiesco visto tomando o pulso de uma mulher. Pessoas do meio literrio tambm entraram em ao. O novelista e polemista Samuel Butler, por exemplo, escreveu diversos livros satirizando e atacando as ideias de Darwin. Exemplos incluem Life and Habit (1877) e Evolution Old and New (1879).Tema: Religio A reao de Darwin aos mltiplos ataques foi principalmente ansiedade. Seus bigrafos Adrian Desmond e James Moore deram a sua biografia de 1991 o subttulo "A Vida de um Evolucionista Atormentado". O que mais preocupava Darwin era a angstia dePagina l21sua amada esposa, que tinha grande dificuldade em tentar conciliar sua profunda f religiosa com o amor e respeito por seu marido. Quanto mais o establishment religioso o atacava, maior era a aflio que ela sentia. Os verdadeiros sentimentos de Darwin sobre a origem das espcies no so claros. Na primeira edio da Origem, por exemplo, simplesmente no h nenhuma meno a um "Criador". Nas linhas finais, ele se referia a "essa concepo da vida, com seus diversos poderes, tendo sido inicialmente infundida em algumas poucas formas, ou em uma nica". Na segunda edio, que apareceu logo depois da primeira, ele havia modificado essa linha para "tendo sido inicialmente infundida pelo Criador em algumas poucas formas, ou em uma nica" (nfase acrescentada). Ningum pode dizer com certeza se a omisso na primeira edio foi uma falha - pouco provvel, considerando o carter cuidadoso de Darwin - ou se o acrscimo segunda edio foi uma tentativa de sua parte de amenizar o desconforto que ele estava causando a muitos de seus colegas e amigos, bem como sua mulher. neste ponto que uma grande e importante ciso ocorre. Muitas pessoas de orientao religiosa, tanto leigos como clrigos, no tm nenhum problema em aceitar as ideias bsicas da evoluo e mesmo da seleo natural - desde que possam continuar acreditando que Deus l est em algum lugar. A posio mais lgica para Deus logo no comeo. Relembrando a questo do relojoeiro da poca de Newton, a questo ento se tornou "Ser que foi necessrio apenas pr as espcies em movimento, depois do que tudo seguiu por sua prpria conta, ou foi preciso a interveno peridica para garantir uma operao suave?". A Origem, claro, tinha de sustentar-se por seus prprios mritos, no pelas habilidades argumentativas de Huxley ou quaisquer outros defensores de Darwin. Por sorte, o livro uma verdadeira obra-prima e tem-se mantido bastante bem. Nos anos posteriores, seu slido conjunto de observaes, sua admisso de lacunas onde estas existiam e sua legibilidade tiveram um poderoso efeito. Inicialmente os gelogos, a seguir os bilogos, paleontlogos e outros - tanto dentro como fora do mundo da cincia - comearam aPagina 122 passar para o campo darwiniano. A passagem, contudo, foi lenta, irregular e de nenhum modo completa.Tema: Objees Nem todas as objees eram de carter religioso. Um dos principais obstculos veio tona no encontro anual seguinte da BAAS, quando William Thomson, que mais tarde se tornaria Lorde Kelvin, apresentou seus clculos da idade da Terra. Os limites colocados por ele - aproximadamente 100 milhes de anos - eram simplesmente muito estreitos para prover todo o tempo necessrio para a seleo natural realizar seu trabalho. Na poca em que publicou a quinta edio da Origem, Darwin considerava os clculos de Kelvin um real problema e tentou lidar com eles. Na sexta e ltima edio (1872), ele admitiu que a objeo era "provavelmente uma das mais graves que j haviam sido levantadas". Contudo, em seu estilo cuidadoso e perspicaz, acrescentou "S posso dizer, primeiramente, que no sabemos qual a taxa, medida em anos, em que as espcies se modificam, e, em segundo lugar, que muitos filsofos ainda no esto dispostos a admitir que saibamos o suficiente sobre a constituio do universo e sobre o interior de nosso globo para especular com segurana sobre sua durao passada'"!" Como mostrar o prximo captulo, 40 anos deviam ainda transcorrer at a objeo de Kelvin ser derrubada. Nesse mesmo, pargrafo da Origem, Darwin tratou de outro problema reconhecido, "a ausncia de estratos ricos em fsseis abaixo da formao cambriana". Ele notou, com impressionante percepo, que "embora nossos continentes e oceanos tenham permanecido por um enorme perodo de tempo aproximadamente em suas posies relativas presentes, no temos razes para assumir que esse foi sempre o caso; consequentemente, formaes muito mais antigas do que qualquer uma hoje conhecida podem estar enterradas sob os grandes oceanos". Resumindo seu tratamento das vrias objees, ele acrescentou: "Senti durante muitos anos o peso dessas dificuldades dePagina 123forma demasiado forte para duvidar de sua importncia. Mas merece uma especial meno o fato