gestÃo estratÉgica de canais de marketing no lanÇamento de...

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO GESTÃO ESTRATÉGICA DE CANAIS DE MARKETING NO LANÇAMENTO DE NOVOS PRODUTOS: UM ESTUDO DE CASO DO MERCADO BRASILEIRO DE BEBIDAS ANTONIO CARLOS RIBEIRO BUTTERS ORIENTADOR: PROF. DR. EDSON JOSE DALTO Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2008

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  • FACULDADE DE ECONOMIA E FINANAS IBMEC PROGRAMA DE PS-GRADUAO E PESQUISA EM

    ADMINISTRAO E ECONOMIA

    DISSERTAO DE MESTRADO

    PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAO

    GESTO ESTRATGICA DE CANAIS DE MARKETING NO LANAMENTO DE NOVOS

    PRODUTOS: UM ESTUDO DE CASO DO MERCADO BRASILEIRO DE BEBIDAS

    AANNTTOONNIIOO CCAARRLLOOSS RRIIBBEEIIRROO BBUUTTTTEERRSS

    OORRIIEENNTTAADDOORR:: PPRROOFF.. DDRR.. EEDDSSOONN JJOOSSEE DDAALLTTOO

    Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2008

  • Livros Grtis

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  • ii

    GESTO ESTRATGICA DE CANAIS DE MARKETING NO LANAMENTO DE NOVOS PRODUTOS: UM ESTUDO DE CASO DO MERCADO BRASILEIRO DE BEBIDAS

    ANTONIO CARLOS RIBEIRO BUTTERS

    Dissertao apresentada ao curso de

    Mestrado Profissionalizante em

    Administrao como requisito parcial para

    obteno do Grau de Mestre em

    Administrao.

    rea de Concentrao: Administrao

    Geral

    ORIENTADOR: PROF. DR. EDSON JOSE DALTO

    Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2008.

  • iii

    ESTO ESTRATGICA DE CANAIS DE MARKETING NO LANAMENTO DE NOVOS PRODUTOS: UM ESTUDO DE CASO DO MERCADO BRASILEIRO DE BEBIDAS

    ANTONIO CARLOS RIBEIRO BUTTERS

    Dissertao apresentada ao curso de

    Mestrado Profissionalizante em

    Administrao como requisito parcial para

    obteno do Grau de Mestre em

    Administrao.

    rea de Concentrao: Administrao

    Geral

    Avaliao:

    BANCA EXAMINADORA:

    _____________________________________________________

    PROF. DR. EDSON JOSE DALTO (Orientador)

    Instituio: IBMEC RJ

    _____________________________________________________

    PROF. DRA. FTIMA CRISTINA TRINDADE BACELLAR

    Instituio: IBMEC RJ

    _____________________________________________________

    PROF. DRA. ISABEL BALLOUSSIER CERCHIARO

    Instituio: UNIGRANRIO

    Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2008.

  • iv

    FICHA CATALOGRFICA

    658.57500722

    B988

    Butters, Antonio Carlos Ribeiro.

    Gesto estratgica dos canais de marketing no lanamento de

    novos produtos: um estudo de caso do mercado brasileiro de

    bebidas / Antonio Carlos Ribeiro Butters - Rio de Janeiro:

    Faculdades Ibmec, 2008.

    Dissertao de Mestrado Profissionalizante apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em Administrao das Faculdades

    Ibmec, como requisito parcial necessrio para a obteno do ttulo

    de Mestre em Administrao.

    rea de concentrao: Administrao geral.

    1. Novos produtos Estudo de caso. 2. Marketing. 3. Indstria

    de bebidas. 4. Gesto estratgica. 5. Canais de marketing. 6.

    Setor de cervejas.

  • v

    DEDICATRIA

    A minha me pela ajuda e estmulo. Presena constante

    em todas as etapas da minha vida.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, agradeo a DEUS por todas as graas que tenho recebido.

    Ao meu irmo Paulo Butters e Robson Weber, querido amigo, pelos constantes incentivos.

    A Csar Sorato e Juvenal Marques, da Cervejaria Petrpolis, por acreditarem e investirem na

    realizao deste estudo.

    A Rita de Cssia Coelho e demais funcionrios (as) do IBMEC pela presteza e constantes

    estmulos.

    Ao Prof. Dr. Edson Jose Dalto, pelo estmulo, serenidade e pacincia durante toda a

    elaborao deste estudo.

    Prof. Dra. Isabel Cerchiaro, por ter me despertado o interesse pelo estudo de marketing e a

    Prof. Dra. Ftima Cristina Trindade Bacellar, pela confiana e motivao.

    A todos que me ajudaram de alguma forma na elaborao deste estudo, com agradecimento

    especial aos meus entrevistados.

  • vii

    Jamais considere seus estudos como uma obrigao,

    mas como uma oportunidade invejvel (...) para

    aprender a conhecer a influncia libertadora da beleza

    do reino do esprito, para seu prprio prazer pessoal e

    para proveito da comunidade qual seu futuro trabalho

    pertencer. (Albert Einstein)

  • viii

    RESUMO

    Este estudo aborda a gesto estratgica dos canais de marketing no lanamento de novos

    produtos no mercado brasileiro de bebidas. O objetivo do trabalho consiste em verificar se os

    profissionais das reas comerciais das principais indstrias cervejeiras, no Rio de Janeiro,

    aplicam os conceitos referentes gesto de canais de marketing nas estratgias de

    planejamento e operao no lanamento de novos produtos. Para entender o tema de forma

    profunda, gerando reflexes sobre o que ele representa no contexto empresarial, foi realizado

    estudo exploratrio, com abordagem qualitativa e uso do mtodo de estudo de caso. Os

    resultados almejados foram obtidos atravs de entrevistas em profundidade, com os

    profissionais das reas comerciais, das trs principais cervejarias do Rio de Janeiro. A

    pesquisa indicou que existe um distanciamento muito grande entre a gesto estratgica dos

    canais de marketing no lanamento de novos produtos, pretendida pelas indstrias cervejeiras,

    e a sua operao, realizada pelos revendedores, intermedirios no processo. Identificou,

    tambm, a imensa importncia que as reas comerciais do aos resultados de vendas,

    comprometendo substancialmente os resultados esperados. O estudo conclui que as reas

    comerciais das principais cervejarias, no Rio de Janeiro, efetivamente no aplicam as

    recomendaes e procedimentos da literatura especializada sobre o tema no planejamento e

    operao dos canais de marketing no lanamento de novos produtos.

    Palavras-chave: canais de marketing, estratgias, gesto de canais, gesto de novos produtos,

    mercado de bebidas e indstria cervejeira.

  • ix

    ABSTRACT

    This study addresses the strategic management of marketing channels in launching new

    products in the Brazilian market of drinks. The aim of this dissertation consists on verifying if

    the professionals of the commercial departments from the very best brewing companies, in

    Rio de Janeiro, work with the concepts referred to the marketing channels management in the

    strategic planning and operation of launching new products. In order to deeply understand this

    issue, and make people reflect on what it represents in a business context, an exploratory

    study was conducted with qualitative approach and use of case study. The desired results were

    achieved through the implementation of in-depth interviews with professionals working in the

    commercial departments of the three main breweries in Rio de Janeiro. The results indicate

    that there is a huge gap between the strategic management of marketing channels in launching

    new products, intended by the brewers industries, and its operation, held by dealers, brokers

    in the process. It also identified the immense importance that the commercial areas give to

    sales results, substantially undermining the expected results. The study concludes that the

    commercial departments of the main brewing companies, in Rio de Janeiro, effectively do not

    work on the recommendations and procedures that are told by the specialized literature about

    planning and operating marketing channels of launching new products.

    Key-words: marketing channels, strategies, management of channels, management of new

    products, market for beverages and brewing industry.

  • x

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Estrutura de apresentao do trabalho...................................................................... 7

    Figura 2 Processos Decisrios sobre a escolha dos membros do canal.................................13

    Figura 3 Transaes com e sem intermedirios.....................................................................14

    Figura 4 Classificao dos canais de marketing....................................................................19

    Figura 5 Canal de distribuio: distino entre logstica e marketing...................................21

    Figura 6 Sistema de Canais de Marketing.............................................................................23

    Figura 7 Variveis Estratgicas do Marketing Mix...............................................................25

    Figura 8 Esquema de deciso de projeto de canal.................................................................29

    Figura 9 Estgios no desenvolvimento de novos produtos - Empresa...................................32

    Figura 10 Estgios do processo de adoo consumidor......................................................32

    Figura 11 Estrutura de Canais da Indstria Cervejeira..........................................................47

    Figura 12 Estrutura de Canais de Varejo da Indstria Cervejeira.........................................48

    Figura 13 Perspectivas da pesquisa qualitativa......................................................................59

    Figura 14 Compreenso entre construo e interpretao.....................................................60

    Figura 15 Modelos de processo linear e circular de pesquisa qualitativa..............................60

    Figura 16 Esquema terico para a preparao do protocolo de estudo de caso....................67

    Figura 17 Esquema para interpretao dos dados da pesquisa..............................................77

    Figura 18 Administrao das estratgias de canais..............................................................112

  • xi

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Descrio dos termos dos participantes do canal...................................................15

    Quadro 2 Situaes empresariais competitivas......................................................................27

    Quadro 3 As quinze regras de ouro do sucesso.....................................................................34

    Quadro 4 Pases de maior Produo de cerveja Ano 2006.................................................45

    Quadro 5 Categorias de Varejo com Consumo Dentro.........................................................49

    Quadro 6 Categorias de Varejo com Consumo Fora.............................................................50

    Quadro 7 Tipos de cervejas...................................................................................................51

    Quadro 8 Escalonamento de preo........................................................................................52

    Quadro 9 Pontos de discusso entre pesquisa qualitativa e quantitativa...............................61

    Quadro 10 Relao dos entrevistados....................................................................................71

    Quadro 11 Anlises das gestes estratgicas de canais nos estudos de caso.......................113

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Participao de MercadoFabricantes Brasileiros Abril/Maio de 2006............. 44

    Tabela 2 Evoluo do consumo per capita brasileiro............................................................46

  • xiii

    SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................................... 1

