gestÃo de sistemas agroalimentares

55
1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DO TRIANGULO MINEIRO – CAMPUS UBERABA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM ALIMENTOS GESTÃO DE SISTEMAS AGROALIMENTARES Autor: Prof. Msc. Antenor Roberto Pedroso e-mail: [email protected]

Upload: others

Post on 19-Mar-2022

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

INSTITUTO FEDERAL DO TRIANGULO MINEIRO – CAMPUS UBERABA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM ALIMENTOS

GESTÃO DE SISTEMAS AGROALIMENTARES

Autor:

Prof. Msc. Antenor Roberto Pedroso e-mail: [email protected]

2

CONTÉUDO PROGRAMÁTICO: 1. Agronegócio, O é agronegócio. 1.1. Alguns números do agronegócio Os gargalos do agronegócio Introdução ao agronegócio propriamente dita. 2.1. Agronegócio – uma visão sistêmica da agricultura A origem do termo agronegócios Impacto das revoluções tecnológicas na agricultura. 3.1. A primeira revolução verde 3.2. A Segunda revolução verde 3.3. A segmentação da agricultura 3.3.1. A agricultura comercial A agricultura de baixa renda O Mercado de produtos agropecuários. 4.1. A competitividade dos produtos agroindustriais 4.2. Particularidades dos produtos agroindustriais 4.3. Aspectos relacionados com a demanda 4.4. Aspectos relacionados com a oferta Os desafios da comercialização de produtos agropecuários Mecanismos de comercialização de produtos agropecuários 5.1. Transação de commodities 5.2. Mercado spot 5.3. Mercado a termo Hedging: mecanismo contra o risco Contratos de Longo Prazo 6.1. Os contratos de longo prazo 6.2. Regularidade no suprimento 6.3. A qualidade dos insumos 7. A Nova Economia Institucional e a Economia dos Custos de Transação no ambiente do agronegócio 7.1. As instituições, o desenvolvimento econômico e a competitividade do agronegócio. 7.2. O surgimento da Economia dos Custos de Transação 7.3. Definindo os Custos de Transação. 7.4. Pressupostos que fundamentam a análise dos Custos de Transação. 7.5. Pressupostos Comportamentais OBJETIVOS: Esta disciplina tem por objetivo geral o de sintetizar o conhecimento do aluno sobre os agronegócios, visando esclarecer tal temos, visto que é muito divulgado atualmente e, pouco conhecido em sua totalidade, pois acreditamos tratar-se de um arcabouço teórico em contrução. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

3

-Desenvolver uma compreensão do termo agronegócio, entendendo sua origem e suas tendências. -Apresentar a visão sistêmica da agricultura, as suas cadeias produtivas e a coordenação destas -Compreender a competitividade das cadeias dos produtos agroindustriais -Apresentar alguns mecanismos de coordenação das cadeias e as estrutura das transações -Introduzir o alunos na Nova Economia Institucional e na Economias dos custos de transação, referencial teórico pouco conhecido e muito estudado no agronegócio.

4

1. AFINAL, O QUE É REALMENTE O AGRONEGÓCIO?

Agronegócio, o que é esse tal de agronegócio? Para o homem do campo que têm suas raízes e origens ligadas a lavoura e ao rebanho bovino parece mais um modismo dentre muitos que surgem ano a ano, ou mais um nome bonito dado a algo já conhecido. De certa forma, o produtor rural tem razão, pois muitos tomam carona neste modismo e, mesmo não sabendo diferenciar touro de boi, dão entrevistas à revistas e em programas de abrangência nacional, discorrendo sobre a competitividade do agronegócio.

Estas entrevistas anunciam o crescimento e a pujança do setor, pintando um cenário cor de rosa e promissor. Entretanto, o homem do campo sabe que a produção agropecuária deve obedecer o cio da vaca, as estações das chuvas, dentre outros fatores, os quais os economistas chamam de “o estado do mundo”.

Acredita-se que o homem do campo deixa para o agro-executivo à colheita dos benefícios do crescimento do setor, no entanto, esta percepção não é verdadeira, pois, cada vez mais o produtor rural está tornando-se empresário rural. Na busca destas competências, implementa-se novas tecnologias, aumenta sua qualificação e adota uma postura gerencial em seus agronegócios.

Acreditamos que o sucesso do produtor rural estará cada vez mais ligado à compreensão da complexidade do agronegócio, envolvendo os conceitos de gestão, marketing, produção e muitos outros, ou seja, a competitividade da atividade agropecuária dependerá da melhor qualificação do homem do campo, sendo que o melhor entendimento do antes e do após à porteira será crucial para a colheita de bons resultados econômicos da sua atividade rural.

Para a iniciar o conhecimento deste novo mundo, o agronegócio, o produtor terá que ter contato com os seus números e desempenho, além do potencial de crescimento futuro deste setor. Podemos acessar os dados agropecuários no sitio www.ibge.gov.br. Podemos complementar nossa pesquisa no sitio da confederação nacional da Agricultura no sitio www.cna.org.br.

1.1. Alguns números do agronegócio brasileiro:

O agronegócio representa aproximadamente 39% de todas as riquezas produzidas no Brasil, além desta participação significativa, o setor é o responsável pelas boas notícias econômicas em nosso país. Muito economistas afirmam que este é o único setor em que o Brasil pode ser tornar-se um grande player mundial, ou seja, é o setor que possui maior capacidade de geração divisas em moeda forte (dólar). As informações do mercado interno e das exportações de carne bovina acesse o sitio a Associação das indústrias exportadoras de carne no endereço www.abiec.com.br.

Quando olhamos os números do agronegócio, constatamos a grandiosidade deste segmento da economia brasileira. A safra brasileira de grãos nos últimos 20 anos mais que dobrou. A carne bovina brasileira representa 20% da exportação mundial, além disso, o agronegócio representa em torno de 40 % das exportações do Brasil. Para termos dados condensados do agronegócio brasileiro acesse o sitio da Associação Brasileira de Agribusiness no endereço www.abag.com.br.

O PIB do agronegócio em 2003 foi de aproximadamente 450 bilhões de reais, representando duas vezes o PIB do Chile e, enquanto a economia encolheu 0,2%, este segmento cresceu 5%. Se todo os setores da economia brasileira tivessem o mesmo desempenho, o Brasil ostentaria uma performance de tigre asiático.

5

Os benefícios do setor agropecuário transbordam para a indústria, podendo ser evidenciado no aumento da vendas de máquinas e implementos. Por exemplo, as vendas de tratores dobraram e a de colheitadeiras triplicou em cinco anos.

O Brasil a algum tempo é líder mundial na exportação de sucos de laranja, açúcar, café e tabaco, e recentemente, assumiu a liderança em soja, frango e carne bovina.

O prêmio Nobel da Paz de 1970, Norman Borlanug, pelo desenvolvimento de técnicas que aumentaram a produção de alimentos, afirmou em entrevista à Veja: Edição especial sobre o agronegócio, que o Brasil tem tudo para ocupar o lugar que os EUA ocuparam no Século XX como produtor agrícola.

Apesar desse cenário promissor, o agronegócio enfrenta problemas e limitações que em algum momento terão que serem resolvidos. Os gargalos do setor são principalmente três: desrespeito a propriedade rural privada, as deficiências estruturais que afetam o escoamento das safras e as deficiências em recursos humanos especializados.

1.2. Os Gargalos do Agronegócio:

Aqui definimos gargalos como fatores que dificultam o crescimento e a competitividade do agronegócio brasileiro. Os gargalos do agronegócio são basicamente três:

-O desrespeito a propriedade rural privada; e -As deficiências estruturais que afetam o escoamento das safras; e -As deficiências em recursos humanos especializados. O primeiro gargalo, o desrespeito propriedade rural privada, podemos tomar como

exemplo as invasões de terra do MST – Movimento dos sem terra, que recentemente deixou de invadir apenas terras improdutivas. Atualmente, o foco principal são as fazendas de papel e celulose, destas invasões, a mais noticiada, foi a da fazenda da Veracel, no sul da Bahia. Esta fazenda fornece matéria prima para a maior fábrica de papel e celulose do mundo, um investimento de 1,3 bilhão de dólares, representando o maior investimento privado do governo Lula.

O argumento usado pelo MST é de que o povo não come eucalipto. Entretanto eles ignoram os empregos gerados pela nova fábrica. O setor de papel e celulose participa em 4% do PIB do Brasil, gerando em torno de 150.000 empregos, o que ajuda a alimentar 600.000 pessoas, se considerarmos 4 pessoas por família. As posições, ideologias e demais características sobre o MST pode ser obtida em seu sitio na web no endereço www.mst.org.br.

Na academia estuda-se os direitos de propriedade, os custos de transação, os contratos que regulam as trocas entre os agentes, as instituições e as regras do jogo. Estes temas são abordados no estudo do agronegócio através da NEI Nova Economia Institucional, e uma de suas vertentes, denominada ECT – Economia dos Custos de Transação; que serão estudados nesta disciplina introdutória ao agronegócio. Uma excelente discussão sobre o tema está no endereço www.fearp.usp.br/egna.

O segundo gargalo, são as deficiências estruturais que afetam o escoamento da produção agrícola brasileira. A Sociedade Rural Brasileira estima que o nosso País só consegue exportar até 130 milhões de toneladas de grãos, qualquer número acima deste sobrecarregará a estrutura, ou seja, a capacidade instada entraria em colapso. Maiores informações acerca das opiniões da Sociedade Rural Brasileira acesse o sitio www.srb.org.br.

6

O mais recente problema de infra-estrutura ocorreu no porto de Paranaguá, no Paraná, onde é exportado o maioria do grão da safra brasileira. Diariamente, o congestionamento de caminhões atingia 100 quilômetros de extensão, situação agravada por greves de fiscais e por uma crise administrativa no porto. Chegou-se a esperar em torno de 30 dias para descarregar a soja a ser exportada.

Além de todas estas deficiências estruturais, a logística brasileira é concentrada no transporte rodoviário, encarecendo os fretes e diminuindo a competitividade da produção brasileira.

No Jornal Nacional do dia 05/06/2004, foi noticiado a criação de um pedágio pela prefeitura de Goiatuba, município do interior do Estado de Goiás, visando coibir a entrada de caminhões pesados, que utilizam as ruas da cidade como desvio alternativo aos buracos da rodovia local. O preço cobrado é de R$ 5 por eixo, e o mais surpreendente, é que alguns entrevistados pagam o pedágio para evitar os buracos que danificam seu caminhão. Este é mais um exemplo da falta de estrutura que aumenta os custos logísticos do agronegócio brasileiro.

O problema não se concentra apenas no transporte, mas também na armazenagem da produção agrícola. Estima-se que apenas 5% da safra são armazenadas junto das lavouras. Na Argentina este número é de 25% e nos EUA chega a 65%. O potencial de crescimento deste mercado fez a empresas gaúcha Kepler Weber investir em uma fábrica de 100 milhões de reais em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Os dados sobre os armazéns encontram-se no sitio da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, no endereço www.conab.gov.br.

A competitividade acaba gerando a sustentabilidade do setor, ou seja, a competitividade trás condições de lucratividade e perenidade ao um setor ou empresa.

Acreditamos que a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, além de depender da resolução do dois gargalos citados, está intimamente relacionado com formação de recursos humanos especializados, tanto no campo da gestão como na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.

O terceiro gargalo do agronegócio brasileiro, as deficiências em recursos humanos especializados, está diretamente relacionado com este curso que os senhores estão fazendo. As empresas dos mais variados setores encontram muitas dificuldades na contratação de mão de obra qualificada e, no setor agropecuário a situação é pior que na indústria e nos serviços.

A carência de pessoas qualificadas torna cada vez mais o calcanhar de Aquiles do setor, pois o mesmo está usando máquinas com tecnologia de ponta que exigem maior competência do seu operador.

O setor rural que sempre buscou mão de obra barata para reduzir seus custos, terá que utilizar profissionais mais qualificados e pouco disponíveis no mercado de trabalho, aumentando seus custos com salários e benefícios pecuniários. Dentro desse novo contexto, o produtor rural terá que entender que os custos terão que ser cortados em outras áreas de seu empreendimento.

Entretanto, a formação de mão de obra especializada é um projeto para médio e longo prazo, necessitando de mudança cultural no sentido de valorizar e compreender a importância da capacitação profissional para o setor agropecuário.

Para compreendermos o agronegócio, suas origens, seus conceitos e ferramentas gerenciais, iremos a partir de agora iniciar a apresentação do arcabouço teórico que sustenta a sua compreensão. Vale ressaltar que a presente disciplina é formada por um conjunto de teorias fragmentadas que quando agrupadas permitem uma melhor compreensão do que é o Agronegócio

7

Atividade: A sua empresa decidiu investir na qualificação de seus colaboradores, mas como orçamento deste ano esta mai que apertado, terá que escolher o um somente. Para avaliar o mais apto, optou-se pela nota da a um texto sobre o agronegócio, no qual o autor discorre sobre o que é agronegócio e seus desafios. Portanto desenvolva um texto de no máximo 40 linhas.

8

2. INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO

2.1 – Agronegócio - uma visão Sistêmica da agropecuária

Em palestra proferida recentemente na UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o Dr. Xico Graziano, discutiu os desafios do agronegócio. Neste evento, ele colocou de maneira simples o conceito de agronegócio, ou seja, definiu-o como negócio articulado através de cadeias rurais. Esta articulação é amplamente estudada pelas cadeias produtivas da carne, da soja e tantas outras; além disso, a Economia dos Custos de Transação, trata deste assunto como estruturas de governança, coordenação e cooperação, termos este estudados adiante nesta disciplina.

A visão sistêmica da agricultura liga esta disciplina a teoria de Sistemas, criada pela biologia, e estudada na Teoria Geral da Administração. Portanto, a compreensão destas outra áreas facilita o entendimento do agronegócio. Para ilustrar tal visão, utilizaremos o exemplo do palestrante, Dr. Xico Graziano, quando colocou que, enquanto o PIB rural brasileiro é de aproximadamente 9 %, o PIB nacional e o PIB do agronegócio está em torno de 39%.

Porque estes números com diferenças significativas entre o rural e o agronegócio? Para tentar explicar, utilizaremos a cadeia produtiva da carne bovina e, considerá-

la com três elos: a fazenda, o frigorífico e a churrascaria. O setor rural é somente a fazenda de pecuária, ou seja, é o dentro da porteira. O agronegócio compreende este setor mais o frigorífico que industrializa, e a churrascaria serve carne a seus clientes. A visão sistêmica é demonstrada na figura 1.

Figura 1: As parte integrantes do agronegócio da carne bovina:

Fonte: desenvolvido pelo autor a partir da palestra do Dr. Xico Graziano.

Dentro desta visão sistêmica que tem o agronegócio, ao analisarmos a cadeia produtiva da carne, podemos constatar que o garçom da churrascaria está inserido no setor. Para obter informações sobre as diversas cadeias produtivas de alguns estados do Brasil, consulte os sitios indicados abaixo: www.ibge.gov.br www.seplan.to.gov.br www.sefaz.ms.gov/cadeias www.ipardes.pr.gov.br www.iea.sp.gov.br

Pode-se perguntar então: não é muito amplo este conceito? Particularmente acredito que este termo não é amplo, apenas demonstra o quanto a visão sistêmica é importante para a satisfação do consumidor e, na medida em que os elos da cadeia

AGRONEGÓCIO = BOI + FRIGRÍFICO + CHURRASCARIA AGRONEGÓCIO = RURAL + INSDÚSTRIA + SERVIÇOS

9

produtiva são organizados, obtendo uma coordenação entre si, tendo por objetivo principal satisfazer as necessidades do mercado consumidor.

A coordenação tem que acontecer em todos os elos da cadeia, por exemplo, o produtor rural seleciona durante anos um animal precoce e com uma carne mais macia, entretanto, se na armazenagem da carne acontecer erros no processo, tal qualidade poderá ser perdida, trazendo problemas à saúde do consumidor, que a literatura denomina de – segurança alimentar.

Todos podem se perguntar o porque deste exemplo? Para demonstrar que o agronegócio não é apenas uma parte pequena da produção rural, e sim todo o encadeamento que envolve desde os produtores de insumos, produtor rural, industria, transportadores e varejistas, até a chegada ao consumidor final. A carne bovina mesmo, se não for armazenada e transportada de maneira correta, vai se decompor rapidamente e acabar perdendo sua qualidade rapidamente. Para aqueles que desejarem saber o consumo nacional médio da carne bovina, este índice está disponível no sitio www.abiec.com.br.

Para complementar esta visão global da agricultura trazida pelo termo agronegócio, falaremos sobre sua origem e alguns estudiosos que deram origem ao seu termo atual.

2.2 – A origem da atividade e do termo agronegócio

O agronegócio não é uma atividade nova. Em 1957, os pesquisadores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg, definiram agribusiness como sendo a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (apud BATALHA e LAGO DA SILVA, 2001, p. 27)

Pela definição dos pesquisadores, entende-se o agronegócio como sendo o conjunto de operações, produtos e serviços produzidos no meio rural, indo desde o produtor de insumos para a plantação e criação até a distribuição dos produtos acabados para o consumidor final desses produtos ou serviços.

Davis e Goldberg constataram, nos anos 1950, a nítida relação entre as atividades rurais e as demais atividades ligadas a elas. Usando conceitos da teoria econômica sobre cadeias integradas, eles construíram uma metodologia para o estudo da cadeia agroalimentar e batizaram sua nova visão com o termo Agribusiness.

Desde então, a produção rural passou a ser encarada como elemento de um processo que contempla atividades antes da porteira (produção de insumos como adubos, rações e sementes), dentro da porteira (produção de animais e lavouras, extração vegetal, entre outros) e depois da porteira (processamento agroindustrial, consumo final dos produtos, entre outros).

No mesmo período, na França, os economistas industriais faziam um estudo complementar ao diagnosticado por Davis e Goldberg. Deste estudo originou-se o conceito de analyse de filières, que nas palavras de Morvan (1985) é uma seqüência de operações que conduzem à produção de bens. Sua articulação é amplamente influenciada pela fronteira de possibilidades ditadas pela tecnologia e é definida pelas estratégias dos agentes que buscam a maximização dos seus lucros.

Pela definição, percebe-se que Morvan complementa o que Davis e Goldberg

concluíram, mostrando que no agronegócio existe um encadeamento dos processos, sendo estes os responsáveis pela grande eficiência desse modelo de negócio no setor agrícola. Conforme essas definições, o agronegócio deixou de ser apenas um simples

10

negócio que é feito no meio rural entre produtor e comprador e para ser visto como uma cadeia de produção de bens, produtos e serviços.

A complexidade de segmentos do mercado traz necessidades para uma grande diversidade de produtos. É o caso das Cooperativas Agrícolas que possuem atuação em diversos segmentos como produção agrícola, armazenagem, beneficiamento e industrialização de alimentos e bebidas. Quando focalizado em um determinado produto e compreendendo uma determinada localização geográfica receberá a denominação, segundo Zylbersztajn (2000), de Sistema Agroalimentar ou, segundo Batalha e Lago da Silva (2001), de Cadeia Agroindustrial.