de que as objees mais importantes relacionam-se com questes sobre as quais somos reconhecidamente ignorantes, sem nem mesmo saber at onde essa ignorncia se estende". Uma das principais lacunas, mais uma vez plenamente admitida por Darwin, era o mecanismo pelo qual se realizavam a variao e a modificao. Cs primrdios de uma resposta tinham sido providos por Johann Gregor Mendel, um monge austraco e botnico experimental cujos famosos experimentos com ps de ervilhas, realizados em Brno, Tchecoslovquia, lanaram as bases da gentica. Daniel C. Dennett, outro dos buldogues darwinianos de hoje, sustenta que havia no estdio de Darwin, ao final da dcada de 1860, uma cpia no lida do famoso artigo de Mendel, 20 Os historiadores da cincia em geral concordam, no entanto, que Darwin no estava consciente das implicaes desse artigo, e que ele no desempenhou nenhum papel em suas investigaes. Embora o trabalho de Mendel tenha sido publicado em 1865, seis anos antes de A descendncia do homem, ele aparecera em um obscuro peridico tcheco. Pode-se apenas especular se e como as coisas poderiam ter sido diferentes se Darwin tivesse lido o artigo de Mendel. Seja como for, Darwin havia tratado a variao gentica como um fator desconhecido. Familiar com a seleo artificial na criao de animais, ele sabia que a variao certamente existia e construiu em cima desse fato. O problema que o trabalho de Mendel resolveu foi este: Darwin assumira que a ao da seleo lenta. Acreditava-se comumente tambm que, ao se realizar cruzamentos contnuos entre indivduos de uma espcie, as variantes, quaisquer que fossem, iriam meramente mesclar-se e estabilizar-se em um grau intermedirio. Mas, se as variaes desaparecem, como poderia a seleo natural fazer seu trabalho? As leis mendelianas de herana mostraram que as caractersticas mutveis no se mesclavam, mas permaneciam distintas, de tal modo que a seleo natural podia operar lentamente e ainda assim produzir seus resultados.Pagina 124 Parte II: o sculo XX O obscuro artigo de Mendel foi redescoberto em 1900 por Hugo de Vries, um pesquisador holands especializado em fisiologia das plantas. Partindo desse ponto, ele desenvolveu sua prpria teoria da mutao, que envolvia mudanas sbitas no plasma germinal. De Vries tambm teve uma brilhante intuio, relacionada com os recm-descobertos raios X. Ele conjeturou que, como esses raios podem penetrar tecido vivo, eles poderiam muito bem ser capazes de alterar as partculas hereditrias, quaisquer que elas fossem, nas clulas reprodutivas. Essa especulao, porm, s pde ser confirmada duas dcadas depois. Por volta de 1919, o geneticista americano Hermann Joseph Mller mostrou que o material gentico podia de fato ser afetado pelo ambiente, e provou que as mudanas podiam ento ser transmitidas aos descendentes do organismo. Com essas descobertas, muito do que faltava se completou, e a teoria de Darwin tornou-se muito mais bem acabada. Finalmente, pensaram os evolucionistas, quem poderia agora duvidar da verdade de sua posio? Mas teriam a evoluo e o darwinismo de fato triunfado? Dificilmente. De fato, escreve Mayr, "no perodo de 1890 a 1910 a teoria de Darwin foi a tal ponto ameaada pelas diversas teorias contrrias que correu srio risco de submergir". 21 Mesmo depois da (redescoberta do artigo de Mendel, demorou ainda um bom tempo at que as implicaes da gentica se sedimentassem e difundissem. De fato, como ocorre com todos os novos e importantes desenvolvimentos, houve at mesmo algum efeito negativo sobre a teoria bsica, com geneticistas defrontando-se com evolucionistas darwinianos estritos.22 Por volta dos anos 20, uma slida fundao tinha sido estabelecida para um novo entendimento e apreciao da evoluo, e esse novo edifcio terico assumiu seu lugar como um fato cientfico, pelo menos no mundo da cincia. Como foi o caso com as leis de Newton, pode ter havido alguns avanos e correPagina 125es, mas um amplo suporte para a teoria evolucionria j estava constitudo. A teoria j estava tambm sendo ensinada em algumas das escolas dos Estados Unidos, incluindo muitos dos novos colgios que brotavam por todo o pais. Ronald L Numbers, em sua excelente histria do criacionismo, argumentou que parte desse ensino pode ter sido estridente em demasia e excessivamente interessado em lanar a evoluo contra a religio. Essa ousadia, ele acredita, pode ter desencadeado uma espcie de contra- revoluo por parte de um grupo que poderia ter chegado a aceitar a evoluo. Ele escreve: "Mesmo no Sul teologicamente conservador, um certo nmero de escolas ligadas Igreja vinham h dcadas ensinando a teoria da evoluo". Mas, sejam quais forem as razes, nos anos anteriores Primeira Guerra Mundial