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Gestão Escolar no Ensino Secundário: percepções de Diretores de
escolas Públicas e Privadas de ensino médio.
Vieira, Fagner A.
Orientador: Costa, Carlos
Resumo: O modelo de gestão que separa as funções estritamente administrativas das
pedagógicas, em escolas, tem sido efetivo em casos pontuais. Neste estudo, foram avaliadas as
percepções de Diretores das escolas Privadas e Públicas da área de abrangência da 7ª
Coordenadoria Regional de Educação, do norte do estado do Rio Grande do Sul, acerca deste
modelo. Neste estudo, predominantemente qualitativo, transversal, em que se considerou a
gestão baseada no trinômio pessoas, processos e tecnologia foi utilizado um questionário
como instrumento de coleta de dados. Foram evidenciadas diferentes realidades encontradas nas
escolas Privada e Pública. A gestão de pessoas é mais bem estruturada na escola Privada do que
na Pública, pois nesta foram detectadas carências em alguns setores como, por exemplo, a
Segurança e a falta de treinamento para funcionários. Embora existam indicadores oriundos do
Sistema Estadual de Avaliação Participativa a serem observados na escola Pública, os relatos
dão conta da inexistência de manuais de processos e da gestão de processos e as substituições de
profissionais muito mais demoradas do que na escola Privada. A escola Pública conta com
recursos de internet disponíveis, mas sem ninguém para operar a Tecnologia Educacional. Do
relato dos Diretores acerca do modelo de gestão em discussão, depreende-se que, em razão da
sobrecarga de trabalho, as diversas demandas do contexto atual que envolve as escolas, o
caminho para organizar a gestão de pessoas, de processos e de tecnologia venha a ser a
separação das funções estritamente administrativas das pedagógicas. Entretanto, atualmente,
somente duas escolas Privadas fizeram, com sucesso, a opção por este modelo.
Palavras-chave: Gestão Escolar, Modelo de Gestão, Administração Escolar
Abstract: A management model that strictly separates school administration from teaching has
been shown effective in raising efficiency of individual cases. Directors of private and public
schools under auspices of the 7th Regional Coordinator of Education ( Rio Grande do Sul) where
questioned their perceptions of the model. Considing management on the basis of people
processes- technology triad, this predominantly qualitative study used a questionnaire to collect
data. Different realities were found in the public vs. private school. In some sectors, people
management was better structured in private than in public school, as reflected by lack of
training for employees in the public schools. While some indicators coming from the State System
of Participatory Evaluation (Seap) to be observed in public school, the reports provide an
account of the lack of hands on processes and process management professionals. This leads to
worker replacements being much more lengthy and time-consuming in public than in the private
schools. The public school has internet resources available, but no one to operate the Educational
Technology. The principal’s report on the management model highlights the fact that, facing a
work overload and the diverse demands of the current school context, the best way to organize
the management of people, processes and technology would to be strictly separate the
administrative functions from teaching. However, currently, only two private schools have
successfully implemented this model.
Keywords: School management, Model Management, School Administration
1 INTRODUÇÃO
Um dos principais desafios das lideranças que atuam na Gestão Escolar é
organizar as atividades pedagógicas e administrativas de modo a assegurar a convergência
à excelência pedagógica. Outro desafio é fazer com que estas áreas tenham maior
eficiência, interajam entre si e não se confundam ou, pelo menos, não na esfera
profissional, pois o pedagógico foi e sempre será a principal atividade dentro do âmbito
escolar e a administração escolar foi e sempre será uma atividade staff.
