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Gestão Escolar em uma Perspectiva Pedagógica na Rede Municipal
de Ensino de Blumenau
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PREFÁCIO
Blumenau é uma cidade excepcionalmente interligada com a pluralidade
sociocultural e política. Tem uma história marcada de lutas.
É certo que dentro dessa história consolidaram-se as Políticas Públicas, tendo como
debate a gestão educacional na perspectiva de uma nova Política Municipal de Educação.
A Secretaria Municipal de Educação, como um dos pilares fundamentais para a
execução da gestão educacional, preconiza quatro linhas prioritárias:
- Gestão Democrática.
- Regime de colaboração com os sistemas de ensino.
- Gestão do Financiamento Público.
- Ampliação na qualidade da Política Educacional.
Nessa ótica, temos o entendimento de que a participação efetiva de todos contribui
para uma educação democrática, nas dimensões pedagógica, administrativa e financeira da
gestão.
A dimensão pedagógica muitas vezes é vista como ações técnico-administrativas e
com isso aspectos pedagógicos podem acabar sendo preteridos. No entanto, as experiências
aqui relatadas mostram o contrário. Evidenciam a importância dessa dimensão resultante de
conquistas realizadas no interior das unidades educacionais e com a participação da
comunidade escolar, conforme preconizado na Lei nº 9394/96 – LDBEN. Essa legislação
expressa o princípio constitucional de Gestão Democrática do ensino público, que incumbe às
instituições educacionais a elaborar e executar a sua proposta pedagógica, estabelecendo
assim o princípio da autonomia.
Assim, a Prefeitura Municipal de Blumenau, por meio da Secretaria Municipal de
Educação, proporcionam condições concretas para que as unidades educacionais exerçam o
princípio da autonomia e os princípios da prática pedagógica pautados na ética, na estética e
na política.
Nessa acepção, o Caderno Gestão Escolar em uma Perspectiva Pedagógica na Rede
Municipal de Ensino de Blumenau vem apresentar práticas de gestão vivenciadas na rede, na
busca por conduzir os leitores a reflexões acerca de como as dimensões pedagógica,
administrativa e financeira operaram nos espaços educacionais.
Para compor este Caderno publicaremos um artigo, quatro relatos de prática da
gestão municipal e dezenove relatos de experiência das gestões escolares. O artigo versa as
4
SUMÁRIO
Artigos
Notas sobre os fluxos da gestão escolar na atualidade: traçando linhas de uma gestão do
cuidado
Gicele Maria Cervi, Mirele Corrêa e Monique Cristina Francener Hammes Schütz
p. 07-18
Relatos
Formação continuada de profissionais da educação na Rede Ensino Municipal de Ensino
de Blumenau
Ione de Carvalho Almeida, Rosana Clarice Coelho Wenderlich e Simone Genske p. 19-27
A mudança de cultura da educação infantil a partir do olhar para a criança e sua
infância na Rede Municipal de Ensino de Blumenau
Regiani Francez Novak e Teresinha Fatima Fachini Cavaletti p. 28-37
As interações entre o centro de educação infantil – CEI Anton Max, a E.B.M. Quintino
Bocaiúva e a comunidade.
Débora Cristina Rehfeldt, Rita de Cássia Machado Cordova Maske e Rosana Luvizotto Lessa
p. 38-46
Gestão compartilhada: plano de ação coletivo do CEI Bertha Müller
Joyce Christiane Hochheim Schlickmam e Solange Dias de Aragão p. 47-51
Projeto Fora da Hora: vivências da Escola Básica Municipal Gustavo Richard
Alessandra de Souza Fontanelli, Anabela Maria Morsch Schillingmann e Elizete Gomes
Nardi p. 52-56
Cabideiro Solidário: uma experiência sensível na educação infantil do CEI Dr. Wilson
Gomes Santiago
Janainna da Silva, Julia Patrícia Noriler Marchalek e Simone Viera da Silva p. 57-66
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notas sobre os fluxos da gestão na atualidade e os relatos da Secretaria Municipal de
Educação abordam a formação continuada dos profissionais da educação em nível municipal,
a mudança de cultura da educação infantil a partir do olhar para a criança, os letramentos no
processo de ensinar e de aprender e os Clubes de Ciências como espaço de educação
científica. Os relatos das instituições de ensino tratam de gestão compartilhada, gestão de
tempos e espaços, olhar sensível ao outro, planejamento educacional acerca da aprendizagem,
projeto político pedagógico e gestão democrática, robótica, registro de vivências na educação
infantil, memórias, formação continuada no lócus de trabalho, revitalização de espaços,
educação ambiental, inclusão e grupo de estudo de pais.
Com essa publicação objetivamos socializar boas práticas de gestão desenvolvidas
na Rede Municipal de Ensino, acreditando que essas possam inspirar cada vez mais os
profissionais da educação na construção de bases para que o sujeito possa estar apto a
aprender e a enfrentar novos desafios ao longo de sua vida. Dessa forma, os trabalhos e os
documentos que integram essa coletânea mostram que o papel da educação na
contemporaneidade deve estar pautado na qualificação intelectual e humana e no
desenvolvimento da educação integral das crianças, adolescentes, jovens e adultos da Rede
Municipal de Ensino de Blumenau.
Desse modo, o poder executivo mantém um olhar voltado para as unidades
educacionais, ofertando novas possibilidades para a qualificação profissional, uns dos grandes
desafios para os gestores públicos. O atual Plano Municipal de governo incorpora todas as
ações nessa perspectiva, uma vez que a escola é uma das instituições promotora de
competências para uma vida plena.
Do exposto, agradecemos a todos que se dedicaram em relatar práticas pedagógicas
diferenciadas que vêm ocorrendo no interior de suas unidades, que estabelecem diferentes
relações com o objeto do conhecimento na produção dos saberes.
Prefeitura Municipal de Blumenau
Secretaria Municipal de Educação
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SUMÁRIO
Artigos
Notas sobre os fluxos da gestão escolar na atualidade: traçando linhas de uma gestão do
cuidado
Gicele Maria Cervi, Mirele Corrêa e Monique Cristina Francener Hammes Schütz
p. 07-18
Relatos
Formação continuada de profissionais da educação na Rede Ensino Municipal de Ensino
de Blumenau
Ione de Carvalho Almeida, Rosana Clarice Coelho Wenderlich e Simone Genske p. 19-27
A mudança de cultura da educação infantil a partir do olhar para a criança e sua
infância na Rede Municipal de Ensino de Blumenau
Regiani Francez Novak e Teresinha Fatima Fachini Cavaletti p. 28-37
As interações entre o centro de educação infantil – CEI Anton Max, a E.B.M. Quintino
Bocaiúva e a comunidade.
Débora Cristina Rehfeldt, Rita de Cássia Machado Cordova Maske e Rosana Luvizotto Lessa
p. 38-46
Gestão compartilhada: plano de ação coletivo do CEI Bertha Müller
Joyce Christiane Hochheim Schlickmam e Solange Dias de Aragão p. 47-51
Projeto Fora da Hora: vivências da Escola Básica Municipal Gustavo Richard
Alessandra de Souza Fontanelli, Anabela Maria Morsch Schillingmann e Elizete Gomes
Nardi p. 52-56
Cabideiro Solidário: uma experiência sensível na educação infantil do CEI Dr. Wilson
Gomes Santiago
Janainna da Silva, Julia Patrícia Noriler Marchalek e Simone Viera da Silva p. 57-66
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SUMÁRIO
Artigos
Notas sobre os fluxos da gestão escolar na atualidade: traçando linhas de uma gestão do
cuidado
Gicele Maria Cervi, Mirele Corrêa e Monique Cristina Francener Hammes Schütz
p. 07-18
Relatos
Formação continuada de profissionais da educação na Rede Ensino Municipal de Ensino
de Blumenau
Ione de Carvalho Almeida, Rosana Clarice Coelho Wenderlich e Simone Genske p. 19-27
A mudança de cultura da educação infantil a partir do olhar para a criança e sua
infância na Rede Municipal de Ensino de Blumenau
Regiani Francez Novak e Teresinha Fatima Fachini Cavaletti p. 28-37
As interações entre o centro de educação infantil – CEI Anton Max, a E.B.M. Quintino
Bocaiúva e a comunidade.
Débora Cristina Rehfeldt, Rita de Cássia Machado Cordova Maske e Rosana Luvizotto Lessa
p. 38-46
Gestão compartilhada: plano de ação coletivo do CEI Bertha Müller
Joyce Christiane Hochheim Schlickmam e Solange Dias de Aragão p. 47-51
Projeto Fora da Hora: vivências da Escola Básica Municipal Gustavo Richard
Alessandra de Souza Fontanelli, Anabela Maria Morsch Schillingmann e Elizete Gomes
Nardi p. 52-56
Cabideiro Solidário: uma experiência sensível na educação infantil do CEI Dr. Wilson
Gomes Santiago
Janainna da Silva, Julia Patrícia Noriler Marchalek e Simone Viera da Silva p. 57-66
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Reorganização de turmas: um desafio para a aprendizagem na Escola Básica Municipal
Henrique Alfarth
Mariza Ehalt Graciano e Roseli Reichert Passold p. 67-73
Projeto Político Pedagógico do CEI Emília Piske: a criança no mundo das linguagens –
as partilhas com as famílias e a formação continuada
Maristela Pitz dos Santos e Rosemari Formento Bonickoski p. 74-81
Escola Básica Municipal Lauro Müller: projeto de robótica educacional – Pequenos
Cientistas
Delvaine Pussinini e Marinéia da Rosa de Souza Voltolini p. 82-91
Livro de vivências: possibilidades de escrever, dizer, narrar as experiências das crianças
do CEI Hilca Piazera Schnaider
Diana Sueli Vasselai Simão e Coletivo do CEI Hilca Piazera Schnaider p. 92-99
Resgatando memórias da E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger: aprendendo com o Projeto
Poncã
Cyntia Fabiana Laube, Marília Emmendörfer Hammes, Marilse Cristina Waldrich Locatelli e
Coletivo Pedagógico da E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger p. 100-108
Formação continuada na educação infantil: CEI Irmgard Zoschke
Alexandra de Souza e Silva Hausmann e Vanderléia Buchling p. 109-113
O desenvolvimento de letramentos para os processos de ensinar e de aprender: projetos
e programas da Secretaria Municipal de Educação de Blumenau
Caique Fernando da Silva Fistarol, Janete Raquel Pavlak Bloemer e Paulo Jaques Funke
p. 114-123
O ensinar e o aprender sob uma nova perspectiva na E. B. M. Profª. Nemésia Margarida
Salete Rosá Panini p. 124-129
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Projeto Político Pedagógico itinerante: a gestão democrática no Centro de Educação
Infantil Max Scheidemantel
Abdul Joari Lima e Rosa Maria Fabiciack Schimoller p. 130-134
Formação continuada em serviço na E.B.M. Profª Zulma Souza da Silva
Gizéli Coelho e Jaime Bachmann p. 135-142
A transformação dos espaços no CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim
Gabriele Krause, Sandra Aparecida Azzolini Pool e Silvana Cardoso Wichinheski p. 143-149
Clubes de Ciências como espaços de educação científica: a experiência da Rede
Municipal de Ensino de Blumenau
Celso Menezes p. 150-158
Escola Criativa e Sustentável: o percurso da E. B. M. Visconde de Taunay
Jeane Pitz Pukall e Vera Lúcia de Souza e Silva p. 159-168
Mãos que falam: trabalhando com Libras no CEI Professora Elzira Hornburg
Ana Carla Miguel Figueredo, Izabel Cristina dos Santos Ribeiro, Janete Gomes Americano,
Patrício Fernando Veja Garrao e Sônia Maria Dias Aragão p. 169-174
A educação ambiental no cotidiano da Escola Municipal Alwino Dorow
Macilene Venturi p. 175-180
Gestão escolar com foco nas vivências formativas no cotidiano dos professores do CEI
Professora Lenyr Peiter Starke
Sandra Denise Pagel p. 181-192
Grupo de Estudo de Pais: um projeto de construção e parceria entre CEI Professora
Maria Zimmermann e pais
Cláudia Cristina Florência Belegante Augustin e Loraci Juliana Pacher p. 193-198
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NOTAS SOBRE OS FLUXOS DA GESTÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE:
TRAÇANDO LINHAS DE UMA GESTÃO DO CUIDADO
Gicele Maria Cervi1 Mirele Corrêa2
Monique Cristina Francener Hammes Schütz3
Discutir a escola e a gestão na escola é mover-se nos fluxos da sociedade de controle.
Nesse artigo, localizamos a invenção da escola na modernidade e suas atualizações na
contemporaneidade. Apresentamos modulações da empresa à escola e do administrador ao
gestor.
Buscamos fazer um exercício, um exercício de pensamento sobre a escola disciplinar e
a administração para as modulações da sociedade de controle com a escola em redes e o
gestor. Um gestor que se movimenta entre ser polícia de si e dos outros.
Enveredamos a traçar possibilidades na/com os modos de ser gestor.
1 ESCOLA E GESTÃO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE DE CONTROLE:
ALGUMAS LOCALIZAÇÕES
A escola é uma invenção moderna, que não apareceu de súbito, mas reuniu e
instrumentalizou uma série de dispositivos que emergiram e se configuraram a partir do
século XVI, concebida com o objetivo de atender a um conjunto de demandas específicas: a
modernidade. (VARELA; ALVAREZ-URIA, 1992). Portanto, a escola não existiu sempre e
como instituição, inventada, tem uma finalidade.
A modernidade marca a consolidação de uma nova era social, caracterizada pela
urbanização crescente, a estruturação territorial dos estados, as novas formas de saber
1Doutora em Ciências Sociais pela PUC-São Paulo. Docente e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado em Educação, da Universidade Regional de Blumenau-FURB. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Políticas de Educação na Contemporaneidade da Linha Educação, Cultura e Dinâmicas Sociais. E-mail: [email protected] 2 Pedagoga e Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau-FURB. Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Integrante do Grupo de Pesquisa Políticas de Educação na Contemporaneidade (FURB) e PHALA-Grupo de Pesquisa em Educação, Linguagem e Práticas Culturais (UNICAMP). E-mail: [email protected] 3 Pedagoga e Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau-FURB. Integrante do Grupo de Pesquisa Políticas de Educação na Contemporaneidade (FURB). E-mail: [email protected]
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denominadas científicas, o descobrimento de novas terras como a América e a divisão do
cristianismo europeu ocidental (DUSSEL; CARUSO, 2003).
Devido a tais mudanças, uma nova economia emerge relações sociais inéditas e novas
identidades como capitalistas e operários entram em cena. Com a Revolução Industrial, a
Revolução Francesa e o movimento intelectual denominado Iluminismo, inicia-se o progresso
e a separação entre a Igreja e o Estado, causando grandes transformações, novas demandas e
inseguranças.
As iniciativas de educação popular que, até então, restringiram-se a obras de caridade
de caráter privado, “aparecem como a nova ferramenta para a produção em massa da
obediência, no contexto de populações que migravam, cidades que cresciam
descontroladamente e ritmo de crescimento acelerado” (DUSSEL; CARUSO, 2003, p. 108-
109).
O poder disciplinar, nesse contexto, instaura-se para “adestrar as multidões confusas,
móveis, inúteis de corpos e forças para uma multiplicidade de elementos individuais”
(FOUCAULT, 2014, p. 167). Segundo Foucault (2014, p. 167), o poder disciplinar “é com
efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior ‘adestrar’;
ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor”. O poder disciplinar
separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até às singularidades
necessárias e suficientes (FOUCAULT, 2014).
O poder disciplinar vai intervir incessantemente, desde o primeiro instante, desde o
primeiro gesto, desde o primeiro esboço. Tem-se uma tendência de intervir no nível do que
acontece, no momento em que a virtualidade está se tornando realidade. O poder disciplinar
sempre tende a intervir previamente, antes até do próprio ato, se possível, e isso por meio de
um jogo de vigilância, de recompensas, de punições, de pressões, que são infrajudiciárias
(FOUCAULT, 2006).
A disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os
indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício. É um poder
modesto, desconfiado, que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente. O
sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de dispositivos como o olhar
hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é
específico: o exame (FOUCAULT, 2014).
Com as primeiras práticas de educação evidencia-se que o poder disciplinar e suas
técnicas foram, pouco a pouco, se difundindo em larga escala e penetraram a sociedade dos
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séculos XVI e XVII, tomando no século XVIII a grande forma geral – poder político/corpo
individual – (FOUCAULT, 2006) e inventaram as instituições de confinamentos, como a
escola.
É este contexto, “de extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos
séculos XVII e XVIII e sua multiplicação por meio do corpo social” (FOUCAULT, 2014, p
202), que Foucault chamou de sociedade disciplinar e na qual a escola foi inventada.
Paralelamente, uma nova estratégia de poder emerge, denominada por Foucault (2008)
de biopoder ou biopolítica. É uma estratégia
[...] que não exclui a técnica disciplinar, mas que a embute que a integra que a modifica parcialmente e que, sobretudo, vai utilizá-la implantando-se de certo modo nela. [...] Essa nova técnica não suprime a técnica disciplinar simplesmente porque é de outro nível, esta noutra escala, tem outra superfície de suporte e é auxiliada por instrumentos totalmente diferentes. (FOUCAULT, 1999, p. 288-289).
A biopolítica é a maneira pela qual o poder tende a se transformar, entre o fim do
século XVIII e o começo do XIX, a fim de governar não somente os indivíduos por meio de
procedimentos disciplinares, mas toda a população.
A população apareceu como objetivo final de governo, para melhorar a sorte,
aumentar sua riqueza, sua duração de vida, sua saúde, através de campanhas e técnicas que
vão agir indiretamente sobre ela. A população é fim e instrumento de governo. Também será
o objeto que o governo deverá levar em consideração em suas observações, em seu saber,
para conseguir governar efetivamente de modo racional e planejado (FOUCAULT, 2003).
Com o final da Segunda Guerra Mundial, novos processos de reordenação adquirem
consistência. Dentre eles as tecnologias eletrônicas e digitais, uma organização social baseada
no capitalismo mais dinâmico do fim do século XX e início do XXI, regido pelo excesso de
produção e pelo consumo exacerbado, pelo marketing e pela publicidade, pelos fluxos
financeiros em tempo real e pela interconexão em redes globais de comunicação (SIBILIA,
2012). Para designar esse momento, Gilles Deleuze (1992) utilizou a expressão “sociedade de
controle”.
Deleuze (1992) situou a sociedade de controle como procedente da organização dos
grandes meios de confinamento da sociedade disciplinar. Na sociedade de controle, diferente
da sociedade disciplinar, o essencial não é mais uma assinatura nem um número, mas uma
cifra. A cifra é uma senha, que marca o acesso à informação, ou a rejeição. Não se está mais
diante do par massa-indivíduo. Os indivíduos tornaram-se “dividuais”, divisíveis, e as massas
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tornaram-se amostras, dados, mercados ou “bancos”. O dinheiro é o que talvez melhor
exprima a distinção entre as duas sociedades.
Segundo Deleuze (1992), o capitalismo atual é dirigido para o produto, isto é, para a
venda ou para o mercado, e não para a produção. Por isso ele é essencialmente dispersivo. A
fábrica cedeu lugar à empresa. A família, a escola, o exército e a fábrica não são mais espaços
analógicos distintos que convergem para um proprietário, Estado ou potência privada, mas
são agora figuras cifradas, deformáveis e transformáveis, de uma mesma empresa que só tem
gerentes.
Outra característica dessa sociedade é a entronização da empresa como uma instituição
modelo, que contagia as demais instituições, assim como a escola e os corpos que por ela
circulam. Propaga-se um culto da performance ou do desempenho individual, que deve ser
cada vez mais destacado e eficaz. O comportamento passa a ser medido por critérios de custo-
benefício e outros parâmetros mercadológicos, que enfatizam a capacidade de diferenciação
de cada indivíduo na concorrência com os demais (DELEUZE, 1992).
Da modernidade até os nossos dias a escola mantém traços disciplinares, modifica e
atualiza as estratégias, aperfeiçoando e inovando as tecnologias e espaços na sociedade de
controle (DELEUZE, 1992; CERVI, 2010).
Se a escola, tal qual nós a conhecemos, não existiu sempre, as práticas discursivas
sobre ela não foram sempre às mesmas. Modulações da empresa para escola, das teorias de
administração para as teorias da administração escolar, da crise da administração para quase
extinção do administrador escolar e dele para a reforma pela gestão democrática, demonstram
que o diretor/administrador escolar da sociedade disciplinar não cabem mais nessa sociedade,
e nela inventa-se o gestor (CERVI, 2013).
A emergência do discurso da gestão democrática, a necessidade da institucionalização
da democracia como regime político, como desejo de todos, e como possibilidade de pensar
as escolas públicas e as relações que nelas se constituem, contribuem para a formação do
gestor escolar (CERVI, 2013).
A partir da década de 1980, no Brasil, amplia-se a escola pública e em meio a duras
críticas a ditadura, autoritarismo, tecnicismo, falta de liberdade, autonomia, participação,
multiplicam-se as produções sobre a escola e a democracia. Esses discursos começam a
adentrar nas escolas e nos cursos de formação de professores (CERVI, 2013).
O discurso sobre democracia também marcou a legislação, em especial a Constituição
Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação nº 9394 de 1996, e muitos
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outros documentos produzidos e divulgados pelo Ministério da Educação. As políticas de
educação delineavam certa racionalidade para uma escola democrática, provocada por
vivências, leituras e documentos. Então, projeta-se o gestor escolar democrático.
O governo dos corpos transformou-se em um processo individualizado de gestão e
administração do corpo. “E para administração das escolas: gestão democrática. [...] Com o
objetivo de tornar invisível, fazer circular, fazer participar, diluir, incluir, descentralizar,
responsabilizar, democratizar, controlar e governar” (CERVI, 2013, p. 57). Pois, nessa
sociedade denominada por Deleuze (1992, p. 5), sociedade de controle, “o controle é de curto
prazo e de rotação rápida, mas também contínuo e ilimitado, ao passo que a disciplina era de
longa duração, infinita e descontínua. O homem não é mais o homem confinado, mas o
homem endividado”. A passagem da sociedade disciplinar para a de controle anuncia as modulações da passagem do administrador para o gestor, uma passagem em que convivem as conveniências, uma passagem em que uma não elimina a outra, a qualificação marca a sociedade disciplinar, convive com outras e sempre mais qualificações como também convive com as certificações da sociedade de controle. É a passagem do diretor como intelectual condutor da massa, para o divíduo consciente e esclarecido que conduz e se conduz, para a aprendizagem do conduzir-se e conduzir o outro dentro da norma (CERVI, 2013, p. 132, grifo do original).
Segundo Cervi (2013) a escola democrática e a gestão democrática são dispositivos
que articulam a nova utopia de salvação da escola. Não se trata de negar a democracia, mas,
salientar que ela pode funcionar para isso e aquilo. Tanto pode se caracterizar como tempos
de construir coletivamente, como, pode funcionar como captura.
Numa sociedade que pretende controlar tudo e todos, em que todos são polícias de si e
dos outros, nas escolas acontece um extenso exercício de ortopedia do corpo em situações de
participação, autonomia e exercício do que se aprende por democracia. Uma ortopedia que
implica uma imobilização, obediência, submissão, controle. Uma instituição que ao mesmo
tempo busca construir a ideia de que é preciso ser gestor e que ser gestor é estar em
movimento, participar, alterar, transformar. Movimentos que mantém os gestores sempre
preocupados e ocupados, seguindo um fluxo quase mecanizado de demandas, expectativas,
indicadores que vão esvaziando e minimizando a potência de sua figura frente à ação
educativa.
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2 ENTRE A GESTÃO DE POLÍCIA E A GESTÃO DO CUIDADO:
ESTRATÉGIAS DE FUGA
Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.
[Cecília Meireles, 1990]
Na seção anterior discutimos a invenção da escola e suas atualizações, bem como
modulações dos discursos sobre gestão. O gestor que vai carregando o corpo disciplinador do
diretor, tal-qualmente vai atualizando sua função junto a outros dispositivos que vão
aparecendo nesse tempo: a democracia, a participação, a regulação, a tecnologia, a avaliação e
a performatividade.
Conforme o sociólogo inglês Stephen Ball (2003), a performatividade se instaura
como uma cultura na medida em que é uma tecnologia e um modo de regulação dos corpos
que empregam formas de julgamento, comparações e exposições, tomados respectivamente
como meio de controle, de desgaste e de mudança.
Na atual sociedade neoliberal4, vemos crescer um discurso de poder que se articula por
meio da accountability5e da competição. Forjando identidades voltadas a uma lógica do
desempenho, conferindo ao conhecimento um valor cada vez mais performático a ser visível e
medido. Diferente do que acontecia na sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2014), em que a
4 A principal característica dessa racionalidade é pautar nossa forma de vida pelo modo econômico. No que tange ao indivíduo, isso requer um investimento em suas capacidades, em seu capital humano para que tenha condições de concorrer no mercado competitivo, por isso ele precisa ser empresário de si mesmo (TRAVERSINI, 2012). 5Accountability – termo que Stephen Ball, dentre outros autores, usa, e que na língua portuguesa pode ser traduzido como responsabilidade com ética e que remete à obrigação de membros de um órgão administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados.
13
forma de controle era a potência da vigilância, esse novo dispositivo trata-se da incerteza de
saber quem é o vigia e “da instabilidade de ser julgado de diferentes maneiras, por diferentes
meios, por meio de diferentes agentes” (BALL, 2010, p. 39).
Ball (2006) explica que essas transformações recaem especialmente sobre o setor
público, onde as formas de emprego, as estruturas organizacionais, as culturas e os valores, os
sistemas de financiamento, os estilos de administração que faziam parte de um Estado de
Bem-estar Social passam para um Estado do Trabalho. O discurso fordista de produtividade e
planejamento é substituído por uma retórica de flexibilidade e empreendedorismo pós-
fordista, contribuindo para uma mudança também, do poder e controle Estatal que passou a
ser exercido por uma tecnologia a distância, pois que nessa sociedade esse poder não se
encontra mais centralizado no Estado, ele está capilarizado nas relações.
Onde antes predominava uma economia neotaylorista, focalizada na intensificação dos
sistemas de controle direto, o novo gerencialismo do Estado do Trabalho oferece um modelo
de organização centrada nas pessoas, permitindo maior produtividade e abertura para o
“espírito empreendedor”. Esse novo gerencialismo sai do setor privado e invade o setor
público, não podendo este ser mais visto com qualidades especiais que o distingam de um
negócio, de um mercado ou de um modelo comercial. O setor público, desde o século
passado, passa a ser reestruturado e reavaliado por discursos de excelência, efetividade e
qualidade, transformando valores e culturas, assim como, formando novas subjetividades
(CORRÊA, 2017).
Na escola, ele acaba entrando principalmente com vista a reestruturar o segmento dos
diretores, desmantelando os regimes organizacionais profissionais-burocráticos e sua
substituição por regimes empresariais-mercadológicos (BALL, 2006).
As escolas passam a ser submetidas à produção constante de dados sobre si mesmas
por meio das avaliações em larga escala e por meio de instrumentos dos mais variados
(provas, relatórios, formulários, diagnósticos, PPPs). Ball (2010, p. 45) ressalta ainda que com
essa cultura performática a gestão escolar vai mantendo-se preocupada somente com aquilo
que exige o mercado: competição, adequação, eficiência, produção. Assim, as instituições que
prestam “os melhores currículos são entendidos como os que garantem os melhores
desempenhos” (LOPES, 2006, p. 46). Para tanto, assim como empresas do setor privado, a
escola deve organizar seu currículo com base nos objetivos comportamentais, a estruturação
curricular com base nas competências e o planejamento do currículo com base na divisão de
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tarefas, engendrando mecanismos de controle tanto dos docentes quanto dos discentes, de
forma a garantir a eficiência e a eficácia dos sistemas de ensino (LOPES, 2006).
Mecanismos de controle que provém de uma vigilância policial extenuante. Mas
“como estar aí sem me tornar isso? Como estar aqui sem ter a conduta de polícia?” (CERVI,
2013, p. 189).
Motivadas por essas provocações queremos pensar formas de criar/percorrer um
contrafluxo, que nos faça romper a linha ou traçar fugas, suspender a função máquina/polícia
da gestão articulada a uma forma de governo que nos sujeita a uma condição de vida
neoliberal. Pensarmos numa função máquina de guerra, capaz de resistir às tecnologias de
assujeitamento e ao mesmo tempo, nos dar uma condição de autoria sobre a vida e sobre os
processos de constituição do sujeito que a escola agencia. Resistências em movimento.
Queremos sugerir a tematização da experiência pedagógica com novas cifras e para
tanto nos apoiamos no conceito de “cuidado de si” desenvolvido pelo pensador francês
Michel Foucault, como ferramenta para propor uma “gestão do cuidado”, enquanto caminho
para repensar e praticar a educação de outros modos.
Tal conceito vai aparecer nas últimas obras de Foucault, mais especificamente no
curso ministrado ao Collège de France em 1982, “A Hermenêutica do Sujeito”. Época esta,
em que Foucault encontra-se preocupado com os jogos de verdade que vão constituindo o
sujeito ao longo de suas relações. Que buscam um “deslocamento das práticas de governo dos
vivos para o governo ético de si mesmo, indagando a potencialidade da noção de cuidado de
si na concretização de novas formas de vida para além da genealogia da sujeição” (FREITAS,
2010, p. 169). O pensador faz esse estudo remetendo-se as práticas de si experienciadas pelas
civilizações greco-romanas e evidencia “um exercício de si sobre si mesmo através do qual se
procura se elaborar, se transformar e atingir certo modo de ser” (FOUCAULT, 1984, p. 01).
Um modo de ser pautado na liberdade como uma ética-política, um cuidado de si apontado
como uma potência instituinte imanente à vida. Relendo o aforismo socratiano “Conhece-te a
ti mesmo”, para “cuida-te de ti mesmo”, Foucault desenvolve um pensamento no qual
legitima a necessidade de conhecer-se a si para cuidar de si mesmo, o que permite “o
conhecimento de certo número de regras de conduta ou de princípios que são
simultaneamente verdades e prescrições. Cuidar de si é se munir dessas verdades: nesse caso
a ética se liga ao jogo da verdade” (FOUCAULT, 1984, p. 04).
O cuidado de si é uma prática social, uma maneira ativa própria de se conduzir no
mundo, na busca ética pela liberdade e não pela sujeição, o que implica estabelecer consigo
15
mesmo certa relação de domínio, de controle, com vistas a saber o que melhor lhe convém,
por meio de quais tomadas de decisões. São práticas sobre si que “vão formar no indivíduo
determinadas atitudes ou disposições consideradas necessárias para enfrentar os
acontecimentos da existência” (FREITAS, 2010, p. 178). De maneira nenhuma, o cuidado de
si vincula-se a uma prenuncia moral cristã de renúncia de si e nem a uma prática narcisista
egocêntrica ou hedonista. Do mesmo modo que não é uma resposta às questões do tempo
presente, não é a saída, mas, possibilidades de pensar com Foucault (1984) quando afirma que
o cuidado de si implica uma relação complexa com o outro. E ainda vai dizer que na Grécia
Antiga o filósofo exercia um papel fundamental na política, porque se ocupava com o outro,
preocupava-se em conduzi-lo eticamente “dentro desta perspectiva, o cuidado de si aparece
como uma condição pedagógica, ética e, também, ontológica para a constituição do bom
governante” (FOUCAULT, 1984, p. 09).
Podemos tomar a função do gestor na contemporaneidade, tal qual a função do
filósofo grego. Nela e provocadas por ela pensamos que o gestor está aí para mobilizar um
estranhamento, uma inquietação, para provocar um desassossego, para fazer o seu entorno
perceber, e aqui inclui toda a comunidade escolar – que é olhar para si para poder exercer a
função de educar o outro. É cuidar de si para cuidar do outro. Práticas que exigem o que
Foucault (1984) vai chamar de exercício de “espiritualidade”. Que é toda uma disposição
corporal, uma atenção com o próprio corpo, um cuidado com a saúde física e mental, um
distanciamento dos conflitos e dos desgastes, uma postura de escuta de si e do outro, um zelo
com o uso da palavra, um olhar atento para a formação estética, uma disposição para o
sensível, para o humano e inumano, para aquilo que nos toca, nos afeta, nos faz um “sujeito
da experiência” (LARROSA, 2002).
Isso equivale a dizer que o cuidado de si não nos afasta do mundo. Ao dirigir a atenção para si, o que se busca é avaliar o lugar que se ocupa no mundo e o sistema de necessidades no qual o sujeito se encontra vinculado. O cuidado de si configura-se como um princípio ordenador de nossas ações. Longe de nos isolar da comunidade humana, ele aparece precisamente como um modo de manter nossas ações nos limites e formas consideradas convenientes, ou seja, uma maneira de abordar a formação humana no registro ético (FREITAS, 2010, p. 179).
Estrategizar a vida. Prover experiências com aquilo que está aqui no tempo presente de
maneira a nos tornar mais leves e sensíveis, talvez, possa ser uma linha de fuga àquela
formação que solapa nossa singularidade, que dissipa nossos coletivos, que individualiza e
minimiza nossas potências criativas, que estimula a competição e o dissenso. Talvez, pensar
uma “gestão do cuidado” possibilite uma fuga à formação que nos homogeneíza, uma fuga às
16
qualificações que nos enquadram em funções estéreis e nos esteriliza. Acordando com Freitas
(2010, p. 179), “o que está em questão não é revelar/decifrar a verdade do sujeito, mas decidir
o que fazer com o que se é e como realizar o que se é. A finalidade é evidenciar formas de
exercício da liberdade. Saber, simplesmente, que sempre podemos ser outros; podemos
estranhar nossas figuras atuais”.
A gestão na escola pode ser muitas coisas: pilhas de papéis, responsabilidades, afetos,
pressões por bons resultados nas avaliações de larga escala, formação humana, aprendizado,
ausência de professores, competição, formação de coletivos, problemas na formação,
invenções, falta de recursos financeiros, falta de tempo, falta de estudo, possibilidades, zelo,
experiências, inércia, desassossegos, individualismos, cuidado de si e com o outro. A gestão
não se resume a um verbo de estado que a torna pequena e fascista. A gestão é multiplicidade,
carregada de preposições... e...e...e, está nos fluxos, nos movimentos e nas transições. Por
tanto, não é isso ou aquilo, supracitando Cecília Meireles (1990), mas é entre isso e aquilo.
Um entre que arrasta tudo, que hibridiza as linhas, mescla os fluxos. As linhas estão todas ali,
tencionando os dualismos, colocando-nos de um lado a outro. Cabe a nós criamos formas de
percorrermos fluxos mais transeuntes, mais fugitivos às linhas duras do sistema. Percorrermos
fluxos mais criativos e inventivos de vida. Vida como obra de arte, assim dizia Foucault
(1984). Gestão é uma possibilidade de ver a disposição cuidadosa dos objetos. Tal qual nos
provoca Lapoujade (2017) no livro “Existências Mínimas”,
Penso em uma criança que dispôs diversos objetos, grandes e pequenos, cuidadosamente, longamente, de uma maneira que ela achou bonita e ornamental, sobre a mesa de sua mãe, para “agradá-la”. A mãe chega. Tranquila, distraída, pega um dos objetos do qual ela vai precisar, recoloca outro no seu lugar de sempre, e desfaz tudo. E quando as explicações desesperadas que acompanham os soluços contidos da criança lhe revelam a extensão do seu pouco caso, ela exclama desolada: ah, meu amor, eu não vi que era alguma coisa!