antievolucionistas indignados passaram crescentemente a "identificar a evoluo orgnica como a causa dos males sociais que afligiam a moderna civilizao".23 As consequncias dessa identificao tm sido profundas.Subttulo: O julgamento do macacoDarwin com a corda no pescoo, uma das maiores (antilnomalidades teatrais do mundo ocidental, j foi levada cena duas vezes em grandes palcos. A primeira produo, descrita anteriormente neste capitulo, teve lugar na Universidade de Oxford e foi assistida por menos de mil pessoas, mas repercutiu na imprensa por dcadas. A produo seguinte transcorreu de maneira diferente. Enquanto as provas e o suporte factual para a evoluo cresciam nos anos seguintes, as foras antievolucionrias fincaram os calcanhares no cho, especialmente nos Estados Unidos. Sem uma igreja estabelecida para liderar a cruzada contra a evoluo, seitas religiosas independentes estavam brotando com impressionante rapidez e diversidade e com ensinamentos que variavam do razovel ao ridculo. Um fator comum, contudo, era a crena na verdade revelada dos ensinamentos da Bblia. Aqueles que acreditavam firPagina 126 memente nos menores detalhes eram chamados, e ainda o so, "fundamentalistas" .' A parte da Bblia que parecia mais diretamente contestada pela evoluo darwiniana a histria introdutria do Gnese, particularmente o relato da criao. Defensores desse relato, que estavam convencidos de que ele descrevia exatamente os incios de toda a vida na Terra (assim como em todo o nosso universo observado), assumiram, ou receberam, o nome de "criacionistas", e, em algumas regies do pas, chegaram a exercer um poder considervel. No incio dos anos 20, conseguiram tornar ilegal o ensino da evoluo em trs estados americanos: Tennessee, Mississippi e Arkansas.24 Os evolucionistas, consternados, ficaram ansiosos para levar a questo deliberao judicial. E foi assim que teve lugar a segunda grande produo de Darwin com a corda no pescoo, numa pacata cidadezinha do Tennessee, 65 anos aps a primeira encenao. Nesta produo de 1925, John Thomas Scopes, um jovem professor de cincias no colgio, e treinador do time de futebol, foi processado por ensinar a teoria da evoluo, violando a lei estadual. Levada cena por um pequeno grupo de partes interessadas, incluindo a Unio Americana para as Liberdades Civis, essa nova produo foi muito mais elaborada que a anterior. Estendendo-se por semanas, e coberto por dzias de jornalistas, o julgamento foi atentamente acompanhado pelo pblico via telgrafo e jornais em todo o mundo. Entre os jornalistas estava H. L. Mencken, possivelmente o mais influente ensasta e crtico social da poca. O julgamento deu-lhe amplas oportunidades de exibir seu estilo mordaz e satrico. Embora essa produo seja algumas vezes intitulada "O Julgamento do Macaco de Scopes", o prprio Scopes desempenhou um papel muito pequeno. Mais uma vez, os papis principais foramNota: Como o fundamentalismo enquanto movimento n50 um edifcio monoltico, e apresentou at mesmo algumas tendncias liberais, a vertente discutida nesta seo seria melhor denominada "liberalismo bblico". O termo "fundamentalismo" mais comum, no entanto, e ser usado aqui.Pagina 127dois. O primeiro, o papel de Wilberforce, foi desempenhado pelo deputado do Congresso e trs vezes candidato .presidencial William Jennings Bryan, um inflamado orador e evangelista poltico, com razes profundas no solo da regio. Detentor de uma reputao nacional e fortemente hostil evoluo (o darwinismo, ele tinha certeza, estava no cerne da Primeira Guerra Mundial), ele era perfeito para o papel. De fato, mesmo Mencken, que no nutria nenhuma simpatia, por Bryan, disse que, enquanto retrico, Bryan era "o maior de todos eles" 25 O papel de Huxley coube ao urbano, agnstico e muito bem sucedido advogado criminal Clarence Seward Darrow. Darrow tinha to pouco amor por Bryan e suas ideias que no apenas ofereceu voluntariamente seus servios como tambm abriu mo de seus honorrios, usualmente elevados, e pagou at mesmo suas prprias despesas. Oh, sim, o juiz: ele foi John T. Raulston, que tomava assento sob um dstico em que se lia "Leia a Bblia Todo Dia". Dos 12 jurados, 11 eram fundamentalistas, um era analfabeto, e nem um nico deles sabia qualquer coisa sobre cincia ou evoluo " O tema de Darrow foi: "Depois de algum tempo, Meritssimo, vamos nos ver marchando para trs, rumo aos gloriosos dias do sculo XVI, quando fanticos acendiam fogueiras para queimar homens que ousaram trazer alguma luz e inteligncia " mente humana". 