Pode-se, então, definir o agronegócio como um sistema integrado: uma cadeia de negócios, pesquisa, estudos, ciência, tecnologia, etc., desde a origem vegetal/animal até produtos finais com valor agregado, no setor de alimentos, fibras, energia, têxtil, bebidas, couro e outros, englobando também as atividades de prestação de serviços no meio rural.

No Brasil, o Ministério da Agricultura, através de seu sitio1, informa que o agronegócio, no ano de 2003, foi responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros. Estima-se que o PIB do setor chegue a US$ 180,2 bilhões em 2004, contra US$ 165,5 bilhões alcançados em 2003.

Entre 1998 e 2003, a taxa de crescimento do PIB agropecuário foi de 4,67% ao ano. No ano de 2004, as vendas externas de produtos agropecuários renderam ao Brasil US$ 36 bilhões, com superávit de US$ 25,8 bilhões, segundo os dados do ministério.

Com esses números expressivos e estrutura montada para esses negócios, Stefanelo (2002) acredita que o agronegócio no Brasil está em evolução, quando diz que consolida-se a visão do desenvolvimento sustentável da produção de alimentos, fibras, energia e de produtos da flora e fauna, e da multifuncionalidade do setor primário, mediante a agregação das atividades de lazer, turismo rural e preservação ambiental.

Para Bialoskorski Neto (1994) o termo agribusiness expressa os negócios de setor agropecuário, sendo que estes negócios entendem-se como toda uma teia de relacionamentos econômicos e contratuais entre os atores, desde a produção de insumos, passando pela produção agrícola propriamente dita, pelo processamento desta produção, e pela distribuição, até este produto chegar as mãos do consumidor, onde este bem desaparece e produz satisfação e utilidade. Os alunos que tiverem interesse em conhecer melhor os trabalhos do professor Doutor Sigismundo Bialoskorski poderão acessá-los no endereço www.fearp.usp.br/sig/publiccacaoN.html.

Também é bom ressaltar que a definição de agronegócio exposta por Bialoskorski, termina citando a satisfação e a utilidade. A satisfação é um termo consagrado pelo marketing, onde fala-se em satisfação das necessidades dos consumidores, enquanto que o termo utilidade, é utilizado pela economia para mensurar o bem estar de um conjunto de consumidores, ou seja, do mercado, pois a economia estuda normalmente os agregados.

Voltando ao agribusiness, conforme observado em Araújo (2003), o termo atravessou praticamente toda a década de 1980 sem tradução para o português. Ele foi adotado de forma generalizada, inclusive por alguns jornais, que mais tarde trocaram o nome dos cadernos agropecuários para agribusiness, que era o termo mais usado na época para definir os negócios do setor agrícola.

De acordo com o mesmo, somente a partir da segunda metade da década de 1990, o termo agronegócios começa a ser aceito e adotado nos livros-texto e nos jornais, culminando com a criação dos cursos superiores de agronegócios, em nível de graduação universitária.

1 www.agricultura.gov.br.

11

Em outra oportunidade, conforme Megido e Xavier (1998), John Davis e Ray Goldberg “constataram que as atividades rurais e aquelas ligadas a elas não poderiam viver isoladas”. Para eles, atividades como produção de insumos, plantação, colheita e comercialização não podem mais ser encaradas como fatos isolados.

Pela noção de cadeias, apresentada anteriormente com Morvan (1985), essas atividades formam um conjunto de relações, que não se pode mais ser dissociado. Além de empresas e produtores, participam também nesse complexo, os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de serviços.

Reforça-se, então, que o agronegócio incorpora em seu conceito os agentes que imprimem uma dinâmica a cada elo da cadeia que sai do mercado de insumos e fatores de produção (antes da porteira), passa pela unidade agrícola produtiva (dentro da porteira) e vai até o processamento, marketing, transformação e distribuição (depois da porteira).

Repetindo, o termo agronegócio engloba toda a atividade econômica envolvida com a produção, estocagem, transformação, distribuição e comercialização de alimentos, fibras industriais, biomassa, fertilizantes e defensivos, além de incorporar as atividades de prestação de serviços que ocorrem no meio rural. Importante frisar o foco na gestão, fator fundamental para o sucesso e desenvolvimento desse negócio.

Nota-se que os produtores não se isolam do restante do mercado. A cada dia que passa, os setores à montante e à jusante do processo produtivo estão mais ligados ao processo em si, ficando difícil estabelecer um limite entre eles.

Então, o meio rural, que antigamente era apenas para cultivos e considerado como uma atividade do setor primário, perde essa característica, deixando de ser apenas rural. Graziano da Silva (1999) chega a ser drástico quando analisa essa condição colocando que está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é urbano. Mas isso que aparentemente poderia ser um tema relevante, não o é: a diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos importante. Pode-se dizer que o rural hoje só pode ser entendido como um contínuo do urbano do ponto de vista espacial; e do ponto de vista da organização da atividade econômica, as cidades não podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem os campos com a agricultura e a pecuária.

É interessante notar que, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, entre os anos de 1940 a 1960 a maioria da população brasileira vivia no meio rural. Após a industrialização do país e a corrida pelo emprego nas cidades, aliado à mecanização da agricultura, teve uma queda da população rural, que hoje se encontra no nível mais baixo.

Voltando à nossa problemática com a definição, acredita-se que a evolução para o termo agronegócio seja devido a queda de importância da agricultura nas economias nacionais, processo este que ocorreu devido a características particulares do homem do campo e, que sofreram alterações ao longo do tempo.

Inicialmente o produtor rural não era especializado, ou seja, na sua propriedade era produzido a maioria das suas necessidades básicas, necessitando adquirir poucos produtos fora de sua fazenda e comercializando o seu excedente. Este modo de produção diversificado alterou-se para a produção especializada em um ou poucos produtos que geravam ganhos de escala e de produtividade.

Com o surgimento de modernas técnicas de plantio e novas máquinas acentuou-se estas mudanças, exigindo maior produtividade e conhecimento por parte do produtor rural. Estas alterações ainda estão em curso e, atualmente, os conhecimentos de gestão, comercialização e de marketing são essenciais para a competitividade do produtor rural nesta economia globalizada.

Entretanto, para melhor compreender esta evolução da agricultura para agronegócios, recapitularemos parte desta história, a qual iremos denominar: as

12

revoluções verdes. As revoluções verdes alteraram a realidade da agricultura e foram tão importantes que um dos responsáveis pela primeira revolução verde, o agrônomo Norman Bourlaug, citado no início deste material, foi agraciado com o Nobel da Paz em 1970. Atualmente, o estudo do agronegócio usa as teorias de dois prêmios Nobel de Economia o Professores Douglas North e Ronald Coase, ambos precursores da NEI – Nova Economia Institucional, que será abordado adiante nesta disciplina.

Atividade: Pesquise sobre uma das cadeias produtivas do agronegócio, de preferência de um

produto que você deseja conhecer afundo e que levará adiante nesta disciplina. Adote uma postura de um profissional do agronegócio que está incumbido de levantar todas as informações possíveis de determinada cadeia produtiva. Nesta atividade você é livre para decidir o que, como e a quantidade de dados levantados, mas lembre-se que quanto mais detalhados e em volume, melhor será para o seu desempenho profissional.

13

3. IMPACTO DAS REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA

As alterações tecnológicas provocam mudanças nos setores em que elas acontecem, os modos de produção são alterados, produtos eliminados e novos e promissores negócios são criados. Quando o homem desenvolveu a máquina à vapor, permitiu multiplicar a força do trabalho, passando da tração animal para as máquinas à vapor e, posteriormente, a outras energias: nuclear, elétrica e termoelétrica. Com novas tecnologias produtos são substituídos, como ocorreu com as máquinas de escrever com o advento dos computadores pessoais e seus processadores de texto. Além disso, as alteração do padrão tecnológico faz surgir novos produtos e mercados, como exemplo podemos citar os telefones celulares e as empresas ponto com.

Antes de abordar o que Pinazza e Alimandro (1999) chamam de primeira e segunda revolução verde, faremos um paralelo destas com a economia, buscando uma ligação desta disciplina com a economia. A primeira revolução verde está mais relacionada com os aumentos de produtividade via novas técnicas de produção, estando diretamente relacionada com a economia neoclássica, pois busca uma maior eficiência econômica da produção de alimentos. A economia neoclássica utiliza a teoria marginalista, ou seja, a leis dos rendimentos crescente e decrescentes. Para melhor compreender este enfoque, pegaremos exemplo da aplicação de calcário em uma área de soja. Os volumes recomendados para os tipos de solos são resultados de várias pesquisas, que encontram o volume adequado ao tipo de solo. Se o produtor utilizar mais calcário que o recomendado, estará tendo rendimentos decrescente, pois estará gastando mais e não tendo nenhum aumento de rendimento.

Para melhor compreensão das rendimentos decrescente, é necessário que você se aprofunde um pouco mais no estudo da Microeconomia. Qualquer livro com esse tema ajudará você a entender melhor o assunto abordado.

A segunda revolução verde esta relacionada com a biotecnologia que proporcionou uma novo ciclo de crescimento para os alimentos. Podemos relacionar tal período com a economia da inovação, desenvolvida por Joseph Schumpter, e o termos por ele criado: a destruição criadora.

3.1 – A primeira revolução verde

Segundo Pinazza & Alimandro (1999) a década de 30 foi o período áureo da primeira revolução verde, seu principal expoente foi o agrônomo Norman Boularg, a ponto de ser agraciado com o Nobel da Paz de 1970. Neste período acreditava-se que a erradicação da fome poderia trazer a paz entre os povos, problemas estes, herdados das guerra e que não haviam sido superados.

Entretanto, como citam Pinazza & Alimandro (1999), entre a teoria e a prática, esta primeira revolução verde acumulou dois grandes desencantos: tinha uma visão estreita do problema da alimentação, preocupando se excessivamente com a produção, esquecendo a distribuição e o acesso das pessoas a alimentação, pois um País com auto-suficiência alimentar não traz por consequência a situação em que todos seu cidadãos estejam livres da fome e subnutrição; o segundo desencanto está na falta de capacidade tecnológica e financeira dos países pouco desenvolvidos, justamente onde há a massa de famintos.

Apesar dos prós e contra, os países apresentaram grandes aumentos de produtividade em suas culturas. Um setor que apresentou um excelente ganho de produtividade e destacado por Pinazza & Alimandro (1999) foi a avicultura de corte, pois o ciclo da produção diminuiu e o peso das aves aumentaram. No Brasil temos exemplos de

14

sucesso na avicultura, através da parceria das empresas com os produtores rurais consorciados. Podemos citar como exemplo a Sadia, Perdigão e Avipal.

Pinazza & Alimandro (1999), analisando a obras de Malthus, citam que, em sua primeira versão, era focada pela assimetria entre o crescimento demográfico e o crescimento da produção, ou seja, enquanto o primeiro crescia em progressão geométrica, o segundo, aumentava em vagarosa progressão aritmética. Portanto, a produção de alimentos não conseguiria atender a demanda causada pelo aumento da população. Os mesmos autores continuam abordando a obra de Malthus, que em uma segunda versão, abrandou o tema apocalíptico, passando a considerar uma gama mais ampla de fatores agrícolas e demográficos. Dente os críticos de Malthus, destacamos Wilian Godwind, afirmando que o erro da sua obra era ignorar a criatividade humana para produzir novos conhecimentos.

Este tema entre aumento populacional e produção sempre volta a tona no debate mundial, recentemente, a FAO, defendeu o uso de transgênicos, como saída para o aumento da produção de alimentos, contrapondo ambientalistas, que na sua maioria fazem parte da camada mais rica da sociedade. Para obter maiores informações da FAO, orgão da ONU que trata dos assuntos relacionados com a agricultura e a fome no mundo, acesse o seu sitio no endereço www.fao.org.

3.2 – A Segunda revolução verde

A segunda revolução verde acontecerá no primeiro decênio do século XXI através da biotecnologia, através da manipulação de genes, produzindo organismos geneticamente modificados, denominados – transgênicos. Pinazza & Alimandro (1999) faz o seguinte questionamento: Com esta manipulação genética estaremos gerando monstros incontroláveis – Franksteins – ou criando benefícios para a civilização?

Os seus críticos defendem a agricultura orgânica e fazem pronunciamentos desaprovando a engenharia genética, mesmo assim, não podemos desconsiderar a parte mercadológica desta tecnologia. De acordo com Pinazza & Alimandro (1999), somente no caso das sementes transgênicas, a Merryl Linnch estima que o agronegócio estará próximo de US$ 20 bilhões no ano de 2010. Além disso, o potencial de crescimento é exponencial, em 1996 o mercado era de US$ 500 milhões, podendo chegar em 2006 à US$ 6 bilhões.

O mercado de produtos geneticamente modificados é imenso e de grande potencial de crescimento, sendo que as grandes corporações com negócios em sementes, químicas e em biotecnologia criaram grandes alianças, fusões e aquisições. Estas estratégias demonstram a vontade destas empresas em explorar as complementaridade deste negócio. Estas alianças entre megacorporações expõem o lado mais feroz da concorrência empresarial, onde somente os maiores e mais fortes sobrevivem.

O debate entre o uso de transgênicos ou da agricultura orgânica é muito acalorado e não temos uma conclusão definitiva, entretanto, a escolha de um ou outro será crucial para a competitividade futura de um dado país. O que não se quer colcoar aqui é que os alimentos transgênicos são um combate, ou contra a agricultura natural ou orgânica. São produtos diferentes, que podem conviver pacificamente no campo brasileiro.

Para se der uma idéia da dicotomia entre estas duas visões acerca da produção de alimentos, recentemente a FAO defendeu o uso de transgênicos na alimentação humana. Entretanto, recentemente a União Européia teve a adesão de alguns países do leste europeu, que possuem terra férteis, ampliando a capacidade de produção de alimentos do bloco. Para estes novos integrantes foi destinado uma enorme quantia de recursos financeiros para o fomento da agricultura orgânica.

Com o exemplo acima, percebemos que há uma queda de braço entre os dois paradigmas de produção de alimentos. A nossa análise é que ocorrerá uma segmentação

15

no mercado de alimentos, sendo que os alimentos orgânicos atenderão os mercados de alta renda dos países desenvolvidos, enquanto que os alimentos geneticamente modificados, serão destinados ao demais. Portanto, a competitividade futura do agronegócio brasileiro estará atrelada as suas escolhas estratégias de hoje.

Para uma melhor compreensão dos mercados agropecuários abordaremos a divisão entre agricultura de mercado e de baixa renda e toda a dualidade tecnológica e estrutural que há entre ambas.

3.3 – A segmentação da agricultura

Com o processo de evolução do rural ao agronegócio emerge o dualismo tecnológico, no qual há uma nítida polarização de extremos, onde encontramos realidades distintas. Em uma ponta temos a agricultura comercial, voltada para o mercado consumidor; na outra ponta fica a agricultura de baixa renda, voltada para a subsistência e com seus excedentes comercializados.

Esta parte da disciplina está diretamente relacionada com a sociologia, sócio-economia e com o processo de desenvolvimento econômico dos países.

3.3.1 – Agricultura Comercial

A agricultura de mercado é dinâmica, utilizando tecnologias de ponta, ganhos de escala e modernas técnicas de gestão. Este modelo de agricultura é o mais estudado pelas pesquisas em agronegócios, sendo que a agricultura camponesa e a agricultura familiar, agora que começam a ganhar espaço nas pesquisas acadêmicas. Por este motivo, a agricultura de mercado será foco central desta disciplina. Os principais grupos acadêmicos que estudam o agronegócio no Brasil são o Pensa da USP e o Gepai da UFSCAR. Os respetivos endereços na internet são: www.fia.com.br/pensa e www.gepai.dep.ufscar.br.

Pinazza & Alimandro (1999) citam que administração rural, devido as variáveis relacionadas ao ciclo biológico da produção, enfrenta dificuldades no processo administrativo, ou seja, no planejamento, na organização, direção e controle. Esta particularidade é considerada uma das características do agronegócio que Davis & Goldeberg atribuíram em sua obra: A Concept of Agribusiness.

Na agricultura empresarial, ao contrário dos setores industriais e de serviços, uma determinada decisão não tem efeito imediato, devido a particularidade relacionada ao ciclo biológico da produção. Tal assunto será abordado com maior profundidade no decorrer desta disciplina. A diferença no timming da produção agropecuária e a industrialização e comercialização dos mesmos, geram problemas de coordenação das cadeias produtivas, tema estudado pela literatura sobre agronegócios.

Esta problemática é demonstrada nos dizeres de Pinazza & Alimandro (1999), sujeita a fatores incontroláveis (clima, pragas, doenças, preços, produção, etc), a agricultura sempre estará vulnerável à instabilidade de mercado. Mas há remédios e saídas para enfrentar esta problemática. A aplicação competente de uma visão sistêmica ao processo de geração de alimentos e fibras oferece subsídios valiosos para o gerenciamento da atividade agrícola. Para tal o estudo do agronegócio é o arcabouço teórico, se é que podemos considerá-lo um arcabouço teórico firmado.

Outro dilema para a agricultura de mercado é o da distribuição dos ganhos econômicos ao longo da cadeia produtiva. Segundo Pinazza & Alimandro (1999) os ganhos econômicos proporcionados pela tecnologia na produção primária, em termos de mais produtividade e menor custo, são transferidos para outros segmentos da cadeia produtiva ao longo do tempo. A visão sistêmica do agronegócio ajuda à compreensão deste problema.

16

Após estas colocações poderíamos nos perguntar: Porque empregar melhores tecnologias em busca de ganhos de produtividade se os ganhos serão repassados aos elos mais fortes da cadeia produtiva? Pinazza & Alimandro (1999) respondem tal questão com propriedade, quando afirmam que as fazendas que saem à frente no emprego de modernas tecnologias têm oportunidades de apropriações temporárias de lucros. Esta possibilidade se estreita à medida que os preços se acomodem para baixo de modo a refletir o novo padrão tecnológico disseminado.

Esta pressão exercida pelo mercado faz uma verdadeira seleção darwiniana na agropecuária, onde os mais aptos permanecem e, os menos qualificados amargam baixo resultado econômico. Esta pressão aliada a novas tecnologias tornam o setor mais complexo, exigindo novos conhecimento dos administradores rurais.

Após o conhecimento dos fatores que caracterizam a agricultura comercial, faz-se necessário analisar a agricultura da baixa renda. Podemos, tirar algumas conclusões preliminares, sendo que a principal delas, é o desafio que esta agricultura enfrentará, pois o mercado é implacável nas suas exigências.

No próximo tópico será abordado o outro segmento da agricultura para completar a compreensão do agronegócio, mas ressalvando que a mesma não é foco desta disciplina e abordaremos a mesma para complementar o seu conhecimento.

3.1.2 – Agricultura camponesa e agricultura familiar

Segundo Pinazza & Alimandro (1999) a agricultura de baixa renda é um núcleo estagnado, que utiliza tecnologia tradicional e produz à base de unidades familiares independentes ou, às vezes, articuladas com a propriedade latifundiária. Esta modalidade emprega as técnicas que passam de pai para filho, deixando de lado as novas tecnologias devido a dois fatores: Culturais - que tem resistência a mudança – e Financeiros – devido falta de captais para aquisição de tecnologias.