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO PROBLEMA .................................................................. 2

    1.2 PERGUNTA DE PESQUISA .......................................................................................... 3

    1.3 OBJETIVOS DE PESQUISA .......................................................................................... 4

    1.3.1 Objetivo principal ...................................................................................................... 4

    1.3.2 Objetivo especficos ................................................................................................... 4

    1.4 DELIMITAES DO ESTUDO ..................................................................................... 5

    1.5 RELEVNCIA DO ESTUDO ......................................................................................... 5

    1.6 ORGANIZAO DO ESTUDO ...................................................................................... 6

    2 REFERENCIAL TERICO ............................................................................................... 9

    2.1 CONCEITOS REFERENTES A CANAL ........................................................................ 9

    2.1.1 Conceito de canal de marketing ou distribuio ....................................................... 9

    2.1.2 A estratgia de canal ................................................................................................ 11

    2.1.3 Os membros do canal ............................................................................................... 12

    2.1.3.1 Treinamento e Motivao dos participantes dos canais ................................... 15 2.1.3.2 Avaliao dos participantes dos canais ............................................................ 16

    2.1.4 Funes do canal ...................................................................................................... 17

    2.1.5 Estrutura do canal ..................................................................................................... 19

    2.1.6 Sistemas de canais de marketing ou distribuio ..................................................... 22

    2.1.7 Conflitos nos canais de marketing ........................................................................... 23

    2.1.8 Consideraes sobre a importncia dos canais de marketing .................................. 24

    2.1.9 Canais de marketing e vantagem competitiva .......................................................... 26

    2.1.10 Organizao estrutural do canal ............................................................................. 27

    2.1.11 Anlise, planejamento, implementao e controle dos canais ............................... 29

    2.2 GESTO DE NOVOS PRODUTOS .............................................................................. 30

    2.2.1 Processo de desenvolvimento de novos produtos ................................................... 32

    2.2.2 Fatores motivadores para o sucesso no lanamento de novos produtos .................. 33

    2.2.3 Inovao e criatividade ............................................................................................ 37

    2.2.4 Gesto do canal no lanamento de novos produtos ................................................. 40

  • xiv

    3 CONSIDERAES REFERENTES INDSTRIA CERVEJEIRA .......................... 43

    3.1 INDSTRIA CERVEJEIRA BRASILEIRA ................................................................ 43

    3.1.1 Canais de Distribuio e Canais de Vendas ............................................................. 46

    3.1.2 Produtos e Embalagens ............................................................................................ 50

    3.1.3 Estratgias de Preo ................................................................................................. 52

    3.1.4 Estratgias de Comunicao .................................................................................... 54

    3.1.5 Estratgias de Distribuio ....................................................................................... 55

    4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 57

    4.1 ASPECTOS GERAIS DA METODOLOGIA ................................................................ 58

    4.2 MTODO DE PESQUISA UTILIZADO: ESTUDO DE CASO ................................... 62

    4.2.1 Protocolo do estudo de caso ..................................................................................... 66

    4.3 A PESQUISA DE CAMPO ............................................................................................ 67

    4.3.1 Mtodo de coleta de dados ....................................................................................... 68

    4.3.1.1 Seleo das empresas ....................................................................................... 69

    4.3.1.2 Seleo dos novos produtos .............................................................................. 69

    4.3.1.3 Seleo dos participantes .................................................................................. 70

    4.3.1.4 Roteiro de entrevistas ....................................................................................... 72

    4.3.2 Mtodo de amostragem ............................................................................................ 72

    4.3.3 Tratamento dos dados .............................................................................................. 73

    4.3.4 Limitaes do mtodo .............................................................................................. 74

    5 RESULTADOS E DISCUSSES ...................................................................................... 76

    5.1 RESULTADOS OBTIDOS ............................................................................................ 76

    5.1.1 Anlise do caso 1 Schincariol Lanamento da NS2 .......................................... 78

    5.1.1.1 Etapa 1 Cenrio ............................................................................................. 78 5.1.1.2 Etapa 2 Planejamento .................................................................................... 79

    5.1.1.3 Etapa 3 Operao .......................................................................................... 81

    5.1.1.4 Etapa 4 Lanamento de Novos Produtos: NS2 ............................................. 84

    5.1.1.5 Etapa 5 Resultados ........................................................................................ 88

    5.1.2 Anlise do caso 2 AmBev Lanamento da Skol Lemon .................................... 89

    5.1.2.1 Etapa 1 Cenrio ............................................................................................. 89 5.1.2.2 Etapa 2 Planejamento .................................................................................... 90

    5.1.2.3 Etapa 3 Operao .......................................................................................... 92

    5.1.2.4 Etapa 4 Lanamento de Novos Produtos: Skol Lemon ................................. 94

    5.1.2.5 Etapa 5 Resultados ........................................................................................ 97

    5.1.3 Anlise do caso 3 Cervejaria Petrpolis Lanamento da Crystal Fusion .......... 98

    5.1.3.1 Etapa 1 - Cenrio .............................................................................................. 99 5.1.3.2 Etapa 2 Planejamento .................................................................................. 100

    5.1.3.3 Etapa 3 Operao ........................................................................................ 101

    5.1.3.4 Etapa 4 Lanamento de Novos Produtos: Crystal Fusion ........................... 103

    5.1.3.5 Etapa 5 Resultados ...................................................................................... 107

    5.1.4 Anlise geral dos casos estudados ......................................................................... 109

    5.2 DISCUSSO DOS RESULTADOS ............................................................................ 111

  • xv

    6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 115

    6.1 CONCLUSO .............................................................................................................. 115

    6.2 LIMITAES DO ESTUDO ....................................................................................... 118

    6.3 SUGESTES PARA FUTURAS PESQUISAS ........................................................... 118

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................... 120

    APNDICE A (ROTEIRO DE ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE) ................... 125

  • 1

    1 INTRODUO

    O mundo est mudando, o Brasil est mudando. No s na aparncia, mas,

    principalmente o contedo. Um novo estilo emerge e traz consigo uma filosofia diferente de

    tudo que j foi notado anteriormente. Estamos deixando a inrcia e a ineficincia, que durante

    anos nos caracterizou e estamos buscando solues mais rpidas e coerentes com o destino

    que almejamos.

    neste contexto que as prticas de marketing e o gerenciamento adequado dos canais

    de marketing se tornam imprescindveis para a obteno de sucesso, vantagem competitiva e

    conquistas organizacionais. A escolha correta dos canais de marketing no a garantia de

    sucesso, mas a certeza da diminuio de riscos existentes no lanamento de novos produtos no

    mercado.

    Ferrel et al. (2000) destacam a importncia dos canais de marketing como diferencial

    estratgico. Segundo os autores, para muitas empresas a distribuio fornece inmeras

    oportunidades para a criao de vantagem competitiva sustentvel. Vrias empresas tm

    obtido notvel sucesso adotando essa estratgia.

    Rosenbloom (2002. p.29) afirma que a estratgica de canal de marketing encaixa-se

    na varivel distribuio do composto mercadolgico. As empresas devem desenvolver e

    operar os canais de marketing de forma a dar suporte e aprimorar as outras variveis

    estratgicas do composto mercadolgico para atender s necessidades dos seus mercados-

    alvos.

  • 2

    Este estudo busca ampliar o entendimento sobre o planejamento e operao dos canais

    de marketing na indstria cervejeira e como estes fatores podem contribuir positivamente no

    lanamento de novos produtos quando alinhados corretamente s recomendaes da literatura

    especializada sobre o tema.

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO PROBLEMA

    A indstria cervejeira atravessa, hoje, um tempo de grandes mudanas no seu modo de

    operar: lanamento de novos produtos com variadas opes de cores, sabores e aromas, novas

    embalagens, novas companhias, possibilidades de novos entrantes, concentrao de vendas

    em grandes redes de supermercados, fuses e aquisies (RGO, 2002 apud NEVES E

    COSTA, 2005).

    Na indstria cervejeira, historicamente a varivel preo do composto de marketing

    sempre exerceu uma grande fora. Impulsiona parte das estratgias empresariais para alcanar

    maiores volumes de vendas e o aumento da participao de mercado, conforme ser

    apresentado e discutido na seo 2.1.9. A guerra de preos entre as marcas de cervejas parece

    ser a diretriz para manter vivo o negcio.

    Para Lambin (2000), no atual ambiente de marketing a estratgia de preo influencia

    diretamente o nvel de procura do produto pelo consumidor, define o posicionamento da

    marca no mercado e viabiliza a percepo e comparao entre marcas ou produtos

    concorrentes pelos consumidores. Porm, o autor ressalta que a estratgia de preo, embora

    importante, tem que estar compatvel com as outras estratgias de marketing.

    Diante disso, estima-se ser de grande importncia o conhecimento dos canais de

    marketing ou distribuio, seu planejamento e operao como diferencial estratgico para a

    obteno de sucesso e de vantagem competitiva no somente nos produtos j existentes, mas

    principalmente no lanamento de novos produtos nesta indstria. Para Kotler (2000, p.318),

    as empresas podem extrair vantagens competitivas de maneira como projetam a cobertura, a

    especialidade e o desempenho de seus canais de distribuio.

  • 3

    Outro aspecto relevante que h uma grande carncia de informaes nas fontes

    pesquisadas e pouco foi encontrado sobre o tema. Talvez somente as medies das

    participaes de mercado (avaliao de share) sejam realizadas sistematicamente para avaliar

    se as aes estratgicas adotadas pelas empresas, individualmente, esto surtindo resultados e

    estes refletidos na pesquisa.

    Nesse sentido, o trabalho levanta informaes sobre o mercado cervejeiro brasileiro,

    analisando suas aes e estratgias de atuao no lanamento de novos produtos, tendo como

    foco o que a literatura apresenta sobre o tema.

    So examinadas com ateno questes como gesto estratgica, funes, estruturas e

    sistemas de canais, escolhas dos intermedirios, possveis conflitos nos canais, a disputa por

    preos no mercado varejista, como tambm o projeto e desenho dos canais de marketing na

    indstria cervejeira.

