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Trabalho de Conclusão de Curso MBA Executivo em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação Márcio Fernandez Piñeiro Turma GETI03 Centro Candelária RJ Orientador: Prof. Arnaldo Lyrio Barreto Artigo Modelo de Transformação: Da Tecnologia da Informação para a Tecnologia do Negócio

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Trabalho de Conclusão de Curso

MBA Executivo em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação

Márcio Fernandez Piñeiro

Turma GETI03

Centro – Candelária – RJ

Orientador: Prof. Arnaldo Lyrio Barreto

Artigo

Modelo de Transformação: Da Tecnologia da Informação para a Tecnologia do Negócio

1

Modelo de Transformação: Da Tecnologia da Informação para a Tecnologia do Negócio

Márcio Fernandez Piñeiro

Programa de Pós-Graduação em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação

FGV Management, Fundação Getulio Vargas, CEP 20091-020, [email protected]

Abstract: The strategic alignment between information technology and business is a goal pursued

in many organizations. Despite advances achieved in recent years, technology organizations still need

to revise some of its concepts and practices to achieve the status of a strategic area and be considered

in the organizations business decisions. This article examines this relationship and exposes some paths

to this transformation.

Keywords: Business technology; strategic alignment; information technology

Sempre que se discutem temas sobre

governança de TI ou o papel da TI nas

organizações é cada vez mais comum se falar

na necessidade do alinhamento de TI com o

negócio ou ainda em alinhamento estratégico

de TI. Empurradas pela constante cobrança na

redução de seus gastos (muitas vezes vistos

ainda como despesa e não investimento) e pela

comoditização das suas atividades, as áreas de

Tecnologia da Informação têm se

conscientizado desta necessidade e buscado se

reposicionar perante a organização.

O modelo onde a área de TI coloca o seu

foco nas atividades operacionais e de

manutenção da sua infraestrutura está aos

poucos se modificando. Isto é o que afirma

John Mahoney, vice-presidente e analista do

Gartner, quando diz que: “Estamos

testemunhando o surgimento de uma nova

geração de CIOs, que não focam tanto em

‘rodar’ a TI para garantir que o negócio

conquiste valor estratégico do uso de

tecnologia. Embora isso não seja novo, a

extensão da modificação é crescente e um

ponto de inflexão será atingido nos próximos

cinco anos”. (CIO, 2012, p. 1)

A velocidade cada vez mais rápida com

que as organizações são obrigadas a se

adequar, ou até mesmo se reinventar, para

atender às demandas dos seus clientes tem

pressionado as suas áreas, e particularmente a

área de Tecnologia da Informação, a terem

respostas rápidas às demandas do negócio. A

pressão por esta transformação da TI cresce a

cada dia.

De acordo com estudo da Juniper e da

Economist Intelligence Unit referenciado em

artigo de Thor Olavsrud para o site CIO (2012,

p. 1), a TI saiu dos data centers e está agora

trabalhando ao lado dos negócios para tornar

mais eficientes os processos existentes. E os

departamentos de TI estão obtendo sucesso no

aumento da eficiência dos negócios. Contudo,

eles também estão fracassando quando o

assunto é a transformação estratégica — para

impulsionar o crescimento de negócios em

novas áreas. Rozina Ali, editora-adjunta da

Economist Intelligence Unit, citada no mesmo

artigo, afirma que “os negócios ainda veem a

função da TI no papel tradicional de melhorar

a eficiência de seus processos. Contudo, para

realmente tirar proveito de um mundo cada vez

mais digitalizado, as empresas precisam

reconhecer o valor potencial da TI como

parceira colaborativa na identificação de novas

oportunidades”.1

Este é um dos grandes desafios das áreas

de Tecnologia da Informação na atualidade. A

necessidade de estarem alinhadas com os

objetivos estratégicos das organizações,

deixando de serem vistas como uma área

puramente técnica e de apoio para serem vistas

como uma área estratégica e indutora dos

negócios da empresa. Entretanto, percebe-se

que isto nem sempre acontece.

Dreyfuus, vice-presidente do Gartner,

citado por Edileuza Soares (2012, p. 1) afirma,

“cerca de 90% das iniciativas de TI não serão

bem-sucedidas nos próximos três anos por

causa do aumento da complexidade do

ambiente de negócios. A TI precisa mover-se

rapidamente para entregar a oferta de acordo

com a demanda dos negócios”. O alerta foi

dado durante o Symposium/ITxpo 2012, que

recomenda que o departamento de tecnologia

1 Tradução livre

2

promova mudanças para gerar valor aos

negócios de suas companhias.

Para traçar este caminho de mudança e

transformação, precisamos primeiro entender o

cenário atual das áreas de TI no mundo e a sua

relação com as outras áreas da organização, e

principalmente com o corpo gerencial,

comumente denominado de C-level.

Na visão de Gray (2007), três ameaças se

opõem e pressionam a TI corporativa e estão

representadas na figura 1. Toda vez que uma

delas aumenta sua pressão sobre a TI, a reação

torna-se cada vez mais crítica. À medida que a

pressão aumenta o CEO e o CIO devem agir

para determinar a direção futura da TI, antes

que pressões externas as façam, precipitando

uma decisão que talvez não seja do interesse da

corporação.

A primeira ameaça está relacionada ao

relacionamento de trabalho entre o CIO e os

seus pares. O autor afirma que: “como a TI é

originariamente um grupo de técnicos

(engenheiros, desenvolvedores, entre outros) o

CIO tem, em muitas organizações,

desenvolvido suas habilidades em um

ambiente eminentemente técnico. Enquanto os

seus pares vêm aprimorando suas

competências de liderança e gerenciais, ele é

visto apenas como um técnico. O próprio CIO

muitas vezes segue cegamente esta tendência,

considerando-se primeiramente um técnico e

em um segundo lugar muito distante um

homem de negócio. Isto faz com que o

relacionamento entre o CIO e os outros C-

levels esteja baseado em uma relação de

fornecedor/cliente. O CIO é um gerente

encarregado de prover um serviço sob

demanda de outras áreas da organização, com

uma função auxiliar e de suporte a estas. O

resultado é que a TI é efetivamente relegada a

um papel de fornecedor interno. Quando novas

estratégias de marketing ou de produtos são

reveladas o CIO raramente atua no processo de

decisão”.2 (GRAY, 2007, p. 6)

Na avaliação de Gray (2007), a tentativa

de a TI ser um fornecedor de serviço de baixo

custo é claramente uma proposta ultrapassada

tanto para o CEO como para o CIO. Para o

CIO em uma empresa onde a TI é vista como

uma commodity, a sua progressão na carreira é

limitada. Mesmo que este CIO gerencie uma

organização de TI deste tipo de uma forma

extremamente eficaz, faltará provavelmente a

essa pessoa visão para as funções estratégicas

do negócio, passando a ser desconsiderada

para posições superiores. Para o CEO, TI é

pouco diferente de qualquer outro serviço

utilitário. Apesar de energia e telefonia serem

críticos para uma empresa, o CEO espera que

estes serviços continuem a funcionar com total

confiabilidade, e raramente os observa de perto

a menos que procurem reduzir os seus custos

enquanto mantem um nível razoável de

serviço. O mesmo acaba acontecendo com a

TI.

Segundo o mesmo autor, (GRAY, 2007), a

segunda ameaça é que todos os empregados

das corporações modernas, pressionados pela

necessidade de aumentar o retorno dos

acionistas, têm sentido a pressão por fazer mais

com menos e por corte de custos, sempre que

possível. Muitas áreas de TI justificam suas

existências baseadas em indicadores de

disponibilidade e níveis de serviço, ao invés de

construir um caso onde elas entregam valores

quantificáveis para o negócio, fazendo da TI

um alvo fácil para os cortes de custos e

reduções de orçamento. À medida que a

pressão por redução de custos aumenta

justificar orçamentos baseados em níveis de

serviço torna-se cada vez mais difícil.

Complementando estes dois fatores, temos

uma terceira ameaça que é a comoditização

dos serviços e soluções da área de Tecnologia

da Informação. De acordo com Gray (2007),

apesar de trazer uma redução de custo para a

organização, para a área de TI este fenômeno

gera uma grande pressão. Mesmo em grandes

empresas um departamento de TI, por mais

eficiente que possa ser, dificilmente poderá

competir com fornecedores externos

especializados que proveem conhecimentos

técnicos similares a um baixo custo através da

2 Tradução livre

Figura 1. A tripla ameaça enfrentada pelas áreas de TI

Fonte: (Breakthrough IT, 2007, p. 5)

3

economia de escala. Enquanto uma empresa

talvez precise de dez pessoas para gerenciar a

sua rede, um fornecedor externo pode

conseguir atender cinco diferentes clientes com

um número similar de empregados. Para Gray

(2007), competir com estes fornecedores torna-

se quase impossível quando o CIO tem a

responsabilidade de um simples provedor de

serviço.

