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Globalização, parte do trabalho e desigualdade de renda: um estudo de caso Bruno Meyer Lafayette Gelio Pedro Gomes Rychter Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha Rio de Janeiro Setembro de 2016

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Globalização, parte do trabalho e desigualdade de renda: um

estudo de caso

Bruno Meyer Lafayette Gelio

Pedro Gomes Rychter

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

Globalização, parte do trabalho e desigualdade de renda: um

estudo de caso

Bruno Meyer Lafayette Gelio

Pedro Gomes Rychter

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

________________________________________________

Professora Maria Alice Ferruccio da Rocha, D.Sc.

________________________________________________

Professor Lino Guimarães Marujo, D.Sc.

________________________________________________

Professora Anna Carla Monteiro de Araújo, D.Sc.

ii

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Setembro de 2016

Gelio, Bruno

Rychter, Pedro

Globalização, parte do trabalho e desigualdade de renda: um estudo de caso/ Bruno Meyer Lafayette Gelio e Pedro Gomes Rychter – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.

XII, 59 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de Engenharia de Produção, 2016.

Referências Bibliográficas:

1.Economia norte-americana. 2.Consequências da globalização. 3.Partipação do trabalho no PIB. 4.Desigualdades de renda.

I. Maria Alice Ferruccio da Rocha

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de Produção.

III. Globalização, parte do trabalho e desigualdade de renda: um estudo de caso

iii

AGRADECIMENTOS

Aos nossos pais, mães e demais familiares, por terem se mantido incessantemente ao

nosso lado ao longo desses anos de esforço, aprendizado e constante superação que

foram o período de graduação.

À Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição de ensino superior que

escolhemos há seis anos para fazer parte de nossa formação profissional devido a seus

notório prestígio e qualidade acadêmica, por ter superado nossas expectativas de

educação tanto profissional quanto ética.

À professora Maria Alice Ferruccio da Rocha, pela sua disponibilidade em nos

orientar, acadêmica e pessoalmente, tanto neste projeto quanto ao longo de todo o

curso de graduação.

Finalmente, a todos os autores dos livros, artigos e estudos sobre os quais nos

baseamos para a feitura deste trabalho, por produzirem conteúdo relevante e de

qualidade que não apenas despertou em nós o interesse pela economia das

desigualdades como também nos mostrou que é imprescindível, para que haja

discussões e posteriores avanços econômicos e sociais, saber pensar fora das caixas

existentes – muitas vezes contaminadas por vícios enraizados.

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

GLOBALIZAÇÃO, PARTE DO TRABALHO E DESIGUALDADE DE RENDA:

UM ESTUDO DE CASO

Bruno Meyer Lafayette Gelio

Pedro Gomes Rychter

Setembro/2016

Orientadora: Maria Alice Ferruccio da Rocha

Curso: Engenharia de Produção

O presente trabalho é motivado pela observação de dois fenômenos concomitantes a

partir dos anos 1970 nos Estados Unidos: a redução da participação do trabalho no PIB

e o aumento das desigualdades de renda. A metodologia de análise dessa conjuntura

visa à busca de causas que possam estar conjuntamente por trás dos dois fenômenos

em questão.

Primeiramente, há um levantamento e análise superficial de diversos fatores, e em

seguida o fator globalização é estudado mais profundamente. A metodologia de

trabalho se interessa ainda nos modos pelos quais a globalização afeta diretamente os

dois fenômenos-chave, modos estes: convergência de salários à escala mundial,

deslocalização e imigração, patamar de preços de importação e exportação e aumento

do tamanho das empresas. Estudos estatísticos são realizados e usados como base para

as conclusões do trabalho.

Palavras-chave: Economia norte-americana, Consequências da globalização,

Participação do trabalho no PIB, Desigualdades de renda

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

GLOBALIZATION, LABOR SHARE AND INCOME INEQUALITY: A CASE

STUDY

Bruno Meyer Lafayette Gelio

Pedro Gomes Rychter

September/2016

Advisor: Maria Alice Ferruccio Da Rocha

Course: Industrial Engineering

This project is motivated by the observation of two concomitant phenomena since the

1970s in the United States: the reduction of labor share in GDP and the rising income

inequality. The analysis methodology proposes to identify causes that can be jointly

behind the two phenomena in evidence.

Firstly, there is a research and superficial analysis of various factors, and secondly the

globalization factor is studied in more depth. The methodology will still describe the

ways in which globalization affects directly the two key phenomena, these ways being:

worldwide convergence of wages, relocation and immigration, import and export price

levels and increase of companies’ size. Conclusions are based upon statistical studies.

Keywords: American economy, Consequences of globalization, Labor share in GDP,

Income inequality

vi

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 121

1.1 O PROBLEMA EM QUESTÃO ...................................................................... 12

1.2 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO .............................................................. 13

1.3 HIPÓTESES ..................................................................................................... 13

1.4 JUSTIFICATIVA DO TEMA .......................................................................... 14

1.5 METODOLOGIA DO TRABALHO ............................................................... 15

1.6 CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA ..................................................................... 15

1.7 LIMITAÇÕES DE PESQUISA ........................................................................ 16

1.8 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS .................................................................... 17

O AUMENTO DA DESIGUALDADE DE SALÁRIOS E A REDUÇÃO DA 2PARTICIPAÇÃO DO TRABALHO NO PIB ............................................................... 19

2.1 O CASO DOS ESTADOS UNIDOS: POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES .............. 23

2.2 O PROGRESSO TÉCNICO ENVIESADO ..................................................... 26

2.2.1 A definição do processo técnico enviesado ............................................... 26

2.2.2 O impacto do progresso técnico enviesado sobre os fenômenos a serem analisados ............................................................................................................... 28

2.3 A REGRESSIVIDADE DA TRIBUTAÇÃO ................................................... 29

2.3.1 O conceito de sistemas tributários progressivos e regressivos .................. 29

2.3.2 O impacto da regressividade tributária sobre os fenômenos a serem analisados ............................................................................................................... 31

2.4 A GLOBALIZAÇÃO ....................................................................................... 32

2.4.1 O conceito de globalização ........................................................................ 32

2.4.2 O impacto da globalização sobre os fenômenos a serem analisados ......... 33

A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO .............................................................. 363

3.1 O “FENÔMENO CHINA” E A CONVERGÊNCIA DOS SALÁRIOS À ESCALA MUNDIAL ................................................................................................ 37

3.2 A ESPECIALIZAÇÃO: DESLOCALIZAÇÃO E IMIGRAÇÃO ................... 42

3.3 OUTRO ÍNDICE DA GLOBALIZAÇÃO: OS NÍVEIS DE PREÇOS DE EXPORTAÇÃO E DE IMPORTAÇÃO ................................................................... 47

3.4 O AUMENTO DO TAMANHO DAS EMPRESAS ....................................... 49

3.4.1 O racional por trás desse fenômeno ........................................................... 49

vii

3.4.2 A dinâmica dos lucros das empresas ......................................................... 51

3.5 A DINÂMICA DA RENDA DOS PERCENTIS ............................................. 53

3.6 A CORRELAÇÃO ENTRE O LUCRO DAS EMPRESAS E A RENDA DO 1% MAIS RICO ........................................................................................................ 55

3.7 A RELAÇÃO DO LUCRO DAS EMPRESAS COM A PARTICIPAÇÃO DO TRABALHO NO PIB ............................................................................................... 58

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 604

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 625

APÊNDICE A: REGRESSÃO LINEAR EXPLICANDO A PARTICIPAÇÃO DO 6TRABALHO NO PIB ................................................................................................... 65

APÊNDICE B: REGRESSÃO LINEAR EXPLICANDO A RENDA MÉDIO DO 71% MAIS RICO DA POPULAÇÃO ............................................................................. 68

viii

FIGURAS

Figura 1: participação do trabalho no PIB. Fonte: Adaptado de The Economist (2013). ....................................................................................................................................... 20

Figura 2: participação do 1% mais rico na renda nacional. Fonte: Adaptado de The World Top Income Database (TWTID) (2016). ............................................................ 22

Figura 3: distribuição de renda nos EUA e demais países da OCDE. Fonte: Adaptado de OCDE (2013). ........................................................................................................... 23

Figura 4: porcentagem da renda nacional detida pelo 1% mais rico dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de TWTID (2016). ............................................................................. 24

Figura 5: parte do trabalho no PIB dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Bureau of Economic Analysis (BEA) (2016). ................................................................................ 25

Figura 6: evolução dos salários por indústria nos Estados Unidos entre 1929 e 1999. Fonte: Adaptado de BEA (2016). .................................................................................. 39

Figura 7: Evolução dos salários por indústria nos Estados Unidos entre 2000 e 2013. Fonte: Adaptado de BEA (2016). .................................................................................. 40

Figura 8: convergência dos salários industriais médios de países emergentes asiáticos à média salarial dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Industrial Statistics Database (2006); CEIC Asia Database (2006). ............................................................................ 41

Figura 9: convergência dos salários industriais médios de países emergentes latino-americanos à média salarial dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Industrial Statistics Database (2006); IBGE (2006). ..................................................................... 42

Figura 10: índice de offshoring no ano 2000. Fonte: Adaptado de BEA (2016). .......... 43

Figura 11: parte do trabalho na renda nos EUA e demais países. Fonte: Adaptado de OCDE (2006). ................................................................................................................ 44

Figura 12: Offshoring de produto intermediário qualificado e não qualificado. Fonte: Adaptado de OCDE (2006); International Trade in Services Database (2006). ........... 45

Figura 13: mudança da participação da mão-de-obra estrangeira na força de trabalho nacional, por escolaridade. Fonte: Adaptado de OCDE, International Migration Data (2005). ............................................................................................................................ 46

Figura 14: quebra por setores do lucro das empresas antes de impostos, até 1999. Fonte: Adaptado de BEA (2016). .................................................................................. 51

Figura 15: quebra por setores do lucro das empresas antes de impostos, de 2000 a 2013. Fonte: Adaptado de BEA (2016). ........................................................................ 52

Figura 16: participação relativa de cada categoria no lucro das empresas. Fonte: Adaptado de BEA (2016). ............................................................................................. 53

ix

Figura 17: evolução da renda média dos percentis. Fonte: Adaptado de TWTID (2013). ....................................................................................................................................... 54

Figura 18:evolução da renda média dos últimos percentis. Fonte: Adaptado de TWTID (2013). ............................................................................................................................ 54

Figura 19: evolução da participação dos fatores que compõem a parte do capital no PIB. Fonte: Adaptado de BEA (2016). .......................................................................... 59

x

LISTA DE SIGLAS

OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

FMI Fundo Monetário Internacional

BEA Bureau of Economic Analysis

TWTID The World Top Income Database

PTF Produtividade Total dos Fatores

EUA Estados Unidos da América

PIB Produto Interno Bruto

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

USD United States Dolar

12

INTRODUÇÃO 1

1.1 O PROBLEMA EM QUESTÃO

Nos Estados Unidos, observa-se que o aumento das desigualdades salariais

começou aproximadamente ao mesmo tempo que a redução da participação do

componente trabalho no PIB. Na literatura econômica, esses assuntos são

frequentemente tratados em separado. É interessante, entretanto, analisá-los

conjuntamente, afim de entender se eles podem ser interpretados como consequências

de outros fenômenos.

