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GLÁUCIA GLEICE MACIEL SANTOS “ANÁLISE SISTEMÁTICA DE VIGAS-PAREDE BIAPOIADAS DE CONCRETO ARMADO” Dissertação apresentada ao Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências de Engenharia Civil - Estruturas Orientadores: Prof. Khosrow Ghavami Prof. a Marta de S. L. Velasco Departamento de Engenharia Civil Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 03 de Março de 1999.

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  • GLÁUCIA GLEICE MACIEL SANTOS

    “ANÁLISE SISTEMÁTICA DE VIGAS-PAREDE BIAPOIADAS DE CONCRETO ARMADO”

    Dissertação apresentada aoDepartamento de EngenhariaCivil da PUC-Rio como partedos requisitos para obtenção

    do título de Mestre em Ciênciasde Engenharia Civil - Estruturas

    Orientadores:Prof. Khosrow GhavamiProf.a Marta de S. L. Velasco

    Departamento de Engenharia Civil

    Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

    Rio de Janeiro, 03 de Março de 1999.

  • A Deus

    Aos meus pais

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Khosrow Ghavami pela orientação e sugestões dadas;

    À Profa. Marta Velasco pela orientação, conselhos e apoio dados;

    Ao meu amigo e colega de sala Zenon José Gusmán Nunes del Prado pelas longas conversas, a

    boa convivência e a ajuda na utilização do Grapher;

    À Sylvia, pela convivência nos últimos meses, conselhos e ajuda na utilização do Mathcad;

    À Ângela e à Karina, pela amizade consolidada neste último ano;

    A todos os amigos e colegas que, de alguma maneira, contribuíram para a realização deste

    trabalho.

  • ABSTRACT

    The major codes that contain recommendations and discussions concerning the design

    of deep beams, including the ACI Building Code 318-95, the Canadian Code CAN-A23.3-

    M84, the CEB-FIP Model Code and the CIRIA Guide 2, present design methods that do not

    cover adequately the dimensioning of this type of beams. Nevertheless, some other codes

    don’t give any special recommendation. The Brazilian Code (NBR 6118), for instance, just

    explains that this type of beams should be calculated as a plate in elastic range. Another

    example is the current British Code BS 8110, which explicitly states that “for design of deep

    beams, reference should be made to specialist literature”.

    Because of reasons as those mentioned above, obtaining a rational method not only

    based on a clear mechanism of failure but taking into account the main parameters that have

    influence on the ultimate strength of deep beams, has been the purpose of several researchers

    in the whole world in the last two decades.

    In this work, some methods for the design of simply supported reinforced concrete

    deep beams are presented, examined and commented upon. These methods are applied to a

    total of 37 beams tested in the Laboratory of Structures and Materials (L.E.M) of PUC-Rio,

    since 1979, and to some beams reported in the literature, in order to yield a method which can

    predict results of ultimate load closer to those ones obtained experimentally. The future aim is

    to achieve recommendations that could be proposed to the Brazilian Code.

    The tests of the 37 beams just referred are included in theoretical-experimental

    research done by Guimarães (1980), Vasconcelos (1982) and Velasco (1984), which took place

    in PUC-Rio, orientated by Professor Khosrow Ghavami. Several concluding remarks were

    obtained in each Master Thesis, apart from one another, but there wasn’t any work that

    compared these results. The present work is also intended to provide some comparative

    information regarding the 37 deep beams mentioned above, with the support given by the

    current literature.

  • RESUMO

    As principais recomendações para o dimensionamento de vigas-parede, como o ACI

    318-95, o CEB-FIP, a Norma Canadense CAN-A23.3-M84 e o Guia 2 da CIRIA, apresentam

    métodos de cálculo que não cobrem satisfatoriamente o projeto de tais vigas. Outras normas,

    ainda, não trazem nenhuma indicação especial de dimensionamento. A própria Norma

    Brasileira, a NBR 6118, por exemplo, declara apenas que vigas desse tipo devem ser

    calculadas como chapas no regime elástico. O Código Britânico corrente BS 8110

    explicitamente comenta que “para o projeto de vigas-parede, referência deve ser feita à

    literatura especializada”.

    Por razões como as citadas acima, a obtenção de um método racional, baseado em um

    claro mecanismo de ruptura e que leve em conta os principais parâmetros que influenciam a

    resistência última das vigas-parede tem sido o objetivo de vários pesquisadores de todo o

    mundo nas duas últimas décadas.

    Neste trabalho são apresentados, comentados e analisados vários métodos de

    dimensionamento de vigas-parede biapoiadas de concreto armado. Os métodos de cálculo são

    aplicados ao total de trinta e sete vigas ensaiadas no Laboratório de Estruturas e Materiais

    (L.E.M) da PUC-Rio, desde 1979, e a algumas vigas descritas na literatura, visando a

    obtenção de um método que gere resultados de carga última os mais próximos possíveis dos

    obtidos experimentalmente, e tendo como objetivo futuro a obtenção de recomendações que

    possam ser propostas para a Norma Brasileira.

    Os ensaios das trinta e sete vigas, no total, referenciadas acima, fazem parte de

    pesquisas teórico-experimentais realizadas na PUC-Rio por Guimarães (1980), Vasconcelos

    (1982) e Velasco (1984), sob a orientação do Prof. K. Ghavami. Várias conclusões foram

    obtidas em cada uma dessas dissertações de mestrado, separadamente, mas nenhum estudo

    havia sido feito no sentido de comparar os resultados encontrados. O presente trabalho

    também tem como objetivo obter informações comparativas relacionadas às 37 vigas citadas,

    com o respaldo da literatura atualizada.

  • III

    SUMÁRIO

    LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... VIII

    LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... XII

    LISTA DE SÍMBOLOS .................................................................................................. XIV

    TABELA DE CONVERSÃO DE UNIDADES ................................................................ XXI

    CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ....................................................................................... 01

    1.1 - Considerações gerais ....................................................................................... 01

    1.2 - Objetivos e relevância da pesquisa ................................................................... 03

    CAPÍTULO II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................. 05

    2.1 - Introdução ....................................................................................................... 05

    2.2 - Considerações gerais ....................................................................................... 06

    2.3 - Considerações sobre a relação "/h .................................................................... 09

    2.4 - Mecanismos de ruptura .................................................................................... 10

    2.5 - Resistência à flexão ......................................................................................... 17

    2.6 - Resistência ao cisalhamento ............................................................................. 18

  • IV

    2.6.1 - Parâmetros considerados ................................................................... 20

    2.6.1.1 - a/h x τ max cf' ..................................................................... 20

    2.6.1.2 - wl x τ max cf' ...................................................................... 20

    2.6.1.3 - wt x τ max cf' ...................................................................... 21

    2.7 - Influência da armadura de alma ........................................................................ 22

    2.8 - Influência da espessura de alma ........................................................................ 24

    2.9 - Influência da rigidez dos apoios ....................................................................... 28

    2.10 - Influência da posição do carregamento ........................................................... 31

    2.11 - Influência de abertura na alma ........................................................................ 36

    2.12 - Modelos de bielas e tirantes ........................................................................... 39

    2.13 - Métodos de dimensionamento de vigas-parede ............................................... 46

    2.13.1 - Método apresentado no Boletim no 150 do CEB .............................. 47

    2.13.2 - Método da Analogia da Treliça ........................................................ 48

    2.13.3 - Fórmula de Kong ............................................................................ 48

    2.13.4 - Método apresentado no Guia 2 da CIRIA ........................................ 48

    2.13.5 - Recomendações do CEB-FIP (1978) .............................................. 51

    2.13.6 - Método apresentado pelo Código Canadense CAN3-A23.3-M84 .... 52

    2.13.6.1 - Proposta e idéia ................................................................ 52

    2.13.6.2 - Condições apresentadas pelo código ................................ 52

    2.13.7 - Recomendações do ACI 318-95 ...................................................... 55

    2.13.8 - Método do Caminho da Força Compressiva .................................... 57

    2.13.8.1 - Proposta e idéia ................................................................ 57

    2.13.8.2 - Modelagem da viga-parede ............................................... 58

  • V

    2.13.8.3 - Método de projeto ............................................................ 59

    2.13.9 - Método de Análise para Vigas-parede Biapoiadas segundo Subedi ... 60

    2.13.9.1 - Proposta e idéia ............................................................... 60

    2.13.9.2 - Descrição .......................................................................... 61

    2.13.10 - Método do Modelo de Treliça com Amolecimento ....................... 65

    2.13.10.1 - Proposta e idéia .............................................................. 65

    2.13.10.2 - Fórmula para cálculo da resistência ao cisalhamento ....... 67

    2.13.11 - Método do Modelo de Bielas e Tirantes Refinado .......................... 68

    2.13.11.1 - Proposta e idéia ............................................................... 68

    2.13.11.2 - Descrição ........................................................................ 69

    CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO DAS 37 VIGAS-PAREDE CONSIDERADAS .... 71

    3.1 - Notação das vigas ............................................................................................ 72

    3.2 - Propriedades dos materiais, geometria e armadura ........................................... 75

    3.2.1 - Vigas ensaiadas por Guimarães, G. B. (1980) .................................... 75

    3.2.2 - Vigas ensaiadas por Vasconcelos, J. R. G. (1982) .............................. 75

    3.2.3 - Vigas ensaiadas por Velasco, M. S. L. (1984) .................................... 76

    3.3 - Informações comparativas .............................................................................. 80

    CAPÍTULO IV - RESULTADOS ..................................................................................... 85

  • VI

    4.1 - Guia 2 da CIRIA ............................................................................................. 85

    4.2 - CEB-FIP (1978) .............................................................................................. 85

    4.3 - CAN3-A23.3-M84 .......................................................................................... 86

    4.4 - ACI 318-95 ..................................................................................................... 87

    4.5 - Método do Caminho da Força Compressiva ..................................................... 88

    4.6 - Método de Análise para Vigas-parede Biapoiadas segundo Subedi .................. 89

    4.7 - Método do Modelo de Treliça com Amolecimento ........................................... 90

    4.8 - Método do Modelo de Bielas e Tirantes Refinado .......................................... 93

    CAPÍTULO V - COMENTÁRIOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................... 96

    5.1 - Guia 2 da CIRIA ............................................................................................. 96

