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2009

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2009

GESTÃO ESCOLAR

Maria Cristina Munhoz Araújo

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IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: Istockphoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

A69g

Araújo, Maria Cristina Munhoz Gestão Escolar / Maria Cristina Munhoz Araújo. – Curitiba, PR: IESDE,

2009.128 p.

Inclui bibliografiaISBN 978-85-387-0781-3

1. Escolas - Organização e administração. I. Inteligência Educacional e Siste-mas de Ensino. II. Título.

09-4497 CDD: 371.2CDU: 37.091

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Mestre em Educação pela PUCPR – Área de Gestão da Educação. Especialista em Tecnologia de Projetos Educacionais pela UFPR. Pedagoga, com habilitação em Administração Escolar. Autora de material didático para Pós-Graduação em Gestão Educacional e para a Educação Infantil. Professora de Pós-Graduação nas áreas de Gestão da Educação, Educação Infantil e Séries Iniciais. Sócio-Fundadora (1995) e Diretora (1997 a 2006) da Escola Cidadã (Curitiba-PR).

Maria Cristina Munhoz Araújo

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Sumário

A Gestão da Educação ............................................................ 11

Origem e concepções no seu desenvolvimento ............................................................ 11

A especi�cidade da organização escolar .......................................................................... 18

Marcos na signi�cação e ressigni�cação da Gestão Escolar ...................................... 19

O gestor escolar ........................................................................ 31

Quem é o gestor escolar? ....................................................................................................... 31

Qual o per�l desejado? ........................................................................................................... 32

O líder: características, estratégias e práticas .................................................................. 34

Do radicalismo do educador à realidade socioeconômica. Como adaptar? ......... 41

Pensar e construir uma escola ............................................. 49

Concepção política e pedagógica ....................................................................................... 49

A educação é um ato político ............................................................................................... 50

Conhecer e buscar a construção de uma nova escola ................................................. 52

Organizando e estruturando a escola ............................... 61

Organização e estruturação da escola ............................................................................... 61

Estrutura pedagógica .............................................................................................................. 66

Estrutura física ............................................................................................................................ 67

Estrutura administrativa e �nanceira ................................................................................. 70

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Planejamento e avaliação institucionais .......................... 85

Princípios teóricos ..................................................................................................................... 86

Planejamento educacional .................................................................................................... 87

Avaliação institucional: ferramenta para a tomada de decisão ................................ 97

Gabarito .....................................................................................113

Referências ................................................................................121

Anotações .................................................................................127

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Apresentação

Prezado aluno e aluna,

Procurei selecionar para este programa os principais fundamentos para uma Gestão Democrática que sirva de respaldo para a vivência democrática e, ao mesmo tempo, para educar para a cidadania.

A primeira aula faz uma chamada para o tipo de escola que queremos em de-corrência da sua gestão: educação para reproduzir e servir, ou para construir e par-ticipar. E, evidente, cabe ressaltar que todo o conteúdo deste livro está centrado na educação para construir e participar, é o seu princípio básico. A partir desse ponto discorremos sobre a origem da Administração Escolar e suas implicações, os tipos de escolas e modelos de gestão gerados, o técnico-cientí�co e o sociocrítico, bem como o destaque da especi�cidade da organização escolar e a signi�cação e res-signi�cação da Gestão Escolar, conceituando, a seguir, a Gestão Democrática.

A essa gestão, não poderíamos nos furtar de um capítulo inteiramente de-dicado ao gestor/empreendedor e ao gestor/educador, traçando paralelos para servir até como parâmetro à autoavaliação e re�exão para mudanças. Avançamos com o per�l desejado ao gestor, a necessidade de um novo tipo de líder para a escola que almejamos, a escola como espaço de aprendizagem para todos os participantes da comunidade escolar, a escola que aprende, suas características, estratégias e práticas.

De extrema relevância ao empreendedor/gestor na construção de uma escola, ou no seu repensar e reestruturar, há o capítulo” Pensar e construir uma escola”. Trata-se de uma chamada para a extrema responsabilidade desse empreendi-mento, levando a pensar sobre a concepção do homem e de educação, que so-ciedade pretendemos ter e a escola que queremos. Com essas re�exões, surgem as possibilidades de construção coletiva do Projeto Político Pedagógico e, então, pensar na escola como um todo, sua estrutura, seus meios, seus recursos, todos de�nidos e organizados em função do Projeto Político Pedagógico.

Com toda a fundamentação delineada, pudemos, de forma prática, até mesmo estabelecer um passo a passo para a estruturação e organização de uma escola de qualidade. Apresentamos, também, a estrutura organizacional, a pedagógica, a física, a administrativa e a �nanceira.