De fato, as duas evoluções começaram no mesmo período, os anos 1970, e

parecem também ter causas comuns: a globalização, a evolução do caráter progressivo

da tributação, o progresso técnico enviesado, a educação cada vez menos democrática,

a redução do preço relativo do capital e a expansão do setor financeiro e tecnológico.

Deste modo, novas realidades se apresentaram às empresas: efeitos de escala,

especialização das tarefas, aumento da concorrência, surgimento de novas

necessidades, etc. Diversas empresas americanas se viram forçadas a assumir uma

nova identidade e uma nova estratégia, desencadeando o aumento do tamanho de

algumas e a extinção de outras, de modo a garantir uma posição de competitividade

nos mercados mundiais. Em especial, a estrutura do mercado industrial dos Estados

Unidos sofreu uma reviravolta: as deslocalizações das atividades intensivas em

trabalho fizeram com que o foco do país fosse, aos poucos, sendo direcionado para

atividades altamente intensivas em capital.

13

Por outro lado, em uma análise em nível mundial, a partir dos anos 1970, nota-se

um processo de conquista de mercados ocidentais por produtos dos países emergentes

asiáticos. Esses novos “gigantes asiáticos” adquiriram grandes participações de

mercado em várias indústrias, o que também afetou a economia americana via maior

pressão para a redução de custos na produção industrial.

1.2 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO

O trabalho se baseia no desmembramento dos fenômenos em termos e variáveis

observáveis, e tem como objetivo achar possíveis correlações entre variáveis que

possam vir a clarificar a relação entre os fenômenos de aumento da desigualdade

salarial e redução da participação do fator trabalho no PIB através da análise de séries

históricas de indicadores macroeconômicos. Ressalta-se que a análise desenvolvida

possui foco no fenômeno macroeconômico americano, por mais que fenômenos

semelhantes aconteçam em todo o mundo desenvolvido, e as razões para essa

abordagem serão elencadas posteriormente. O projeto também tem como meta a busca

de outras mudanças econômicas, tecnológicas, sociais e financeiras que tenham

acontecido no período de tempo em questão e que possam corroborar com o

acontecimento simultâneo dos dois fenômenos foco.

1.3 HIPÓTESES

A hipótese que o trabalho tenta validar é a seguinte: há causas comuns por trás

dos dois fenômenos foco, e uma vez identificadas, será possível melhor endereçar o

14

problema em busca de soluções que visem à interrupção do problema crônico da

aceleração da concentração de renda e desigualdade social.

1.4 JUSTIFICATIVA DO TEMA

A crise econômica iniciada nos Estados Unidos em 2008 questionou as virtudes

normalmente associadas ao sistema econômico contemporâneo. Uma delas é a sua

eficiência em aumentar a riqueza e o bem-estar social de cada membro da sociedade, o

que vinha sendo visto como verdade absoluta ao longo dos últimos séculos. No

contexto atual, em que o crescimento não é mais considerado como certo, é preciso

começar a se interrogar sobre como se dá a repartição das riquezas atualmente, e sobre

como ela veio ocorrendo durante esses últimos anos.

Além disso, outra parte importante da motivação do trabalho veio das

observações recentes de Thomas Piketty (2014), em sua obra intitulada “O Capital no

Século XXI”. Num estudo inédito até então, que virou rapidamente notícia em diversos

jornais especializados no assunto, o economista francês evidencia que as desigualdades

de renda e patrimônio nos países desenvolvidos aumentam incessantemente desde o

fim dos anos 1970. Estas análises vão de encontro com o tema central deste trabalho:

as ideias de Piketty servem efetivamente de base para grande parte da discussão a ser

apresentada, incitando o aprofundamento em cada um dos assuntos.

Por fim, ambos os autores se interessam imensamente pelo estudo da economia,

a tal ponto que seus projetos profissionais estão relacionados a essa área. Deste modo,

o fato do trabalho se basear em temas relevantes a este campo de estudo se revelou

15

como sendo um propósito muito atrativo e coerente, com cada um desejando explorar o

seu grande interesse pela área.

1.5 METODOLOGIA DO TRABALHO

O trabalho está baseado em pesquisas de dados na base de dados do governo

americano e de publicações científicas anteriores que tenham investigado os

fenômenos foco. De posse destes dados foram realizados estudos estatísticos, como

regressões lineares, que tinham como objetivo testar a correlação entre os indicadores

estudados e a evolução de outros indicadores que marcam os fenômenos já descritos.

A metodologia propõe, num primeiro momento, um levantamento de causas

gerais para os dois fenômenos analisados, a escolha de uma causa para maior estudo, e

um aprofundamento dos modos através dos quais essa causa (globalização) impacta os

fenômenos.

1.6 CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA

O projeto visa debater como a mudança no mix dos fatores de produção no

produto interno tem impactado os indicadores de desigualdade nos Estados Unidos,

através de uma regressão estatística, de forma a contribuir para o debate sobre as

causas da má distribuição de renda e patrimônio verificada atualmente no país objeto

do estudo.

16

Ressalta-se que em um cenário de descontentamento das classes mais baixas com

o aumento da desigualdade e forte discussão sobre tratados bilaterais e medidas de

protecionismo através de barreiras alfandegárias, onde questiona-se inclusive o

funcionamento de órgãos internacionais como a Organização Mundial de Comércio

(OMC), a discussão sobre a interconexão dos fenômenos de aumento da desigualdade

e redução da participação do trabalho no PIB contribui com a possibilidade de uma

visão mais holística destas tendências macroeconômicas.

1.7 LIMITAÇÕES DE PESQUISA

Para definir melhor o escopo deste trabalho, decidiu-se que seria mais

interessante focar a análise na economia americana. Essa escolha se dá pelo fato de que

os Estados Unidos são a economia mais importante do mundo, e exercem portanto uma

influência sobre todas as outras, representando para vários países um modelo a ser

seguido. Dessa forma, não serão analisados dados de outros países.

Ressalta-se ainda que a análise da economia dos Estados Unidos da América é

bastante interessante também por conta da fiabilidade e riqueza de dados das bases

americanas de acesso livre, que possuem séries de indicadores cobrindo um extenso

espaço de tempo.

Outro ponto importante a se considerar é que não serão aprofundadas análises

estatísticas, com estudos matemáticos sobre resíduos de equações, como por exemplo

estudos de heterocedasticidade, multicolinearidade, entre outros; bem como interações

entre fatores utilizados como explicadores nos modelos regressivos, dado que estas não

são relevantes para o estudo dos fenômenos em questão sob a ótica da hipótese que se

deseja sustentar.

17

1.8 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

A pesquisa começa definindo claramente, no início do capítulo 2, os dois

fenômenos a serem estudados: a redução da participação do trabalho no Produto

Interno Bruto (PIB) e o aumento das desigualdades salariais na economia americana.

Em seguida, na seção 2.1, analisar-se-ão as particularidades dos Estados Unidos,

para que sejam então listadas na seção 2.2, 2.3 e 2.4 as causas dos dois fenômenos

supracitados comumente apontadas na literatura. Serão ainda expostas, mesmo que de

forma mais breve, a ideia do progresso técnico enviesado e a regressividade da

tributação nos Estados Unidos. A globalização, o terceiro fator causal, é também

brevemente descrito nesta parte, porém sua análise será aprofundada no capítulo 3. As

seções são divididas de forma que primeiramente é apresentado o conceito da causa, e

em seguida são analisados os impactos que a mesma gera na economia sob a ótica dos

fenômenos que são o foco do trabalho.

A globalização será então estudada separadamente no capítulo 3, visto que é o

foco principal do trabalho. Após uma explicação sobre a sua relevância no contexto

geopolítico e econômico, quatro ângulos de ação da mesma serão analisados nas

seções subsequentes (3.1 a 3.4): a convergência de salários à escala mundial, a

deslocalização e imigração, a diminuição dos preços de importação e o aumento do

tamanho das empresas.

Na seção 3.5, por sua vez, são apresentados dados sobre a dinâmica de renda da

população americana através de uma análise de percentis, onde a população é dividida

de acordo com a renda anual.

18

No final do capítulo 3, mais precisamente nas seções 3.5 e 3.6, são apresentadas

regressões estatísticas que visam a corroborar ou refutar a hipótese previamente

levantada de causa comum para os fenômenos que são foco da análise deste projeto. Já

na seção 3.7 há uma discussão sobre a evolução dos lucros das empresas e a redução

do fator trabalho no PIB.