É comum ver-se Diretores de escolas atarefados, sempre ocupados com reuniões,
ora respondendo às demandas da comunidade, ou às tarefas do dia a dia, “apagando
incêndios” tanto da esfera pedagógica como os da administrativa e preocupados com a
gestão operacional da escola. Entretanto, este envolvimento nem sempre garante os
melhores resultados. Mas é também cada vez mais comum constatar que há escolas as
quais se organizam de maneira diferente, conseguindo separar as atividades e
responsabilidades pedagógicas daquelas estritamente administrativas. No entanto não
significa dizer que o Diretor, pessoa com principal papel de liderança em uma escola, não
deva estar ciente de todo o processo pedagógico-administrativo ou de que um dado
modelo de Gestão é melhor ou pior que outro.
A Gestão Escolar no Brasil ainda é assunto pouco explorado cientificamente. Um
estudo conduzido por Souza (2006) mostra que as publicações nesta área ainda são
escassas. Por exemplo, os registros temáticos presentes em seu trabalho demonstram que
a Gestão Democrática responde por mais de 31% dos trabalhos; a Direção Escolar é
citada com mais de 28%; o, Conselho de Escola chega a 18% e os demais Processos e
Instrumentos de Gestão Escolar somam pouco menos de 6%. O autor examinou as
principais publicações de cursos de Mestrado e Doutorado e, em números, significa dizer
que a temática Gestão Escolar foi abordada apenas 58 vezes até a data do levantamento, o
que ajuda a entender a dinâmica de pesquisa nesta área.
Não obstante, o fato de o presente trabalhado buscar a medição de algumas das
questões que envolvem o processo de gestão escolar, tanto em âmbito Público quanto
Privado do Ensino, faz com que se tenha uma abordagem diferenciada, deixando margens
para que futuras contribuições ao estudo do modelo de gestão, envolvendo a separação do
que é pedagógico daquilo que é administrativo, sejam possíveis.
Com efeito, este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a percepção e a
opinião de Diretores de escolas Públicas Estaduais e Privadas, pertencentes à área de
abrangência da 7ª Coordenadoria Regional de Ensino, acerca do modelo de gestão que
separa as atividades administrativas das pedagógicas, dando papéis específicos aos
profissionais da administração e o do setor pedagógico.
2 PESSOAS, PROCESSOS E TECNOLOGIA
Conceitualmente a gestão de pessoas é uma forma mais estruturada de orientar o
comportamento humano no próprio ambiente de trabalho, segundo Mascarenhas et al.
(2005), os quais defendem um modelo de gestão de pessoas formado por tudo aquilo que
interfere de alguma forma no comportamento do indivíduo dentro do contexto da
organização. Neste aspecto, Dutra (2001) ressalta que existe um novo estilo de gestão que
exige foco no resultado, conhecimento dos processos e visão sistêmica.
Aparentemente as novas contribuições à área da gestão tornam-se cada vez mais
centradas no elemento humano, ideia para a qual corroboram Horta et al. (2012), segundo
os quais o indivíduo é um dos aspectos que merecem valorização, pois no momento atual
as antigas vantagens competitivas não são mais suficientes para garantir a competição. A
partir disso, as pessoas são consideradas o principal fator para diferenciação estratégica.
Resumindo as visões de autores como Guest (1987), Storey (1995) e Legge
(2006),o planejamento estratégico e as pessoas devem estar alinhados. Neste sentido, as
pessoas tomam para si um papel estratégico importante.
Neste contexto, conforme complementam Wood et al. (2012), os gestores têm
papel fundamental neste alinhamento, pois depende deles a capacidade de diagnosticar e
resolver problemas reais, implementando soluções.
Do ponto de vista da gestão por processos, diz-se que tudo o que é produzido
administrativamente dentro de uma escola, de uma maneira ou outra, acontece via algum
processo (estruturado ou não).
As velhas máximas de que “ninguém quer saber do trabalho alheio” e de que
cada divisão “fala sua própria língua” vêm esbarrando em uma linguagem comum
chamada de processos de trabalho. Contra este conceito atua a cultura segundo a qual as
divisões mantêm o foco sobre o próprio terreno, o que, de fato, torna a gestão um
processo de trabalho ainda mais complicado de se compreender, uma vez que o alto nível
de administração das organizações fica distante da ação e, com isso, naturalmente não
compreende o trabalho de seu “chão de fábrica”.