Pinazza & Alimandro (1999) citam o professor Theodore Schultz que em sua obra clássica sobre desenvolvimento rural, denominada A transformação da Agricultura tradicional, afirma que o agricultor tradicional é eficiente na alocação de recursos, mas não acessa as informações sobre a produção e o mercado, criando um viés na tomada de decisão. Dessa forma, a tomada de decisão do deste agricultor dá ênfase nos aspectos ligados ao dentro da porteira, negligenciando o pós porteira.

Para Pinazza & Alimandro (1999) o equacionamento do problema da agricultura de baixa renda para pela articulação de estratégias de fortalecimento e desenvolvimento de toda a cadeia produtiva do agronegócio. Um dos grupos de pesquisa que estuda a questão da agricultura de baixa renda e o em torno das cidade é denominada RURBANO. Para aumentar seu conhecimento acerca deste grupo de pesquisa do departamento de economia da UNICAMP, acesse o endereço www.eco.unicamp.br/nea/rurbano.

Os estudos sobre a produção rural familiar mostram que a grande maioria dos países tem nesse segmento social, seja em menor ou maior importância, um sustentáculo do seu dinamismo econômico. No Brasil, esse contexto não é diferente. A discussão sobre tal tema tem ganhando grande importância nos últimos anos, mais precisamente a partir do final da década de 1980, impulsionada pelo debate sobre segurança alimentar, geração de emprego e renda, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento local.

Na perspectiva de fazer uma breve exposição da discussão teórica e conceitual em relação à produção rural familiar, nos cabe enfatizar, que, os trabalhos acerca do mesmo assunto são vastos na literatura acadêmica de uma maneira geral, existe vários estudos sobre esse segmento e por esse motivo, vamos apenas destacar algumas considerações.

Em um primeiro instante, cabe aqui destacar que a problemática da temática em questão, se inicia com conceito ou a terminologia a respeito desse segmento. De acordo com Fernandes (2001), o conceito de agricultura familiar, exploração familiar, pequena

17

produção, produção camponesa, agricultura de subsistência ou produção rural familiar, são utilizados em vários trabalhos acadêmicos, especialmente na área de Geografia Rural, sem uma reflexão teórica mais precisa, apresentando várias divergências quanto à definição dos critérios que delimitam esse universo.

Existem diversas variáveis em relação à classificação dos termos em questão. Alguns autores consideram o grau de mecanização, nível técnico, capacidade financeira, e até mesmo a relação estabelecida entre o tamanho da propriedade, produtividade e rendimento, para classificar os produtores em agricultores familiares, camponeses, pequenos produtores e outros. Essa divergência, ocorre principalmente por se tratar de um tema que aparentemente apresenta uma certa uniformidade, e por apresentar uma enorme capacidade de adaptação a diversas situações.

Alguns autores como Veiga (1991), Abramovay (1992, 1999) e Lamarche (1997), enfatizam o fortalecimento da produção agrícola assegurado pela produção familiar, caracterizado pela participação direta da família na organização e execução das atividades rurais. Em alguns locais a exploração familiar é à base do desenvolvimento agrícola, reconhecida como a única forma social de produção, capaz de satisfazer as necessidades essenciais da sociedade como um todo; em outros, permanece arcaica e arraigada na economia de subsistência, desacreditada e a custo tolerada, quando não chegou a ser totalmente eliminada (LAMARCHE, 1997).

A exploração familiar, corresponde a uma unidade de produção agrícola, onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família, em um processo que cria uma interligação entre propriedade, trabalho e família (Lamarche, 1997). Nesse caso, o autor aborda a exploração agrícola com força de trabalho familiar.

Abramovay (1992), desmistifica com o mito dominante na América Latina, em particular no Brasil, de que esse segmento social, bem como sua forma de reprodução, sejam sinônimos de atraso e miséria social. O autor, mostra a importância dessas unidades familiares para a modernização do campo e distribuição de renda nos Estados Unidos e Europa. Um dos objetivos da obra do autor, é mostrar que os paradigmas a respeito do desenvolvimento da agricultura capitalista, não supõem necessariamente, unidades produtivas baseadas no uso em larga escala de mão-de-obra assalariada.

A "empresa familiar" não é sinônimo de "pequena produção" ou de "agricultura camponesa" (Abramovay, 1992). Isto porque as existências do “campesinato” pressupõem um conjunto de vínculos sociais dados pela tradição, pela comunidade, pelas relações personalizadas de dependência e igualdade, e a integração incompleta e parcial no mercado: "onde o capitalismo se implanta, onde o mercado começa a dominar a vida social, onde a racionalidade econômica toma conta do comportamento dos indivíduos, os laços comunitários acabam por perder seu poder agregador e os camponeses vêem desvanecer as bases objetivas de sua própria reprodução social".

Tanto em nações economicamente desenvolvidas (França), de colonização recente (EUA e Canadá), quanto em outras com antigas tradições camponesas, funciona um setor baseado em milhões de unidades agrícolas produtivas orquestradas pelo planejamento, comando e controle do Estado e das organizações profissionais.

Na França, por exemplo, o governo subsidia pequenos, médios e grandes agricultores. Lá ocorreu um processo de especialização, em que os grandes produzem grãos, os médios trabalham com pecuária de corte e os pequenos atuam na pecuária leiteira, que exige mais mão-de-obra. Sem subsídios as atividades agropecuárias desapareceriam em muitas regiões. Uma justificativa usada pelos agricultores franceses é que, além da produção de alimentos, eles são responsáveis pela gestão da paisagem, portanto o subsídio também seria para o embelezamento cênico que alimenta a mais rentável indústria européia: a do turismo. No entanto, "é preciso ter claro que seria possível manter essas atividades de gestão da paisagem sem subsidiar a produção de produtos concorrentes com aqueles provenientes de países em desenvolvimento". Há,

18

neste caso, uma questão de lobbies que deveria ser enfrentada para que o comércio entre países ricos e pobres se realize em bases justas (ROMEIRO, 2003).

No Brasil, a grande propriedade sempre se impôs como modelo socialmente reconhecido. A dinâmica do mercado internacional e os produtos em alta na balança comercial, sempre ocuparam um lugar de destaque ao longo das políticas agrárias, que de certa forma estimulou sua reprodução social. Para Wanderley (1999, p. 37), a agricultura familiar sempre ocupou um lugar secundário e subalterno na sociedade.

A produção rural familiar foi profundamente marcada pelas origens coloniais da economia e da sociedade brasileira ao longo dos anos, através das monoculturas de exportação das grandes propriedades, dos ciclos econômicos e da modernização do campo, que se fez de maneira parcial e incompleta, o que de certa maneira promoveu a marginalização e a exclusão do agricultor, como afirma Graziano da Silva (1999).

Ao analisar a problemática agrária durante a década de 1980 e os primeiros anos de 1990, Gonçales e Cleps Júnior (2004), destacam a modernização da região da região Centro-Sul, o fechamento da fronteira agrícola, a crescente presença do capital monopolista no campo, a industrialização da agricultura e a integração dos capitais agrícola, comercial e financeiro como pontos marcantes da evolução dessa problemática.

O tema da questão agrária fugiu dos debates de opinião pública neste período, sobretudo em função da derrota política da reforma agrária, no final do Governo Sarney e durante o Governo Collor. Desde 1995, a questão agrária volta a ganhar ênfase, dado o aceno do governo federal em buscar alternativas políticas que atenuem a realidade socioeconômica da agricultura brasileira (GONÇALES; CLEPS JÚNIOR, 2004).

Nesse sentido é a partir da década de 1990, que os trabalhos e pesquisas desenvolvidas em relação à produção rural familiar, tomam novo fôlego a partir da necessidade de refletir e repensar o espaço rural, suas alternativas de desenvolvimento econômico e social, através do fortalecimento do movimento dos trabalhadores rurais lutando pelo direito de reconquistar a terra, persistindo nas potencialidades desse segmento.

Tal reconhecimento esteve estruturado, em termos gerais, na atribuição à pequena produção, da responsabilidade pela oferta de mão-de-obra, matérias-primas e gêneros alimentícios a preços baixos nos mercados consumidores, garantindo dessa forma, o rebaixamento dos custos e conseqüentemente, a acumulação de capitais no setor urbano-industrial. Além dessa atribuição, caberia à pequena produção recriada nas áreas de fronteira agrícola, possibilitar a diminuição dos conflitos sociais pela terra, seja em regiões marcadas historicamente pela grande concentração fundiária, como o Nordeste brasileiro, seja em decorrência da intensa expropriação a que fo submetido os pequenos produtores no Sul do país, em virtude do processo de modernização agrícola (HESPANHOL, 2000).

Ao analisar a questão a autora, destaca a conjunção de vários fatores, “que em última análise, propiciaram o ambiente favorável ao reconhecimento da importância econômica e social dessas unidades produtivas”, destacando que é a partir desse período, “a produção familiar passa genericamente a ser denominada de agricultura familiar.”

A discussão da importância da produção rural familiar no desenvolvimento do país não ocorreu apenas no âmbito acadêmico, mas sobretudo, na esfera governamental, com a implementação de políticas visando o fortalecimento desse segmento, como o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o Programa de Geração de Emprego e Renda Rural (PROGER), entre outros (HESPANHOL, 2000).

No entanto, é preciso admitir diversas situações particulares, vinculadas a histórias e a contextos sociais, econômicos, políticos e principalmente regionais diferentes a respeito de tal tema. Como o próprio Lamarche (1997) afirma, “a agricultura familiar não é um elemento da diversidade, mas contém, nela mesma, toda a diversidade”.

19

Dessa maneira é possível destacar um diferencial social entre os produtores, como os modernizados e não modernizados, excluindo do processo um grande número de atores sociais, destacando entre eles os que compõem a produção rural familiar.

Nessa mesma linha de pensamento Graziano da Silva e Kageyama (1989), destacam o contraditório desenvolvimento capitalista na economia brasileira, que é marcado por profundas disparidades regionais e crescentes desigualdades sociais principalmente em relação à distribuição de renda. E nesse sentido, a agricultura tem contribuído para agravar esses contrastes, promovendo a concentração fundiária e o uso especulativo da terra.

A modernização conservadora, que ocorreu no Brasil a partir da década de 1960, caracteriza-se pela modernização da base técnica da produção agrícola, na qual estimulava a elevação do consumo intermediário (insumos agrícolas) no setor, através da importação com o apoio do Estado, resultando de certa forma na integração agricultura/indústria, proporcionando dessa maneira o desenvolvimento dos Complexos Agroindustriais (CAIs).

Essa modernização apresentou caráter parcial e discriminador, pois não atingiu todas as fases dos ciclos produtivos nem todas as regiões brasileiras em função da diversidade regional. Nesse sentido é possível perceber, que o processo de modernização agrícola que país passou e vem passando apresenta vários níveis quando se compara perfil do produtor, acesso ao crédito, tipo de atividades agrícolas, produtividade e uso de insumos.

Esse modelo de modernização agrícola, excludente e parcial, só faz acentuar as diferenças sociais no campo, provocando de certa forma o êxodo rural do produtor familiar, que sem perspectivas de desenvolvimento econômico e social tende a largar a terra para migrar para a cidade, ou então se transformar em trabalhador rural assalariado.

Oliveira (2002), destaca que umas das características fundamentais da estrutura agrária brasileira é a expansão das relações não-capitalistas de produção, principalmente a camponesa (...) o avanço da industrialização e o crescimento urbano abriram possibilidades históricas para o estabelecimento do trabalho assalariado, capitalista, no campo, oferecendo também as possibilidades concretas para a criação e recriação do trabalho familiar camponês.

Para Mendes (2005) a inserção da agricultura familiar nas relações sociais capitalistas, suas reorganizações, rupturas e reprodução, a associação entre a família, terra e trabalho evidenciam a heterogeneidade dos processos que permitem sua inserção na sociedade contemporânea e, ainda, as divergências socioeconômicas que compõem esse segmento de produtores. Essas unidades produtivas apresentam as seguintes características: pequenas propriedades ou extensões de terra; prática da policultura sob condições técnicas precárias, o trabalho realizado pela própria família e a manifestação de valores e tradições culturais dentre outros.

De acordo com a autora, os debates promovidos no final da década de 1980, procuram compreender e explicar os motivos da gradativa redução da população rural, principalmente, dos pequenos produtores, assim como a natureza sociocultural, as estratégias de desenvolvimento e suas características determinantes. Assim, o novo enfoque das discussões, encontra-se na diversidade e na complexidade que as formas familiares de produção na agricultura assumiram nas sociedades contemporâneas (MENDES, 2005).

Nesse conjunto de transformações que vem ocorrendo no meio rural, é que intensificam a efervescência dos debates e a reorientação acadêmica, a partir da segunda metade da década de 1990, sobre as “novas ruralidades” (SCHNEIDER, 2003).

Na base dessas “novas ruralidades”, estariam preocupações com o meio ambiente, o papel da agricultura no desenvolvimento, a dinâmica territorial, as soluções para as

20

crises sociais de emprego e até mesmo o papel de cidadão desse ator social que é produtor rural.

Diante de tantas dificuldades e da crescente necessidade de inserção da produção rural familiar ao mercado de trabalho, a articulação entre atividades rurais e as chamadas atividades não agrícolas nesse meio tem crescido consideravelmente em algumas regiões do país, como enfatiza Del Grossi (2001), Campanhola (2001), Graziano Da Silva (1999, 2001, 2002) e Schneider (2003), como forma de reprodução e alternativa de aumento da renda da propriedade proporcionando dessa maneira o desenvolvimento econômico e social no meio rural.

Seguindo essa linha de pensamento, como forma de garantir o sustento da família, Graziano da Silva (1999), afirma que essa situação, (combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas dentro da mesma propriedade, sendo chamada de pluriatividade), 0embora sendo um segmento econômico mais recente no meio rural brasileiro, não é considerada uma novidade na formação socioeconômica das sociedades agrárias.

Essa questão da pluriatividade pode ser caracterizada, como conseqüência da industrialização sobre as condições de reprodução social dos agricultores familiares: o trabalho assalariado (absorção da mão-de-obra residente no campo para trabalhar nas atividades urbana-industriais), o assalariado temporário (principalmente na época de picos de produção) e novas formas de obter renda a partir de atividades não-agrícolas.

Mas o fato é que a produção familiar possibilita ao agricultor uma lógica própria, mesmo estando subordinado ao capital, ou seja, a pluriatividade e o trabalho externo que não seja familiar não desagrega a produção, ao contrário são formas de viabilizar as estratégias de reprodução presentes e futuras, de modo a se encaixar no contexto econômico, porém só poderá sobreviver de um sistema produtivo se estiver subordinado as determinações gerais do capital, em função da necessidade de inserção no mercado.

Solari (1979), concorda com o fato de que as mudanças por que passou o campo, a idéia de contínuo passa a ser mais eficiente para conceituar a realidade. Entretanto ele pondera, como também faz Carneiro, de que a idéia do contínuo não deve ser comprada sem reflexões mais precisas, pois em vários locais, especialmente nos países em desenvolvimento e nos países “atrasados”, a industrialização da agricultura e as outras mudanças que levam à formulação da continuidade entre o rural e o urbano ainda não se constituíram. Nesse contexto, é preciso ressaltar que esse processo de continuidade, entre urbano e rural, não operam com a mesma intensidade em todas as regiões brasileiras.

Para questão de exemplificar, no município de Palmas, capitald o Estado do Tocantins, é possível perceber, no entanto de maneira bem sutil, a continuação de atividade urbanas no meio rural do município (comércios, clubes, chácaras para lazer ou moradia), mas por outro lado, essa formulação da continuidade como Graziano da Silva (1999), ressalta estar ocorrendo entre o rural e o urbano, onde pode se considerar um verdadeiro continuum, ainda não se constituíram de maneira efetiva no município. De acordo com a Secretaria Estadual da Agricultura do Tocantins, todos os projetos de atração de agroindústrias para o município estão localizados na área delimitada como zona rural. Afirmando assim as idéias de Graziano (1999), que rural vem se urbanizando devido ao desenvolvimento e aplicação de técnicas industriais na agricultura.

No entanto, cabe ressaltar que cada realidade rural ou urbana deve ser compreendida dentro de suas particularidades e especificidades, como exemplo pode-se citar de acordo com o IPEA (1996), alguns municípios do sul do país, onde a produção camponesa tem peso significativo e apresentam boa parte dos maiores índices de desenvolvimento humano, como é o caso do município de Feliz, Paraí, Nova Prata (RS) e outros.

Esse exemplo mostra a grande diversidade econômica e social que o Brasil apresenta em suas regiões, pois de maneira geral, pode-se exemplificar que a realidade

21

acerca da produção familiar nas regiões Norte e Nordeste, se apresentam de forma bastante distinta da realidade social e econômica de como essa categoria social se apresenta no Sul do país.

Nessa perspectiva, as unidades produtivas familiares deveriam se constituir neste final de século no lócus privilegiado para a manutenção e sobretudo, para o retorno de parcela da população excluída social e economicamente, seja no desenvolvimento de atividades agropecuárias, propriamente dita, ou em atividades rurais não-agrícolas, tais como turismo e o lazer rural, a piscicultura, a agroindústria comunitária, etc.

Em última análise, a agricultura familiar poderia restituir à essa população excluída, por meio da implantação de assentamentos rurais e da implementação de políticas públicas direcionadas para essa categoria de produtores familiares (autônomos ou não) – como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) -, as condições necessárias para se inserirem economicamente no mercado e adquirirem socialmente, a cidadania obstaculizada pelo modelo de crescimento econômico vigente no país (HESPANHOL, 2000).

Nesse aspecto é possível analisar e entender que a organização do trabalho familiar no campo existe desde os primórdios da civilização, e que o processo de formação e organização do camponês realizou-se em diferentes tipos de sociedade, e mesmo apesar da sociedade capitalista, privilegiar o mercado em detrimento a agricultura familiar, percebemos que sua reprodução e sua recriação acontecem no seio das relações capitalistas de produção através da luta pela terra (FERNANDES).

Abramovay (1995), lança a seguinte pergunta em um dos seus trabalhos: as regiões onde hoje se concentra a parcela mais importante da pobreza nacional (isto é, as regiões rurais, sobretudo do Nordeste) devem ser consideradas como inaptas à produção agrícola, seus habitantes devendo volta-se para outras atividades para conseguir vencer a miséria em que se encontram hoje?

É preciso fundamentalmente preconizar o acesso a terra, de forma que a população rural possa desempenhar seu papel de cidadão, e isso só se faz fortalecendo antes mais nada a educação, pois as pesquisas mostram que nas regiões mais dinâmicas do país a agricultura familiar mostra inegável dinamismo.

Esse crescimento de atividades não-agrícolas, em certas regiões do país, se deve principalmente a falta de perspectivas a respeito da produção agrícola, em função da falta de políticas orientadas que realmente valorizem a produção rural familiar.