Por fim, o capítulo 4 apresenta as conclusões do estudo, sendo seguido pelas

referência bibliográficas no capítulo 5, que elencam os artigos, livros e outras demais

fontes consultadas para a elaboração do projeto.

Ressalta-se que o trabalho possui ainda 2 apêndices, onde são apresentadas de

forma mais detalhada as regressões realizadas ao longo do projeto. Nos apêndices

também estão incluídas as séries de dados utilizadas como base para estas regressões.

19

O AUMENTO DA DESIGUALDADE DE SALÁRIOS E A REDUÇÃO DA 2PARTICIPAÇÃO DO TRABALHO NO PIB

A participação do trabalho no PIB é equivalente à remuneração total do

trabalho, ou seja, à soma de todos os salários1 pagos em um ano, dividida pelo PIB

(igualmente anual), e é comumente chamada em artigos acadêmicos de wage share ou

unadjusted labor share (LUEBKER, 2007). Observa-se que a o longo dos últimos

trinta anos, a participação dos salários no PIB dos Estados Unidos tem apresentado

uma tendência decrescente, tendo atingido o seu mais baixo nível desde a Grande

Depressão.

Deve se ressaltar, entretanto, que não se trata de um fenômeno especialmente

cativo aos Estados Unidos. Na figura abaixo, pode-se observar de forma clara que ele é

verificado também em diversos países, sendo eles participantes do grupo das chamadas

economias desenvolvidas ou não.

1 Para os propósitos deste trabalho, será utilizado o conceito de salário nominal bruto, ou seja, aquele que consta no contracheque do trabalhador, antes da dedução dos tributos pertinentes. Observa-se que

20

Figura 1: participação do trabalho no PIB. Fonte: Adaptado de The Economist (2013).

As causas desse fenômeno são diversas e múltiplas. Várias são mencionadas na

literatura, como: erros estatísticos, movimentos de trabalhadores entre diversos setores

da economia, substituição do trabalho por capital, progresso técnico enviesado, baixa

da sindicalização dos trabalhadores e globalização.

Segundo o artigo “The Decline of the US Labor Share” (Michael Elsby, 2013),

a causa principal dessa redução da parte do trabalho é a globalização, mais

precisamente por conta das possibilidades que passam a existir de deslocalizações e

importações intensivas de trabalho. Esse ponto será analisado mais detalhadamente na

seção seguinte.

As desigualdades salariais assinalam a disparidade existente entre a renda dos

indivíduos de uma sociedade. Essa desigualdade é estudada através de uma análise

comparativa das rendas dos indivíduos residentes em um mesmo país ou entre

21

indivíduos residentes em diferentes países do mundo. Elas são medidas por diferentes

indicadores, como o coeficiente Gini2 ou pela análise por quintis, decis, percentis, etc.

Nos países da Organização de Cooperação e do Desenvolvimento Econômico

(OCDE), o nível de desigualdade nunca foi tão elevado: os 10% mais ricos possuem

9,5 vezes mais do que possuem os 10% mais pobres; em 1980, essa relação era de

aproximadamente sete vezes segundo o relatório “Focus on Inequality and Growth”

publicado em dezembro de 2014 pela OCDE.

Nas últimas décadas, o crescimento da desigualdade tem sido um fato de

grande relevância para os economistas, e é possível se fazer uma analogia entre a

Grande Depressão e a Grande Recessão. Antes da Grande Depressão, a desigualdade

havia atingido um nível inédito na economia moderna. Após as guerras, a concentração

das riquezas diminuiu bastante e permaneceu baixa durante algumas décadas.

Entretanto, após 1975, a desigualdade voltou a aumentar para alcançar, no ano 2000,

níveis similares àqueles atingidos no período que antecedeu as guerras mundiais. Para

ilustrar esse fenômeno, pode-se observar a figura a seguir.

2 Coeficiente Gini: indica em que medida a repartição da renda [...] entre os indivíduos ou os lares no âmbito de uma economia está longe da igualdade perfeita. Uma curva de Lorenz indica as porcentagens cumulativas do total da renda recebida em relação ao número cumulativo dos beneficiários, começando pelos indivíduos ou pelos lares mais pobres. O índice Gini indica a superfície entre a curva Lorenz e uma linha hipotética de igualdade absoluta como porcentagem da superfície máxima situada nessa linha. O coeficiente de Gini situa-se entre 0 (igualdade perfeita) e 100 (desigualdade absoluta) - definição extraída do site do Banco Mundial.

22

Figura 2: participação do 1% mais rico na renda nacional. Fonte: Adaptado de The World Top Income

Database (TWTID) (2016).

Diversas causas podem ser apontadas de forma a justificar essa evolução.

Dentre elas, pode-se citar: um sistema de tributação regressivo, o progresso técnico

enviesado, a globalização, a baixa do custo relativo do capital, etc. As causas mais

importantes serão analisadas na seção seguinte.

23

2.1 O CASO DOS ESTADOS UNIDOS: POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES

A economia americana é a primeira a nível mundial e também uma das mais

desiguais entre os países desenvolvidos. Nota-se na próxima figura que o seu

coeficiente de Gini é um dos mais altos da OCDE e que a razão de renda entre os “10%

mais ricos” e os “10% mais pobres da população” também é bastante elevado quando

comparado com outros países da organização. Ressalta-se que na figura as colunas

representam os valores para cada país, de forma que as colunas vermelhas representam

os valores dos indicadores encontrados na economia dos Estados Unidos, enquanto que

as colunas marcadas em azul correspondem aos valores médios dos países que

compõem a OCDE.

Figura 3: distribuição de renda nos EUA e demais países da OCDE. Fonte: Adaptado de OCDE (2013).

Outro indicador interessante de ser observado nos Estados Unidos, que revela

também o nível da desigualdade dessa economia, é a participação da renda do 1% da

população mais rica. Nota-se inclusive que os níveis dos últimos anos são idênticos

24

àqueles que marcaram o período imediatamente anterior à Grande Depressão, como

mostra a figura a seguir.

Figura 4: porcentagem da renda nacional detida pelo 1% mais rico dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado

de TWTID (2016).

No que diz respeito à participação do trabalho no PIB, a economia americana

também adere à tendência mundial de queda deste indicador. Na figura a seguir pode

ser observada a evolução detalhada deste indicador nos Estado Unidos, ao longo dos

últimos 70 anos. Ressalta-se que os dados disponibilizados na fonte abrangem apenas o

período entre 1947 e 2012.

25

Figura 5: parte do trabalho no PIB dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Bureau of Economic

Analysis (BEA) (2016).

Desta forma, a economia americana reúne todos os elementos considerados

pertinentes para o estudo do fenômeno que ocorre em escala mundial em diversos

países. Além disso, em coerência com o que foi previamente escrito na introdução, a

escolha pelos Estados Unidos da América (EUA) baseou-se no fato de se tratar de uma

economia muito influente, servindo de modelo para vários países.

Serão brevemente descritas, portanto, as principais causas apontadas na

literatura como explicativas para os fenômenos de redução da participação do trabalho

no PIB e aumento da desigualdade. As descrições enfatizam como cada possível causa

impacta a economia, resultando como consequência os dois fenômenos supracitados.

26

2.2 O PROGRESSO TÉCNICO ENVIESADO

2.2.1 A definição do processo técnico enviesado

Como citado por Giovanni L. Violante (2008) em seu artigo intitulado “Skill

Biased Technical Change” o conceito do progresso técnico enviesado está ligado à

uma mudança na tecnologia de produção que acaba por favorecer os trabalhadores

qualificados, dado que esta mudança tecnológica aumenta a produtividade relativa e,

assim, a demanda relativa por mão de obra qualificada. Ainda segundo o artigo a

economia tende a enxergar a tecnologia de produção como o modo utilizado para a

transformação de recursos (inputs) em produtos (outputs), e uma mudança tecnológica

nesse processo seria caracterizada por uma mudança da função de produção, ou seja,

uma mudança no nível de produção dados os mesmos recursos.

Observa-se que Robert Solow (1957) em seu artigo sobre o tema define uma

medida para a mudança tecnológica através do conceito da Produtividade Total dos

Fatores (PTF), ou aggregate total factor productivity, afirmando que o avanço da

produtividade total dos fatores acaba por não alterar as taxas marginais de substituição

dos fatores de produção, de forma que o avanço tecnológico, caracterizado pelo

aumento da produtividade total dos fatores é neutro por não alterar o preço relativo

entre os fatores.

Para melhor ilustrar pode-se utilizar o exemplo invocado por Violante no artigo

acima citado, onde a função de produção é aproximada por uma função Cobb-Douglas

com retornos constantes à escala onde:

𝑌 = 𝑍𝐾!𝐿!!! (Equação 1)

27

Sendo:

𝑌 Produção agregada

𝐾 Quantidade de capital

𝐿 Quantidade de Trabalho

𝛼 Elasticidade da produção em relação ao capital

𝑍 Produtividade total dos fatores (PTF)

Nesse cenário, de posse de estimativas para 𝛼, e com os dados obtidos de séries

estatísticas para 𝐾, 𝐿 e 𝑌, o fator 𝑍, equivalente à PTF pode ser estimado como o

resíduo para que a equação fique correta. Essa interpretação leva à conclusão de que

mudanças tecnológicas neutras são a principal fonte de crescimento da renda per capita

no longo prazo.

Nas estatísticas observadas por Solow em seu artigo, que cobriam o período

entre 1909 e 1949, os dados apontaram para um modelo onde efetivamente à PTF

parecia se mover sem alterar o preço relativo dos fatores. Violante, entretanto, afirma

em seu artigo que, nos últimos 30 anos, os dados apontam em outra direção,

evidenciado as limitações desse modelo. Ainda segundo Violante “nas últimas três

décadas o aluguel de trabalho qualificado cresceu dramaticamente em relação ao

trabalho não qualificado, apesar de um grande crescimento na oferta relativa de

habilidades” (Violante, 2008, tradução dos autores). Para fundamentar o fato Violante

cita os dados do chamado college wage premium, ou prêmio de salário universitário

em tradução livre, que é definido como a razão entre os salários de profissionais com

diploma universitário e profissionais que concluíram apenas o ensino médio. Segundo

o autor, esse indicador saiu de 1,45 em 1965 para 1,70 em 1995, sendo que no mesmo

período a oferta relativa de trabalhadores com diploma universitário triplicou.

