ginzburg o alto e o baixo

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G/NZBURG)~, .~ ~/YY\4/~ Y..,-~. M9aM1&: ~k~ oku~ ~)~qq~. tr 0/5- ;frt- o ALTO EO BAIXO o TEMA DO CONHECIMENTO PROIBIDO NOS SÉCULOS XVI E XVII o tema deste ensaio é muito amplo; portanto, será melhor partir de um texto definitivo. Na Epístola aos Romanos 11.20, são Paulo exortava os romanos convertidos ao cristianismo a não desprezar os hebreus. A mensagem de Cristo (subentendia ele) é universal. Daí a exortação: [ti] vIjJYjÀO'PpOVH, àÀÀà 'Pof3ov C'Não te ensoberbeças, mas teme ... "). Na V ulgata de são jerô- nirno, a passagem correspondente diz: "nolli altum sapere, sed time".' A Vulgata freqüentemente é uma tradução muito literal," e também nesse caso "altum sapere" é antes um decalque do que uma verdadeira tradição do grego {,IjJYjÀO'PpOVELV.3 Mas no Oci- dente latino, a partir do século IV, o trecho foi muitas vezes mal- entendido: "sapere" foi entendido não como um verbo de sÍ t d1ifi. cado moral ("sê sábio"), mas como um verbo de significado inte- lectual ("conhecer"); a expressão adverbial "altum", por outro lado, foi entendida como um substantivo que designa "aquilo que está no alto". "Non enim prodest scire", escreveu santo Ambró- sio, "sed metuere, guod futurum esr; scripturn est enirn Noli alta sapere ... " melhor temer as coisas futuras do que conhecê-Ias: está escrito, de fato, Noli alta sapere ... ).4 Assim, a condenação da soberba moral pronunciada por são Paulo tornou-se uma censura contra a curiosidade intelectual. No início do século v, Pelágio criticou algumas pessoas, sem citar nomes, que, entendendo mala significado e o contexto da passa. 95

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Y..,-~. M9aM1&: ~k~ oku~~)~qq~. tr 0/5- ;frt-

o ALTO E O BAIXOo TEMA DO CONHECIMENTO

PROIBIDO NOS SÉCULOS XVI E XVII

o tema deste ensaio é muito amplo; portanto, será melhorpartir de um texto definitivo. Na Epístola aos Romanos 11.20,são Paulo exortava os romanos convertidos ao cristianismo a nãodesprezar os hebreus. A mensagem de Cristo (subentendia ele)é universal. Daí a exortação: [ti] vIjJYjÀO'PpOVH, àÀÀà 'Pof3ovC'Não te ensoberbeças, mas teme ... "). Na V ulgata de são jerô-nirno, a passagem correspondente diz: "nolli altum sapere, sedtime".'

A Vulgata freqüentemente é uma tradução muito literal," etambém nesse caso "altum sapere" é antes um decalque do queuma verdadeira tradição do grego {,IjJYjÀO'PpOVELV.3 Mas no Oci-dente latino, a partir do século IV, o trecho foi muitas vezes mal-entendido: "sapere" foi entendido não como um verbo de sÍtd1ifi.cado moral ("sê sábio"), mas como um verbo de significado inte-lectual ("conhecer"); a expressão adverbial "altum", por outrolado, foi entendida como um substantivo que designa "aquilo queestá no alto". "Non enim prodest scire", escreveu santo Ambró-sio, "sed metuere, guod futurum esr; scripturn est enirn Noli altasapere ... " (É melhor temer as coisas futuras do que conhecê-Ias:está escrito, de fato, Noli alta sapere ... ).4

Assim, a condenação da soberba moral pronunciada por sãoPaulo tornou-se uma censura contra a curiosidade intelectual. Noinício do século v, Pelágio criticou algumas pessoas, sem ci tarnomes, que, entendendo mala significado e o contexto da passa.

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gem, sustentavam que em Romanos 11.20 o Apóstolo pretenderiaproibir "o estudo da sabedoria isapientae studium's"? Mais de milanos depois, Erasmo, seguindo uma indicação do humanista Lo-renzo Valla 6, observou que o alvo das palavras de são Paulo foraum vício moral, não intelectual. No seu diálogo inacabado Anti-bárbaros, ele escreveu que "essas palavras não condenam a eru-dição, mas tendem a nos dissuadir do orgulho pelos nossos suces-sos mundanos". "Paulo - acrescentou - dirigiu as palavrasnon altum sapere aos ricos, não aos doutos." Não admira que, emsua tradução do Novo Testamento, Erasmo se recusasse a adotar asambíguas palavras da Vulgata, preferindo escrever com mais pre-cisão "ne efferaris animo, sed timeaes". "Aquilo a que se se refereaqui" - explicou - "não é o conhecimento ou a estupidez, masa arrogância e a modéstia." 7 Voltaremos adiante a essa defesa dacultura por parte de Erasmo. Em todo caso, é preciso notar que,apesar dessa claríssima interpretação do texto, a má compreensãoda passagem paulina permaneceu.