E é nesse ambiente “fatiado”, que predominam práticas inúteis, de baixo valor
agregado. Cada divisão foca o seu próprio contexto e com isso se desconecta da visão
sistêmica (enxergar o todo) proposta por Senge (1990). Apesar de não ser um ambiente
ideal, acaba por constituir a oportunidade para que as organizações, em especial as
escolas Pública e Privada, passem a atuar com vistas a ações ou serviços, ou mesmo
projetos de alto valor agregado para seus clientes, alinhando seus esforços em um objetivo
comum.
Fechando o trinômio pessoas-processos-tecnologia, esta última apresenta-se
como um importante recurso para que as pessoas usufruam, através de processos
estruturados ou não. E para tanto, não é preciso dissertar exaustivamente sobre este
assunto, pois é de conhecimento comum que a tecnologia da informação tende a evoluir
constantemente.
Aliás, a rapidez é uma característica inerente às novas tecnologias. Para Porto
(2006), as informações estão chegando a todos como não se imaginava até pouco tempo e,
em década anterior, o autor já ressaltava que a informática mudaria o mundo.
Ainda na visão de Porto (2006), além das tecnologias servirem para inovar elas
também reforçam comportamentos e modelos comunicativos de ensino; entretanto a sua
utilização não pressupõe necessariamente um trabalho pedagógico formal.
Assim, são necessários "o desejo de aprender" e a "motivação" combinados para
que uma nova tecnologia se instale (VIOLAR, 2010). Isso, numa perspectiva relacional,
se encontra no movimento interno do desejo por aprender e a mobilização do sujeito
nomeada de motivação.
Desta forma, com toda a tecnologia existente hoje, as escolas devem planejar
qual tecnologia deve ser utilizada e para Cruz (1997) ela deve estar de acordo com o
planejamento estratégico, pois geralmente um projeto de cunho tecnológico envolverá
grandes investimentos, além de um significativo número de pessoas.
3 MÉTODO DE PESQUISA
O presente estudo caracteriza-se como transversal, descritivo,
predominantemente qualitativo,visando avaliar a percepção dos Diretores de escolas
Públicas e Privadas acerca de um determinado modelo de gestão que separa as funções
estritamente administrativas das pedagógicas. Os participantes da pesquisa foram os
Diretores de escolas Privadas e Públicas. Foram incluídas neste estudo apenas as escolas
de ensino médio com mais de 800 estudantes, em um total de 17, sendo 14 do Ensino
Público e 03 do Ensino Privado.
Para a realização desta pesquisa utilizou-se como instrumento de coleta de dados
o questionário, com 45 questões divididas na análise da gestão de pessoas, da gestão de
processos e da gestão da tecnologia. A ferramenta utilizada para tanto, bem como o
gerenciamento da base de dados, foi o criador de formulários gratuito do google drive.
A taxa média de retorno dos questionário foi de 92,5%, 100% nas escolas
privadas e 85% nas públicas. O contato com os participantes das escolas públicas foi
intermediado pela Direção da 7ª Coordenadoria Regional de Educação e os das escolas
privadas por abordagem via telefone e e-mail.
Os dados foram tratados de maneira que as opiniões mais significativas
estivessem presentes neste estudo, bem como os dados que, de alguma forma,
evidenciassem a gestão das pessoas, dos processos e da tecnologia.
4 RESULTADOS
4.1 PESSOAS, PROCESSOS E TECNOLOGIA
Em uma abordagem no sentido mais pedagógico, a Gestão Escolar se resume em
apropriação cultural, com origens históricas, e a escola como o espaço privilegiado de
produção do saber sistematizado, que deve se estruturar para o desenvolvimento de ações
educativas que busquem a formação de sujeitos concretos, participativos, criativos e
críticos(GORI et al., 2007). Entretanto, abordar o tema Gestão Escolar também pressupõe
a existência de uma estrutura mínima de organização administrativa, pois uma escola não
é muito diferente de uma empresa e nela existe ou deveria existir a gestão das pessoas,
dos processos e da tecnologia; enfim, um modelo de gestão que contemple o todo da
organização dentro das perspectivas mínimas de um planejamento.