No desejo de que cada gestor consiga “ver que era alguma coisa”. No desejo que ao
ver que era alguma coisa possamos reduzir as violências.
17
REFERÊNCIAS
BALL, Stephen. Profissionalismo, Gerencialismo. Performatividades e fabricações na economia educacional: rumo a uma sociedade performativa. Educação e realidade, v. 35, n. 2, 2010, 37-55 p. ______. Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: uma revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional. Tradução de Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo. Currículo sem Fronteiras, v.6, n. 2, jul. / dez. 2006. ______. The teacher’s soul and the terrors of performativity. Journal of Education Policy. V. 18, n. 2, 2003, 215-228 p. CERVI, Gicele Maria. Política de gestão escolar na sociedade de controle. Rio de Janeiro: Achiamé, 2013. 206 p. ______. Política de gestão escolar na sociedade de controle. 2010. 245 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010. CORRÊA, Mirele. O que pode um corpo na escola?: Uma cartografia das potencialidades do corpo em espaço de escolarização. 2017. 121 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2017. DELEUZE, Gilles. Post Scriptum sobre as sociedades de controle. In: DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992. 219-226 p. DUSSEL, Inés; CARUSO, Marcelo. A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar. Tradução de Cristina Antunes. São Paulo: Moderna, 2003. 255 p. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 42. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. 302 p. ______. O nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008. 474 p. ______. O poder psiquiátrico: curso dado no Collège de France (1973-1974). São Paulo: Martins fontes, 2006. 511 p. ______. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2003. 295 p. ______. (1926-1984). Em defesa da sociedade: curso dado no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999. 382 p. ______. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. (entrevista com H. Becker, R. Fomet-Betancaurt, A. Gomez-Müller, em 20 de janeiro de 1984). Concórdia Revista internacional de filosofia. n 6. Jul./dez. de 1984.
18
FREITAS, Alexandre Simão de. Michel Foucault e o “cuidado de si”: a invenção de formas de vida resistentes na educação. ETD – Educ. Tem. Dig., Campinas, v.12, n.1, p.167-190, jul./ dez. 2010, 167-190 p. LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo: N-1 Edições, 2017. LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, 2002. LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Nota introdutória: reconfigurações nos estudos sobre políticas de currículo. Currículo sem fronteiras, v. 6, n. 2, 2006, 5-9 p. MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, Brasil, 1990. SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. 224 p. TRAVERSINI, Clarice Salete. O desencaixe como forma de existência da escola contemporânea. In: SARAIVA, Karla; MARCELLO, Fabiana de Amorim (org.). Estudos culturais e educação: desafios atuais. Canoas: Ed. ULBRA, 2012. VARELA, Julia; ALVAREZ-URIA, Fernando. A maquinaria escola. Teoria & Educação, São Paulo, n. 6, 1992, 68-96 p.
19
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DA REDE
MUNICIPAL DE ENSINO DE BLUMENAU
Ione de Carvalho Almeida6 Rosana Clarice Coelho Wenderlich7
Simone Genske8
1 INTRODUÇÃO
Pesquisas apontam para o baixo desempenho dos estudantes quanto aos
conhecimentos escolares, por isso a formação continuada vem sendo questionada no Brasil
(GATTI; BARRETTO, 2009). Essa situação coloca o professor no centro das críticas e dos
debates educacionais. Por outro lado, espera-se que o professor seja o promotor das mudanças
necessárias para alcançar um ensino de boa qualidade (DAVIS; NUNES; ALMEIDA, 2011).
No entanto, o desempenho de estudantes não é de responsabilidade única do professor,
uma vez que a aprendizagem perpassa por dimensões diversas, para além da sala de aula,
como gestão escolar, contexto social e familiar, desenvolvimento profissional e outros. No
que diz respeito ao trabalho do professor, a formação continuada é um dos aspectos que
favorece o ensinar e o aprender, é uma das formas de investimento na profissionalização
desse profissional (FREITAS, 2002; NÓVOA, 2017; SOUZA, 2006).
Nóvoa (2017) alerta para a complexidade da profissão professor. Enfatiza que a base
da formação desse profissional é o conhecimento científico e cultural. O autor defende um
professor pesquisador, que conheça a realidade educacional, que publique seus estudos e seus
Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2018). Especialista em Qualidade na
Comunicação pela Universidade Regional de Blumenau (1998). Graduada em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (1993). Atualmente atua no Setor de Avaliação, Pesquisa, Estatística e Formação Continuada na secretaria municipal de educação de Blumenau. E-mail: [email protected]
Mestranda em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (2018). Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Educacional ICPG - Uniasselvi (2006). Graduada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau (2001). Atualmente atua no Setor de Avaliação, Pesquisa, Estatística e Formação Continuada na Secretaria Municipal de Educação de Blumenau. E-mail: [email protected] Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (2017). Especialista em Gestão Pública Escolar
e Educação com Qualidade pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (2009). Especialista em Pedagogia Gestora com Ênfase em Administração, Supervisão e Orientação Escolar pela Associação Catarinense de Ensino (2007). Especialista em Língua e Gramática: Estudos Linguísticos e Literários pelo Centro Universitário de Jaraguá do Sul (2004). Graduada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau (2002). Atualmente atua no Setor de Avaliação, Pesquisa, Estatística e Formação Continuada na Secretaria Municipal de Educação de Blumenau. E-mail: [email protected]
20
posicionamentos educacionais, visando à transformação de práticas e ao fortalecimento da
profissão publicamente.
Acerca da formação continuada, Souza (2006, p. 485) recomenda investimento em
“políticas educacionais e propostas de formação continuada a fim de melhorar as condições
gerais de trabalho [...]” nas unidades educacionais. Nesse sentido, é indispensável a
implementação de políticas de valorização e de formação de profissionais na busca da
melhoria dos processos educacionais.
Nessa acepção, este relato visa elucidar o desenvolvimento da formação continuada de
profissionais da educação na Rede Municipal de Ensino de Blumenau (RME) nos últimos 5
(cinco) anos.
2 FORMAÇÃO CONTINUADA: REFLEXÕES TEÓRICAS
Essa seção realiza algumas reflexões teóricas sobre a formação continuada com base
em Gatti e Barretto (2009), Davis, Nunes e Almeida (2011) e Imbernón (2010) em uma
interface com a legislação federal e municipal.
Entende-se por formação continuada os processos formativos que promovem
reflexão sobre o trabalho docente durante a trajetória profissional (GENSKE, 2017).
Conforme Imbernón (2010, p. 115), a formação continuada de profissionais da educação
consiste em “[...] toda intervenção que provoca mudanças no comportamento, na informação,
nos conhecimentos, na compreensão e nas atitudes dos professores em exercício”.
Há muitas possibilidades de estruturação da formação continuada, a saber:
[...] horas de trabalho coletivo na escola, reuniões pedagógicas, trocas cotidianas com os pares, participação na gestão escolar, congressos, seminários, cursos de diversas naturezas e formatos, oferecidos pelas Secretarias de Educação ou outras instituições para pessoal em exercício nos sistemas de ensino, relações profissionais virtuais, processos diversos a distância [...] grupos de sensibilização profissional, enfim, tudo que possa oferecer ocasião de informação, reflexão, discussão e trocas que favoreçam o aprimoramento profissional [...]. (GATTI, 2008, p. 57).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em Nível Superior e para a Formação
Continuada estabelecem formação continuada aos profissionais da Educação inserida na
jornada de trabalho (BRASIL, 2015a; BRASIL, 2015b). O Plano Nacional da Educação
21
(PNE) e a Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação Básica também
determinam formação continuada a esse público (BRASIL, 2014; BRASIL, 2016).
Em sintonia com o cenário nacional, a formação continuada é respaldada no Plano
Municipal de Educação (PME) e no Estatuto e Plano de Carreira do Magistério Público
Municipal na cidade de Blumenau (BLUMENAU, 2015; BLUMENAU, 2007). Os
professores possuem Hora-Atividade Extraclasse (HAE) conforme o decreto Nº 96452/2012,
na qual realizam atribuições
[...] de planejamento, elaboração e acompanhamento de projetos, avaliação da produção dos educandos, pesquisa, formação continuada, reuniões pedagógicas, confecção de material didático-pedagógico, estabelecimento de estratégias para alunos de menor rendimento escolar e ao atendimento a alunos, pais ou responsáveis e à comunidade, bem como ao preenchimento de registros, elaboração de relatórios e demais atividades previstas no projeto político-pedagógico de cada unidade. (BLUMENAU, 2007, s./p.).
Um ponto de destaque é que a Rede Municipal de Ensino de Blumenau gerencia a
sua própria formação continuada com base no Sistema Municipal de Avaliação Institucional
Participativa (SIMAIP), sem contar com agência formadora (GENSKE; CERUTTI;
RAUSCH, 2016). O SIMAIP, instituído pela Lei Complementar 910/2013, tem como objetivo
“[...] realizar uma avaliação de caráter formativo que, no decorrer do processo, qualifique a
gestão das unidades educacionais, melhore a qualidade do ensino e gere dados e informações
acerca da realidade de cada unidade educacional” (BLUMENAU, 2013, s./p.). Conforme
Genske (2017), com esses dados e informações é possível verificar as necessidades
pedagógicas e planejar a formação continuada. Romanowski (2007, p, 138) salienta que “para
o sucesso de um programa de formação continuada, é importante a realização de diagnóstico
das necessidades formativas [...]” dos profissionais.
Dessa maneira, observa-se que a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) está
conectada com pesquisadores do campo da formação continuada e com o PME, pois o
documento estipula
[...] dar continuidade ao processo de avaliação institucional adotadas no município, aprimorando os instrumentos de avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a elaboração de planejamento estratégico, a melhoria contínua da qualidade educacional, a formação continuada dos profissionais da Educação e o aprimoramento da gestão democrática. (BLUMENAU, 2015, s./p.).
Nesse sentido, a formação continuada da RME passou também a ser balizada pela
participação de gestores, professores e funcionários por meio da Avaliação Institucional
22
Participativa. À medida do possível, a SEMED tem buscado atender às necessidades das
equipes pedagógicas da educação básica, guiando-se por dados da avaliação e por diálogo
com profissionais da educação.
3 LUGARES INSTITUÍDOS PARA A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA
EDUCAÇÃO
A formação continuada na RME se dá em duas configurações: na unidade
educacional e externa a esse espaço. No espaço educacional são desenvolvidos momentos de
reunião pedagógica, de conselho de classe, de Hora-Atividade Extraclasse (HAE) do
professor e de Hora Planejamento e Estudo do Coordenador Pedagógico (HPE). As formações
externas ao local de trabalho se subdividem em: encontros previstos no calendário escolar,
com dispensa das crianças e dos estudantes; encontros formativos com profissionais da
educação: HAE, com professores e HPE, com coordenadores pedagógicos; reuniões de
trabalho, com gestores e formações acerca de programas em parceria com o governo federal e
o municipal.
No primeiro caso, a equipe pedagógica escolar é a responsável pelo planejamento e
pela formação continuada em serviço; no segundo, a SEMED, por meio de contratação de
profissional formador ou pela própria equipe pedagógica que atua na secretaria, é quem a
oferta.
Nessa seção serão abordadas somente as formações promovidas pela SEMED.
3.1 A FORMAÇÃO CONTINUADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, reconhecida como direito da
criança e dever do Estado, por meio dos dispositivos legais, concebe a criança como sujeito
histórico e de direitos.
A concepção de criança, nesse contexto, requer compreender a real importância da
definição das especificidades pedagógicas para essa faixa etária. Isso implica reconhecer o
direito da criança de viver cada tempo como um tempo único e de planejar espaços onde as
interações e as brincadeiras sejam os eixos norteadores das ações pedagógicas.
23
Partindo desses pressupostos, faz-se necessário delinear quem são os profissionais da
educação infantil e quais seus percursos formativos. Conforme a LDBEN, “[...] “A formação
de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura
plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e
nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade
normal”. (BRASIL, 2017, s/p).
Assim, a continuidade desse processo formativo permeia o planejamento anual
realizado pela SEMED para uma formação continuada dos profissionais da educação na
constante busca por uma educação de qualidade para as crianças.
Nesse sentido, torna-se necessário compreender que a maneira pela qual as crianças
comunicam-se, expressam-se e interpretam o mundo a sua volta são permeadas por
linguagens, portanto, é por meio das linguagens que as manifestações infantis se fazem
presentes. Sob essa ótica, a formação continuada da RME busca elaborar sua proposta na
ampliação de repertório cultural de seus profissionais, cunhada por uma educação mais
humana, no qual o sensível e o inteligível permeiam uma leitura crítica do mundo. (DUARTE
JR. 2000, p.132)
A compreensão de uma formação continuada que seja reflexiva na ação de ensinar e
de aprender, em uma relação democrática e de reciprocidade, torna-se fundante das ações
definidas por essa secretaria. Portanto, as formações continuadas dos profissionais da
educação infantil são planejadas em articulação com o ensino fundamental de forma a garantir
suas especificidades sem perder de vista a compreensão de uma educação básica outorgada
pelos dispositivos legais.
As ações de planejar esses tempos e espaços de formação para a RME estão pautadas
em definir os perfis de cada grupo, suas necessidades e anseios. O desenvolvimento de uma
formação continuada eficiente requer reflexão sobre a práxis e, principalmente, participação
de toda a comunidade escolar, pois a transformação da prática requer envolvimento na ação
(IMBERNÓN, 2010).
3.2 A FORMAÇÃO CONTINUADA NO ENSINO FUNDAMENTAL
A SEMED, sabendo da importância da formação continuada ancorada na realidade
local, procura assegurar tempos e espaços para essa finalidade. Um dos grandes desafios é o
de organizar um calendário escolar que possibilite encontros em serviço.
24
As formações continuadas ofertadas aos diretores, aos coordenadores pedagógicos,
aos secretários escolares, aos agentes administrativos e ao grupo operacional (serviços gerais,
cozinheiras, zeladores), do ponto de vista do calendário escolar, são de fácil planejamento
logístico pela maior flexibilidade de horário e de possibilidade de saída desses profissionais
de seus locais de trabalho, tendo em vista que eles não atuam diretamente com os estudantes.
No entanto, o planejamento dessas formações continuadas mostra-se complexo ao se
considerar o perfil do formador e a ementa a ser desenvolvida. Isso porque a SEMED procura
levantar as necessidades desse grupo por meio do SIMAIP, das conversas com as equipes
gestoras em acompanhamento às unidades, além da própria percepção da SEMED, entre
outros.
Em relação aos professores, o município consegue assegurar uma parte da formação
em calendário escolar, com dispensa de estudantes, e outra, em HAE do professor. A
definição de ementa e de formador seguem a mesma lógica da formação dos gestores. Esses
encontros, ora são organizados por componentes curriculares, ora por junção de todos os
profissionais por meio de possibilidades formativas variadas, sejam em grandes grupos com
palestra, seminário, conferência, entre outros ou em pequenos grupos com troca de ideias e de
experiências, trabalho colaborativo, debates, entre outros. Além dessas formações, a SEMED
procura assessorar individualmente professores cujas equipes gestoras solicitam suporte
pedagógico para além da formação em serviço, no local de trabalho ou não. Também há
encontros regulares com formações pactuadas junto aos governos federal e municipal, a
exemplo, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) em parceria com o
Ministério da Educação (MEC), na esfera federal e a Educação Ambiental, junto à Fundação
Municipal do Meio Ambiente (FAEMA), na esfera municipal.
A SEMED, ao planejar as formações, procura se sustentar no que preconizam
Imbernón (2002) e Marcelo García (1999) citados por André (2010), ao ponderarem que a
experiência educacional tem seu início ainda na vida estudantil, seguindo para a formação
inicial e prosseguindo ao longo da vida profissional. Nesse sentido, a secretaria prima por
uma formação continuada que possibilite aos profissionais da educação o aprofundamento do
conhecimento científico e pedagógico, no exercício da atividade educacional, para qualificar a
educação ofertada aos estudantes e promover o desenvolvimento profissional.
Nessa acepção, Tardif (2002) também subsidia o modo de pensar e planejar a
formação continuada ao revelar os saberes docentes: experienciais, disciplinares, curriculares
e profissionais. O autor define os saberes experienciais como a prática que o professor adquire
25
no exercício da docência, que nascem da experiência profissional e por meio dela são
legitimados. Os saberes disciplinares relacionam-se aos diferentes campos do conhecimento
(história, matemática e outros). Os saberes curriculares são os selecionados pela
escola/sistema de ensino para serem trabalhados (objetivos, métodos, conteúdos entre outros).
E, por fim, os saberes profissionais (ciências da educação e ideologia pedagógica) são os
transmitidos pela instituição formadora dos professores. O autor fala da importância de se
valorizar os saberes experienciais tanto quanto os outros saberes.
Com isso, a SEMED organiza a formação continuada do ensino fundamental baseada
no desenvolvimento profissional, nos saberes como um todo. Procura valorizar a experiência
e a trajetória profissional, trazendo reflexões teórico-práticas aos encontros formativos, além
de buscar o desenvolvimento estético por meio de vivências culturais.
4 FINALIZAÇÃO DAS DISCUSSÕES ACERCA DA FORMAÇÃO CONTINUADA
A formação continuada, como um dos elementos basilares da ação educativa, é
sempre um desafio para os gestores municipais, porque os profissionais da educação têm suas
crenças, trajetórias profissionais singulares, atuação em contextos diferenciados, que precisam
ser considerados no processo formativo. André (2010) trata as crenças e a visão do senso
comum como fatores que precisam ser desvelados para que se possa transformar a realidade
posta. Souza (2006) também trabalha com o conceito de crenças, como aquelas que podem
formar e conformar preconceitos sociais e estereótipos. Por isso, o diagnóstico do grupo, dos
anseios e das necessidades formativas desses profissionais é indispensável para o
planejamento da formação continuada.
Compreender quem é o gestor, o coordenador, o professor, a sua constituição, o seu
lócus de atuação, os seus saberes experienciais, disciplinares, curriculares e profissionais
(TARDIF, 2002); compreender a heterogeneidade existente entre os profissionais considerá-
las no planejamento da formação, é fundamental. E, nisso tudo consiste o grande desafio da
SEMED para, a partir desse levantamento, projetar na formação continuada encontros que
promovam estudo e aprofundamento sobre a atuação pedagógica, sobre o conhecimento
científico e cultural.
E é nessa acepção que está posto o projeto de formação continuada para a educação
básica da SEMED, pautada nos princípios da ética, da estética, do respeito, da
profissionalização, aspirando ao desenvolvimento profissional.
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REFERÊNCIAS
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27
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A MUDANÇA DE CULTURA DA EDUCAÇÃO INFANTIL A PARTIR
DO OLHAR PARA A CRIANÇA E SUA INFÂNCIA NA REDE
MUNICIPAL DE ENSINO DE BLUMENAU – SC
Regiani Francez Novak9 Teresinha Fatima Fachini Cavaletti10
1. INTRODUÇÃO
O presente relato tece um olhar sobre o percurso da mudança de cultura da educação
infantil em Blumenau a partir de 2013, tendo como foco a criança como protagonista de sua
infância. Atualmente, na Rede Municipal de Ensino de Blumenau as crianças são atendidas
em 77 Centros de Educação Infantil (CEIs) e 47 Escolas Básicas Municipais (EBMs). A
educação infantil, primeira etapa da educação básica, atende crianças de 0 a 5 anos,
organizadas em turmas de Creche (0 a 3 anos) e Pré-escola (4 e 5 anos). A equipe de
profissionais das unidades é constituída por diretor, coordenador pedagógico, secretário,
professor, auxiliar de limpeza, cozinheira e zelador, de acordo com a quantidade de crianças
matriculadas em cada instituição. Parte da história da educação infantil de Blumenau, aqui
relatada, revela suas marcas na conquista do trabalho pedagógico para a infância.
2. MARCOS HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE
BLUMENAU.
Historicamente, a educação infantil tem se configurado como um espaço de lutas e
conquistas. Algumas pesquisas demonstram o fio condutor dessa trajetória até o seu
reconhecimento como etapa da educação básica. As contribuições para a escrita deste relato
de experiência, no sentido de traçar uma linha histórica e perceber as mudanças da cultura da
infância para a educação infantil do município de Blumenau, pautam-se em memórias,
registros e pesquisas, dentre estas, a dissertação de mestrado da professora e coordenadora
9 Especialista em Gestão, Supervisão e Orientação pelo ICPG - Uniasselvi (2005). Pós-graduanda em Educação Escolar Contemporânea, UFSC (em curso). Graduada em normal superior pela Uniasselvi (2004). Atualmente atua no setor de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Blumenau. E-mail: [email protected] 10 Especialista em Gestão, Supervisão e Orientação pelo ICPG – Uniasselvi (2005). Graduada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau (1989). Atualmente atua no setor de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Blumenau. E-mail: [email protected]
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pedagógica deste município, Sandra Denise Pagel, escrita em 2005. De acordo com as
pesquisas dessa autora, o ano de 1928 marca a fundação do primeiro Jardim de Infância, em
Blumenau, no Colégio Sagrada Família, pertencente à rede privada e coordenado pelas irmãs
da Divina Providência. No mês de outubro de 1968, em homenagem ao dia da criança, é
inaugurado o Centro Social Araranguá, iniciando o atendimento dirigido às crianças de cinco
e seis anos, em âmbito municipal, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde,
através do Departamento do Bem-Estar Social. Esse serviço de recreação infantil se estendeu
até o ano de 1975, quando foi inaugurado no mês de outubro o primeiro Centro Infantil, na
Rua Pedro Krauss, atendendo a faixa etária de zero a seis anos. Em 1976, foi instalado o
Centro Infantil da Rua República Argentina e, em 1979, outros três Centros Infantis anexos
aos Centros Sociais Garcia, Escola Agrícola e Água Verde.
O Pró-criança, Política Pública do Estado, com o apoio da UNICEF – Fundo das
Nações Unidas para a Infância, e sob a responsabilidade do poder público municipal,
implanta, em 1980, a modalidade de atendimento de creches domiciliares, coordenadas pela
administração das prefeituras municipais, com o objetivo de atender às crianças das
comunidades de bairros, por senhoras crecheiras. Em 1983 são implantadas pelo Estado de
Santa Catarina as primeiras creches domiciliares. Em Blumenau não se sabe quando a
primeira creche domiciliar surge, mas se tem conhecimento de que a creche domiciliar sob a
responsabilidade da senhora Ângela Adriano foi uma das primeiras da cidade.
No ano de 1991, a Secretaria Municipal de Educação assume a responsabilidade dos
Centros Sociais e cria o Programa de Educação Pré-Escolar, com a denominação de Unidade
Pré-Escolar – UPE. Passa a atender crianças de zero a seis anos, sob a perspectiva pedagógica
e de cuidados. A partir do ano de 1996, estes espaços, denominados UPEs recebem a
nomenclatura de Centros de Educação Infantil - CEIs, em continuidade até a presente data.
3. MARCOS PEDAGÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE
BLUMENAU
O atendimento à criança em espaços coletivos de educação infantil se faz por meio de
esforços e conquistas dos profissionais inseridos nesse contexto. Desde que a educação
infantil se configura como atendimento às crianças matriculadas nos espaços mantidos pela
Secretaria Municipal de Educação, houve maior atenção no sentido de criar vínculos e
30
aproximar diálogos para oportunizar a compreensão da infância como etapa de
desenvolvimento integral da criança.
O caminho para chegar à educação de qualidade social, com o êxito pedagógico é
trilhado em meio a conquistas diárias nas relações que se estabelecem entre os profissionais
da instituição e a comunidade, como também pelos tempos de formação oferecidos pela
Secretaria Municipal de Educação. O anseio constante desses profissionais envolvidos e
movidos pelo olhar de dedicação e paixão pelo mundo da criança conquistou espaço e
fortaleceu a concepção de infância e o respeito aos direitos da criança.
Diante dessas conquistas, mudanças vêm sendo construídas a muitas mãos pelos
diferentes profissionais da Rede de Educação Infantil de Blumenau. Profissionais engajados
na causa da educação, que desde o início fazem a diferença, pelo desejo de abrir caminhos e
transpor desafios, de enfrentar e romper os paradigmas e abraçar concepções em defesa da
infância.
As Diretrizes Curriculares Municipais, democraticamente construídas com o
compromisso coletivo de professores da Rede Municipal de Ensino permeiam uma importante
base de ações e práticas pedagógicas, contribuindo no sentido de fundamentar e qualificar o
trabalho desenvolvido pelos profissionais da Educação. As DCMs dão fundamentos para a
efetivação de práticas pedagógicas diante das especificidades da infância.
A seguir, serão abordadas algumas dessas conquistas, dentro das quais destacamos: as
formações continuadas e ampliações do repertório cultural em serviço; as visitas de gestão e
interlocuções entre pares; o espaço físico e ambiente como currículo; a efetivação da Hora
Atividade Extraclasse como potência no tempo de estudos; o cumprimento do calendário do
ano letivo na educação infantil e a organização do Programa de Atendimento Recreativo –
PAR. Diante dessas ações houve a possibilidade para a mudança de cultura de educação
infantil, resgatando a criança como protagonista de sua infância.
3.1 O PERCURSO DAS FORMAÇÕES CONTINUADAS
Foram realizadas diferentes configurações para os momentos formativos com os
profissionais da educação infantil. Com relação ao projeto de formação continuada, as
propostas são constantemente avaliadas em seus aspectos: local, acessibilidade, formador,
pertinência do tema, tempo de formação. Diante dessas avaliações, observa-se a necessidade
31
de reorganização, bem como a redução do número de participantes por tema oferecido,
qualificando o tempo de escuta, fala, interação, estudo e discussão entre os profissionais.
Esse tempo de formação garantido aos profissionais que desenvolvem o trabalho
pedagógico com as crianças marca uma importante conquista na compreensão para a
educação infantil, enquanto etapa de educação básica. Os estudos, leituras e diálogos entre
pares oportunizados com as formações, contribuem para a mudança de concepção de infância
dentro das instituições, estendendo-se às comunidades, por parte das famílias e de toda a
sociedade blumenauense.
Os professores partícipes desse processo, apropriados da compreensão das concepções
da infância, começam também a se perceber mediadores das aprendizagens das crianças e
formadores de opinião entre seus pares e na sua comunidade. Assegurados das concepções, da
intencionalidade e da argumentação pedagógica de seu trabalho, os professores se afirmam
interlocutores nos diálogos, nas discussões que sustentam a importância e a necessidade da
formação continuada. Partindo dessa observação, as propostas realizadas nas instituições por
esses profissionais em torno das questões do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças
têm oportunizado experiências e vivências da infância, tendo a criança como centro do
planejamento pedagógico.
Assim, muito se tem construído e alcançado em consequência ao movimento do
pensar, do falar e dos fazeres acerca dos diálogos com os profissionais sobre os conceitos da
educação infantil. Intenciona-se provocar a estranheza, a vontade de buscar e construir um
fazer diferente no desafio da mudança, sendo necessário e essencial o exercício do olhar
reflexivo, da observação atenta e cuidadosa para a criança e sua infância.
Neste ano de 2018, foi proporcionada autonomia da equipe gestora para a escolha do
tema de interesse e o referido formador, com base nas potencialidades e/ou fragilidades
percebidas e apontadas pelos profissionais envolvidos com o trabalho pedagógico. Os
formadores que compõem a equipe são em sua maioria, professores pesquisadores, com título
de mestres e doutores. Dessa maneira, se possibilita a aproximação com a realidade e
especificidade de cada instituição, promovendo o agrupamento de três a quatro Centros de
Educação Infantil. A formação continuada é distribuída em três encontros de oito horas
durante o ano letivo, conforme edital, com certificação para equipe gestora e professores.
3.2 VISITAS DE GESTÃO E INTERLOCUÇÕES ENTRE PARES
32
Para acompanhar o trabalho realizado nos Centros de Educação Infantil, são
realizadas, durante o ano, as visitas de gestão. As visitas são feitas pelas coordenadoras
curriculares que integram o quadro funcional da Secretaria Municipal de Educação, na
Gerência de Educação Infantil. Essa ação surge como possibilidade de estreitar o diálogo
entre Secretaria de Educação e as equipes gestoras das unidades educacionais a partir das
relações, criando vínculos na perspectiva de partilhar saberes, experiências e de assessorar o
trabalho realizado nas instituições.
Nas visitas de gestão, são observadas e registradas em relatórios institucionais a
discussão dos assuntos em pauta dialogados entre os pares envolvidos. Este momento
possibilita acompanhar, assessorar e mediar o que prevê os documentos oficiais da educação
infantil, bem como aproximar o diálogo no sentido de estreitar e compreender a sua dinâmica.
Buscar juntos o desenvolvimento de propostas pedagógicas efetivadas no currículo como um
conjunto de práticas, permeado de saberes, vivências e relações nas experiências com os
conhecimentos culturais, artísticos, ambientais, científicos e tecnológicos, conforme consta no
Parecer CNE/CEB nº 20/2009. É importante destacar que o foco desse diálogo se pauta no
plano de ação da equipe gestora, formulado a partir dos resultados da avaliação institucional
do Sistema Municipal de Avaliação Institucional Participativa – SIMAIP11.
3.3 ESPAÇOS FÍSICO E AMBIENTE COMO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
É possível observar, ao longo dessa trajetória, um expressivo avanço em relação à
organização dos espaços internos e das áreas de interesse das instituições de educação infantil.
A interlocução, mediada pela equipe gestora, as formações continuadas, os estudos e
pesquisas realizados na Hora Atividade Extraclasse, as visitas de gestão das coordenadoras
curriculares, os momentos de diálogo entre os diversos profissionais de cada instituição têm
favorecido o olhar para o espaço físico como currículo da educação infantil.
Torna-se visível o movimento de reorganização e revitalização dos espaços como
ambientes. Em cada canto temático, nas áreas de interesse, corredor, hall, refeitório,
banheiros, salas de referência, percebe-se o olhar para a mudança. O pensar, o querer ter e 11 Sistema Municipal de Avaliação Institucional Participativa – SIMAIP, Lei Complementar nº 910, de 14 de outubro de 2013. Lei Municipal, instituída com a finalidade de avaliar as unidades educacionais: escolas e centros de educação infantil da rede municipal de ensino de Blumenau. O SIMAIP tem como objetivo realizar avaliação de caráter formativo que, no decorrer do processo, qualifique a gestão das unidades educacionais, melhore a qualidade de ensino, obtendo dados e informações acerca da realidade de cada unidade educacional.
33
fazer a diferença desse tempo vivido para a criança constitui-se gradativamente, mostrando
com isso a coragem desses profissionais nos enfrentamentos diários dos desafios na quebra de
paradigmas. Dentro das instituições, a busca pela mudança dos espaços para transformá-los
em ambientes acolhedores, seguros, que inspirem a criação e a imaginação da criança, tem
motivado os profissionais da educação infantil à realização de pesquisas, estudos, discussão
entre pares e projetos com a parceria dos profissionais operacionais e da comunidade.
3.4 HORAS ATIVIDADE EXTRACLASSE COMO POTÊNCIA NO TEMPO DE ESTUDO
A Hora Atividade Extraclasse - HAE, implementada pelo Decreto Nº 96452/2012, aos
profissionais do magistério Público Municipal de Blumenau, assegura aos docentes o tempo
de pesquisa, estudo e planejamento. O cumprimento dessas horas, diante desse decreto é
preferencialmente na unidade educacional.
O tempo previsto em Lei para a efetivação da HAE, garante ao profissional do
magistério a otimização do seu trabalho pedagógico em relação às suas atribuições e ações
dentro de um tempo específico para a realização de estudo; pesquisa; elaboração do
planejamento; participação em formações; atendimento às famílias; registros de
documentação pedagógica; troca de experiências entre pares; reuniões de trabalho; construção
de pareceres descritivos; visita a outros espaços de educação infantil; ampliação de repertório
com a busca por teatro, música, museu, bibliotecas, eventos com cunho pedagógico; mediação
e orientação com o coordenador pedagógico e o diretor da sua unidade.
Com a efetivação desse tempo destinado à HAE o professor da educação infantil tem a
possibilidade de potencializar as práticas desenvolvidas na instituição, o que contribui com a
qualidade de trabalho do profissional de educação infantil quanto ao cotidiano, às rotinas
diárias, à documentação pedagógica, aos espaços e aos ambientes. O previsto nesse decreto
deve ser assegurado por cada instituição como compromisso e responsabilidade dos
envolvidos, contemplado no Projeto Político Pedagógico, efetivamente realizado,
supervisionado e orientado pela equipe gestora da unidade.
3.5 A EFETIVAÇÃO DO CALENDÁRIO DO ANO LETIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A Lei de Diretrizes e Bases, LDB - Lei nº 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, ao ser alterado pela Lei nº 12.796/2013, determina que [a
34
educação infantil cumprirá a] “carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas,
distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional”. (Art. 31, inciso
II).
Partindo desse princípio legal, no município de Blumenau, o planejamento do
calendário do Ano Letivo é construído de forma democrática com a participação de comissão
formada por representantes da Secretaria Municipal de Educação - SEMED e por
representantes das instituições. A escolha dessa representação é realizada durante reunião de
trabalho, entre as equipes gestoras.
Desta forma, possibilita-se que o cronograma anual de ações de cada instituição seja
elaborado a partir do trabalho conjunto dos profissionais. Essa ação permite resultados
positivos para o trabalho pedagógico, pois antecipa o encontro dos pares para a reorganização
e planejamento da documentação pedagógica, dos ambientes internos e das áreas externas.
No mês de julho, a organização do tempo de férias dos professores acontecia a partir
de uma escala de plantão. As famílias informavam a sua escolha sobre o atendimento ou não
da criança no Centro de Educação Infantil. No ano de 2017, com base no levantamento da
frequência das crianças durante esse período de férias, observou-se a possibilidade de
reorganização. A partir do ano de 2018, uma das conquistas é a mudança do tempo de férias
para a criança, sendo garantida uma semana no mês de julho. Contemplada no Calendário
Escolar para a educação infantil, essa ação busca qualificar o tempo de infância da criança.
Essa mudança prevista no calendário tem sido informada a toda comunidade blumenauense
desde o início do corrente ano.
3.6 O PROGRAMA DE ATENDIMENTO RECREATIVO NO MÊS DE JANEIRO
O Programa de Atendimento Recreativo – PAR, constitui uma das ações da Secretaria
Municipal de Educação para garantir atendimento às crianças de 0 a 4 anos, ou a completar 4
anos até 31 de dezembro do ano corrente, matriculadas e com frequência nos Centros de
Educação Infantil no ano anterior ao de realização do PAR. O período do programa acontece
durante o mês de janeiro, até que se inicie o Calendário do Ano Letivo. Para o
desenvolvimento desse trabalho com as crianças são contratados professores em caráter
temporário.
Para a efetivação do PAR, são realizadas propostas e experiências planejadas e desenvolvidas
por professores e articuladas pelas interações e brincadeiras em diversos agrupamentos
35
etários: oficina de teatro de bonecos, oficina de modelagem com diversos materiais,
experiências científicas, experiências com mágicas, brincadeiras com elementos da natureza,
de roda e cirandas e outras. As propostas realizadas durante o programa são registradas e
compõem a documentação pedagógica da instituição.