O que é necessário então, segundo Gray

(2007), não é se esforçar para tornar a TI mais

barata, mas fazer com que a TI gere retornos

financeiros mensuráveis para o negócio. Ao

invés de cada dólar gasto em TI ser encarado

como um custo afundado, se ela pode gerar

retorno comprovado sobre cada dólar como um

investimento e não um custo, a TI torna-se

uma poderosa ferramenta para gerar vantagem

competitiva. Gray (2007) chama esta TI de

uma TI Inovadora.

Já Hoque (2011) descreve a situação da

atual das áreas de TI sob outros aspectos. Um

deles fala da qualidade dos investimentos

feitos em tecnologia, indicando que em muitos

casos não estão alinhados com os objetivos

estratégicos das organizações.

De acordo com Hoque (2011, p. 6),

“deixar os investimentos de negócio e

tecnologia a própria sorte ou fazê-los sem

planejamento custa para as organizações

bilhões de dólares ao ano. Nos piores casos,

esta abordagem caótica ao investimento em

tecnologia fatalmente prejudica projetos,

produtos e negócios inteiros. Uma avaliação de

iniciativas de negócio e tecnologia que

falharam nos dá evidências que companhias

tem enfrentado este problema desde que elas

implementaram seus primeiros projetos

tecnológicos. A medida que o escopo e risco

destas iniciativas aumentavam, assim também

acontecia com os efeitos deste desalinhamento.

Com a explosão da Internet, a escala dos

projetos de tecnologia aumentou ao ponto que

se tornou inevitável o reconhecimento da

correlação entre a convergência do

negócio/tecnologia e o sucesso (ou insucesso)

da inovação”.3

Outro aspecto tratado por Hoque (2011) é

a falta de entendimento entre as áreas de

negócio e as áreas de TI no momento da

definição de soluções tecnológicas que

atenderão as necessidades das organizações.

Ele afirma que: “Dizer que tecnólogos e

3 Tradução livre.

gestores de negócio não sentam na mesma

mesa discutindo planos de negócio e objetivos,

é um pouco de exagero. A lacuna que leva a

distância entre as intenções de negócio e a

execução tecnológica muitas vezes acontece

quando estas partes deixam a mesa. Os adeptos

da tecnologia irão interpretar as diretivas e os

desejos de seus pares de negócio através das

suas lentes, e de forma independente fazer

modificações”.4 (HOQUE, 2011, p. 14)

Na visão de Hoque (2011), isto acontece

porque a maioria dos tecnólogos acredita que

conhecem a tecnologia melhor do que os seus

gerentes de negócio. Pensando desta forma

criam sistemas que se adequam melhor para os

desenvolvedores do que para os usuários. Esta

situação ameaça marginalizar o papel da

tecnologia na criação de valor, enquanto já faz

tempo que ela deveria ser trazida para mais

perto do que nunca do negócio. O que parece a

primeira vista ser culpa da tecnologia é na

realidade uma falha da organização em unir

gestores de negócio e tecnologia.

“Nossa habilidade de gerenciar tecnologia

de negócio não está no mesmo ritmo da nossa

capacidade de criar novas tecnologias.”

(HOQUE, 2011, p. 14).

Entende-se como tecnologia de negócio, a

aplicação de tecnologia para entregar uma

capacidade de negócio ou automatizar uma

operação de negócio, em outras palavras, a

tecnologia certa para atingir os objetivos de

negócio. Em muitas empresas, tecnologia e

negócio estão em campos opostos e se não

estão em guerra mantém uma distância

cautelosa um do outro. Geralmente as áreas de

negócio chegam com um plano e “jogam por

cima do muro” das áreas de tecnologia para

implementação, quando o correto seria os dois

lados sentarem e planejarem juntos desde o

princípio (HOQUE, 2011).

Segundo o mesmo autor há uma verdade

inequívoca. Para compreender, comunicar e

planejar a forma como as organizações devem

utilizar a tecnologia, elas primeiro têm de

convergir a gestão de negócios e de tecnologia.

É um cenário realmente desafiador para as

áreas de Tecnologia da Informação. Pressões

internas e externas, investimentos sem

planejamento, necessidade de redução de

custos e falta de diálogo entre as áreas de

negócio e tecnologia são alguns dos problemas

que precisam ser solucionados para que a TI

4 Tradução livre.

4

assuma um papel estratégico dentro das

organizações. Para que isto aconteça é

necessário um modelo de organizacional que

permita que uma empresa gerencie negócios e

tecnologia de forma conjunta e líderes de TI

capacitados para conduzir as suas áreas pelo

caminho desta transformação.

Gray (2007) aborda esta questão do

alinhamento estratégico entre tecnologia e

negócio comentando que a evolução dos

negócios tem direcionado as organizações a

simplificar as suas operações. Através da

diminuição dos níveis de subordinação e

rompendo as tradicionais estruturas

departamentais procuram aproximar as

diversas áreas na execução dos objetivos

estratégicos da organização. Exemplifica este

fato descrevendo a mudança por que passaram,

em muitas empresas, as áreas de engenharia de

produto, onde engenheiros se esforçaram para

uma maior compreensão do processo de

produção com o objetivo de tomar decisões

conscientes durante o processo de design de

produto para fazer produtos de forma mais

fácil, mais rápida e mais barata.

Para enfrentar a competição e expandir os

seus mercados, ser mais eficiente nos seus

processos de negócio passa a ser uma

necessidade das organizações. Por este motivo,

este conceito se estendeu, mais recentemente, a

outras funções da organização.

Ainda de acordo com Gray (2007, p. 13),

“a TI Inovadora é a próxima evolução em tal

processo (conforme mostrado na figura 2), e

envolve dois componentes principais: integrar

a TI com a definição e a execução da estratégia

de negócio e transformar a função da TI

corporativa de um centro de conhecimentos de

tecnologia para um centro de excelência de

processos de negócio, edificada em um retorno

previsível dos investimentos em TI –

resumindo, gerenciar TI como qualquer outra

unidade de negócios”.5

Em uma organização com uma TI

Inovadora, a TI é inserida em cada iniciativa

que a empresa embarca. Os produtos são

concebidos com os insumos de cada unidade

de negócios, incluindo a TI. Ao invés da TI ser

recrutada para suportar novos produtos ou

processos de negócios já definidos, um grupo

de especialistas em processos do departamento

de TI define os processos e a tecnologia para o

produto desde o início. No lugar de

5 Tradução livre.

recomendar prematuramente uma tecnologia

específica, eles desenham primeiro um

processo eficiente e, em seguida, olham para as

áreas em que a tecnologia poderia melhorar

esse processo. A organização de TI é menos

técnica, porém mais focada nos processos de

negócio, desde o CIO até o mais júnior dos

analistas (GRAY, 2007).

Segundo o mesmo autor, “quase todo

empreendimento que vale à pena inicia-se com

uma mudança de mentalidade, e construir uma

TI Inovadora não é diferente. O primeiro passo

no caminho para uma TI mais eficaz, que

realmente gera resultados mensuráveis, é ver a

TI como um negócio em si mesmo e como

uma empresa de capital de risco. O

componente de negócio da TI Inovadora busca

minimizar seu lado operacional e custos que

não são derivados de investimentos, enquanto

o componente de investimentos de risco

explora projetos estratégicos potenciais através

de uma ativa e contínua colaboração com

outros executivos da empresa”.6 (GRAY, 2007,

p. 19)

Na visão de Gray (2007), o primeiro passo

na construção desta organização é reduzir o

foco da sua empresa no lado operacional da TI.

Manter o ambiente disponível e com

desempenho adequado, apesar de importante

para continuidade do seu negócio, não pode ser

a principal preocupação dos executivos e nem

o principal foco de TI. Esta mudança de

perspectiva não é uma tarefa para ser realizada

negligentemente. A dinâmica da relação entre

o CEO e CIO irá alterar muitas vezes durante

6 Tradução livre.

Figura 2. TI Inovadora

Fonte: (Breakthrough IT, 2007, p. 14)

5

esta transição, e ambos os executivos devem

procurar entender o papel da TI na execução da

estratégia da organização.

Gray (2007) complementa afirmando que

essa transição também vai ser desconfortável

para muitos CIO´s. Na melhor das hipóteses, o

CIO tem sido tratado como um provedor de

serviços, responsável principalmente para gerir

um orçamento e controlar os custos de TI da

organização. O CIO de uma organização com

uma TI Inovadora será encarregado de muito

mais. Ele deixará o conforto de implementar

soluções técnicas, e será requerido a tomar a

visão estratégica do CEO e a trabalhar com

outros executivos para implementar essa visão.

Ele utilizará a tecnologia como um meio para

esse fim, em vez de serem julgados

exclusivamente sobre as tecnologias aplicadas

e os custos incorridos para fazê-lo.