    5.2 - CEB-FIP (1978) .............................................................................................. 99

    5.3 - CAN3-A23.3-M84 ........................................................................................ 102

    5.4 - ACI 318-95 ................................................................................................... 104

    5.5 - Método do Caminho da Força Compressiva ................................................... 106

    5.6 - Método de Análise para Vigas-parede Biapoiadas segundo Subedi ................. 109

    5.7 - Método do Modelo de Treliça com Amolecimento ......................................... 111

    5.8 - Método do Modelo de Bielas e Tirantes Refinado .......................................... 115

    CAPÍTULO VI - ANÁLISE DE VIGAS APRESENTADAS NA LITERATURA ........ 120

    6.1 - Propriedades dos materiais, geometria e armadura das vigas .......................... 121

  • VII

    6.1.1 - Vigas ensaiadas por Kong et al. ....................................................... 121

    6.1.2 - Vigas ensaiadas por Smith e Vantsiotis ............................................. 122

    6.1.3 - Vigas testadas por de Paiva e Siess .................................................. 122

    6.2 - Resultados de carga última, comparação e comentários .................................. 126

    6.2.1 - Código Canadense CAN3-A23.3-M84 ............................................ 126

    6.2.2 - Método de Análise para Vigas-parede Biapoiadas segundo Subedi ... 130

    6.2.3 - Método do Modelo de Treliça com Amolecimento .......................... 133

    6.2.4 - Método do Modelo de Bielas e Tirantes Refinado ............................ 135

    CAPÍTULO VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES ................................ 139

    7.1 - Conclusões .................................................................................................... 139

    7.2 - Sugestões ...................................................................................................... 141

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 143

  • VIII

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Distribuição de tensão em vigas de tramo único ............................................ 08

    Figura 2.2 Ilustração da ruptura por flexão .................................................................... 12

    Figura 2.3 Mecanismo de ruptura e deformação aproximada de uma viga-parede

    biengastada rompendo por cisalhamento ...................................................... 13

    Figura 2.4 Ilustração da ruptura por fendilhamento ou tração diagonal para uma viga-

    parede biapoiada ........................................................................................... 14

    Figura 2.5 Ilustração da ruptura por compressão diagonal para uma viga-parede biapoiada

    ..................................................................................................................... 14

    Figura 2.6 Mecanismo de ruptura de flexão-cisalhamento para uma viga-parede biapoiada

    ..................................................................................................................... 15

    Figura 2.7 Mecanismo de ruptura e deformação aproximada de uma viga-parede

    biengastada rompendo por flexão-cisalhamento ........................................... 16

    Figura 2.8 Viga-parede biapoiada sob mecanismo de ruptura local ................................. 17

    Figura 2.9 Modo de ruptura local para uma viga-parede biengastada ............................. 17

    Figura 2.10 Efeito da relação a/h na resistência ao cisalhamento ...................................... 20

    Figura 2.11 Efeito da taxa mecânica de armadura longitudinal na resistência ao cisalhamento

    ..................................................................................................................... 21

    Figura 2.12 Efeito da taxa mecânica de armadura transversal na resistência ao cisalhamento

    ..................................................................................................................... 22

    Figura 2.13 Seqüência típica na qual as fissuras aparecem em vigas-parede esbeltas

  • IX

    carregadas no bordo superior ....................................................................... 26

    Figura 2.14 Representação da fissura diagonal crítica: linha pontilhada para vigas-parede

    espessas; linhas cheia e tracejada de corte para vigas-parede esbeltas ............ 27

    Figura 2.15 Seção transversal da viga, com a definição das excentricidades e1 e e2 ........ 27

    Figura 2.16 Viga-parede rompendo por flambagem (viga C-29-0.1; Kong et al.,1986) ..... 27

    Figura 2.17 Exemplos de vigas-parede com extremidades engastadas (Subedi, 1994) ...... 29

    Figura 2.18 Detalhes das vigas testadas por Schütt (Cusens, 1990) .................................. 29

    Figura 2.19 Isostáticas e distribuição das tensões σ y , σ x e τ xy em vigas-parede com

    " /h = 1.0, com e sem enrijecimento dos apoios (Leonhardt e Mönning, 1979)

    ..................................................................................................................... 30

    Figura 2.20 Dimensões e detalhes de armadura das vigas-parede de pequena espessura

    testadas por Besser (1983) e Cusens e Besser (1985) ................................... 32

    Figura 2.21 Efeito da armadura vertical sobre o espaçamento médio das fissuras sob

    carregamento na base (L2 ) ........................................................................... 33

    Figura 2.22 Desenvolvimento da abertura de fissura para vigas carregadas no topo (L1) ..34

    Figura 2.23 Desenvolvimento da abertura de fissura para vigas carregadas na base (L2 ).. 35

    Figura 2.24 Desenvolvimento de abertura de fissura para vigas carregadas igualmente no

    topo e na base (L3 ) ...................................................................................... 35

    Figura 2.25 Trajetória de tensões para uma viga-parede com abertura de alma

    (modeloM 4 (Haque et al., 1986)) ................................................................. 37

    Figura 2.26 Modelos de fissuração na ruptura ................................................................. 38

  • X

    Figura 2.27 Exemplo de aplicação do processo do caminho de carga em uma viga-parede ...

    ......................................................................................................................42

    Figura 2.28 Viga-parede sob carregamento uniformemente distribuído no bordo superior .

    ..................................................................................................................... 43

    Figura 2.29 Modelos para vigas-parede sob ação de carregamento uniformemente

    distribuído no bordo superior ....................................................................... 44

    Figura 2.30 Viga-parede submetida à ação de uma força concentrada .............................. 44

    Figura 2.31 Distribuição de tensões horizontais no meio do vão, para força concentrada . 45

    Figura 2.32 Modelos para vigas-parede com " /h ≥ 1.0 .................................................... 45

    Figura 2.33 Modelos para vigas-parede com " /h < 1.0 ................................................... 46

    Figura 2.34 Definição dos parâmetros da Equação (2.4) .................................................. 50

    Figura 2.35 Modelo de bielas e tirantes para uma viga-parede ......................................... 54

    Figura 2.36 Modelo para uma viga-parede sob a ação de uma carga concentrada e duas

    cargas concentradas e/ou carregamento uniforme ......................................... 58

    Figura 2.37 Procedimento para dimensionamento de uma viga-parede ............................ 60

    Figura 2.38 Análise de uma viga-parede: equilíbrio de forças ........................................... 63

    Figura 2.39 Definição de símbolos e do elemento de cisalhamento ................................... 66

    Figura 2.40 Condições de tensões no elemento de cisalhamento ...................................... 66

    Figura 2.41 Modelo convencional de bielas e tirantes para uma viga-parede sob a atuação

    de carregamento concentrado no bordo superior .......................................... 70

    Figura 2.42 Modelo de bielas e tirantes refinado para uma viga-parede sob a atuação de

    duas cargas concentradas no bordo superior ....................................... 70

    Figura 3.1 Dimensões das vigas testadas notações .................................................. 73

    Figura 3.2 Tipos comuns de fissura ............................................................................... 84

  • XI

    Figura 4.1 Gráfico P

    PU CEB

    U TESTE

    ( )

    ( )

    78 x PU TESTE( ) ........................................................ 86

    Figura 4.2 Gráfico P

    PU CAN

    U TESTE

    ( )

    ( )

    84 x PU TESTE( ) ........................................................ 87

    Figura 4.3 Gráfico P

    PU ACI

    U TESTE

    ( )

    ( )

    95 x PU TESTE( ) ........................................................ 88

    Figura 4.4 Gráfico P

    PU CFC

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) .......................................................... 89

    Figura 4.5 Gráfico P

    PU AVPB

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) ......................................................... 90

    Figura 4.6 Gráfico P

    PU MTA

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) .......................................................... 92

    Figura 4.7 Gráfico P

    PU MBTR

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) ........................................................ 93

    Figura 6.1 Gráfico P

    PU CAN

    U TESTE

    ( )

    ( )

    84 x PU TESTE( ) ...................................................... 127

    Figura 6.2 Gráfico P

    PU AVPB

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) ....................................................... 131

    Figura 6.3 Gráfico P

    PU MTA

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) ........................................................ 134

    Figura 6.4 Gráfico P

    PU MBTR

    U TESTE

    ( )

    ( ) x PU TESTE( ) ...................................................... 136

    Figura 6.5 Gráfico da razão PU(TESTE)/PU(MBTR) x a/h ................................................... 138

  • XII

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1.1 Limites superiores da relação "/h, " 0 /h ou " 0 /d para as vigas-parede segundo

    diversas normas ..................................................................................... ...... 02

    Tabela 2.1 Efeito da armadura transversal para pequenas razões de a/h .......................... 23

    Tabela 2.2 Notação, espaçamento e taxa da armadura vertical das vigas ensaiadas ......... 31

    Tabela 2.3 Cinco combinações de carregamento utilizadas ............................................. 31

    Tabela 2.4 Critério para teste de controle da resistência de alma .................................... 63

    Tabela 2.5 Critério para teste do modo de ruptura: flexão-cisalhamento ou fendilhamento

    diagonal (cisalhamento) ................................................................................ 63

    Tabela 2.6 Apresentação das quatro situações possíveis de contribuição dos diversos

    parâmetros na carga última ........................................................................... 64

    Tabela 3.1 Séries de vigas-parede de concreto armado, biapoiadas, sujeitas a carregamento

    no bordo superior, analisadas na PUC-Rio .................................................... 72

    Tabela 3.2 Dimensões das vigas de teste ....................................................................... 77

    Tabela 3.3 Características geométricas das armaduras principal e de alma ...................... 78

    Tabela 3.4 Carga última obtida experimentalmente (PU(TESTE)), comparação das cargas de

    fissuração e da carga de escoamento com a carga última, modo de ruptura para

    cada viga e características do concreto utilizado ........................................... 79

    Tabela 3.5 Características do aço ................................................................................... 80

    Tabela 4.1 Carga última determinada experimentalmente (PU(TESTE)) para cada viga e a sua

    comparação com a carga última obtida por vários métodos ........................... 94

  • XIII

    Tabela 4.2 Valores de c' CAN84, c'CFC e c" CFC e a comparação entre eles, modo de ruptura

    previsto pelo método de Análise para Vigas-parede Biapoiadas (segundo

    Subedi), para cada uma das 37 vigas consideradas ........................................ 95

    Tabela 6.1 Propriedades das 35 vigas ensaiadas por Kong et al. (1970) ....................... 123

    Tabela 6.2 Propriedades das 52 vigas ensaiadas por Smith e Vantsiotis (1982) ...... 124/125

    Tabela 6.3 Propriedades das barras da armadura .......................................................... 125

    Tabela 6.4 Propriedades das 19 vigas ensaiadas por de Paiva e Siess (1965) ................ 126

    Tabela 6.5 Comparação entre os resultados de carga última obtidos pelos diversos

    métodos e os obtidos experimentalmente para as vigas ensaiadas por

    Kong et al. (1970), Smith e Vantsiotis (1982) e de Paiva e Siess (1965) ..........