Para �nalizar, abordamos o planejamento e avaliação institucionais por serem ferramentas técnico-operacionais para uma boa Gestão Escolar.

A vocês, o meu desejo do aproveitamento das pistas apontadas neste livro para a construção de uma nova escola e de uma boa Gestão Democrática.

Maria Cristina

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Origem e concepções no seu desenvolvimento

Importa que nos debrucemos sobre a educação e sua gestão para conhecê-las como elas são. Isso implica, em primeiro lugar, ultrapassar as aparências para encontrar sua raiz, isto é, detectar ou desvelar as múltiplas determinações [...] que acabam por determinar sua aparência, o jeito como as percebemos [...] somente o conhecimento da gestão como de fato ela é [...] fundamenta decisões que podem alterá-la. (WITTMANN, 1993, p. 49-50)

Ainda que, neste estudo, o intuito maior seja despertar e trazer à tona a necessária conscientização do permanente estudo e a decorrente re�e-xão para um melhor entendimento do que vem a ser a Gestão Educacio-nal, não há como deixar de recomendar a busca da literatura especí�ca que traga no seu bojo a historicidade. Assim, pode-se compreender, pela contextualização histórica, social, política e cultural, o percurso da Admi-nistração Escolar Brasileira ao entendimento da atual conjuntura para, de fato, poder intervir na realidade e proporcionar aos brasileiros e brasileiras uma escola de qualidade, privilegiando valores, uma vida de signi�cados solidários, cooperativos e mais igualitários.

A busca na simplicidade ao querer ilustrar o entendimento da gestão comprometida com o desenvolvimento e o ser feliz do homem pode ser demonstrada com o poema de Thiago de Mello, o qual dá mostras de possibilidades de concretizações e realizações que digni�cam o homem, apenas dependendo de como se concebe o homem, a sociedade e a edu-cação, para:

reproduzir e servir ou

construir e participar.

A Gestão da Educação

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Gestão Escolar

Canção para os fonemas da alegria(MELLO, 1965)

Peço licença para algumas coisas.

Primeiramente para desfraldar

Este canto de amor publicamente.

[...]

Peço licença para soletrar,

no alfabeto do sol pernambucano,

a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e poder ver que dentro dela vivem

paredes, aconchegos e janelas,

e descobrir que todos os fonemas

são mágicos sinais que vão se abrindo

constelação de girassóis girando

em círculos de amor que de repente

estalam como �or no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só chão.

Mas sobre o chão quem reina agora é um homem

diferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavras

aos poucos vai unindo pedaços de argila e orvalho,

tristeza e pão, cambão e beija-�or,

e acaba por unir a própria vida

no seu peito partida e repartida

quando a�nal descobre num clarão

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A Gestão da Educação

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que o mundo é seu também, que o seu trabalho

não é a pena que paga por ser homem,

mas um modo de amar – e de ajudar

o mundo a ser melhor. Peço licença

para avisar que ao gosto de Jesus,

este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhando

a boa-nova, e chama os companheiros

a pelejar no limpo, fronte a fronte,

[...]

Peço licença para terminar

soletrando a canção de rebeldia

que existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescer

nos olhos do homem que aprendeu a ler.

Thiago de Mello nos fala, nesse poema belíssimo, da descoberta do homem pelo próprio homem, por meio da aprendizagem, da consciência e da conscien-tização do ser humano político, histórico, criativo e de uma cultura brasileira atí-pica – multicultural –, proporcionada principalmente pela miscigenação e pela sua história. Evidentemente, essa mesma história nos traz a realidade de uma educação brasileira infelizmente pobre e politicamente direcionada aos interes-ses capitalistas.

Contudo, nem por isso há que só se lamentar e se deixar cair no comodismo da contemplação. Muito mais do que a denúncia, incito a agir na responsabilida-de e comprometimento de um verdadeiro educador. Está em nossas mãos, in-dependente do cargo ou função exercida no momento, mobilizarmos a comuni-dade para não mais aceitarmos analfabetos e alfabetizados funcionais, pois isso ainda acontece nas nossas escolas. Educação não politizada, apenas reprodutora de fórmulas, de conteúdos. E quais conteúdos são esses? E para quê? Com qual propósito? Reside aí a intencionalidade do educar para o pensar? Urge pensar e agir em educação para todos, com vistas à hominização.

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Gestão Escolar

Quem tem o privilégio de desenvolver um trabalho educacional nesse nível, especialmente gestores/diretores compromissados com uma comunidade, tem o pleno direito de se sentir um educador feliz, pois participa da construção humana – do ser, do conhecer, do saber fazer, do conviver, do construir e do ser feliz – no mundo.

