glandulas mestrado

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glandulas apis

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  • PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM BIOLOGIA

    CELULAR E MOLECULAR (CINCIAS BIOLGICAS)

    ANATOMIA, HISTOLOGIA, HISTOQUMICA E ULTRA-ESTRUTURA DAS GLNDULAS SALIVARES

    CEFLICAS DE ABELHAS EUSSOCIAIS (HYMENOPTERA, APIDAE)

    SILVANA BEANI POIANI

    Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias do Cmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Meste em Cincias Biolgicas -Biologia Celular e Molecular.

    Agosto - 2007

  • ii

    ANATOMIA, HISTOLOGIA, HISTOQUMICA E ULTRA-ESTRUTURA DAS GLNDULAS SALIVARES

    CEFLICAS DE ABELHAS EUSSOCIAIS (HYMENOPTERA, APIDAE)

    SILVANA BEANI POIANI

    Orientadora: Carminda da Cruz Landim

    Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias do Cmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Meste em Cincias Biolgicas -Biologia Celular e Molecular.

    Agosto - 2007

  • iii

    A toda minha famlia: Pais, irms, avs, tios e primos

    Dedico.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por me guiar e pela famlia que me deu. Aos meus pais

    Osvaldo e Adlia e irms Cludia e Mrcia pelo amor, apoio e unio. minha

    orientadora Carminda da Cruz Landim pela oportunidade de trabalharmos juntas mais

    uma vez, pela seriedade profissional e por compartilhar seus conhecimentos, guiando-

    me pelo caminho da pesquisa cientfica.

    Agradeo aos tcnicos dos laboratrios de Histologia (Grson), de Microscopia

    Eletrnica (Mnika e Antnio) e, especialmente ao Srgio do Biotrio por valiosas

    informaes. Aos amigos de orientao Vagner, Thasa, Luciana, Fernanda e Bruno.

    Aos amigos da minha turma de Biologia que tornam a vida em Rio Claro mais

    prazerosa, especialmente ao Pablo pelas ajudas com computador e discusses

    produtivas, ao Fbio (Morcego) que me auxiliou nas anlises estatsticas e ao Eduardo

    por estar presente nos momentos-chave, sempre me apoiando.

    Agradeo aos amigos de So Paulo (Deivis, Fernando, Luciana, Samantha e

    Lorena) pelo apoio e amizade verdadeira.

    Agradeo s amigas do peito Mirella, Juliana e Cintia pela convivncia divertida

    e companheirismo e CAPES pelo suporte financeiro para a realizao deste trabalho.

  • 1

    NDICE

    Pgina

    INTRODUO GERAL..................................................................................................4

    OBJETIVOS GERAIS....................................................................................................10

    CAPTULO 1 - Anatomia e Morfometria das Glndulas Salivares Ceflicas de Apis

    mellifera e Scaptotrigona postica (Hymenoptera, Apidae) em Fmeas e Machos com

    Diferentes Idades.............................................................................................................13

    RESUMO.............................................................................................................13

    ABSTRACT.........................................................................................................14

    1. INTRODUO...................................................................................................15

    2. MATERIAL E MTODOS.................................................................................16

    2.1. Material.........................................................................................................16

    2.2. Mtodos.........................................................................................................17

    2.2.1. Anatomia e Morfometria..............................................................17

    2.2.2. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)..............................18

    3. RESULTADOS...................................................................................................18

    3.1. Anatomia......................................................................................................18

    3.1.1. Microscopia de Luz (ML)............................................................18

    3.1.2. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)..............................20

    3.2. Morfometria..................................................................................................21

    3.2.1. Apis mellifera...............................................................................21

    3.2.2. Scaptotrigona postica...................................................................21

    4. FIGURAS E TABELAS......................................................................................22

    5. DISCUSSO.......................................................................................................31

    5.1. Anatomia......................................................................................................31

    5.2. Morfometria..................................................................................................34

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................37

    CAPTULO 2 - Histologia e Histoqumica das Glndulas Salivares da Cabea de Duas

    Espcies de Abelhas Eussociais, Apis mellifera e Scaptotrigona postica (Hymenoptera,

    Apidae)............................................................................................................................42

  • 2

    RESUMO.............................................................................................................42

    ABSTRACT.........................................................................................................43

    1. INTRODUO...................................................................................................44

    2. MATERIAL E MTODOS.................................................................................45

    2.1. Material.........................................................................................................45

    2.2. Mtodos........................................................................................................45

    2.2.1. Histologia (HE)............................................................................45

    2.2.2. Histoqumica................................................................................46

    2.2.2.1. Identificao de Protenas Pelo Mtodo de Colorao por

    Azul de Bromofenol (PEARSE, 1960)............................................................................46

    2.2.2.2. Identificao de lipdios Pelo Mtodo de Colorao por

    Sudan Black e Azul do Nilo............................................................................................47

    3. RESULTADOS...................................................................................................47

    3.1. Histologia......................................................................................................47

    3.1.1. Apis mellifera...............................................................................47

    3.1.2. Scaptotrigona postica...................................................................48

    3.2. Histoqumica.................................................................................................49

    3.2.1. Identificao de Protenas Pelo Mtodo de Colorao por Azul de

    Bromofenol (PEARSE, 1960).........................................................................................49

    3.2.2. Identificao de Lipdios Pelos Corantes Sudan Black e Azul do

    Nilo..................................................................................................................................49

    4. FIGURAS............................................................................................................51

    5. DISCUSSO.......................................................................................................58

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................68

    CAPTULO 3 - Ultra-Estrutura das Glndulas Salivares Ceflicas de Operrias e

    Rainhas de Apis mellifera e Scaptotrigona postica (Hymenoptera, Apidae) em

    Diferentes Fases da Vida.................................................................................................77

    RESUMO.............................................................................................................77

    ABSTRACT.........................................................................................................78

  • 3

    1. INTRODUO...................................................................................................78

    2. MATERIAL E MTODOS.................................................................................80

    2.1. Material.........................................................................................................80

    2.2. Mtodos........................................................................................................80

    3. RESULTADOS...................................................................................................81

    3.1. Ductos e Bolsa Salivar..................................................................................81

    3.2. Poro Secretora...........................................................................................82

    3.2.1. Apis mellifera...............................................................................82

    3.2.1.1. Caractersticas Comuns...................................................83

    3.2.1.2. Caractersticas Particulares.............................................83

    3.2.2. Scaptotrigona postica...................................................................84

    4. FIGURAS............................................................................................................86

    5. DISCUSSO.......................................................................................................97

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..............................................................104

    DISCUSSO E CONCLUSES FINAIS....................................................................110

    PERSPECTIVAS FUTURAS.......................................................................................116

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..........................................................................117

  • 4

    INTRODUO GERAL

    As diferentes espcies de abelhas variam em tamanho, forma e hbitos. Contudo, a

    grande maioria tem como fonte de energia o nctar ou leo e, de protena, o plen

    (MICHENER, 1974). Existem trs espcies comprovadamente carnvoras (ROUBIK,

    1992) e outras ainda so cleptobiticas, vivem s custas do roubo do nctar e plen

    colhidos pelas espcies que visitam as flores. As abelhas que tm hbitos sociais mais

    avanados pertencem subfamlia Apinae e, dentro da tribo Apini, as subtribos Apina,

    Meliponina e Bombini so as que esto em um estgio social mais avanado e so as

    chamadas abelhas eussociais (SILVEIRA et al., 2002). As caractersticas que definem

    as abelhas eussociais so: a sobreposio de geraes, o cuidado com a prole e a diviso

    do trabalho reprodutivo entre as fmeas. A grande maioria dos outros grupos de abelhas

    tem hbitos solitrios ou so sociais primitivos (ROUBIK, 1992; WINSTON, 1987).

    Apini a tribo da qual fazem parte as espcies do gnero Apis. A subtribo

    Meliponina composta pelas abelhas cujo ferro atrofiado, entre as quais esto as

    abelhas indgenas brasileiras sem ferro, tal como Scaptotrigona postica (SILVEIRA et

    al., 2002).

    As colnias das abelhas eussociais so formadas por trs tipos de indivduos

    adultos: rainha, operrias e machos. Conforme a espcie tambm podem estar presentes

    rainhas virgens. Alm dos adultos, tambm est presente a cria em vrias fases do

    desenvolvimento.

    As rainhas e as operrias constituem castas do sexo feminino, responsveis por

    diferentes funes na colnia. As rainhas fecundadas so as principais responsveis pela

  • 5

    postura de ovos fecundados ou no, os quais do origem, respectivamente, s operrias

    e aos machos, mantendo a populao das colnias. As operrias so responsveis pela

    construo, abastecimento e manuteno da colnia, alm de dispensarem cuidados

    cria e aos adultos, especialmente rainha.

    O trabalho realizado pelas operrias obedece a uma seqncia determinada de

    acordo com a idade (polietismo etrio), maturidade fisiolgica do indivduo e

    necessidades da colnia. Tarefas realizadas dentro do ninho incluem o cuidado com a

    cria, limpeza, construo e manipulao de alimento e, fora da colnia, coleta de

    alimento, gua e resina. H tambm uma fase de guarda antes da fase de campeira

    (FREE, 1980).

    Os machos s esto presentes na colnia nas ocasies favorveis para reproduo,

    so responsveis pela fecundao da rainha e, em Apis mellifera, pouca ou nenhuma

    tarefa desempenham alm desta. Ao contrrio dos zanges de A. mellifera, os machos

    dos meliponneos se alimentam nas flores, trabalham com o cerume (resina misturada

    com cera), desidratam nctar, incubam clulas de cria, defendem o ninho e seguem

    pistas de odor (IMPERATRIZ-FONSECA, 1973; KERR, 1951, 1990). Nogueira-Neto

    (1997) de opinio que tais tarefas desempenhadas pelos machos devem ser eventuais,

    j que no substituem as das operrias nas colnias.

    As abelhas eussociais apresentam uma variedade de glndulas excrinas

    distribudas por todo o corpo, cujos produtos so usados no desempenho de suas tarefas.