No ensino Privado sabe-se que algumas escolas, de certa forma, estão no
caminho da gestão profissionalizada. Na escola Pública tem-se uma particularidade
representada pela gestão participativa, que conforme apresentado por Santos e Paula
(2012),responde ao princípio de gestão democrática do ensino público, envolvendo a
participação e atuação de órgãos colegiados e comunidade escolar.
Para coletar a opinião acerca de um determinado modelo de gestão que separa as
funções pedagógicas das estritamente administrativas, iniciou-se a investigação avaliando
as condições dos setores administrativos e pedagógicos de cada escola pesquisada e os
resultados são apresentados num comparativo entre a escola Privada e Pública.
Dentro dos conceitos de gestão, as condições de trabalho são meios adequados
para que o corpo docente e mesmo técnico mobilizem as suas capacidades físicas,
cognitivas e afetivas, com o objetivo de atingir as metas da escola que variam em
detrimento de seu meio sócio-cultural (BAPTISTA et al., 2012).
Assim, os setores administrativos analisados foram: Contabilidade e Finanças,
Gestão de Pessoas, Segurança, Serviços Gerais, Recepção, Tecnologia da Informação,
Marketing e Segurança.A escola Privada não classifica nenhum de seus setores em
situação precária e reconhece a existência de cada um deles em sua estrutura. Em
contraponto, cerca de 30% das escolas Públicas pesquisadas não reconhecem a existência
de setores como Tecnologia da Informação, Marketing e Segurança e 57% reconhecem o
setor de Segurança em condições precárias. De outro lado, um dos melhores setores
avaliados ao lado da Gestão de Pessoas, no ensino Privado, é justamente a Segurança.
Com relação aos setores pedagógicos, foram investigados: a Inspetoria
Disciplinar, a Biblioteca, os Primeiros Socorros, a Secretaria, os Laboratórios e a
Tecnologia Educacional. Novamente, a escola Privada não apontou nenhum de seus
setores em condições precárias e reconheceu a existência de todos eles em sua estrutura.
O setor pedagógico melhor avaliado nos dois segmentos - Público e Privado - foi
a Secretaria. No ensino Público constatou-se que 57% dos pesquisados apontam os
Primeiros Socorros em condições precárias, enquanto que cerca de 20% apontam que o
setor nem mesmo existe.
Seguindo com o levantamento acerca da gestão de pessoas, Lima e Torres (2011)
apontam que as políticas de recursos humanos são uma prática decorrente dos objetivos
organizacionais. Dentro de suas políticas de RH, destaca-se que 100% das escolas
Privadas indicam que os funcionários recebem treinamento e orientações na forma de
Palestras, Cursos e Treinamentos. Na esfera Pública, os resultados mostram o mesmo,
porém somente para o segmento pedagógico, enquanto que, para funcionários, não existe
formação. A afirmação do Diretor da escola Pública (H) traduz o sentimento daquela
escola em relação aos cursos existentes:"[..] existem cursos de formação, mas são poucos
e pouco eficazes".
Os investimentos nessa área são considerados insuficientes por duas das escolas
Privadas pesquisada e cerca de 80% na escola Pública apontam que os processos de
treinamento e desenvolvimento são suficientes. O próprio modelo de gestão pode estar
atrelado a essa constatação, porém, embora não se responda à pergunta de pesquisa
proposta neste artigo, identifica-se um contraponto a ser investigado, pois, afinal, o que
pode levar a escola Pública a concluir que os investimentos em treinamento e
desenvolvimento são suficientes enquanto que na escola Privada são insuficientes?
