giovanetti. supervisão clínica na perspectiva fenomenológico existencial

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1 SUPERVISÃO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL José Paulo Giovanetti Texto sem revisão do português Buscando uma formação profissional sólida do psicólogo, os curriculumde Psicologia têm uma disciplina, mais na perspectiva de uma prática, intitulada Estágio Supervisionado, onde um professor e psicólogo clínico com mais experiência, ajuda ao quase formando em Psicologia a refletir sobre sua prática. Esse estágio supervisionado abarca um grande leque de atuação do psicólogo, onde podemos destacar a supervisão clínica, isto é, a“orientação” que visa iluminar a relação do trabalho entre o “quase formando” psicólogo e o seu cliente, aquele que se presta a uma ajuda psicológica. É claro que a atividade clínica é muito mais ampla do que a modalidade denominada psicoterapia. A divergência em definir o objeto da psicologia clínica é muito grande, sendo que alguns teóricos explicitam a seguinte posição: o psicólogo clínico é aquele que trata de todo tipo de comportamento psíquico, que pode acompanhar ou não uma doença. Porém, outros teóricos querem excluir as perturbações psiquiátricas da psicoterapia. Diante dessa discussão, fica difícil ter uma clareza sobre o objeto da atividade clínica. Podemos, porém, definir a psicologia clínica como o ramo da Psicologia “que tem por objeto os problemas e perturbações psíquicas, assim como o componente psíquico das perturbações somáticas”. 1 Dessa forma, a psicologia clínica trabalha com os problemas psíquicos que se manifestam nos comportamentos normais ou psicopatológicos. Duas observações se fazem necessárias. Em primeiro lugar, é importante ter claro a orientação teórica que sustentará esta prática. Hoje, os principais modelos que sustentam a prática clínica são a psicanálise, a abordagem comportamental-cognitiva e a humanista- existencial. Com isto, não estamos dizendo que as outras orientações teóricas não sejam importantes e não mereçam um destaque na formação do psicólogo. A segunda observação é que o campo da psicologia clínica é muito vasto e podemos destacar, hoje, a Psicologia da saúde, a neuropsicologia clínica, a psicologia comunitária e a psicoterapia. Assim, duas 1 HUBER, W. L’homme psychopathologique et la psychologie clinique. Paris: PUF, 1993, p. 15 -16.

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Page 1: Giovanetti. supervisão clínica na perspectiva fenomenológico existencial

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SUPERVISÃO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

José Paulo Giovanetti

Texto sem revisão do português

Buscando uma formação profissional sólida do psicólogo, os “curriculum” de

Psicologia têm uma disciplina, mais na perspectiva de uma prática, intitulada Estágio

Supervisionado, onde um professor e psicólogo clínico com mais experiência, ajuda ao quase

formando em Psicologia a refletir sobre sua prática. Esse estágio supervisionado abarca um

grande leque de atuação do psicólogo, onde podemos destacar a supervisão clínica, isto é,

a“orientação” que visa iluminar a relação do trabalho entre o “quase formando” psicólogo e o

seu cliente, aquele que se presta a uma ajuda psicológica.

É claro que a atividade clínica é muito mais ampla do que a modalidade

denominada psicoterapia. A divergência em definir o objeto da psicologia clínica é muito

grande, sendo que alguns teóricos explicitam a seguinte posição: o psicólogo clínico é aquele

que trata de todo tipo de comportamento psíquico, que pode acompanhar ou não uma doença.

Porém, outros teóricos querem excluir as perturbações psiquiátricas da psicoterapia. Diante

dessa discussão, fica difícil ter uma clareza sobre o objeto da atividade clínica. Podemos,

porém, definir a psicologia clínica como o ramo da Psicologia “que tem por objeto os

problemas e perturbações psíquicas, assim como o componente psíquico das perturbações

somáticas”.1 Dessa forma, a psicologia clínica trabalha com os problemas psíquicos que se

manifestam nos comportamentos normais ou psicopatológicos.

Duas observações se fazem necessárias. Em primeiro lugar, é importante ter claro

a orientação teórica que sustentará esta prática. Hoje, os principais modelos que sustentam a

prática clínica são a psicanálise, a abordagem comportamental-cognitiva e a humanista-

existencial. Com isto, não estamos dizendo que as outras orientações teóricas não sejam

importantes e não mereçam um destaque na formação do psicólogo. A segunda observação é

que o campo da psicologia clínica é muito vasto e podemos destacar, hoje, a Psicologia da

saúde, a neuropsicologia clínica, a psicologia comunitária e a psicoterapia. Assim, duas

1 HUBER, W. L’homme psychopathologique et la psychologie clinique. Paris: PUF, 1993, p. 15-16.

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2

questões aparecem para nós em primeiro lugar: explicitar o que entendemos por supervisão em

psicoterapia e clarear qual o modelo teórico de nossa prática. Estes serão os dois passos

iniciais de nosso estudo. Dividiremos nossa reflexão em três partes: primeiro, abordaremos a

especificidade da supervisão clínica, destacando que tipo de relação é construída entre o

professor supervisor e o aluno que tem o seu trabalho de atendimento terapêutico com um

cliente que veio buscar sua ajuda. Num segundo momento, será necessário explicitar o marco

teórico que sustenta todo o nosso trabalho clínico, para, finalmente, elucidar o que seja a

prática da supervisão na perspectiva fenomenológico-existencial.

I) O que é a supervisão clínica?

a) Especificidade da supervisão clínica

A psicoterapia se constrói a partir de uma relação terapêutica e sua sedimentação

se dá por meio do aparecimento e da constituição do vínculo intersubjetivo. O terapeuta deve

ter uma atenção especial a esta relação que vai se construindo e se fortalecendo ao longo de

todo o processo. Isto quer dizer, que além de vivenciar a relação, o terapeuta deve refletir

sobre o que acontece na relação. Poderíamos dizer que esta dupla face da vivência terapêutica

é necessária para o bom desenvolvimento da psicoterapia.

Uma observação preliminar se faz necessária no sentido de distinguirmos a

psicoterapia da supervisão. Buys, falando da questão, diz o seguinte: “Psicoterapia e

supervisão se distinguem na medida em que a psicoterapia é um contato direto, imediato com

a realidade, enquanto a supervisão é uma reflexão sobre este contato independente dos

aspectos anteriormente apontados”.2 Assim, a supervisão se caracteriza como o espaço mais

apropriado para a reflexão sobre a prática clínica. Este espaço deve ser buscado no sentido de

não só se passar para o supervisando orientações técnicas de como lidar com a situação, mas

levar o supervisando a desenvolver a capacidade de refletir sobre a sua maneira profissional de

trabalhar.

Ora, o grande valor da supervisão é de que um terapeuta mais experiente possa

ajudar aquele que está iniciando sua atividade clínica a refletir e descobrir algumas nuances,

2 BUYS, R.C. A supervisão da psicoterapia na abordagem humanista centrada na pessoa. São Paulo: Summus

Editorial, 1987, p. 23.