    A cera na construo dos ninhos, a gelia real na alimentao da cria, feromnios no

    controle da atividade de outros indivduos da mesma ou de outras colnias, defesa e

    comunicao e tambm em processos fisiolgicos prprios como digesto e lubrificao

    dos apndices articulados.

    Todos insetos apresentam glndulas ligadas aos apndices bucais, as quais recebem

    denominaes de acordo com o apndice a que esto conectadas. Nas abelhas adultas,

    as principais destas glndulas esto ligadas ao lbio (glndulas labiais), s mandbulas

    (glndulas mandibulares) e ao assoalho da cavidade bucal (glndulas hipofarngeas).

    Todas estas glndulas fazem parte de um sistema designado sistema salivar, apesar de

    apresentarem funes diversificadas, muitas vezes com pequena ou nenhuma relao

    com a ingesto ou digesto de alimento.

  • 6

    Nas abelhas adultas, as glndulas labiais descarregam sua secreo no premento da

    glossa estando, portanto, em condio de misturar seus produtos ao alimento ingerido.

    Seja por este motivo, ou porque so homlogas das glndulas salivares dos outros

    insetos, ou ainda porque se originam das glndulas salivares larvais, elas so

    consideradas as glndulas salivares propriamente ditas (CRUZ-LANDIM, 1967; SILVA

    DE MORAES, 2002; SNODGRASS, 1956).

    Em todos os insetos, um par de glndulas salivares est localizado no trax e seus

    ductos penetram na cabea onde se unem em um nico ducto excretor comum que se

    abre entre a base da hipofaringe e o premento do lbio. A funo dessas glndulas

    muito variada dependendo da dieta do inseto, de modo que impossvel atribuir-lhe

    nome funcional consistente, mas, embriologicamente, so glndulas labiais porque se

    desenvolvem como invaginaes ectodrmicas do segmento labial da cabea (CRUZ-

    LANDIM; MELLO, 1967; SNODGRASS, 1956).

    Nas abelhas eussociais da subfamlia Apinae, pertencentes s subtribos Euglossina,

    Bombina, Meliponina e Apina, as glndulas labiais ou salivares dos adultos so

    formadas por um par de glndulas localizado no trax, como nos demais insetos, e por

    um par localizado na cabea, sendo denominadas de glndulas salivares (ou labiais) da

    cabea. Estas glndulas ceflicas no esto presentes em outros himenpteros, nem em

    outros insetos e, por isso, constituem uma caracterstica especial destas tribos, no

    sendo encontradas, plenamente desenvolvidas, nas outras abelhas (CRUZ-LANDIM,

    1967, 2000; SILVA DE MORAES, 2002).

    Parece que ao longo da filogenia, h grande variao morfolgica da glndula

    salivar ceflica entre as abelhas. De um modo geral, parece ocorrer um aumento no grau

    de desenvolvimento dessa glndula em espcies com maior grau de sociabilidade. Nas

    abelhas em que as glndulas salivares ceflicas no esto presentes, o ducto excretor

    comum das glndulas salivares torcicas, no interior da cabea, apresenta-se como uma

    fita oca, reforada por tendeas. Em algumas espcies de abelhas pertencentes s

    famlias Halictidae, Megachilidae e Anthophorini, o mesmo ducto apresenta expanses

    laterais foliceas que podem ser interpretadas como prenncios da glndula salivar

    ceflica. No se sabe se essas expanses so funcionais. Nos Anthophorini, tais

    prenncios aparecem como expanses unilaterais, digitiformes. J em Halictidae e

    Megachilidae as expanses so bilaterais com forma folicea conectadas ao ducto

  • 7

    excretor comum das glndulas torcicas por canais cilndricos (CRUZ-LANDIM,

    1967).

    O par da glndula salivar presente na cabea formado durante a pupao, por

    evaginaes do epitlio do ducto excretor comum da glndula salivar larval, que

    atravessa a cabea (CRUZ-LANDIM; MELLO, 1967). Nos Meliponina e Bombina, na

    juno dos ductos das glndulas salivares torcicas com os ductos da poro glandular

    ceflica permanece uma dilatao, denominada bolsa salivar ou reservatrio, o qual no

    est presente nos Apina e Euglossina (CRUZ-LANDIM, 1967). Contudo, Salles e Cruz-

    Landim (1998) no identificaram bolsa salivar em Camargoia nordestina, um

    meliponneo, e sim estruturas globulares recobrindo a juno dos ductos.

    Apesar de terem a mesma origem e desembocadura comum, os pares de glndulas

    torcicos e ceflicos so distintos morfolgica e funcionalmente. As glndulas salivares

    torcicas so formadas por unidades secretoras tubulares enquanto a poro ceflica

    formada por unidades secretoras alveolares. Cada conjunto lateral de unidades

    secretoras considerado uma glndula, portanto, as glndulas salivares da cabea so

    estruturas pares (CRUZ-LANDIM, 1967).

    De acordo com a terminologia dada s clulas glandulares dos insetos, com relao

    ao modo pelo qual a clula secreta seus produtos (NOIROT; QUENNEDEY, 1974,

    1991), os alvolos das glndulas salivares ceflicas so constitudos por clulas

    glandulares da classe I as quais esto organizadas de modo a formar um rgo interno

    no corpo da abelha (CRUZ-LANDIM, 2002). Nesta classe de clulas glandulares, cada

    clula alveolar est envolvida no processo de produo e descarga da secreo e

    diretamente recoberta pela cutcula.

    A secreo das glndulas salivares do trax aquosa e segundo Delage-Darchen et

    al. (1979), Simpson (1960) e Simpson et al. (1968) contm enzimas digestivas,

    enquanto a secreo das glndulas salivares da cabea tem aspecto oleoso. Segundo

    Simpson (1960), essa secreo oleosa serve para lubrificar as peas bucais. Foi tambm

    sugerida a funo de amolecer a cera durante sua manipulao na construo do ninho

    (HESELHAUS, 1922), a qual foi posta em dvida por Simpson (1960) j que nem todas

    as abelhas que apresentam a glndula salivar ceflica desenvolvida trabalham com a

    cera.

  • 8

    Engels et al. (1997) demonstraram a presena de pelo menos 68 diferentes

    substncias volteis pertencentes a 5 grupos qumicos com potencial para

    desempenharem papel feromonal em extratos da cabea de rainhas de Scaptotrigona

    postica sem, contudo, determinarem onde eram produzidas. Porm, levando em

    considerao a natureza dos compostos, apenas as glndulas hipofarngeas poderiam ser

    excludas da funo de produzir tais compostos.

    Entre as glndulas da cabea, as mandibulares tm sido apontadas como as mais

    provveis fontes de feromnios. Contudo, Jarau et al. (2004) e Schorkopf et al. (2007)

    demonstraram, atravs de bioensaios, que as glndulas salivares da cabea de operrias

    campeiras de, respectivamente, Trigona recursa e T. spinipes (Subtribo Meliponina)

    produzem componentes volteis que esto relacionados comunicao por trilhas de

    cheiro.

    As substncias produzidas pelas glndulas excrinas nas abelhas so em sua

    maioria feromnios usados para comunicao e reconhecimento da posio social de

    cada indivduo e para inter-relacionamentos dos mais diferentes tipos, necessrios na

    comunidade. Assim, o ciclo funcional das glndulas determina a funo do indivduo na

    sociedade ou vice-versa (CRUZ-LANDIM, 1994).

    Como j mencionado anteriormente, as abelhas passam por fases da vida em que

    desempenham tarefas diferentes. Silva de Moraes (1978) verificou que desde o incio da

    diferenciao das clulas das glndulas salivares da cabea, seus ncleos se apresentam

    poliplides, mas que o grau de ploidia atingido por eles mais baixo que aquele

    alcanado pelos ncleos das torcicas, o que desde logo evidencia diferenas de funo,

    principalmente quanto intensidade de sntese protica. Cruz-Landim e Akahira (1966)

    constataram que as glndulas salivares torcicas e ceflicas nas operrias das espcies

    sociais apresentam um nico ciclo secretor durante a vida adulta, o qual est

    correlacionado diviso de trabalho, desenvolvendo-se em um certo perodo da vida e

    regredindo posteriormente. Dias (1992) estudando o processo de desenvolvimento e de

    regresso das glndulas salivares da cabea e alguns aspectos morfo-funcionais de

    operrias de S. postica, observou um desenvolvimento progressivo dessas glndulas,

    desde a emergncia da operria at ao fim da vida. Esta verificao est de acordo com

    o observado nas glndulas salivares ceflicas de Camargoia nordestina, um

    meliponneo, por Salles e Cruz-Landim (1998).

  • 9

    As glndulas das abelhas ocorrem de maneira bastante diferente entre machos e

    fmeas, sendo mais abundantes nas fmeas (CRUZ-LANDIM, 1994). A presena e o

    grau de desenvolvimento das glndulas salivares, tanto do trax quanto da cabea,

    diferem entre os dois sexos intra e inter-especificamente. Operrias e rainhas de A.

    mellifera apresentam ambos pares de glndulas, mas nos machos as da cabea so

    vestigiais (GRAF, 1968; SIMPSON, 1962).

    J em Bombus, o grau de desenvolvimento varia entre os sexos nas diferentes

    espcies. Machos de Bombus pomorum (RIBBANDS, 1953), B. atratus e B. morio

    (LAUER, 1992) possuem a glndula salivar da cabea mais desenvolvida que nas

    fmeas de sua espcie, porm em B. campestris (RIBBANDS, 1953) e B.

    (Rhodobombus) mesomelas (TERZO et al., 2005) elas so rudimentares nos machos e,

    nesta ltima espcie, grandes nas rainhas e operrias. Alguns machos de mamangavas

    usam a secreo de suas glndulas salivares ceflicas para marcar com cheiro rotas de

    vo e atrair rainhas virgens (BERGMAN; BERGSTRM, 1997; KULLENBERG et al.,

    1973), entretanto em B. mesomelas esta funo no encontra paralelo e a secreo

    corresponde aos hidrocarbonetos cuticulares.