27 Um tema que, compreensivelmente, foi demais para o juiz. E com efeito, lima das primeiras decises de Raulston foi impedir a defesa de convocar o testemunho de peritos. "No precisamos deles", foi o argumento da promotoria. Bryan, segurando o livro que Scopes usava em suas aulas, exibiu uma imagem de um humano ao lado de outros mamferos e trovejou: "Como ousam esses cientistas colocar o homem no mesmo nvel que lees e tigres e tudo o mais que cheira selva ... No preciso ser um perito para saber o que diz a Bblia". Dudley Field Malone, um membro da equipe de Darrow, corretamente replicou: "Jamais vi tanta necessidade de aprendizagem como a exibida pela promotoria". 28 De nada valeu. O juiz no permitiu que a defessa convocasse seus peritos para testemunhar. UmPagina 128 comentador considerou essa uma sbia deciso, observando: "Se um grande estado decidiu por lei que duas vezes dois so cinco, seria uma bobagem permitir que matemticos testemunhassem" .29 Darrow mandou datilografar e distribuir para a imprensa aquilo que os peritos iriam dizer na corte. E o prprio fato de terem sido barrados tomou esses depoimentos muito mais atrativos aos olhos do mundo exterior. Darrow, ento, convidou Bryan a testemunhar para a defesa como perito na Bblia. Bryan, num acesso de excessiva confiana, cometeu um segundo erro ttico: aceitou. O resultado - um cristo servido como alimento aos lees - foi to devastador que o juiz mandou apagar dos autos todo o depoimento. Esse expurgo dos registros no impediu, contudo, que a surra verbal de Bravan ecoasse nos mais distantes cantos do globo atravs das dzias de jornalistas que fisgaram cada palavra. O erro de Bryan mostrou-se desastroso para sua causa, pelo menos no tribunal da opinio pblica. Mas embora Bryan pudesse j estar derrotado aos olhos do mundo, Darrow sabia que seu oponente era um grande ator em um palco que lhe era familiar e simptico. Ele no tinha, portanto, a menor inteno de permitir-lhe recuperar as foras. Forou, ento, uma sbita interrupo dos procedimentos, fazendo Scopes declarar-se culpado. O juiz imps-lhe uma multa de 100 dlares, o que resultou em outro problema para a promotoria. Legalmente, era o jri que deveria decidir a importncia, e o processo todo foi anulado poucos meses depois pela Suprema Corte do Tennessee. Assim como no debate em Oxford, os partidrios da evoluo experimentaram a emoo da vitria e anteciparam um futuro de liberdade irrestita para sua causa. Infelizmente no seria assim. De fato, embora a corte estadual tenha anulado a condenao, ela reafirmou, ao mesmo tempo, o estatuto antievoluo.Subttulo: Constante presso Embora a equipe evolucionista em Dayton tivesse alcanado exatamente o que se propusera alcanar, e embora o Tennessee tivesse acabado com a cara no cho, as foras antievolucionriasPagina 129no se sentiram nem um pouco intimidadas. A verdade que s a partir de 1967 os educadores puderam ensinar legalmente a evoluo no Tennessee.30 Alm disso, a permanente controvrsia teve o efeito de manter a evoluo fora de muitas escolas e livros escolares nos Estados Unidos, particularmente no sul. Uma dzia de outros projetos de legislao antievoluo foram apresentados imediatamente aps o julgamento de Scopes, e dois deles, no Mississippi e no Arkansas, foram aprovados. Foi ento que duas ocorrncias fundamentais trouxeram mais fora causa evolucionista:. Durante a primeira parte do sculo XX, a maioria dos que trabalhavam no amplo campo da evoluo dividiam-se, grosso modo, em trs disciplinas separadas: gentica, sistemtica (classificao taxionmica de grupos biolgicos) e paleontologia'! Cada grupo possua algo de valor para os outros, mas eram como diferentes departamentos em uma universidade, que pouco se auxiliavam mutuamente. Finalmente, porm, as trs disciplinas comearam a misturar-se e a fortalecer-se mutuamente, como areia, cimento e gua. J havia sido lanado a fundao para uma estrutura nica, e ela comeou lentamente a erguer-se. Julian Huxley, neto de Thomas Henry Huxley e ele prprio um destacado bilogo, introduziu o termo "sntese evolucionria" em 1942 para descrever uma teoria unificada na qual a microevoluo - o aspecto gentico - acoplava-se perfeitamente macroevoluo, que tinha a ver com organismos vivos em grande escala (outro termo algumas vezes usado "nova sntese"). No muito tempo depois, em 1957, a Unio Sovitica pegou Tio Sam de surpresa com o sucesso inicial do Sputnik na corrida espacial. Esse primeiro round da competio galvanizou a comunidade cientfica e levou a um esforo combinado para aprimorar o ensino da cincia aos jovens americanos. Esse ensino incluiu o reconhecimento da teoria evolucionria como uma fundao absolutamente necessria, um principio bsico de organizao, para a moderna biologia. O estatuto do Arkansas banindo o ensino da evoluo havia funcionado por um tempo, mas foi finalmente levado, atravs de todas as instncias, at a Suprema Corte dos Estados Unidos ePagina 130 revogado em 1968. Mesmo no havendo, na legislao do Arkansas, qualquer meno especfica ao relato bblico da criao, a corte entendeu que a lei tinha essa inteno. Ao mesmo tempo, contudo, os criacionistas j tinham cheado concluso de que sua abordagem inicial, o criacionismo de ~unho religioso, no iria funcionar mais. Ele era uma bvia violada. - . 