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Universidade do Minho Instituto de Educação outubro de 2017 Gota a gota: A pesquisa na promoção da literacia científica Tânia Sofia Vieira Martins Gota a gota: A pesquisa na promoção da literacia científica UMinho|2017 Tânia Sofia Vieira Martins

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Universidade do MinhoInstituto de Educação

outubro de 2017

Gota a gota: A pesquisa na promoção da literacia científica

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Tânia Sofia Vieira Martins

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Tânia Sofia Vieira Martins

outubro de 2017

Gota a gota: A pesquisa na promoção da literacia científica

Universidade do MinhoInstituto de Educação

Trabalho realizado sob a orientação doProfessora Doutora Maria de Lurdes Dias de Carvalho

Relatório de Estágio

Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino

do 1º Ciclo do Ensino Básico

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ii

Declaração

Nome: Tânia Sofia Vieira Martins

Endereço eletrónico: [email protected]

Telefone: 916037447

Número de Identificação Civil: 14392195

Título do relatório de estágio: Gota a gota: A pesquisa na promoção da literacia

científica

Orientador: Professora Doutora Maria de Lurdes Dias de Carvalho

Ano de conclusão: 2017

Designação do Mestrado: Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do

Ensino Básico

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO DE ESTÁGIO APENAS

PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO,

QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, ___/___/_____

Assinatura: ___________________________________________________

(Tânia Sofia Vieira Martins)

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iii

Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a

sua construção. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Paulo Freire

O valor das coisas não está no tempo que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por

isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa

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AGRADECIMENTOS

O presente relatório de estágio inserido no Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino

do 1.º ciclo do Ensino Básico representa a conclusão de mais uma etapa da minha vida

académica, por isso é fundamental expressar o meu agradecimento a todos os que contribuíram

para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.

Primeiramente, um agradecimento especial à Professora Doutora Maria de Lurdes Dias

Carvalho que me acompanhou em toda esta caminhada e que comigo partilhou os seus

conhecimentos e as suas experiências por forma a contribuir para o sucesso do meu

desenvolvimento profissional. Obrigada pela confiança que sempre depositou em mim e nas

minhas capacidades, na medida em que, sem dúvida alguma, contribuiu para a minha

autoconfiança.

Segue-se um agradecimento especial aos contextos educativos que tão atenciosamente

me acolheram, destacando-se as crianças do jardim-de-infância e os alunos do 3.º ano da escola

básica que me permitiram entrar no seu mundo e partilhar uma série de momentos

inesquecíveis. À educadora Cândida Pinheiro e à professora Lina Esteves pela partilha das suas

ideias, conhecimentos e experiências que muito contribuíram para o meu desenvolvimento

profissional, mas também para o meu desenvolvimento pessoal. Apesar do estágio ter decorrido

num curto período de tempo saliento que “o valor das coisas não está no tempo que duram,

mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas

inexplicáveis e pessoas incomparáveis” (Fernando Pessoa).

Importa agora dirigir um agradecimento especial aos meus amigos e família que

acompanharam de perto este processo e apoiaram perante todas as adversidades, transmitindo

a sua força para que eu superasse todos os desafios com os quais fui confrontando ao longo

desta caminhada. É, ainda, essencial agradecer ao meu namorado Nuno Fernandes que

acompanhou cada passo que dei e cada sentimento que vivenciei. Obrigada por seres um

verdadeiro companheiro e tentares ultrapassar comigo as adversidades que senti, mas também

por festejares cada uma das minhas pequenas conquistas. Obrigada por me ajudares a ver o

que não conseguia ver, pela confiança que sempre depositas-te nas minhas capacidades, pela

paciência e pelos abraços que me transmitiam nova energia para avançar e ultrapassar todos os

desafios.

Obrigada a todos que caminharam comigo e que, gota a gota, contribuíram para que

este projeto fosse possível.

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v

RESUMO

O presente relatório de estágio denominado por “Gota a gota: a pesquisa na promoção

da literacia científica” surge do desenvolvimento de dois projetos curriculares integrados no

âmbito do estágio do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico.

Estes projetos foram desenvolvidos em dois contextos distintos, sendo que enquanto um

decorreu na Educação Pré-Escolar com um grupo de 4 anos, o outro projeto foi desenvolvido

com uma turma do 3.º ano de escolaridade.

A metodologia de investigação adotada ao longo do projeto baseia-se em princípios e

características da metodologia de investigação-ação, na medida em que se orienta segundo

ciclos de investigação e ação, onde o educador/professor reflete sobre as suas ações e

reestrutura continuamente a sua prática de modo a adaptá-la às necessidades evidenciadas.

O estudo surgiu da necessidade de compreender a influência da pesquisa na promoção

da literacia científica, sendo que os objetivos que lhe estão subjacentes são: compreender e

analisar a influência da pesquisa no desenvolvimento integral das crianças/dos alunos; analisar

o desenvolvimento da literacia científica dos alunos e crianças através de pesquisa; entender em

que medida a(s) ciência(s) permitem a integração com as diferentes áreas do saber; e, por fim,

analisar a reação das crianças perante a pesquisa.

Na Educação Pré-Escolar desenvolveu-se um projeto curricular integrado denominado

por “A aventura da Gota-gotinha” que, a partir de momentos de pesquisa e de atividades

experimentais, procurou promover o desenvolvimento de aprendizagens significativas. Por

conseguinte, ao responder-se às capacidades, necessidades e interesses das crianças

pretendeu-se promover a sua literacia científica, hábitos de reflexão pessoal e partilhada, o

desenvolvimento das suas aprendizagens considerando as suas conceções prévias, assim como,

potenciar o desenvolvimento de uma atitude de pesquisa e questionamento.

Relativamente à intervenção no 1.º ciclo do Ensino Básico, a partir da observação

participante e das diversas interações foi possível evidenciar o interesse nos temas associados à

sociedade e ao meio ambiente. Assim, no projeto “Tornar o Mundo melhor” desenvolveram-se

atividades ativas, significativas, globalizadas, interativas e diferenciadas que para dar resposta às

necessidades, potencialidades e curiosidades dos alunos, como também aos conteúdos

previstos no Programa Nacional para o 3.º ano de escolaridade. Por conseguinte, procurou-se

dotar os alunos de ferramentas que lhes permitam tornar-se investigadores ativos, conscientes e

críticos acerca das problemáticas que os envolvem desenvolvendo a sua literacia científica.

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vi

ABSTRACT

The present stage report called "Drop by drop: research in the promotion of scientific

literacy" arises from the development of two curricular projects integrated within the scope of the

Master's Degree in Pre-School and First Cycle of Basic Education. These projects were developed

in two distinct contexts, and while one took place in Pre-school Education with a group of 4 years,

the other project was developed with a group of the 3rd year of schooling.

The research methodology adopted throughout the project is based on principles and

characteristics of the research-action methodology, as it is guided by research and action cycles,

where the educator/teacher reflects on his actions and continually restructures the their practice

in order to adapt it to the evidenced needs.

The study arose from the need to understand the influence of research in the promotion

of scientific literacy, and its underlying objectives are: to understand and analyze the influence of

research on the integral development of children/students; analyze the development of scientific

literacy of students and children through research; understand to what extent the science (s)

allow integration with the different areas of knowledge; and, finally, to analyze the reaction of the

children to the research.

In pre-school education an integrated curricular project was developed called "The

adventure of the Drop-droplet" that, from moments of research and experimental activities,

sought to promote the development of meaningful learning. Consequently, in responding to the

children's abilities, needs and interests, it was intended to promote their scientific literacy,

personal and shared reflection habits, the development of their learning, considering their prior

conceptions, as well as fostering the development of a attitude of inquiry and questioning.

With regard to intervention in the 1st cycle of Basic Education, from the participant

observation and the various interactions it was possible to highlight the interest in the themes

associated with society and the environment. Thus, in the project "Making the World Better",

active, meaningful, globalized, interactive and differentiated activities have been developed to

meet the needs, potentialities and curiosities of students, as well as to the contents provided for

in the National Program for the 3rd year of schooling. Therefore, we have tried to equip students

with tools that allow them to become active, aware and critical researchers about the problems

that surround them by developing their scientific literacy.

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Índice

AGRADECIMENTOS .................................................................................................................. iv

RESUMO ................................................................................................................................... v

ABSTRACT ............................................................................................................................... vi

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................. ix

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 – CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO ......................................................................... 3

1.1) Educação Pré-Escolar ................................................................................................ 3

1.1.1) Caracterização da instituição ............................................................................. 3

1.1.2) Caracterização do ambiente educativo ............................................................... 4

1.1.3) Relação entre a instituição e as famílias ............................................................. 5

1.1.4) Caracterização do grupo de crianças .................................................................. 5

1.2) Ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico ......................................................................... 7

1.2.1) Caracterização do Agrupamento e da Escola ...................................................... 7

1.2.2) Caracterização do ambiente educativo ............................................................... 8

1.2.3) Relação entre a Escola e as Famílias .................................................................. 8

1.2.4) Caracterização da turma .................................................................................... 9

CAPÍTULO 2 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO .......................................................................... 11

2.1) A importância da pesquisa no desenvolvimento de aprendizagens ............................... 11

2.1.1) Fases do processo de pesquisa ............................................................................ 13

2.2) A Literacia Científica na sociedade atual ...................................................................... 16

2.3) Metodologias curriculares e pedagógicas do educador/professor na área das Ciências 21

2.3.1) A promoção de projetos interdisciplinares ........................................................ 23

2.3.2) A importância da aprendizagem cooperativa..................................................... 24

2.3.3) Abordagem construtivista do processo de Ensino e de Aprendizagem ............... 27

a) O papel do educador/professor como mediador de aprendizagens ................... 28

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b) A importância das conceções prévias ............................................................... 30

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E PLANO GERAL DE INTERVENÇÃO ........... 32

3.1) A investigação-ação ..................................................................................................... 32

3.2) Objetivos gerais do projeto .......................................................................................... 35

3.3) Instrumentos de recolha de dados ............................................................................... 36

3.4) Estratégias de intervenção pedagógica......................................................................... 37

CAPÍTULO 4 – INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA ........................................................................... 39

4.1) Intervenção pedagógica na Educação Pré-Escolar ........................................................ 39

4.1.1) Surgimento do projeto de intervenção pedagógica ............................................ 39

4.1.2) Desenvolvimento da literacia científica pessoal e partilhada .............................. 43

4.1.3) Análise crítica de resultados da intervenção pedagógica ................................... 49

4.2) Intervenção pedagógica no 1.º ciclo do Ensino Básico .................................................. 51

4.2.1)Surgimento do projeto de intervenção pedagógica ................................................. 51

4.2.2) Desenvolvimento da literacia científica pessoal e partilhada .............................. 56

4.2.3) Análise crítica de resultados da intervenção pedagógica ................................... 61

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................... 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 68

ANEXOS ................................................................................................................................. 71

Anexo 1 – Diário de Bordo de 22/11/2016 ........................................................................ 71

Anexo 2 – Diário de Bordo de 07/12/2016 ........................................................................ 73

Anexo 3 – Reflexão Semanal de 05/12/2016 a 09/12/2016............................................. 74

Anexo 4 – Diário de Bordo de 28/04/2017 ........................................................................ 76

Anexo 5 – Tarefa de medidas de comprimento ................................................................... 78

Anexo 6 – Cartazes de sensibilização .................................................................................. 81

Anexo 7 – Diário de Bordo de 13/06/2017 ........................................................................ 82

Anexo 8 – Diário de Bordo de 21/06/2017 ........................................................................ 83

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ix

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Processo cíclico e contínuo entre aprendizagem e compreensão. Fonte: Carvalho &

Freitas, 2010, p. 77) .............................................................................................................. 15

Figura 2 – A espiral da investigação-ação (Adaptado de Cardoso, 2014, p. 32) ........................ 33

Figura 3 – Frequência de crianças a explorarem autonomamente a área das ciências ............. 40

Figura 4 – Desenho do Projeto Curricular Integrado “A aventura da Gota-gotinha” ................... 42

Figura 5 – Material utilizado na atividade. ............................................................................... 44

Figura 6 – Exposição das descobertas acerca do tubarão. ....................................................... 45

Figura 7 – As crianças sentem os dentes do Cachalote representados na capa do livro. .......... 46

Figura 8 – Diálogo sobre potencialidades das fraldas. ............................................................. 46

Figura 9 – Recorte das fraldas. ............................................................................................... 47

Figura 10 – As crianças agitam num saco de plástico os pedaços da fralda. ............................ 47

Figura 11 – As crianças verificam as características da mistura criada e as semelhanças com a

neve. ...................................................................................................................................... 48

Figura 12 – Desenho do Projeto Curricular Integrado “Tornar o Mundo melhor”. ..................... 54

Figura 13 – Mapa de Conteúdos da questão-geradora “Como podemos proteger o ambiente?”.

.............................................................................................................................................. 55

Figura 14 – Partilha de ideias sobre as consequências da poluição dos solos. ......................... 56

Figura 15 – Elaboração dos Solos Comestíveis. ....................................................................... 58

Figura 16 – Solos Comestíveis (produto final). ......................................................................... 58

Figura 17 – Divulgação da notícia na rádio escola. .................................................................. 59

Figura 18 – Os alunos desenvolvem trabalho cooperativo. ....................................................... 60

Figura 19 – Maquete de cidade amiga do ambiente com materiais reciclados. ........................ 60

Figura 20 – Maquete sobre a reciclagem com materiais reciclados. ........................................ 61

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1

INTRODUÇÃO

O presente relatório de estágio intitulado de “Gota a gota: a pesquisa na promoção da

literacia científica” é realizado no âmbito do estágio curricular do Mestrado em Educação Pré-

Escolar e Ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico e tem como principal objetivo refletir sobre o

projeto de intervenção que foi realizado em ambos os ciclos.

No que respeita às intervenções pedagógicas, salienta-se que a intervenção ao nível da

Educação Pré-Escolar foi realizada num jardim-de-infância de Braga, localizado perto do centro

histórico da cidade. Neste contexto foi realizado um projeto curricular integrado, denominado por

“A aventura da Gota-gotinha” numa sala com crianças na faixa etária dos 4 anos de idade.

Relativamente à intervenção pedagógica no 1.º ciclo do Ensino Básico destaca-se que foi

realizada numa escola básica, pertencente ao Agrupamento de Escolas André Soares. Nesta

instituição surgiu o projeto curricular integrado designado como “Tornar o Mundo melhor” numa

turma do 3.º ano de escolaridade.

No que concerne à metodologia de investigação que foi adotada ao longo do projeto de

investigação e dos projetos de intervenção pedagógica em ambos os contextos educativos pode

evidenciar-se que se baseou em princípios e características da metodologia de investigação-ação.

Assim sendo, a observação, a planificação, a ação e a reflexão foram realizados de modo cíclico

por forma a contribuir para uma avaliação mais adequada e constante do desenvolvimento do

projeto de modo a que se pudesse compreender a sua adequação ao grupo de crianças/alunos1.

Relativamente à estrutura do relatório de estágio, podem distinguir-se cinco capítulos

principais. No que respeita ao capítulo dos contextos de intervenção – Capítulo 1 – destaca-se a

descrição de cada um dos contextos de intervenção ao nível da instituição, do ambiente

educativo, da relação entre a instituição e as famílias, bem como, o grupo de crianças/alunos.

Posteriormente, segue-se o Capítulo 2 que respeita ao enquadramento teórico onde se exploram

os temas de pesquisa, literacia científica e de metodologias curriculares e pedagógicas do

educador/professor na área das ciências. Neste último tópico pretende-se refletir sobre a

promoção de projetos interdisciplinares, a importância do trabalho cooperativo e, ainda, a

abordagem construtivista do processo de Ensino e de Aprendizagem. O Capítulo 3 clarifica a

metodologia de investigação e o plano geral de intervenção, onde se especificam os objetivos

1 Ao longo do presente relatório irá proceder-se à distinção entre crianças e alunos, sendo que os primeiros estarão associados à Educação Pré-Escolar e os segundos ao 1.º ciclo do Ensino Básico. Esta distinção é exclusivamente para facilitar a distinção dos intervenientes dos contextos educativos. Destaca-se, por fim, a ideia de que antes de serem alunos são crianças.

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gerais do projeto, os instrumentos de recolha de dados, assim como, as estratégias de

intervenção pedagógicas que serão adotadas nos contextos de intervenção. Segue-se o Capítulo

4 que reflete sobre a prática pedagógica desenvolvida, pelo que será destacado o surgimento e

desenvolvimento dos projetos, assim como a sua avaliação. Por fim, o último capítulo – Capítulo

5 – pretende fazer uma pequena conclusão sobre a resposta que os projetos de intervenção

forneceram ao projeto de investigação, bem como, a referência a algumas dificuldades que

foram sentidas e acabaram por limitar o desenvolvimento do projeto. Neste último tópico,

encontram-se, ainda, algumas recomendações para próximos projetos de investigação acerca

desta temática.

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3

CAPÍTULO 1 – CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO2

Para dar início a este relatório de estágio é fundamental proceder à caracterização dos

contextos de Educação Pré-Escolar e de Ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico onde foram

desenvolvidos os projetos distintos de intervenção pedagógica, assim como, o projeto de

investigação. Este aspeto é fundamental para o desenvolvimento de um projeto de intervenção

assente na intencionalidade educativa, onde a interação e a observação assumem um papel

importante para a compreensão das suas potencialidades, curiosidades e necessidades,

permitindo adequar a prática pedagógica.

Previamente importa caracterizar o meio local onde ambas as instituições estão

inseridas, nomeadamente no centro da cidade de Braga pois revelam-se autênticos estímulos

para o desenvolvimento integral da criança/do aluno. Nestes casos em particular, destaca-se a

sua proximidade a uma infinidade de serviços públicos, nomeadamente, o Centro de Saúde, o

auditório do Parque de Exposições, o Teatro Circo, a Casa dos Crivos, o Centro Cultural do

Carandá, o Espaço GNRation, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, assim como, os vários

museus que potenciam diversas interações possíveis. Por outro lado, salienta-se, ainda, a

acessibilidade às dinamizações de atividades dirigidas ao público infanto-juvenil que são

regularmente promovidas pela Câmara Municipal de Braga.

De seguida, apresenta-se a caracterização de ambas as instituições, bem como, do

ambiente educativo, da relação entre a instituição e as famílias, e, por fim, de cada um dos

grupos de crianças/alunos, aspetos relevantes para uma prática profissional reflexiva e

investigativa.

1.1) Educação Pré-Escolar

1.1.1) Caracterização da instituição

A prática pedagógica na Educação Pré-Escolar foi realizada numa IPSS que integra o

Centro Social de uma Paróquia. Os objetivos da instituição caracterizam-se por fomentar o

desenvolvimento integral da criança, de modo a que esta seja capaz de participar ativamente,

pronunciando a sua opinião; desenvolver o respeito pelo outro, no que concerne à sua opinião,

2 Informação retirada e modificada do Portefólio da Prática de Ensino Supervisionada I e II de Tânia Martins (2017).

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4

bem como, às suas características individuais; e, ainda, promover o desenvolvimento da

autonomia de cada criança.

No que concerne aos espaços frequentados pelas crianças da instituição destacam-se

alguns espaços comuns, nomeadamente, o salão polivalente, o recreio coberto e o refeitório. No

primeiro espaço referido, todas as crianças da instituição permanecem antes e depois da

componente letiva, mas também nas atividades de Educação Física, potenciando, desta forma, a

interação e a partilha de experiências com crianças de salas diferentes. Relativamente ao recreio

coberto, salienta-se que este é um local muito atrativo para as crianças, na medida em que

possui o seu pavimento revestido de relva sintética e alguns materiais lúdico-pedagógicos. No

que respeita ao refeitório, evidencia-se a mobília adequada à faixa etária das crianças,

fomentando a sua autonomia no momento das refeições.

O projeto educativo da instituição foi estruturado com o objetivo de sensibilizar as

famílias para a importância da alimentação saudável pois era percetível a resistência

demonstrada pelas crianças à experimentação de novos alimentos. Assim sendo, surgiu o

projeto educativo “De viagem em viagem construímos a nossa bagagem” cujo objetivo se prende

com a utilização da alimentação como indutora do património cultural, tradicional e geográfico

de Braga.

1.1.2) Caracterização do ambiente educativo

A sala caracteriza-se por ser um local bastante amplo com as diferentes áreas

claramente definidas em forma de U, sendo estas, a área da biblioteca, a área das ciências, a

área do quarto, a área da cozinha, a área da plástica, a área dos jogos e, por último, a área das

construções que também é utilizada como sendo a área do acolhimento e espaço para

desenvolver algumas atividades em grande grupo.

Para além das suas grandes dimensões, este espaço destaca-se pela existência de

grandes janelas que permitem o acesso a um pequeno recreio exterior comum a todas as salas

dos 4 e 5 anos de idade. Por conseguinte, a sala beneficia de grande exposição solar e de uma

grande entrada de ar que iluminam e arejam a sala em toda a sua extensão, tornando-a rica em

estímulos e num local muito agradável para se permanecer. Por outro lado, a existência de uma

casa de banho no interior da sala permite o desenvolvimento da autonomia nos momentos de

higiene das crianças, bem como a responsabilidade.

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5

Um aspeto a destacar prende-se com a existência de uma montra na sala que permite a

exposição dos trabalhos do grupo a toda a comunidade educativa, bem como, dar-lhes a

conhecer o projeto que estão a desenvolver. Importa realçar o papel da criança na construção

deste espaço, na medida em que quanto maior for a sua participação mais integrada se sentirá.

