givanildo fÁvero

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA GIVANILDO FÁVERO JOGOS DE SOLICITAÇÃO TÁTICO-TÉCNICA NO ENSINO MÉDIO: ESTUDO DE CASO DE UMA METODOLOGIA PARA O ENSINO DO FUTSAL CUIABÁ/MT 2016

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Page 1: GIVANILDO FÁVERO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

GIVANILDO FÁVERO JOGOS DE SOLICITAÇÃO TÁTICO-TÉCNICA NO ENSINO MÉDIO:

ESTUDO DE CASO DE UMA METODOLOGIA

PARA O ENSINO DO FUTSAL

CUIABÁ/MT

2016

Page 2: GIVANILDO FÁVERO

GIVANILDO FÁVERO

JOGOS DE SOLICITAÇÃO TÁTICO-TÉCNICA NO ENSINO MÉDIO:

ESTUDO DE CASO DE UMA METODOLOGIA

PARA O ENSINO DO FUTSAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física do Campus de Cuiabá – Universidade Federal de Mato Grosso como requisito final para obtenção do título de Mestre em Educação Física, Linha de Pesquisa Fundamentos Pedagógicos e Sócio-Antropológicos do Corpo.

Orientador: Prof. Dr. José Tarcísio Grunennvaldt

CUIABÁ/MT

2016

Page 3: GIVANILDO FÁVERO

Ficha Catalográfica

F273j Fávero, Givanildo. Jogos de solicitação tático-técnica no ensino médio: estudo de caso de

uma metodologia para o ensino do futsal / Givanildo Fávero. – 2016. 102f.: il. Color.; 30cm.

Orientador: José Tarcísio Grunennvaldt. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,

Faculdade de Educação Física, Programa de Pós-graduação em Educação Física, Cuiabá, 2016.

Inclui bibliografia.

1. Ensino Médio. 2. Educação Física. 3. Futsal. 4. Metodologia de ensino. I. Título.

Page 4: GIVANILDO FÁVERO
Page 5: GIVANILDO FÁVERO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060900 -Cuiabá/MT Tel : 65 3615-8837 - Email : [email protected]

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO : "Jogos de Solicitação Tático-Técnica no Ensino Médio: Estudo de Caso de uma

Metodologia para o Ensino do Futsal”

AUTOR : Mestrando Givanildo Favero

Dissertação defendida e aprovada em 02/12/2016.

Composição da Banca Examinadora:

______________________________________________________________________________

___________

Presidente Banca / Orientador Doutor(a) José Tarcísio Grunennvaldt Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Interno Doutor(a) Evando Carlos Moreira Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Externo Doutor(a) Wilton Carlos de Santana Instituição : Universidade Estadual de Londrina Examinador Suplente Doutor(a) Riller Silva Reverdito Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CUIABÁ,16/12/2016.

Page 6: GIVANILDO FÁVERO

Dedico este trabalho à minha esposa

Marcela, meus filhos Heloísa e

Breno, meus pais Geraldo e Norilde

(em memória).

Page 7: GIVANILDO FÁVERO

Agradecimentos

Agradeço ao professor doutor José Tarcísio Grunnenvaldt, pelas orientações

e por se tornar um grande amigo para mim.

Agradeço aos professores doutores Evando Carlos Moreira e Wilton Carlos de

Santana, pelas correções e contribuições.

Agradeço aos alunos do 1º E, período vespertino, da EEMOP, sujeitos dessa

pesquisa, pela participação e colaboração.

Agradeço ao professor Almir Rogério de Souza, pela cedência das aulas para

que a pesquisa fosse realizada.

Agradeço ao acadêmico de Educação Física Reverthy Souza e Silva, por me

auxiliar na coleta de dados.

Agradeço à direção e coordenação da EEMOP, por me apoiar nessa

pesquisa.

Agradeço aos professores e colegas de estudo do Programa de Pós-

Graduação em Educação Física da UFMT, pelos ensinamentos e convivências.

Agradeço aos amigos: Adriano, Afonso, Albino, Ana Carrilho, Elias, Evandro,

Francisca, Geander, Helenir, Jordana, Juliana, Kátia, Luciane, Nielli e Rildo, pelo

apoio e incentivo.

Agradeço a todos os professores de Educação Física que conviveram comigo

até aqui, por me ajudarem a refletir sobre a nobreza dessa profissão.

Agradeço meus irmãos e irmãs: Advanyr, José Antônio, Suely, Claudenir,

Lucineide e Leonice, pelo carinho e motivação.

Agradeço minha esposa Marcela e meus filhos Heloísa e Breno, pela

compreensão nos momentos de ausência e pelo amor dedicados a mim.

Page 8: GIVANILDO FÁVERO

“Esporte tem tudo, não tem?

Tudo de bom e de ruim. É só

olhar que lá estão a coragem e

a covardia, o amor e a

indiferença, a solidariedade e o

egoísmo, a ousadia e a

cautela, a razão e a emoção, a

sanidade e a loucura. Os

pedagogos do esporte podem

escolher, quando ensinam

esporte, potencializar suas

virtudes ou seus vícios; é uma

questão de método e de

ideologia”.

João Batista Freire.

Page 9: GIVANILDO FÁVERO

Resumo

A presente pesquisa, elaborada a partir de uma inquietação pedagógica, causada pelo contato com uma metodologia para o ensino do futsal, ocorreu dentro de um contexto escolar, por meio de intervenção pontual no componente curricular de Educação Física, tendo como indagação inicial: o que revelam alunos do ensino médio submetidos à vivência dos jogos de solicitação tático-técnica? Sendo que o objetivo central buscou compreender como os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Major Otávio Pitaluga, da cidade de Rondonópolis-MT atuam diante dos jogos de solicitação tático-técnica aplicados ao futsal. Nesse sentido, surgiram outros objetivos que nortearam o estudo: verificar a influência dos JSTT no aprendizado dos alunos do ensino médio da EEMOP; investigar se existe trabalho coletivo por parte dos alunos para o enfrentamento de situações-problemas apresentadas pelos JSTT; observar como os JSTT podem contribuir para a tomada de decisões; analisar se os JSTT promovem motivação e o interesse pelo esporte educacional; e experimentar situações com os JSTT com formações mistas (aulas coeducativas) com intuito de verificar os níveis de desenvoltura e aceitabilidade dos alunos e alunas. Após as leituras e a elaboração do referencial teórico, a segunda etapa da pesquisa qualitativa/descritiva do tipo Estudo de Caso, foi realizada com uma turma de primeiro ano do ensino médio da EEMOP, composta inicialmente por 26 alunos, sendo 9 do sexo feminino e 17 do sexo masculino, onde foram aplicados uma série de 15 JSTT para o ensino do futsal num período de 4 meses (março a junho de 2016), durante as aulas de Educação Física. A coleta de dados deu-se a partir dos registros da matriz de observação e entrevista semiestruturada. A análise de conteúdo dos dados, aliada às discussões com o referencial teórico, possibilitou compreender que diante dos JSTT os alunos envolvidos: atuaram coletivamente com frequência para o enfrentamento de situações-problemas, com maior comunicação e ação; melhoraram o posicionamento e a movimentação em quadra; tiveram um acréscimo nas atitudes autônomas para tomadas de decisões; demonstraram motivação e interesse pelo esporte educacional; os alunos agiram com desenvoltura e aceitabilidade em participar de aulas com a presença das alunas.

Palavras-chave: Ensino Médio, Educação Física, Futsal, Metodologia de Ensino.

Page 10: GIVANILDO FÁVERO

Abstract

This research, based on a pedagogical concern caused by the contact with a

methodology for the teaching of futsal, occurred within a school context, through a

punctual intervention in the curriculum component of Physical Education, having as

initial inquiry: what do high school students submitted to the experience of games of

tactical-technical request reveal? The central objective was to understand how the

students of the public school Major Otávio Pitaluga, from the city of Rondonópolis-

MT, play against the games of tactical-technical request applied to futsal. In this

sense, other objectives that guided this study emerged: to verify the influence of the

JSTT in the learning of the high school students of EEMOP; to Investigate if there is

collective work by the students to deal with situations-problems presented by the

JSTT; to observe how JSTT can contribute to decision making; to analyze whether

the JSTT promote motivation and interest in educational sports; and experience

situations with JSTT with mixed formations (coeducational classes) in order to verify

the levels of student's resourcefulness and acceptability. After the reading and the

elaboration of the theoretical reference, the second stage of the

qualitative/descriptive research of Case Study type was carried with a high school

first year class of EEMOP, initially composed by 26 students, of whom 9 were female

and 17 males, where a series of 15 JSTTs were applied to the teaching of futsal in a

period of 4 months (March to June 2016) during Physical Education classes. The

data collect was based on the records of the observation matrix and semi-structured

interview. The content analysis of the data, allied with the theoretical reference

discussions, made it possible to understand that before the JSTT the students

involved worked collectively frequently to face situations-problems, with greater

communication and action; Improved positioning and movement on the court; Had an

increase in autonomous attitudes for decision making; Demonstrated motivation and

interest for the educational sport; The students acted with aplomb and acceptability in

attending classes with the presence of the female students.

Keywords: High Scholl, Physical Education, Futsal, Teaching Methodology.

Page 11: GIVANILDO FÁVERO

LISTA DE QUADROS

Quadro I: Síntese de estratégias/metodologias de ensino dos

Jogos Desportivos Coletivos) ................................................................................................................23

Quadro II: Aspectos particulares do jogo de futsal............................................................................. 33

Quadro III: Conhecimento/contato anterior com os JSTT ..................................................... 55

Quadro IV: Dificuldades na participação dos JSTT .................................................................. 56

Quadro V: Vivência dos JSTT como metodologia de ensino

nas aulas de Ed. Física ........................................................................................................................... 57

Quadro VI: Exigência de tomadas de decisões durante os JSTT ......................................58

Quadro VII: Contribuição dos JSTT para as ações individuais e coletivas .................. 59

Quadro VIII: Reações frente aos desafios ou problemáticas dos JSTT ......................... 61

Quadro IX: Os JSTT como fator de atração das aulas ......................................................... 63

Quadro X: A comunicação como facilitador da atuação no futsal.................................... 65

Quadro XI: Interferência dos JSTT na compreensão e atuação no futsal .................... 66

Quadro XII: Percepção dos alunos em relação à presença de alunas e

alunos em aulas mistas ............................................................................................................................67

Quadro XIII: Os JSTT como contribuintes da produção de conhecimento

na Educação Física e sua utilização social ....................................................................................70

Page 12: GIVANILDO FÁVERO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 11

1 JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS ........................................................................................... 15

1.1 O Ensino dos Jogos Esportivos Coletivos .............................................................................. 20

1.2 Jogos de Solicitação Tático-Técnica .........................................................................................28

2 O FUTSAL .................................................................................................................................................. 32

2.1 Características do futsal ..................................................................................................................32

2.2 A tática no futsal ..................................................................................................................................37

2.3 A técnica no futsal ............................................................................................................................. 40

3 O ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .............................................................. 43

3.1 O futsal na escola ............................................................................................................................... 49

4 ABORDAGEM METODOLÓGICA .................................................................................................52

4.1 Tipo de pesquisa ................................................................................................................................ 52

4.2 Amostra ................................................................................................................................................... 52

4.3 Processo investigativo ...................................................................................................................... 53

4.4 Coleta de dados: técnica e instrumentos ............................................................................... 53

4.5 Interpretação dos dados .................................................................................................................. 54

5 ANÁLISES E DISCUSSÔES DOS DADOS .............................................................................. 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 75

ANEXOS ........................................................................................................................................................ 82

Page 13: GIVANILDO FÁVERO

11

INTRODUÇÃO

Minha identificação com a temática estudada revela duas das minhas grandes

paixões: a educação e o movimento humano, aqui especificamente o esporte -

futsal. Geradas em um contexto que começou com a participação enquanto

praticante dessa modalidade na metade da década de 1980 e depois como

acadêmico do curso de Educação Física na década de 1990.

Ao iniciar minha carreira de docente, desenvolvi paralelamente às aulas de

Educação Física, um trabalho de iniciação esportiva para meninas, na modalidade

de futsal. Após alguns anos, fui professor fundador de escolinha de futsal de uma

escola privada, técnico de uma equipe universitária de futsal masculino e,

recentemente, conduzi as equipes de futsal da escola estadual em que atuo, nas

competições estudantis.

Ao longo desse trajeto, acompanhei sempre o desenvolvimento do futsal, por

meio de leitura de livros, artigos, assisti a jogos e a vídeos de métodos de ensino,

participei de cursos e um estágio para treinadores de futsal. Neste último, ocorrido

durante uma semana de janeiro de 2009, na cidade de Jaraguá do Sul, Santa

Catarina, ocasião em que pude acompanhar um trabalho do professor e técnico

Fernando Ferretti, em que, por meio da utilização de jogos de sustentação tático-

técnica (JSTT)1, percebi uma metodologia que proporcionava desafios instigantes

nos sujeitos envolvidos. A partir de então, tenho proposto a realização desses JSTT

em algumas aulas e treinamentos, contudo, após esse período de pós-graduação e

perante a “provocação” do professor Wilton Santana, entendo ser propício utilizar a

terminologia “jogos de solicitação tático-técnica”, por tratar do contexto escolar,

que envolve o ambiente pedagógico com participação de estudantes.

Por dezoito anos, em trabalhos escolares, observei que a apropriação de uma

cultura esportiva na Educação Física do Brasil geralmente é desenvolvida pela

iniciação esportiva, conduzida pelo professor a partir de processos de ensino-

aprendizagem que envolvam aspectos técnicos e táticos dos esportes coletivos,

1 Os jogos de sustentação tático-técnica (JSTT) são aplicados principalmente em

treinamentos de equipes de futsal de competição, com o intuito de servir de base para as ações coletivas e individuais.

Page 14: GIVANILDO FÁVERO

12

principalmente, esportes de quadra. As metodologias de ensino que se destacam

nesse processo são as que se utilizam dos métodos analítico, global e misto, sendo

que o método analítico, segundo Greco (2007), é o que predomina em relação aos

demais.

Observa-se que ganha cada vez mais espaço nas publicações e discussões

da Educação Física, a utilização dos jogos que buscam introduzir as modalidades

esportivas de forma a desenvolver no aluno a compreensão tática deles, de maneira

que encontrem soluções para as situações-problemas que se apresentam em sua

execução (BALZANO, 2014; 2012; CARLAN, 2012; MATA, 2011; SADI, 2010,

REVERDITO; SCAGLIA, 2009; SILVA; GRECO, 2009; SANTANA, 2008a; 1996;

FREIRE, 2006; BENTO, 2003; SAAD, 2002; VOSER; GIUSTI, 2002; PAES, 1996;

GRECO, 1995), dentre outros; embasados principalmente nas ideais de Garganta

(1998), Graça (1998), Bayer (1992) e Parlebas (1988), que indicavam a possibilidade

do ensino dos jogos esportivos coletivos apoiado na valorização de atitude e

interação dos sujeitos, da intenção tática, sem que para isso fossem executados

movimentos mecanicamente automatizados.

O futsal é um esporte coletivo que se originou do antigo futebol de salão.

Segundo a Federação Uruguaia de Futsal, o futebol de salão foi criado no Uruguai,

em outubro de 1930, especificamente na Associação Cristã de Moços, pelo

professor Juan Carlos Ceriani, que por meio de adaptação de regras de handebol,

basquetebol e polo aquático, elaborou as primeiras diretrizes desse esporte, todavia

as redigiu e divulgou-as somente em 1933 (BOERI, 2016; VOSER, 1996).

Para Santana (1996) existem também evidências de que o antigo futebol de

salão surgiu no Brasil, no final da década de 1930, na Associação Cristã de Moços

de São Paulo, praticado inicialmente de forma recreativa por jovens, depois

organizado e orientado por Luiz Gonzaga Fernandes, que teria redigido as primeiras

regras oficiais da modalidade, que seriam seguidas em outras associações e clubes

desportivos.

Com a divulgação e o crescimento do futebol de salão, a FIFA decidiu

incorporá-lo, por meio de associação, a outro esporte chamado futebol cinco, mas,

para que isso tenha acontecido, elaborou novas regras. Então foi criado o futsal no

ano de 1989, termo que passou a ser conhecido mundialmente, com uma

padronização que o elevou a um dos esportes mais praticados atualmente.

Page 15: GIVANILDO FÁVERO

13

O futsal é um dos esportes utilizados na Educação Física escolar brasileira,

com boa aceitação, seja pela sua proximidade com o futebol, esporte explorado pela

mídia e com interesse dos alunos, seja pela sua facilidade da estrutura física e

material existente, ou ainda, pela oportunidade da participação em competições,

como exemplo: as Olimpíadas Escolares. Sua prática é facilitada com as

experiências motoras, que se formam a partir dos movimentos executados desde a

primeira infância no contato com a bola: um dos primeiros brinquedos da criança.

Ao trabalhar com o ensino do futsal como conteúdo para as aulas de

Educação Física do ensino médio, o educador se depara com conhecimentos

prévios que os educandos possuem sobre este esporte, uma vez que a convivência

social, as experiências no meio escolar, familiar e comunitário, que segundo Pérez

Gómez (1998), são vivências naturalmente incorporadas e disseminadas às

informações advindas de um dos esportes mais praticados no meio escolar atual.

Já que o futsal é um esporte com as variáveis citadas, surge a seguinte

indagação: o que revelam alunos do ensino médio submetidos à vivência dos JSTT?

Tendo em vista o problema da pesquisa e a constatação de que o futsal é

uma possiblidade na escola, propomos as seguintes questões a investigar:

1. Com quais fundamentos epistemológicos é possível sustentar a

configuração tático-técnica no ensino do futsal?

2. A ênfase sobre o aspecto tático-técnico no ensino do futsal desperta o

interesse e mobilização dos alunos para o jogo?

3. O conhecimento estratégico do aspecto tático-técnico do ensino do futsal

instiga os alunos a tomarem decisões autônomas?

Diante destes questionamentos, a presente investigação objetiva

compreender como os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Major Otávio

Pitaluga, da cidade de Rondonópolis - Mato Grosso, atuam diante dos JSTT

aplicados ao futsal. Nesse sentido, surgem outros objetivos que permeiam o estudo:

Verificar a influência dos JSTT no aprendizado dos alunos do ensino

médio da EEMOP.

Investigar se existe trabalho coletivo por parte dos alunos para o

enfrentamento de situações-problemas apresentadas pelos JSTT.

Observar como os JSTT podem contribuir para a tomada de decisões.

Page 16: GIVANILDO FÁVERO

14

Analisar se os JSTT promovem motivação e o interesse pelo esporte

educacional.

Experimentar situações com os JSTT com formações mistas (aulas

coeducativas) com intuito de verificar os níveis de desenvoltura e

aceitabilidade dos meninos e meninas.

Com essa configuração norteadora serão abordados os capítulos: 1) jogos

esportivos coletivos, suas origens, principais estudos, possibilidades de ensino e

jogos de solicitação tático-técnica; 2) o futsal, suas características, a tática e a

técnica; 3) o esporte na Educação Física escolar, contribuições, perspectivas e o

futsal na escola; 4) a abordagem metodológica, em que destaca a pesquisa como

qualitativa/descritiva do tipo Estudo de Caso (Stake, 2009), com aplicação de 15

JSTT para o ensino do futsal, num período de 4 meses, com coleta de dados a partir

de entrevista semiestruturada e matriz de observação; 5) análise e discussão dos

dados, por meio da análise de conteúdo (Bardin, 2009); 6) considerações finais.

Após as análise e discussões dos dados considera-se que os objetivos

elaborados nessa pesquisa foram atingidos, sendo que os JSTT influenciaram

positivamente no aprendizado dos alunos do ensino médio da EEMOP; existiu

trabalho coletivo frequente para o enfrentamento de situações-problemas

apresentadas pelos JSTT; os JSTT contribuíram para a tomada de decisões; os

JSTT promoveram motivação e interesse pelo esporte educacional; ocorreram

desenvoltura e aceitabilidade dos alunos ao participarem de aulas com a presença

de alunas.

Nesse sentido, espera-se contribuir para a elaboração de planejamento e

ações subsequentes, que poderão servir de referências de reflexão para os

envolvidos no processo educacional da EEMOP e de outros professores de

Educação Física interessados na temática.

Page 17: GIVANILDO FÁVERO

15

1 JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

As origens dos jogos desportivos coletivos, por obscuros que sejam, são pesquisados nas tradições mais antigas e distantes das sociedades primitivas ou civilizadas. Numerosos jogos de bola formam parte do patrimônio cultural de cada civilização e constituem a fonte de nossos diversos jogos desportivos coletivos, pois as primeiras codificações se situam no princípio do século XIX (BAYER,

1992, p. 33)2.

Os Jogos Esportivos Coletivos (JEC) têm ganhado, cada vez mais, espaço na

cultura esportiva contemporânea. Sua utilização, como fonte de trabalhos e

pesquisas, fomenta discussões, experimentos e publicações, que evidenciam a

grande preocupação em entender esse fenômeno, que desperta o interesse dos

mais diversos sujeitos e suas culturas (BAYER, 1986; 1992; PARLEBAS, 1988;

GARGANTA, 1998; NAVARRO; ALMEIDA; SANTANA, 2015, GRECO, 2007, e

outros).

De um modo geral:

Os jogos esportivos coletivos se caracterizam pela sucessão constante de situações de jogo, nas quais o participante deve resolver problemas através de inúmeras tomadas de decisões, decisões estas que envolvem um conteúdo tático, e implicam em relacionar processos cognitivos com processos motores (SILVA; GRECO 2009, p. 298).

Um dos grandes incentivadores da utilização dos JEC, Pierre Parlebas,

entende que todo jogo esportivo é um sistema. Para Parlebas (1988, p. 65), “nele

estão em interação os jogadores entre si; os jogadores com o entorno físico

(eventualmente com o entorno humano dos árbitros, treinadores, expectadores)”.