    Variaes morfolgicas ocorrem tambm entre os meliponneos. Em alguns

    Meliponina esta glndula nas operrias to desenvolvida que ramos alcanam o trax

    (CAVASIN-OLIVEIRA, 1995; CRUZ-LANDIM, 1967; SILVA DE MORAES, 1978).

    Portanto, apesar da morfologia, ocorrncia e aspectos morfo-funcionais das

    glndulas salivares da cabea virem sendo estudados desde h bastante tempo, pouco se

    sabe sobre seu ciclo secretor, diferenas entre rainhas, operrias e machos de espcies

    eussociais e sua funo ainda no se encontra completamente esclarecida. Neste sentido,

    um estudo da morfologia geral e da ultra-estrutura celular da glndula salivar ceflica

    foi proposto para compreender melhor a biologia celular, o ciclo funcional e o papel

    desta glndula em espcies sociais, Apis mellifera e Scaptotrigona postica, comparando

    seu desenvolvimento em indivduos de ambas as castas femininas e entre os sexos, com

    diferentes idades.

  • 10

    OBJETIVOS GERAIS

    Em vista do exposto, os objetivos deste trabalho so:

    1. Atravs da anatomia e morfometria, caracterizar as glndulas salivares ceflicas

    nas espcies Apis mellifera e Scaptotrigona postica, comparando seu desenvolvimento

    entre as idades dentro de cada casta e sexo;

    2. Estudar as glndulas salivares da cabea nos nveis histolgico, histoqumico e

    ultra-estrutural em operrias, rainhas e machos das espcies acima mencionadas, em

    vrias fases da vida;

    3. Comparar a morfologia das glndulas com a finalidade de detectar diferenas

    passveis de serem correlacionadas funo secretora, nesses indivduos.

    A apresentao dos resultados foi organizada em 3 artigos aqui denominados

    captulos:

    Captulo 1 Anatomia e Morfometria das Glndulas Salivares Ceflicas

    de Apis mellifera e Scaptotrigona postica (Hymenoptera, Apidae) em

    Fmeas e Machos com Diferentes Idades.

  • 11

    Captulo 2 Histologia e Histoqumica das Glndulas Salivares da

    Cabea de Duas Espcies de Abelhas Eussociais, Apis mellifera e

    Scaptotrigona postica (Hymenoptera, Apidae).

    Captulo 3 Ultra-Estrutura das Glndulas Salivares Ceflicas de

    Operrias e Rainhas de Apis mellifera e Scaptotrigona postica

    (Hymenoptera, Apidae) em Diferentes Fases da Vida.

  • 13

    Anatomia e Morfometria das Glndulas Salivares Ceflicas de Apis mellifera e

    Scaptotrigona postica (Hymenoptera, Apidae) em Fmeas e Machos com Diferentes

    Idades.

    Silvana Beani Poiani, Carminda da Cruz-Landim1

    Departamento de Biologia, Instituto de Biocincias de Rio Claro (UNESP/RC),

    Av. 24A, no.1515, Bela Vista, CEP 13506-900, Rio Claro, So Paulo, Brasil

    RESUMO: Os insetos apresentam glndulas associadas aos apndices bucais, dos quais

    recebem suas denominaes e constituem um sistema designado sistema salivar. As

    glndulas labiais ou salivares fazem parte desse sistema e so estruturas pares

    localizadas no trax dos insetos adultos. Nas abelhas da subfamlia Apinae, um par de

    glndulas salivares tambm se desenvolve na cabea. Deste modo, as glndulas

    salivares ceflicas constituem uma caracterstica exclusiva de algumas espcies de

    abelhas. Estudou-se a anatomia, atravs de microscopia de luz e eletrnica de varredura,

    e o grau de desenvolvimento da glndula salivar ceflica, atravs de morfometria, em

    operrias, rainhas e machos, em diferentes idades, das espcies Apis mellifera e

    Scaptotrigona postica. Os resultados mostram que as glndulas salivares ceflicas

    encontram-se igualmente desenvolvidas nas fmeas de Apis mellifera e Scaptotrigona

    postica e tambm nos machos maduros sexualmente desta ltima espcie. J nos

    machos maduros de A. mellifera so vestigiais. Ocorre variao da morfologia dos

    alvolos secretores e ductos conforme a espcie. Em ambas espcies, o

    desenvolvimento da glndula progressivo, atingindo grau mximo nas operrias

    campeiras e nas rainhas em postura. Nos machos de A. mellifera ocorre o inverso, a

    glndula degenera com o passar da idade. Machos de S. postica apresentam

    desenvolvimento glandular semelhante ao das operrias de sua espcie. A microscopia

    eletrnica de varredura revelou que fmeas jovens apresentam alvolos e ductos

    colapsados enquanto as mais velhas apresentam alvolos trgidos e, em A. mellifera,

    ductos robustos. Em A. mellifera existem pontuaes na superfcie dos alvolos e

    ductos, j perceptveis nas glndulas das operrias nutridoras e bem evidentes nas das

    campeiras e rainhas em postura, tais estruturas correspondem a aberturas dos espaos

  • 14

    intercelulares. Anlises estatsticas confirmaram que h diferena significativa (p0,05)

    na rea alveolar das glndulas nas diferentes fases da vida das operrias das duas

    espcies e entre rainhas virgens e em postura de S. postica.

    PALAVRAS-CHAVE: abelha, glndula labial, operria, rainha, microscopia eletrnica

    de varredura

    ABSTRACT: Insects present exocrine glands attached to mouthparts which take their

    names and form a system designated salivary system. Adult insects labial or salivary

    glands take part in this system and are structures paired located at torax. Apinae

    subfamily bees have a pair salivary glands develop in head constituting exclusive

    feature of some bees species. This work studied the anatomy of cephalic salivary glands

    by ligth and varredure eletron microscopy, and development degree by morphometric

    analises, in workers, queens and males of Apis mellifera and Scaptotrigona postica in

    various ages. The results show the cephalic salivary glands are equally developed in

    females of Apis mellifera, and females and sexually mature males of Scaptotrigona

    postica. Mature males of A. mellifera exhibit vestigial glands. The head salivary glands

    consist of alveolar secretory units and ducts. The morphology of alveoli and ducts vary

    according to the species. In both species, the development of the gland is progressive,

    reaching its maximum level in foragers and egg-laying queens. In A. mellifera males,

    the inverse occurs, the gland degenerates as aging progresses. Gland development in S.

    postica males is similar to that of workers of its species. Scanning electron microscopy

    revealed collapsed alveoli and ducts in young females, while older ones exhibit turgid

    alveoli and, in A. mellifera, robust ducts. In the latter, a punctured surface in alveoli and

    ducts can be observed in glands of nurse bees, and better conspicuous in foragers and

    egg-laying queens. These structures correspond to openings of intercellular spaces.

    Statistical analysis confirmed significant differences (p0.05) in the area of alveoli of

    glands of workers in different life stages of both species and between S. postica virgin

    and egg-laying queens.

    KEYWORDS: bee, labial gland, worker, queen, scanning eletron microscopy

  • 15

    1. INTRODUO

    Todos os insetos so dotados de um sistema salivar composto por pares de

    glndulas, os quais esto conectados aos apndices bucais. Em abelhas adultas, as

    principais glndulas so as labiais, mandibulares e hipofarngeas que, apesar de

    constiturem o sistema salivar, apresentam funes variadas de modo que nem sempre

    esto relacionadas com a ingesto ou digesto de alimento.

    As glndulas labiais tambm so designadas como glndulas salivares

    propriamente ditas, seja porque descarregam sua secreo na base da lngua, condio

    esta que permite a mistura imediata da secreo com o alimento ingerido, ou porque so

    homlogas das glndulas salivares dos demais insetos, ou ainda porque originam-se das

    glndulas salivares larvais (CRUZ-LANDIM, 1967; SILVA DE MORAES, 2002;

    SNODGRASS, 1956).

    Em todos os insetos, as glndulas salivares dos adultos esto localizadas no

    trax. Porm, uma caracterstica que distingue algumas espcies de abelhas dos demais

    insetos a presena de um par de glndulas salivares tambm na cabea. A glndula

    salivar ceflica s encontrada plenamente desenvolvida em algumas espcies de

    abelhas da subfamlia Apinae (CRUZ-LANDIM, 1967).

    A glndula salivar ceflica forma-se durante a pupao, por evaginaes do

    epitlio do ducto excretor comum, remanescente da glndula salivar larval, no interior

    da cabea (CRUZ-LANDIM; MELLO, 1967). Nos Meliponina e Bombina, existe uma

    dilatao no local de convergncia dos ductos das glndulas salivares torcicas com os

    das ceflicas, que chamada de bolsa salivar ou reservatrio.

    As glndulas salivares torcicas e ceflicas tm origem ectodrmica e

    desembocadura comum, porm diferem quanto funo. Estudos feitos por Delage-

    Darchen et al. (1979), Simpson (1960) e Simpson et al. (1968) verificaram que a

    secreo da glndula salivar torcica aquosa e contm enzimas digestivas, enquanto a

    secreo da poro ceflica da glndula tem aspecto oleoso.

    As glndulas das abelhas ocorrem de modo diferente nos machos e nas fmeas,

    sendo mais abundantes nas fmeas. As operrias realizam tarefas na colnia,

    obedecendo a uma seqncia de acordo com a idade, estado fisiolgico ou necessidades

    da colnia, e essas mudanas de fases da vida esto correlacionadas ao desenvolvimento

  • 16

    e regresso das glndulas excrinas espalhadas pelo corpo da abelha (CRUZ-LANDIM,

    1994). Observaes feitas por Heselhaus (1922), Inglesent (1940) e Simpson (1960,

    1961, 1963) apontam que, em A. mellifera, na fase de campeira da operria que a

    glndula salivar ceflica atinge maior grau de desenvolvimento. Anos mais tarde

    Katzav-Gozansky et al. (2001) comprovaram tal observao atravs de anlises

    estatsticas mas, abordaram apenas em operrias.