1.1.3) Relação entre a instituição e as famílias

A relação estabelecida entre o educador e os encarregados de educação deve consistir

em trocas informais e reuniões planeadas por forma a “conhecer as suas necessidades e

expetativas educativas, ouvir as suas opiniões e sugestões, incentivar a sua participação, e,

ainda, para combinar as formas de participação que melhor correspondem às suas

disponibilidades” (Silva, Marques, Mata, & Rosa, 2016, p. 28). Este aspeto é fundamental para a

promoção do desenvolvimento integral das crianças, na medida em que fomenta a partilha de

experiências acerca destes.

O jardim-de-infância distingue-se pela promoção da participação ativa dos pais no que

concerne à educação dos seus educandos, favorecendo uma comunicação constante que

valorize a partilha de experiências de modo a contribuir para o sucesso de cada criança. Esta

instituição prima pelo respeito das características de cada contexto familiar, destacando-se o seu

espírito respeitador, profissional e de cooperação que pretende fomentar com as famílias.

No que concerne à relação estabelecida entre os pais do grupo de crianças e a

educadora, evidencia-se o interesse e a compreensão pela importância da partilha de ideias no

desenvolvimento integral dos educandos, na medida em que todos os encarregados de

educação estão em contacto constante com a mesma. Destaca-se ainda uma característica nas

famílias deste grupo de crianças que se prende com a recetividade e participação ativa nas

atividades promovidas pela instituição, fomentando as interações entre toda a comunidade

educativa.

1.1.4) Caracterização do grupo de crianças

A intervenção pedagógica foi desenvolvida na sala 4B do jardim-de-infância, sendo que

este era composto por 22 crianças (6 meninas e 16 meninos). A maioria das crianças já era

acompanhada pela educadora e pela auxiliar desde a valência de creche, destacando-se o

ingresso de duas crianças este ano. No entanto, estas facilmente se integraram, denotando-se a

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6

sua capacidade comunicativa que despoletou a partilha de interesses. Evidencia-se, desta forma,

a qualidade de interações que ocorreram entre o grupo de crianças. Note-se que, considerando

que o grupo é composto maioritariamente por meninos destaca-se a importância do

desenvolvimento de atividades com grupos heterogéneos por forma a promover o

desenvolvimento de competências sociais.

A relação com a educadora possibilita a compreensão das especificidades de cada uma,

promovendo o desenvolvimento de aprendizagens a partir dos seus interesses, curiosidades e

potencialidades. Este aspeto é essencial para se promover atividades com intencionalidade

educativa, assim como, promover o envolvimento da criança a partir da promoção de atividades

significativas com recurso a uma diversidade de materiais, técnicas e modalidades de trabalho

da educadora. Por outro lado, o acompanhamento constante da educadora no desenvolvimento

de cada criança possibilitou a sua intervenção na identificação de crianças com algumas

dificuldades ao nível da articulação das palavras, pelo que permitiu o acompanhamento da

Terapia da Fala.

Ao nível afetivo destaca-se os benefícios do sentido de pertença, na medida em que

potenciam o sentimento de segurança e proteção por parte das crianças. A educadora assume o

papel de modelo educativo, despertando na criança uma atenção a cada pormenor,

nomeadamente, ao seu tom de voz, comportamento e linguagem utilizada. Assim, compreende-

se a importância do adulto em assumir uma postura que espelhe os valores essenciais à

construção da sua identidade pessoal e social.

No que respeita à atitude do grupo de alunos no desenvolvimento de atividades

orientadas pela educadora, destaca-se a sua participação ativa e o interesse nos desafios,

percebendo-se que são sujeitos a um constante estímulo que potenciou a sua vontade de

explorar, manipular objetos, assim como, desenvolver novas aprendizagens. Contudo, evidencia-

se pouca autonomia no que concerne à resolução de algumas questões e conflitos, bem como,

no desenvolvimento de atividades autónomas, sendo que procuraram constantemente um adulto

para ambas as situações.

A interação estabelecida entre a educadora e a auxiliar influencia o desenvolvimento

integral da criança, na medida em que é benéfico para esta permanecer num ambiente

harmonioso onde se procura o respeito e a cooperação. A cumplicidade entre as profissionais

referidas era visível devido a trabalharem juntas há bastante tempo, fortalecendo o trabalho

cooperativo e a comunicação acerca das crianças, partilhando informações por forma a

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potenciar o desenvolvimento integral a partir da exploração das necessidades, interesses e

potencialidades das mesmas.

1.2) Ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico

1.2.1) Caracterização do Agrupamento e da Escola

A escola básica onde foi realizada a intervenção pertence ao agrupamento de Escolas

André Soares que consiste num agrupamento vertical pois abrange instituições de Educação Pré-

Escolar, bem como, os 1.º, 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico. Este agrupamento foi sujeito a uma

evolução gradual desde 2001, sediando-se, desde então, na Escola Básica 2,3 André Soares.

Devido a esta característica os alunos beneficiam de estabilidade educativa desde o ingresso na

Educação Pré-Escolar até à conclusão do 3.º ciclo do Ensino Básico.

A missão do Agrupamento de Escolas André Soares assenta nos valores da “arte e

cultura, do saber, da inclusão, do compromisso e espírito de trabalho, no sentido de

responsabilidade e autonomia, da tolerância e respeito pelo outro e pela diferença e da

consciência ecológica e promotora de comportamentos saudáveis” (AEAS, 2015, p. 5).

Os órgãos próprios de administração e gestão fomentam a coordenação na adequação

às necessidades das respetivas comunidades educativas, assim como, uma descentralização e

desenvolvimento equilibrado ao nível económico, social e cultural de todas as instituições

pertencentes ao agrupamento.

As prioridades educativas deste agrupamento centram-se no aumento do sucesso

escolar e educativo dos alunos, promovendo a cidadania, a autonomia, a inclusão e a

solidariedade. Por outro lado, procura adequar as respostas aos seus alunos, monitorizando

constantemente o desenvolvimento do currículo e fomentando o rigor, a exigência e a

responsabilidade (AEAS, 2015). Desta forma, os alunos estão num ambiente de constante

aprendizagem que lhes permitirá uma melhor preparação para o seu futuro.

A escola está sediada num edifício térreo requalificado em 2006 constituída por um

polivalente, oito salas de aula, uma biblioteca, uma sala de professores, um gabinete de apoio

administrativo, uma arrecadação, uma reprografia e, ainda, uma cozinha. As salas de aula estão

distribuídas segundo os anos de escolaridade, fomentando a interação e a comunicação entre as

turmas de cada ano de escolaridade.

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A biblioteca da escola destaca-se pela qualidade e quantidade das obras literárias que

possui, na medida em que são adequadas aos diferentes anos de escolaridade, bem como, pela

sua organização e acessibilidade que potenciam a curiosidade dos alunos. Nesta perspetiva,

assume-se que este espaço é indispensável para o desenvolvimento e formação de leitores

competentes e críticos. Outra potencialidade deste espaço consiste no acesso a computadores

disponíveis para os alunos realizarem pesquisas, favorecendo o desenvolvimento da literacia

científica e dotando os alunos de diversas ferramentas de pesquisa.

No espaço exterior da escola, para além do pátio extenso, há um campo de jogos que

permite que cada ano de escolaridade possa usufruir livremente deste espaço no intervalo de

um dia específico da semana. Por conseguinte, há um incentivo para que os alunos vão

explorando diversas brincadeiras com os demais alunos da escola.

1.2.2) Caracterização do ambiente educativo

A sala onde foi desenvolvida a intervenção pedagógica destaca-se pela sua amplitude,

exposição solar, assim como, pelo arejamento que são promovidos pelas grandes janelas e uma

porta de vidro que potenciam o acesso a um pequeno jardim exterior. A presença de duas

paredes extensas revestidas com cortiça permitem que os trabalhos realizados pelos alunos,

bem como, alguns cartazes educativos sejam expostos e estejam acessíveis a estes em qualquer

momento. A personalização da sala consoante o grupo de alunos é uma vantagem para que

estes se sintam pertencentes ao espaço que frequentam diariamente, denotando-se algumas

características da turma. O placard exterior possibilita, ainda, a exposição e partilha dos

trabalhos com toda a comunidade académica, dando-lhes a conhecer um pouco dos trabalhos

que vão realizando.

Ao longo da prática pedagógica a sala de aula beneficiou da inserção de um projetor e

de um novo computador que potenciou a utilização das novas tecnologias. Por outro lado,

destaca-se também a existência de um lavatório que favorece a higiene da sala e dos alunos,

atribuindo-lhes responsabilidade e autonomia.

1.2.3) Relação entre a Escola e as Famílias

A comunicação entre a escola e a família é essencial na promoção do desenvolvimento

integral dos alunos, sendo que o professor titular assume um papel preponderante para que se

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promovam momentos de partilha que possibilitem uma ação recíproca com os educandos por

forma a formar cidadãos dotados de conhecimentos e aptos para se inserirem na sociedade.

Desta forma, compreende-se que a comunicação frequente e aberta “constitui uma das

características basilares na definição de um real envolvimento dos pais (…) na vida da escola”

(Marzano, 2005, p. 49).

A escola possui uma característica singular, na medida em que não se limita à promoção

das tradicionais reuniões de pais para a transmissão de informações acerca dos seus

educandos. Esta procura reforçar a relação entre a escola e a família através da promoção de

algumas iniciativas de convívio e de partilha de lanches, bem como, de atividades lúdicas com os

membros da comunidade educativa, sendo que estas propostas estão normalmente associadas

a alguns dias festivos, nomeadamente, na comemoração do dia da família, do pai ou da mãe.

Por conseguinte, geram-se momentos de comunicação acerca dos educandos, potenciando-se a

discussão de possíveis estratégias de promoção do desenvolvimento integral do mesmo para

que este possa atingir sucesso educativo, social e afetivo.

A professora titular demonstra grande abertura no que concerne à partilha de ideias com

os encarregados de educação, sendo que recorre constantemente a uma página privada do

Facebook para dar alguma informação importante, partilhar fotografias dos alunos e dos seus

trabalhos, bem como, para desafiar os pais a concretizarem algumas atividades em família. Por

sua vez, os encarregados de educação têm abertura para partilhar ideias, dúvidas ou mesmo

fotografias do grupo de alunos. A constante interação que se promove leva a que os alunos

sejam beneficiados e envolvidos num ambiente de entreajuda e empatia.

1.2.4) Caracterização da turma

A intervenção pedagógica foi desenvolvida na turma B do 3.º ano de escolaridade, sendo

esta composta por 26 alunos, 10 do sexo masculino e 16 do sexo feminino, com idades

compreendidas entre os oito e os nove anos. Esta turma evidencia um interesse incessante de

aprender a partir de atividades de carácter lúdico e dinâmico, sendo este refletido pelo sucesso

escolar geral da turma.

No que respeita ao nível sócio afetivo da turma evidencia-se um espírito de cooperação e

entreajuda dentro da sala, sendo que este pode ser potenciado pelos trabalhos de grupo. Os

trabalhos de grupo são muito ansiados pela turma pelo que fomenta a distribuição equilibrada

de tarefas, o respeito pela opinião dos colegas e a mobilização da democracia ao longo dos

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diversos trabalhos que vão sendo desenvolvidos. Por conseguinte, geram-se expressões afetivas

e de confiança que encorajam a que cada um desenvolva as suas capacidades. A constituição

dos grupos pelos próprios alunos no início do ano potenciou a que se fossem conhecendo

melhor e a compreensão das capacidades de cada um.

A relação da professora titular com os alunos refletia a afetividade fomentada desde o

seu ingresso no 1.º ano de escolaridade. Com as diversas interações que se foram

desenvolvendo, esta tornou-se num refúgio de apoio, segurança e proteção. Por conseguinte, a

professora titular foi compreendendo as características de cada um dos alunos que compõem a

turma, percebendo, facilmente, os seus interesses, necessidades e potencialidades. Por outro

lado, destacam-se as constantes votações democráticas na sala de aula, na medida em que, a

professora solicitava constantemente a participação dos alunos nas tomadas de decisão que os

envolvia, contribuindo positivamente para o desenvolvimento de cidadãos críticos e ativos.

No que concerne ao nível sócio comportamental destaca-se o comportamento

inadequado de um aluno para com os pares nos momentos extra-aula. Por outro lado, é

frequente a mobilização de vocabulário impróprio e incumprimento pelas regras pré-

estabelecidas com a docente titular de turma. Considerando que esta problemática já provém do

ano anterior, a professora definiu como prioridade educativa o cultivo de atitudes e

comportamentos de solidariedade e respeito pelos outros, com objetivo de o sensibilizar.

Compreendendo que qualquer adulto é assumido como sendo um modelo, salienta-se

que o professor assume o papel de modelo educativo. Assim a sua postura no que concerne à

abertura para atualização constante dos conhecimentos, a diversidade de vocabulário por si

mobilizado, os valores que considera como essenciais para a construção da identidade pessoal e

social vão contribuir para a formação integral dos seus alunos.

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CAPÍTULO 2 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Neste capítulo pretende-se proceder à desmistificação do título deste relatório de estágio,

na medida em que se desagregará o mesmo de modo a clarificar cada um dos principais termos

que o compõe, nomeadamente, a pesquisa e a literacia científica. Posteriormente, far-se-á

referência a conceitos que foram essenciais para sustentar o desenvolvimento do projeto de

investigação, bem como nos projetos de intervenção, sendo eles, a importância das

metodologias curriculares e pedagógicas do educador/professor na área das Ciências,

nomeadamente, na promoção de projetos interdisciplinares, de aprendizagem cooperativa, bem

como a abordagem construtivista no processo de Ensino e de Aprendizagem. Evidencia-se que

neste último tópico se refletirá sobre o papel do educador/profissional na mediação de

aprendizagens, bem como, a potencialidade da consideração pelas conceções prévias das

crianças/dos alunos no processo de Ensino e Aprendizagem.

2.1) A importância da pesquisa no desenvolvimento de aprendizagens

Pesquisa coincide com a vontade de viver, de sobreviver, de

mudar, de transformar, de recomeçar (Demo, 1992, p. 40).

A pesquisa é parte integrante do quotidiano do ser humano desde o seu nascimento

devido à sua curiosidade inata que caracteriza os primeiros anos de vida. Desta forma, a criança

permanece em constante exploração do seu meio envolvente, o que corrobora com a teoria de

Reis (2008), que afirma que “as crianças são “cientistas activos” que procuram,

constantemente, satisfazer a sua insaciável curiosidade sobre o mundo que as rodeia” (p. 16).

Assim sendo, o educador/professor é o principal responsável pelo fomento desta prática que se

distingue por potenciar a emancipação.

O conceito de pesquisa pode ser definido como sendo,

toda atividade voltada para a solução de problemas; como atividade de busca, indagação,

investigação, inquirição da realidade, é a atividade que vai (…) permitir, no âmbito da

ciência, elaborar um conhecimento, ou um conjunto de conhecimentos, que nos auxilie

na compreensão desta realidade e nos oriente em nossas ações (Pádua, 2000, p. 31).

Assim, é percetível que os momentos de exploração são enriquecidos pelas diversas questões

com as quais cada indivíduo se vai deparando, na medida em que podem levar a inúmeras

descobertas ou mesmo a uma reconstrução da aprendizagem. Este questionamento é definido

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por Demo (2003, p. 10) como sendo “a referência à formação do sujeito competente, no sentido

de ser capaz de tomando consciência crítica, formular e executar projeto próprio de vida no

contexto histórico. Não significa apenas criticar, mas, com base na crítica, intervir

alternativamente”.

Considerando que o objetivo principal do jardim-de-infância, bem como da escola

consiste no desenvolvimento integral do sujeito, isto é, formar um cidadão ativo, autónomo,

responsável, crítico e reflexivo, é fundamental incluir momentos de pesquisa nas suas propostas

de atividade. Na perspetiva de Demo (1992) “o que faz da aprendizagem algo criativo é a

pesquisa, porque a submete ao teste, à dúvida, ao desafio, desfazendo tendência meramente

reprodutiva” (p. 43).

Através dos momentos de pesquisa, o sujeito pode relacionar as suas conceções com as

novas informações que recolheu a partir da análise de diversas fontes de informação, por forma

a reconstruir as suas ideias, aproximando-as da realidade. Desta forma, a pesquisa relaciona o

chamado senso comum, isto é, os conhecimentos que os alunos já têm com os novos

conhecimentos que estão a desenvolver alicerçados no rigor científico. Há, portanto, uma

construção ou reconstrução do conhecimento, entendendo-se que a “aprendizagem deve ser

entendida como um processamento activo de informação e ideias através do qual se vão

estabelecendo novas ligações” (Reis, 2008, p. 18). Por outro lado, remete para a

significatividade das aprendizagens que é preponderante para que o sujeito possa relacionar os

conhecimentos entre si, como uma teia de saberes que se cruzam uma infinidade de vezes.

Como qualquer capacidade, a capacidade investigativa e de pesquisa deve ser

incentivada e desenvolvida de modo a que o sujeito possua ferramentas essenciais para dar

resposta aquando do surgimento de uma curiosidade ou questão. Na opinião de Demo (1992) a

“pesquisa é processo que deve aparecer em todo trajeto educativo, como princípio educativo

que é, na base de qualquer proposta emancipatória” (p. 16). Assim sendo, o educador/docente

deve fomentar o desenvolvimento das capacidades de procura de informações, apropriação da

interpretação, bem como, reconstrução do conhecimento que se possuía (Carvalho, Ramos, &

Baptista, 2015). Segundo a perspetiva de Reis (2008) deve-se

fomentar, desde a mais tenra idade, a capacidade de observar, de questionar, de

comparar e justificar, para estabelecer, a partir do vivido, do observado e do

experienciado, patamares de conhecimento, provisório mas sustentado, que irão erguer a

pouco e pouco a arquitectura conceptual, analítica e estruturante que faz dos humanos

seres pensantes, capazes de pensar cientificamente a realidade, isto é, de o interpretar

com fundamentos e de a questionar com pertinência (p. 10)

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Através do incentivo permanente, o sujeito vai sentir-se mais confiante e interessado na

constante atualização dos conhecimentos, o que se traduzirá no aumento da autoconfiança nas

suas interações sociais. Tal como enuncia Demo (1992),

somente pessoas emancipadas podem de verdade dialogar, porque têm com que

contribuir (…). Um ser social emancipado nunca entra no diálogo para somente escutar e

seguir, mas para demarcar espaço próprio, a partir do qual compreende o do outro e

com ele se compõe ou se defronta (p. 37).

A emancipação consiste no “processo histórico de conquista e exercício da qualidade de ator

consciente e produtivo” (Demo, 1992, p. 78). Este processo permite que o sujeito desenvolva

não unicamente a sua atitude investigativa, mas também a sua insaciável curiosidade e a sua

criatividade (Carvalho, Ramos, & Baptista, 2015).

O ambiente em que as crianças/os alunos estão inseridos influencia as aprendizagens,

bem como, o modo de ver o mundo. Este espaço deve ser “facilitador do processo de

desenvolvimento e aprendizagem de todas e cada uma das crianças” (Silva, Marques, Mata, &

Rosa, 2016, p. 5). Por conseguinte, compreende-se que quanto mais rico e diversificado for o

ambiente que o envolve, mais estímulos estarão ao seu dispor. Desta forma, para que lhe seja

possível desenvolver a capacidade investigativa é fundamental disponibilizar uma diversidade de

fontes de informação que estejam permanentemente acessíveis às crianças/aos alunos, tais

como, revistas, jornais, livros, enciclopédias, computador com acesso à internet, entre outros.

A promoção de momentos de pesquisa fomenta a procura de informações em variadas

fontes, levando a uma posterior seleção e organização de modo a fomentar a construção de

novas aprendizagens ou reconstrução de saberes (Carvalho, Ramos, & Baptista, 2015) pois “o

conhecimento não é passivamente recebido mas activamente construído pelo sujeito” (Sá, 2002,

p. 35). Contudo, cabe ao educador/professor promover

o processo de descoberta fundamentada que caracteriza a investigação científica (…)

favorecendo a construção de conceitos mais rigorosos partindo dos saberes e interesses

das crianças (…) mobilizando as restantes áreas de conteúdo para produzir

aprendizagens com significado para as crianças (Santos, Gaspar, & Santos, 2014, p. 28)

2.1.1) Fases do processo de pesquisa

A primeira fase que caracteriza qualquer investigação diz respeito à definição clara do

tema a pesquisar, orientando o sujeito a procurar informações numa diversidade de fontes que

lhe estejam disponíveis. Salienta-se que, nesta fase, o educador/professor poderá orientar de

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modo a promover o seu desenvolvimento integral a partir dos interesses, curiosidades e

potencialidades. Considerando este aspeto pode fomentar-se uma motivação adicional, sendo

que esta é “importante para que o pesquisador consiga enfrentar as inúmeras dificuldades que

um processo de pesquisa apresenta; no entanto, não se deve confundir motivação com interesse

pessoal exagerado, que leve a uma possível distorção ou manipulação dos resultados da

pesquisa” (Pádua, 2000, p. 37). Por isso, é importante que todo o processo esteja inserido na

“zona óptima de dificuldade” (Sá & Varela, 2007, p. 25) do pesquisador, de modo a contribuir

para a sua evolução e não promover a angústia da estagnação evolutiva.