Essa afirmação obtém sentido com a construção de modelos de interação,

reproduzidos e observáveis, possível de ser quantificados numericamente. Pelo

entendimento de JEC descrito por Parlebas (1988, p.70):

Estamos diante de uma teoria dos jogos desportivos compatíveis com as das vertentes da teoria da ação: a vertente do sujeito atuante e a da ação-acontecimento. O jogo desportivo como vivência e o jogo desportivo como fenômeno. Como escrevia Pascal, o jogador está “embarcado”: condenado a atuar, pode dar livre curso a sua iniciativa

2 Tradução livre do espanhol, pelo autor.

Page 18: GIVANILDO FÁVERO

16

e a sua imaginação motriz, pode perseguir seus objetivos pessoais. O indivíduo que joga é um indivíduo que decide: suas relações com o entorno lhe concedem um papel privilegiado de estratégia. Paralelamente, a evidência dos sistemas de interação do jogo desportivo confere a lógica interna da ação-fenômeno um valor de inteligibilidade capital. São as estruturas objetivas destes sistemas ludomotores as que dão sentido às condutas motrizes objetivas dos

jogadores, ainda mais individualizadas.3

De acordo com Bayer (1992), está constatado que, apesar das peculiaridades

e nuances de cada civilização, que tenha apresentado em algum momento de seu

desenvolvimento cultural os jogos, todos expressaram em comum: um artefato

esférico (bola), um local demarcado (onde se dá o “confronto”), uma meta/alvo para

atacar ou defender, companheiros avançando com bola com diferentes partes do

corpo, adversários a serem superados e regras a serem respeitadas.

Uma das características específicas dos jogos esportivos coletivos se refere

ao conceito de equipe, em que um grupo de indivíduos compartilha da busca de um

objetivo comum, previamente elaborado. É tarefa corriqueira de uma equipe conviver

com atos psicológicos em constantes desequilíbrios, criados por essa entidade, que

representa o grupo e deve utilizar os jogos esportivos coletivos para, “realizar o

aprendizado e o desenvolvimento do jogador como indivíduo que vive as relações

frequentemente muito profundas com outros, relações que não se situam

unicamente no plano operacional” (BAYER, 1992, p. 215).

Bayer (1992) enfatiza que a cooperação entre componentes de uma equipe

deve estar intimamente atrelada à comunicação, já que se estabelece para o jogo

um objetivo coletivo e com isso há que se ter um sistema de referência comum. O

autor revela, com essa faceta do jogo coletivo, o fascínio que esse provoca, ao

destacar as oportunidades de lidar com as finalidades educativas, por meio da

captação das sutilidades das condutas e gestos, representados nos comportamentos

resultantes de ações e emoções.

E com essas particularidades:

[...] pelas situações variadas que provocam e pela constante referência aos recursos individuais de inteligência tática que suscitam para realizar as adaptações necessárias, constituem uma atividade envolvente no plano educativo; solicitam as diversas camadas da

3 Tradução livre do espanhol, pelo autor.

Page 19: GIVANILDO FÁVERO

17

estrutura íntima e profunda da personalidade, oferecendo múltiplas possibilidades de expressão e expansão (BAYER, 1992, p. 236).

Do ponto de vista de Garganta (1998), os jogos esportivos coletivos, por meio

de estruturas conhecidas, se organizam com conteúdos e ações os quais

(individuais ou coletivas), desenrolam-se em um contexto de elevada variabilidade,

imprevisibilidade e aleatoriedade, o que restringe sua antecipação e solicita dos

participantes uma constante atitude tático-estratégica.

Ao corroborar com esta constatação, Saad (2002) e Rezer e Saad (2005),

destacam a posição de Garganta (1995), a respeito do ensino dos jogos esportivos

coletivos que deveriam despertar o interesse nos praticantes, através de atividades

desafiadoras e motivantes, que implicam em situações-problema e que contenham

as características principais do jogo. Ou seja, propor jogo ou formar jogadas

acessíveis, as quais permitam a sucessão de ações e elevem as probabilidades de

sua consumação.

De acordo com Saad (2002) e Reverdito e Scaglia (2009), a denominação

jogos esportivos coletivos engloba os esportes de cooperação/oposição, resultantes

da constante interação entre jogadores em uma cooperação entre si, em oposição à

outra equipe, que atuam, também cooperando em oposição à primeira equipe, em

cumprimento de um regulamento comum a ambas, com o objetivo de conseguir e

gerir situações de proveito próprio e suscita a reflexão acerca das modalidades

esportivas de basquetebol, voleibol, handebol, futebol e futsal entre outras. Além

disso, esta denominação vem sendo utilizada por diversos autores: Bayer (1986);

(1994); Bento (1989); Bento, Garcia e Graça (1999); Coletivo de Autores (1992);

Dietrich, Durrwachter e Schaller (1984); Garganta (1992); Graça e Oliveira (1995);

Greco (1995); Konzag (1991); Marques (1993); Mesquita (1995); Moreno (1994);

Shigunov e Pereira (1993); Tavares (2002); Teodorescu (2003), segundo Reverdito e

Scaglia (2009), que ao longo dos anos, vêm investigando o processo metodológico

do ensino dos JEC.

No aspecto sistêmico:

[...] os JEC são compreendidos como um microssistema social a partir das relações estabelecidas pelos integrantes da equipe envolvida no jogo; um sistema de organismo vivo, uma totalidade integrada e autorregulável, apresentando suas características

Page 20: GIVANILDO FÁVERO

18

essencialmente a partir das relações de interação e interdependência de suas partes (REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p. 44).

Na opinião de Andrade (2010, p. 105) “os jogos coletivos, pela dinâmica e

intensidade, têm como objetivo exigir um poder de criação, adaptação e

principalmente inteligência”, já que esses jogos com regras adaptadas exigem

raciocínio rápido, em busca de soluções diferentes do cotidiano, o que ativa o “poder

de leitura do jogo”. O jogo tem uma lógica interna que o define e assim:

Este comportamento verifica-se no terreno quando o jogador se depara com situações reais de jogo, onde é “forçado” a recorrer a processos cognitivos de análise para posterior resposta. Este obriga a um reconhecimento constante, a antever situações de jogo para tirar conclusões na prática com o máximo de rapidez ou seja, perante a leitura tática aplicar o melhor procedimento técnico (TEODORESCU, 1984 apud FERREIRA JUNIOR; ALMEIDA; NAVARRO , 2010).

Para Greco e Benda (1998) as estruturas funcionais do jogo, compreendidas

por meio da prática do próprio jogo, possibilitam um aumento do conhecimento tático

e contribui na busca da autonomia dos atos e decisões do aluno. Freire e Scaglia (2009) acrescentam que “autonomia somente se aprende sendo autônomo, tendo

atitudes autônomas”, onde o jogo apresenta um ambiente facilitador desse processo.

Segundo esses autores “quem educa para a autonomia confia que seus educandos

saberão seguir pela vida, orientados por sua própria consciência autônoma” e ainda,

“a formação do cidadão de um novo mundo só pode ser conseguida com a

educação para a atitude autônoma; afinal, quando estivermos maduros, seremos o

somatório das atitudes tomadas ao longo de nossas vidas” (FREIRE; SCAGLIA,

2009, p. 30). Com isso, referenciam a importância da diversificação da educação

para que haja nos alunos processos concorrentes entre si de comportamentos

autônomos.

Os jogos esportivos coletivos permitem o aprimoramento das sensações

táticas e possibilitam “descobrir soluções dos problemas que aparecem no jogo, ou

de resolver estes problemas referindo-se aos conhecimentos táticos – memória”

(BAYER, 1992, p.233). Somando-se ainda, o maior contato com a bola durante os

jogos “trabalha também o componente técnica, fazendo que esta seja treinada de

forma integrada a situação de jogo” (SANTOS et al, 2013, p. 49). Logo, uma

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19

justificativa importante, é que a experiência de jogo, deve ser feita através do

confronto da pessoa com a própria tarefa. Conforme Schmidt (1992, p. 125) citado

por Rezer e Saad (2005), aprender a jogar significa “descobrir, quase experimentar,

em forma individual, adequada à situação e dirigida a novas experiências de ação”.

Para a prática de qualquer modalidade esportiva coletiva, em que há ações de

intervenção externa (adversários, regras, tempos limitados para ações, etc.), a ação

tática é tão importante quanto a qualidade técnica nas resoluções de problemas

enfrentados durante o jogo (REZER; SAAD, 2005).

Nos jogos esportivos coletivos, os jogadores desenvolvem sequências de

ações de decisão contínuas, de acordo com as etapas de ataque e defesa -

encadeamento de unidades de ação (sociomotricidade). O domínio das habilidades

peculiares e a capacidade de tomada de decisões dependem da sua adaptação às

situações de jogo. As tarefas são caracterizadas pela comunicação (cooperação)

estabelecida entre os jogadores da mesma equipe e da contra comunicação

(oposição) exercida por jogadores de uma equipe adversária, de constante “aleatoriedade, imprevisibilidade e indeterminismo” (GARGANTA, 1996 apud

REVERDITO; SCAGLIA, 2009; PARLEBAS, 1988; SAAD, 2002).

Outra característica dos jogos esportivos coletivos é a condição decisória dos

jogadores – autonomia -, que se configura na intenção individual dos jogadores na

dimensão tática, ou seja, “as decisões dos jogadores são convergentes a um

movimento ininterrupto de relações recíprocas de comunicação-cooperação em

função de um objetivo comum” (TAVARES, 2002 apud REVERDITO; SCAGLIA,

2009, p. 152-153). A autonomia é o que garante a “sedução” proporcionada pelos

jogos, já que nela se revela a face menos previsível diante da mais previsível,

imposta por leis e princípios, “estampando” assim variedade e originalidade aos

acontecimentos (SANTANA, 2008b).

Uma característica importante que aparece nos jogos esportivos coletivos se

refere à constante sucessão de situações de jogo, em que os participantes precisam

resolver problemas perante diversas tomadas de decisões, que envolvem “o que

fazer” e “como fazer”. De acordo com Santos e colaboradores (2013, p. 48) “os

alunos são instigados a resolver problemas encontrando diversas soluções e

desenvolvendo seu raciocínio através de estímulos e desafios”. Nesse sentido, os

participantes ficam expostos a situações que poderão ser encontradas em jogos

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20

posteriores e possibilita-se a criação de variadas formas para resolução de

diferentes situações, que podem ser semelhantes às já vivenciadas por eles em

jogos anteriores.

Com a crescente valorização dos JEC, como instrumento de ensino e

propagação de uma cultura corporal, surgiram propostas metodológicas na tentativa

de abarcar essa possibilidade de atuação humana, mobilizando, cada vez mais, a

participação dos sujeitos desse processo, como protagonistas, com poder de

tomadas de decisões, que interagem em uma dinâmica provocativa e de

imprevisibilidade.

1.1 O Ensino dos Jogos Esportivos Coletivos

O ensino dos jogos esportivos coletivos tem despertado interesse de

pesquisadores, que buscam apresentar propostas metodológicas que possam

explorar e ampliar as capacidades cognitivo-motoras dos participantes e melhorar

seu grau de interação social; estimulando nos participantes “inteligência tática,

autonomia, responsabilidade, poder de decisão, percepção, antecipação, resolução

de problemas, criatividade e inclusão de uma forma dinâmica, motivadora e criativa” (BALZANO, 2014, p. 30).

Os JEC são “ferramentas” constantemente utilizadas nas aulas de Educação

Física, já que aliam a possibilidade de exploração corporal e social, que sua

diversidade apresenta aos interesses dos alunos, em relação ao meio cultural aos

quais estão inseridos.

A pesquisa realizada por Carlan (2012) verificou a utilização da metodologia

fenômeno-estrutural para o desenvolvimento de JEC que contribuíssem para a

atuação de alunos do ensino fundamental frente ao conteúdo esporte – futebol sete -

o que proporcionou uma “revalorização do aluno e uma reconstrução da lógica

interna dos desportos coletivos, onde o jogador irá evoluir” (CARLAN, 2012, p. 290). Essa dupla abordagem (fenômeno-estrutural):

[...] permite consolidar as bases duma prática transferível: transposição de estruturas análogas, desde o instante em que o jogador percebeu e compreendeu esta analogia de estrutura e

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21

utilização de meios para resolver situações-problemas (BAYER, 1994 apud CARLAN, 2012, p. 289).

Segundo Bayer (1992, p. 21) a teoria fenômeno-estrutural revela a

capacidade do sujeito em ter atitude para dar um sentido à estrutura e modificá-la,

pois ao encontrar-se implicado à realidade das situações, emprega “sua vivência

afetiva e suas motivações dinâmicas e profundas de sua personalidade”. Então:

Se a transferência existe a nível de aprendizagem, só pode ser uma ótica fenômeno-estrutural, a aprendizagem é facilitada quando um jogador percebe, em uma estrutura de jogo, uma identidade com uma estrutura já conhecida e que a reconhece no mesmo ou em outro jogo desportivo coletivo. Se tratará pois, por parte do educador, de propor estruturas análogas que existem em todos os jogos desportivos coletivos, para que o jogador, ao compreendê-los, os aproprie. “Ter a experiência de uma estrutura não é recebê-la passivamente, é vivê-la, assumi-la, encontrar o sentido imanente” (MELEAU-PONTY, 1945 apud BAYER, 1992, p. 32).

Sob o prisma do fenômeno-estruturalismo, Bayer (1992) propõe uma

pedagogia das intenções para o ensino dos jogos esportivos coletivos, baseado na

prática transferível:

A transferência nesta aproximação fenômeno-estrutural, que será a que adotaremos, repousa sobre a comunidade de estruturas existentes entre duas tarefas, comunidade reconhecida pelo sujeito, pois este último adota, na relação com o entorno, uma atitude que lhe permite detectar ou não nesta analogia, em função dos significados que são das diversas situações que atravessa, que ele interpreta organizando sua percepção, e que orientam a eleição dos diferentes meios que ele selecionará de forma mais ou menos explícita e utilizará em seu contato com a realidade “aqui e agora” (BAYER, 1992, p. 22).

Esta aprendizagem vivenciada pela capacidade de explicar e conceitualizar

esse “caminho’’, opõe-se aos mecanismos estabelecidos de “hábitos estereotipados

devidos a um treinamento mecânico. Cada indivíduo, por sua experiência, é um ser

atuante que participa autenticamente na construção de seu futuro motor” (BAYER,

1992, p. 22). A fruição e a disponibilidade do jogador serão possíveis com a

eliminação do “adestramento”. Logo:

A aquisição dos automatismos flexíveis necessários para fazer frente aos problemas do jogo e permitir ao jovem centrar suas capacidades intelectuais em outros aspectos mais completos de dificuldades a

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22

resolver, deve apelar a sua reflexão, exigir por sua parte uma participação ativa e solicitar sua inteligência e seus poderes de compreensão, de invenção e de iniciativa (BAYER, 1992, p. 72-73).

A riqueza da proposta de Bayer (1992, p. 81) clama em “propor ao mínimo um

problema que comporte em nível tático uma eleição possível”. Deste modo:

[...] cada jogador desenvolverá sua ação no campo de jogo, com uma intenção que modificará a situação presente e motivará por parte dos demais jogadores umas intenções que se articularão entre si. Por conseguinte, o jogador será produtor de seu jogo, com os outros, o produtor do jogo coletivo mediante todo o processo de interações recíprocas das diferentes intenções táticas jogadas (BAYER, 1992, p. 62).

Outra possibilidade de ensino dos JEC que chama a atenção foi descrita pela

teoria TGfU (Teaching Games for Understanding), apresentada inicialmente por

Bunker e Thorpe (1986), na Inglaterra. A TGfU propõe uma forma de ensino

contextualizada, na qual as aulas de iniciação esportiva se norteiem em jogos

reduzidos (espaço menor, menor número de jogadores, equipamentos modificados,

tempo menor), ou seja, condições e regras adaptadas em relação ao jogo

institucionalizado (BOLONHINI; PAES, 2009). No entanto:

É importante que a estrutura tática destes jogos reduzidos seja semelhante a do jogo formal. Dessa forma, o aluno compreende a lógica do jogo, sendo capaz de responder de maneira inteligente às situações que aparecem durante o jogo. Portanto, segundo a abordagem do TGfU, o foco está em fazer com que o aluno compreenda a tática antes de preocupar-se com a aprendizagem dos

gestos técnicos (BOLONHINI; PAES, 2009, p. 3).

Segundo Graça (2007), citado por Teoldo et al. (2010), a proposta TGfU se

configura como um estilo de ensino de descoberta orientada, em que o aluno,

submetido a uma situação de jogo, com os seus desafios táticos, é instigado a

encontrar, expressar, discutir, relatar as soluções, ajudado pelas indagações do

professor, com o intuito de trazer a resolução do problema e respectivas respostas,

na busca de compreender e agir intencionalmente sobre a tática do jogo.

Para Bolonhini e Paes (2009) outro aspecto importante relacionado à proposta

teórica do TGfU é o de que, os jogos reduzidos praticados durante a aula precisam

estar acompanhados de uma reflexão coletiva sobre a prática e a

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23

organização para os próximos jogos. Ao dialogar e refletir sobre o jogo, os alunos

ponderam seu desempenho e idealizam estratégias para os próximos jogos.

O modelo TGfU indica o ensino centrado nos problemas táticos em contexto

de jogo e enfatiza a aprendizagem cognitiva precedendo o desempenho motor. “Com a ascensão desse modelo, o entendimento do jogo como um momento de

aplicação de técnicas cede lugar à concepção de um jogo mais elaborado no plano

tático e cognitivo” (TEOLDO et al., 2010, p. 71).

Para Saad (2002) e Greco (2006), a metodologia utilizada para o

desenvolvimento dos jogos esportivos coletivos deve apresentar uma aproximação

com a ideia e com o sentido/significado do jogo como um todo, que por sua vez,

promoverá a melhoria das capacidades cognitivas subjacentes à tomada de decisão,

particularmente do “conhecimento declarativo e processual”4.

A publicação de Reverdito e Scaglia (2009) reuniu a caracterização,

estratégias/metodologias e fundamentação para o ensino dos jogos desportivos

coletivos de alguns dos autores e obras que têm sido frequentemente citados em

estudos sobre essa temática, onde são expostas as seguintes

estratégias/metodologias:

Autores Estratégia - Metodologia

Está condicionada à essência complexa do jogo, em que o

PAES (2001); jogar somente se aprende jogando. A aprendizagem dos

BALBINO (2001) jogos por meio do jogo possível – atividades lúdicas, jogos pré-desportivos e brincadeiras populares, jogos reduzidos,

jogos condicionados e situacionais, constituídos de um ambiente fascinante e estimulador.

SCAGLIA A aprendizagem do jogo por meio do jogo jogado, o ensino

orienta-se para a compreensão do jogo, objetivando o (1999; 2003);

desenvolvimento da capacidade tática (cognitiva) em direção

FREIRE (2003) à especificidade técnica (motora específica), privilegiando situações de jogos e brincadeiras populares da cultura

infantil, metodologicamente orientadas pelo jogo-trabalho.

O ensino dos jogos coletivos por meio dos jogos

4 Conhecimento declarativo: trata de um conhecimento que se pode declarar/explicar, mas

que nem sempre se sabe fazer. Conhecimento processual: se trata de um conhecimento que representa o que se faz durante as ações de jogo, mas que dificilmente se consegue explicar (SANTANA, 2008b, p.151).

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24

GARGANTA condicionados, unidades funcionais, orientados para (1995) compreensão do jogo (razão do fazer) e integrado à sua

especificidade técnica (modo de fazer), contemplando uma prática transferível a partir da assimilação dos princípios comuns nos jogos, por meio de formas jogadas acessíveis, motivadoras e desafiadoras.

O ensino orientado para a aprendizagem das habilidades básicas para jogos, orientando-se para o desenvolvimento da

GRAÇA capacidade de jogo dos praticantes, por meio de jogos e

atividades simplificados e modificados, combinação de (1995)

exercitação e formas de jogos, e transferibilidade da

exercitação para os jogos, por meio de situações que exijam duplas tarefas (o que e como), em virtude das especificidades das habilidades para os jogos e seu caráter multidimensional.

O ensino dos jogos coletivos por meio de jogos situacionais e uma aprendizagem incidental, para o desenvolvimento das

KROGER capacidades de jogo e coordenativas, privilegiando os fatores

de pressão (tempo, precisão, complexidade, organização, & ROTH

variabilidade e carga) condicionantes da motricidade, o (2002)

desenvolvimento das habilidades com bola e da construção

de movimentos específicos aos esportes (técnica).

Para o desenvolvimento das capacidades coordenativas, inicialmente da aprendizagem motora ao treinamento da

GRECO (1998) técnica, por meio de jogos e exercícios dirigidos, de perseguição e estafetas e, subsequentemente, o

GRECO desenvolvimento da capacidade de jogo ao treinamento & BENDA tático, por meio de jogos funcionais e situacionais, (1998) privilegiando fatores de pressão (tempo, precisão,

complexidade,organização,variabilidadeecarga) condicionantes da motricidade. Quadro I: Síntese de estratégias/metodologias de ensino dos Jogos Desportivos

Coletivos, segundo Reverdito e Scaglia (2009).

Essas proposições de jogos esportivos coletivos têm recebido a denominação

de métodos ativos, “que levam em conta os interesses presentes da criança e que

solicitam a partir de situações vividas, a iniciativa, a imaginação e a reflexão pessoal

para favorecer a aquisição de um saber adaptado” (BAYER, 1986 apud SAAD, 2002,

p. 28-29).

Além disso:

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Acredita-se que o ensino dos Jogos Esportivos Coletivos não deveria, sob pretexto algum, circunscrever-se à transmissão de repertório alargado de ações técnicas e nem à solicitação de

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25

capacidades condicionais, mas de desenvolver nos praticantes disponibilidades motora e mental, que transcenda largamente a simples automatização de gestos e se centre na assimilação de regras de ação e princípios de gestão de espaço de jogo, bem como de formas de comunicação e contra-comunicação entre jogadores (RINK; FRENCH; TJEERDMA, 1996 apud SAAD, 2002, p. 32).

Para Bayer (1986) citado por Saad (2002), os JEC devem manter estreita

relação com o jogo, em que a aprendizagem de ações mantém semelhança àquelas

ações executadas no jogo; evitando ações estáveis e imutáveis, para permitir

situações variadas que privilegiam os elementos perceptivos.

Nesse sentido, Paoli e Grasseli (2006) citados por Santos e colaboradores

(2013, p. 45), entendem que o aprendizado/treinamento em forma de jogo

“possibilita variações e objetivos ilimitados e que as capacidades cognitivas e

motoras são amplamente desenvolvidas”. O jogo se configura como algo instituído e

ao mesmo tempo imprevisível, fascinando quem se relaciona com ele.

Os JEC também receberam denominação de Metodologia Estruturalista,

sendo as ações técnicas e táticas compreendidas desde o início do processo de

ensino-aprendizagem. Com isso “as atividades apresentam ‘desafios’, possibilitando que o aluno tenha participação direta na resposta (execução da tarefa) e possa desenvolver a

sua capacidade de jogo”. (SAAD, 2002, p. 71).