Fica claro que nesta situação o risco de

falha para o CIO de uma TI Inovadora é maior,

contudo o valor da sua contribuição para a

organização também aumenta.

Sobre o mesmo tema, o posicionamento

estratégico de TI dentro das organizações,

Hoque (2011) propõe um modelo de

maturidade onde este alinhamento se torna

mais forte e visível à medida que aumenta a

integração entre tecnologia e negócio dentro de

uma organização. São três os níveis de

maturidade definidos pelo autor, que vai do

alinhamento, passando pela sincronização e

terminando na convergência.

A figura 3 mostra os três níveis do modelo

de maturidade proposto e demonstra os

diferentes relacionamentos entre negócio e

tecnologia.

Em sua análise, o primeiro nível de

maturidade, que é o alinhamento da tecnologia

com o negócio, tem sido considerado por

muitas empresas o que de melhor se pode

alcançar em termos de integração. Ele afirma

que: “alinhamento pode ser definido como um

estado onde a tecnologia suporta e torna

possível, mas não compele as estratégias de

negócio atuais e em evolução da organização.

Isto significa que a função de tecnologia está

em sintonia com o pensamento empresarial

sobre a competição, ameaças emergentes e

oportunidades, bem como as implicações da

tecnologia de negócios de cada um.

Prioridades, investimentos e capacidades de

tecnologia são consistentes com as prioridades,

investimentos e capacidades do negócio.

Quando for este o caso, então a organização

atingiu um nível de maturidade de tecnologia

de negócios que relativamente poucos têm

realizados até agora”.7 (HOQUE, 2011, p. 17)

Para Hoque (2011), o alinhamento é uma

coisa boa e às vezes é suficiente para atender a

uma situação de negócio particular. Mas há

alguns níveis de maturidade superiores a

considerar. Para algumas empresas,

sincronização – iniciativas de tecnologia e de

negócios progridem em paralelo – da

tecnologia com o negócio é o objetivo a ser

perseguido. Neste nível, a tecnologia de

negócio não só permite a execução da

estratégia de negócio atual, mas também

antecipa e ajuda a modelar futuros modelos de

negócio e a própria estratégia. Os

investimentos em tecnologia de negócio

podem realmente sair à frente do negócio (ou

seja, além do que estar “alinhado” com os

negócios de hoje). O objetivo das áreas de TI

que se encontram neste nível de maturidade é

semear novas oportunidades e incentivar uma

visão executiva perspicaz sobre a influência da

tecnologia em futuras oportunidades de

negócios.

Finalmente, existe o estado de

convergência, que assume tanto o alinhamento

como a sincronização, com as lideranças de

7 Tradução livre

Figura 3. Alinhamento, Sincronização e Convergência

Fonte: (The Power of Convergence, 2011, p. 19)

6

tecnologia e negócio capazes de operar

simultaneamente em ambos os espaços.

“Essencialmente, os espaços de negócio e de

tecnologia se fundiram nos sentidos estratégico

e tático. Uma liderança única opera em ambos

os espaços com líderes individuais envolvidos

diretamente com as ações de orquestração em

qualquer um destes espaços. Algumas

atividades podem permanecer puramente de

negócio e algumas puramente de tecnologia,

mas a maioria das atividades entrelaçam

negócios e tecnologia de tal forma que os dois

tornam-se indistinguíveis”.8 (HOQUE, 2011, p.

18)

Ambos os autores, Gray (2007) e Hoque

(2011), reconhecem a necessidade deste

alinhamento estratégico entre tecnologia e

negócio quando falam em integrar a TI com a

definição e a execução da estratégia de negócio

ou então em convergir a gestão de negócios e

de tecnologia. Eles apresentam possíveis

caminhos para se chegar a este alinhamento

que passaremos a analisar com mais detalhes a

partir de agora.

A análise de Gray (2007) conclui que um

dos objetivos de uma área de TI, para atingir o

estágio de alinhamento com a estratégia de

negócio da empresa, deve ser mudar a sua

forma de atuação de forma que passe a ser

vista como uma área que pode ajudar a

empresa executar os seus objetivos

estratégicos. Contudo, a TI não poderá

desempenhar este papel estratégico se

continuar a dedicar grande parte de sua energia

e recursos na manutenção da infraestrutura

tecnológica e no fornecimento de serviços de

baixo custo.

Para Gray (2007, p. 25),

“tradicionalmente, com base na história e no

mercado de tecnologia, manter a continuidade

da operação sempre foi o principal foco da TI.

Muitos CIO´s seguiam a regra dos 80/20,

gastando cerca de 80 por cento dos seus

orçamentos, e mais importante 80 por cento da

capacidade intelectual das suas equipes, na

realização desta manutenção e os outros 20 por

cento ou menos naquilo o que poderia ser

legitimamente considerado como atividades

estratégicas”.9

Considerando qualquer coisa relacionada à

operação do ambiente tecnológico como um

componente não estratégico da TI, o primeiro

8 Tradução livre 9 Tradução livre

estágio de transformação para o estado de uma

TI Inovadora é separar a manutenção desta

operação do negócio da empresa, minimizando

o seu impacto nos orçamentos da organização

e, o mais importante, minimizando o foco

gasto nesta atividade. Isto possibilita que a TI

seja vista sob uma perspectiva do processo de

negócio, separando os processos da tecnologia

que facilita a sua execução.

Embora uma tecnologia específica, como

um software de segurança, possa ser crítica

para o negócio, não está associada com

qualquer negócio em particular ou processo

estratégico. Segundo Gray (2007), funções

como estas desviam, frequentemente, o foco da

TI e servem para aumentar ainda mais a

distância entre o CEO e CIO. A segurança da

informação pode ser fundamental para uma

empresa, mas é uma atividade que pode ser

efetivamente delegada para uma equipe de

especialistas, tanto internos como externos,

permitindo que o CIO concentre-se na

tecnologia que é aplicada a processos de

negócios críticos e estratégicos e, desta forma,

encontrar uma linguagem comum entre o CIO

e seus pares executivos.

Embora a simples menção da terceirização

ser muitas vezes recebida com muita angústia,

é necessário que o CIO mude esta percepção.

Da mesma forma como é difícil justificar a

internalização da fabricação de produtos que

não agregam valor ao negócio da organização,

os processos de TI que também não agregam

valor ao negócio devem ser alvos de uma

mudança na sua estratégia de operação. Isto

permitirá que o CIO conduza a TI para um

nível superior de atuação dentro da

organização e forneça resultados estratégicos

de maior valor para a empresa. Terceirização

não pode mais ser considerada um tabu ou um

tema cuja discussão que possa ser evitada. O

CIO deve justificar sua decisão de manter ou

não a operação de um determinado serviço ou

processo de TI baseado no valor estratégico

que isto pode trazer para a organização.

Dentro da maioria das organizações de TI

corporativas existem três áreas básicas onde se

podem procurar estas funções eminentemente

operacionais:

1. Processos de negócios que não têm

qualquer impacto direto sobre o cliente final da

corporação (este é a pessoa que realmente a

compra de bens e serviços da empresa e não o

cliente interno).

7

2. O orçamento anual de TI e os custos

reais detalhados que o integram.

3. Atividades que têm uma equipe de

suporte interna dedicada, estruturada em torno

de uma função tecnológica (por exemplo, uma

equipe de operações de rede ou equipa de

gestão de segurança).

Na visão de Gray (2007, p. 27), “o

objetivo de investigar estas áreas é identificar

as funções que são elegíveis para uma

mudança de modelo de operação. Se uma

atividade não tem nenhum impacto direto

sobre o cliente final da organização, o seu

custo está associado à continuidade da

operação ou funciona em grande parte como

uma entidade independente, uma mudança do

seu modelo de operação tirará esta atividade do

radar do CIO, permitindo a ele focar na

viabilização da estratégia de negócios da

organização. Muitos CIO´s recusam qualquer

sugestão de uma mudança do modelo de

operação, seja para um modelo de terceirização

ou para a criação de equipes internas que de

forma independente possam gerenciar uma

atividade específica. A decisão do CIO de,

proativamente, mudar os modelos de operação

da TI previne movimentos de outros

executivos que podem focar no custo como o

único critério para esta mudança. Antes do

tema da terceirização ser abordado dentro da

organização, o CIO deve analisar sua área e

desenvolver um plano de operação

cuidadosamente pensado de forma que ele não

seja forçado a fazer uma mudança em um

prazo muito curto, o que causa mais problemas

para o CIO e a organização em longo prazo”.10

A tecnologia tem permeado todos os

aspectos do negócio ao longo das últimas

décadas, desde complexos sistemas de logística

até painéis executivos que dão a um CEO uma

visão instantânea do desempenho dos negócios

de uma empresa. A partir deste ponto de vista,

é surpreendente que algumas organizações de

TI ainda não tenham iniciado um movimento

formal para uma compreensão detalhada de

processos de negócios, diminuindo, desta

forma, o foco na manutenção da operação do

ambiente tecnológico.