A segunda fase do projeto de pesquisa refere-se à procura de informações em variadas

fontes de informação, sendo que, normalmente tanto no jardim-de-infância, bem como, no 1.º

ciclo do Ensino Básico se limitam à pesquisa na internet ou em livros, não recorrendo a jornais

ou revistas, por exemplo. No entanto, o professor deve alertar os alunos para a perspetiva de

que “a documentação não é para ser simplesmente usada para ser copiada mas antes para

fornecer informação útil para a actividade de investigação em causa” (Carvalho &

Freitas, 2010, p. 48). Segundo os mesmos autores,

para alunos do ensino primário, extrair informação pela sua própria pesquisa com vista a

responder a uma dada questão é tarefa complexa. Estas competências vão-se

desenvolvendo progressivamente desde o ensino primário até ao ensino secundário e ao

ensino superior, ou mesmo ao longo de toda a vida adulta (Carvalho & Freitas, 2010, p.

122).

Posteriormente à fase da recolha de informação segue-se a seleção de informação

pertinente para contribuir para a resolução das questões iniciais do professor investigador. Desta

forma, a criança/o aluno terá a oportunidade de responder à sua questão inicial, modificando a

sua estrutura cognitiva inicial devido à compreensão que foi gerada. Através da figura que se

segue (Fig. 1) pode verificar-se o processo cíclico que se gera entre os momentos de

aprendizagem e a compreensão que se vai criando acerca do mundo que nos envolve.

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Figura 1 – Processo cíclico e contínuo entre aprendizagem e compreensão. Fonte: Carvalho &

Freitas, 2010, p. 77)

Mediante a compreensão do mundo envolvente, a criança/o aluno chega ao seu objetivo

que consiste em dar resposta às questões que o inquietavam, contribuindo, por conseguinte,

para a (re)construção do seu conhecimento. É de salientar que a pesquisa “faz parte do

processo de informação, como instrumento essencial para a emancipação. Não só para ter,

sobretudo para ser” (Demo, 1992, p. 16), pelo que o sujeito ao longo da sua vida e, em

consequência, da vontade de atualizar constantemente os seus conhecimentos beneficiará do

enriquecimento pessoal que a pesquisa pode proporcionar.

A partilha dessa (re)construção do conhecimento, através, por exemplo, da apresentação

do trabalho realizado com base no processo de pesquisa poderá e é aconselhável que ocorra

devido às inúmeras vantagens de que beneficiam todos os intervenientes. Com este processo,

pode criar-se um momento de co-construção das principais aprendizagens que desenvolveram.

Além disso, as crianças/alunos poderão dialogar sobre as etapas pelas quais passaram até ao

momento em que atingiram o nível de conhecimento que era ansiado. Com os momentos de

partilha é natural que surjam perspetivas distintas, alicerçadas em experiências de vida

diferentes, pelo que o educador/professor deverá incentivar “o questionar e o argumentar, tanto

os alunos uns com os outros como o professor, ajudará a explicar e a clarificar as ideias de cada

um” (Sá, 2002, p. 36). Desta forma, o conhecimento será ativamente construído e não

passivamente absorvido.

Em modo de síntese, considerando as vantagens que advém do processo de

aprendizagem alicerçado numa atitude ativa de pesquisa e descoberta, o educador/professor

tem um papel preponderante no desenvolvimento de atividades que promovam o

desenvolvimento de aprendizagens pela pesquisa, tão necessário na educação da sociedade

atual.

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2.2) A Literacia Científica na sociedade atual

Há que conseguir incutir nos mais novos o prazer de descobrir, o

gosto de apreender, o gozo de imaginar. A este respeito pode a

ciência igualmente fornecer um considerável contributo,

estimulando e despertando uma atitude de abertura aos nossos

semelhantes e ao mundo. Há que motivar a todos os níveis a

curiosidade – essa poderosa semente do espírito crítico que serviu

de base a todo o edifício da modernidade (Caraça, 2001, p. 10).

O dinamismo na procura e atualização do conhecimento caracteriza a sociedade da

atualidade, na medida em que o principal objetivo se incide na progressiva e vantajosa evolução

dos cidadãos que a constituem. Por esta característica, esta sociedade tem sido denominada por

“Sociedade do Conhecimento” (Cachapuz, Praia, & Jorge, 2002). Assim, a formação de

cidadãos dotados de conhecimentos e com uma atitude ativa, de autonomia, responsabilidade,

crítica construtiva e reflexibilidade tem sido o principal objetivo da educação. Salienta-se a

perspetiva de que qualquer mudança ao nível da educação se procede com a finalidade de

melhorar.

No que concerne à área das ciências e tecnologias, exige-se uma “adequada cultura

científica/tecnológica na emergência do progresso social que ela pressupõe” (Cachapuz, Praia,

& Jorge, 2002, p. 21). Esta perspetiva já era compreendida por Ziman (1999) na medida em

que afirmou que “a ciência, através da tecnologia, é hoje em dia a maior fonte de mudança nas

sociedades humanas” (p. 437). Por conseguinte, o conceito de literacia científica tem sido o foco

de diversas investigações por forma a clarificar o seu conceito, as suas características, assim

como, as suas potencialidades para a evolução da sociedade.

A expressão de literacia científica pode ser dissociada em dois termos distintos, sendo

eles, literacia, por um lado, e ciência, por outro. No que concerne ao significado do termo

literacia salienta-se que este

designa não apenas a capacidade para ler e escrever, utilizando a informação escrita de forma contextualmente apropriada, em contextos diversificados de uso, como igualmente a motivação para o fazer. A literacia, potenciando a interacção social e estimulando o raciocínio crítico e a comunicação abstracta, é utilizada para desenvolver o conhecimento e a compreensão e para assegurar a formação efetiva e integral da pessoa (Azevedo, 2009, p. 1).

Desta forma, compreende-se que este conceito é totalmente distinto de alfabetização dado que

este último apenas remete para o ensino e aprendizagem da leitura, escrita e do cálculo.

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Destaca-se o facto de que a sociedade tem fomentado o desenvolvimento de cidadãos literatos e

não apenas escolarizados ou alfabetizados, sendo este um aspeto que facilita a integração dos

cidadãos na sociedade. A reestruturação do ambiente educativo é um aspeto positivo que

permite contrariar e facilitar essa integração.

Relativamente ao termo ciência destaca-se a perspetiva de Reis (2008) que enuncia que

esta “nos primeiros anos de escolaridade pode ser definida como o estudo, a interpretação e a

aprendizagem sobre nós mesmos e o ambiente que nos rodeia, através dos sentidos e da

exploração pessoal” (p. 15). Assim, no âmbito das ciências o professor pode desenvolver

diversas atividades, alicerçadas no rigor científico característico da ciência, que potenciem o

conhecimento pessoal e do meio envolvente. Por conseguinte, esta área do conhecimento

destaca-se como potenciadora na promoção do desenvolvimento integral das crianças/dos

alunos pois oferece uma perspectiva de ensino mais aberta à diversidade de interesses e

aptidões, compatível com o ideal de uma escola multicultural” (Sá, 2002, p. 34).

A literacia científica tem sido, ao longo dos anos, alvo da persistência de diversos

autores na tentativa de encontrar uma definição. Segundo Carvalho (2009),

o conceito de literacia científica emergiu aquando da necessidade de criar condições para

que os cidadãos pudessem compreender e apoiar projectos em ciência e tecnologia.

Estas competências passam a ser desenvolvidas no âmbito da educação em ciências,

prioritariamente dirigida a crianças em meio escolar, mas também não esquecendo os

adultos, tendo em vista a relevância social e cultural da ciência numa sociedade cada vez

mais científica e tecnológica (p. 181).

De acordo com a perspetiva de Carvalho (2009), a interpretação e a conceção do termo

literacia científica está dependente de alguns fatores, no entanto salienta-se que o essencial é

“promover o nível de literacia funcional das populações, pois só as pessoas literatas podem

participar efectivamente na sociedade, quer económica quer socialmente, podendo compreender

e gerir com elevado controlo as suas situações do quotidiano” (p. 188).

Nesta perspetiva, a promoção da literacia científica traduz benefícios tanto para o sujeito

como para a sociedade em que está integrado. Ao nível pessoal salienta-se: i) a destreza na

tomada de decisões conscientes e ponderadas sobre o seu estilo de vida; ii) a facilidade em

desenvolver uma atividade laboral numa área que valorize estes conhecimentos, contribuindo,

por conseguinte, para a sua evolução pessoal e profissional; iii) a valorização da sua autoestima

pela sua capacidade intelectual, assim como, por se tornar num impulsionador da cultura

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científica; iv) por fim, destaca-se a ideia de que para além dos sujeitos enriquecerem ao nível da

aprendizagem, também enriquecem como seres humanos.

Já no que concerne aos benefícios subjacentes à sociedade destaca-se: i) o

desenvolvimento económico do país proveniente da progressão científica, ii) o olhar atento sobre

as políticas que contribuem para o desenvolvimento científico, iii) a compreensão realista da

sociedade perante a ciência e iv) o incentivo à participação democrática do país.

Com a visibilidade que a literacia científica tem adquirido devido aos seus benefícios ao

nível pessoal e da sociedade, em 2000 surgiu o PISA (Programme for International Student

Assessment) com o intuito de avaliar as competências dos alunos de 15 anos de idade na

aplicação dos conhecimentos educativos nos domínios de leitura, matemática e ciências em

situações do quotidiano.

De acordo com o PISA 2015, a

literacia científica é a capacidade de um indivíduo para se envolver em questões

relacionadas com a ciência e de compreender as ideias científicas, como um cidadão

reflexivo. Assim sendo, um indivíduo cientificamente letrado está preparado para

participar num discurso racional sobre ciência e tecnologia (Marôco, Gonçalves,

Lourenço, & Mendes, 2016, p. 20).

Desta forma, os indivíduos devem conseguir dar uma explicação válida e alicerçada no rigor

científico relativamente a fenómenos naturais e tecnológicos; contribuir com a sua perspetiva

acerca de investigações científicas; e, por fim, extrair conclusões acerca da análise e

interpretação de dados científicos.

Considerando que o desenvolvimento de cada país é distinto, Aikenhead (2009) defende

que “cada país deve desenvolver o seu próprio significado de literacia científica para ir ao

encontro das suas próprias necessidades sociais, políticas e económicas” (p. 19). Assim, dada a

natureza do conceito de literacia científica, nomeadamente, o seu dinamismo e a sua evolução

não é esperado que se distinga uma pessoa como literato ou iliterata.

A opinião dos educadores/docentes relativamente à abordagem às ciências foi-se

modificando gradualmente, sendo que, na atualidade “costumam tratar os estudantes como

cidadãos cuja literacia científica deve ser suficientemente informada para lidar com questões

pessoais ou sociais relacionadas com a ciência” (Aikenhead, 2009, p. 18). Para além disso, é

necessário fomentar o desenvolvimento de cidadãos cientificamente literatos, pois “qualquer

grupo que queira melhorar a educação científica no seu país precisa de renegociar a cultura da

sua ciência escolar” (Aikenhead, 2009, p. 18).

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O enfoque do autor encaminha-nos, então, para a cultura da ciência escolar. Por outras

palavras, a necessidade de promover a literacia científica desde os primeiros momentos de

curiosidade que cada criança evidencia, “mesmo antes dos primeiros anos de escolaridade

básica, isto é, deve efectuar-se ainda durante os anos da pré-escolaridade (jardim-de-infância)”

(Afonso, 2008, p. 19). Por outras palavras, a promoção da literacia científica, diriamos nós já

fomentada antes da Educação Pré-Escolar, exige intencionalidade educativa – adequada e

gradualmente mais complexa – de acordo com o nível etário a que se destina. Para além disso,

a literacia científica “não se adquire de forma espontânea, mas requer um trabalho de

planificação consciente, de práticas intencionais e sistemáticas, com processos de monitorização

constantes, e de avaliação, com um espírito de abertura à inovação” (Azevedo, 2009, p. 3).

Assim sendo, o educador/professor deve ter em atenção algumas considerações: a necessária

abertura e flexibilidade nas práticas pedagógicas e curriculares capazes de permitirem o

desenvolvimento do questionamento científico e metodológico, bem como o pensamento

reflexivo e crítico da criança/aluno; a capacidade de não tender a preocupar-se nem exigir a

memorização de termos científicos, pois esta não é minimamente benéfica ou produtiva; o

cuidado com a sua própria cultura científica e com o recurso a práticas e linguagens científicas

de forma a ir substituindo os termos informais por conceitos e terminologia científica.

Concordamos assim com Sá e Varela (2004) que defendem que a

[…] aprendizagem da linguagem científica é concomitante com a construção de

significados, ora por substituição da linguagem informal pela linguagem científica (…) ora

pela aquisição directa de termos científicos para exprimir significados novos até então

não verbalizáveis na linguagem informal (Sá & Varela, 2004, p. 36).

Por outro lado, a comunicação entre as crianças/os alunos, a sua escrita autónoma ou, até

mesmo, uma representação através de desenho contribuem para o desenvolvimento da literacia

científica. Contudo, é fundamental que as aprendizagens sejam ativas e significativas,

fomentando a interligação com os conhecimentos dos quais o sujeito é dotado. Na perspetiva de

Sá e Varela (2007), a literacia científica

mobiliza conceitos de diferentes áreas curriculares, especialmente enriquecidos pelas

relações conceptuais construídas no processo de aprendizagem, bem como as

competências de pensamento habilitam o sujeito para formas de acção pessoalmente

relevantes e significativas, nas variadas situações da vida (p. 12).

Tal como ocorre no desenvolvimento de conhecimentos de qualquer área do saber, o

conhecimento científico ocorre em espiral, fluindo dos conteúdos mais abrangente para os mais

específicos. Salienta-se, ainda a perspetiva de que o “desenvolvimento científico dos nossos

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conceitos pode fazer-se do mais simples para o mais complexo, do concreto para o abstracto, do

próximo para o distante, do visível para o invisível” (Afonso, 2008, p. 71).

De acordo com a perspetiva de Afonso (2008) o desenvolvimento de atitudes favoráveis

ao contínuo questionamento e investigação científica constitui um dos objetivos da educação em

ciências, na medida em que, tal como refere a autora, “são uma dimensão importante para o

próprio progresso intelectual e emocional e para a formação individual e social das crianças” (p.

102). Por conseguinte, a atitude interrogativa, o respeito pela evidência/espírito de abertura, a

reflexão crítica, a perseverança, o espírito de cooperação, bem como, a criatividade devem ser

atitudes que os educadores/professores devem procurar desenvolver nas suas crianças/nos

seus alunos (Afonso, 2008).

A atitude interrogativa assume-se como fundamental para dar início a qualquer

investigação científica, na medida em que potencia a formulação de questões a que se procurará

dar resposta a partir dessa mesma investigação. No entanto, esta está intimamente associada à

curiosidade que o sujeito vai sentido constantemente, e, por conseguinte, dependente do

incentivo a que vão sendo expostos. No que se refere ao respeito pela evidência/espírito de

abertura, pretende-se salientar a importância de manter o espírito aberto a resultados que não

eram inicialmente expectáveis, demonstrando, desta forma, o respeito pela evidência. Contudo,

este espírito não deve estar em constante mutação devido à reflexão crítica que o sujeito deve

desenvolver à medida que vai ampliando os seus conhecimentos científicos. Tal como acontece

em qualquer atividade, a investigação científica pode levar a que o sujeito desanime devido a

alguma adversidade pelo que o educador/professor deve contribuir para que se mantenha a

perseverança. Por outro lado, o educador/professor pode fomentar o espírito de cooperação a

partir da investigação científica levando a que as crianças/os alunos desenvolvam competências

socioeducativas (Afonso, 2008).

A literacia científica deve ser frequentemente avaliada por forma a compreender a

evolução que as crianças/os alunos têm beneficiado. O educador/professor tem um papel

preponderante em compreender se os conhecimentos desenvolvidos permitiram influenciar as

suas conceções prévias e se estes possuem rigor científico. Por outro lado, destaca-se a

evolução da perceção destes acerca dos processos científicos com os quais vai contactando e,

por fim, a mobilização de ferramentas que foram desenvolvidas ao nível científico por forma a

contribuir para a resolução de problemas vivenciados atualmente na sociedade (Carvalho G. S.,

2009).

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2.3) Metodologias curriculares e pedagógicas do educador/professor na

área das Ciências

Para ser bem sucedida, a formação contínua de professores tem de

estar intimamente ligada à gestão escolar, às práticas pedagógicas

e às necessidades dos professores, aumentando a sua eficácia se

essas necessidades forem identificadas pelos próprios docentes

(Marques, 2004, p. 10).

Considerando a notoriedade que a área das ciências tem adquirido devido à importância

depositada na promoção da literacia científica, torna-se preponderante refletir sobre as

metodologias curriculares e pedagógicas do educador/professor.

No que concerne ao educador, salienta-se a perspetiva de que este deve, “partindo

daquilo que a criança já sabe e da sua curiosidade natural, articular as diferentes áreas do

conteúdo e domínios e proporcionar oportunidades de aprendizagem que lhe permitam dar

sentido ao mundo à sua volta” (Santos, Gaspar, & Santos, 2014, p. 9). Este é um aspeto

essencial para fomentar uma aprendizagem verdadeiramente significativa, isto é, permitir que a

criança atribua um significado pessoal às novas aprendizagens. No entanto, este processo deve

orientar-se segundo o interesse das crianças por forma a

[…] seguir o processo de descoberta fundamentada que caracteriza a investigação

científica e favorecendo a construção de conceitos mais rigorosos partindo dos saberes e

interesses das crianças e mobilizando as restantes áreas do currículo para produzir

aprendizagens com significado para as crianças (Santos, Gaspar, & Santos, 2014, p. 28).

Por conseguinte, o educador deve assumir-se como sendo um constante investigador, não

receando não ter resposta para as questões que são levantadas pelas crianças, mas

demonstrando como se pode proceder para dar resposta a essas mesmas interrogações. Por

conseguinte, contribui simultaneamente para o seu enriquecimento ao nível dos conhecimentos

e para o incentivo das práticas de investigação.

Na perspetiva de Santos, Gaspar e Santos (2014) deve fomentar-se uma “relação

positiva entre a qualidade do contexto de aprendizagem e a qualidade das aprendizagens

realizadas pelas crianças” (p. 30), salientando-se que todas as atividades científicas promovidas

pelo educador devem promover a (re)construção dos saberes das crianças, fomentando sempre

a sua curiosidade e a vontade de aprender cada vez mais. Por conseguinte, a seleção das

atividades pelo seu impacto visual deve ser excluída na medida em que poderá não representar

nenhum desafio cognitivo e, consequentemente, nenhum desenvolvimento de novos saberes.

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Por outro lado, o enriquecimento do ambiente socioeducativo com a inclusão de uma área das

ciências é uma das opções que permitirá fomentar o envolvimento - natural e espontâneo - das

crianças com atividades desta natureza. A este respeito, lembramos os resultados do estudo

retratado na obra de Santos, Gaspar e Santos (2014) onde 40% dos educadores assumiu não ter

a área das ciências na sua sala de jardim-de-infância em Portugal.

No que concerne à abordagem das ciências no 1.º ciclo do Ensino Básico evidencia-se a

perspetiva de Marques (2004) que enuncia que,

no actual contexto da educação científica, que procura novos caminhos para responder

às dramáticas evoluções sociais e tecnológicas vividas nos últimos tempos, a preparação

de um “bom” professor de ciências passa pela aprendizagem de formas inovadoras de

ensinar os conteúdos e processos científicos (p. 16).

No entanto, este aspeto merece uma pequena reflexão pois, como defendem Sá e Varela (2007)

“os professores precisam de um base mínima de confiança para se aventurarem no ensino

experimental” (p. 12). No entanto, Afonso (2008) salienta que os docentes possuem lacunas

científicas, o que leva à sua gradual desvalorização por esta área ou mesmo receio na sua

promoção devido à eventualidade de promover o desenvolvimento de aprendizagens dotadas de

pouco ou nenhum rigor científico. Assim, a atitude de constante investigação para atualização de

conhecimentos é essencial para que se vá alimentando a autoconfiança e vá contribuindo para o

desenvolvimento de educadores e docentes autónomos e competentes para a promoção da

literacia científica.

Marques (2004) apresenta diferentes conceções de formação contínua de professores,

ressaltando a importância da formação reflexiva para a promoção de aprendizagens

significativas, bem como, a importância da formação construtivista. No que concerne à primeira,

salienta-se que a ”reflexão sobre a prática lectiva permite descobrir soluções para certos

obstáculos, compreender e recriar as condições de ensino-aprendizagem e, também, produzir

novos saberes ligados à acção” (Marques, 2004, p. 18). Esta metodologia implica uma

constante ponderação crítica acerca das suas conceções e ações, ao nível do ensino. Na

planificação de qualquer atividade o educador/professor deve, previamente, identificar as

aprendizagens que pretende fomentar; selecionar os recursos didáticos que serão utilizados;

bem como, considerar como orientá-los para desenvolverem as aprendizagens esperadas (Sá &

Varela, 2007). Desta forma, é possível verificar a presença de reflexibilidade que irá mais à

frente ser alvo de reflexão no capítulo referente à metodologia de investigação e plano geral de

intervenção.

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Relativamente à perspetiva construtivista, destaca-se que nesta

os conhecimentos escolares não são entendidos como produtos ou objectos acabados

que o professor possui e partilha com os respectivos alunos, mas o resultado de uma

construção encetada por quem aprende para atribuir um sentido lógico e legítimo às

relações em que se encontra envolvido com as outras pessoas e com os restantes

elementos do ambiente (Marques, 2004, p. 22).

Desta forma, os professores poderão contribuir para que os alunos realmente compreendam os

conteúdos e conceitos que estão a abordar e não se limitem a recorrer à sua memorização.

Sublinha-se a perspetiva de que são estes os construtores do seu próprio conhecimento,

valorizando-se as suas conceções prévias.