32 A soluo primeira e 14 emendas constrio americana. soluo: transformar a doutrina em uma "cincia". Por meio do emprego da fraseologia cientfica, os criacionistas podem argumentar que sua doutrina tem tanto direito a ser ensinada nas escolas quanto a evoluo. Assim, em vez de criacionismo, p~ss~u~se"a ter "cincia da criao". Mais tarde, quando a palavra criao tornou-se suspeita os criacionistas mudaram mais uma vez o nome de seu sistema de crenas, rotulando-o agora "Teoria do Desgnio Inteligente". 33 Usando a nova abordagem, eles foram mais uma vez bem-sucedidos em aprovar leis em vrios lugares. Sua expectativa, claro, era a substituio daquela "hiptese no-provada", a evoluo, pela cincia da criao. Em sua maioria, as leis resultantes exigiam o ensino das duas abordagens. Em 1981, por exemplos a Louisiana promulgou uma lei requerendo que cada escola pblica que ensinasse" a teoria da evoluo deveria ensinar tambm o criacionismo como uma cincia. Novamente a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou essa lei por 7 a 2, entendendo mais uma vez que a lei tinha intento religioso.Subttulo: Mais uma virada Se os criacionistas estavam perdendo nos tribunais, em outro campo de batalha, entretanto, eles foram obtendo sucesso crescente. Sendo um grupo muito ruidoso, eles tm conseguido, pela infiltrao nos conselhos de escolas locais e em agrupamentos polticos, tornar a vida difcil tanto para professores de cincia como para editores de textos didticos de biologia. Membros desses dois grupos, sob assdio constante, so finalmente tentados aPagina 131esquivar-se de um problema potencial minimizando ou mesmo ignorando a cincia evolucionria, que exatamente o que os criacionistas querem. O acordo que oferecem - o de apresentar ambos os lados - soa como um compromisso razovel, mas na realidade no . As cartas, surpreendentemente, esto marcadas contra a evoluo, exatamente como estiveram contra Huxley cem anos atrs quando ele "desapontou e desagradou" todo mundo ao tentar apresentar todos os lados da questo. A abordagem criacionista obviamente mais simples e, em muitos casos, mais sedutora, particularmente quando os criacionistas convencem fiis ingnuos de que aceitar a teoria evolucionria significa abandonar Cristo. Pela mesma razo, tentar debater a evoluo com um criacionista em uma situao formal muitas vezes uma causa perdida. Criacionistas teimosos podem estar completamente errados do ponto de vista da cincia dominante, mas isso no quer dizer que sejam estpidos. Ampliando a ideia de cincia da criao, os criacionistas puderam virar mais uma vez o jogo: ao invs de simplesmente usar o nome "cincia" em seu nome, eles comearam a argumentar "cientificamente" com os evolucionistas. Surgiram certamente muitos avanos, muitas descobertas, muitos fatos novos com que lidar. Como resultado, a complexidade da disputa elevou-se estratosfera. 34 Alm disso, avanos cientficos no se alcanam com facilidade, e h grande quantidade de discusses, e mesmo controvrsias, entre evolucionistas. 35 Os evolucionistas dizem: "Estamos discutindo cincia, no credo religioso. Isso exige entrar em detalhes complexos". Muitas vezes significa tambm a rpida perda da capacidade do pblico de acompanhar a discusso. As foras antievolucionrias apontam o dedo para essas discusses e comparam-nas com seu prprio ponto de vista muito mais bem estabelecido. "Que tipo de cincia essa", eles perguntam, "em que os cientistas discordam uns dos outros?" Igualmente interessante, contudo, como o vasto cabedal de conhecimentos acumulado nas cincias biolgicas desde a poca de Darwin utilizado por ambos os lados. A mesma evidncia Pagina 132 vista e empregada de forma muito diferente pelas duas partes. Ronald Pine, de Aurora, Illinois, professor de colgio e observador de criacionistas, expressa isso de forma um pouco mais direta: um criacionista "pode inventar mais mentiras em meia hora do que um cientista capaz de refutar em uma semana". 