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3

que muitas vezes não aparecem de imediato. Em vez de refletir sozinho sobre o que acabou de

vivenciar no seu atendimento clínico, o supervisando tem a possibilidade de compartilhar com

outro terapeuta suas dúvidas e suas dificuldades. O aprendizado de refletir sobre o que se vive

é construído ao longo da vida, e é, por isso, que a contribuição do terapeuta experiente é

necessária, pois ele é “capaz de refletir na relação psicoterapêutica a relação psicoterapêutica,

à medida que ela decorre”.3

A possibilidade de crescimento humano e profissional se dá na medida de que

somos capazes de refletirmos sobre aquilo que vivenciamos e por isso mesmo, desvendamos

os entraves e os extramuros para o nosso crescimento. Assim, o objetivo da supervisão “é dar

ao terapeuta iniciante, de forma sistemática, o contexto relacional apropriado à reflexão sobre

a situação psicoterapêutica”.4 A avaliação sobre o que se viveu numa relação intersubjetiva

feita com o auxílio de uma outra pessoa é de extrema importância para a formação profissional

do psicólogo.

O segundo ponto que merece nossa atenção, quando tratamos da especificidade da

supervisão é a do pressuposto de que ninguém nasce psicoterapeuta, mas vai se formando ao

longo de sua prática. É necessário desenvolver por meio da supervisão as características do

terapeuta. Bucher explicitou em seu livro “A psicoterapia pela fala” algumas qualidades

pessoais necessárias à psicoterapia, e encontramos na supervisão o lugar ideal para por meio

desta relação especial sedimentar as qualidades destacadas.

De uma maneira resumida, podemos destacar as qualidades levantadas por

Bucher5 e que devem ser cultivadas na supervisão: a primeira delas é o interesse pelo humano.

A profissão de psicoterapeuta não se resume à aplicação de técnicas, mas ao cultivo da

sensibilidade pelo humano. O início da formação terapêutica passa pelo despertar de uma

atitude que mostre que a pessoal que está diante de você seja vista na sua totalidade e na sua

particularidade. Totalidade que nos impede de reduzir o seu que sofre diante de nós a um

conjunto de sintomas. Particularidade no sentido de que este homem enfermo tem suas

características próprias que não podem ser reduzidas e esquematizadas a alguma classificação.

Sensibilidade para o humano é ser “tocado” por cada cliente em particular, abrindo-se a sua

3 BUYS, R.C. A supervisão da psicoterapia na abordagem humanista centrada na pessoa. São Paulo: Summus

Editorial, 1987, p. 17. 4 BUYS, R. Idem, p. 17.

5 BUCHER, R. A psicoterapia pela fala. Fundamentos, princípios e questionamentos. São Paulo: E.P.U., 1989,

especialmente as p. 70-71.

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4

história de vida de forma global. A supervisão aparece como o lugar onde o psicólogo

iniciante tem um espaço apropriado para entrar em contato com esta sua realidade, discutindo-

a juntamente com um psicólogo mais experiente, que deverá não só refletir sobre as técnicas

terapêuticas mais adequadas, mas sobre seu engajamento pessoal no trabalho terapêutico.

É também, aqui, na supervisão que o terapeuta iniciante tem a possibilidade de

perceber com mais nitidez se possui a capacidade de lidar com as manifestações

psicopatológicas e conflitantes do ser humano. Nada melhor que a reflexão sobre sua atividade

clínica, para enxergar com clareza que além da sensibilidade para com o humano, essa

sensibilidade é para tratar dos problemas existenciais. Ninguém, ou quase ninguém, procura

terapia para falar que está bem na vida. Esse tipo de cliente dificilmente aportará no seu

consultório. Assim, a atividade terapêutica é muito mais curativa do que preventiva.

A terceira condição indispensável para a formação do psicoterapeuta apontada

pelo autor é o aspecto técnico envolvido no trabalho clínico. Para Bucher, é necessário para

que o profissional possa lidar com desenvoltura a situação conflitante. O saber técnico é,

porém, insuficiente, de suma importância para o iniciante poder saber como abordar o conflito,

e mais elaborá-lo e integrá-lo. É a supervisão o lugar ideal para se falar e checar todo o

conhecimento teórico adquirido ao longo de sua formação.

b) As funções da supervisão

Como a supervisão é distinta da psicoterapia e sua especificidade pode ser

resumida em dois pontos principais: primeiro, refletir a relação na relação e segundo, buscar o

crescimento humano do supervisando, fica agora o problema de como alcançar estas duas

dimensões da questão. Assim, Buys, de forma sucinta, mostra que a supervisão tem três

funções, a saber: a primeira uma função teórica que pode ser desenvolvida com a função

técnica. Existe também uma função experiencial.6 Vamos tratar a seguir destas funções.

A primeira função, que é a função teórica, pode ser entendida como a orientação

do supervisor sobre problemas relacionados à compreensão teórica do “paciente”. Ter uma

idéia sobre que tipo de problema está sendo trazido pelo paciente, ajuda na possibilidade de se

pensar como a terapia será conduzida, pois em termos gerais a maneira de se trabalhar como

6 BUYS, R.C., op. cit. p. 23.

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uma pessoa neurótica, é diferente de se trabalhar com uma pessoa psicótica. Cada um dos

conflitos exige posicionamentos diferentes. Não, necessariamente estamos defendendo um

psicodiagnóstico nos moldes tradicionais, mas uma certa idéia da personalidade do paciente,

para podermos enfrentar com mais objetividade a questão. Normalmente em matemática

dizemos: equacionar bem o problema, montar com precisão a regra de três, já é meio caminho

andado para a solução da questão. Aqui, a dimensão operativa (diagnóstico) da relação

terapêutica deve ser trazida para a reflexão.

Outro aspecto, que exige um olhar mais atento, é a análise de como está sendo

estruturada a relação na terapia, pois grande parte do sucesso de uma terapia está na qualidade

da relação construída entre o terapeuta e o seu paciente. Na supervisão pode aparecer com

clareza as questões que estão facilitando ou dificultando o desenvolvimento da relação

terapêutica e em que medida, em muitas vezes, as questões mal resolvidas do terapeuta podem

estar interferindo no processo. Clarear estes impasses ajuda o supervisando a perceber que

alguns problemas surgidos na relação terapêutica devem ser, às vezes, levados para a sua

terapia pessoal, caso o supervisando esteja também em processo de terapia. Separar o joio do

trigo ajuda tanto no desenvolvimento da relação terapêutica, como no crescimento humano de

ambas as partes.

Sobre a função técnica da supervisão Buys é explicito quando diz: “a intervenção

didática teórica liga a técnica à teoria, dando inteligibilidade á primeira. Sendo as técnicas

decorrentes da teoria, a intervenção teórica deve responder, entre outras coisas, ao porquê das

técnicas”.7 Analisar que tipo de intervenção foi feita pelo supervisando, refletindo se tal

intervenção era a mais adequada ou não – se o procedimento adotado ajudou o conteúdo

aflorar e se, também, o conteúdo surgido foi trabalhado de modo a levar o cliente não só a

percebê-lo, mas a começar a elaborá-lo. Todas essas questões devem ser discutidas no espaço

criado pela supervisão, a fim de que o crescimento pessoal e profissional sejam dialeticamente

integrados.