A analogia entre as palavras de Pelágio e as de Erasmo édigna de nota. Ao que parece, havia uma tendência persistenteem se entender mal o significado daquela passagem. É uma con-clusão aparentemente difícil de aceitar, porque todos os comenta-dores medievais ou renascentistas interpretaram corretamente"noli altum sapere" como uma admoestação dirigida contra o orgu-lho espiritual. Mas a Romanos 11.20 seguiam-se duas exortaçõesmorais mais ou menos semelhantes: "Digo ... a cada um de vósque não tenhais de vós próprios um conceito mais alto do que oque é certo ... " (Rom. 12.3); e "Não tenhais o ânimo nas coisasaltas, e deixar-vos atrair pelas humildes" (Rom. 12.16). A palavra-chave de todas essas passagens é, no texto grego, cppoveiv(fLYJ vt/JYJÀoCPPOVEL, fL7] ÇTrEpcppovEiv, fLYJ TCx vt/JYJÀacppOVOVVTEÇ) ,8que são J erônimo traduziu por "sapere" ("noli altum sapere","non plus sapere quam oportet sapere", "non alta sapientes sedhumilibus consentientes"). Já no século IU, Lactâncio escrevera que"sapere" significa "procurar a verdade"," Um século depois, Am-brósio, como vimos, considerara "sapere" sinônimo de "scire",saber. É significativo que, nas línguas neolatinas. os verbos que

se referem ao conhecimento sejam sapere , savoir, saber - mesmoque no italiano, por exemplo, a distinção entre scienza e sapienzaconserve em parte a distinção entre âmbito moral e âmbito inte-Iectual.'" Não surpreende, portanto, que as palavras "non plus sa-pere quam oportet sapere" (Rom. 12.3) tenham sido interpretadascomo uma admoestação contra a curiosidade intelectual dos heré-ticos em matéria de religião. Também comentadores como Srna-raqdo ou Rabano Mauro, que justametne interpretaram "noli altumsapere" como equivalente a "não sejas orgulhoso", acabaram, al-gumas páginas depois, por estabelecer uma conexão entre essaspalavras e a passagem "non plus sapere quam oportet sapere",entendida em sentido cognoscitivo." Por séculos e séculos, as pala-vras paulinas "non altum sapere", extraídas do contexto, foramcitadas por autores laicos ou eclesiásticos como texto óbvio contraqualquer tentativa de ultrapassar os limites do intelecto humano- por exemplo, no caso que logo veremos, De imitatione Christi.No final do século xv, um dos primeiros tradutores da Bíblia parao italiano, Nicolà Malerrni, podia escrever "não queiras conheceras coisas altas" Y

Encontramo-nos, portanto, frente a um lapso não individual,mas coletivo, ou quase coletivo. O deslize das palavras de sãoPaulo, passando de um significado moral para um significado in-telectual, foi certamente favorecido por fatores de ordem lingüís-tica e textual." Mas o fato de que as palavras "noli alturn sapere"foram interpretadas como uma admoestação contra o conhecimentoilícito das "coisas altas" implica também elementos mais pro-fundos."

A espécie humana tende a representar a realidade em termosde opostos. O fluxo das percepções, em outras palavras, é decom-posto na base de categorias nitidamente contrapostas: luz e som-bra, calor e frio, alto e baixo." O antigo lema atribuído a Herá-clito, segundo o qual a realidade é uma guerra de opostos - lemaque Hegel retraduziu em termos da sua concepção dia1ética -pode ser lido numa chave diferente e igualmente anacrônica. Certavez, um famoso biólogo observou que essa obsessão centrada napolaridade tem profundas raizes biológicas, na medida em que a

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mente humana é comparável a um computador que opera na basede uma lógica de tipo sim/não, tudo/nada. Mesmo que a físicamoderna já seja suficientemente imune ao antropomorfismo paranão se vincular a esse tipo de lógica, os seres humanos continuama se comportar e a pensar da maneira mencionada. Para eles, arealidade, enquanto refletida pela linguagem e, conseqüentemente,pelo pensamento, não é um continuam, mas um âmbito reguladopor categorias descontínuas, substancialmente antitéticas."