36subttulo: Encostas escorregadias e o problema da complexidade As "mentiras" criacionistas podem assumir vrias formas, incluindo o que se poderia chamar "encostas escorregadias" em torno do argumento bsico. Um exemplo comum a afirmao de que os seres vivos contm sistemas, como o olho, que so to "irredutivelmente complexos" e to interdependentes de todos os outros que simplesmente impossvel acreditar que todos eles pudessem ter-se reunido por meio da seleo natural, resultando em um todo funcional to perfeitamente ajustado. Deve haver, em algum lugar, algum tipo de "desgnio inteligente". Richard Dawkins, em sua tentativa de rebater esses argumentos criacionistas, dedicou quase 60 pginas exclusivamente questo do olho. 37 O chamado "problema da lacuna" um outro exemplo interessante, e est claramente descrito em um longo e lrico artigo, profusamente adornado de notas de rodap, publicado na respeitada revista Commencary38 O autor, David Berlinski, no um cientista da rea biolgica, mas possui algumas boas credenciais: ensinou matemtica e filosofia em nvel universitrio e escreveu um livro respeitvel sobre a histria do clculo. 39 O "problema da lacuna" refere-se a lacunas no registro fssil. inquestionvel que tais lacunas existem. Uma grande lacuna aparece no incio da exploso cambriana, mais de 500 milhes de anos atrs, quando um grande nmero de novas espcies parecem surgir repentinamente no registro fssil. Infelizmente, a evidncia encontrada pelos paleontlogos conectando esses dados a qualquer coisa anterior a esse tempo relativamente pequena. O exemplo cambriano possivelmente a maior lacuna, mas h muitas outras, o que no uma surpresa: muita coisa pode terPagina 133acontecido aos fsseis em meio bilho de anos. Mais importante, contudo, que muitas lacunas esto sendo lentamente preenchidas, medida que novas tcnicas - e mais tempo - trazem luz novas evidncias fsseis. Referindo-se a uma dessas principais lacunas, que existe entre os mamferos marinhos de hoje e seus (alegados) ancestrais terrestres, Stephen Jay Gould, um dos maiores expoentes no campo pr-evoluo, escreve: "Estou absolutamente deliciado em comunicar que nosso usualmente recalcitrante registro fssil est se recuperando de maneira exemplar, [com] a mais encantadora srie de fsseis transicionais que um evolucionista jamais poderia esperar encontrar". 40. Berlinski, ao referir-se a uma lista de 250 lacunas que foram preenchidas, toma uma posio bastante diferente: "Que haja posies em que as lacunas foram preenchidas interessante, mas irrelevante. O que crucial so as lacunas" 41O que ele est dizendo que enquanto houver lacunas, a teoria no pode estar certa. Vai demorar um longo tempo at que ele se d por satisfeito. Darwin conhecia muito bem essas lacunas e dedicou a elas todo um captulo. Ele escreveu: "Vejo o registro geolgico como uma histria do mundo imperfeitamente preservada e escrita em um dialeto mutvel; uma histria da qual possumos somente o ltimo volume".42 Como era de esperar, o artigo de Berlinski precipitou um dilvio de respostas; trs meses mais tarde, uma dessas peas, compreendendo muitas rplicas acadmicas, tinha um tamanho consideravelmente maior que o artigo original. Muitos comentrios eram de evolucionistas argumentando contra as posies do autor. Um deles, de Daniel Dennett, foi bastante direto: "Adorei isto: outra hilariante demonstrao de que se pode publicar qualquer bobagem que se queira - desde que se diga o que uma comisso editorial quer ouvir em um estilo que ela favorece".43 A revista tambm deu a Berlinski outras 16 pginas para responder as acusaes e continuar seu jogo. Outra encosta escorregadia: o criacionismo um descendente do "argumento do desgnio", apresentado quase 200 anos atrsPagina 134 pelo telogo britnico William Paley. Se voc encontra um relgio no cho, qual a probabilidade que suas partes tenham sido reunidas por acaso? No muito grande, voc ir concordar. Pelo mesmo raciocnio, qual a probabilidade de que um ser humano tenha surgido dessa forma? A moderna teoria do desgnio inteligente (DI) iguala a evoluo ao acaso e argumenta que a complexidade deve provir do desgnio. De olho nos tribunais, os proponentes da DI evitam nomear o designer. Essa referncia ao acaso muito irritante para os evolucionistas. De acordo com Dawkins, muitos tericos do DI que tm dificuldades em aceitar a teoria da evoluo esto simplesmente perdendo de vista (ou ignorando) um ponto importante, a saber, que "o darwinismo no uma teoria do acaso aleatrio. uma teoria da mutao aleatria mais uma seleo natural cumulativa no-aleatria".44 (nfase no original). "Por que", ele se pergunta, " to difcil mesmo para cientistas sofisticados apreenderem esse ponto to simples?" Darwin enfrentou um problema semelhante com Lorde Kelvin, que, como fsico, rejeitara a evidncia biolgica acumulada por Darwin. Outro contemporneo de Darwin, o astrofsico Sir John Herschel, considerava a evoluo darwiniana uma teoria sem eira nem beira.45 "At hoje", diz Dawkins, "e em crculos onde se esperaria melhor compreenso, o darwinismo amplamente visto como uma teoria do acaso". 