28

Assim, pode-se concluir que os resultados indicam mudanças nos preços

relativos, dado que os movimentos observados nas quantidades relativas não podem ser

atribuídos à “movimentos ao longo da curva de produção” (VIOLANTE, 2008,

tradução dos autores). Surge então, nesse contexto, o conceito do progresso técnico

enviesado, sugerindo que o avanço tecnológico pode acabar por beneficiar apenas um

subgrupo formado por trabalhadores mais qualificados.

2.2.2 O impacto do progresso técnico enviesado sobre os fenômenos a serem

analisados

Em relação à participação do trabalho no PIB observa-se que o progresso

técnico aparenta ser indiferente, ou mais especificamente, possui um impacto com

efeitos opostos, em função da área de aplicação. Numa indústria onde a função de

produção emprega relativamente mais, o progresso técnico atua substituindo o fator

humano pelo fator capital, causando assim um favorecimento do fator capital em

detrimento do fator trabalho. Em outras palavras, o trabalhador pode ser substituído

devido à automatização de atividades que antes eram realizadas pelo mesmo, ou

permanecer sem aumento do seu salário, visto que ele entra em concorrência com a

tecnologia, cujo custo terá progressivamente tendência à diminuir.

Ao contrário dessa situação anteriormente descrita, onde o valor agregado for

grande, a tecnologia permite ao indivíduo ganhar em eficiência ao invés de ser

substituído por uma máquina, como ocorreu na terceira revolução industrial. Essas

indústrias não verão, necessariamente, a sua participação salarial ser diminuída com o

progresso tecnológico.

29

Por outro lado, em relação ao aumento da desigualdade intui-se que as

empresas vão remunerar melhor os trabalhadores que são complementares ao processo

de inovação técnica, ou seja, que ganham produtividade em seu trabalho com o avanço

tecnológico, e remunerar de maneira pior os que podem ser substituídos devido ao

progresso técnico. Como essas duas categorias de trabalhadores tendem a coincidir

com os trabalhadores qualificados e os trabalhadores não qualificados, as diferenças

salariais serão ainda mais evidentes, devido ao progresso técnico. Essa é a base do

conceito do progresso técnico enviesado.

Na literatura já há discussão ligada ao tópico do progresso técnico enviesado, e

muitos artigos já foram escritos de forma a analisar o tema e seu impacto na

desigualdade, como pode se verificar nos artigos “Technical Change, Inequality and

the Labor Market” (Acemoglu,D., 2012), “The Origins of Technology-Skill

Complementarity” (Goldin, C. e L.M. Katz, 1998) e “Capital Skill Complementarity

and Inequality: A Macroeconomic Analysis” (Krusell, P. et al, 2000). Este é o motivo

pelo qual foi decidido não se aprofundar a discussão nesta faceta do problema.

2.3 A REGRESSIVIDADE DA TRIBUTAÇÃO

2.3.1 O conceito de sistemas tributários progressivos e regressivos

Na literatura econômica um sistema tributário é classificado como progressivo

quando a taxa de impostos aumenta à medida que cresce a renda tributável, daí o nome

progressivo, dado que a taxa progride ao longo da curva de rendimentos. Uma

30

consequência clara desse sistema é que a taxa média de impostos é mais baixa do que a

taxa de tributação marginal.

Da mesma forma, um sistema regressivo é exatamente o oposto do explicado

acima. Nesse tipo de organização tributária a taxa média de tributação acaba por ser

inferior à taxa marginal, dado que a taxa tributária é reduzida à medida que a renda

passível de tributação aumenta.

Há diversas formas de se medir se o sistema tributário de um país é progressivo

ou não, e qual seu grau de progressividade quando comparado com outros países,

sendo a literatura bastante extensa na oferta de modelos para se calcular estes

resultados.

É interessante se citar, entretanto, o modelo apresentado por Nanak Chand

Kakwani (1977) em seu artigo “Measurement of tax progressivity: an international

comparison”, onde Kakwani introduz um índice que visa medir a distância da

proporcionalidade como a diferença entre o coeficiente de concentração de tributos e o

coeficiente de Gini da renda antes da aplicação da tributação; sendo este cálculo uma

aproximação da progressividade tributária de um país, de forma que:

Π!! = 𝐶! − 𝐺! (Equação 2)

Onde:

𝐶! Coeficiente de concentração da tributação (dado)

𝐺! Coeficiente de Gini da renda pré tributação (dado)

Π!! Índice de progressividade de Kakwani

31

2.3.2 O impacto da regressividade tributária sobre os fenômenos a serem

analisados

Sobre os efeitos da regressividade tributária em relação à dinâmica de aumento

da parte do trabalho no PIB é válido argumentar que um sistema regressivo de

tributação incita a população mais rica a investir, e consequentemente os rendimentos

do capital serão mais altos (e relativamente a parte do trabalho será reduzida). Na

mesma direção, pode-se também dizer que um sistema progressivo, por não incentivar

o investimento (pois para um mesmo risco de investimento, o retorno final após

impostos será menor), acaba reduzindo a participação do capital na produção em

detrimento de maior participação do fator trabalho. O caráter cada vez mais regressivo

da tributação desde os anos 1970 parece ir de encontro com essa lógica, favorecendo a

explicação da redução da parte do trabalho por esse fator.

Já sua influência no aumento da desigualdade é clara no sentido de que diversas

pesquisas mostram correlações sólidas entre a redução da taxação dos mais ricos e o

aumento de seus salários médios, antes de impostos. Uma explicação é que a redução

da tributação sobre os mais ricos os incentiva a empregar esforços adicionais para

aumentar a sua renda de forma substancial. Podem ser incentivados, por exemplo, o

uso de seu poder junto aos conselhos de administração das empresas para lutar por

salários mais altos, situação também conhecida como rent seeking scenario.

Não é fácil determinar se um sistema de taxação tem um caráter progressivo ou

regressivo, há diversos modelos e uma larga base de dados é necessária para se fazer

tal tipo de avaliação. É por esse motivo que se achou melhor não focar em tal fator

como explicação para os fenômenos previamente descritos ao longo do trabalho.

32

2.4 A GLOBALIZAÇÃO

2.4.1 O conceito de globalização

A globalização é uma palavra constantemente utilizada para ilustrar o processo

dinâmico que se dá com a interligação do espaço geográfico mundial por meio de

conexões econômicas, sociais, políticas e culturais. Ressalta-se, entretanto, que esta

palavra é utilizada em diferentes contextos e com diferentes propósitos, havendo

múltiplas definições apresentadas na literatura econômica para descrever o que é

globalização. Jan Aart Scholte (1995) em seu artigo denominado "Globalization and

Modernity” indica que a palavra globalização é um termos definidores da consciência

social no entardecer do século vinte” (tradução dos autores), e como bem observa Gary

J. Wells (2001) no artigo “The Issue of Globalization-An Overview” a palavra ganhou

uso amplo nos anos 90, sendo um termo passível de muitas interpretações.

É importante se mencionar ainda, que é comum a confusão entre globalização e

globalismo, conceitos complementares como bem descrito pelos professores Robert

Keohane e Joseph Nye (2000) da universidade de Harvard na introdução do artigo

“Governance in a Globalizing World” (Nye, Joseph S. e John D. Donahue, 2000);

segundo eles o globalismo pode ser entendido como “um estado do mundo envolvendo

redes de interdependência em distâncias multicontinentais. Essas redes podem ser

ligadas através de fluxos e influências de capital e bens, informações e ideias, pessoas

e força, assim como substâncias ambientalmente e biologicamente relevantes (como a

chuva ácida e agentes patogênicos)” (tradução dos autores). A globalização e a

33

desglobalização equivaleriam respectivamente, portanto, na visão dos autores, a um

aumento ou à uma diminuição do globalismo.

Utilizar-se-á, ao longo do trabalho, o conceito acima mencionado como

norteador das análises a serem feitas. Ressalta-se, entretanto, que esta definição terá

seu escopo reduzido para uma dimensão mais limitada: a dimensão econômica,

também conhecida como globalização econômica.

2.4.2 O impacto da globalização sobre os fenômenos a serem analisados

Primeiramente, sobre a participação salarial no PIB, observa-se que a

produtividade do capital permanece localizada nos países desenvolvidos, detentores de

maior reserva de capital e capacidade de produção intelectual; já a distribuição do

trabalho é passível de deslocalização. Assim, enquanto as atividades de menor valor

agregado estão em concorrência com os países emergentes, que apresentam custos

relativamente menores em termo de mão de obra, os países ricos preservam os

empregos mais qualificados no seu território.

Os Estados Unidos, vendo a eclosão dos países emergentes, especialmente no

sudeste asiático, com custos de mão de obra mais baixos, decidiram se voltar para as

atividades em que possuem uma vantagem comparativa, terceirizando para outros

países as funções de manufatura propriamente ditas. Vale se ressaltar que essa

deslocalização de atividades reforça também a participação do capital no PIB dos

países para onde as mesmas são transferidas, principalmente por causa de diferenças

em termos de progresso tecnológico em uma dinâmica onde, em indústrias mais

34

intensivas em mão de obra, a inovação tende a ter um papel de substituição em vez de

complementariedade, como já exposto.