    ...................................................................................................... 128/129/130

    Tabela 6.6 Média e desvio padrão de RAVPB obtidos para as 87 vigas apresentadas na

    Tabela 6.5 que possuem valores para o mesmo........................................... 131

    Tabela 6.7 Média e desvio padrão de RMTA obtidos para as 63 vigas presentes na Tabela 6.5

    que possuem valores para o mesmo ............................................................ 134

    Tabela 6.8 Média e desvio padrão de RMBTR obtidos para as vigas apresentadas na

    Tabela 6.5 que possuem valores para o mesmo ........................................... 135

  • XIV

    LISTA DE SÍMBOLOS

    Capítulo I

    " vão teórico da viga (centro a centro dos apoios)

    " 0 vão livre da viga (face interna a face interna dos apoios)

    h altura total da viga

    d altura útil da viga

    Capítulo II

    σx tensão normal horizontal

    σy tensão normal vertical

    τxy tensão de cisalhamento

    σ1 tensão principal de tração

    σ2 tensão principal de compressão

    Rst força resultante das tensões de tração (Fig. 2.1)

    Rcc força resultante das tensões de compressão (Fig. 2.1)

    Rst1 força de tração no modelo de bielas e tirantes (Fig. 2.27)

    Rcc3 força de compressão no modelo de bielas e tirantes (Fig. 2.27)

    Rc1 força na biela horizontal no modelo de bielas e tirantes (Fig. 2.29)

    Rc2 força na biela inclinada no modelo de bielas e tirantes (Fig. 2.29)

  • XV

    Rst força no tirante no modelo de bielas e tirantes (Fig. 2.29)

    LN linha neutra

    z braço de alavanca interno da viga (distância entre as forças resultantes

    das tensões de tração e de compressão)

    z2 braço de alavanca (Fig. 2.33)

    z1 braço de alavanca (Fig. 2.33)

    he altura efetiva da viga

    b espessura da viga

    a vão de cisalhamento (distância de centro a centro da placa de aplicação

    da carga ao apoio mais próximo)

    a ' vão de cisalhamento medido do centro da placa de carregamento ao bordo do

    apoio mais próximo

    e excentricidade efetiva da carga aplicada

    e1 excentricidade da reação de apoio (Fig. 2.15)

    e2 excentricidade da carga aplicada no bordo superior (Fig. 2.15)

    q carga acidental uniformemente distribuída

    g carga permanente uniformemente distribuída

    f c' resistência cilíndrica à compressão do concreto

    f sy tensão de escoamento da armadura principal de tração

    fly tensão de escoamento do aço longitudinal

    fty tensão de escoamento do aço transversal

    τ máx tensão de cisalhamento máxima (resistência ao cisalhamento) da viga

    τ max cf' tensão de cisalhamento normalizada

  • XVI

    wl taxa mecânica de armadura longitudinal

    wt taxa mecânica de armadura transversal

    ρ l taxa geométrica de armadura longitudinal total

    ρ t taxa geométrica de armadura transversal

    ρs taxa geométrica da armadura principal de tração

    ρ w" taxa geométrica de armadura de alma longitudinal (horizontal)

    P carga aplicada

    VU(TESTE) força de cisalhamento última obtida experimentalmente

    PU carga última total

    Vc resistência nominal ao cisalhamento fornecida pelo concreto

    Vs resistência nominal ao cisalhamento fornecida pela armadura de cisalhamento

    As área da armadura principal de tração

    Es módulo de elasticidade do aço

    Ec módulo de elasticidade do concreto

    " , h, d possuem a mesma definição apresentada no Capítulo I desta Lista de Símbolos.

    Os símbolos presentes no item 2.13 estão definidos no próprio texto, pois para cada

    método de dimensionamento de vigas-parede há uma definição específica de símbolos.

    Capítulo III

  • XVII

    a vão de cisalhamento (distância de centro a centro da placa de aplicação

    da carga ao apoio mais próximo)

    x vão livre de cisalhamento

    "t vão total da viga

    "0 vão livre da viga (face interna a face interna dos apoios)

    " vão teórico da viga (centro a centro dos apoios)

    c dimensão do apoio na direção longitudinal da viga

    ba dimensão do apoio na direção transversal à viga

    b espessura da viga

    d altura útil da viga

    h altura total da viga

    φ diâmetro das barras

    As área da armadura principal de tração

    Awh área da armadura de alma horizontal

    Awv área da armadura de alma vertical

    ρsA

    bds , taxa geométrica da armadura principal de tração

    ρ hA

    bdwh

    ρvA

    bwv

    "0

    f y tensão de escoamento do aço

    f su limite de resistência do aço

    f c' resistência cilíndrica à compressão do concreto

  • XVIII

    f t resistência cilíndrica à tração por fendilhamento do concreto

    ε y deformação correspondente ao limite de escoamento do aço

    Es módulo de elasticidade do aço

    PU carga última total

    P carga total aplicada

    PU(TESTE) carga última experimental total

    Pf 1 carga correspondente ao aparecimento da primeira fissura de flexão

    (tipo ① - Fig. 3.2)

    Pf 2 carga correspondente ao aparecimento das primeiras fissuras de cisalhamento

    (tipo ② - Fig. 3.2)

    Pf 3 carga correspondente ao aparecimento das segundas fissuras de cisalhamento

    (tipo ③ - Fig. 3.2)

    Py carga de escoamento do aço

    2 C.C. duas cargas concentradas

    C.U.D. carregamento uniformemente distribuído

    F flexão

    C cisalhamento

    FC flexão-cisalhamento

    L (A) ruptura local no apoio

    L (C) ruptura local sob os pontos de aplicação de carga

    Capítulo IV

  • XIX

    VU força de cisalhamento última (PU/2)

    c’CFC largura da biela inclinada determinada pelo Método do Caminho da Força

    Compressiva

    c” CFC largura da biela inclinada que satisfaz o equilíbrio citado no item c da Fig. 2.37

    c’CAN84 largura média da biela inclinada determinada pela CAN-A23.3-M84

    Ast área da armadura longitudinal total

    Os parâmetros h, b, x, f c' e f t , além de F, C, PU , PU(TESTE) encontram-se definidos

    no Capítulo III desta Lista de Símbolos.

    Capítulo V

    PU(TESTE) carga última experimental total

    PU(PREVISTA) carga última prevista, similar à Pp

    R PU(PREVISTA) / PU(TESTE) ou Pp/ PU

    µ média aritmética

    σ desvio padrão

    Os demais símbolos estão definidos, para cada método considerado, no item 2.13.

    Capítulo VI

    As’ área da armadura principal de compressão

  • XX

    ρs’A

    bds'

    , taxa geométrica da armadura principal de compressão

    ρw taxa geométrica da armadura de alma (horizontal ou vertical)

    f sy tensão de escoamento da armadura principal de tração

    f sy' tensão de escoamento da armadura principal de compressão

    f wy tensão de escoamento da armadura de alma

    Os parâmetros ", "0, "t, h, b, d, a, x, As, ρs, ρh, ρv, f y , f c' , f t , além de PU(TESTE)

    encontram-se definidos no Capítulo III desta Lista de Símbolos.

  • XXI

    TABELA DE CONVERSÃO DE UNIDADES

    in mm in2 cm2 lb N lb/in2 N/mm2

    1 polegada

    1 milímetro

    1 polegada quadrada

    1 centímetro quadrado

    1 libra

    1 NEWTON

    1 libra por pol2

    1 NEWTON por mm2

    1

    3.937 x 10-2

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    25.4

    1

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    1

    0.155

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    6.452

    1

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    1

    0.2248

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    4.448

    1

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    1

    1.450 x 102

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    6.895 x 10-3

    1

  • CAPÍTULO I

    1. INTRODUÇÃO

    1.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

    Vigas-parede são estruturas laminares planas verticais apoiadas de modo descontínuo,

    solicitadas por carregamento atuante em seu próprio plano, para as quais não é válida a

    hipótese fundamental da teoria de flexão de Navier-Bernouilli, em virtude de apresentarem

    relações geométricas inferiores a certos limites máximos estabelecidos para "/h (vão

    teórico/altura total da viga), " 0 /h (vão livre/altura total da viga) ou, ainda, para " 0 /d (vão

    livre/altura útil da viga).

    As vigas-parede de concreto armado constituem-se num assunto de considerável

    interesse na prática da engenharia estrutural, podendo ser citadas as suas aplicações em

    fachadas de edifícios, em estruturas offshore, em reservatórios como caixas d’água e silos, e

    suas utilizações como blocos de coroamento de estacas, em tetos de transição (suportando

    carga de pilares), como elementos de contenção em subsolos e, ainda, em estruturas de

    centrais nucleares. Dadas as suas funções, a demanda por um critério de dimensionamento

    dessas vigas tem sido gerada, tendo em vista que um real entendimento do seu

    comportamento é um pré-requisito essencial para a otimização de projeto.

    A classificação de uma viga como uma viga-parede varia de acordo com a norma

    estrutural utilizada. Na Tabela 1.1 a seguir são apresentados alguns limites.

  • 2

    NORMAS Simplesmente Apoiada ContínuaACI 318-95 (1995)

    FLEXÃO

    CISALHAMENTO" 0 /h ≤ 1.25" 0 /d ≤ 5.0

    " 0 /h ≤ 2.5" 0 /d ≤ 5.0

    CEB-FIP (1978) "/h ≤ 2.0 "/h ≤ 2.5GUIA N° 2 DA CIRIA (1977)

    (reimpresso em 1984)"/h < 2.0 "/h < 2.5

    NBR 6118 (1978) "/h ≤ 2.0 "/h ≤ 2.5

    Tabela 1.1 - Limites superiores da relação "/h, " 0 /h ou " 0 /d para as

    vigas-parede segundo diversas normas.