Educadores, pessoas, melhor ainda, gente boa, que oportuniza a formação de cidadãos na verdadeira acepção da palavra:

gente que

pensa, sente

age,

sonha e,

mais importante, realiza.

Isso é vida. E por que essa incursão em algo tão signi�cativo, mas puramente abstrato, quando se adentra ao estudo da origem e desenvolvimento da Gestão Escolar?

Gestão? Administração?

Parece ser muito simples e de status perante a sociedade. Imagine em uma apresentação, normalmente em cerimonial: Diretora ou Diretor da Escola Tal, em maiúsculo sim, pois é uma autoridade da comunidade, e de fato é. O destaque a ser dado está na representação daquela autoridade àquelas pessoas da própria escola e do seu entorno. Representa humanidade, simplicidade, conhecimento/sabedoria, con�ança, segurança, entre outros.

Re�ita a respeito, recorde situações escolares enquanto aluno/aluna, e vai en-contrar além de diretores e professores, outros pro�ssionais da educação. Quais realmente foram educadores?

Re�ita, hoje, sobre sua ação. A oportunidade é ímpar para proceder melho-rias em sua gestão ou, por que não, transformá-la?

Aproveite o momento, retorne ao poema “Canção para os fonemas da ale- gria”, de Thiago de Mello, e às considerações feitas a partir dele, lembrando, inclusive, os ensinamentos de Paulo Freire, pois a um(a) educador(a) compro-missado(a) com a qualidade da educação, tocará profundamente seu espírito,

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A Gestão da Educação

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instigando-o(a) ao estudo da Gestão da Educação, com consciência e compro-misso político.

Historicizar, a �m de contextualizar, para uma melhor compreensão do surgi-mento e da evolução da Gestão da Educação. “O conhecimento histórico traz a clareza necessária para a competência do administrador [...] a maioria das infe-rências, diretrizes políticas [...] para intervir na realidade acabam por não alterá-la ou alterá-la super�cialmente [...]” (WITTMANN, 1993, p. 48-49).

As origens da Gestão da EducaçãoO tema Gestão da Educação faz parte constante da discussão educacional

na contemporaneidade e também está diretamente relacionado ao campo da administração.

Assim, ao abordar esse tema, faz-se necessário, inicialmente, explicitar o enten-dimento de administração e de gestão e, especialmente, de Gestão Democrática.

Para isso, mesmo que brevemente, traçaremos um relato da origem e do de-senvolvimento da administração, ou seja, da administração empresarial à esco-lar, e seus re�exos na educação até chegar à Gestão Democrática.

As propostas de administração foram surgindo através dos tempos, a partir da formação de organizações sociais como: família, tribo, igreja, exército e Estado, bem como mediante o desenvolvimento da sociedade humana.

Remonta à Antiguidade as ideias de como gerenciar os empreendimentos. Entretanto, com a evolução do processo produtivo e, principalmente, com a Re-volução Industrial ocorrida na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX, transformou-se o processo produtivo de artesanal e familiar em industrial, com o surgimento de indústrias e, em decorrência, deu-se início ao estudo formal da administração. Surge, então, a conhecida teoria administrativa do século XX, respaldada no de-senvolvimento das escolas: a clássica, a psicossocial e a contemporânea.

Administração Escolar BrasileiraA Administração Escolar Brasileira, objeto de pesquisas e estudos desde a

década de 1930, demonstra em suas características a pura e simples transposi-ção da Teoria Geral da Administração, buscando a transformação da organiza-ção escolar em organização empresarial, imprimindo à escola uma concepção

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Gestão Escolar

cientí�co-racional, portanto, burocrática e tecnicista. Essa escola tem a sua estru-tura e o seu funcionamento sob a égide do racionalismo e, devido a isso, o pla-nejamento, a organização e o controle estão voltados ao alcance de resultados elevados em e�ciência e e�cácia.

Apesar dos estudos, das pesquisas, das inovações em todas as áreas do co-nhecimento humano, a educação e o seu “local próprio”, constituído pela socie-dade (a escola), continua a funcionar nos moldes tradicionais, ou seja, de forma racional e burocrática, sendo muito fácil a identi�cação dessa escola, pois a nós, brasileiros, infelizmente ainda é a mais encontrada no nosso cenário educacio-nal. Escola que prioriza a hierarquia e a autoridade, portanto, não considera a participação. O planejamento, o controle e a avaliação são de inteira responsabi-lidade do corpo diretivo da escola.