3.7 AS MUDANÇAS DE CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL A PARTIR DO
OLHAR PARA A CRIANÇA E SUA INFÂNCIA
As mudanças de concepções que permeiam a trajetória da educação infantil no
município de Blumenau constituem-se de marcos legais no sentido de documentos
norteadores emitidos pelos órgãos oficiais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais, as
Diretrizes Curriculares Municipais, o Parecer CNE/CEB nº20/2009, entre outros. Além dessa
perspectiva, o marcos histórico está delineado dentro de um percurso de formação continuada.
O trabalho realizado na educação infantil tem sua trajetória em cuidados higienistas e
assistencialistas e foi pautado por desafios e conquistas ao longo dos tempos. Para romper
com esse olhar para a criança nas práticas educativas e oportunizar a mudança de concepção
para as vivências infantis em espaços institucionais, houve uma busca constante na tarefa de
ampliar o estudo para fundamentação teórica necessária aos profissionais envolvidos.
Com base nos diversos momentos formativos e diante do objetivo de romper com
práticas assistencialistas e estereotipadas, buscou-se construir novos olhares para os tempos e
espaços da educação infantil. Nessa acepção tem-se a criança como um ser protagonista da
sua história, no respeito aos seus desejos e suas necessidades, que produz e interfere na
cultura, modificando-a. Conforme o Parecer CNE/CEB nº20/2009, a criança:
(...) centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz de conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura. (BRASIL, CNE/CEB, Parecer 20/09, p. 06).
No percurso das formações continuadas, uma das construções que fortaleceu o olhar
para a educação infantil foram os momentos de estudo, discussão e elaboração das Diretrizes
Curriculares Municipais, entregues para a Rede Pública Municipal de Blumenau em 2013, na
qual estão contempladas produções dos profissionais e algumas possibilidades metodológicas
36
para desenvolver o trabalho pedagógico. As Diretrizes Curriculares Municipais apresentam o
currículo que propõe: (...) articular as interações, as brincadeiras e as diferentes linguagens; que nos permita e nos desafie a pensar e propor os tempos e os espaços da/na educação infantil como espaços-tempos de ser criança e de se viver a infância como tempo de direitos, e de pensar o processo educativo-pedagógico para e com as crianças como processo para a formação humana para a participação social e para a cidadania. (Diretrizes Curriculares Municipais, 2012, p. 62)
Dentro dessas concepções, é importante considerar que as ações pedagógicas estão
atreladas ao currículo da educação infantil, no qual não se trabalha com listagens de
conteúdos ou datas comemorativas. O planejamento pedagógico é intencional, pensado para
todos os tempos e espaços dentro do cotidiano que a criança vivencia na instituição. A
mudança nesse aspecto se dá no sentido de construir um planejamento do professor com a
efetiva participação da criança, não somente para a criança, mas, mediante ao olhar e a escuta
atenta do adulto, essenciais para que possam ser contempladas as necessidades e desejos
mostrados pela criança no cotidiano da educação infantil.
Conforme consta na Diretriz Curricular Nacional, (2010, p.12) a educação infantil:
(...) primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.
Atualmente, diante da trajetória da educação infantil no município de Blumenau
percebem-se importantes conquistas, conforme aqui relatado. Todavia é preciso destacar que
esse trabalho de formação continuada e as ações imbricadas na proposta municipal requerem
a continuidade de estudos, pesquisas e políticas públicas que efetivem a educação infantil de
qualidade social. Uma educação infantil que assegure a vivência das crianças em espaços
coletivos e institucionais, que respeitem os seus direitos e contribuam no seu
desenvolvimento, reafirmando a criança como ser que deseja, aprende, observa, conversa,
experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva,
produzindo cultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escrita desse relato revela os caminhos percorridos no tempo da infância vivido nos espaços
de educação infantil do município de Blumenau. Nos dias atuais, os Centros de Educação
37
Infantil mostram as suas marcas históricas na trajetória de conquistas para se efetivar a
mudança de cultura nas concepções a partir do olhar do adulto para a criança e sua infância.
Constata-se que a intervenção; os tempos de formação e a mediação pelo diálogo; a
observação e reflexão sobre o currículo da educação infantil provocaram mudanças
significativas nas concepções dos tempos e dos espaços para oportunizar o desenvolvimento
integral da criança.
Com esse registro, afirma-se a importância de assegurar práticas que respeitem e valorizem o
tempo da criança na educação infantil e o seu protagonismo nas ações de investigação,
curiosidade, imaginação e ludicidade, conforme previsto no Parecer 20/2009: A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz de conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura. (Parecer CNE/CEB Nº: 20/2009 de 11 de Novembro de 2009, p. 6.)
O percurso para a mudança de cultura da educação infantil no município de Blumenau
tem deixado suas marcas históricas e pedagógicas para a conquista da vivência das infâncias
em espaços coletivos institucionais. Entende-se o grande desafio que se apresenta
diariamente, no sentido de dar continuidade e reafirmar ações intencionais e pedagógicas para
um currículo de infância que respeite a criança como sujeito histórico, social e produtor de
cultura.
REFERÊNCIAS BLUMENAU. Prefeitura. Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes Curriculares Municipais Para Educação Básica - Educação Infantil, Vol. I. Blumenau: Prefeitura Municipal/SEMED, 2012. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB 9.394/96). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http em://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 22 jun 2018. _______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil/Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010. _____. Ministério da Educação. Parecer nº 20, de11 de novembro de 2009. Brasília: MEC. CNE/CEB, 2009. PAGEL, Sandra Denise. A Educação Infantil, os direitos das crianças pequenas e as políticas públicas educacionais no município de Blumenau: um estudo de caso. 164f. Dissertação (Mestrado Profissionalizante) – Curso de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2005
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AS INTERAÇÕES ENTRE O CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL – CEI ANTON
MAX, A E.B.M. QUINTINO BOCAIÚVA E A COMUNIDADE.
Débora Cristina Rehfeldt12
Rita de Cássia Machado Cordova Maske13 Rosana Luvizotto Lessa14
1 INTRODUÇÃO
Este é o relato das experiências vivenciadas, por meio das interações do contexto
escolar, entre as instituições vizinhas: Centro de Educação Infantil – CEI Anton Max, Escola
Básica Municipal - EBM Quintino Bocaiúva e comunidade. Temos como finalidade socializar
os experimentos compartilhados entre as instituições, através de ações conjuntas que desafiam
o cotidiano escolar acerca de práticas coletivas. Juntamente com essas atividades das nossas
instituições educacionais vem a participação das famílias, crianças15, estudantes, professores,
equipe gestora, Associação de Pais e Professores – APPs, Conselhos Escolares. Sendo assim,
por meio das atividades que vêm sendo desenvolvidas em parceria, as duas instituições,
CEI/escola, ousaram e ousam realizar ações conjuntas e atividades diversas, educativas e
socioculturais no decorrer dos anos.
É oportuno salientar que as questões relacionadas à coletividade são extremamente
significativas para a comunidade escolar, pois estudantes e professores são cúmplices de
ações com o objetivo de interagir, integrar e transformar os ambientes em espaços coletivos e
democráticos de aprendizagens, de socialização e de ampliação dos conhecimentos.
Buscamos trazer para dentro dos espaços escolares famílias, comerciantes, empresas,
Cooperativa de Crédito da localidade e demais bairros vizinhos. É importante salientar que as
ações desenvolvidas têm como propósito envolver as crianças e os estudantes em momentos
diversos de aprendizagem e, também, resgatar a participação das famílias nas atividades
escolares por meio das interações.
12 Formada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1985). Especialização em Língua Inglesa pela Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE (2000). Atua como diretora adjunta na E.B.M. Quintino Bocaiúva, Blumenau/SC. E-mail: [email protected] 13 Formada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (2003) e em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC (2015). Especialização em Pedagogia Gestora com Ênfase em Administração, Supervisão e Orientação pela AUPESC (2005). Atua como diretora do CEI Anton Max, Blumenau/SC. E-mail: [email protected] 14 Formada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1999). Especialização em Gestão e Alfabetização pela UNIESC (2007). Atua como diretora da E.B.M. Quintino Bocaiúva, Blumenau/SC. E-mail: [email protected] 15 No texto, o termo criança faz referência ao público do CEI e estudante ao público da escola.
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2 VIVÊNCIAS COMPARTILHADAS
Cada unidade de ensino possui características extremamente particulares, baseadas na
realidade vivida no seu cotidiano. Muitas das experiências vivenciadas são próprias de cada
estabelecimento de ensino, pois desenvolvem trabalhos e projetos, muitas vezes semelhantes,
baseados na organização dos seus tempos, espaços e rotinas, mas com as especificidades
características do seu cotidiano. Nesse sentido, nos últimos anos, nós, do CEI Anton Max e da
E.B.M. Quintino Bocaiúva, viemos trabalhando, em momentos diversos, integradamente para
o desenvolvimento de atividades que abranjam os estudantes do CEI e da escola. Esses
momentos envolvem toda a comunidade e estreitam as relações, uma vez que algumas dessas
famílias têm filhos matriculados nas duas instituições. Pensando nisso, nós, equipes gestoras
do CEI e da escola, começamos a planejar ações conjuntas, com o intuito de aumentar a
participação das famílias nas atividades escolares.
Para tanto, buscamos vários subsídios, em ocasiões diversas, para que as interações
acontecessem de forma gradativa e participativa. Vale ressaltar aqui, que através dos anos
vínhamos estreitando as relações que aconteciam por meio de atividades tímidas das crianças
do CEI na escola e vice-versa. As crianças faziam visitas ao laboratório de ciências da escola,
à biblioteca para uma escuta de história, para assistir a apresentações artísticas dos estudantes
e atrações vindas de fora, também para brincar na quadra de esportes. Da mesma forma, os
estudantes da escola iam ao CEI ler para as crianças, brincar no parque, usar o auditório
(figura 1) e ainda realizar apresentações da fanfarra às crianças do CEI.
Figura 1- Apresentação da fanfarra
F
Fonte: Acervo CEI Anton Max e E.B.M. Quintino Bocaiúva
40
Com o passar dos anos, as interações se intensificaram naturalmente através dos
intercâmbios entre os professores e estudantes. Os espaços passaram a ser integrados com
maior frequência, assim como as festas de família, que antes aconteciam separadamente em
cada uma das instituições.
A princípio, a APP do CEI Anton Max teve a ideia de realizar uma festa para as
crianças e famílias, proporcionando uma tarde de lazer na rua. Surgiu então a ideia de uma
ação conjunta, ou seja, a realização de uma festa na rua com toda a comunidade escolar e o
comércio local. Começamos a estreitar relações entre as instituições e conversar com
professores e funcionários, dividindo as tarefas. Novas ideias foram surgindo para que nessa
ação proporcionássemos atividades com a participação de todos: CEI/escola e comunidade
escolar. Essa foi à primeira festa coletiva entre Anton Max e Quintino Bocaiúva.
O evento na rua foi intitulado, “Schulstrassenfest”, festa na rua, nome sugerido na
época pela presidente da APP da E.B.M. Quintino Bocaiúva. Nessa ação, as pessoas da
comunidade local puderam expor e vender produtos e trabalhos produzidos por elas.
Tivemos diversas atrações como: apresentação da Banda Municipal, apresentações
artísticas, danças para a terceira idade e para os jovens, medição de pressão, pescaria,
brinquedos infláveis, Programa de Educação Fiscal, teste de glicose, venda de colchões,
roupas, vários tipos de artesanato, alimentos produzidos pela comunidade, consórcio de
imóveis e de automóveis, bordados feitos pelo Clube de Mães, cortes de cabelo, mostra
cultural e para o almoço, uma deliciosa polenta com galinha.
A rua foi fechada pelo Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transporte de
Blumenau – SETERB e as atrações aconteceram durante o período da manhã e da tarde, do
dia dezoito de agosto de 2012. Importante salientar que os envolvidos eram da comunidade
local e também de bairros vizinhos (Badenfurt, Itoupavazinha e Salto do Norte). O comércio
local participou do evento expondo seus produtos, as empresas doaram artigos para sorteio, a
Cooperativa de Crédito do bairro veio com seu grupo e montou uma barraca expondo o
cooperativismo. Duas cabeleireiras, inclusive de salões de beleza distintos, montaram seu
espaço em uma sala na escola para atender aos interessados em cortar os cabelos e fazer as
unhas.
Todos que participaram trazendo seus artigos para comercializar com preços mais
acessíveis ofertaram entre 20 a 30 por cento do seu lucro para as instituições. O evento foi um
sucesso e cada instituição arrecadou mais de quatro mil reais. Isso também serviu de incentivo
para que continuássemos a realizar eventos conjuntos, não somente pela arrecadação, mas
41
principalmente pela participação das famílias e comunidade, pela interação e pelo
compartilhamento de ideias. Nós, equipes gestoras juntamente com as APPs, buscamos
parcerias que resultaram nesse envolvimento de muitas pessoas. Obtivemos a participação de
18 barracas expostas ao longo da rua, em frente das instituições de todos os expositores e um
grande número de pessoas da comunidade participando.
No ano de 2016, o CEI Anton Max completou trinta e cinco anos e a E.B.M. Quintino
Bocaiúva comemorou oitenta e um anos. Juntos, novamente, realizamos uma Festa da
Família. Nesse dia, tivemos um desfile comemorativo. A “Banda Musical da EBM Lauro
Müller” (figura 2), parceria mediada pela SEMED, veio nos acompanhar no percurso de
aproximadamente mil e quinhentos metros. Saímos do posto de gasolina do bairro e
finalizamos a marcha na frente da escola.
Figura 2 - Participação fanfarra E.B.M. Lauro Müller
Fonte: Acervo CEI Anton Max e E.B.M. Quintino Bocaiúva
Foi uma participação gigantesca de professores, pais, crianças, estudantes, ex-
estudantes, tios e avós que queriam desfilar conosco. Esse momento registrou mais uma
página da nossa história. Pudemos perceber a importância que as instituições têm na vida dos
muitos que frequentaram nossos estabelecimentos de ensino.
Após o desfile, houve apresentações culturais das crianças do pré-escolar e do ensino
fundamental.
Realizamos também nesse dia um bazar de roupas novas e usadas, uma roda da
fortuna com brindes doados por empresas, comércio local e região. Tivemos a
comercialização de pastel durante todo o evento, uma sopa ao meio-dia e, no período da tarde,
em comemoração aos aniversários CEI/escola, foi partilhado um bolo gigante com todos os
presentes. Estávamos juntos Conselhos, APPs, professores e funcionários como agentes de
transformação na instituição.
42
É importante dizermos que tanto o CEI quanto a escola têm seus portões abertos para a
comunidade escolar e uma relação de companheirismo para a realização de muitas atividades.
As crianças do CEI com suas professoras intensificaram as idas para a escola. Neste ano de
2017, as professoras da Creche-III B e do Pré-I C estão estreitando relações com o professor
de Ciências para a construção de composteira e de horta no CEI (figura 3), dando
continuidade ao projeto de sustentabilidade iniciado com o PIBID, na Gestão em 2015. Mais
uma importante ação que envolverá parcerias coletivas futuras.
Figura 3 – Projeto de sustentabilidade
Fonte: Acervo CEI Anton Max e E.B.M. Quintino Bocaiúva
Ainda neste ano de 2017, o CEI foi convidado pela escola para realizar um dia de
integração entre os estabelecimentos: festa da família.
Esse evento foi realizado nas dependências da E.B.M. Quintino Bocaiúva, no mês de
agosto. Nessa ação tivemos gincana com os estudantes e seus familiares, apresentações
artísticas das crianças do CEI e dos estudantes da escola, além de uma pastelada.
Esse foi mais um dia importante para a nossa história, pois ao trabalharmos
coletivamente tivemos o desafio de unir dois grupos. Uma tarefa não muito fácil, porém
desafiadora. A ideia de realizar práticas escolares compartilhadas é um desafio às práticas
inovadoras. Como gestoras das instituições, temos as mesmas preocupações, as de manter
uma educação de qualidade, participativa e democrática, que desafie o nosso cotidiano.
Pensamos em integrar nossos espaços através de ações coletivas, pois a escola é um
lugar de aprendizagem, de trocas de conhecimento, que não podem nem devem ser
fragmentadas. Portanto, para atuarmos em uma instituição de educação, é fundamental que,
como gestoras, tenhamos pleno conhecimento do contexto em que as instituições estão
inseridas.
No entanto, para que nossas interações conjuntas acontecessem com o sucesso que
almejávamos, foi preciso ressignificar, fundamentar e afinar nossa prática, relacionando-a
43
com a nossa realidade. Foi preciso buscar o empenho de todos que estavam inseridos no
contexto: professores, funcionários, cozinheiras, serventes e zeladores. Fizemos reuniões,
planejamos ações que contribuíram e agregaram positivamente para o desenvolvimento das
atividades que estávamos pensando e que colocaríamos em prática.
Temos o desafio da rotatividade dos estudantes, dos professores e da comunidade que
cresce a cada dia. É necessário acolher as pessoas vindas das mais diversas regiões do país.
Com a finalidade de ampliar e estreitar as relações das famílias com as instituições, foi
preciso romper com as muralhas das nossas instituições. Foi preciso trazer a comunidade para
dentro dos nossos muros, desenvolvendo práticas sociais de interações, uma vez que
compreendemos CEI/escola como instituições sociais. De acordo com Cunha (2000, p. 27):
Compreendemos a escola como uma instituição social, reconhece-se que seu valor será atribuído pela sociedade que a produz. Reconhece-se também, que a importância do papel do professor varia em função dos valores e interesses que caracterizam uma sociedade em determinada época.
Logo, com essa finalidade, o coletivo de professores e funcionários precisa estar
engajado além da sua sala de aula, secretaria, cozinha e limpeza com o objetivo de intervir em
suas atribuições de trabalho, principalmente na qualidade da sua atuação, no significado do
seu papel perante a comunidade. Com isso, é possível perceber o quanto é importante à
investigação de novos conhecimentos, a atualização de práticas que envolvam a construção de
ideias coletivas, além da busca por parceria dos segmentos da escola com a comunidade.
No entanto, os caminhos que viemos desenhando através da nossa trajetória marcará
uma nova história que possibilite as nossas unidades escolares, expectativas e condições de
(re) leituras para o aprimoramento das nossas práticas e ações. O conhecimento do nosso
contexto social, histórico e cultural dará ao coletivo de profissionais condições para ajudar
nossos estudantes a serem capazes de interagir no mundo com competências inovadoras.
Paulo Freire (1987, p. 97) disse, “cada jovem, adulto, velho tem como tarefa histórica
assumir seu tempo, integrar-se e inserir-se. Para isso, porém, a melhor maneira de alguém
assumir também com lucidez, é entender a história como possibilidade”. Nesse sentido,
acreditamos que é através de uma educação sólida, que possibilite avanços nas interações
sociais, que se formarão seres democráticos, conhecedores do seu contexto e capazes de
exercitar sua cidadania, sendo conhecedores dos seus direitos e deveres. Se o objetivo é formar um indivíduo democrático, é necessário proporcionar-lhe oportunidades de praticar a democracia, de falar o que pensa e de submeter suas ideias e propostas ao juízo de outros. Se o objetivo é que o respeito próprio seja conquistado pelo estudante, deve-se acolhê-lo num ambiente em que se sinta
44
valorizado e respeitado. Em relação ao desenvolvimento da racionalidade, deve-se acolhê-lo num ambiente em que tal faculdade seja estimulada. A escola pode ser esse lugar. Deve sê-lo. (BRASIL, 2000, p. 86).
Portanto, é através de uma percepção de educação atual, que responda às necessidades
de formação e educação, que vai determinar as ações comprometidas de um coletivo e fará
com que o trabalho que ocorre na escola aconteça de forma gradativa e eficiente. Para isso, as
ações dos profissionais foram conscientes e comprometidas com os objetivos que queríamos
alcançar. Com a parceria entre equipes gestoras, professores, cozinheiras e serventes nasceu o
comprometimento de todos. Todos precisavam saber por que e para quem estavam realizando
e prestando aquele trabalho.
Nesse sentido, a comunidade escolar precisa estar comprometida com as ações da
instituição. Ambas, precisam caminhar lado a lado. O gestor deve estar preparado para
receber novas ideias e colocá-las em prática de maneira sensata e coerente. O professor
necessita reconhecer que CEI e escola são espaços coletivos de aprendizagem onde cada ser
humano constrói seu conhecimento e constitui-se como sujeito autônomo no caminhar dos
diferentes períodos de vida. A proposta pedagógica precisa garantir que as pessoas possam se
encontrar na escola para adquirir conhecimento, trocar experiências por meio de vivências
significativas e com possibilidade de autonomia. “A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista” (KAMII, 1991, p. 8).
Com essa intenção, gestores, professores e comunidade escolar precisam refletir as
ações e projetá-las no tempo. Temos que recriar o CEI/Escola transformando-os em espaços
significativos e expressivos de aprendizagem para que nossas crianças e estudantes possam
fazer e refazer atividades que os possibilitem a troca de experiências e a colaboração para o
desenvolvimento e para a aprendizagem. Para isso, nada melhor do que envolver em nossos
trabalhos as famílias e a comunidade. Dessa forma, estaremos ampliando os conhecimentos e
buscando novas experiências através da participação coletiva.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe-nos aqui, dizer que as vivencias e os momentos compartilhados entre o coletivo
do CEI Anton Max e o da E.B.M. Quintino Bocaiúva foram extremamente significativos.
Uniu duas realidades aparentemente diferentes ao tratar de etapas específicas de
45
desenvolvimento, mas com o potencial de realizar a integração com todos e para todos. Nesse
processo também foi fundamental o empenho das APPs e dos Conselhos Escolares. É
importante salientamos que o envolvimento desses segmentos é indispensável, pois é com a
participação desse coletivo que se concretizam as nossas ações com maior legitimidade.
Consideramos que o trabalho realizado pelos professores e funcionários também é
fundamental para qualificar essas ações. Para tanto, o conhecimento da nossa realidade
escolar foi indispensável, fez com que buscássemos novas alternativas para obter mais
envolvimento e maior participação das famílias e da comunidade nas atividades realizadas,
sejam elas festivas, educativas ou culturais.
“Entretanto, [...] é fundamental que a escola e os professores compreendam que
ensinar [...] são tarefas não só técnicas, mas também políticas” (SOARES, 1989, p.79), pois
nossas ações passam por qualidade, por assimilação de teorias embasadas em práticas
pedagógicas, que levam em consideração o desenvolvimento dos estudantes, sujeitos em seus
contextos sociais, históricos e culturais.
Sendo assim, é sempre necessário planejar, avaliar, refletir e discutir sobre a qualidade
das nossas ações nas instituições e o que pretendemos com o nosso trabalho a partir delas.
Também, isso requer uma busca fiel de informações com a possibilidade e o objetivo de
contribuir com as modificações da nossa sociedade. Não queremos uma escola cuja aprendizagem esteja centrada nos homens de talento, nem nos gênios, já rotulados. [...] precisamos de uma escola que forme homens, que possam usar seu conhecimento para o enriquecimento pessoal, atendendo os anseios de uma sociedade de igualdade de oportunidade para todos. (RESENDE, 1999, p. 43).
Pois, a oportunidade se dá, principalmente, na ação e na reflexão da nossa prática, e
para isso temos a responsabilidade de compreender para quem idealizamos e planejamos.
Precisamos ter como aliados todo o coletivo escolar sem exceção. Cabem a nós do
CEI/Escola estabelecermos relações, alternativas concretas com a intenção de provocar a
participação e a reflexão em volta dos embasamentos teóricos e práticos que propiciam o
saber por meio das interações.
Foi com esse propósito e meta, que unimos nossas forças, trouxemos as famílias para
dentro dos nossos espaços, procuramos resgatar a participação da comunidade nas
instituições. Para isso, apropriamo-nos das interações entre os espaços e conseguimos assim a
participação em nossos eventos e atividades conjuntas de uma grande maioria. Quanto às
interações entre as crianças e estudantes, professores/professores e equipe gestora, não
deixaram de acontecer no nosso dia a dia e as relações escolares só tendem a aumentar. Isso
46
requer a sensibilidade de conservar as experiências e continuar mantendo interações
educativas, sociais e culturais.
Vale ressaltar aqui, o quanto foram gratificantes as experiências e vivências entre o
CEI e a Escola. Nossa avaliação é positiva e por isso continuaremos estreitando nossas
afinidades e trazendo para dentro dos nossos muros as famílias com a certeza de que estamos
formando cidadãos que compartilham, trocam conhecimentos, dividem espaços, vivem sua
realidade sem medo e aprendem coletivamente. Além disso, essa convivência em espaços
integrados ajudará as crianças do CEI a já se perceberem pertencentes ao ambiente da escola,
sem lhes causar estranhamento quando chegar o momento da mudança oficial de instituição.
Pensar sobre nossas ações e práticas desenvolvidas pelo CEI Anton Max e pela
E.B.M. Quintino Bocaiúva será sempre um trabalho de reflexão constante, individual e
coletiva. Enfatizamos, assim, a relevância de todos os profissionais em aprofundar seus
conhecimentos em relação à qualidade das ações desenvolvidas até aqui. Esse é um assunto
que merece ser discutido e ampliado constantemente, para que cada vez mais, tenhamos a
participação das famílias e da nossa comunidade local. Acreditamos que dessa forma teremos
ainda mais o envolvimento de todos nas ações que realizamos e que pretendemos ainda
realizar. O nosso desafio futuro é ampliar as ações e aumentar a participação de todo o
coletivo escolar com a comunidade local.
REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais - ética. Brasília: MEC/SEF, 2000. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. 11. ed. São Paulo: Papirus, 2000. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1987. KAMII, C. A criança e o número. Campinas: Papirus, 1991. SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 10. ed. São Paulo: Ática, 1989. RESENDE, C. A. Didática em perspectiva. São Paulo: Tropical, 1999.
47
GESTÃO COMPARTILHADA: PLANO DE AÇÃO COLETIVO DO
CEI BERTHA MÜLLER
Joyce Christiane HochheimSchlickmam16 Solange Dias de Aragão17
1 INTRODUÇÃO
O Centro de Educação – CEI Infantil Bertha Müller busca o diálogo e a mobilização
de todos os membros da comunidade escolar, sempre procurando valorizar momentos de
trocas, de sugestões e de críticas para promover a reflexão e a proximidade de todos os
segmentos que compõem essa comunidade. A gestão compartilhada se dá por meio da
participação de todos os membros da comunidade escolar nas tomadas de decisões e no
envolvimento integrado de todos os momentos que permeiam o andamento do CEI Bertha
Müller.
Todos os segmentos da comunidade escolar são convidados e incentivados a participar
de todas as vivências no CEI, não só àquelas que se referem a eventos e promoções, mas
também, a momentos que permitam reflexão, discussão e avaliação para o trabalho de
construção e reelaboração da proposta pedagógica. Por meio da participação objetiva-se
qualificar a prática e o olhar cuidadoso para a estrutura física da instituição. Para tanto, o CEI
Bertha Müller tem como prática a construção anualmente do Plano de Ação Coletivo, com a
participação de todos os segmentos: crianças, famílias, cozinheiras, serviços gerais, zeladoria,
professores e gestores.
O Plano de Ação Coletivo tem por base o movimento de reflexão e avaliação do ano
letivo vigente, no qual são apontadas as potencialidades, fragilidades e necessidades. Pautado
na avaliação, metas e ações para o ano letivo subsequente são traçadas e definidas pela
Associação de Pais e Professores – APP, Conselho Escolar e Direção.
16Pós-Graduada em Orientação, Supervisão e Gestão Escolar pelo Instituto Catarinense de Pós-Graduação – ICPG/Blumenau-SC (2005), graduada em Normal Superior Habilitação Anos Iniciais do Ensino Fundamental pela ASSELVI (2003). Atualmente atua como Coordenadora Pedagógica no CEI Bertha Müller. E-mail: [email protected] 17Pós-Graduada em Educação Infantil e Séries Iniciais e Gestão na Educação, pela Faculdade de Joinville – AUPEX/Joinville-SC (2005), graduada em Pedagogia pela FURB - Universidade Regional de Blumenau-SC (1999). Atualmente atua como Diretora no CEI Bertha Müller. E-mail: [email protected]
48
VIVÊNCIAS COMPARTILHADAS A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. A participação proporciona melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola, de sua estrutura organizacional e de sua dinâmica, de suas relações com a comunidade, e propicia um clima de trabalho favorável a maior aproximação entre professores, alunos e pais (LIBÂNEO, 2003, p. 329).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394/96 estabelece
como princípio a gestão democrática e em seus Artigos 14 e 15 apresentam as seguintes
determinações: Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. [...] Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público.
Cabe aqui, nessa regulamentação, o princípio da autonomia delegada, pois essa Lei
trata a gestão democrática e seus princípios de maneira aberta no sentido de que não
determina procedimentos para pautar gestão democrática, apenas aponta o lógico: a
participação de todos os envolvidos.
Desse modo, torna-se impossível pensar em debater sobre qualquer estrutura educativa
sem antes contextualizá-la no seu aspecto histórico, social e cultural. O processo de análise
passa necessariamente pela maneira de como o homem, em um dado contexto, analisa sua
realidade, seu mundo. Como se percebe um ser produtor no seu tempo e no seu espaço, um
transformador objetivo da sua realidade, que racionalmente analisa e modifica.
Portanto, a escola precisa da participação da comunidade, como usuária consciente
desse serviço, não apenas para servir como instrumento de controle em suas dependências
físicas, mas também nas ações pedagógicas discutindo, sugerindo e participando dos
movimentos que envolvam as famílias.
Através de um olhar sensível e ousado da realidade do CEI Bertha Müller, foi pensado
e criado o Plano de Ação de uma gestão compartilhada, em que todos fazem parte do
processo. O objetivo é de que todos façam parte dessa vivência, que assistam à execução e
49
ao aprimoramento de suas ideias, suas sugestões e seus anseios, numa perspectiva de
qualidade para a instituição.
Sempre se sistematiza um plano como forma de antecipar algumas ações que garantam
qualidade, com vistas a atingir objetivos advindos das necessidades da realidade e propondo
ações com ideias antecipadas. Assim que acontece no CEI Bertha Müller.
Percebendo-se a necessidade de reuniões constantes com a APP para resolver e decidir
questões necessárias ao andamento da instituição nas dimensões pedagógicas, administrativas
e financeiras, a APP foi convidada para estruturar com a gestão um Plano de Ação. Esse
Plano deve contemplar as demandas pedagógicas e de mão de obras e/ou de recursos
financeiros para melhorias estruturais do CEI. O cronograma de execução das ações elencadas
pela comunidade escolar obedece a uma ordem de prioridades.
Constantemente anota-se e registra-se as sugestões e solicitações dos professores,
serviços gerais, cozinheiras, secretaria e coordenação pedagógica para aquisições de materiais
para reorganização dos espaços. Essas solicitações são feitas no sentido de criar
possibilidades de desenvolvimento para as crianças, além de outros recursos que facilitam a
qualidade dos serviços dos profissionais da instituição.
A cada ano, a APP juntamente com a gestão vem ampliando essas estratégias para
chegar o mais próximo do ideal da participação ativa da comunidade escolar. Com isso,
busca-se encontrar um meio para que os acontecimentos sejam vivenciados na instituição
como forma de ações compartilhadas em uma gestão democrática.
Uma das estratégias da gestão democrática no CEI Bertha Müller foi a de promover a
integração entre os profissionais da unidade, famílias e crianças, na qual se desenvolve um
trabalho em parceria com o Conselho Escolar e com a APP. O Conselho Escolar é um órgão
representativo permanente à comunidade escolar local, de natureza consultiva, deliberativa,
fiscalizadora e mobilizadora; com atuação administrativa, financeira e pedagógica. A APP é
uma associação sem fins lucrativos, que representa os interesses da comunidade escolar,
colabora e promove a integração da comunidade com a instituição escolar.
O Centro de Educação Infantil Bertha Müller hoje tem como prática desenvolver
anualmente um Plano de Ação Coletivo, sendo esse um facilitador da gestão, haja vista o
planejamento de ações para atingir as metas traçadas. O Plano de Ação é elaborado em
formato de tabela, contendo objetivos, metas, ações e estratégias, a partir da avaliação e da
reflexão do ano letivo vigente. A construção do Plano de Ação Coletivo conta com a
participação de todos os segmentos.
50
Inicialmente, a gestão, o Conselho Escolar e a APP realizam uma pesquisa com toda a
comunidade escolar, faz uma avaliação do que já foi alcançado, das potencialidades, das
fragilidades e das necessidades do CEI. Visa qualificar ainda mais o trabalho desenvolvido
pelos profissionais da instituição e a aprendizagem das crianças, contemplando as dimensões
pedagógica, administrativa e financeira.
A partir dessa avaliação, gestão, Conselho Escolar e APP se reúnem para elencar
prioridades. Tendo-as definidas, elabora-se o Plano de Ação, traçando as metas,
estabelecendo ações, estratégias necessárias para se atingir os objetivos propostos, prazos
adequados para a conclusão de cada ação, estimação de recursos humanos e financeiros,
materiais e definição de responsável pela execução de cada ação.
No decorrer do ano letivo, gestão, Conselho Escolar e APP se reúnem periodicamente
para avaliar o andamento do Plano de Ação e os resultados obtidos, metas atingidas e ainda
não alcançadas. Planejar ações, definir novas estratégias, dialogar e tomar decisões quanto às
prioridades que se apresentam no decorrer do ano letivo.
Como diz Paulo Freire (apud BRASIL, 2004, p. 09): Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós que é o de assumir esse país democraticamente.
Ressalta-se a importância do fazer coletivo, do quanto a participação de cada um
contribui para se alcançar metas propostas. Nesse processo, é fundamental partilhar com a
comunidade escolar o andamento do Plano de Ação da unidade e os resultados já obtidos.
2 PRÁTICA DAS VIVÊNCIAS
Durante o mês de outubro é encaminhada à comunidade escolar uma tabela
simplificada para que cada segmento anote as suas contribuições, levando em conta as
prioridades para melhoria da qualidade do trabalho, conforme proposta pedagógica do CEI
Bertha Müller. Nessa tabela são consideradas as contribuições nas dimensões pedagógica,
administrativa e financeira da instituição.
A equipe gestora juntamente com as professoras se reúnem com as crianças em um dia
específico, juntas dialogam, escutam-nas, registram no Plano de Ação as contribuições, que
são riquíssimas. Inicialmente é construído um Plano só com as contribuições das crianças, que
na sequência é agrupado ao Plano de Ação coletivo. As colaborações são copiladas e, durante
o mês de novembro, a APP, a gestão e o Conselho Escolar, em reunião exclusiva, elaboram o
51
planejamento e levam-no para a apreciação da comunidade escolar no início do ano letivo, em
Assembleia Geral de Pais.
A comunidade escolar tem o prazo de uma semana para a devolução da tabela.