    As principais recomendações de projeto de vigas-parede resumem-se ao Guia 2 da

    CIRIA de 1977, ao Código do CEB-FIP de 1978 e de 1990, ao Código do ACI 318-95 de

    1995 e ao Código Canadense CAN-A23.3-M84 de 1984. Contudo, nenhuma delas cobre

    satisfatoriamente o projeto de tais vigas. Os métodos apresentados possuem enfoques

    diferentes que serão abordados e analisados no decorrer deste estudo. Pode-se comentar, por

    exemplo, que o CEB-FIP (1978) considera mais detalhadamente a resistência à flexão,

    enquanto o ACI 318-95 (1995) apresenta de forma mais detalhada o cálculo da resistência ao

    cisalhamento das vigas. Ambos não pretendem avaliar a resistência última das vigas-parede,

    e, sim, fazem recomendações que, se observadas, permitem o dimensionamento de tais vigas,

    geralmente, com boa margem de segurança quanto à sua resistência última e,

    simultaneamente, obedecendo a certos critérios relativos aos estados de utilização,

    principalmente ao estado de fissuração.

    O critério de projeto do ACI 318-95 (1995) para resistência ao cisalhamento de vigas-

    parede consiste de um conjunto de regras empíricas baseadas numa grande quantidade de

    dados provenientes de testes. A contribuição dos vários fatores que influenciam esta

    resistência não é explicitamente desenvolvida a partir de um claro mecanismo de ruptura.

    O Código Canadense CAN3-A23.3-M84 (1984), assim como o Código Modelo

    CEB-FIP (1990), recomenda a utilização do modelo de bielas e tirantes para descrever o

    mecanismo de ruptura de uma viga-parede. Ambos sugerem valores para os parâmetros de

    resistência das bielas e regiões nodais.

  • 3

    O Código Britânico corrente BS 8110 (1985) explicitamente declara que “para o

    projeto de vigas-parede, referência deve ser feita à literatura especializada”.

    O Guia 2 da CIRIA (1977) é o único que dá recomendações para resistência à

    flambagem de vigas-parede esbeltas, podendo ser considerado o mais completo dentre os

    métodos citados (Tan et al., 1997; Subedi et al., 1986).

    A própria Norma Brasileira, a NBR 6118 (1978), não traz nenhuma indicação especial

    sobre o dimensionamento de tais vigas, permitindo apenas que elas sejam calculadas como

    chapas no regime elástico.

    Como já pôde ser percebido, as principais recomendações de projeto de vigas-parede

    deixam a desejar em vários aspectos.

    1.2 - OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DA PESQUISA

    A obtenção de um método racional, baseado em um claro mecanismo de ruptura e que

    leve em conta os principais parâmetros que influenciam a resistência última de vigas-parede

    tem sido o objetivo de vários pesquisadores nas últimas duas décadas.

    A partir de 1979 iniciaram-se, no Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, sob

    a orientação do Prof. Khosrow Ghavami, várias pesquisas teórico-experimentais sobre o

    estudo de vigas-parede de concreto armado, resultando nas dissertações de mestrado de

    Guimarães, G. B. (1980), Vasconcelos, J. R. G. (1982), Velasco, M. S. L. (1984) e

    servindo de base para o estudo paramétrico de Melo, G. S. S. A. (1984).

    Várias conclusões foram obtidas em cada dissertação, separadamente, mas nenhum

    estudo havia sido feito no sentido de comparar os resultados encontrados, visando a obtenção

    de informações comparativas relacionadas às 37 vigas-parede ensaiadas.

  • 4

    O presente trabalho possui dois objetivos principais:

    a. Obter informações comparativas, a partir dos resultados obtidos nos ensaios das

    vigas-parede biapoiadas de concreto armado descritos nas dissertações de mestrado

    elaboradas por Guimarães, Vasconcelos e Velasco, referenciadas acima, com o respaldo da

    literatura atualizada;

    b. Pesquisar métodos mais recentes de cálculo da resistência de vigas-parede, para

    confrontar os resultados assim encontrados com aqueles obtidos experimentalmente para as

    vigas ensaiadas no Laboratório de Estruturas e Materiais (L.E.M.) da PUC-Rio e para

    algumas vigas apresentadas na literatura, visando encontrar um método que gere resultados os

    mais próximos possíveis dos experimentais.

  • CAPÍTULO II

    2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    2.1 - INTRODUÇÃO

    As primeiras revisões da literatura sobre o comportamento de vigas-parede foram

    compiladas por Albritton, em 1965, pela Associação de Concreto e Cimento, em 1969, e pela

    Pesquisa da Indústria da Construção e Associação de Informação (CIRIA — Construction

    Industry Research and Information Association), em 1977, e complementadas por Tang, em

    1987, por Wong, em 1987, e por Chemrouk, em 1988 (Kong, F. K. e Chemrouk, M., 1990).

    As pesquisas iniciais foram, na sua maioria, baseadas no comportamento elástico das vigas-

    parede. Contudo, uma séria desvantagem dos estudos elásticos consiste na usual suposição da

    utilização de materiais isotrópicos obedecendo a Lei de Hooke e, portanto, estas investigações

    não chegaram à orientação suficiente para projetos práticos.

    Nos anos 60, os testes sistemáticos de carga última foram utilizados por de Paiva e

    Siess (1965) e Leonhardt e Walther (1966). Esses testes constituem-se no principal passo de

    pesquisas de tais vigas. A seguir são citados vários trabalhos desenvolvidos na década de 70 e

    na de 80.

    A solução de um problema típico de vigas-parede usando os conceitos de plasticidade

    foi relatada por Nielsen (1971) e Braestrup e Nielsen (1983). Kong e Robins (1971)

    mencionaram que a armadura de alma inclinada era altamente efetiva para tais vigas, o que foi

    confirmado por Kong e Singh (1972) e Kong et al. (1972). Foi proposto um método para

    comparar quantitativamente os efeitos dos diferentes tipos de armadura de alma (Kong et al.,

    1972). Kong e Sharp (1973) pesquisaram a resistência e modos de ruptura de vigas-parede

    com abertura na alma; a fórmula proposta para prever a carga última foi subseqüentemente

  • 6

    refinada (Kong e Sharp, 1977; Kong et al., 1978) e adotada pelo Livro dos Projetistas de

    Concreto Armado (Reynolds e Steedman, 1981 e 1988) (Kong, F. K. e Chemrouk, M.,

    1990).

    Robins e Kong (1973) utilizaram o Método dos Elementos Finitos para prever a carga

    última e os modelos de fissuração de tais vigas. Taner et al. (1977) relataram que este método

    gerava bons resultados quando aplicado às vigas-parede com flange.

    Trabalhabilidade e ruptura sob cargas repetidas foram estudadas por Kong e Singh

    (1974). Garcia (1982) está entre os primeiros a concluir testes de flambagem numa série de

    vigas-parede esbeltas de concreto (Kong, F. K. e Chemrouk, M., 1990).

    Os efeitos de carregamento no topo e/ou na base de vigas-parede foram estudados por

    Cusens e Besser (1985) e, anteriormente, por alguns outros pesquisadores (CIRIA, 1977).

    Rogowsky et al. (1986) realizaram extensivos testes em vigas-parede contínuas. Mau

    e Hsu (1987) aplicaram a “teoria do modelo de treliça com amolecimento” nas vigas

    biapoiadas. Kotsovos (1988) realizou estudos visando o esclarecimento das causas

    fundamentais da ruptura por cisalhamento desse tipo de vigas.

    Ainda podem ser citados os trabalhos de Barry e Ainso (1983), Kubik (1980), Mansur

    e Alwis (1984), Regan e Hamadi (1981), Rasheeduzzafar e Al-Tayyib (1986), Roberts e Ho

    (1982), Shanmugan (1988), Singh et al. (1980), Smith e Vantsiotis (1982), Subedi (1988) e

    Swaddiwwdhipong (1985) (Kong, F. K. e Chemrouk, M., 1990).

    2.2 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

    Na prática corrente de projeto, a análise para estruturas de concreto armado em flexão

    é geralmente baseada na suposição de que as seções planas permanecem planas após a ação

    do carregamento e na de que o material é elástico e homogêneo. Contudo, a teoria elementar

    de flexão para vigas esbeltas, da Resistência dos Materiais, não mais se aplica no caso de

    vigas-parede pois, sob a atuação de carregamento, as seções não permanecem planas após a

    deformação. Mesmo considerando um material homogêneo e perfeitamente elástico, a

    distribuição de tensões normais não é linear e a das cisalhantes não é parabólica. Na

  • 7

    determinação dos esforços internos, devem ser levadas em conta condições de equilíbrio,

    contorno, compatibilidade e relações constitutivas mais complexas.

    A transição do comportamento de vigas comuns para o de vigas-parede é gradual,

    começando a ser notada a partir de "/h = 2. Quanto menor é a relação "/h, mais as tensões se

    afastam da distribuição prevista pela análise de vigas esbeltas e mais a linha neutra se dirige

    para baixo. Na Figura 2.1 encontra-se um exemplo da variação da distribuição de tensões σ x

    (normais à seção transversal), na seção do meio do vão, em vigas-parede simplesmente

    apoiadas submetidas a ações uniformemente distribuídas para várias relações "h . As

    resultantes das tensões de tração (Rst ) e de compressão (Rcc) são caracterizadas por sua

    posição ao longo da altura da viga, sendo z a distância entre elas. Na viga com altura h = "/4

    (Fig. 2.1.a) a distribuição de tensões é linear e as seções permanecem planas após a

    deformação. Para a viga com altura h = "/2 (Fig. 2.1.b) as seções já não permanecem planas

    após as deformações e a linha neutra passa a 0.4h medida a partir da borda inferior. Na viga

    com h = " (Fig. 2.1.c), a linha neutra passa a 0.28h. Para vigas-parede com h ≥ " (Fig. 2.1.d), o

    valor da resultante de tração (Rst ) varia pouco, indicando que somente a parte inferior com

    altura he ≅ " colabora na resistência, sendo h e a altura efetiva da viga. A parte superior (zona

    morta) atua apenas como ação uniformemente distribuída, e pode ser dimensionada como um

    pilar-parede.