Para Abramovay (1999), é verdade que os mercados agrícolas convencionais são pouco propícios a ascensão social por parte dos produtores rurais. Mas esta desvantagem pode ser contrabalançada pela construção de novas relações entre agricultores e mercado. A organização local, a ampliação do círculo com os quais se relacionam os agricultores, a pressão para que aumente seu acesso ao crédito e os investimentos públicos em infra-estrutura e serviços, estes fatores conjugados têm o poder de alterar o ambiente institucional do meio rural para que ele deixe de ser assimilado automaticamente ao atraso e ao abandono.

Nesse sentindo, entendendo que o desenvolvimento rural é um processo tipicamente local e regional, as propostas políticas a cerca de tal tema, centra-se na necessidade de repensá-las a partir de tais espaços. Assim o fortalecimento de programas como o Pronaf é indispensável (principalmente em relação à educação, saúde e mercado competitivo), pois as pesquisas mostram que a produção rural familiar não é necessariamente um segmento estagnado e eternamente miserável.

O problema da inserção da agricultura familiar no ambiente competitivo do agronegócio não de fácil resolução e não temos uma linha de pesquisa dominante neste assunto. Acreditamos ser esta uma vertente que ganhará espaço nos meios acadêmicos nos próximos anos.

22

Agora que começamos a discutir as dificuldades de inserção em uma economia de mercado, daremos continuidade a esta disciplina abordando os mercados e suas variantes.

Atividade: Acesse um dos sitios dos principais grupos de pesquisa em agronegócios que foram citados neste tópico e capture um artigo do seu interesse. De posse deste artigo, faça uma resenha de no máximo duas laudas sobre o mesmo. Esta breve análise deve conter as idéias gerais do artigo, para que uma pessoa com pouco tempo para ler o material completo, leia sua resenha e compreenda o tema escrito no trabalho original.

23

4 – O MERCADO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

A comercialização dos seus produtos é cada vez mais crucial para a competitividade dos produtores rurais, pois os ganhos provenientes de sua maior produtividade podem dissipar-se ao longo das cadeias agroindústriais.

Segundo Azevedo (2001) o senso comum normalmente entende a comercialização como venda de um produto específico. Esta visão restringe-se o seu horizonte de análise as portas da empresa. Entretanto, este não é o entendimento usado pelo agronegócio – visão sistêmica.

Portanto, devemos ampliar o conceito de comercialização, incorporando as transmissões do produto pelos vários estágios do processo produtivo, melhorando a compreensão das estratégias de comercialização acessíveis a uma empresa inserida no agronegócio.

Quando tratamos de comercialização de produtos agroindustriais devemos lembrar das peculiaridades que estas têm frente os demais. Para isso, abordaremos os principais aspectos envolvidos na comercialização destes produtos e os mecanismos envolvidos.

4.1 – A competitividade dos produtos agroindustriais

A competitividade é um conceito amplo e envolve vários fatores, entretanto, na produção agropecuária, é comum restringi-la aos aspectos ligados à produção. Os produtores investem recursos consideráveis na redução dos custos de produção, que, muitas vezes, perdem-se no momento da venda do produto.

Para Azevedo (2001) vender e comprar não é um processo trivial e, a adoção de mecanismos inapropriados fatalmente implica prejuízos à empresa, mesmo sendo ela competitiva em termos de eficiência produtiva. Portanto, a eficiência da empresa é mais abrangente do que somente a eficiência produtiva, embora esta seja muito importante. Dessa forma, a competitividade de uma empresa depende profundamente dos mecanismos de comercialização de seus produtos utilizados.

Estas considerações sobre a competitividade das empresas ajuda-nos a compreender a importância do administrador especializado em agronegócios, pois o agrônomo, o veterinário e o zootecnista, devido a sua formação, não possuem esta visão sistêmica da agropecuária.

A Economia dos Custos de Transação, arcabouço teórico utilizado pelo agronegócio, que será abordada adiante, tem como unidade de análise as transações ao longo das cadeias, ou seja, analisa os aspectos relacionado com a comercialização. Vale ressaltar que esta teoria não menospreza os custos de produção, somente agrega os custos de transação a análise do agronegócio.

Azevedo (2001) conclui que a competitividade global de uma empresa depende profundamente de sua eficiência na comercialização de seus insumos e produtos. Quanto mais apropriada for a coordenação entre os agentes, intermediados por mecanismos de comercialização, menores serão os custos de transação e, consequentemente, haverão custos individuais menores, melhorando a competitividade dos membros deste sistema produtivo. Ele afirma que com a finalidade de reduzir os custos de transação, os agentes fazem uso de mecanismos de comercialização apropriados para efetuar uma determinada transação, também denominado na literatura por estruturas de gorvernança. São exemplos de mecanismos de comercialização: mercado Spot, contratos de suprimento

24

regular, contratos de longo prazo com cláusulas de monitoramento, integração vertical, dentre outros.

Para Azevedo (2001) não há, a priori, um mecanismo de comercialização superior aos demais. Assim, deve-se adequar o mecanismo ao contexto e ao tipo de transação que ocorre na referida comercialização. Portanto, o administrador deverá escolher o mecanismo mais adequado a sua realidade e, para esta escolha, deve-se conhecer os inúmeros mecanismos disponíveis.

4.2 – Particularidades dos produtos agroindustriais

Os produtos agroindústrias são os mais variados, sendo que na sua maioria constitui-se de produtos alimentares, mas outros, tais como tecidos ou borrachas, também estão inseridos no agronegócio. Alguns são perecíveis, como leite e seus derivados, ao passo que outros podem ser estocados, sem a necessidade de cuidados exagerados, por exemplo a soja e o café.

A diversidade também abrange os processamento, sendo que uns exigem de um processamento complexo, como papel, e outros exigem transporte e acondicionamentos adequados, como a banana e demais frutas in natura.

Para entendermos melhor a complexidade dos produtos do agronegócios analisaremos os aspectos relacionados com a sua oferta e sua demanda. Vale ressaltar que as singularidades dos produtos agroindustriais estão relacionadas com uma das características do agronegócio definidas por Davis & Goldeberg, que será abordada adiante nesta disciplina.

4.3 – Aspectos relacionados com a demanda

Segundo Azevedo (2001) os produtos agroindustriais são essencialmente bens de primeira necessidade e de baixo valor unitário, dessa forma, uma variação do preço destes produtos não afeta a quantidade demandada. O que deve ser ressaltado destes produtos é que, em caso de escassez, os preços têm que subir substancialmente a fim de limitar o seu consumo. No entanto, o inverso é verdadeiro, ou seja, na abundância destes produtos, seus preços tendem a caírem significativamente. Em suma, a quantidade demanda destes produtos não varia significativamente em relação ao preço. Esta característica dos produtos agropecuários faz com que a renda dos produtores rurais oscilem significativamente, gerando toda uma problemática estuda pelas pesquisa em agronegócios.

De acordo com Azevedo (2001) o Brasil e outro países de renda per capita baixa e concentrada, uma parcela mínima da população não tem acesso à renda suficiente para a aquisição mínima de alimentos, assim, uma elevação do preço pode tirar esses consumidores do mercado e, com isso, reduzir a quantidade consumida. Este efeito da variação dos preços na quantidade demanda é tratada pela economia e denomina-se elasticidade da demanda. Para maior compreensão do tema consulte qualquer livro de microeconomia.

Além dos aspectos ligados a preços e com a exceção de alguns poucos produtos, a demanda dos produtos agroindustriais tende a ser regular durante o ano. Não podemos esquecer que os consumidores destes produtos exigem qualidade, tanto relacionada a fatores objetivos, como segurança alimentar, quanto a elementos subjetivos, como sabor e prazer. Todos estes fatores estão intimamente relacionado com a satisfação dos seus consumidores.

Outro aspecto relacionado a demanda dos produtos do agronegócio está relacionado com a internacionalização do mercado, devido a globalização e o maior intercâmbio comercial. Para Azevedo (2001) antes de uma mercadoria ser exportada, há

25

um fluxo de informações entre ofertante e consumidor, deste intercâmbio, o vendedor descobre os hábitos do consumidor, as características do mercado e as idiossincrasias locais.

Segundo Azevedo (2001) o resultado desta internacionalização é que as mercadorias consumidas mundialmente são cada vez mais submetidas a um padrão internacional. Portanto, produtos que antes eram consumidos nacionalmente passam a serem consumidos em todo o mundo.

Para finalizar os aspectos relacionados com a demanda, o mesmo autor, afirma que os grandes mercados consumidores tem um papel importante na determinação das tendências globais. Assim, os padrões de consumo ditados pela sociedade americana são a principal referência ao fluxo internacional de mercadorias.

4.4– Aspectos relacionados com oferta

Enquanto a demanda dos produtos agropecuários é constante, o mesmo não ocorre com a sua oferta. Os fatores que influenciam a oferta são os de natureza biológica e a sazonalidade.

Segundo Azevedo (2001) a dependência da oferta de produtos agroindustriais em relação a natureza apresenta dois elementos relevantes: condições climáticas e período de maturação dos investimentos.

Devido as condições climáticas, o resultado da produção agrícola, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, é particularmente dependente das condições climáticas. Portanto, efeitos não controláveis afetam a oferta deste produtos. A boa notícia é que as inovações tecnológicas estão sempre buscando amenizar tais efeitos. A irrigação é uma destas tecnologias que objetivam amenizar as variações pluviométricas.

No segundo caso de efeitos da natureza, o período de maturação dos investimentos, acontece pois a natureza impõem um espaço de tempo entre a decisão de investir-se e a efetiva produção agrícola. Segundo Azevedo (2001) Deve-se esperar o momento propício para a implementar-se o investimento; pois, de um lado, o investimento não pode ser realizado qualquer período do ano, de outro lado, a maturação do investimento depende da maturação biológica de seus componentes, sejam plantas ou animais.

As inovações tecnológicas buscam amenizar os efeitos do ciclo biológico que estão sujeito os produtos agroindustriais. Um bom exemplo é o melhoramento genético da raça nelore desenvolvido pelos pesquisadores da USP. Através deste programa, criadores como Hélio Coelho & Filhos, conseguiram produzir novilhas super precoces, que emprenham com 14 meses, em um passado recente, as novilhas da mesma raça emprenhavam com 3 anos fechado. A evolução da precocidade da raça nelore é indiscutível e trará ganhos de produtividade, aumentando a competitividade desta raça em comparação com as raças européias.

Animais precoces começam a produzir antes, reduzindo o período de maturação do investimento em pecuária, caracterizado por retornos demorados. Portanto, o pecuarista poderá reduzir o payback do seu investimento. Vale ressaltar que payback é uma das técnicas de análise de investimento, demonstrando o tempo necessário para o investimento de pagar. Para maiores esclarecimentos recomendo o livro de Administração financeira do professor Sanvicente.

Mesmo com essas evoluções e inovações, a atividade agropecuária está longe de tem o controle que uma linha de produção industrial tem da sua atividade, pois na indústria pode-se controlar com maior acuidade o tempo, a quantidade e a qualidade da produção.

Quanto um produto agrícola chega para ser industrializado, ocorre o que denominamos estabilização do produto. Por exemplo, ao transformar a goiaba em geleia

26

ou poupa e o couro em Wet blue. A estabilização não é possível na produção agrícola devido ao fator específicos relacionados ao seu ciclo biológico ou da natureza. Este fator é sintetizado em uma frase que ouvi em uma propriedade rural – não apresa que a mula cansa.

O segundo fator relacionado a oferta de produtos agroindustriais é a sazonalidade. Esta ocorre pois a produção agrícola concentra-se em algumas épocas do ano. A carne bovina tem o seu pico no outono, ou seja, no período das águas. Segundo Azevedo (2001) a sazonalidade determina o comportamento dos preços desses produtos, pois o custo de produção se eleva na entre safra. Dessa forma, o ritmo da produção, das vendas e a formação de estoques caminham conforme o ritmo ditado pelas estações do ano.

4.5 – Os desafios da comercialização de produtos agropecuários

Para Azevedo (2001) o desafio está em conciliar um demanda relativamente estável com uma oferta agrícola que flutua sazonal e aleatoriamente.

Os mecanismos de comercialização que serão abordados adiante foram desenvolvidos para dar conta deste problema característico aos mercados agroindustriais. Sendo que alguns buscam reduzir a incerteza relacionada à preços, outros mecanismos objetivam p controle da qualidade e a regularidade no fornecimento. Estes mecanismo de comercialização serão abordado em detalhes no próximo tópico desta disciplina.

Atividade Acesse o sitio da BM&F (http://www.bmf.com.br/portal/pages/clearing1/Derivativos/agropecuarios/agropecuarios.asp) e outros que julgar necessário busque os números dos mercados de futuros de commodities no Brasil, para termos um panorama deste insipiente mercado.

27

5 – MECANISMOS DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

As transações entre os elos de uma cadeia produtiva pode ser a mais variada possível. Até o mais leigo em agronegócios consegue distingui o processo de comercialização que ocorre no mercado municipal e aquele efetivado no MC Donald`s. Entretanto, segundo Azevedo (2001), o problema reside na sua sistematização, e a Nova Economia Institucional surge com uma metodologia que busca solucionar esta problemática.

Para a NEI as transações diferem em termos de: incerteza, freqüência e especificidade dos ativos. Todas estas definições serão abordadas adiante nesta disciplina e são fundamental para a compreensão do agronegócio.

De acordo com Azevedo (2001) a característica da transação determinará o mecanismo de comercialização mais adequado. Portanto, a escolha do mecanismo de comercialização não é aleatória. O critério para a tomada de decisão é baseado na eficiência econômica e na competitividade de toda a cadeia produtiva.

5.1 – Transação de commodities

O termo commdity é pronunciado a todo momento e nas mais variadas mídias, principalmente nas especializadas em agronegócios. A minha perplexidade é que todos compreendem ao lerem o termo, mas ao serem indagados sobre: o que é commodity, surgem expressões a interrogação como a que faltou na pergunta (?). Para não acontecer com os senhores, futuros profissionais o agronegócio, apresentaremos a definição a baixo.

Segundo Azevedo (2001) a palavra commodity – mercadoria , em inglês – adquiriu um sentido mais amplo no jargão do comércio. Nem todas as mercadorias são commodities. Para que ela possa ser considerada uma commodity é necessário que atenda a pelo menos três requisitos: (a) padronização em um contexto de mercado internacional, (b) possibilidade de entrega nas datas acordadas entre comprador e vendedor e (c) possibilidade de armazenagem ou venda em unidades padronizadas.

Para os senhores compreenderem melhor o termo, vamos utilizar o exemplo das frutas, que não são commodities por que são perecíveis, não atendendo o requisito de armazenagem. No entanto, o suco de laranja concentrado e congelado, por permitir o armazenamento, é transacionado como uma commodity.

Outros tipos de produtos agropecuários, mesmo que não são perecíveis, como cigarros e roupas, não são commodities porque não são padronizados. Estes produtos apresentam qualidade mas buscam a diferenciação, assim se os consumidores reconhecê-los como tal estariam dispostos a pagar um plus para adquiri-los.

5.2 – Mercado Spot

A primeira vez que nos deparamos com esta expressão ficamos surpresos, mas quanto sabemos sua definição, nos perguntamos para que tanta frescura em colocar palavras do inglês para definições do agronegócio. Aviso os senhores que gostando ou não o agronegócio, assim como a administração, são recheados por termos de origem inglesa.

Segundo Azevedo (2001) a palavra spot – ponto, em inglês – é empregada para qualificar um tipo de mercado cujas transações se resolvem em um único instante de tempo.

28

Quanto vamos ao hipermercado e compramos uma dúzia de tangerinas, estamos realizando uma operação do tipo spot, pois a transação é resolvida naquele instante. De acordo com Azevedo (2001), no caso de commodities, é utilizado o termo mercado físico para designá-lo.

A facilidade em utilizar um exemplo de nossa experiência de compra para exemplificar o mercado spot, decorre do fato que a maior parte das operações à vista são feitas pelos consumidores finais. No caso das empresas, não acontece o mesmo, pois o volume e a freqüência fazem surgir novos mecanismo de comércio, portanto, entre empresas o mercado spot é esporádico.

O mercado spot de produtos agroindustriais além de ser esporádico apresenta uma elevada incerteza de preços. Para exemplificar, peguemos o caso do fornecimento de carne a um varejo. Buscando estabilizar as incertezas no fornecimento, o varejo muitas vezes exige um contrato de fornecimento a uma qualidade e preços especificados, pois se deixar as suas compras no mercado spot o varejo sofre muitas oscilações de preços e de qualidade da carne.

Na visão de Azevedo (2001) o mercado spot isoladamente não se mostra um mecanismo adequado para diversos tipos de transação. Dessa forma, aparecem outros mecanismos de comercialização para substituírem ou complementarem o mercado spot.

O mercado a termo certamente é um dos mais importantes mecanismos de estabilização da comercialização dos produtos agropecuários e será tratado no próximo tópico.

5.3 – Mercado a termo

No mercado a termo diferente do mercado à vista, tem como referência dois ou mais instantes de tempo, sendo amparado por relações contratuais entre comprador e vendedor. Segundo Azevedo (2001) as partes pactuam que alguns ou todos elementos da transação podem ocorre um tempo futuro. Este mercado tem grande flexibilidade para as partes exercerem suas exigências

O mesmo autor prossegue dizendo que dentre os muitos contratos celebrados no agronegócio, o denominado soja verde adquiriu notoriedade devido a falta de crédito agrícola, que contemplava a compra antecipada de soja pela agroindústrias, cooperativas ou corretores.

A soja verde estipula o preço e o produtor recebe antecipado os recursos financeiros para custear seus custos de produção, além de garantir ao sojicultor a venda do produto e, as indústrias compras planejadas.

O grande problema da soja verde são as quebras contratuais tanto por problemas aleatórios, inerentes à agricultura, quanto por atitudes oportunistas dos produtores, buscando ganhos em aumentos da soja. Um bom exemplo foi aumento dos preços da soja, devido a desoneração das exportações com alei Kandir. Para minimizar perdas pode-se colocar o produtor rural na condição de fiel depositário, que no caso de descumprimento pode acarretar na prisão pelo descumprimento da garantia contratual.

Um sitio que aborda com propriedade o mercado a termo e o de futuros é o do Banco do Brasil, no endereço www.agronegocio-e.com.br.

Para s situações que pode-se utilizar a figura do fiel depositários, criou-se a Cédula do Produtor Rural – CPR. De acordo com Azevedo (2001) trata-se de um contrato a termo alternativo com garantias que o contrato de soja verde necessitava, por ser avalizado por uma instituição financeira.

Além das características acima citadas, a CPR , é negociada em leilões eletrônicos, conferindo maior liquidez e transparência ao mercado, reduzindo os custos de transação. Entretanto, esbarra no auto custo de operação, devido a necessidade de aval.

29

Para compreender melhor a redução dos custos de transação é necessário aprofundar-se na Economia dos Custos de Transação que será abordado adiante, mas podemos antecipar que o quanto mais próximo um mercado for do perfeito, menores serão os custos de transação. Tal pressuposto é baseado na economia neoclássica e o seu mercado perfeito, onde todas as informações são simétricas, acessíveis a todos sem restrições e a um custo zero.