46 Durante os anos 90, mais outra encosta escorregadia emergiu na evoluo do criacionismo. Agora que desgnio passou a ser reconhecido como um sinnimo de criao, os chefes guerreiros oferecem um novo nome para sua pseudocincia: o "modelo da complexidade inicial". Se os criacionistas conseguirem o que querem, esse modelo' ser ensinado paralelamente ao "modelo de primitividade inicial", o novo nome que eles do evoluo. 47 Ao mesmo tempo, o ponto 'de vista cristo conservador continua recebendo impulso. Um artigo em Christianity Today afirma que "as ltimas descobertas cientficas favorecem o desgnio contra Darwin". E passa a observar que "'De onde viemos?' no uma questo esotrica relevante apenas para cientistas. -o comeo e aPagina 135base de tudo em que acreditamos. E por isso que os cristos devem se unir, elaborar uma apologtica plausvel e ento recusar-se a voltar atrs dessa posio" .48Por outro lado, escolas catlicas h muito ensinam que a teoria da evoluo no est necessariamente em conflito com o dogma da Igreja. E assim por diante. De algum modo, o exrcito criacionista, a despeito de todas as chances contra ele, parece estar crescendo. Ronald Numbers, um importante observador das manobras criacionistas, relata que eles esto agora interessados nos conselhos escolares; 2.200 dos conselhos de 16 mil escolas no pas foram "capturados" por conservadores de tendncias criacionistas em 1992.49 A adoo das doutrinas criacionistas pode ter srios resultados. De acordo com uma avaliao, ela requer, "no mnimo, o abandono de essencialmente toda a moderna astronomia, muito da fsica moderna e a maioria das geocincias". 50Essa declarao foi publicada em 1981. Desde ento tem havido uma exploso de interesse em princpios evolucionrios e de tentativas de aplic-los a campos como a medicina51. controle de pragas.52 agricultura e mesmo psicologia53 e psiquiatria, antropologia, tica54e sociologia (por exemplo, as origens do comportamento)55 - para citar apenas alguns campos. Novos trabalhos em biologia molecular tambm esto englobados aqui. 56 Uma rpida busca em uma base de dados on-line de peridicos (UMI Research 1, incluindo por volta de mil ttulos), somente para o ano de 1996, resultou em 1.349 registros para a palavra "evoluo". Esse conjunto de artigos cobre, claro, todos os aspectos: pr, contra e novos trabalhos na rea (e provavelmente outros usos no relacionados do termo). Mesmo assim, os nmeros falam por si s. (Uma busca para "Bblia" resultou em menos itens: 1.105.) Wayne Grady, que fez a resenha de um dos livros de Stephen . Jay Gould para a Canadian Geographic, considerou a evoluo por seleo natural "uma teoria que permeia cada canto de nossas vidas". E acrescenta: "ela deveria, a esta altura, ser uma lei; e o fato de que no , Gould nos faz notar, uma medida de nossa prpria incapacidade de abarcar uma perspectiva sobre o mundoPagina 136 de tamanha abrangncia, no o resultado de algum defeito no esquema geral de Darwin". 57 Por outro lado, suponhamos que os criacionistas consigam o que querem. Com o ensino que resultar disso, a capacidade do pblico de avaliar princpios cientficos ir certamente enfraquecer. Ficar cada vez mais fcil para o pensamento sem sentido se impor. Estamos j a caminho de uma tal situao? Uma pesquisa Gallup de 1993 revelou que mais da metade dos norte-americanos acreditam que Deus criou os seres humanos h menos de dez mil anos. Parade Magazine noticia: "75 % dos norte-americanos no passariam em um teste elementar de cincia da Fundao Nacional da Cincia com perguntas do tipo se ... seres humanos e dinossauros viveram mesma poca".58 O que est ocorrendo parece ser parte de um crescimento das crenas fundamentalistas, aliado a uma ampla ascenso de sentimentos anticientficos em geral. E embora a competncia dos estudos cientficos graduados nos Estados Unidos continue sendo a mais alta do mundo, a educao cientfica nos graus elementares parece pior que nunca. Essa discrepncia no pode trazer bons prognsticos para o futuro dessa nao. A introduo deste livro mencionou a crena do professor de Histria da Cincia William Provine de que a presente guerra entre cincia e religio pode ser atribuda com mais razo a Darwin que a Galileu. Comeamos a ver por que ele acredita nisso. Ironicamente, um dos primeiros grandes estudos dedicados a essa guerra foi publicado em 1874, apenas 15 anos aps Darwin ter lanado a Origem. intitulado Histria do conflito entre religio e cincia, foi escrito por ningum menos que John William Draper, o conferencista do debate em Oxford. Como observa David N. livingstone: "A metfora do conflito, cunhada por Draper, mostrou-se atraente e provocou toda uma srie de similares devaneios militaristas". 