    O grande número de variáveis que têm influência no comportamento das vigas-parede é

    responsável em grande parte pelas dificuldades de dimensionamento. Entre essas variáveis,

    podem ser citadas:

    a. Própria geometria da viga

    • espessura;

    • relação"/h;

    • enrijecimento dos apoios.

    b. Tipo de apoio

    c. Resistência do concreto

  • 8

    d. Armadura

    • taxa e distribuição;

    • ancoragem das barras.

    e. Tipo de carregamento atuante e seu ponto de aplicação

    Figura 2.1 - Distribuição de tensão em vigas de tramo único.

  • 9

    Embora a relação vão/altura ("/h) seja o parâmetro mais freqüentemente referenciado

    como o determinante no comportamento de vigas-parede, a importância da relação vão de

    cisalhamento/altura, sendo o vão de cisalhamento a distância de centro a centro da carga

    aplicada ao apoio mais próximo, foi enfatizada há muitos anos atrás (Kong e Singh, 1972);

    para flambagem e instabilidade, a relação altura/espessura da viga (h/b) e a relação

    excentricidade da carga/espessura (e/b) são ambas relevantes (Garcia, 1982; Kong et al., 1986)

    (Kong, F. K. e Chemrouk, M., 1990).

    Para uma viga-parede, a carga última é determinada pela transferência de forças entre a

    carga aplicada e o apoio. Conseqüentemente, a capacidade que pode ser denominada de

    flexão ou de cisalhamento depende do detalhamento do carregamento e do apoio.

    Conforme será comentado no decorrer da presente pesquisa, três processos são

    correntemente usados para o projeto de membros de transferência de cargas como as vigas-

    parede:

    • Métodos de projeto empíricos ou semi-empíricos;

    • Análise bi ou tridimensional, tanto linear quanto não linear;

    • Utilização de treliças compostas de bielas de concreto e tirantes de aço.

    Vários pesquisadores (Siao, 1993 e 1994; Collins e Mitchell, 1986; Teng et al.,

    1996; Adebar e Zhou, 1996; Tan et al., 1997) concordam que, nos últimos anos, a teoria do

    modelo de bielas e tirantes tem proporcionado um caminho mais promissor no cálculo da

    resistência de tais vigas.

    No presente trabalho, atenção especial será dada aos métodos que têm por base esse

    modelo, como o proposto pela norma canadense CAN3-A23.3-M84 (1984).

    2.3 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ""/h

    Não há uma relação de "/h mínima adotada mundialmente para que uma viga possa ser

    considerada uma viga-parede. As fórmulas em códigos de projeto adotadas por diversos países

  • 10

    e institutos acadêmicos são desenvolvidas a partir de limites dessa relação, conforme já visto

    na Tabela 1.1.

    A transição do comportamento de uma viga comum para o de uma vigas-parede é

    gradual, começando a ser notada a partir de "/h = 2. Segundo Kong (1986), para propósitos

    de projeto, esta transição é geralmente considerada ocorrer a uma relação vão/altura em torno

    de 2.5. De Paiva e Siess (1965), ao considerar resultados de testes em dezenove vigas-parede

    simplesmente apoiadas e, partindo do princípio de que deve haver uma gradual transição do

    comportamento de uma viga esbelta para o de uma viga-parede onde os conceitos da primeira

    ainda podem ser utilizados, estabelecem esse intervalo de transição como sendo entre 2 e 6, ou

    seja, 2 ≤ "/h ≤ 6, e definem essas vigas como vigas-parede moderadas, ou, ainda, como vigas

    moderadamente altas.

    Pesquisadores (Kong et al., 1970; Smith e Vantsiotis, 1982; Lin e Raoof, 1995;

    Subedi, 1988) do comportamento de vigas-parede geralmente incluem como tais as vigas com

    valores de "/d (vão teórico / distância do centróide da armadura de tração à fibra comprimida

    extrema) em torno de 3.

    É importante reconhecer as diferentes definições quando da utilização das

    recomendações de projeto.

    2.4 - MECANISMOS DE RUPTURA

    O conhecimento e o entendimento dos mecanismos de ruptura das vigas-parede é de

    importância fundamental para o desenvolvimento de uma formulação mais apropriada para o

    dimensionamento de tais vigas.

    A grande maioria das vigas biapoiadas ensaiadas por Guimarães (1980), Vasconcelos

    (1982) e Velasco (1984) possuía um enrijecimento nos apoios, representando a existência de

    pilares laterais ou de vigas-parede transversais. Desse modo, as cargas suportadas pelas vigas

    eram transmitidas aos apoios de uma maneira indireta, ao longo de toda a altura da viga-

    parede.

  • 11

    Para que se tenha um melhor entendimento dos modos de ruptura dessas vigas, serão

    descritos abaixo e ilustrados tanto os apresentados por vigas biapoiadas quanto os de vigas

    biengastadas.

    De maneira geral, pode-se ter:

    a. Ruptura por Flexão;

    b. Ruptura por Cisalhamento;

    c. Ruptura por Flexão-Cisalhamento;

    d. Ruptura por Esmagamento do Concreto sobre o Apoio ou sob Cargas Concentradas

    (Ruptura Local).

    Melo, na revisão bibliográfica de sua dissertação (Melo, 1984), salienta uma subdivisão

    no modo de ruptura por cisalhamento: a Ruptura por Compressão Diagonal e a Ruptura por

    Fendilhamento ou Tração Diagonal. Subedi (1988), na consideração dos mecanismos de

    ruptura básicos, não faz nenhuma divisão, relatando como modo de ruptura por cisalhamento

    apenas o por Tração Diagonal ou Fendilhamento.

    Guimarães (1980), Velasco (1984) e Subedi (1988) consideram, ainda, um outro

    modo de ruptura para vigas-parede biapoiadas: o de Flexão-Cisalhamento.

    Fafitis e Won (1994) comentam que, dos quatro mecanismos descritos por Subedi

    (1988) Flexão, Flexão-Cisalhamento, Cisalhamento (Fendilhamento ou Tração Diagonal) e

    Ruptura Local os dois mais importantes modos de ruptura são Flexão-Cisalhamento e

    Fendilhamento Diagonal, embora a Ruptura Local citada acima não seja rara.

    Subedi (1994) foi a única referência encontrada que descrevia em detalhes os modos

    de ruptura de vigas-parede biengastadas.

    a. Flexão

    É caracterizada principalmente pelo escoamento da armadura de flexão (no meio do

    vão). Há o surgimento de fissuras verticais, na base da viga, que se prolongam até quase toda a

    altura desta. A ruptura ocorre geralmente com o escoamento da armadura e, só em casos

    raros, com o esmagamento do concreto. Na Figura 2.2 encontra-se a ilustração de duas vigas

    rompendo por flexão, uma sob a ação de um carregamento uniformemente distribuído (Fig.

  • 12

    2.2.a) e a outra sob a ação de duas cargas concentradas (Fig. 2.2.b). Para vigas-parede

    biengastadas, este modo de ruptura não é, praticamente, considerado. Geralmente, é assumido

    que estas vigas têm resistência adequada contra a flexão pura.

    (a) (b)

    Os números em (b) indicam a ordem dos eventos. Os eventos 1 e 2 correspondem aoaparecimento de fissuras e o evento 3 corresponde ao esmagamento do concreto.

    Figura 2.2 - Ilustração da ruptura por flexão.

    b. Cisalhamento

    O cisalhamento depende fundamentalmente da localização e distribuição das cargas

    aplicadas. Para as vigas-parede biapoiadas submetidas a um carregamento aplicado no bordo

    superior, a ruptura tem início com a formação súbita de uma fissura diagonal principal em

    ambos os painéis de cisalhamento, próxima aos apoios, que se propaga em direção ao ponto

    de aplicação da carga mais próxima (caso de cargas concentradas) ou em direção ao ponto

    localizado a 1/3 do vão a partir do apoio (caso de cargas distribuídas). O aparecimento das

    fissuras diagonais principais citado acima também é uma das principais características

    apresentadas pelas vigas-parede biengastadas. Nestas, existe o esmagamento do concreto nas

    extremidades das fissuras diagonais (“rótula nocional”), completando um mecanismo, e há a

  • 13

    ausência das fissuras de flexão nos apoios extremos engastados. O mecanismo e a deformação

    aproximada encontram-se na Figura 2.3.

    Para as vigas biapoiadas, dependendo, entre outros fatores, da existência e da eficácia

    da armadura de alma, pode-se ter:

    • Ruptura por fendilhamento ou tração diagonal;

    • Ruptura por compressão diagonal.

    Fendilhamento ou Tração Diagonal

    Geralmente, ocorre simultaneamente à formação da fissura diagonal. À medida que a

    carga é aplicada, crescem os valores das forças de compressão ao longo da biela inclinada e,

    conseqüentemente, da tração indireta transversal à mesma. Este tipo de ruptura está ilustrado

    na Figura 2.4.

    Compressão Diagonal

    Após o desenvolvimento da primeira fissura de cisalhamento entre o apoio e o ponto de

    aplicação da carga, surgem novas fissuras, paralelas à primeira, formando uma biela

    comprimida. A ruptura ocorre com o esmagamento do concreto desta biela, conforme

    ilustrado na Figura 2.5 (Guimarães, 1980).

    (a) (b)

    Os números em (a) indicam a ordem os eventos.

    Figura 2.3 - Mecanismo de ruptura (a) e deformação aproximada (b)de uma viga-parede biengastada rompendo por cisalhamento.

  • 14

    Figura 2.4 - Ilustração da ruptura por fendilhamento outração diagonal para uma viga-parede biapoiada.

    Figura 2.5 - Ilustração da ruptura por compressão diagonal para uma viga-parede biapoiada.

    c. Flexão - Cisalhamento

    O processo de ruptura é iniciado pelo escoamento da armadura seguido pelo

    esmagamento do concreto na zona de compressão; porém, a resistência última ao cisalhamento

    é atingida antes do esmagamento total do concreto na zona de compressão. Por esta razão,

  • 15

    este mecanismo de ruptura é denominado de “flexão - cisalhamento” (Guimarães, 1980). Ele

    encontra-se ilustrado na Figura 2.6 para uma viga-parede biapoiada.

    Os números indicam a ordem dos eventos.

    Figura 2.6 - Mecanismo de ruptura de flexão – cisalhamento para uma viga-parede biapoiada.