Geralmente, o retorno dessa tabela para o CEI é complicado, algumas famílias precisam ser
cobradas pela entrega por mais de duas vezes. No entanto é satisfatório ver o quanto as
crianças estão envolvidas nesse planejamento, mantêm posturas e atitudes sobre essa ação,
valorizam a participação e cobram de todos os envolvidos.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência desenvolvida pela gestão, Conselho Escolar e APP, no Centro de
Educação Infantil Bertha Muller, oportuniza um trabalho de gestão democrática, de qualidade
e transparência, uma vez que as metas são traçadas no Plano de Ação pelo coletivo e as ações
e estratégias são desenvolvidas de forma compartilhada. Além disso, é uma prática que
assegura e potencializa o trabalho da direção, enquanto gestora da unidade.
É oportuno que, ao longo do ano, a comunidade escolar interaja e avalie o andamento
do trabalho realizado: as metas que estão sendo atingidas e as que necessitam de mais
esforços, maior participação e mobilização. E esse é o grande desafio da gestão da unidade,
fazer com que as famílias participem efetivamente desse processo.
Muitas estratégias têm sido pensadas e experimentadas e, diante disso, muitos já
percebem a importância da participação no CEI em todos os sentidos: reuniões, eventos,
formações, acompanhamento do desenvolvimento e da aprendizagem dos filhos entre outros.
A parceria efetiva e o compromisso de todos são primordiais para se dar continuidade
à gestão compartilhada, num Plano de Ação Coletivo. O envolvimento coletivo faz toda a
diferença nesse processo, pois tem o olhar de uma comunidade escolar e não somente da
gestão da instituição. Todos são responsáveis pela qualidade da oferta de trabalho em todas as
dimensões.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Conselhos Escolares: democratização da escola e construção da cidadania. Brasília, 2004. _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. LIBÂNEO, J. C. Educação Escolar: políticas, estruturas e organização. São Paulo: Cortez, 2003.
52
PROJETO FORA DA HORA: VIVÊNCIAS DA ESCOLA BÁSICA MUNICIPAL
GUSTAVO RICHARD
Alessandra de Souza Fontanelli18 Anabela Maria Morsch Schillingmann19
Elizete Gomes Nardi20
1 INTRODUÇÃO
Este é um relato de experiência extracurricular vivenciado na Escola Básica
Municipal Gustavo Richard, durante o ano de 2017, envolvendo crianças e adolescentes do
Ensino Fundamental. Nesse texto apresentaremos como foram essas experiências e os
resultados, quais os avanços nas atitudes, na formação intelectual, cultural e social dos
estudantes.
Desde o ano de 2016, nós, equipe gestora, vínhamos discutindo de que forma
poderíamos possibilitar novas experiências principalmente aos adolescentes, visto a realidade
de drogas e a falta de oportunidades das famílias carentes no entorno de nossa comunidade.
Dessa forma, o que poderia a escola fazer com e para esses estudantes? Após contato com
diversos órgãos, fomos agraciados, através da Fundação de Esportes – FND, com aulas de
voleibol e futsal, por meio da Fundação do Bem-estar da Família Blumenauense – Pró-
Família, com aulas de capoeira e por uma professora voluntária, com aulas de flauta. Porém
veio a pergunta, onde essas aulas aconteceriam? Não temos quadra, nem tão pouco espaço
físico disponível.
Fizemos um levantamento com os estudantes para saber o número de interessados em
cada modalidade. Como foi além da expectativa (52 estudantes para o voleibol, 22 para o
futebol, 9 para a capoeira e 15 para as aulas de flauta), mesmo com um olhar atento para
perceber se não seria apenas entusiasmo passageiro, vimos a necessidade de atendê-los fora
do horário de aula.
18 Formada em Pedagogia pela Uniasselvi (2009). Atualmente é coordenadora pedagógica da Escola Básica Municipal Gustavo Richard, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected] 19 Formada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1980). Especialização em Neuropsicopedagogia pela Uniasselvi (2016). Atualmente é coordenadora pedagógica da Escola Básica Municipal Gustavo Richard, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected] 20 Formada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1998). Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo IBPEX (2010) e em Gestão, Supervisão e Orientação Escolar pelo IPGEX (2013). Atualmente é diretora da Escola Básica Municipal Gustavo Richard, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected]
53
A partir do mês de abril de 2017, iniciamos as atividades que vêm sendo colocadas em
prática ainda hoje. Voleibol e futsal acontecem três vezes por semana no período vespertino,
após horário escolar, sempre acompanhado por uma de nós, diretora ou coordenadoras
pedagógicas. Já a capoeira, conseguimos encaixar nas quartas-feiras, no período matutino, em
que podemos utilizar uma praça em frente à escola sem interferir nas aulas de Educação
Física. As aulas flautas acontecem nas segundas-feiras, no espaço da nossa banda que nesse
dia não utiliza a sala.
O projeto chamou a atenção da comunidade, que procurou a direção pedindo
informações e parabenizando a escola. Segue registros fotográficos do projeto: a capoeira
(figura 01), o vôlei (figuras 02).
Fig. 01: Aula de capoeira. Figura 02: Treino de vôlei.
Fonte: arquivo da E.B.M. Gustavo Richard
Para além dos esportes e da música como ampliação da cultura e de novas
possibilidades de interação e socialização, estamos constantemente em busca de palestras com
temas variados e visitas a instituições, a fim de oportunizar novas vivências para nossos
estudantes. Acreditamos que quanto maiores forem as experiências positivas vividas dentro da
escola, maiores serão a possibilidade de avanços intelectuais, culturais e sociais.
De acordo com Krznaric (2015), a convivência extrassala, em um espaço livre,
praticando esporte ou apenas trocando ideias, fortalece os laços e amplia as relações humanas.
E, de fato, a partir da intensificação do convívio dos estudantes promovida pelas atividades
fora de horário escolar, notamos maior interação entre o grupo de estudantes, mesmos entre
aqueles que não mantinham muito contato.
2 ESTUDANTES COMO PROTAGONISTAS DO ESPAÇO ESCOLAR
Iniciamos nossa experiência em abril de 2017, com os estudantes dos anos iniciais e
finais da E. B. M. Gustavo Richard. Acreditamos que toda criança/adolescente é um agente de
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transformação, dessa forma procuramos concentrar energia e esforços para criar e cultivar o
espaço e o tempo para que as relações floresçam. Trabalhamos em equipe com criatividade,
liderança, transformando a realidade, valorizando as contribuições únicas que cada indivíduo
pode trazer na busca de crescimento e oportunidades.
Assim, nos embasamos em Vygotsky (1991). Sua psicologia, no último século, tem
contribuído para dar fundamental importância à formação integral, individual e social, com
destaque para o papel da linguagem na constituição cognitiva, envolvendo as emoções de
forma inteligente. É um estudo extremamente inspirador. “Nenhuma teoria psicológica do
desenvolvimento confere tanta importância à educação quanto a de Vygotsky” (IVIC, 2010,
p. 26).
O objetivo é construirmos juntos uma educação e uma sociedade pautada pela visão
comum de que todas as crianças e adolescentes devem ter a oportunidade de praticar a
empatia e realizar sua potência de sentir e agir. Transformar a escola em espaço privilegiado
para ampliar experiências capazes de proporcionar aos estudantes vivências positivas em
grupo e individualmente, tem nos auxiliado a alcançar nosso objetivo principal, que é dar
norte, possibilitar a visão e a sensação de um mundo onde as interações positivas são o
caminho.
Para assegurar o lugar de agentes de transformação, crianças e adolescentes precisam
estar inseridas em um meio que lhes proporcione experiências positivas, fazendo com que se
sintam parte desse meio e que os fomente a transformar esse local e suas próprias vidas.
Célestin Freinet (1998, p. 19), em sua obra “Para uma escola do povo”, afirma que a escola já não prepara para a vida; não está voltada nem para o futuro, nem mesmo para o presente; obstina-se num passado que não volta […]. A Escola que não prepara para a vida, já não serve a vida; e é essa a sua definitiva e radical condenação […].
Diante dos conflitos diários da nossa realidade escolar, pensar em possibilidades que
ultrapassem essa escola citada por Freinet é nosso desafio. Procuramos dentro de sua teoria
possibilidades de superar nossas fragilidades, pois infelizmente ainda não conseguimos atingir
a todos.
Possibilitar o envolvimento em ações conjuntas vem ampliando as vivências de nossos
estudantes. Alguns deles vêm se destacando nas modalidades esportivas desenvolvidas no
projeto, inclusive com oportunidades de fazer testes em outras instituições. A capoeira
também abriu novos caminhos para alguns estudantes em apresentações de eventos. As aulas
de flauta despertaram o desejo/sonho de muitos estudantes, que já vêm projetando seu futuro
55
como musicistas. As palestras oferecidas pela Cruz Azul e psicólogos particulares acerca da
reflexão do lugar que o estudante ocupa na sociedade, dos seus sonhos, das suas
potencialidades ampliaram o repertório dos nossos adolescentes. Percebemos que alguns
estudantes despertaram para um mundo possível, perceberam que cada um constrói sua
história.
Assegurar, reconhecer e investir na potência de sentir e agir das próprias crianças e
adolescentes é um caminho possível para transformar a educação e construir uma sociedade
mais justa para todos. É o nosso desejo educar para a transformação positiva pessoal e do
mundo.
As experiências envolvendo o esporte, a música e as palestras estão possibilitando a
nossos estudantes se tornarem protagonistas das mudanças sociais que estão acontecendo pelo
esforço de todos que vem assumindo seu papel de transformador. Todas as parcerias têm sido
igualmente importantes para alcançarmos nosso principal objetivo, as vivências positivas
dentro da escola para que os estudantes despertem suas potencialidades. Mostrar-lhes que
existem outras realidades além da realidade de mundo em que estão inseridos. As
oportunidades vivenciadas por cada um deles têm aguçado a capacidade de superar suas
dificuldades e seguir em busca de novos caminhos. Os relatos a seguir, refletem essas
transformações:
Estudante A21 (13 anos):“Desenvolveu minha pontualidade, trabalho em grupo, respeito, capacidade de jogar, motivação, compreensão, decisão e foco”.
Estudante B (16 anos): “Achei interessante, durante os treinos fui
melhorando cada vez mais, meu grupo também melhorou muito no esporte”.
Estudante C (14 anos): “Eu desenvolvi o meu trabalho em equipe, a persistência, o foco, a automotivação, a minha agilidade”.
Estudante D (13 anos): “Promoveu o crescimento e progresso no trabalho em
equipe, pontualidade, organização, foco, comunicação, compromisso criatividade e dedicação”.
Estudante E (14 anos): “Bom... meu desenvolvimento foi ótimo, melhorei as capacidades físicas, organização, foco e persistência”.
Estudante G (8 anos): “Foi bem legal aprender a tocar uma experiência
legal. Primeiro aprendi flauta, depois lira e agora estou no bumbo”.
21 Os estudantes serão identificados no texto por letra alfabética para preservar suas identidades.
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Ouvir esses depoimentos revelados pelos estudantes aumentou nossa expectativa em
continuar e ampliar esse projeto, pois algumas dificuldades como pontualidade, organização,
persistência entre outras, gradativamente estão sendo superadas. Os relatos dos estudantes
confirmam que estamos no caminho certo.
3 CONCLUSÃO
Pelos resultados positivos que esse projeto tem apresentado, avaliamos a possibilidade
de sua permanência e ampliação. Como nosso objetivo é assegurar o maior número de
experiências positivas possíveis, estamos em constante procura por parceiros que atuam na
mesma causa. Durante esses seis meses de início do projeto vemos que estamos alcançando
esse objetivo. Notamos maior envolvimento dos estudantes, percebemos que sentem prazer
em estar inseridos nos movimentos, esforçam-se para ampliar seus repertórios musicais,
qualificar suas habilidades físicas nos treinos. É notório nas falas das crianças e dos
adolescentes o desejo de melhorar suas atitudes e diminuir os conflitos.
Fazendo uma ponte entre as dificuldades de relacionamento, desânimo e falta de
oportunidades em participar de treinos, aulas e palestras, dados levantados no início, hoje já é
possível observarmos mudanças de comportamento de algumas crianças e adolescentes, com
maior ânimo, pois participam da rotina da escola com maior envolvimento, gostam de ajudar
e envolver-se nos movimentos pedagógicos organizados na escola.
Sabemos que o caminho ainda é longo, que muitos desafios farão parte do trajeto,
muitos chegarão, outros infelizmente ficarão pelo caminho, mas é importante fazermos tudo o
que é possível como instituição de educação. Como escola, temos nosso compromisso com a
cidadania, temos o dever em contribuir para uma sociedade melhor para todos.
REFERÊNCIAS FREINET, C. Para uma escola do povo. São Paulo: Martins Fontes, 2001. IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Recife: Massangana, 2010. KRZNARIC, R. O poder da empatia: a arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo. 1.ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. VYGOTSKY, L. S. A Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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CABIDEIRO SOLIDÁRIO: UMA EXPERIÊNCIA SENSÍVEL NA EDUCAÇÃO
INFANTIL DO CEI DR. WILSON GOMES SANTIAGO
Janainna da Silva22 Julia Patrícia Noriler Marchalek23
Simone Viera da Silva24
1 INÍCIO DE CONVERSA SOBRE EDUCAÇÃO ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL.
Este é um relato de experiência sobre uma prática pedagógica desenvolvida a partir
da realização de um projeto intitulado: Cabideiro Solidário, iniciado no ano de 2016 e ainda
em andamento até o presente momento, devido ao compromisso efetivo da comunidade
escolar25. Irá se discutir sobre educação estética na educação infantil com bebês e crianças de
até três anos, diante de uma perspectiva histórico-cultural em Vigotski, a partir de estudos em
Schoeder (2013). O relato de experiência também se apoiará nos saberes de Duarte Jr (2000);
Edwards et al. (1999); Nóvoa (2009) e Marchi (2009), que discutem a educação como um
processo de formação e construção histórica e cultural, não enfatizando paradigmas
“universais” com princípios de pressupostos biológicos e com a evidencia apenas no
conhecimento inteligível como formação total humana.
Essa experiência de prática pedagógica sobre relevância de educação estética teve
como principal objetivo identificar e compreender o sentido do sensível em relação às
crianças no seu cotidiano escolar. Ao observá-las, nesse contexto, constatou-se demandas de
necessidades referentes a vestimentas e calçados e, por isso, o Centro de Educação Infantil –
CEI Dr. Wilson Gomes Santiago, localizado no município de Blumenau/ SC, iniciou o projeto
interno de extensão, Cabideiro Solidário.
22Professora do Centro de Educação Infantil Dr. Wilson Gomes Santiago, Blumenau - SC. Pedagoga formada pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI (2006), especialista em Educação Infantil pela Instituição Dom Bosco (2010) e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Regional de Blumenau - FURB. E-mail: [email protected] 23Coordenadora pedagógica do Centro de Educação Infantil Dr. Wilson Gomes Santiago, Blumenau - SC. Pedagoga formada pela Universidade Regional de Blumenau - FURB (1991), especialista em Metodologia de Ensino/UNIVALI (1994). E-mail: [email protected] 24Diretora do Centro de Educação Infantil Dr. Wilson Gomes Santiago, Blumenau - SC. Pedagoga pela Universidade Regional de Blumenau - FURB (1988) e especialista em Administração, Supervisão e Orientação Educacional/UNIVALI (2001). E-mail: [email protected] 25Comunidade escolar, nesse relato, entendida como todos aqueles que de modo direto e indireto fazem parte do contexto do espaço formal educacional como: professores, gestão escolar, zeladoria, cozinha, crianças e seus responsáveis.
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Essa iniciativa partiu dos professores, juntamente com demais profissionais da
instituição (equipe gestora, zeladoria, cozinha), quando informalmente discutiam a respeito do
cuidado26 com bebês e crianças maiores do CEI. Alguns participantes dessa conversa informal
entendiam que o ato de cuidar das crianças era uma obrigação somente de seus responsáveis.
Entendiam ainda que a família deveria trazer para a instituição materiais de higiene e
vestimentas necessários para que as crianças estivessem confortáveis e assim pudessem
participar dos processos pedagógicos de ensino-aprendizagem. Sendo assim, algumas
professoras relatavam que as peças do vestuário das crianças em atendimento, contidas na
mochila escolar, eram insuficientes para as trocas diárias necessárias.
Além disso, refletiu-se sobre a ausência de roupas e acessórios adequados ao clima
mais frio, como luvas, toucas, cachecóis, casacos e calçados apropriados para aquecer o
corpo, evitando o desenvolvimento de doenças respiratórias adquiridas na época de outono ou
inverno. Também se levou em consideração que alguns familiares/ responsáveis usavam
bicicletas ou traziam as crianças caminhando para o CEI, mesmo em dias frios.
Somado ao que foi exposto, tem-se ainda a crise econômica que atingiu o Brasil desde
2016, gerando desempregos para algumas famílias da comunidade onde se localiza a
instituição. Por essa razão, quando questionados pelas professoras a respeito da ausência de
vestimentas dentro das mochilas, alguns familiares/responsáveis pediram compreensão por
conta da situação financeira em que se encontravam, em decorrência de desemprego, ou falta
de pagamento da empresa em que trabalhavam.
Diante desse cenário, surgiu então a seguinte questão problema: Que ação pedagógica
o CEI poderia realizar para manter o bem-estar das crianças, com vestimentas adequadas ao
clima, diminuindo a fragilidade socioeconômica dessas famílias? A partir desse
questionamento surgiu o projeto: Cabideiro Solidário, com o intuito de exercitar a educação
estética sobre o despertar do sensível nas crianças em atendimento escolar, garantindo o
direito de acolhimento e bem-estar.
No contexto educacional, Duarte Jr. (2000, p.15) alerta sobre a atenção ao sensível,
uma educação com relação ao sentimento que se pode nomear como educação estética: Contudo, não nesse sentido um tanto desvirtuado que a expressão parece ter tomado no âmbito escolar, onde vem se resumindo ao repasse de informações teóricas acerca da arte, de artistas consagrados e de objetos estéticos. Trata-se antes, de um projeto radical: o de um retorno da raiz grega da palavra “estética” – aisthesis, indicativa primordial capacidade do ser humano sentir a si próprio e ao mundo num todo integrado.
26Nesse contexto, entende-se por cuidado: preocupação; atenção maior em relação a: ele necessita de cuidados, de acordo com a acepção atribuída pelo dicionário Aurélio de português online.
59
Portanto, a estética possibilita ao ser o sentir e a compreensão do que está a sua volta.
Uma experiência que o projeto realizado proporcionou tanto aos profissionais quanto às
famílias do CEI, que acabaram trazendo para instituição roupas que não utilizavam mais para
contribuir com outras pessoas que passavam por necessidades. Deste modo, todos puderam
trabalhar juntos e fazer do despertar do saber sensível uma educação com princípios mais
estéticos e éticos.
Duarte Jr. (2000, p. 15), esclarece que “A educação do sensível nada mais significa do
que dirigir nossa atenção de educadores para aquele saber primeiro que veio sendo
sistematicamente preterido em favor do conhecimento intelectivo”. O autor considera assim
que o saber sensível e o conhecimento intelectivo são igualmente importantes na educação e
por isso se complementam.
Ainda de acordo com o autor é o “desenvolvimento e refinamento dos nossos
sentidos27, que nos colocam face a face com os estímulos do mundo” (DUARTE JR., 2000, p.
15). Para poder nortear esse sentido, o autor orienta os educadores sobre sua atuação,
afirmando que um olhar sobre o saber28, propõe o saber sensível, saber esse que vem sendo
preterido em relação ao conhecimento inteligível, não apenas em ambientes escolares, mas
também no ambiente familiar.
No contexto educacional, Edwards et al. (1999) alertam sobre a relação da escola com
os processos que envolvem a família e a maneira com a qual a escola partilha autoria com a
comunidade e cria espaços para a interação dos sujeitos: Pedimos o envolvimento da família, mas detestamos dividir a autoria, a responsabilidade e o crédito com os pais. Reconhecemos a necessidade por uma comunidade, mas com muita frequência nos cristalizamos imediatamente em grupos com interesses próprios. Saudamos o método da descoberta, mas não temos a confiança para permitir que as crianças sigam suas próprias intuições e palpites. Desejamos o debate, mas repetidamente o arruinamos: queremos escutar, mas preferimos falar; somos afluentes, mas não protegemos os recursos que nos permite permanecer assim, e dessa forma, apoiar a influência de outros. (EDWARDS et al.,1999, p. 6)
Nesta primeira parte introdutória do relato de experiência, buscou-se discutir o
cuidado como vivência do despertar sensível da educação estética na infância, com bebês e
crianças de três anos de idade, seus contributos e potencialidades no desenvolvimento 27Para Duarte Jr. (2000, p. 20) os sentidos: “Estão nas reflexões que se desenvolve em torno de nosso corpo, mais especificamente, através de nossos cinco sentidos e de sua capacidade comunicativa”. 28O saber aqui será tratado nos estudos em Duarte Jr. (2000), acreditando que o verbo saber tem maior amplitude de denotação que o congênere de conhecer. O conhecer parece tratar de habilidades específicas, limitando-se área uma esfera mental da abstração. A sabedoria está inserida em uma gama maior de habilidades, articulado no viver do cotidiano de seu detentor. Esse saber está incorporado ao sujeito, sendo que a palavra incorporar tem o significado de trazer ao corpo, tornando uma qualidade do próprio sujeito. E ainda colocando a palavra saber como verbo que indicam “ter sabor”, do qual passa pelos sentidos e agradam ao corpo.
60
integral. Na próxima seção serão abordadas, com olhar analítico, a educação estética e o
sentido na educação infantil. Na terceira seção, irá se explicitar a experiência do projeto:
Cabideiro Solidário, com resultados significativos sobre a compreensão e o desenvolvimento
de bem-estar das crianças em atendimento num espaço formal educacional. Na última seção,
discorrer-se-á sobre o ato do cuidar na educação infantil como ato de intencionalidade
pedagógica, com reverberações da educação estética com bebês e crianças de até três anos de
idade, faixa etária que se aplica para crianças em creche, amparada pela Lei de Diretrizes e
Bases – LDB n.º 9.394 (BRASIL, 1996).
2 O CUIDADO COMO EXPERIÊNCIA SENSÍVEL NA EDUCAÇÃO INFANTIL Desde o nascimento, os seres humanos passam a viver num meio, já constituído, com peculiaridades específicas, marcadas por um dado contexto espacial e temporal. Este, por sua vez, traz sinais culturais evidentes como: idioma, costumes, moral, religião, economia, política. Um passado e um presente que se encaixam em sua essência, sendo impossível desconsiderá-los. (HORSTMENN; PINTO, 2017, p. 179).
Já se compreende que passou, historicamente, no Brasil, o período em que crianças de
classes menos favorecidas eram consideradas como sujeitos de amparo das instituições
escolares. O ato de cuidar significava apenas suprir as necessidades biológicas das crianças e
a educação focava somente em questões morais. De tal modo que, nas décadas de 30 e 40, a
responsabilidade sobre a educação infantil era vinculada ao Ministério da Saúde (MACÊDO;
DIAS, 2012).
Com os avanços dos estudos na área da educação, superado o assistencialismo, a
criança no Brasil é reconhecida como um sujeito de direito, independentemente do grupo
social no qual está inserida. Desde a Constituição Federal de 1988 e da implementação da Lei
de Diretrizes e Bases n.º 9.394 (BRASIL, 1996) a educação básica se estendeu à educação
infantil. Como se vê na LDB, Seção II, Da Educação Infantil, Art. 29 e 30: Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I– creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II– pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade. (BRASIL, 1996 p. 10-11)29
29No entanto, é importante ressaltar que no ano de 2006 houve a Emenda Constitucional N.º 53, que fez a alteração da educação infantil para creche e pré-escola, na qual, nessa etapa da educação básica, permanecem crianças de até 5 (cinco) anos de idade. Diante desse cenário, a proposta então era de que até o ano de 2011, a educação infantil ofertasse o alcance a 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos, porém é de reconhecimento que esta oferta ainda é um processo de grande desafio no Brasil. No entanto, é importante
61
Ainda que esse olhar com relação à criança esteja presente também nos documentos
oficiais nacionais, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL,
2010) e Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,1998), existe
divergência na política pedagógica nas instituições com crianças de zero a três anos, conforme
aponta FERNANDES (2011) em sua tese intitulada: Bebê e criança pequena: imagens e
lugar nos projetos pedagógicos de instituições públicas de educação infantil.
Diante disso, pode-se observar que não há apenas um discurso sobre o sentido da
educação infantil no Brasil circulando. Uma das possíveis causas para essas dissonâncias,
poderia ser a “crise da modernidade” que de acordo com Duarte Jr. (2000) faz refletir uma
espécie de anestesia do mundo moderno. O que é considerada uma deseducação do sensível,
que possibilita o indivíduo um afastamento de si mesmo.
Nesse sentido, a educação infantil poderia ser um espaço de experimentação das
pluralidades, não apenas regionais, no âmbito da sala de aula, mas também de possibilidade
de compartilhamento e de expansão das diversidades, de seus saberes e de sentires. Portanto
mostra-se que a educação está além de temas constituídos por conteúdos e administrados
como disciplinas. O contexto curricular está conectado tanto com que acontece no ambiente
escolar como também fora dele. De acordo com Biesta (2013, p. 16): A educação, seja a educação de crianças, a educação de adultos, seja a educação de outros “recém-chegados”, é afinal sempre uma intervenção na vida de alguém; uma intervenção motivada pela ideia de que tornará essa vida de certo modo, melhor; mais completa, mais harmoniosa, mais perfeita – e talvez até mais humana.
Assim, compreende-se, nesse trabalho a educação como aquela que respeita a cultura
e coloca a diversidade como elemento norteador, principalmente na educação em tempo
integral, como o oferecido na educação infantil, com crianças de zero a três anos.
A estética não só abrange a dimensão artística, como também a filosófica da qual se
originou em Baumgarten, na obra (1750-1758). A dimensão estética no ambiente escolar tem
muito a contribuir no desenvolvimento das crianças, assim como apontam os estudos
desenvolvidos por um conjunto de escolas municipais de Reggio Emilia30, norte da Itália,
descritos na obra “As cem linguagens das crianças”.
ressaltar que o município de Blumenau tem 55% das crianças 0 a 3 anos matriculadas em CEIs do município. Resultado obtido pelo do Plano Nacional de Educação (PNE). 30O sistema de Reggio Emília pode ser descrito sucintamente como o impressionante conjunto de escolas para crianças no Norte da Itália, nas quais o potencial intelectual, emocional, social e moral de cada criança é cuidadosamente cultivado e orientado. O principal veículo didático envolve a presença dos pequenos nos projetos envolventes, de longa duração, realizados em um contexto belo, saudável e pleno de amor (EDWARDS et al.,1999)
62
A fisicalidade que as crianças naturalmente expressam em seus encontros cotidianos – passar os dedos pelas cercas, correr e pular em espaços abertos, respirar fundo as fragrâncias do mundo natural, pegar objetos para ver todos os ângulos – são formas comuns usadas pelas crianças para construir compreensão por meio de disposições naturais de investigar mundos polissensorialmente – ou seja, com todos os sentidos. Dentro desses métodos naturais vive uma dimensão estética, descrita por Giudici como “a busca da beleza, da harmonia, do equilíbrio do aprumo e da sensibilidade das relações”, que existe epistemologicamente. Pode-se argumentar, como se conclui Dewey e Malaguzzi, que a estética não é uma dimensão separada da experiência, e sim é um elemento dela (EDWARDS et al., 2016, p. 296).
Deste modo, se o saber sensível e o conhecimento inteligível dialogam, as
aprendizagens fazem mais sentido para a vida da criança. Por isso, é essencial que a
comunidade escolar faça parte desse processo pedagógico, possibilitando assim a expansão
sensível para a sociedade.
Marchi (2009), em seus estudos sobre a Sociologia da Infância – SI, faz refletir sobre a
construção social, pois durante muito tempo os fundamentos biopsicológicos predominaram,
mas se faz necessário essa desconstrução para incluir o estudo sociológico, que também faz
parte da infância/criança como sujeito social e consequentemente de sua formação. O que se quer enfatizar é que, por muito tempo, uma visão naturalizada (e, portanto, universal e a-histórica) da infância/criança antevê-se sem ser problematizada em seus fundamentos bio-psicológicos. Problematização que a SI vai tomar ao seu encargo e que, estando expressa na ideia da construção social da infância, promove um outro princípio paradigmático diretamente relacionado – por sua contraposição – às teorias clássicas da socialização: o da criança como ator social. (MARCHI, 2009, p. 232).
Sendo assim, a infância/criança é construída também socialmente, não só apreendida
pelos aspectos biopsicológicos que muitas vezes acabam camuflando o caráter histórico e
social.
Na próxima seção, será discutido sobre a educação estética na educação infantil,
através da realização de um projeto intitulado Cabideiro Solidário, que oportunizou uma
experiência sensível com bebês e crianças de até três anos de idade e demais pessoas adultas
envolvidas na comunidade escolar.
3 CABIDERIO SOLIDÁRIO: UMA PROPOSTA PARA O SENTIDO DO SENSÍVEL
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O projeto Cabideiro Solidário teve como inspiração o sistema educacional municipal
infantil de Reggio Emília, uma perspectiva dedicada à primeira infância, com adaptações ao
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contexto da nossa realidade regional, adequando a ideia da ação cabide solidário para o
projeto interno de extensão: Cabideiro Solidário31.
Apesar de, inicialmente, o projeto ter sido idealizado para ser uma ação interna, com a
participação apenas da equipe pedagógica do CEI, aos poucos foi envolvendo também as
famílias/responsáveis, tornando assim uma parceria com a comunidade escolar, alcançando
resultados para além dos muros da instituição. Uma ação pautada na educação estética, que
despertou o sensível em sua pluralidade.
Com o auxílio da zeladoria da escola, iniciou-se a construção do cabideiro adaptado
para expor vestuários direcionados ao público infantil, no espaço do CEI. Para conseguir as
primeiras peças de roupas, foram enviados bilhetes nas agendas das crianças, além da
orientação dada pelas professoras para os responsáveis/familiares dos bebês e crianças de até
três anos. Também foram realizadas atividades dirigidas e livres, além da exposição de cartaz
informativo elaborado com o auxílio das crianças maiores.
Ao ver as crianças junto com seus familiares/responsáveis trazendo para o CEI seus
pertences para serem expostos no Cabideiro Solidário e doados, identificou-se um ato de
autonomia e de compreensão por parte das crianças. Isso porque quando viam os colegas
vestindo as roupas que antes eram suas, nenhuma criança as pediu de volta. Além disso,
mesmo as que ainda não haviam separado vestimentas para doar se sentiram motivadas a
fazê-lo vendo o exemplo de seus colegas. Esse despertar para o ser sensível em um espaço
formal de educação, como é o CEI, motivou os profissionais envolvidos no projeto para que
esse tivesse continuidade. Schoeder (2013), em seus estudos em Vigotski (1896-1934) sobre a
teoria histórico-cultural, trata sobre o desenvolvimento do processo de aprendizagem como
fenômeno humano. Tal processo tem relação do sujeito com o mundo, com a condição de
transformá-lo e fazer com que ele seja objeto de ação, sem desvincular o ser social e cultural
de sua origem.
Percebeu-se também que alguns pais que pegaram as primeiras doações demonstraram
receio de levar para casa as roupas doadas e por isso iam até a secretaria do CEI questionar se
realmente poderiam pegar as vestimentas. Quando se confirmava a doação, esses pais
31O Cabideiro Solidário nasceu da adaptação do conceito de Cabide Solidário que surgiu na cidade de Halifax (Canadá), quando os moradores da cidade começaram a deixar roupas em lugares públicos, amarradas em postes e em pontos de ônibus para que pessoas em situação de vulnerabilidade social pudessem fazer uso dessas vestimentas nas noites de frio do extremo inverno da região. Juntamente com as roupas eram encontrados bilhetes para que as pessoas que estivessem recebendo a doação se dispusessem a ter o mesmo gesto com outras. A ideia se espalhou pelo Reino Unido e também por outros países, chegando ao Brasil. Sendo assim, veio a inspiração para a criação do Cabideiro Solidário como móvel e ganchos adaptados, onde pessoas que frequentam o CEI penduram peças de vestuário como: cachecol, luva, toca para ser solidário com quem precisa.
64
demonstravam reconhecimento ao ponto de também contribuírem. Assim o projeto também se
tornou sustentável, já que muitos pais doaram roupas de quando os filhos eram menores,
reaproveitando vestimentas em bom estado de uso, evitando a compra de roupas novas e o
desperdício de recursos do meio ambiente para a produção desses bens de consumo.
O respeito ao espaço onde se localizava o Cabideiro Solidário também surpreendeu os
profissionais do CEI, pois embora se localizasse em um espaço onde as crianças costumam
transitar regularmente, elas não manipulavam sem necessidade de uso o que estava exposto
para doação.
O projeto superou as expectativas de participação com a doação não só de roupas e
calçados, como também de berço, colchão, banheira e fraldas. O Cabideiro Solidário teve
repercussão com a divulgação nas mídias da cidade, tendo um impacto positivo até mesmo
fora dos muros da escola e contribuindo para doações feitas por familiares que tinham filhos
matriculados em outros CEIs.
Figura 1: A repercussão do Cabideiro Solidário nas mídias da cidade
Fonte: Jornal de Santa Catarina. Edição n.º 14.097. Fotógrafo: Lucas Correia.
De acordo com Nóvoa (2009), a realidade educacional motiva a ter um compromisso
social que vai além da escola. Deste modo, deixam de ser foco único os centros educacionais
e passam a serem polos em que as aprendizagens consideram também o campo social, o
entorno da escola e a comunidade, contribuindo para uma sociedade mais sensível e solidária.
Portanto, ser professor é também planejar ações para construir valores estéticos e
éticos com os educandos, compreendendo que o saber sensível precisa dialogar com os
conhecimentos inteligíveis, fazer assim do processo de educar um ato de fruição para a vida.
65
4 REFLEXÕES CONSTRUÍDAS SOBRE UM PERCURSO ESTÉTICO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL.
Apesar de a educação infantil no Brasil ter sofrido grandes mudanças ao longo da
história, muitas práticas pedagógicas desenvolvidas em espaços formais de escolarização,
como os CEIs, ainda estão marcadas pelas influências dos séculos XIX e XX, compreendendo
o ato de cuidar na educação infantil num sentido assistencialista e não com um olhar para o
sensível.
Entretanto, essa realidade começou a se modificar desde os direitos assegurados pela
constituição de 1988 e pela LDB/1996, quando o país começou a instaurar um sistema
político educacional mais democrático, do qual identifica a criança como um sujeito de
direito, integral e em aprendizagem constante.
Com a realização do projeto Cabideiro Solidário percebeu-se o despertar do saber
sensível através da ação da educação estética, além do olhar solidário ao outro, em situação de
fragilidade socioeconômica. Dar continuidade ao projeto Cabideiro Solidário nos demais
anos letivos foi uma escolha da comunidade escolar, tendo em vista os bons resultados
alcançados desde o início.
As ações previstas pelo projeto oportunizaram as crianças que agissem como atores
sociais, ao serem solidárias, fazendo doações de roupas e calçados e demais pertences junto
com seus familiares/responsáveis. Essas crianças se tornaram protagonistas dessa ação. Além
disso o projeto propiciou mais interação entre os educandos, pois junto com a doação
poderiam contar aos colegas a história do que foi doado e como se sentiram ao fazer a doação.