A última função, e talvez a mais sutil, apontada pelo autor, é a função experiencial.

Embora a nossa fundamentação teórica seja diferente da de Buys, não relegamos a um

7 BUYS, R.C., op. cit. p. 26.

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6

segundo plano a função experiencial da supervisão. Só a compreensão desta função torna-se

diferente.8

Para nós, a intervenção experiencial ao focalizar a experiência do terapeuta

iniciante, procura ajudá-lo na vivência das atitudes que colaboram para a construção da

relação terapêutica. O processo de escuta do supervisor deve proporcionar ao supervisando o

fluir da vivência da escuta. Às vezes, a grande escola para o nosso trabalho terapêutico não é

tanto os livros, mas a relação pessoal que estabelecemos com o nosso terapeuta pessoal. Ora, o

grande aprendizado da escuta passa pela maneira de como nós a vivenciamos com o nosso

supervisor. Falar sobre a boa escuta e as atitudes existenciais, aqui, seria extrapolar muito o

objetivo do nosso trabalho. Normalmente estas questões são tratadas quando desenvolvemos a

teoria da prática em psicoterapia.

c) Tipos de supervisão

Neste ponto, talvez, possamos encontrar um grande número de modalidades que

poderíamos nomear de supervisão. Vou ater-me somente a duas possibilidades: a supervisão

em grupo, que acontece de forma regular nas escolas e a supervisão individual, muito comum

entre os terapeutas iniciantes que buscam apoio num profissional mais experiente,

normalmente em consultórios particulares.

A supervisão de grupo, mais comum, nos estágios curriculares podem obedecer a

uma série de fatores que caracterizam o encontro entre o professor-supervisor e o aluno-

estagiário. O número de participantes tem variado muito de faculdade para faculdade,

dependendo, muitas vezes, da estrutura da escola. Normalmente o aluno atende a um cliente

durante a semana, quase sempre uma única vez, e juntamente com os outros alunos tem uma

reflexão e orientação do professor sobre o que está se passando na terapia e qual o caminho a

seguir. Este número de alunos varia de 3 a 15 pessoas e a supervisão dura mais ou menos 2

horas e meio. Quando o número é baixo de alunos, o tempo é suficiente para uma boa

aprendizagem, mas quando o número é elevado a situação fica difícil e exige uma certa

flexibilidade de alguns pontos, como por exemplo delimitar o tempo de exposição do caso,

8 Para Buys, aqui, seria o lugar onde o supervisando refletiria se está desenvolvendo as três atitudes rogerianas

(congruência, empatia, consideração positiva incondicional) de formas adequadas.

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destacando, somente, os pontos mais relevantes e perdendo as nuances, que na maioria das

vezes, é o mais rico na compreensão do caso.

Por outro lado, o que é extremamente positivo na supervisão coletiva, é que

quando um aluno expõe o seu caso e se discute sobre o desenvolvimento do mesmo com o

supervisor, os outros alunos estarão aprendendo pontos que, às vezes, não estão acontecendo

no seu trabalho de atendimento. Por exemplo, um aluno está tendo dificuldade de fazer o

conteúdo aflorar para um trabalho futuro, e o outro está tendo dificuldades nas posturas que

deve adotar para uma boa escuta. Quando se discute os casos em conjunto, cada um aprende

com o caso do outro aspectos que talvez venha acontecer consigo mais tarde. Neste tipo de

supervisão o importante é proporcionar a cada aluno, que está vivendo um processo

terapêutico com um cliente, possa examinar com o professor e os outros colegas o seu

posicionamento pessoal na sua vivência.

Na supervisão individual, supondo que sua duração seja de 50 minutos, o

supervisando tem mais tempo para expor seu atendimento e discutir com mais calma os

impasses e as possibilidades de superação dessas dificuldades. Nesse tipo de supervisão se

constrói uma relação intersubjetiva mais sólida do que na supervisão em grupo, pois o tempo

maior e a qualidade da relação possibilitam uma reflexão mais profunda sobre o que está se

vivendo. Porem, é necessário “acentuar o fato de que a supervisão não é da psicoterapia, mas

sobre a psicoterapia; como o psicoterapeuta a está vendo aqui e agora (não lá e então) e

vivendo-a numa relação (com o supervisor)”.9

II ) O que entendemos por perspectiva fenomenológico-existencial?

Após termos refletido sobre o que entendemos por supervisão, é necessário

explicitar a fonte de inspiração filosófica que dará sustentação à prática clínica. Nossa

perspectiva é a fenomenologia existencial. Daí, ser importante dar uma visão genérica e

simples do que sejam a fenomenologia e o existencialismo, bases filosóficas do nosso

trabalho.

a) Fenomenologia

9 BUYS, R.C., op. cit. p. 73.

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8

A Fenomenologia é uma corrente filosófica, mais precisamente um método de

investigação da realidade, que tem fecundado a Psicologia já há alguns anos. Essa presença,

usando como ponto de partida a data que nos parece mais significativa, começou no domínio

da Psicopatologia quando, em 1913, o psiquiatra e filósofo K. Jarpers (1883-1969) escreveu a

sua Psicopatologia Geral. De lá até hoje, esse impacto tem crescido e provocado uma grande

fecundidade, atingindo vários domínios, como o a Psicologia Experimental (A. Michotte

1881-1965), o a Psicologia Comparada e o a Fisiologia Antropológica (FJ.J. Buytendijk, 1887-

1974), o a concepção holística do organismo (KURT Goldstein, 1978-1965). O impacto maior

tem sido entre os psiquiatras como, para nos atermos apenas a dois expoentes, L. Binswanger

(1881-1956) e M. Boss (1903-1990), que fundaram seus próprios métodos de análise

terapêutica.

Do outro lado do Atlântico, a influência da fenomenologia tem sido grande, com

destaque para a Universidade de Duquene de Pittsburgh, Centro de Pesquisa em Psicologia

Fenomenológica, sob o impulso de A. Giordi que publicou um livro “Psychology as a human

science”, em 1970, no qual defende a idéia de uma renovação radical da psicologia, sobre

bases fenomenológicas.

É necessário notar que Rollo May, em 1958, ao organizar um livro intitulado

"Existence: a new dimension in Psychiatry and Psychology", desencadeou, nos Estados

Unidos, uma influência marcante da Fenomenologia, pois apresentou ao público americano

alguns dos principais representantes europeus da aplicação da fenomenologia à Psicologia.

Ainda nos USA, é importante destacar, o surgimento do Journal of Phenomenological

Psychology dirigido por A. Giorgi (Pittsburgh), K. Graumann (Heidelberg) e G. Thinès

(Louvain), representantes dos principais centros nascentes da Fenomenologia.