    O trabalho desenvolve ainda idias e entendimentos a partir de observaes coletadas

    na pesquisa de campo com profissionais da AmBev, Schincariol e Cervejaria Petrpolis,

    empresas da indstria cervejeira escolhidas para o presente estudo. A inteno investigar,

    nestas empresas, os aspectos subjetivos em profundidade, sobre a aplicao dos conceitos

    referentes gesto estratgica e operaes dos canais de marketing no lanamento de novos

    produtos.

    Para alcanar e viabilizar os resultados propostos no trabalho foi realizado uma

    pesquisa exploratria com abordagem qualitativa. Foi utilizado o mtodo de coleta de dados

    de entrevistas em profundidade, no disfarada, para interpretar e entender o fenmeno

    estudado em toda a sua extenso. Como estratgia para o mtodo de pesquisa foi realizado um

    estudo de caso mltiplo, conforme detalhado no captulo 3.

    1.2 PERGUNTA DE PESQUISA

    A pergunta de pesquisa que dever ser respondida neste estudo : As reas comerciais

    das principais indstrias cervejeiras, no Rio de Janeiro, aplicam as recomendaes da

    literatura especializada sobre o tema no planejamento e operao dos canais de marketing no

    lanamento de novos produtos?

  • 4

    Em caso afirmativo, como a adoo destas medidas contribui positivamente no

    lanamento de novos produtos?

    1.3 OBJETIVOS

    Nas sees seguintes sero apresentados o objetivo principal e os objetivos

    especficos.

    1.3.1 Objetivo principal

    O objetivo principal deste estudo emprico consiste em verificar se os profissionais das

    reas comerciais das principais indstrias cervejeiras, no Rio de Janeiro, aplicam os conceitos

    referentes gesto de canais de marketing nas estratgias de planejamento e operao no

    lanamento de novos produtos.

    1.3.2 Objetivos especficos

    a. Conhecer os modelos e aspectos mais importantes e relevantes de canais de marketing

    aplicveis a indstria cervejeira;

    b. Relacionar os conceitos tericos encontrados e apresentados neste estudo s indstrias

    de cervejas;

    c. Conhecer a viso dos profissionais participantes da gesto de canais das trs principais

    indstrias cervejeiras no Rio de Janeiro, em relao gesto de canais de marketing no

    lanamento dos novos produtos;

    d. Identificar e descrever as prticas de mercado e as estratgias para lanamentos de

    novos produtos nas principais indstrias de cervejas no Rio de Janeiro, sob a tica da

    rea comercial.

  • 5

    1.4 DELIMITAES DO ESTUDO

    O estudo est restrito teoria e as aplicaes prticas da gesto estratgica dos canais

    de marketing no lanamento de novos produtos da indstria de cerveja no mercado brasileiro,

    no sendo citados os outros produtos da indstria de bebidas e outros mercados consumidores.

    Este estudo tambm fica restrito aos aspectos da gesto estratgicas dos canais sob a

    tica do marketing. O tema no conduzido s perspectivas e enfoque da logstica

    relacionada aos canais. Para isso, na seo 2.1.5 ser feita a distino entre canais de

    marketing ou distribuio e canal logstico.

    As entrevistas foram feitas somente com profissionais da rea comercial do Rio de

    Janeiro, das trs principais indstrias cervejeiras do Brasil, no sendo abordados os

    profissionais de outras localidades e reas do composto organizacional, outras indstrias

    nacionais, representantes de empresas estrangeiras do mesmo segmento de mercado, como

    tambm membros intermedirios participantes dos canais de marketing e consumidores.

    1.5 RELEVNCIA DO ESTUDO

    Os canais de marketing por muitos anos receberam pouca ateno, se comparado as

    outras trs reas estratgicas do marketing mix (produto, preo e promoo). Contudo, nos

    ltimos anos cresceu o interesse pelos canais. Pelo menos cinco tendncias conduzem a tal

    mudana (ROSENBLOOM, 2002):

    a. Maior dificuldade em conquistar uma vantagem competitiva sustentvel;

    b. Cresce o poder dos distribuidores;

    c. Necessidade de reduo de custos de distribuio;

    d. Revalorizao do crescimento (participao nas prateleiras = participao de mercado

    = crescimento);

    e. Crescente papel da tecnologia e seus avanos, principalmente o advento da internet.

  • 6

    Alm de investigar as tendncias acima mencionadas, o presente estudo ir

    proporcionar aos profissionais de marketing, varejo, vendas e logstica um maior

    conhecimento terico e prtico sobre o planejamento e a operao dos canais de marketing no

    lanamento de novos produtos na indstria cervejeira.

    A tomada de decises destes profissionais pode ser difcil por interaes das variveis

    controlveis do composto de marketing (produto, preo, promoo e distribuio) e mais

    difceis ainda em relao s variveis incontrolveis como as condies econmicas,

    tecnologia, leis e polticas pblicas, ambiente poltico, concorrncia e alteraes sociais e

    culturais, sem mencionar a complexidade dos vrios grupos de clientes, funcionrios,

    acionistas e fornecedores.

    Diante disso, a reviso da literatura servir para remover algumas das incertezas e

    oferecer os esclarecimentos necessrios para a obteno de resultados satisfatrios nas

    estratgias, alm de melhorar a eficincia nas tomadas das decises gerenciais (MALHOTRA,

    2006).

    Sero identificados, tambm, atravs da pesquisa de campo os aspectos que podem

    contribuir positivamente nas aes de lanamento dos novos produtos, replic-los na gerao

    de novas e criativas estratgias de marketing para as empresas do setor, utilizando melhor os

    recursos disponveis para a obteno de sucesso e de expressivas vantagens competitivas.

    1.6 ORGANIZAO DO ESTUDO

    O presente trabalho est estruturado em seis captulos ou sees conforme ilustra a

    Fig.1.

  • 7

    Figura 1 Estrutura de apresentao do trabalho

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    O captulo 1 apresenta a introduo, a contextualizao, pergunta e objetivos da

    pesquisa, delimitaes, relevncia e a organizao do estudo. Estes elementos so

    indispensveis para a estruturao e desenvolvimento do presente estudo.

    Os temas importantes e fundamentais sobre a gesto de canais apresentados na reviso

    da literatura e indispensvel para o entendimento do estudo ser tratado no captulo 2. Neste

    captulo a gesto de novos produtos tambm ser estudada como forma complementar de

    entendimento do tema e para responder a pergunta de pesquisa.

    O captulo 3 apresenta um breve parecer sobre a indstria cervejeira e como os canais

    de marketing atuam neste segmento organizacional. O intuito deste captulo proporcionar

    uma melhor compreenso do estudo e dos resultados obtidos com a pesquisa.

  • 8

    J a metodologia de pesquisa ser abordada no quarto captulo deste estudo. Alm dos

    aspectos gerais e da pesquisa de campo, ser feito uma reviso da literatura sobre o estudo de

    caso, instrumento de pesquisa a ser adotado neste trabalho.

    Responder pergunta de pesquisa mencionada anteriormente, incluindo uma discusso

    dos resultados obtidos basicamente o objetivo do captulo 5. Como o presente trabalho

    prope realizar um estudo de casos mltiplos, neste captulo tambm sero analisados

    individualmente cada caso para em seguida realizar uma anlise global dos dados coletados

    nas entrevistas.

    No sexto e ltimo captulo sero feitas as consideraes finais, apresentando a

    concluso, as limitaes do presente estudo e sugesto para futuras pesquisas.

  • 9

    2 REFERENCIAL TERICO

    Neste captulo feita uma reviso da literatura sobre os conceitos referentes a canal de

    distribuio e gesto de novos produtos, indispensveis para o entendimento do presente

    estudo.

    2.1 CONCEITOS REFERENTES A CANAL

    A proposta desta seo prover um entendimento sobre os conceitos importantes e

    relevantes da gesto de canais de marketing, aos quais serviro como base para a anlise dos

    resultados deste estudo.

    importante ressaltar que no presente estudo canal de marketing e canal de

    distribuio so definidos pelos mesmos conceitos, conforme destaca Kotler (2000. p.510):

    A maioria dos fabricantes no vende seus produtos diretamente para os

    consumidores finais. Entre eles h vrios intermedirios realizando diversas

    funes. Esses intermedirios constituem um canal de marketing (tambm chamado

    de canal comercial ou canal de distribuio).

    2.1.1 Conceito de canal de marketing ou distribuio

    Para Coughlan et al. (2002, p.20), canal de marketing o conjunto de organizaes

    interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou servio para o uso

    ou consumo.

  • 10

    Segundo Ferrell et al. (2000, p.98), canal de marketing um sistema de organizaes

    pelo qual um produto, recursos, informaes e/ou propriedade flui de produtores a

    consumidores.

    A American Marketing Association (AMA, 2008) define canais de distribuio como

    a estrutura de unidades organizacionais dentro da empresa, e agentes e firmas comerciais

    fora dela, atacadistas e varejistas, por meio dos quais uma mercadoria, um produto ou um

    servio so comercializados.

    Canais de marketing tambm podem ser definidos na forma de como e onde voc

    compra um produto (ou servio) e como e onde voc usa o produto. a essncia de como

    consumidores e produtores interagem. a rota do fornecedor at o consumidor e seu

    relacionamento externo com o consumidor (WHEELER, HIRSH e STASIOR, 1999).

    Para Rosenbloom (2002, p.27), canal de marketing ou de distribuio a organizao

    contatual externa que a administrao opera para alcanar seus objetivos de distribuio.

    Esta definio apresenta adequao para o presente estudo; uma vez que destaca quatro

    caractersticas na definio do termo:

    Organizao contatual: empresas envolvidas no processo de negociao e de

    transferncia de produtos da indstria para o consumidor final.

    Externa: significa que o canal existe fora da empresa; ou seja, no parte da estrutura

    organizacional da empresa.

    Opera: sugere que a organizao esteja presente, atuando para assegurar o controle

    dos seus interesses pelo canal.

    Objetivos de distribuio: o canal de marketing existe como meio para que os

    produtos alcancem suas metas de distribuio e cheguem at os consumidores finais.