    Rainhas so responsveis pela oviposio e integrao dos membros da colnia e

    os machos tm a funo de fecundar a rainha e, nos meliponneos, podem

    eventualmente desempenhar algumas outras tarefas (NOGUEIRA-NETO, 1997).

    O presente trabalho tem por finalidade abordar caractersticas morfo-anatmicas

    e morfomtricas das glndulas salivares ceflicas, relacionando o desenvolvimento da

    glndula com as diferentes fases da vida de operrias, rainhas e machos de duas

    espcies de abelhas eussociais, Apis mellifera Linnaeus (1758) e Scaptotrigona postica

    Latreille (1807).

    2. MATERIAL E MTODOS

    2.1. Material

    Operrias, rainhas e machos de Apis mellifera e Scaptotrigona postica foram

    coletados no apirio e meliponrio mantidos pelo Instituto de Biocincias da

    Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Rio Claro, SP.

    Para ambas espcies, as operrias recm-emergidas foram capturadas ao

    emergirem da clula de cria, as nutridoras enquanto aprovisionavam as clulas de cria e

    as campeiras ao voltarem da coleta para as colnias. Rainhas virgens de A. mellifera

    foram criadas em laboratrio enquanto as de S. postica e as rainhas em postura de

    ambas espcies foram retiradas de colnias fortes. Machos recm-emergidos de A.

    mellifera coletados no interior da colnia e os maduros sexualmente nos agregados de

    machos, prximos s colnias. Os indivduos recm-emergidos de S. postica foram

    analisados sob estereomicroscpio e separados em fmeas (operrias recm-emergidas)

    e machos jovens, conforme presena ou ausncia de corbcula.

  • 17

    2.2. Mtodos

    2.2.1. Anatomia e Morfometria

    As reas (m2) dos alvolos das glndulas salivares ceflicas foram medidas em

    operrias em diferentes fases da vida (recm-emergidas, nutridoras e campeiras), e em

    rainhas (virgens e em postura) de ambas espcies, S. postica e A. mellifera. Machos no

    foram analisados devido dificuldade de encontrar a glndula, j que nem sempre foi

    possvel observ-la, ou porque encontrava-se envolvida pelo corpo gorduroso, no

    sendo possvel distinguir os alvolos.

    As glndulas foram dissecadas em soluo fisiolgica para inseto tamponada

    (NaCl Na2HPO4 KH2PO4), colocadas em lminas, fixadas em Bouin aquoso e levadas

    ao microscpio de luz. As reas alveolares foram medidas usando um sistema de

    tratamento e captura de imagem (Leica Qwin 550 Servers Image and Peripheral

    Server Software). As imagens capturadas serviram tambm para a anlise anatmica das

    glndulas.

    Para operrias, foram capturados 10 indivduos em cada fase da vida, ou seja, 10

    recm-emergidas, 10 nutridoras e 10 campeiras. Cada indivduo forneceu um par de

    glndulas salivares ceflicas. Foram tomadas, aleatoriamente, as medidas da rea de 10

    alvolos de cada glndula de cada indivduo. Ou seja, para cada idade obteve-se 100

    medidas alveolares.

    Quanto s rainhas, ocorreu uma variao na quantidade de medidas feitas devido

    disponibilidade desses indivduos nas colnias, porm, como feito com as operrias,

    foram medidas, aleatoriamente, as reas de 10 alvolos de cada glndula de cada

    indivduo. Para S. postica foram usadas 4 rainhas virgens (40 medidas) e 5 fecundadas

    (50 medidas), e em A. mellifera 10 rainhas virgens (100 medidas) e 1 fecundada (10

    medidas).

    Para as anlises estatsticas, as medidas alveolares foram transformadas em log e

    os resduos apresentaram normalidade e distribuio homognea. O teste estatstico

    paramtrico aplicado foi a anlise de varincia - ANOVA, com o qual se avaliou a

    ocorrncia de diferenas significativas (p 0.05), ou no, entre os grupos. Nos casos em

  • 18

    que houve diferena significativa, aplicou-se o teste Tukey para verificar entre quais

    grupos tal diferena ocorreu.

    2.2.2. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)

    As glndulas salivares da cabea de 5 operrias em cada fase da vida (recm-

    emergida, nutridora e campeira) e 4 rainhas virgens e 2 em postura de A. mellifera e S.

    postica, foram dissecadas e fixadas em Karnovisky (paraformaldedo 2% e

    glutaraldedo 2,5% em tampo cacodilato de sdio 0,1M, pH 7,4), durante 1 hora, em

    seguida, lavadas em gua destilada, desidratadas com etanol 70%, 90%, 95% e 3 banhos

    de lcool 100%, 10 minutos cada banho. A seguir, levadas ao Critical Point Drying

    para a retirada do lquido, coladas em suporte de alumnio, metalizadas com ouro e

    examinadas ao microscpio eletrnico de varredura.

    3. RESULTADOS

    3.1. Anatomia

    3.1.1. Microscopia de Luz (ML)

    A glndula salivar ceflica, tanto de A. mellifera quanto de S. postica, formada

    por dois ramos laterais independentes, os quais esto localizados um de cada lado da

    cabea, apresentando-se como estrutura par. Cada glndula formada por conjuntos de

    unidades secretoras alveolares e, sendo uma glndula excrina, por ductos. Os alvolos

    so constitudos por um epitlio secretor recoberto na face luminal por cutcula. Dos

    alvolos partem ductos que, progressivamente, unem-se at formarem ductos nicos de

    cada uma das glndulas ceflicas que, com os ductos das glndulas salivares do trax,

    do origem ao ducto excretor final, o qual se abre no premento da glossa.

    Cada glndula salivar ceflica de S. postica divide-se em um ramo supra-

    cerebral, o qual contm maior quantidade de alvolos, e um ramo sub-cerebral, o qual

    contm menor quantidade de alvolos (Figura 1), porm, na figura, torna-se difcil

  • 19

    apontar cada uma dessas regies devido ao emaranhado formado pelos ductos e

    alvolos. Os alvolos so esfricos ou ovais e os ductos assumem distribuio esparsada

    em ambos os ramos. Os ductos que partem dos alvolos so pouco calibrosos.

    As operrias recm-emergidas de S. postica possuem alvolos glandulares

    murchos (Figura 2), enquanto que operrias campeiras e rainhas em postura os possuem

    trgidos (Figura 1). Operrias nutridoras e rainhas virgens apresentam desenvolvimento

    glandular intermedirio entre os indivduos jovens e velhos, ou seja, alguns alvolos j

    encontram-se cheios de secreo (Figura 3).

    Em A. mellifera os alvolos so predominantemente piriformes e formam uma

    massa mais uniforme e compacta (Figura 4, 5 e 6), a qual se apia na parede ltero-

    posterior da cabea e se divide em ramos sub e supra-cerebrais. Os ductos apresentam-

    se mais calibrosos quando comparados com os da glndula salivar ceflica de S. postica.

    Tal como para S. postica, operrias recm-emergidas de A. mellifera possuem

    alvolos colapsados (Figura 4) que tornam-se progressivamente mais trgidos conforme

    os indivduos envelhecem, atingindo grau mximo de desenvolvimento nas operrias

    campeiras e rainhas em postura (6) e situao intermediria em nutridoras e rainhas

    virgens (Figura 5).

    Igualmente para ambas espcies, em cada glndula, os ductos que partem dos

    alvolos so chamados de coletores e unem-se para formarem os ductos condutores.

    Cada glndula possui 2 ductos condutores, um da poro supra-cerebral e outro da

    poro sub-cerebral. Estes, ento, se fusionam e formam o ducto excretor da glndula.

    Os ductos excretores, por sua vez, unem-se na regio mediana central da cabea aos

    ductos excretores das glndulas torcicas para formarem a bolsa salivar da qual parte o

    canal excretor final das glndulas torcicas e ceflicas, no caso de S. postica, ou com o

    canal excretor comum das glndulas torcicas, no caso de A. mellifera. O canal excretor

    final cilndrico, com aspecto mais calibroso em A. mellifera, e fino em S. postica.

    Ento, em S. postica, no local de convergncia dos ductos excretores torcicos e

    ceflicos, existe uma dilatao, denominada bolsa salivar ou reservatrio, da qual parte

    o canal excretor final (Figura 1). Em A. mellifera, os ductos excretores da glndula

    salivar torcica unem-se ainda no trax, de modo que formado um canal excretor

    comum da poro glandular torcica. Este canal penetra na cabea atravs do formen

    occipital e, ento, une-se aos ductos excretores de cada glndula salivar ceflica para

  • 20

    formar o canal excretor final. Neste caso, no se observa uma dilatao no local de

    convergncia dos ductos.

    Comparando-se as espcies, estas diferem ainda pela quantidade de alvolos, ou

    seja, grau de desenvolvimento. Mesmo levando em conta a diferena de tamanho dos

    indivduos das espcies estudadas, a glndula mais desenvolvida em A. mellifera. No

    mais, o padro anatmico geral das glndulas das duas espcies bastante semelhante.

    Machos recm-emergidos de S. postica no foram analisados, porm os maduros

    possuem glndula desenvolvida como nas fmeas de sua espcie (Figura 7).

    Convm observar que a glndula, em machos recm-emergidos de A. mellifera

    (Figura 8), envolvida por clulas do corpo gorduroso e nos maduros, alm disso,

    sofreu regresso, de modo que na disseco possvel visualizar apenas os ductos que a

    formavam.

    3.1.2. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)

    A anlise ao MEV confirmou o observado ao microscpio de luz, que em ambas

    as espcies, nas operrias recm-emergidas, os alvolos e ductos esto colapsados

    (Figuras 9 e 13). Geralmente nas operrias nutridoras e rainhas virgens, a maioria dos

    alvolos encontram-se colapsados, embora alguns j assumam aspecto trgido (Figura

    10), enquanto que indivduos mais velhos, como as operrias campeiras e rainhas em

    postura, apresentam alvolos completamente trgidos (Figuras 11, 14 e 15) e, no caso

    de A. mellifera, ductos robustos (Figura 12).