Com o mesmo enfoque, na década de 1990 surge a escola de concepção técnico-cientí�ca, também conhecida como escola-empresa, regida ao modelo da gestão da qualidade total. Impera nessa escola a hierarquização de cargos e funções e a normatização de forma rígida, objetivando racionalizar o traba-lho e buscar constantemente a e�ciência escolar. Esse modelo de gestão, e de escola, diferencia-se da anterior, de administração clássica ou burocrática, tão somente na ênfase e utilização de métodos e técnicas da gestão da administra-ção empresarial.

Libâneo (2004, p.121-122) estabelece esse paralelo, bem como apresenta as características desse modelo de gestão e escola:

prescrição detalhada de funções e tarefas, acentuando-se a divisão técni- �ca do trabalho escolar;

poder centralizado no diretor, destacando-se as relações de subordinação, �em que uns têm mais autoridade do que outros;

ênfase na administração regulada (rígido sistema de normas, de regras e �de procedimentos burocráticos de controle das atividades), às vezes des-cuidando-se dos objetivos especí�cos da instituição escolar;

formas de comunicação verticalizadas (de cima para baixo), baseadas mais �em normas e regras do que em consensos;

maior ênfase nas tarefas do que nas interações pessoais. �

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A Gestão da Educação

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Em encontros, cursos e escritos, sempre esteve presente em minha mente, como um dos propósitos a destacar: a facilidade em se administrar essa escola ora retratada, basta seguir todas as regras dispostas, inclusive em manuais; é extremamente organizada, não lida com con�itos, apenas busca a regra apli-cável ao caso, de funcionamento racional, na procura da melhor performance para os resultados da instituição. A preocupação dessa instituição é responder ao mercado de trabalho, sem questioná-lo; a postura é neutra frente ao homem e à sociedade.

Outras formas de Gestão Escolar são apresentadas na literatura especí�ca. Todavia, neste nosso estudo, vamos nos restringir às concepções geradoras de modelos de gestão. A primeira já foi exposta (a técnico-cientí�ca) e a segunda, a sociocrítica, é agora objeto do nosso enfoque.

Na concepção sociocrítica, a organização escolar é concebida como espaço de interações sociais, por isso, político, com intencionalidade, direcionada à partici-pação da comunidade escolar, considerando o contexto sociocultural e político. O processo de tomada de decisões e a forma de gestão ocorrem democratica-mente, envolvendo práticas cooperativas na concretização de objetivos comuns da coletividade. O poder, a autoridade e as relações de�nidas nos cargos e fun-ções existem, porém acontecem nas interações e decisões na horizontalidade.

Da mesma forma, também dessa concepção (a sociocrítica), e já na de�nição pelo modelo de Gestão Democrática, apresentamos as características, segundo Libâneo (2004, p.124):

de�nição explícita de objetivos sociopolíticos e pedagógicos da escola, �pela equipe escolar;

articulação entre a atividade de direção e a iniciativa e participação das �pessoas da escola, e das que se relacionam com ela;

alto nível de quali�cação e competência pro�ssional; �

busca e objetividade no trato das questões da organização e gestão, me- �diante coleta de informações reais, sem prejuízo da consideração dos sig-ni�cados subjetivos e culturais;

acompanhamento e avaliação sistemáticos com �nalidade pedagógica: �diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos, reorientação de rumos e ações, tomada de decisões;

ênfase, tanto nas tarefas quanto nas relações interpessoais. �

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Gestão Escolar

A especi�cidade da organização escolarCabe aqui ressaltar, no intuito de abrir possibilidades de re�exão a você,

gestor, para escolha da administração a ser feita, sob qual modelo de gestão irá pautar o seu trabalho, a diferenciação das concepções de administração.

Há a visão e conceituação de administração como, simplesmente, o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar recursos humanos, materiais, �nanceiros e informacionais, com vistas à realização e alcance dos objetivos empresariais. A Administração Escolar que se pautou nessa concepção, apenas transferindo-a e desconsiderando a especi�cidade da organização escolar e o seu �m último, a formação humana, ignora os objetivos educacionais em função de racionalização de recursos, vendo, aí, inclusive o homem, sujeito e objeto do processo ensino–aprendizagem, como recurso (igual aos demais) material, �nanceiro, entre outros.

