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ISSN 2358-8012
IV SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) V1.2015 Realizado dias 22 e 23 de agosto de 2015 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP
Eixo Temático: Ciências Sociais
GOVERNANÇA EM REDES INTER ORGANIZACIONAIS: RELATO INTEGRADO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Jaqueline Nichi 1
Orientador: Evandro Mateus Moretto 2
RESUMO: Esta pesquisa enfoca o caso do Relato Integrado, que prevê a integração do sistema de gestão triple bottom line, influenciando a tomada de decisão nas empresas. Utilizando como base teórica a perspectiva da Teoria Institucional foi analisado o processo de institucionalização do IIRC, do ponto de vista de sua governança em rede a fim de compreender seu processo de legitimação. Palavras-chave: relatórios de sustentabilidade, Relato Integrado, redes Inter organizacionais, governança, legitimidade.
1. INTRODUÇÃO
A recente crise econômica global tornou a transparência um valor para as corporações,
influenciando o surgimento de um “mercado verde” de relatórios de sustentabilidade com
crescente adesão em âmbito internacional e que se consolida como novo instrumento de gestão
socioambiental. O tema desta pesquisa enfoca o caso do International Integrated Reporting
Council (IIRC), rede inter organizacional sem fins lucrativos formada por múltiplos atores, entre
empresas, agências reguladoras, consultorias e acadêmicos. O quadro (framework) de Relato
Integrado (<IR>) proposto pelo IIRC prevê a integração do sistema de gestão triple bottom line
(TBL) para demonstrar como a organização cria valor ao longo do tempo, e para seus diversos
públicos, a partir da prevenção, mitigação ou readequação de aspectos da gestão sustentável,
influenciando a tomada de decisão em temas como mudanças climáticas e resíduos sólidos.
Utilizando como base teórica a perspectiva da Teoria Institucional e da Nova Sociologia
Econômica (NSE), que explica o desenvolvimento dos mercados a partir construções sociais
(GRANOVETTER, 1985), esta pesquisa visa explorar o processo de institucionalização do IIRC,
do ponto de vista de sua governança em rede e das relações intrínsecas à mesma, a fim de
compreender seu processo de legitimação.
1 Mestranda do programa de pós-graduação em Sustentabilidade 2 Professor Doutor, EACH-USP. [email protected]
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2. METODOLOGIA
2.1 Abordagem qualitativa com o objetivo de mapear as relações entre os diferentes atores que
constituem o processo de formação e transformação do processo de Relato Integrado e sua
institucionalização em âmbito internacional.
2.2 Foram adotadas diferentes estratégias para a coleta de dados primários e secundários. Os
dados primários serão coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com instuições
membros do IIRC e que divulgam seus resultados em relatórios integrados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A relevância de pesquisas aplicadas que sobreponham a lógica mecanicista para um
exame interdisciplinar da problemática da sustentabilidade é emergente e justifica o o interesse
pela abordagem deste projeto.
O resultado esperado é contribuir para a compreensão dos fenômenos sociais que
estimulam as transformações no mercado em relação à gestão sustentável não apenas para
mitigar danos ambientais e sociais, mas para prever e evitar que esses impactos sejam gerados.
Esse resultado deve estimular outras pesquisas cientificas sobre esta mesma problemática,
gerando inovações práticas e teóricas para soluções aplicadas.
Espera-se que seja levantada no trabalho uma matriz clara e objetiva que identifique
elementos que permitam induzir a análises aplicadas a questões ambientais mais amplas,
explicando o porquê de determinados temas ambientais entrarem na agenda de decisão enquanto
outros são pouco percebidos.
Este aspecto da pesquisa pode ajudar a identificar a melhor forma ou contexto para
motivar o uso de métricas socioambientais, como a do Relato Integrado, visando maior efetividade
na tomada decisão e na eficácia de suas propostas.
4. DISCUSSÃO
Apesar de não regular ou certificar relatórios produzidos com base nas diretrizes de
Relatório Integrado (<IR>), este modelo, ainda recente, tem sido utilizado para a prestação
voluntária de desempenho socioambiental corporativo por empresas de todos os segmentos e
setores.
O tema governança como arena na qual a tomada de decisão acontece, nem sempre
acolhe escolhas de forma harmônica ou consensual, pois lida com interesses, muitas vezes,
divergentes. Esta temática aponta para duas abordagens, a da centralização da autoridade, a
partir da regulação estatal, ao impor regras sobre a sociedade e o mercado na busca por
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eficiência, e uma segunda que está no fato de a cooperação entre os diferentes atores ocorrer
apenas quando uma organização tem legitimidade para estabelecer um padrão de ação dentro de
uma arena de disputas que garanta a adesão ao conjunto de normas estabelecidas (FLIGSTEIN,
2001).
Assim, compreender os principais fatores deste tipo de arranjo institucional e como eles
interferem no processo decisório por meio de sua governança é fundamental na análise da
consolidação de iniciativas como a do Relato Integrado, que impõe mudanças estratégicas na
gestão socioambiental, influenciando a reputação e gestão das empresas que as adotam.
Essa adoção voluntária, sem intervenção estatal, se diferencia da atitude de grande parte
dos atores econômicos, que apenas reagem às pressões ambientais e governamentais. Portanto,
essa atitude suscita o interesse em investigar o que influencia a adoção desses padrões e
comportamentos. Como se ela se legitima em uma estrutura colaborativa e em esfera global?
Na Economia, a teoria neoclássica, cujo domínio era quase exclusivo dos economistas
(SMELSER, SWEDBERG, 2005), passou a ser insuficiente na tentativa de explicar os novos
mercados socioambientais, como o de créditos de carbono ou o de produtos agroflorestais. Assim,
o arcabouço teórico identificado como mais abrangente e alinhado aos objetivos deste trabalho é
o da Nova Sociologia Econômica (NSE), no qual a ação econômica dos agentes molda os
mercados e influenciam o comportamento e a interação entre os atores (GRANOVETTER, 1985).
Este enfoque permite caracterizar a atuação empresarial como ação social para a gestão
sustentável a partir da prática de divulgação de relatórios de sustentabilidade.
Entender os mercados com esta perspectiva sociológica faz-se necessário quando
diferentes atores sociais passam a orientá-lo, direta ou indiretamente, estando, segundo
Granovetter (1985), imersos (embedded) em estruturas sociais que devem ser consideradas para
a sua compreensão e transformação.
Figura 1: Elementos de Conteúdo do Relato Integrado. Fonte: IIRC, 2013.
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Figura 2: Estrutura de governança do International Integrated Reporting Council. Fonte: IIRC, 2013.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maior inclusividade institucional e governabilidade democrática (como a inclusão de
atores políticos e sociais) de regimes ambientais internacionais na formulação e implementação
de políticas e diretrizes conjuntas ocorre como uma “estratégia política”. Modelos de coordenação
intersetorial caracterizadas por horizontalidade elevada terminam por servir de modelo às outras
instituições criadas com o fim de coparticipar no processo decisório de soluções voltadas à
sustentabilidade.
Este estudo mostra evidências preliminares do movimento em direção à convergência
através da colaboração e ação coletiva. A abordagem racional e pragmática adotada pelo o IIRC
para ganhar vantagem em um espaço de regulamentação com vários sobrepostos e concorrentes
globais em rede atendem às necessidades de informação de "partes interessadas", gerando mais
transparência e sustentabilidade para a gestão corporativa, que passam a adotar uma perspectiva
mais ampla, considerando o contexto social e ambiental e não somente os aspectos financeiros
da gestão.
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