A gestão de processos foi um dos pilares deste artigo. Neste sentido, perguntou-
se aos Diretores o que eles entendem por gestão de processos no intuito de identificar
discrepâncias conceituais e a existência ou não para orientação por processos no modelo
de gestão.
Essa compreensão, ainda que em diferentes interpretações, aparece na maioria
dos relatos dos Diretores: cerca de 86% dos pesquisados no geral têm o entendimento
acerca do conceito de processo de trabalho, exceto dois Diretores de escola Pública que
não responderam à pergunta em questão.
Nesse sentido, na escola Pública, 54% dos entrevistados afirmaram ter
conhecimento completo sobre os processos administrativos, enquanto que outros 46%
responderam conhecer parcialmente. Na escola Privada, dois Diretores afirmam conhecer
totalmente os processos administrativos, enquanto que somente um Diretor afirmou
conhecer parcialmente.
Com relação à área pedagógica, 100% dos Diretores da escola Privada afirmam
conhecer totalmente os processos, enquanto que na escola Pública 61% dos Diretores
afirmam ter conhecimento total; os demais, 39%, afirmam conhecer parcialmente os
processos pedagógicos.
Sobre a questão da gestão de processos, Falconi (2009) ressalta que o
desenvolvimento de um sistema voltado para processo é fundamental para o
gerenciamento da rotina de trabalho.
O que pode auxiliar no gerenciamento da rotina são os manuais de processos,
pois ajudam na padronização das tarefas diárias. Na escola Privada, dois respondentes
afirmam existir manuais de processos tanto para área administrativa quanto para a área
pedagógica, enquanto que na esfera Pública, em cerca de 42% das escolas pesquisadas o
Diretor afirma não existir manual de processo para a rotina de trabalho; já 60% afirmam
que sim. Para clarear esse resultado, a coordenação da 7ª CRE informou que os processos
que dão o norte às rotinas de trabalho, na verdade, estão descritos no SEAP/RS - Sistema
Estadual de Avaliação Participativa1.
Identificou-se, ainda, na afirmação de muitos Diretores da escola Pública, um
certo “esvaziamento” quando questionados sobre o planejamento estratégico existente ou
não em sua escola, como se pode verificar na afirmação do Diretor (J):“a escola planeja
suas estratégias e funcionamento para longo prazo, visando sempre o futuro”; ou nesta
do Diretor (H), quando afirma que o planejamento estratégico “ocorre conforme a
disponibilidade da Escola”.
Em síntese, quanto à tecnologia da informação, a questão mais pontual refere-se
à dificuldade que as escolas Públicas têm em organizar-se estruturalmente para executar
demandas tanto pedagógicas quanto estritamente administrativas. Destaca-se a afirmação
do Diretor da escola Pública (E), quando diz que “a escola dispõe de computadores, mas
poucos que funcionam, falta manutenção e a internet é lenta, o que impede a
acessibilidade de forma satisfatória”.Destaca-se que todas as escolas sinalizaram
positivamente para existência de internet.
Constatou-se também que tanto a escola Privada quanto a Pública, consideram os
investimentos realizados em tecnologia como insuficientes, pois 100% do ensino Privado
1O Sistema Estadual de Avaliação Participativa (Seap) é uma avaliação institucional do conjunto da rede estadual, feita pelos próprios
protagonistas (professores, alunos, pais, funcionários e gestores). São avaliadas as escolas, as Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) e o órgão central da Secretaria de Estado da Educação (Seduc). O Seap constitui-se em alternativa as avaliações externas de larga escala. Está organizado em seis dimensões e 50 indicadores, com seus respectivos descritores. Todo o processo ocorre de forma
participativa e as respostas são inseridas no sistema on-line, o que garante agilidade e segurança. Os dados são usados no planejamento para o ano seguinte. Fonte: http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/seap.jsp?ACAO=acao1
e cerca de 77% da esfera Pública respondem neste sentido,talvez em razão da velocidade
com que se sucedem as mudanças nesta área, conforme a afirmação do Diretor da escola
Privada(A) “[...] são insuficientes os recursos para a demanda de professores e alunos. A
tecnologia basicamente não é usada para este fim”.