Levanta-se novamente a questão da importância da formação científica e constante

atualização dos conhecimentos, na medida em que

só os professores que têm um bom domínio dos conceitos que ensinam são capazes de

fazer adequadas simplificações para fins didácticos, conseguem seleccionar os bons

exemplos práticos que ilustram tais conceitos, em conformidade com as necessidades de

quem aprende, e são capazes de ajudar os alunos a pensar na construção de frutuosas

relações conceptuais (Sá & Varela, 2007, p. 14).

Ao longo da sua formação e prática profissional, os educadores/professores “devem ser eternos

aprendizes” (Afonso, 2008, p. 28), beneficiando da partilha, entreajuda e colegialidade entre

estes profissionais, procurando uma prática mais enriquecida e alicerçada no rigor cientifico. Por

outro lado, a partilha de receios e inseguranças pode permitir o desbloquear do desenvolvimento

destes valiosos momentos de aprendizagem.

Em modo de conclusão, evidencia-se que a formação destes profissionais deve “ter uma

sólida e abrangente formação científica de base para que possam na sua prática profissional

enfatizar as “grandes ideias” da ciência, explorar os conceitos centrais e não perder tempo com

detalhes irrelevantes” (Afonso, 2008, p. 28).

2.3.1) A promoção de projetos interdisciplinares

Todo e qualquer sujeito é dotado de uma série de saberes que estão interligados entre

si, pelo que a aprendizagem de novos conteúdos apenas será significativa se a criança/aluno lhe

atribuir um significado pessoal, fruto da relação que estabelece com os conhecimentos que já

possui – conhecimentos prévios – e se essas novas aprendizagens acontecerem na zona de

desenvolvimento próximo. Para Roldão (1999), aprender “significa apropriar-se dos sentidos

daquilo que se aprende, atribuir um significado a alguma coisa e inserir cada nova aquisição

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num processo interactivo que se constrói a partir do quadro prévio em que o sujeito se situa” (p.

28).

No processo de aprendizagem é preponderante considerar as potencialidades dos

conteúdos se relacionarem-se entre si, na medida em que são mais eficazmente apropriados e

significativos. Por conseguinte, destaca-se a interdisciplinaridade que é um dos níveis de

integração disciplinar que se caracteriza por sintetizar os conteúdos de diferentes áreas do

saber. Ao adotar este nível de integração disciplinar o professor está a fomentar a perceção do

seu aluno da globalidade do mundo que o rodeia, não segmentando por partes, mas

compreendendo-o como um todo que se relaciona. Por conseguinte, consegue “centrar as

finalidades curriculares no desenvolvimento de competências que tornem utilizáveis,

reconvertíveis e operativos os saberes, as técnicas e as práticas que forem integradas no

currículo” (Roldão, 1999, p. 26).

O desenvolvimento de projetos constitui-se como um importante contributo para a

integração disciplinar, na medida em que “os conteúdos não surgem separados, atomizados,

mas, pelo contrário, todos podem ser mobilizados para a solução de um dado problema”

(Carvalho & Freitas, 2010, p. 21). A área do conhecimento das ciências ou do estudo do meio

tem uma grande potencialidade neste aspeto, na medida em que, os “conhecimentos, as

capacidades e as atitudes desenvolvidas em ciências são explorados de forma articulada e inter-

relacionada com as outras áreas do saber” (Afonso, 2008, p. 148).

Destaca-se, ainda a particularidade de que esta “implica a reorganização do processo de

ensino-aprendizagem, pressupondo um trabalho continuado de cooperação entre os professores

envolvidos” (Carvalho & Freitas, 2010, p. 10).

2.3.2) A importância da aprendizagem cooperativa

A aprendizagem cooperativa é um tipo de organização que contribui para o

desenvolvimento sociocognitivo das crianças/alunos, assim como para a sua preparação para a

vida laboral. Mediante este aspeto considera-se como preponderante que ao longo do processo

de formação do educador/professor, este seja sensibilizado para as vantagens subjacentes à

aprendizagem cooperativa (Carvalho & Freitas, 2010).

Quando se refere o trabalho cooperativo não se está a referir aos tradicionais trabalhos

de grupo em que apenas alguns elementos do grupo contribuem com a sua participação ativa,

mas sim numa tipologia de trabalho onde todos podem contribuir de modo equilibrado por forma

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a alcançar o sucesso individual, assim como, o de todo o grupo. Naturalmente, no trabalho

cooperativo há a partilha de materiais e uma divisão de tarefas pelo que se cria uma

interdependência positiva. Por conseguinte, esta componente que “obriga os membros do grupo

a trabalhar juntos activamente, é o núcleo central da aprendizagem cooperativa” (Lopes & Silva,

2008, p. 6).

A responsabilidade individual e de grupo é, também, uma das características da

aprendizagem cooperativa, sendo que fomenta a participação de todos e contribui para que

todos os intervenientes se possam sentir imprescindíveis e competentes para a tarefa que lhe

ficou atribuída. Assim, o educador/professor deve planificar atividades que sejam

suficientemente motivadoras, adequadas ao número de elementos e às suas características

individuais e, ainda, que não possam levar ao desânimo de nenhum dos elementos, mas sim

potenciar o desenvolvimento das suas capacidades. Outro aspeto essencial nesta metodologia de

aprendizagem consiste na interação estimuladora preferencialmente face a face onde se destaca

a necessidade da disposição da sala fomentar a troca de ideias, partilha de recursos e o mais

importante, o apoio mútuo que gradualmente se vai gerando e contribuindo para que cada vitória

pessoal se transforme numa vitória de grupo (Lopes & Silva, 2008).

De acordo com a perspetiva de Lopes e Silva (2008), a promoção da aprendizagem

cooperativa na Educação Pré-Escolar e no 1.º ciclo do Ensino Básico deve ser distinta devido às

características que distinguem os intervenientes. Na Educação Pré-Escolar domina o

egocentrismo, o pouco desenvolvimento das competências sociais, a breve atenção, a

impulsividade, assim como, a limitada competência linguística e de leitura. Por outro lado,

destacam-se as suas potencialidades, nomeadamente a sua constante curiosidade em conhecer

o mundo que a rodeia, serem crianças mais extrovertidas, terem necessidade de socializar e, por

fim, não terem ideias pré-concebidas quanto às potencialidades de pessoas do sexo oposto.

Na formação dos grupos o educador não deverá simplesmente dividi-los consoante a sua

faixa etária, na medida em que estaria a corromper todas as potencialidades que poderiam advir

desta interação. Evidencia-se que “a criança pode aceder mais rapidamente a um nível de

realização superior com a ajuda da cooperação ou em contacto com colegas mais

desenvolvidos” (Lopes & Silva, 2008, p. 12). Por outro lado, há uma tendência natural do

educador em fornecer materiais suficientes para cada uma das crianças de forma a prevenir

possíveis conflitos. No entanto, é fundamental que estes se vão habituando à partilha dos

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materiais e ao respeito pelos colegas enquanto estes o estão a utilizar, na medida em que há

uma preparação para a sua vida futura e sua inserção na sociedade.

Na promoção de trabalhos cooperativos há alguns cuidados que o professor, tal como o

educador, deve ter, nomeadamente, a divisão em grupos heterogéneos ao nível das

competências de modo a promover a igualdade de oportunidades em cada grupo, mas também

para que cada um possa contribuir com a sua aptidão (Bessa & Fontaine, 2002). Nesta

estratégia de desenvolvimento dos trabalhos cooperativos são expectáveis diversas interações

entre os elementos do grupo, onde “apresentam opiniões, idealizam cenários, constroem

imagens e estratégias. E é por via destas interacções que são activados os processos de

reestruturação cognitiva e os fenómenos de conflito congitivo ou sociocognitivo, que estão na

origem da realização das aprendizagens” (Bessa & Fontaine, 2002, p. 45).

Outra característica evidenciada por este tipo de aprendizagem baseia-se na promoção

do desenvolvimento de capacidades que ainda não foram totalmente desenvolvidas pela

criança/aluno, sendo importante salientar que

O que a criança é capaz de fazer hoje em cooperação será capaz de fazer sozinha

amanhã. Portanto, o único tipo positivo de aprendizagem é aquele que caminha à frente

do desenvolvimento, servindo-lhe de guia; deve voltar-se não tanto para as funções já

maduras, mas principalmente para as funções em amadurecimento (Vygotsky, 1987 cit.

in Sá & Varela, 2007, p. 25).

Com efeito, a aprendizagem cooperativa traduz benefícios tanto aos alunos que

apresentam dificuldades, assim como, para os alunos que se predispõem a auxiliar. Isto porque

“os alunos que fornecem explicações elaboradas reorganizam e clarificam o seu pensamento e

compreensão, desenvolvem novas perspectivas e alcançam níveis intelectuais superiores” (Sá &

Varela, 2004, p. 38).

Considerando a notoriedade que a escola tem alcançado no que concerne ao

desenvolvimento das capacidades integrais do aluno enquanto futuro cidadão autónomo e crítico,

salienta-se a perspetiva de que “a escola tem um papel de particular responsabilidade na

valorização dos aspectos sociais da aprendizagem, nomeadamente a aprendizagem para uma

vivência democrática” (Bessa & Fontaine, 2002, p. 47). Com a promoção de atividades

cooperativas, as crianças e os alunos estão, sem dúvida alguma, a preparar-se para a sua vida

em sociedade, onde contactarão com uma série de situações em que terão de partilhar a sua

opinião, chegar a um consenso, assim como aceitar a perspetiva dos outros.

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Para além deste aspeto, a literatura científica tem demonstrado as vantagens da

utilização da aprendizagem cooperativa, nomeadamente “através da introdução de melhorias ao

nível dos resultados escolares” (Bessa & Fontaine, 2002, p. 83), bem como,

1. melhoria das aprendizagens na escola;

2. melhoria das relações interpessoais;

3. melhoria da auto-estima;

4. melhoria das competências no pensamento crítico;

5. maior capacidade em aceitar as perspectivas dos outros;

6. maior motivação intrínseca;

7. maior número de atitudes positivas para com as disciplinas estudadas, a escola,

professores e colegas;

8. menos problemas disciplinares, dado existirem mais tentativas de resolver

os problemas de conflitos pessoais;

9. aquisição das competências necessárias para trabalhar com os outros;

10. menos tendência para faltar à escola (Carvalho & Freitas, 2010, p. 37).

Por conseguinte, esta perspetiva vem reforçar a ideia de que “a aprendizagem

cooperativa constitui uma estratégia poderosa de promoção da aprendizagem e da realização

escolar” (Bessa & Fontaine, 2002, p. 85) que o educador/professor deve mobilizar em seu

benefício próprio e do seu grupo de crianças/alunos.

2.3.3) Abordagem construtivista do processo de Ensino e de Aprendizagem

A abordagem construtivista baseia-se na promoção de (re)construção de aprendizagens

com base na mediação de saberes dos sujeitos, sendo que “a aprendizagem é concebida como

um processo de revisão e de construção de esquemas de conhecimento sobre os conteúdos

(escolares e não escolares) já dominados pelos alunos” (Azevedo, 2009, p. 227). O

educador/professor tem um papel preponderante no processo de identificação das curiosidades,

potencialidades e necessidades das crianças/dos alunos, por forma a conduzi-los à construção

do seu próprio conhecimento. Esta perspetiva vem corroborar com a ideia de que,

Numa nova perspectiva curricular, aquele [o processo de ensino-aprendizagem] deve ser

o resultado da integração, de forma natural, das intenções educativas do professor

(expressas como hipóteses sobre o conhecimento escolar desejável) com os interesses

reflectidos e organizados dos alunos, expressos como problemas a investigar na aula

(Alonso L. , 1996, p. 41).

Nesta abordagem o educador/professor deixa de ser o foco principal do processo,

transferindo esse atributo para a criança/o aluno. Desta forma potencia-se a perspetiva de que

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cada um é o principal responsável pelo desenvolvimento dos seus saberes, ampliando a vontade

de aprender cada vez mais. Devido à pertinência deste aspeto, segue-se uma pequena reflexão

sobre o papel do educador/professor como mediador de aprendizagens, assim como, a

importância das conceções prévias no processo de Ensino e Aprendizagem.

a) O papel do educador/professor como mediador de aprendizagens

Com base nas diversas investigações que se têm realizado acerca do desenvolvimento

de aprendizagens significativas, ao longo dos últimos anos, tem-se percebido a importância da

postura do educador/docente relativamente à eficácia na promoção de saberes do seu grupo de

crianças/alunos.

No que concerne ao processo de ensino e aprendizagem Roldão (2005) destaca que

“Coexistem (…), na representação social da função de ensinar, duas leituras: ensinar como

professar um saber (…) e ensinar como fazer com que o outro seja conduzido a

aprender/apreender o saber que alguém disponibiliza” (p. 14). Na perspetiva da autora, no ato

de ensinar é preponderante a “equilibração inteligente” do profissional, entre o seu saber

científico e metodológico acerca dos conteúdos que ensina e que promove na sua prática “e do

modo como o usa e mobiliza para construir a sua apropriação pelos alunos, considerados nas

suas diversas especificidades” (Roldão, 2005, p. 16).

A perspetiva de que o professor deve mediar as aprendizagens tem vindo a evidenciar-

se, contrariando a ideia de simplesmente apresentar aos alunos determinados conteúdos para

que estes, somente, os decorem e reproduzam assim que lhes for solicitado. Altera-se o papel

do professor e “cada vez mais o professor é visto como um guia e facilitador da aprendizagem,

promovendo as condições necessárias para uma auto e intereducação do aluno, o que tem

suscitado uma redefinição do papel do formador de professores” (Marques, 2004, p. 28).

No entanto, constitui-se como sendo fundamental que os educadores/professores

desenvolvam

a capacidade para adoptar, autónoma e partilhadamente, decisões racionais e

adequadas nos diferentes âmbitos da sua intervenção educativa: escola/comunidade,

processos de ensino-aprendizagem, orientação educativa dos alunos. Isto exigirá deles

conhecimentos, atitudes e competências no domínio do diagnóstico das necessidades

para, a partir daí, encontrar vias e respostas variadas, criativas e adequadas à

diversidade das situações, através de um processo contínuo de investigação guiado pela

reflexão (Alonso L. , 1996, p. 34).

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Sá e Varela (2007) acreditam que “a qualidade de um professor reside, em primeiro

lugar, na qualidade da sua praxis na sala de aula, entendida como a acção transformadora no

sentido de boas aprendizagens dos seus alunos” (p. 17). Para contribuir para a mediação das

aprendizagens é fundamental proporcionar atividades que estejam adequadas aos interesses,

curiosidades e potencialidades de forma a fomentar o envolvimento cognitivo das crianças/dos

alunos. Assim, destaca-se a importância da observação participante, tal como, das interações

que se estabelecem entre educador/professor e criança/aluno. Por outro lado, evidencia-se o

papel do docente como “catalisador indispensável para que o contínuo fluxo de pensamento e

acção na sala de aula aconteça” (Sá & Varela, 2007, p. 24), pelo que este deve ser capaz de

encaminhar o pensamento do aluno para o desenvolvimento de aprendizagens que lhe sejam

significativas.

O educador/professor deverá ser compreendido como um “andaime”, tal como é

defendido na teoria de Bruner, levando à evolução constante e gradual das crianças/dos alunos,

sendo que a “zona óptima de dificuldade” (Sá & Varela, 2007, p. 25) permitirá compreender e

auxiliar nas aprendizagens que estão em desenvolvimento ou em estado embrionário. Ao

considerar esta zona, o aluno poderá beneficiar de um acompanhamento mais reflexivo para

desenvolver o que se define como necessário e realizável para si. Assim, o educador/professor

deve comportar-se como um mediador que possibilite à criança/ao aluno o desenvolvimento

pleno de todas as capacidades enquanto indivíduo e cidadão ativo e participativo nas decisões

da sociedade.

Considerando a preocupação que acarreta ao professor de fomentar o desenvolvimento

de aprendizagens alicerçadas no rigor científico, salienta-se que,

é essencial que o professor dos primeiros níveis tenha um enorme e rigorosíssimo saber

científico. Incluo no saber científico o saber sólido sobre as áreas do conhecimento que

integram o currículo, o saber sobre os seus alunos, sobre os seus modos múltiplos de

aprender e sobre o modo de ensinar, constituindo-se como um todo em acção e não

como um somatório de partes, cujos pesos se adicionam (Roldão, 2005, p. 19).

Quando um educador/professor fomenta a (re)construção de aprendizagens através da

mediação contribui para que o seu grupo usufrua de uma motivação acrescida. Contudo, para

isto torna-se preponderante que a criança/o aluno possa tomar uma decisão acerca da tarefa

que irá realizar, destacando-se a ideia de que esta deve estar a um nível de desafio que não

culmine em desânimo. A sensação de controlo no desenvolvimento das aprendizagens, bem

como a perceção de que são eles próprios que constroem o seu conhecimento também são

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impulsionadores muito importantes no processo de aprendizagem. Por fim, destaca-se ainda a

influência que os momentos de cooperação e de monitorização (avaliação), na medida em que

permitem ao sujeito uma perceção acerca da sua evolução (Azevedo, 2009).

Por fim, é preponderante relembrar que este processo será facilitado se for desenvolvido

num ambiente estimulante e criativo, onde predomine o respeito, uma comunicação aberta e o

afeto. Desta forma, os beneficiários da mediação de aprendizagens

Tornam-se pensadores activos e críticos, desenvolvem competências sociais, promovem

a sua auto-estima, a motivação intrínseca, a autonomia, a capacidade de tomar decisões

e aprendem a lidar de forma positiva com as situações de insucesso. É tudo isto que

deve estar impregnado no ensino de qualquer área curricular disciplinar (Sá & Varela,

2004, p. 11).

b) A importância das conceções prévias

Por todo o mundo existe uma grande diversidade de indivíduos dotados de

características específicas, bem como vivências que influenciam o desenvolvimento de

aprendizagens. Por conseguinte, o educador/professor deve procurar conhecer cada uma destas

características e, por outro lado, deve compreender as conceções prévias do seu grupo de

crianças/alunos por forma a conduzir o processo de ensino e aprendizagem ao desenvolvimento

ou reconstrução das aprendizagens. Torna-se, assim, preponderante compreender que “só

conhecendo as ideias prévias ou alternativas dos alunos é que é possível desenvolver um ensino

capaz de proporcionar neles aprendizagens significativas” (Carvalho & Freitas, 2010, p.

79).

A consideração das conceções prévias das crianças/dos alunos permite-lhes dissociar as

suas conceções da realidade, sendo que a sua ação ou mesmo o seu pensamento podem

contribuir para verificar se as suas conceções são ou não plausíveis (Sá & Varela, 2007). Para

que este processo seja possível, o educador/professor deverá fomentar uma interação

constante, na medida em que a ”linguagem oral é um veículo fundamental de acesso às ideias

intuitivas dos alunos, por parte do professor, podendo este, então, adequar a sua linguagem e

estratégias de ensino no sentido de os ajudar a rever e reformular as suas ideias iniciais” (Sá &

Varela, 2004, p. 36). Assim, a mobilização das conceções prévias para o desenvolvimento de

aprendizagens fomenta a (re)construção de saberes, aproximando-as cada vez mais da realidade

dotada de rigor científico.

No entanto, destaca-se que ao nível das aprendizagens na área das ciências “as ideias

das crianças são substancialmente diferentes das ideias científicas e, embora façam parte

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integrante e natural do desenvolvimento, se não forem tidas em consideração pelo [educador/]

professor podem dificultar a aprendizagem científica” (Afonso, 2008, p. 72). Assim, reforça-se a

perspetiva de que este deve ter uma boa cultura científica para que possa mobilizar as

conceções prévias dos mesmos e conduzi-las em direção ao alcance de aprendizagens dotadas

de rigor científico.

Em modo de conclusão, salienta-se que a preocupação do educador/professor em

compreender de que forma está a contribuir para o desenvolvimento integral de cada

criança/aluno desencadeia a perspetiva de que a intencionalidade educativa promove a

qualidade na aprendizagem de novos conhecimentos ou de reconstrução dos mesmos.

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CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E PLANO GERAL DE

INTERVENÇÃO

O capítulo que agora se inicia centraliza-se na metodologia de investigação que

sustentou a implementação do projeto, nomeadamente, a metodologia de investigação-ação.

Considerando que, tal como refere Fonseca (2013) “o processo educativo organiza-se com base

em quatro pilares – aprender a conhecer, a fazer, a viver com os outros e a ser” (p. 74) pelo que

é fundamental clarificar o seu conceito, as suas características, bem como, os seus benefícios. O

professor assume um papel preponderante para contribuir para o desenvolvimento integral do

aluno, fomentando a formação de um cidadão ativo, autónomo, responsável, crítico e reflexivo.

Desta forma, os professores estimulam “o desenvolvimento da autonomia das pessoas, que se

revela na capacidade de aprender a aprender, de agir, e comunicar com os outros, de mobilizar

os conhecimentos para a resolução de problemas e conflitos” (Fonseca, 2013, p. 74). Por

conseguinte, apresentar-se-ão os objetivos gerais do projeto, os instrumentos de recolha de

dados, bem como, as estratégias de intervenção pedagógica mobilizadas ao longo da prática

pedagógica.

3.1) A investigação-ação

A metodologia de investigação adotada ao longo do projeto de investigação e intervenção

pedagógica nos contextos educativos baseou-se em princípios e características da metodologia

de investigação-ação. Segundo Máximo-Esteves (2008) “a investigação-acção é mais adequada

que a investigação tradicional quando há necessidade de conhecer em profundidade assuntos

específico e resolver problemas em situações sociais específicas” (p. 15), pelo que foi possível

percecionar a relevância e pertinência para a sua aplicação no contexto educativo.