Na busca da compreensão do aspecto sistêmico:

[...] os JDC são compreendidos como um microssistema social a partir das relações estabelecidas pelos integrantes da equipe envolvida no jogo; um sistema de organismo vivo, uma totalidade integrada e autorregulável, apresentando suas características essencialmente a partir das relações de interação e interdependência de suas partes (REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p. 44).

Reverdito e Scaglia (2009) atribuem ainda, à abordagem sistêmica, explorada

por Garganta (1996) e Garganta e Cunha e Silva (2000), a “gestão da desordem”

como chave da compreensão e resolução de problemas, na busca de obtenção de

progresso. Quanto à dinâmica sistêmica, de acordo com Scaglia (2003), o jogo

possibilita um ambiente favorável ao desenvolvimento da inteligência para o jogo,

onde é oportunizado ao aluno jogar de forma a conversar com ele, “é entendê-lo

enquanto linguagem, pressupondo uma metacomunicação, na qual o jogador

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26

aprende e aprende à medida que joga - interage com o jogo e sua dinâmica

sistêmica” (SCAGLIA, 2003, p. 98).

Uma metodologia adotada no ensino dos JEC que tem sido utilizada com

destaque é a metodologia centrada nos jogos condicionais, que aborda as

situações particulares por meio de unidades funcionais, de complexidade gradativa,

com os princípios do jogo regulando a aprendizagem. O planejamento, a orientação

e a aplicação dos princípios do jogo possibilitam o surgimento de ações técnicas

como resultado das exigências táticas. Pela vivência e compreensão do jogo

viabiliza-se a técnica e a criatividade nas ações, já que as características essenciais

do jogo são mantidas: cooperação, oposição e finalização (GRAÇA; OLIVEIRA,

1995; GARGANTA, 1995 apud SAAD, 2002).

Segundo Balzano (2012) os jogos condicionados aumentam a participação do

jogador e contribuem, assim, no desenvolvimento tático e técnico do praticante, já

que ele se expõe a um maior número de erros e acertos, o que o influencia na busca

de opções para superar os erros. Para isso:

[...] as formas modificadas de jogo deverão primar por manter a característica estrutural e funcional do jogo formal, sua autenticidade, portanto, um ambiente caracterizado pela imprevisibilidade e aleatoriedade de suas ações, de cooperação e de oposição, com situações e habilidades de ordem aberta (REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p. 95).

O jogo é reduzido em sua complexidade, para então, ser trabalhado de

formas parceladas, que, “procuram, no entanto, preservar os ingredientes

específicos do jogo, apelando à utilização das habilidades em situações-problema”

(GRAÇA, 1995 apud REVERDITO & SCAGLIA, 2009, p. 95). Nesse sentido:

Quando aplicamos modificações e variações aos elementos estruturais formais do jogo, por mais simples que essa modificação possa ser, ela alterará consideravelmente toda a organização da unidade complexa do jogo. No plano cognitivo, sobre a conjuntura estratégica e tática, o aluno terá de buscar por uma série de elaborações capazes de vencer as adversidades e alcançar os objetivos do jogo, assim como sobre o plano motor, na adaptação e na execução das ações (Scaglia, 2003; 2005, citado por REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p. 213).

Algumas contribuições que os jogos condicionados podem trazer aos

educandos, foram discorridas por Balzano (2012), ao mencionar a possibilidade de

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27

desenvolvimento dos conteúdos atitudinais (PCN/BRASIL, 1998), influenciadores da

educação para a cidadania:

Aceitação de competir com os outros e não rivalizar; predisposição para criar, transformar e adaptar regras, que deem prioridade à inclusão de todos; reconhecimento e valorização de atitudes não quanto à habilidade, sexo e outros; valorização dos jogos como integração social; cooperação e aceitação das funções atribuídas dentro das atividades; valorização e respeito pelas sensações e emoções pessoais dos colegas; respeito ao limite pessoal e o limite do outro; respeito à integridade física e moral do outro; predisposição para cooperar para com o colega e grupo nas situações de aprendizagem (BALZANO, 2012, p. 32-33).

Como enfatiza Santana (2008a, p. 131-132), “o repetir de tarefas que já se

sabe de cor e salteado ou fazer as coisas por se fazer, sem a devida tomada de

consciência sobre o que se faz, não desenvolve a competência de se resolver os

problemas do jogo”. Com isso, é relevante abstrair da fenomenologia o ensinamento

que enaltece a percepção do jogador e recobra sua legitimidade nas sensações

subjetivas, integradas às vivências corporais (Bayer, 2002).

De acordo com Garganta (1998), quanto ao ensino e a aprendizagem dos

JEC, tem acontecido uma transição dos modelos analítico e estruturalista para um

modelo sistêmico, nos quais os aspectos cognitivos do praticante e equipe -

microssistema complexo -, afiguram-se elementos fundamentais: regras de gestão e

organização do jogo, regra de ações, capacidades motoras. Nesse contexto:

O jogo deve estar presente em todas as fases de ensino/aprendizagem, pelo fato de ser, simultaneamente, o maior fator de simulação e o melhor indicador de evolução e das limitações que o praticante vão revelando (GARGANTA, 1998, p. 26).

Silva e colaboradores (2011) ressaltam que o jogo oferta situações de

pressão – constrangimentos -, onde decorrerá uma expectativa de se desenvolver a

capacidade de análise do jogador, para que o mesmo identifique e solucione os

problemas de modo autônomo.

Se existe um consenso entre os autores que estudam os jogos é que “a lógica

didática está subordinada à lógica do jogo” (MESQUITA, 2004 apud REVERDITO;

SCAGLIA, 2009, p. 168). Com isso, compreende-se que as possibilidades de ensino

dos JEC, contemplam possibilidades de exploração de capacidades humanas, para

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28

além de simples repetições de gestos mecânicos que contribuem para a autonomia

e o agir coletivo.

1.2 Jogos de Solicitação Tático-Técnica

[...] O indivíduo que joga não é uma máquina biomecânica a maneira de Descartes, nem uma máquina termodinâmica de Carnot, nem uma máquina cibernética a maneira de Wiener: é uma pessoa que adota atitudes, elege estratégias, experimenta dor e prazer, inventa novas condutas motrizes, cria meta-regras incomuns de comunicação, se move na ilusão dos símbolos (PARLEBAS, 1988, p. 66).

De acordo com Saad (2002, p. 18) no contexto dos JEC, “as pontes ou

ligações mais viáveis parecem ser aquelas que podem estabelecer-se entre o

Handebol, o Basquetebol, o Futebol e o Futsal, visto no plano energético-funcional

quanto no plano de vista técnico-tático”. Revela-se, então, nestes jogos, “uma

disputa direta pela posse da bola, invasão do meio campo adversário e trajetórias

predominantes de circulação da bola” (SAAD, 2002, p. 19).

Para Rezer e Saad (2005, p.68) existe uma dificuldade em relacionar as

ações executas com sua posterior utilização, “porque os exercícios fogem à

realidade do jogo (experiências em grupo ficam em segundo plano)”. De um modo

geral:

[...] a literatura esportiva apresenta os métodos de ensino relacionados à aprendizagem da técnica. Muitas vezes a técnica é tratada como pressuposto básico para a prática de uma modalidade esportiva, onde o próprio planejamento didático, conforme Teixeira e Pini (1978) é elaborado obedecendo-se à divisão dos esportes em fundamentos técnicos. Muitos profissionais de Educação Física, fiéis ao significado da palavra “fundamentos” (do latim fundamentu, que quer dizer base, alicerce), entendem que para o ensino dos jogos esportivos tornou-se necessário antes à aprendizagem dos fundamentos do jogo esportivo a ser ensinado (REIS, 1994 apud SAAD, 2002, p. 30).

Em decorrência do exposto absorvia-se a ideia de desenvolver primeiramente

à técnica. A concepção de que não era possível jogar sem o domínio dos

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29

fundamentos foi amplamente difundida. Adquiridos os fundamentos, passava-se ao

jogo formal e, finalmente ao ensino-aprendizagem da tática (REZER; SAAD, 2005).

No entanto, “ao privilegiar a desmontagem e remontagem dos gestos técnicos

elementares para posterior transferência às situações de jogo, esta concepção

metodológica ensina o modo de fazer (técnica) separado das razões de fazer

(tática)” (SAAD, 2002, p. 31). Por outro lado:

Há a corrente que tem procurado insistentemente ressaltar que o jogo se aprende jogando, baseando-se fundamentalmente no princípio da transferência de informações. Esta corrente estabelece que o aprendiz (aluno ou atleta) descubra, através de elaboração cognitiva de informações, os caminhos e opções para sua tomada de decisão, sempre em situações de jogo. Durante o jogo situações similares repetem-se várias vezes, exigindo do jogador enfrentar e ultrapassar cada situação que surja. A aquisição deste conhecimento ou o acúmulo destas experiências, sem sombra de dúvidas, são exigências primordiais para o êxito da concepção tática (SAAD, 2002, p. 02).

Segundo Guimarães (2011, p.15) “praticar um esporte coletivo é saber jogar

tanto com, como sem a posse da bola”. Durante o jogo, joga-se muito sem a posse

de bola e assim a movimentação durante essa condição visa facilitar a uma busca

e/ou criação de espaços, onde haja possibilidades de continuidade ou finalização de

uma jogada. Na defesa, busca-se sempre o equilíbrio, ou seja, estar em sintonia

com os demais integrantes da equipe para evitar os espaços vazios e a progressão

do adversário.

Com essa configuração:

Surge nos esportes coletivos o conceito técnico-tático, ou seja, por um lado, a necessidade de se realizar “[...] gestos que se apoiam em determinado tipo de condutas (gestos ou ações técnico-tácticas), por outro, de realizar condutas ou ações que se suportam inevitavelmente num ou mais gestos técnicos (gestos ou ações táctico-técnicas)” (FERREIRA, 2002, p.37). Esse entendimento repara a dicotomia entre técnica e tática e, de certa forma, possibilita, em teoria, corrigir a distorção metodológica até então dominante quando da pedagogia do esporte coletivo, em que se deveria primeiro aprender as habilidades para depois jogar ao invés de aprendê-las jogando, isto é, associadas às intenções dos jogadores, às dimensões eficácia (finalidade) e adaptação (GRAÇA, 1998) (SANTANA, 2008b, p. 52).

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30

Intencionalmente ou não, treinadores de futsal de competição de alto nível,

como Ferretti (2009), Andrade (2010) e outros, passaram a utilizar conceitos e

metodologias advindas da pedagogia do esporte, porém usando outra nomenclatura,

os “jogos de sustentação tático-técnica” (JSTT), que contêm, dentre outras

características, a configuração dos jogos condicionados e da teoria fenômeno-

estrutural. Para efeito da pesquisa em questão, entende-se como propício o termo

“jogos de solicitação tático-técnica”, por tratar do contexto escolar, que envolve o

ambiente pedagógico com participação de estudantes.

Os JSTT são jogos planejados para criar uma condição de ações peculiares,

que acontecem durante as partidas de futsal e que, sendo assimiladas, facilitam o

desenvolvimento da dinâmica do jogo. O futsal é um esporte coletivo de muita

movimentação, de manutenção, perda e recuperação da bola, de exigência das

capacidades coordenativas, de situações inesperadas, de solicitação de raciocínio e

ações rápidas.

Os JSTT visam expor os praticantes a desafios coletivos que exigem

interação e comunicação constantes. Neles, o jogador que precisa resolver uma

situação-problema, contará sempre com o apoio de seus companheiros, para lançar

mão de tentativas de ações que venham atender as necessidades, limitações ou

exigências pré-determinadas.

Um JSTT tem sempre um ou mais objetivos, que tende a estimular seus

participantes a vivenciar com ênfase as funções tático-técnicas específicas do futsal.

Todavia não existe um padrão de conduta único para executá-lo e a preocupação

maior consiste em que cada jogador se sinta protagonista da ação, respeitando

sempre os princípios éticos de convivência social. A interação e a comunicação são

marcas dos JSTT, já que o jogo coletivo induz o participante a estabelecer relações

cooperativas e ajuda mútua.

De acordo com Silva e Greco (2009, p. 305), “os processos de ensino-

aprendizagem-treinamento, voltados para o desenvolvimento da tática influenciam

positivamente o desenvolvimento tanto da criatividade tática como da inteligência de

jogo”. A partir de então:

[...] a técnica surge porque é necessária! É a circunstância o que a reivindica. Portanto, em si mesma, ela é obsoleta. Isso refuta a ideia de que a técnica se configure estática e desassociada de intenções,

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31

e ratifica a de que é dinâmica e precedida de intenções (SANTANA, 2008b, p. 53)

Santos e colaboradores (2013, p. 45) em estudo sobre “a construção do

conhecimento tático defensivo do futsal por meio de treinamento em forma de jogo,

entendem que a tática, ou seus princípios, podem ser trabalhados de forma prática e

integrada a realidade do jogo”, de forma que as situações reais do jogo,

concretizadas nas situações-problemas, por mais exigentes que sejam, produzirão

reações providas de raciocínio e tomada de decisões. Nesse sentido:

[...] por meio da sistematização de um programa de treinamento tático que utiliza-se dos treinamentos na forma de jogos, é possível oferecer maior diversidade de desafios aos praticantes, e dessa forma, aumentar suas experiências diante das situações reais que se apresentarão dentro da dinâmica do Futsal, [...] (SANTOS et al., 2016, p. 100).

Os JSTT compõem-se de jogos diversos, que na forma de jogos

condicionados “se objetivam em desenvolver situações específicas do desporto

futsal. Criam-se alternativas nas quais a finalidade é repetir as ações criadas nas

partidas por diversas vezes” (BALZANO, 2012, p.25). Neste modelo:

[...] o aluno/atleta executa e aprende os objetivos e princípios fundamentais do jogo, mas também, pratica o desporto e suas relações, como: ataque, defesa, fundamentos técnicos, regras, funções, posições, entre outros. Este método pretende estimular nos alunos/atletas a inteligência tática, técnica individual, noção de regras, autonomia, responsabilidade, poder de decisão, resolução dos problemas, criatividade e inclusão, de uma forma dinâmica,

motivadora e criativa (BALZANO, 2012,p.25).

Com a aplicação dos JSTT nas aulas de Educação Física escolar, juntando-

se a outras propostas já consolidadas, ratifica-se o entendimento do consenso entre

os autores que estudam os jogos, em que “a lógica didática está subordinada à

lógica do jogo” (MESQUITA, 2004, p. 20 apud REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p.

168). Portanto, o aluno que vivencie esse tipo de metodologia de ensino poderá

receber informações que o auxilie a decidir e agir com desenvoltura.

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32

2 O FUTSAL

Como é jogo de futsal? Veloz, de marcação intensa, de repetidos deslocamentos sem a bola, de passes acelerados, de constante perda e recuperação da posse de bola, de momentos de igualdade, superioridade e inferioridade numéricas, de muita bola parada,

pautado na diversidade de situações (SANTANA, 2008a, p. 130).

2.1 Características do Futsal

O futsal é o mais recente esporte de quadra e o único criado na América do

Sul. Caracteriza-se pela sua imprevisibilidade e interação constante dos praticantes

para transposição de adversários e alcance do gol. Os momentos de ataque e

defesa atribuem identidade às tentativas de marcação de gols das equipes, com ou

sem a posse de bola, que se sucedem do início ao fim de uma partida, marcados por

ciclos que se iniciam após cada investida e reposição de bola em jogo (ANDRADE,

2010; BALZANO, 2014).

Para Guimarães (2011) e Saad (2002), o território comum é a disputa da

posse de bola para a obtenção de um gol, entre adversários que a manipulam,

quase que exclusivamente com os pés, sem que esta seja retida durante a

condução, tendo que lidar com diferentes deslocamentos e transferências de

equilíbrio, faz com que o futsal seja um esporte de complexidade e exigência

psicomotora elevadas.

Classificado como um jogo esportivo coletivo de forte apelo à inteligência, o

futsal é uma modalidade de oposição/cooperação, em que companheiros de equipe

lutam para alcançar seus objetivos, ao mesmo tempo em que os adversários

buscam impedir que esses objetivos sejam alcançados. É também, uma modalidade

de invasão, uma vez que suas ações acontecem em um espaço comum, com

participação simultânea de atacantes e defensores em relação à bola, sem esperar a

ação final do adversário. (SANTANA, 2008a; SILVA; GRECO, 2009).

Segundo Pinto (1996) citado por Saad (2002, p. 25) “esta relação contraditória

e permanente impõe mudanças rápidas e alternadas de atitudes e comportamentos,

de acordo com os objetivos do jogo e com os objetivos específicos de cada

situação”. Ao observar a literatura e os jogos de futsal, percebe-se que durante uma

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33

partida os jogadores se deparam com desafios complexos, em consequência das

tarefas cognitivas e motoras múltiplas com quais são expostos (GUIMARÃES, 2011).

Comportamento diferenciado diante de companheiros e adversários - em situações

táticas que se alternam continuamente, representadas pela marcação intensa -,

passe acelerado, constante perda e aceleração da posse de bola, movimentação

constante pelo terreno de jogo sem e com a posse de bola, situações de

superioridade, inferioridade e igualdade numérica, enfim, uma diversidade de

situações (SANTANA, 2008a). Com essa caracterização:

O futsal, enquanto Jogo Esportivo Coletivo, está estruturado por normas que determinam as condutas a serem assumidas pelos participantes e expressam a lógica interna deste jogo. A sequência repetida das estruturas do jogo e as especializações posicionais e funcionais dos jogadores correspondem à lógica externa desta modalidade esportiva (REZER; SAAD, 2005, p. 98).

A lógica interna revela as características e peculiaridades desse esporte. Por

meio de um olhar meticuloso e acurado para a dinâmica do futsal, é possível atribuí-

lo significado, onde se visualiza: “dinamismo, espaço escasso, marcação intensa,

rotação dos jogadores, imprevisibilidade, organização, auto-organização, apelo à

inteligência, técnica situacional, princípios táticos, momentos do jogo, comunicação e regras” (SANTANA; RIBEIRO; FRANÇA, 2016, p. 20), conforme o quadro a seguir:

Aspectos do Futsal Descrição

Dinamismo O futsal é um jogo dinâmico, ou seja, os jogadores e a bola se movimentam constante e simultaneamente num espaço comum/compartilhado.

Espaço escasso Esse dinamismo é operacionalizado, igualmente, num espaço escasso, ainda que a quadra tenha 800 m² (40x20m). O fato é que o centro de jogo, que é onde estão localizados os jogadores (atacantes e defensores), frequentemente é reduzido (meia-quadra).

Marcação intensa A escassez de espaço é uma aliada dos defensores, pois facilita a marcação intensa independentemente do local da quadra!

Rotação dos jogadores Por isso, a escassez de espaço exige um antídoto e este parece ser a mobilidade dos jogadores! Na prática, o ataque precisa criar espaços úteis, o que acontece quando os jogadores trocam constantemente de posição: a bola circula e os jogadores constantemente se

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deslocam sem aquela.

Imprevisibilidade O futsal é um jogo dado à incerteza; o fato é que não se pode prever a ordem, a frequência e os tipos de acontecimentos.

Organização A imprevisibilidade do jogo exige um antídoto e este parece ser a organização! Esta se expressa no saber “o que” fazer, “quando” fazer, “onde” se está, “aonde” ir.

Auto-organização A organização não exclui a necessidade de que a equipe se auto organize constantemente, isto é, que responda de forma adaptada ao que acontece. O conhecimento intervém nisso. O fato é que as ações e reações do adversário e os próprios erros dos jogadores interferirão e afetarão o equilíbrio inicial. Isso exigirá ajustar-se nova e repetidamente. Basta pensar nas desigualdades numéricas comuns, como 2xgoleiro, 2x1, 3x2, 4x3+1 etc.

Apelo à inteligência Igualmente, é um jogo que exige contínuas tomadas de decisão. Ora, pouco espaço somado à intensa marcação resulta em pouco tempo para perceber, analisar e decidir o que fazer. Logo, é preciso aprender a agir com antecedência; a adiantar-se aos acontecimentos; a pensar o próximo instante. É o que se entende por decodificar. Logo, capacidades perceptivo-cognitivas como perceber/identificar, antever/predizer, decidir/selecionar são determinantes para o rendimento esportivo. Ser inteligente tem a ver diretamente como quanto se conhece do jogo. Quem joga tem de responder bem a cinco perguntas elementares: o que fazer?; por que fazer?; quando fazer?; aonde ir?; como fazer?. Portanto, a atuação do jogador é tática (pois se trata de resolver problemas) e influenciada por estratégias (pois inclui as ideias de como encarar os problemas). O jogador não apenas atua tático-tecnicamente, como atua tático-estrategicamente.

Técnica situacional Do ponto de vista técnico/gestual, o jogo exige do jogador uma “dupla tarefa”: por exemplo, distribuir a atenção entre conduzir a bola (tarefa motora) e deslocar a visão para o colega que se oferece para receber a bola (tarefa cognitiva). Isso faz com que a técnica forme uma unidade com a tática, ou seja, a bola é controlada, jogada, conduzida com algum tipo de intenção tática; a técnica é um meio da tática; a operacionaliza. Portanto, o jogador técnico é o que ajusta os seus gestos às solicitações do ambiente; ele tem uma técnica flexível (e não ideal!), que responde bem às incertezas do jogo. A técnica se adapta ao contexto. Portanto, o jogador técnico improvisa; torna o que faz pouco previsível ao adversário; usa seus gestos sempre com um sentido tático.

Princípios táticos A funcionalidade do jogo exige, por um lado, conservar a bola, fazê-la progredir pela quadra, terminar com êxito o

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35

ataque; por outro lado, é preciso impedir isso, procurando recuperar a bola, atrapalhar sua progressão, proteger a meta; são princípios táticos do jogo.

Momentos do jogo Correspondem ao ataque (organização ofensiva), à defesa (organização defensiva), à transição ofensiva (contra-ataque), à transição defensiva (defesa de contra- ataque) e às bolas paradas (ofensivas e defensivas); essa modificação constante das situações de jogo exige um jogador versátil taticamente, isto é, que saiba cumprir mais de uma função tática.