Do ponto de vista de receita e de

sensibilidade para o negócio, os processos

mais críticos para o sucesso das empresas são

aqueles que têm contato direto com um cliente

final. Ainda que o faturamento não seja um

10 Tradução livre

processo que possa trazer grandes inovações

tecnológicas, uma fatura incorreta pode fazer

mais dano à percepção do cliente jogando por

terra anos de caros programas de marketing

executados pela empresa. Tomando com o

exemplo a área de Segurança da Informação, a

não ser que uma falha total de segurança

comprometa totalmente a privacidade dos

dados do cliente, políticas e procedimentos de

segurança estão muito mais longe do cliente do

que uma contestação de uma fatura errada.

Alguns exemplos de processos com

grande envolvimento de tecnologia e de alto

impacto para os clientes podem ser vistos na

figura 4.

Processos de Negócio com Envolvimento Intensivo de

TI e Alto Impacto no Cliente

Processo Impacto no Cliente

Central de

Atendimento

Centrais de Atendimento são,

geralmente, a linha da frente de

contato com o cliente. Os

operadores que se queixam aos

clientes sobre sistemas pobres ou

que não têm acesso à informação

certa no momento certo estragam a

percepção que o cliente tem da

empresa.

Faturamento A fatura é a última declaração que

sua empresa faz para um cliente e

pode azedar uma experiência

positiva ou deixar uma boa

impressão, mesmo depois de uma

venda não tão bem sucedida.

Sistemas de

Marketing

Sistemas automatizados de

marketing têm um impacto direto

e óbvio nos clientes.

Comunicações mal concebidas ou

a inundação do cliente com SMS

ou mensagens de correio

eletrônico têm um impacto direto

sobre o cliente.

Vendas Representantes de vendas com

informações atualizadas sobre

produtos e prazos de entrega criam

uma empresa que é capaz de

entregar o que promete.

Aplicações de

Autoatendimento

Uma aplicação de autoatendimento

para verificar o status de um

pedido, disponibilizar faturas ou

encontrar respostas a perguntas

comuns pode criar uma impressão

positiva e aumentar o atendimento

enquanto diminui os custos.

Para Gray (2007), se no passado a TI

realizou um bom trabalho de documentação

dos processos onde se aplicou tecnologia, será

mais fácil identificar as áreas em que os

Figura 4

Fonte: (Breakthrough IT, 2007, p. 30)

8

clientes são afetados. Caso esta documentação

não exista, um esforço para analisar os atuais

sistemas de TI e determinar seus processos de

negócios associados pode ser realizado em um

nível básico, ou uma análise mais detalhada

pode ser realizada. Uma análise mais

aprofundada ajudará a identificar

oportunidades para projetos estratégicos de TI,

mas para determinar processos elegíveis para a

terceirização nesta fase do jogo, só uma

investigação básica é necessária.

Segundo o mesmo autor, talvez o local

mais simples para começar a busca de

atividades operacionais contínuas é o

orçamento anual. Itens que, ano após ano,

aparecem regularmente no orçamento são uma

pista para a existência de um custo associado a

uma atividade de operação contínua.

Obviamente, qualquer área em que você

recentemente avaliou uma redução de custos

ou procurou por um fornecedor de outsourcing

se enquadra nesta categoria, bem como custos

mais sutis como os que são associados ao

licenciamento de software ou evolução da

infraestrutura. Investigar itens de orçamento

também tem uma vantagem à medida que se

podem identificar as áreas operacionais e os

custos associados a elas. Na realização de uma

análise minuciosa dos processos que devem ser

terceirizados, o custo é um critério óbvio que

terá um peso importante na decisão do modelo

de operação a ser adotado.

O organograma da área de TI é outro item

chave na identificação de atividades

operacionais contínuas. Várias funções tem

uma equipe dedicada suportando-as, tais como

suporte de rede ou suporte de hardware. Ao

investigar essas funções, o CIO deve avaliar se

cada uma delas podem efetivamente

manterem-se por si só. Se a TI tem uma equipe

específica que cobre uma função, como

suporte de rede, que é capaz de gerenciar seu

próprio orçamento, desenvolver e executar um

plano operacional e cumprir os seus objetivos a

um custo competitivo, com um envolvimento

mínimo do CIO, esta função já foi

efetivamente “terceirizada” para um provedor

interno.

“O fator chave na determinação de quais

funções estão operando neste nível é o nível de

envolvimento e interação que o CIO deve

fornecer a esse grupo.Se a função satisfaz a

regra dos dois por cento, menos de dois por

cento do tempo do CIO, a cada ano, incluindo

o orçamento, planejamento, execução e

solução de problemas, então terceirizar esta

função para um fornecedor externo deve ser

considerado apenas se há economia substancial

de custos.” 11 (GRAY, 2007, p. 31)

O objetivo deste tipo de abordagem é

desenvolver uma matriz de processos de

negócios para os quais a TI contribui, seu

impacto sobre o cliente final do negócio,

complexidade e custo. Além disso, outros

critérios flexíveis, como o nível de

gerenciamento ou atenção que o processo

requer do CIO e de outros gerentes, podem ser

observados e quantificados. Esta matriz,

exemplificada na figura 5, ajudará a mapear as

funções de TI que poderão sofrer uma

mudança do seu modelo de operação.

Para estes processos existem sempre duas

opções para uma transição do modelo de

operação: insourcing e outsourcing.

De acordo com Gray (2007), insourcing é,

resumidamente, delegar um processo

operacional de TI para uma área ou

organização interna com gestão independente,

orçamento próprio e objetivos (níveis de

serviço) estabelecidos, criando efetivamente

uma empresa de serviços independente dentro

da corporação. Este modelo é frequentemente

negligenciado quando se decide o que fazer

com atividades ou processos operacionais

contínuos, muito mais pelos problemas de

controle organizacionais do que por qualquer

dificuldade particular de implementá-lo.

“Como qualquer decisão sobre um modelo

de operação, o objetivo principal da escolha do

insourcing é tirar do radar corporativo

atividades operacionais contínuas e permitir

que os executivos se concentrem na realização

dos objetivos estratégicos.” 12 (GRAY, 2007,

p. 33)

11 Tradução Livre 12 Tradução livre

Figura 5

Fonte: (Breakthrough IT, 2007, p. 34)

9

O insourcing mantém o trabalho e os

funcionários dentro da organização no lugar de

utilizar um provedor externo, mas é

fundamental que cada função baseada neste

modelo de operação seja tratada como uma

organização independente. Os gerentes desta

organização devem ser tratados de forma

independente, tanto em suas interações com

seus clientes como em termos de ter a

liberdade para tomar decisões operacionais.

Utilizar este modelo de operação mantendo as

antigas relações de hierarquia e estilos de

gestão, não irá gerar o benefício esperado desta

mudança que é eliminar as atividades e

operações contínuas do radar gerencial.

Objetivos, preferencialmente trimestrais,

devem ser definidos e revistos para esta

organização. Ela deve ter total liberdade

operacional para a execução das suas

atividades, mas, assim como acontece em

casos de fornecedores externos, esta liberdade

vem acompanha de uma premissa onde o não

cumprimento dos objetivos estabelecidos

forçará a mudança da gestão ou resultará na

terceirização da função.

A figura 6 resume os principais

componentes deste modelo de operação.

O outro modelo bastante discutido, e

talvez mais utilizado pelas organizações, é o de

outsourcing ou terceirização. Uma das

vantagens da terceirização versus o modelo de

insourcing apresentado anteriormente é que a

gestão independente é praticamente garantida

na maioria das circunstâncias. Isto é

fundamental para tirar foco do corpo gerencial

das atividades de operação contínua. Segundo Gray (2007), o provedor do

serviço de terceirização geralmente é uma

organização inteiramente separada, e sua

infraestrutura de gerenciamento está, em

alguns casos, localizada fora da empresa que

está contratando o serviço. Uma função

terceirizada pode ser facilmente eliminada do

radar gerencial, supondo que o provedor de

outsourcing é competente e responsável pelo

cumprimento de um conjunto de metas e

objetivos definidos e mensuráveis. Semelhante

a uma operação de insourcing, se o fornecedor

de outsourcing falhar com frequência no

atingimento destes objetivos, pode-se

considerar a sua substituição.