A metodologia de investigação-ação foi apresentada pelo psicólogo Kurt Lewin (1890-

1947), sendo que a notoriedade desta metodologia começou a evidenciar-se a partir da década

de 80 do séc. XX. Desde esta altura que uma diversidade de autores procurou definir este

conceito devido à controvérsia da incompatibilidade, defendida pela visão tradicional, entre os

termos “investigação” e “ação”. Nesta perspetiva, a “investigação-ação é um conceito

simultaneamente teórico e instrumental, argumentando ser possível a articulação destes dois

aspetos com vista ao envolvimento dos profissionais de um determinado sector no conhecimento

das situações que os rodeiam” (Máximo-Esteves, 2008, p. 16).

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Lewin preconiza a metodologia de investigação-ação um processo em espiral de

planificação, acção, observação e reflexão” (Máximo-Esteves, 2008, p. 21), ou seja

a investigação-ação consiste num processo de investigação que promove a reflexão crítica

sobre a ação educativa, com o intuito de promover a inovação e a melhoria dessa ação.

Trata-se, portanto, de um processo de investigação contextualizado, isto é, que parte da

análise da realidade educativa, das suas necessidades e problemas, numa tentativa de

lhes responder (Fonseca, 2013, p. 76)

Esta metodologia exige a (auto)regulação da ação do professor/educador, através da

recolha e análise da informação que vai observando e recolhendo para usar no processo de

tomada de decisões e de intervenção pedagógica (Sanches, 2005). Para iniciar este processo de

investigação em espiral, o educador/professor iniciará por uma observação de modo a

compreender as especificidades do contexto de intervenção, assim permitirá a identificação do

problema ou mudança que pretende resolver. Por conseguinte, definir-se-á um plano de

intervenção que facilitará o alcance dos objetivos gerais e específicos que foram estabelecidos

inicialmente, sendo que para isto se estabelecem as estratégias que serão mobilizadas ao longo

deste processo. A figura que se segue (Fig.2) representa o processo em espiral referido.

Figura 2 – A espiral da investigação-ação (Adaptado de Cardoso, 2014, p. 32).

Nesta metodologia a ação e a reflexão do professor/educador são fundamentais nos

processos metacognitivos e de articulação entre a teoria e a prática, tornando-o em “um leitor

crítico e reflexivo do currículo” (Fonseca, 2013, p. 73), promotor de oportunidades e

experiências de aprendizagem que desenvolvem a criatividade, a inovação educativa, a

aprendizagem ativa e significativa das crianças/dos alunos. Simultaneamente, “favorece o

desenvolvimento das competências interpretativas, críticas e reflexivas dos professores,

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capacitando-os para a criação de espaços pedagógicos onde o processo de ensino-aprendizagem

dos alunos seja contextualizado, integrador, integrado e significativo” (Fonseca, 2013, p. 78).

Na metodologia de investigação responde-se às questões “O que ensinar?”, “A quem?”,

“Para quê?”, “Porquê?”, “Como?”, “Quando?” e “Onde?”, orientando o educador/professor “ao

desenvolvimento de um processo metareflexivo sobre a dimensão axiológica da praxis educativa,

tornando-o mais comprometido e responsável por esta” (Fonseca, 2013, p. 78). A reflexão sobre

a intervenção realizada por forma a dar resposta a alguma problemática identificada contribui

não só para a melhoria da qualidade nas escolas, como também para o desenvolvimento

integral dos alunos e para o desenvolvimento profissional dos educadores/docentes (Veiga,

Martins, Sá, Jorge, & Teixeira, 2003). Estes últimos beneficiam desta metodologia devido à

ampliação do seu conhecimento pedagógico derivado da sua consideração na e sobre a sua

prática, fomentando a deliberação sobre os processos de ensino (Fonseca, 2013).

Em síntese, a investigação-ação caracteriza-se e distingue-se por “se tratar de uma

metodologia de pesquisa, essencialmente prática e aplicada, que se rege pela necessidade de

resolver problemas reais” (Coutinho et al., 2009, p. 361), sendo que contribui para a inovação

curricular e, consequente, para a melhoria da qualidade das práticas educativas. Tal como refere

Fonseca (2013), há a articulação entre “a atividade reflexiva e a ação transformadora, a

inovação e a investigação” (p. 77). É, assim, um profissional investigador reflexivo (Shön, 1992):

professor-investigador.

No que respeita aos projetos curriculares integrados desenvolvidos na prática

pedagógica destaca-se a preocupação em conhecer e compreender as características,

curiosidades e potencialidades dos grupos por forma a poder proporcionar atividades

significativas e que contribuam para o seu desenvolvimento integral. O conhecimento e a partilha

de conceções prévias são essenciais para que se promovam atividades desafiadoras e

estimuladoras da curiosidade das crianças/dos alunos. Por outro lado, este conhecimento

permite ao professor/educador estruturar a sua ação pedagógica e curricular tendo em conta a

sequencialidade progressiva e em espiral da construção das aprendizagens significativas e dos

projetos implementados, sendo que a reflexão antecede e sucede sempre a ação de forma a

ponderar cada fase dos mesmos.

A metodologia de investigação-ação, sustentada nos projetos curriculares integrados,

fomenta a construção e desenvolvimento de crianças/alunos cidadãos críticos e ativos,

orientados pelos seus conhecimentos. A sociedade atual, aberta, global e tecnológica, em

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constante reconstrução exige “ao processo educativo a preparação dos alunos para intervir

reflexivamente na realidade social” (Fonseca, 2013, p. 75), já que “os professores não se

limitam a transmitir o currículo: eles interpretam-no e desenvolvem-no” (Aguieiras, 2011, p. 1)

adaptando-o ao contexto – currículo moldado – e ao nível etário das crianças/dos alunos

influenciando a significatividade das aprendizagens.

3.2) Objetivos gerais do projeto

O tema do projeto de investigação denomina-se por Gota a gota: a pesquisa na

promoção da literacia científica e pretende dar resposta à seguinte questão: Qual a influência da

pesquisa na promoção da literacia científica na Educação Básica?

Considerando que o papel do educador/professor é fundamental para promover o

desenvolvimento integral dos alunos, compreende-se a sua importância na construção de

cidadãos literatos em ciências. Tal como defende Martins et al. (2009),

cada vez mais os cidadãos devem ser cientificamente cultos, de modo a serem capazes de interpretar e reagir a decisões tomadas por outros, de se pronunciarem sobre elas, de tomar decisões informadas sobre assuntos que afectam as suas vidas e a dos outros. A formação de cidadãos capazes de exercer uma cidadania activa e responsável é uma das finalidades da educação em ciências (p. 11).

O desenvolvimento deste projeto prevê o alcance de alguns objetivos de intervenção,

bem como, de investigação. No que concerne ao nível da intervenção salientam-se os

seguintes objetivos:

Dar resposta às capacidades e aos interesses apresentados pelas crianças/alunos;

Promover a literacia científica das crianças/dos alunos;

Promover hábitos de reflexão pessoal e partilhada;

Fomentar o desenvolvimento das aprendizagens a partir das conceções prévias;

Promover uma atitude de pesquisa e questionamento.

Relativamente aos objetivos ao nível da investigação podem evidenciar-se os seguintes:

Compreender e analisar a influência da pesquisa no desenvolvimento integral das

crianças/dos alunos;

Analisar o desenvolvimento da literacia científica dos alunos e crianças através de

pesquisa;

Entender em que medida a(s) ciência(s) permitem a integração com as diferentes áreas

do saber;

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Analisar a reação das crianças perante a pesquisa.

3.3) Instrumentos de recolha de dados

Para o desenvolvimento de uma investigação a ponderação e a seleção dos

instrumentos de recolha de dados são fundamentais, na medida em que estes influenciam

diretamente a viabilidade do processo de ação e reflexão que se tem defendido ao longo deste

relatório. A pertinência e a autenticidade devem caracterizar a recolha de dados para que a

análise e reflexão do educador/professor-investigador contribua verdadeiramente para o bom

desenvolvimento do projeto.

De acordo com Máximo-Esteves (2008), a “observação ajuda a compreender os

contextos, as pessoas que nele se movimentam e as suas interacções” (p. 87). Assim, e tendo

em vista os objetivos do presente estudo, a observação participante e sistemática caracterizou o

projeto de investigação e intervenção, contribuindo para o conhecimento das características

individuais das crianças/dos alunos, bem como, do contexto de intervenção.

Para o registo dos dados de observação pode recorrer-se tanto a notas de campo, bem

como, a diários de bordo ou diários do investigador. No que respeita às notas de campo Máximo-

Esteves (2008) refere que estas incluem “registos detalhados, descritivos e focalizados do

contexto, das pessoas (…), as suas acções e interacções (…), efectuados sistematicamente,

respeitando a linguagem dos participantes nesse contexto” (p. 88), bem como, “material

reflexivo, isto é, notas interpretativas, interrogações, sentimentos, ideias, impressões que

emergem no decorrer da observação ou após as suas primeiras leituras” (p. 88).

A mesma autora, refere que os diários podem ser caracterizados como “colectâneas de

registos descritivos acerca do que ocorre nas aulas, sob a forma de notas de campo ou

memorandos (…) de observações estruturadas e registos de incidentes críticos” (Máximo-

Esteves, 2008, p. 89). No entanto, estes contêm, ainda, uma opinião pessoal acerca do

observado, compreendendo-se os sentimentos vivenciados pelo investigador nesse momento. É,

assim, que os educadores e os professores “analisam, avaliam, constroem e reconstroem as

suas perspectivas de melhoria da aula e de desenvolvimento profissional” (Máximo-Esteves,

2008, p. 89).

Considerando as características do diário, tal como, a sua contribuição para uma

compreensão mais profunda acerca do contexto, este foi o recurso utilizado para realizar o

registo dos dados de observação ao longo da prática pedagógica. Destaca-se a perspetiva de que

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este “contribui para desenvolver a capacidade de pensar sobre os factos relatados, oferece

melhores potencialidades de análise e compreensão do processo social decorrido na sala de

aula do que uma observação, diferida no tempo, de gravações integrais do vídeo” (Sá & Varela,

2004, p. 24). Contudo, este método está dependente da memória do educador/professor, pelo

que é essencial que se proceda ao registo de incidentes críticos que se pretendam registar em

palavras-chave ou pequenas frases que serão desenvolvidas posteriormente. Posteriormente este

diário será analisado de modo a definir como se encaminhará o processo de ensino e de

aprendizagem. Note-se que o “diário é rico de elementos que iluminam a hipótese curricular

para uma intervenção pedagógica seguinte, sendo, pois, este método um instrumento poderoso

de modelação dos meios e estratégias de todo o processo de investigação-acção” (Sá & Varela,

2004, p. 25).

Por fim, destaca-se o registo fotográfico que foi utilizado devido à sua potencialidade

para demonstrar a reação das crianças/dos alunos durante algumas das atividades propostas ao

longo do projeto. Uma outra característica que contribuiu para esta escolha prende-se com o

facto de que “os registos fotográficos podem também ter como finalidade ilustrar, demonstrar e

exibir, como acontece habitualmente nas exposições retrospectivas de qualquer projecto ou

período escolar” (Máximo-Esteves, 2008, p. 91).

3.4) Estratégias de intervenção pedagógica

Para o desenvolvimento de um projeto de intervenção é fundamental interagir com o

grupo de crianças/alunos por forma a compreender as suas capacidades e interesses e

desenvolver atividades integradoras que contribuam para o seu desenvolvimento integral.

Considerando que um dos objetivos do projeto de intervenção se baseia na promoção da

literacia científica das crianças/dos alunos, é fundamental compreender que “não existe um

método único de ensinar ciência” (Vieira, 2007, p. 105). Assim sendo, o autor acrescenta que o

“que realmente importa é conseguir motivar, ensinar aos alunos algo que eles gostem de

aprender para que continuem a dedicar-se ao conhecimento científico, formal e informalmente”

(p. 105), ou seja, a opinião e as reações das crianças/dos alunos são cruciais para definir as

estratégias de intervenção pedagógica.

Com as transformações constantes da e na educação, a aprendizagem em grupo tem

sido compreendida como benéfica para a promoção de hábitos de reflexão, pelo que, no

presente projeto de intervenção, se procura promover momentos de pesquisa e questionamento

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em grupo. Desta forma, as crianças/os alunos podem trocar conhecimentos, enriquecendo as

suas aprendizagens, bem como, fomentando as relações entre si.

Ao longo do próximo capítulo apresentaremos as várias estratégias de intervenção,

ilustrando brevemente os projetos curriculares integrados desenvolvidos nos contextos de

intervenção pedagógica, nomeadamente, na Educação Pré-Escolar e no 1.º ciclo do Ensino

Básico. Considerando a diferença de contexto, nomeadamente no que concerne à faixa etária,

bem como aos diferentes estímulos a que estão expostos, características e curiosidades,

ressalta-se que as estratégias apresentam algumas diferenças na medida em que são

desenvolvidas em contextos distintos. De forma a compreender a sua influência na intervenção,

ao longo da sua apresentação pode encontrar-se pequenas reflexões acerca da influência da

pesquisa na promoção da literacia científica.

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CAPÍTULO 4 – INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA3

O presente capítulo pretende descrever e refletir sobre a intervenção pedagógica ao

longo do estágio, sendo que inicialmente se fará uma breve abordagem ao surgimento do projeto

por forma a facilitar a compreensão da identificação da problemática que suscitou a intervenção

pedagógica tanto na Educação Pré-Escolar, bem como, no 1.º ciclo do Ensino Básico.

Considerando que o projeto curricular integrado pressupõe a concentração em práticas

centradas nas aprendizagens promotoras do sucesso educativo, foi preponderante assumir a

observação participante e sistemática como sustentação base do projeto. A observação, bem

como a interação permitem a compreensão das caraterísticas, curiosidades e potencialidades

das crianças/dos alunos por forma a intervir com intencionalidade educativa, gradualmente mais

complexa.

4.1) Intervenção pedagógica na Educação Pré-Escolar

4.1.1) Surgimento do projeto de intervenção pedagógica

No que concerne à Educação Pré-Escolar salienta-se a perspetiva de que “deve visar a

apropriação, pela criança, de «ferramentas» de pensamento e, por isso, os processos e a

linguagem científicos têm de ser apropriados pela criança (…) com vista ao desenvolvimento de

uma personalidade equilibrada” (Santos, Gaspar, & Santos, 2014, p. 29). Por conseguinte, o

educador deve mobilizar a curiosidade inata, característica da infância, de modo a promover o

seu desenvolvimento integral em todas as suas capacidades, mediante as atividades que

respondam aos seus interesses, curiosidades e potencialidades.

Através da observação participante foi possível perceber que ao longo das primeiras

semanas de prática pedagógica a área das ciências era pouco frequentada pelo grupo no

momento de escolhas das áreas que ocorria diariamente na rotina da manhã. Por conseguinte,

tornou-se significativo compreender o motivo que levava a que apenas 6 das 22 crianças

tivessem explorado autonomamente esta área. O gráfico circular apresentado em seguida (Fig.3)

permite a elucidação das percentagens de exploração autónoma das crianças na área das

ciências.

3 Informação retirada e modificada do Portefólio da Prática de Ensino Supervisionada I e II de Tânia Martins (2017)

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Figura 3 – Frequência de crianças a explorarem autonomamente a área das ciências

A contrariar esta evidência era percetível o entusiasmo demonstrado pelas crianças

aquando do desenvolvimento de atividades experimentais com recurso a água orientadas pela

educadora. Desta forma, foi possível compreender que era favorável proporcionar o

desenvolvimento da criatividade nas atividades experimentais e fomentar a vontade de conhecer

e explorar o mundo que os rodeia através dos sentidos que é uma das características que

diferencia esta faixa etária. Por outro lado, ao longo deste processo é preponderante que o

educador esteja atento a todas as descobertas das crianças de modo a orientar o

desenvolvimento do seu léxico, na medida em que a área das ciências apresenta uma série de

novos conceitos que apenas serão compreendidos se forem contextualizados.

No que respeita ao ambiente educativo da área das ciências, em específico, destacava-

se a existência de uma variedade de materiais, nomeadamente, copos graduados de

capacidades distintas, funis com diferentes dimensões, lupas, coadores, pipetas Pasteur e,

ainda, alguns recipientes. Em contrapartida, as crianças apenas poderiam realizar experiências

com rochas de diferentes dimensões, na medida em que eram os únicos elementos presentes

provenientes da Natureza. Acresce ainda a inexistência de livros científicos ou enciclopédias que

potenciassem a curiosidade em saber (saber científico), tal como a exploração dos materiais

desta mesma área. Destaca-se, por fim, a presença de um computador que nunca esteve

acessível às crianças, sendo a falta de acesso à internet o principal motivo.

O processo de análise e reflexão das curiosidades e potencialidades das crianças, assim

como as caraterísticas do ambiente educativo suscitou uma reflexão mais aprofundada sobre a

área das ciências até porque esta possui uma

multiplicidade de domínios que podem ser tratados e na diversidade de aprendizagens

que podem proporcionar, importa que o/a educador/a esteja atento aos interesses das

crianças e às suas descobertas, para escolher criteriosamente quais as questões a

desenvolver, interrogando-se sobre o seu sentido para a criança, a sua pertinência, as

Exploração Autónoma

27%

Ausência de

Exploração Autónoma

73%

Área das Ciências

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suas potencialidades educativas e a sua articulação com os outros saberes (Silva,

Marques, Mata, & Rosa, 2016, p. 88).

Surgiu, então, o projeto curricular integrado denominado por “A aventura da Gota-gotinha”

que englobou quatro questões-geradoras, sendo estas: “De que cor é o mar?”, “Que espécies

existem no mar?”, “Os peixes sobrevivem fora de água?” e, ainda, “Que misturas podemos

fazer?”. O núcleo globalizador identifica uma personagem que acompanhou o projeto na sua

plenitude, sendo esta a “Gota-gotinha” que diariamente surgia de dentro de um baú com a

proposta de uma nova aventura desafiante e estimulante.

Com o projeto curricular integrado pretendia-se promover o desenvolvimento de

aprendizagens significativas com base em momentos de pesquisa e atividades de carácter

experimental por forma a promover o interesse e a criatividade dos mesmos na área das

ciências. Por conseguinte, ao mesmo tempo que se respondia às curiosidades e interesses das

crianças pretendia-se promover a sua literacia científica, hábitos de reflexão pessoal e partilhada,

o desenvolvimento das suas aprendizagens considerando as suas conceções prévias, assim

como, potenciar o desenvolvimento de uma atitude de pesquisa e questionamento.

Na figura que se segue (Fig.4) pode verificar-se o desenho do projeto curricular integrado

“A aventura da Gota-gotinha” com as suas questões-geradoras e as suas respetivas sub-

questões. Destacam-se, ainda, os princípios pedagógicos basilares desta proposta educativa que

estão localizados no plano inferior da representação, sendo estes, o princípio da criatividade, o

princípio da significatividade das aprendizagens, o princípio da globalização, o princípio da

socialização, o princípio da participação e, por fim, o princípio da cooperação.

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Figura 4 – Desenho do Projeto Curricular Integrado “A aventura da Gota-gotinha”

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4.1.2) Desenvolvimento da literacia científica pessoal e partilhada

Considerando os limites da extensão do relatório de estágio, nesta secção do capítulo

apenas se fará referência a duas atividades distintas que permitem compreender um pouco da

intervenção pedagógica e de que forma, gota a gota, isto é, de atividade em atividade, a

pesquisa contribuiu para a promoção da literacia científica.

Numa primeira fase da implementação do projeto curricular integrado, procurou-se

promover uma atividade de pesquisa em grupo por forma a fomentar esta prática. Ponderando a

importância da formação de grupos heterogéneos, esta atividade foi antecedida por uma

observação das competências individuais de cada criança do grupo. Salienta-se que na

aprendizagem cooperativa, “o(a) educador(a) analisa o tipo de competências requeridas para

realizar a tarefa e divide as crianças de modo a que cada grupo integre as que tenham as

competências necessárias para trabalhar juntas e realizar a tarefa com sucesso” (Lopes & Silva,

2008, p. 26).

No início desta atividade foi apresentada, pela primeira vez, a Gota-gotinha e o baú que

foram utilizados ao longo do projeto curricular integrado como os elementos motivadores das

atividades. Tal como referi no diário de bordo,

A utilização do baú para motivar e cativar a curiosidade do grupo funcionou muito bem,

na medida em que estes começaram de imediato a sugerir hipóteses sobre o que

conteria o mesmo, sendo que algumas das ideias foram “uma tartaruga”, “um barco de

piratas” ou mesmo que esta era “uma caixa mágica” (Anexo 1 – Diário de Bordo de

22/11/2016).

Com base nas previsões das crianças foi possível recolher uma informação essencial,

nomeadamente que a utilização do baú e da Gota-gotinha deveria permanecer pois, para além

de promover a sua motivação, permite desenvolver a sua criatividade no desenvolvimento de

atividades. Evidenciava-se que esta nunca continha uma atividade pré-definida, mas sim uma

série de materiais que permitissem realizar uma diversidade de atividades e experiências de

aprendizagem.

Posteriormente à divisão em grupos – grupos heterogéneos – atribuiu-se um tema a

cada um dos mesmos, sendo que, enquanto um ficou responsável pela exploração das

características do globo terrestre e pelas diferentes tonalidades que o mar evidencia em registos

fotográficos distintos, o outro grupo investigou a diversidade de vida marinha que existe. Com

esta proposta procurava-se que este grupo vivenciasse um momento de pesquisa enriquecido

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pela partilha em grupo, sendo que se procurou fomentar

a troca de ideias e descobertas, aumentar o seu léxico,

assim como, estimular a sua capacidade de

argumentação e contra-argumentação. Para que esta

atividade fosse possível foi incluído no ambiente

educativo um globo terrestre, diversas imagens e

enciclopédias sobre os oceanos, como também sobre as

espécies marinhas, tal como se pode observar na

imagem seguinte (Fig.5).