  • 11

    2.1.2 A estratgia de canal

    Kotler afirma que as estratgias de marketing so os princpios amplos pelos quais a

    empresa espera alcanar uma vantagem sobre a concorrncia, tornando-se atraente aos

    compradores e conquistar a plena explorao de seus recursos (KOTLER, 1998, p.502).

    Os canais de marketing, contudo, desempenham um papel de grande importncia na

    estratgia de marketing pelo fato de servirem como meios pelos quais os produtos e servios

    so deslocados at os consumidores finais (BOONE e KURTZ, 1998).

    Para Rosenbloom (2002, p.147), as estratgias de marketing de canais so os

    princpios pelos quais uma empresa espera alcanar seus objetivos de distribuio em seu (s)

    mercado(s)-alvo(s). As estratgias de canais podem ser iguais ou mais importantes do que as

    outras variveis estratgicas do Marketing Mix (produto, promoo e preo), como tambm de

    vital importncia para os objetivos estratgicos da empresa. Para alcanar tais objetivos de

    distribuio as empresas precisam concentrar suas aes em seis decises bsicas de

    gerenciamento:

    a. Qual o papel da distribuio nos objetivos e estratgias gerais da empresa?

    b. Qual o papel da distribuio no marketing mix?

    c. Como os canais de marketing devem ser desenhados para que os objetivos de

    marketing sejam atingidos?

    d. Quais os tipos de membros dos canais devem ser escolhidos?

    e. Como gerenciar a organizao externa de contatos para implementar o desenho

    de canal de forma eficaz e eficiente?

    f. Como avaliar o desempenho dos membros do canal?

  • 12

    A fim de distribuir os produtos com eficincia as empresas precisam avaliar com

    critrio os tipos bsicos de canais disponveis para atuar. Esta deciso dever ser rodeada de

    cuidados, anlises e estudos; pois implicar diretamente na presena dos seus produtos e/ou

    servios no mercado, conseqentemente nos seus resultados.

    Lambin (2000, p.509) ressalta:

    A necessidade de um circuito de distribuio para comercializar um produto vem da

    impossibilidade que o fabricante tem em assegurar, ele prprio e na totalidade, as

    tarefas e funes que suportam as relaes de troca que dizem respeito s

    expectativas dos potenciais compradores. Logo, o recurso a intermedirios implica,

    para a empresa, uma perda do controle sobre certos elementos do processo de

    comercializao, dado que leva subcontratao de uma parte das funes que,

    teoricamente, deveriam ser por ela exercida. Do ponto de vista do fabricante, a

    escolha de um circuito de distribuio uma deciso de importncia estratgica que

    deve ser compatvel no s com as expectativas do segmento visado, mas tambm

    com os objetivos da empresa. Alm disso, a escolha de um canal de distribuio

    uma deciso difcil de alterar.

    2.1.3 Os Membros do Canal

    Segundo Churchill e Peter (2005, p.368), os revendedores num canal de distribuio

    tambm so chamados de intermedirios. A deciso de escolha para utilizar intermedirio(s)

    ou no de extrema importncia para a atuao da empresa no mercado como tambm

    elemento mais bsico da estrutura do canal. Coughlan et al. (2002) apresentam na Fig. 2 um

    esquema que auxilia as empresas no processo decisrio. Caso a empresa decida em no

    utilizar intermedirios, deve verificar se tem realmente capacidade necessria para vender

    diretamente aos consumidores, desempenhando todos os fluxos de canal. Esta anlise incluir

    as condies e instalaes de armazenamento, estrutura da fora de vendas para promover e

    vender os produtos, aptides de comunicao e promoo, estruturas para servios de ps-

    venda, recursos financeiros para a manuteno de estoque e a utilizao do prprio sistema de

    pedido e pagamento. Diante disso, poucas so as empresas que escolhem a venda direta

    como modelo de distribuio.

    Uma vez decidido utilizar intermedirios no processo de distribuio, a empresa

    escolhe entre intermedirios varejistas ou intermedirios no varejistas. Para Coughlan et al.

    (2002), algumas perguntas devem ser respondidas para efetuar tal escolha:

  • 13

    1. Qual o fluxo ou quais os fluxos de canal devem ser desempenhados pelos intermedirios para atender s demandas por prestao de servios dos usurios

    finais?

    2. Quais parceiros varejistas ou no varejistas esto dispostos e disponveis para participar dos esforos de canal do produtor?

    3. H sinergia na utilizao em mais de um fluxo para um nico intermedirio?

    4. Como os usurios finais efetivamente compram os produtos?

    5. Qual intermedirio ou quais intermedirios especficos devem ser escolhidos dentre as opes disponveis, considerando a escolha de se utilizar um

    determinado tipo de intermedirio?

    Figura 2 Processo decisrio sobre a escolha dos membros do canal

    Fonte: Coughlan et al., 2002, p. 103.

    Para Rosenbloom (2002), o processo de seleo dos membros do canal consiste em

    trs etapas bsicas:

    a. Identificar potenciais membros;

    b. Aplicar critrios para selecionar adequadamente os potenciais membros;

    c. Transformar os potenciais em membros reais.

  • 14

    Os intermedirios facilitam as trocas e podem ser responsveis pela reduo dos custos

    destas trocas por terem desempenho eficiente do processo. Para Boone e Kurtz (1998), a

    importncia dos intermedirios est na utilidade que criam no servio que prestam e na

    capacidade que tem de reduzir custos, conforme ilustra a Fig.3.

    Figura 3 Transaes com e sem intermedirios

    Fonte: Boone e Kurtz, 1998. p.322.

    Portanto, intermedirios so os membros dos canais de marketing que operacionalizam

    o sistema. O uso de intermedirios na distribuio deve ser encarado como possibilidade de

    melhorar a eficincia dos diversos processos empresariais, principalmente os de produo,

    compra e venda, aumentando a percepo de valor pelos consumidores (STREHLAU e

    TELLES, 2006).

  • 15

    Para Churchill e Peter (2005), os intermedirios podem realizar as funes do canal de

    forma mais eficiente e eficaz, reduzindo, inclusive, o risco de que os produtos venham se

    deteriorar ou tornar-se ultrapassados. Para os autores, intermedirios habilidosos no somente

    conseguem realizar as funes do canal, como tambm se tornam especialistas em seus

    mercados. Para ilustrar, o quadro 1 apresenta os termos mais importantes e utilizados para

    defini-los com a respectiva descrio:

    Quadro 1 Descrio dos termos dos participantes do canal

    Fonte: Berkowitz et al, 2003, p.70.

    Richers (2000) ressalta ainda que a escolha dos intermedirios deve ser feita levando

    em considerao a sua localizao, eficincia na manipulao dos bens, a estrutura da fora de

    vendas, os servios de monitoramento do mercado e a imagem que esses membros repercutem

    no mercado.

    2.1.3.1 Treinamento e Motivao dos participantes dos canais

    O treinamento e desenvolvimento dos distribuidores e revendedores representam uma

    atividade de grande importncia no sucesso organizacional. Atravs destes intermedirios que

    as empresas sero vistas pelo consumidor final.

  • 16

    A motivao dos participantes dos canais deve ser praticada levando em considerao

    (ROSEMBLOOM, 2002):

    Conhecendo as necessidades e os problemas dos membros do canal;

    Desenvolver programas para apoiar suas necessidades e ajud-los a lidar com

    problemas especficos;

    Proporcionar liderana.

    As empresas devem, sempre, considerar os intermedirios como parceiros no esforo

    conjunto para satisfazer as necessidades e expectativas dos consumidores finais.

    Para Hutt e Speh (2002), as empresas devem proporcionar sempre aos intermedirios

    aes tticas como aumento de comisso, representao exclusiva, lanamento de novos

    produtos e aumento da promoo para aumentar o percentual de vendas e rentabilidade,

    gerando um aumento no grau de dependncia e conseqentemente motivao para os

    participantes dos canais.

    2.1.3.2 Avaliao dos participantes dos canais

    Para Kotler (2000), os fabricantes devem avaliar periodicamente o desempenho de

    seus intermedirios em relao a padres como quota de vendas, nvel mdio de estoque,

    tempo de entrega, troca de mercadorias avariadas e danificadas, cooperao nos programas

    promocionais e treinamentos.

    As avaliaes alm de peridicas devem conduzir a uma auditoria de desempenho

    considerando (ROSENBLOOM, 2002):

    Desenvolver critrios apropriados para avaliar o desempenho;

    Aplicar os critrios apropriados para medir o desempenho;

  • 17

    Recomendar aes corretivas para reduzir o nmero de membros do canal com mau

    desempenho.

    As modificaes nos canais tornam-se necessrias quando a distribuio no est

    funcionando conforme o planejado e o desejvel ou ainda (KOTLER, 2000):

    Quando o mercado se expande;

    Quando os padres de compra dos consumidores mudam;

    Quando surgem novos concorrentes;

    Quando o produto chega aos ltimos estgios do seu ciclo de vida.

    Vale mencionar que nenhum canal de marketing permanece eficaz por todo o ciclo de

    vida do produto: estgio introdutrio, estgio de crescimento, estgio de maturidade e estgio

    de declnio (KOTLER, 2000).

    2.1.4 Funes do canal

    Segundo Kotler (2000, p.511), um canal de marketing transfere as mercadorias dos

    fabricantes para os consumidores. Ele preenche as lacunas de tempo, local e posse que

    separam as mercadorias e os servios daqueles que precisam dessas mercadorias ou servios

    ou os desejam.

    As funes de movimentao fsica de produtos, transferncia de propriedades e

    promoo constituem um fluxo da atividade da empresa para o cliente. Porm, outras funes

    como pedidos e pagamentos constituem um contra fluxo; ou seja, parte dos clientes para a

    empresa. Kotler (2000, p.511) menciona ainda que as informaes, negociaes, finanas e o

    ato de assumir riscos ocorrem em ambas s direes.

  • 18

    Boone e Kurtz (1998) reiteram que os canais de marketing desempenham um papel

    chave na estratgia de marketing e desempenham quatro funes:

    a. Facilitam o processo de troca, reduzindo o nmero de contato para concretizar

    as vendas;

    b. Ajustam as discrepncias atravs do processo da seleo (adquam as

    necessidades tanto dos produtores quanto dos consumidores;

    c. Padronizam as transaes mercantis em termos de produto e do prprio

    processo de transferncia;

    d. Facilitam o comportamento de busca dos compradores e vendedores.