Gray (2007, p. 35) complementa

afirmando que: “um fornecedor de outsourcing

também deve ser um especialista na função

que eles estarão gerenciando. Contratar um

fornecedor somente porque ele apresentou uma

proposta mais barata pode até sensibilizar mais

as finanças corporativas, mas se você não pode

eliminar a atenção da gestão nas atividades de

operação continua através do acordo de

terceirização, isto irá se provar mais caro no

longo prazo”.13

Componentes do Modelo de Operação - Insourcing

ORÇAMENTO DEFINIDO

Descrição

Cada área responsável por uma atividade ou processo

deve operar como uma empresa dentro da empresa,

com um orçamento definido. Uma vez que este

orçamento é alocado, a área dever ter a liberdade para

gerenciá-lo de forma independente. Aumentos de

orçamento fora do processo de orçamentação regular

devem ser concedidos somente em circunstâncias

extremas.

Benefício

Os custos de cada componente operado neste modelo

estão claramente definidos antecipadamente.

GESTÃO INDEPENDENTE

Descrição

A área responsável deve ter independência na gestão do

serviço com o mínimo de influência da corporação

como um todo. Deve ser livre para executar o seu

orçamento como lhe aprouver e gerenciar todas as suas

interações com os seus clientes internos.

Benefício

Gestão de alta qualidade do serviço, liberando a

atenção do CIO e do CEO para concentrarem-se na

execução dos objetivos estratégicos. Foco na resolução

dos problemas diários com muito pouca interveniência

da liderança da organização. Permite desenvolver

talentos e lideranças dentro da área.

NÍVEIS DE SERVIÇO

Descrição

Níveis de serviço e critérios operacionais dever ser

estabelecidos, juntamente com as suas métricas, para a

sua medição durante a operação.

Benefício

Objetivos e níveis de serviços definidos fornecem um

quadro bem definido para julgar e avaliar a eficácia da

operação.

Qualquer que seja o modelo de operação

escolhido, para que uma área de TI seja vista

como uma TI Inovadora, de acordo com a

definição Gray (2007), ela não deve se

posicionar como uma fornecedora de serviços

de baixo custo. As suas decisões pelo modelo

13 Tradução livre

Figura 6

Fonte: (Breakthrough IT, 2007, p. 34)

10

de operação devem ter o foco em fornecer

níveis de serviço eficazes, permitindo que ela

se concentre na definição e execução das

estratégias da organização.

Outro caminho para a se alcançar a

convergência da gestão de negócio e

tecnologia é apresentado por Hoque (2011).

Ele é baseado em um modelo de gestão

aplicado à tecnologia de negócio, denominado

Business Technology Management (BTM), que

unifica e melhora a tomada de decisão.

“O BTM fornece uma abordagem

estruturada que permite às empresas alinhar,

sincronizar e mesmo convergir tecnologia de

negócios e gestão de negócios, garantindo uma

melhor execução, controle de risco e

rentabilidade. Aborda negócios e tecnologia

como um sistema de gestão holística e

estruturado. Abrange práticas de gestão e um

modelo de maturidade de gestão para

identificar as áreas que mais necessitam de

melhorias e para especificar o caminho correto

para a mudança”. 14 (HOQUE, 2011, p. 24)

Segundo Hoque (2011), a chave para a

institucionalização destes princípios e práticas

é que eles são movidos por um conjunto de

processos robustos, flexíveis e repetíveis,

executados por estruturas específicas da

organização, supridos por informações úteis e

viabilizados pela tecnologia de negócios, que,

reforçando conceito apresentado

anteriormente, é a tecnologia utilizada para

produzir um resultado de negócio.

O BTM visa criar uma abordagem

integrada de gestão que começa com objetivos

e prioridades de negócios e conecta todo o

caminho através do investimento e da

utilização da tecnologia.

Na visão de Hoque (2011), as empresas

têm utilizado uma série de metodologias e

técnicas para melhorar o alinhamento entre

tecnologia e negócios. Estas variam do modelo

de maturidade de desenvolvimento de software

(CMM) ao modelo de gerenciamento de

serviços de infraestrutura de TI (ITIL). Cada

um desses métodos tem seu próprio conjunto

de vantagens e benefícios, mas eles

representam soluções isoladas. Nenhuma

dessas abordagens foca na integração e na

utilização das práticas necessárias para

viabilizar a gestão estratégica de tecnologia. O

perigo de depender exclusivamente destas

metodologias de gestão de tecnologia é que

14 Tradução livre

quando o desalinhamento torna-se aparente,

pode ser irreversível.

BTM, conforme ilustrado na figura 7,

fornece um conjunto de princípios em torno do

qual as práticas de uma empresa são

organizadas e melhoradas. Constrói pontes

entre padrões e ferramentas de gestão

anteriormente isoladas. Essencialmente, ele

fica estrategicamente acima dos níveis de

gestão operacionais e de infraestrutura de

tecnologia.

Podemos ver na figura acima, que o BTM

se integra estrategicamente com outras

metodologias já utilizadas na organização com

o objetivo de viabilizar as práticas necessárias

para alcançar a convergência da gestão de

negócios tecnologia.

O framework do BTM, conforme

mostrado na figura 8, identifica dezessete

práticas essenciais, agrupadas em quatro áreas

funcionais. Elas são:

Governança e Organização

Gestão Estratégica do Investimento

Planejamento e Estratégia

Arquitetura Empresarial Estratégica

Estas práticas são definidas e criadas

baseadas em quatro dimensões fundamentais:

Processos

Organização

Informação

Tecnologia

Figura 7- Posição Estratégica do Framework BTM

Fonte: (The Power of Convergence, 2011, p. 26)

11

De acordo com Hoque (2011), as práticas

do BTM definem um conjunto de

competências organizacionais que permitem

que uma empresa gerencie negócios e

tecnologia juntos. A maturidade nessas

competências é alcançada através da

implementação de processos bem definidos,

estruturas organizacionais adequadas,

informações tempestivas e automação de

tecnologia apropriada.

Essas práticas são interdependentes. A

aplicação bem sucedida de qualquer uma delas

irá mover a organização para mais perto do

objetivo de convergência de negócios e

tecnologia. Este progresso se acelera cada vez

que novas práticas são aplicadas e

continuamente melhoradas.

“Cada uma das dezessete práticas

representa um ponto crítico de interação na

empresa entre negócios e tecnologia. Porém,

mais importante ainda, essas práticas e as

interações entre elas são a base de construção

de soluções para as questões mais espinhosas

que as empresas enfrentam hoje, incluindo

alcançar a inovação sustentável, criar uma

empresa ágil, aperfeiçoar a prestação de

serviços e maximizar o crescimento”.

(HOQUE, 2011, p. 27)

No modelo proposto por Hoque (2011), o

caminho para a convergência entre negócio e

tecnologia começa com a organização

avaliando o seu nível atual de maturidade em

gestão e se comprometendo com progressos

reais no seu aperfeiçoamento. Para isto, é

fundamental o conhecimento das áreas

funcionais e das práticas que as compõem.

A primeira área funcional, Governança e

Organização, é descrita por Hoque (2011, p.

28) como: “essencial para a gestão de uma

empresa eficaz, harmoniza e integra os

interesses variados de todos os stakeholders

dentro da empresa. As práticas dentro desta

área funcional fornecem orientação estratégica

para toda a empresa na medida em que ela

amadurece e evolui sua gestão de negócios e

tecnologia. Quando comunicada para toda a

empresa, essas práticas asseguram que todos os

intervenientes entendem e atuam dentro dos

parâmetros estabelecidos. Esta área é o

catalisadora para a mudança proposital da

empresa na direção da convergência”.15

As quatro práticas seguintes compõem a

área funcional de Governança e Organização.

Governança Estratégica e Tática

Estabelece quais decisões devem ser

tomadas, as pessoas responsáveis por tomar

decisões e o processo de tomada de decisão.

Esta prática atinge vários níveis de decisões,

começando com as mais estratégicas, tais

como a direção de negócios e introdução de

novos produtos até o direcionamento tático de

execução.

Design Organizacional e Gestão de

Mudanças

Aperfeiçoa a estrutura organizacional

necessária para apoiar o processo de tomada de

decisão e prove as mudanças necessárias para

colocar implementar o modelo organizacional.

Otimizam a colaboração horizontal com o

objetivo de acelerar o movimento da empresa

para a convergência.

15 Tradução livre

Fonte: (The Power of Convergence, 2011, p. 27)

Figura 8- O Framework BTM

12

Gestão e Estratégia de Comunicação

Entrega mensagens eficazes sobre a

missão, estratégias, iniciativas e programas

para todos os membros da empresa. Traduz

estas informações para as funções e

responsabilidades dos destinatários. Realiza

medições para garantir a eficácia da

mensagem.

Gestão de Riscos e Conformidade

Garante que as normas regulatórias e

exigências legais são compreendidas e

refletidas nas operações da empresa. Esta

prática identifica as categorias e as fontes de

risco para a empresa; identifica seu risco

interno e externo; fornece insumos para a

empresa determinar sua postura diante do

risco; e garante a existência de estratégias

adequadas para a mitigação do risco.