Comunicação A solução para cumprir os princípios táticos e lidar bem com os momentos do jogo é os jogadores construírem uma “linguagem” própria. Essa linguagem não é falada, mas a comunicada por gestos para atacar e defender; os gestos têm significados, expressam as interações dos jogadores. Logo, é preciso aprender a falar a “mesma língua” para se jogar bem. Nesse sentido, num sentido coletivo, importa saber jogar com bola; mas também sem bola, quando a sua equipe tem e quando não a tem. Não pode passar despercebido que a comunicação entre os jogadores tem de ser facilmente interpretada por eles e, ao mesmo tempo, ser mal interpretada pelos adversários. Por isso, a cada treino, é necessário perseguir e enraizar uma maneira própria de jogar.

Regras Tampouco pode passar despercebido que as regras de futsal estimulam a consecução de muitos gols (espaço reduzido, gol dentro da área, faltas cumulativas, linha- goleiro, tiros livres sem barreira...). Talvez por isso foi preciso adotar metas/balizas relativamente pequenas, senão o goleiro não poderia ter êxito. Porém, ao se fazer isso, exigiu-se de os jogadores tanto serem mais precisos nas finalizações, quanto de as equipes criarem uma zona de finalização mais próxima da meta. Quadro II: Aspectos particulares do jogo de futsal, segundo Santana, Ribeiro e França (2016).

Os fatores: espaço, disputa de bola e conduta de ataque e defesa, são

determinantes para as diferentes funções estratégicas assumidas, atualmente

desvinculadas de posições estabelecidas como ocorria em anos atrás, quer por

movimentações e ações pré-estabelecidas ou de intuito criativo, fazem com que o

futsal produza situações inusitadas, sendo por vezes comparado a uma arte por

despontar “mágicos” da bola (LOPES, 2004; SANTANA, 2008a).

Todos os jogadores de futsal podem deslocar-se constantemente pela quadra,

sendo que dificilmente conseguem permanecer em uma determinada posição

estática. O importante é desempenhar na quadra aquela função que a

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36

posição que ele esteja ocupando requer. Com a constante movimentação para que

sejam “criados” espaços em quadra, o futsal é um esporte de muita exigência

orgânica e com isso permite a participação de vários jogadores em uma mesma

partida, já que as substituições são ilimitadas (ANDRADE JUNIOR, 1999; SANTOS;

RÉ, 2014; SAAD, 2002; SANTANA, 2008a).

De acordo com Santana (2008b, p. 19) “o futsal, seguramente, é o esporte

coletivo que mais sofreu alterações regulamentares nos últimos dezoito anos”. Ele

ainda cita Arestigüi (2001), ao demonstrar que na busca pelo espetáculo, o futsal se

tornou mais atraente para o público e seus praticantes, dado o dinamismo, a

diminuição de faltas, a imprevisibilidade, a frequência de gols e lances empolgantes,

proporcionados pelas mudanças de regras, que trouxeram também, aos “holofotes”

do futsal, a atenção de investidores e patrocinadores que vislumbraram nesse

esporte oportunidades comerciais. Como se pode observar:

[...] é notória a evolução do jogo de futsal, a começar pelas mudanças de regras, como permitir a atuação do goleiro fora de sua área de meta, a possibilidade de efetuar o gol dentro da área de meta, a limitação do recuo de bola para o goleiro e este não podendo utilizar as mãos em determinadas circunstâncias, a alteração do peso da bola tornando-a mais leve, entre outras. O jogo tornou-se mais dinâmico, exigindo uma melhor condição de seus praticantes, tanto no aspecto cognitivo, como no psicológico e motor, para a resolução de problemas encontrados durante a realização do jogo (COSTENARO; MENDES, 2009 p. 9).

A modernização do futsal o fez mais rápido e dinâmico. Com isso, durante os

jogos, existe uma movimentação constante dos jogadores por todos os espaços.

Para Andrade Junior (1999, p 21) “a qualidade, a habilidade dos jogadores

combinam com a beleza tática do futsal, que é capaz de em poucos segundos,

mudar a situação em que se encontra o jogo, levando o público ao delírio”.

Pode ser notado um crescimento de praticantes do futsal pelo país e pelo

mundo, desde a inserção em aulas de Educação Física escolar, escolinhas para

crianças e adolescentes, momentos de lazer desvinculados de órgãos reguladores,

até competições em alto nível transmitidas e comentadas nos meios de

comunicação. Sendo, ainda, a opção para substituir o futebol praticado antigamente

pelas crianças nos campinhos de terrenos vazios ou em praças públicas, cada vez

mais escassos. (BALZANO, 2014; GOMES; MACHADO, 2001; MICHELLINI, 2007).

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37

Uma mostra de que o futsal é um esporte em expansão é a quantidade cada

vez maior de equipes femininas nas competições, desde escolares a adultas.

Arriscaria dizer que no Brasil atualmente é mais viável conseguir ser uma atleta de

futsal do que de futebol, devido ao número de times e campeonatos nos quais se

podem atuar, com calendários mais prolongados e pelas parcerias que as equipes

de futsal feminino possuem, principalmente com instituições de ensino superior.

Legítimo ainda é dizer, ao encerrar essa breve caracterização, que o futsal é

um esporte em que a comunicação entre os seus envolvidos é algo bastante

considerável, pois os praticantes dessa modalidade são expostos a desafios

coletivos, que necessitam das interações verbais e não-verbais na busca dos

objetivos antagônicos e simultâneos: evitar o gol e marcar o gol.

2.2 A Tática no Futsal

A tática pode ser definida como procedimentos e ações ofensivas e/ou

defensivas, que agregam eficiência na utilização dos fundamentos técnicos, com o

objetivo de um melhor rendimento individual e coletivo, frente a um adversário.

(FERREIRA JUNIOR; ALMEIDA; NAVARRO, 2010; MUTTI, 2003; SANTOS et al.,

2016). Como também o elemento fundamental ao jogo que, respeitando as regras da

modalidade, dá a dinâmica ao mesmo. É a origem para as diferentes maneiras de se

praticar determinada modalidade. A tática fornece o sentido ao jogo (MICHELINI,

2007).

Para Balzano (2014) a complexidade da tática induz os comportamentos e

interações dos jogadores, estabelece ligações com outras dimensões do jogo e

forma uma dinâmica coletiva. O pensamento tático é baseado na utilização dos

conhecimentos e experiências correspondentes, na capacidade de observação, na

captação e apreciação rápida da situação da disputa e na adoção da decisão

correta, levando em conta a percepção, a memória e a imaginação criativa.

(ANDRADE JUNIOR, 1999; GOMES; MACHADO, 2001, SANTOS FILHO, 1998).

De acordo com Araújo (2003, p. 91), “a ação tática faz parte do processo

comportamental de resolução de problemas num contexto de jogo”, permitindo

entender que o movimento não precede a uma atividade cognitiva, por ser, o próprio

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38

movimento, também uma atividade cognitiva. Para o autor citado, o jogador que age,

está simultaneamente à ação, decide, “sua trajetória é o seu raciocínio”.

De acordo com Souza e colaboradores (2000) citado por Guimarães (2011,

p.16) “o comportamento tático bem sucedido se dá quando o jogador,

conscientemente, usa seu conhecimento para tomar decisões que visam aproveitar

os deslizes de comportamento do adversário”.

A tática no futsal representa as tomadas de decisão amparadas em

conhecimentos pré-adquiridos, que buscam resolver situações-problemas que o

jogador encontra em uma cena de jogo. Conforme Passos, Batalau e Gonçalves (2006, p. 306), as teorias de processamento de informação indicam que “a ação

coordenada assenta numa relação entre estímulo-resposta, previamente definida e

armazenada em memória”, logo, “o treino deve assentar na construção de

representações mentais que sustentem a relação entre estímulo e resposta”.

No futsal existe uma riqueza de situações imprevistas que se apresentam na

dimensão tática, além de exigir dos praticantes adaptação e habilidade para realizar

uma boa escolha; o jogador deve saber o que fazer, para poder resolver o problema

subsequente, o como fazer, ao selecionar e utilizar a resposta motora mais

adequada (BALZANO, 2014; GRECO, 1998; REZER; SAAD, 2005).

Como todo esporte coletivo:

O futsal também deve coordenar seus esforços de ataque e defesa, criando uma linguagem comum para os membros da equipe se comunicar. A esse “esforço coletivo” denominamos a tática do jogo, isto é, a maneira de se jogar determinada partida, sua postura ofensiva e defensiva, qualquer tipo de coordenação entre os membros será a tática da equipe (MICHELINI, 2007, p. 25).

Segundo Bravo e Oliveira (2012) os princípios táticos gerais do jogo,

pensados e organizados para os esportes, só fazem sentido na medida em que se

busca o desequilíbrio de situações de igualdade, superioridade ou inferioridade

numérica, tendo como referências as relações espaciais e numéricas, relacionadas

aos jogadores de uma mesma equipe e/ou adversários, nos setores da disputa da

bola. Nesse sentido, os elementos básicos da tática no futsal citados por Voser e

Giusti (2002) são: conservar a posse da bola, passar e seguir, criar espaços para

receber a bola, observar antes de passar, movimentos de rodízio, criar linha de

passe, orientar-se no espaço, etc.

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39

As sucessões que se apresentam na realidade do jogo de futsal provocarão

cada jogador, com ou sem a bola, para que tome decisões em fluxo. Com isso, a

capacidade de tomar decisões adequadas deve ser estimulada desde cedo, logo

que, a atuação de um jogador está estritamente condicionada pelo modo como ele

entende o jogo.

Em consonância com o exposto:

[...] ao estar com a posse da bola, o atleta precisará “reconhecer os espaços” de jogo e as melhores trajetórias para o envio da mesma aos seus companheiros (sem a posse da bola) que precisarão “oferecer-se e orientar-se” em relação a este jogador com a posse de bola, criando importantes linhas de passe. Vale destacar que, apesar das inúmeras possibilidades de ação do jogador com bola, o comportamento técnico-tático dos jogadores mais frequente em uma partida é realizado principalmente sem a posse de bola (SANTANA, 2006). Esse último autor verificou que atletas que permaneceram cerca de 30 minutos no jogo (tempo total dentro da quadra), não chegaram a manter a posse da bola, somada todas as suas ações, por dois minutos (SILVA; GRECO, 2009, p. 298, grifos do autor).

Também Bayer (1992) e Santana (2008b) ponderam a importância de os

professores se dedicarem ao ensino do jogo sem a bola, já que um jogador passa

grande parte de tempo do jogo sem a bola, porém sendo importante para o contexto

coletivo de sua equipe. É durante uma movimentação de desmarcação que um

atacante gera alternativas para a sequência de uma jogada de tentativa de um gol;

sem isso o jogador de sua equipe de posse de bola limita-se a correr riscos em

passes “forçados” ou jogadas individuais.

É destacado por Santana (2008a, p.36) que “as atitudes reflexivas devem ser

provocadas sempre, tanto sobre as habilidades específicas (como se faz) quanto

sobre o raciocínio tático (motivo de se fazer) e, ainda, sobre as atitudes

sociomorais”. Ficando, assim, o jogador apto a agir a partir de informações que

ocorrem de forma complexa e imprevista.

O futsal atual, do ponto de vista tático-técnico:

Exige do jogador que movimente sem bola, que recepcione a bola em movimento (que “entre” na bola), que marque (antecipe-se, desarme, roube bolas e faça bloqueios), que passe com qualidade, que finalize com eficiência, que proteja a bola, e que, se possível, tenha o recurso do drible (que deve ser utilizado quando traduz uma vantagem para a equipe) (SANTANA, 2008a, p. 129).

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40

Ao destacar as ideias de autores que evidenciam a tática no futsal e nos

demais esportes coletivos, como componente essencial para conduzir as demais

para o desenvolvimento do jogo, entende-se que não haverá um modelo ideal de

movimento, mas modos de agir que revelam reações advindas das necessidades

ocorridas, em consonância com as informações acumuladas, em decorrência de

experiências anteriores.

2.3 A Técnica no Futsal

De acordo com Voser e Giusti (2002, p. 43) “define-se técnica como todo

gesto ou movimento realizado pelo atleta que lhe permita dar continuidade e

desenvolvimento ao jogo”. A técnica é descrita também como uma série infindável

de movimentos realizados durante uma partida, tendo como base os fundamentos

do jogo (VOSER, 1996). Pode-se definir a técnica esportiva como processos

desenvolvidos, geralmente pela prática, para resolver com economia de energia e de

forma racional um desafio motor determinado (GOMES; MACHADO, 2001).

Mutti (2003) entende que na execução da técnica, alguns aspectos

fundamentais devem ser obedecidos, além do que a eficiência estará relacionada

com o grau de automatização conseguido. Esses movimentos poderão ser bem

executados quando forem automatizados. O conjunto de fundamentos técnicos

significa base, alicerce, sustentáculo. Fica fácil entender, então, que, quando se

tenta ensinar um fundamento, tenta-se construir uma “base” para um aproveitamento

futuro ou imediato (BALZANO, 2012; GOMES; MACHADO, 2001; LUCENA, 1998).

A esse conjunto de técnicas, também, é atribuído o nome de fundamentos

técnicos, que são compostos por: domínio de bola, proteção de bola, condução de

bola, drible, passe, chute, controle de bola, marcação, desmarcação, antecipação,

técnicas específicas do goleiro (GOMES; MACHADO, 2001). Para Lucena (1998) as

técnicas individuais dos jogadores de linha são dividias em: condução e drible,

passe, finalização, domínio, cabeceio; já as técnicas individuais dos goleiros: defesa

alta, defesa baixa, arremesso e saída de gol.

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41

Segundo Voser e Giusti (2002) no futsal, as técnicas individuais resultam de

uma adaptação às nuances do jogo e do jogador. O padrão técnico de cada

indivíduo pode ser influenciado pelos componentes das capacidades e habilidades

motoras. A técnica consiste na execução individual dos fundamentos básicos do

futsal: passe, chute, recepção, condução, drible, arremesso, etc. (LOPES, 2004;

MUTTI, 2003; SANTANA, 2008b; SANTOS FILHO, 1998). Contudo, os fatores

determinantes da técnica são sempre ordenados por um contexto tático, pelo que a

identidade e a justeza das técnicas utilizadas decorre dessa tarefa (SAAD, 2002).

Embora a execução técnica dos fundamentos do futsal estejam descritas por

autores da literatura especializada, Greco (1998, p. 66) aponta que “nos esportes

coletivos, não é prioritária a execução do modelo ideal de uma técnica, o importante

é a adaptação tempo-espacial e situacional dessa técnica”.

Buscando ampliar o conceito da técnica é possível observar que:

[...] os gestos específicos de cada modalidade coletiva derivam da experiência do atleta no jogo. Experiência pautada sobre os princípios operacionais e sobre as regras de ação específicas de cada modalidade. Portanto os gestos específicos também são criados sobre os princípios operacionais e sobre as regras de ação, para se aprender uma nova modalidade, é necessário entender quais seriam as regras de ação (dinâmica) do novo esporte, e a partir desse ponto, desenvolver os gestos específicos necessários (MICHELINI, 2007, p. 53).

A técnica se apresenta por sequenciamento de ações, logo:

Se não fragmentarmos essas ações, perceberemos que elas acontecem quase que simultaneamente durante o jogo. Eu domino uma bola, na sequência poderei conduzi-la ou, na presença de um adversário, protegê-la; poderei também driblá-lo, na sequência chutar a gol, realizar um passe. Para tê-la novamente, terei que marcar o meu adversário ou, se a minha equipe estiver com posse de bola, desmarcar-me (SANTANA,1996, p. 101).

Ao buscar o desenvolvimento da aprendizagem técnica se deve aproximar o

como se faz do motivo de se fazer, ou seja, a técnica e a tática. Isso poderá

contribuir para a formação de um jogador inteligente (ANDRADE, 2010; SANTANA,

1996). Nesse contexto se insere o professor, este responsável por oportunizar

situações de experimentação variada de ações, que contribua para que o aprendiz

sinta-se estimulado a executá-las de forma espontânea e autônoma.

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42

Para Teodorescu (1984) citado por Navarro, Almeida e Santana (2015), as

constantes mudanças das situações durante o jogo denotam a perda da

invariabilidade dos procedimentos técnicos, logo, o ensino-aprendizagem da técnica

deve estar vinculado ao componente tático. Segundo Garganta (1998) é

imprescindível que gestos e intenções desenvolvam-se juntos, para estar aliado ao

motivo de fazer (tática), ao modo de fazer (técnica). Nesse sentido:

O que impulsionou a mudança paradigmática da abordagem da dimensão técnica no contexto de ensino-treino dos jogos esportivos coletivos foi o fato de esses esportes solicitarem do jogador uma “dupla tarefa, isto é, o progresso da aprendizagem traduz a capacidade do praticante repartir a atenção entre uma tarefa motora (drible) e uma tarefa cognitiva - analisar os deslocamentos dos

colegas na situação -” (MESQUITA, 2000 apud NAVARRO; ALMEIDA; SANTANA, 2015, p. 57).

E ainda:

Esse novo paradigma restabelece a dicotomia entre técnica e a tática e invoca uma relação de complementaridade entre ambas, possibilitando, pelo menos em teoria, a correção da distorção metodológica até então dominante na pedagogia dos jogos esportivos coletivos, em que se deveria primeiro aprender as habilidades para depois jogar, em vez de aprendê-las jogando, isto é, associadas às intenções dos jogadores, às dimensões eficácia e adaptação (GRAÇA, 1998 apud NAVARRO; ALMEIDA; SANTANA, 2015, p. 58).

A natureza do confronto, dita ao jogador, a maneira de realização necessária

à tentativa de resolução de situações-problemas ocorridas no jogo (GARGANTA,

1998). Esse contexto, que forma uma unidade, condiciona mutuamente técnica e

tática (HERNANDEZ MORENO, 1989 apud GARGANTA, 1998). Sendo assim:

[...] a técnica seria o “modo de fazer” e a tática, “as razões do fazer” e, obviamente, uma não existiria sem a outra. O que justifica o “fazer técnico” é sua utilidade e seu objetivo no curso de um jogo. Por outro lado, são as intenções individuais e coletivas que ocorrem durante o jogo que demandam certos procedimentos técnicos (DAOLIO, 2002, p. 100).

Com as contribuições atuais expostas pelos autores consultados nesse

estudo, entende-se como primordial a utilização técnica advinda de uma solicitação

tática, que desencadeia, instantaneamente, reações que visam solucionar desafios

provocados pelas ações características e de organização do futsal.

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43

3 O ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Podemos dizer que o esporte está culturalmente enraizado em nossa estrutura social, manifestando-se na mídia, nas escolas, nas escolinhas de iniciação, através de uma perspectiva formal ou informal, indo dos segmentos mais pobres aos mais abastados da sociedade contemporânea, marcando os comportamentos, linguagens e os interesses de muitas pessoas, independentemente de idade ou condição socioeconômica e cultural (REZER; SAAD, 2005, p. 21).

O esporte, como prática cultural, ocupa um lugar importante nas relações

sociais, resultante da evolução humana, que atua na sociedade, produzindo e

reproduzindo seus conceitos, valores, códigos, sentidos e significados (BETTI, 1992;

FINCK, 2011; NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012; REZER; SAAD, 2005).

Para Raschka e Costa (2011), os jogos com bola das civilizações mais

antigas deram origem aos esportes atuais. Seguindo uma tendência das sociedades

modernas industriais, tornou-se uma atividade profissional, o que antes era uma

atividade predominantemente lúdica.

Estudos de Castellani Filho (1988); Ghiraldelli (1988); Kunz (1991); Bracht

(1992); Neira e Nunes (2014), revelaram a supremacia de uma relação histórica, em

que o esporte de rendimento se estabeleceu no Brasil de forma hegemônica nos

últimos 60 anos e fez com que a Educação Física fosse comumente confundida

como atividade esportiva. Contudo, o esporte sendo um dos mais importantes

fenômenos socioculturais da nossa época, precisa ser abordado pedagogicamente

pela Educação Física (BETTI, 1992; COLETIVO DE AUTORES, 1992; FINCK, 2011;

NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012; PAES, 1996; VAGO, 1996).

Conforme Rezer e Saad (2005, p.29), “o esporte possui um corpo de

conhecimento incutido de vários saberes e, simplesmente, desprezar todo esse

conhecimento não deixa de ser uma forma de perpetuar a ignorância”.

Importantes estudos acerca do esporte como conteúdo da Educação Física

na escola, apresentados por Neira (2014); Grunennvaldt e Kunz (2013); Carlan

(2012); Moreira e Pereira (2012); Nista-Piccolo e Moreira (2012); Finck (2011); Sadi

(2010); Freire e Scaglia (2009); Bento (2003); Paes (1996); Kunz (1994;1991),

apontam para uma mudança de paradigma, em que o esporte, para além dos gestos

técnico-mecânicos, se apresenta como um conteúdo pedagógico, que pode ser

explorado para ampliar as possibilidades de atuação corporal e social dos sujeitos.

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44

Com isso:

Temos o privilégio do trabalho com o esporte, no conceito abrangente que defendemos, como um fenômeno considerado dos mais importantes da sociedade atual. Daí nossa ênfase em não abrir mão desse conhecimento que nos pertence, de formar profissionais e professores que expressem as diversas facetas do esporte e as

ensinem na escola para os alunos (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p.13).

Como conteúdo da Educação Física, o esporte desperta e atrai a atenção de

um grande número de alunos, que necessitam acessá-lo de forma desmistificada, “a

fim de que possam reconstruí-lo com base em seus interesses e de suas

necessidades” (FINCK, 2011, p. 115). Cabe ao professor auxiliar o aluno “a

compreender as inter-relações de suas diferentes manifestações: o esporte

performance ou de rendimento, o esporte educacional ou de educação, e o esporte

de participação ou de lazer” (FINCK, 2011, p. 99).

Nesse sentido:

O aluno geralmente tem como parâmetro de referência o esporte de rendimento, pois é esse que ele mais conhece e aprecia, principalmente por meio da televisão. Quando o esporte é abordado na escola, essa referência não é considerada. Seria necessário que o professor fizesse a mediação nesse processo, entre o esporte que o aluno assiste (rendimento) e o esporte que ele vivencia na escola (educacional), para que compreenda que é o mesmo esporte em relação ao conhecimento, apenas manifestado corporalmente de maneira diferente, pois os objetivos e praticantes também são

diferentes (FINCK, 2011, p. 94).

Na escola, o conhecimento desmistificado do esporte, deve promover, além

de outros fatores, a “compreensão de que a prática esportiva deve ter o significado

de valores e normas que assegurem o direito à prática do esporte” (COLETIVO DE

AUTORES, 1992, p. 71).