4.2 PERCEPÇÃO SOBRE O MODELO DE GESTÃO QUE SEPARA AS
ATIVIDADES PEDAGÓGICAS DAS ESTRITAMENTE ADMINISTRATIVAS
Ao se questionar o público alvo acerca de suas principais funções e o que
pensam sobre o modelo de gestão que separa as funções pedagógicas das estritamente
administrativas, destacou-se algumas experiências, como a do Diretor da escola Pública
(I) que indicou “excessiva sobrecarga” em demandas atuais:
“Questões administrativas e pedagógicas - limitadas pela excessiva sobrecarga pelas demandas
atuais. Funções sempre importantes são também as de ordem motivacional e organizacional”.
E este sentimento de “sobrecarga” também pode ser identificado na resposta do
Diretor da escola Pública (E) quando afirma que “ainda administrar financeiramente” é
uma de suas principais funções:
“Administrar os conflitos, estar presente em todos os momentos, delegar funções, relacionar-se
bem com toda a comunidade, atender pais, primar pelo processo pedagógico e ainda administrar
financeiramente”.
Assim, os Diretores passaram a dissertar sobre o modelo de gestão investigado.O
Diretor da escola Pública (D) contribuiu afirmando:
"Concordo com o modelo. A formação dos profissionais pedagógicos não colabora para uma
gestão totalmente integrada. Ter profissionais diferentes para estas responsabilidades
(administrativas) não implica, necessariamente, em não haver comunicação para tomadas de
decisão, muito pelo contrário, deve haver uma comunicação permanente entre os responsáveis."
A escola Privada (A), que já adota este modelo de gestão, separando as
atividades pedagógicas das estritamente administrativas, contribui com sua experiência,
não esquecendo da visão sistêmica abordada por Senge (1990), que explica o pensamento
global como sendo algo que ajuda a enxergar as coisas como parte de um todo, não como
peças isoladas:
"[...] o nosso Regimento Escolar determina os papéis específicos de cada área, porém a escola é
um todo, e como tal, todos os papéis se mobilizam em forma de sinergia para que o todo
busque atingir os objetivos e as metas estabelecidas pelo Projeto Educativo do Estabelecimento".
O Diretor da escola Privada (B) ainda complementa:
“Este modelo de gestão organiza a escola, pois cada profissional tem a responsabilidade de sua
área, assim o trabalho é realizado com mais profissionalismo. Existe uma clareza maior e os
clientes são tratados por pessoas que entendem do assunto [...]”
E neste contexto a resposta foi unânime quando se tratou da separação das
atividades pedagógicas e administrativas, porque, de certa forma, existe uma ligeira
identificação de sobrecarga de trabalho e responsabilidades sobre os ombros do Diretor de
escolaPública, como afirmaram os Diretores das escolas (E) e (N).
"[...] concordo que as responsabilidades administrativas deveriam ser separadas das
pedagógicas, pois juntas sobrecarregam muito o Diretor".
"Concordo.O Diretor deve delegar responsabilidades, pois, sozinho, não pode dar conta
de tudo o que envolve uma Escola."
O Diretor da escola Pública (I) afirma positivamente para esta ideia: “concordo,
pois atualmente, as questões de operação, funcionamento, prestação de contas das
diversas verbas, toda essa burocracia, absorve o Diretor excessivamente”.
Sobre esta questão, a coordenação da 7ª CRE informou que existe uma ideia do
atual Governo do Estado em criar a figura do “Agente Financeiro” que se tornaria figura
central para questões administrativas e não pedagógicas. Neste sentido, o Diretor ficaria
focado em questões pedagógicas e de gestão como um todo.