59 bastante irnico que a metfora militar tenha se associado a um debate que revolve em torno de Darwin. Por toda sua vida ele foi, de todas as pessoas, uma das mais gentis, tmidas e generosas.Pagina 137Com um profundo amor e interesse pela natureza, sempre se encantando com uma flor, uma lagarta ou um coral, ele foi o cavaleiro menos belicoso que algum poderia imaginar. Teriam sua vida e obra desafiado a sociedade vitoriana a encarar de novas maneiras sua religio, sua cincia e sua moral? Com certeza. Mas se ele foi, e ainda , insultado por muitos, sua notvel realizao recebeu, felizmente, a apreciao em sua prpria poca. Aps sua morte, em 19 de abril de 1882, ele obteve o supra-sumo do reconhecimento: sepultamento na Abadia de Westminster prximo a Newton. No obstante, a controvrsia que ele engendrou continua ribombando to alto como sempre.Notas1 Em Desmond & Moere, 1991, p.322; original em Napier, M., Selccnonfrom lhe Correspondenccof lhe Lare MactlC)' NaPier (New York: Macrnillan, 1879). 2 Darwin, 1859, p.63-4. 3 Em Clark, 1984, p.137. 4 Mayr, 1991, p.99. Ver tambm Gould, 1995, e Eldridge, 1995. 5 Em Clark, 1984, p.125. 6 Em Desmond & Moore, 1991, pA88 . 7 Ibidem, pA88, 489. 8 Huxley, em Francis Darwin (Ed.), 1958 (1892), p.253. 9 Carta de T. H. Huxleya Francis Darwin, 7de junho de 1861, em Francis Darwin (Ed.), 1958 (1892), p.254. 10 Em De Camp & De Carnp, 1972, p.159. 11 Huxley, em Francis Darwin (Ed.), 1958 (1892), p.252. 12 Em Clark, 1984, p.I44. 13 Darwin (1859), p.373. 14 Em Clark, 1984, p.145. 15 Mayr, 1991, p.25. 16 Caudill, 1994, onlinc (base de dados: UM! Research 1), sem numerao de pgina. 17 "Monkevana", Punch, 18 de maio de 1861, Imperial College 79:4; citado em Caudill, 1994, onlinc, sem numerao de pgina. 18 Esta e as seguintes descries de panfletos e cartuns so todas de Caudill, 1994. 19 Darwin, 1872 (1859), p.357. 20 Dennen, 1997, pAI.Pagina 13821 Mayr, 1991, p.128. 22 Ver, por exemplo, Bishop, 1996. 23 Numbers, 1992, pAO. 24 Ibdern, pAI. 25 EmTiemey, 1979, p.61 (dos Heathen Da-ys 194J de Mencken, reproduzido em Caims, Hunrington (Ed.), H. L Mencken: TheAmerican Scene- A ReaJer. New York, Alfred A. Knopf, 1965). 26 Clark, 1984, p.2S!. 27 lbidern, p.282 28 lbidem. 29 lbdern, p.283. 30 lhidem, p.284. 31 Mayr, 1991, p.132. 32 A primeira emenda probe a promoo de qualquer doutrina religiosa pelo governo federal; a 14" emenda estende a aplicao da primeira emenda aos estados da federao. 33 Para uma visita ao que se poderia chamar o "quartel-general da cincia da criao", o Crcation Science Insriture, ver Hitr, 1996. 34 Ver por exemplo, "Life ar the Edge of Chaos", resenha de [ohn Mavnard Smith do livro Darwinism Evolving:Systems Dynamics and rhe Genealogy of Natural Selection, por David J. Oepewe BnICeH. Weber (Cambridge, MA: MIT Press, 1994), no New York Times Book Review,2 de maro de 1995. vA2. 1'.4, p.28.30. (Ser que Oepew e Weber esto negando ou defendendo a evoluo?) 35 Ver, por exemplo, Horgan, agosto de 1995, em que Horgan pergunta se Srephen Jay Gould realmente um darwinista: tambm o sumrio de Davd Sloan Wilmn para seleo de grupos em face de forte oposio, em Berrebv, 1996; e ainda Lewin, 1996. 36 Citado em "Eugenia Scort Replies". The Sciences,maro-abril de 1996, pA7. 37 Um bom exemplo do argumento baseado na noo de complexidade irredutvel pode ser encontrado em Darwin's Black B01:, de Michael J. Behe, a partir da pgina 39. O tratamento de Oawkins aparece em Climbing Mount Improbcblc, 1996, p.13897. 38 Berlinski, junho de 1996. 39 Berlinski, 1995. 40 Citado em uma carta de [ohn M. Levy,em Commencary,setembro de 1996 (listado na bibliografia sob" Ediroria"), p.l 5. 41 Commencary,setembro de 1996, p.30. 42 Oarwin (1859), p.255. 43 Dennett, Commencary,setembro de 1996, p.6. 44 Dawkins, 1996, p.75. 45 Herschel, em Francis Oarwin (Ed.), 1958 (1892), p.232.46 Dawkins, 1996, p.75-7.47 Caro de [ohn C. Frandsen, presidncia da Comisso sobre Cincia e Politicas Pblicas, Academia de Cincia do Alabama, em Scientific American, dezembrode 1995, p.10. 48 Colson, 1996, p.64. 49 Numbers, 1995, online, sem numerao de pgina. 50 Hammond & Margulis, 1981, p.55. 51 Ver, p. ex., Nesse & Williams, 1996 (1995). 52 Ver, p. ex., Murdoch, 1996. 53 Ver, p. ex., Wright, 1994. 54 Ver, p. ex., Farber, 19Q4; tambm a resenha de Degler, 1996. 55 Ver, p. ex., Wilson, 1996; tambm os artigos curtos em jornais de Berrebv, 1997, e Malik, 1996. 56 Ver, p. ex., Lewin, 1997. 57 Grady, 1996, p.81. 58 Ryan, 1997, p.8-9. 59 Livingstone, 1987, p.l , trabalhos recentes incluem Crook, 1994, e a resenha deste por Rarnsay, 1996.