    Em A. mellifera o formato dos alvolos varia podendo ser alongado,

    arredondado ou piriforme (Figura 11). Nas operrias recm-emergidas, os limites

    celulares na superfcie dos alvolos e ductos so bem marcados (Figura 9). J em

    operrias nutridoras, campeiras e rainhas virgens e em postura no so perceptveis

    (Figuras 10 e 11). Ainda, em relao A. mellifera, com exceo das operrias recm-

    emergidas, a superfcie dos alvolos e ductos apresenta pontuaes externas,

    semelhantes a poros (Figuras 10, 11 e 12).

    As pores secretoras da glndula em S. postica so predominantemente

    arredondadas (Figuras 13, 14), mas em rainha em postura predominam alvolos

    alongados (Figura 15). No se observa a superfcie dos alvolos e ductos marcada pelos

  • 21

    poros, mas a superfcie alveolar em rainha em postura apresenta contornos celulares. Os

    ductos so cilndricos e finos (Figuras 13, 14 e 15). Os alvolos so bem supridos por

    traqueolas (Figuras 13, 14 e 15).

    3.2. Morfometria

    3.2.1. Apis mellifera

    Tratando-se de operrias, os resultados dos testes estatsticos mostram que no

    s h diferena significativa dentro da casta (p=0,001), mas tambm dentro de cada

    grupo etrio (p=0,002) (Tabela 1). Atravs do teste Tukey verificou-se que os grupos

    que diferem entre si so das operrias nutridoras e das campeiras (p=0,0007) (Tabela 2).

    As abelhas recm-emergidas apresentam valor mdio da rea alveolar entre as

    nutridoras e campeiras, no diferindo destes grupos. A Figura 16 mostra os grficos

    representativos das mdias alveolares em cada grupo etrio das operrias.

    Em relao s rainhas virgens e em postura no houve diferena significativa

    entre os grupos (p=0,623) (Tabela 3 e Figura 17).

    3.2.2. Scaptotrigona postica

    No caso das operrias de S. postica, assim como o observado em operrias de A.

    mellifera, existe diferena significativa entre as idades (p=0,000) e dentro de cada idade

    (p=0,000) (Tabela 4). A tabela 5 mostra que, pelos resultados do teste Tukey, as

    diferenas nas mdias das reas alveolares ocorrem entre todos os grupos (p=.000022).

    A mdia da rea dos alvolos tende a aumentar conforme o indivduo envelhece, sendo

    encontrados, ento, valores baixos para recm-emergidas e os valores maiores para as

    campeiras, como mostra o grfico da Figura 18.

    Entre as rainhas tambm constatou-se diferena significativa entre virgens e em

    postura (p=0,000) (Tabela 6), sendo que rainhas virgens apresentam reas alveolares

    menores que as em postura (Figura 19).

  • 22

    _______________Figuras e Tabelas

  • 23

    Figuras 1 a 8 - Aspecto anatmico das glndulas salivares ceflicas em Scaptotrigona

    postica e Apis mellifera. 1 Aspecto geral da glndula em operria campeira de S.

    postica mostrando os ductos (du) finos nesta espcie, alvolos (a) trgidos e bolsa

    salivar (bs) na sua juno com os ductos torcicos (dt) e ducto excretor final (def). 2 e 4

    - Nas operrias recm-emergidas de S. postica (2) e A. mellifera (4), os alvolos (a)

    apresentam-se colapsados e, em A. mellifera, os ductos (du) so robustos e achatados. 3

    e 5 Operrias nutridoras e rainhas virgens apresentam grau de desenvolvimento

    glandular semelhante, com alguns alvolos (a) j contendo secreo, em S. postica (3) e

    A. mellifera (5). 6 Nas rainhas em postura de A. melliferaa glndula atinge grau

    mximo de desenvolvimento, com alvolos (a) trgidos contendo secreo de aspecto

    oleoso. 7 Macho maduro de S. postica apresenta glndula to desenvolvida quanto as

    operrias da mesma espcie. 8 Machos recm-emergidos de A. mellifera possuem a

    glndula envolvida por clulas do corpo gorduroso (cg), de modo que apenas os ductos

    so visveis.

    Figuras 9 a 15 - Micrografias eletrnicas de varredura. 9 - Operria recm-emergida de

    A. mellifera. Alvolos (a) e ductos (du) achatados. Os limites celulares so bem visveis

    na superfcie dos alvolos e ductos. 10 - Operrias nutridoras e rainhas virgens de A.

    mellifera. Parte dos alvolos encontra-se trgido. 11- Alvolos (a) trgidos alongados,

    arredondados ou piriformes em operrias campeiras e rainhas em postura de A.

    mellifera. Com exceo das operrias recm-emergidas, todas as outras fmeas de A.

    mellifera apresentam a superfcie dos alvolos (10 e 11) e ductos (12) marcada por

    pontuaes (setas) que correspondem a aberturas intercelulares. 13 e 14 - Operrias de

    S. postica, recm-emergida (13) e campeira (14). Alvolos (a) arredondados, trgidos

    nas campeiras e ductos (du) cilndricos, achatados nas recm-emergidas. 15 Rainha

    em postura de S. postica. Os alvolos (a) so mais alongados que nas operrias da

    mesma espcie e as superfcies so marcadas pelos contornos celulares. tr = traqueolas.

  • 24

    100m

    20 m

    du

    bs dt

    def

    40m

    1 2

    20 m 20 m

    3

    4

    20 m 20 m

    6 5

    20 m

    7

    20 m

    8

    40m

    40 m

    10

    9

    40 m

    40 m

    11

    13

    20 m

    12

    20 m 40 m

    14 15

    a

    dua

    a

    a

    du

    du dudu

    a

    a

    a

    a

    a

    a

    a a dudu

    cgdu

    adu

    du

    a aa

    du

    du aa

    a

    tr

    tr tr

    tr

  • 25

    Tabela 1 Resultado da anlise de varincia (ANOVA), em operrias de Apis mellifera, com valor de p significativo entre as idades e entre as glndulas em cada idade (p0,05).

    0.144 27038.753 Erro

    0.002 2.040 0.293 277.905 GL(ID$)

    0.0017.4021.06222.125ID$

    P Razo F Mdia quadr-

    tica

    G.L.* Soma de quadrados

    Fonte

    Tabela 2- Teste Tukey em operrias de Apis mellifera, mostrando que os grupos que diferem entre si (p0,05) so o das operrias nutridoras e campeiras.

    .000759.076601 Campeiras (3)

    .000759.296688 Nutridoras (2)

    .076601 .296688 Recm-emergidas (1)

    Campeiras (3) 9.995360

    Nutridoras (2) 9.790370

    Recm-emergidas (1)

    9.873780

    Operrias

  • 26

    Figura 16 Grfico das mdias alveolares em diferentes fases da vida de operrias de Apis mellifera.

    Operrias

    re

    a al

    veol

    ar u

    m

    (Log

    )

    9.3

    9.5

    9.7

    9.9

    10.1

    10.3

    10.5

    Recm-emergida Nutridora Campeira

  • 27

    0.127 10813.718 Erro

    0.623 0.244 0.031 10.031 ID$

    P Razo-F Mdia quadrtica

    G.L.* Soma de quadrados

    Fonte

    Tabela 3 - Anlise de varincia (ANOVA) das reas alveolares das glndulas salivares ceflicas de rainhas virgens e em postura de Apis mellifera. No houve diferena significativa (p>0,05) entre os grupos.

    Figura 17- Grfico das mdias alveolares em diferentes fases da vida de rainhas de Apis mellifera.

    *G.L. = Graus de liberdade

  • 28

    Tabela 4 Diferena significativa (p0,05) dada pela anlise de varincia (ANOVA) das reas alveolares das glndulas salivares ceflicas de operrias de Scaptotrigona postica, tanto entre as idades quanto entre as glndulas em cada idade.

    0.075 27020.152 Erro

    0.000 7.357 0.549 2714.827 GL(ID$)

    0.000404.780 30.212 260.424 ID$

    P Razo-F Mdia quadrtica

    G.L.* Soma dos quadrados

    Fonte

    *G.L. = Graus de liberdade

    Tabela 5 O teste Tukey em operrias de Scaptotrigona postica revelou que todos os grupos diferem entre si.

    .000022.000022Campeira {3}

    .000022.000022Nutridora {2}

    .000022.000022Recm-emergida {1}

    Campeira (3) 8.452050

    Nutridora (2) 8.044490

    Recm-emergida (1)

    7.364160

    Operrias

  • 29

    Figura 18 - Grfico das mdias alveolares em diferentes fases da vida de operrias de Scaptotrigona postica.

    Operrias

    re

    a A

    lveo

    lar

    um

    (Log

    )

    6.8

    7.2

    7.6

    8.0

    8.4

    8.8

    9.2

    Recm-emergida Nutridora Campeira

  • 30

    Tabela 6 - Anlise de varincia (ANOVA) das reas alveolares das glndulas salivares ceflicas de rainhas de Scaptotrigona postica. H diferena significativa (p

  • 31

    5. DISCUSSO

    As abelhas passam por fases da vida em que desempenham tarefas diferentes e,

    nas operrias das espcies eussociais, a diviso de trabalho est parte ou totalmente

    relacionada ao ciclo funcional de glndulas excrinas (CRUZ-LANDIM, 1994).

    Nas abelhas das espcies A. mellifera e S. postica, as glndulas salivares

    ceflicas so igualmente desenvolvidas em operrias e rainhas. Nos machos

    sexualmente maduros de S. postica as glndulas salivares ceflicas so to

    desenvolvidas quanto nas fmeas, no entanto, so reduzidas nos machos maduros de A.

    mellifera, o que pode ser relacionado com as tarefas desempenhadas por estas classes de

    indivduos na comunidade.

    5.1. Anatomia

    A localizao, o arranjo e a forma dos alvolos variam entre as espcies

    estudadas. Estas observaes concordam com estudo feito por Cruz-Landim (1967) em

    que as caractersticas descritas para A. mellifera so semelhantes s observadas em

    Bombus, Euplusia e Euglossa, mas diferem dos Meliponina.