Essas categorias, obviamente, têm um significado cultural ousimbólico, além do nível biológico. Os antropólogos começaram aanalisar o significado mutável de algumas delas - a oposição di-reita/esquerda, por exemplo." Mas, entre essas categorias, nenhu-ma é tão universal como a oposição alto/baixo. É significativoque digamos que algo é "elevado" ou "superior" - ou, inversa-mente, "baixo" ou "inferior" - sem nos darmos conta do motivopor que aquilo a que atribuímos maior valor (a bondade, a forçaetc.) deva ser colocado no alto. Também os primatas, ao que pa-rece, reagem à contraposição entre alto e baixo. Mas o intensovalor cultural atribuído a essa contraposição em todas as socie-dades conhecidas (ao que eu saiba) provavelmente está ligado a umelemento diferente, especificamente humano - de fato, o elemen-to que teve um peso decisivo na história do homo sapiensP Aprolongada infância do homem, a excepcional lentidão do seu de-senvolvimento físico e intelectual explicam de modo plausível aidentificação imediata daquilo que é alto com a força, a bondadee assim por diante. À criança privada de qualquer recurso, oadulto poderosíssimo aparece como a encarnação de todos os "va-lores".

Tudo isso, naturalmente, é pura hipótese. É fato, porém, quecada civilização situou a fonte do poder cósmico - Deus - noscéus." Além disso, o simbolismo da "alteza" está profundamenteligado, como se vê ainda hoje pelas línguas indo-européias, aopoder político. Agora, se voltarmos à passagem da Vulgata deonde partimos, veremos que a advertência contra a pretensão deconhecer as coisas "altas" referia-se a níveis diversos de realidade,mas ligados entre si. A realidade cósmica: é proibido olhar os

céus e, em geral, os segredos da Natureza (arcana naturae). A rea-lidade religiosa: é proibido conhecer os segredos de Deus (arcanaDei), como a predestinação, o dogma da Trindade e assim pordiante. A realidade política: é proibido conhecer os segredos dopoder Larcana imperii), isto é, os mistérios da política. Trata-se deaspectos diferentes da realidade, cada um deles com uma hierar-quia bem-definida; diferentes, mas ligados entre si - ou, maisprecisamente, reforçados reciprocamente por meio de analogias.

Os antropólogos conhecem, talvez mais do que os historia-dores, o perigo de projetar as nossas categorias sobre culturas re-matas. Mas, neste caso, podemos proceder tranqüilamente, umavez que o ressurgimento das palavras paulinas "noli altum sapere"em contextos diferentes reflete um pressuposto unitário implícito:a existência de um âmbito separado, cósmico, religioso e político,definível como "alto" e vedado ao conhecimento humano.

O valor ideológico dessa tríplice exortação é evidente. Elatendia a conservar a hierarquia social e política existente, conde-nando os pensadores políticos subversivos que tentavam penetrarnos mistérios do Estado. Tendia a reforçar o poder da Igreja (oudas igrejas), subtraindo os dogmas tradicionais à curiosidade dosheréticos. Tendia, além disso - um efeito marginal de certa im-portância -, a desencorajar os pensadores independentes queousassem questionar a venerável imagem do cosmo, baseada nopressuposto aristotélico-ptolornaico de uma contraposição nítidaentre os céus incorruptíveis e um mundo sublunar (isto é, terreno)corru ptí velo

Essa insistência nos limites da razão contradiz, à primeiravista, a imagem oitocentista do Renascimento como uma épocaclaramente contraposta ao mundo C( medieval" tradicional. Na rea-lidade, essa imagem não era de todo errada, mas excessivamentesimplificada. Será útil, nesse contexto, invocar o caso de Erasmo.A defesa da cultura, implícita na sua observação sobre o verdadei-ro significado das palavras de são Paulo, "noli altum sapere", dis-tancia-se conscientemen te da tradição em que ele próprio se for-mara. No famoso e pequeno tratado De imitatione Christí, deTomás de Kempis, lê-se a seguinte passagem: "Não te orgulhes nas