A implantação de novas diretrizes, de novas políticas, de acordo com o
pensamento de Marques (2011)“[...] não está, em princípio, pré-determinada e pode, por
conseguinte, ir em sentidos diferentes”. Em contrapartida,Souza (2012), afirma que a
Gestão Escolar na esfera Pública é sempre um processo político, pois é uma atividade-
meio da política, que lida diretamente com as relações de poder. Isto significa que,
intermediária ou não, ela age como sistema de poder.
Além de conferir maior profissionalismo, clareza e diálogo permanente, Falconi
(2009) ressalta ainda que a partir do instante em que os desafios aumentam, os modelos
de gestão de qualquer organização podem ser alterados, pois este é um processo que não
tem fim.Isso posto, pode-se afirmar que a gestão é construída através do tempo, da prática
e aplicação por parte das lideranças e do aprendizado das pessoas. O fato é que nenhum
modelo de gestão pode ser engessado ao ponto de não considerar que fatores internos e
externos terão influências e contribuições significativas para condução de qualquer
escola.
Na escola Privada de Passo Fundo a separação e consequente profissionalização
dos setores pedagógicos e administrativos é um caminho percorrido, porém, na escola
Pública estadual este,talvez, seja um caminho ainda distante ou pelo menos é o que
indicam algumas afirmações como a do Diretor (E):
"Não concordo[...] o Diretor é o dinamizador de todo o processo e de todo o funcionamento
do Estabelecimento de Ensino, mesmo delegando funções para outros trabalhadores da educação
por meio da tomada de decisões conjuntas [...]".
Em contraponto, por mais tempo pensando estrategicamente, o Diretor da escola
Privada (C) conclui: “eu acredito que tudo está interligado, o bom gestor se preocupa com
tudo [...]”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante iniciar esta seção dizendo que a separação de setores pedagógicos e
administrativos não implica também na separação literal de todas as partes. Os
profissionais das duas áreas precisam estar munidos da visão sistêmica. Porém, o fator
relevante é o profissionalismo que é dado aos segmentos pedagógico e
administrativo.Tudo isso exige o enfrentamento, principalmente por parte da escola
Pública, às questões de ordem primária e às questões de estrutura propriamente ditas.
O Diretor da escola Pública, conforme as declarações encontradas na pesquisa, é
um sujeito sobrecarregado pela demanda de trabalho e responsabilidades existentes hoje,
pois, como se pôde constatar, ele é uma espécie de "agente" pedagógico, financeiro,
operacional e ainda motivacional dentro da escola.
Ainda que se tenha a "ideia" de contratar um agente financeiro para a escola
Pública, conforme apontou a coordenação da 7ª CRE, e implantar um sistema parecido
com o discutido, será preciso enfrentaras diversas outras questões, como por exemplo, o
sentido de "posse" ou "poder" por parte de alguns Diretores que terão de abrir mão de
determinadas tarefas e delegar o que não estará mais em sua alçada. Outra questão é fazer
com que as duas partes, o administrativo e o pedagógico, conversem entre si, estabeleçam
metas em conjunto e trabalhem na mesma direção.
A escola Privada, conforme verificou-se, já conta com um modelo de gestão,
dando papéis específicos para cada área (administrativa e pedagógica). Esta discussão
talvez seja um primeiro passo para que a escola, de um modo geral, seja profissionalizada
ao ponto de se alcançar a excelência em todos os âmbitos.
Assim, o presente estudo buscou contribuir com a discussão sobre o modelo de
gestão escolar que separa as atividades pedagógicas das estritamente administrativas,
focando no trinômio pessoas, processos e tecnologia - dentro de uma perspectiva teórica
que pode vir a contribuir com futuros estudos que aprofundem o tema “Modelo de
Gestão” em escolas Públicas e/ou Privadas.
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