Deste modo, o Cabideiro Solidário criou um olhar sobre o saber sensível, instigando a
educação estética e propiciando o olhar para si e para o outro. O projeto oportunizou um
exercício de respeito às diferenças sociais, econômicas e as pluralidades das crianças e de
suas famílias. Essas práticas recriam e até mesmo criam ações de valores éticos humanos que
ultrapassam os limites físicos e simbólicos da escola, ressonando em toda a comunidade.
REFERÊNCIAS BIESTA, G. Para além da aprendizagem: Educação democrática para um futuro humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB 9.394/96), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http em://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 09 fev 2018.
66
_______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. _______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2010.
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUES. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/cuidado/>. Acesso em: 06 abr 2018. DUARTE JR. J. F. O sentido dos sentidos: A educação (do) sensível. Tese. 234f. Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação, Campinas, 2000. EDWARDS, C., et al. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emília na educação da primeira infância. Porto Alegre: ARTMED, 1999. FERNANDES, M. Z. Bebê e criança pequena: Imagens e lugar nos projetos pedagógicos de instituições públicas de educação infantil. 2011. Tese. 202f. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. JORNAL DE SANTA CATARINA, Blumenau, SC. Edição nº 14.097. 2017. MACÊDO, de L. C.; DIAS, A. A. A educação da primeira infância no Brasil entre os séculos XIX e XX. In: IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL. Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – Anais Eletrônicos [31/07 a 03/08/2012]. P. 3268-3284. NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: EDUCA, 2009.
SCHROEDER, E. Imaginação e criação em aulas de ciências: um exemplo vivenciado com estudantes do sétimo ano do ensino fundamental para o estudo da floresta. In: MARTINS, M. da C.; FROTA, P. R. O. Educação ambiental: a diversidade de um paradigma. Criciúma: Ediunesc, 2013.
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REORGANIZAÇÃO DE TURMAS: UM DESAFIO PARA A APRENDIZAGEM NA
ESCOLA BÁSICA MUNICIPAL HENRIQUE ALFARTH
Mariza Ehalt Graciano32 Roseli Reichert Passold33
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca apresentar um relato de experiência exitosa, que vem
ocorrendo na Escola Básica Municipal Henrique Alfarth, localizada no bairro Progresso, na
cidade de Blumenau. Trata-se da reorganização de turmas, que ocorre mensalmente na escola,
durante o ano letivo, desde 2016. O foco central do presente trabalho é relatar o movimento
de reorganização de turmas na escola, que buscou ampliar o trabalho de escrita, revisão,
reescrita; compreensão e interpretação de textos.
Entende-se que as práticas educativas são importantes na formação do sujeito para o
convívio com o meio social. Portanto, é essencial haver um bom desempenho didático, que
trabalhe com estratégias diversificadas como: momentos reservados a leitura, trabalhos em
grupo, teatros e seminários no qual haja a ligação coerente entre a escrita, a compreensão e a
interpretação dos diversos gêneros discursivos que circulam na sociedade.
Foi partindo desse pressuposto que o trabalho de reorganização de turmas teve início
na escola, aliado aos resultados da Avaliação Institucional e da Aprendizagem (2.º, 4.º, 6.º e
8.º anos), Avaliação Nacional de Alfabetização (3.º anos) e Prova Brasil (5.º e 9.º anos), que
apresentaram índices preocupantes acerca do resultado em leitura, escrita e resoluções de
problemas.
Um dos objetivos desse movimento foi corresponsabilizar todo o corpo docente da
escola pelo processo de ensinar e de aprender da escrita e da leitura, não apenas o componente
curricular de Língua Portuguesa.
Foi constatado que apesar dos estudantes frequentarem semanalmente a biblioteca da
escola com aulas de leitura e empréstimo de livros, ainda assim apresentavam dificuldades na
compreensão leitora e na escrita, isso nos diversos componentes curriculares, em atividades
32 Graduação em Educação Física pela UFPR (1988). Atualmente exerce a função de diretora adjunta na EBM Henrique Alfarth. E-mail: [email protected] 33 Graduação em Ciências Biológicas pela FURB (1993). Especialização Educação em Ciências pela FURB (1994). Atualmente exerce a função de diretora na EBM Henrique Alfarth. E-mail: [email protected]
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propostas no cotidiano escolar. Diante do exposto, aliou-se no presente ano letivo o projeto da
biblioteca “Gêneros Literários”.
2 O ENSINO DA LÍNGUA ESCRITA E SEUS SIGNIFICADOS
Quando se trata de alfabetização e letramento, fala-se de um processo amplo e de
grande significado para a criança. A alfabetização é o processo de codificação e decodificação
e da compreensão dos códigos, que possibilita juntar as letras e entender o seu funcionamento
na formação da escrita. O letramento é usar a leitura e a escrita no dia a dia, é assumir para a
alfabetização uma concepção social da escrita.
O processo de letramento inicia-se quando a criança começa a conviver com diversos
tipos de escrita que se encontra na sociedade (embalagens, revistas, jornais, outdoor, receitas,
propagandas etc.) e se estende por toda a vida que irão permitir a participação nas práticas
sociais que envolvem a língua escrita.
De acordo com o material do Pró-letramento (BRASIL, 2008, p.19), A compreensão geral do mundo da escrita é tanto um fator que favorece o progresso da alfabetização dos alunos como uma consequência da aprendizagem da língua escrita na escola. Por isso é um dos eixos que devem ser trabalhados desde os primeiros momentos do percurso de alfabetização. Isso significa promover simultaneamente a alfabetização e o letramento.
Desta forma, faz-se necessário a compreensão do significado dos termos
“Alfabetização” e “Letramento”, atentando ao que diz a autora Magda Soares (apud SILVA;
LIRA, 2003, p. 20) sobre o assunto: “[...] a Alfabetização é ação de ensinar/aprender a ler e a
escrever; e Letramento é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mais
cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita [...] o ideal seria alfabetizar letrando”.
Para que o processo de alfabetização seja trabalhado de maneira adequada, faz-se
necessário o uso do letramento para que ocorra uma aprendizagem significativa para a
criança. [..] letramento está diretamente relacionado com a língua escrita e seu lugar, suas funções e seus usos, sobretudo por meio do texto escrito e impresso, assume importância central na vida das crianças e em suas relações com os outros e com o mundo em que vivem. (MORTATTI, 2004, p.98).
Em sua maioria, os estudantes apesar de terem acesso a diferentes gêneros discursivos,
desconhecem muitas de suas manifestações e utilidades, ou seja, compreendem a
decodificação da palavra, mas não se atém ao seu sentido. Portanto, o papel da escola é
proporcionar, pela mediação do professor, diferentes gêneros e suportes de textos escritos.
69
Entende-se por gêneros discursivos, diferentes tipos de escrita que circulam na
sociedade e que são facilmente reconhecidos pelas pessoas: bilhete, propaganda, convite,
piadas, regulamento, letra de músicas entre outros. Os suportes têm referência à circulação
desses gêneros, por exemplo: jornais, catálogos, placas, agendas entre outros.
De acordo com o material do Pró-letramento (BRASIL, 2008, p. 19), “o contato com
esses diferentes textos poderá proporcionar aos alunos vivência e conhecimento”. Trata-se na
verdade dos espaços por onde esses textos circulam.
3 A PRODUÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS DE GÊNEROS DIVERSOS
Não é nada fácil produzir textos. Dessa forma, é necessário que os professores
proporcionem subsídios para que os estudantes possam registrar as informações e o
conhecimento que os rodeiam. Para isso, a prática educativa na produção de textos deve estar
baseada no ‘por que’ e ‘para quem’ se escreve, facilitando assim a compreensão da função da
escrita.
Essas funções da escrita se realizam por meio de diferentes formas – os diversos gêneros textuais -, que circulam em diferentes grupos e ambientes sociais, em diferentes suportes (ou portadores de texto). [...] isso pode ser feito na sala de aula desde os primeiros dias do ensino fundamental. O professor ou a professora estará orientando seus alunos para a compreensão e a valorização dos diferentes usos da escrita, em diferentes gêneros e suportes. (BRASIL, 2008, p. 48).
É possível trazer para a sala de aula textos escritos de diferentes gêneros, em diversos
suportes e explorar esse material com os estudantes, com diferentes finalidades, envolvendo-
os na organização das atividades propostas.
Dessa maneira, a escola com o corpo docente sentiram a necessidade de criar
estratégias de intervenção na aprendizagem dos estudantes. No ano de 2016, optou-se pelo
reagrupamento de estudantes em dias e horários previamente combinados, envolvendo
estudantes de turmas diversas, para atendimento de atividades diferenciadas de acordo com as
fragilidades. Esses grupos de estudantes foram acompanhados/ mediados por professores
regentes nos anos iniciais e professores de turma nos anos finais, juntamente por profissionais
da escola sem regência (psicopedagoga, professora de informática, professora da biblioteca,
professora da sala multifuncional) e equipe gestora (diretora, diretora adjunta e duas
coordenadoras pedagógicas).
70
[...] Professores e professoras não são, afinal, os únicos responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem de seus alunos. É responsabilidade de todos os profissionais da escola a criação de um espaço coletivo para discussão e análise dos problemas de aprendizagem dos alunos, bem como a elaboração conjunta de planejamentos, a partir de avaliações diagnósticas e de metas estabelecidas quanto às capacidades esperadas em cada patamar de aprendizagem. (BRASIL, 2008, p. 20)
Cabe ressaltar que essa estratégia de intervenção na escola de reagrupamentos diversos
está sendo possível, pois todos os profissionais se encontram envolvidos em um planejamento
coletivo, com uma mesma proposta pedagógica e uma meta a ser alcançada.
4 METODOLOGIA APLICADA À REORGANIZAÇÃO DE TURMAS NA ESCOLA
Por meio dos resultados da Avaliação Institucional e da Aprendizagem, promovidas
pela Secretaria Municipal de Educação – SEMED foi construído um Plano de Ação coletivo
na escola, o qual foi colocado em prática no ano de 2016.
Naquele ano, os resultados da escola foram revisados em reunião pedagógica com
todos os profissionais. A professora de Língua Portuguesa realizou uma avaliação diagnóstica
para organizar os agrupamentos em relação ao nível de aprendizagem dos estudantes daquela
disciplina. Estudantes considerados com altas fragilidades apresentavam média abaixo de 5,0
(cinco), estudantes com médias fragilidades apresentavam médias entre 5,0 (cinco) e 7,0
(sete) e estudantes com baixas fragilidades apresentavam médias entre 7,0 (sete) e 10,0 (dez).
Com base nos dados da avaliação diagnóstica, a equipe gestora da escola organizou os
grupos diversos com professores regentes de turma nos anos iniciais e professores de
componentes curriculares nos anos finais, juntamente com profissionais da escola e equipe
gestora.
Com a equipe formada, cada dupla realizou o seu planejamento, sendo o foco principal
a escrita e reescrita de uma produção textual. A proposta dos encontros para a reorganização
seria em dias e horários previamente combinados. No entanto, efetuou-se de maneira tímida,
durante o ano letivo de 2016, com poucos encontros.
Em 2017, com os resultados da Avaliação Institucional e da Aprendizagem, realizadas
no final do ano de 2016, houve a necessidade de revisar o Plano de Ação da escola, frente às
novas demandas e informações acrescentadas à Avaliação Institucional, não prevista nos anos
anteriores.
A partir dos gráficos apresentados aos profissionais, na escola, na Semana Pedagógica
de início do ano letivo de 2017, chamaram atenção as fragilidades acerca de questionamento
71
realizado com estudantes: O professor, em todas as disciplinas, ao trabalhar a escrita trabalha
também a revisão e a reescrita?
O resultado do questionamento revelou que a maioria dos professores da escola não
utiliza a reescrita de texto como prática efetiva em seu planejamento, conforme gráfico
abaixo. Necessitando assim de auxílio e suporte pedagógico para que a ação tivesse prática
efetiva na sala de aula, independente do componente curricular.
Tabela 1: Gráfico da Avaliação Institucional 2016.
Fonte: Sistema Municipal de Avaliação Institucional Participativa – SIMAIP (2016).
A equipe gestora visualizou nos planejamentos dos professores da escola que a prática
de escrita e reescrita de texto é mais contemplada no componente curricular de Língua
Portuguesa, deixando a desejar aos demais componentes curriculares.
Por intermédio do resultado da Avaliação de Aprendizagem realizado no final do ano
letivo de 2016 e aplicado com turmas de 2.º, 4.º, 6.º e 8.º anos, percebeu-se como maior
fragilidade a produção de texto, em diferentes níveis e gêneros, conforme a avaliação
específica por turma.
Criou-se o projeto na escola “Gêneros Discursivos” e modificou-se a proposta de
reorganização. Como estratégia de intervenção se utilizou reagrupamento dos estudantes na
própria classe, em dias e horários específicos, previamente combinados. Manteve o
atendimento por professores regentes nos anos iniciais e professores de turma nos anos finais,
junto com os demais profissionais da escola.
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Mensalmente é escolhido um gênero discursivo para ser trabalhado na reorganização
de turmas. A professora da biblioteca é responsável pelo suporte pedagógico: organização do
material, informações adicionais e agendamento das turmas na biblioteca; os professores
participam desse agendamento junto com os estudantes.
Após as informações do suporte pedagógico, os professores e equipe gestora, montam
o seu planejamento de acordo com o que foi proposto em relação ao gênero discursivo
escolhido.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante os dois anos consecutivos de trabalho de reorganização de turmas na Escola
Básica Municipal Henrique Alfarth, percebeu-se que houve avanços significativos no que diz
respeito à metodologia da reorganização, no planejamento do professor, na metodologia
aplicada em sala de aula e na percepção dos estudantes referente à produção textual.
Observaram-se mais qualidade nas produções de textos dos estudantes, maior compreensão de
diversos gêneros discursivos por parte dos professores dos diferentes componentes
curriculares e maior compromisso e reconhecimento da corresponsabilidade de todos os
professores no processo de ensino de escrita.
A reorganização que teve início com foco na escrita e reescrita de texto ampliou-se. A
organização de grupos que inicialmente partia das fragilidades dos estudantes, agora parte das
possibilidades de aprendizagem.
O professor dos diversos componentes curriculares que, em sua maioria, não tinha o
hábito de tratar a reescrita textual como parte do seu planejamento pedagógico, atualmente
tem essa preocupação, não sendo somente atribuição do componente curricular de Língua
Portuguesa. O conhecimento adquirido por meio dos estudos e práticas envolvendo os
diferentes gêneros discursivos possibilitou ao professor a utilização mais efetiva em sua
prática pedagógica.
Houve também mudanças nas propostas metodológicas do ensinar por parte dos
professores. Algumas metodologias de ensino foram aplicadas, como acompanhamento do
professor mesa a mesa na produção dos estudantes, uso das tecnologias, compreensão dos
diversos gêneros discursivos e sua aplicação em todos os componentes curriculares e volta da
valorização da rotina diária nas aulas. Dessa forma, o processo de ensinar e de aprender se
tornou mais prazeroso para todos.
73
Quanto aos estudantes, observa-se que houve maior participação nas propostas de
atividades envolvendo proposições de escrita. Por meio de avaliações das atividades
realizadas, é perceptível após cada reorganização o entendimento do gênero trabalhado.
Existe a preocupação com atividades contextualizadas.
A equipe de professores e gestores da Escola Básica Municipal Henrique Alfarth, por
meio de muita reflexão, está buscando aprimorar cada vez mais suas práticas pedagógicas e os
resultados obtidos têm sido significativos.
REFERÊNCIAS
BLUMENAU. Sistema Municipal de Avaliação Institucional Participativa. 2016. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Pró-letramento: Programa de Formação Continuada de Professores dos anos/séries iniciais do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEB/SEED, 2008. MORTATTI, M. R. L. Educação e Letramento. São Paulo: UNESP, 2004. SILVA, A. L.; LIRA, V. K. Letramento na Educação Infantil. Rio de Janeiro: Editora Papers, 2003.
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PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CEI EMÍLIA PISKE: A CRIANÇA NO
MUNDO DAS LINGUAGENS – AS PARTILHAS COM AS FAMÍLIAS E A
FORMAÇÃO CONTINUADA
Maristela Pitz dos Santos34 Rosemari Formento Bonickoski35
1 INTRODUÇÃO
O CEI Emília Piske foi inaugurado em 2004 e muitas profissionais com vontade de
fazer o diferente fizeram parte do coletivo. Esses desejos partiram das formações
possibilitadas pela equipe da Secretaria Municipal de Educação - SEMED desde 2001: lugar
de encontros e invenções!
Neste texto objetivamos dar visibilidade ao Projeto Político Pedagógico - PPP do
Centro de Educação Infantil - CEI Emília Piske. O projeto teve início no ano de 2005, com
estudos, pesquisas e debates com o coletivo do CEI. Em 2007, o PPP foi aprovado pelo
Conselho Municipal de Educação - CME. Já no início das discussões acerca das concepções
de criança, infância, instituições de educação infantil foram acontecendo mudanças nas
práticas de todo o coletivo.
A possibilidade de pensar a educação infantil de forma diferente nos foi dada a partir
das formações continuadas vividas por parte do coletivo do CEI, nos anos de 2001 a 2004,
quando a Secretaria Municipal de Educação teve como assessora na área da educação infantil
a professora doutora Luciana Esmeralda Ostetto. Esta assessoria possibilitou a ampliação de
muitos repertórios!
Nesse período, muitos profissionais de renome nacional estiveram em Blumenau
trabalhando na formação continuada de professores e professoras, dentre eles: Maria Isabel
Leite, Lea Tiriba, Elvira Souza Lima, Miguel Arroyo, Eloísa Candal Rocha. Outro fator
importante para a mudança do fazer pedagógico nesse CEI foram as oficinas de formação
continuada oferecidas pela Escola de Formação Paulo Freire. Nesse espaço discutimos sobre:
registro, espaço-ambiente, literatura, avaliação, informática, com as formadoras: Márcia
34 Mestre em educação pela Universidade Regional de Blumenau/FURB, com pesquisa na área da Sociologia da Infância, diretora do CEI Emília Piske. 35 Mestre em educação pela Universidade Regional de Blumenau/FURB, com pesquisa na área da Estética, coordenadora pedagógica do CEI Emília Piske.
75
Regina Selpa, Ângela Maria Simão Hoemke, Patrícia Constâncio, Leidioneia Fuchina, dentre
tantas outras. A partir do encontro com essas pessoas, com esses novos conhecimentos e
também a formação superior em Pedagogia dos profissionais da educação infantil, exigência
da Lei 9394/1996, o desejo de mudança foi tomando forma.
Neste CEI, que estava iniciando seu percurso, Bonickoski (2016, p. 27) afirma,
[...] encontrei professores com quem pude dialogar, experimentar, estudar, fazer grupo de literatura, entrar em contato com a arte local, regional, nacional, ir a museus, óperas, shows, mercado público, em Florianópolis, Curitiba, São Paulo. Partilhamos o desejo de viver, experimentar e pensar as práticas na educação infantil; criamos um coletivo. Propomo-nos a fazer daquele espaço outros jeitos de ver as infâncias, começamos a mexer, transformar o que estava posto e cristalizado, buscando não seguir modelos, traçando outras rotas, outros caminhos, sair da produção em série herdada da fábrica.
Nesses encontros e com esse coletivo deu-se início o Projeto Político Pedagógico do
CEI, o qual denominamos: “A criança no mundo das linguagens”. Com esse projeto
ampliamos o repertório de todos: adultos e crianças. Definimos nossas concepções, nossa
metodologia de trabalho com as crianças, nossa forma de avaliar, nossos encontros com as
famílias, nossa forma de documentar e a formação continuada dos profissionais.
Poderíamos registrar cada um desses itens, mas o espaço deste texto é limitado, então
optamos por falar sobre as ações com as famílias e a formação continuada dos profissionais,
organizada e oferecida pelo CEI, a partir da autonomia que a Secretaria Municipal de
Educação nos possibilitou, até os dias de hoje.
2 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CEI EMÍLIA PISKE
O Projeto Político Pedagógico do CEI Emília Piske foi construído de forma coletiva, a
partir de grupos de estudos. Nesse percurso definimos que nossa documentação pedagógica
seria o “Livro da Vida” e o “Jornal anual” (ambos com inspiração na pedagogia de Freinet) e
que nossa metodologia de trabalho seria por meio de projetos.
Discutimos sobre as datas comemorativas e como estas ferem a legislação e a
diversidade de organizações familiares que há hoje na sociedade. Definimos nossa proposta
de formação que tem como objetivo principal a ampliação do repertório cultural de todos.
Assim, neste texto traremos, de forma breve, nossas propostas com as famílias e o
projeto de formação continuada dos adultos organizados pelo CEI.
76
2.1 AS AÇÕES COM AS FAMÍLIAS.
A partir da ampliação de repertórios, estudos e debates no ano de 2005, o CEI inicia
um novo percurso de ações com as famílias, deixando de lado as datas comemorativas e
colocando outras vivências significativas para crianças e adultos no lugar dessas datas. Pois, [...] a perspectiva do atendimento aos direitos da criança na sua integralidade requer que as instituições de Educação Infantil, na organização de sua proposta pedagógica e curricular, assegurem espaços e tempos para participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização das diferentes formas em que elas se organizam (BRASIL, 2009, p. 13).
A substituição das vivências com as famílias foi gradativa e hoje nosso percurso anual
é o seguinte: no final do mês de março, realizamos as reuniões por turma. Nesta partilhamos
com as famílias o perfil da turma e as intenções de projetos – da turma e da instituição – e
pedimos a colaboração das famílias nesses projetos. Para definir o horário da reunião,
pesquisamos com as famílias qual o melhor horário para elas, assim os horários variam. Já
fizemos reuniões em todos os períodos: manhã, tarde e noite.
Em abril, vivemos a Festa das Famílias, que é sempre numa quinta-feira, à noite.
Temos a venda de pastéis para pagar a Festa, pois estas têm como objetivo a celebração e a
partilha. Esse encontro das famílias tem por objetivo acolher a todos para um ano que está se
iniciando. Nessa festa tem brinquedos para as crianças (cama elástica e piscina de bolinha),
música ao vivo - sempre com um repertório cuidadoso, geralmente MPB ou algum gênero de
raiz. Por muito tempo tivemos rodas de leitura, pois a literatura é uma linguagem muito forte
nesse CEI. Neste último ano (2017), a literatura foi substituída pelo teatro Lambe Lambe.
Nos meses de maio e agosto, organizamos os Cafés com Leitura: uma celebração às
histórias, conforme afirmamos anteriormente, a literatura é uma linguagem muito potente no
CEI. A biblioteca do CEI - Cândido Portinari - possui um acervo de mais de mil livros. O café
com leitura já aconteceu em muitos espaços do CEI: biblioteca, refeitório, bosque do Ingá,
bosque de cima. Para a organização desse movimento selecionamos histórias, geralmente por
blocos, que têm um eixo comum: o gênero (narrativa visual, poesia, contos), a personagem
comum (sapos, porcos, lobos) entre outros. Há também o alimento que é servido no café, que
tem relação com o projeto geral de pesquisa que a instituição está vivendo. O café com leitura
acontece no período das 11h até as 18h30 e quem vem buscar a criança: tio, tia, vô, vó,
vizinho, mãe, pai..., conceito de família alargada, passa pelo café com leitura.
Em julho, vivemos a Festa Popular, celebração do projeto de pesquisa geral do ano. É
uma pesquisa comum, todas as turmas pesquisam juntas. Já vivemos muitas pesquisas nesses
77
anos, citamos algumas: A música pelas regiões do Brasil – na qual pesquisamos os ritmos e
percebemos que esses foram marcados pelas festas de bois no País; As culturas escondidas do
Médio Vale do Itajaí – pesquisamos o que temos na nossa região e que está invisibilizado; A
Dança pelo Mundo – cada grupo de crianças, famílias e professoras decidiram o que
gostariam de ampliar em relação à dança; Arte do Cotidiano: Saberes invisíveis em busca de
uma estética do cotidiano – nessa pesquisa buscamos dar visibilidade aos saberes próprios da
nossa região, tais como: tapeçaria, tricô, crochê, bordado, dentre outros. Para essa festa, a
culinária servida precisa ter relação com as pesquisas. Por exemplo, quando pesquisamos a
dança pelo mundo, uma das turmas pesquisou danças nordestinas. Nesse ano servimos
tapioca, assim a culinária dialoga com as pesquisas, pois fazem parte delas. As crianças
experimentam esses alimentos antes da festa. A equipe gestora faz contato com artistas da
região, que dialogam com a pesquisa para possibilitar a ampliação do repertório de todos.
Muitas vezes esses artistas vêm na festa para apresentar sua arte para as famílias, mas nunca
sem as crianças terem vivido isso antes.
Como já afirmamos anteriormente nossas festas são sempre de celebração, não
visamos o lucro, assim o Conselho Escolar trabalha para conseguir doações para que
possamos cobrar apenas um valor simbólico na venda dos alimentos. Geralmente essa festa
acontece no bosque, num sábado à tarde. Na figura 1, um grupo de artistas da região, que
dialogou com o projeto Arte do Cotidiano: Saberes invisíveis em busca de uma estética do
cotidiano, vivenciado em 2017, apresentou canções de trabalho.
Figura 1 – Grupo Pirão Catarina na Festa Popular de 2017
Fonte: acervo CEI Emília Piske
78
Em outubro, o CEI é novamente aberto num sábado à tarde para o piquenique das
famílias, que acontece no bosque de cima. A equipe gestora procura trazer uma linguagem
para ampliar o repertório de todos: circo, teatro, contação de histórias, leitura de histórias. O
piquenique acontece das 14h às 19h, cada família traz seus alimentos e uma toalha para fazer
o piquenique. Como podemos ver na figura 2.
Figura 2 – Contação de histórias no Piquenique das Famílias no bosque de cima
Fonte: acervo CEI Emília Piske
No final do mês de novembro, iniciamos as reuniões individuais que vão até o início
de dezembro. Nessas reuniões conversamos individualmente com cada família sobre o
percurso da criança no CEI. Dedicamos de 30 minutos a 1 hora para cada família. Dessa
reunião participam a equipe gestora e uma das professoras da turma, na sua hora atividade.
Nesse momento entregamos um parecer descritivo, que as professoras elaboraram a partir das
vivências, experiências e aprendizagens da criança no CEI.
Em dezembro, realizamos a Noite Cultural, celebração dos projetos de cada turma.
Esta acontece num salão próximo ao CEI, o Salão Dorow, visto que o CEI não tem um espaço
que comporte um número tão grande de pessoas, em torno de 300 participantes a cada ano.
Nessa noite, temos a partilha do alimento, cada família traz um prato e partilhamos tudo. As
crianças ganham um presente, que tem relação com o projeto geral da pesquisa e que amplie o
repertório: uma literatura, um CD, sempre de qualidade estética. Montamos exposições com
as produções das crianças. As crianças apresentam uma linguagem para as famílias e temos
79
sempre um/uma artista da cidade e que vem com sua arte para ampliar o repertório de
todos/as.
Nesse relato apresentamos apenas alguns dos movimentos que realizamos com as
famílias do CEI, que acontecem por meio de projetos.
A seguir falaremos um pouco sobre o projeto de formação continuada das professoras
e dos demais profissionais do CEI, com vistas na ampliação dos repertórios culturais de
todos/as.
2.2 NINGUÉM DÁ O QUE NÃO TEM – A AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO CULTURAL
DOS ADULTOS
A expressão reta não sonha. Não use o traço acostumado. A força de um artista vem
das suas derrotas. Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro. Arte
não tem pensa: o olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o
mundo (MANOEL DE BARROS, 2004, p. 75)
Em 2005 a coordenação pedagógica do CEI dá início ao Projeto “Abrindo rumo aos
mistérios do mundo, aos gostos desconhecidos” (OSTETTO, 2004), projeto este de formação
continuada, que o CEI vive anualmente até os dias atuais. Pois, segundo Moreira (1991, p.
126) “só garantimos à criança o seu direito de dizer a sua palavra, de traçar seus desenhos, se
investirmos em primeiro lugar na educação do educador”. Isso se dá em todas as linguagens,
precisamos ampliar o repertório do adulto para que este tenha como ampliar para as crianças.
Nessa direção foram convidados muitos profissionais para trabalhar com a formação
dos adultos nesse CEI; profissionais com ampliação em diversas linguagens: literatura,
música, dança, escultura, argila, artes visuais (rompendo com os estereótipos), instalações e
tantos outros.
Para dar conta de encharcar o adulto com as linguagens, também foram propostos
passeios de estudo para ampliação do olhar, da sensibilidade. O primeiro passeio foi a ida ao
Festival de Dança de Joinville – cada profissional arca com todos os custos da viagem. Com
esse projeto nós tivemos muitas vivências diferentes. Andamos de trem; visitamos os museus
de Blumenau, Timbó, Florianópolis, São Francisco do Sul, Curitiba; conhecemos a artista
plástica Eli Heil do Mundo Ovo; visitamos exposições de artistas internacionais como Juan
Miró – A força da Matéria; Gaudí – Barcelona 1900; Frida Kalho – As suas fotografias. Em
2015, novos voos foram desejados e decidimos ir um pouco mais longe, fomos a São Paulo
conhecer os Museus de lá. Nossa viagem foi de avião, para muitas, nove de onze, foi a
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primeira vez que fizeram uso desse transporte. Lá tivemos experiências magníficas, ficamos
em um Hostel, todas no mesmo quarto, andamos de metrô e vivemos a metrópole. Em 2016,
visitamos o maior museu a céu aberto da América Latina, o Inhotim e lá vivemos uma
aventura em meio à arte e à natureza. Neste ano (2017) fomos para o Rio de Janeiro e já
estamos pensando no percurso do ano que vem!
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse relato partilhamos dois projetos que compõe o PPP do CEI Emília Piske – A
criança no mundo das linguagens – As interações com as famílias e a Formação continuada
dos profissionais.
Ao longo dos anos percebemos que as famílias já têm a expectativa das ações que
realizamos com elas, ou seja, essas celebrações já são consideradas pela comunidade uma
tradição no CEI. As crianças que já não fazem mais parte do CEI, que frequentam as escolas
do bairro, quando sabem dessas ações vem e participam junto.
Em relação à ampliação do olhar das professoras, da formação do sensível, essa é uma
mudança que demanda tempo. É perceptível nas professoras efetivas, que fazem parte do
coletivo do CEI há mais tempo, mudanças significativas. No entanto, aquelas que
permanecem conosco somente por um ou dois anos, admitidos por contrato temporário –
ACT, não temos como saber se houve mudança significativa na sua forma de ver o mundo e
ver as ações das crianças, pois como já afirmamos anteriormente, a educação do sensível é
lenta.
Evidenciamos que nesse documento nossa intenção foi a de trazer o percurso
formativo desse CEI, a partir de estudos teóricos e da autonomia que esse coletivo teve para
buscar suas necessidades formativas. Esse percurso está aberto e é alimentado anualmente.
Assim, o PPP do CEI é considerado como um grande guarda-chuva que tem sob sua
guarda os outros projetos que fazem o cotidiano do CEI acontecer. Abaixo, na figura 6,
apresentamos os desafios/ações/propostas que dão estrutura ao nosso fazer com as crianças.
Nesse texto apresentamos somente dois dos projetos do CEI: as ações com as famílias e a
formação das professoras e demais profissionais.
A figura 6, abaixo, tem nos desafiado a buscar sempre novos olhares para a educação
infantil e, com isso, ampliar nossas ações com as crianças, ações essas que consideram as
crianças coconstrutoras de suas vivências, experiências e aprendizagens
81
Figura 6 – Emaranhado de propostas/ações/desafios que constituem o Projeto Político Pedagógico do CEI Emília Piske – Fonte: PPP do CEI
Fonte: acervo Emília Piske
REFERÊNCIAS BARROS, M. de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro/São Paulo, Editora Record: 2004 BLUMENAU. Projeto Político Pedagógico do Centro de Educação Infantil Emília Piske – A criança no mundo das linguagens. Blumenau, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil. Parecer 20/2009. Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de Dezembro de 2009. BONICKOSKI, R. F. Uma cartografia da estética (in)visível em espaços de educação infantil . 2016. 176 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2016. LEITE, Maria Isabel; OSTETTO, Luciana Esmeralda. Arte, infância e formação de professores: autoria e transgressão. Campinas: Papirus, 2004. MOREIRA, A. A. A. O espaço do desenho e a educação do educador. São Paulo: Ed. Loyola, 1991.
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ESCOLA BÁSICA MUNICIPAL LAURO MÜLLER: PROJETO DE ROBÓTICA EDUCACIONAL – PEQUENOS CIENTISTAS
DelvainePussinini36
Marinéia da Rosa de Souza Voltolini37
1 INTRODUÇÃO
De acordo com a biblioteca virtual Wikipédia (2018), a robótica é uma ciência que
estuda os processos de programação, montagem e automação de equipamentos. O campo de
atuação é muito vasto não havendo sequer uma área do conhecimento humano em que não
possa ser implantada. Sendo assim, os robôs podem ser caracterizados como instrumentos que
agem controlados por um programa de computador.
O crescimento atual da robótica é visível tanto no contexto de ensino e de
aprendizagem como no mercado competitivo de empresas que desenvolvem técnicas
específicas para criar e fazer funcionar robôs. Isso leva a crer que a robótica merece maior
atenção, pois se percebe que os processos de automação estão cada dia mais presente nas
vidas das pessoas. Os robôs são utilizados para tornar os processos de criação e
desenvolvimento mais eficazes.
Por pensar em modelos de ensinar e de aprender, que nos últimos anos vem crescendo
nas escolas brasileiras e desperta interesse entre estudantes de todas as idades, é que a Escola
Básica Municipal Lauro Müller e sua equipe de colaboradores decidem criar e implantar o
projeto educacional interdisciplinar de robótica educativa Pequenos Cientistas38.
O principal objetivo do projeto é promover formas de ensino e de aprendizagem em
que os estudantes se deparam com estudos de conceitos multidisciplinares que contemplam o
bem-estar e a vivência inclusiva. Com isso pretende-se o desenvolvimento de modelos de
interação, socialização, estimulando a criatividade e os processos cognitivos.
A tarefa de desenvolver robôs automatizados exige combinações de conhecimentos de
diversas áreas, o que viabiliza o trabalho interdisciplinar no contexto escolar. Outra notável
36Licenciado em História pelo centro Universitário Avantis / Leonardo D’Vinci (2009); Pós-graduado em informática educativa pela ESAB (2014); Mestrando em Ensino de História pela UDESC (2018). Professor de Informática Pedagógica na Escola Básica Municipal Lauro Müller – Blumenau - SC. E-mail: [email protected]. 37 Graduada em Pedagogia pela FURB (2000); pós-graduada em Gestão Escolar pela UNIASSELVI (2005). Diretora da E.B. M. Lauro Müller – Blumenau - SC. E-mail: [email protected] 38 Pequenos Cientistas foi o nome do projeto escolhido pelos estudantes do projeto. A prática é desenvolvida no contraturno escolar, sendo oportunizada a livre participação de todos os estudantes.
83
característica do projeto está relacionada a fatores de ampliação do universo das experiências,
consolidando novas aprendizagens em que os estudantes podem conviver, participar, explorar,
expressar, enfim, conhecer. Isso se relaciona com Vygotsky (1993, p.46) ao preconizar que
“a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua
transformação por uma atividade mental”.