    Para Berkowitz et al. (2003), as funes mais importantes nos estudos referentes a

    canais de marketing so: funo transacional, funo logstica e funo facilitadora. As

    atividades relacionadas a estas funes so:

    Funo transacional com atividades relacionadas compra, venda e assuno de

    riscos do negcio.

    Funo logstica com atividades relacionadas a sortimento, armazenamento e

    transporte.

    Funo facilitadora com atividades de financiamento, classificao e pesquisa.

    Assim, as funes de marketing so mais bsicas que as instituies que as realizam.

    As mudanas nas instituies de canal refletem totalmente a descoberta de maneiras

    mais eficientes de combinar ou separar as funes econmicas que fornecem uma

    variedade de mercadorias para os clientes-alvo (KOTLER, 2000, p.512).

    A Fig. 4 ilustra o fluxo de canais normalmente utilizados no marketing industrial,

    classificados como canais para produtos industriais e para produtos de bens de consumo. Com

    isso, as empresas tm a possibilidade de optar por utilizar um ou vrios nveis de

    intermedirios, dependendo da sua gesto estratgica de canais de marketing (KOTLER,

    2000).

  • 19

    Para o presente estudo, o terceiro nvel dos canais de marketing para bens de consumo

    o que melhor ilustra a situao do mercado de bebidas. Nele, a fbrica produz e vende para

    os revendedores (atacadistas). Por sua vez, os atacadistas vendem para os varejistas (bares,

    lanchonetes, supermercados) e estes para o consumidor final.

    Figura 4 - Classificao dos Canais de Marketing

    Fonte: Kotler, 2000. p.513.

    Churchill e Peter (2005) destacam a importncia deste modelo para obter ampla

    distribuio, atingir os grandes mercados e lidar com variados consumidores ao mesmo

    tempo.

    2.1.5 Estrutura do canal

    O conceito de estrutura de canal muitas vezes no explicitamente definido na

    literatura de marketing. Contudo, para Rosenbloom (2002, p.37), a estrutura do canal o

    grupo de membros do canal para o qual foi alocado um conjunto de tarefas de distribuio.

    Distribuidores Industriais

    Fabricante

    Representante Do fabricante

    Cliente Industrial

    Fabricante Fabricante Fabricante

    Representante De vendas do

    fabricante

    Cliente Industrial

    Cliente Industrial

    Cliente Industrial

    Canais de Marketing Industrial

    Varejista

    Atacadista

    Consumidor

    Fabricante

    Especializado

    Consumidor Consumidor Consumidor

    Varejista Varejista

    Atacadista

    Fabricante Fabricante Fabricante

    Canais de Marketing de Bens de Consumo

  • 20

    Para Bowersox e Closs (2001, p.400), o termo estrutura utilizado para descrever

    relaes comerciais utilizadas na execuo das tarefas necessrias para executar o processo

    logstico.

    Neste estudo, faz-se necessrio estabelecer uma diferenciao e um aprofundamento

    de conceitos referentes a canal logstico e canal de marketing ou distribuio, conforme

    detalha de maneira didtica Bowersox e Closs (2001). Para os autores, o canal de marketing

    pode ser divido em cinco nveis sendo que os dois primeiros so operados pelo fabricante. So

    eles:

    Escritrio central de vendas

    Escritrio distrital de vendas

    Distribuidor

    Varejista

    Cliente.

    J o canal logstico tem sete nveis apresentados com clareza:

    Depsito da fbrica

    Caminho da empresa

    Depsito regional

    Transportadora rodoviria

    Depsito pblico

    Entrega local

    Cliente.

    Vale ressaltar que, conforme apresentado na figura 5, os canais seguem etapas

    distintas, convergindo somente quando atingem o objetivo final: o cliente da empresa. Tal

    separao se justifica no fato de gerar maior especializao.

  • 21

    Figura 5 Canal de distribuio: distino entre logstica e marketing

    Fonte: Bowersox e Closs, 2001, p.401.

    Bowersox e Closs (2001) comentam que, os arranjos tpicos dos canais de marketing e

    de logstica no so os melhores arranjos para a execuo simultnea das atividades de

    marketing e de logstica. Para os autores, o canal de marketing composto por empresas

    empenhadas nas atividades de compra e venda; administrando, negociando e contratando

    transaes de forma contnua. J o canal logstico envolve uma rede especializada na

    execuo de tarefas de movimentao e posicionamento de estoque. O trabalho de logstica

    abrange transporte, armazenamento, manuseio e processamento de pedidos, como tambm

    uma variedade de servios de valor agregado. As atividades dos canais de logstica atendem

    as exigncias de espao e tempo. Bowersox e Closs (2001) concluem que a execuo conjunta

    do trabalho de marketing e de logstica pelo participante caracteriza um sistema de estrutura

    nica.

    Conhecer, em profundidade, o que so canais de marketing ou distribuio, que

    funes so desempenhadas por eles, como so projetados e qual sua importncia para a

    indstria essencial e de extrema importncia para o entendimento de qualquer mercado,

    inclusive o de distribuio de bebidas.

  • 22

    2.1.6 Sistemas de canais de marketing ou distribuio

    Os canais de marketing so dinmicos. Surgem novas instituies de atacado e varejo

    e novos sistemas de canais. Estes sistemas podem ser convencional, vertical, horizontal ou

    multicanal, conforme ilustra Fig. 6 (KOTLER, 2000).

    Um canal de marketing convencional formado por um fabricante independente,

    atacadista(s) e varejista(s). Cada um uma empresa independente que busca maximizar seus

    lucros, mesmo que isso reduza o lucro do sistema como um todo.

    O sistema vertical, utilizado pelas indstrias cervejeiras, formado pelo fabricante,

    pelo(s) atacadista(s), e pelo(s) varejista(s), todos atuando como um sistema unificado e

    centralizado. Neste sistema encontra-se ainda, o Sistema Vertical Corporativo (SVM

    corporativo) que mescla estgios sucessivos de produo e distribuio a cargo de um nico

    proprietrio, ou seja: uma nica empresa controla a maior parte do canal, o Sistema Vertical

    Administrado (SVM administrado) que coordena os sucessivos estgios de produo e

    distribuio devido ao tamanho e ao poder de um dos membros um membro do canal exerce

    o poder de administr-lo, de forma que as decises beneficiem todo o canal e o Sistema

    Vertical Contratual (SVM contratual) que consiste em empresas independentes em diferentes

    estgios de produo e distribuio que entregam seus programas a contratos para

    conseguirem mais economia, reduo de custos ou aumento de vendas do que conseguiriam

    se trabalhassem sozinhas (KOTLER, 2000; CHURCHILL e PETER, 2005).

    No sistema horizontal de canal, duas ou mais empresas no relacionadas unem

    recursos ou programas para explorar uma nova oportunidade de mercado. Cada empresa

    sozinha carece de capital, know-how ou recursos de produo e marketing para se aventurar

    sozinha no mercado. Desta forma, estas empresas podem trabalhar em conjunto em bases

    permanentes ou temporrias ou criar ainda uma joint-venture (KOTLER, 2000).

    O sistema multicanal ocorre quando uma nica empresa utiliza dois ou mais canais de

    marketing para atingir um ou mais segmentos de clientes (KOTLER, 2000).

  • 23

    Stevens (2007) ressalta que essencial para a empresa maximizar os seus canais de

    marketing para assegurar o crescimento e a rentabilidade dos negcios. Para a autora,

    aprender a observar a empresa deste novo ponto de vista mudar profundamente a sua forma

    de se comunicar e proporcionar um foco altamente concentrado em todas as futuras

    comunicaes e estratgias de marketing.

    Figura 6 Sistema de Canais de Marketing

    Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Kotler, 2000, p.526.

    2.1.7 Conflitos nos canais de marketing

    Mesmo os projetos elaborados e realizados com qualidade superior e a preocupao

    com o gerenciamento dos canais, sempre haver algum conflito nos canais de marketing

    porque nem sempre os interesses das empresas participantes coincidem.

    Todos os canais de marketing tm um potencial de conflito e concorrncia, como

    resultado da incompatibilidade de metas, papis, e direitos mal definidos, de

    diferena de percepo e de relacionamentos interdependentes. As empresas podem

    administrar o conflito empenhando-se em metas superordenadas, trocando pessoas

    entre dois ou mais nveis de um canal, cooptando o apoio de lderes de diferentes

    partes do canal e estimulando a participao de membros nas associaes setoriais e

    a colaborao entre essas associaes (KOTLER, 2000, p. 535).

  • 24

    Os conflitos, segundo Kotler (2000) podem ser:

    Verticais Significa conflitos entre os diferentes nveis do mesmo canal.

    Horizontais Significa conflitos entre os mesmos nveis de um canal.

    Multicanais Significa conflitos quando o fabricante forma dois ou mais

    canais que vendem para o mesmo mercado.

    Os conflitos podem no ser funcionais. Porm, em alguns ambientes em transformao

    e mudana proporcionam uma adaptao mais dinmica. O desafio no eliminar o conflito,

    mas sim lidar com ele de maneira melhor (KOTLER, 2000, p.533).

    Para Rosenbloom (2002), o conflito existe quando um membro do canal percebe que

    as atividades e aes de outro membro, na realizao do seu trabalho, comeam a impedir a

    realizao de suas metas ou o desempenho eficaz de seus padres instrumentais de

    comportamento, prevalecendo um clima de frustrao.

    O conflito acontece quando o membro de um canal v o seu parceiro como um

    adversrio ou oponente. Coughlan et al. (2002, p.196) ressaltam que cada membro precisa de

    todos os outros para atender s demandas por prestao de servio do usurio final e para

    fazer isso de maneira econmica.

    2.1.8 Consideraes sobre a importncia dos canais de marketing

    Os canais de marketing afetam diretamente as decises referentes comercializao

    dos produtos e/ou servios de uma organizao.