    No caso de vigas-parede biengastadas (Figura 2.7), as principais características deste

    modo de ruptura são:

    • A formação de uma fissura de flexão principal ao longo de um dos apoios engastados

    extremos;

    • A formação de uma fissura diagonal principal no painel de cisalhamento aposto ao da

    fissura de flexão citada;

    • O esmagamento do concreto nas duas extremidades da fissura diagonal (no bordo da carga

    e no canto inferior da viga; estas posições estão assinaladas como “rótula nocional”, na

    Figura 2.7, nas quais grande deformação rotacional ocorre no colapso);

    • Uma grande rotação na extremidade inferior da fissura de flexão, mas não necessariamente

    esmagando o concreto na região.

    O mecanismo na ruptura e a deformação aproximada da viga perto do instante de

    colapso estão mostrados na Figura 2.7.

  • 16

    (a) (b)

    Os números mostrados em (a) indicam a ordem dos eventos.

    Figura 2.7 - Mecanismo de ruptura e deformação aproximadade uma viga-parede biengastada rompendo por flexão - cisalhamento.

    d. Local

    O estado de tensões sobre o apoio ou sob cargas concentradas é tal que pode ocorrer

    esmagamento do concreto nestas regiões, devido às elevadas tensões de compressão, antes que

    a capacidade resistente da viga tenha sido esgotada. Assim, deve ser dada especial atenção ao

    dimensionamento e detalhamento dos apoios e às regiões sob os pontos de aplicação de carga

    concentrada. Velasco (1984), para o ensaio de vigas-parede esbeltas, projetou um reforço de

    apoio para as vigas que não possuíam enrijecimento lateral, e, nas vigas altas (relação

    "/h = 1.0), acrescentou uma armadura de fretagem na região de aplicação das cargas

    concentradas para evitar o esmagamento local.

    Vigas-parede de concreto armado com apoios extremos biengastados são

    particularmente vulneráveis a uma ruptura local sob a zona de aplicação da carga concentrada.

    Com uma geometria de apoios engastados, as vigas usualmente possuem uma grande

    resistência global, o que concede a ela própria a possibilidade de ruptura local (Subedi, 1994).

    Nas Figuras 2.8 e 2.9 encontra-se a ilustração de uma viga-parede biapoiada e de uma

    viga-parede biengastada, respectivamente, rompendo localmente. Os números indicam a ordem

  • 17

    dos eventos. Na Figura 2.8 os eventos 1 e 2 correspondem ao aparecimento de fissuras e o

    evento 3 corresponde ao esmagamento do concreto.

    Os números indicam a ordem dos eventos.

    Figura 2.8 - Viga-parede biapoiada sob mecanismo de ruptura local.

    Os números indicam a ordem dos eventos.

    Figura 2.9 - Modo de ruptura local para uma viga-parede biengastada.

    2.5 - RESISTÊNCIA À FLEXÃO

    Na literatura, geralmente, em relação às vigas-parede, é dada maior atenção à

    resistência ao cisalhamento do que à resistência à flexão, porque é considerado que para uma

    taxa geométrica de armadura principal de tração bem distribuída e ancorada, a resistência à

  • 18

    flexão é sempre superior à de cisalhamento. O CEB-FIP (1978), entretanto, considera mais

    detalhadamente a resistência à flexão. O dimensionamento, neste caso, resume-se na

    determinação da armadura, observando- se o limite de escoamento, não havendo a necessidade

    de se verificar as tensões de compressão do concreto.

    O procedimento de se adotar um braço de alavanca (z) obtido com base numa análise

    elástica-linear, para avaliar a resistência última à flexão de vigas-parede resulta num esforço de

    tração calculado na armadura principal maior do que o real. Conseqüentemente, a armadura

    está trabalhando com certa margem de segurança, conforme já comprovado por trabalhos

    experimentais (Guimarães, 1980; Kong et al., 1970; Kong et al., 1972; Vasconcelos, 1982 e

    Velasco, 1984).

    Guimarães (1980), iniciou um estudo para a determinação do braço de alavanca em

    vigas- parede no estado fissurado, e concluiu que z depende, dentre outros parâmetros, da taxa

    geométrica da armadura.

    O estudo paramétrico realizado por Melo (1984) determina a influência de parâmetros

    como a relação "/h, a taxa geométrica de armadura principal (ρs), a espessura da viga (b), a

    resistência à compressão do concreto (fc' ) e a tensão de escoamento do aço (f sy ) na

    resistência à flexão das vigas. No seu trabalho, Melo (1984) observa que, considerando como

    estado limite último aquele correspondente ao escoamento da armadura, a resistência última à

    flexão pode ser estimada conhecendo-se apenas o braço interno de alavanca e as características

    da armadura. Melo (1984) ainda propõe uma fórmula para a determinação do braço de

    alavanca.

    2.6 - RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

    A resistência ao cisalhamento de vigas-parede é significativamente maior do que aquela

    prevista pelo uso de expressões desenvolvidas para vigas esbeltas, por causa de sua particular

    capacidade de redistribuir forças internas antes da ruptura e de desenvolver mecanismos de

  • 19

    transferência de forças bem diferentes dos de vigas de proporções normais (Smith e

    Vantsiotis, 1982).

    A resistência ao cisalhamento é usualmente o problema dominante na prática de projeto

    das vigas desse tipo, e tem sido estudada por vários pesquisadores, tanto experimentalmente

    quanto teoricamente. Podem ser citados os trabalhos de Klingroth (1942), de Paiva e Siess

    (1965), Zsutty (1971), Smith e Fereig (1974), Nielsen (1984), Mau e Hsu (1989) (Wang et al.,

    1993).

    Smith e Vantsiotis (1982) ensaiaram 52 vigas-parede de concreto armado, biapoiadas

    e sujeitas a duas cargas concentradas no bordo superior, aplicadas a 1/3 e a 2/3 do vão. O

    objetivo era o de estudar os efeitos de alguns parâmetros na formação da fissura inclinada de

    cisalhamento, na resistência última ao cisalhamento, na deflexão no meio do vão, na

    deformação da armadura de tração e na abertura das fissuras das vigas analisadas. A taxa de

    armadura de alma vertical variava entre 0.18 e 1.25 %, e, a horizontal, de 0.23 a 0.91 %; as

    vigas possuíam relação a/d entre 1.00 e 2.08 e relação " /d entre 2.67 e 4.83. Foi observado

    que há um decréscimo na carga que leva à fissura inclinada e na carga última, com o

    crescimento da razão a/d. Também foi observado que um aumento na resistência do concreto

    implica num aumento na capacidade de carga última da viga. Este crescimento é mais

    pronunciado em vigas com baixa razão a/d e parece diminuir com o aumento de a/d.

    Resultados de testes relatados na literatura (Smith e Vantsiotis, 1982; de Paiva e

    Siess, 1965) mostram um grande crescimento na capacidade de cisalhamento além da carga

    que leva à fissura inclinada para a/d ≤ 2.5. Este aumento na resistência última de cisalhamento

    observado para a/d ≤ 2.5 é principalmente atribuído à ação de arco, que parece decrescer com

    o aumento da razão a/d.

    De acordo com Mau e Hsu (1987; 1989), três fatores podem ser considerados os mais

    importantes no cálculo da resistência ao cisalhamento normalizada (τ max cf' ) de vigas-parede.

    São eles a relação vão de cisalhamento/altura (a/h), a taxa mecânica de armadura longitudinal

    ( )wl e a taxa mecânica de armadura transversal ( )wt , onde wl = ρ l ly cf f⋅' e wt = ρ t ty cf f⋅

    ' ,

    sendo ρ l e ρ t , a taxa geométrica de armadura longitudinal e transversal, respectivamente; fly

    e fty , a tensão de escoamento do aço longitudinal e transversal, respectivamente.

  • 20

    A seguir encontra-se descrito o estudo paramétrico realizado por Mau e Hsu (1987).

    Este estudo foi feito a partir de equações desenvolvidas levando-se em conta condições de

    equilíbrio, compatibilidade e relação tensão-deformação.

    2.6.1 - Parâmetros Considerados

    2.6.1.1 - a/h x τ max cf'

    A razão τ max cf' geralmente decresce com o aumento da relação a/h. A taxa de

    decréscimo é maior para os casos com menor taxa geométrica de armadura transversal,

    conforme mostra a Figura 2.10.

    a/h

    Figura 2.10 - Efeito da relação a/h na resistência ao cisalhamento.

    2.6.1.2 - wl x τ max cf'

    Como pode ser constatado pela Figura 2.11, a razão τ max cf' cresce com o aumento de

    wl . Isto significa que o aço longitudinal é efetivo para relações de a/h de 0.5 a 2.0 e com wt

  • 21

    variando de 0.05 a 0.55. A efetividade é relativamente maior quando wl varia de 0.1 a 0.3,

    mas se torna gradualmente menor à medida que wl aumenta.

    ρ l ly cf f⋅'

    Figura 2.11 - Efeito da taxa mecânica de armadura longitudinal na resistência ao cisalhamento.

    2.6.1.3 - wt x τ max cf'

    A variação de τ max cf' com wt é mostrada na Figura 2.12 para seis combinações de

    a/h e wl . Para razões de a/h = 1.0 e 2.0, τ max cf' cresce com o aumento de wt , especialmente

    para pequenos valores de wt . Para a pequena relação de a/h de 0.5, contudo, τ max cf' decresce

    levemente com o aumento de wt . Isto ocorre porque sob grande compressão transversal

    efetiva (pequena razão a/h), maior taxa de armadura transversal leva a uma deformação de

    compressão relativamente menor, que, por sua vez, leva a um maior “amolecimento”

    (softening) do concreto. É razoável estabelecer que a efetividade da armadura transversal

    decresce quando a/h decresce de 2.0 para 0.5.

  • 22

    ρ t ty cf f⋅'

    Figura 2.12 - Efeito da taxa mecânica de armadura transversal na resistência ao cisalhamento.

    2.7 - INFLUÊNCIA DA ARMADURA DE ALMA

    O uso de armadura de alma em forma de malha ortogonal é considerado essencial não

    só para o controle de abertura de fissuras, mas também porque reduz a probabilidade de

    ruptura por instabilidade (Kotsovos, 1988).

    A armadura de alma é mais eficiente quando colocada perpendicularmente à direção

    das fissuras. Ela pode ser formada por estribos horizontais somente, por estribos verticais

    somente, por uma malha ortogonal, ou, ainda, ser inclinada. A armadura do tipo malha

    ortogonal é a mais utilizada, e é recomendada pelas normais estruturais.