A partir desse início, que alguns pesquisadores olhavam com uma certa

desconfiança, a Fenomenologia tem sido uma corrente filosófica de grande fecundidade na

psicologia. Para ter-se uma idéia da amplitude desse impacto, cito o livro de H. Speigelberg

"Phenomenology in the Psychiatrie and Psychology".

Diante desse breve quadro, gostaria agora de destacar salientar nesta

apresentação, o impacto da Fenomenologia na Psicoterapia, destacando o diferencial

psicoterápico na Fenomenologia Existencial. Assim, dividirei o trabalho em três partes: A

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relação entre a Fenomenologia e a Psicologia; A especificidade da psicoterapia; a atitude

fenomenológica na Psicoterapia.

a.1) - A presença da fenomenologia na Psicologia

A Fenomenologia surge no início do século com Husserl (1859-1938), cujo

grande ideal era de encontrar uma base sólida para a ciência, fazendo para isso uma crítica ao

psicologismo que veio a constituir um poderoso método de investigação. Ricoeur explicita que

"a fenomenologia é um vasto projeto que se fecha sobre uma obra ou um grupo de obras

precisas; ela é menos uma doutrina e mais um método, capaz de encarnações múltiplas, e,

dela, Husserl explorou somente um pequeno número de possibilidades".10

Daí a necessidade

de observar, às vezes, o modo como certos autores aplicaram o método fenomenológico a

diversos temas e problemas humanos - como fizeram os filósofos existencialistas - para

captarmos a especificidade da abordagem fenomenológica.

Muitas vezes, aprendemos o que é a Fenomenologia, observando a maneira pala

qual alguns autores e pesquisadores utilizam o seu método de investigação.

A Fenomenologia apresenta-se como um método de abordar a realidade diferente

do método das ciências naturais, que visam a entender o seu objeto por meio de explicações

formais. Aqui, a novidade está, em que o fenomenólogo busca compreender as razões que

suscitam determinada atitude. Dartigues define, com precisão, que "compreender um

comportamento é percebê-lo, por assim dizer, do interior, do ponto de vista da intenção que o

anuncia, logo, naquilo que o torna propriamente humano e o distingue de um movimento

físico".11

Ora, a Fenomenologia é um método compreensivo, pois busca explicitar a

intenção específica da "visada" (a maneira de como o homem dirige sua atenção implicada na

percepção) que cada ser humano tem ao entender algo. Como exemplo, podemos dizer que

duas pessoas, um viajante e um madeireiro olham de maneira diferente uma mesma árvore. O

primeiro mira a árvore como algo que lhe servirá como alívio para o cansaço da caminhada

fatigante, enquanto o segundo olhará a árvore na perspectiva de que ela possa oferecer-lhe

10

RICOEUR, P. Husserl (1859-1938) em L´École de la Phenoménologie. Paris, Librairie Urui, 1986, p.8. 11

DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? São Paulo: Editora Morais, 1992, 3ª ed., p. 51.

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10

uma madeira de qualidade para a fabricação de um móvel. A intenção, ao abordar a árvore, é

completamente diferente, embora os dois personagens possam dizer a mesma frase: Que

arvore maravilhosa!, pois e, é a captação dessa intencionalidade, desse sentido orientador, que

é a tarefa da fenomenologia.

Captar, na sua profundidade, a relação específica entre o objeto "visto" e o sujeito

que visa ao objeto é o desafio primordial de uma abordagem fenomenológica. Van Der Leeuw

explicita que a Fenomenologia procura captar o fenômeno, definindo-o da seguinte maneira:

"fenômeno é, por sua vez, um objeto que se refere ao sujeito e um sujeito em relação ao

objeto. Com isso, não se quer dizer que o sujeito sofreria alguma apropriação por parte do

objeto, ou vice-versa. O fenômeno não é produzido pelo sujeito; muito menos corroborado ou

demonstrado por ele. Toda a sua essência consiste em se mostrar, em se mostrar a "alguém".

Logo que esse alguém começa a falar daquilo que se mostra, tem-se a fenomenologia".12

A Fenomenologia apresenta-se, dessa maneira, como um método de abordar o

fenômeno, como uma metodologia da compreensão, e não da explicação. Não nos interessa,

aqui, descrever quais são os procedimentos para se atingir esse objetivo. Isso nos levaria muito

longe da nossa intenção. Queremos, outrossim, destacar que aquilo a que se visa, o fenômeno

que se mostra, é meramente, o entrelaçamento do sujeito com um objeto, por meio da

intencionalidade. O que, em terminologia mais específica, seria a descrição direta da

diversidade das estruturas noético-noemáticas.

Jeanson, no seu estudo sobre Fenomenologia, conclui, de maneira brilhante,

dizendo que o "método é, em primeiro lugar, um caminho que se abre dentro de uma certa

direção, é uma certa maneira que se tem de pesquisar, de colocar os problemas, de interrogar o

mundo e de se interrogar".13

Assim, esse caminho, deve ser fecundo, pois nos leva a

compreender as coisas. E mais do que isso, Jeanson completa um "método é, antes de tudo,

uma atitude ao olhar o objeto estudado".14

Assim seguir os passos do método fenomenológico

é incorporar uma atitude fenomenológica.

12

VAN DER LEEWW, G. Epílogo do livro "La religion dans son essence et ses manifestations - phenménologie

de la religion". Paris: Payot, 1970, tradução de Erika Lourenço (mimeo). 13

JEANSON, F. La phenoménologie. Paris: Editora Tequi, s/d., p. 67. 14

Ibidem, p. 67.

Page 11: Giovanetti. supervisão clínica na perspectiva fenomenológico existencial

11

b) Existencialismo

Enquanto a Fenomenologia é compreendida pelos discípulos como um método, o

Existencialismo é entendido como uma doutrina filosófica sobre o homem. As filosofias da

Existência surgirão como uma oposição a toda filosofia clássica a qual é entendida como o

estudo das essências, cuja idéia principal seria a compreensão das dimensões estáveis. Os

filósofos da existência vão redirecionar as perguntas sobre o homem. Em vez de se perguntar:

o que é o homem, se perguntará: quem é o homem?

Evidentemente a palavra existencialismo começou a ser usada depois da primeira

guerra mundial para designar justamente o movimento de alguns pensadores e de alguns

literatos sobre a investigação de quem é o homem. Este movimento, que se estruturou com

mais força no entre guerras, isto é, entre 1918 e 1945, teve suas raízes históricas no

pensamento de quando o filosofo dinamarquês se opôs ao pensamento pós-hegeliano

dominante do seu tempo. A idéia central de luta de Kierkegaard era reagir contra o caráter

universal, intelectual e determinista do hegelianismo, afirmando o interesse pelo singular e

pela vontade. Segundo os historiadores, o movimento existencialista se iniciou na Alemanha,

em 1919, quando Barth publicou um comentário sobre a epistola aos Romanos e Jaspers

publicou A Psicologia da Mundividência. De um lado, o movimento existencialista ganha

forças justamente a partir da década de 20, uma vez que o entreguerras foi um período de

muito sofrimento, desespero e angustias. Estes temas de tornaram os temas preferidos dos

existencialistas pois estes se preocupavam em falar e refletir sobre o que o homem estava

vivendo naquele instante. Por outro lado, este movimento só veio a se expandir fora do

contexto europeu a partir do fim da segunda guerra mundial. A década de 50 foi, talvez, a

década de divulgação do movimento existencialista.