Já em relação ao impacto da globalização sobre o aumento da desigualdade, pode

ser notado que as atividades de menor valor agregado são confrontadas com uma forte

pressão competitiva internacional em um cenário onde as fronteiras se tornam mais

porosas, a livre circulação de mercadorias é incentivada e a produção de bens menos

sofisticados é dominada por diversas nações. Para que os países permaneçam

competitivos nesse ambiente agressivo, os salários relacionados a esses empregos que

concorrem com a importação tem de estagnar, ou seja, retrocedem em termos reais, ou

até acabam por ser reduzidos em termos nominais em países onde o custo de trabalho é

relativamente mais alto. Embora na Europa esse seja um cenário mais complicado,

dado o alto poder de barganha dos empregados, nos Estados Unidos o panorama é

outro, principalmente devido à flexibilidade em termos de negociação entre empregado

e empregador, bem como devido ao fato de demissões em larga escala não serem

questionadas por governos e autoridades.

A pesquisa “The Decline of the US Labor Share” (Michale Elsby, 2013), afirma

que a causa mais importante para o declínio da participação salarial no PIB no contexto

da economia americana é a globalização. Os autores assinalam que os Estados Unidos

estão se especializando em realizar atividades intensivas em capital graças à existência

da China, que seria o país fornecedor por excelência de todos os bens intensivos em

trabalho que os Estados Unidos não produzem mais.

As suas análises em relação aos dados revelam que quanto mais uma atividade

sofre com a concorrência das importações, mais baixos serão os salários dos

empregados neste setor. Desse modo, as análises revelam que a exposição às

35

importações é o fator mais influente na redução da participação salarial nos Estados

Unidos.

O trabalho se orientará, portanto, nesse fator como sendo uma causa importante da

redução da participação salarial no PIB e do aumento da desigualdade nos Estados

Unidos, para criar uma nova perspectiva de discussão para o assunto.

36

A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO 3

Desde o início dos anos 1970, as barreiras alfandegárias dos países

desenvolvidos cederam sensivelmente, e pode também ser constatada a adesão

progressiva de um certo número de economias emergentes ao capitalismo: Hong Kong,

Cingapura e a Coreia do Sul nos anos 1970, o Chile no início dos anos 1990, a China

na segunda metade dos anos 1990 e posteriormente a Malásia e a Tailândia. Esse

desaparecimento relativo das fronteiras permitiu uma reorganização das cadeias

produtivas globais, criando a possibilidade de uma reorganização do footprint

industrial global, e pôs a mão-de-obra de diferentes países em concorrência direta.

Um indicador proposto por James Harrigan e Rita Balaban (1999) no artigo

intitulado “U.S. wages in general equilibrium: the effects of prices, technology and

factor supplies” para medir o tamanho do novo mercado de trabalho global nesse

cenário é a observação da evolução do número de trabalhadores disponíveis, conhecido

como a oferta global de trabalho ou global labor supply, sendo este indicador a soma

da população de cada país ponderada pela participação das exportações no PIB do país,

como a fórmula a seguir demonstra:

𝑁!" = ( !!!"#!

∗ 𝑃𝑜𝑝!)! (Equação 3)

Onde:

𝑁!" Número de trabalhadores disponíveis

𝐸! Valor monetário da soma das exportações do país i

𝑃𝐼𝐵! Produto interno bruto do país i

𝑃𝑜𝑝! População do país i

37

Esse indicador tem sua utilização mais precisa nas economias emergentes, já

que podem ser consideradas como mais especializadas em atividades intensivas em

trabalho. Por outro lado, o indicador parece menos adequado para se estimar o número

de trabalhadores disponíveis em economias avançadas, como a economia americana,

devido ao fato de serem economias cujas exportações são mais intensivas em termos

de capital.

O resultado de um cálculo com este indicador mostra que o número de

trabalhadores disponíveis na China foi multiplicado por 10 entre 1982 e 2013, de

acordo com um estudo publicado pelo Banco Mundial em 20053. Seriam de se esperar

certos ajustes, seja através da convergência de salários ou de deslocalizações de

pessoas ou de bens e de serviços.

Outro fenômeno que pode surgir como consequência dessa abertura de

barreiras é o aumento do tamanho das empresas, que passam a apresentar rendimentos

crescentes. Este fato será verificado ao se analisar outros pontos, como a diminuição da

diferença entre os salários dos operários asiáticos em relação aos operários americanos

no setor manufatureiro, e o impacto da deslocalização das empresas e da imigração na

participação salarial.

3.1 O “FENÔMENO CHINA” E A CONVERGÊNCIA DOS SALÁRIOS À

ESCALA MUNDIAL

3Fonte: Banco Mundial, Divisão da população do Departamento de assuntos econômicos e sociais da Secretaria da ONU (2005). World Population Prospects: The 2004 Revision Highlights

38

Primeiramente, é importante entender a evolução dos salários dos trabalhadores

americanos em diferentes setores da economia. Parece lógico assumir, de acordo com a

lei da oferta e da demanda, que os trabalhadores americanos que se encontram em

concorrência direta com os trabalhadores dos países emergentes deveriam ver os seus

salários evoluírem mais lentamente que os salários dos empregados de outros setores

não expostos a essa competição direta, que passou a existir a partir do momento de

chegada desta nova parcela de mão-de-obra ao mercado mundial. De fato, como os

dados a seguir ilustram, os trabalhadores americanos tinham salários inicialmente mais

altos antes dessa abertura de barreiras. Ressalta-se que, como o rigor das estatísticas é

limitado, nas análises sobre a evolução dos salários em seguida, serão considerados os

setores qualificados não qualificados, ao invés dos trabalhadores qualificados e não

qualificados. São considerados como setores qualificados aqueles cuja participação dos

funcionários qualificados no total de trabalhadores ultrapassar os 25%, sendo um

funcionário considerado qualificado se ele concluiu o ensino médio. Desta forma,

seguindo este critério, os setores da indústria e dos transportes são considerados como

não qualificados, enquanto o setor financeiro é considerado como um setor qualificado.

Os operários americanos dos setores menos qualificados estão, desde o início dos anos

80, quando efetivamente se instaurou o processo acelerado da globalização da

economia mundial, em concorrência direta com os operários asiáticos.

39

Figura 6: evolução dos salários por indústria nos Estados Unidos entre 1929 e 1999. Fonte: Adaptado de

BEA (2016).

Nessa primeira figura, notam-se claramente duas fases distintas da evolução

salarial nos setores da indústria e dos transportes nos Estados Unidos: um período de

forte crescimento desde os anos 1950 até os anos 1970 e, em seguida, um crescimento

menos intenso. Já no caso do setor financeiro, considerado um setor qualificado pelo

motivo já explicado acima, os salários aumentam mais a partir dos anos 1980. Esse

último fenômeno se deve certamente tanto ao desenvolvimento técnico do setor e às

inovações que nele passaram a ser utilizadas, quanto à falta de concorrência por parte

dos países emergentes na realização das atividades de mesmo caráter.

40

Figura 7: Evolução dos salários por indústria nos Estados Unidos entre 2000 e 2013. Fonte: Adaptado de

BEA (2016).

Essa tendência pode ser confirmada após a segunda figura representando o

período compreendido entre os anos 2000 e 2013. Deve-se ressaltar, porém, que o setor

financeiro é o que mais sofreu com a crise de 2008, quando os salários diminuíram em

termos reais. Duas figuras diferentes foram realizadas pois as categorias foram

modificadas entre esses dois períodos, tendo sido acrescentadas novas categorias.

Por outro lado, é interessante verificar como se deu a evolução salarial nas

indústrias de outros países, especialmente nos países emergentes. A figura a seguir

revela um nítido processo de convergência dos salários dos operários do setor

industrial nos países do sudeste asiático em relação aos seus homólogos americanos,

desde a abertura dos mercados emergentes desta região à globalização. As séries

representadas mostram os salários no setor manufatureiro de diversos países como

porcentagem do salário no setor manufatureiro dos Estados Unidos.

41

Figura 8: convergência dos salários industriais médios de países emergentes asiáticos à média salarial

dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Industrial Statistics Database (2006); CEIC Asia Database

(2006).

42

Figura 9: convergência dos salários industriais médios de países emergentes latino-americanos à média

salarial dos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Industrial Statistics Database (2006); IBGE (2006).

No caso dessa segunda figura, a tendência é menos evidente, certamente devido

à história específica desses países que estão representados. O Chile, por exemplo, só

reconquista a democracia no fim dos anos 1980, com o fim da ditadura de Pinochet.

3.2 A ESPECIALIZAÇÃO: DESLOCALIZAÇÃO E IMIGRAÇÃO

Uma empresa pode decidir, baseando-se na concorrência internacional, alterar

ou não os salários de seus funcionários afim de permanecer competitiva. Ela também

pode aproveitar a nova reserva de mão-de-obra internacional e deslocalizar as suas

atividades produtivas para países onde o trabalho é mais barato. Sendo assim, parece

justo pensar que um país pode fazer uma escolha entre: uma estagnação dos salários

médios dos 90% menos ricos da população, e uma alta taxa de deslocalização de

43

funcionários. Para verificar essa tese, consideramos a taxa de deslocalização,

observando a razão entre as importações de produtos destinados à indústria (ou seja,

produtos intermediários a serem utilizados nas cadeias de produção locais) e a

quantidade total de produtos intermediários. Esse índice recebe o nome de Índice de

Offshoring. Observa-se que quanto menor é o valor do índice, menor é a importação de

produtos intermediários destinados à indústria, ou seja, menor é a base fabril do país,

indicando uma alta terceirização de atividades de manufatura para outros países.

Figura 10: índice de offshoring no ano 2000. Fonte: Adaptado de BEA (2016).

Deste modo, pode-se observar que os Estados Unidos possuem uma taxa de

offshoring menor do que os países europeus. É interessante comparar a figura acima

com a seguinte, nela pode se observar na parte esquerda a evolução da participação do

trabalho no PIB americano desde 1930 até 2005; já na parte da direita, o que se

enxerga é a comparação do mesmo indicador para um grupo de países entre os anos de

1980 e 2005. Como o relatório que contém o gráfico foi publicado em 2006 e os

44

números são baseados em estimativas da OCDE, a última data disponível para as séries

é o ano de 2005.