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artes ou nas ciências, mas teme o que te foi dito", Teme, time;e o texto prossegue: "N ali altum sapere , mas confessa a tua igno-rância",2\) Mais uma vez, fica claro até que ponto essa passagemrevela toda uma concepção de mundo. Chamá-Ia-emos medieval?Trata-se, evidentemente, de um termo muito vago e genérico, Semdúvida, os Irmãos da Vida Comum louvavam as virtudes monás-ticas, como a humildade, contra o orgulho intelectual que atri-buíam à tradição escolástica. Todavia, Erasmo, que na juventudefora seguidor dos Irmãos da Vida Comum, não se identificou coma tradição das ordens monásticas, e tampouco com a da escolás-tica. Nos Antibárbaras, com efeito, ele refutou ambas como exem-plos de "barbárie". Sua defesa da cultura se ligava a uma outratradição, a humanista. É verdade também que as disputas teoló-gicas entre católicos e protestantes, provocadas pelo aparecimentoda Reforma, induziram Erasmo cada vez mais a citar um antigoprovérbio: "Quae supra nos, ea nihil ad nos" [Daquilo que estáacima de nós, não devemos nos ocupar]. Com isso, naturalmente,ele não voltava à tradição da humildade intelectual monástica. Olema, atribuído a Sócrates, exprimia uma atitude bem diferente.Com verdadeira ironia socrática, Erasmo aludia ambiguamente aoslimites do conhecimento humano, contrapondo a simplicidade damensagem de Cristo às sutis especulações dos teólogos dasduas alas."

O lema socrático, "quae supra nos, ea nihil ad nos", é muitasvezes citado nos livros de emblemas." Nessas coletâneas de lemase provérbios acompanhados de imagens, tão difundidas entre opúblico culto na Europa do século XVI e principalmente do séculoXVII, encontramos um grande número de imagens e lemas ligadosao tema da proibição de se conhecerem as "coisas altas". Aquiloque os unifica é a citação recorrente, devidamente mal-entendida,das palavras de são Paulo, "noli altum sapere". Misturando tipica-mente cristianismo e cultura clássica, essas palavras foram ernpre-gadas, por exemplo, como legenda aplicada aos mitos de Prometeue Icaro: fcaro que cai dos céus e Prometeu punido por ter rou- .bado aos céus o fogo divino (cf. figo 1 e 2) foram consideradossímbolos dos astrólogos, dos astrônomos, dos teólogos heréticos,

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1. Andrea Akiati, Emblema/um iibeilas, Paris, 1535, p. 57.

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EMBLEMA

dos filósofos inclinados a pensamentos ousados, de indefinidos teó-ricos da política." Em alguns casos, é possível desemaranhar asobscuras alusões implícitas nesses livros de emblemas. No Emble-mata de Alciato, talvez o mais famoso de todos, com uma centenade edições em várias línguas, há um emblema que representa Pro-meteu acorrentado, enquanto uma águia lhe rói o fígado. O lemaé o que conhecemos: "Quae supra nos, ea nihil ad nos" (Daquiloque está acima de nós, não devemos nos ocupar). O comentárioem versos soa assim: "roduntur variis prudentum pectora curis/qui coeli affectant scire deumque vices", que literalmente signi-fica: "os corações dos dou tos que querem investigar a naturezados céus e dos deuses são roídos por todos os tipos de afãs". Ocomentário de Alciato ecoa uma passagem do De fato, o tratadofilosófico sobre o livre-arbítrio e a predestinação composto algunsanos antes por Pietro Pomponazzi, que então circulava em manus-crito. "Prornetheus vere est philosophus" - escrevera Pornpo-nazzi - "qui, dum vult scire Dei arcana, perpetius curis et cogita-tionibus roditur ... ", isto é, "Em verdade, Prometeu é o filósofoque, quando quer investigar os segredos de Deus, é roído conti-nuamente por afãs e pensamentos ... ". A heróica auto-imagemproposta por Pomponazzi transformou-se no emblema de Alciatoem uma acusação polêmica."

Os livros de emblemas, como se centravam em imagens, po-diam transpor facilmente as fronteiras lingüísticas, mesmo quandonão eram escritos numa língua internacional como o latim. Masa sua ampla circulação européia ultrapassou fronteiras confessio-nais, além das nacionais. De fato, eles recorriam geralmente a umnível cultural mais profundo e difundido, baseado em pressupostosinconscientes ou apenas parcialmente conscientes, como por exem-plo a idéia da analogia entre as hierarquias cósmicas, religiosas epolíticas - a analogia a que remetia a proibição "non altumsapere" .

A um certo ponto, porém, os limites tradicionais impostos aoconhecimento humano foram derrubados. Basta lembrar o enormedesenvolvimento da astronomia do início do século XVI em diante.Certamente, homens coam Galileu ou Kepler não hesitaram em

CVI.<l.!!z fiipra nos.nihil ad nos.

.'

CAucafia eternum pendem ln rupe Prometb,16lDiripuur [lUr; pr.tpet ir vngut iecur.

Et nollet fuiJJe bominem figulosq,Pero[usA"en~m rapto damnat ab »«f.:cem.

xodunr U1 '141ij$ prudmt um peãors curu,Q.!i ,crli affec1ant fliTt,dtum~ "jcu.