Portanto, como não existe perfeição na prática, quanto mais próximo do mercado perfeito aproximar, menor será os custos de transação. Um destes mercados é o mercado futuro, no Brasil temos a BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros, maiores informações no endereço www.bmf.com.br.

5.4 – Mercado de Futuros

No mercado futuro, diferente do a termo, as operações são padronizadas e simplificadas, não permitindo a inclusão de idiossincrasias, mesmo que o vendedor e o comprador assim desejem. Além disso, temos três especificações básicas: o período de entrega, o local e o objeto transacionado. Vale ressaltar que o objeto transacionado á somente as commodities e em lotes padrão.

O mercado de futuros negocia as opções, que negocia direitos de um determinado contrato futuro. A literatura sobre os mercados futuros e as opções são extensas, mas recomendamos o livro

Para Azevedo (2001) um característica do mercado de futuro, sua simplicidade, é responsável pelo sucesso deste, pois a padronização reduz os problemas informacionais e eliminas as especificidades da relação contratual. Temas este amplamente estudados pela Economia dos Custos de Tensação, que serão abordados adiante.

Segundo Azevedo (2001) a outra característica do mercado de futuros é o fato de menos de 3% dos contratos resultarem na entrega efetiva do bem, pois muitas vezes a operação é cancelada antes da entrega, por meio da compra de contrato idêntico ao anterior, o que permite a transferência do dever de entrega da mercadoria para quem esse último contrato foi comprado.

Vamos utilizar o exemplo de Azevedo (2001) para ilustrar a troca dos contratos. Um investidor havia vendido um contrato para a entrega de 10 bushels de milho, em Chicago, em agosto próximo. Quando a data da entrega se aproxima, esse investidor compra o contrato de um terceiro com as mesmas especificações do contrato original. Através desse expediente, ele cancela o seu primeiro contrato, transferindo o dever de entrega da quantidade especificada de milho – constante no primeiro contrato – para o comprador do segundo contrato. Este investidor que estava vendido, passou a estar comprado, invertendo posições e transferindo a obrigação a um terceiro.

A principal função do mercado de futuros é a redução do risco sistêmico que o agronegócio tem, devido as oscilações no preço e na quantidade ofertada, afetando a renda do produtor rural. Com a operação de Hedeg, via mercados futuros, o produto rural transfere o risco de sua atividade ao especulador, que é tomador de riscos por natureza.

Aproveitamos a oportunidade para desmistificar o papel do especulador, muitas vezes esta figura é execrado pela opinião pública, sendo confundido com a figura do intermediário. O especulador é benéfico para o mercado, pois dá liquidez e assume riscos, enquanto que o intermediário usa a arbitragem de preços e auferindo lucros. O primeiro agente melhora o funcionamento dos mercado e o segundo vive subtrair renda do produtor rural. Vale ressaltar que a classificação depende a transação que está ocorrendo, podendo a mesma pessoa ser em certas situações especulador e em outras atravessador.

Vou aproveitar para reforçar: o especulador é benéfico aos mercado pois assume riscos e dá liquidez a ele.

30

5.5 – HEDGING: Mecanismo contra o risco

Segundo Azevedo (2001) Hedging é mais uma palavra de origem inglesa que adquiriu um sentido específico na mercado. Trata-se de uma estratégia de redução de riscos, por meio de mercados futuros, que consiste na realização da operação que exatamente neutraliza a especulação implícita a um negócio qualquer. Vale ressaltar que o objetivo fundamental desta operação é a redução do risco e não o aumento da lucratividade.

Para iniciar a compreensão deste tema, exemplificaremos o caso de um pecuarista que faz uma gestão empresarial da sua propriedade rural, assim possui os custos fixos e variáveis da mesa. Este produtor pode fazer a compra de opções de venda a um preço preestabelecido na Bolsa de Mercadorias e Futuro, a quantidade negociada pode ser aquela necessária para pagar seus custos fixos e, deixando o restante do rebanho oscilar ao sabor do mercado.

Para complementar a compreensão do hedging, utilizaremos o exemplo citado por Azevedo (2001). Um exportador de farelo de soja que se compromete a entregar 500 toneladas do produto em dois meses. Para cumprir esse contrato, a empresa terá de comprar o produto e providenciar o embarque. Como esse processo toma tempo, existe o risco do preço do farelo subir antes do exportador adquirir o produto inteiramente. Se isso acontecer, o lucro esperado com a venda do farelo pode reduzir-se ou mesmo tonar-se prejuízo ao exportador. Para evitar esse risco, o exportador pode fazer hedging de sua operação. Sua ação no mercado oposta a de seu negócio. Consistiria na compra de um contrato para recebimento do farelo em aproximadamente dois meses a um preço fixo. Se uma notícia de escassez do produto provoca uma elevação de seu preço, o que o exportador perderia em seu negócio original seria ganho no contrato futuros adquiridos. Fazendo assim, o exportador evita a atividade especulativa, concentrando-se na exportação (core business).

Recentemente na capa da revista exame apareceu o dono do Friboi, um dos maiores exportadores de carne do Brasil, falou-se da trajetória do sucesso da sua empresa. Uma das medidas foi a contratação de Emílio Garofalo Filho, exdiretor de normas do Banco Central e um dos maiores especialistas do Brasil em câmbio. Esta atitude foi tomada pois segundo, Batista Júnior, dono do Friboi, as oscilações no dólar estavam prejudicando os resultados da empresa.

Por recomendação de Garofolo, o Friboi contratou 20 profissionais do mercado financeiro, instalou mesas de operações e passou a fazer hedge com contatos futuros de câmbio e de boi gordo na BM&F

O exemplo da Friboi demonstra a mudança de paradigma no agronegócio brasileiro, que para tornar-se competitivo em um contexto de mercados globais, necessitam lançar mão dos mecanismos de comercialização disponíveis no mercado.

Não podemos deixar de ressaltar o objetivo do Hedge, que segundo Azevedo (2001) é o da transferência do risco daqueles que procuram fugir dele, como o exportador, para aqueles que procuram o risco como uma fonte de lucro, como os especuladores.

Para Azevedo (2001) além de transferir riscos, o hedging mostra-se útil às empresas que se utilizam dele para facilitar o crédito. Dessa forma, uma empresa que realizou esta operação de hedging torna-se menos arrisca para os bancos e, estes por sua vez cobram menos da empresa em comparação a uma situação de ausência da operação de redução de riscos.

Percebemos que os mecanismos de comercialização acabam cumprindo um papel social, a medida em que são fornecedores de informações sobre preços de insumos importantes, que servem de base para a tomada de decisões das empresas. Assim eles balizam os mercados de longo prazo das commodities.

31

Para concluir este tópico, iremos abordar os dois tipos de hedging. Para Azevedo (2001) existe o hedging de venda – o curto – e o – hedging de compra – ou de longo.

No hedging de venda, o produtor de uma commodity protege-se de possíveis flutuações no preço de venda de sua mercadoria. Este é o caso do pecuarista e o do exportador de farelo de soja citados anteriormente.

No hedging de compra um potencial comprador da commodity faz um hedging para asseguras seu preço de compra. Por exemplo, uma cooperativa que use soja como matéria-prima de sua esmagadora. O caso do Friboi pode ser usado como exemplo desta modalidade.

5.5 – Mercado de futuros no Brasil

Teve seu início com a implantação da BMSP – Bolsa de Mercadorias de São Paulo no ano de 1917, tendo como principal atribuição a comercialização de contratos a termo ou spot e a classificação de produtos, posteriormente, em 1918, foi introduzida a negociação de contratos futuros.

De acordo com Azevedo (2001) esta primeira bolsa não obteve êxito, entretanto, o mercado exportados de café, em especial, ressentis de um mecanismo de proteção às variações de preço, levando o surgimento da BBF – Bolsa Brasileira de Futuros, em 1983, no Rio de Janeiro.

A BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros, foi fundada em 1985, em São Paulo, devido ao seu crescimento, ocorreu a sua fusão em 1991 com a BMSP. Posteriormente, em 1997, a BBF foi incorporada à BM&F, consolidando o mercado de futuros brasileiro, capacitando-o a uma inserção internacional, pois tornou-se uma das mais importantes em volume de negócios.

De acordo com Azevedo (2001) apesar do crescimento e da projeção internacional, a participação do mercado de futuros na comercialização de commodities é pequeno. Enquanto na bolsa de Chicago a transação com commodity representa 30% do total negociado, na BM&F esse volume é inferior a 1%.

Analisando este número dá para imaginar o potencial de crescimento do mercado futuro no Brasil. Esta baixa movimentação da Bolsa brasileira acarreta em baixa liquidez, com isso muitas empresas brasileiras operam diretamente com as bolsas americanas.

Os principais contratos da BM&F são: açúcar, álcool aniidro, algodão, boi gordo, café, milho e soja. Entretanto, o hedging das agroindústrias não se resumem aos contratos de commdities agrícolas, operam com contratos futuros de moedas e taxas de juros.

Atividade Você foi a uma palestra e verificou a importância dos mecanismos de comercialização de mercados futuros. Portanto, pesquise os procedimentos para efetuar tal operação, a modalidade pode ser soja verde, CPR ou bolsas de mercadorias e futuros. Ao final da pesquisa você terá que saber como é o procedimento para realizar o mecanismo de comercialização pesquisado.

32

6 – CONTRATOS DE LONGO PRAZO

O agronegócio utiliza os contratos como mecanismos de comercialização do seus produtos. Colocamos em tópico à parte devido a importância que a sua compreensão tem para o estudo desta disciplina. Citamos anteriormente que a NEI – Nova Economia Institucional e, uma de suas vertentes, a ECT – Economia dos Custos de Transação servem de arcabouço teórico dominante no estudo do agronegócio.

Estas vertentes econômicas consideram a firma como um nexo de contratos e a transações como trocas de direitos de propriedade entre os agentes. Assim, um dos mecanismos que sustentam as transações, são os contratos. Existe toda uma teoria econômica, denominada teoria dos contratos, que estudam os tipos de contratos. Nesta disciplina, não aprofundaremos tanto, somente apresentaremos alguns tipos de contratos usados pelas agroindústrias.

6.1 – Contratos de longo prazo

Os mercados futuros exigem certas características restritivas aos produtos que serão classificados como commodities. Como vimos anteriormente, muitos produtos agroindustriais não são commodities, inviabilizando sua operação em mercado de futuros.

Objetivando evitar alguns riscos associados ao mercado spot, outros mecanismos são utilizados para viabilizar a comercialização destes produtos. Os atributos utilizados para ponderar no momento da seleção do mecanismo de comercialização são: incerteza, frequencia e estrutura de informação e especificidade dos ativos. Todos eles serão aprofundados no tópico específico abordando a Economia dos Custos de Transação.

O mercado spot é um mecanismo de comercialização em que a incerteza é pequena – situação pouco provável no agronegócio -, a frequencia é baixa, as informações relevantes são facilmente observáveis e não há especificidade dos ativos.

Entretanto, tal conjunção de fatores é pouco comum nos produtos do agronegócio. Para exemplificar, podemos usar aquisição do leite in natura por parte dos laticínios que exige um contrato de longo prazo porque tanto a indústria quanto o produtor realizam investimentos significativos específicos a essa transação. O produtos faz estábulos, compra resfriadores vacas, enquanto que o laticínio, por sua vez, investe em instalações, máquinas e infraestrutura de distribuição. Neste caso o contrato de longo prazo com cláusulas restritivas de descumprimento das obrigações é o mecanismo de comercialização mais recomendado.

O que pode acontecer é que muitas vezes o contrato não é formal, não tendo cláusulas restritivas, o que dificulta a adoção de penalidades para o descumprimento, mas a ausência de formalidade não descaracterizam o longo prazo. Alguns contratos de longo prazo são muito importante, por exemplo, as franquias e as joint ventures, que serão analisados adiante.

6.2 – A regularidade no suprimento

Normalmente as agroindústrias fazem investimentos vultuosos e que necessitam de pagarem, ou seja, darem o retorno esperado, sendo que este dependerá do grau de utilização do capital investido. Por exemplo, uma esmagadora de soja não pode trabalhar utilizando 50% de sua capacidade, pois demorará mais tempo para pagar o capital investido.

Esta particularidade das plantas agroindustriais exigem a regularidade no suprimento de insumos, o que a ECT, denomina de frequencia. Quando os produtos são

33

perecíveis o problema é agravado, pois não há possibilidade de manter estoques reguladores. A indústria de suco de laranja tem poder sobre os produtores, pois ao industrializar a laranja, estabilizando o produto, consegue fazer estoques reguladores. No caso da pecuária, o pecuarista consegue manter o boi no pasto, portanto, se comparado ao citricultores, o pecuarista tem mais poder de barganha.

Neste contexto, o contrato de longo prazo pode oferecer garantias às partes de que o fornecimento das mercadorias se dará dentro dos padrões estipulados contratualmente.

Segundo Azevedo (2001) um dos mecanismo utilizados é o de sistema de cotas e excesso. O laticínio compra a cota dentro do preço acordado e o excedente a um preço menor. Com este mecanismo, o laticínio induz a regularidade o fornecimento de leite pelo produtor.

6.3 – A qualidade dos insumos

Em algumas cadeias produtivas a qualidade é mais importante que o preço, sendo este o caso dos cafés finos, de carnes de primeira, de algumas frutas in natura, entre outras.

A dificuldade que estes produtos é na informação desta qualidades ao consumidor final. Esta característica é denominada pela Economia dos custos de transação como os risco informacionais. Como o consumidor final está disposto a pagar mais pelo produto, o sucesso da cadeia de produtos de alta qualidade, depende da disponibilidade desta informação.

Segundo Azevedo (2001) os produtos podem ser de três tipos: bens de procura, bens de experiência e bens de crença. Sendo que para cada um deles, pode-se associar um ou mais mecanismo de comercialização, visando lidar melhor com os problemas transacionais derivados da disponibilidade de informação.

Com os bens de procura todas as informações relevantes para a transação estão disponíveis da celebração do acordo de troca. Dessa forma, não há problemas relacionado à falta de informação. Desta forma, as transações podem serem reguladas pelo mercado spot, não havendo necessidade de arranjos institucionais complexos. O mercado de commodities é o exemplo que mais se aproxima da comercialização de bens de procura, mas mesmo assim há incertezas em relação a condições de pagamentos.

Na maioria das vezes, entretanto, as informações a respeito dos produtos somente podem ser obtidas após a efetivação da transação ou, mais grave, após

o consumo dos produtos, característica estas dos bens de experiência. A compra de frutas, por exemplo, é complexa, envolvendo vários critérios – coloração, preço, textura, sabor.

Assim sendo, o mecanismo básico de garantia de qualidade em bens de experiência é a reputação. Ela pode surgir institucionalmente, mediante associações de produtores, que por meios de concursos, conferem atestados de padrão de qualidade. Esse é o caso das vinículas europeias e, mais recentemente, as vinículas brasileiras certificadas pela Embrapa.

Outra maneira de informar a qualidade aos clientes é por meios de uma marca, exigindo um relacionamento de longo prazo com os cliente e rigor na aquisição de insumos. Uma solução a este tipo de problema seria a integração vertical, em que a empresa se responsabiliza pela produção do insumo, o que garante certa qualidade. Entretanto, a integração vertical traz toca uma problemática amplamente discutida pela literatura de administração de empresas, mais precisamente a de estratégia.

Finalmente, há casos em que as informações e seus problemas são ainda maiores, caracterizando-se como bens de crença. Neste bens, as inofrmações não são obtidas nem após o consumo do produto.

34

O principal exemplo são as carnes bovinas que são exportadas aos países muçulmanos e que devem serem abatidos posicionados à Meca, conforme o ritual por eles exigido. Entretanto, nem o mais experiente dos religiosos mulçumanos podem averiguar essa informação. Em suma, o produto não diz nada. É necessário observar o processo.

Segundo Azevedo (2001) quanto maior o problema de mensuração das informações relevantes, maior é o espaço reservado ao arranjo institucional. Nos agronegócios usam-se três tipos de arranjos: a integração vertical, contratos de longo prazo e a certificação por auditoria externa de elevada reputação.

Atividade: Pesquise no sitio do grupo de pesquisa da USP, o PENSA (www.pensa.org.br), material que aborde as transações no agronegócio que são suportadas por contratos de longo prazo. Para nortear suas pesquisas, sã exemplos de contratos de longo prazo: franquias, joint ventures, etc. Comente o que você encontrou e teça comentários em no máximo 40 linhas.

35

7- A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL E A ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO NO AMBIENTE DO AGRONEGÓCIO

7.1 As instituições, o desenvolvimento econômico e a competitividade do agronegócio

O desenvolvimento econômico teve seu estudo baseado na melhor alocação e distribuição dos recursos, ou seja, na geração, aumento e distribuição das rendas. Com o trabalho do professor Douglas North, prêmio Nobel de 1993, a economia começou valorizar o papel das instituições no desenvolvimento econômico, a medida em que previam regras claras e estáveis aos empreendimentos. Com este novo contexto, desenvolvimento econômico passou a ser entendido como função de sociedades com instituições fortes, regras do jogo claras e judiciário forte.

Nos primórdios do capitalismo havia o escambo, sistema pelo qual as pessoas satisfaziam suas necessidades trocando mercadorias que possuíam por outras que desejavam e não detinham. Esta dinâmica econômica tinha s seguinte premissa: os agentes envolvidos trocavam coisas de igual valor, assim, se um produtor trocava uma rês por dois sacos de milho, para estes, os envolvidos na troca, as mercadorias tinham o mesmo valor.

Com o desenvolvimento do capitalismo e o surgimento da moeda, veio à cena o lucro, e com este, surgiu a desigualdade entre os agentes envolvidos em uma transação e nos valores dos produtos transacionados, assim, o negociante mais perspicaz obteria mais moeda e a usava-a como reserva de valor.

O lucro trouxe a concentração de capital e a desigualdade entre os homens. Buscando justificá-lo, Adam Smith, em sua obra “A Riqueza das Nações” defendeu que o lucro traria benefícios, pois seriam distribuídos, aumentando o desenvolvimento econômico de um dado País. Esta hipótese inseriu a questão da geração e distribuição das riquezas no debate econômico.

Desde então a produção e distribuição da renda dominou o debate econômico. No Brasil, tal visão foi muito bem sintetizada na frase do professor e ministro da economia, Delfim Neto – vamos crescer o bolo para depois reparti-lo. Entretanto, em meados da década de 90, alguns economistas decidiram ampliar o debate, passando a considerar as instituições no desenvolvimento econômico. Atualmente, na agenda do estado, o debate é baseado no desenvolvimento econômico, na redução do desemprego e das desigualdades sociais. Fala-se que a inteligência econômica divide-se entre os desenvolvimentistas, de um lado, e os liberais, de outro.

A NEI trouxe para a discussão econômica a importância das instituições na economia de um País. Nesta visão, os países prosperam quando seus governantes se guiam por duas preocupações fundamentais: garantir a competição entre as empresas e o fortalecimento das instituições.