Numa outra visão de administração, especialmente apregoada por Vítor Paro, Danilo Gandin, Celso Vasconcellos, Maria de Fátima Félix, Dinair Hora e outros, presta-se, principalmente, à transformação social. Utiliza-se, sim, de métodos e técnicas da administração, mas há a contemplação e a vinculação orgânica, segundo Paro (2000, p.152), entre os objetivos educacionais e o processo peda-gógico escolar, assim como entre o técnico e o político na formulação de uma nova teoria da Administração Escolar. Conclui-se, então, que a especi�cidade da Administração Escolar está calcada na sua fundamentação em objetivos educa-cionais, ao atendimento dos interesses da população, no seu todo, e que se dê a relevância à especi�cidade do processo pedagógico, fruto e por determinação dos objetivos educacionais traçados.

A possibilidade de uma administração democrática no sentido de sua articulação, na forma e no conteúdo, com os interesses da sociedade como um todo, tem a ver com os �ns e a natureza da coisa administrada. No caso da Administração Escolar, sua especi�cidade deriva, pois: a) dos objetivos que buscam alcançar com a escola; b) da natureza do processo que envolve essa busca. Esses dois aspectos não estão de modo nenhum desvinculados um do outro. A apropriação do saber e o desenvolvimento da consciência crítica, como objetivos de uma educação transformadora, determinam, [...], a própria natureza peculiar do processo pedagógico escolar. (PARO, 2000, p.151-152)

Parece difícil de explicar e de entender, mas vamos lá; talvez de forma menos teórica.

Qual é o nosso negócio?

É a Educação.

Ficou simples, não é? Ao procedermos a administração de uma instituição escolar ou de um sistema educacional, qual será o nosso caminho?

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A Gestão da Educação

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Primeiramente a clareza política e a de�nição desta. O que queremos e para que queremos? Ou seja, que homem e que sociedade queremos, para daí então de�nirmos qual educação ofertar. Com base nessa de�nição e estudos �losó�-cos, sociológicos e antropológicos, além, evidente, dos de educação, buscarmos o técnico, inteiramente a serviço dos objetivos educacionais.

Agora, faça a mesma pergunta a uma empresa – Qual é o seu negócio? – e compare com a nossa escola.

Assim, podemos e devemos ter e imprimir na escola, e na comunidade esco-lar, o entendimento da especi�cidade da organização escolar.

Marcos na signi�cação e ressigni�cação da Gestão Escolar

Da mesma forma, divergências na concepção de Administração Escolar são também encontradas na discussão do tema Gestão da Educação. A exemplo da transposição da Teoria Geral da Administração, colocam-se alguns autores da área educacional enfaticamente que está a gestão empresarial a reproduzir a história e conduzir a educação a título de Gestão Educacional. Outros autores superam essa visão, buscando ressigni�cá-la, e há que se repensar também no respaldo encontrado na legislação brasileira, na Constituição de 1988 e na LDB de 1996.

Destaque à década de 1980, aos movimentos revolucionários e reivindica-tórios para a necessária participação da população em todas as instâncias, sur-gindo, pela primeira vez na legislação brasileira, como princípio da educação nacional – a Gestão Democrática – na Constituição Federal de 1988.

Capítulo III

Da Educação, da Cultura e do Desporto

Seção I

Da educação

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

Em decorrência, a LDB repete o texto constitucional:

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Gestão Escolar

Art. 3.º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

[...]

VIII – gestão democrática do ensino público na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

[...]

Sem entrar no mérito e discussão dos meandros que originaram os textos legais, inclusive iguais, sem avanços, restringe a obrigatoriedade da Gestão De-mocrática ao ensino público, por que não à iniciativa privada? Qual sociedade se deseja construir? Democrática? A regra, então, deve ser geral.

Voltamos à questão inicial: concepção de homem, de sociedade e de educa-ção. Assim, eu, neste trabalho, como provocadora e mediadora da apropriação e construção do seu conhecimento, para uma atuação signi�cativa na educação e na sociedade, vou conduzi-lo respaldada no nosso entendimento de Gestão Democrática: forma de possibilitar que todos os seres envolvidos na instituição possam exercer com maior assertividade sua cidadania, se relacionar melhor e alcançar a liberdade de expressão, porque cada um dos envolvidos carrega em si um conhecimento, que é único e que pode ser somado ao do seu colega e, no caso, por se tratar de escola, aos alunos. Essa troca faz com que a cada dia os envolvidos incorporem mais conhecimentos, sejam eles formais ou informais, tornando-os mais responsáveis, autônomos e criativos.