Ao longo da exploração do globo terrestre, bem como dos registos fotográficos que

evidenciavam as diferentes tonalidades do mar destacaram-se diversas ideias e conceções

prévias, nomeadamente:

“O nosso planeta tem mais água porque o mar é grande” (A);

“O mar tem gelo e tem Pinguins. Nós escorregamos no gelo e os pinguins não escorregam. O

gelo pode ir para debaixo do mar e pode magoar os peixinhos e a cauda” (Pe);

“Os peixes não podem andar em cima da água senão morrem (Va)”;

“O gelo parte quando está calor” (A);

“O gelo na água derrete” (Pe);

“Quando fica frio a água do mar congela. Temos mais água no planeta Terra” (A);

“O mar parece verde … azul” (X);

“O mar é azul-escuro” (Du);

“O mar é branco. O mar é azul claro… Vi um peixe a saltar” (Apontando para o globo) (Pe);

“A água aparece nas quedas de água” (Go);

“A água do rio é azul-escura” (X);

“A água amarela parece amarela porque já chegou à areia” (apontando para a imagem) (Va).

(Anexo 1 – Diário de Bordo de 22/11/2016)

Com base neste registo foi possível perceber algumas das ideias que as crianças

tinham, isto é, as suas conceções prévias. Por conseguinte, tornou-se preponderante explorar

entre outras ideias, a cor da água, a formação de gelo na água salgada, assim como, a

respiração dos peixes.

No que concerne à exploração dos animais marinhos destaca-se a presença de uma

criança no grupo que reconhecia todos os animais presentes nas enciclopédias, pelo que os

restantes enunciavam algumas das características que identificaram. De modo a facilitar a

compreensão, passa-se a citar um extrato do diário de bordo.

Figura 5 – Material utilizado na atividade.

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“Espadarte” (GC) – “Tem o nariz comprido” (GO); “É para apanhar os peixes” (Vi) (após ter

aberto a aba);

“Baleia” (MQ e S) [acrescentei que aquela era a Baleia-Corcunda] – “Está a atirar água” (B); “A

Baleia respira pelo seu buraco (J)” [acrescentei que esse buraco era designado por espiráculo];

“Por baixo tem riscas” (Ra); “Em cima é azul… em baixo é branca” (MQ).

“Tubarão” (Todos) – “Tem os dentes afiados” (S); “Em baixo é branco” (GC); “Olha o nariz” (B).

“Golfinhos” (Todos) – “Tem a mãe e o filho” (por, na imagem, estar um mais pequeno do que o

outro) (S); “Estão a brincar” (B).

“Cachalote” (GC) – “Não é, é uma Baleia” (S); “Não é uma Baleia, é um Cachalote” (GC);

[esclareci que era realmente um cachalote e comparei-o com a baleia]; “É grande” (R); “Está ali

o olho (apontando)” (MB). Depois de terem sentido os dentes deste animal que está

representado na capa disseram: “São pequeninos” (GO); “São duros” (Vi); “Tem muitos dentes

pequeninos” (MQ).

Medusa – “Se tocares nos fios ela dá choque” (MB); “E dói muito” (GC).

”Morsa” (GC) -- “Tem os dentes grandes” (S); “Vive no gelo” (B).

(Anexo 1 – Diário de Bordo de 22/11/2016)

Neste grupo foi evidente o papel de mediadora das aprendizagens, na medida em que

após as crianças identificarem alguma parte do corpo dos animais marinhos que não

conheciam, a educadora estagiária fazia a devolução do termo correto para que este pudesse

ser apresentado também às restantes crianças.

Posteriormente ao momento de pesquisa e de partilha de ideias em grupo seguiu-se o

momento de partilha dessas novas aprendizagens com os colegas do grupo oposto. Por

conseguinte, todos os elementos de cada grupo participaram ordeiramente, sendo que foram

acrescentando ideias ao que os seus colegas mencionaram anteriormente. Desta forma,

fomentou-se o respeito pelo outro e pela sua opinião, o desenvolvimento da sua capacidade

argumentativa, mas, acima de tudo, alimentou-se a sua curiosidade em querer aprender sempre

mais acerca do mundo que os rodeia.

Tal como é possível observar nos registos

fotográficos (Fig. 6 e Fig.7), compreende-se que as

crianças, para além de falar, também mostraram

aos seus colegas os animais dos quais estavam a

falar. Outro aspeto que se demonstrou

interessante consistiu em que todo o grupo teve

oportunidade de sentir os dentes de um cachalote

que estava representado na capa de um livro,

despertando os sentidos (Fig. 7).

Figura 6 – Exposição das descobertas acerca

do tubarão.

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Figura 7 – As crianças sentem os dentes do Cachalote representados na capa do livro.

Apesar de se considerar que esta atividade foi muito bem conseguida, um dos receios

que lhe estava subjacente consistia na possibilidade da troca de experiências se revelar muito

reduzida e pouco significativa. No entanto não impediu de experimentar para compreender se

seria ou não um método eficaz para promover o desenvolvimento de aprendizagens ativas e

significativas, assim como, estimular a sua curiosidade natural. Naturalmente que havia a

consciência de que se estava a desempenhar o papel de mediadora e, por conseguinte, era

preponderante manter o fluxo de ideias e troca de perspetivas.

Numa fase mais avançada do projeto curricular integrado surgiu uma experiência

intitulada de “Como fazer neve?” que pretendia relacionar-se não só com os Polos Norte e Sul do

nosso Planeta, mas também com a época natalícia que se avizinhava. Assim, a Gota-gotinha

surgiu no baú com uma série de fraldas e uma garrafa de água, sendo que Após ter procedido à

distribuição das fraldas, as crianças disseram que “as fraldas são para pôr nos bebés” (Anexo 2

– Diário de Bordo de 07/12/2016). Foi neste

preciso momento, ilustrado pela figura

representada (Fig.8), que a verdadeira essência

desta atividade se revelou, na medida em que lhes

iria permitir abrir os seus horizontes e a

desconstrução de um material que está associado

a uma única finalidade. Realça-se, portanto, que

esta atividade possuía grande potencialidade no

desenvolvimento da criatividade na área das

ciências.

Figura 8 – Diálogo sobre potencialidades das

fraldas.

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Figura 9 – Recorte das fraldas.

Depois de cada criança ter recortado a sua fralda (Fig. 9), atividade que exigiu muita

dedicação por parte das mesmas devido à sua espessura, chegou o momento de agitar a fralda

e perceber o que continha no seu interior. Nos diários de bordo pode-se ler: Após agitarem os

sacos com a fralda recortada em pedaços, o An destacou a presença do algodão, e disse que

faltava colocar a água. Eu questionei o que é que estava a ficar no fundo do saco e as hipóteses

eram “sal” (GC), “açúcar” (G) (Anexo 2 – Diário de Bordo de 07/12/2016). Por conseguinte,

tornava-se preponderante acrescentar a água para compreender a sua reação quando misturada

com o pó (poliacrilato de sódio) encontrado no interior da fralda. Desta forma, compreenderam

que todas as hipóteses enunciadas estavam incorretas, na medida em que estas substâncias

seriam dissolvidas pela água. Após a mistura se ter assemelhado à neve, as crianças

caracterizaram-na como sendo, “fria” (Ra), “molhada” (GC), “fofinha” (An) e “branca” (MB)

(Anexo 2 – Diário de Bordo de 07/12/2016). As imagens que se seguem permitem visualizar

uma pequena parte desta atividade (Fig.10 e Fig. 11).

Figura 10 – As crianças agitam num saco de plástico os pedaços da fralda.

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Figura 11 – As crianças verificam as características da mistura criada e as semelhanças com a

neve.

Este momento da atividade permitiu que as crianças formulassem hipóteses e

estabelecessem interligações entre os materiais fornecidos pela Gota-gotinha, dotando-os de

ferramentas que lhes podem ser muito úteis na sua exploração autónoma da área das ciências.

Permitiu ainda, verificar o processo de absorção da água pelo poliacrilato de sódio e atribuir-lhe

o termo científico adequado, aumentando, por conseguinte, o seu vocabulário.

Numa das reflexões semanais foi descrita a evolução do projeto, pelo que será

importante citá-la para compreender a perspetiva acerca do desenvolvimento da literacia

científica.

Ao longo do desenvolvimento do projeto tem sido cada vez mais percetível a evolução das

crianças no que diz respeito à mobilização e, consequente, utilização de termos que,

gradualmente vão sendo introduzidos no discurso diário para com estes. Este aspeto,

conjuntamente com a reflexão que regularmente as crianças vão desenvolvendo através

da colocação de hipóteses de atividades passíveis de serem desenvolvidas com recurso

aos materiais fornecidos diariamente no baú pela Gota-gotinha, têm contribuído

significativamente para o desenvolvimento da literacia científica das crianças (Anexo 3 –

Reflexão Semanal de 05/12/2016 a 09/12/2016).

Considerando que nem todas as crianças têm acesso às mesmas oportunidades, esta

atividade contribuiu para que todas ficassem a saber qual é a sensação de se tocar em neve.

Consequentemente para as crianças que já tinham tocado em neve, permitiu constatar que a

mistura criada era dotada das mesmas características que a neve, nomeadamente, a sua

temperatura (fria), o seu nível de humidade (molhada), textura (fofa) e, ainda, a sua cor (branca).

Assumindo-se o jardim-de-infância como um meio essencial para colmatar as desigualdades que

possam existir esta é uma atividade que permite exemplificar como é possível fazê-lo.

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Ao longo do projeto desenvolveram-se uma infinidade de atividades que permitiram

enriquecer a área das ciências, incluindo uma série de materiais que permaneceram

constantemente acessíveis. O mesmo se sucedeu com a neve que tinha sido produzida, pelo

que num momento de exploração autónoma duas crianças que se encontravam a desenvolver

experiências adicionaram-lhe o sal que tinha sido utilizado numa outra experiência e constataram

a influência deste na neve, isto é, verificaram que ao adicionar o sal esta se derreteu. Esta

descoberta foi partilhada em grande grupo por forma a fomentar a motivação na exploração

autónoma dos materiais. Por outro lado, permitiu compreender a necessidade da área das

ciências se ir modificando e enriquecendo segundo os materiais que vão sendo utilizados em

atividades.

4.1.3) Análise crítica de resultados da intervenção pedagógica

A Educação Pré-Escolar desempenha um papel fundamental no desenvolvimento integral

das crianças, pelo que o educador deve assegurar um ambiente de apoio e desafios

estimulantes que promovam a resposta aos interesses, curiosidades, descobertas e

potencialidades. Desta forma, a primeira fase que deve ser analisada consiste na resposta que

foi dada perante a pouca afluência autónoma na área das ciências.

De forma a estimular a exploração autónoma da área das ciências tornava-se

preponderante apresentar propostas de atividades que fomentassem a sua criatividade e lhes

permitisse adquirir confiança. Assim, a utilização do baú e da Gota-gotinha – enquanto

elementos motivadores sempre presentes – promoveu momentos de raciocínio, partilha de

ideias, explorações, na medida em que implicava o desenvolvimento de uma atividade por parte

das crianças, sendo que a maioria das explorações foram propostas por estes e não impostas

pela estagiária. Assim, a perspetiva de proporcionar momentos de aprendizagem ativa e

significativa, alicerçada à flexibilidade das rotinas e das planificações estava a ser respeitada.

Considerando que a “prática reflexiva dos alunos é estimulada e desenvolvida em

contextos (…), através de actividades genuínas, apelativas e significativas” (Sá & Varela, 2004, p.

35), o projeto curricular integrado foi concebido e desenvolvido a pensar não somente no

desenvolvimento de atividades diversificadas e estimulantes, mas principalmente numa

aprendizagem articulada com as diversas áreas do saber. Por conseguinte, este esteve

alicerçado à interdisciplinaridade e integração curricular de modo a contribuir para que as

aprendizagens fossem significativas. Note-se que a área do conhecimento do mundo foi

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essencial pelo que potenciou o desenvolvimento de atividades de todas restantes áreas de modo

mais natural e, por conseguinte, mais significativo.

Através das propostas de atividades, o ambiente educativo em que as crianças estavam

inseridas foi beneficiando da inclusão de novos materiais, na medida em que depois de serem

utilizados na atividade, os materiais, foram colocados à disposição na área das ciências para que

pudessem ser utilizados e explorados. Por outro lado, as atividades permitiram mobilizar os

materiais que já se encontravam nesta área, sendo que lhes permitiu atribuir uma lógica de

utilização, mas também o conhecimento do seu nome. Salienta-se, portanto que foi exercido o

papel de educador definido no Decreto-Lei n.º 241/2001 do Diário da República, na medida em

que foram utilizados diversos materiais estimulantes.

A literacia científica promoveu-se gradualmente através da experimentação e

desenvolvimento de diversas propostas e recursos, sendo que quanto mais rico for o ambiente

em que a criança está inserida, mais benefícios este apresentará para o desenvolvimento

integral das crianças. A pesquisa também contribui para esse desenvolvimento, na medida em

que motivou a sua vontade de aprender cada vez mais acerca do mundo que os envolve. Assim,

pode salientar-se que este grupo aumentou substancialmente o seu léxico, não somente por ter

contactado com uma diversidade de vocábulos, mas sim por ter possível verificar a sua

mobilização. Destacam-se, por exemplo, os termos ”globo”, “planeta Terra”, “flutua”,

“espiráculo”, “barbatanas”, “tentáculos” ou mesmo “funil” que foram referidos em explorações

autónomas. Outra evidência que se pode destacar consiste no aumento da exploração dos livros

e enciclopédias que se foram acrescentando à área das ciências, sendo estes um contributo

preponderante para o fomento da curiosidade natural.

Por fim, destaca-se a importância da observação participante que possibilitou o

desenvolvimento de aprendizagens alicerçadas às curiosidades, potencialidades e interesses das

crianças considerando as suas conceções prévias de modo a fomentar aprendizagens

significativas.

Em suma, podemos afirmar que o desenvolvimento deste projeto de intervenção teve

como base e atingiu todos os objetivos propostos (p. 35): i) Dar resposta às capacidades e aos

interesses apresentados pelas crianças/alunos; ii) Promover a literacia científica das

crianças/dos alunos; iii) Promover hábitos de reflexão pessoal e partilhada; iv) Fomentar o

desenvolvimento das aprendizagens a partir das conceções prévias; v) Promover uma atitude de

pesquisa e questionamento.

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Paralelamente, no que se refere aos objetivos do projeto de investigação podemos

acrescentar que foi percetível a influência da pesquisa no desenvolvimento integral das crianças

e na sua literacia científica, sendo que a(s) ciência(s) fomentaram a integração das diferentes

áreas do saber. Por fim, enfatiza-se a reação das crianças perante a pesquisa, na medida em

que incrementou o gosto pelo conhecimento do mundo envolvente.

4.2) Intervenção pedagógica no 1.º ciclo do Ensino Básico

4.2.1) Surgimento do projeto de intervenção pedagógica

Relativamente ao ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico salienta-se que este, “a par da

educação pré-escolar, é a fase da construção de pilares essenciais para o desenvolvimento

futuro e para a construção de novas aprendizagens, novos desenvolvimentos (Afonso, 2008, p.

9). Por conseguinte, é vital que o professor identifique os interesses, características e

potencialidades dos seus alunos, de modo a promover o seu desenvolvimento integral com base

no desenvolvimento de atividades integradas, ativas e significativas. No entanto, é também

importante relembrar que no 1.º ciclo do Ensino Básico os professores têm de dar resposta ao

currículo formal ou prescrito proposto pelo Ministério da Educação, pelo que se impõe a

necessidade de

uma relação bem conseguida entre um conteúdo curricular de aprendizagem (…) e a

capacidade de a estratégia de ensino e aprendizagem posta em ação convocar

adequadamente os fatores em causa (…), no sentido de estabelecer uma ligação

cognitivamente eficaz, por parte de cada sujeito aprendente concreto, entre o novo com

que contacta no currículo e tudo aquilo de que já é portador (Roldão, 2013, p. 26).

A observação participante, bem como, as diversas interações estabelecidas permitiram

evidenciar o interesse no que concerne a temas associados à sociedade e ao meio ambiente,

designadamente, nas inter-relações que se estabelecem com outras pessoas e a preservação da

natureza. Tomando consciência de que

Educar é cada vez mais integrar e contextualizar todas as dimensões do humano, ensinar

a pensar autonomamente, fornecer instrumentos e saberes culturais de acesso à reflexão

crítica e à prática de uma cidadania ambiental consciente – essa a via pela qual a

educação se constitui em vector essencial de qualquer processo que vise o

desenvolvimento integrado a todos os níveis e o efectivo bem-estar das sociedades e dos

indivíduos” (Roldão, 1999, p. 95).

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Torna-se preponderante desenvolver um projeto curricular integrado que permita responder a

estas questões. Assim, e porque se tratava de uma turma do 3º ano de escolaridade, realizou-se

um levantamento das suas questões por escrito para que todos pudessem mencionar as suas

dúvidas sem receios, bem como não serem influenciados pelas questões enunciadas pelos

colegas.

Outra observação que se destaca consiste no entusiasmo demonstrado pela turma no

desenvolvimento de novas pesquisas, independentemente de ser autónoma ou em grupo. Por

conseguinte, destacam-se as potencialidades desta prática, na medida em que promovem: a

exploração dos recursos presentes na biblioteca da escola; a troca de ideias com os

encarregados de educação; o desenvolvimento da capacidade de pesquisa, seleção da

informação mais importante e, ainda, da capacidade argumentativa; e, por fim, a promoção da

literacia científica.

À semelhança do processo na Educação Pré-Escolar, posteriormente à análise e reflexão

acerca das curiosidades e potencialidades dos alunos, assim como do currículo formal, surgiu o

projeto curricular integrado denominado por “Tornar o Mundo melhor” que se encontra

representado na figura abaixo representada (Fig. 12). Este núcleo globalizador foi escolhido pelo

grupo de alunos e pretende demonstrar de que forma um simples gesto pode mudar o Mundo

que nos envolve. Este núcleo subdivide-se em três questões-geradoras, nomeadamente, “Por

que não somos amigos?”, “Os meus desejos/vontades podem prejudicar o nosso planeta?” e

“Como podemos proteger o nosso planeta?”. Destaca-se ainda a presença dos princípios

pedagógicos basilares desta proposta educativa que estão localizados no plano inferior da

representação, sendo estes: o princípio da significatividade das aprendizagens, o princípio da

cooperação, o princípio da participação, o princípio da atividade e, por fim, o princípio da

responsabilização.

Ao longo de todo o projeto houve a preocupação de respeitar a perspetiva de Sá e Varela

(2007), que nos dizem que no 1.º ciclo do Ensino Básico, “as crianças estão em óptima idade

para uma genuína aprendizagem de atitudes e competências de investigação e experimentação,

que terão uma importância fundamental em futuras aprendizagens e na sua formação” (p. 16).

Lembramos aqui que todo este metodologia de trabalho sempre teve como base os conteúdos

previstos no Programa Nacional para o 3.º ano de escolaridade.

Refletindo sobre a questão-geradora “Como podemos proteger o ambiente?”, destaca-se

o desenvolvimento de pesquisas acerca dos diversos tipos de poluição que contribuiu com uma

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diversidade de aprendizagens ativas e significativas, na medida em que permitiu a interligação

com uma infinidade de conceitos e procedimentos. Desta forma, procurou-se o desenvolvimento

de cidadãos ativos, conscientes e cientificamente mais informados.

No mapa de conteúdos que está seguidamente representado (Fig. 13) podem visualizar

as propostas de atividades que pretenderam responder à questão-geradora enunciada, nunca

descorando de responder às curiosidades dos alunos, desenvolver as suas potencialidades,

colmatar as suas necessidades, relacionando com o desenvolvimento de aprendizagens

previstas no programa para o 3.º ano de escolaridade.

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Figura 12 – Desenho do Projeto Curricular Integrado “Tornar o Mundo melhor”.

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Figura 13 – Mapa de Conteúdos da questão-geradora “Como podemos proteger o ambiente?”.

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4.2.2) Desenvolvimento da literacia científica pessoal e partilhada

À semelhança do que foi estabelecido no projeto curricular integrado da Educação Pré-

Escolar, de forma a respeitar os limites previstos para a extensão do relatório de estágio, nesta

secção do capítulo apenas se fará referência a uma pequena parte do projeto desenvolvido.

Considerando as curiosidades do grupo de alunos, solicitei que realizassem uma

pesquisa sobre o aspeto que lhes despertasse mais interesse por forma a compreender qual era

o tópico de pesquisa que se destacava. Destaca-se uma grande adesão por parte do grupo na

medida em que quase a totalidade realizou a pesquisa, bem como, consultou uma diversidade

nas fontes de informação pelo que estes para além de realizarem pesquisas na internet (na

biblioteca da escola ou em casa), procederam à recolha de informações nos livros da biblioteca

escolar. Por conseguinte, após esta recolha enriquecida permitiu desenvolver atividades que

mobilizassem conhecimentos adquiridos nas suas pesquisas, demonstrando a verdadeira

essência da pesquisa.