Para termos uma economia sólida e competitiva, necessitamos: regras claras, menos burocracia, respeito a propriedade privada e maior participação das instituições representativas dos setores das sociedades.

Esta nova visão reforça a importância das instituições, tais como Sindicatos, Associações de classe, Universidades, Ministério público e demais instituições, no fomento do debate econômico, visando a defesa da propriedade rural privada, o respeito aos contratos que sustentam as trocas entre os agentes e na proposição de regulamentações que reduzam o custos de produção.

Acreditamos ser primordial para o desenvolvimento econômico e para a competitividade do agronegócio o fortalecimento das instituições, pois países que tem

36

uma forte cultura institucional têm melhor qualidade de vida, taxas de juros menores e menores custos de produção.

Portanto, o aumento da competitividade do agronegócio brasileiro, passa pelo fortalecimento das sua instituições representativas. Entretanto, vale lembrar, que esse processo exigirá maior participação dos agentes, mais transparência nas relações e uma postura institucional pró-ativa em defesa dos interesses da classe produtora, geradora de emprego e divisas para o Brasil.

7.2 – O surgimento da Economia dos Custos de Transação

Primeiramente discutiremos o surgimento, a evolução e expoentes da ECT, além de traçar um paralelo entre ela e o paradigma neoclássico. Na seqüência, definiremos custos de transação e os pressupostos fundamentais da Economia dos custos de Transação.

Inicialmente a teoria economia analisava somente os custos de produção das empresas, esquecendo, de certa forma, os custos associados às transações. A empresa era vista como uma função de produção, ou seja, uma entidade maximizadora de recursos.

Conforme Ziybersztajn (1995), a economia neoclássica via a firma como uma entidade otimizadora, negligenciando a sua estrutura interna e os condicionantes do ambiente, com exceção dos preços. Para esta vertente, os consumidores sempre faziam escolhas racionais, além disso, considerava-se que os consumidores poderiam decodificar todas as informações a respeito dos atributos dos bens sem maiores dificuldades. Também acreditava-se que o leiloeiro poderia resolver o problema de equilíbrio dos mercados a custo zero.

Esta visão neoclássica apresentou deficiências, isso fica evidente no comentário elucidativo de Ziybersztajn (1995): “a análise neo-clássica ocorre em um ambiente estéril, onde assume-se a inexistência de custos associados ao funcionamento da economia, tal como Arrow define custos de transação, superestimando assim o papel dos preços como alocador dos recursos e negligenciando os fatores institucionais”

O artigo Ronald Coase em 1937, intitulado The Nature of the Firm, foi o marco inicial de ruptura com o paradigma neo-clássico. Neste estudo Coase (1937) buscou aproximar a empresa do mundo real, afastando-a da visão estéril neoclássica, que era distante da realidade empírica. Neste artigo Coase (1937) indaga, “porque toda a produção não é realizada em uma só firma?” Esta questão é colocada dentro do contexto de que o mecanismo de preços não funciona como um coordenador perfeito, ou pelo menos só o faz em situações raras (Ziybersztajn, 1995).

As contribuições relevantes de Coase não se resume a este artigo, pois com o artigo publicado em 1960, denominado The Problem of Social Cost, consolidou os efeitos do seu estudo pioneiro, incorporando à economia a necessidade de questões ligadas aos direitos de propriedade.

Furquim (1996, p.12 ), citando Coase (1937), coloca que a firma não seria somente um espaço para a transformação de produtos, mas também um espaço para a coordenação das ações dos agentes alternativo ao mercado. A visão da firma como um caixa preta, otimizadora de recursos, é substituída pela visão de local coordenador de ações e estratégias. Coase (1937) analisa seu questionamento, com a lógica que há custos associados ao sistema de preços, assim a firma surge para minimizar tais custos do sistema de preços.

Segundo Furquim (1996) o trabalho de Coase ficou à margem da teoria econômica ao longo de trinta anos que se seguiram à sua publicação. Esta inércia deveu-se a predominância do pensamento econômico e, uma idéia radical, certamente enfrentaria dificuldades para a reversão do pensamento econômico dominante. O mesmo

37

autor, define esta situação de Path Dependency, em que a rotina de pesquisa e os custos de formação de pessoal na doutrina dominante condicionam, em que parte, o desenvolvimento futuro da pesquisa. O mesmo autor, segue a sua reflexão adicionando mais um fator responsável pelo período de latência do trabalho de Coase - as próprias deficiências do trabalho.

Apesar do artigo de Coase (1937) apresentar marco inicial da economia dos custos de transação, alguns autores já haviam considerado os aspectos institucionais envolvidos nas atividades empresariais. Alguns autores no percurso evolutivo da ciência econômica, consideraram relevantes as instituições nos seus modelos explicativos de funcionamento da economia (Ziybersztajn, 1995). Estes autores são denominados de institucionalistas, que ficaram à margem da teoria econômica neo-clássica, mas influenciaram as teoria organizacionais e as que relacionam empresas ao ambientes.

Para Ziybersztajn (1995), recentemente começou a haver uma convergência dos institucionalistas e a teoria econômica, através de autores ligados a nova economia institucional, com destaque para as obra de Oliver Willianson, que foram na seqüência das obras de Ronald Coase e do trabalho de Douglas North.

Os institucionalismo tradicional na visão de Ziybersztajn (1995) tem pouco a ver com a Nova Economia das Instituições. Esta tese é reforçada pelo artigo de Willianson (1993, p.3) que apresenta críticas ao institucionalismo tradicional, que na sua visão era um enfoque meramente prescritivo e não cumulativo.

Segundo Ziybersztajn (1995) o objetivo fundamental da Nova Economia Institucional, também denominada Economia dos Custos de Transação é o de estudar o custo das transações como indutor dos modos alternativos da produção (governança). A sua unidade de análise é a transação, onde são negociados os direitos de propriedade.

Em seu trabalho, Coase coloca que a empresa é um nexo de contratos. Segundo Willianson (1985), este nexo de contratos tem algum tipo de governança (gestão) e a forma como esta é feita, varia desde mercados (sistema de preços) até integração vertical (Neves, 1999). Se a firma pode ser vista como “um nexo de contratos” e se o comportamento otimizador dos agentes econômicos for mantido nos mesmos moldes considerados pela economia neo-clássica, pode ser explicado o arranjo produtivo via firma, via mercado ou formas mistas, a partir da busca da minimização dos custos de transação.

O comportamento otimizador dos agentes é demonstrado no dizer de Fama (1980, p.289): “more recently the economics literature has moved toward theories that also reject the classical model of the firm but assume clasical forms of behavior on the part of participants in the firm”. Este comportamento racional dos agentes membros da firma é motivado por interesse próprio, gerando a necessidade de contratos que estabilizem os direitos de propriedade.

Para Fama (2003) os artigos de Alchain e Demsetz (1972) e de Jensen e Mecking (1976) são exemplos desta visão, além dos trabalhos de Coase (1937, 1960) que foram antecedentes a esses trabalhos. Da discussão dos direitos de propriedade e o comportamento racional dos agentes, gerará a vertente denominada Teoria de Agency.

Willianson (1993) considera uma ficção os custos de transação igual a zero e, os arranjos institucionais de governança são uma resposta minimizadora dos custos de transação e de produção inerentes as empresas.

7.3 – Definindo os Custos de Transação:

Willianson (1993) define custos de transação como: “ os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações que resultam quando a execução de um contrato é afetada

38

por falhas, erros, omissões e alterações inesperadas. Em suma são os custos de conduzir o sistema econômico”.

Arrow (1969), citado por Willianson (1985) faz uma interessante analogia com o atrito da física, indicando que os custos de transação são os custos de rodar o sistema econômico. Em síntese, a firma é um acordo entre os atores especializados visando economizar nos custos de transação (Neves, 1999).

Werin (1998) define como “custos de organizar a interpretação entre as pessoas”. Ganesan (1994) define como os “custos de atingir um acordo satisfatório para as duas partes, adaptar o acordo a contingências futuras, e garantir o cumprimento dos seus termos”(Neves, 1999).

Para Fiani (2002) a teoria dos custos de transação elimina a simetria de informações da economia neo-clássica, e elabora um conjunto de hipóteses que tornam os custos de transações significativos.

Essas hipóteses determinam a existência de custos significativos, sendo que, alguns autores como Ziybersztajn (1995) as denomina de pressupostos fundamentais da Economia dos Custos de Transação.

Hobbs (1996), citado por Neves (199), define-as como os pilares da ECT, que são: a racionalidade limitada, a informação assimétrica, a especificidade dos ativos e o oportunismo.

7.4 – Pressupostos que fundamentam a análise dos Custos de Transação:

Segundo Ziybersztajn (1995, p.16) o pressuposto básico da ECT é a existência de custos na utilização do sistema de preços e na condução dos contratos dentro da firma. Dentro desse contexto, não somente os contratos efetuados via mercado são importantes, mas também àqueles contratos intrafirmas. O segundo pressuposto é o de que as transações ocorrem em um ambiente institucional estruturado e que as instituições não são neutras.

Ziybersztajn (1995, p.17) afirma que para a compreensão da ECT dois pressupostos comportamentais são de suma importância: a racionalidade limitada e o oportunismo.

7.5 – Pressupostos Comportamentais: 7.5.1 - Racionalidade Limitada

Esta visão do comportamento humano foi desenvolvida por Hebert Simon, que

considera que o comportamento mesmo sendo racional, apresenta limitações, sendo que essas limitações têm origem na capacidade humana de acumular e processar informações.

A partir de Simon, a Economia, desde sempre definida como a ciência da escassez, pôde incorporar a escassez da capacidade de absorver e processar as informações (Azevedo, 1996, p. 19).

Para Ziybersztajn (1995, p. 17) a racionalidade limitada está em consonância com o comportamento otimizador, ou seja, o homem apesar de desejar otimizar, entretanto não o consegue. Dessa forma, mesmo desejando ser otimizador, só o consegue de maneira limitada.

Williamsom (1993, p. )define a racionalidade limitada como: “Racionalidade limitada refere-se ao comportamento que pretende ser racional

mas consegue sê-lo apenas de forma limitada. Resulta da condição de competência cognitiva limitada de receber, estocar, recuperar e processar a informação. Todos os contratos complexos são inevitavelmente incompletos devido à racionalidade limitada”.

39

As racionalidade limitada é tratada na economia dos custos de transação pelo enfoque da dificuldade de os indivíduos têm em prever todas as situações futuras em uma transação. Assim, por mais que se adquiram informações e os melhores especialistas para analisar determinada situação, será impossível prever de antemão todas as situações, condicionantes e cenários, gerando situações imprevisíveis. Esta complexidade e incerteza das situações futuras acentuam a importância deste conceito. A racionalidade limitada não teria qualquer interesse analítico se o meio ambiente onde se processam as decisões fosse absolutamente previsível e simples ( Fiani, 2002, p. 269).

Para Ziybersztajn (1995, p. 17) o conceito de racionalidade limitada leva à compreensão da importância dos atributos ex-post, característicos das relações contratuais. Gerando, como principal problema a emergência do comportamento oportunista por alguma das partes envolvidas na relação. Além disso, racionalidade limitada, complexidade e incerteza geram as assimetrias de informação que condicionaram o aparecimento dos custos de agency tratados adiante neste estudo.

7.5.2 - Oportunismo

Este é outro pressuposto comportamental resultante da ação de indivíduos na

busca do seu auto-interesse, partindo do princípio de jogo não cooperativo, onde a informação que um agente possa ter sobre a realidade não acessível a outro agente, pode permitir que o primeiro desfrute de algum benefício do tipo monopolístico ( Ziybersztajn, 1995, p.18 ).

Williamson (1985, p. 234) define oportunismo como a busca do auto-interesse com avidez, que para Ziybersztajn (1995, p. 18) traz à tona uma conotação ética comportamental dos indivíduos. Por oportunismo, entende-se a transmissão de informação seletiva, distorcida, e promessas “autodesacretitadas” (self-disbelieved) sobre o comportamento futuro do agente, isto é, o agente em questão estabelece compromissos que ele mesmo sabe, a priori, que não irá cumprir (Fiani, 2002, p. 270).

Segundo Fiani (2002, p. 270) o conceito de oportunismo da teoria dos custos de transação possui um sentido diverso daquele que se utiliza no linguajar corrente, em que um comportamento “oportunista” é muitas vezes definido como habilidade por parte de um agente de identificar e explorar as possibilidades de ganho oferecido pelo ambiente. Este oportunismo não é o sentido dado pela teoria dos custos de transação. O oportunismo da economia dos custos de transação está associado à manipulação de assimetrias de informação, visando a apropriação de lucros.

A teoria dos custos de transação assume que os indivíduos podem agir oportunisticamente, entretanto, não o fazem sempre, mas o risco de ocorrer está presente em todas as transações (Neves, 1999; Ziybersztajn,1995). O risco de uma ação oportunista expõem os contratos a ações que demandam monitoramento

Dado que o monitoramento ou a inclusão de salvaguardas contratuais não ocorre sem um custo, a racionalidade limitada e o oportunismo estão associados a esses custos (Ziybersztajn (1995, p. 18). A necessidade de monitoramento, salvaguardas e incentivos nas transações e nos contratos é discutida na teoria de agency que abordaremos no decorrer deste estudo.

7.5.3 - Assimetria de informações

A compreensão do tratamento dado às informações é fundamental para a compreensão da Economia dos Custos de Transação. Azevedo (1996, p.) denomina a Economia da informação, a vertente que alterou a visão ortodoxa sobre a informação. Este autor prossegue seu comentário, colocando que este novo paradigma gerou a Teoria

40

dos Contratos, tais como a Moral Hazard e a de Agency, que ajudarão à compreensão deste estudo.

A assimetria da informação trouxe uma nova compreensão do ambiente econômico, visto que até então, a economia considerava em seus estudos a simetria das informações, ou seja, as informações eram acessíveis a todos a um custo zero. Segundo Neves (1999, p. 79), citando Hobbs (1996) a economia dos custos de transação permitiu o relaxamento da premissa da teoria neoclássica de informação perfeita.

Assim sendo, Fiani (2002, p. 270) define assimetria de informação: “racionalidade limitada, complexidade e incerteza têm como consequência gerarem assimetrias de informação... Assimetrias de informação nada mais são do que diferenças nas informações que as partes envolvidas em uma transação possuem, particularmente quando essa diferença afeta o resultado final”.

Neves (1999, p. 79) afirma que a informação assimétrica pode levar ao oportunismo em duas formas: ex-ante, denominado seleção adversa (“adverse selection”) e a forma ex-post, chamada de risco moral (“moral hazard”).

O mesmo autor, citando Dnes (1996), afirma que o risco moral ocorre quando uma ou mais partes envolvidas no contrato (transação) toma comportamento oportunista devido ao desbalanço na informação entre as partes. Esta situação é um dos indutores dos custos de agency, pois o comportamento oportunista do agente em relação aos interesses do principal é facilitado pela assimetria de informações entre ambos.

Ainda Neves (1999, p. 80) cita que as principais estratégias para minimizar seus efeitos são pagar pela informação os custos necessários para se reduzir o desbalanço (aumentar o monitoramento), e oferecer incentivos econômicos para estimular comportamentos esperados em condições de simetria de informações.

Vale ressaltar que os pressupostos relacionados a transação, que são a frequencia, o risco e a especificidade dos ativos foi abordado juntamente com os contratos de longo prazo no tópico anterior, sendo que neste tópico analisamos os pressupostos comportamentais.

A combinação dos pressupostos comportamentais e os relacionados as transações é que determinaram as estruturas de governança mais adequada a transação específica, tema este abordado na tese de livre-docência do professor Décios Ziberztanj, que recomendo a quem desejar aprofundar no tema

Atividade: Faça um texto de no máximo 4 laudas que aborde a sua nova visão do agronegócio após passar por todos os tópicos desta disciplina, pois certamente sua visão sobre o assunto alterou-se. Portanto, escreva como era sua visão sobre o agronegócio antes e como é hoje. Vale ressaltar que o senhor pode usar a primeira atividade desenvolvida como referência básica.

41

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

AZEVEDO, Paulo Furquim. Integração Vertical e Barganha. São Paulo: USP, 1996. 226 p. Tese (Doutorado em Economia) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. ARAÚJO, M.J. Fundamentos de Agronegócios. São Paulo: Editora Atlas, 2003. BATALHA, M. O . Gestão Agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2001. GRAZIANO DA SILVA, J. O novo rural brasileiro. Campinas: Editora Unicamp, 1999. _____________. Velhos e novos mitos do rural brasileiro. Revista Estudos Avançados. São Paulo: USP, 2001. nº 43. HADDAD, P. R. (org). A competitividade do agronegócio e o desenvolvimento regional no Brasil: estudo de clusters. Brasília: CNPq/Embrapa, 1999. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas históricas do Brasil. volume 3 - Rio de Janeiro: IBGE, 1987. Disponível em: www.ibge.gov.br. (capturado em 14 de junho de 2005) MEGIDO, J.L. T; XAVIER, C. Marketing & Agribusiness. São Paulo: Atlas, 1998. MORVAN, Y. Filière de Production, in fondaments d’economie industrielle. Econômica. pp. 199-231, 1985. ONU - FAO/INCRA. Perfil da Agricultura Familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília: FAO/INCRA, 1996. _________. Novo Retrato da Agricultura Familiar – O Brasil redescoberto. Brasília: ONU – FAO/INCRA, 2000. Disponível em: www.incra.gov.br/fao. (capturado em 28 de outubro de 2005). _________. Análise diagnóstico de sistemas agrários. Brasília: FAO/INCRA, 1999. Disponível em: www.desenvolvimento.gov.br/FAO/INCRA/. (capturado em 11 de fevereiro de 2005) PORTER, M. Estratégia Competitiva – Técnicas para Analises de Industrias e da concorrência. São Paulo, 2001. Editora Campus. STEFANELO, E. L. Agronegócio Brasileiro: propostas e tendências. Revista FAE BUSINESS, n.3, set. 2002. pp. 10-13. TOCANTINS (Estado). Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente (SEPLAN). Anuário Estatístico do Tocantins. Palmas, 2004. Disponível em: www.seplan.to.gov.br. (capturado em 12 de março de 2005) ZYLBERSZTAJN, D, NEVES, M. F (org). Economia e gestão de negócios agroalimentares: industria de alimentos, industria de insumos, produção agropecuária e distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000.

42

_____________. Conceitos Gerais, Evolução e Apresentação do sistema agroindustrial. In: ZYLBERSZTAJN, D, NEVES, M. F (org). Economia e gestão de negócios agroalimentares: industria de alimentos, indústria de insumos, produção agropecuária e distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000. pp. 1-22.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Agribusiness Cooperativo: Economia, Doutrina e Estratégias de Gestão (Dissertação). Piracicaba: USP/ESALQ, 1994. NEVES, M. F. Um Modelo para Planejamento de Canais de Distribuição no Setor de Alimentos. São Paulo: USP, 1999. 297p. Tese (Doutorado em Administração) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade PINAZZA, Luiz Antônio; ALIMANDRO, Regis (org). MEGIDO, José Luiz Tejon... Et al. Reestruturação Agribisiness Brasileiro. Rio de Janeiro: ABAG, 1999, 280P. ZYLBERSZTAJN, Décio. Estruturas de Governança e Coordenação do Agribusiness: uma aplicação da Nova Economia das Instituições. São Paulo: USP, 1995. 238p. Tese (Livre Docência) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. OUTRAS FONTES: Revistas Especializadas, Revistas, Jornais, Periódicos, sitios e Outros.