    No mercado atual, altamente competitivo, manter os produtos e/ou servios

    disponveis aos distribuidores e consumidores tarefa rdua, alm de ser um desafio no

    gerenciamento de canais de marketing para todas as organizaes, independente do seu porte.

    Os canais de distribuio podem ser percebidos at mesmo em empresas com grande fora e

    destaque nos outros compostos de marketing: produtos, preo e promoo.

  • 25

    Os canais de marketing so importantes porque atuam como responsveis por colocar

    os produtos e/ou servios onde os consumidores desejam. Para Rosenbloom (2001, p.296),

    as utilidades de tempo, lugar e posse so condies que possibilita que consumidores e

    organizaes disponham de produtos para usar quando e onde os quiserem.

    Rosenbloom (2001) apresenta um exemplo do setor de cerveja, apropriado, importante

    e oportuno para o estudo em questo, que ressalta a importncia dos canais de marketing.

    Segundo o autor, neste segmento a estratgia de promoo necessria para construir e

    manter o conhecimento da marca. Contudo, reconhece que o custo da promoo elevado e

    os resultados so efmeros e os concorrentes tambm esto apostando nesta estratgia. Dada

    as limitaes dos outros componentes do marketing mix (produto, preo e promoo),

    conforme ilustra a Fig.7 espera-se alcanar com a estratgia de distribuio um consistente

    relacionamento com os distribuidores. No est descartada a importncia dos outros

    componentes; pelo contrrio: a empresa tem que ter bom produto, preo competitivo e

    atraente, comunicao eficaz, mas ser com a estratgia de canais que a empresa desenvolver

    vantagem competitiva em longo prazo.

    Figura 7 Variveis Estratgicas do Marketing Mix

    Fonte: Rosenbloom, 2002, p.31.

  • 26

    2.1.9 Canais de marketing e vantagem competitiva

    Segundo Rosenbloom (2002, p.23), obter vantagem competitiva sustentvel atravs

    dos canais de marketing um diferencial competitivo que no pode ser facilmente copiado

    pela concorrncia, o que vem ficando cada vez mais difcil de alcanar mediante estratgias

    de produto, preo e promoo.

    Detalhando a afirmativa acima, na estratgia de produto, a rpida troca de tecnologias

    e informaes entre as organizaes e a competio global possibilitam as empresas

    acompanharem de perto seus concorrentes em projetos, atributos e qualidade dos produtos,

    tornando esta estratgia vulnervel e frgil na obteno de vantagem competitiva

    (ROSENBLOOM, 2002).

    A promoo, da mesma maneira, apresenta-se de maneira ineficiente como vantagem

    competitiva. Diariamente o consumidor bombardeado por anncios, gerando confuso e

    sobrecarga de informaes publicitrias.

    Mesmo as mensagens promocionais mais inteligentes e cuidadosamente concebidas

    tm efeito efmero quando milhares de mensagens disputam a mente do pblico-

    alvo. Portanto prender-se a uma vantagem competitiva ganha por meio de promoo,

    tornou-se quase impossvel hoje. (ROSENBLOOM, 2002, p. 24)

    Alm disso, uma empresa que enfatiza seu diferencial em preos no conseguir

    manter esta vantagem por muito tempo. Poder surgir um concorrente ofertando produtos e/ou

    servios similares, com preos mais competitivos (ROSENBLOOM, 2002).

    Nos tempos atuais, de economia globalizada e de rpidas mudanas mercadolgicas e

    tecnolgicas obter vantagem competitiva via canais de distribuio tem sido a opo mais

    segura por organizaes que buscam diferenciao e otimizao de resultados nos mercados e

    segmentos em que atuam. H razes para esta afirmao: A estratgia de canal de longo

    prazo. A estratgia de canal geralmente exige uma estrutura. A estratgia de canal baseada

    em pessoas e relacionamentos (ROSENBLOOM, 2002, p.24).

    O quadro 2 ilustra diferentes situaes competitivas. As empresas, na viso de Dias et

    al. (2006), devem adotar estratgias que lhe assegurem a paridade ou, melhor ainda, a

  • 27

    vantagem competitiva. Esta vantagem muitas vezes resultado de uma srie de aes

    realizadas pela organizao sem que uma delas se sobressaia sobre as demais ou se destaque

    de maneira relevante.

    Quadro 2 Situaes empresariais competitivas

    Fonte: Dias et al., 2006, p. 166.

    Portanto, desprezar a gesto dos canais um risco para os negcios da empresa e uma

    perda de oportunidade para a obteno da vantagem competitiva, afirmam Anderson e

    Couglhan (1987). Os autores destacam ainda que ultimamente uma estratgia de canal pode

    ser encarada como uma srie de trade-offs e compromissos que alinham os recursos das

    empresas com o que deve satisfazer seus consumidores e permanecer frente de seus

    concorrentes ou competidores.

    2.1.10 Organizao estrutural do canal

    De acordo com as informaes obtidas no decorrer deste estudo, as organizaes

    precisam avaliar de modo sistemtico e detalhado as aes estratgicas adotadas e as

    conseqncias acarretadas com tais escolhas no gerenciamento dos canais de marketing.

  • 28

    Lambin (2000) apresenta um esquema para tomadas de decises estratgicas de

    distribuio, conforme ilustra a Fig. 9, onde as informaes servem de roteiro ou de check-list

    eficaz, capaz de minimizar erros e garantir o sucesso das aes estratgicas dos canais.

    Este esquema permite que gestores de canais observem seu negcio como um todo,

    observando detalhe relevante e no deixando de verificar as implicaes que cada deciso

    pode acarretar no fluxo do canal.

    Para Maciel (2006, p.46), o esquema apresentado na Fig. 8 responde s perguntas

    importantes e fundamentais para o estudo de canais de marketing e pode ser utilizado sempre

    que for necessrio readequar todo ou parte do canal. So elas:

    a. Quais atividades devem ser desenvolvidas antes da escolha dos canais?

    b. Quais caractersticas de mercado precisam ser consideradas?

    c. Qual estrutura deve ser escolhida para sua maior eficincia?

    d. Quais aes precisam ser implementadas aps a escolha da estrutura?

    e. Como ser a cobertura, como a empresa far a comunicao para apoiar a venda

    no canal?

    f. Qual a avaliao de custos dentro e fora da empresa?

    g. Enfim, qual a melhor estratgia de gesto do sistema de canais para o negcio?

    O autor destaca ainda que cada item e nvel do esquema representem uma varivel de

    deciso, interligada s demais, e que afeta todo o sistema, de forma contnua e intermitente.

  • 29

    Figura 8 Esquema de deciso de projeto de canal

    Fonte: Lambin, 2000, p.510.

    2.1.11 Anlise, planejamento, implementao e controle dos canais

    Para administrar a estratgia de canais e logstica nas empresas, h a necessidade da

    mxima ateno aos itens de anlise, planejamento, implementao e controle, indispensveis

    para o sucesso empresarial na dinmica da gesto dos canais (DIAS et al., 2006).

  • 30

    Para Kotler (1999), analisar o mercado consumidor, o comportamento de compras e

    identificar e selecionar os segmentos deve ser o primeiro passo para alcanar o sucesso nas

    estratgias de canais, conforme j mencionado acima. O segundo passo planejar

    corretamente, atravs de um estudo detalhado. Seguindo, precisa-se implementar as aes; ou

    seja, transformar os planos de marketing em aes prticas. E por ltimo, o autor destaca a

    importncia do controle para validar as aes ou at mesmo realizar aes de correo ou

    adaptaes.

    Nesta reviso bibliogrfica foi destacada a importncia e a relevncia que o estudo

    sobre os canais de marketing tem para a gesto estratgia das empresas modernas. Na

    seqncia, ser apresentada, tambm, uma reviso da literatura sobre gesto de novos

    produtos, ressaltando os aspectos propulsores, processos de desenvolvimento, inovao e

    criatividade e fatores que contribuem para o sucesso ou insucesso nos lanamentos de novos

    produtos.

    2.2 GESTO DE NOVOS PRODUTOS

    A definio clssica de produto algo que pode ser oferecido a um mercado para

    satisfazer uma necessidade ou desejo, afirma Kotler (2000, p.416).

    Na gesto de novos produtos, o entendimento dos conceitos sobre produto

    indispensvel. Pride e Ferrell (2001) afirmam que produto qualquer coisa que o indivduo

    recebe numa troca, podendo ser algo tangvel ou intangvel, que inclui utilidades ou

    benefcios funcionais, sociais ou psicolgicos. Quando os produtos so adquiridos pelos

    clientes de uma empresa, na realidade estes clientes esto comprando os benefcios e a

    satisfao imaginada, ressalta o autor.

    Para Lambin (2000), a deciso de lanamento de novos produtos so arriscadas e

    complexas, mas so tambm de extrema importncia para o desenvolvimento e sobrevivncia

    das empresas. O autor revela que os novos produtos so responsveis por um grande e

    decisivo impacto sobre o lucro das empresas.

  • 31

    Da mesma maneira, Moreira (1998) destaca a complexidade e os riscos envolvidos no

    lanamento de novos produtos, afirmando que esse processo no pode ser realizado tendo por

    base unicamente sensaes e experincias dos executivos de uma empresa. So primordiais

    informaes e anlises criteriosas para desenvolver produtos de forma eficiente e vencedora.

    Etzel, Walter e Stanton (2001) mencionam que h diversas conotaes para a

    classificao de produtos novos. Para o propsito de marketing (que relevante para esse

    estudo), os autores destacam trs categorias que os produtos novos precisam para serem

    reconhecidos:

    a) Inovadores verdadeiramente nicos qualquer produto novo que satisfaa

    uma necessidade real que no est sendo supria no momento da sua introduo

    no mercado.

    b) Significativamente diferentes So substitutivos e significativamente

    diferentes dos produtos existente em forma, funo e principalmente nos

    benefcios fornecidos.

    c) Imitadores Esses produtos podem ser novos para uma determinada empresa,

    mas no so novos para o mercado.

    O fato de o produto ser novo ou no depender de como o mercado alvo o percebe. Se

    os consumidores o considerarem significativamente diferente dos produtos da concorrncia,

    destacando alguma caracterstica relevante na sua aparncia, desempenho ou funcionalidade,

    ento este produto de fato novo (ETZEL, WALTER e STANTON, 2001).