A segunda área funcional descrita por

Hoque (2011) no seu modelo de BTM é a de

Estratégia e Planejamento. É a interseção da

gestão de negócios e tecnologia, onde a

estratégia empresarial, ao mesmo tempo em

que influencia, é também moldada pelas

tecnologias que são essenciais para a sua

execução. As práticas desta área funcional

endereçam o estabelecimento, teste e validação

de uma estratégia de BTM. Endereçam

também decisões cruciais, como com que

parceiros a empresa irá trabalhar, e lidam com

processos desafiadores de consolidação de

ativos – empresas, propriedade intelectual,

pessoas e clientes. Também padroniza o uso

empresarial destes ativos. As quatro práticas

que compõem esta área são:

Estratégia de Tecnologia do Negócio

Identifica e determina o posicionamento

estratégico adequado inserindo a tecnologia na

estratégia de negócios. Ele amplia o escopo do

desenvolvimento da estratégia e da sua

execução, estabelecendo a interligação de

negócios e tecnologia que é essencial para o

sucesso da empresa.

Planejamento e Orçamentação Estratégica

Implementa um processo de planejamento

estratégico adaptável, fundamental para

operação da empresa, e fornece insumos para o

estabelecimento de objetivos e metas. Esta

prática serve como base para a avaliação da

eficácia da estratégia de tecnologia nas

métricas financeiras estabelecidas.

Gestão de Parcerias Estratégicas

Oferece suporte a criação e gestão de

relacionamentos com parceiros adequados para

a estratégia da empresa. Isto inclui identificar

áreas estratégicas onde há a oportunidade de

mudança do modelo de operação e a seleção de

fornecedores, resultando no desenvolvimento e

gestão de redes de valor – o ecossistema da

empresa que inclui os stakeholders internos e

externos, incluindo fornecedores, prestadores

de serviços estratégicos, consultores e

parceiros.

Consolidação e Padronização

Ajuda a empresa a identificar o impacto da

aquisição de ativos e fornece a base para a

identificação de oportunidades de

padronização e integração em sua estrutura

organizacional e de governança.

Sobre a terceira área funcional, Gestão

Estratégica de Investimento, Hoque (2011, p.

30) diz que: “nesta área aplicam-se as

disciplinas de gestão de portfólio de ativos à

tecnologia de negócios e outros ativos

produtivos. Traduz a estratégia em ação

sujeitando todas as iniciativas a uma estrutura

consistente de aprovação e priorização,

exigindo de cada um a justificativa do seu

investimento dentro de um conjunto de

possibilidades. Estabelece os meios para

determinar a demanda de recursos humanos e

financeiros necessários para cada investimento

e a sua provisão. Estabelece e dá poder a um

escritório de gestão de investimentos, que é

encarregado de maximizar os retornos de cada

um dos investimentos da empresa. Por último,

estabelece e mantém um regime de preparação,

lançamento e execução de projetos que foram

aprovados, garantindo que todos os

participantes no processo estão trabalhando

dentro das mesmas diretrizes em direção o

resultado planejado”.16

As quatro práticas seguintes são a espinha

dorsal da Gestão Estratégica de Investimento:

Gestão de Portfólio e Programa

Fornece visibilidade do planejamento de

investimentos e dos resultados da carteira de

ativos e programas da empresa, onde se

cruzam tecnologia e negócios. É focada no

acompanhamento e execução eficaz do

programa. Fornece as técnicas de gestão para

16 Tradução livre

13

avaliar o desempenho e identificar áreas de

força e fraqueza. Estas técnicas permitem que

empresa atue de forma decisiva e preventiva

para maximizar o retorno sobre os

investimentos em tecnologia.

Priorização e Aprovação

Estabelece os critérios utilizados para

avaliar alternativas, especificando o processo

decisório e priorizando investimentos em

tecnologia. Ela fornece uma estrutura

consistente para planejar e decidir sobre

iniciativas propostas.

Análise e Desenho de Projetos

Aplica tecnologia para execução de

projetos em todo o seu ciclo de vida,

garantindo que cada iniciativa maximize os

recursos existentes.

Gestão de Recursos e Demandas

Provê uma composição adequada de

pessoas, ativos físicos e financeiros para

atender às demandas da empresa. Fornece a

fundação para analisar as características das

demandas de iniciativas de tecnologia da

empresa.

A última área funcional do modelo

proposto por Hoque (2011) é a de Arquitetura

Estratégica Empresarial. Ela tem como

objetivo definir o modelo de negócio da

organização e do ambiente tecnológico

necessário para suportá-lo. Descreve os

padrões de tecnologia que a empresa deve

utilizar – e não deve utilizar – para alcançar

seus objetivos e fornece a estrutura para

categorizar, analisar, gerenciar e racionalizar

as aplicações que a empresa emprega na

habilitação e execução de sua estratégia de

modelo de negócios.

São cinco as práticas propostas para esta

área:

Arquitetura de Negócios

Define o modelo operacional para a

empresa, que inclui estratégias, competências,

clientes, processos e outros elementos

relacionados com a utilização da tecnologia.

Define as características de funcionamento e

das suas inter-relações em um modelo

dinâmico, usado para identificar oportunidades

para melhorar o desempenho dos negócios.

Arquitetura Tecnológica

Mapeia sistematicamente a tecnologia

necessária para otimizar todos os elementos da

arquitetura de negócios. Representa a

tecnologia da informação, bem como todas as

tecnologias para alavancar a eficácia,

eficiência e alcance das atividades de negócios

da empresa.

Padrões de Tecnologia de Negócio

Identifica e define padrões para maximizar

a reutilização de ativos de tecnologia. Isso

inclui uma definição de princípios de uso e

aplicabilidade e definição de outros requisitos

de governança. Os padrões podem incluir a

reutilização de aplicações, processos,

arquitetura de informação e fornecedores.

Gestão de Portfólio de Aplicações

Estabelece, categoriza e gerencia o

portfólio de aplicações de tecnologia, de

acordo com a estratégia de tecnologia de

negócios, objetivos de arquitetura e padrões.

Racionalização de Ativos

Reduz a complexidade e custo por meio de

um processo para gerenciar e otimizar os

ativos de tecnologia de acordo com a

arquitetura e padrões de negócio e tecnologia.

Este modelo de gerenciamento de

tecnologia de negócio (BTM) proposto por

Hoque (2011) se baseia em quatro dimensões

organizacionais críticas para se atingir o

sucesso da sua implementação. Em suas

palavras: “ao adotar o BTM, o corpo gerencial

da organização assume um compromisso de

olhar para além da integração entre negócios e

de tecnologia. Ele se compromete com a

institucionalização de práticas que permitem a

aplicação de tecnologia na realização dos

objetivos de negócios e no atingimento de

resultados reproduzíveis e sustentáveis. As

quatro dimensões organizacionais críticas que

suportam o BTM – em todas as suas áreas

funcionais – são: processos, organização,

informação e tecnologia”.17 (Hoque, 2011, p.

32)

As práticas do BTM são aplicadas

conforme a organização avança no seu nível de

maturidade através da aplicação de processos

bem definidos, estruturas organizacionais

adequadas, informações úteis para a tomada de

17 Tradução livre

14

decisões e tecnologias de apoio em uma ou

mais áreas funcionais. A aplicação bem

sucedida de qualquer uma dessas práticas

moverá uma organização para mais perto da

meta de unificação de negócios e tecnologia.

Este progresso se acelera à medida que cada

prática adicional é aplicada e continuamente

melhorada. Todas elas devem ser

implementadas para maximizar o valor de

negócio dos investimentos em tecnologia.

Contudo, fazer isto exige uma abordagem

cuidadosamente orquestrada com apoio com

apoio do corpo gerencial. Envolve grupos de

negócio e de tecnologia em igual medida.

A primeira dimensão para institucionalizar

os princípios do BTM é estabelecer processos

bem estruturados. De acordo com Hoque

(2011, p. 33), “efetivamente implementar BTM

requer a avaliação dos processos para garantir

a qualidade geral da prática de negócios (fazer

as coisas certas), a eficiência (fazer as coisas

rapidamente com pouca redundância) e a

eficácia (fazer as coisas bem). Processos de

gestão são mais propensos a ter sucesso

quando eles são suportados por estruturas

organizacionais adequadas com base na

compreensão clara de papéis e

responsabilidades”.18

A segunda dimensão, organização, é mais

do que apenas ter uma estrutura de gestão.

Segundo Hoque (2011), a implementação do

BTM requer um conjunto de grupos de

trabalho colaborativo, designado para

estabelecer e gerenciar o desenvolvimento de

tecnologia e sua implementação. A estrutura

destes grupos irá variar de empresa para

empresa e são influenciadas pelo tamanho da

empresa, pelos seus conceitos de

visão/missão/valor e sua maturidade na adoção

do BTM.