É necessário observar que, embora encontramos um número muito grande de

escritores ditos existencialistas – Buber, Buttmann, Guardini, Camus, Dostoievsky, entre

outros – só são considerados clássicos filósofos existencialistas Heidegger, Jaspers, Sartre e

Marcel. Uma segunda observação é que todos estes quatro filósofos, que passaram para os

anais da história da filosofia como os filósofos da existência,15

utilizaram, cada um a partir de

15

Wahl, Jean. As Filosofias da Existência. Lisboa: Publicações Europa-América, s/d.

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12

uma inspiração pessoal, o método fenomenológico para concretizarem as suas reflexões sobre

o homem.

A Filosofia da existência pode ser concretizada através de suas grandes

características. A primeira é que todos os filósofos e escritores procuram valorizar o homem.

A segunda é que todos procuram descrever e explicitar o modo concreto do homem viver, isto

é, refletindo sobre os problemas do cotidiano, como por exemplo sobre a angústia, a

liberdade, etc.

Mas afinal de contas, o que é então o existencialismo? É possível uma definição

desta doutrina a partir de tão diversas abordagens? É possível encontrarmos um denominador

comum entre Heidegger, Sartre, Marcel e Jaspers?

Wahl diz que “estas filosofias são um início do empirismo metafísico e do

sentimento de inquietação humana. Nelas não encontramos uma definição, mas uma

caracterização, e é o máximo a que podemos aspirar”.16

Aqui, empirismo é tomado no sentido

de que se vai refletir sobre os elementos humanos que são irredutíveis a toda construção, o que

segundo Wahl estaria próximo do termo empregado por Heidegger de faticidade. Assim, o

esforço destes filósofos é explicitar os aspectos que caracterizam a vida humana, assumindo

uma postura de especulação sobre a existência. Daí, ser o conceito de existência central nessa

filosofia.

A filosofia da existência coloca de maneira categórica que só o homem existe. O

homem não pode ser reduzido a uma substância, como foi compreendido pela filosofia

clássica. Ela é uma maneira de entender a existência enquanto existência humana. O dado

primário a partir do qual se pode compreender o homem é a existência e não a essência, a

definição a priori do homem. Por isto mesmo, a frase célebre do existencialismo é: “A

existência precede a essência”. Isto quer dizer que devemos olhar para a vida concreta do dia-

a-dia e a partir daí compreendermos quem é o homem, e não defini-lo como animal racional e

social, suas características mais universais. A explicitação de sua essência se faz na existência.

A reflexão filosófica deve abandonar toda elaboração abstrata e dar atenção às experiências

concretas, pois é justamente essas experiências que vão desvelar o ser do homem. O sentido

do ser (que é o objeto da metafísica) vai aparecer na concretude do existente humano.

16

Wahl, J. Idem.

Page 13: Giovanetti. supervisão clínica na perspectiva fenomenológico existencial

13

Assim, a vida por meio do despertar da banalidade do viver cotidiano, com seus

grandes problemas como a decadência, a angústia, o existir trágico, é o foco da doutrina

existencialista. A dificuldade que encontramos ao estudar o existencialismo é que este não se

constitui como um sistema unitário. A palavra é tão vasta na sua abrangência que traduz mais

um enfoque sobre os problemas do que um sistema filosófico unitário entre os diversos

existencialistas. É claro que ao estudarmos Heidegger vamos verificar uma sistematização

entre os conceitos que explicam a existência humana, mas sua reflexão aborda questões muito

diferentes das abordagens sartreanas e jasperianas. A preocupação com a questão do Ser é de

extrema importância no pensamento desses autores, bastando lembrar os títulos das obras mais

importantes tanto de Heidegger – O Ser e o Tempo – como de Sartre – O Ser e o Nada.

A presença da fenomenologia no pensamento dos principais teóricos da filosofia

da existência é uma revelação de contribuição que a fenomenologia oferece na formulação da

doutrina existencialista. Embora sejam duas filosofias diferentes, a fenomenologia oferece ao

Existencialismo um método de investigação na formulação de suas temáticas. Não podemos

esquecer, também, que Heidegger foi um discípulo de Husserl e o substitui na universidade de

Friburgo. Assim, a fenomenologia oferece aos filósofos existencialistas um instrumento de

reflexão que ajudam estes explicitarem o vivido, a vida nas suas mais diversas concretudes,

com a angústia, a culpa, o encontro, o amor etc.

A análise existencial, terapia que se desenvolveu na Suíça por meio de dois

grandes psiquiatras, Ludwig Binswanger e Medard Boss, teve como inspirador maior Martin

Heidegger. Destacar alguns pontos do pensamento deste importante filósofo, vai trazer

algumas luzes para entendermos a corrente terapêutica intitulada Daseinsanalyse.

O ponto de partida do pensamento de Heidegger é o problema ontológico, isto é,

seu interesse maior é o estudo do ser. Sua filosofia reflete um esforço gigantesco no

desvelamento da verdade do ser, isto é, procurou trazer a luz da razão o ser e suas estruturas, a

qual vai se dar por meio da análise descritiva destas estruturas. No seu livro “O Ser o Tempo”,

escrito em 1927, obra que marcará de forma decisiva alguns terapeutas existenciais, procura

desvendar as estruturas essenciais do ser, do Dasein e cuja dimensão da temporalidade é a de

maior destaque. Pois, o Dasein é essencialmente temporalidade. Heidegger considera o

homem não estando no Tempo, mas constitutivamente temporal. Daí o significado profundo

do seu livro ser e tempo. A temporalidade é estruturante do ser.

Page 14: Giovanetti. supervisão clínica na perspectiva fenomenológico existencial

14

Assim, a filosofia de “Ser e Tempo” será denominada a analítica existencial, que

tem como objeto o desvelamento do Dasein. Na primeira parte temos uma análise fundamental

do Dasein e a segunda parte estuda o Dasein e a temporalidade. Nessa análise fundamental do

Dasein, podemos descartar alguns pontos que terão um impacto muito grande nas terapias, que

se basearem no pensamento de Heidegger.

O Dasein (Existência) possui a característica essencial de estar conectado

diretamente com o mundo, não podendo ser compreendido separado do mundo. Mais, ele não

existe fora do mundo, não é exterior ao mundo, mas em relação de constitutividade com o

mundo. Daí que o Dasein é um Ser-no-mundo (In-der-welt-sein). O mundo é o correlato

existencial e estrutural do ser humano.