    Rosenbloom (2002) destaca a importncia da aceitao dos novos produtos pelos

    membros do canal. Vale ressaltar que os membros desempenham relevante e fundamental

    importncia no processo estratgico dos canais, conforme apresentado na seo 2.1.3.

    Sem dvida, para um novo produto ser bem-sucedido, ele deve ser aceito pelos

    usurios finais sejam clientes industriais ou consumidores. Todavia, o sucesso

    tambm depende igualmente da aceitao dos membros do canal, pelos quais

    passam o novo produto antes de chegar ao cliente final. Deve-se enfatizar que os

    atributos do produto que atraem o usurio final so diferentes dos que atraem os

    membros do canal. Enquanto os usurios finais esto mais preocupados com o

    desempenho do produto quanto usado, os membros do canal esto muito mais

    interessados em como o produto vender, se ser fcil de estocar e exibir, e o mais

    importante, se ser rentvel (Rosenbloom, 2002. p.261).

  • 32

    2.2.1 Processo de desenvolvimento de novos produtos

    A estratgia de desenvolvimento de novos produtos tem que estar alinhada com as

    caractersticas do mercado que se pretende atuar. A deciso gerencial tem que levar em

    considerao o potencial do mercado, estrutura, foras e fraquezas da concorrncia e o custo

    de explorao principalmente o de distribuio, ressalta Dias et al. (2006).

    Etzel, Walter e Stanton (2001) classificam em seis estgios o processo de

    desenvolvimento de novos produtos, conforme ilustra a Fig. 9. Em cada estgio deve ser

    realizada uma avaliao rgida antes de dar continuidade no processo. Igualmente, o

    comprador potencial passa por um processo de seis estgios, chamado de processo de adoo,

    retratados na Fig. 10. Para realizar esta anlise, importante definir e conhecer o

    comportamento dos prospects, do pblico-alvo da empresa para esse produto.

    Figura 9 Estgios no desenvolvimento de novos produtos Empresa

    Fonte: Etzel, Walter e Stanton, 2001, p.209.

    Figura 10 Estgios do processo de adoo consumidor

    Fonte: Etzel, Walter e Stanton, 2001, p.213.

  • 33

    2.2.2 Fatores motivadores para o sucesso no lanamento de novos produtos

    A grande preocupao das empresas no lanamento de novos produtos e gerar

    satisfao para os seus consumidores, gerando aumento de participao de mercado e

    conseqentemente a lucratividade.

    Churchill e Peter (2005) mencionam que devido forte concorrncia do mercado, as

    empresas que no inovarem com o desenvolvimento de novos produtos perdero terreno para

    aquelas que encontrarem as melhores maneiras de criar valores para os seus clientes.

    Para Wille et al. (2005), as empresas precisam lanar constantemente novos produtos

    para atingir sucesso no mercado competitivo, encorajando a comunicao entre os diversos

    departamentos e funes e estimulando a criatividade dos colaboradores.

    Outro agente motivador e propulsor para as empresas no lanamento de novos

    produtos esto relacionados s tentativas de aumento de vendas, sustentabilidade dos

    rendimentos, maximizao dos lucros e a busca por vantagens competitivas diferenciadas no

    mercado, construindo assim uma base slida para o seu crescimento futuro (ETZEL,

    WALTER e STANTON, 2001).

    O sucesso no lanamento de novos produtos acontece quando a empresa faz

    corretamente seus projetos e faz os projetos certos (doing the projects right and doing the

    right projects). Para isso, necessrio que seja elaborada e definida uma estratgia de

    produtos e projetos que acompanhe a estratgia de crescimento determinada para a empresa,

    afirma Cooper (2001).

    Para Cooper (1993) apud Lambin (2000), trs fatores surgem como a chave para o

    sucesso no lanamento de novos produtos: A superioridade do produto em relao aos

    concorrentes; o know how em marketing da empresa, neste aspecto leva-se em considerao a

    compreenso do mercado, ritmo de adoo e ciclo de vida do produto, alm do conhecimento

    da dimenso do mercado potencial e por ltimo, o know how tecnolgico. Com isso, as taxas

    de sucesso observadas pelos novos produtos que seguiram esta dinmica chegaram a 90% e as

    que no atenderam ficaram na faixa dos 7%. Para o autor, as empresas precisam estar atentas

  • 34

    aos fatores acima apresentados, como tambm as regras e orientaes apresentadas

    sistematicamente no quadro 3.

    Quadro 3 As quinze regras de ouro do Sucesso

    Como necessrio entender o assunto pelas duas vertentes (sucesso e insucesso),

    Kotler (2000) lista uma srie de razes que justificam o insucesso no lanamento de novos

    produtos:

    a) Imposio da alta gerncia, contrariando pesquisas de mercado;

    b) Superestimar o mercado mesmo sendo boa a idia;

    c) Produto mal projetado;

    d) Posicionamento errado do produto no mercado, sem propaganda eficaz ou

    preo elevado;

    e) Custos de desenvolvimento maior do que o planejado;

    f) Concorrentes reagem mais do que o esperado.

  • 35

    Rosenzweig (2008) ressalta que muitos pesquisadores se empenham, trabalham muito

    para apontar com preciso as razes para o sucesso empresarial. Se eles no conseguem

    encontrar respostas definitivas, precisa-se perguntar o por qu? Por que at as mentes mais

    brilhantes no conseguem encontrar, depois de reunir grande quantidade de dados, respostas

    slidas que determinam o alto desempenho e as razes para o sucesso das empresas? Para o

    autor, no h garantias que o sucesso decorra de regras rgidas, planos mirabolantes, ou at

    mesmo com o comprometimento de seguir etapas ou passos pr-estabelecidos. A melhor

    maneira de pensar em sucesso na administrao depende de empregar uma viso clara e

    escrupulosa dos fatos e dos negcios empresariais, atentando e prevenindo dos seguintes

    equvocos:

    1. O efeito Aura Formata o modo de como usualmente falamos sobre negcios,

    processos de deciso a pessoas e liderana. Muitos fatores que acreditamos

    impulsionar o desempenho organizacional so simplesmente atribuies

    baseadas em seus desempenhos anteriores;

    2. Correlao e Causalidade Embora dois fatos possam estar correlacionados,

    no podemos saber qual a causalidade entre eles;

    3. As explicaes simples Muitos estudos demonstram que fatores isolados

    levam as empresas a um desempenho melhor. Mas, uma vez que muitos destes

    fatores esto correlacionados, o efeito de cada um usualmente menor do que

    o sugerido;

    4. Ligar os pontos vencedores Ao escolhermos somente empresas de sucesso

    para realizar anlises, nunca sero isolados efetivamente os fatores que levam

    ao seu sucesso, pois no temos meios de compar-las com empresas de menor

    sucesso;

    5. A pesquisa rigorosa A reunio de dados fornecidos para anlise tem que ser

    de boa qualidade;

  • 36

    6. O sucesso duradouro Muitas empresas de alto desempenho regridem com o

    passar do tempo. A promessa de um projeto duradouro de sucesso embora

    atraente, no representa a realidade;

    7. O desempenho absoluto O desempenho das empresas relativo e no

    absoluto. Uma empresa pode melhorar seus resultados e ainda continuar atrs

    de seus concorrentes;

    8. A ponta errada do basto Pode ser verdade que o sucesso seja proveniente de

    uma estratgia bem formulada e focada; mas isso no significa que estratgias

    com o mesmo teor levem as empresas ao sucesso;

    9. A fsica organizacional O desempenho das empresas no obedece a leis

    imutveis da natureza e no podem ser previstos com a preciso da cincia.

    Mesmo assim, as empresas no podem deixar de lanar novos produtos. A vida da

    organizao tem que estar alicerada nas inovaes e nos constantes lanamentos. Por isso, o

    processo de lanamento requer uma ateno muito grande da empresa para que os erros

    listados abaixo sejam evitados e eliminados (GAMA, 1993):

    Falta de um lder dentro da empresa para conduzir o processo;

    Metodologia de trabalho inadequada;

    Falta de coragem para interromper o processo percebido como invivel;

    M configurao e posicionamento do produto para o mercado;

    Pesquisas de mercado mal elaboradas e aplicadas;

    Falta de parmetros na gesto de controle de qualidade;

    Desconhecimento da concorrncia;

    Falta de estudos completos de viabilidade econmicos e financeiros;

    Testes de mercado inadequados ou nulo;

    Falta de anlises completas de risco utilizao de feeling;

    Viso parcial do processo de comunicao;

    Dimensionamento inadequado de preo;

    Falta de informaes relevantes sobre o produto (caractersticas,

    posicionamento, promoo) para a fora de vendas;

  • 37

    Acompanhamentos de ps-lanamento mal feitos, sem gerenciamentos e

    avaliaes;

    Falta de parmetros bem definidos para avaliao do lanamento.

    evidente que as empresas direcionam seus esforos para atingirem sucesso no

    lanamento de novos produtos. Porm, novos produtos bem-sucedidos geralmente enfatizam

    empresas que investem em planejamento, organizao e cooperao dos diversos

    departamentos (CHURCHILL e PETER, 2005).

    Contudo, o desenvolvimento e lanamento de novos produtos continuam sendo um

    enorme desafio para as empresas. Rosenbloom (2002) afirma que as empresas de produtos de

    consumo lanam vinte mil novos produtos a cada ano. Deste total, somente 25 % permanecem

    na distribuio por mais dois anos, mesmo com forte apelo de comunicao. Estes

    sobreviventes, no conseguem chegar aos cinco anos de vida. A taxa de fracasso gira em

    torno de 90%. Por isso, tem que haver um foco no planejamento e desenvolvimento, alerta o

    autor.

    Neste sentido, Strehlau e Telles (2006, p. 52) destacam a real importncia da estratgia

    de canais no lanamento de novos produtos e conclui:

    A adequada gesto dos canais de marketing crucial para o sucesso

    das empresas, refletindo fundamentalmente a eficincia da

    composio entre o entendimento das demandas dos clientes, ou

    eficcia com relao aos objetivos dos compradores e o resultado de

    produtores e intermedirios, ou eficcia com relao aos objetivos

    das empresas componentes da cadeia de distribuio.