Dessa maneira, o projeto Pequenos Cientistas se torna uma ferramenta que desenvolve
processos mentais necessários para a conquista de conhecimento sobre o mundo. Nessa
elaboração, teoria e prática se entrelaçam e proporcionam aprimoramento da criatividade e
desenvolve meios para solucionar problemas ou situações adversas. Por ter propriedades
multidisciplinares, a prática estimula o raciocínio lógico que integra conhecimentos de
diversas áreas do saber.
Nos últimos tempos, tem-se a sensação de que o mundo anda mais depressa e se
transforma de forma muito mais acelerada. Logo, o ensino e a aprendizagem precisam
acompanhar todas essas transformações interculturais e sociais. A escola precisa dar
condições aos estudantes para enfrentar o mundo e seus desafios, agir sobre o presente e
pensar o futuro de forma consciente. Diante disso, o projeto Pequenos Cientistas possibilita
construções sólidas de conhecimentos, por explorar a diversidade de competências do ser
humano, que perpassa pelo que diz Delors (2010, p. 32) “aprender a fazer e aprender a
conviver juntos” 39.
A robótica não se configura como componente curricular. No entanto, por meio da
robótica os estudantes exploram e contextualizam conhecimentos de diversas áreas do saber,
entendem a si mesmo e ao outro, tomam decisões agindo de forma ética e humana,
estabelecem novas relações.
Isso pode ser visto por meio das escolhas dos estudantes acerca dos protótipos a serem
desenvolvidos. Todos foram pensados para oferecer soluções para problemas do mundo real.
Dessa forma, o projeto não só proporcionou aos estudantes reconhecer processos de
automatização e robotização, mas também conceituá-lo. Neste caso os estudantes se
comprometeram a criar uma chocadeira automatizada, um boné de auxílio para deficientes
visuais e um semáforo inteligente.
Segundo Karling (1991, p.23) “o homem sempre tem necessidades, sempre tem
motivos. É importante que os professores saibam quais são e os canaliza para a
39“Aprender a fazer” e “Aprender a Ser” diz respeito aos pilares da educação propostos por Jacques Delors exposto no livro Um Tesouro a Descobrir, Relatório para a UNESCO, da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (2010).
84
aprendizagem/ou educação”. Sendo assim o curso das atividades propostas no projeto
procurou colocar os estudantes frente a problemas reais da sociedade, sendo estimulados a
compreender e oferecer soluções não convencionais a determinados problemas, percorrendo
caminhos do estudo investigativo e das escolhas conscientes.
Karling (1991, p.64) ainda argumenta que “ensinar é criar condições favoráveis para a
aprendizagem do estudante: psicológicas, didáticas e materiais”. Seguindo essa teoria e
usando ferramentas adequadas para realização do projeto, foi possível explorar alguns
aspectos de pesquisa, construção e automação; conhecer e saber contextualizar o mundo
tecnológico; estimular a curiosidade sobre o tema, aguçando o pensamento científico,
investigativo e reflexivo, oportunizando conquista de novos saberes.
A proposta de criar esse projeto não se configurou em iniciativa isolada de professores
e estudantes, contudo envolveu membros da gestão escolar e da Associação de Pais e
Professores – APP da escola, que contribuíram de forma expressiva em diferentes áreas do
saber. O conhecimento não vem como algo fragmentado, cartesiano. Os olhares foram na
perspectiva de áreas de conhecimento que se entrelaçam, movimentam-se e transformam-se.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e Municipais orientam para a relação e
aproximação dos componentes curriculares, com o intuito pedagógico da
interdisciplinaridade, da contextualização, da identidade, da diversidade e da autonomia.
Portanto, os estudos de robótica proporcionaram oportunidades de construção e
desenvolvimento em conjunto de conhecimentos distintos. Incentivaram a criação, o desenho,
o desenvolvimento, a programação, as novas possibilidades de ler e formular
hipóteses/pressupostos que estão intimamente ligadas/os à solução de problemas do mundo
real, podendo dar a cada estudante embasamento sólido.
O projeto Pequenos Cientistas foi desenvolvido com as turmas do 9.º ano do Ensino
Fundamental, durante no ano letivo de 2017. A ideia principal foi propor aos estudantes a
construção de um experimento investigativo e exploratório. Em vários momentos percebeu-se
que os estudantes almejavam colocar a mão na massa, ou seja, ser o idealizador e o
protagonista na elaboração do seu saber. A robótica educacional proporciona essa condição
socioconstrutivista, pois demanda a participação em equipe na concepção e modelagem do
problema e da solução. O resultado esperado é o perfeito funcionamento do mecanismo
projetado e a compreensão dos conceitos discutidos e aprendidos em sala de aula e no
cotidiano do grupo.
85
Essa prática foi considerada um meio moderno e eficiente de aplicar a teoria
vygotskyana em sala de aula. O estudante é levado a pensar na essência do problema,
assimilando-o para, posteriormente, acomodá-lo em sua perspectiva de conhecimento. Todo o
processo de construção de um experimento robótico leva à expressiva associação de
informações e desenvolvimento da criatividade. Os professores também deixaram de ser os
únicos e exclusivos provedores de informações para tornarem-se parceiro no processo de
aprendizagem.
À primeira análise, o projeto de robótica educacional Pequenos Cientistas parece
somente cobrir os aspectos ligados à sala informatizada da escola, porém, com um olhar mais
aprofundado, mostra que houve estabelecimento de relações nos quais os conhecimentos se
complementaram e possibilitaram a ideia do pertencimento, do aprender e do fazer.
Nessa perspectiva houve forte necessidade de interação com o grupo e as
possibilidades de desenvolvimento do trabalho cooperativado foram constantes. A interação
entre estudantes, professores e comunidade escolar foi imprescindível à consolidação da
interdisciplinaridade.
2 PENSAR E CONSTRUIR O PROJETO DE ROBÓTICA EDUCATIVA PEQUENOS
CIENTISTAS
Entende-se que projetos educacionais devam ser implantados a todo instante nas
instituições de ensino, pois possibilitam a relação da aprendizagem teórica e prática. Na
Escola Básica Municipal Lauro Müller, tem-se por iniciativa implantar dinâmicas de
aprendizagem que venham ao encontro da sustentabilidade e inovações tecnológicas.
A idealização das atividades e o planejamento primeiramente ficaram sob a
responsabilidade do professor de Informática Pedagógica. Na sequência, num processo
dialógico, todos os professores envolveram-se e complementaram-se em um propósito
comum: a interdisciplinaridade de aprendizagens.
As realizações das atividades didáticas de montagem e programação dos equipamentos
robotizados foram de grande importância, pois possibilitaram aos estudantes e à comunidade
escolar uma nova experiência educativa. Nos encontros, os estudantes apresentaram
criatividade na execução dessas atividades. A cada passo e a cada aprendizagem aumentava a
expectativa para o resultado final. O maior desafio era construir algo que nem professor, nem
estudantes haviam experimentado antes.
86
O projeto teve inicio com o levantamento de conhecimentos prévios sobre robótica e
automação. Nesse diagnóstico, percebeu-se nos estudantes fortes motivações para o
entendimento de processos produtivos de aves confinadas, de sistemas de locomoção para
deficientes visuais e de funcionamento de dispositivos de controle de tráfego. Por meio de
atividades participativas, chegou-se à ideia de construir protótipos de uma chocadeira
automática com materiais alternativos, de um boné de auxílio à locomoção para deficientes
visuais e de um semáforo inteligente. Todos esses instrumentos foram pensados numa
sistemática de oferecer soluções a problemas existentes na sociedade.
Iniciaram-se os estudos sobre as placas Arduino, equipamento que tem função de
automatizar e robotizar processos mecânicos através de linhas de programação
computacional. No princípio os estudantes tiveram pequenas exposições para entender como
funcionava a placa e como poderiam programá-la. Para muitos foi à primeira experiência em
escrever códigos de programação. Para que a aprendizagem ficasse mais rica, buscou-se a
parceria com um acadêmico do curso de automação da Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC, polo Blumenau, que com suas palestras, de maneira brilhante, trouxe vários
conhecimentos e ideias sobre robótica e automação.
A construção da chocadeira elétrica se destacou pelo princípio da utilização de
materiais alternativos e reciclados. A comunidade escolar participou de forma expressiva na
coleta desses materiais, a estrutura principal do protótipo foi construída com a utilização de
um armário já descartado.
Após a conclusão dos trabalhos a chocadeira foi ligada e iniciou-se o processo de
incubação dos ovos. Durante esse tempo, continuou-se com a construção do boné inclusivo e
do semáforo inteligente. Após vinte e um dia de incubação veio a surpresa, os pintinhos
nasceram, comprovando a eficiência do equipamento e a elaboração de conhecimento.
A ideia principal de construir uma chocadeira automatizada está ligada ao
entendimento de processos produtivos e estudos do desenvolvimento da vida confinada. Com
esse instrumento os estudantes puderam entender nas aulas de ciências todo o processo da
incubação ao nascimento das aves.
Para Oliveira (1997, p. 15) “a interação social, seja diretamente com os outros
membros da cultura, seja através dos diversos elementos do ambiente culturalmente
estruturado, fornece a matéria prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo”.
Dessa forma o projeto de robótica criou ideias e momentos de pertencimento em que os
87
estudantes puderam interagir através da diversidade tecnológica, desenvolvendo a curiosidade
e principalmente a formulação de indagações sobre mundo.
E essa interação social que acontece no projeto de robótica passa a ser, de certo modo,
uma aprendizagem significativa. Segundo Karling (1991, p. 88) “[...] aprendizagem
significativa é aquela que significa alguma coisa para o estudante, que tem algum interesse ou
importância para ele [...]”. Assim entende-se que o estudante ao desenvolver protótipos acaba
por traduzir em conhecimento toda a experiência da qual participa, por meio de processos de
elaboração e reelaboração do conhecimento.
Na construção do boné para deficientes visuais (Figura 1) e do semáforo inteligente,
os estudantes se depararam com um tipo de situação diferente. No caso do boné, tiveram de
pensar a vida sem a visão para criarem um equipamento em que uma pessoa nessa condição
pudesse se locomover com segurança. Isso permitiu que compreendessem, descrevessem e
representassem de forma organizada como é o mundo de um deficiente visual. Essa variável
experimental fez com que os estudantes tivessem a ideia de como exatamente o equipamento
deveria funcionar.
O domínio básico de programação computacional foi o ponto determinante na
criação do objeto. O boné e a maquete com semáforo inteligente precisaram ser programados
na placa Arduino. Isso aconteceu de maneira gradativa, seguindo orientações de programação
disponíveis na internet e auxílio/doação da comunidade. Ao final, as matrizes se mostraram
eficientes e capazes de serem expostas como referência de automação.
Figura 1 – Boné para deficientes visuais
Fonte: Arquivo E.B. M. Lauro Müller.
88
Ao final dos trabalhos houve o convite para a participação no evento Robotics
Experience40. Esta experiência fez com que os estudantes se deparassem com outra realidade
de conhecimento, pois além de ter de explicar os processos de funcionamento, precisaram
também demonstrar a eficiência do protótipo produzido (figura 2).
Figura 2 – Evento Robotics
Fonte: Arquivo E.B. M. Lauro Müller.
Acredita-se que nesse sentido os protótipos desenvolvidos ganharam novos sentidos e
foram atribuídas significações ao processo de aprendizagem.
Para esse tipo de protótipo os estudantes foram instigados a pensar de forma autônoma
e a oferecer soluções baratas para adquirir materiais que não possuíam. Muitos conhecimentos
de vivências em outros projetos da escola foram elencados, a exemplo, o de energias
renováveis e sustentáveis. Logo que surgiram as primeiras ideias e soluções, iniciaram-se os
trabalhos de construção. Mais uma vez a comunidade foi decisiva na providência de materiais
alternativos, como por exemplo, a doação de um capacete para que servisse de base para os
mecanismos elétricos e de programação.
Enquanto os equipamentos ganhavam formas, os estudantes eram levados a refletir
sobre seu papel fundamental no grupo. A atitude destacada é a cooperatividade, uma vez que
os estudantes tiveram larga experiência do que é trabalhar de forma a oferecer o melhor de si
na composição do todo.
40 A cidade de Blumenau recebeu, no dia 11 de novembro de 2017, o maior evento de Robótica do Sul do País. A ROBOTICS EXPERIENCE 2017, que trouxe ao Ginásio do Galegão o que há de mais sensacional na robótica educacional. O evento é organizado pela ROBOMIND BRASIL. Este projeto foi exposto no evento.
89
Além do trabalho cooperativo, ao estudante lidar com informações diversas elaborou
conhecimento. Segundo o filósofo Pierre Lévy (1995), o ser humano está inserido numa
sociedade cercada de informações e é preciso, no meio dessa massa informativa, construir
conhecimentos. Esses entendimentos são frutos de processos cognitivos que possibilitam
fazer relações, formar novos conceitos e gerar novas teses informativas.
O estudante é aquele que, participando do processo aprende e desenvolve-se como ser
ativo da construção de sua história pessoal e educacional. Compreende-se esse estudante
como ser capaz de pensar, dialogar e edificar seus conhecimentos de forma própria, que nem
sempre é igual ao outro, porém na mesma direção, mostrando potencialidades intelectuais.
A realização desse projeto não seria possível sem a participação integrada da gestão
escolar, que por sua vez tem de tomar decisões. No projeto de robótica, a gestão escolar
sempre esteve participando em todos os processos, principalmente no que se refere à
organização e à formação de parcerias com a comunidade.
Entende-se ser imprescindível que a gestão escolar participe das propostas de projetos
a serem implantados na escola e que desempenhe papel ativo, não de limitador de ações, mas
de abertura para o novo. Coube às gestoras da escola realizar procedimentos de ambientar a
instituição com a comunidade e membros da APP. Diante dessa realidade, entende-se que a
participação dessas pessoas se configura em ações de colaboração e incentivo.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda a elaboração de conhecimento produzida por estudantes e professores no
desenvolvimento de protótipos no projeto Pequenos Cientistas leva a equipe pedagógica da
escola a fomentar a continuidade desse trabalho. Esse projeto tem se mostrado capaz de
preencher lacunas existentes entre o desenvolvimento teórico e prático, além de unir pessoas
para oferecer soluções juntas.
A proposta de trabalho, inspirada na teoria sócio-histórica, em que professores e
estudantes assumiram posturas conjuntas de mediações e criação, levou a equipe pedagógica a
repensar a escola a partir da mudança de atitudes desses estudantes perante o mundo.
Também possibilitou criar métodos e didáticas em que os conhecimentos eram
compartilhados e os estudantes vistos como seres competentes e capazes de criar o novo e de
resolver problemas, resultando no sucesso do ensinar e do aprender.
90
Além disso, com os protótipos em funcionamento foi possível constatar a importância
de mais um recurso para o ensino e o desenvolvimento do pensamento lógico. Com a temática
robótica muitos conceitos/conteúdos puderam ser tratados de forma dialógica, lúdica,
personalizada, interessada e autônoma.
O desenvolvimento das atividades se orientou pela necessidade de se implementar
métodos diferenciados de ensinar e de aprender. Nesse sentido as placas Arduino foram
fundamentais como ferramenta de apoio pedagógico. Ao final constatou-se que o contato dos
estudantes com a programação computacional os levou a pensar na utilização de conceitos
aprendidos em diversas áreas do conhecimento para o desenvolvimento dos projetos.
A aplicação das performances em muitos momentos foi alavancada pelos próprios
estudantes e, ao final de cada etapa, mostrou-se favorável à aprendizagem de robótica,
demonstrando que não somente o professor é possuidor de todo o conhecimento. Os
estudantes podem contribuir com o que já sabem, principalmente no contexto tecnológico.
O desenvolvimento desse programa traz indícios positivos que vem ao encontro da
integração do conhecimento e a troca de experiências na comunidade escolar. É também
possível destacar que as temáticas curriculares saíram do parâmetro linear, ou seja, foram
abordados os conceitos/conteúdos de acordo com a aplicação nos protótipos.
Os maiores desafios enfrentados estão ligados principalmente aos processos
metodológicos, visto que implantar um projeto de robótica se mostrou não ser possível com
modelos tradicionais de ensino.
As maiores dificuldades se concentraram na formação de embasamentos teóricos, pois
não se encontram com facilidade materiais escritos sobre aplicações de projetos de robótica
na aprendizagem, os que existem direcionam para kits de robótica de custo considerável alto
para escolas públicas.
Convém ressaltar que em relação à matéria prima o projeto se mostrou possível de ser
realizado com o uso de materiais alternativos, sendo aplicável em escolas públicas e a
estudantes com baixa renda.
Diante disso conclui-se que a aplicação do projeto de robótica e automação Pequenos
Cientistas significou mudança para melhor no processo de ensinar e de aprender. Despertou a
curiosidade dos estudantes para sempre querer conhecer mais, oportunizou uma educação
voltada à descoberta e à pesquisa.
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REFERÊNCIAS
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010. KARLING, A. A. A didática necessária. São Paulo: Ibrasa, 1991.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro, 1995. Disponível em: <https://wp.ufpel.edu.br/franciscovargas/files/2015/03/LEVY-Pierre-1998-Tecnologias-da-Intelig%C3%AAncia.pdf>. Acesso em: 16 abr 2018.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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LIVRO DE VIVÊNCIAS: POSSIBILIDADES DE ESCREVER, DIZER, NARRAR AS
EXPERIÊNCIAS DAS CRIANÇAS DO CEI HILCA PIAZERA SCHNAIDER
Diana Sueli Vasselai Simão41
Coletivo do CEI Hilca Piazera Schnaider42
1 INTRODUÇÃO: UM REGISTRO QUE TENTA SE REINVENTAR
Muitas tentativas de documentar, registrar, escrever têm sido efetuadas/pensadas num
exercício de sistematizar o cotidiano das crianças de um Centro de Educação Infantil do
Município de Blumenau. As discussões iniciaram-se com um grupo que tinha como desafio
pensar num registro com diferentes tentativas de escrita.
Neste texto, apresentamos um pouco da experiência com a documentação pedagógica
que o CEI43 Hilca Piazera construiu até o momento. A partir do coletivo formado em 2017,
decidimos adotar/construir o Livro de Vivências como documentação pedagógica do CEI, que
são constituídos pelos planejamentos, registros e vivências das crianças e suas professoras.
No processo de escrita do Livro de Vivências44, que vem sendo construído, vieram
outras formas, ideias, organizações e estilos de pensar o registro. No final dos anos 90, os
registros se estruturavam a partir de como se planejava as atividades, geralmente seguindo um
padrão. Eram planejamentos feitos a partir de um modelo, com lista de atividades, planos de
aula, com foco no conteúdo e não nas crianças. A cada ano, à medida que as discussões sobre
a infância avançavam, novas formas de registrar eram possibilitadas.
Nas formações em serviço45, começamos a trazer os documentos oficiais que tratavam
da documentação pedagógica, com dicas e proposições diferentes nas formas de se registrar o
41 Mestra em Educação pela Universidade Regional de Blumenau - FURB (2016). Atualmente trabalha como coordenadora pedagógica na Educação Infantil, na Rede Pública Municipal de Educação de Blumenau/SC. É integrante do Grupo de Pesquisa Políticas de Educação na Contemporaneidade-FURB. 42 Arlene Raquel Borella, Cecilia Mafra Silva, Clarice Ester Krauss Guerner, Fabiana Kreutzfeld, Fernanda Leticia Reiter, Ketlin Braatz, Maria Fernanda Castellain, Maria Jose Da Silva Brandl, Paula Helena Silveira Mees, Rosineia Andrade Ferreira, Tatiane Caroline Da Silva, Valmira Muller Da Silva, Zilda Alves. 43 Às vezes, utilizaremos a sigla CEI para falar do Centro de Educação Infantil Hilca Piazera Schnaider, que é o espaço onde aconteceu a experiência. 44 Neste ano de 2017, o CEI vem trabalhando o registro das crianças a partir da elaboração do Livro de Vivências. 45 São encontros, reuniões, grupos de estudo, leituras, oficinas que fazem parte das discussões desse grupo de professores do CEI. Essas formações acontecem em alguns momentos com a Secretaria Municipal de Educação, mas o investimento maior se dá no cotidiano, nas relações de trabalho, juntamente com a equipe gestora (diretora e coordenadora pedagógica). Tem alguns momentos que são planejados, outros acontecem a partir de uma conversa, diálogos no corredor, no café ou em uma ação do planejamento e ali mesmo fazemos algumas
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vivido. Esses documentos também nos davam uma segurança para continuar nossos trabalhos,
mas não eram suficientes. Queríamos mais. Então, buscamos outras leituras, fomos
experimentando outros formatos, outros suportes. A ideia era sair de um registro único.
Começamos pela estética do caderno de registro, que trazia um olhar mais apurado, eram
fotos das crianças, letras de música, de poesia. Ampliamos para as pastas dos projetos por
turma, que eram construídas a partir da pesquisa, da proposta trabalhada.
Com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil
05/2009 e CNE/CEB nº 20/2009, que trata do registro como algo mais amplo, percebemos
que a nossa forma de registar também precisava ser revista.
A observação sistemática, crítica e criativa do comportamento de cada criança, de grupos de crianças, das brincadeiras e interações entre as crianças no cotidiano, e a utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.), feita ao longo do período em diversificados momentos, são condições necessárias para compreender como a criança se apropria de modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos. Conhecer as preferências das crianças, a forma delas participarem nas atividades, seus parceiros prediletos para a realização de diferentes tipos de tarefas, suas narrativas, pode ajudar o professor a reorganizar as atividades de modo mais adequado ao alcance dos propósitos infantis e das aprendizagens coletivamente trabalhadas. A documentação dessas observações e outros dados sobre a criança devem acompanhá-la ao longo de sua trajetória da Educação Infantil e ser entregue por ocasião de sua matrícula no Ensino Fundamental para garantir a continuidade dos processos educativos vividos pela criança (BRASIL, 2009, p.17).
Neste movimento foi possível a criação de novos jeitos de se pensar como registrar e
escrever, revendo o cotidiano da educação infantil e, assim, nossas experiências foram aos
poucos ganhando visibilidade. Tentamos sair do convencional e os registros deram mais
espaço para documentar as vivências das crianças, que vinham ao encontro do que afirma
Ostetto (2000), que o planejamento deve ter foco na criança, mais do que na atividade. Nos
desafiamos a experimentar movimentos diferentes com as crianças e, assim, nossa escrita foi
sendo modificada. Vieram questionamentos, perguntas de como fazer. Tentamos construir
juntas, vieram muitos jeitos de fazer essa escrita e essa é uma das riquezas do registro: os
muitos jeitos de se fazer o pensar.
Nossas formações se pautavam em experimentar, então, fizemos algumas vivências46
que estão contempladas nos registros do CEI. Era um turbilhão de ideias, de proposições que
reflexões, discussões. As vezes alguém lembra de um livro ou autor e corre para buscar, fazendo a leitura de um trecho ou pedindo o livro emprestado para uma leitura mais demorada em outro tempo. 46 Retirado do Livro de Registros da equipe gestora. No ano de 2008, a formação foi “Um encontro com a música”. Então: “Rodopiamos, rodamos, mexemos nossos corpos ao som da melodia, depois em dupla mergulhamos no repertório cultural da nossa infância, momento único, revelamos sonhos, segredos, ousadias de infância, lágrimas compartilhadas... Formação humana”!
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nos instigavam a pensar diferente a proposta de trabalho com as crianças e, com isso, nosso
olhar para o registro se ampliava. Nesse movimento tinham as pessoas que pensavam
diferente, com outras leituras, diferentes idades, concepções, mas isso nunca foi um problema.
Uma trajetória que perpassou medo, choro, vontades, persistência, alegria, cansaço.
No exercício de planejar, registrar, escrever e projetar é que nossa prática foi sendo
experimentada e outras respostas, perguntas, hipóteses foram surgindo. Conforme novas
questões iam surgindo, outros trajetos foram sendo construídos. Nossas formações
priorizavam um estudo sobre a documentação pedagógica, fizemos uma oficina com ideias de
alguns livros que mostraram o movimento de escrita com outros elementos de estrutura de
texto47. Dialogamos sobre o olhar observador do professor e alguns cuidados que
precisávamos ter para não interpretar o sentimento da criança e não fazer julgamentos.
Visitamos um CEI que já tinha uma caminhada diferente de registro, conhecemos,
lemos alguns escritos, percebemos a importância desse movimento, de como a história fica
documentada/vivida neste espaço, que se mostrou com uma riqueza de experiências.
Nesse ensaio de escrita, vamos experimentando, aventurando-nos para o que ainda não
conhecemos. No capítulo seguinte, daremos visibilidade ao movimento de construção do
“Livro de Vivências” a partir do relato das professoras sobre o registro que fazem das
vivências, movimentos, experiências das crianças no cotidiano do CEI.
Figura 1 - A Estética do Livro de Vivência acontece a partir de uma pasta que é construída,
pensando no projeto/proposta de trabalho de uma determinada turma.
Fonte: Acervo do CEI 47 A poesia foi um dos encontros para sairmos do modelo.
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2 CONSTRUINDO O LIVRO DE VIVÊNCIAS
O que pode um registro? Será que pode muitas coisas? Com essas perguntas damos
entrada aos muitos escritos48. Desafiar, imaginar, experimentar e estar em constante
movimento de escrita trouxe possibilidades outras de pensar o cotidiano. Para esse registro, a
equipe gestora pediu para que cada professora relatasse, através de um texto, como chegamos
à construção do “Livro de Vivências”. Desses textos capturamos algumas escritas49, dizeres
que ficaram bastantes presentes em seus registros e estarão compondo esse trabalho.
Assim, damos visibilidade às falas das professoras a partir de como percebem a
escrita que se faz e se refaz na construção do registro no “Livro de Vivências”, que é
construído a partir do escrito de como aconteceu a proposta de trabalho, de como foram
vividos esses momentos, as brincadeiras, as interações, os diálogos, as conversas. A ideia é
trazer a ação da criança, de como isso foi vivido, tentando sair do julgamento.
Iniciamos com o dizer da professora A:
Na educação infantil, percebemos a importância de ter um olhar para a criança, pois a partir desse olhar conseguimos perceber que cada criança carrega sua história desde muito pequena e essas histórias são reproduzidas muitas vezes nas brincadeiras na educação infantil.
Ou ainda:
O relato requer que estejamos atentas às crianças, pois nem sempre conseguimos registrar todos os momentos no cotidiano. Muitas coisas dificultam o registro diário como, por exemplo, a falta de leitura como cita Martins (2003, p. 34) “[...] aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios, o que mal ou bem, fazemos mesmo sem ser ensinados”. Mas, sem que se apresente isso como justificativa, são apenas obstáculos que temos que enfrentar.
Percebemos no dizer da professora, como ainda está presente o movimento de
registrar, mesmo trazendo algumas dificuldades na sua execução. Nossas tentativas de escrita
se pautavam em criar outros jeitos, sem fórmulas e isso possibilitou pensar em diferentes
escritos. Jorge Larrosa (2013, p. 75) nos fala dos escritos que nos escapam das mãos: “Lê e
relê o escrito, tira e acrescenta, enxerta, recompõe. Começa de novo, ensaiando com outra
voz, com outro tom. (...) Busca para a escrita a voz mais generosa, a mais desprendida”. E,
nesse experimentar das muitas possibilidades, a professora B nos diz:
48 Para compor esse texto, cada professor escreveu sobre como organiza o “Livro de Vivências”. 49 As escritas das professoras serão identificadas no texto com letra alfabética para preservar suas identidades.
96
Relatos do dia a dia, tendo olhar de todos, e ao mesmo tempo um olhar individual. Olhar nas entrelinhas, tentar olhar com os olhos de cada um, ouvir as falas, os olhares dele...
Ou no dizer da professora C:
O livro das vivências no CEI ainda é uma novidade. Estamos sempre melhorando, a cada relato das atividades, a forma de escrevê-lo. É sempre um desafio fazer o relato das nossas atividades. Não existe uma fórmula, não existem regras rígidas, é um relato pessoal.
Suas palavras expressam uma vontade de fazer diferente, de trilhar outros caminhos,
sem uma rota, sabendo que não existe uma única regra. E a professora D aponta um pouco
esse desejo de se arriscar:
Desafio aceito, fomos para a prática, vieram as dúvidas, as incertezas... Fez-me ver mais forte a importância do planejamento feito e executado, a importância de valorizar cada momento com um olhar crítico e construtivo. E a cada novo escrito uma certeza que esse documento veio para o nosso crescimento, trouxe aprendizado com relação aos registros, que eles são a base de um bom trabalho. Que é preciso ter sempre o exercício de um olhar sensível e cuidadoso a cada ato acontecido com nossas ações diante do planejado e a necessidade de registrar tudo. A cada novo registro um aprendizado, a cada novo texto um novo desafio, a cada resposta das famílias a certeza que estamos no caminho certo com esse documento.
E, nessa perspectiva, Barbosa e Horn (2008, p. 94) aponta para o fato de que “ao
documentar pedagogicamente o dia-a-dia na escola, vão sendo criados elementos de memória,
recuperação de episódios e de acontecimentos”. Possibilitando ao professor reviver, revisitar
e, assim, reorganizar suas ações baseado nas respostas e relações das crianças naquele
momento vivido.
E as famílias se fazendo presentes50 nos relatos que são capturados pela professora E:
Essas histórias, com esses depoimentos, poderiam virar um livro!” Este foi um relato de uma família ao receber o Livro de Vivências. Já é um livro, mas entendemos o que a família quis dizer. Poderia ser um livro para o mundo! Nosso livro é rico em histórias, movimentos propostos, movimentos espontâneos que retratam os dias no espaço. As fotos deixam o livro ainda mais divertido. É uma documentação que ultrapassa as cercas do espaço.
50 As famílias receberam um bilhete com o seguinte comunicado: A criança e a escrita... Cotidianamente as crianças têm a possibilidade de conviver com boas experiências. E, assim, vamos observando e ficando mais perto de seus gostos, curiosidades... e o nosso trabalho com elas vai criando forma e sendo organizado por meio do registro, que se faz através da observação, fotos, escritos e gravações. Nessa parceria com os senhores vamos oportunizar esses registros através de uma pasta “Livro das Vivências”. As professoras organizarão um cronograma de entrega e devolução dessas pastas. É importante ficarem atentos ao cronograma para que todos possam participar.
97
Nesse movimento de escrita, o desafio era pensar nesse registro com diferentes
formas, com outros percursos, no diálogo com a parceira de sala, na linguagem da arte, da
poesia, sem forma e modelo, construindo no processo, podendo experimentar outros jeitos de
viver a escrita.
Mais uma família fazendo parte dos registros51, como conta a professora F num
momento de partilha do Livro de Vivências:
Cada família leva para sua casa a pasta das vivências, fica dois dias, depois traz de volta e registra com fotos, escrita de como foi esse momento em casa. Assim, podem estar por dentro, acompanhando seu filho ou filha no seu desenvolvimento e pesquisas em casa referente ao projeto.
Podemos destacar uma parte do Parecer do CNE/CEB nº 20/2009 que sugere a
parceria com a família:
O trabalho com as famílias requer que as equipes de educadores as compreendam como parceiras, reconhecendo-as como criadoras de diferentes ambientes e papéis para seus membros, que estão em constante processo de modificação de seus saberes. (BRASIL, 2009).
A cada registro vamos percebendo as professoras se perguntando, refletindo sobre,
fazendo proposições, podendo rever o seu trabalho com as crianças e pensar nos próximos
registros, retomando e fazendo novos questionamentos.
Como na fala da professora G:
Escrever relatos é como se pudéssemos reviver o momento outra vez, a intenção é que cada pessoa que leia possa se sentir no lugar de quem participou do movimento ou ao menos imaginar como foi construído o momento e o movimento. O início é difícil, temos que olhar, observar, analisar e entender o que cada criança tem a nos doar no instante em que tudo acontece. Ao ler o seu relato o professor vai perceber que não relatou a melhor fala, a melhor parte de um movimento ou esqueceu a parte mais importante, às vezes cinco minutos com duas crianças podem lhe render três páginas de relatos, também pode ocorrer uma brincadeira que quando pensou em registar já se foi já se perdeu e sobrou apenas o que sua memória conseguiu registrar, relatar é tão difícil, pois você, enquanto professor tem que transferir para o papel o que em uma fração de segundos seus olhos são capazes de acompanhar e sua cabeça de registrar. O que dizer desse momento, dessa memória, desse olhar? Que possa ser vivido,
experimentado na construção de novos olhares, permitindo-se reinventar com a criança, com
o risco de se perder. Ou ainda quando a professora H descreve:
51 Para as famílias poderem participar, colocamos na pasta “Livro das Vivências” uma folha com o seguinte escrito: Deixe aqui seu recado de como foi esse momento de partilhar as vivências das crianças.
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O livro das vivências veio para sistematizar a nossa ação pedagógica desenvolvida diariamente, possibilitando observar a criança, seja no grande grupo, no pequeno e individualmente, além de registrar para preservar a memória, repensar/refletir as informações levantadas no processo de construção do conhecimento. Este livro de vivências constitui-se em fonte de consulta no âmbito do CEI, pois através dele é possível obter informações sobre o processo vivenciado pela criança, transformando-se num valioso instrumento que vai auxiliar as intervenções pedagógicas por parte dos professores e ainda possibilita socializar com as famílias momentos de aprendizagem vividos pelo/a filho/a no dia a dia no CEI, através das brincadeiras e das interações. E ao chegar em casa, conforme relatos das famílias, é momento de interação da família X livro e/ou livro X família, pois a criança quer mostrar, ler e dividir tudo o que viveu, muitas vezes olhar uma vez é pouco e lá vai duas, três, quatro. E as famílias? Bom, escrevem para que também aprendam. Como disse uma mãe: “não sabia que tinha tantas lagartas, aprendi tudo sobre as borboletas, pois cada parte que lia no livro o filho já tinha lido/contado através das fotos”.
E a professora I relata:
A cada bimestre ou tempo determinado, este livro vai para as famílias, dando oportunidade para que elas tenham um bom conhecimento do que é realizado no CEI.
E a participação das famílias junto com as professoras e demais profissionais
possibilita agregar experiências e saberes. Nesse processo, as famílias compartilham e ficam
mais próximas da proposta de trabalho.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O livro ainda caminha a passos lentos, mas sabemos que somente com a prática
teremos a habilidade de desenvolvermos as escritas com todo o seu aparato de forma mais
segura, mais ágil. Requer uma logística que ainda está se desenvolvendo, pois é preciso
conciliar a escrita do Livro de Vivências com os outros afazeres pedagógicos.
É preciso ter sempre o exercício de um olhar sensível e cuidadoso a cada ato
acontecido com nossas ações diante do planejado e a necessidade de registrar, de mostrar, dar
visibilidade às muitas experiências do cotidiano. A cada novo registro um aprendizado, a cada
novo texto um novo desafio, a cada resposta das famílias uma vontade de continuar nessa
trajetória que não tem um único jeito, que são muitos. E aí, quem sabe, permitir-nos viver
outras possibilidades de escrever, dizer, narrar as vivências das crianças. E nessa ideia de
experimentar os diferentes sabores da escrita, fomos percebendo algumas mudanças
significativas no registro e o quanto foi importante nos permitir fazer/viver esse novo
processo de escrita.