Uma segunda característica do homem estruturante de sua existência é o que

Heidegger chama de ser-com (mit-sein) os outros. Embora, será o seu discípulo Karl Löwth

que desenvolverá mais este aspecto apontado no Ser e Tempo, Heidegger mostra que viver em

comunidade faz parte da estrutura do ser e mais é estruturante do Ser. Isto implica que o

humano só se desenvolve no humano. Se o homem viver numa comunidade de lobos ou

macacos (como no mito do Tarzan) não desenvolverá qualidades e características humanas,

como por exemplo a linguagem. O homem para se tornar humano deve partilhar a sua

existência com a existência de outros humanos, com os seus semelhantes. A partir destas duas

dimensões essenciais do Dasein, Heidegger desenvolve várias outras considerações sobre a

existência humana, com desdobramentos sobre o que significa uma existência autêntica ou

inautêntica. Na segunda parte do texto, nos é apresentada a estrutura ontológica do Dasein,

onde se destacam exposições sobre a Angústia, o ser-para-a-morte, a temporalidade e a

historicidade.

c) Análise Existencial

Dois autores que utilizaram o pensamento de Heidegger para repensarem os seus

trabalhos clínicos foram Binswanger e Boss. O primeiro utilizou dos ensinamentos

heideggerianos para buscar uma fundamentação nova e uma sustentação para a psicopatologia

e para atividade clínica. O segundo, utilizou mais as reflexões de Heidegger no sentido de

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15

encontrar meios mais práticos de como operacionalizar a psicoterapia. O encontro com o

pensamento e a figura viva de Heidegger possibilitou a estes dois psiquiatras a construção de

uma escola de terapia denominada Análise Existencial. Evidentemente que existe diferenças

entre as duas abordagens e não podemos colocá-las dentro de uma só perspectiva. As

divergências são grandes, porém não cabe neste trabalho apresentar essas nuances. O essencial

é destacar que o pensamento de Heidegger teve um impacto grande na estruturação de

algumas abordagens terapêuticas.

Binswanger17

foi o primeiro que buscou no pensamento de Heidegger uma

inspiração para sua prática clínica. Quando o texto de “Ser e Tempo” veio à luz em 1927,

Binswanger juntamente com um grupo de estudiosos e terapeutas ansiosos de encontrarem

uma fundamentação para as suas práticas clínicas, começou a estudar Ser e Tempo. Nessa

época, Binswanger estava muito influenciado pela fenomenologia de Husserl, pois o encontro

intelectual com Freud não estava sendo satisfatório para a fundamentação da psiquiatria. O

encontro com Heidegger vai possibilitar em 1930 uma virada na sua trajetória profissional,

fundando o Daseinsanalyse.

É com a publicação do “Traum und Existenz” (Sonho e Existência) que

Binswanger marca de forma revolucionária o pensamento psiquiátrico. A partir daí, ele vai

construir todo um arcabouço teórico que culminará com a publicação do livro “Grundformen

und Erkenntnis menschlichen Dasein” (As formas fundamentais e o conhecimento da

existência humana). Sua antropologia fenomenológica, fundamentação de toda a Análise

Existencial. Nesta obra se faz presente a importância de Heidegger, testemunhando, assim, o

impacto desse filosofo na prática clínica.

Medard Boss estabeleceu um contato mais próximo de Heidegger, desenvolvendo

uma série de seminários na sua casa, num bairro de Zurique chamado Zollikon. Este diálogo

foi desencadeado em 1947 por meio de uma carta que Boss escreveu a Heidegger, solicitando

deste uma ajuda intelectual. Boss vislumbrou no contato com a filosofia existencial de

Heidegger uma luz que pudesse iluminar sua prática clínica. Assim, durante uma década, mais

precisamente entre os anos de 1959-1969, Heidegger visitou Boss e estabeleceu com este e

17

Sobre a trajetória intelectual de Binswanger e as linhas mestras de sua antropologia consultar o meu artigo “O

existir humano na obra de Ludwig Binswanger” em Síntese (Nova Fase), n. 50, ano 1990, p. 81-99.

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16

seus discípulos um fecundo diálogo.18

Contrariamente a Binswanger, Boss buscou no contato

com Heidegger uma inspiração para a operacionalização da psicoterapia.

Em Zurique, Boss fundou um instituto com o nome de Daseinsanalyse para

desenvolver as idéias e dar continuidade ao trabalho clínico. No Brasil, um intercâmbio entre

Sólon Spanoudis e Medard Boss, possibilitou a fundação do Instituto de Daseinsanalyse de

São Paulo, que tem divulgado o pensamento do psiquiatra suíço.

III) Prática da supervisão na perspectiva fenomenológico-existencial

O primeiro ponto que merece ser tratado aqui é a questão: de que tipo de

supervisão estamos falando? No final da primeira parte do nosso estudo, destacamos a

supervisão em grupo e a supervisão individual. Nos cursos de Psicologia, talvez raras

exceções, a supervisão acontece em grupo. O que varia é o número de supervisando. As

reflexões que vamos, agora, trazer para o leitor, dizem respeito a esta modalidade de

supervisão. O que não quer dizer que alguns dos elementos não possam ser utilizados na

supervisão individual. Por outro lado, não podemos esquecer que a supervisão de grupo tem

características muito próprias.

a) Condução da sessão x condução do processo terapêutico

A distinção inicial que ajuda muito o iniciante é distinguirmos didaticamente a

supervisão de sessão, isto é, a condução da sessão e a supervisão da terapia, isto é, a condução

da terapia. Por condução da sessão devemos estar atentos ao que se passou nos 50 minutos da

sessão. O que aconteceu de relevante no tempo do atendimento. Outra coisa diferente é termos

clareza sobre o momento da sessão dentro de todo o transcorrer do processo terapêutico.

Assim, ao analisarmos a sessão temos que ter estas duas perspectivas do olhar. O fato é o

mesmo, mas ele está sendo compreendido por meio de duas “visadas” (para utilizarmos um

conceito da fenomenologia). Às vezes o supervisando pode ter uma sensação de que a sessão

18

O conteúdo desses encontros foi publicado em português numa co-edição Educ-Vozes. “Martin Heidegger,

Seminários de Zollikon”, ed. por Medard Boss, Petrópolis, Educ-Vozes, 2001.

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17

foi uma catástrofe se olhar do ponto de vista da exploração do material, mas ela pode ter sido

muito “proveitosa” se a entendermos no conjunto da vida do cliente. Ele começou a se

descobrir. Foi a primeira vez que ele começou a falar de si mesmo.

Olhar a condução da sessão é buscar refletir sobre o que se passou diretamente na

relação com o terapeuta. Como foi a vivência da relação terapêutica. Na fase inicial da

terapia, as primeiras sessões devem possibilitar ao cliente a vivência da experiência de

confiança. Às vezes, algumas pessoas ao se colocarem desarmadas na entrevista inicial, já

começam a aceitar seu terapeuta. Outras, são mais desconfiadas e testam o terapeuta no

sentido de verificarem se podem entregar-se a este o seu conteúdo vivencial, isto é, a sua

intimidade. Podemos dizer, que esta entrega básica é a condição “sine qua non” a terapia não

deslanchará. O supervisor deve estar atento se a confiança do cliente já começou a acontecer.