    2.2.3 Inovao e criatividade

    A inovao um tema de grande relevncia para o marketing e para o comportamento

    do consumidor. O lanamento e a introduo de novos produtos no mercado so de vital

    importncia para as empresas, consumidores e economia como um todo. Para as empresas,

    significa mant-la competitiva e lucrativa. Para os consumidores, garantem a possibilidade da

    satisfao das necessidades pessoais, sociais e ambientais. J para a economia, proporciona a

    melhoria dos potenciais de qualidade de vida para grande nmero de pessoas (SCHIFFMAN e

    KANUK, 1997).

  • 38

    Lambin (2000) destaca que a inovao til em diversos sentidos que vo desde as

    melhorias menores s transformaes radicais de um produto. O autor ressalta ainda a

    importncia de distinguir os diferentes tipos de inovao para que a empresa avalie de forma

    estruturada a natureza do risco que ir correr no mercado, conforme listados abaixo:

    a) O grau de novidade para a empresa;

    b) A natureza da inovao se tecnolgica ou organizacional;

    c) Origem da inovao: se forada pela empresa ou requisitada pelo mercado;

    d) A importncia das mudanas tecnolgicas e/ou do comportamento de compra

    dos consumidores.

    Amabile (1998) apresenta em seu artigo how to kill creativity os diversos aspectos que

    a criatividade tem no ambiente organizacional, fazendo uma anlise dos seus componentes e

    ferramentas. A reflexo destes conceitos nas empresas modernas permite aos gestores

    aplicabilidade e melhorias dos resultados.

    Para a autora, h trs componentes importantssimos para a criatividade acontecer,

    descritos abaixo:

    Expertise conhecimento

    Motivao

    Ability to think habilidade

    Amabile (1998) destaca ainda outros aspectos relevantes para que as empresas

    modernas melhorem os seus resultados:

    a. Motivao Externa est relacionada a um sistema corporativo de recompensas e

    punies, gerando muitas vezes expectativas. Limita a criatividade.

    b. Motivao Interna desejo de fazer algo baseado nos seus interesses, crenas e

    paixes. Gera um grande estmulo a criatividade.

  • 39

    c. Criatividade empresarial diferente do conceito convencional: Criatividade no so

    somente criaes artsticas e idias geniais e diferentes. Criatividade nas empresas vai

    de criar e aprimorar produtos novos at melhorar os processos j existentes, em todas

    as reas.

    d. A criatividade no ambiente organizacional:

    Desafio os times so formados pelas habilidades, no conhecendo a motivao

    destas pessoas. O nvel de desafio tem que ser feito na medida certa;

    Liberdade permitir que as pessoas desenvolvam seus trabalhos de maneira livre,

    encontrando as melhores alternativas para alcanar xito;

    Recursos ter coerncia estabelecer corretamente os recursos, principalmente

    tempo e recursos financeiros. A escassez destes no gera a criatividade;

    Composio do time grupo de trabalho fundamental para o sucesso. Pessoas

    certas nos lugares certos;

    Estmulos superiores encorajando e dando apoio as atividades;

    Apoio suporte permitir a experimentao. Apoiar nos acertos e erros. Podemos

    tambm aprender muito com os erros.

    Portanto, a criatividade pode ser sempre estimulada, fazendo com que as equipes

    sintam-se motivadas e com o sentimento de que so partes do processo e no simplesmente

    coadjuvantes, conclui a autora.

    Hoje, a inovao muito mais do que desenvolver e lanar produtos novos.

    reinventar processos de negcio e construir mercados completamente novos que encantem e

    satisfaam as necessidades ainda no satisfeitas dos consumidores. Enfim, inovar executar e

    trazer para o mercado em tempo recorde as idias certas (McGREGOR et al., 2006).

  • 40

    2.2.4 Gesto do canal no lanamento de novos produtos

    As empresas para lanarem os seus novos produtos precisam contar com os membros

    do canal para implementar as estratgias originalmente traadas; uma vez que a maioria destas

    empresas no vende diretamente os seus produtos ao consumidor final. Por isso, a interface

    entre as estratgias de produtos e as estratgias de canais de marketing so importantes para

    garantir a viabilidade e a rentabilidade do lanamento de novos produtos no mercado

    (ROSENBLOOM, 2002).

    Para Dolan (2000), o primeiro passo para estabelecer o desenho do canal de marketing

    consiste em saber em que segmento de mercado as empresas devem atuar, que tarefas

    precisam ser concludas e quais so as opes viveis para realiz-las.

    Rangan (1994) ressalta a importncia deste desenho e apresenta um mtodo com seis

    passos para avaliar, planejar e executar sistematicamente as decises de escolha dos canais

    para o lanamento de novos produtos, conforme descrito a seguir:

    Passo 1 - Identificar segmentos de clientes homogneos clientes com requisitos similares

    necessitam de canais similares.

    Passo 2 - Identificar e priorizar os requisitos da funo do canal do cliente. Esta lista genrica

    apresenta:

    Informao do produto

    Adaptao do produto

    Qualidade do produto

    Tamanho do lote

    Sortimento

    Disponibilidade

    Servio de ps venda

    Logstica

  • 41

    Contudo, esta lista deve ser apenas um ponto de partida. Cada contexto do mercado de

    produto nico e os requisitos para as funes de canais que melhor se adquam e

    representam a realidade dos clientes conduzem a soluo de canais mais eficientes.

    Passo 3 - Consiste em comparar as capacidades existentes do canal do vendedor como

    tambm dos canais de competidores com respeito s exigncias de funo dos canais de

    clientes. Os dados do passo 2 servem para priorizar e fixar o nvel ideal desejado das funes

    do canal. Assim, quanto maior for os desvios das funes importantes, menor sero as

    oportunidades para atrair clientes. O autor ressalta ainda que conveniente comparar as

    capacidades do canal com as dos competidores principais.

    Passo 4 - Este passo consiste em interpretar criativamente os rendimentos dos passos 2 e 3

    para chegar s opes factveis de canal que satisfaam os requisitos dos clientes; ou seja,

    identificar criativamente as alternativas de canal com o potencial de se aproximar das

    exigncias ideais dos clientes. importante que esta fase no seja restringida por realidade ou

    limitaes imaginrias. Devem ser transferidos os problemas de custo do canal ou conflitos

    estritamente ao prximo passo.

    Passo 5 - Consiste em avaliar sistematicamente os benefcios e as despesas associadas com

    cada opo. Deve ser levando em considerao a participao de mercado, a penetrao de

    mercado, as despesas de transao, as despesas iniciais e as despesas de oportunidade. As

    despesas do canal no s so influenciadas pela profundidade e magnitude das funes do

    canal a ser desenvolvido, mas tambm pelo o comportamento competitivo que influencia na

    disponibilidade dos canais.

    Passo 6 Consiste em elaborar uma sobreposio de canais para multi-produtos e negcios,

    totalizando os resultados do passo 5. Devem-se discutir as sinergias do canal e as

    disfuncionais idades entre os segmentos de mercado do produto e as decises baseadas em

    relaes de compromisso dentro do grupo de estratgias apropriadas.

    Vale ressaltar que neste mtodo o ponto de partida o cliente e o ponto central a

    funo do canal. Para Rangan (1994), a pergunta principal est sobre a estrutura do canal, ou

    seja, que intermedirio ou quais combinaes de intermedirios mais adequado para

  • 42

    comercializar os novos produtos? Ou ainda, como deve ser dirigida a rede de intermedirios

    uma vez estabelecida e j em funcionamento?

    Rosenbloom (2002) afirma ainda que para uma gesto de canais eficaz, as variveis do

    composto de marketing: Produto, preo, promoo e distribuio devem estar alinhadas e

    convergindo para os objetivos da empresa para o lanamento de novos produtos. necessrio

    tambm analisar as estratgias de cada rea do composto de marketing para melhorar as

    estratgias de gesto do canal da empresa.

    No captulo seguinte ser apresentado um parecer sobre o setor cervejeiro e como os

    canais de marketing atuam neste segmento, visando proporcionar um melhor entendimento do

    estudo e dos resultados obtidos pela pesquisa.

  • 43

    3 CONSIDERAES REFERENTES INDSTRIA CERVEJEIRA

    O objetivo deste captulo mostrar a indstria cervejeira, principalmente o cenrio

    brasileiro, apresentando as singularidades do mercado, destacando sua estrutura, forma de

    atuao e operao, gestes estratgias e desafios mercadolgicos.

    Cabe ressaltar que as informaes constantes nesta seo tambm so fontes

    importantssimas de evidncias, fundamentais para que o autor possa realizar, juntamente com

    as entrevistas em profundidade, o desenvolvimento de linhas convergentes de investigao;

    ou seja, um processo de triangulao mencionado na seo 4.2.

    3.1 A INDSTRIA CERVEJEIRA BRASILEIRA

    A indstria cervejeira est vivendo um perodo de grande expanso e de conquistas

    significativas no mercado nacional, ajustando-se a um novo modelo de negcio, livre da ao

    governamental de controle de preos e margens de lucro que norteou esse segmento por

    muitos anos, adotando uma poltica de estmulo e incentivo a concorrncia, caractersticas de

    economias desenvolvidas (BANDES, 2004).

    A conseqncia desta mudana nos rumos da indstria cervejeira pode ser verificada

    com as alianas estratgicas realizadas com as indstrias nacionais e estrangeiras deste

    segmento na dcada de 90. O mercado presenciou os joint-ventures de Brahma com Miller,

    Antarctica com Anheuser-Bush, fabricante da Budweiser, Kaiser com Heineken e a Skol com

    a Carlsberg. Todas as alianas formadas tiveram a aprovao do Sistema Brasileira de Defesa

    da Concorrncia (BANDES, 2004).

  • 44

    Porm, outras alianas ocorreram no mercado interno, principalmente a da Cervejaria

    Brahma, detentora das marcas Brahma e Skol com a Cervejaria Antarctica, dando origem a

    maior indstria cervejeira nacional, a AmBev (BANDES, 2004).