Segundo o mesmo autor, Hoque (2011),

colaboração, responsabilidade e autoridade são

alguns dos atributos que diferenciam o BTM

do que muitas pessoas percebem como uma

estrutura de gestão convencional. O BTM

apela para a criação de grupos de trabalho que

operam em paralelo com a estrutura de gestão

para assegurar a colaboração e comunicação.

Estes são mais do que apenas forças-tarefa

temporárias. Eles se reúnem regularmente para

supervisionar tanto projetos de abrangência

corporativa, bem como projetos menores

(tarefas específicas). Cada grupo de trabalho

18 Tradução livre

deve ter uma compreensão clara de como ele

interage com a equipe executiva, com as

gerências das áreas de negócio e outros grupos

de trabalho; além de um profundo

conhecimento dos recursos disponíveis para as

suas atividades.

Eles normalmente são compostos por

representantes do corpo executivo, áreas de

negócios, gerências de tecnologia e a área de

gestão de pessoas. Como estes grupos de

trabalho não são atribuições temporárias, as

pessoas envolvidas devem tratar o seu grupo

de trabalho como uma extensão das atividades

de responsabilidade da sua função. Como tal,

os gestores devem incluir a participação dos

membros dos grupos de trabalho nas suas

avaliações de desempenho.

A terceira dimensão trata das informações

utilizadas nas empresas. Na visão de Hoque

(2011, p. 34), “se você colocar informações

erradas em um processo de tomada de decisão,

você terá uma má decisão. Informação é mais

do que apenas uma coleção de fatos e números;

é o combustível que impulsiona o negócio. No

contexto do BTM, informação é o refinamento

dos dados em inteligência para tomada de

decisão eficaz na gestão da tecnologia. Afinal,

nenhum bom gerente tomaria uma decisão

crítica de negócios sem ter informações

objetivas para sustenta-la. Para os grupos de

trabalho, dentro da construção BTM,

informação é a força vital que fornece contexto

para suas deliberações e, finalmente, o material

para suas recomendações e diretivas”.19

Não se pode subestimar a importância de

uma informação clara e consistente. Tornar as

informações úteis requer torná-las

compreensíveis. Em outras palavras,

informações não só devem ser inteligentes e

completas o suficiente para a tomada de

decisões de negócios, mas também

compreensíveis para leigos ou não

especialistas nos grupos de trabalho. Não é

razoável esperar que os especialistas

interpretem as informações para o grupo ou

organização. Isso deixa muita margem para

mal-entendidos e espaço para que os

especialistas influenciem a tomada de decisões

de acordo com a sua conveniência.

Segundo Hoque (2011), as empresas não

têm nenhuma escassez de dados. As métricas

utilizadas para medir o desempenho de

produtividade e processos produzem grandes

19 Tradução livre

15

quantidades de informação. Contudo, os dados

devem estar disponíveis e devem ser

relevantes, precisos e confiáveis para produzir

uma informação útil. As métricas devem ser

concebidas para assegurar que elas produzem

inteligência adequada para tomar decisões que

conduzem a empresa para objetivos

estratégicos e operacionais.

Costuma-se dizer que pode-se fazer os

números dizerem qualquer coisa que você

queira. É por isto que a verdade nos negócios,

é muitas vezes evasiva. Diferentes grupos

aplicarão medidas diferentes para as suas

atividades a fim de demonstrar a sua

produtividade e valor, independentemente da

relevância para a empresa. A padronização de

dados e métricas através das operações internas

da empresa e da rede de parceiros e

fornecedores é fundamental para garantir que

todos os stakeholders e tomadores de decisão

estão lidando com a mesma inteligência.

Igualmente importantes é projetar métricas

para o uso de um ano para o outro ou de uma

década para a outra. As métricas devem ser

comparáveis ao longo do tempo para uma

medida de progresso e desempenho. Gestão de

processos baseada em informações falhas

falhará quando confrontado com as condições

que exploram as falhas.

A última dimensão identificada por Hoque

(2011) é a da tecnologia. Ela pode ajudar a

conectar todas essas dimensões do BTM.

Tecnologia ajuda a tornar os processos mais

fáceis de executar, facilita o compartilhamento

de informações de forma oportuna e permite a

coordenação consistente entre elementos e

camadas da organização. Ela faz isso através

da automação de tarefas manuais, relatórios, a

geração de análises para tomada de decisão e a

integração de diversos sistemas de gestão.

Hoque (2011, p. 35), complementa

dizendo que: “Entretanto, a simples adição de

tecnologia para automatizar os processos

existentes na explora todo o seu valor

potencial. Os maiores ganhos resultam da

otimização de processos, estruturas

organizacionais e os fluxos de informação. A

complexidade da gestão da tecnologia e a

crescente demanda por um ambiente de

negócios em constante evolução exigem mais

transparência de informações e sincronização

operacional. O uso apropriado de tecnologia

deve não só facilitar a criação e comunicação

das informações necessárias para alimentar os

processos de gestão em toda a organização,

mas também conseguir a integração

consistente de gestão horizontal e vertical”.20

Segundo Hoque (2011), as empresas

podem estar em níveis diferente de maturidade

no caminho para a convergência entre negócios

e tecnologia. Pode-se compreender em que

nível de maturidade elas se encontram

utilizando uma medida denominada pelo autor

de Modelo de Maturidade de BTM, conforme

mostrado na figura 9. Este modelo define cinco

níveis de maturidade, pontuados de acordo

com as quatro dimensões fundamentais do

framework do BTM: processo, organização,

informação e tecnologia.

No nível 1, uma organização tipicamente

executa alguns processos de gestão estratégica

de tecnologia de forma desagregada.

No nível 2, uma organização apresenta

práticas limitadas de gerenciamento de

tecnologia, não há informações realmente

unificadas para tomada de decisões

importantes e consulta o seu grupo de

20 Tradução livre

Fonte: (The Power of Convergence, 2011, p. 37)

Figura 9- Modelo de Maturidade de BTM

16

tecnologia em decisões com implicações

óbvias de tecnologia.

No nível 3, uma organização é “funcional”

com relação a gestão de tecnologia. Isto

significa que uma empresa tem adotado muitos

dos princípios fundamentais de gestão de

tecnologia, mas ainda não os implementou

consistentemente através dos projetos ou da

organização.

No nível 4, uma empresa tem a gestão de

tecnologia totalmente implementada em toda a

organização.

No nível 5, uma empresa amadureceu o

suficiente para saber quando mudar as regras

para manter a vantagem estratégica em relação

aos concorrentes.

Hoque (2011, p. 36) afirma que: “O

modelo de maturidade de BTM descreve quão

bem uma organização executa um conjunto

específico de atividades em comparação com o

padrão prescrito. Este modelo torna possível

para uma empresa identificar anomalias no seu

desempenho e aferir-se contra outras empresas

ou setores. Estabelecer uma linha de base de

maturidade de gestão é um ponto de partida

essencial no caminho para alcançar a

convergência de tecnologia e negócios. Uma

linha de base é geralmente definida como uma

linha ou padrão pelo qual as coisas são

medidas ou comparadas. Para ser eficaz e

significativa, uma linha de base de maturidade

deve ser indissociavelmente ligada a todo o

ambiente a ser medido e deve ser construída

com base em um conjunto de observações

críticas ou dados usados para comparação ou

um controle”.

O que se segue são exemplos de perguntas

de autoavaliação que podem ajudar uma

organização a criar uma linha de base para seu

atual nível de maturidade de gestão. Estas

perguntas são baseadas nas dezessete práticas

de gerenciamento definidas no modelo de

BTM.

1. Governança Estratégica e Tática: Até

que ponto sua empresa possui um comitê

formalmente estabelecido – com profissionais

de gestão de negócios e tecnologia – com

poder para tomar decisões e fazer cumprir a

política sobre a direção de seus investimentos e

padrões em tecnologia?

2. Design Organizacional e Gestão de

Mudanças: Até que ponto sua equipe de

tecnologia foi projetada para suportar as

demandas de negócio e das estratégias

tecnológicas? Quão facilmente pode se fazer

alterações para garantir que a equipe de

tecnologia se adapte às mudanças necessárias?

3. Gestão e Estratégia de Comunicação:

Quão eficazmente sua empresa comunica o

grau com o qual a sua equipe de tecnologia

suporta as estratégias de negócios e

tecnológicas? A que grau as iniciativas de

tecnologia estão sendo projetadas para atender

às necessidades de negócios?

4. Gestão de Riscos e Conformidade: Até

que ponto a sua empresa garante que os

requisitos normativos e de governo são

conhecidos e compreendidos, que estratégias

adequadas de mitigação de risco estão

estabelecidas e que a tecnologia é um parceiro

ativo na gestão de riscos e conformidade?

5. Estratégia de Tecnologia do Negócio:

Até que ponto sua empresa trabalha

regularmente para coordenar a sua estratégia

de negócios com sua estratégia de tecnologia,

refletindo as tendências atuais e futuras de

negócios e tecnologia? Até que ponto os

líderes seniores de tecnologia e negócios

tratam da estratégia de tecnologia de uma

forma efetiva?