43

TEXTO COMPLEMETAR Caros alunos,

Aqui vai uma publicação do PENSA, sobre um dos temas mais importantes que abordamos: a assimetria de informações. Este e outros podem ser encontrados no sitio do PENSA, que já passamos o endereço. Lá vocês poderão se aprofundar muito mais no tema.

Boa Leitura!

Assimetria Informacional no Mercado de Alimentos Orgânicos Christiane Leles Rezende

Elizabeth Maria Mercier Querido Farina

Abstract The market for organic food products has grown 10% a year in Brazil in the last decade, following the same trend observed in the United States and European Union. Concerned with food safety, consumers all over the world are willing to pay premium prices for “natural food” that is supposed to be free from chemical products and other sources of contamination. However, recent research has shown that organic products have a higher probability of being contaminated by E.coli and salmonella. “Organic food” can be analyzed as a particular food standard. Grades and standards can pertain to outcomes or processes related to: (1) quality (2) safety (e.g., pesticide or artificial hormone residue, microbial presence), (3) "authenticity" (guarantee of geographical origin or use of a traditional process); and (4) the “goodness of the production process” (e.g. with respect to worker health and safety, or to environmental contamination). This paper addresses the issue of managing and signaling a particular food standard, in a weak regulatory environment. Departing from the assumption that the consumer of organic products are looking for safety

1, the research intends to identify the governance structures adopted by

retailers, industries and farmers to guarantee the authenticity and reliability of their products, in order to receive premium prices and preserve their reputation. Brazilian products for export, such as soybean, are certified by internationally recognized institutions. However, in the internal market the certification is less controlled. Some products have been “certified” by their own processors or producers and governmental healthy authorities are not effective in controlling different sources of contamination. As a result, the still growing market for organics may be threatened by a loss of reputation if contamination spreads. How to preserve reputation and premium prices in this weakly regulated environment is a real challenge, especially for fresh products. The research investigates if organic products suppliers are aware of the threat and how they are managing supply and distribution chain to guarantee their competitive advantage.

44

Introdução

Com o desenvolvimento de novas tecnologias visando o acréscimo da produção de alimentos e a redução dos custos de produção, diversos recursos foram aplicados à agropecuária, como o uso maciço de defensivos agrícolas, adubos, hormônios e melhoramento genético. Mas, com o passar do tempo, ficaram evidentes os efeitos colaterais deste processo, como a contaminação do meio ambiente e a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, criando insegurança entre os consumidores mais bem informados. Este quadro foi agravado com os primeiros casos do mal de Creutzfeldt-Jakob, forma humana da doença da vaca louca na Europa e a comercialização de organismos geneticamente modificados, e o temor do consumidor transformou-se em disposição a pagar pelo atributo garantia de segurança do alimento. Nesse contexto, os alimentos orgânicos ganharam impulso e mercado.

Fundamentada em práticas de produção que dispensam agrotóxicos e adubos de fácil solubilidade, a agricultura orgânica visa, entre outros objetivos, a produção de alimentos isentos de qualquer tipo de contaminação. Mas estas características são intrínsecas ao produto e ao processo produtivo, não podendo ser diretamente observadas pelo consumidor a baixo custo. Surge, então, problemas de assimetria de informação entre consumidores e produtores.

O objetivo deste trabalho é discutir os instrumentos de coordenação da cadeia que garantam dois pontos: primeiro que o alimento é realmente orgânico, e segundo, que o mesmo não contem contaminação química nem microbiológica, sendo um alimento seguro.

Parte-se da hipótese de que o consumidor que compra produtos orgânicos, mais caros do que os produtos convencionais, o faz porque acredita que são livres de contaminação. Tal hipótese será posteriormente testada por meio de uma pesquisa empírica junto a consumidores de produtos orgânicos orientada pela teoria de demanda por atributos de Lancaster , com dados tratados por Conjoint Analysis

3(Spers, 1998).

Tomando como pressuposto que o principal motivo do consumo de orgânicos está associado à busca do alimento seguro, procura-se identificar os possíveis riscos que o consumidor pode estar exposto por falhas de coordenação e controle em algum ponto da cadeia produtiva. Para os produtos comercializados e consumidos essas falhas são particularmente importantes.

Os certificados emitidos por organizações credenciadas nacional ou internacionalmente podem garantir que os produtos adquiridos são genuinamente orgânicos. No entanto, tais certificados não garantem que os mesmos produtos estão livres de qualquer contaminação química ou biológica ao longo da cadeia produtiva de acordo com as expectativas do consumidor. Sendo assim, pretende-se identificar os pontos críticos passíveis de contaminação e como são monitorados e controlados ofertantes de produtos orgânicos. Para tanto, servimo-nos da literatura internacional, embora o foco do presente estudo seja o mercado doméstico.

A análise dos instrumentos de coordenação terá como arcabouço teórico a Nova Economia Institucional, especialmente a Economia de Custos de Transação, uma vez que se pode definir o problema como um problema contratual, onde existe assimetria de informação que aumenta custos de transação decorrentes de racionalidade limitada dos agentes, e oportunismo. Dentro do que prescreve o quadro analítico da NEI, o ambiente institucional pode contribuir para o aumento dos custos de transação, na medida em que não oferece instituições capazes de garantir os contratos, formais ou informais, sobre os quais se sustenta o sistema agroindustrial de produtos orgânicos.

Este paper se trata de parte de pesquisa em andamento, que será aprofundada com uma pesquisa empírica identificando a percepção que o consumidor tem de

45

orgânicos e entrevistas com agentes da cadeia. Assumimos como pressuposto que o consumidor de orgânicos busca por um alimento seguro.

2. Agricultura orgânica e a segurança dos alimentos orgânicos

Pesquisa realizada por Baker(1998) com consumidores, cujas as escolhas refletiam preço, nível de defeitos do produto, diferentes níveis de pesticidas utilizados (associados ao risco de câncer) e programas de certificação, encontrou resultados indicando que consumidores tem um forte desejo de consumir alimentos seguros e estão dispostos a pagar um diferencial de preço por isto.

A consciência sobre os problemas ambientais provocados pelos sistemas convencionais de produção de alimentos teve origem na Europa e Estados Unidos no início da década de 20, e segundo Ehlers (1996), baseavam-se em quatro vertentes, com o nome genérico de Agricultura Alternativa. Na Europa, em 1924, surgiu a agricultura biodinâmica primeiramente na Alemanha por Rudolph Steiner, pregando a interação entre a produção animal e vegetal, preparados biodinâmicos, substancias minerais e vegetais, adubação verde, consorciamento de culturas, culturas mistas cereais, ervas medicinais e forrageiras. Os princípios da agricultura orgânica foram desenvolvidos a partir de 1925 na Inglaterra, consistindo na adoção de um sistema de produção, envolvido com a relação solo, planta, ambiente ordenada por princípios de respeito aos recursos naturais e consumidores. Estes princípios foram disseminados nos Estados Unidos na década de 40.

O elo comum entre as vertentes é o objetivo de desenvolver uma agricultura ecologicamente equilibrada e socialmente justa, além de economicamente viável.

As principais características da agricultura orgânica são: a) proteção da fertilidade do solo no longo prazo, devido à manutenção dos níveis de matéria orgânica e promoção da atividade biológica; b)fornecimento de nutrientes para a cultura de modo indireto, que serão disponibilizados as plantas após a ação dos microrganismos; c)controle de ervas, pragas e doenças com base na rotação de culturas, adubação orgânica, diversidade, predadores naturais e uso de variedades resistentes, sendo a intervenção química ou biológica é mínima ou nula.

O termo orgânico é melhor compreendido quando se visualiza o conceito da unidade produtiva como um organismo, onde todos os componentes (o solo, os minerais, os microorganismos, a matéria orgânica, os insetos, as plantas, animais e homens) interagem para criar um todo coerente (LAMPKIN, 1994, citado por SOUZA, 1998). O principal objetivo é criar sistemas de produção agrícola sustentáveis e integrados sob os aspectos ambientais, econômicos e humanos que maximizem o nexo de dependência dos recursos renováveis originados na fazenda e o manejo de processos biológicos, ecológicos e suas interações, de modo a fornecer níveis aceitáveis de nutrição humana, vegetal e animal, proteção contra pragas e doenças e retorno apropriado para os recursos humanos e outros recursos empregados no processo produtivo (SOUZA, 1998).

No entanto, a informação sobre os vários atributos de qualidade dos alimentos é imperfeita para os consumidores, produtores e pesquisadores, e isto é particularmente verdade quando patógenos microbiológicos estão envolvidos. Estes patógenos não são facilmente detectados no processo produtivo, e seus efeitos na saúde do consumidor são, na maioria das vezes, de difícil identificação após o consumo, por se tratar de sintomas relacionados a muitas doenças. A pessoa contaminada com coliformes fecais geralmente apresenta como quadro clínico, diarréia, mal estar, cólicas, com ou sem febre. Segundo uma pesquisa realizada por John Hillman, diretor do Scottish Crop Research Institute, University of Edinburg, os alimentos orgânicos tem alta probabilidade de estarem contaminados com bactérias E. coli e salmonela, devido ao uso de fertilizantes naturais (The Times, 02/02/2000).

46

No processo de produção, os alimentos oriundos da agricultura orgânica são mais suscetíveis a contaminação microbiológica do que os convencionais, por usar em grande escala a adubação orgânica, de origem animal. O ambiente úmido associado com a utilização de adubos orgânicos, constituídos de fezes provenientes de vários animais, favorece as contaminações destes alimentos, ao contrário do que ocorre com a adubação química granulada ou em pó. Freqüentemente estão presentes em fezes de animais, bactérias do grupo de coliformes fecais, dentre elas as principais são Escherichia coli e Salmonella sp que podem provocar surtos de toxinfecção alimentar quando atingem quantidades elevadas nos alimentos. É sabido que um grande número de enfermidades entéricas são transmitidas através de hortaliças contaminadas. A contaminação fecal de hortaliças, principalmente daquelas que são ingeridas “in natura”, constitui o fator de maior relevância na epidemiologia das enteroparasitoses (SILVA Jr. 1995).

Segundo um trabalho desenvolvido pela Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, em 1997, em 94,4 % dos casos de contaminação microbiana ou química, a matéria prima estava contaminada antes do preparo, ou seja, a contaminação ocorreu na fase de produção (plantio, ordenha, abate, produção de ovos, pesca e outras). Aparentemente o primeiro tipo de contaminação vem na própria semente, que durante a sua produção pode ter sido contaminada com coliformes fecais (National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods,1999). São potenciais fontes de contaminação no campo: a água, a manipulação incorreta do adubo orgânico, contato com outros animais e inadequados hábitos de higiene do trabalhador.

Para controlar o risco de contaminação, empresas estão sendo encorajadas a implantar um programa de Análise de Risco e Controle dos Pontos Críticos (Hazard Analysis Critical Control Point- HACCP) para identificar os pontos passíveis de ocorrência de contaminação. Uma vez identificados esses pontos, é possível, prevenir, reduzir ou eliminar riscos. Um teste microbiológico identificaria sinais de contaminação durante o processo de produção e não somente no produto quando estivesse pronto para o consumo (SWANSON e ANDERSON, 2000). Por exemplo, um teste microbiológico rotineiro na água a ser utilizada.

3. Panorama Internacional

O mercado de orgânicos já é considerado um dos ramos de agribusiness de

maior crescimento de demanda no contexto do mercado internacional. A Europa representa 7% do mercado de alimentos, movimenta no mundo 20

bilhões de dólares, com uma taxa de crescimento de 8% ao ano. No Brasil, apesar de incipiente, a produção cresce a uma taxa de 10% ao ano, desde 1990 movimentandoUS$ 150 milhões, dos quais, US$ 130 milhões foram exportados (Gazeta Mercantil, 2000).

O rápido desenvolvimento do setor é resultado do alto volume de adesões dos produtores, que estão convertendo suas propriedades para o sistema orgânico, segundo o diretor executivo do IFOAM, Sr. Bernward Geier. A Alemanha possui 8000 produtores rurais sob o método orgânico, na este grupo Suíça representa 30% das propriedades rurais, na Áustria este número está por volta de 10%. A Itália apresentava em 1996 18.000 produtores orgânicos, dois anos depois este número foi para 40.000.

Segundo Saes, Nunes e Souza, 1999, dentre os principais países consumidores estão Alemanha, Holanda, Suíça, França e Inglaterra. Os países latinos europeus estão rapidamente virando também consumidores, porém no momento são mais produtores de óleo de oliva, verduras e legumes frescos e cereais. Movimento estimado na Europa: é de quatro bilhões de dólares.

Estados Unidos da América são paralelamente consumidores e exportadores, principalmente para a Europa, sendo os principais produtos de exportação: Grãos como soja, trigo, feijões.

47

Tabela 1 Principais produtos dos países em desenvolvimento:

País Produtos

México Argentina Chile Egito Costa Rica: República

Dominicana: Colômbia e Peru: Turquia Índia Austrália

café e frutas tropicais cereais e carne frutas frescas ervas medicinais e algodão frutas frutas, cacau, café e banana açúcar e café uvas, damasco e sultanas

chá, especiarias como pimenta e algodão algodão e cereais

Fonte: Saes, Nunes e Souza, 1999

Embora os conceitos sobre os processos de produção e de certificação sejam internacionalizados, cada país possui normas próprias, pois é necessário uma adaptação às diferentes condições de produção. Mas, a maioria dos países importadores de orgânicos, principalmente na Europa, exige além do selo sob os padrões nacionais, o ISO 65, cujas normas são específicas para certificadoras internacionais de produtos orgânicos e o selo do International Federation of Organic Agriculture Movements - IFOAM.

A IFOAM é uma entidade internacional que estabelece regras e normas para definir o que é um produto orgânico e credencia, em todo o mundo, órgãos responsáveis para a inspeção e certificação. Deste modo há uma rede internacional de entidades certificadoras, comprometidas com as mesmas normas. Os técnicos da IFOAM, responsáveis pela acreditação das certificadoras são membros do International Forum of Acreditation – IAF e do European Cooperation of Accreditation EA (IFOAM,20001).

As regras do IFOAM são publicadas para todos os sistemas produtivos ou categorias de produtos. E segundo elas, após o processo de acreditação, o certificador torna-se responsável por definir regras específicas para a concessão do uso do selo, além de medidas disciplinares (sanções) e corretivas, incluindo suspensão temporária ou permanente. O certificador exige do certificado todas as informações sobre alterações no sistema produtivo, no processamento e, até mesmo na extensão da área. Quando são detectadas infrações que afetam integridade do produto orgânico, o certificador deve se assegurar que o selo foi removido de todo o lote comprometido, além de punir o certificado, de acordo com a gravidade da situação. São realizadas visitas, onde todo o sistema a ser certificado é documentado, e as análises químicas são feitas em laboratórios também acreditados.

Nos EUA foi criado um programa Nacional de Orgânicos (National Organic Program-NOP) sob a direção do Agricultural Marketing Service (AMS), um braço do United States Department of Agriculture (USDA). Este programa pretende facilitar o comércio dos produtos orgânicos frescos e processados estabelecendo critérios nacionais para produção e manejo. As fazendas orgânicas fazem parte do segmento que mais cresceu nos EUA na década de 90, atingindo 900 mil hectares de área nas chamadas propriedades orgânicas.

4. Mercado Brasileiro

Vinte anos atrás, não se acreditava que os produtores de alimentos orgânicos

tornar-se-iam importantes no mercado de alimentos em geral. Em 1990 a área plantada no Brasil não chegava a alcançar mil hectares, atualmente ocupa 100 mil hectares. O Brasil ocupa hoje o 7 º lugar como país fornecedor de matéria prima para o Mercado Comum Europeu.

48

No Brasil, o Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural – IBD, até o momento, é a única entidade brasileira certificadora, reconhecida pelo IFOAM e pelo DAR - Círculo de Credenciamento Alemão, órgão de renome que credencia certificadoras da Alemanha, garantindo ao IBD acesso a toda a Comunidade Européia. O DAR verifica se o IBD aplica de forma adequada as Normas ISO-65, específicas para certificadoras internacionais de produtos orgânicos. O IBD é uma Organização Não Governamental criada como objetivo de desenvolver pesquisa em Agricultura Biodinâmica, localizada em Botucatu-SP. Realiza certificações e concede o uso do Selo de Qualidade, garantindo que o estabelecimento rural ou a indústria processadora seguiu as regras definidas pelo IFOAM para produtos orgânicos.

Os principais produtos certificados pela instituição são algodão, milho, feijão, soja, café, hortaliças, arroz, cana, açúcar e citrus, urucum, mel, manga, melão, banana, acerola, cacau, guaraná em pó, aveia, castanha de caju, aguardente, barra de cereais e gengibre. Também já foram certificadas aves orgânicas.O certificado do IBD é válido e aceito para a Europa, USA e Japão.

O Brasil conta com várias instituições de certificação, como a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), ligada ao IFOAM, e que aguarda o credenciamento junto ao mesmo. Com quase dois mil associados entre pessoas físicas, jurídicas e produtores, acompanha 380 produtores certificados ou em processo de certificação.

De hortaliças à grãos, passando por frutas, cogumelos, leite, mel e açúcar, em diferentes estados brasileiros, a AAO certificou e monitora mais de 20 mil hectares de área orgânica. Certifica mel exportado para o Japão, que não exige o ISO65 ou selo do IFOAM, assim como empresas que surgiram para trabalhar exclusivamente com o produto orgânico e já atendem a grandes redes de supermercado.

O marketing diferenciado já é uma realidade nas políticas mercadológicas das empresas agroalimentares no Brasil. Embora a agricultura orgânica no país ainda esteja bastante restrita a determinados nichos regionais, segundo o Instituto Biodinâmico de Botucatu, existem cerca de 500 produtores brasileiros certificáveis e nos últimos anos ela vem tomando impulso e atraindo o interesse de grandes redes de supermercados, notadamente em São Paulo.

4.1. Ambiente Institucional

Atualmente tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 659 de 1999, que dispõe das normas de produção de produtos orgânicos, e foi elaborada a Portaria do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, que orienta administrativamente essa questão, estabelecendo as normas de produção, tipificação, processamento, distribuição, identificação e de certificação da qualidade para os produtos orgânicos de origem vegetal e animal.

Conforme a portaria, "considera-se Sistema Orgânico de Produção Agropecuária e Industrial, todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis, bem como a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados/trangênicos, ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo, armazenamento e de consumo e entre os mesmos, privilegiando a preservação da saúde humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e de transformação visando entre outros objetivos a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes, que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente"(Instrução Normativa N. 7, Diário Oficial n º 94 de Quarta-feira, 19 de maio de 1999, Seção 1, página 11).