Comum, entre alguns autores, dentre eles, Neira e Nunes (2014); Carlan

(2012); Nista-Piccolo e Moreira (2012); Finck (2011); Kunz (2006); Navarro, Almeida

e Santana (2015); Brasil (1998) é a atribuição de valor ao esporte como um

integrador social, pois além dos aspectos motores, o mesmo favorece os aspectos

cognitivos e afetivos, o que facilita para o aluno na convivência e na incorporação de

valores éticos e morais.

Page 48: GIVANILDO FÁVERO

45

O esporte no ambiente escolar, quando praticado e estudado, auxilia o aluno

a agir de forma livre e autônoma, já que sua exploração conduz para a interação e a

comunicação (KUNZ, 1994). Nesse contexto, é possível que o aluno consiga alargar

sua visão para o fenômeno esportivo enquanto valor social (NISTA-PICCOLO;

MOREIRA, 2012).

Dessa forma:

O esporte, principalmente das modalidades coletivas, possibilita tanto a formação de novos grupos de relacionamento como ensina novas formas de se relacionar por meio de sua prática. Oferece também inúmeras situações para o desenvolvimento de competências necessárias a uma boa convivência em grupo, como a tolerância e a aceitação do outro, tanto naquilo que é melhor como também nas suas limitações (FINCK, 2011, p. 129).

Com esse desenvolvimento de competência para convivência em grupo,

encontra-se o aperfeiçoamento da humanidade, nesse contexto não basta que jogue

melhor, que execute com perfeição os gestos motores. É imprescindível a

incorporação da consciência ética, sem abandonar ou desprezar os aspectos tático-

técnicos (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012). Segundo Freire e Scaglia (2009, p. 6)

esse aperfeiçoamento da humanidade é imprescindível, já que “diante dos grandes

problemas mundiais, a escola passou a se preocupar com a formação de cidadãos

capazes de socializar seus conhecimentos em função dos interesses coletivos”.

Corroborando com essa concepção:

[...] o ensino do jogo e do esporte, como consequência de uma abordagem comprometida com a promoção do ser humano, passa a ser uma prerrogativa de questionamento para as práticas pedagógicas desenvolvidas nos contextos de ensino-aprendizagem, na perspectiva de realmente constituir um campo educacional vasto, amplo e extremamente comprometido como desenvolvimento dos homens (REZER; SAAD, 2005, p. 96).

Conforme Dieckert (1987) citado por Rezer e Saad (2005, p. 32), “não é o

esporte que faz o homem, mas sim o contrário, com o homem estabelecendo o que,

como, onde, quando, por quanto tempo, com quem, sob que regras, com que

objetivo e sob que condições se pratica este esporte, principalmente e

especialmente na escola”. Logo é necessário resgatar os valores que primam o

coletivo sobre o individual, evidenciem o “compromisso da solidariedade e respeito

Page 49: GIVANILDO FÁVERO

46

humano, a compreensão de que o jogo se faz ‘a dois’ e de que é diferente jogar

‘com’ o companheiro e jogar ‘contra’ o adversário” (COLETIVO DE AUTORES, 1992,

p. 71).

Tematizar o esporte nas aulas de Educação Física implica desenvolver

objetivos educacionais e encaminhar metodologicamente estratégias para priorizar

experiências de ensino-aprendizagem, que possibilitem a edificação da autonomia e

do convívio, de forma a facilitar a inclusão, respeitando a diversidade e a

participação (SANTANA, 1996). Para Freire (2006), uma pedagogia do esporte com

essa preocupação pode estimular a discussão e elaboração de novas regras, com

valiosa contribuição para o desenvolvimento social. O estímulo à criação de

soluções para situações desafiadoras é um componente para a compreensão das

ações a serem realizadas.

Bento (2003) também observou que o esporte, enquanto conhecimento a ser

desenvolvido, apreendido e reconstruído pelos alunos, precisa oportunizar situações

desafiadoras. Assim, contribuirá para avançarmos na direção da tão desejada

autonomia para a prática ou não do esporte, bem como a sua apreciação.

Contudo:

Belbenoit (1976), pedagogo francês, adverte que o esporte não é educativo por si só, pois o educador é quem vai fazer com que ele seja um objeto e um meio de educação. Ele ainda evidencia que a prática do esporte na escola não pode ter como objetivo principal formar atletas, sendo que esse pode ser, segundo o autor, um efeito secundário que não deve ser recusado. Porém, o objetivo maior do esporte deve continuar sendo a expansão a todos de suas inúmeras possibilidades de atividades formativas (FINCK, 2011, p. 87).

Essa preocupação também está evidenciada por Reverdito e Scaglia (2009),

que relatam a importância de se atribuir significado ao esporte, de maneira que ele

possa ter um propósito educacional. Isso se dá em diferentes abordagens,

contextualizando e confirmando-o como prática pedagógica.

Nesse sentido, é necessário o planejamento responsável da pedagogia do

esporte nas aulas de Educação Física. Atividades soltas, repetitivas,

descontextualizadas e sem acompanhamento do professor, deixam de proporcionar

conhecimento e, com isso, acabam sendo desmotivantes, por mais que os

envolvidos sejam apreciadores do esporte (KRAVCHYCHYN; OLIVEIRA;

CARDOSO, 2008). O esporte pode ser reformulado e ressignificado. “Isso implica

Page 50: GIVANILDO FÁVERO

47

dedicação de leitura, estudo e pesquisa por parte dos professores” (SADI, 2010, p.

22). Destaca Paes (1996, p. 15), que “o esporte é aquilo que fazemos dele. Na

escola, devemos tê-lo como um conteúdo de uma área do conhecimento e o seu

ensino deve ser proposto de forma organizada e planejada”.

Mutti (2003) discorre que o decurso de estabelecimento da aprendizagem se

torna mais eficaz quando se baseia em outra elaboração de elementos fixados, em

situações que demandem esforços, reflexão e adaptação a novos esquemas.

Em outro estudo, pode-se observar o posicionamento onde:

Ainda que se compartilhe a posição de que o desporto como conteúdo das aulas de Educação Física na escola deve ser praticado, analisado, criticado e modificado, para ser, de fato, um conteúdo escolar, e dada a sua magnitude e onipresença como fenômeno de legitimidade social jamais vista, não se deve incorrer em maniqueísmo de uma leitura demasiadamente engajada de dentro ou de uma leitura distanciada e crítica de fora (GRUNENNVALDT; KUNZ, 2013. p. 29).

Com essa argumentação, os autores citados, chamam a atenção para um

cuidado de não elevar o esporte a uma “fórmula mágica”, capaz de ser a solução a

todas as configurações que a Educação Física possa atender, como também, não

ser demasiadamente crítico, a ponto de “condenar” o esporte como o “vilão” que

“marginalizou” a Educação Física.

Como alerta Kunz (1994, p. 126):

[...] o esporte é uma das objetivações culturais expressas pelo movimento humano mais conhecidas e mais admiradas, até mesmo entre as mais diferentes manifestações culturais existentes, torna-se imperativo uma transformação didático-pedagógica para torná-lo uma realidade educacional potencializadora de uma educação crítico-emancipatória.

A preocupação de Kunz (1994) é que a escola, como espaço pedagógico,

necessita de um professor de Educação Física que conduza os alunos de forma

crítica, por meio da historicidade do seu conteúdo, para alcançar um entendimento

das encenações esportivas realizadas por eles, a fim de que se tornem autônomos

em suas ações e vivenciem uma didática comunicativa. “Não é tarefa da escola

treinar o aluno, mas ensinar-lhe o esporte, de forma atrativa, o que inclui a sua

efetivação prática” (KUNZ, 1994, p.126). No entendimento de Pereira e Moreira

Page 51: GIVANILDO FÁVERO

48

(2005) e Kunz (1994), só será viável o esporte enquanto objeto de ensino na

Educação Física se estabelecer como e com qual objetivo esse pode ser

desenvolvido, a partir dos conceitos de “corpo” e “movimento”.

Conforme Nista-Piccolo e Moreira (2012) é agradável, para o professor de

Educação Física, ter o privilégio de levar os alunos para um desvelar da

corporeidade, pelos erros e acertos, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, por meio

de atos educativos que oportunizam o trabalho em equipe, em que superação

individual e coletiva podem ocorrer permanentemente. As autorAs convidam à

reflexão:

Qual o conhecimento que temos sobre o/a rapaz/moça que pratica esporte em aula? Quantos de nós professores nos preocupamos com o ser humano que joga e procura, no ato de jogar, sua transcendência ou superação? Será que a soma do adestramento dos movimentos exigidos em um jogo possibilita o amplo

conhecimento do ato de jogar? (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p.40).

Essa preocupação também fora levantada e discutida quando da elaboração

da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), nele o esporte

e os outros conteúdos da cultura corporal tiveram a conotação de atividades

culturais de movimento voltadas para a vida, com fins de se buscar o lazer, a

expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção,

recuperação e manutenção da saúde.

Em uma publicação recente de Neira e Nunes (2014), o esporte, assim como

os outros elementos da cultura corporal, é entendido como uma prática multicultural,

que na aula de Educação Física precisa encontrar espaço para as representações

de grupos sociais diversos, que oportunizam o diálogo e a expressão daquilo que a

comunidade escolar vivencia.

Esgotar esta temática seria uma tarefa utópica e com certeza, existem outras

contribuições relevantes já publicadas na literatura especializada, contudo, ainda

suscitará inúmeras investigações, pois as influências e configurações sociais,

juntamente com a velocidade de informações, despertam o interesse em

compreender esse fenômeno.

Page 52: GIVANILDO FÁVERO

49

3.1 O Futsal na Escola

Pensamos que o Futsal, assim como outros conteúdos, deve ser tratado nas aulas de Educação Física escolar como um conhecimento. Diferindo da forma como tem sido tratado – como uma prática esportiva. Entendemos que, respeitadas as fases do sujeito, é possível proporcionar uma maneira metodológica instigante, em que, aluno e professor sejam sujeitos do processo, numa relação horizontal, e desta forma, ambos aprendam e apreendam mais e melhor (MATA, 2011, p. 15).

Infelizmente em muitas escolas, ainda hoje, é ensinado e jogado o futsal dos

clubes, com o pensamento voltado à performance competitiva, em que o sucesso da

vitória é o mais importante, longe dos objetivos da Educação Física e da expectativa

da maioria dos alunos. No entanto, o esporte pode ter uma função relevante no

processo ensino-aprendizagem, não só como conteúdo de Educação Física a ser

praticado em vivências corporais, mas também como conteúdo que faz parte da

cultura contemporânea (VOSER; GIUSTI, 2002). Para estes autores, o interesse dos

alunos por alguma modalidade, “possibilita o professor trabalhar conjuntamente os

aspectos técnico-táticos do jogo e as questões sociais, tais como o individualismo, a

cooperação, o espírito de grupo, o respeito, a lideranças, as críticas, a justiça, etc.” (VOSER; GIUSTI, 2002, p. 91).

Os mesmos autores lembram, ainda, que para jogar futsal na escola é

necessário adaptar-se aos elementos do futsal, bem como, familiarizar-se com eles,

visto que nele, componentes importantes precisam ser desenvolvidos, como: contato

com a bola, limites físicos do jogo (quadra) e as relações interpessoais. Sendo

assim, encontra-se a oportunidade para que os alunos sejam orientados a fazer das

aulas momentos de construção coletiva, valorização do ser humano, expressão de

condutas éticas e morais e o despertar da autonomia. Dialogando com esses ideais,

Santana (2008a, p. 29) afirma que “as aulas devem prever verbalizações, de modo

que se estimulem a troca de ideias, a expressão de sentimentos e as reflexões. Para

quem não sabe, aula é para o professor falar e ouvir”.

Segundo Telema (1986) citado por Voser e Giusti (2002) é preciso

conscientizar-se de que a atividade esportiva por si só não educa, seus resultados

educativos estão atrelados à situação, elaborada especialmente em virtude dos

aspectos de interação social e ao clima afetivo-emocional e motivacional existente,

Page 53: GIVANILDO FÁVERO

50

sendo vital a intervenção do professor para que esses diversos elementos sejam

trabalhados. Acompanhando este destaque, Santana (2008a) demonstra que a

reflexão, de caráter intelectual, conduz professor e aluno ao pensar, sobre o já feito

e o a fazer. Ainda Santana (1996, p. 17) discorre que “iniciação ao futsal deve ser,

em síntese, um ato político. A aula (ou o treino) em si é um lugar de troca, de

interação, de construção de ideias e valores. Não há por que ignorar isso!”

A aula de Educação Física se revela como um espaço singular onde:

[...] temos a grande chance de trabalhar o conteúdo “esporte” com todos os alunos, discutindo seu teor regimental, que se manifesta pelas regras oficiais, analisando suas possibilidades e identificando suas diferenças, elegendo alternativas de execução, para, então, do real ao possível, permitir a sua apropriação por parte dos alunos como fenômeno esportivo, mas também as suas transformações como fenômeno educativo (VOSER; GIUSTI, 2002, p. 94).

O compromisso pedagógico do professor que vislumbra o desenvolvimento do

aluno perpassa por estimular em suas aulas a sociabilização, a integração e a

autoestima, mantendo a motivação da turma e o interesse pelas atividades, estando

atento para transacioná-las. É necessário um clima onde os alunos possam

constatar segurança e que sejam incentivados a participar de todas as atividades. O

tempo e o espaço da aula de Educação Física devem estar livre de tensões,

facilitando assim a aprendizagem (VOSER, 1996).

Para Santana (2008a, p. 48), “em se tratando de pedagogia do esporte, a

função do professor é planejar diferentes tipos de jogos”, onde:

Ao meu ver, nas categorias, mirim, infantil e infanto-juvenil, dos 12 aos 17 anos, os professores deveriam preocupar-se mais com o desenvolvimento dos adolescentes, como aprendizes de um jogo difícil como é o futsal, e menos com o imediatismo de se procurar as vitórias de qualquer jeito; mais em construir um ambiente crítico e de tomada de consciência sobre o que se faz e menos com coerções e dogmatismos inúteis. Muita coisa está em “jogo”: a qualidade tática do que se faz, o aprimoramento técnico, a qualidade das relações intra e interpessoais (e outras coisas) (SANTANA, 2008a, p. 58).

A dúvida de como ensinar não possui uma resposta única, porém:

Ensinar para o jogo e através do jogo, inserindo o aluno/atleta desde os primeiros contatos com o Futsal nas suas especificidades,

Page 54: GIVANILDO FÁVERO

51

motivando-o a participar das atividades e sempre fazendo com que este construa um “saber jogar” pautado no entendimento de “por que, como, quando e onde” realizar determinada ação (SANTOS et al., 2016, p. 102).

Esses autores verificaram que por meio da utilização do processo de ensino-

aprendizagem em forma de jogo no futsal, elimina-se a problemática da dificuldade

da transposição do aprendizado, gerado por situações compartimentadas. Com esse

método, as inúmeras “faces” do esporte explorado podem ser desenvolvidas, já que

há sempre a bola, colegas de equipe e adversários, como numa partida real. Isso

mantém o estímulo e a motivação dos participantes e permite a busca de

envolvimento e entendimento do trabalho que está sendo realizado.

A educação a ser efetuada pelo professor, segundo Finger (1971) citado por

Voser e Giusti (2002, p. 24), “deverá obedecer uma pedagogia e uma metodologia

que, além de permitirem a solução e a previsão de situações decorrentes da

aprendizagem e da prática do jogo, respeitem os interesses da idade”. Nesse

sentido, Santana (2008a) observa que o adolescente é um sujeito que passa por

situações desconcertantes e com isso o professor precisará tratá-lo não como

criança e não como adulto, contudo, esse mesmo adolescente é capaz de assimilar

conteúdos e situações taticamente, porque lida com hipóteses, no plano das ideias.

Mutti (2003) entende que a aprendizagem permite adquirir uma nova postura ou

modificar uma postura anterior, em que na revisão da própria experiência, o aluno é

agente primordial. Saad (2002) lembra que um bom trabalho com metodologia

adequada para o ensino do futsal não deve abordar de forma segmentada a técnica

e a tática.

A escola é o local onde os professores atuam de acordo com sua visão de

homem, mundo e sociedade, portanto suas estratégias de ensino acabam refletindo

o que são suas concepções. Se o futsal como um esporte explorado constantemente

na escola é carente de trabalhos voltados ao desenvolvimento integral do aluno,

subentende-se que há muito ainda a ser pesquisado para que essa realidade ganhe

novos encaminhamentos.

Page 55: GIVANILDO FÁVERO

52

4 ABORDAGEM METODOLÓGICA

4.1 Tipo de pesquisa

A pesquisa realizada, qualitativa/descritiva, foi do tipo Estudo de Caso,

conforme Stake (2009, p. 18), aponta que uma “prática pedagógica ‘inovadora’,

‘diferenciada’ de um professor pode ser um caso/fenômeno, posto que o caso é algo

específico, complexo e em funcionamento”. Segue Stake (2009, p. 20) afirmando

que a investigação com Estudo de Caso “não é uma investigação por amostragem,

pois não se estuda um caso com o objetivo primário de entender outros casos”. Para

o autor, “espera-se que um Estudo de Caso consiga captar a complexidade de um

caso único ou fenômeno” (STAKE, 2009, p. 11). A primeira obrigação é compreender

esse caso específico, levando em conta que:

[...] o nosso tempo e ao acesso ao trabalho de campo são quase sempre limitados. Se pudermos, precisamos escolher casos de fácil acesso e que acolham a nossa investigação, talvez para os quais se possa identificar um informador futuro e com atores (as pessoas estudadas) dispostos a comentar sobre certos textos de rascunho

(STAKE, 2009, p. 20).

Para Gil (1991), a pesquisa descritiva tem como objetivo retratar as

características de uma determinada população e fenômeno, além de poder

estabelecer determinadas relações entre variáveis, por meio de técnicas

padronizadas de coleta de dados.

4.2 Amostra

A amostra foi composta inicialmente por 26 alunos, sendo 9 do sexo feminino

e 17 do sexo masculino, entre 15 e 16 anos de idade, todos de uma turma de

primeiro ano do ensino médio (1º E), período vespertino, da Escola Estadual Major

Otávio Pitaluga (EEMOP), de Rondonópolis, Mato Grosso, escolhida aleatoriamente.

Os educandos frequentam duas aulas conjugadas semanais de Educação Física,

nelas um dos conteúdos do planejamento desta disciplina é o esporte. A EEMOP é

Page 56: GIVANILDO FÁVERO

53

uma escola de ensino médio, localizada no centro da cidade e recebe estudantes de

variados bairros, com diferentes perfis culturais e socioeconômicos.

4.3 Processo investigativo

Depois da aprovação do Comitê Permanente de Ética em Pesquisa da

Universidade de Cuiabá, credenciada para avaliações de projetos de pesquisa da

Universidade Federal de Mato Grosso (Parecer n . 1.621.606/2016), foi feito o

contato com o diretor da Escola Estadual Major Otávio Pitaluga (EEMOP) e com o

professor de Educação Física de uma turma de primeiro ano do ensino médio

(período vespertino), para solicitar a autorização da pesquisa. Os alunos foram

esclarecidos sobre o objetivo da pesquisa e tomaram conhecimento do termo de

assentimento, que assinaram conjuntamente com seus pais/responsáveis.

Foram aplicados uma série de 15 JSTT para o ensino do futsal, escolhidos

aleatoriamente, utilizados por Ferretti (2009) e Andrade (2010), num período de 4

meses (11/03/2016 a 20/06/2016), durante 15 aulas de Educação Física5. Em cada

aula foi utilizado um JSTT diferente da aula anterior e a organização da aula

constava de: alongamento, explicação da dinâmica da aula (jogo a ser executado),

formação de grupos, execução do JSTT e conclusão em roda de conversa.

4.4 Coleta de dados: técnica e instrumentos

A coleta de dados deu-se a partir de matriz de observação (em anexo),

preenchida após o término de cada aula e entrevista semiestruturada, realizada ao

término da aplicação dos 15 JSTT. A elaboração da entrevista considerou a

problemática da pesquisa, o objetivo geral e objetivos específicos; uma entrevista

piloto contendo 10 questões foi aplicada à 5 alunos envolvidos na pesquisa,

analisada e, posteriormente, reformulada, que resultou em uma entrevista que

5 1 aula semanal cedida pelo professor da turma antes do período de greve (11/03/2016 a

30/05/2016); de 2 a 3 aulas semanais, em comum acordo com os alunos, durante o período de greve (31/05/2016 a 20/06/2016).

Page 57: GIVANILDO FÁVERO

54

continha 11 questões para que fosse dadas respostas subjetivas. As entrevistas

foram gravadas em aparelho celular (Motorola Moto E II), por meio de aplicativo de

captação de áudio (Áudio Recorder), posteriormente transcritas, lidas e assinadas

pelos sujeitos da pesquisa. Participaram da entrevista 15 alunos envolvidos no

estudo, pois com o período da greve da educação da rede estadual de Mato Grosso

(de 31/05/2016 a 08/08/2016), 11 alunos6 deixaram de frequentar as aulas da

pesquisa.

4.5 Interpretação dos dados

Para interpretação dos dados foi utilizada a metodologia análise de conteúdo

(BARDIN, 2009), composta por três momentos: a) pré-análise das respostas, b)

exploração do material e c) tratamento dos resultados, divididos em unidades de

significado. As respostas, expostas em quadros demonstrativos, foram organizadas

em unidades de significado e a frequência em que foram mencionadas, de acordo

com a ênfase dada pelo aluno em cada questão e considerando o objetivo da

investigação. Para cada questão da entrevista respondida pelos alunos foi elaborado

um quadro, que será interpretado por meio de um tensionamento entre as

informações coletadas e o suporte teórico desta pesquisa.

Também foram consideradas nas análises, as informações contidas nas

matrizes de observação (elaboradas pelo pesquisador), preenchidas em cada aula,

na tentativa de abordar circunstâncias específicas, constatadas pelo autor, que

possam complementar as indicações fornecidas nas entrevistas.

6 2 alunos viajaram durante o período de greve; 3 alunas disseram que continuariam e

desistiram sem justificar; 1 aluna engravidou; 1 aluna começou a trabalhar no período diurno; 1 aluna precisou ser a babá do irmão; 1 aluna foi transferida para a escola privada; 1 aluna fraturou o pé; 1 aluna desistiu e não foi localizada.