    Em S. postica foi encontrada bolsa salivar no local de convergncia dos ductos

    provenientes das glndulas salivares torcicas e ceflicas. A presena de bolsa salivar

    foi verificada tambm em Euplusia violacens, Euglossa cordata, Eulaema nigrita e

    algumas espcies de Bombina e outros Meliponina (CRUZ-LANDIM, 1967), porm

    no foi atribudo a ela significado funcional. A autora sugere tratar-se de uma estrutura

    residual proveniente do canal excretor final que achatado em espcies de abelhas

    solitrias que no tem a glndula ceflica, sendo, portanto, a sua ausncia em A.

    mellifera um carter apomrfico. Os resultados aqui apresentados concordam com a

    sugesto de Cruz-Landim (1967). A secreo acumula-se progressivamente na luz dos

    alvolos no parecendo ser necessria a bolsa salivar para seu armazenamento.

    As tendeas da cutcula que reveste os ductos de ambas as espcies conferem

    rigidez e previnem o colapso dos mesmos. Estudo detalhado do canal salivar em

    abelhas (GRAF, 1968) revelou nos Meliponina a parte do canal salivar que forma a

    bolsa salivar, bem como parte dos ductos excretores torcicos que precedem a sua

  • 32

    fuso, perde a regularidade da estrutura cuticular com reforos em espiral e reorganiza-

    se novamente no canal excretor final, que vai para o premento, e nos ductos condutores

    das glndulas salivares da cabea. No presente estudo verificou-se que em A. mellifera

    no h desaparecimento da espiral cuticular que se apresenta com regularidade.

    Em operrias de alguns Meliponina, a glndula salivar ceflica to

    desenvolvida que ramos alcanam o trax e se entremeiam aos alvolos da poro

    torcica, da qual diferem nitidamente, j que a poro secretora torcica tubular e a

    ceflica formada por alvolos arredondados (CAVASIN-OLIVEIRA, 1995; CRUZ-

    LANDIM, 1967; GRAF, 1968; SILVA DE MORAES, 1978). Esta condio no

    encontra paralelo no presente estudo, onde verifica-se que a poro secretora da

    glndula em S. postica e A. mellifera limita-se cabea.

    As glndulas de ambas espcies diferem quanto morfologia dos alvolos e

    ductos. Em A. mellifera os alvolos so predominantemente piriformes e esto

    arranjados de modo a formarem uma massa uniforme e compacta, e os ductos so

    robustos. J em S. postica os alvolos so esfricos ou ovais e os ductos so finos e

    assumem distribuio esparsada. Apesar das diferenas anatmicas, a atividade

    glandular semelhante entre as operrias e rainhas das duas espcies e machos de S.

    postica, nos quais a secreo se acumula nos alvolos conforme os indivduos

    envelhecem, diferindo apenas em relao aos machos de A. mellifera, nos quais a

    glndula sofre regresso.

    Machos recm-emergidos de A. mellifera apresentam a glndula salivar ceflica

    envolvida pelo corpo gorduroso e, medida que envelhecem, a visualizao dos ductos

    e unidades secretoras torna-se mais difcil e, s vezes, no so encontrados, indicando

    regresso. Os zanges de A. mellifera so designados para uma nica e importante

    funo, a fecundao da rainha. Desde que o zango no realiza trabalhos na colnia e

    alimentado pelas operrias, as estruturas relacionadas s tarefas, nos machos, so

    reduzidas ou ausentes (WINSTON, 1987), como parece ser o caso da glndula salivar

    ceflica. Interessante ressaltar que machos de S. postica apresentam atividade glandular

    semelhante a das operrias de sua espcie e, segundo Nogueira-Neto (1997),

    eventualmente desempenham tarefas na colnia. O mesmo raciocnio pode ser usado

    para explicar a regresso da glndula nos machos de A. mellifera, os quais no realizam

    nenhuma atividade na colnia e no se alimentam mais depois que a abandonam. Os

  • 33

    machos de Bombus pomorum (RIBBANDS, 1953), B. atratus e B. morio (LAUER,

    1992) possuem a glndula salivar da cabea desenvolvida, porm em grau maior que

    das fmeas de sua espcie. Machos de B. pratorum e B. lapidarius marcam territrio e

    atraem fmeas com a secreo da glndula salivar ceflica (BERGMAN;

    BERGSTRM, 1997).

    A anlise por varredura permite maior detalhamento da anatomia dessas

    glndulas. Uma caracterstica presente apenas em A. mellifera, mais especificamente

    nas operrias nutridoras e campeiras e rainhas virgens e em postura, a superfcie

    alveolar e dos ductos cheia de pontuaes ou poros que parecem adentrar alvolos e

    ductos. Estas estruturas correspondem a aberturas dos espaos intercelulares na regio

    basal, como pde ser observado ao microscpio de luz (Captulo 2) e eletrnico de

    transmisso (Captulo 3), e que no exame com MEV assemelham-se a poros na

    superfcie dos alvolos e ductos. Estas estruturas so perceptveis quando os alvolos

    esto trgidos, condio encontrada nas operrias campeiras e rainhas em postura, mas

    j observveis em operrias nutridoras e rainhas virgens. Alm disso, tais aberturas

    foram confirmadas com o auxlio da anlise ao microscpio eletrnico de transmisso

    (Captulo 3). A abertura dos espaos intercelulares para o meio externo indica funo de

    absoro de substncias atravs dessas aberturas. A sua presena a partir da fase de

    nutridora com intensificao na de campeira indica aumento desse tipo de atividade

    glandular. Em alguns insetos, especialmente em Colembola, as glndulas salivares

    torcicas apresentam caractersticas semelhantes e tm papel excretor (CHAPMAN,

    1998). A absoro de material da hemolinfa atravs de espaos intercelulares abertos

    parece indicar que tambm nas abelhas possam exercer essa funo.

    O aspecto dos alvolos das operrias tanto ao ML como ao MEV mostra que

    estes se apresentam mais trgidos nas operrias campeiras e rainhas em postura

    significando que contm maior quantidade de secreo, embora nas operrias nutridoras

    e nas rainhas virgens boa parte dos alvolos j se apresentarem trgidos. A maior

    turgidez dos alvolos nos indivduos mais velhos deve-se ao acmulo de secreo no

    seu interior. Como nestas glndulas o aumento do tamanho dos alvolos contnuo

    desde a emergncia alcanando o mximo nas campeiras, isto parece indicar que a

    secreo pouco utilizada nas tarefas intra-coloniais. Esta ltima hiptese, pelo menos

  • 34

    para S. postica, parece pouco provvel porque as clulas glandulares se achatam

    medida que o alvolo se enche de secreo (Captulos 2 e 3).

    Estudo de Blochtein (2006) com Plebeia emerina revelou que ao MEV, a

    glndula salivar ceflica em operrias de meia vida (nutridoras) formada por alvolos

    arredondados, assim como observado em S. postica. J nas operrias campeiras de P.

    emerina, os alvolos so achatados lateralmente. Ou seja, nesta espcie, a glndula

    salivar ceflica atinge desenvolvimento mximo em operrias de meia vida, diferente do

    observado nas espcies aqui estudadas. A funo sugerida para P. emerina

    (BLOCHTEIN, 2006) a de que a secreo produzida seja misturada s pelotas de

    prpolis espalhadas pela colnia, como forma de defesa contra invasores. A secreo

    amoleceria a prpolis tornando-a viscosa, acabando os invasores por ficarem presos a

    ela. Uma vez que a glndula est mais desenvolvida nas operrias mais velhas, em S.

    postica e A. mellifera, provvel que a secreo produzida auxilie principalmente nas

    tarefas de coleta de resinas e no tanto nas atividades dentro do ninho, mostrando que a

    secreo glandular pode ter funo diferente em diferentes espcies, mais uma vez

    apoiando a conhecida plasticidade funcional das glndulas das abelhas.

    5.2. Morfometria

    Apesar de alguns estudos sobre as glndulas salivares ceflicas de abelhas

    abordarem o grau de desenvolvimento das mesmas, comparando-o entre os indivduos

    em diferentes fases da vida, poucos esto baseados em testes estatsticos, gerando

    interpretaes subjetivas. Deste modo, a morfometria permitiu comparaes com base

    estatstica entre os indivduos exercendo diferentes tarefas na colnia.

    Quanto s operrias de A. mellifera, estudos tm revelado que as glndulas

    salivares ceflicas atingem desenvolvimento mximo na faixa de 17 a 41 dias de idade,

    fase de transio para tarefas de campo (17 dias) ou em que essas tarefas j esto

    completamente estabelecidas (41 dias) (HESELHAUS, 1922; INGLESENT, 1940;

    SIMPSON 1960, 1961, 1963). Apesar destes autores no se basearem em testes

    estatsticos para essa afirmao, dados posteriores neles apoiados (KATZAV-

    GOZANSKY et al., 2001) esto de acordo com os primeiros autores, mostrando que as

  • 35

    operrias campeiras de A. mellifera contm significativamente mais secreo que as

    nutridoras, o que relacionaram com o comportamento da abelha e no com sua idade.

    O aumento de tamanho dos alvolos das glndulas salivares ceflicas em

    operrias de S. postica e A. mellifera seguem aproximadamente o mesmo padro:

    progressivo durante a fase adulta e mximo quando a abelha exerce a funo de

    campeira. Porm, as diferenas no tamanho alveolar entre as operrias com diferentes

    idades de S. postica, parecem ser mais marcantes que em A. mellifera (Tabela 5, figura

    7) j que todos os grupos diferiram entre si (recm-emergidas, nutridoras e campeiras).

    Os resultados das anlises estatsticas no presente estudo, em operrias de A. mellifera,

    esto de acordo com as observaes feitas por Katzav-Gozansky et al. (2001), embora,

    como mostrado na tabela 2 e figura 16 a mdia da rea alveolar das recm-emergidas

    seja ligeiramente menor em relao s campeiras, no apresentando diferena

    significativa.