Ainda, para sair do âmbito da instituição escolar e ver a Gestão Democráti-ca de forma mais abrangente, recorremos à Prof.ª Naura Carapeto Ferreira, com duas felizes citações:

A gestão democrática da educação é, hoje, um valor já consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda não totalmente compreendido e incorporado à prática social global e à prática educacional brasileira e mundial. É indubitável sua importância como um recurso de partici-pação humana e de formação para cidadania. É indubitável sua necessidade para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É indubitável sua importância como fonte de huma-nização. (FERREIRA apud FERREIRA, 2000, p. 305)

Gestão é administração, é tomada de decisão, é organização, é direção. Relaciona-se com a ati-vidade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos, cumprir sua função, desem-penhar seu papel. Constitui-se de princípios e práticas decorrentes que a�rmam e desa�rmam os princípios que as geram. Esses princípios, entretanto, não são intrínsecos à gestão como a concebia a administração clássica, mas são princípios sociais, visto que a gestão da educação é responsável por garantir a qualidade de uma “mediação no seio da prática social global” (SAVANI, 1980, p. 120), que se constitui no único mecanismo de hominização do ser humano, que é a educação, a formação humana de cidadãos. (FERREIRA, 2000, p. 306-307)

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A Gestão da Educação

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Podemos concluir este capítulo conceituando Gestão da Educação como um processo de articulação para o desenvolvimento da proposta político-pedagó-gica da escola, fundamentado numa determinada concepção de educação e de sociedade. Assim, ao pensar um processo educacional, e a ação da escola, cabe antes de�nir um projeto de cidadania e atribuir à escola uma �nalidade coeren-te a esse projeto, de�nindo os pressupostos �losó�cos, sociais e educacionais que fundamentam a organização da proposta pedagógica, a partir da análise dos paradigmas, da especi�cidade da organização escolar e da qualidade na educação.

Texto complementar

Diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia no Brasil:

a gestão da educação como gérmen da formaçãoAo examinar o teor da resolução, pode-se constatar que os itens I e II,

que compõem o parágrafo 2.º, tratam de conteúdos da gestão da educação, embora não esteja explícito este termo em todos os itens. Se o planejamen-to, a execução e a avaliação de atividades educativas são concebidos, �nal-mente, como compromissos do pro�ssional da educação que se forma no curso de Pedagogia, a esse pedagogo é atribuída a gestão da educação que, entendida como “tomada de decisões, é organização e direção” (FERREIRA, 2006a , p. 306), e responsável pela qualidade do ensino que acontece nas instituições escolares.

[...]

A participação do pedagogo, conforme a Resolução CNE/CP 1/2006 põe em relevo, con�gura a formação do pedagogo como um gestor, superando, assim, as compreensões restritas e unilaterais.

[...]

É a administração – a gestão – fazendo-se em ação na sala de aula, por conter “em gérmen” o espírito e o conteúdo do Projeto Político Pedagógico que expressa os compromissos e o norte da escola por meio da gestão do

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ensino, da gestão da classe, da gestão das relações, da gestão do processo de aquisição do conhecimento, “ação educativa e processo pedagógico me-tódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produ-tivas, as quais in�uenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos cientí�cos e cultu-rais, valores éticos e estéticos inerentes ao processo de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo”, como reza a Resolução CNE/CP n. 1/2006.

A razão de ser da gestão da educação consiste, portanto, a partir dessa de�nição, na garantia de qualidade do processo de formação humana que possibilitará ao educando crescer e, por intermédio dos conteúdos do ensino, que são conteúdos de vida, hominizar-se, isto é, tornar-se mais humano (FER-REIRA, 2006b, p. 309).

A ação administrativa a que se referia Anísio não era senão a compreen-são de que toda tomada de decisão, seja em que nível ou dimensão for, é sempre uma decisão entre várias alternativas, uma decisão política que terá repercussões e consequências de longo alcance sobre o acesso às oportuni-dades sociais da vida, de cada um, de todos os alunos, em sociedade.

Esta compreensão faz com que se conceba, no professor, no pro�ssional da educação/gestor que faz acontecer, por meio da tomada de decisões, que as políticas educacionais se concretizem no sentido da formação da verda-deira cidadania.

A imprescindibilidade da concepção de gestão na formação dos pro�ssionais da educaçãoA gestão da educação, no contexto das transformações que se operam no

mundo do trabalho e das relações sociais, na “era da globalização” e na cha-mada “sociedade do conhecimento”, atravessa também uma fase de profunda transformação que se constitui num conjunto de diferentes medidas e cons-truções que objetivam: “Alargar o conceito de escola; reconhecer e reforçar sua autonomia e promover a associação entre escolas e a sua integração em territórios educacionais mais vastos e adotar modalidades de gestão especí-�cas e adaptadas à diversidade das situações existentes” (BARROSO, 2006a, p. 11).