2. Andrea Alciati, Emblemata, Frankfurt-am-Main, 1567, p. 106.

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olhar os céus, servindo-se também de novos instrumentos comoo telescópio. Os arcana naturae , os segredos da natureza, começa-ram a ser desvelados; qual foi a repercussão dessas descobertascientíficas sobre velhas proibições de conhecer os arcana Dei e osarcana imperii, os segredos de Deus e os segredos do poder? Asrecentes discussões sobre esses temas trouxeram à luz sobretudo aimportância de determinadas posturas intelectuais ou religiosas- a puritana, por exemplo - para o progresso do pensamentocientífico. Aqui tentaremos percorrer, ainda que brevemente, umcaminho diverso.

"O fato de você ter projetado a terra no céu" - perguntaLoyola a Copérnico em lgnatius His Conclave, de John Dorme -"induziu talvez os homens a ter confiança em construir novastorres ou mais uma vez ameaçar a Deus? Ou desse movimento daterra concluem eles que o inferno não existe, e negam a puniçãodos pecados?" 25 Tais eram, segundo um dos cérebros mais pers-picazes daquela época, dois dos possíveis efeitos da "nova ciência":um blasfemo orgulho intelectual, ou a recusa de uma poderosaforça de coesão social como a religião. Por enquanto, deixemos delado o primeiro e detenhamo-nos no segunda.

Entendo que a possibilidade de extrair analogias subversivasda "nova ciência" para as questões religiosas e políticas não selimitava aos círculos doutos. Podemos invocar, a propósito, aspalavras de Costantino Sacardino, chefe de uma conspiração fra-cassada contra o governo papal. Sacardino, enforcado como ateuem Bolonha, em 1619, costumava dizer: "Tolos os que acreditam[no inferno] ... Os príncipes querem que se acredite nisso, paraagirem à sua maneira, mas. .. enfim toda a passarada abriu 05

olhos" .26 Nesses mesmos anos, os grupos de intelectuais francesese italianos conhecidos como "Iibertins érudits" sustentavam quea religião era uma mentira, mas uma mentira útil: sem ela, asmassas teriam se comportado mal, e a sociedade inteira teria des-rnoronado." Um homem como Sacardino - um bufão profissional,que era ao mesmo tempo um seguidor da medicina paracelsiana -subverteu abertamente essa doutrina aristocrática. A atitude da gen-te comum - era esta a sua hipótese otimista - mudara. Eles não

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lN ASTaOLOGOS.

Jc~rtp(y{upcros quir4ptuSO' áCrJ dane"In m.trt pr~cipitmJ (~.J liqu.~t;1.d.m.4t.

Nufk' Ir cer« r~fortlmsq; )'t'ru(cifjt 19uif ~Exnnp!o ut @ct4$ dopu.~cC"rli1.tlW.

AflrO~4Ií c4#t4t quieqridllf I'r.tdi'rr~prr"t'p!,N.mu~rt;mpoflui'dmufiIPtr 4Ir.IItt:.'lt.

J. Andrea Alciati, Emblema/um liber , Augsburg, 1531, ff. nãonumeradas (XLIV).

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mais olhavam passivamente os gestos dos reis e políticos no palcodo teatro do mundo: haviam começado a penetrar nos segredos dopoder, descobrindo o mais oculto de todos - o uso político dareligião.

"Desse movimento da terra" - perguntara Donne - "con-cluem eles que o inferno não existe, ou negam a punição dos pe-cados?" Foi exatamente esta a conclusão de Sacardino. Natural-mente, não temos provas de que ele conhecesse alguma coisasobre o sistema copernicano. Mas é de se perguntar se a sua cons-ciência de viver numa época nova, em que as crenças tradicionaishaviam se desgastado - "enfim toda a passarada abriu os olhos"

era realmente independente daquilo que vinha se verificandono âmbito da ciência.

O caso de Sacardino é, ao que sabemos, bastante excepcional.Além disso, uma revolução baseada nas classes inferiores, tal comoele sonhava, obviamente estava, na Europa do século XVII, conde-nada à derrota. Uma analogia entre a "nova ciência" da naturezae a ciência da sociedade, para ser coroada de sucesso, deveria sereferir, como fez Hobbes, a poderosas realidades existentes, taiscomo os Estados absolutistas. É significativo que esse tipo de ana-logia fosse definido como "ateísta" - um termo vago que podiase aplicar a questões políticas, além das religiosas. Esta é maisuma prova do que já dissemos sobre a profunda relação que existiaentre os três níveis de conhecimento -o cósmico, o religioso eo político. É útil lembrar, nesse contexto, a invectiva de Simplíciono Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo de Galileu:"Esse modo de filosofar tende à subversão de toda a filosofia na-tural, e a desordenar e reduzir a pedaços o céu e a Terra e todoo universo" .28 Esse temor às implicações subversivas do novo sis-tema heliocêntrico, que Galileu atribuía aos seguidores da velhacosmologia aristotélica, não era um mero exagero retórico. De fato,encontramos um eco seu, alguns anos depois, em Descartes, noDiscurso do método: " ... eu não poderia aprovar de nenhumaforma aqueles temperamentos turbulentos e inquietos que, não'sendo chamados ao manejo dos negócios públicos nem pela neces-sidade nem por outro destino, sempre têm em mente novos pro-