A poluição dos solos foi um tema onde se denotou muito interesse por parte dos alunos,

sendo que permitiu relacionar-se com o conteúdo previsto pelo Programa Nacional para o 3.º

ano de escolaridade que respeita à investigação das características do solo. Por conseguinte,

numa fase inicial foi proposta uma atividade onde de definiu o solo e se identificaram os quatro

tipos de solo existentes, bem como as suas características. Posteriormente, procurou-se

compreender quais os comportamentos que podem ser prejudiciais para o solo, tal como, as

suas consequências. Com o desenvolvimento desta atividade procurou-se fomentar a

argumentação; mobilizar as conceções prévias; ampliar o vocabulário; fomentar a seleção de

informação; refletir sobre o perigo da poluição dos solos para as cadeias alimentares; e,

classificar os animais quanto ao seu tipo de alimentação. A imagem que se segue representa um

momento desta atividade (Fig. 14).

Figura 14 – Partilha de ideias sobre as consequências da poluição dos solos.

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A aprendizagem significativa e funcional implica que os alunos estabeleçam relações

com os saberes que já detém ou com experiências de vida, pelo que se salienta a perspetiva de

que este aspeto foi sempre tido em conta, na medida em que

As causas e as consequências puderam ser relacionadas com as conceções dos alunos,

com as suas pesquisas, bem como com algumas das suas experiências de vida. Alguns

destes relembraram e puderam dar significado aos adubos manufaturados (de cor azul),

tal como, aos adubos biológicos, na medida em que já observaram alguns parentes a

utilizá-los (Anexo 4 – Diário de Bordo de 28/04/2017).

Com o desenvolvimento desta atividade, os alunos puderam desenvolver aprendizagens

na área curricular do Estudo do Meio, mas também em Português e até mesmo Matemática,

demonstrando, assim, a interdisciplinaridade e articulação curricular em que todo o projeto

assentou. Isto porque, após o momento acima descrito realizou-se uma atividade de matemática

acerca das medidas de comprimento (Anexo 5) pelo que permitiu estabelecer relações entre o

metro e os seus múltiplos, bem como entre os submúltiplos do metro e o metro; efetuar a

conversão entre as medidas de comprimento; sequenciar por ordem crescente números de

diferentes medidas de comprimentos; assim como, resolver problemas mobilizando

conhecimentos acerca das medidas de comprimento. De forma integrada, os exercícios

propostos estavam devidamente enquadrados com a temática dos solos na medida em que

procuravam adquirir conhecimentos acerca dos terrenos férteis e as suas potencialidades e,

ainda, compreender a utilização de estacas na plantação de algumas plantas.

De modo a promover a revisão e consolidação dos conhecimentos desenvolvidos acerca

da poluição dos solos foi proposta uma atividade denominada por “Solo Comestível” e que tem

um carácter mais lúdico. Considerando que se trata de uma atividade experimental que mobiliza

apenas a utilização de alimentos levou a que verificasse um entusiasmo acrescido.

Nas experiências de aprendizagem propostas aos alunos destacavam-se, de modo

genérico, a leitura dos materiais/ingredientes necessários, seguida do procedimento descrito. À

medida que iam realizando a experiência comparavam as diferentes camadas construídas com

as camadas do solo, sendo que culminavam a atividade com a adição de chocolate líquido que

permitia verificar a infiltração da poluição nos solos. As imagens seguintes permitem verificar o

desenvolvimento da atividade, bem como, o seu produto final que foi degustado com grande

entusiasmo pelos alunos (Fig. 15 e Fig. 16).

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Figura 15 – Elaboração dos Solos Comestíveis.

Figura 16 – Solos Comestíveis (produto final).

Após a consciencialização dos perigos da poluição dos solos, algumas crianças

identificaram um problema no recinto escolar que consistia na presença de uma diversidade de

lixo espalhado pelo chão. De forma a recolherem os dados fizeram uma tabela onde por baixo de

cada elemento faziam a sua categorização e contagem. Assim, puderam constatar que no

recinto escolar se encontravam cerca de 25 papéis de rebuçado, 22 palhinhas, 4 chupas, 8

papéis de chocolate, 5 pacotes de leite, 12 papéis de chicletes, 2 gomas e mais de 100 papéis

diversos. Por conseguinte, consideraram que era importante reportar a situação para que, em

grupo, fosse possível encontrar-se uma solução para este problema. A partir de um diálogo

chegaram à conclusão de que seria importante elaborar uma notícia para a rádio escola, bem

como fazer cartazes para sensibilizar para o perigo da poluição dos solos.

No que concerne à notícia salienta-se que permitiu que este grupo relembrasse os

constituintes da notícia, pelo que definiram o seu título, deram as respostas às questões

intrínsecas à notícia, sendo estas “Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Porquê?”. Depois de

muito diálogo entre si, redigiram a seguinte notícia:

“Um simples gesto para melhorar o ambiente

Os alunos do 3ºB investigaram sobre a poluição e descobriram que existe poluição dos

solos na escola. Esta poluição acontece, pois, alguns meninos desta escola não sabem o

que é a poluição dos solos, por isso, vamos passar a explicar. A poluição dos solos

acontece quando os alunos deitam lixo para o chão durante o recreio.

Todos nós podemos contribuir com um simples gesto para melhorar o ambiente, por

isso, não deites lixo para o chão.

Vamos ter uma escola preocupada com o ambiente.

Contamos contigo!”

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Esta notícia foi lida mais tarde por uma aluna, eleita democraticamente pela turma, na emissão

da rádio escola, tal como se pode visualizar na imagem que se segue (Fig. 17).

Figura 17 – Divulgação da notícia na rádio escola.

No que respeita à elaboração do cartaz de sensibilização (Anexo 6) para evitar a poluição

dos solos, salienta-se que esta foi desenvolvida em grupo por forma a desenvolver o trabalho

cooperativo. Desta forma, cada grupo foi convidado a planificar o seu cartaz, definindo as

informações que são importantes de referir. Por outro lado, o porta-voz do grupo assumiu o seu

papel e procedeu à divisão das tarefas segundo as suas características e potencialidades.

O desenvolvimento desta atividade implicava a organização e síntese da informação

acerca da poluição dos solos, de modo a fomentar a compreensão de que qualquer pessoa é

essencial para que a mudança aconteça. Por outro lado, destaca-se o lado estético dos cartazes

pelo que lhes permite aprofundar as suas capacidades expressivas, dando asas à sua

imaginação e desenvolvendo a sua criatividade. Por conseguinte, evidencia-se que

Na elaboração dos cartazes foi possível verificar, mais uma vez, a potencialidade dos trabalhos de grupo na medida em que: houve um equilíbrio na divisão de tarefas; recorreram ao computador para pesquisarem imagens que pretendiam reproduzir; realizaram cartazes muito distintos, destacando-se a inovação; e, por fim, destacam-se as mensagens motivadoras para que se recicle (Anexo 7 – Diário de Bordo de 13/06/2017).

Relativamente ao trabalho cooperativo, que pode ser constatado na figura abaixo

representada (Fig. 18), torna-se preponderante enunciar que o “desenvolvimento de trabalhos de

grupo contribui significativamente para que haja um ambiente cooperativo entre os alunos, na

medida em que estas interações potenciam as expressões afetivas e de confiança” (Anexo 7 –

Diário de Bordo de 13/06/2017).

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Figura 18 – Os alunos desenvolvem trabalho cooperativo.

Após a realização e respetiva apresentação dos cartazes aos restantes colegas de turma,

seguiu-se a sua distribuição pela escola de modo a sensibilizar os seus colegas para a

necessidade de reciclar os materiais, prevenindo, assim, a poluição dos solos. Assim, toda a

escola pode ser incluída neste trabalho de modo a participar na preservação dos solos da

instituição e, por outro lado, os alunos desta turma puderam contemplar os seus cartazes

expostos pelo recinto da escola. Por conseguinte, contribuiu-se para a motivação dos mesmos e

para a sua formação enquanto cidadãos críticos, ativos e conscientes.

Na fase final do projeto houve um pequeno projeto surpresa desenvolvido por alguns

alunos da turma durante os intervalos onde criaram uma cidade amiga do meio ambiente com

recurso a materiais reciclados. Salienta-se que, no momento em que a estagiária teve

conhecimento desta ideia incentivou e colocou-se à disposição para contribuir com todo o

material que precisassem, sendo que assim foi criada a seguinte maquete (Fig. 19).

Figura 19 – Maquete de cidade amiga do ambiente com materiais reciclados.

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Destaca-se, ainda o desenvolvimento de uma maquete (Fig. 20) por uma aluna,

conjuntamente com o seu avô, onde se pretende destacar a importância da reciclagem, na

medida em que foi realizada a partir da reutilização de diversos materiais.

Figura 20 – Maquete sobre a reciclagem com materiais reciclados.

Para terminar, importa relembrar como culminou este projeto, sendo que “Na

apresentação das maquetes foi lindo, não há outra palavra, verificar as aprendizagens que os

alunos desenvolveram, bem como, verificar a motivação que o nosso projeto lhes transmitiu.

Saliento a preocupação dos alunos na utilização de materiais reciclados, assim como, na

exposição de todas as pessoas que contribuíram para a elaboração dos mesmos” (Anexo 8 –

Diário de Bordo de 21/06/2017).

4.2.3) Análise crítica de resultados da intervenção pedagógica

A intervenção pedagógica baseou-se numa perspetiva construtivista, na medida em que

o projeto curricular integrado foi construído ativamente pelos alunos, bem como, pela estagiária,

fomentando o enriquecimento de todo o processo de ensino e aprendizagem. Por conseguinte

fomentou-se o desenvolvimento de aprendizagens significativas num ambiente onde o professor

procurou promover a “abertura à inovação e à aprendizagem permanentes, a aceitação da

diversidade e das diferenças, a partilha e o diálogo com diversos agentes educativos, a

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promoção de um saber mais holístico, inter e transdisciplinar, entre outras” (Alonso, 1996 cit. in

Alonso & Silva, 2005, p. 49).

Com o desenvolvimento de atividades promotoras da integração das diferentes áreas do

saber pude constatar que esta se torna mais significativa para estes, na medida em que fomenta

uma perceção mais abrangente, integrada e significativa dos conteúdos. No entanto, as

conceções prévias foram sempre consideradas de modo a que o aluno pudesse (re)construir as

suas aprendizagens. Salienta-se a perspetiva de Roldão (2013) que enuncia que

A relevância constrói-se (…) como uma relação bem conseguida entre um conteúdo

curricular de aprendizagem (…) e a capacidade de a estratégia de ensino e aprendizagem

posta em ação convocar adequadamente os fatores em causa (…), no sentido de

estabelecer uma ligação cognitivamente eficaz, por parte de cada sujeito aprendente

concreto, entre o novo com que contacta no currículo e tudo aquilo de que já é portador

(p. 26).

Ao longo do projeto curricular integrado, as ciências – de forma especial relacionadas

com a área curricular de Estudo do Meio – contribuíram substancialmente para que esta

integração fosse mais natural, pelo que através do projeto “Tornar o Mundo melhor” foi possível

desenvolver atividades nas principais áreas curriculares (português e matemática), mas também

em expressão plástica, musical ou física. Por outro lado, destaca-se a potencialidade desta área

curricular no desenvolvimento de capacidades, aptidões, habilidades, competências e,

sobretudo, atitudes (Carvalho & Freitas, 2010). Note-se que “os conceitos, as atitudes e as ideias

adquiridos pelas crianças nos primeiros anos de escolaridade têm uma influência decisiva sobre

a forma como a ciência e a tecnologia serão vistas mais tarde quando adolescentes e adultos”

(Afonso, 2008, p. 20).

Neste projeto manteve-se o papel da docente como mediadora das aprendizagens, na

medida em que procurou desenvolver atividades adequadas aos interesses, necessidades e

potencialidades dos alunos, bem como aos conteúdos programáticos previstos pelo programa

para o 1.º ciclo do Ensino Básico, fomentando sempre o desenvolvimento das capacidades de

procura de informações, apropriação da interpretação, bem como, reconstrução do

conhecimento que se possuía (Carvalho, Ramos, & Baptista, 2015). Considerando que houve

um equilíbrio nesta relação, torna-se preponderante mencionar que as pesquisas realizadas

pelos alunos foram mais significativas. À medida que os alunos se foram apercebendo que

através das pesquisas conseguiam dar resposta aos seus questionamentos, tiveram a

consciência de que estavam a ser construtores do seu próprio conhecimento. Por conseguinte,

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foi-se gerando um entusiasmo no desenvolvimento de pesquisas pelo que passavam a ser os

próprios alunos a pedir para pesquisar, demonstrando-se mais críticos e conscientes acerca das

problemáticas envolventes. Lembramos então Demo (1992) que afirma “o que faz da

aprendizagem algo criativo é a pesquisa, porque a submete ao teste, à dúvida, ao desafio,

desfazendo tendência meramente reprodutiva” (p. 43). Nesta linha de pensamento Reis (2008)

afirma

fomentar, desde a mais tenra idade, a capacidade de observar, de questionar, de

comparar e justificar, para estabelecer, a partir do vivido, do observado e do

experienciado, patamares de conhecimento, provisório mas sustentado, que irão erguer a

pouco e pouco a arquitectura conceptual, analítica e estruturante que faz dos humanos

seres pensantes, capazes de pensar cientificamente a realidade, isto é, de o interpretar

com fundamentos e de a questionar com pertinência (p. 10).

A pesquisa não se limitava a considerar a recolha de informação mas sim todo o

processo envolvente que potenciava a (re)construção dos conhecimentos e o prazer pela

constante atualização dos conhecimentos, já que a “aprendizagem deve ser entendida como um

processamento activo de informação e ideias através do qual se vão estabelecendo novas

ligações” (Reis, 2008, p. 18). Por isso, “o primeiro passo é aprender a aprender, que significa

não imitar, copiar, reproduzir. A verdadeira aprendizagem é aquela construída com esforço

próprio através de elaboração pessoal” (Demo, 1992, p. 64). Assim, compreende-se a

importância do professor não se limitar à transmissão dos conhecimentos, mas sim à mediação

dos mesmos.

Mediante o desenvolvimento de pesquisas foi percetível a melhoria dos alunos ao nível

da sua literacia científica, na medida em que se demonstraram indivíduos mais críticos e

reflexivos nas questões relacionadas com a ciência que os envolviam. Um exemplo concreto

consistiu na identificação da problemática evidenciada no recinto escolar, nomeadamente, a

poluição dos solos e que os levou a ter uma atitude proactiva, a conjeturar soluções possíveis e

colocar em prática as soluções que identificaram como sendo mais eficazes para resolver o

problema. Lembramos novamente Azevedo (2009) que entende literacia como

não apenas a capacidade para ler e escrever, utilizando a informação escrita de forma contextualmente apropriada, em contextos diversificados de uso, como igualmente a motivação para o fazer. A literacia, potenciando a interacção social e estimulando o raciocínio crítico e a comunicação abstracta, é utilizada para desenvolver o conhecimento e a compreensão e para assegurar a formação efetiva e integral da pessoa (Azevedo, 2009, p. 1).

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Por conseguinte, pode concluir-se que neste projeto a literacia científica foi-se

desenvolvendo a partir da predisposição demonstrada para a pesquisa e que contribuiu para a

formação de cidadãos ativos, conscientes e cientificamente mais informados, movidos pela

constante vontade de aprender.

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CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

Este relatório de estágio reflete sobre o projeto de intervenção e de investigação que

decorreu durante sensivelmente sete meses em dois contextos de intervenção distintos, porém

ambos foram desenvolvidos segundo a metodologia de investigação-ação. O projeto curricular

integrado fomenta o contacto com “Novas realidades e problemas, servidos para uma

comunicação mais acessível” (Roldão, 2013, p. 16), pelo que se desenvolvem segundo os

interesses, potencialidades e necessidades das crianças/dos alunos. Assim, permite que estes

atribuam maior significado aos conhecimentos que desenvolvem e, portanto, se sintam mais

motivados para se envolver no processo de aprendizagem. Por conseguinte, ao longo dos

projetos procurou-se responder a estes pressupostos, considerando sempre a promoção do

desenvolvimento integral dos mesmos para que se contribua para a formação de cidadãos

conscientes, ativos e literatos.

Houve um aspeto que distinguiu claramente os dois contextos de intervenção que se

baseia no facto de no 1.º ciclo do Ensino Básico estar intrínseco o desenvolvimento dos

conteúdos contemplados no programa para cada ano de escolaridade. Assim, este contexto teve

uma exigência acrescida ao nível da criatividade para a articulação entre as diversas áreas de

conteúdo, na medida em que implicou o desenvolvimento de atividades que fossem integradoras

e significativas. Por conseguinte, salienta-se que o desenvolvimento destes projetos potencia a

interdisciplinaridade, fomentando uma ligação entre os conhecimentos que vão sendo

desenvolvidos. Desta forma, o conhecimento do mundo envolvente constrói-se como um todo e

não como uma série de fragmentos.

A metodologia de investigação-ação evidenciou-se numa metodologia fundamental para o

desenvolvimento dos projetos de investigação e de intervenção. Assim, concordamos que

a investigação-ação, mais do que uma metodologia de investigação, é uma “ciência

educativa crítica” (…) que promove o desenvolvimento curricular na sua globalidade, no

sentido em que, ao contribuir para que o professor faça a investigação, a avaliação e a

reflexão da sua prática, está a favorecer a inovação do processo de ensino-aprendizagem

e o desenvolvimento profissional desse mesmo professor (Fonseca, 2013, p. 79).

Considerando que cada indivíduo tem as suas experiências de vida, assim como, um

nível diferente de aprendizagem, pelo que o “professor recorre à competência de

questionamento reflexivo para ajudar os alunos a auto-regularem a sua actividade cognitiva,

promovendo neles a capacidade de escalarem níveis de cognição e aprendizagem

progressivamente mais elevados” (Sá & Varela, 2007, p. 23). Assim, ao longo de ambos os

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projetos curriculares integrados mencionados no presente relatório de estágio procurou-se que o

educador/professor fosse o “andaime” para a (re)construção de aprendizagens. Por

conseguinte, foi preponderante a promoção de experiências de aprendizagem ativas,

significativas, globalizadas, interativas, diferenciadas e adequadas ao grupo, tornando-se

essencial a existência de um processo cíclico e contínuo de planificação, intervenção e

avaliação/reflexão (Alonso L. , 1996).

A pesquisa evidenciou-se como uma ferramenta essencial para a construção de saberes,

na medida em que implica uma série de fases, nomeadamente a definição clara do tema a

pesquisar, a recolha de informações em diversas fontes de informação, a seleção da informação

e, por fim, a divulgação do trabalho realizado. Por conseguinte, também se verifica o

desenvolvimento de uma série de competências, tal como, o desenvolvimento da capacidade

argumentativa, de síntese, de organização de dados, da melhoria da apresentação de resultados

tanto ao nível escrito como oralmente, bem como, o desenvolvimento da autocrítica e

autoconfiança ao nível do seu trabalho. Note-se que quando estas eram desenvolvidas em

trabalho cooperativo se verificava a potencialidade ao nível das relações interpessoais tais como,

o respeito pela opinião dos outros, a entreajuda, a comunicação, a liderança, tomada de

decisões, resolução de conflitos, entre outros.

Ao longo dos projetos curriculares integrados verificou-se o desenvolvimento da literacia

científica em função das pesquisas que se iam realizando e das atividades que lhes estavam

subjacentes. Considerando a motivação intrínseca à pesquisa compreende-se a potencialidade

desta no desenvolvimento da literacia científica, bem como, a importância do

educador/professor considerar as suas planificações como sendo flexíveis. Salienta-se, ainda,

que aos longo de ambos os projetos se evidenciar um aumento do sentido crítico e reflexivo dos

intervenientes, pelo que estes são fundamentais para que se contribua para um desenvolvimento

integral equilibrado.

As diversas experiências vivenciadas ao longo da prática pedagógica contribuíram

significativamente para o desenvolvimento da identidade profissional. Uma das características

desenvolvidas baseia-se na perceção de que se torna no modelo educativo das crianças/dos

alunos pelo que todos os comportamentos, atitudes e vocabulário utilizado são observados e

apreendidos pelos mesmos. Outra característica consiste na humildade em admitir que estamos

sempre a aprender, pelo que a partilha de experiências ou inseguranças com outras

profissionais se revelou com grandes potencialidades, na medida em que fomentou o aumento

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da segurança e confiança na planificação das intervenções, bem como, nas estratégias utilizadas

na sua implementação.

As interações estabelecidas tanto com as crianças da Educação Pré-Escolar como com

os alunos do 1.º ciclo do Ensino Básico, contribuíram para estabelecer laços de confiança na

medida em que se procurou que estes acreditassem mais nas suas capacidades, demonstrando

ser uma presença constante para os auxiliar em tudo o que estes necessitassem, fornecendo-

lhes, desta forma, apoio nas suas dificuldades e festejando consigo as suas conquistas. Por

outro lado, a socialização com os encarregados de educação permitiu compreender de que

forma as atividades estavam a influenciar a criança/o aluno, dado que alguns chegaram a

recriar algumas das atividades com os seus educandos.

O conhecimento profissional é consequência da relação entre os conhecimentos

académicos, as crenças ideológicas, bem como, as experiências com que se vão contactando

(Alonso & Silva, 2005). Assim, tornou-se relevante o contributo dos conhecimentos construídos

ao longo da Licenciatura em Educação Básica e do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino

do 1.º ciclo do Ensino Básico, tal como, das diversas interações estabelecidas com as

crianças/os alunos, a educadora e professora cooperantes, todos os elementos da instituição

onde foi desenvolvida a prática pedagógica, bem como, das tutorias orientadas pela professora

supervisora. Apesar de todos estes momentos terem contribuído ativamente para a construção

da identidade profissional, esta caminhada ainda agora se está a iniciar e a educação é “o maior

poder e a maior responsabilidade do mundo” (Monteiro, 2008, p. 145), pelo que é fundamental

estar em constante aprendizagem para se promover o desenvolvimento integral de cidadãos

ativos, cientificamente literatos e responsáveis.