    Uma primeira informao sobre a funo dessas glndulas nas operrias de A.

    mellifera e S. postica pode ser extrada de sua simples presena e grau de

    desenvolvimento. A variao do tamanho dos alvolos da glndula reflete a quantidade

    de secreo produzida e, pode-se supor que, entre as operrias, a fase campeira a que

    requer maior quantidade de secreo. A secreo requerida nas campeiras as quais

    exercem funes de coleta, ou seja, a substncia produzida por estas glndulas pode

    auxiliar de alguma forma as atividades de coleta, seja no manuseio de compostos

    coletados, seja na identificao do indivduo ao chegar colnia, ou at mesmo no

    informar a fonte de alimento s companheiras, como proposto por Jarau et al. (2004) e

    Schorkopf et al. (2007) para, respectivamente, Trigona recursa e T. spinipes, ou at

    como proposto por Simpson (1960) lubrificao das peas bucais e, como em outras

    abelhas (BERTSCH et al., 2005) contribuio para a composio das substncias de

    superfcie que identificam os indivduos.

    As glndulas de rainhas virgens e em postura de S. postica tambm diferem

    significativamente, apresentando-se maiores nas ltimas. No h estudos anteriores

    feitos a respeito da glndula salivar ceflica de rainhas de S. postica. Ao contrrio das

    operrias, a funo das rainhas est confinada oviposio de modo que no saem da

    colnia, a no ser para acasalamento e enxameao. Supe-se, ento, que a glndula

    salivar ceflica desempenhe funo diferente a das operrias. Alm disso, a glndula

  • 36

    salivar da cabea atinge mximo desenvolvimento em rainhas em postura, podendo

    estar relacionada com a produo de feromnio, j que a histoqumica (Captulo 2)

    revelou que a secreo de natureza lipdica.

    Rainhas de A. mellifera no apresentaram diferenas significativas quanto ao

    tamanho alveolar. Os resultados obtidos na anatomia e histologia (Captulo 2) mostram

    que os alvolos das glndulas nas rainhas virgens so muito semelhantes aos das

    operrias nutridoras, ou seja, j apresentam alguma secreo na luz de alguns alvolos,

    o que evidencia um certo grau de atividade glandular e o motivo para no ter sido

    constatada diferena significativa entre os dois grupos de rainhas. Entretanto, deve ser

    levado em conta que a similaridade no tamanho dos alvolos da glndula, entre os dois

    grupos de rainhas, pode estar relacionado ao nmero de medidas feitas nos dois grupos,

    o qual foi bem maior nas virgens, ou seja, o nmero amostral no foi suficiente para

    detectar disparidade entre os dois grupos analisados.

    Sabe-se que o produto das glndulas mandibulares das rainhas de A. mellifera

    (substncia de rainha) atrai operrias e promove a integrao das duas castas (BUTLER,

    1957; BUTLER; SIMPSON, 1958; RIBBANDS, 1953), alm de atrair machos para o

    acasalamento, agiria na formao de enxame na diviso de colnia e inibio do

    desenvolvimento ovariano das operrias e do comportamento de criao de novas

    rainhas. Porm, quando a glndula mandibular removida de rainhas em postura, estas

    perdem 85% de sua atratividade para as operrias (GARY, 1963), mesmo assim

    conseguem manter uma corte normal (VELTHUIS; VAN-ES, 1964). Este fato pode

    estar relacionado presena de outras fontes adicionais de substncia de rainha que

    Velthuis (1967, 1970) sugeriu estarem no abdmen da rainha de A. mellifera. Os

    resultados obtidos no presente trabalho permitem sugerir que a glndula salivar ceflica

    possa ser uma dessas fontes adicionais de feromnios que, em ao sinergstica com

    os feromnios da glndula mandibular atue na integrao das castas. A secreo da

    glndula salivar ceflica descarregada na base da lngua pode ser disseminada entre as

    operrias atravs da trofalaxia.

  • 37

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • 42

    Histologia e Histoqumica das Glndulas Salivares da Cabea de Duas Espcies de

    Abelhas Eussociais, Apis mellifera e Scaptotrigona postica (Hymenoptera, Apidae).

    Silvana Beani Poiani, Carminda da Cruz-Landim1

    Departamento de Biologia, Instituto de Biocincias de Rio Claro (UNESP/RC),

    Av. 24A, no.1515, Bela Vista, CEP 13506-900, Rio Claro, So Paulo, Brasil

    RESUMO: As abelhas eussociais apresentam uma variedade de glndulas excrinas

    distribudas por todo o corpo, cujos produtos so usados no desempenho de suas tarefas.

    Em todos os insetos, pares de glndulas esto associados s peas bucais e, nas abelhas,

    as principais destas glndulas esto ligadas ao lbio (glndulas labiais ou salivares), s

    mandbulas (glndulas mandibulares) e ao assoalho da cavidade bucal (glndulas

    hipofarngeas). O par de glndulas labiais ou salivares dos insetos adultos localiza-se no

    trax, porm ramos ceflicos se desenvolvem em algumas espcies de abelhas,

    formando as glndulas salivares ceflicas, as quais so plenamente desenvolvidas em

    algumas espcies da subfamlia Apinae. O presente trabalho estudou a histologia e a

    histoqumica das glndulas salivares ceflicas de fmeas e machos, em diferentes

    idades, de Apis mellifera e Scaptotrigona postica. Os resultados mostram que a

    histologia das glndulas salivares ceflicas difere entre as espcies. Enquanto as clulas

    alveolares e dos ductos so predominantemente cbicas nas operrias e rainhas de A.

    mellifera, em S. postica passam de cbicas a escamosas conforme a operria envelhece,

    e os ductos, nesta espcie, so invariavelmente constitudos por clulas escamosas.

    Machos recm-emergidos de A. mellifera apresentam a glndula com grau de

    desenvolvimento semelhante ao das operrias recm-emergidas de sua espcie, porm

    conforme atingem a maturidade sexual, ocorre regresso glandular de modo que nem

    sempre foi possvel encontr-la. Por outro lado, machos velhos de S. postica so

    dotados de glndulas to desenvolvidas quanto as fmeas de sua espcie. A

    histoqumica no revelou incluses proticas, porm indicou que a secreo das

    glndulas de operrias e rainhas de ambas espcies composta por lipdios neutros. A

    secreo se acumula progressivamente na luz dos alvolos de modo que operrias

    campeiras e rainhas em postura possuem alvolos mais trgidos que os indivduos mais

  • 43

    jovens. A partir dos resultados obtidos, algumas funes puderam ser sugeridas, tais

    como: tratando-se de operrias, reconhecimento do indivduo ao voltar da coleta para a

    colnia e auxiliar a coleta e manipulao de resinas vegetais (ambas espcies) e leos

    florais (S. postica), marcao de trilha de cheiro (S. postica); nas rainhas, funo

    feromonal de integrao dos membros da colnia (ambas espcies); e nos machos de S.

    postica, atrao da fmea.

    PALAVRAS-CHAVE: abelha, glndula labial, morfologia, lipdio, feromnio

    ABSTRACT: Eusocial bees present a variety exocrine glands disperse on body whose

    products are used in tasks performance. Pairs of glands are attached at mouthparts in

    whole insects and, in bees, main glands are attached to labium (labial or salivary

    glands), mandibules (mandibular glands) and floor mouth cavity (hiphofaringeal

    glands). Adult insects labial or salivary pair glands are located in torax. However

    cephalic branchs develop in some bees species, composing the cephalic salivary glands

    which are completely develop in some species of Apinae subfamily. The present work

    studied the histology and histochemic of females and males cephalic salivary glands of

    Apis mellifera and Scaptotrigona postica in different ages. The histology results showed

    cephalic salivary glands differs between species. While cells of alveoli and ducts are

    primarily cuboidal in workers and queens of A. mellifera, in workers of S. postica, cells

    undergo of cuboidal to squamous with age and ducts invariably consist of squamous

    cells. Newly emerged males of A. mellifera exhibit glands in developmental stages

    similar to that of newly emerged workers of their species. However, as males become

    sexually mature, the gland degenerates difficulting its localization. Nevertheless, old

    males of S. postica present glands as developed as those of females of their species.

    Histochemical techniques demonstrate no protein inclusions and indicated the secretion

    of glands of workers and queens of both species were neutral lipids. The secretion

    gradually accumulates in the lumen of alveoli, and as a result, foragers and egg-laying

    queens exhibit more turgid alveoli that younger individuals. Our findings suggest some

    possible roles for the gland: in workers, recognition of nestmates upon returning to the

    colony from the filed and to aid collection and manipulation of resins (both species) and

    floral oils (S. postica), scent marking (S. postica); in queens, pheromonal role in

  • 44

    integrating all members of the colony (both species); and in males of S. postica, female

    attraction.

    KEYWORDS: bee, labial gland, morphology, lipid, pheromone

    1. INTRODUO

    As glndulas salivares dos insetos adultos so estruturas pares localizadas no

    trax, constitudas por unidades secretoras e ductos. Existe um ducto excretor comum

    que recebe a secreo das duas glndulas que formam o par e penetra na cabea do

    inseto, atravs do formen occipital, e se abre na base da lngua onde descarrega a

    secreo produzida por estas glndulas (CRUZ-LANDIM, 1967; SNODGRASS, 1956).

    Exclusivamente em algumas espcies de abelhas, alm do par de glndulas

    salivares do trax, existe um par tambm na cabea. A glndula salivar ceflica forma-

    se durante a pupao, por evaginaes do ducto excretor das glndulas salivares larvais

    (CRUZ-LANDIM; MELLO, 1967; SNODGRASS, 1956). Entretanto, as glndulas

    salivares da cabea apresentam graus de desenvolvimento diferentes na filogenia das

    abelhas e apenas em algumas abelhas da subfamlia Apinae estas glndulas esto

    plenamente desenvolvidas (CRUZ-LANDIM, 1967, 2000; SILVA DE MORAES,

    2002).