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4. Marcello Marciano, Pompe [unebri. Nápoles, 1666, detalhe da figuraem frente à p. 102

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jetos de reforma; e, se eu pensasse que nesse texto houvesse amínima coisa pela qual pudesse se suspeitar de tal loucura, euficaria muito desolado por ter permitido a sua publicação" .29 Essaprudente observação contribui para esclarecer ainda a decisão deDescartes em não publicar o seu tratado Le monde, depois da con-denação de Ga1ileu pela Igreja romana. Ele tinha clara consciênciadas implicações políticas da nova ciência, mesmo estando muitolonge de partilhá-Ias.

A condenação do sistema heliocêntrico pela Igreja romanafoi justificada, conforme os casos, como um gesto de intolerânciaou de meticulosidade obstinada. No entanto não se pode excluira possibilidade de também ter sido inspirada pelo obscuro temoràs implicações religiosas e políticas da nova cosmologia." Na me-tade do século XVII, um jesuíta italiano, o cardeal Sforza Pallavici-no, adotou uma atitude mais flexível em relação ao progressocientífico. Ele também aludiu à velha analogia entre os arcananaturae e os arcana imperii, os segredos da natureza e os segredosdo poder político, porém contrapondo-os nitidamente. Era possívelpredizer o comportamento da Natureza, porque as leis naturaiseram poucas, simples e invioláveis. Mas predizer o comportamentodos reis e príncipes era pura temeridade, como seria predizer aimperscrutável vontade de Deus." No mesmo espírito, o nobreVirgilio Malvezzi, parente de Sforza Pallavicino, escreveu que"quem para explicar os eventos físicos apresenta Deus como razãoé pouco filósofo, e quem não o apresenta para a explicação doseventos políticos é pouco cristão" .32 Portanto, de um lado temoso reino da ciência, que em princípio está aberto a todos, mesmoaos artesãos e camponeses - já que, como observou Sforza Palla-vicino, a filosofia natural "se difunde nas oficinas e campos", ei

não apenas "nos livros e academias". De outro lado, temos o reinoda política, que está vedado aos "particulares" que tentam pene-trar nos segredos do poder. Dessa forma, a nítida contraposição 'entre a previsibilidade da Natureza e a imprevisibilidade da polí-tica introduzia um tema muito diferente, em torno do qual pre-sumivelmente construíra-se todo um discurso: a necessidade deimpedir que o povo interviesse nas decisões políticas. Mas, ao

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5. Anselme de Boot, Symbola varia, Amsterdam, 1686, p. 292.

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6. Florentius Schoonhovíus, Emblemata, Gouda, 1618, p. 9.

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mesmo tempo, a sutil distinção traçada por Sforza Pallavicinoimplicava uma avaliação realista da natureza do progresso cientí-fico, apesar da sua advertência contra quem pretendesse ignoraras "cancelas da humana ciência"."

Essa superação dos antigos limites foi devidamente registradanas coletâneas de emblemas. Durante o século XVII, fcaro e Pro-meteu tornaram-se símbolos de um forte impulso intelectual paraas descobertas. Uma nítida transvaloração dos valores fez com quea "ousadia", a "curiosidade'v" e o "orgulho intelectual" - víciostradicionalmente associados àgueles mitos - também fossem con-siderados virtudes. John Donne previra-o: "Será que o fato devocê ter projetado a terra no céu induziu os homens a ter con-fiança em construir novas torres ou a, mais uma vez, ameaçar aDeus?". Icaro e Prometeu - como os Titãs ou os construtoresda torre de Babel - também foram derrotados; mas a deles foiuma derrota gloriosa. De fato, numa coletânea de emblemas dofinal do século XVII, Prometeu não mais aparece representadocomo um deus derrotado, acorrentado à montanha. Sua mão, nogesto de roçar o sol, vinha acompanhada pelo altivo lema: "Nilmortalibus ardum" (d. figo 4) - "nada é difícil demais pata osrnortais'L" Também a queda de fcaro não correspondia mais àsnovas atitudes: numa outra coletânea de emblemas, ele aparececomo um jovem alado, que flutua tranqüilamente no ar (cf. figo5). A divisa "Nil linguere insausurn" (Ousa tudo) vinha acompa-nhada por um comentário que çomparava o vôo à descoberta deum novo mundo por Colornbo." O jesuíta Daniello Bartoli, poroutro lado, observara que sem a coragem de Colombo, comparadaà de Ícaro, a Europa não teria "nem as especiarias e as minas ...nem o conhecimento daquele meio mundo, a América"." As pró-prias noções de "risco" e "novidade" eram agora vistas corno va-lores positivos - apropriados, de fato, a uma sociedade cada vezmais amplamente fundada no comércio. Estava surgindo urna novacultura, baseada na afirmação de novos valores sociais .