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ANEXOS

Anexo 1 – Diário de Bordo de 22/11/2016

Data: 22/11/2016

Experiência/atividade/situação: Exploração do globo terrestre e enciclopédias.

Pontos de interesse

(novidades, imprevistos,…)

- A utilização do baú para motivar e cativar a curiosidade do grupo funcionou muito bem, na

medida em que estes começaram de imediato a sugerir hipóteses sobre o que conteria o

mesmo, sendo que algumas das ideias foram “uma tartaruga”, “um barco de piratas” ou

mesmo que esta era “uma caixa mágica”.

- Durante a exploração do globo terrestre foram diversas as ideias mencionadas nomeadamente

que “o globo tem as cores: branco, vermelho, verde, castanho, azul-escuro, azul claro, azul

muito claro, quase branco… parece uma onda” (Pa); “o nosso planeta tem mais água porque o

mar é grande” (A); “O mar chama-se oceano” (X); “O mar tem gelo e tem Pinguins. Nós

escorregamos no gelo e os pinguins não escorregam. O gelo pode ir para debaixo do mar e pode

magoar os peixinhos e a cauda” (Pe); “os peixes não podem nadar no gelo, só podem nadar nos

oceanos. Os peixes ficam congelados por causa do gelo” (X); “os peixes não podem andar em

cima da água senão morrem (Va)”; “o gelo parte quando está calor” (A); “O gelo na água

derrete” (Pe); “Quando fica frio a água do mar congela. Temos mais água no planeta Terra” (A);

“O mar parece verde … azul” (X); “O mar é azul-escuro” (Du); “O mar é branco. O mar é azul

claro… Vi um peixe a saltar” (Apontando para o globo) (Pe); “A água aparece nas quedas de

água” (Go); “A água do rio é azul-escura” (X); “A água amarela parece amarela porque já chegou

à areia” (apontando para a imagem) (Va).

- Durante a exploração dos animais marinhos foi muito interessante perceber que uma das

crianças (GC) conhecia todos os animais marinhos presentes nas enciclopédias, sendo que esta

dava a conhecer o seu nome, enquanto as restantes mencionavam algumas características. Os

animais marinhos mencionados foram:

“Espadarte” (GC) – “Tem o nariz comprido” (GO); “É para apanhar os peixes” (Vi)

(após ter aberto a aba);

“Baleia” (MQ e S) (acrescentei que aquela era a Baleia-Corcunda) – “Está a atirar

água” (B); “A Baleia respira pelo seu buraco (J)” [acrescentei que esse buraco era

designado por espiráculo]; “Por baixo tem riscas” (Ra); “Em cima é azul… em baixo é

branca” (MQ).

“Tubarão” (Todos) – “Tem os dentes afiados” (S); “Em baixo é branco” (GC); “Olha o

nariz” (B).

“Golfinhos” (Todos) – “Tem a mãe e o filho” (por, na imagem, estar um mais

pequeno do que o outro) (S); “Estão a brincar” (B).

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“Cachalote” (GC) – “Não é, é uma Baleia” (S); “Não é uma Baleia, é um Cachalote”

(GC); [esclareci que era realmente um cachalote e comparei-o com a baleia]; “É grande”

(R); “Está ali o olho (apontando)” (MB). Depois de terem sentido os dentes deste animal

que está representado na capa disseram: “São pequeninos” (GO); “São duros” (Vi);

“Tem muitos dentes pequeninos” (MQ).

Medusa – “Se tocares nos fios ela dá choque” (MB); “E dói muito” (GC).

”Morsa” (GC) -- “Tem os dentes grandes” (S); “Vive no gelo” (B).

- Durante o momento da partilha de experiências e descobertas foi muito gratificante perceber a

vontade que as crianças tinham de contar ao outro grupo. Durante este momento todas as

crianças tiverem voz ativa, sendo que se mostraram verdadeiramente interessados, resultando

em momentos de troca de ideias.

Contratempos

(problemas, dificuldades, inseguranças, dúvidas…)

- Receava que as crianças não partilhassem as suas descobertas, mas estas até as relacionaram

entre os dois grupos quando falaram da morsa pois esta vive em zonas de gelo. Considero que

esta resultou muito bem e, que foi uma motivação para as crianças.

- Para mim é muito complicado tirar notas pois a dinâmica é muito rápida e não quero quebrar o

ritmo das crianças.

Evoluções, Aprendizagens profissionais

(tomadas de decisão, planos, (re)formulações, reflexões, novos conhecimentos,

mudanças…)

- O trabalho em grupos pode ser facilitador pois permite um maior controlo do mesmo e

promove um diálogo mais compreensível entre as crianças, isto é, estas conseguem partilhar

mais ordeiramente as suas ideias sem se sobreporem tanto.

Expressões e Sentimento(s) do dia

Contente porque tinha receio que a partilha de ideias não fosse muito rica e significativa para as

crianças do outro grupo, mas revelou-se o oposto.

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Anexo 2 – Diário de Bordo de 07/12/2016

Data: 07/12/2016

Experiência/atividade/situação: Experiência “Como fazer neve?”; Música “Vai nevar, vai nevar”

Pontos de interesse

(novidades, imprevistos,…)

- Após ter procedido à distribuição das fraldas, as crianças disseram que “as fraldas são para

pôr nos bebés”. Comecei a dar instruções para o desenvolvimento da atividade, devido a estes

apenas associarem as fraldas aos bebés, sendo que o recorte da fralda foi mais complexo para

as crianças devido à grossura das fraldas e pela qualidade das tesouras. Nem todas as crianças

conseguiram recortar a fralda sem ajuda, contudo, as que conseguiram sentiram-se muito

orgulhosas. Após agitarem os sacos com a fralda recortada em pedaços, o An destacou a

presença do algodão, e disse que faltava colocar a água. Eu questionei o que é que estava a

ficar no fundo do saco e as hipóteses eram “sal” (GC), “açúcar” (G), “algodão doce” (MQ). As

crianças com a minha ajuda, devido às características do pó, depositaram-no no interior do

recipiente e, posteriormente, uma destas colocou água (Be) enquanto o Go mexia. Após a

mistura se ter assemelhado à neve, as crianças caracterizaram-na como sendo, “fria” (Ra),

“molhada” (GC), “fofinha” (An) e “branca” (MB).

- A M.Q. relembrou os colegas que tínhamos de voltar à cozinha para ver o resultado da

experiência. Assim o fizemos, sendo que a AJ e o Du transportaram os recipientes até à sala.

Quando chegamos à sala a M.Q. e o Va abriram os recipientes e perceberam que o recipiente 2

não tinha congelado, apesar de a água estar muito fria. Por outro lado puderam ver o gelo do

recipiente 1 a descongelar, sendo que se aperceberam da existência de água no estado líquido

no recipiente do gelo.

Contratempos

(problemas, dificuldades, inseguranças, dúvidas…)

Devido à qualidade das tesouras da sala o recorte das fraldas foi mais complicado e, por

conseguinte, mais demorado.

Evoluções, Aprendizagens profissionais

(tomadas de decisão, planos, (re)formulações, reflexões, novos conhecimentos,

mudanças…)

Nem sempre as crianças compreendem as atividades tal como as pensamos, sendo que nestas

situações devemos tentar orientar as crianças, bem como, perceber as suas ideias. Com isto, a

atividade deve ser desenvolvida da melhor maneira para que seja significativa, mas também se

deve refletir sobre uma das características da planificação ser a flexibilidade.

Expressões e Sentimento(s) do dia

Feliz.

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Anexo 3 – Reflexão Semanal de 05/12/2016 a 09/12/2016

Ao longo do desenvolvimento do projeto tem sido cada vez mais percetível a evolução

das crianças no que diz respeito à mobilização e, consequente, utilização de termos que,

gradualmente vão sendo introduzidos no discurso diário para com estes. Este aspeto,

conjuntamente com a reflexão que regularmente as crianças vão desenvolvendo através da

colocação de hipóteses de atividades passíveis de serem desenvolvidas com recurso aos

materiais fornecidos diariamente no baú pela Gota-gotinha, têm contribuído significativamente

para o desenvolvimento da literacia científica das crianças. Uma das características intrínsecas

às ciências baseia-se na sua ligação à argumentação, na medida em que

as crianças necessitam de ser confrontadas com situações educativas que lhes

permitam aprender a formular e a investigar problemas, a obter dados e a

representá-los, organizá-los e analisá-los tendo em vista a construção e a

fundamentação de linhas de raciocínio e de argumentação (Reis, 2008, p. 16).

Numa das atividades desenvolvida esta semana, em que os materiais que a Gota-gotinha

lhes fornecia consistiam em dois recipientes, sal e uma garrafa com água possibilitou que o X

definisse a atividade que iriamos desenvolver como “uma experiência”. É de salientar que o sal

foi facilmente identificado pelas crianças, sendo que uma das crianças (a MQ) o comparou com

“cristais”. Quando lhes foi questionado em que se iria basear a experiência, algumas das

crianças começaram, de imediato, a dar sugestões, sendo que o An disse “temos de colocar

água num recipiente e depois deitar o sal no outro. Depois colocamos o sal dentro da água”.

Como considero fundamental que se valorizem as ideias das crianças, incentivei de imediato a

criança a experimentar e colocar em prática as suas ideias. Desta forma, através da junção da

água com o sal proporcionou-se um momento em que a criança pode prever e expor as suas

conceções acerca do que considerava que iria ocorrer, observando e experienciado, de seguida,

por forma a esclarecer os resultados (Silva, Marques, Mata, & Rosa, 2016). Com isto, algumas

das crianças consideraram que o sal se estava a “partir”, sendo que, através destas

considerações foi possível acrescentar a noção de “dissolver”.

Durante a realização de uma atividade experimental foi interessante perceber que as

próprias crianças se corrigem e dão instruções umas às outras, nomeadamente numa situação

em que, quando as crianças definiram que necessitavam de um copo para medir a quantidade

de água e a AJ o foi buscar à área das ciências. Assim que o X se apercebeu de que a AJ trazia

outro objeto, identificou-o, dizendo, “Isso é um funil. Tens de ir buscar um copo para medir”, ao

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que foi acrescentado “sim, tens de ir buscar um copo graduado”. Por conseguinte, a criança

recomeçou a sua procura, sendo que as crianças procederam à sua orientação espacial,

dizendo, “Está perto do globo”. Apenas durante esta situação foi possível verificar que as

crianças já identificam e mobilizam os termos técnicos e científicos: funil, copo para medir (copo

graduado) e, ainda globo.

Em jeito de conclusão, pode afirmar-se que a literacia científica se vai promovendo

gradualmente através da experimentação e desenvolvimento de diversas propostas e recursos,

sendo que quanto mais rico for o ambiente em que a criança está inserida, mais benefícios este

apresentará para o desenvolvimento integral das crianças.

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Anexo 4 – Diário de Bordo de 28/04/2017

Data: 28/04/2017

Experiência/atividade/situação: Importância do Dia internacional da Terra; Influência dos

desejos/vontades no nosso planeta; Tipos de poluição; As causas e as consequências da

poluição dos solos; Ficha sobre medidas de comprimento.

Pontos de interesse

(novidades, imprevistos,…)

- A turma associou que o dia internacional da Terra foi definido por algum senhor que, por estar

descontente com a de detioração do nosso planeta resolveu estabelecer um dia onde não se

pudesse poluir. A verdade é que consegui interligar isto com a verdadeira conceção deste dia,

relacionando com as suas conceções.

- De 24 alunos presentes na sala, apenas 2 (Jo e Af) alunos não consideravam que os seus

desejos/vontades prejudicavam o planeta.

- Na definição dos tipos de poluição, os alunos puderam relacionar com as suas pesquisas,

sendo que dada a minha análise prévia das mesmas já sabia expressamente quais os tipos de

poluição que os alunos iriam enunciar, bem como, as informações que cada aluno detinha

acerca do assunto.

- Como pretendia aprofundar a poluição dos solos foi possível relembrar, conjuntamente com os

alunos, alguns conceitos que a professora tinha desenvolvido no dia anterior.

- As causas e as consequências puderem ser relacionadas com as conceções dos alunos, com

as suas pesquisas, bem como com algumas das suas experiências de vida. Alguns destes

relembraram e puderam dar significado aos adubos manufaturados (de cor azul), tal como, aos

adubos biológicos, na medida em que já observaram alguns parentes a utilizá-los.

- Nas fichas sobre as medidas de comprimento os alunos demonstraram algumas dificuldades

nas conversões no caso dos cálculos, em oposição à facilidade que demonstram ao fazerem a

conversão nas questões onde só é necessário fazerem as conversões.

Contratempos

(problemas, dificuldades, inseguranças, dúvidas…)

- A ficha sobre medidas de comprimento não pode ser realizada na sua totalidade durante a

manhã devido à realização da rádio escola que acaba por limitar um pouco do tempo, mas que,

por outro lado, fomenta a participação dos alunos nas propostas da comunidade educativa.

Evoluções, Aprendizagens profissionais

(tomadas de decisão, planos, (re)formulações, reflexões, novos conhecimentos,

mudanças…)

- Em termos percentuais é muito bom que apenas 2 dos 24 alunos presentes na sala

considerassem que os seus desejos/vontades influenciam negativamente o nosso planeta, na

medida em que demonstra que a maioria dos alunos compreendeu, através das suas pesquisas

que pequenas atitudes nossas acabam por influenciar o nosso planeta. Assim, será mais fácil

fazê-los perceber que por muito pouco que cada um faça, se tornará essencial para preservar o

nosso planeta.

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- A atitude dos alunos quando oriento as aulas modifica-se, sendo que revelam um entusiasmo

adicional pela exploração das suas pesquisas e na abordagem a temas do seu interesse. Até o Ti

que é um aluno com dificuldades de concentração se demonstra atento e motivado, dando-me

vontade de melhorar cada vez mais por forma a proporcionar-lhes sempre o melhor e o mais

adequado.

Expressões e Sentimento(s) do dia

- Entusiasmo.

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Anexo 5 – Tarefa de medidas de comprimento

Nome: _______________________________________________ Data: ___________

1 – Completa a tabela fazendo a respetiva conversão das medidas de comprimento.

4 km = 4000 m 2,3 hm = ____ km 9,32 km = ____ m

18 m = ____ dm 0,45 dam = ____ m 8,6 dm = ____ mm

270 cm = ____ dam 645 mm = ____ dm 0,24 m = ____ cm

2 – Calcula:

a) 2,4 km + 350 m = _______ m + _______ m = _______ m

b) 3,7 hm + 0,78 dam = _______ m + _______ m = _______ m

c) 17 dm + 535 cm = _______ m + _______ m = _______ m

d) 37 dam + 44 m = _______ m + _______ m = _______ m

e) 75,4 hm + 75 dam = _______ m + _______ m = _______ m

f) 3580 cm + 33,5 m = _______ m + _______ m = _______ m

3 – Ordena por ordem crescente as seguintes medidas de comprimento: 0,56 cm; 47 mm;

273,2 dm; 9,4 m.

______ ______ ______ ______

4 – O senhor José tem um quintal fértil com 2,4 dam de comprimento.

4.1 - Sabendo que o senhor José quer plantar pessegueiros e que entre eles tem de

deixar 3 m de distância, quantos pessegueiros conseguirá o senhor José plantar?

R: ____________________________________________________________________

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4.2 - O senhor José quer plantar feijões na sua horta e precisa de cordas para segurar

as plantas às estacas. A corda que comprou tem 45 m de comprimento e ela tem de cortá-la em

5 pedaços do mesmo tamanho. Quantos centímetros deve medir cada pedaço?

R: ____________________________________________________________________

5 – A Francisca foi visitar o seu primo Alberto, percorrendo 250 m e depois passou pela quinta

do senhor José percorrendo mais 35 m. Para apanhar as saborosas maçãs teve de andar mais

0,7 dam. Sabendo que a Francisca tem de voltar a passar pela casa do seu primo para

regressar a casa, quantos metros percorreu na totalidade?

R: ____________________________________________________________________

Desafio:

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Cria um problema onde seja necessário fazer a conversão da unidade de medida de

comprimento com os seguintes dados:

R: ____________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Distância da Escola à Sé de

Braga

1400 m

1,8 km

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Anexo 6 – Cartazes de sensibilização

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Anexo 7 – Diário de Bordo de 13/06/2017

Data: 13/06/2017

Experiência/atividade/situação: Hora da Mudança - Elaboração da notícia para a rádio

escola; Elaboração de um cartaz para sensibilizar para a poluição dos solos.

Pontos de interesse

(novidades, imprevistos,…)

- Na elaboração da notícia os alunos demonstraram preocupação por respeitar a estrutura da

mesma, dando resposta às questões “Quem?”, “O quê?”, “Quando?” e “Onde?” para a abertura

da notícia e às questões “Como?” e “Porquê?” para o corpo da notícia. Desta forma, surgiu a

seguinte notícia:

“Um simples gesto para melhorar o ambiente

Os alunos do 3ºB investigaram sobre a poluição e descobriram que existe poluição dos solos na

escola. Esta poluição acontece, pois, alguns meninos desta escola não sabem o que é a poluição

dos solos, por isso, vamos passar a explicar. A poluição dos solos acontece quando os alunos

deitam lixo para o chão durante o recreio.

Todos nós podemos contribuir com um simples gesto para melhorar o ambiente, por isso, não

deites lixo para o chão.

Vamos ter uma escola preocupada com o ambiente.

Contamos contigo!”

Esta notícia foi lida no próprio dia pela Ha na rádio escola, salientando-se a eleição democrática

pelo restante grupo de alunos.

- Na elaboração dos cartazes foi possível verificar, mais uma vez, a potencialidade dos trabalhos

de grupo na medida em que: houve um equilíbrio na divisão de tarefas; recorreram ao

computador para pesquisarem imagens que pretendiam reproduzir; realizaram cartazes muito

distintos, destacando-se a inovação; e, por fim, destacam-se as mensagens motivadoras para

que se recicle.

Contratempos

(problemas, dificuldades, inseguranças, dúvidas…)

- Não existiu nenhum contratempo.

Evoluções, Aprendizagens profissionais

(tomadas de decisão, planos, (re)formulações, reflexões, novos conhecimentos,

mudanças…)

- O desenvolvimento de trabalhos de grupo contribui significativamente para que haja um

ambiente cooperativo entre os alunos, na medida em que estas interações potenciam as

expressões afetivas e de confiança.

Expressões e Sentimento(s) do dia

- Entusiasmo.

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Anexo 8 – Diário de Bordo de 21/06/2017

Data: 21/06/2017

Experiência/atividade/situação: Reciclar, reciclar; Apresentação das maquetes;

Apresentação dos cartazes

Pontos de interesse

(novidades, imprevistos,…)

- Na identificação dos diferentes ecopontos, os alunos não nomearam o oleão pois

desconheciam a existência de um ecoponto específico para depositar o óleo utilizado para os

fritos. Contudo, depois associaram o recipiente que se encontra na entrada do recinto escolar

que tem o intuito de depositar os óleos usados.

- Na simulação da reciclagem percebi a dificuldade de alguns alunos na separação dos

recipientes quando a tampa é de metal, por exemplo, e o resto de vidro pelo que esta dificuldade

só foi verdadeiramente sentida devido à colocação em prática.

- A identificação dos alunos do local onde iriam depositar o lixo do seu lanche permitiu que cada

um praticasse de modo real e não fosse uma simples simulação tal como foi realizado

anteriormente. Assim cada aluno ficou com a responsabilidade sobre o local onde iria depositar

o seu lixo.

- No que concerne à identificação das vantagens da reciclagem os alunos perceberam, de

imediato, que o importa realmente é a proteção do nosso ambiente pois só assim é que o ser

humano poderá fomentar um desenvolvimento sustentável.

- Na apresentação das maquetes foi lindo, não há outra palavra, verificar as aprendizagens que

os alunos desenvolveram, bem como, verificar a motivação que o nosso projeto lhes transmitiu.

Saliento a preocupação dos alunos na utilização de materiais reciclados, assim como, na

exposição de todas as pessoas que contribuíram para a elaboração dos mesmos.

- Na escrita do texto narrativo baseado nalguma história tradicional onde procurasse sensibilizar

para a reciclagem foi interessante perceber a diversidade de histórias que foram selecionadas e

o facto deste trabalho ter sido realizado em pares levou a uma motivação acrescida.

- Na entoação da música “reciclar, reciclar” os alunos compreenderam toda a letra e num

instante percecionaram e reproduziram o seu ritmo. Ouvir “a música é muito bonita” leva-nos a

sentir que fizemos uma escolha acertada.

Contratempos

(problemas, dificuldades, inseguranças, dúvidas…)

- Não existiu nenhum contratempo.

Evoluções, Aprendizagens profissionais

(tomadas de decisão, planos, (re)formulações, reflexões, novos conhecimentos,

mudanças…)

- Considerando que a aprendizagem é mais significativa quando implica a participação ativa do

aluno tornava-se fundamental que os alunos experimentassem a reciclagem de modo a sentirem

as dificuldades que sentem no seu dia-a-dia quando tentam proceder à separação dos lixos de

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acordo com os diferentes ecopontos que existem.

- Dado o entusiasmo que se gerou em volta da música resolvi desafiar os alunos a realizarem

uma coreografia para apresentarem à turma, integrando assim, a dança que é tão enriquecedora

para todos os alunos.

Expressões e Sentimento(s) do dia

- Entusiasmo e curiosidade.