Por outro lado, é muito diferente ver como este momento inicial pode ser compreendido no

conjunto do processo. Será que esta entrega ou não entrega está dificultando o processo como

um todo? A condução da terapia é entender qual o lugar dessa sessão no desenvolvimento de

todo o caminhar, é compreender como o que foi vivido na sessão pode trazer uma luz sobre o

desenrolar do processo terapêutico. A condução da sessão é perceber o que está acontecendo

no encontro.

b) Questões iniciais

Aqui, queremos trazer à tona algumas questões que surgem logo no início da

terapia e que o supervisor deve estar atento, no sentido de ajudar o novo terapeuta a se

posicionar de forma crítica e criativa diante dos desafios que vão surgindo.

A primeira questão de fundamental importância para o êxito da terapia e que deve

ter a atenção do supervisor, diz respeito à qualidade da relação terapêutica que está sendo

instaurada. No início da terapia, muitas vezes, o paciente, só pelo fato de ser bem acolhido, já

se coloca numa posição de confiança com respeito ao seu ouvinte, no caso o terapeuta. Saber

acolher é o primeiro requisito para se tornar um bom terapeuta, pois é justamente a qualidade

do acolhimento que vai possibilitar a qualidade da relação intersubjetiva que está sendo

instaurada. Muitas vezes, experimentamos um alívio só pelo fato do nosso ouvidor nos acolher

com um sorriso. Já nos sentimos reconfortados pelo simples fato do outro dedicar um pouco

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18

do seu tempo a nós. Assim, o terapeuta é aquele que no âmbito da sessão dedica 50 minutos a

uma pessoa que durante toda sua vida não teve nenhum momento de acolhimento. Mostrar que

você tem um tempo para ouvir o outro já é um primeiro passo para desencadear no outro a

vivência da confiança, condição básica para o bom desenrolar da terapia.

Rúdio nos diz: “A psicoterapia existencial procura cumprir seus objetivos através

de um relacionamento entre terapeuta e cliente que tem a afeição de um verdadeiro encontro

humano”.19

Qualquer relação intersubjetiva que possa provocar em nós a experiência do

encontro prima pela qualidade da relação. Quanto melhor é a relação, mais profundidade no

encontro. Aprender a desenvolver esta postura é o primeiro passo para que o processo

terapêutico se estruture de forma libertadora para o cliente.

A segunda questão que o supervisor deve ajudar ao terapeuta iniciante é dar

referências teóricas que ajude a este a montar um quadro de leitura, isto é, de como o paciente

organiza sua vida. Alguns teóricos chamam esta compreensão de diagnóstico, nós entendemos

que se trata de se buscar uma sistematização dos principais pontos de vista do cotidiano do

cliente. Romero20

, no seu livro “Neogêneses: o desenvolvimento pessoal mediante a

psicoterapia”, na segunda parte, mais precisamente nos capítulos X-XV, apresenta as diversas

áreas do mundo pessoal do cliente que devem ser levadas em consideração, e, por isso mesmo,

capazes de nos oferecer o quadro da existência de nosso cliente. São as seguintes áreas: os

relacionamentos afetivos; os relacionamentos familiares e a relação conjugal; a invenção da

vida no plano do trabalho; os relacionamentos imaginários e simbólicos; planos, projetos e

perspectivas futuras e a compreensão do desenvolvimento biográfico. Essa visão do conjunto

da vida do paciente ajuda ao terapeuta a perceber quais as áreas de conflito e quais as áreas

onde a vida flui de forma sadia e autêntica.

Na nossa perspectiva, esse quadro deve ser montado aos poucos, sem que

forcemos o cliente a responder a um questionário, o que desvirtuaria todo o sentido de

encontro terapêutico. É na medida que o cliente vai expondo suas queixas e suas vicissitudes

nós vamos mostrando em nossa compreensão teórica o quadro do seu mundo pessoal. Este

deve surgir de forma espontânea no decorrer do processo. Ajudar ao terapeuta iniciante a não

19

RUDIO, F.V. Diálogo maiêutico e psicoterapia existencial. São José dos Campos, Novos Horizontes Editora,

1998, p. 124. 20

ROMERO, E. Neogêneses: o desenvolvimento pessoal mediante a psicoterapia. São José dos Campos, Novos

Horizontes Editora, 1999.

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19

se afobar e querer construir este panorama com perguntas diretas, em forma de interrogatório,

que só prejudicariam o andar da terapia.

A terceira questão, que merece muita atenção na supervisão é que o terapeuta

iniciante muitas vezes mistura sua problemática com os problemas que o cliente traz para a

sessão. Queremos dizer que a queixa apresentada, isto é, uma dificuldade do cliente tem, às

vezes, haver com alguma vivência do terapeuta. Por exemplo, o cliente começa a falar sobre a

morte de um parente e por coincidência o terapeuta perdeu, também, um parente muito

próximo e sua ferida reabre. Com freqüência, se não trabalharmos bem nossas questões

pessoais acabamos misturando-as com a do cliente. Dessa forma, não consigo diferenciar

muito bem o que se passa, pois fico atordoado com a questão levantada. Como ainda não

trabalhei bem a questão e esta dói dentro de mim, de forma inconsciente, começo a desviar o

assunto quando este aflora. Ajudar a separar o problema pessoal do problema do paciente é de

suma importância. Digo separar, pois tratar o problema não deve ser na supervisão, mas na sua

própria terapia. Desenvolver o autoconhecimento é uma tarefa essencial para o bom

andamento do processo terapêutico.

A quarta questão pode ser resumida da seguinte maneira: como ajudar o iniciante a

construir e a ter uma atitude terapêutica fenomenológica?

As palavras de Rúdio podem começar a iluminar o nosso caminho. Ele diz: “Um

ponto fundamental para o fenomenologista é que o comportamento do individuo não é uma

reação à realidade como tal, mas, sim, ao significado que ele lhe atribui. Quer dizer, o

individuo se comporta como resposta ao significado que ele dá ao que existe”.21

Assim, o

supervisor deve insistir para que o terapeuta iniciante busque centrar sua atenção não no

comportamento reativo, mas no significado que justifica o comportamento.

A postura deve ser de ajuda para desvelar o significado dado ao que se vive. Para

isso, tenho que desenvolver dentro de mim uma atitude de não classificar o que está sendo

vivido pelo cliente. Quando rotulo as coisas, não deixo aparecer o verdadeiro sentido dado

pela intencionalidade da consciência. É preciso tomar uma distância, colocar entre parêntese a

atitude de classificar, para na calma do encontro existencial ajudar a aflorar o significado.

Muitas vezes, nem deixamos a outro terminar de falar e já estamos com nossa resposta pronta

21

RUDIO, V.F., op. cit., p. 131.