Se agora voltarmos uma vez mais às palavras paulinas "nolialturn sapere ", ficará claro por que nesse período elas não parecemmais aceitáveis. Com efeito, podemos acompanhar quase passo a

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Florentius Schoonhovius, Emblema/a, GUUdD, 161:-;. ff'. náonumeradas (xu).

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passo a maneira como acabou por 5<0: refutar esse lema venerável.No início do século XVII, na coletânea de emblemas de um jovemadvogado holandês, Florentius Schoonhovius, várias vezes reedi-tada, encontramos ou tra vez a velha exortação" noli altum sapere ",sob uma forma levemente modificada: "altum sapere pericolosurn"(é perigoso conhecer aquilo que está no alto) (cf. figo 6). Aindaaí, o lema se referia a Ícaro. Um longo comentário de Schoonho-vius explicava o alvo do emblema: os teólogos excessivamentecuriosos que disputavam sobre segredos divinos como a predesti-nação, o livre-arbítrio, a queda de Adào. Como fariam melhor,exclamava, se deixassem de lado essas discussões abstrusas e inú-teis, contentando-se simplesmente com a Bíblia! Desse modo, prososeguia ele, a nossa próspera pátria não correria o risco de ser leva-da à ruína pelas discórdias religiosas."

Isso a que aludia Schoonhovius tornara-se naquele momentoum problema incômodo. Em 1618, as discussões religiosas na re-pública holandesa chegaram a uma virada decisiva. Os seguidoresda rígida doutrina calvinista da predestinação encontravam umaoposição crescente por parte dos seguidores mais cordatos de Ar·mínio. Essa discussão teológica tinha ostensivas implicações poli-ricas, já que os arrninianos, que eram minoritários, eram defenso-res da tolerância religiosa. Por esse motivo, apoiaram homenscomo Oldenbarnevelt, que pretendiam se opor ao poder políticodos ministros calvinistas." Para resolver a questão, convocou-seum sínodo em Dordrecht. Naquele exato momento, Schoonhoviusdecidiu publicar sua coletânea de emblemas, como um convite àpaz religiosa.

Tanto a queda de Ícaro como símbolo dos teólogos curiososquanto o lema "noli altum sapere " circulavam amplamente entreesses grupos religiosos holandeses. Em fevereiro de 1618, o cunha-do do cônsul de Haarlem escreveu uma carta condenando aspera-mente os loucos teólogos que, à semelhança de Ícaro, sofrem umamiserável queda por terem ousado voar alto demais, rumo a metasproibidas. Alguns anos antes, o grande filólogo clássico Casaubonescrevera à personalidade mais representativa dos grupos arminia-nos, Grozio, observando que seria útil a toda a cristandade, e

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particularmente aos arrruruanos, refrear aqueles teólogos curiososque procuravam (acrescentava ele, num eco evidente da Epístolaaos Romanos 12.3) saber mais do que deviam, "sapientes supraid quod oportet sapere "."

O emblema de Schoonhovius, portanto, fazia vibrar uma notafamiliar. O seu contexto, porém, em certo sentido era novo. Seolharmos a primeira página do volume de Schoonhovius, veremosantes de tudo, em frente à primeira página do texto, um retrato dojovem autor, emoldurado pelas palavras "sapere aude" (fig, 7).Logo a seguir, três emblemas: "nosce te ipsum" (conhece-te a timesmo), "sapiens supra fortunam" (o sábio não pode ser derro-tado pela sorte) e o já visto "altum sapere pericolosum". A sériese centrava sobre o tema do conhecimento, com evidentes suben-tendidos estóicos. O significado do primeiro lema, porém, con-trastava nitidamente com o último, "altum sapere pericolosum".