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REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Parecer CNE/CEB Nº 20/2009. Resolução CNE/CEB 05/2009. Brasília/DF, 2009.
BARBOSA, Maria Carmem Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos Pedagógicos na Educação Infantil. Porto Alegre: Grupo A, 2008.
LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução de Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2003.
OSTETTO, Luciana Esmeralda (Org.) Encontros e Encantamentos na Educação Infantil: Partilhando experiências de estágios. Campinas: Papirus, 2000.
100
RESGATANDO MEMÓRIAS DA E.B.M. PROF. RODOLFO HOLLENWEGER:
APRENDENDO COM O PROJETO PONCÃ
Cyntia Fabiana Laube52
Marília Emmendörfer Hammes53
Marilse Cristina Waldrich Locatelli54 Coletivo docente da E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger ano 201755
1 INTRODUÇÃO
O resgate das memórias com a comunidade escolar surgiu com visitas de ex-estudantes
na escola, ou quando estes traziam seus filhos para estudar; de professores que estudaram
nessa unidade e de outros que lecionaram em diferentes épocas, colaboradores que aqui
prestaram seus serviços e que sempre faziam o questionamento “e as poncãs que tinham ali, ao
lado do pátio da escola?”.
Nós, equipe gestora atual, e também professores nos mobilizamos para saber um pouco
mais sobre o pomar das poncãs. Nessas idas e vindas de recreios e de bate-papo surgiu a ideia
de revitalizar o pomar de poncãs e contar um pouco dessa história aos estudantes e também à
comunidade. Pensamos em criar uma proposta pedagógica intitulada resgate das nossas
memórias e aprendizagem com o Projeto Poncã, incluindo, com isso, todos os componentes
curriculares em uma construção coletiva e integrada de toda a escola e também da
comunidade.
2 REVISITANDO O CONTEXTO
Iniciamos essa conversa trazendo conceitos relacionados à memória, ao registro, às
narrativas, pois através desses relatos deu-se o fantástico movimento do Projeto Poncã.
52Graduada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1996), Mestre em Educação pelo Programa de Pós-gaduação em Educação Universidade Regional de Blumenau – FURB (2006); atualmente atua como coordenadora pedagógica na E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger, Blumenau-SC. E-mail: [email protected] 53Graduada em Pedagogia pela Uniasselvi (2009), em Psicopedagogia pela Associação Catarinense de Ensino Faculdade Guilherme Guimbala (2011); atualmente atua como coordenadora pedagógica na E.B.M. Prof. Friedrich k. Kemmelmeier, Blumenau-SC. Email: [email protected]. 54Graduada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1997), Especialista em Orientação, Supervisão e Gestão Pública Escolar Democrática pela FACISA (2010); atualmente atua como diretora da E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger, Blumenau-SC. E-mail: marilselocatelli@@blumenau.sc.gov.br 55Amadeu Robert Jansen, Bibiana Duarte, Cássia Cilene da Silva Casas, Cláudia Aparecida Morais, Cláudia Mauler, Daiane Baruffi, Fábio Habitzreuter, Haidi Rosane Bruch, Irlene Beck da Costa, José Luiz Bernardes dos Santos, Maria Cristina Bugman, Marília Emmendörfer Hammes, Marilse Cristina Waldrich Locatelli, Maria Cristina Lisboa Herchonvicz, Patrícia Cristina Juvelino, Patrícia Kath, Roseli Morais, Rosilete Piske, Walclenir Machado Baptista, Kaoni Cenzi Rodrigues, Ester William Alves da Silva, Ingelore Rahn Hordina, Irene Wesler da Cruz, Jauir Raimundo, Jéssica Mayra Mayer, Marlene Costa Manske, Rosane Hausmann Zinke, Salete Miranda.
101
Quando falamos sobre memória, buscamos o conceito do dicionário: Memória: latim, memoria. 1. Faculdade de reter as ideias, impressão e conhecimento adquiridos anteriormente. 2. Lembrança, reminiscência, recordação. 3. Celebridade, nome, fama. 4. Monumento comemorativo. 5. Relação, relato, narração. 6. Memento. 7. Vestígio, sinal. 8. Nota diplomática. 9. Dissertação acerca de assuntos diversos. 10. Dispositivo de computador. 12. Poder criador, imaginação, talento.
Essa lembrança, esse retorno ao passado se deu inúmeras vezes nos corredores da
escola, na sala dos professores. A busca por informações do antigo pomar se transformou em
música, melodia para nossos ouvidos. As narrativas se entrelaçavam e personificavam-se a
cada dia.
A escola foi bastante privilegiada ao receber em seu corpo docente ex-estudantes, que
ao retornarem, atentaram-se à imagem vazia do antigo pomar de poncãs, que na época de
estudantes passavam o recreio colhendo-as e saboreando-as. As poncãs complementavam a
merenda escolar. Relataram, com dor de saudade, as brincadeiras, a parceria dos seus
professores, o carinho das merendeiras e dos demais colaboradores, tudo muito significativo
aos olhos de quando eram crianças e ainda muito presente em suas memórias.
Segundo o dicionário de filosofia, a memória se apresenta como a possibilidade de se
dispor das ideias, impressões e conhecimentos passados, que de algum modo estão disponíveis
para ser evocados. E nesse instante, deu-se essa busca, o registro dessas falas, a concretização
desse sentimento.
E nessa perspectiva surge então a memória, que segundo Soligo (2005), apresenta-se
como dois tipos: o primeiro “memória conservação” e o segundo “memória recordação”. A
memória conservação é aquela em que podemos armazenar, conservar na nossa mente algo
vivido, experenciado, que podemos recuperá-lo quando necessário. A memória recordação é a
possibilidade de acionar as lembranças que acabam de se atualizar no ato de recordar. Este, por
sua vez, pode ser compreendido como vitalizar, reavivar as memórias guardadas. E esse
movimento torna possível ao homem expor suas histórias, suas lembranças atualizadas no
presente, a dança entre o passado e o presente modificado, revitalizado.
Soligo (2005) fala que a memória não passa somente por uma perspectiva individual e
voluntária – está evidentemente vinculada a escolhas individuais, porém sempre dentro de um
determinado contexto sociocultural, de uma determinada circunstância coletiva.
Baseando-se nisso, nós da equipe gestora, professores e demais colaboradores nos
propusemos ao resgate dessa memória. Os registros sobre o antigo pomar das memórias
projetam-se ao memorial – a narrativa da própria história.
102
O memorial (do latim memoriale) é a escrita da memória e significa momento ou escrito que relata acontecimentos memoráveis. O momento – que quer dizer ‘lembra-te’ – de modo geral pode ser compreendido como uma marca que serve para lembrar qualquer coisa, (por exemplo, quando amarramos um laço no dedo para não esquecer algo), como uma caderneta onde se anota o que deve ser lembrado ou como um livrinho onde se acham resumidas as partes essenciais de uma questão.
(SOLEGO, 2005, p.56) Com isso, chegamos ao momento de transformar essas lembranças numa doce proposta
pedagógica, no qual o entusiasmo e a parceria contagiaram a todos nós.
3. PRÁTICAS DE APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS
O espaço escolar tem como meio de socialização e integração a construção do
conhecimento. Com o objetivo de integrar esse conhecimento, através das descobertas feitas
pela própria natureza, desenvolvemos um projeto interdisciplinar. Esse projeto envolveu todos
os estudantes, professores dos diferentes componentes curriculares, funcionários, ex-
funcionários, ex-estudantes e a comunidade para o resgate da memória, das experiências
vivenciadas no pomar da escola, que há 34 anos teve 200 mudas de poncãs plantadas.
A escola está inserida em uma região onde as famílias cultivam pequenas lavouras e
pomares e por isso está enraizada a cultura e o valor da plantação de poncã. Motivados e
sensibilizados a manter viva parte da história da escola, revitalizamos o pomar plantando
novas mudas de poncãs. As lembranças vieram e trouxeram uma grande satisfação e nova
geração de estudantes, professores e funcionários pudemos vivenciá-la novamente com formas
e práticas diferenciadas.
Professores engajados na proposta levaram à sala de aula conceitos para serem
explorados, pesquisados e estudados com os estudantes, novas formas de aprender utilizando
apenas um fruto. Muitas lembranças da escola foram resgatadas por pais de estudantes,
professores e funcionários, dando sequência a um belo projeto e replantando 40 pés de poncãs.
Cada turma apadrinhou uma árvore de poncã, comprometendo-se em zelar por ela e por todo o
pomar.
Com o incentivo, o conhecimento e a experiência, as turmas se responsabilizaram pelo
desenvolvimento da árvore, do plantio à colheita, aprendendo dessa forma a cultivá-la. A
prática desse projeto almeja trazer aprendizados significativos e marcar não só pela base do
aprendizado escolar, mas também levar mais algumas gerações da escola a saborear o fruto e
fazer um elo familiar entre filhos, irmãos, pais e avôs, levando novamente esse conhecimento
para a vida.
103
Durante a plantação dessas árvores demos sequência há vários trabalhos na escola,
atingindo todas as turmas, de pré-escolar ao 9.º ano, e todos os professores dos diversos
componentes curriculares. Também durante esse período recebemos a visita de alguns
funcionários da época do primeiro plantio, dentre eles a diretora que deu início ao projeto no
ano de 1984. Ela participou de uma entrevista coletiva respondendo a perguntas e curiosidades
dos estudantes dos anos iniciais e abriu as atividades de plantio do primeiro pé de poncã dessa
nova época.
O projeto foi desenvolvido com todas as turmas, por ano de escolarização, conforme
algumas situações aqui relatadas.
3.1 TURMAS DE PRÉ-II e III
Essas turmas resgataram a memória do plantio das poncãs nos anos de 1984. Os pais,
ex-estudantes dessa época, trabalharam junto com seus filhos na tarefa de enviar por escrito a
memória da vivência em relação ao pomar de poncãs. Aos pais que não estudaram nessa época
na escola, o filho recebeu como tarefa trazer para a turma curiosidades, receitas ou histórias
relacionadas à fruta. Tivemos o dia do lanche da poncã, em que a sugestão foi trazer a fruta in
natura ou um lanche em que continha a fruta poncã como ingrediente.
As crianças tiveram muito entusiasmo. Percebemos que todas convidaram suas famílias
a realizarem as atividades propostas. Tanto crianças do pré-II quanto do pré-III conseguiram
escrever a palavrinha poncã, coloriram-na em seus cadernos de desenho e no papel pardo,
confeccionado um lindo cartaz.
Tivemos também a participação de uma estagiária que também entrou no projeto e
trouxe vídeos sobre o plantio e cultivo da fruta, para visualização em sala. Assistimos também
ao vídeo sobre a colheita e a venda de poncãs no comércio.
3.2 TURMAS DE 1.º E 2. º ANO
As turmas de 1.º e 2.º anos colocaram a mão na massa nas aulas. Seguiram uma receita
de brigadeiro de poncã e todos participaram da fabricação, na cozinha da escola, utilizando
touca e lavando as mãos. Em seguida escreveram a receita por meio da escrita espontânea. Na
sala de aula, coletivamente e com mediação da professora escreveram a receita em cartaz e
ilustraram. A partir da receita, aprenderam conceitos de medida, hábitos de higiene com as
frutas, experimentaram novos ingredientes. Conversaram sobre cuidados de segurança dentro
da cozinha.
104
Como tarefa, a criança deveria comprar uma poncã e pegar o cupom fiscal. No dia
seguinte, com o cupom fiscal em mão, cada criança falou o valor que pagou pela poncã e a
professora o registrou no quadro. Compararam os valores. Quem pagou mais e quem pagou
menos. Ainda explorando conhecimentos matemáticos, realizaram estimativas de quantos
gomos e de quantas sementes teriam a sua poncã. A professora registrou no quadro a
estimativa de cada criança. Hora de conferir. Cada criança descascou sua poncã, contou os
gomos, separou as sementes e degustou a fruta. Concluíram que em média a poncã tem entre
nove a treze gomos e o número de sementes variam entre vinte e seis a trinta e duas.
Resolveram problemas matemáticos de adição e subtração utilizando as sementes.
Construíram gráficos. Para conhecer como acontece a germinação, cada criança plantou
sementes da sua poncã em um pote com terra adubada. Identificaram seu pote, escrevendo o
seu nome. Colocaram o pote em lugar de maior luz na sala e molhavam uma vez por semana.
Observavam o crescimento e registravam em calendário próprio. Juntamente com a parceria
do professor de Educação Física foi feita uma roda cantada da música: Tangerina (portuguesa)
fazendo uma adaptação e relembrando as características em comum das frutas.
3.3 TURMAS DE 3.º ANO
Os estudantes dos 3.ºs anos pesquisaram, durante as aulas, na sala de informática,
informações referentes aos diversos nomes que a fruta poncã recebe em cada região, à
composição nutricional, aos benefícios da fruta, à germinação, à época, à safra, ao clima e à
origem da fruta.
Fizeram plantio da muda no pomar da escola com a participação e auxílio do zelador.
Durante o plantio, tiveram aula prática e teórica sobre como fazê-lo de maneira adequada,
cuidados, adubação, tipo de solo, irrigação, tempo estimado de colheita e outros. Conceitos
matemáticos como profundidade e largura indicados para plantar uma muda de poncã também
foram abordados. Utilizaram diferentes instrumentos para realizar a medição: régua, fita
métrica e trena. Também utilizaram medidas não convencionais como: palmo, passo, palito de
picolé.
A estimativa seguiu de forma bem lúdica. Cada estudante recebeu uma poncã,
imaginou quantos gomos e quantas sementes a fruta teria e anotaram em um papel seu nome e
sua estimativa. Na sequência, descascaram a fruta, contaram a quantidade de gomos, de
sementes e anotaram os dados, obtendo assim, o real resultado de cada fruta.
105
Trouxeram de casa algum tipo de história que se relacionava à fruta e produziram
textos com o tema da poncã. Pesquisaram receitas com ingrediente poncã e exploraram
conceitos matemáticos como: ml, dobro, triplo, tempo, horas e fração, criando e resolvendo
problemas matemáticos.
3.4 TURMA DE 4.º ANO
O 4.º ano iniciou seus trabalhos no projeto em Língua Portuguesa e Geografia
solicitando como tarefa aos estudantes uma pesquisa com seus familiares sobre o nome que a
fruta poncã recebe em cada região do Brasil. Na turma, não poderia faltar uma receita com a
fruta. Uma das receitas foi escolhida pela turma para ser produzida. A eleita foi a geleia de
casca de poncã. A fabricação da geleia teve a participação de todos os estudantes e de uma
mãe (doceira do bairro). Degustaram com delicioso pão feito pelas cozinheiras da escola.
Em matemática foram elaborados gráficos e tabelas para saber os que gostavam e os
que não gostavam da fruta. Também desenvolveram estimativas, problemas matemáticos
envolvendo as quatro operações e sistema monetário.
Convidaram uma ex-funcionária da época do primeiro plantio para uma roda de
conversa. Foi um momento de muitos questionamentos e curiosidades. Pesquisaram sobre a
história da poncã, clima e regiões apropriadas para desenvolvimento da fruta. Aprenderam as
vitaminas que a fruta oferece e seus benefícios. Para desenvolver o trabalho com a linguagem e
com as informações trabalhadas, confeccionaram panfleto.
Figura 1 – Estudantes do 4.° ano finalizando a receita de geleia de poncãs
Fonte: Acervo pessoal da E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger
106
3.5 TURMA DE 5.º ANO
Como estratégia para introduzir o assunto sobre a fruta aos estudantes do 5.º ano, o
professor questionou sobre quem tinha algum familiar que estudou na escola no tempo em que
se cultivava as poncãs. Muitos desses estudantes possuíam algum familiar ou conhecido que
estudou na escola nesse tempo, o que facilitou muito a introdução do tema.
Em outro momento foi proporcionado aos estudantes dois textos para leitura sobre as
poncãs. Um texto informativo e outro com curiosidades. O texto informativo falava sobre a
origem da fruta, país de origem, melhor época para o plantio, nome científico e também os
estados com maior produção no Brasil. O outro texto expunha diversas curiosidades sobre a
fruta.
Na sala informatizada foi pesquisado sobre as informações nutricionais da fruta e quem
eram os maiores produtores mundiais de poncãs. Com toda essa coleta de materiais foi
montado vários cartazes com informações diversas, dentre elas: origem, nome científico,
informações nutricionais. Também foram elaborados gráficos com as informações dos
maiores produtores brasileiros da fruta, com a evolução da extensão da área cultivada no Brasil
e com a quantidade cultivada na última década. Com esse trabalho, o 5.° ano conseguiu obter
muitas informações importantes sobre a fruta.
3.6 TURMA DE 6.º ANO
Após degustarem algumas poncãs, os estudantes do 6.º ano recolheram individualmente
2 ou 3 sementes, selecionaram as mais viçosas e fizeram o plantio em potes com barro. Cada
estudante colocou seu nome no pote e ficou responsável por cuidá-lo. Selecionaram alguns
desses potes para tampar e impedir que a luz alcançasse a semente, outros deixaram apenas um
pequeno orifício para as sementes receberem luminosidade. Com acompanhamento semanal,
os estudantes regavam e observam o que acontecia com cada um dos experimentos. As
experiências também serviram para o estudo de germinação, importância da água, nutrientes
do solo e luminosidade para os vegetais, assim como do geotropismo. Após a germinação, os
estudantes levaram as mudas de poncãs para replantarem em suas casas e no pomar da escola.
3.7 TURMA DE 7.º ANO
Os estudantes do 7.º ano, mediados pela professora de Língua Portuguesa, realizaram
uma pesquisa coletando dados referentes à origem da fruta, às espécies, às variedades, ao
aroma, aos sabores, ao clima favorável para plantação, à região, à época de colheita, às
107
características da planta e do fruto dentre outros. Após coleta de dados, reuniram-se para
socializar as pesquisas e, antes do plantio para discutirem o nome que queriam batizar a muda
poncã.
3.8 TURMA DE 8.º ANO
Com um grande movimento, os 8.º anos elaboraram cartazes com desenhos
explicativos/informativos sobre a planta poncã, seu cultivo, sementes, ambientes adequados
para o plantio, tipo de solo e irrigação. Fizeram gráficos explicativos contendo os benefícios
que a fruta oferece à saúde, as diferenças entre mexerica e poncã, os nomes dessa fruta em
diversas regiões do Brasil. Também em trabalho de equipe pesquisaram e fizeram relato sobre
quais países produtores lideram o ranking mundial.
3.9 TURMA DE 9.º ANO
O 9.º ano está homenageando a fruta através de instalações com poncãs. A ideia era a
de que estudantes, professores e funcionários interagissem com as obras por meio dos sentidos.
Assim fizeram escultura com bambolês, caixa de tato, onde colocaram diferentes frutas e
dentre elas a poncã. Convidaram as crianças do pré-escolar e do 1.º ano para interagirem
através de suas percepções. Vários potes de iogurte com aromas diversos, dentre eles um com
aroma de poncã, estavam velados para que as crianças descobrissem a fruta pelo olfato. Olhos
vendados para degustarem diferentes bolos entre eles, o bolo com cobertura de creme de
poncã, teste do paladar. Essas atividades foram planejadas e aplicadas pelos próprios
estudantes do 9.º ano, durante as aulas de Arte. Para finalizar o projeto, os estudantes
observaram fotos na sala informatizada e em livros na biblioteca, em seguida fizeram uma
releitura das imagens sobre a plantação de poncãs na escola. Desenharam o projeto e depois
ampliaram em uma parede específica na escola, dando um colorido especial ao espaço.
3 CONCLUSÃO
Observamos que esse resgate das memórias, aprendendo com o Projeto Poncã, foi de
grande aprendizado e atingiu todas as expectativas estabelecidas no grupo. Houve também,
uma aproximação dos pais e de outros membros da comunidade com a escola. Tornou-se
visível a alegria e a satisfação que o Projeto Poncã proporcionou aos moradores do bairro
Fidélis.
108
Segundo Carvalho (2000), a contribuição da família para o desenvolvimento e
aprendizagem humana é inegável. Por isso notamos que esse caminhar dos pais, dos estudantes
e da escola fortaleceu ainda mais o alicerce de parceria, contribuindo para uma aprendizagem
significativa.
Figura 2 – Fachada lateral da E.B.M. Profº. Rodolfo Hollenweger
Fonte: Acervo pessoal da E.B.M. Prof. Rodolfo Hollenweger
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000. BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola: o que é e como se faz. 5.ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000. BLUMENAU. Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes Curriculares Municipais para a Educação Básica. Ensino Fundamental, v. 2, 2012.
PRADO, Guilherme do Val Toleto; SOLIGO, Rosaura. Memorial de Formação – quando as memórias narram a história de formação. In: PRADO, G. do V. T.; SOLIGO, R. Porque escrever é fazer história. (Orgs.). Campinas, SP: Graf. FE, 2005, p. 47-62.
THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, vol. 13, n. 39, p. 545-554, set/dez, 2008. WARSCHAUER, Cecília. A roda e o registro: uma parceria entre professor, estudantes e conhecimento. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
109
FORMAÇÃO CONTINUADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CEI IRMGARD
ZOSCHKE
Alexandra de Souza e Silva Hausmann56 Vanderléia Buchling57
1 INTRODUÇÃO
O Centro de Educação
agosto de 2011 e atende crianças de zero a três anos de idade. Desde o início buscamos uma
proposta pedagógica sem estereótipos, sem datas comemorativas, voltada para a arte e para os
elementos da natureza. A equipe de professores trazia algumas práticas baseadas em
estereótipos, datas comemorativas, produções do tipo siga o modelo entre outras. Começamos
a questionar sobre como fugir dessas práticas na educação infantil, então, percebemos na arte
um caminho. Porque em conformidade com Iavelberg (2009, p. 12), “É necessário que os
professores sejam ‘estudantes’ fascinados por arte, pois só assim terão entusiasmo para
ensinar e transmitir aos seus alunos a vontade de aprender”.
Analisando todas essas questões, em 2012 iniciamos juntamente com toda a equipe do
CEI Irmgard Zoschke o ano letivo com uma pesquisa sobre o tema: Onde está a arte?
Chegamos à conclusão de que sem formação continuada para os professores não daríamos
conta de promover mudanças significativas na nossa prática pedagógica, pois como ensinar
aquilo que não vivenciamos? A arte faz parte de nossas vidas, mas apenas uma minoria tem
acesso a museus, teatros, exposições ou qualquer outro evento que aproxime a arte das
pessoas. Em parceria
conseguimos uma formadora pós-graduada em Arte. O grande desafio da formação foi fazer
com que as professores se encantassem pela arte e compreendessem a sua importância para a
formação integral da criança.
56Formada em Letras pela FURB (2004), Pós-graduada em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar, Gestão Escolar Pública, Supervisão Escolar e Orientação Educacional pela FACISA (2006). Atua como coordenadora pedagógica, no CEI Irmgard Zoschke. E-mail: [email protected] 57 Formada em Pedagogia pela FURB (1995), Pós-graduada em Gestão Escolar e Literatura e Arte na Educação Infantil pela UNIASSELVI (2005). Atua como diretora, no CEI Irmgard Zoschke. E-mail: [email protected]
110
2 COMO TUDO COMEÇOU
Em 2012, o Centro de Educação Infantil Irmgard Zoschke recebeu em sua equipe uma
coordenadora pedagógica e, aos poucos, por meio de estudos, discussões e trocas, ações
foram sendo fomentadas. Na prática, vislumbramos a possibilidade de trazer as plantas
verdes, os elementos da natureza e as instalações para dentro das salas com crianças,
refeitório, solários e hall. E o questionamento continuava latente: Onde está a arte? Nós,
equipe gestora, demo-nos conta que precisaríamos ir além, pois somos pedagogas e não arte-
educadoras, nossa formação em Arte é mínima. É necessário formação continuada para os
professores! Buscamos referências de profissionais formados em Arte e optamos por uma
artista da cidade de Blumenau. Uma profissional apaixonada pela arte e com bagagem de
conhecimento bastante expressivo, que pelo seu currículo contempla os anseios da equipe do
CEI. Em parceria com a APP do CEI Irmgard Zoschke conseguimos os recursos financeiros
para o pagamento da formação.
Ostetto e Leite descrevem a importância de novos rumos para a formação, ressignificando uma formação na qual se possa ampliar olhares, escutas e movimentos sensíveis, despertar linguagens adormecidas, acionar esferas diferenciadas de conhecimento, mexer com o corpo e alma, diluindo falsas dicotomias entre corpo e mente, ciência e arte, afetividade e cognição, realidade e fantasia (2004, p.12).
Essas autoras trazem justamente às questões que queríamos apresentar para o grupo de
professores: a importância da formação no cotidiano escolar em que a equipe de trabalho
busque constantemente crescer na carreira profissional.
Com isso, veio a proposta de formação no CEI, que pretende oportunizar experiências
estéticas ao sujeito/professor, ampliando seu olhar estético/crítico. Também pretende apontar
caminho para a ampliação do conhecimento das crianças, provocando situações de
experiências com a arte a ser vivenciada concretamente sem vícios e sem estereótipos.
A formação é o primeiro passo para a garantia de um projeto dar certo. Primeiramente
foi necessário encantar a equipe, argumentar pedagogicamente, mostrar na prática do
professor como a arte torna possível o sentir sensível e amplia o olhar desvinculado de vícios
de práticas rotineiras. O desafio foi mútuo. Aprendemos e ensinamos.
A formadora trouxe a proposta de sair do espaço de trabalho e conhecer lugares onde a
arte é vida. Nosso primeiro passeio foi em um sábado, para Curitiba, no Museu do Olho. Foi
uma experiência única. A maioria de nossa equipe não conhecia um museu de tal porte. Em
destaque estava a exposição de Sebastião Salgado Filho: Genesis.
O prazer de vivenciar a arte dentro de um museu é algo muito forte. Percebemos que
nosso conhecimento é bastante limitado. Começou a crescer no grupo o desejo de conhecer
111
mais, buscar mais, sair para outros lugares. E assim, a cada semestre planejamos um passeio.
Fomos a Florianópolis, ao MASC. Conhecemos algumas obras de Miró. Visitamos o ateliê de
Luciano Martins. Fomos a Timbó na casa do poeta Lindolfo Bell. Visitamos artistas locais
como Pedro Dantas: o escultor das bailarinas. O oleiro Evaldo, na sua olaria, onde realizamos
uma prática com argila. Conhecemos a artista Belíria Bonni entre outros.
3 COLOCANDO EM PRÁTICA A FORMAÇÃO EM ARTE
Apartir das formações, a equipe de trabalho do CEI Irmgard Zoschke foi ampliando
seus conhecimentos em arte. Percebeu um caminho agradável, convidativo, imaginário para
as crianças nas mais diferentes áreas dentro das linguagens: artes plásticas, teatro, dança
música, literatura entre outras.
Mas, por onde começar no momento de pôr em prática com as crianças? Nossa
primeira ideia foi buscar artistas que de alguma forma expressassem os sentimentos das
crianças: choro, riso, suspiro, grito entre outros. Através da formação encontramos diversas
possibilidades. Com a Creche I trabalhamos a imagem impressa da tela pintada em tinta
acrílica O gato Multicores, de Luciano Martins, pois apresenta cores vibrantes, despertando
nos bebês sorrisos ao ver um gato colorido. As mesmas cores utilizadas por Luciano Martins
foram usadas para realizar uma experiência com gelatinas coloridas e corantes naturais. Os
bebês manusearam gelatinas e corantes e divertiram-se, lambuzaram-se e engatinharam sobre
um tecido, deixando suas marcas corporais por todo o espaço. Esse tecido foi exposto no
refeitório do CEI.
Figura 1 - Vivências com os bebês
Fonte: Arquivo do CEI Irmgard Zoschke
112
Trabalhamos instalações com tubos no hall do CEI. Famílias ao chegar e sair da unidade
precisavam se abaixar ou desviar dos tubos, exteriorizando diversas sensações, até mesmo de
irritação. Nesses momentos, a mediação das professoras era necessária e fundamental para
explicar o objetivo da instalação, que é o de despertar sensações e emoções.
A cada ano fomos estudando mais e mais, tendo como ponto de apoio, estudo e
mediação da mesma formadora. Os projetos foram sendo ampliados. Passamos por toda
história da arte até chegarmos aos dias atuais, desde artistas internacionais até artistas locais,
estudando e colocando em prática tudo que aprendemos sobre arte para crianças pequenas.
Foram muitas as experiências proporcionadas para as crianças, não cabe aqui
descrevê-las todas. Para compreender um pouco da grandiosidade do trabalho vejamos
algumas fotos:
Figura 2 – Experimentações
Fonte: Arquivo do CEI Irmgard Zoschke
Figura 2 – Vivências com tinta
Fonte: Arquivo do CEI Irmgard Zoschke
113
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Temos clareza da importância da formação continuada. Não dá para parar a pesquisa,
o estudo e a busca por novos conhecimentos, esses devem ser incessantes e constantes para
que o trabalho flua com naturalidade e de forma gostosa, sem se tornar um peso.
Com a formação oferecida e diante das experiências vividas, o grupo de professores
ampliou seu repertório ao ponto de praticamente não existir mais trabalhos estereotipados. As
famílias comentam que as crianças em casa falam nomes de artistas e obras e que também
ampliaram seu olhar artístico através das exposições nos espaços do CEI e na observação das
fotos e relatos nos portifólios de seus filhos. Para as construções artísticas com as crianças
buscamos envolver os elementos da natureza e materiais alternativos.
A Educação Infantil pressupõe a existência de um ambiente que permita que as
crianças explorem espaços para serem ativas e capazes de escolher entre uma grande
variedade de estímulos para observar, manipular, divertir e projetar. Os processos e produtos
surgem a partir da aprendizagem e da arte em si, inventar um mundo com os objetos mais
improváveis e começar suas invenções como as que fazem em casa ou em outras situações
sociais. Queremos um lugar que prime pela beleza do incomum e possibilite a sedução da
estética num lugar para crianças muito pequenas. (CEI IRMGARD ZOSCHKE, 2017).
Educação e arte deveriam ser inseparáveis em toda sua trajetória, desde os primeiros
contatos no ambiente de educação básica até sua saída, levando assim por toda sua vida.
REFERÊNCIAS
BLUMENAU. Projeto Político Pedagógico do Centro de Educação Infantil Irmgard Zoschke.
Blumenau, 2017.
IAVELBERG, R. Para Gostar de Aprender Arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2009. OSTETTO, L. E.; LEITE, M. I. Arte, Infância e formação de professores: autoria e transgressão. Campinas, SP: Papirus, 2004.
114
O DESENVOLVIMENTO DE LETRAMENTOS PARA OS PROCESSOS DE
ENSINAR E DE APRENDER: PROJETOS E PROGRAMAS DA
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE BLUMENAU
Caique Fernando da Silva Fistarol58 Janete Raquel Pavlak Bloemer59
Paulo Jaques Funke60
1 INTRODUÇÃO
A escola, segundo Freire (2015, p. 1) é “[...] o lugar que se faz amigos. Não se trata só
de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos [...]. Escola é, sobretudo, gente [...].
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo”. Paraíso (2014, p. 28) aponta que há
mudanças significativas nos paradigmas educacionais, culturais e sociais da atualidade, mudaram as condições sociais, as relações culturais, as racionalidades, e mudaram os espaços, a política, os movimentos sociais e as desigualdades. Mudaram também as distâncias, as geografias, as identidades e as diferenças. Mudaram as pedagogias e os modos de ensinar e aprender. Mudaram as estratégias de ‘colonizar’, de educar e de governar. Mudaram os pensamentos, os raciocínios, os modos de ‘descolonizar’, os mapas culturais. [...] Mudaram as formas como vemos, ouvimos, sentimos, fazemos e dizemos o mundo. Mudaram nossas perguntas e as coisas do mundo. Mudaram os ‘outros’ e mudamos nós.
O desafio que está posto para a escola é o de trazer essa ampla gama de mudanças para
as práticas escolares, para o desenvolvimento dos letramentos de crianças e adolescentes. Para
Comber e Cormack (1997, p. 23), os letramentos vão sendo construídos pelo sujeito e pelas
suas relações, e, sofrem alterações de “fatores como lugar, instituição, proposta, período da
história, modelos culturais, circunstâncias econômicas e relações de poder”. Dionísio (2007)
considera que a escola é apenas uma das agências de letramento. A família, a igreja, o
trabalho, a rua também são espaços/agências de letramento, já que os letramentos são
resultados de práticas formais e informais e influências socioculturais. Veiga-Neto (2003) tem
a compreensão de que a cultura atravessa tudo o que acontece na vida das pessoas,
perpassando e influenciando as representações construídas a respeito do vivido; provocando
58 Formado em Letras (Português/Inglês) pela FURB (2006). Mestre em Educação pela FURB (2018). Atualmente é Coordenador Curricular na Secretaria Municipal de Educação, na cidade de Blumenau - SC. E-mail: [email protected] 59 Formada em Letras (Português/Inglês) pela FURB (2004). Pós-graduada em Tecnologias em Educação pela PUC/Rio (2009). Atualmente é Coordenadora Curricular na Secretaria Municipal de Educação, na cidade de Blumenau - SC. E-mail: [email protected] 60 Formado em Educação Física pela FURB (1988). Pós-graduado em Psicomotricidade sob a Perspectiva Metadisciplinar pela IESAD (2010). Atualmente é Coordenador Curricular na Secretaria Municipal de Educação, na cidade de Blumenau - SC. E-mail: [email protected]
115
mudanças, que Comber e Cormack (1997) relacionam ao alcance de uma consciência crítica,
tanto da forma de ensinar, quanto de aprender.
Dessa maneira, na escola, tudo que é lido, escrito, ouvido, falado e sentido pode e deve
ser interrogado e problematizado. Para Larsen-Freeman (2000, p. 150), seguindo a abordagem
participativa de Freire, “o objetivo é ajudar os estudantes a entender as forças sociais,
históricas ou culturais que afetam as suas vidas, e então ajudá-los no empoderamento, a
tomarem uma ação, tomarem decisões, a fim de terem controle de suas vidas”. Nesse sentido,
a escola adquire papel fundamental, pois pode oportunizar que a sala de aula seja esse espaço
de socialização, de compreensão, de problematização e de ressignificação de ações.
Por conseguinte, tem-se como objetivo apresentar alguns dos projetos construídos e
sugeridos pela Secretaria Municipal de Educação (SEMED) às escolas públicas da rede
municipal que buscam ampliar os letramentos. Justifica-se, no entanto, a impossibilidade de
contemplar todos os projetos existentes na Secretaria, dadas a amplitude das discussões que se
fariam necessárias. Vale destacar que os projetos selecionados para as discussões procuram
transitar por diferentes áreas do conhecimento e componentes curriculares e que a análise dos
dados está pautada na perspectiva dialógica, proposta por Bakhtin (2006).
Embora muitos dos projetos desenvolvidos pela SEMED de Blumenau sejam
executados por anos consecutivos, a ressignificação dessas propostas é sempre discutida e
ampliada, buscando os objetivos dos processos de ensinar e de aprender, a qualificação a
partir dos olhares para o campo teórico e prático e para aqueles que norteiam as políticas
educacionais tanto do município quanto do país.