Page 58: GIVANILDO FÁVERO

55

5 ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS DADOS

Os dados obtidos foram apresentados de acordo com a sequência das

questões das entrevistas realizadas com os alunos envolvidos na pesquisa. As

unidades de significados representam os dados que se destacaram nas repostas

dos sujeitos. A frequência (f) representa o número de vezes que cada unidade de

significado foi apontada. A frequência total pode ser maior do que o número total de

participantes, uma vez que, cada uma das unidades pode ter sido citada por um ou

mais sujeitos.

Nas falas dos alunos, transcritas das entrevistas e expostas como evidências

à interpretação dos dados, são utilizados apenas o primeiro nome dos sujeitos

pesquisados. Algumas observações relevantes foram trazidas das matrizes de

observação, contidas em anexos desta pesquisa.

No quadro 3 são apresentadas as respostas da questão 1: “já conhecia ou

tinha tido contato anteriormente com os JSTT? Caso a resposta seja afirmativa:

onde?” Identifica-se que 13 alunos não conheciam os JSTT e apenas 2 tinham tido

contato com a metodologia vivenciada (1 em escola de outra cidade e 1 em

escolinha de futebol). Essa representação das respostas demonstra que, nas aulas

de Educação Física da cidade de Rondonópolis, os alunos pesquisados ainda não

tinham tido acesso a essa metodologia de ensino do futsal, revelando assim, uma

nova possibilidade de exploração corporal, que possa auxiliar a vivência dessa

modalidade, uma das mais praticadas na Educação Física escolar.

Unidades de Significado Frequência

Nenhum 13 Em escola de outra cidade 1

Em escolinha de futebol 1

Quadro III: Conhecimento/contato anterior com os JSTT.

Embora o uso dos JEC na Educação Física no Brasil, como metodologia de

compreensão tática das modalidades esportivas ensinadas nas escolas, ocorre há

mais de 3 décadas, conforme demonstrado por Paes (1996), percebe-se que pode

estar acontecendo, ainda em grande parte das escolas, uma configuração de ensino

fragmentado dos componentes que compõem o futsal. Para Graça (1998) citado por

Page 59: GIVANILDO FÁVERO

56

Navarro, Almeida e Santana (2015), pode estar ocorrendo uma distorção

metodológica, o que prejudicaria a intencionalidade do jogo. Conforme Fensterseifer

e González (2007, p. 36) “a EF se encontra - entre o não mais e o ainda não -. Entre

uma prática docente na qual não se acredita mais, e uma outra que ainda se têm

dificuldades de pensar e desenvolver”.

O quadro 4 revela as dificuldades apresentadas pela maioria dos alunos ao

vivenciar os JSTT durante as aulas de Educação Física, questão 2: “teve

dificuldades em vivenciar os JSTT durante as aulas? Caso a resposta seja

afirmativa: é possível mencioná-la?” Embora 4 alunos informassem que não tiveram

dificuldade nenhuma. Posicionamento e movimentação em quadra (f = 6), somados

ao jogar coletivamente (f = 6) foram apontados como as unidades que mais

ocorreram. As falas de alguns alunos sintetizam as dificuldades iniciais, vale

ressaltar – período de adaptação dos alunos aos JSTT-:

_ Sim. É que eu tinha dificuldade em executar uma boa movimentação na quadra, mas os JSTT me ajudaram a me movimentar melhor (Carlos).

_ Mais ou menos. Dificuldade em jogar em equipe e tocar a bola, eu gostava de jogar mais sozinho, sem tocar a bola, era fominha (Fabrício).

_ Sim. Eu era muito fominha e os jogos tiraram isso e também eu não me preocupava em como me posicionar na quadra antes desses jogos (Kaio).

_ No começo sim, mas depois fui me acostumando. Tinha dificuldade em me posicionar e movimentar na quadra (David).

Unidades de Significado Frequência

Posicionamento e movimentação em quadra 6

Jogar coletivamente 6 Nenhuma 4

Variedade dos jogos 2

Quadro IV: Dificuldades na participação dos JSTT.

Uma unidade de significado que desperta a atenção no quadro 4, variedade

dos jogos (f = 2), aliado às outras dificuldades expostas, evidencia que o ensino do

futsal nas aulas de Educação Física dessa turma, carecia de novidades e variações.

Esse quadro conduz para uma interpretação que, possivelmente, os alunos ao

jogarem futsal, antes da vivência dos JSTT, não eram expostos a desafios, não

Page 60: GIVANILDO FÁVERO

57

eram estimulados a entender a dinâmica do esporte e sua lógica interna, pois o

futsal é um esporte coletivo, onde companheiros de equipe buscam o mesmo

objetivo; onde existe movimentação constante e diversidade de situações (BAYER

1992; SANTANA, 2008a). Cabe aqui destacar os registros na matriz de observação

6 (em anexo), confirmando o exposto pelo quadro 4, onde, até a aula de número 6,

percebia-se a dificuldade dos alunos em realizar o jogo coletivo, em se comunicar,

em se posicionar e se movimentar na quadra.

No quadro 5, referente a questão 3: “considera que a aplicação dos JSTT foi

adequada como metodologia de ensino do futsal nas aulas de Educação Física?

Justifique sua resposta”; as respostas revelaram uma unanimidade em considerar

que a aplicação dos JSTT como vivência de uma metodologia de ensino nas aulas

de Educação Física foi adequada, enfatizando a importância da metodologia para o

aprendizado sobre tática e técnica (f = 10), com maior destaque para os aspectos

coletivos (f = 6). Outras 2 unidades observadas no quadro 5 dizem respeito ao

comportamento emocional (f = 1) e situações inovadoras causadas pelos JSTT (f =

1).

Unidades de Significado Frequência

Melhora dos aspectos tático-técnicos 10

Melhora do jogo coletivo 6

Contribuir para o controle emocional 1

Inovação nas aulas 1

Quadro V: Vivência dos JSTT como metodologia de ensino nas aulas de Ed. Física.

Os dados confirmam o que Bayer (1992) redigiu sobre a faceta do jogo

coletivo, o fascínio que este provoca, ao destacar as oportunidades de lidar com as

finalidades educativas, por meio da captação das sutilidades das condutas e gestos,

representados nos comportamentos resultantes de ações e emoções. Ressalta o

autor:

[...] pelas situações variadas que provocam e pela constante referência aos recursos individuais de inteligência tática que suscitam para realizar as adaptações necessárias, constituem uma atividade envolvente no plano educativo; solicitam as diversas camadas da estrutura íntima e profunda da personalidade, oferecendo múltiplas possibilidades de expressão e expansão (BAYER, 1992, p. 236).

Page 61: GIVANILDO FÁVERO

58

A ênfase das respostas de alguns alunos a esse respeito confirma a

viabilidade dos JSTT como metodologia de ensino:

_ Os jogos ajudaram a aprender o que é futsal, não só driblar, mas jogar em equipe e resolver problemas (Fabrício).

_ Através deles (JSTT), a gente aprendeu a se controlar para não ficar reclamando com os colegas, assim a gente pode render mais no jogo (Hebert).

_ A gente aprende o que o esporte quer nos mostrar, que jogar em grupo, se organizar na quadra e que a aula não precisa ser sempre do mesmo jeito (Kaio).

_ Nós aprendemos nas aulas que podemos aprender mais se participarmos e com os jogos a gente aprendeu sobre tática e técnica e que isso não é coisa só de atleta profissional (Victor).

No quadro 6, que faz alusão à questão 4: “os JSTT exigiram tomadas de

decisões individualizadas e coletivas? Quais delas ocorreram com maior ênfase?”;

novamente os sujeitos da pesquisa foram unânimes, em responder que as tomadas

de decisões coletivas foram as que mais ocorreram. Confirmando assim uma

característica dos sujeitos envolvidos na execução de jogos esportivos coletivos,

onde, “o indivíduo que joga é um indivíduo que decide: suas relações com o entorno

lhe concedem um papel privilegiado de estratégia” (Parlebas, 1998, p. 70).

Unidades de Significado Frequência

Exigiram tomadas de decisões 15

Decisões coletivas 15 Quadro VI: Exigência de tomadas de decisões durante os

JSTT. Em relação à tomada de decisões:

A realidade do jogo de Futsal exigirá que cada jogador, com posse de bola ou não, tome decisões a cada momento. Nesse sentido, a capacidade de tomar decisões acertadas deve ser estimulada desde cedo, visto que, a atuação de um jogador está fortemente condicionada pelo modo como ele percebe e compreende o jogo em si (SOUZA, 2002 apud SANTOS et al., 2013, p. 46).

Em consonância com o indicado pelo quadro anterior é possível resgatar que:

Há a corrente que tem procurado insistentemente ressaltar que o jogo se aprende jogando, baseando-se fundamentalmente no princípio da transferência de informações. Esta corrente estabelece que o aprendiz (aluno ou atleta) descubra, através de elaboração

Page 62: GIVANILDO FÁVERO

59

cognitiva de informações, os caminhos e opções para sua tomada de decisão, sempre em situações de jogo. Durante o jogo situações similares repetem-se várias vezes, exigindo do jogador enfrentar e ultrapassar cada situação que surja. A aquisição deste conhecimento ou o acúmulo destas experiências, sem sombra de dúvidas, são exigências primordiais para o êxito da concepção tática (SAAD, 2002, p. 02).

O registro das percepções na matriz de observação permite afirmar que, a

partir da aula nº 8, ocorreu um aumento da verbalização da tomada de decisões dos

alunos, uma vez que buscaram ajustes e adaptações às solicitações dos JSTT.

Certamente a tomada de decisões, proporcionada pelas situações dos JSTT, pode

contribuir para o processo de desenvolvimento da autonomia dos alunos. Como cita

Santana (2008a), a autonomia é o que garante a “sedução” proporcionada pelos

jogos, já que nela se revela a face menos previsível diante da mais previsível,

imposta por leis e princípios, “estampando”, assim, variedade e originalidade aos

acontecimentos. Seja ao jogar, ao tomar decisões, ao argumentar, ao ser autônomo,

aumenta-se a possibilidade de formação de um cidadão, de um novo mundo

(FREIRE; SCAGLIA, 2009).

O quadro 7, das informações captadas pela questão 5: “é possível identificar

se os JSTT ajudaram a melhorar as suas ações individuais e coletivas; e de outros

alunos da turma? Caso a resposta seja afirmativa: de que forma?”; representa a

contribuição dos JSTT para as ações individuais e coletivas dos alunos, ao longo da

realização da pesquisa. Todos responderam que os JSTT ajudaram a melhorar

ações individuais e coletivas, bem como, as dos outros alunos da turma. Destaque

para a mudança do jogo egoísta (com muitas tentativas de dribles), para o jogo

coletivo (com maior troca de passes) (f = 12), pela melhora dos aspectos táticos

(posicionamento e movimentação) (f = 8) e técnicos (passes, chutes) (f = 3), o que,

segundo alguns alunos, gerou mais organização e equilíbrio nos jogos.

Unidades de Significado Frequência

Aumento do jogo coletivo 12

Aspectos táticos 8

Aspectos técnicos 3 Quadro VII: Contribuição dos JSTT para as ações individuais e

coletivas. Conforme os relatos:

Page 63: GIVANILDO FÁVERO

60

_ Todos melhoram o toque de bola, chute a gol, posicionamento e

movimentação (Felipe).

_ Cada aluno no começo queria mostrar mais que o outro e com

esses jogos, todos jogam e participam (Yan).

_ A gente passou a jogar melhor porque tivemos que passar mais a

bola e assim o jogo fica mais em equipe, cada um ajuda o outro no

jogo (Cléverson).

_ Eu e outros colegas não praticávamos o jogo em equipe. Os jogos eram mais na correria, sem toque de bola. Agora os jogos têm mais toques e ficam mais disputados, assim, não fica saindo gols toda hora, tem mais organização (João).

É perceptível, na fala dos alunos, o valor que atribuem à contribuição

dos JSTT nas ações individuais e coletivas dos envolvidos. A partir da matriz

de observação da aula nº 7 é possível verificar um aumento do jogo coletivo.

Relatos ao final da aula nº 15 destacaram que: o jogo “obrigava” todos a procurar um

colega na quadra para passar a bola; a troca de passes fazia o jogo ficar mais

rápido; o posicionamento e a movimentação em quadra facilitavam a ação de quem

precisava passar a bola; os jogos ficaram mais equilibrados com a realização dos

JSTT.

Nota-se, portanto, com essa figuração, que a complexidade da tática induz os

comportamentos e interações dos jogadores e estabelece ligações com outras

dimensões do jogo e forma uma dinâmica coletiva (BALZANO 2014). Também

Michelini (2007), aponta como “esforço coletivo”, o que se denomina de tática - ou

seja, coordenação entre os membros da equipe - somados a ações e gestos

característicos do futsal (a técnica).

Ao visualizar o quadro 8, que contempla as repostas da questão 6: “as

exigências e restrições contidas nos JSTT representaram desafios ou problemáticas

para sua participação nas aulas? Caso a resposta seja afirmativa: como você reagiu

diante disso?”; é notável observar que jogar de forma coletiva (f = 7) representou o

maior desafio ou problemática aos alunos. Como já relatado anteriormente, em

depoimentos externalizados pelos alunos, havia um predomínio de uma forma de

jogar individualizada, egoísta, diferente da necessidade coletiva do futsal.

Classificado como um jogo esportivo coletivo de forte apelo à inteligência, o futsal é

uma modalidade de oposição/cooperação, no qual companheiros de equipe lutam

Page 64: GIVANILDO FÁVERO

61

para alcançar seus objetivos, ao mesmo tempo em que os adversários buscam

impedir que esses objetivos sejam alcançados (SANTANA, 2008a; SILVA; GRECO,

2009).

Unidades de Significado Frequência

Jogar de forma coletiva 7

Aumentar a concentração/raciocínio 4

Desejo de superação 3

Motivação 2

Autonomia 1

Quadro VIII: Reações frente aos desafios ou problemáticas dos JSTT.

Outro fator destacado nesse quadro refere-se à necessidade de

concentração/raciocínio (f = 4), exemplo:

_ Para jogar diferente do normal a gente tem que se concentrar mais para não querer errar e os jogos fizeram o jogo de grupo acontecer mais (César).

_ O jogo com uma regra diferente faz a gente pensar mais e tentar resolver o que o jogo obriga (David).

_ Os JSTT deixaram a gente ativos para ter ideias para jogar de acordo com que a regra do jogo pedia (Cléverson).

_ A gente tem o desafio e tem que pensar juntos como realizá-lo (Lucas).

Para Garganta (1998), o ensino dos esportes coletivos, por meio de jogos

com situações-problemas, que contenham as características fundamentais do jogo,

desperta o interesse dos praticantes; com isso, permitindo a continuidade de ações e

elevando as possibilidades de sua concentração. Os JEC permitem o aprimoramento

das sensações táticas, possibilitando “descobrir soluções aos problemas aparecidos

no jogo, ou de resolver estes problemas referindo-se aos conhecimentos táticos –

memória” (BAYER, 1992, p.233). Logo:

Este comportamento verifica-se no terreno quando o jogador se depara com situações reais de jogo, onde é “forçado” a recorrer a processos cognitivos de análise para posterior resposta. Este obriga a um reconhecimento constante, a antever situações de jogo para tirar conclusões na prática com o máximo de rapidez [...] (TEODORESCU, 1984 apud FERREIRA JUNIOR et al., 2010).

Page 65: GIVANILDO FÁVERO

62

Segundo Costenaro e Mendes (2009, p. 9), o futsal “tornou-se mais dinâmico,

exigindo uma melhor condição de seus praticantes, tanto no aspecto cognitivo, como

no psicológico e motor, para a resolução de problemas encontrados durante a realização do jogo”.

Ainda no quadro 8, as unidades de significado desejo: de superação (f = 3),

motivação (f = 2) e autonomia (f = 1), indicam possibilidades dos JSTT aplicados ao

futsal, de instigar os praticantes a adotar posturas ativas, que interagem diante dos

jogos e não apenas cumprem tarefas obrigatórias. Como afirmam Rezer e Saad

(2005, p. 31) “o comprometimento com o ensino dos esportes não pode ser reduzido

ao ensino de gestos técnicos estereotipados, mas sim estar comprometido com o desenvolvimento de relações humanas em prol da superação”. Também Santos e

colaboradores (2016) destacam que a utilização do ensino/treinamento em forma de

jogo, trabalhando as várias nuances do jogo, podem manter a motivação e a

disposição dos envolvidos. Nesse sentido, a expectativa para o protagonismo é

acentuada, pois “quem educa para a autonomia confia que seus educandos saberão

seguir pela vida, orientados por sua própria consciência autônoma” (FREIRE; SCAGLIA, 2009).

O quadro 9, referente aos dados expressos à partir da questão 7: “na sua

opinião, os JSTT tornaram as aulas mais atraentes? Justifique sua resposta”; expõe

os fatores de atração gerados pelos JSTT para as aulas de Educação Física,

ocorridas durante a pesquisa. Os 15 alunos responderam que os JSTT tornaram as

aulas mais atraentes. Essa indicação compactua com a contribuição de Finck (2011,

p. 97):

Considerando a natureza educacional do esporte, entendemos que ele deve adquirir a conotação do jogo nas aulas de Educação Física, com suas características lúdicas de prazer e modificação de regras. Porém, outras características relacionadas a um mínimo rendimento também devem ser consideradas, pois quando são ensinados os gestos técnicos e as regras e táticas, o esporte passa ser vivenciado mais próximo desse rendimento possível.

Mesmo não buscando rendimento de alto nível, há de se oportunizar e

estimular o rendimento possível e/ou a superação de um rendimento já alcançado.

Nas justificativas dadas pelos alunos da pesquisa, percebe-se que, por realizar

sempre jogos diferentes (f = 7), houve maior interesse nas aulas, facilitando o

aprendizado, como destacado nas falas dos mesmos:

Page 66: GIVANILDO FÁVERO

63

_ Os JSTT são melhores para se jogar, do que o jogo comum. E

também despertam o interesse em querer jogá-los (Carlos).

_ Os JSTT foram novidade e aí a gente ficou querendo conhecer e

jogar (César).

_ A gente queria aprender mais a cada aula que tinha um conteúdo novo (Cléverson).

_ A aula repetitiva é monótona, cansa a gente e a gente acaba enjoando. Com os JSTT a gente participa mais e melhora nossa aprendizagem (Hebert).

Essa unidade de significado referente à inovação também foi registrada na

matriz de observação da aula nº 8: constatação de que demonstravam curiosidade

em querer saber qual jogo seria aplicado na aula subsequente. Segundo Santana

(2008a) as situações novas podem contribuir para a construção do jogador

inteligente, sendo, assim, este precisará adaptar-se as novidades, imprevisíveis;

diferentemente do executor de tarefas pré-determinadas.

Unidades de Significado Frequência

Inovação 7

Aquisição de conhecimentos 3

Democratização da aula 1

Equilíbrio nos jogos 1

Desafio a ser superado 1

Jogo coletivo 1

Motivação 1

Quadro IX: Os JSTT como fator de atração das aulas.

A unidade de significado, aquisição de conhecimentos (f = 3), possibilita

afirmar que os JSTT cumpriram o objetivo de ser uma metodologia de ensino do

futsal. Nesse sentido:

Pensamos que o Futsal, assim como outros conteúdos, deve ser tratado nas aulas de Educação Física escolar como um conhecimento. Diferindo da forma como tem sido tratado – como uma prática esportiva. Entendemos que, respeitadas as fases do sujeito, é possível proporcionar uma maneira metodológica instigante, em que, aluno e professor sejam sujeitos do processo, numa relação horizontal, e desta forma, ambos aprendam e apreendam mais e melhor (MATA, 2011, p. 15).

De acordo com Santos e colaboradores (2016), desde os primeiros contatos

com o futsal, deve-se ensinar para o jogo e por meio do jogo, na busca de um “saber

Page 67: GIVANILDO FÁVERO

64

jogar” pautado no entendimento de “por que, como, quando e onde” realizar

determinada ação. Como lembra Paes (1996, p. 15), “o esporte é aquilo que

fazemos dele. Na escola, devemos tê-lo como um conteúdo de uma área do

conhecimento e o seu ensino deve ser proposto de forma organizada e planejada”.

No entendimento de Kunz (1994, p. 126), “não é tarefa da escola treinar o aluno,

mas ensinar-lhe o esporte, de forma atrativa, o que inclui a sua efetivação prática”.

Como um conhecimento cultural, o esporte precisa ser tratado pedagogicamente,

sendo contextualizado e abordado de maneira atrativa, fazendo com que o aluno

possa diferenciar o espaço da escola, em relação a outros onde ele se depara com o

esporte (REZER; SAAD; 2005; FINCK, 2011; CARLAN, 2012).

O fato de as unidades de significados: democratização da aula (f = 1) e

equilíbrio nos jogos (f = 1) terem sido mencionados, tendem a revelar um

componente interessante estimulado pelos JSTT – oportunidade a todos. No registro

da matriz de observação da aula nº 11 encontra-se alguns relatos reveladores em

que os alunos consideram que a metodologia aplicada tem favorecido a participação

de todos nos jogos, independentemente do nível de habilidade, e no que tange ao

equilíbrio nos jogos, demonstram que há um aprimoramento técnico e tático dos

envolvidos.

Desafio a ser superado (f = 1), jogo coletivo (f = 1) e motivação (f = 1), são

unidades recorrentes, anteriormente já abordadas no quadro 7, reforçando

características que os JSTT estimulam e que fazem com que a participação dos

alunos seja ativa. Com isso, são solicitadas dos participantes, “a partir de situações

vividas, a iniciativa, a imaginação e a reflexão pessoal para favorecer a aquisição de

um saber adaptado” (SAAD, 2002, p. 28-29).

Ao interpretar o quadro 10, com evidências reveladas pela questão 8: “você

considera que a comunicação com os seus companheiros de turma facilita a

desenvoltura como jogador de futsal, no sentido de prever e melhorar a visão

panorâmica do jogo?”; entende-se que a comunicação com os companheiros facilita

a desenvoltura como jogador de futsal, no sentido de entender a lógica interna do

jogo; que as unidades de significado: ajuda recíproca (f = 9) e melhora da orientação

espacial (f = 7) favorecem, principalmente, os aspectos tático-técnicos.

Page 68: GIVANILDO FÁVERO

65

Unidades de Significado Frequência

Ajuda recíproca 9

Melhora da orientação espacial 7

Quadro X: A comunicação como facilitador da atuação no futsal.