"Sapere aude" é tirado da epístola de Horácio a Lollio." Seusignificado literal é "sê sábio". Horácio dirige essas palavras a umtolo que hesita em atravessar um rio, pois espera que a águapare de correr. A passagem ligava-se originalmente ao bom senso,e não ao conhecimento. Mas é fácil entender que o significado daspalavras de Horácio na coletânea de emblemas de Schoonhovius eraoutro. Também aqui "sapere" havia deslizado de um âmbito moralpara um âmbito intelectual, sob a atração do lema vizinho "altumsapere pericolosum".? O resultado era uma espécie de equilíbrioinstável: "é perigoso conhecer aquilo que está no alto", mas "ousaconhecer".

Para entender plenamente o significado dessa última exorta-ção, é preciso lembrar que, nesse período, os intelectuais europeussentiam-se cada vez mais integrantes de uma cosmopolítica respu-blica literatorum, uma república de intelectuais." Nesse contexto, asolidariedade com os outros intelectuais importava mais do que osrespectivos compromissos de caráter religioso ou político. Pode-ríamos dizer que a pesquisa da verdade vinha se tornando umaespécie de religião, um compromisso político em si mesmo. Masessa insistência no espírito de pesquisa não se dirigia a todos. "Hicvero libertas aliqua inquirendi, aut etiam dissentiendi doctis

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8. Anton van Leeuwenhock , Epistolae ad Societatem Regiam Anglicam,Leiden, 1719, frontispício.

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omnino concedenda est" (Devemos conceder uma certa liberdadede pesquisa, e também de divergência, sobretudo aos intelectuais l,escrevia o arminiano Conrad Vostius, professor de teologia emLeiden, a Casaubon, "senão pareceremos impedir a lenta marcha

da verdade "."Assim, a liberdade de pesquisa tinha de ser concedida antes

de mais nada - ou somente? - a um grupo social preciso: osintelectuais - que, para o bem e para o mal, ainda está viva.

"Altum sapere pericolosurn ": a busca da verdade pode terimplicações sociais perigosas, como mostrou o caso da Holanda.No sínodo de Dordrecht, os arrninianos foram derrotados. Um

ano depois, em 1619, a vitória teológica da ortodoxia cal vinis tafoi acompanhada por uma vitória política. Oldenbarnevelt foicondenado à morte; muitos arrninianos - ou "ex-postulan-tes ", como eram chamados - fugiram para o exílio, sobre-tudo na França. Schoonhovius, talvez desiludido com as lutasreligiosas de seus companheiros de fé, abandonou o calvinisrnoe tornou-se católico. Diga-se de passagem que não escreveu outroslivros de emblemas. Mas a difusão do novo significado das pala-vras de Horácio, "sapere aude" (ousa conhecer), prosseguiu. Elas

foram escolhidas como lema pessoal de Gassendi, o qual, devemoslembrar nesse contexto, mantinha relações não só com os "liber-tins érudits" mas também com os arrninianos exilados em Paris,4'

No início do século XVII, apareceu um livro na Holanda. Ofrontispício vinha decorado com uma vinheta que representava umhomem subindo uma montanha (fig, 8), No cume circundado pornuvens, percebe-se uma cornucópia. Um deus alado com umafoice - o Tempo - segura o homem pela 11130, ajudando-o 8

subir, O lema é "Dum audes, ardua vinces" (Se souberes ousar.vencerás qualquer dificuldade). O emblema alude habilmente a

três lemas diferentes, fundindo-os num só: "Veritas filia Tempo-ris" (A verdade é filha do Tempo), "altum supere", porque"ardua " significa também "as coisas altas", e "sapere aude ". Efe-

tivamente, eis aí o Tempo, eis a altura, eis a ousadia ("Dumaudes , , ,", se souberes ousar. , .}. Mas onde está o "supere"?Basta olhar o título do livro: Episiolae ad Societ atem Regiam An-

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gllcam (Cartas à Royal Society da lnglaterra) de Anton van

Leeuwenhoek ," o grande biólogo holandês que foi o primeiro

cientista a utilizar o microscópio. O significado da vinheta podeser traduzido dessa forma: é chegado o tempo; os segredos daNatureza não o são mais; a ousadia intelectual dos cientistas de-

porá os dons da Natureza aos nossos pés.Rompera-se o instável equilíbrio entre "não conhecer aquilo

que está no alto" e "ousa conhecer", Já se traçou a história dessaexortação do século XVII à superação dos antigos limites postos,\0 conhecimento." É pelo menos significativo que a divisa hora-

ciana tenha sido considerada a expressão mesma dos valores do ilu-minismo. "Was 1St Aufklàrung?", o que é o iluminisrno? , pergun-tou Kant no final do século, Sua resposta foi: Sapere aud c: -mesmo que, por sua vez e de outro punto de vista, ele tenha

destacado os limites do conhecimento humano. Mas isso é uma

outra história,

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