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20

ou uma nova pergunta a ser feita. O treino de uma boa escuta é o caminho para sedimentar

uma atitude fenomenológica.

c) Desenvolver uma compreensão fenomenológico-existencial

Aqui, esbarramos no aspecto mais delicado da supervisão. Para o desenvolvimento

dessa compreensão, dita fenomenológico-existencial na prática, supomos que o terapeuta

iniciante tenha tido um estudo sério do que caracteriza essa abordagem, tenha estudado e

assimilado alguns pressupostos teóricos que servirão de base na compreensão do caso e na

sustentação teórica de sua atitude terapêutica. Vamos, rapidamente, trazer, agora, algumas

reflexões que podem nos ajudar a entender a especificidade dessa compreensão.

O que buscamos compreender? Na linguagem desta abordagem é o fenômeno. O

que se entende por fenômeno? “A palavra “fenômeno”, de origem grega, quer dizer,

etimologicamente, “o que aparece”. Significa aquilo que é percebido pelos sentidos e que se

revela (aparece à consciência, quando esta entra em contato com a realidade”.22

Significa a

maneira de como percebemos a realidade e a interiorizamos.

Esta é a famosa distinção entre o fato e o fenômeno. O fato é o acontecimento

exterior a nós e o fenômeno é a maneira de como eu percebi o fato e o tornei meu. Por

exemplo, diante da queda d’água nas cataratas do Iguaçu, cada visitante percebe a queda de

acordo com sua maneira, do seu ponto de vista pessoal. Uns vão ficar mais impressionados do

que outros pela beleza do momento. A representação que tenho na consciência mais a

intensidade dessa representação é que constitui o fenômeno. O fato é a queda d’água, e o

fenômeno é a maneira com que cada um percebe e significa esta percepção. Assim, para cada

um o fato se revela à consciência na particularidade da minha história pessoal, “o fenômeno é

uma espécie de “tradução” vivencial que as pessoas fazem dos fatos”.23

Assim, todo o procedimento técnico da terapia é para ajudar ao cliente a se

aproximar do que ele experiencia, do fenômeno, da tradução do fato em algo que tem

significado para ele. Como disse acima o terapeuta da abordagem fenomenológica trabalha

com o significado que a pessoa atribui à realidade. “A base do trabalho que o fenomenologista

22

RUDIO, V.F., op. cit., p. 130. 23

RUDIO, V.F., op. cit., p. 130.

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21

realiza como terapeuta não se encontra nos “fatos”, mas nos “fenômenos” que lhes são

transmitidos pelo relato do cliente”.24

Aqui, o importante é saber o que utilizar para que o conteúdo significativo (o

fenômeno) possa aflorar. O terapeuta iniciante tem, também, que aprender “como” e quando

utilizar as técnicas apropriadas para fazer o fenômeno aparecer. A supervisão deve ter presente

essas questões para que o supervisando tenha um aprendizado sólido no seu trabalho clínico.

A questão que aparece agora é a seguinte: de onde surge este significado? Ele não

acontece por acaso. Ele brota da estrutura da existência da pessoa. Assim, na perspectiva

fenomenológico-existencial não basta fazer aflorar o fenômeno, é preciso compreender a

estrutura de vida que dá significado a esta vivência. Por isto, “a tarefa principal do terapeuta

existencial no ‘encontro’ é procurar ‘compreender’ o seu cliente, não apenas no que ele

manifesta diretamente por palavras e gestos, mas também no significado, nem sempre claro,

que ele dá à vida e que se revela, de forma ampla, pelo seu próprio modo de ser e de agir”.25

Desvendar a estrutura de vida que orienta toda vivência da realidade é a segunda etapa da

terapia e que o iniciante deve aprender técnicas que possibilitam desvelar esta realidade. De

uma forma simples podemos dizer que o “núcleo do processo terapêutico-existencial está na

busca de conhecer, compreender, analisar e avaliar o significado das “experiências” e das

“vivências” que o cliente tem no seu envolvimento com o mundo”.26

Cada uma das palavras

ditas acima têm uma importância e um peso teórico que, aqui, no nosso trabalho, não é

possível desenvolver, mas que merece toda uma reflexão posterior. Conhecer, compreender,

analisar e avaliar são verbos que denotam uma ação que deve ser exaustivamente trabalhada. É

o conjunto destas ações e que se caracteriza a análise existencial.

Para terminar este ponto, gostaria de salientar que esse processo de compreensão

de vida não é, de maneira alguma, uma compreensão intelectual mais vivencial. As palavras

de Rúdio confirmam nossa preocupação quando diz: “Para ajudar o cliente a buscar uma vida

sadia e autêntica, o terapeuta (existencial) procura levá-lo a refletir sobre si mesmo de uma

forma existencial”.27

24

RUDIO, V.F., op. cit., p. 130. 25

RUDIO, V.F., op. cit., p. 125. 26

RUDIO, V.F., op. cit., p. 123. 27

RUDIO, V.F., op. cit., p. 122.

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22

d) O surgimento de um novo terapeuta

O último ponto que gostaríamos de explicitar é sobre o papel do supervisor no

processo de aprendizagem do terapeuta iniciante. Como deve ser esta presença? Que tipo de

supervisão deve o terapeuta mestre desenvolver para que possa surgir um novo terapeuta?

A atitude principal a ser desenvolvida pelo supervisor é ter diante de si que ele não

vai formar ninguém, que ele não vai moldar ninguém. Ele vai simplesmente passar alguns

conhecimentos teóricos e práticos que possam ajudar o supervisando a desenvolver

habilidades terapêuticas. Evidentemente que ninguém nasce terapeuta, mas cada um será

terapeuta a sua maneira. Mestre é aquele que transmite experiência, mas respeita que cada um

de nós vivencie, seguindo a sua maneira de ser, a relação terapêutica com o cliente. O

supervisor é aquele que abre os olhos do supervisando, mas não diz a toda hora o que deve

fazer, ele dá critérios para que cada um encontre o seu caminho. É como o processo de

educação, você ilumina o caminho para que o outro possa fazer suas experiências pessoais.

Assim, partimos do pressuposto que o supervisor deve deixar aflorar as

habilidades do supervisando, que em algumas vezes, podem ser diferentes e até mais originais

que a sua. Cada um terá uma maneira própria de conduzir a terapia. As regras auxiliam na

medida que nos ajuda a ver o que se passa, mas nós não podemos ficar presos a elas.

O lugar da supervisão no “curriculum” escolar não é só uma transmissão do

conhecimento de uma pessoa dita mais experiente para outra menos experiente. É, antes de

tudo, um encontro humano, onde haverá um crescimento pessoal de ambas as partes. O

supervisando crescerá existencialmente na medida que encontra o seu caminho de trabalho, e o

supervisor na medida que cresce com as novas vivências originárias do envolvimento

profissional. Cada um, a seu modo, sedimentará a sua vida através de sua prática profissional.

BIBLIOGRAFIA

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23

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HUBER, W. L’homme psychopathologique et la psychologie clinique. Paris: PUF, 1993

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