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Essas medidas se apoiam na convicção de que a gestão democrática, a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico e a autonomia da escola são os pressupostos fundamentais para o desenvolvimento da cidadania e, portanto, para a formação do pro�ssional da educação. Para tanto, o redi-mensionamento do compromisso da escola, como agência de formação, não pode vincular-se, meramente, à lógica do mercado de trabalho, mas cumprir sua função social, isto é, cumprir seu papel político-institucional. A gestão democrática da educação, como explicita Dourado (2006a, p. 79), é um

[...] processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prá-tica educativa, mas vislumbra, nas especi�cidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do “jogo” democrático e, consequentemente, do repensar das estruturas de poder autori-tário que permeiam as relações sociais e, no seio destas, as práticas educativas.

[...]

Como conteúdo explícito de formação ou como exercício, por intermédio da participação, constitui-se a gestão democrática da educação, o âmago da qualidade da educação e da formação, posto que ela própria – a gestão – é a responsável pela qualidade da educação.

[...]

Gestão democrática, participação dos pro�ssionais e da comunidade es-colar, elaboração do projeto pedagógico da escola, autonomia pedagógica e administrativa são os elementos fundantes da gestão da educação em geral e os elementos fundamentais na construção da gestão democrática da escola. Nessa via de raciocínio, vale explicitar algumas de�nições:

Gestão (do latim gestio-õnis) signi�ca ato de gerir, gerência, administra-ção (FERREIRA, 1999, p. 985). Gestão é tomada de decisão, é organização, é direção. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização. É um termo que, historicamente, vem se a�rmando no âmbito da administra-ção da educação e no estudo das instituições e organizações, incluindo as educacionais, como sinônimo de administração e que se “instala” no mundo pensante com um sentido mais dinâmico, traduzindo movimento, ação, mo-bilização, articulação. Embora existam, na literatura, algumas discordâncias quanto à aplicação do conceito de gestão à educação, hoje é preponderante seu emprego para exprimir a responsabilidade pela “direção” e pela garantia de qualidade da educação e do processo educacional em todos os níveis do ensino e da escola.

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Superando a concepção taylorista/fordista, que foi a fonte para os estu-dos de administração da educação, servindo-lhe de norte por longas déca-das, a gestão democrática da educação constrói, coletivamente por meio da participação, a cidadania da escola e de seus integrantes.

A gestão da educação, como tomada de decisão, organização, direção e participação, acontece e desenvolve-se em todos os âmbitos da escola, mas fundamentalmente na sala de aula, onde concretamente se objetiva o Pro-jeto Político Pedagógico não só como desenvolvimento do planejado, mas como fonte privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de decisões para o estabelecimento de novas políticas.

Como construção coletiva da organização da educação, da escola, das instituições, do ensino, da vida humana, a gestão democrática da educação concretiza-se na prática, quando se tomam decisões sobre todo o Projeto Político Pedagógico, sobre as �nalidades e os objetivos do planejamento dos cursos, das disciplinas, dos planos de estudo, do elenco disciplinar e sobre os respectivos conteúdos, sobre as atividades dos professores e dos alunos necessárias para a sua consecução, sobre os ambientes de aprendizagem, os recursos humanos, físicos e �nanceiros necessários, os tipos, modos e proce-dimentos de avaliação e o tempo para a sua realização. É quando se organiza e se administra coletivamente todo este processo que se está realizando a consubstanciação do Projeto Político Pedagógico.

O termo “decisão” (do latim decisione) signi�ca resolução, determinação, sentença, julgamento. Esta é de�nida, comumente, como uma escolha entre soluções possíveis. Mas esse momento e ato de decidir se assentam num processo subjacente, elaborado a partir do conhecimento e da apreensão da informação necessária e da intencionalidade que lhe dá sentido. É, pois, um processo dinâmico e contínuo referente a um sujeito, individual ou coletivo, no qual esse sujeito que decide interage com o problema – para o qual é necessária a decisão – e o seu contexto, encontrando ou tentando encontrar várias soluções alternativas, escolhendo uma delas fundada em determina-dos critérios.

A tomada de decisão não corresponde a uma atitude que ocorre em de-terminado momento. Ela resulta de um processo complexo que se vai cons-truindo por meio de etapas sucessivas que vão, em sequência, clari�cando e tornando consistente o desenvolvimento do processo. O primeiro elemento da estrutura da tomada de decisão é a consciência da necessidade de decidir,

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que consiste na identi�cação das situações nas quais se tem de decidir, dos problemas que têm de ser resolvidos e no estudo das alternativas possíveis para tomar a decisão. Quando essa consciência se dá no plano individual, a passagem da decisão para a ação processa-se de forma autoritária, pois se faz necessário fazer obedecer, tentar vencer, ambas atitudes degradantes. A tomada de consciência da necessidade de decidir e o posterior processo de decisão, quando feito no coletivo, propiciam a riqueza de ideias, o debate, o confronto de argumentos diferentes que se constroem no próprio processo coletivo de consciência do problema em questão.