Na análise dos registros da primeira matriz de observação da pesquisa, é

demonstrado um contraste das informações do quadro anterior. Na primeira aula a

interação e a comunicação dos alunos pouco ocorreram. Na matriz da aula nº 6 a

comunicação entre os participantes acontece no sentido de reclamar um do outro e

não de orientação e busca de soluções para as problemáticas surgidas. Contudo, na

matriz de observação da aula nº 7, uma curiosidade observada nesta aula, foi o

aumento da comunicação entre os alunos, buscando encontrar soluções para o

desafio proposto pelo jogo. Corroborando com esses registros, apresentam-se os

depoimentos:

_ Porque muitas vezes a pessoa não percebe o posicionamento do outro na quadra, não vê que o outro está livre. E também a gente tem que prestar mais atenção no que os outros estão falando para a gente (Hebert).

_ Quando a gente se comunica, a gente corre até menos, porque um vai avisando o outro para trocar de marcação, ou para tocar a bola para quem está livre (Kaio).

_ Para jogar em equipe a gente precisa conversar mais e orientar os colegas e também ser orientado por eles, para melhorar nosso posicionamento no jogo (Yan).

_ A gente quando conversa mais no jogo, ajuda um companheiro e também é ajudado pelos outros (David).

Conforme Santana, Ribeiro e França (2016), a comunicação motora, aliada a

outros elementos, compõem os aspectos da lógica interna do futsal. Logo, se

ressalta que:

Além disso, acredita-se que o ensino dos Jogos Esportivos Coletivos não deveria, sob pretexto algum, circunscrever-se à transmissão de repertório alargado de ações técnicas e nem à solicitação de capacidades condicionais, mas de desenvolver nos praticantes disponibilidades motora e mental, que transcenda largamente a simples automatização de gestos e se centre na assimilação de regras de ação e princípios de gestão de espaço de jogo, bem como de formas de comunicação e contra-comunicação entre jogadores (RINK; FRENCH; TJEERDMA, 1996 apud SAAD, 2002, p. 32).

Page 69: GIVANILDO FÁVERO

66

Imbuídos dessa visão, então no futsal é fundamental que se jogue

coletivamente:

Essa capacidade depende de uma predisposição à cooperação entre os jogadores de uma mesma equipe, e acrescentamos uma predisposição a jogar com o adversário, e não contra, um senso de coletividade, permitindo constante comunicação (verbal e não verbal), assim como conhecer princípios táticos básicos que permite cooperar em virtude de um objetivo comum (MÜLLER et al. 1996 apud REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p. 188).

De acordo com Voser e Giusti (2002) para jogar futsal na escola é necessário

adaptar-se e a se familiarizar aos seus elementos, onde componentes importantes

precisam ser desenvolvidos, como as relações interpessoais; oportunidade para que

os alunos sejam orientados a fazer das aulas momentos de construção coletiva.

Santana (2008a, p. 29) enfatiza que “as aulas devem prever verbalizações, de modo

que se estimulem a troca de ideias, a expressão de sentimentos e as reflexões”.

O quadro 11 apresenta a interferência dos JSTT na compreensão e atuação

no futsal, expressa pelos relatos informados à questão 9: “as situações vividas

durante os JSTT interferiram na sua maneira de compreender o futsal e atuar nesse

esporte?” Justifique sua resposta. As respostas mencionam a importância do jogo

coletivo (f = 10); melhora no posicionamento e movimentação (f = 7); aquisição de

conhecimento de regras (f = 1); e valorização da comunicação (f = 1).

Unidades de Significado Frequência

Importância do jogo coletivo no futsal 10

Melhora no posicionamento e movimentação 7

Aquisição de conhecimento de regras 1

Valorização da comunicação 1

Quadro XI: Interferência dos JSTT na compreensão e atuação no futsal.

As indicações das unidades fornecidas pelos participantes da pesquisa,

conduzem à evidência que os JSTT favoreceram a compreensão do futsal e a

maneira de atuar nesse esporte. Assim, existe uma predisposição para a

assimilação, onde “no futsal, os espaços são explorados e acontece uma relação

constante entre os jogadores de ataque (com bola) e os jogadores de defesa (sem

bola). A cada finalização de ataque começa um novo ciclo de ataque e defesa”

(BALZANO, 2014, p. 21). Com isso, espera-se que os alunos, demonstrem ao jogar,

Page 70: GIVANILDO FÁVERO

67

movimentação com e sem bola, atuação na defesa e no ataque, trocas de passes,

entre outros elementos, na tentativa de um jogo coletivo que traduza vantagem para

sua equipe (SANTANA, 2008a; SILVA; GRECO, 2009).

No tocante à aquisição de conhecimento de regras (f = 1), já fora descrito por

Balzano (2012), que uma metodologia de ensino pautada em JEC, permite que o

aluno pratique o esporte e assimile seus princípios e relações, como no caso, regras.

No caso dos JSTT, tanto o ensino das regras fora trabalhado, como também, à

modificação delas, sendo que cada JSTT possui uma organização, onde por vezes,

não obedecem as regras oficiais da modalidade.

Quanto à valorização da comunicação (f = 1), outrora já mencionada e

analisada no quadro 10, vale ressaltar a seguinte resposta:

_ Eu compreendi que eu jogava muito individual, não tocava a bola, posicionava mal e depois eu aprendi a tocar a bola e a comunicar com os colegas (Victor).

Conforme discorreu Kunz (1994), a comunicação é uma das capacidades que

se destaca no esporte, sendo que a linguagem auxilia o aluno a ler, interpretar e

criticar esse fenômeno sociocultural.

No quadro 12 são reveladas as percepções dos alunos em relação à

presença de alunas e alunos em aulas mistas por intermédio da questão 10: “Que

avaliação você faz das aulas realizadas, com a presença de alunos e alunas na

mesma turma? Justifique sua resposta.” As respostas apontam que os alunos

tiveram um período de adaptação e adequação ao ritmo de jogo das alunas (f = 5);

reconhecimento dos alunos quanto à evolução das alunas (f = 5); respeito dos

alunos diante das particularidades das alunas (f = 5); precaução dos alunos para

evitar acidentes (f = 4); e redução da violência do jogo (f = 1).

Unidades de Significado Frequência

Adaptação e adequação ao ritmo de jogo das 5

alunas

Evolução das alunas por meio de oportunidades de 5

participação nas jogadas

Respeito às particularidades das alunas 5

Precaução em relação aos acidentes 4

Redução da violência do jogo 1

Page 71: GIVANILDO FÁVERO

68

Quadro XII: Percepção dos alunos em relação à presença de alunas e alunos

em aulas mistas.

Pelas informações obtidas, constata-se que os alunos conseguiram

demonstrar, com o desenvolvimento da pesquisa, postura de respeito às

individualidades das alunas. Com isso, proporcionaram uma maior participação das

mesmas nas jogadas coletivas e contribuíram para a evolução do jogo delas.

Contudo, no início da pesquisa aconteceu um estranhamento de alguns alunos em

relação à participação das alunas em jogos mistos. O registro da matriz de

observação nº 1 indicou a fala de um dos alunos que argumentava que seu time

havia ficado “mais fraco” por ter uma aluna a mais que as outras equipes. Nas

respostas das entrevistas tal ênfase ficou evidenciada:

_ No começo foi difícil, porque a gente achava que elas tinham que jogar só entre elas. Aí com a pesquisa, conforme as aulas iam acontecendo, a gente percebia que dava para jogar juntos (Hebert).

_ No começo não gostei, porque as meninas jogam mais devagar e perdem mais a bola, mas depois entendi que a gente não tinha que jogar só para ganhar e se a gente tocasse mais a bola para elas, elas também poderiam aprender e jogar melhor (Fabrício).

Em pesquisa realizada por Costenaro e Mendes (2009)¸ utilizando método

situacional, nas aulas de Educação Física, na faixa etária de 14 e 15 anos, turma

mista, na modalidade de futsal, também foi observada a resistência inicial dos

alunos quanto à metodologia utilizada e a presença de alunas, sendo depois

contornada, possibilitando uma participação satisfatória das mesmas na turma. Fato

que também fora encontrado ao longo desta pesquisa, como está destacado na

matriz de observação nº 9: a interação entre os alunos e alunas tem superado a

rejeição, que no início da pesquisa existia por parte alunos em relação às alunas;

bem como em respostas das entrevistas:

_ No começo foi meio difícil jogar com as meninas porque elas não conseguiam acompanhar as jogadas, mas depois a gente procurou entrosar elas no jogo, passando a bola e ajudando elas jogar (César).

_ O jogo com as meninas fica mais devagar no começo, mas depois a gente se acostuma e elas também participam mais (David).

_ No começo a gente ficava com medo de machucar as meninas, mas com o passar das aulas a gente foi se acostumando e não ouve problemas na participação delas com a gente (Jhonatas).

Page 72: GIVANILDO FÁVERO

69

_ As meninas jogavam diferente, acho que é porque elas quase não jogam bola, mas as aulas que elas participaram elas conseguiram aprender também e a gente aprendeu a respeitar o jeito delas jogar (João).

Como ainda existe em algumas escolas o paradigma da divisão de gênero

nas aulas de Educação Física, experiências que eliminem essa divisão são

necessárias, sendo que:

Nas aulas de Educação Física, o Futsal, como outro esporte, deve ser planejado para atender os anseios dos alunos, pois, encontramos, na maioria das vezes, turmas mistas e com grande quantidade de alunos. Há alunos que gostam de fazer as aulas, e alunos que não querem fazê-las (ANDRADE JUNIOR, 1999, p. 32).

A orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais aponta a organização

das aulas de Educação Física por meio de turmas mistas, buscando:

[...] dar oportunidade para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram-se e possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não reproduzir, de forma estereotipada, relações sociais autoritárias (BRASIL, 1998, p. 42).

Com a realização dos JSTT em turma mista, em 9 aulas das 15 realizadas na

pesquisa, percebeu-se quão significativo pode ter sido a experiência dessa situação

para alguns alunos:

_ Quem joga melhor tem que ajudar os que não jogam bem ainda, tanto faz se é menino ou menina (Lucas).

_ Com as alunas a gente não podia chegar forte, mas todos tinham que jogar e a gente acostumou com o jeito delas (Yan).

_ Eu achei meio estranho no começo, mas se a gente respeitar o jeito de jogar delas a gente consegue jogar junto (Victor).

_ Jogar meninos e meninas juntos é a mesma coisa, todos aprendem e se ajudam e o jogo fica menos violento (Felipe).

O último quadro sintetiza a apreensão dos alunos, expressa em unidades de

significado extraídas da questão 11: “os JSTT ajudaram a aula de Educação Física

produzir ou transmitir conhecimentos referentes a essa disciplina? Caso a resposta

seja afirmativa: como utilizar esses conhecimentos para além das aulas de

Page 73: GIVANILDO FÁVERO

70

Educação Física?”; apontando os JSTT como ações contribuidoras da produção de

conhecimento na Educação Física e sua utilização social, sendo que 100% dos

alunos entendem que os JSTT ajudaram a aula de Educação Física produzir ou

transmitir conhecimentos referentes a esta disciplina.

Unidades de Significado Frequência

Trabalho em grupo/equipe 10

Respeito ao outro 6

Aceitação à inovação para a aprendizagem 3

Jogo com melhor nível em outros locais 2

Transferência do conhecimento para outros 2

esportes

Amizade entre os participantes 1

Paciência para tomadas de decisões 1

Persistência frente aos desafios 1 Quadro XIII: Os JSTT como contribuintes da produção de conhecimento

na Educação Física e sua utilização social.

As unidades de significado que mais aparecem, demonstram o trabalho em

equipe/grupo (f = 10) e o respeito ao outro (f = 6), seguidas de aceitação à inovação

para a aprendizagem (f = 3), jogo com melhor nível em outros locais (f = 2),

transferência do conhecimento para outros esportes (f = 2), amizade entre os

participantes (f = 1), paciência para tomadas de decisões (f = 1) e persistência frente

aos desafios (f = 1).

Para que seja transmitida com exatidão a contribuição mencionada pelos

alunos entrevistados, seguem todos os relatos que geraram as unidades do quadro

12:

_ A gente pode organizar esses jogos em outros esportes também e a Educação Física com esses jogos ensinou que sempre temos alguma coisa diferente para fazer, dá para aproveitar as ideias do grupo para fazer dar certo o que se quer fazer (Carlos).

_ Quando eu for jogar em outros lugares vou poder jogar melhor e também saber que mesmo com alguma forma diferente de aprender um conteúdo, a gente é capaz de conseguir aprender (César).

_ Respeitar o jeito de aprender de cada um e não desistir de tentar vencer as situações (Cléverson).

_ Onde eu for jogar, eu vou utilizar o que eu aprendi e tentar repassar para os outros, como jogar em equipe, respeitar o jogo de cada um, criar maneiras diferentes de jogar um jogo com mudança de regras (David).

Page 74: GIVANILDO FÁVERO

71

_ O trabalho foi muito bem feito, nos dedicamos a aprender a jogar o futsal em equipe e isso ajuda a gente em tudo. Quando a gente faz as coisas em grupo fica mais fácil dar certo (Fabrício).

_ Em momentos de lazer fora da escola e em atividades que tenham que ser feita em grupo (Felipe).

_ A gente pensava que a Educação Física era uma disciplina só de diversão, agora dá para entender que ela tem também um conteúdo para ser aprendido. O que a gente aprendeu na Educação Física completa os conteúdos e ajudam ter mais calma para resolver as coisas (Hebert).

_ A gente tem outras oportunidades fora da escola e lá nós podemos usar o que aprendemos. Com a pesquisa, nós aprendemos a ter mais disciplina e valorizar os conteúdos da Educação Física (Jhonatas).

_ A comunicação e o respeito entre os alunos é o que facilita as coisas para que a gente aprenda mais, assim a gente pode usar isso também nas outras aulas e onde a gente faz esportes fora da escola (João).

_ A gente aprendeu a fazer coisas em grupo, um aproveitando as ideias dos outros e respeitando um ao outro (Kaio).

_ As aulas geraram bastante comunicação e interação, com isso a gente aprendeu bastante. Depois desses jogos a gente conseguiu ser dinâmico e participar mais, com isso a gente pode usar o que aprendeu em qualquer outro lugar, participando em grupo para que um ajude o outro (Victor).

_ A importância da participação nas aulas, a união para cumprir as tarefas, a comunicação e a amizade também; são aprendizados que podemos aplicar em outros locais (Vitor).

_ Quando a gente ajuda um colega ele aprende mais rápido e aí fica melhor o jogo. Isso pode ser feito também em outros lugares (Vitor).

_ Acho que o respeito e a ajuda aos outros são coisas importantes, que dá para a gente utilizar sempre (Wayton).

_ O que a gente aprendeu de técnica e tática a gente pode usar quando jogar fora da escola e também como a gente sempre fez os jogos aqui em equipe; isso é aprendizado para a gente usar outras vezes (Yan).

Há elementos apontados pelos alunos (Hebert e Jhonatas) que corroboram

com o que Carlan (2012) descreveu em sua pesquisa, ao identificar que o esporte

como um saber universal foi transformado em um saber escolar, ao sair do viés

instrumental para ter um tratamento cultural. Também são relatadas as condutas de

ação: norma, finalidade utilitária e sensação de prazer (LOVISOLO, 1995), diante do

conteúdo esporte, ao ser destacado pelos alunos na realização dos JSTT: uma

Page 75: GIVANILDO FÁVERO

72

organização de atividades desafiadoras (sem coerção); objetivos definidos a serem

alcançados; resultados satisfatórios e agradáveis.

Os dados contidos na pesquisa evidenciam que:

O esporte, principalmente das modalidades coletivas, possibilita tanto a formação de novos grupos de relacionamento como ensina novas formas de se relacionar por meio de sua prática. Oferece também inúmeras situações para o desenvolvimento de competências necessárias a uma boa convivência em grupo, como a tolerância e a aceitação do outro, tanto naquilo que é melhor como também nas suas limitações (FINCK, 2011, p. 129).

Conforme descrevem Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 13):

Temos o privilégio do trabalho com o esporte, no conceito abrangente que defendemos, como um fenômeno considerado dos mais importantes da sociedade atual. Daí nossa ênfase em não abrir mão desse conhecimento que nos pertence [...].

Como descrito por Costenaro e Mendes (2009, p. 13):

Na faixa-etária entre 14 e 15 anos, os alunos, quando da aplicação do Futsal, julgam-se já os detentores do saber, porém as atividades propostas, apesar de não serem executadas durante um período prolongado, como se acredita para sua eficácia, oportunizaram a verificação do envolvimento da turma, e uma forma de melhor conhecimento técnico – tático do jogo.

Ao resgatar a contribuição de Santana (1996), é pertinente frisar que a

tematização do esporte nas aulas de Educação Física implica em buscar

desenvolver objetivos educacionais e encaminhar metodologicamente estratégias

para priorizar experiências de ensino-aprendizagem, que possibilitem a edificação da

autonomia e do convívio, de modo a facilitar a inclusão, respeitando a diversidade e

a participação.

Embora a colaboração dos JSTT vivenciados na pesquisa ter ficado evidente,

sua utilização, por si só, não é garantia de assimilação de conceitos a ser utilizados

em outras conjunturas. Para Freire e Scaglia (2009, p. 54-55), “o caminho para

transformar técnicas e práticas momentâneas em tomadas de consciência, em

conceitos e reflexões, depende das realizações metodológicas que, ainda hoje, são

um desafio para o educador”.

Page 76: GIVANILDO FÁVERO

73

Contudo, após essa sequência de apresentação e discussão dos dados, nota-

se que os JSTT influenciaram positivamente no aprendizado dos alunos do ensino

médio da EEMOP, como demonstrado nas informações dos quadros 2, 3, 5, 6, 8, 9 e

11; existiu trabalho coletivo frequente, por parte dos alunos, para o enfrentamento de

situações-problemas apresentadas pelos JSTT, de acordo com as informações dos

quadros 5, 6, 8, 9 e 11; os JSTT contribuíram para a tomada de decisões, conforme

relatos expostos nos quadros 4, 6 e 8; os JSTT promoveram motivação e interesse

pelo esporte educacional, elementos apontados nos quadros 6 e 7; ocorreu

desenvoltura e aceitabilidade dos alunos em participar de aulas com a presença de

alunas, tendo em vista a coletânea de respostas do quadro 10.

Page 77: GIVANILDO FÁVERO

74

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após apresentadas as etapas de investigação a que foi proposta esta

pesquisa, tendo em vista os dados das entrevistas e das matrizes de observação,

que se juntaram ao quadro figuracional apontado por referenciais teóricos, outrora

expostos nos capítulos 1, 2 e 3; é possível expor, não como verdades absolutas,

porém enquanto interpretação das informações da realidade vivida e observada, que

os JSST praticados em ambiente pedagógico do componente curricular Educação

Física, revelaram-se uma metodologia ativa e capaz de oportunizar a participação de

todos os alunos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, permitindo o

protagonismo tão requisitado pela educação do ensino médio.

Os JSTT aplicados ao futsal, como opção de substituir os chamados métodos

tradicionais (baseados na repetição e memorização de técnicas e táticas),

revelaram-se potencialmente aceitos nas aulas de Educação Física para o ensino do

futsal.

Diante das considerações mencionadas, ratifica-se que os objetivos

elaborados nessa pesquisa foram atingidos, sendo que os JSTT influenciaram

positivamente no aprendizado dos alunos do ensino médio da EEMOP; existiu

trabalho coletivo frequente para o enfrentamento de situações-problemas

apresentadas pelos JSTT; os JSTT contribuíram para a tomada de decisões; os

JSTT promoveram motivação e interesse pelo esporte educacional; ocorreram

desenvoltura e aceitabilidade dos alunos ao participarem de aulas com a presença

de alunas.

Há indícios de que os alunos envolvidos nessa pesquisa, por alguns instantes

de suas vidas, vivenciaram uma face bonita do esporte, como apontou Maheu (1982,

p. 13), “acima de tudo, o desporto é um fator de equilíbrio no desenvolvimento geral

da pessoa. Equilíbrio entre o espírito e o corpo, entre a efetividade e a energia, entre

o indivíduo e o grupo”.

Decorrente da finalização desta propositura espera-se contribuir para a

elaboração de planejamento e ações subsequentes, que poderão servir de

referências de reflexão para os envolvidos no processo educacional da EEMOP e de

outros professores de Educação Física interessados na temática.

Page 78: GIVANILDO FÁVERO

75

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Page 85: GIVANILDO FÁVERO

82

ANEXOS

Page 86: GIVANILDO FÁVERO

83

ANEXO I

Matrizes de Observação

Data 11/03/2016 Aula n. 01

Jogo Saída de bola rasteira a partir do arremesso de meta (FERRETTI, 2009).

Melhorar o posicionamento e a movimentação para o início das Objetivos jogadas a partir da saída do arremesso de meta.

Evitar o excesso de jogadas de bola pelo alto.

Em toda a reposição da bola por arremesso de meta, o goleiro

Descrição deverá arremessá-la rasteira, de modo que não haja uma ligação direta entre o goleiro e algum de seus companheiros de equipe

por bola alta.

Momentos Alongamento / explicação da dinâmica da aula / formação de

da aula grupos / execução do JSTT / conclusão em roda de conversa.

Participantes 22.

Não houve dificuldade para a execução do JSTT, notou-se a dificuldade em desenvolver um jogo coletivo, em que a interação e a comunicação dos alunos pouco ocorreram. Uma fala alarmante de um aluno gerou uma reflexão e um breve debate:

Observações “professor nosso time ficou mais fraco porque tinha mais

Reflexões meninas que os demais”. A observação, registrada pela

filmagem, indica que a participação das meninas nas ações de pós-aula jogo, foi inferior à dos meninos. Outro comportamento presente

que se evidencia, quase que em consenso, é a vitória como fator primordial nas disputas das partidas, observado nas ações e nos relatos dos alunos.

Data 18/03/2016 Aula n. 02

Jogo Saída de bola com posicionamento obrigatório de pivô (FERRETTI, 2009).

Objetivo Melhorar a distribuição dos participantes em quadra. Identificar as posições existentes no futsal.

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84

Em toda a reposição que for feita por uma equipe em sua quadra defensiva, obrigatoriamente esta deverá ter um participante ou

Descrição mais na quadra de ataque, ocupando a posição de pivô. Caso isso não ocorra no momento em que a bola for reposta e entrar

em jogo, essa reposição de bola não será válida, devendo-a, será transferida para a equipe contrária.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 24.