Figura 11: parte do trabalho na renda nos EUA e demais países. Fonte: Adaptado de OCDE (2006).

O que fica aparente é que os países desenvolvidos efetuam uma arbitragem

entre uma menor participação do trabalho no PIB e uma forte deslocalização. Em

outras palavras, ou o governo escolhe uma média salarial dos 90% menos ricos

competitiva em relação aos países emergentes, ou a opta pela deslocalização de uma

parte de suas atividades produtivas. O caso do Japão é o que mais contribui para a

hipótese: é o país com menor índice de offshoring e, ao mesmo tempo, menor

participação do trabalho no PIB. A essa altura, seria relevante diferenciar a composição

dos produtos intermediários importados: “qualificados” ou não.

45

Figura 12: Offshoring de produto intermediário qualificado e não qualificado. Fonte: Adaptado de

OCDE (2006); International Trade in Services Database (2006).

Ao invés de comparar as intensidades dessas deslocalizações, propõe-se focar

mais na sua evolução e ver se elas estão em acordo com as hipóteses defendidas neste

projeto de graduação. A taxa de deslocalização dos produtos intermediários não

qualificados diminui ligeiramente. Pode-se explicar esse fenômeno pelo fato de que as

empresas americanas têm cada vez menos interesse em deslocalizar essa categoria de

produto, dado que está em marcha uma convergência dos salários dos operários.

Paralelamente à evolução do nível de deslocalização dos produtos qualificados, pode-

se observar também, pelo lado da desigualdade de renda, que os salários dos

executivos americanos aumentam fortemente.

Nesse contexto, a situação da imigração deveria seguir a mesma lógica. Hoje

em dia, para um imigrante pouco qualificado, é cada vez menos interessante migrar

para os Estados Unidos, uma vez que os salários locais dos operários pouco

qualificados são baixos. Nota-se de fato uma convergência a nível mundial dos salários

nos setores pouco qualificados, por mais que continue sendo do interesse de um

migrante, por exemplo mexicano, ir para os Estados Unidos, na medida em que os

salários de lá são, em valor absoluto, mais altos. Em contrapartida, para os operários

46

qualificados, a migração para os Estados Unidos será mais atraente, pois os salários de

trabalhadores qualificados de lá são relativamente mais altos (em comparação com o

resto do mundo).

Na figura abaixo, é ilustrado um fato que apoia as hipóteses recém-apontadas:

Figura 13: mudança da participação da mão-de-obra estrangeira na força de trabalho nacional, por

escolaridade. Fonte: Adaptado de OCDE, International Migration Data (2005).

Constata-se que a alteração da quota da imigração nos Estados Unidos é maior

para as atividades mais qualificadas. Deste modo, a lógica explicada se revela coerente

com os fatos. Vale ressaltar que os trabalhadores migrantes representam hoje 15% da

força de trabalho americana (JAUMOTTE e TYTELL, 2007).

47

Deve-se notar ainda que a imigração tem um efeito negativo na participação do

trabalho no PIB no caso dos Estados Unidos, já que os trabalhadores que migram

aceitam, na maior parte dos casos, salários mais baixos do que os trabalhadores

nacionais. Em outras palavras, para uma oferta constante de emprego, a imigração

representa apenas um aumento da demanda no mercado de trabalho, o que contribui à

redução dos salários.

Em contrapartida, é preciso destacar que a influência da imigração na

participação do trabalho no PIB não deve ter uma influência muito significativa, uma

vez que as fronteiras limitam o fluxo migratório. A imigração representa então um

aspecto de uma abertura apenas relativa das fronteiras.

3.3 OUTRO ÍNDICE DA GLOBALIZAÇÃO: OS NÍVEIS DE PREÇOS DE

EXPORTAÇÃO E DE IMPORTAÇÃO

A abertura das fronteiras pode também ser medida pela variação dos níveis de

preços de importação e exportação.

Considerar-se-á que as importações dos Estados Unidos são formadas

principalmente por produtos menos qualificados. Essa hipótese pode parecer

assimétrica em relação à figura anterior. Porém, mesmo se as importações de produtos

intermediários qualificados forem superiores às dos produtos não qualificados, é

importante ressaltar que os produtos deslocalizados advêm em geral de processos

menos qualificados.

48

Considerar-se-á igualmente que os produtos menos qualificados são os mais

intensivos em trabalho.

Desse modo, as tarefas mais técnicas para montar computadores não serão

efetuadas na China. É por isso que as importações dos Estados Unidos se concentram

mais em produtos não qualificados, enquanto as exportações se concentram em

produtos qualificados.

Uma baixa dos preços de importação deveria colocar a mão-de-obra americana

ainda mais em concorrência com a mão-de-obra dos países emergentes. Assim, a

participação do trabalho no PIB e os preços de importação deveriam estar

positivamente correlacionados. Inversamente, os preços de exportação devem estar

negativamente relacionados à participação do trabalho no PIB.

Pode-se efetuar então uma regressão linear com coeficientes múltiplos, sendo a

participação do trabalho no PIB a variável a ser explicada, e os preços de importação e

de exportação as variáveis explicativas.

As variáveis explicativas são as seguintes:

𝑋! Preços de exportação

𝑋! Preços de importação

Já a variável que se deseja explicar é:

𝑌 Parte do trabalho

O modelo estimado como resultado da regressão é o seguinte:

𝑌 = 78,08− 0,257 ∗ 𝑋! + 0,105 ∗ 𝑋! (Equação 4)

49

Ressalta-se que as razões de Student dos estimadores dos coeficientes são:

⋅ 𝑡! = 30,32

⋅ 𝑡! = 3,97

⋅ 𝑡! = 2,80

Dessa regressão surge, portanto, uma correlação significativa, com um risco de

primeira espécie (alfa) de 10% para os preços de importação de 5% para os preços de

exportação. O sinal de correlação esperado é obtido (conferir os detalhes dos

apêndices).

3.4 O AUMENTO DO TAMANHO DAS EMPRESAS

3.4.1 O racional por trás desse fenômeno

A partir dos anos 1970, o surgimento de novas tecnologias industriais, de

transporte e de comunicação tornou possível, de um lado, a formação de um mercado

mundial para os bens e os serviços produzidos nos Estados Unidos e, de outro, a

exploração da mão-de-obra barata dos países intensivos em trabalho (especialmente

dos “Tigres Asiáticos”) pelas grandes empresas americanas. A possibilidade de

fragmentação mundial das etapas de produção se tornou um importante fator a ser

considerado nos cálculos de custo das empresas.

De qualquer maneira, seja através do aumento das vendas de bens e serviços

nos mercados mundiais ou através da redução dos custos de produção (melhora da

produtividade), os lucros das empresas americanas aumentaram consideravelmente a

50

partir desse período. É natural imaginar que esse aumento dos lucros esteja diretamente

relacionado ao aumento da remuneração dos diretores. Estima-se que os diretores das

maiores empresas, de todos os setores, pertençam ao 1% mais rico do país; a renda

média desse grupo vem consequentemente aumentando desde os anos 1970.

Concomitantemente, a possibilidade de deslocalização de partes da cadeia de

montagem e o fato de que novos países tenham se tornado exportadores de produtos

baratos (que passaram a estar em concorrência no mercado mundial com os produtos

americanos) impossibilitou aumentos salariais reais para o americano médio. Trata-se

de uma questão de competitividade: a relativa redução dos preços de bens e serviços a

nível mundial impede que as empresas americanas aumentem os salários dos

funcionários locais, o que representaria um aumento dos custos e, finalmente, uma

redução da competitividade. A relativa estagnação dos salários médios dos 99% mais

pobres (e a estagnação total dos 90%) pode ser interpretada como uma reação da

economia dos EUA à abertura ao comércio internacional dos países com mão de obra

barata. Em suma, o aumento da remuneração dos mais ricos e a estagnação da

remuneração do resto da população têm o aumento da desigualdade de renda como

resultado.

Falta explicar como esse fenômeno poderia contribuir à redução relativa da

participação do trabalho no PIB. É importante lembrar que o PIB, segundo a ótica da

renda, pode ser decomposto em participação da renda do trabalho (salários e

remunerações) e participação de capital, que inclui vários fatores diferentes, dentre eles

o lucro das empresas. Supõe-se que o aumento relativamente rápido do lucro das

empresas, junto com a estagnação real da massa salarial, faça com que a participação

relativa da renda no PIB diminua.

51

3.4.2 A dinâmica dos lucros das empresas

A figura a seguir mostra a evolução do lucro das empresas antes dos impostos

entre 1929 e 2000, em dólares de 2013.

Em azul, consta o lucro total, atingindo 800 bilhões de dólares em 1997. Os três

setores mais representativos da composição do lucro total também estão representados:

a manufatura em vermelho, o setor bancário e de seguros em verde, e o lucro

repatriado das empresas americanas em roxo.

O mesmo gráfico é reapresentado para os anos 2000-2013, e nele consta

também o setor de tecnologia da informação, em laranja.

Figura 14: quebra por setores do lucro das empresas antes de impostos, até 1999. Fonte: Adaptado de

BEA (2016).

52

Figura 15: quebra por setores do lucro das empresas antes de impostos, de 2000 a 2013. Fonte:

Adaptado de BEA (2016).

O motivo pelo qual as duas figuras acima estão propostas separadamente é

porque a categorização das indústrias efetuada pelo Bureau of Economic Analysis foi

modificada no ano 2000.

A próxima figura mostra a evolução da participação de cada tipo de indústria (e

dos lucros repatriados) no Produto Interno Bruto durante os últimos oitenta anos. Há

algumas tendências que se distinguem claramente:

§ A redução da participação da manufatura (indústria), cujos lucros

representavam praticamente 80% do lucro total nos anos 1930, representando

hoje somente 20%;

§ O aumento da participação do setor financeiro que atinge uma proporção

máxima durante os anos 1990;

§ O constante aumento do volume relacionado aos lucros repatriados, ao ponto de

se tornarem o fator com a maior participação no lucro total a partir dos anos

2000.