A construção coletiva faz-se na participação, ou seja, quando se compre-ende e incorpora que participar consiste em ajudar a construir comunicati-vamente o consenso quanto a um plano de ação coletivo. E isso só é possível por meio do diálogo e do respeito que podem ocorrer e permanecer até nos confrontos, que são divergências necessárias a novas sínteses superadoras de compreensão.

Finalizando para um novo recomeço[...]

A Resolução CNE/CP 1/2006 de forma implícita e explícita reitera os prin-cípios da gestão democrática da educação como elemento fundante da for-mação do pro�ssional da educação, assegurando essa não fragmentação por meio da compreensão democrática de totalidade. A gestão educacional é de�nida

[...] numa perspectiva democrática que integre as diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos educativos escolares e não escolares, especialmente no que se refere ao planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à avaliação de planos e de projetos pedagógicos, bem como análise, formulação, implementação acompanhamento e avaliação de políticas públicas e institucionais na área da educação. (Parecer CNE/CP 5/2005, p. 8)

A gestão democrática da educação como concepção da formação do pro-�ssional da educação é, pois, ao mesmo tempo, transparência, autonomia e participação, liderança e trabalho coletivo, representatividade e competên-cia. É compromisso e responsabilidade de garantir que princípios humanos sejam desenvolvidos nos conteúdos de ensino que são conteúdos de vida porque se constituem em instrumentos para uma vida de qualidade para todos em sociedade.

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Voltada para um processo de decisão baseado na participação e na deli-beração públicas, a gestão democrática expressa um anseio de crescimento dos indivíduos como cidadãos e do crescimento da sociedade como socie-dade democrática. Por isso a gestão democrática é a gestão de uma admi-nistração concreta (do latim cum crescere), que signi�ca “crescer com, nascer com”. Signi�ca o que “nasce com” e que “cresce com o outro”. Esse caráter de origem – genitor – é o horizonte de uma nova cidadania em nosso país, em nossos sistemas de ensino e em nossas instituições escolares, que necessita ser compreendido na formação do pro�ssional da educação.

O “crescer com” signi�ca, em primeiro lugar, aquilo que Aristóteles expli-cita quando fala de política e de cidadão como sendo aquele que é capaz de exercer o poder, de tomar decisões. O exercício de uma liderança implica alguém que deve responsabilizar-se por atos de deliberação e de decisão. Mas, no espírito da Constituição, da Carta Magna da Educação Brasileira e do movimento que as gerou, essa liderança é colegiada e democrática. Trata-se, pois, da ponte entre o indivíduo e um colegiado, entre a tomada de decisão e a participação em cujas bases se encontra o diálogo como método e como fundamento.

Portanto, pensar e de�nir gestão democrática da educação para uma formação humana, como gérmen, como concepção, signi�ca contemplar a formação do pro�ssional da educação de conteúdos e práticas baseados na solidariedade, e nos valores humanos que compõem o construto ético da vida humana em sociedade. E, como estratégia, o único caminho é o diálo-go, entendido como “reconhecimento da in�nita diversidade do real [que] se desdobra numa disposição generosa de cada pessoa para tentar incorporar ao movimento do pensamento algo da inesgotável experiência da consciên-cia dos outros” (FERREIRA, 2000a).

A imprescindibilidade da gestão democrática da educação na formação do pedagogo, do pro�ssional da educação é inconteste e necessária, pois nela está contida a possibilidade de formação de cidadãos justos, porque cônscios, participativos, responsáveis e solidários.

[...]

(FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia

no Brasil: a gestão da educação como gérmen da formação. Disponível em: <www.

scielo.br/pdf/es/v27n97/a13v2797.pdf>. Acesso em: maio 2009.)

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Dica de estudoLARANJA, Mirza. Discutindo a gestão de ensino básico. In: COLOMBO, Sônia Simões (Org.). Gestão Educacional: uma nova visão. Porto Alegre: Artmed, 2004.

A autora faz uma re�exão crítica e profunda sobre a gestão do ensino básico, discutindo o caráter empresarial e a importância dos líderes, das equipes e dos estudantes.

Atividades1. Com base no texto estabeleça um paralelo entre gestão numa concepção

técnico-cientí�ca e a gestão numa concepção sociocrítica.

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2. A partir do paralelo entre as concepções de gestão, por você estabelecido, analise-as criticamente, abrangendo suas características.

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