49

Um único instrumento legal, apesar detalhar pouco o processo produtivo adequado para estes produtos, tem uma série de objetivos e dentre eles, vale ressaltar, a oferta de produtos de alto valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes, mas em nenhum momento, esta instrução normativa cita tecnologias que evitem a contaminação microbiológica dos mesmos.

O Selo do IBD indica o seguinte trabalho envolvendo a origem do produto: A)Acompanhamento do sistema de produção seja vegetal ou animal, por técnico especializado na área; B)Visitas rotineiras ao local de produção, com inspeções técnicas, c)Análises residuais para verificar o nível de contaminação; D) Que a unidade de produção aprovada enquadra-se nas Diretrizes para os Padrões de Qualidade Orgânico "Instituto Biodinâmico". Tais diretrizes representam as condições ideais de produção para que haja certificação do produto.

Portanto, segundo o próprio IBD, a marca identifica somente a origem geográfica, o tipo de processamento, ou a empresa processadora. Não são realizadas análises biológicas para a verificação da inocuidade quanto à microorganismos, a não ser que haja denúncia. Normalmente o IBD exige apenas o laudo emitido pela vigilância sanitária no ato de abertura do estabelecimento. Portanto a verificação sobre existência ou não de contaminantes microbiológicos, fica sendo de responsabilidade da empresa que processa e comercializa os produtos, e a Vigilância Sanitária é responsável pela fiscalização.

O IBD segue as normas internacionais para produção de orgânicos, onde não é citado que o produto deve ser fiscalizado quanto aos níveis de contaminação microbiológica. Pois, a priore, todo alimento colocado à venda deveria ser seguro para o consumo, não somente os orgânicos e neste caso, seriam desnecessárias normas específicas para tal garantia.

Cada certificadora é responsável por elaborar regulamentos para as normas de produção, baseando-se nas normas da Instrução Normativa e/ou em normas de entidades internacionais, sendo responsável pelo credenciamento, fiscalização, monitoramento e, se for o caso, a punição dos produtores.

Segundo a Instrução Normativa, descrita anteriormente, as entidades certificadoras deveriam ser credenciadas junto a um Órgão Colegiado Nacional e Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal. Estes seriam compostos por membros do Poder público e membros de Organizações Não governamentais cabendo-lhes o papel de fiscalização, controle e encaminhamento dos pedidos de registro das entidades certificadoras. No entanto, a criação deste Órgão está prevista para 05 de fevereiro de 2001. Ou seja, até o momento não há nenhum órgão responsável pela fiscalização das certificadoras que estão credenciadas junto ao Ministério da Agricultura.

5. A segurança do alimento associada à gestão da Cadeia Agroindustrial

De acordo com a 1ª. Conferência Nacional de Segurança Alimentar realizada em Brasília em 1994, Segurança Alimentar e Nutricional SIGNIFICA

"Garantir a todos, condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo assim para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana”.

Portanto, o termo segurança alimentar apresenta dois enfoques: quantitativo e qualitativo. O enfoque quantitativo refere-se à segurança alimentar propriamente dita, ou seja, garantir o suprimento de alimentos para toda uma população. Segundo Spers(1999), esta segurança pode ser obtida através do aumento da renda familiar, conjuntamente com uma oferta adequada de alimentos, a preços acessíveis. Do ponto de vista qualitativo, a

50

segurança alimentar refere-se a sanidade e inocuidade do alimento e está sendo aqui denominada de segurança do alimento.

Spers (1999) afirma que a procura por produtos seguros faz com que se formem mercados cada vez mais exigentes, e a competição fará com que os sistemas reajam com rapidez e eficiência. Quanto maior a exigência ou a necessidade de se aumentar a qualidade dos produtos, maior será o incentivo à empresa ou ao sistema agroalimentar para coordenar-se verticalmente, possibilitando um maior controle sobre as etapas pelas quais passa o alimento até o consumidor final. Este, através de sua exigência por atributos por segurança transmite um fluxo de informação, sinalizando através de sua escolha essa preferência.

A garantia de alimentos seguros depende de um conjunto de práticas a serem adotadas por cada um dos agentes que participam do sistema agroindustrial de alimentos. Tais práticas envolvem custos e podem não ser adotadas quando o monitoramento e o controle dessas práticas são difíceis. O consumidor pode sinalizar suas preferências ao sistema produtivo por meio de sua disposição a pagar por atributos específicos tais como a qualidade – no caso em tela pela qualidade de ser isento de contaminação química ou microbiológica. No entanto, se ele não tem como distinguir com facilidade um produto seguro de um contaminado, a tendência será a de não pagar mais por qualquer um dos produtos. Chegase, assim, ao modelo de seleção adversa analisado por Ackerlof, na presença de assimetria de informação. Os produtos de melhor qualidade desaparecerão do mercado.

No entanto, estamos diante de um problema ainda mais complexo porque envolve um conjunto de agentes que podem interferir na qualidade do alimento a qualquer momento. Um produto pode sair orgânico da propriedade rural e ser contaminado no processo de comercialização o que recomenda o uso da abordagem sistêmica.

O sistema agroindustrial de alimentos e fibras pode ser definido como o conjunto dos segmentos envolvidos na produção, transformação e distribuição de matérias primas agropecuárias. No entanto, diferente do conceito de cadeias produtivas a análise sistêmica focaliza as relações tecnológicas e econômicas que se estabelecem entre os segmentos do sistema, e sua coordenação. Sendo assim, define-se o sistema como um conjunto de contratos formais ou informais cujo objetivo é o de garantir o processo de transmissão de informações, estímulos e controles ao longo da cadeia produtiva, de forma a responder a mudanças no ambiente competitivo ou viabilizar estratégias empresariais. (Zylbersztajn & Farina, 1999).

Na medida em que se define SAG sob um prisma contratual, a Economia dos Custos de Transação (ECT) oferece-nos o quadro analítico adequado para análise. No entanto, na medida em que estamos diante de um problema que envolve um padrão de concorrência específico baseado na concorrência por atributos de qualidade, a Teoria da Organização Industrial é combinada com a ECT de modo a permitir a inclusão no referencial analítico das decisões estratégicas dos agentes.

A coordenação do SAG pode ser realizada pelas seguintes categorias analíticas: preços de mercado, redes de contrato, Associações, Estado(regulamentação) e integração vertical, dependendo dos atributos da transação (grau de incerteza, freqüência e grau de especificidade do ativo. Como o segmento de orgânicos apresenta alto o grau de especificidade de ativos e a necessidade da identificação das partes presentes, a realização de uma transação somente pelo mecanismo de preço seria de alto risco. O segmento é caracterizado como estritamente coordenado, onde o crescimento do mercado deve levar um estreitamento das relações entre produtor e indústria, pois esta estratégia implica em estrutura de governança específica. Neste caso a certificação é um elemento fundamental de governança da transação, incentivando o comportamento desejado e ao mesmo tempo monitorando-o (Saes e Farina, 1999). Na figura abaixo, pode ser visualizado o Sistema Agroindustrial do Tomate Orgânico.

51

Figura 1 - Sistema Agroindustrial de Tomate Orgânico

Como pode ser observado o SAG’s é composto por agentes que estão sob a influência do ambiente institucional.

O problema da garantia dos atributos definidores do produto orgânico, bem como da garantia da segurança desse alimento orgânico pode, ser tratado como uma forma de gestão do sistema de suprimento e distribuição.

No caso em tela, dois elementos são fundamentais: a definição do padrão de produto orgânico e a garantia desse padrão. Como se trata de um padrão associado a processo e não a produto, garantia do padrão depende de características dos processos na cadeia agroalimentar, não podendo ser visualizado no produto(Farina & Reardon, 2000).

David & Greenstein, 1990(Apud Farina, 1999) definem padrão como um conjunto de especificações técnicas, às quais adere um produtor voluntária ou compulsoriamente, tácita ou formalmente. As especificações cumprem quatro funções básicas: a) referência; b) compatibilidade; c) base para a ampliação de economias de rede, d) base mínima para garantir um nível de eficiência social que o mercado não pode atender em certos casos.

As duas primeiras funções básicas são redutoras de custos de transação, ou seja reduzem o custo para fazer o sistema econômico funcionar. São associados à identificação de fornecedores e/ou distribuidores, a negociação dos termos de troca, o monitoramento e controle do efetivo cumprimento dos mesmos.

A padronização e classificação permitem o pagamento de prêmios ou descontos decorrentes de divergências em relação ao padrão, e permitem o comércio a longa distância sem inspeção física da mercadoria. Além de facilitar coordenação entre o consumidor e o ofertante, porque reduz os custos de aquisição da informação sobre os produtos (Farina, 1999).

No caso de orgânicos, onde os compradores não podem verificar por si próprios o atendimento a padrões de qualidade desejada, torna-se necessária a certificação por uma entidade independente privada ou pública. Em seu conceito amplo, a certificação é a definição de atributos de um produto, processo ou serviço e a garantia de que eles se enquadram em normas pré-definidas. Assim, a certificação envolve normas, seja na esfera privada, pública, nacional ou internacional (ambiente institucional) e um órgão

52

certificador com poder de monitoramento e exclusão (ambiente organizacional),(Nassar,1999). Ou seja, a certificação é um passo a frente da padronização do ponto de vista da coordenação de SAG’s. Trata-se de uma padronização detalhada, mas com instrumentos de exclusão.

A certificação tem dois objetivos. Do lado da oferta é um instrumento que oferece procedimentos e padrões básicos permitindo para as empresas participantes gerenciar o nível de qualidade dos seus produtos e garantir um conjunto de atributos. Do lado da demanda, a certificação gera benefícios aos consumidores, informando-os que determinado produto tem certos atributos por ele procurados, servindo portanto como mecanismo de redução de assimetrias informacionais, aumentando a eficiência dos mercados (Nassar,1999). Onde há assimetria informacional, há uma maior espaço para o exercício do comportamento oportunista, elevando os custos de transação (Williamson, 1985) Agentes podem revelar informações de modo seletivo, utilizando a assimetria informacional em benefício próprio, podendo agir oportunisticamente após a definição do texto contrato.

A importância deste pressuposto na ECT está no fato que uma das partes pode aproveitar da incompletude dos contratos em uma renegociação. Willianson (1985), afirma que o arranjo institucional é modelado para impedir a conduta oportunística por alguma das partes envolvidas em uma determinada transação.

Assimetria informacional ocorre em transações quando uma das partes envolvidas possui alguma informação privada, não adquirível sem custos pela(s) outra (demais) parte(s). A assimetria de informação pode resultar no fenômeno do risco moral (moral hazard) – comportamento pós-contatual da parte que possui uma informação privada e pode dela tirar proveito em prejuízo à sua contraparte. Podem ser identificados dois tipos de moral hazard: a)informação oculta, quando as ações do agente são observáveis e verificáveis pelo principal, mas uma informação relevante ao resultado final é mantida pelo agente e; b)ação oculta. quando as ações do agente não são observáveis ou verificáveis.

Uma ação é observável se o principal é capaz de avaliá-la em quantidade e/ou qualidade, e é verificável se além de observar, o principal tem meios de provar que verificou.

Conforme mencionado anteriormente, a informação assimétrica e o risco moral podem resultar no fenômeno da seleção adversa (AKERLOFF, 1970 citado em AZEVEDO, 1995). Um mercado que possua diferentes qualidades de bens, mas que esta informação seja somente de domínio de uma das partes, pode eliminar do mercado produtos de boa qualidade porquê o vendedor não consegue convencer o comprador da qualidade superior do produto. Para o vendedor a transação só é interessante se o valor a ser recebido for maior ou igual ao do bem, o valor é dado em função da qualidade, conhecida somente pelo vendedor. O comprador não tem como avaliar este atributo, está disposto a pagar um valor correspondente à qualidade esperada, inferior ao valor de um bem de alta qualidade. Conseqüentemente, os bens de valor inferior seriam os mais comercializados.

A solução deste problema é conhecida como “sinalização”, na qual o vendedor proveria o consumidor de informações confiáveis a respeito de um determinado bem, como certificados ou garantias, eliminando a assimetria informacional, conseqüentemente, a seleção adversa.

No mercado de commodities os atributos das mercadorias são razoavelmente conhecidos por compradores e vendedores, mas no caso de orgânicos o acesso à informação é diferenciado. De acordo com o conceito seleção adversa, citado anteriormente, um produto de melhor qualidade, mas com atributos de qualidade intrínsecos, deve transmitir esta informação para o consumidor de alguma forma, caso contrário o mesmo não se disporia a pagar um diferencial de preço pelo produto. E como

53

as características que diferenciam o orgânico não são facilmente perceptíveis pelo consumidor, é imprescindível a presença de um selo, proveniente de uma instituição reconhecida, fornecendo ao consumidor informações sobre a procedência do alimento.

Além do quê, as firmas, associações privadas, governo nacional e instituições internacionais podem implementar as regras da certificação, adaptando às condições de cada região.

Um produto certificado é do ponto de vista de processamento e alteração industrial idêntico ao semelhante não certificado, ou seja, pode transformar uma commodity em uma especialidade, enquanto o certificado não for padrão dominante. Mas o sucesso da certificação está condicionado à eficiência do monitoramento e do poder de exclusão exercido pelo aparato institucional.

6. Discussão Final

Como pode ser constatado no decorrer do texto, até o momento, não há no Brasil uma instituição responsável pelo credenciamento e fiscalização das empresas certificadoras, o responsável por este papel será o Órgão Colegiado Nacional, que deve ser inaugurado em breve. Só estão sendo fiscalizadas as empresas credenciadas por entidades internacionais, como a IFOAM. É de responsabilidade das certificadoras elaborar as normas de produção de orgânicos(baseando na instrução normativa), certificar, fiscalizar as produções e aplicar punições, quando for o caso.

Atualmente o consumidor não tem como verificar se há contaminantes microbiológicos nos alimentos. A falta de estudos e dados sobre ocorrência de surtos e toxinfecções alimentares no Brasil, assim como da qualidade do alimento, principalmente em saladas, faz com que seja necessária a obtenção de informações sobre o controle de qualidade efetuado pelas empresas.

É recomendável que os envolvidos no Sistema agroindustrial dos alimentos orgânicos, tomem a iniciativa de reduzir ou eliminar pontos de risco, visto que este mercado é lucrativo, premiando os envolvidos com diferenciais de preço, enquanto o consumidor percebe um valor agregado neste produto.

Em pesquisa realizada por Cerveira e Castro, 1999, com o objetivo de traçar o perfil dos consumidores orgânicos da Cidade de São Paulo, foi constatado que os consumidores deste setor não constituem um segmento homogêneo, mas um terço dos entrevistados estariam dispostos a pagar até 30% a mais pelo produto. Também foi constatado que a maior parte deles são consumidores recentes, que compram produtos convencionais por falta de produto similar orgânico.

Problemas de coordenação que comprometam a segurança do alimento pode ter um resultado particularmente desastroso no Brasil, por ainda apresentar características de um mercado incipiente, com consumidores ainda bastante heterogêneos, verificando-se preocupações nem sempre coerentes quanto ao motivo da opção de consumo. Neste caso, notícias recorrentes levando à incertezas sobre a sanidade e seriedade no gerenciamento da cadeia podem levar à um atraso no desenvolvimento deste mercado.

7. Referências Bibliográficas

AZEVEDO, P.F. Integração Vertical e Barganha. Tese de Doutorado, Departamento de Administração, FEA/USP, p. 1999. BAKER, G. Strategic Implications of Consumer Food Safety Preferences, International Food and Agribusiness Management Reviews, v.1, n.4.p.451-463, 1998.

54

CERVEIRA, R. CASTRO, M.C., Consumidores de Produtos Orgânicos da Cidade de São Paulo: Características de um padrão de consumo, Informações Econômicas, São Paulo, v.29, n.12, p. 4-17, dezembro, 1999. EHLERS, E., Agricultura Sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. São Paulo: Livros da Terra, 178p.1996. FARINA, E.M.M.Q. PADRONIZAÇÃO EM SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS, Estudo de Caso apresentado no IX Seminário PENSA de Agribusiness, São Paulo, 1999. FARINA, E.M.M.Q., REARDON, T. Agrifood Grades and Standards in the Extended Mercosur: Their Role in the Changing Agrifood System. American Journal of Agricultural Economics, December,2000. Gazeta Mercantil, Boa procura por alimentos orgânicos, 29/09/2000. GEIR, B. A Short Overview and Facts on Worldwide Organic Agriculture, in International Federation of Organic Agriculture Moviments – IFOAM, 2000. http://www.ifoam.org/orgagri/oaworld.html NASSAR,A.M., CERTIFICAÇÃO NO AGRONEGÓCIO, Estudo de Caso apresentado no IX Seminário PENSA de Agribusiness, São Paulo, 1999 National Advisory committee on Microbiological Criteria for Foods, Microbiological Safety Evaluations and Recmmendations on Sprouted Seeds, International Journal of Food Microbiology, v.52, p. 123-153, 1999. SAES, M.S. Farina, E. M.M.Q., O Agribusiness do Café no Brasil.Editora Milkbizz, 230p. São Paulo,1999. SAES, M.S.M., Nunes, R. Souza, E.L.L., Terra Preservada, Coordenando ações para garantir qualidade. Estudo de Caso apresentado no IX Seminário PENSA de Agribusiness, São Paulo, 1999. Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, Número de Surtos e Percentual e Fatores causais associados, de surtos de doenças transmitidas por alimentos - Paraná – 1997. Disponível na página: Http: //www.saude.pr.gov.br/Informacoes%20_Saude/index.htm SILVA, E.A., Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Alimentos. Livraria Varela, 397p. São Paulo, 1995. SIQUEIRA, I.M.C., MOURA, A.F.P., GIRÃO, F.G.F., SANTOS, W.L.M., Avaliação Microbiológica de saladas cruas e cozidas servidas em restaurantes industriais da grande Belo Horizonte. Higiene Alimentar, Belo Horizonte, Vol.11, n 49, p. 36-39, maio/junho 1997. SOUZA, M.C.M., Algodão Orgânico: O papel das organizações na coordenação e diferenciação do sistema agroindustrial do algodão. Dissertação de mestrado Departamento de Administração, FEA/USP, 187p. 1998.

55

SPERS, E.E. Avaliação da preferência do consumidor por atributos de segurança no morango através da Conjoint Analysis. Dissertação de Mestrado. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 90p. 1998 SWANSON, K.M.J. e ANDERSON, J.E. Industry Perspectives on the Use of Microbial Data for Hazard Analysis and Critical Control Point Validation and Verification, Journal of Food Protection, v.63, n. 6, p. 815-818, 2000. The Times, Organic food “ riskier”, 02/02/2000. WILLIANSON, O.E., The economic institutions of capitalism: firms, markets and relational contracting. New York, The Free Press, 1985. ZILBERSZTAJN, D. & E.M.M.Q.FARINA Strictly Coordinated Food –Systems: exploring the limits of the coasian firm in International Food and Agribusiness Management Review ISSN:1096-7508, 1999.