Houve dificuldade para a execução, já que os alunos se esqueciam de buscar o posicionamento de pivô frequentemente, gerando inversões da reposição de bola para a equipe contrária. Nota-se que a maior parte dos alunos, até o momento, não consegue identificar os espaços vazios da quadra como

Observações possibilidade de movimentação para colocar-se em condições de Reflexões receber a bola. Observa-se, fortemente, o paradigma de que a pós-aula bola seja a referência para o jogo. O jogo coletivo pouco

apareceu. Contudo alguns relatos e ações evidenciaram que, quando os participantes procuraram seguir a determinação do jogo, as jogadas aconteceram com menos dificuldades.

Data 01/04/2016 Aula n. 03

Jogo Finalização dentro da área de meta (FERRETTI, 2009).

Atuar coletivamente com jogadas de aproximação da área de Objetivos meta.

Manter a posse de bola.

Para que um gol seja considerado válido, a finalização da jogada

Descrição deverá obrigatoriamente ser executada de dentro da área de meta de ataque, da equipe que busca a marcação do gol.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 24.

No início houve dificuldade para a execução, já que os alunos

Observações ainda tentavam a finalização de fora da área. Com o passar da aula houve a compreensão do objetivo do jogo e os alunos

Reflexões puderam executar uma maior troca de passes para realizar a

pós-aula aproximação da área. Uma parte dos alunos ainda procura

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desenvolver o jogo com a tentativa de muitas ações individuais.

Page 89: GIVANILDO FÁVERO

85

Nesta aula o envolvimento das meninas nas ações das partidas foi mais presencial que as anteriores. Houve um relato de que o jogo ficou mais “tocado”, ou seja, jogado em equipe. Houve um relato de que foi mais difícil fazer gols.

Data 08/04/2016 Aula n. 04

Jogo Gols alternados (FERRETTI, 2009).

Objetivos Jogar coletivamente.

Incentivar a finalização a gol.

O aluno que marcar um gol precisará aguardar outro

Descrição companheiro de equipe marcar gol, para então poder voltar a marcar gol.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 22.

Houve aceitação da dinâmica do jogo, em que apenas em um momento da aula houve uma ação não considerada válida, com realização de gol consecutivo. Percebe-se que uma parte dos

Observações alunos não consegue fazer boas opções para o início e a

Reflexões sequência das jogadas, realizando passes onde a bola acaba

ficando com o adversário ou ainda, enviando a bola a pós-aula companheiros marcados, quando existem outros desmarcados.

Houve relatos de que o jogo proporcionou ocasiões para que mais pessoas fizessem gols.

Data 29/04/2016 Aula n. 05

Jogo Curinga (FERRETTI, 2009).

Objetivos Vivenciar situações de superioridade e inferioridade numéricas. Marcar por setor.

Um jogador a mais identificado, que jogará para as 2

Descrição equipes ao mesmo tempo. Sem poder exercer marcação e recuperar a posse de bola, somente atuará para a equipe

que estiver com ela (bola).

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Page 90: GIVANILDO FÁVERO
Page 91: GIVANILDO FÁVERO

86

Participantes 24.

Houve uma pequena dificuldade de adaptação dos alunos em relação à função do curinga – atacar para as duas equipes -, pois o aluno curinga, a princípio, esquecia-se de “mudar de

Observações equipe” logo que a ela dispunha da posse de bola, ou ainda a equipe de posse de bola esquecia-se de que o curinga era um

Reflexões elemento a mais para auxiliar na jogada de ataque. Notou-se

pós-aula que a maior parte dos alunos não consegue posicionar-se no jogo e movimentar-se para que haja o desenvolvimento da jogada. Houve relatos de que o curinga confundia o jogo e relatos de que o curinga faz o jogo ficar mais congestionado.

Data 06/05/2016 Aula n. 06

Jogo Três toques (FERRETTI, 2009).

Objetivos Jogar coletivamente.

Melhorar o posicionamento e a movimentação.

O jogo acontece com a limitação de três toques para cada

Descrição jogador sempre que este estiver de posse de bola, sendo que o ele ainda pode decidir entre um, dois ou três toques na bola para

passá-la, driblar ou finalizar em gol.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 26.

A adaptação dos alunos foi gradativa. Uma dificuldade repetida é posicionamento em quadra, onde muitas vezes os alunos se colocam próximos ao colega que está com a bola e acabam dificultando a troca de passes e a evolução das jogadas. Os

Observações alunos também não conseguem orientar-se em relação ao espaço de jogo, fazendo-o apenas em relação à bola. A

Reflexões comunicação entre os participantes acontece no sentido de

pós-aula reclamar um do outro e não de orientação e busca de soluções para as problemáticas surgidas. Os alunos são dependentes de questionamentos para a elaboração de reflexão do objetivo do jogo, sendo fundamental a presença constante do professor para o encaminhamento de processos de diálogo.

Data 12/05/2016 Aula n. 07

Page 92: GIVANILDO FÁVERO

Jogo Atuação em espaço determinado, só defesa, só ataque

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87

(FERRETTI, 2009).

Objetivos Jogar coletivamente.

Melhorar o posicionamento e a movimentação.

O jogo acontece com a limitação do espaço de atuação, onde os jogadores de cada equipe devem posicionar-se, considerando a linha central divisória da quadra, 2 na defesa e

Descrição 2 no ataque. Nesse jogo quem está de um lado não poderá “invadir” o lado contrário para jogar. Após 5 minutos, o

posicionamento dos jogadores de linha deve ser invertido, em relação a ataque e defesa. O goleiro não tem limitação de espaço de atuação.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 25.

A adaptação dos alunos foi satisfatória, somente em 2 ocasiões aconteceram a interrupção da jogada por infração à determinação do jogo. Contudo, os alunos precisaram ser orientados quanto ao posicionamento no espaço de jogo, uma vez que ocorria com muita frequência o acúmulo desses no

Observações setor da bola, dificultando, assim, as ações das jogadas. Uma curiosidade observada nesta aula foi o aumento da

Reflexões comunicação entre os alunos, que buscavam encontrar

pós-aula soluções para o desafio proposto pelo jogo. Também constatou-

se que a problemática sugerida pelo jogo executado, estimulou um número maior de jogadas coletivas, em relação ao que vinha acontecendo até então.

Data 19/05/2016 Aula n. 08

Jogo Ataque de setor lateral (ANDRADE, 2010).

Objetivos Jogar coletivamente.

Melhorar o posicionamento e a movimentação.

O jogo acontece com a limitação do espaço de atuação, nele os jogadores de cada equipe devem posicionar-se, considerando uma linha que divide a quadra em 2 setores laterais, indo de um

Descrição gol ao outro. Onde quem está de um lado (direito ou esquerdo) não poderá “invadir” o lado contrário para jogar. Após 5 minutos,

o posicionamento dos jogadores de linha deve ser invertido, em relação ao lado de atuação. O goleiro não tem limitação de

Page 94: GIVANILDO FÁVERO

espaço de atuação.

Page 95: GIVANILDO FÁVERO

88

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 26.

Na maior parte das situações de jogo, os alunos buscaram um bom posicionamento para a execução das jogadas. Também foi percebida uma maior interação para a definição do setor da quadra a ser ocupado pelos componentes das equipes. A

Observações evolução do jogo coletivo é algo que já pôde ser notado durante Reflexões a aula. É cada vez mais crescente a busca por jogadas com pós-aula trocas de passes para o alcance das finalizações a gol.

Interessante constatar que os alunos demonstram curiosidade em querer saber qual jogo será aplicado na aula seguinte.

Data 02/06/2016 Aula n. 09

Jogo Ataque e defesa agrupados (FERRETTI, 2009).

Objetivos Jogar coletivamente.

Compactar a equipe.

O jogo acontece com 2 exigências: _ para que um gol assinalado seja considerado válido, a equipe precisa estar com os 4 jogadores de linha na quadra de ataque,

Descrição no momento da finalização que resulte em gol, caso contrário o gol será anulado.

_ quando uma equipe sofrer um gol, deverá estar com os 5 jogadores posicionados em sua quadra de defesa, caso contrário o gol terá valor duplicado.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 15.

Nesse jogo aconteceu uma maior comunicação entre os alunos, pois constantemente estavam lembrando um ao outro sobre as exigências a serem cumpridas. No decorrer da atividade, as

Observações exigências foram assimiladas por todos e com isso o equilíbrio entre os jogos foi um fator observado. Algumas considerações

Reflexões dos alunos ao final da aula demonstraram que eles ficaram

pós-aula satisfeitos com o jogo proposto, pois o desafio emposto pelas

exigências estimulou-os a buscar soluções individuais e coletivas que os ajudassem a obter êxito. A interação entre os

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alunos e alunas tem superado a rejeição, que no início da

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89

pesquisa existia por parte dos alunos em relação às alunas.

Data 08/06/2016 Aula n. 10

Jogo Na defesa, quem toca não recebe (FERRETTI, 2009).

Objetivos Jogar coletivamente.

Melhorar a movimentação e o posicionamento em quadra.

O jogo acontece com uma restrição de trocas de passes do tipo “tabela de 1-2” na defesa. Portanto um jogador, estando na

Descrição defesa, não poderá receber a bola de um companheiro para qual ele tenha a passado anteriormente. No ataque não existe nenhuma restrição.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 14.

Novamente os alunos mantiveram a comunicação entre si, buscaram alertar sobre a restrição do jogo e sugeriram ações a serem executadas para a progressão de ataque e retorno defensivo. Em nenhuma ocasião ocorreu infração à exigência do jogo. Com o desenvolver do trabalho, percebe-se que a

Observações forma de jogar dos alunos tem se tornado mais coletiva e as Reflexões ações dos fundamentos do futsal mais facilitadas, com maior pós-aula intencionalidade e com menor esforço. Alguns relatos, ao

término da aula, revelaram a importância da movimentação em quadra para facilitar a criação de jogadas e a adequação à restrição do jogo.

Data 09/06/2016 Aula n. 11

Jogo Traves de meio (ANDRADE, 2010).

Objetivos Jogar coletivamente.

Melhorar a movimentação e o posicionamento em quadra.

O jogo acontece com as balizas trazidas para o centro da

Descrição quadra, colocando-se as traves viradas para as linhas laterais, ficando assim uma de costa uma para a outra. Contudo um gol

só será válido se for resultante de uma bola que atravesse as

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90

balizas pela parte frontal. No decorrer do jogo, quando a bola tocar a rede pela parte de trás da meta, a jogada será interrompida e o jogo será reiniciado com o goleiro ou com a cobrança de um escanteio, para a equipe contrária à que ocasionou a interrupção da jogada.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 15.

Os alunos demonstraram um bom interesse em participar do jogo apresentado. No decorrer da aula, acontecerem variadas tentativas de alcançar o objeto proposto pelo jogo. A comunicação e a interação entre os participantes foram

Observações intensas. Ao final da aula, alguns relatos deixaram claro que os Reflexões alunos consideram que a metodologia aplicada tem favorecido à pós-aula participação de todos nos jogos, independentemente do nível de

habilidade e que o equilíbrio nos jogos demonstram que há um aprimoramento técnico e tático dos envolvidos.

Data 13/06/2016 Aula n. 12

Jogo Marcação em meia quadra defensiva (FERRETTI, 2009).

Jogar coletivamente.

Objetivos Conhecer o posicionamento de marcação por zona defensiva.

Movimentar-se em quadra.

Na reposição de arremesso de meta e tiro lateral na quadra de defesa, a equipe que estiver sem posse de bola deverá recuar para a sua quadra defensiva e aguardar até que a bola seja tocada ou conduzida, ultrapassando a linha

Descrição central da quadra, para então tentar recuperar a posse de bola ou interceptar a jogada. Para que não aconteça o jogo passivo, após 3 trocas de passes da equipe de posse de bola, a equipe contrária poderá sair da quadra defensiva (posicionamento inicial) para tentar recuperar a bola.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 14.

Observações Os alunos demonstraram ansiedade no início da atividade, por

Reflexões ter uma zona restrita para posicionamento de marcação. Porém,

quando um aluno esquecia-se de posicionar-se conforme a pós-aula

Page 99: GIVANILDO FÁVERO

determinação, outros alunos o lembravam para corrigir o

Page 100: GIVANILDO FÁVERO

91

posicionamento. Durante o jogo, observou-se que na tentativa de ataque, os alunos exerceram a movimentação em busca de espaços para receber a bola e dar sequências às jogadas. A comunicação entre os alunos foi maior quando tinham que adotar o posicionamento defensivo. Relatos ao término da aula destacaram que esse jogo pode ser usado, com maior frequência, quando uma equipe: já está ganhando o jogo e quer jogar em contra-ataque; quando se está em inferioridade numérica ou de condição física; quando se joga contra um adversário mais “forte”. Ainda foi relatado que este jogo incentiva a comunicação entre os defensores, já que não existe uma marcação individual e os atacantes estão sempre em movimento.

Data 14/06/2016 Aula n. 13

Jogo Marcação setorizada quadrante (ANDRADE, 2010; FERRETTI, 2009).

Jogar coletivamente.

Objetivos Conhecer o posicionamento de marcação por zona “quadrante”. Movimentar-se em quadra

O jogo acontece sendo ataque contra defesa. O posicionamento defensivo se dá em meia quadra, a partir de 4 retângulos com medidas iguais, marcados com fita adesiva branca e em cada retângulo haverá um aluno posicionado e esse não poderá sair do espaço demarcado. Apenas a equipe que defende conta

Descrição com 1 goleiro. A equipe que ataca tem posicionamento e movimentação livres. A cada 5 minutos as funções das equipes

se invertem. Quando a equipe defensiva recuperar a posse de bola, deverá devolvê-la à equipe contrária, posicionando-a no centro da quadra para o início de um novo ataque. A cada 5 minutos na defesa, orientar para que os alunos ocupem espaços diferentes.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 15.

Poucos alunos saíram do posicionamento defensivo indicado, sendo alertados por outros a corrigi-los. Neste jogo, a Observações comunicação foi maior quando a função era atacar. Aos poucos

Reflexões os alunos perceberam que na função defensiva deveriam adotar pós-aula um posicionamento que estivesse mais próximo da bola. A

participação do goleiro foi mais requisitada, já que em diversas situações, este precisava auxiliar um defensor que se

Page 101: GIVANILDO FÁVERO

92

encontrava contra dois atacantes. Relatos ao término da aula demonstraram que: obter vantagem sobre a marcação requer o posicionamento de superioridade numérica nos espaços demarcados; a ajuda do goleiro é essencial para evitar gols; a equipe que defende, sem cometer faltas e bloqueando as finalizações, geralmente vence; jogar em espaço limitado, quando se defende, é um pouco monótono.

Data 16/06/2016 Aula n. 14

Jogo Marcação setorizada losango (FERRETTI, 2009).

Jogar coletivamente.

Objetivos Conhecer o posicionamento de marcação por zona “quadrante”. Movimentar-se em quadra

O jogo acontece sendo ataque contra defesa. O posicionamento defensivo se dá em meia quadra, a partir de 4 espaços marcados com fita adesiva branca (1- meia quadra de voleibol, 2- ala direita ao lado da quadra de voleibol, 3- ala esquerda ao lado da quadra de voleibol, 4- área de gol e espaço entre a área de gol e a quadra de voleibol) onde haverá um aluno posicionado em cada espaço demarcado. Somente o aluno posicionado no espaço 1 não poderá sair do local demarcado.

Descrição Os demais, posicionados nos espaços 2, 3 e 4 poderão movimentar-se para auxiliar um dos companheiros, porém, sem

invadir o espaço 1. Apenas a equipe que defende conta com 1 goleiro. A equipe que ataca tem posicionamento e movimentação livres. A cada 5 minutos as funções das equipes se invertem. Quando a equipe defensiva recuperar a posse de bola, deverá devolvê-la à equipe contrária, posicionando-a no centro da quadra para o início de um novo ataque. A cada 5 minutos na defesa, orientar para que os alunos ocupem espaços diferentes.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 14.

Os alunos conseguiram seguir o posicionamento defensivo sugerido e logo buscaram alternativas para adequar-se às

Observações exigências indicadas. Poucos gols foram marcados durante os

Reflexões jogos. Relatos ao término da aula demonstraram que: a

marcação fica compacta e existem coberturas para tentar evitar pós-aula

finalizações; há grande motivação por parte das equipes que

jogam, pois todos participam intensivamente; a movimentação

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da defesa precisa seguir a movimentação da bola; jogo sem

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93

contra-ataque não é tão bom como o jogo todo.

Data 20/06/2016 Aula n. 15

Jogo Troca de passes para finalizar (FERRETTI, 2009).

Objetivos Jogar coletivamente.

Movimentar-se em quadra.

Jogo onde, na reposição de arremesso de meta e tiro lateral na quadra de defesa, a equipe que estiver de posse de bola deverá executar, no mínimo, 4 trocas de passes

Descrição

antes de finalizar a gol. Caso finalize a jogada antes das 4 trocas de passes, a bola passará para o adversário,

iniciando com um arremesso de meta. Em situações de roubada de bola, reposição de lateral no ataque e escanteio não existirá a exigência citada.

Momentos Alongamento / síntese da aula anterior / explicação da dinâmica

da aula / formação de grupos / execução do JSTT / conclusão da aula

em roda de conversa.

Participantes 15.

Os alunos adaptaram-se rapidamente ao jogo. Em apenas uma situação ocorreu uma finalização a gol sem que a exigência do jogo fosse cumprida. Na maior parte das jogadas, houve a tentativa do jogo coletivo. Relatos ao final da aula destacaram

Observações que: o jogo “obrigava” a todos procurarem um colega na quadra Reflexões para passar a bola; a troca de passes faz o jogo ficar mais pós-aula rápido; o posicionamento e a movimentação em quadra facilitam

a ação de quem precisa passar a bola; os jogos ficaram mais equilibrados com a realização dos JSTT.

Page 104: GIVANILDO FÁVERO

94

ANEXO II

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ANEXO III

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98

ANEXO IV

Termo de Assentimento do(a) Menor

Você está sendo convidado para participar da pesquisa Jogos de

Solicitação Tático-técnica no Ensino Médio: estudo de caso: uma metodologia

para o ensino do futsal. Seus pais ou responsáveis precisam permitir que você

participe.

Queremos compreender como os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio

Major Otávio Pitaluga, da cidade de Rondonópolis - Mato Grosso, atuam diante dos

jogos de solicitação tático-técnica aplicados ao futsal.

Os alunos que irão participar dessa pesquisa têm de 15 a 16 anos de idade.

Você não precisa participar da pesquisa se não quiser, é um direito seu, não terá

nenhum problema se desistir.

A pesquisa será feita na Escola Estadual Major Otávio Pitaluga, onde os

alunos participarão de uma metodologia de jogos de solicitação tático-técnica

aplicados ao futsal. Para isso será necessária a participação nas aulas e após a

aplicação da metodologia de ensino os alunos deverão participar de uma entrevista

semiestruturada.

Caso aconteça algo errado, você pode nos procurar pelos telefones (66)-

99954 8521, professor Givanildo Fávero e (66)- 3423 5923, Escola Estadual Major

Otávio Pitaluga.

Os resultados da pesquisa vão ser publicados, mas sem identificar os alunos

que participaram da pesquisa. Quando terminarmos a pesquisa, os resultados serão

divulgados em um seminário aos envolvidos na pesquisa e publicados em artigos

científicos e/ou congressos.

Se você tiver alguma dúvida, pode me perguntar, Use um dos telefones já

mencionados no texto acima.

Eu ________________________________________ aceito participar da

pesquisa Jogos de Sustentação Técnica e Tática no Ensino Médio: uma metodologia para o desenvolvimento do futsal escolar que tem o objetivo de

compreender como os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Major Otávio

Page 109: GIVANILDO FÁVERO

99

Pitaluga, da cidade de Rondonópolis - Mato Grosso, atuam diante dos jogos de

sustentação técnica e tática aplicados ao futsal.

Entendi o que pode acontecer. Entendi que posso dizer “sim” e participar, mas

que, a qualquer momento, posso dizer “não” e desistir. O pesquisador tirou minhas

dúvidas e está disposto a fornecer aos meus responsáveis as informações

necessárias.

Li este termo, estou de acordo e concordo em participar da pesquisa.

Rondonópolis, ____de _________de __________.

Assinatura do(a) aluno(a): _________________________________________

Fone: ____________________

Assinatura do(a) responsável: ______________________________________

Fone: ____________________

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100

ANEXO V

Questões da Entrevista Semiestruturada

1. Já conhecia ou tinha tido contato anteriormente com os JSTT? Caso a resposta

seja afirmativa: onde? 2. Teve dificuldades em vivenciar os JSTT durante as aulas? Caso a resposta seja

afirmativa: é possível mencioná-la? 3. Considera que a aplicação dos JSTT foi adequada como metodologia de ensino

do futsal nas aulas de Educação Física? Justifique sua resposta. 4. Os JSTT exigiram tomadas de decisões individualizadas e coletivas? Quais delas

ocorreram com maior ênfase? 5. É possível identificar se os JSTT ajudaram a melhorar as suas ações individuais e

coletivas; e de outros alunos da turma? Caso a resposta seja afirmativa: de que

forma? 6. As exigências e restrições contidas nos JSTT representaram desafios ou

problemáticas para sua participação nas aulas? Caso a resposta seja afirmativa:

como você reagiu diante disso? 7. Na sua opinião, os JSTT tornaram as aulas mais atraentes? Justifique sua

resposta. 8. Você considera que a comunicação com os seus companheiros de turma facilita a

desenvoltura como jogador de futsal, no sentido de prever e melhorar a visão

panorâmica do jogo? 9. As situações vividas durante os JSTT interferiram na sua maneira de

compreender o futsal e atuar nesse esporte? Justifique sua resposta. 10. Que avaliação você faz das aulas realizadas, com a presença de alunos e

alunas na mesma turma? Justifique sua resposta. 11. Os JSTT ajudaram a aula de Educação Física produzir ou transmitir

conhecimentos referentes a essa disciplina? Caso a resposta seja afirmativa: como

utilizar esses conhecimentos para além das aulas de Educação Física?

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101

ANEXO VI

Imagens

Imagem 1: entrada da Escola Estadual Major Otávio Pitaluga.

Imagem 2: Vista externa da quadra da EEMOP.

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Imagem 3: alunos sendo orientados pelo pesquisador.

Imagem 4: alunos participantes da pesquisa.