53

Figura 16: participação relativa de cada categoria no lucro das empresas. Fonte: Adaptado de BEA

(2016).

Chega-se à conclusão de que a globalização desempenha um papel cada vez

mais importante para explicar os lucros das empresas dos Estados Unidos. A abertura

dos países ao comércio internacional, a deslocalização das atividades intensivas em

trabalho e a instalação de filiais de empresas americanas no mundo inteiro

contribuíram para esse fenômeno.

3.5 A DINÂMICA DA RENDA DOS PERCENTIS

A figura adiante mostra a evolução da renda média dos grupos específicos da

população dos Estados Unidos, em dólares de 2013.

54

Figura 17: evolução da renda média dos percentis. Fonte: Adaptado de TWTID (2013).

Torna-se difícil distinguir as três últimas curvas diante da evolução da renda do

1% mais rico. Uma nova figura revela a evolução da renda das duas categorias, assim

como a renda média total:

Figura 18:evolução da renda média dos últimos percentis. Fonte: Adaptado de TWTID (2013).

55

A análise desses dados confirma o fenômeno de crescimento da desigualdade

verificado a partir dos anos 1970. Ele se revela ainda mais surpreendente se forem

considerados dois períodos distintos e analisadas as dinâmicas salariais para cada um

deles: de 1943 a 1973 (o que corresponde aproximadamente aos “Trinta Gloriosos”) e

de 1973 a 2013.

Ao longo do primeiro período, a renda média do 1% mais rico passou de

292.230 USD, nos valores de 2013, a 362.650 USD, ou seja, um aumento de 24%.

Simultaneamente, a renda dos 90% restantes da população passou de 22.750 USD a

43.652 USD, um aumento de 92%. Os Trinta Gloriosos foram um período em que os

benefícios do crescimento econômico foram compartilhados entre todos, e em que a

maior parte da população aumentou a sua renda média, melhorando sua qualidade de

vida em termos reais.

Essa lógica não é mais constatada a partir dos anos 1973, quando o crescimento

da renda dos 99% restantes da população deixa de seguir o crescimento econômico. De

fato, a sua renda média passou de 43.652 USD a 43.830 USD em 2013, ou seja, um

aumento real de 0,4%. O 1% mais rico viu a sua renda crescer de 155%, de 362.650

USD a 926.040 USD.

Para a maior parte da população, a correlação entre crescimento econômico e

melhoria da qualidade de vida se torna claramente cada vez menos óbvia.

3.6 A CORRELAÇÃO ENTRE O LUCRO DAS EMPRESAS E A RENDA DO 1% MAIS RICO

56

Uma análise zelosa das curvas da renda média do 1% mais rico e do lucro das

empresas durante o século 20 revela que há uma semelhança entre as tendências.

Procede-se então a uma estimação do grau de correlação das duas variáveis, com base

num modelo de regressão simples com coeficientes múltiplos. Os detalhes do cálculo

se encontram em apêndice.

Para determinar rigorosamente quais fatores do lucro das empresas estão mais

relacionados ao aumento da renda das pessoas mais ricas, definem-se no modelo

quatro variáveis explicativas e uma variável a ser explicada:

As variáveis explicativas são as seguintes:

𝑋! Constante

𝑋! Lucro de outros setores

𝑋! Lucro da manufatura

𝑋! Lucro do setor bancário e de seguros

𝑋! Lucros repatriados

Já a variável que se deseja explicar é:

𝑌 Renda média do 1% mais rico

O modelo estimado como resultado da regressão é o seguinte:

𝑌 = 263.2477,77− 1,87 ∗ 𝑋! + 1,03 ∗ 𝑋! + 2,70 ∗ 𝑋! + 2,07 ∗ 𝑋! (Equação 5)

57

Ressalta-se que as razões de Student dos estimadores dos coeficientes são:

⋅ 𝑡(𝑋!) = 30,32

⋅ 𝑡(𝑋!) = 3,97

⋅ 𝑡(𝑋!) = 2,80

⋅ 𝑡(𝑋!) = 4,89

⋅ 𝑡(𝑋!) = 4,80

O valor da distribuição t de Student para um grau de confiança de 99% a 61

graus de liberdade é de 2,576. Todas as razões de Student dos coeficientes são mais

altas que esse valor, o que mostra que o modelo é realmente significativo.

A variável mais determinante ao aumento da renda da população mais rica é o

lucro do setor bancário e de seguros, o que corresponde à hipótese do início do projeto.

A única surpresa no modelo é o fato de que o lucro dos outros setores está

negativamente correlacionado à renda do 1% mais rico. Uma possível interpretação

desse fenômeno é que a variável é, de certa forma, uma variável tampão, podendo

conter muitos setores com comportamentos distintos. Desse modo, existem

aparentemente setores nos quais as relações de causalidade entre aumento do lucro e

remuneração de executivos são negativas.

É possível então concluir que o aumento do lucro das empresas é benéfico,

sobretudo para os mais ricos, que aumentam a sua renda média, enquanto o conjunto

dos funcionários, representado pelos 99% restantes da população, não aproveita o

crescimento das empresas, conforme estas vão se tornando cada vez mais

multinacionais.

58

3.7 A RELAÇÃO DO LUCRO DAS EMPRESAS COM A PARTICIPAÇÃO DO TRABALHO NO PIB

O lucro das empresas é um dos fatores que compõem a parte do capital do PIB.

A ideia a ser testada é se o aumento desses lucros faz crescer relativamente a

participação do capital no PIB, em detrimento da parte do trabalho. Ora, se este fosse o

caso, seria de se esperar que a participação relativa do fator lucro das empresas dentro

da fatia do capital aumentasse consideravelmente, explicando um aumento absoluto e

relativo da fatia como um todo.

Porém, a análise da evolução de cada fator na totalidade da participação do

capital mostra claramente que não há uma tendência clara. No gráfico adiante, os

principais componentes da participação de capital são representados, conforme a

abordagem realizada pelo “Bureau of Economic Analysis”. O lucro das empresas que

foi comentado na seção 5.4.2 consta aqui como “Lucro das Empresas”.

59

Figura 19: evolução da participação dos fatores que compõem a parte do capital no PIB. Fonte:

Adaptado de BEA (2016).

Em suma, o aumento da participação relativa do capital no PIB não pode ser

interpretado como uma reação mecânica ao aumento dos lucros das empresas.

Consequentemente, a redução da participação do trabalho no PIB também não pode

estar relacionada a este fenômeno.

60

CONCLUSÃO 4

Este Projeto de Graduação cumpre seus objetivos de evidenciar, por um lado, a

causalidade entre a globalização e certos fenômenos relacionados a ela e, por outro, a

redução da participação do trabalho no PIB e o aumento da desigualdade de renda no

território dos Estados Unidos.

Observa-se num primeiro momento, através de uma análise junto aos países da

OCDE, que a abertura progressiva das fronteiras a partir dos anos 1970 teve como

consequência um rápido aumento da mão-de-obra disponível globalmente. Pode-se

evidenciar essa transição de uma mão-de-obra local a uma mão-de-obra mundial com a

ajuda de indicadores ou também de sucessivas reduções dos preços de importação. Os

países desenvolvidos, como os Estados Unidos, passaram a sofrer concorrência no

ramo das atividades pouco qualificadas quando estas começaram a ser exercidas

também pelos países emergentes. Como esse fenômeno de deslocalização não

aconteceu com as atividades mais qualificadas, estas foram se desenvolvendo de

maneira livre de concorrência. Os países desenvolvidos tiveram a liberdade de

desenvolver políticas visando a controlar as arbitragens possíveis entre as

deslocalizações, a variação dos salários e a imigração.

Os Estados Unidos optaram por conservar uma mão de obra relativamente

competitiva para as atividades pouco qualificadas (em relação aos países da Europa

continental), o que teve várias consequências, dentre elas a estagnação dos salários

médios dos operários americanos desde os anos 1970 e uma menor taxa de

deslocalização do que nos países da Europa continental. Além disso, a progressão dos

altos salários aumentou a imigração da mão de obra qualificada.

61

A globalização também revelou novas perspectivas para as indústrias dos

Estados Unidos. O lucro das empresas aumentou drasticamente, e a remuneração dos

diretores consequentemente seguiu essa dinâmica de crescimento. Em contrapartida, a

maioria dos funcionários não pôde aproveitar essa oportunidade histórica de expansão

internacional. A globalização, em termos financeiros, se mostrou então vantajosa

sobretudo para uma fração reduzida da população – a mais rica. Nesse sentido, ela

contribuiu ainda mais para aumentar a desigualdade de renda verificada na sociedade

dos Estados Unidos.

Observa-se ainda que trabalhos futuros poderiam explorar de forma mais

profunda como se dá relação entre variáveis explicativas utilizadas nas regressões,

como preços de importação e exportação, ou entre os lucros dos diversos setores da

economia, avaliando-se assim possíveis distorções e outros efeitos secundários na

economia. Outra possibilidade de estudo seria uma análise mais detalhada dos resíduos

das equações obtidas, que poderia ser acompanhada da expansão de tais modelos para

outros países.

62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5

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65

APÊNDICE A: REGRESSÃO LINEAR EXPLICANDO A PARTICIPAÇÃO 6DO TRABALHO NO PIB

Este apêndice mostra a regressão linear realizada na parte 5.3. A variável a

explicar é a participação do trabalho no PIB da economia americana. As variáveis

explicativas são os preços de importação de exportação.

𝑌 = 𝑎! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝜀

Com:

𝑌: labor share

𝑋!: preços de exportação

𝑋!: preços de importação

𝜀: resíduo

O modelo vai estimar os coeficientes 𝑎!, 𝑎! e 𝑎!, verificando se as variáveis

explicativas são significativas.