    Apesar das glndulas salivares torcicas e ceflicas terem origem (ectodrmica)

    e desembocadura comum, a morfologia e funo so diferentes. De acordo com Delage-

    Darchen et al. (1979), Simpson (1960) e Simpson et al. (1968) a secreo da glndula

    salivar torcica aquosa e contm enzimas digestivas, enquanto a poro ceflica da

    glndula produz secreo de aspecto oleoso para a qual foram apontadas algumas

    funes, tais como auxlio na manipulao de cera (HESELHAUS, 1922), lubrificao

    das peas bucais (SIMPSON, 1960) e marcao de trilha de cheiro (JARAU et al.,

    2004). Ainda, nos Bombina e Meliponina, existe uma bolsa salivar ou reservatrio no

    local de unio dos ductos excretores torricos com os ceflicos, de onde, ento, parte o

    ducto excretor final (CRUZ-LANDIM, 1967).

    Entre as abelhas, as fmeas so dotadas de maior quantidade de glndulas que os

    machos e geralmente so mais desenvolvidas nas primeiras. As glndulas salivares

  • 45

    ceflicas atingem diferentes nveis de desenvolvimento nos sexos e nas espcies de

    abelhas. Em A. mellifera, as operrias e rainhas as possuem mais desenvolvidas que nos

    machos, nos quais a glndula vestigial ou ausente (GRAF, 1968; SIMPSON, 1962).

    Porm, em algumas espcies de Bombus, os machos as possuem bem desenvolvidas

    (BERGMAN; BERGSTRM, 1997; KULLENBERG et al., 1973; LAUER, 1992).

    Poucos estudos foram conduzidos para determinar a morfologia e funo das

    glndulas salivares ceflicas, alm do que, nem sempre abordaram as mudanas que

    ocorrem no desenvolvimento da glndula com o passar da idade, tanto nas operrias e

    rainhas como nos machos. Deste modo, este trabalho tem por finalidade analisar

    conjuntamente a histologia e histoqumica das glndulas salivares ceflicas de fmeas e

    machos exercendo diferentes tarefas na colnia, nas espcies Apis mellifera e

    Scaptotrigona postica, a fim de contribuir para elucidar a funo das glndulas nestas

    espcies.

    2. MATERIAL E MTODOS

    2.1. Material

    As abelhas das espcies Apis mellifera e Scaptotrigona postica utilizadas neste

    trabalho foram coletadas no apirio e meliponrio do Instituto de Biocincias,

    Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Rio Claro, SP.

    Operrias foram retiradas das colnias exercendo funes caractersticas das

    etapas da diviso de trabalho: recm-emergidas, nutridoras e campeiras. Rainhas

    virgens, quando no presentes na colnia, foram criadas em laboratrio e rainhas em

    postura retiradas de colnias fortes. Machos recm-emergidos de A. mellifera foram

    coletados dentro da colnia e os sexualmente maduros foram capturados nos agregados

    de machos, prximos s colnias, geralmente pousados em galhos de arbustos.

    2.2. Mtodos

    2.2.1. Histologia (HE)

  • 46

    Para microscopia de luz, foram utilizadas as glndulas salivares ceflicas de 13

    operrias recm-emergidas, 13 nutridoras e 13 campeiras, 7 rainhas virgens e 3 em

    postura, 7 machos recm-emergidos e 7 maduros sexualmente de A. mellifera; 15

    operrias recm-emergidas, 15 nutridoras e 15 campeiras, 5 rainhas virgens e 2 em

    postura.

    As glndulas salivares da cabea foram dissecadas em soluo fisiolgica para

    inseto tamponada e fixadas em Bouin aquoso por 2 horas. Em seguida, passaram por

    banhos sucessivos de lcool 70%, 80%, 90% e 95%, durante 15 minutos cada banho

    para desidratao, aps o que foram embebidas em resina Leica por 24h. A incluso foi

    feita na mesma resina acrescida de catalisador. Aps a polimerizao da resina, os

    blocos foram seccionados com 4 a 6m de espessura, postos em lminas e corados com

    hematoxilina e eosina. As lminas foram montadas com lamnula e blsamo e seguiram

    para anlise ao microscpio de luz.

    2.2.2. Histoqumica

    2.2.2.1. Identificao de Protenas pelo Mtodo de Colorao por Azul de

    Bromofenol (PEARSE, 1960).

    Este mtodo de colorao presta-se para detectar a presena e o teor aproximado

    de protenas presentes nas clulas e na secreo celular. Dependendo do teor protico,

    as clulas e a secreo so coradas com diferentes tonalidades de azul. O azul de

    bromofenol evidencia as protenas, corando-as de azul intenso.

    As glndulas salivares ceflicas, para esta anlise histoqumica, passaram pelo

    mesmo procedimento e etapas da preparao histolgica (HE), at os cortes serem

    postos nas lminas. As lminas foram colocadas no azul de bromofenol a temperatura

    ambiente, por 2h. Aps esse perodo, foram lavadas com gua corrente por 5 minutos e

    passadas rapidamente por cido actico 0,5%, para remoo do corante no fixado s

    protenas. Em seguida, foram lavadas com gua destilada, passadas por lcool butlico

    tercirio, secas e montadas em blsamo. A passagem pelo lcool butlico tercirio pode

    no ser feita, pois foi observado que este descola ou enruga os cortes nas lminas.

  • 47

    2.2.2.2. Identificao de lipdios Pelo Mtodo de Colorao por Sudan Black e

    Azul do Nilo

    O Sudan Black cora quaisquer substncias de natureza lipdica em negro ou

    cinza esverdeado. J o sulfato de Azul do Nilo uma mistura que contm 3

    componentes com cores diferentes, as quais se dissolvem diferentemente nos lipdios

    conforme a composio destes. Deste modo, os lipdios neutros coram-se pelo

    componente rosa, enquanto os lipdios cidos e alguns outros componentes celulares

    no lipdicos coram-se pelo azul (MELLO; VIDAL, 1980).

    Para cada corante, foram utilizadas as glndulas de 5 operrias recm-emergidas,

    5 nutridoras e 5 campeiras de S. postica e A. mellifera, 2 rainhas virgens e 1 em postura

    de S. postica e 3 rainhas virgens e 1 em postura de A. mellifera.

    A colorao das lminas foi feita em preparaes totais. As glndulas de

    operrias e rainhas de ambas espcies foram dissecadas em soluo fisiolgica para

    inseto e colocadas sob lmina contendo poly-lisina, uma tentativa para imobiliz-las, j

    que ao colocar fixador as glndulas tendiam a emaranhar-se, dificultando a anlise das

    amostras. Logo aps esticadas na lmina com o auxlio da poly-lisina, as glndulas

    foram fixadas em Formol Ca 1% e coradas com os corantes para lipdios. As lminas

    foram montadas em gelatina glicerinada.

    3. RESULTADOS

    Algumas caractersticas histolgicas so compartilhadas entre os indivduos das

    duas espcies estudadas. As glndulas salivares ceflicas so de origem ectodmica e,

    por isso, apresentam a luz dos alvolos e dos ductos revestida por cutcula. Nos ductos,

    a cutcula apresenta tendeas que so reforos em espiral, semelhantes aos das traquias.

    3.1. Histologia

    3.1.1. Apis mellifera

  • 48

    As glndulas salivares ceflicas de operrias recm-emergidas so constitudas

    por alvolos e ductos com luz estreita. Nos alvolos e ductos, as clulas so

    predominantemente cbicas, o ncleo ocupa grande poro do citoplasma e apresenta

    nuclolos bem evidentes, os quais so mais numerosos nos alvolos que nos ductos

    (Figura 1).

    O citoplasma das clulas alveolares e dos ductos cora-se fracamente pela eosina.

    possvel identificar regies mais claras entre as clulas provavelmente refletindo a

    presena de espaos intercelulares abertos.

    Em operrias nutridoras e rainhas virgens, tal como nas operrias recm-

    emergidas, as clulas dos alvolos e dos ductos so cbicas, os ncleos ocupam o centro

    celular e os nuclolos ocorrem em grande quantidade. Porm, alguns alvolos

    apresentam luz um pouco mais ampla que a encontrada nas operrias recm-emergidas

    (Figura 2).

    Em operrias campeiras e rainhas em postura a luz dos alvolos e ductos

    ampla. As clulas so cbicas e os ncleos, em alguns casos, apresentam nuclolo. No

    citoplasma das clulas, como j mencionado anteriormente, existem regies mais claras

    pouco coradas pela eosina (Figura 3), semelhantes a vacolos, melhor visualizados com

    a tcnica histoqumica de colorao com azul de bromofenol (Figura 4).

    Em machos, pode-se observar a reduo da glndula conforme o indivduo

    amadurece sexualmente. Machos recm-emergidos apresentam a glndula formada por

    ductos e alvolos com luz estreita (Figura 5), muito semelhante glndula das operrias

    recm-emergidas. As clulas alveolares so cbicas, ncleo central e nuclolo. O

    citoplasma pouco acidfilo. J em machos maduros sexualmente, a glndula encontra-

    se bem reduzida, envolvida por clulas do corpo gorduroso (Figura 6). Os alvolos so

    de difcil visualizao, podendo ser confundidos com os ductos, pois aparecem

    colapsados. As clulas que formam os alvolos e ductos so escamosas. Algumas

    clulas alveolares e dos ductos ainda apresentam nuclolos nos ncleos, mas

    predominam ncleos de colorao homognea. O citoplasma dessas clulas pouco se

    cora pela hematoxilina e eosina.

    3.1.2. Scaptotrigona postica

  • 49

    As clulas alveolares em operrias recm-emergidas so achatadas ou cbicas.

    Os ncleos so homogneos e grandes, ocupando praticamente toda a clula. O

    citoplasma apresenta-se claro quando corado com hematoxilina e eosina (Figura 7).

    Nas operrias nutridoras e rainhas virgens os alvolos so formados por clulas

    cbicas, quando h pouca ou nenhuma secreo (Figura 8). O citoplasma apresenta-se

    um pouco mais corado em relao ao das operrias recm-emergidas. Os ncleos so

    basais e contm nuclolos.

    Em operrias campeiras e rainhas em postura as clulas alveolares so

    predominantemente escamosas, com ncleos homogneos basais e citoplasma

    perinuclear pouco corado pela hematoxilina e eosina. J na regio apical, o citoplasma

    aparece acidfilo (Figur