    De Paiva e Siess (1965) ensaiaram 19 vigas-parede biapoiadas, algumas sem armadura

    de alma e outras com armadura de alma consistindo de estribos verticais ou inclinados, sujeitas

    à aplicação de duas cargas concentradas a 1/3 e a 2/3 do vão. As vigas possuíam

    2.0 ≤ "/d ≤ 4.0, com " constante igual a 600 mm e a = 200 mm. Foi observado que a adição de

    até 1.42% de armadura de alma (taxa de armadura total) não provocava efeito no

    desenvolvimento de fissuras inclinadas e parecia ter pouco efeito sobre a resistência última das

    vigas, sem levar em conta o modo de ruptura. Todas as vigas com armadura de alma

    apresentaram menor dano na ruptura quando comparadas com as sem este tipo de armadura.

    Na pesquisa realizada por Smith e Vantsiotis (1982) foi observado que a armadura

  • 23

    de alma é efetiva na redução da abertura das fissuras para todos os níveis de carga e,

    particularmente, em vigas com a/d > 1.0. Além disso, verificou-se que, em geral, a armadura

    de alma aumenta a resistência última ao cisalhamento, o que pode ser constatado pelo estudo

    paramétrico feito por Mau e Hsu (1987; 1989) e representado pelas Figuras 2.11 e 2.12.

    Somente para pequenas razões de a/h há um ligeiro decréscimo nessa resistência, quando do

    aumento da taxa de armadura transversal.

    A ineficiência da armadura transversal para baixas razões de a/h pode também ser

    observada nos testes feitos por Kong et al.(1970). Três pares de vigas testadas com a/h ≤ 0.5

    estão listados na Tabela 2.1 (Mau e Hsu, 1990) . Em cada par de vigas, a relação a/h e a

    porcentagem de armadura longitudinal (ρ l ) são idênticas, mas a porcentagem de armadura

    transversal (ρ t ) é muito diferente. Pode ser percebido que as três vigas com menor taxa de

    armadura transversal (ρ t = 0.86%) apresentaram forças de cisalhamento máximas

    experimentais iguais ou até superior àquelas apresentadas por vigas com maior taxa de

    armadura transversal (ρ t = 2.45%). Quando a/h ≤ 0.5 uma taxa geométrica de armadura

    transversal superior a 0.25% não é efetiva no crescimento da resistência ao cisalhamento de

    vigas-parede. Na notação apresentada, 1 ou 2 é a série considerada, de acordo com a

    quantidade e tipo de armadura de alma; 30, 25 ou 20 é a altura da viga, dada em in (polegada).

    Os valores de fc' e de VU TESTE( ) , originalmente em psi e lb, respectivamente, foram convertidos

    em unidades do SI utilizando-se a Tabela de Conversão de Unidades presente no início deste

    trabalho.

    VIGAS

    (Notação)a/h

    ρ l(%)

    ρ t(%)

    fc'

    ( N mm2 )

    VU TESTE( )(kN)

    1 - 302 - 30

    0.330.33

    0.520.52

    2.450.86

    21.7919.45

    238.86249.09

    1 - 252 - 25

    0.400.40

    0.630.63

    2.450.86

    24.8718.86

    224.18224.18

    1 - 202 - 20

    0.500.50

    0.800.80

    2.450.86

    21.5120.12

    189.48215.28

    Tabela 2.1 - Efeito da armadura transversal para pequenas razões de a/h.

  • 24

    Rogowsky, MacGregor e Ong (1986) ensaiaram 7 vigas-parede biapoiadas e 17

    contínuas de dois vãos com diferentes relações a/d, com ρ t variando de 0.15 % a 0.6 % e ρ w"

    (taxa de armadura de alma longitudinal) variando de 0.25 % a 0.39 %. Para as vigas

    biapoiadas, a/d era 1.0, 1.5 ou 2.0. As vigas com menor taxa de estribos aproximaram-se do

    modelo resistente de arco-atirantado na ruptura. Isto aconteceu independentemente da

    quantidade de armadura de alma horizontal presente nas vigas. As rupturas foram repentinas,

    com pouca deformação plástica. Por outro lado, as vigas com grande quantidade de estribos

    romperam de uma maneira dúctil. Foi observado que a presença de armadura de alma

    horizontal influenciou muito pouco a resistência das vigas analisadas, o que não está de acordo

    com o ACI 318-95. O Código ACI 318-95 (1995) considera que a armadura de alma

    horizontal é sempre mais efetiva do que a vertical.

    2.8 - INFLUÊNCIA DA ESPESSURA DE ALMA

    Nas últimas três décadas, a maior parte da pesquisa sobre o comportamento de vigas-

    parede de concreto armado sob carga última foi concentrada na sua resistência à flexão, ao

    cisalhamento e na resistência do apoio. Atualmente, se tornou claro que a flambagem de tais

    vigas é um critério de ruptura que precisa ser considerado em projeto (Kong e Wong, 1990).

    Estritamente falando, o termo “flambagem” se refere a um processo no qual uma estrutura se

    move de um estado de equilíbrio neutro ou indiferente para um estado de equilíbrio instável.

    “Ruptura por flambagem” é usada mais livremente para se referir a um estado de ruptura com

    pronunciados deslocamentos fora do plano.

    Realmente, com os avanços esperados na tecnologia dos materiais, será possível a

    utilização de vigas-parede cada vez mais esbeltas, ou seja, com seções transversais cada vez

    mais estreitas, e, assim, a flambagem provavelmente ditará o projeto dessas vigas.

    Dos quatro principais documentos de projeto de vigas-parede, que são o Código

    Canadense (CAN3-A23.3-M84), o Código Americano (ACI 318-95), o Código Modelo CEB-

    FIP e o Guia 2 da CIRIA, somente este último apresenta recomendações diretas para o cálculo

  • 25

    da resistência à flambagem. Contudo, por causa da falta de dados experimentais, as

    recomendações de flambagem da CIRIA tiveram de ser baseadas em estudos teóricos,

    utilizando-se o bom senso de engenharia; no final do Apêndice C (Resistência à flambagem de

    vigas-parede) deste guia, é assinalado que “não há evidência experimental para comprovar

    estes procedimentos”.

    O Guia da CIRIA (1977) recomenda três métodos para a previsão da resistência à

    flambagem de vigas-parede esbeltas: as Regras Suplementares, o Método do Painel Único e o

    Método do Painel Duplo. É aconselhado por pesquisadores (Kong et al., 1986) que as Regras

    Suplementares sejam usadas sempre que forem aplicáveis. Quando não forem, deve-se evitar o

    Método do Painel Único e aplicar preferencialmente o do Painel Duplo. Os resultados obtidos

    segundo as recomendações da CIRIA são conservativos (Kong et al., 1986). Contudo,

    levando-se em conta que as rupturas por flambagem são catastróficas e difíceis de serem

    previstas, um razoável fator de segurança ainda se faz necessário.

    Velasco (1984), na PUC-Rio, estudou experimentalmente a influência da espessura da

    alma no comportamento de vigas-parede. Segundo Leonhardt e Mönning (1979), para

    impedir a flambagem lateral é necessário que a viga tenha b ≥ " /20. Contudo, não ocorreu

    instabilidade por flambagem para nenhuma das vigas ensaiadas por Velasco, mesmo para as

    que possuíam b = " /24.

    Os primeiros resultados publicados sobre o comportamento último de vigas-parede

    com altas razões altura/espessura (h/b) são provavelmente das quatro vigas testadas por Besser

    e Cusens (1984) e das 38 vigas ensaiadas por Kong et al. (1986) (Kong e Wong, 1990).

    Desses resultados relatados, uma das vigas testadas por Besser e Cusens e 30 das vigas

    testadas por Kong romperam por flambagem.

    O comportamento geral de vigas-parede esbeltas carregadas no topo pode ser resumido

    brevemente como abaixo, de acordo com Kong et al. (1986):

    a. Sob carregamento, as primeiras fissuras a se formar são as de flexão, na região do meio do

    vão (Figura 2.13, fissuras ①). A carga que provoca tais fissuras encontra-se, geralmente,

    entre 20 e 40 % da carga última e é menor do que aquela para uma viga-parede espessa de

    comparável razão "/h;

    b. Sob carga adicional, longas fissuras diagonais (Figura 2.13, fissuras ②) são formadas,

  • 26

    usualmente com grande ruído. Tipicamente, essas fissuras diagonais iniciam-se não na base,

    mas na extensão da altura da viga. Comparando com as vigas-parede espessas, as primeiras

    fissuras diagonais principais das vigas esbeltas tendem a se formar a cargas menores e a ser

    mais inclinadas sobre a horizontal. A sua direção encontra-se usualmente entre aquela da

    linha sólida e aquela da linha tracejada de corte da Figura 2.14;

    c. Quando a carga é incrementada, o modo de ruptura depende fortemente da relação h/b e

    da relação excentricidade da carga/espessura (e/b). De uma maneira geral, quanto maiores

    essas razões, maiores são as probabilidades de que a ruptura por flambagem ocorra. Nos

    testes feitos por Kong (Kong et al., 1986), foi percebido que quando a razão efetiva de

    e/b, definida como 0.4 e b1 + 0.6 e b2 (com e1 e e2 definidos na Figura 2.15), não excedia

    0.03, nenhuma das 38 vigas testadas rompiam por flambagem mesmo quando a razão h/b

    era maior do que 50. Contudo, quando a razão efetiva e/b era de 0.1 ou mais, mesmo as

    vigas testadas de razão h/b abaixo de 25 rompiam por flambagem. O modo de flambagem é

    caracterizado por uma fissuração horizontal proeminente, usualmente sobre o comprimento

    da viga (Figura 2.13, fissuras ③), que é acompanhada por uma significante redução na

    carga de ruptura.

    Na Figura 2.16 encontra-se a ilustração de uma viga-parede rompendo por flambagem.

    Figura 2.13 - Seqüência típica na qual as fissuras aparecem emvigas-parede esbeltas carregadas no bordo superior.

  • 27

    Figura 2.14 - Representação da fissura diagonal crítica:linha pontilhada para vigas-parede espessas;

    linhas cheia e tracejada de corte para vigas-parede esbeltas.