𝑌 = 𝑎! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑒

Com:

𝑒: erro

A tabela abaixo mostra os dados usados, assim como os erros calculados pela

estimação do modelo. Os preções de exportações e importações estão expressos em

número índice.

Ano Preços das Exportações (USD)

Preços das Importações (USD)

Parte do Trabalho (%)

Erros Quadrados dos Erros

1984 85,9 78,7 63,6 -0,68 0,46 1985 84 75,5 63,4 -1,03 1,07 1986 83,6 75 63,4 -1,08 1,17 1987 84,3 80,8 64,4 -0,51 0,26

66

1988 89,8 86,5 64,5 0,40 0,16 1989 95,2 91,3 63,8 0,58 0,34 1990 94,8 92,4 63,3 -0,14 0,02 1991 96,4 95 63,8 0,50 0,25 1992 96,2 93,9 63,6 0,37 0,13 1993 96,6 94,7 63 -0,22 0,05 1994 98,2 94 62,7 -0,03 0,00 1995 103 99,9 62,2 0,08 0,01 1996 104,6 101,6 62,1 0,21 0,05 1997 103,6 100 61,8 -0,17 0,03 1998 100,7 94,1 62,7 0,60 0,36 1999 97,9 91,5 63,1 0,56 0,31 2000 100 99,9 64,9 2,01 4,04 2001 100 98,3 65,3 2,58 6,65 2002 97,6 92,8 62,7 -0,06 0,00 2003 99,7 99,1 62,7 -0,18 0,03 2004 103 100,2 61,3 -0,85 0,72 2005 106,4 107,8 60,8 -1,28 1,63 2006 108,8 112,7 60,6 -1,38 1,89 2007 114,7 115,9 61,3 0,51 0,26 2008 123,8 133,5 61,8 1,49 2,22 2009 115,5 113,6 60,7 0,35 0,12 2010 121,2 126,3 58,6 -1,62 2,62 2011 132,7 139,3 58,5 -0,13 0,02 2012 134,1 144,2 57,9 -0,89 0,79

As colunas 2, 3, 4 representam a matriz 𝑋 usada na regressão, contendo as

variáveis explicativas. A coluna 5 representa o vetor da coluna 𝑌, contendo os valores

da variável explicada.

A estimação dos coeficientes é dada pela fórmula:

𝑎 = 𝑋!𝑋 !! 𝑋!𝑌

e obtém-se:

𝑎! = 78,080

𝑎! = −0,257

67

𝑎! = 0,105

Precisa-se agora verificar se o modelo é significativo.

Para isso, calculam-se as razões de Student dos três coeficientes, com a ajuda

dos desvios-padrão (calculados a partir da matriz das variâncias e covariâncias):

𝑡! = 24,8

𝑡! = 2,38

𝑡! = 1,29

Compara-se finalmente essas razões com as tabelas de Student para 25 graus de

liberdade (28-2-1).

Observa-se então que os preços de importação são significativos com um risco

de erro de primeira espécie (alfa) de 10% e que os preços de exportação são

significativos com um alfa de 5%.

68

APÊNDICE B: REGRESSÃO LINEAR EXPLICANDO A RENDA MÉDIO 7DO 1% MAIS RICO DA POPULAÇÃO

Este apêndice apresenta a regressão linear realizada na parte 5.4. A variável a

explicar é a renda média do 1% mais rico da população americana.

𝑌 = 𝑎! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝜀

Com:

𝑌: renda média do 1% mais rico

𝑋!: lucro do resto dos setores

𝑋!: lucro do setor industrial

𝑋!: lucro do setor bancário e de seguros

𝑋!: lucro repatriado das empresas estadunidenses

O modelo vai estimar os coeficientes 𝑎!, 𝑎!, 𝑎! e 𝑎! e ver se as variáveis

explicativas são significativas.

𝑌 = 𝑎! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑎! ∗ 𝑋! + 𝑒

Com:

𝑒: error

A tabela adiante revela os dados usados, assim com os erros calculados após a

estimação do modelo.

Ano Outros Indústria Setor bancário e

seguros

Lucros repatriados

Renda média do top 1% (USD 2013)

Erros Quadrados dos erros (106)

1935 205 3 585 581 0 214 378 -53 746 2 889

1936 567 5 645 895 0 265 609 -4 806 23

1937 1 123 5 636 870 0 259 760 -9 540 91

1938 745 2 888 970 0 213 849 -53 598 2 872

69

1939 852 5 944 982 0 238 164 -32 261 1 041

1940 1 242 8 276 1 118 0 254 985 -17 480 306

1941 1 794 15 736 1 232 0 284 274 4 853 24

1942 2 928 18 189 1 359 0 284 107 3 936 15

1943 3 570 20 792 1 484 0 292 234 10 246 105

1944 3 298 19 741 1 747 0 264 972 -17 152 294

1945 2 792 15 828 1 773 0 272 469 -6 642 44

1946 2 423 20 945 2 195 0 291 339 5 131 26

1947 3 195 27 499 1 942 0 262 013 -28 816 830

1948 12 588 19 514 2 748 1 652 274 399 3 742 14

1949 9 775 15 411 3 302 1 554 263 189 -9 792 96

1950 14 096 24 608 3 310 1 767 294 877 20 039 402

1951 13 631 25 773 3 727 2 249 281 297 2 266 5

1952 12 596 21 926 4 415 2 345 269 301 -9 759 95

1953 12 118 23 896 4 847 2 288 261 776 -21 253 452

1954 11 825 21 411 5 115 2 442 267 410 -14 651 215

1955 14 674 28 543 5 334 2 890 279 399 -6 201 38

1956 15 407 28 183 5 679 3 356 290 921 5 165 27

1957 14 822 26 741 6 001 3 630 288 870 2 068 4

1958 14 107 21 394 6 451 3 078 275 397 -7 306 53

1959 16 408 28 556 7 608 3 382 289 122 -407 0,2

1960 15 606 26 025 8 432 3 790 279 314 -12 179 148

1961 16 614 24 917 8 328 4 045 281 938 -6 778 46

1962 17 898 28 216 8 596 4 494 289 990 -1 377 2

1963 19 812 31 423 8 296 4 885 293 323 2 230 5

1964 22 428 34 885 8 754 5 379 302 067 10 039 101

1965 25 344 42 680 9 304 5 782 316 186 19 262 371

1966 27 497 46 492 10 739 5 656 342 589 42 152 1 777

1967 27 233 43 186 11 195 5 990 353 305 53 855 2 900

1968 29 930 48 093 12 887 6 996 361 705 55 591 3 090

1969 29 656 45 312 13 637 8 047 352 293 44 327 1 965

1970 26 416 35 700 15 491 8 656 344 788 34 397 1 183

1971 29 335 42 272 17 883 9 781 343 066 22 576 510

1972 33 906 50 776 19 452 11 751 355 826 26 805 718

1973 42 708 64 751 21 097 17 575 362 650 19 178 368

1974 48 981 71 365 20 783 20 398 369 129 25 566 654

1975 48 641 67 800 20 426 17 906 344 597 10 197 104

1976 60 544 89 132 25 600 20 938 347 739 -6 629 44

1977 72 613 99 490 32 600 23 790 351 631 -15 652 245

1978 84 790 115 859 40 760 29 001 360 631 -33 574 1 127

1979 90 920 125 898 41 764 42 560 363 887 -60 012 3 601

70

1980 88 122 115 542 35 249 43 845 360 500 -43 046 1 853

1981 84 735 123 511 30 301 38 078 350 803 -41 969 1 761

1982 75 321 93 136 27 200 36 670 359 359 -8 444 71

1983 87 095 99 489 36 200 41 103 364 415 -21 407 458

1984 101 500 115 936 34 700 46 104 389 543 7 389 55

1985 89 097 107 247 46 506 46 799 405 729 -23 960 574

1986 89 398 71 723 56 356 48 717 412 731 -10 382 108

1987 102 252 109 314 60 303 58 922 499 497 29 897 894

1988 105 765 144 109 66 902 71 580 642 283 99 378 9 876

1989 107 032 128 571 78 291 75 510 613 348 49 924 2 492

1990 108 273 125 242 89 618 80 918 626 909 27 451 754

1991 129 910 103 483 120 432 75 492 570 774 -37 769 1 426

1992 142 798 109 022 132 413 78 328 637 632 9 256 86

1993 174 869 122 211 119 916 88 948 597 545 27 236 742

1994 203 576 167 730 125 873 104 525 609 537 -2 356 6

1995 211 393 206 210 140 284 127 364 660 106 -63 030 3 973

1996 236 501 215 030 147 851 139 358 704 373 -26 208 687

1997 237 544 241 621 162 227 155 495 766 511 -61 745 3 812

1998 229 699 212 680 138 912 146 786 832 081 99 938 9 988

1999 214 783 219 480 154 591 177 293 897 605 25 038 627

2000 178 506 215 835 149 709 203 036 947 587 -29 198 853

As colunas 2 a 5 representam a matriz X. A coluna 6 representa o vetor da

coluna Y.

A estimação dos coeficientes é dada pela fórmula:

𝑎 = 𝑋!𝑋 !! 𝑋!𝑌

e obtém-se:

𝑎! = 263.248

𝑎! = −1,87

𝑎! = 1,03

𝑎! = 2,70

𝑎! = 2,07

71

Precisa-se agora verificar se o modelo é significativo.

Para isso, calculam-se as razões de Student dos três coeficientes com a ajuda

dos desvios-padrão (calculados a partir da matriz das variâncias e covariâncias):

𝑡! = 30,32

𝑡! = 3,97

𝑡! = 2,80

𝑡! = 4,89

𝑡! = 4,80

Comparam-se finalmente essas razões com as tabelas de Student para 61 graus

de liberdade (66-4-1).

Vemos então que todos os coeficientes são significativos com um alfa menor

do que 1%.