6. Planejamento e Orçamentação

Estratégica: Até que ponto sua empresa conduz

atividades de planejamento e orçamentação

formais utilizando modelos de planejamento

financeiro? Até que ponto sua empresa

desenvolve metas para a definição de portfólio

de forma a priorizar os investimentos de

acordo com sua estratégia de tecnologia?

7. Gestão de Parcerias Estratégicas: Até

que ponto sua empresa identifica e analisa

áreas de oportunidade estratégica para a

terceirização, desenvolvimento compartilhado

e parcerias de conhecimento? Até que ponto

ela realiza análises das capacidades dos

potenciais parceiros de forma consistente e

objetiva? A sua empresa confiou essa

responsabilidade a um grupo profissional

dentro da empresa?

8. Consolidação e Padronização: Até que

ponto sua empresa trabalha efetivamente para

encaixar ativos recém-adquiridos dentro de seu

quadro estratégico e operacional e ajusta seu

ciclo de planejamento e decisão para

rapidamente desenvolver e executar programas

que obedeçam aos padrões estabelecidos e

consolidem ou eliminem ativos e

investimentos redundantes?

9. Gestão de Portfólio e Programa: Até

que ponto sua empresa utiliza o gerenciamento

de portfólio para identificar e avaliar ativos e

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recursos atuais e futuros, bem como os riscos

para os investimentos e sua operação? Tem um

grupo de profissionais em tempo integral para

garantir que empresa otimiza adequadamente

cada portfólio?

10. Priorização e Aprovação: Até que

ponto o corpo gestor da sua empresa empregar

critérios objetivos com base na sua estratégia

empresarial, estratégia tecnológica, quadro

financeiro e gestão de riscos para determinar

quais iniciativas tecnológicas devem ser

aprovadas e a ordem em que elas devem ser

implementadas?

11. Análise e Desenho de Projetos: Até

que ponto sua empresa atua para garantir que

todas as iniciativas de tecnologia propostas se

enquadram dentro das diretrizes da sua

estratégia de negócios, estratégia de tecnologia

e padrões de arquitetura?

12. Gestão de Recursos e Demandas: Até

que ponto sua empresa trabalhar ativamente

para garantir que as solicitações e alocações de

recursos de tecnologia são consistentes com

suas práticas de negócios, prioridades,

orçamentos e capacidade?

13. Arquitetura de Negócios: Até que

ponto sua empresa trabalha para capturar e

organizar as informações sobre sua estratégia

de negócios e processos de negócios, criando

modelos das etapas operacionais de cada

processo de negócio e identificando os serviços

de tecnologia necessários para suportá-los?

14. Arquitetura Tecnológica: Até que

ponto sua empresa trabalha para capturar,

organizar e categorizar informações sobre seus

ativos de tecnologia de negócio (incluindo a

sua relação com cada processo de negócio),

criando modelos detalhados do ambiente de

tecnologia e as relações entre os domínios de

tecnologia, incluindo infraestrutura, hardware e

aplicativos?

15. Padrões de Tecnologia de Negócio:

Até que ponto sua empresa trabalha para

estabelecer padrões de aplicações e

ferramentas de tecnologia de negócios, para

rever a sua conformidade com os padrões e

princípios de arquitetura e para garantir que as

futuras tendências em tecnologia são refletidas

nesses padrões?

16. Gestão de Portfólio de Aplicações: Até

que ponto sua empresa atua para coletar

informações sobre suas aplicações de

tecnologia e analisar cada uma delas para

determinar seu alinhamento com o negócio e

com a estratégia de tecnologia, objetivos de

arquitetura e padrões da empresa? Em que

medida esse processo é usado para determinar

o estado futuro desejado do portfólio de

tecnologia da empresa?

17. Racionalização de Ativos: Até que

ponto sua empresa trabalha ativamente para

identificar e gerenciar a eliminação de ativos

de tecnologia redundantes, obsoletos, fora do

padrão ou subutilizados? Até que ponto isto é

utilizado para planejar e executar iniciativas

que conduzem o portfólio de ativos da empresa

em direção a um estado de otimizado?

De acordo com o estágio de maturidade da

empresa definido com base nas perguntas

anteriores, uma pontuação do nível de

convergência é calculada indicando a

maturidade em gerenciamento de tecnologia.

Para Hoque (2011), os resultados da

avaliação proveem os dados necessários para

calcular um resultado individual para cada

prática. Pontuações individuais são

consolidadas e uma linha de base do nível de

maturidade é determinada de acordo com as

métricas predefinidas descritas no modelo de

maturidade de BTM. Ele conclui afirmando

que “os resultados produzidos por este modelo

são uma indicação clara das áreas de força e

daquelas que precisam de melhoria. O modelo

define o ponto de partida para a melhoria,

enquanto descreve os resultados esperados em

termos dos objetivos do negócio. Os resultados

da avaliação fornecem o insumo necessário

para a criação de um plano de crescimento do

nível de maturidade, que funciona como um

roteiro para fazer avançar os processos e

procedimentos de gestão de tecnologia através

das fases de coordenação, alinhamento e

convergência”. (HOQUE, 2011, p. 40)

Analisando tudo o que foi dito até aqui,

concluímos que há alguns desafios a serem

superados pelas áreas de tecnologia para que

deixem de serem vistas como uma área de

suporte e simples fornecedoras de serviços de

baixo custo. Automatizar processos de back-

office ou aumentar a eficiência operacional da

empresa não pode ser um dos focos principais

de TI. Porém, não é isto o que temos visto. Se

analisarmos rapidamente os orçamentos da

maioria das áreas de tecnologia veremos que a

sua maior parte é destinada a atividades de

manutenção e continuidade da operação. Até

há orçamento para melhorias em sistemas já

existentes, mas muito pouco é utilizado para

inovação. Soma-se a isto a pouca importância

estratégica que, em muitos casos, as áreas de

18

TI têm nas empresas. Ao invés de estarem

ligados diretamente ao CEO, muitos CIOs

respondem hierarquicamente a outros

executivos, como por exemplo, o executivo

financeiro. A consequência disto é a criação de

um modelo onde a TI concentra os seus

esforços na implementação de sistemas de

suporte e controle como CRM, ERP e outros.

Para resolver este problema e promover o

alinhamento estratégico entre TI e as áreas de

negócios das empresas é que Gray (2007) e

Hoque (2011) propuseram caminhos que são

capazes de conduzir a TI para um novo

patamar de importância dentro da organização.

Este novo posicionamento levará a TI

contribuir com ideias e sugestões para

alavancar novos produtos, processos e novos

modelos de negócio.

As visões dos dois autores sobre a questão

do alinhamento estratégico entre tecnologia e

negócios são na realidade complementares. À

medida que a TI muda o foco da operação da

infraestrutura tecnológica, deixando de ser um

provedor de serviços de baixo custo, e se

concentra na entrega de soluções de negócio a

sua importância dentro da organização

aumenta. Até o ponto em que a tecnologia

passará a influenciar, e porque não dizer até

mesmo conduzir, as decisões de negócio da

organização.

Resumindo, a sociedade digital demanda

cada vez mais das empresas, e o continuará

fazendo nos próximos anos, produtos e

serviços inovadores. As empresas que não

foram capazes de responder a esta demanda

estarão em desvantagem perante seus

concorrentes. As áreas de TI que não se

remodelarem para serem protagonistas neste

cenário estarão relegadas a uma função de

menor importância na organização e sujeitas

aos cortes de custos, ao redirecionamento de

investimentos e outras mudanças pelas quais

todo negócio passa.

REFERÊNCIAS

GRAY, Patrick. Breakthrough IT: Supercharging

Organizational Value Through Technology.

Hoboken, NJ, USA: Wikey, 2007.

HOQUE, Faisal. The Power of Convergence. New

York, NY: AMACOM, 2011.

CIO. Mudanças na TI forçam empresas a

repensarem seu papel, diz Gartner. In:

http://cio.uol.com.br/gestao/2012/11/12/mudancas-

na-ti-forcam-empresas-a-repensarem-seu-papel-diz-

gartner. Acessado em Dezembro de 2012.

OLAVSRUD, Thor. IT Is Increasing Efficiency but

Failing to Drive Business Grow. In:

http://www.cio.com/article/723429/IT_Is_Increasin

g_Efficiency_but_Failing_to_Drive_Business_Gro

wth. Acessado em Dezembro de 2012.

SOARES, Edileuza. Líderes de TI não terão

sucesso em 90% dos projetos das áreas de

negócios. In:

http://computerworld.uol.com.br/especiais/2012/10/

29/cio-nao-tera-sucesso-em-90-das-entregas-os-

negocios-em-3-anos/. Acessado em Novembro de

2012.