    Figura 2.15 - Seção transversal da viga, com a definição das excentricidades e1 e e2 .

    Figura 2.16 - Viga-parede rompendo por flambagem (viga C-29-0.1; Kong et al., 1986).

  • 28

    2.9 - INFLUÊNCIA DA RIGIDEZ DOS APOIOS

    Subedi, N. K. (1994) salienta que as vigas-parede de concreto armado com as

    condições de apoio engastadas são mais prováveis de ocorrer em estruturas na prática do que

    as biapoiadas. Por exemplo, em edifícios, as vigas-parede apoiadas em vigas transversais são

    efetivamente ou parcialmente engastadas, as restrições sendo fornecidas pelas vigas

    transversais (Figura 2.17.a). Outros exemplos que podem ser citados são as vigas-parede

    apoiadas em grossos pilares (Figura 2.17.b) e as conectadas em estruturas de

    contraventamento (shear wall structures) (Figura 2.17.c).

    Quando uma viga-parede é apoiada em pilares laterais, os esforços são transmitidos aos

    apoios ao longo da interseção viga - pilar, alterando a distribuição das tensões normais e

    cisalhantes da viga. A análise elástica mostra que a linha neutra sofre uma elevação e as

    resultantes de tração e compressão são menores, pois o braço de alavanca z aumenta.

    Entre as pesquisas realizadas visando quantificar a influência do enrijecimento dos

    apoios no comportamento de vigas-parede, pode-se citar os ensaios feitos por Schütt em 1956

    (Cusens, A. R., 1990), cujos detalhes das vigas testadas encontram-se na Figura 2.18, e os

    trabalhos realizados, na PUC-Rio, por Guimarães (1980) e Vasconcelos (1982).

    Guimarães analisou nove vigas-parede de concreto armado, simplesmente apoiadas,

    sujeitas a duas cargas concentradas aplicadas no bordo superior. Das nove vigas ensaiadas, seis

    apresentavam rigidez lateral. Foi observado que o enrijecimento dos apoios não chegava a

    causar nenhum efeito na resistência última à flexão e provocava somente uma ligeira elevação

    na resistência última ao cisalhamento das vigas analisadas. Vasconcelos continuou na mesma

    linha de pesquisa, ensaiando 16 vigas-parede biapoiadas, oito submetidas a carregamento

    concentrado (duas cargas pontuais) e oito submetidas a carregamento uniformemente

    distribuído. Das dezesseis vigas analisadas, 14 possuíam rigidez lateral.

    Na Figura 2.19 encontram-se as isostáticas e a distribuição das tensões σ σy x, e τ xy em

    vigas-parede com "/h = 1.0, com e sem enrijecimento dos apoios, e submetidas a um

    carregamento uniformemente distribuído. T e C representam, respectivamente, as forças

    resultantes das tensões de tração e de compressão (Leonhardt e Mönning, 1979).

  • 29

    Viga apoiada emvigas transversais

    Viga apoiada emgrossas colunas

    Vigas decontraventamento

    (a) (b) (c)

    Figura 2.17 - Exemplos de vigas-parede com extremidades engastadas (Subedi, 1994).

    (Unidade: mm)

    Figura 2.18 - Detalhes das vigas testadas por Schütt (Cusens, 1990).

  • 30

    Figura 2.19 - Isostáticas e distribuição das tensões yσ , xσ e xyτ em vigas-paredecom "/h = 1.0, com e sem enrijecimento dos apoios (Leonhardt e Mönning, 1979).

  • 31

  • 31

    2.10 - INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO DO CARREGAMENTO

    Uma série de testes realizados por Besser (1983) e Cusens e Besser (1985) foi utilizada

    para a avaliação dos efeitos, na resistência última de vigas-parede de pequena espessura, de

    diferentes combinações de cargas agindo no topo e na base de tais vigas. Este trabalho

    constitui-se na pesquisa mais abrangente relatada sobre o tema (Cusens, A. R., 1990).

    Detalhes da armadura e as dimensões das dezessete vigas testadas encontram-se na Figura

    2.20. Todas possuíam igual geometria e armadura principal, porém, diferentes taxas de

    armadura transversal, com diferentes espaçamentos. Na Tabela 2.2 abaixo encontram-se o

    espaçamento dos estribos verticais, a taxa de armadura vertical e a notação da viga; na Tabela

    2.3 encontram-se listadas as cinco combinações de carregamento.

    NOTAÇÃODA VIGA

    ESPAÇAMENTO DAARMADURA VERTICAL (mm)

    TAXA DE ARMADURA VERTICALρ t (%)

    W1 74 1.06

    W 2 98 0.80

    W 3 56 1.40

    W 4 - 0.0

    W 5 39 2.0

    Tabela 2.2 - Notação, espaçamento e taxa da armadura vertical das vigas ensaiadas.

    NOTAÇÃO DOCARREGAMENTO

    COMBINAÇÃO DE CARGA

    L 1 carga uniformemente distribuída no topo da viga

    L 2 carga uniformemente distribuída aplicada na base

    L 3 combinação de cargas no topo e na base na razão 1:1

    L 4 combinação de cargas no topo e na base na razão 2:1

    L 5 combinação de cargas no topo e na base na razão 1:2

    Tabela 2.3 - Cinco combinações de carregamento utilizadas.

  • 32

    Dimensões em mm

    Figura 2.20 - Dimensões e detalhes de armadura das vigas-parede de pequena espessura testadas por Besser (1983) e Cusens e Besser (1985).

    Apesar das diferenças na armadura vertical, os modelos de fissuração são similares para

    as vigas W1, W2 e W3 sob carregamento L1. Sob carregamento L2 , o desenvolvimento de

    fissuras em todas as vigas (W1 a W5 ) é largamente influenciado pela quantidade dessa

    armadura. O espaçamento médio entre fissuras na seção vertical central das vigas varia com o

    espaçamento da armadura vertical. A Figura 2.21 mostra que para grandes taxas dessa

    armadura, o espaçamento médio entre fissuras horizontais é reduzido.

    Sob cargas no topo e na base combinadas, o modelo de fissuração é influenciado tanto

    pela razão entre os carregamentos do topo e da base quanto pela taxa de armadura vertical.

  • 33

    A maior abertura de fissura, para as amostras carregadas no topo (L1), foi gerada por

    uma fissura diagonal, e, para as carregadas na base, por uma fissura horizontal. A Figura 2.22

    apresenta as máximas aberturas de fissura para o carregamento L1. Para as três vigas testadas,

    esta medida foi feita a uma altura de 250 mm da base. Examinando-se a Figura 2.22, a abertura

    máxima de fissura parece ter se desenvolvido muito similarmente nas vigas W1e W2 .

    Espaçamento da armadura vertical (mm)

    Porcentagem de armadura vertical

    Figura 2.21 - Efeito da armadura vertical sobre o espaçamentomédio das fissuras sob carregamento na base (L2 ).

  • 34

    Abertura de fissura (mm)

    Figura 2.22 - Desenvolvimento da abertura de fissura para vigas carregadas no topo (L1).

    Os valores de abertura máxima de fissura para as vigas sob carregamento L2 estão

    resumidos na Figura 2.23, e, para carregamento L3 , na Figura 2.24. Pelas duas figuras,

    percebe-se que quando a carga é aplicada na base, a abertura de fissura é diretamente

    dependente da quantidade de armadura vertical.

    O Guia da CIRIA (1977) apresenta recomendações de projeto para vigas-parede

    carregadas no topo e na base simultaneamente. Além disso, recomenda arranjos particulares

    de armadura de cisalhamento para casos de cargas aplicadas na base.

    O ACI 318-95 não tem nenhuma disposição especial para carregamento aplicado na

    base e, geralmente, é muito conservativo para as vigas carregadas no topo (Cusens, A. R.,

    1990).

  • 35

    Abertura de fissura (mm)

    Figura 2.23 - Desenvolvimento da abertura de fissura para vigas carregadas na base (L2 ).

    Abertura de fissura (mm)

    Figura 2.24 - Desenvolvimento de abertura de fissura paravigas carregadas igualmente no topo e na base (L3 ).

  • 36

    2.11 - INFLUÊNCIA DE ABERTURA NA ALMA

    Em várias formas de construção, aberturas na região da alma de vigas-parede são

    algumas vezes preparadas para serviços essenciais e acessibilidade.

    Embora testes em vigas de concreto forneçam recomendações utilizáveis na resistência

    de vigas-parede com furos, os dados assim desenvolvidos não fornecem informações

    compreensivas de distribuição de tensões em regiões críticas.

    O guia de projeto de vigas-parede da CIRIA, tratando do projeto e detalhamento de

    aberturas de alma, foi principalmente baseado em dados da literatura publicada, percepção

    intuitiva para a distribuição das tensões e experiências de construção. Essas aproximações

    tendem a ser cautelosas na falta de dados adequados de testes (Ray, S. P., 1990).

    M. Haque, Rasheeduzzafar e A. H. J. Al-Tayyib (1986) realizaram um programa de

    testes, utilizando técnicas fotoelásticas, envolvendo 13 vigas-parede, para estabelecer os

    efeitos da relação "/h, da presença das aberturas (furos) e da posição das mesmas na

    distribuição de tensões. O vão das vigas, a posição das cargas aplicadas e o tamanho e a forma

    das aberturas foram mantidas invariantes para o programa. Desta pesquisa concluiu-se que o

    modelo do fluxo de tensões para as vigas com furos é diferente do de vigas de alma sólida

    somente na região em torno da abertura. O efeito da abertura de alma em termos do

    crescimento das tensões de flexão críticas foi significante somente nas vigas mais baixas

    ("/h = 2.0) das séries de teste, tornando-se desprezível nas vigas mais altas ("/h = 1.46 e 1.0).

    A localização da abertura de alma é o principal fator que influencia os níveis de tensão e a

    resistência da viga.

    A título de ilustração, pode ser visto na Figura 2.25 a trajetória de tensões para o

    modelo testado M4 (Haque et al., 1986).

  • 37

    Figura 2.25 - Trajetória de tensões para uma viga-paredecom abertura de alma (modelo M4 (Haque et al., 1986)).

    Na Figura 2.26 encontram-se modelos de fissuração na ruptura de típicas vigas-parede

    com aberturas de alma sob a ação de dois pontos de carga, um a 1/3 e outro a 2/3 do vão. Na

    Figur