2 OS LETRAMENTOS E O DIÁLOGO COM AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS
DIFERENTES ÁREAS DO CONHECIMENTO
As concepções de função social da escola e dos letramentos desenvolvidos nela e para
além dela estão contempladas nas Diretrizes Curriculares Municipais (DCMs, 2012) de
Blumenau. Isso implica em afirmar que há um norteador para a ação pedagógica, tanto para as
escolas quanto para os professores, em relação aos processos de ensinar e de aprender. A
proposta procura respeitar as singularidades e características das comunidades e dos sujeitos e
desenvolver a formação integral, definida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Básica (DCNs, 2013, p. 18) como uma concepção que “deve orientar a organização
da escola, o conjunto de atividades nela realizadas, bem como as políticas sociais que se
116
relacionam com as práticas educacionais”. Esses aspectos também estão destacados na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017).
A SEMED instiga o desenvolvimento dos estudantes da rede pública municipal de
ensino, sugerindo alguns projetos como proposta pedagógica, mas, sem torná-los obrigatórios,
dando autonomia à escola para considerar a pertinência da proposta à realidade da
comunidade. Veiga (2001, p. 11) aponta que um projeto precisa “nascer da própria realidade
[...] deve ser uma ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da escola; ser
construído continuamente, pois como produto, é também processo”. Muitas escolas garantem
a efetivação de seus próprios projetos, ou daqueles oferecidos em rede, por meio do Projeto
Político Pedagógico (PPP), e estes passam a fazer parte das ações pedagógicas dos
profissionais da escola, criando uma proposta pedagógica coletiva e uma identidade para a
escola. A SEMED compreende que um projeto de escola, quando alicerçado na sua realidade
e coletivamente elaborado é capaz de construir um espaço diferenciado de aprendizagem.
Os projetos e programas selecionados para fazer parte do corpus desse relato estão
apontados no Quadro 1.
Quadro 1 – Projetos e Programas da SEMED PROJETO ÁREA DO CONHECIMENTO/COMPONENTE
CURRICULAR Prefeito por um dia Arte e Língua Portuguesa Oratória nas escolas Língua Portuguesa (escrita e oralidade) Educação fiscal Geografia, História, Língua Portuguesa e Matemática Biblioteca escolar Todas as áreas (leitura e pesquisa) Projeto Plures Línguas Alemã e Inglesa Pedagogia Hospitalar Todas as áreas Psicopedagogia Escolar Todas as áreas Musicalização Instrumental Bandas e Fanfarras Arte Esporte escolar Educação Física Escola Aberta Educação Física Jogos da Primavera e Municipais Educação Física Paradesporto Escolar Educação Física Sustentabilidade Ciências, Geografia e História Clube de ciências Ciências, Geografia e História
Fonte: Arquivo SEMED.
Observa-se por meio do Quadro 1 que muitos dos projetos e programas elencados
abrangem diferentes áreas do conhecimento em uma mesma proposta de projeto, apontando
que a linguagem e a cultura permeiam as ações que buscam a criticidade e o diálogo com as
práticas culturais e pedagógicas e as diferentes áreas do conhecimento. As ações dos projetos
e programas sugeridos pela SEMED se apoiam, sobretudo, em dois eixos norteadores: as
práticas que diversificam o uso da linguagem e as ações que ampliam o repertório cultural dos
sujeitos.
117
As práticas de letramentos são plurais e, segundo Street (2014), fazem-se presentes
tanto nos contextos sociocomunicativos da leitura e escrita, quanto em situações
diversificadas. Esses aspectos estão presentes em muitas das propostas do quadro acima,
como nos projetos Prefeito por Um Dia, Oratória nas Escolas e Educação Fiscal, que trazem
para a discussão uma temática específica a cada projeto. Oportunizam que em sala de aula
seja feito uma reflexão crítica da sociedade, do meio em que se situam as comunidades
escolares, o significado dos contextos sociais nas práticas cotidianas e que permitem maior
compreensão dos direitos do cidadão, do desenvolvimento de ações de cidadania e da
construção de uma autonomia social e cultural para o sujeito. Esses três concursos abrangem
diferentes componentes curriculares envolvendo, principalmente, Arte, Geografia, História,
Língua Portuguesa e Matemática e são desenvolvidos por diversas escolas a cada ano.
Perpassaram, ao longo de suas histórias, por mais de 90% das escolas da rede e suas
discussões permitem compreender como ocorrem às articulações sociais e políticas inseridas
nesses temas norteadores, respeitando assim as propostas das DCMs (2012, p. 91), de que a
prática pedagógica não deve se afastar “do que realmente acontece fora dos muros da escola”,
ressignificando as práticas formais e informais.
A leitura e a pesquisa possibilitam fazer da escola um campo de experimentação,
expressão, criatividade e aprendizagens e essa iniciativa está presente e significada no
programa de Bibliotecas Escolares da SEMED. A proposta pretende ampliar o hábito e a
proficiência em leitura e orientar para a pesquisa dos estudantes, com diferentes abordagens
que os levem à leitura crítica “a pensar sobre sua própria condição humana, sua história, sua
cultura, práticas e o papel relevante que a linguagem estabelece nestas mesmas práticas, entre
outros aspectos” (MOTTA-ROTH, 2008, p. 244). O programa Biblioteca Escolar conta com
profissionais que atendem professores e estudantes em todas as disciplinas em 40 escolas
(85% das unidades da rede pública municipal), oportunizando contato qualitativo com as
dimensões da linguagem e com um amplo aparato cultural, social e artístico.
O projeto Plures é uma proposta diferenciada para 20 (vinte) escolas públicas
municipais (43% do total) e um Centro de Educação Infantil (CEI) da rede pública de ensino
(1,3% do total), porque vai além do que preconiza as diretrizes para o ensino de línguas
estrangeiras previstas pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 1996). Oferece duas línguas
estrangeiras na mesma escola/CEI, inserindo na grade curricular o inglês, como língua
globalizada e o alemão, como decorrente do processo de preservação das raízes de
colonização da cidade e pelo uso frequente como meio de comunicação nas famílias de
algumas dessas comunidades. Considera não somente os processos de ensinar e aprender nas
118
duas línguas, como também o contexto cultural e de produção textual de gêneros multimodais,
multissemióticos e que questionam como ocorrem as representações da realidade nos textos,
ao considerar a diversidade cultural neles inserida. A linguagem é abordada e explorada a
partir dos desafios propostos pela BNCC (2017), que aponta a língua estrangeira como língua
franca, mas, sobretudo, por possibilitar “conhecer e valorizar as realidades nacionais e
internacionais da diversidade linguística e analisar diferentes situações e atitudes humanas
implicadas nos usos linguísticos” (BNCC, 2017, p. 68). O que se destaca nesse projeto está
reiterado pelos estudos de Dionísio (2007), ao sugerir que práticas de leitura e escrita em um
contexto sociocultural, histórico e ideológico sejam oportunizadas aos estudantes por meio de
experiências de práticas sociais e culturais variadas, buscando capacitar e preparar esse sujeito
para que ele transforme esses contextos.
Nesse sentido de variação de experiências de práticas sociais e culturais também se
encaixam os projetos da Pedagogia Hospitalar e da Psicopedagogia Escolar, que estabelecem
direta ligação com os processos de ensinar e aprender, mas em contextos diferenciados, ou
seja, fora do espaço da sala de aula convencional do estudante. A Pedagogia Hospitalar
oferece acompanhamento pedagógico aos estudantes que estão hospitalizados. Essa iniciativa
não apenas atende à LDB (1996), alterada pela Lei 12.796/2013, que determina a
obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos, como também oportuniza que o
estudante cumpra os 200 dias e as 800 horas letivas previstas no calendário anual escolar, sem
prejuízo de seu processo de ensinar e de aprender. A SEMED disponibiliza dois profissionais
em período integral para acompanhar os estudantes hospitalizados. Em 2018, no primeiro
trimestre, foram atendidos 187 estudantes, no Hospital Santo Antônio, de Blumenau.
Outro projeto que ampara as ações na escola é a Psicopedagogia Escolar, que faz um
acompanhamento dos estudantes que apresentam dificuldades no processo de aprender. A
intervenção pedagógica é feita por 36 profissionais, em 38 escolas da rede pública municipal e
atende anualmente cerca de duas mil crianças e adolescentes. Além de trabalhar com o
estudante para auxiliar na superação das dificuldades, o profissional da psicopedagogia
estabelece com o professor de sala estratégias de aprendizagem mais eficazes para aquele
sujeito, qualificando o processo ensino/aprendizagem.
O desenvolvimento dos processos de ensinar e de aprender também ocorre em espaços
diversificados, extraclasse, conforme preconiza o Art. 3º da LDB (1996) de que deve haver a
valorização da experiência extraescolar e a vinculação entre educação escolar, trabalho e
práticas sociais. Nesse sentido, a SEMED oferece o programa Musicalização Instrumental
Bandas e Fanfarras para 34 escolas e 2.200 estudantes da rede pública municipal de ensino.
119
Os 38 professores engajados no programa trabalham a prevenção a riscos pessoais e sociais
por meio de ações de musicalização instrumental, proporcionando aos estudantes a prática e o
convívio com a música instrumental e suas variantes e contribuindo assim para seu pleno
desenvolvimento. A ampliação do repertório cultural possibilitado pelo programa estimula o
aprimoramento pessoal e oportuniza o ingresso de estudantes e professores na Banda
Sinfônica da SEMED, que alcança repercussão e notoriedade social e possibilidades
profissionais aos 50 estudantes participantes e a 9 professores/as e um/a maestro/ina. Barreto
(2000) afirma que a musicalização pode trazer contribuições significativas ao
desenvolvimento cognitivo/ linguístico, psicomotor e socioafetivo da criança e do
adolescente. O programa Musicalização Instrumental Bandas e Fanfarras também possibilita
que a música seja estudada não como uma atividade extracurricular em si, mas, como forma
de trabalhar diferentes disciplinas curriculares por meio da música, abrangendo diferentes
linguagens artísticas, diferentes formas de expressão e como um bem cultural capaz de
auxiliar o desenvolvimento integral do sujeito.
As DCNs (2013) afirmam que é importante que a escola ofereça aulas em situações
diversas, criando oportunidades de experimentação, de vivências e convivências em tempos e
espaços escolares e extraescolares, sobretudo nos campos da cultura, do esporte e do lazer.
Nesse sentido a SEMED oferece projetos e programas como o Esporte Escolar, a Escola
Aberta, os Jogos da Primavera, Jogos Municipais e o Paradesporto Escolar. Essas propostas
são capazes de atender ao compromisso com o desenvolvimento da cultura corporal, da
ampliação dos tempos e espaços da escola tanto no esporte, quanto no lazer e cultura,
possibilitando a inclusão, o desenvolvimento corporal, técnico e afetivo, a participação social
e a ampliação de oportunidades profissionais, culturais e de desenvolvimento integral. As
DCMs (2012, p. 25) de Blumenau reforçam a importância do “desenvolvimento da
inteligência, do afeto, da sensibilidade, do compromisso, da corporeidade” e da iniciação
esportiva como fenômeno social capaz de transformar a sociedade. No Esporte Escolar são
ofertadas modalidades como atletismo, badminton, basquete, futebol, futsal, ginástica
artística, handebol, mini hand, judô, karatê, punhobol, tênis de mesa, vôlei de areia, voleibol e
xadrez, em 39 escolas (83% - dados de 2018) da rede pública municipal, ampliando o
contexto de vivências de cerca de 6 mil estudantes, no contraturno escolar.
O projeto Escola Aberta permite a utilização do espaço de 17 escolas da rede
municipal de ensino, aos sábados e/ou à noite, em casos específicos, para atendimento a
crianças e adolescentes e à comunidade em geral, corroborando o Artigo 12 da LDB, inciso
VI (1996, p. 14) de que a escola deve “articular-se com as famílias e a comunidade, criando
120
processos de integração da sociedade com a escola”. As atividades nas Unidades Escolares
são coordenadas por um professor de Educação Física e envolvem recreação, esporte e cultura
popular. A frequência às atividades é variável e cerca de 30.000 atendimentos foram
realizados em 2017, contribuindo para a proposta de ampliar e qualificar os processos de
ensinar e de aprender.
Os Jogos Estudantis da Primavera de Blumenau buscam incentivar a prática de
esportes nas escolas, proporcionar às comunidades escolares a participação em um evento
esportivo de qualidade e promover a socialização entre estudantes, professores e comunidades
escolares de todas as instituições de ensino básico de Blumenau. Incentiva a prática de
atividades físicas, levando o estudante a interpretar a importância do movimento e a adoção
de um estilo de vida ativo e saudável, procurando formar cidadãos críticos e conscientes da
contribuição do esporte para a qualidade de vida. Além disso, possibilita valorizar o esporte
como ferramenta pedagógica no apoio da formação integral do indivíduo, desenvolvendo a
capacidade de concentração, raciocínio e disciplina. Permite ainda o acesso ao lazer esportivo,
à inclusão social e oportuniza a descoberta de talentos esportivos, como os muitos talentos já
descobertos nas edições desses Jogos, desde 1973, possibilitando o investimento de
profissionalização no esporte. Em 2017participaram 75 estabelecimentos de ensino e cerca de
8.000 participantes nos Jogos Estudantis da Primavera de Blumenau, considerando que foram
disputadas 15 modalidades esportivas convencionais e 5 modalidades paraolímpicas ou
adaptadas.
Os Jogos Escolares Municipais (JEM) também são oportunidades de ampliar o
repertório cultural e de aprendizagens, porque permitem agrupar o esporte educacional,
praticado dentro ou fora das escolas e com finalidade social; e o esporte escolar, praticado
dentro das escolas com a finalidade de desenvolver talentos esportivos, cumprindo assim a
determinação da LDB (1996). Os JEM reúnem anualmente mais de 5 mil estudantes da rede
municipal de educação, que participam da competição em 12 modalidades: atletismo,
basquetebol, futsal, ginástica artística, handebol, judô, karatê, punhobol, tênis de mesa,
voleibol, vôlei de praia e xadrez. Ao contrário dos Jogos Estudantis da Primavera, os JEM
acontecem no decorrer do ano letivo e são realizados em diversas sedes, preferencialmente em
unidades da rede pública municipal.
O Paradesporto Escolar acontece em 27 escolas públicas municipais e também em
espaços externos, totalizando 65 polos. Atende 314 estudantes paratletas (a partir da educação
infantil, com 6 meses de idade, até o fim do Ensino Fundamental), com mais de 550
atendimentos semanais, orientados por 32 professores em 10 diferentes modalidades
121
esportivas: tênis de mesa paralímpico, judô, natação e atividades aquáticas, natação infantil e
atividades aquáticas, atletismo paralímpico e atividades de desenvolvimento motor, bocha
paralímpica, goalball, ginástica artística, futebol de sete e equitação adaptada. Além da
inclusão social de deficientes físicos, intelectuais, visuais e auditivos em atividades esportivas
para competições, alcançando reconhecimento e prêmios, o programa possibilita ampliar a
autoestima dos estudantes, melhorar a qualidade de vida e ampliar as experiências sociais e
culturais. O Paradesporto Escolar é um programa que oportuniza a educação inclusiva, que
está descrita nas DCMs (2012, p. 49) “como um processo flexível voltado à oportunização, à
inserção e à aceitação do indivíduo no contexto social, respeitando suas diferenças e
acreditando em suas potencialidades”, qualificando a construção da cidadania e a vida dos
sujeitos que transitam na escola. As contribuições desse programa estendem-se, por
conseguinte, também às famílias desses atletas, que ampliam as possibilidades de lutar contra
conceitos historicamente construídos e de promover uma sociedade mais justa.
Entre os projetos da SEMED, também estão às propostas voltadas ao meio ambiente e
à qualidade de vida como a Sustentabilidade e o Clube de Ciências. Presentes em ações
pedagógicas individuais ou em projetos coletivos alicerçados pelos PPPs das escolas da rede
pública municipal abrangem ações que qualificam e ressignificam os olhares para o mundo e
para o entorno dos espaços, buscando, primeiramente transformar o espaço escolar, com ações
como a construção de hortas escolares, composteiras, reaproveitamento da água da chuva e
construir, gradativamente, uma ampliação desses contextos às famílias dos estudantes. As
DCMs (2012) apontam para a busca de atitudes éticas e de zelo em relação ao meio ambiente,
procurando fomentar a curiosidade dos estudantes, o levantamento de hipóteses e a construção
de conhecimentos sobre os fenômenos e os seres vivos, bem como sobre a relação entre
homem, natureza e tecnologias. A Ciência como componente curricular integra-se nos
objetivos e ações de outros componentes como Geografia e História e constrói uma rede de
diálogos que permite maior autonomia do estudante para construir conceitos que ultrapassam
o senso comum. O Clube de Ciências é ofertado no contraturno escolar, em algumas unidades
de ensino da rede, atendendo em média 20 estudantes em cada escola. Os projetos de
sustentabilidade fazem parte das ações pedagógicas de todas as escolas, no entanto, algumas
unidades destacam-se por apresentar projetos específicos que abrangem ampla discussão
coletiva e a aplicação de ações transformadoras na unidade escolar e na relação dos sujeitos
com o meio. As iniciativas da SEMED nesse contexto são apresentadas em formas de cases
para a Organização do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que possui metas mundiais para
o desenvolvimento humano e sustentável a serem alcançadas até 2030. Os objetivos da
122
agenda global buscam articular ações para erradicar a pobreza extrema; combater a
desigualdade e a injustiça e conter as mudanças climáticas que levam em conta o legado dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A SEMED é signatária dessa proposta e
procura potencializar o alcance dos objetivos com ações de intervenção, de formação e
estabelecendo parcerias para as ações nas escolas.
A seleção de projetos que compõem o corpus deste relato é meramente organizacional
para as discussões, pois, na verdade, os aspectos de aprendizagem se entrelaçam em cada
projeto e vão formando os diferentes e múltiplos aspectos que compõem os letramentos. Para
Dionísio (2007, p. 3), “a produção e o ‘consumo’ do conhecimento estão sempre interligados,
não havendo fronteiras entre eles”, o que possibilita uma análise crítica de cada contexto,
eliminando as marcas das disciplinas escolares e ampliando as discussões sobre e para o
desenvolvimento integral do ser humano.
3 CONCLUSÕES
Os projetos/programas que serviram de corpus para estes olhares não encerram as
discussões ou o alcance das contribuições às práticas pedagógicas e aos letramentos. São
mostrados, outrossim, como formas de estabelecer diálogos com a escola, de fomentar e
reiterar práticas pedagógicas significativas ao contexto do processo de ensinar e de aprender
por meio dos letramentos, ampliando a busca pela formação integral do ser humano.
Os projetos pensados pela SEMED para auxiliar as práticas docentes na busca pela
autonomia e letramento dos estudantes podem, também, contribuir para contextos específicos
da gestão escolar, pois apontam para um processo educativo com cunho social e
representativo, contemplando aspectos dos indicadores para a educação de qualidade.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006. BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2ª ed. Blumenau: Acadêmica, 2000. BLUMENAU. Secretaria Municipal de Educação. Ensino Fundamental. Blumenau: Prefeitura Municipal/SEMED: Diretrizes curriculares municipais para a educação básica, v.2, 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/ensino_fundamental_v_2%20(3).pdf>. Acesso em: 06 jun 2018.
123
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 07 jun 2017. _______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pdf>. Acesso em: 21 jun de 2018. _______. Lei 12.796, de 04 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm >. Acesso em: 25 jun 2018. _______. Secretária de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da Educação. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. COMBER, Bárbara; CORMACK, Phil. Looking beyond skills and processes: literacy as social and cultural practices in classrooms. Reading, Oxford, v. 31, n. 3, 1997, p. 22-29. DIONÍSIO, Maria de Lourdes. Educação e os estudos atuais sobre o letramento. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 25, n. 1, p. 209-224, 2007. FREIRE, Paulo. A escola. 2015. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/>. Acesso em: 20 jun 2018. LARSEN-FREEMAN, Diane. Techniques and Principles in Language Teaching. Oxford UniversityPress, 2000. MOTTA-ROTH, Désirée. Para ligar a teoria à prática: roteiro de perguntas para orientar a leitura/análise crítica de gêneros. In: MOTTA-ROTH, D.; CABAÑAS, T.; HENDGES, G. (Org.). Análises de textos e de discursos: relações entre teorias e práticas. v. 1, p. 243-272. Santa Maria: PPGL Editores, 2008. PARAÍSO, Marlucy Alves. Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação e currículo: trajetórias, pressupostos, procedimentos e estratégias analíticas. In: MEYER, Dagmar Estermann, Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação. Belo Horizonte: Mazza edições, 2014. STREET, Brian. Letramentos Sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Tradução Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2014. VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 23ª ed. Campinas: Papirus, 2001. VEIGA-NETO, Alfredo. Cultura, Culturas e Educação. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 5-15, maio-ago, 2003.
124
O ENSINAR E O APRENDER SOB UMA NOVA PERSPECTIVA NA
E. B. M. PROFª. NEMÉSIA MARGARIDA
Salete Rosá Panini61
1 INTRODUÇÃO
A experiência relatada a seguir surgiu a partir da reflexão realizada em abril, acerca do
resultado obtido pelos estudantes da E. B. M. Profª. Nemésia Margarida, em 2016, nas
avaliações da aprendizagem do Sistema Municipal de Avaliação Participativa – SIMAIP, em
Matemática e Língua Portuguesa.
Com o objetivo de minimizar as fragilidades apontadas na Avaliação da
Aprendizagem nós, equipe gestora e corpo docente, reunimo-nos no início do ano letivo e, de
posse dos dados das avaliações, analisamos os resultados, discutimos ações e organizamos um
plano de ação a ser seguido pela unidade nos meses seguintes. Na elaboração desse
planejamento consideramos o comprometimento dos membros da equipe pedagógica, suas
potencialidades e limitações e as de seus estudantes.
Nossa comunidade escolar é composta, em sua maioria, por crianças que não têm em
suas casas ambientes alfabetizadores e seus familiares, muitas vezes, não têm instrução formal
para saber o que é importante aos seus filhos nessa fase de escolarização. É nosso interesse
envolver a família em nossos projetos, buscar a sua participação na vida escolar dos filhos,
procurar levá-las a conhecer o que é feito na escola a fim de que valorizem o espaço
educacional.
Aliado a tudo isso é importante firmarmos parcerias e buscarmos ajuda, saberes a
serem compartilhados fora dos muros da escola. Socializarmos ideias, conceitos e
conhecimentos que enriquecem nossas atividades e ampliam nosso repertório.
Nessa perspectiva, a escola precisa adotar ações que contribuam para o
desenvolvimento coletivo, para o trabalho com compromisso e para a mudança de atitude de
forma a suprir as demandas e as fragilidades reveladas a partir da avaliação.
A seguir, discorremos acerca do projeto realizado na escola, entre os meses de abril a
outubro, com estudantes dos anos iniciais, envolvendo professores, equipe gestora,
1 Formada em Pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1990). Especialista em Alfabetização pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1996). Especialista em Orientação, Supervisão e Gestão Pública Escolar Democrática pela IESAD (2009). Atualmente é diretora da E. B. M. Prof.ª Nemésia Margarida, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected]
125
funcionários e famílias. Salientamos que o trabalho coletivo do corpo docente foi de suma
importância para que as etapas fossem realizadas com sucesso, visto que alguns contratempos
aconteceram e tivemos que reorganizar tempos e espaços na escola. Também, novas
perspectivas foram sendo apontadas e, para cada uma, novas decisões, novos planejamentos
foram necessários. Enfim, no decorrer do projeto tivemos avanços, retomadas, desafios novos,
situações que puseram à prova nossa capacidade de reorganização e retomada de direção.
2 ORGANIZANDO ETAPAS, PENSANDO ESTRATÉGIAS
No mês de março de 2017, organizamos na escola uma reunião pedagógica em que,
nós, a equipe pedagógica escolar, reunimo-nos para analisar os resultados da Avaliação da
Aprendizagem. Nesse dia, já vieram à tona algumas ideias sobre como poderíamos atingir o
maior número de professores e estudantes para trabalharmos com as fragilidades apontadas na
Avaliação.
A nossa ideia foi a de compor um ambiente desafiador aos estudantes, em que
pudessem perceber outras maneiras de aprender e interagir com o conhecimento. [...]contextos em que o aluno seja colocado diante de situações problemas nas quais ele deve se posicionar e tomar decisões, o que exige a capacidade de argumentar e comunicar suas ideias. Assim, a sala de aula precisa se tornar um espaço de diálogo, de troca de ideias e de negociação de significados – exige a criação de um ambiente de aprendizagem (NACARATO, MENGALI E PASSOS, 2009, p. 81).
Isso tudo sem nos esquecermos do professor, elemento importante nesse processo e
que, muitas vezes, precisa de diferentes intervenções em relação a seus estudantes.
Montamos, então, um planejamento com cronograma, atividades didáticas e,
principalmente, ações que cada um poderia desenvolver. Decidimos por unir ao nosso projeto
o Dia da Matemática (6 de maio) e o Dia do Aprender Brincando (18 de maio). Assim,
organizamos um trabalho que aconteceria no decorrer dos próximos meses.
Para iniciar, convidamos as profissionais da Guiare Espaço Integrado62, para
planejarem conosco o Dia da Matemática na escola. Para isso dispuseram, além de seu tempo
e conhecimento na área da Pedagogia e Psicopedagogia, vários jogos matemáticos que
trabalhavam intensivamente o raciocínio lógico e habilidades que demandam socialização,
interação, troca, discussão e outras. Esses jogos foram organizados na escola, em um espaço
em que as crianças e os seus professores pudessem interagir, explorando outras possibilidades
62 Guiare Espaço Integrado é uma assessoria de ensino, com atendimento especializado nas áreas de Psicopedagogia em Blumenau.
126
de ação. O material possibilitava a exploração de conteúdos como as quatro operações,
sequência lógica, sistema monetário, até situações de adequação, suposição, probabilidade,
experimentação, solução de situações inesperadas, trabalho de equipe, troca, compensação
entre outras.
Professores e estudantes foram instigados e provocados em seus conhecimentos
matemáticos. Foi possível perceber claramente aquele que se desafiou, aquele que desafiou o
outro, aquele que se retraiu por insegurança ou medo, o que preferiu sua zona de conforto e
não arriscou no desconhecido, o que queria tudo e ao mesmo tempo não sabia o que queria, os
que ficaram apáticos. Algumas características particulares de cada um ficaram expressamente
marcadas. Entendemos que essas características podem interferir diretamente na maneira
como o estudante se aproxima do conhecimento e, por isso, devem ser observadas pelo
professor uma vez que ajudam a planejar como trabalhar com cada singularidade.
Como afirmam Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999, p.13): Se queremos valorizar as capacidades de pensamento dos alunos, teremos de criar condições para que eles se envolvam em atividades adequadas ao desenvolvimento dessas capacidades. Não é por fazer muitas contas que os alunos aprendem a identificar quais são as operações que fazem sentido numa situação nova. Não é por fazer muitos exercícios repetitivos que os alunos adquirem a capacidade de resolver problemas. Não é por memorizar nomes de figuras e sólidos geométricos ou enunciados de propriedades e teoremas que os alunos aprendem a raciocinar e argumentar logicamente.
Nessa perspectiva, as turmas foram se revezando nos diversos espaços de
aprendizagem, que possibilitou uma rica experiência tanto para os estudantes como para os
professores.
Num segundo momento, organizamos o Dia do Aprender Brincando, partindo da nova
realidade escolar, a partir da Lei n.º 11.274, de 06 de fevereiro de 2006, que inclui as crianças
de seis anos no Ensino Fundamental.
De acordo com Gebien (2012, p.18), [...]se as crianças estão mais cedo na escola, também significa que algumas características da infância devem ser preservadas neste espaço, pois o que mudou foi a idade da criança entrar para o Ensino Fundamental, mas as características próprias desta fase da infância continuam. Para isso necessita-se repensar os espaços da escola para garantir que a brincadeira esteja efetivamente presente no dia a dia escolar. Crianças de seis anos de idade numa sala de aula, com estruturas escolares de aprendizagem (alfabetização) são crianças e brincam.
Por essa razão, atividades lúdicas que viessem ao encontro dos nossos objetivos
anteriormente traçados também foram pensadas.
127
Montamos um circuito na escola com cinco estações: corrida do saco, dança da
cadeira, minicircuito, pega bola do corpo humano e volençol63.Cada criança recebeu, de
maneira aleatória, uma fita para amarrar ao pulso, que identificaria seu grupo pela cor. Assim
se formaram os grupos de trabalho de diferentes idades, misturando as turmas, criando novo
entrosamento entre os estudantes. Todos da escola foram convidados a participar da atividade:
estudantes, professores e funcionários.
Nessa atividade foi possível percebermos não só o nível de integração e trabalho em
equipe dos pequenos, mas também o prazer pela atividade lúdica, o desenvolvimento
psicomotor, a capacidade de entender e seguir regras e, até mesmo, a capacidade de brincar, já
que tanto em casa quanto na escola está se criando uma cultura de imobilidade. Mais e mais
as crianças (e adultos) vivem uma vida de sedentarismo, não têm noção de seu corpo, de suas
necessidades e capacidades. Como bem diz Freire (2009, p.68), [ ... ] Na primeira infância a ação corporal ainda predomina sobre a ação mental. A criança apenas começou a aprender a pensar quando, em ação corporal já deveria ser especialista. Os professores devem estar permanentemente preocupados com as habilidades motoras. Devem certificar-se de que seus alunos são capazes de correr, saltar, girar, rolar, trepar, lutar, lançar e pegar objetos, equilibrar-se, etc.
É importante lembrarmos que existe uma cultura infantil de jogos, músicas e
brinquedos e, sem pensar, os adultos transformam tudo isso num conjunto descontextualizado,
organizado a partir da sua lógica. Esquecem-se de considerar o que as crianças pensam e
como interagem diante dos brinquedos/brincadeiras nessa fase da vida.
Nesse conjunto de aprendizagens, destacarmos que a sustentabilidade foi e é uma
temática recorrente em nossas ações, que também orienta nossa prática acerca do uso
inteligente dos recursos que o meio ambiente nos oferece. Desenvolver hábitos de reduzir,
separar, reutilizar materiais na escola e no meio em que vivemos precisam ser atitudes da
rotina de cada um de nós, estudantes, professores e familiares, para além dos trabalhos
escolares.
Nesse contexto, realizamos outro trabalho em junho, mês do Meio Ambiente, incluindo
o tema sustentabilidade. Cada estudante, em casa, com ajuda da família e utilizando materiais
recicláveis, construiu um jogo/brinquedo educativo. O mesmo deveria conter nome dos
participantes/envolvidos, materiais utilizados e regras do jogo compiladas pelo estudante.
63Brincadeira cooperativa. Consiste em organizar as crianças ao redor do tecido, todas pegam na ponta e levantam o material. O mediador joga a bola no meio do tecido, as crianças começam a balançar, levantar o tecido sem deixar a bola cair, todos precisam se ajudar para que a bola não caia e precisam ir para o mesmo lado. Disponível em: <https://vamosbrincar.org.br/brincadeira/volencol/>. Acesso em: 18 dez 2017.
128
Aqui pensamos em desenvolver, avaliar e instigar a criatividade, a produção de texto,
as atitudes ambientais, a participação e o acompanhamento da família nas atividades
escolares. Buscamos uma forma de conexão entre o que se aprende na escola e o que se vive
em casa, além de mobilizar o maior número possível de pessoas da família em uma atividade
escolar. Os jogos foram expostos na escola e os estudantes escolheram, por meio de voto,
cinco deles que seriam confeccionados em um próximo movimento.
Esse movimento aconteceu na semana da criança. Organizamos oficinas para a
confecção dos jogos selecionados. Cada criança, com antecedência, fez a sua inscrição na
oficina desejada, providenciou os materiais necessários e, no dia marcado, participou da
oficina, que teve os professores como facilitadores.
Nossa ideia, como próximo passo de continuidade do projeto, é a de organizar um tipo
de laboratório com esses jogos, no qual os estudantes e os professores possam usá-los em suas
aulas ou como materiais alternativos.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensando na nossa finalidade ao organizarmos esse projeto, no que nos moveu a
desenvolvê-lo e a recriá-lo a cada etapa, podemos concluir que conseguimos atingir os
objetivos propostos. É certo que nem tudo o que planejamos foi possível colocar em prática
da maneira que pensamos e também não nos foi possível mensurar fidedignamente o resultado
depois do projeto findado. Tivemos, com certeza, um ganho muito grande no que diz respeito
ao apoio e envolvimento familiar nos trabalhos escolares, no empenho e conscientização dos
professores acerca de suas limitações e as de seus estudantes e no espírito de equipe que
permeou todas as etapas desse processo.
Percebemos uma motivação muito grande nas crianças, nas diversas etapas, na
realização de cada tarefa. As atividades desenvolvidas se mostraram como novas
possibilidades de organização do trabalho escolar, principalmente, no que se refere ao
envolvimento dos estudantes com suas famílias, das famílias com a escola, dos estudantes
com colegas de outras turmas e outras idades.
Esse projeto também possibilitou avanços no fazer em equipe, na agilidade de
raciocínio, no pensar coletivo dos estudantes. Analisando a proposta como um todo, fica
evidente que, embora a aprendizagem perpasse por vários segmentos (escola, família,
amigos), o papel do professor como articulador de todas as etapas do processo de ensinar e do
aprender é central.
129
É pensando numa educação que ultrapasse os muros da escola, que enxergue as reais
necessidades dos estudantes e familiares e vislumbre para eles uma vida melhor e um futuro
promissor, que buscamos meios para trazer mais motivação ao nosso trabalho e,
consequentemente, melhoria nesse processo de ensino-aprendizagem.
Nos diversos eventos que a escola promove em parceria com a Associação de Pais e
Professores – APP, Conselho Escolar e amigos percebemos claramente a busca dessas
famílias por referências, valores e sentido no que aqui se faz, acreditando, sim, na escola
como parceira no que diz respeito à formação das crianças. Temos esperança que essas
crianças mostrarão outros resultados se confiarmos nelas, se apontarmos outros caminhos, se
dermos o exemplo. Exemplo que dê certo, satisfaça e traga bem-estar.
REFERÊNCIAS ABRANTES, P; SERRAZINA, L; OLIVEIRA, I. A matemática na educação básica: reflexão participada sobre os currículos do ensino básico. Lisboa: Ministério da Educação/Departamento da Educação Básica, 1999. FREIRE, J.B. Educação de Corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 2009. GEBIEN, J. Brincadeira no Ensino Fundamental – o que dizem as crianças. Blumenau: Nova Letra, 2012. NACARATO, A; MENGALI, B; PASSOS, C. A matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
130
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ITINERANTE: A GESTÃO DEMOCRÁTICA
NO CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL MAX SCHEIDEMANTEL
Abdul Joari Lima64 Rosa Maria Fabiciack Schimoller 65
1 INTRODUÇÃO
Na área da Educação muito se tem falado sobre a gestão democrática e muitos autores
abordam a temática. Com isso, nós, do Centro de Educação Infantil – CEI Max
Scheidemantel, passamos a pensar sobre gestão no CEI. Dentro de nossas possibilidades
desenvolvemos um trabalho democrático baseado em autores e leis.
Uma das maneiras que utilizamos para deixar o processo de gestão do CEI mais
democrático é o Projeto Político Pedagógico – PPP Itinerante. Partindo da ideia de gestão
democrática, buscamos estratégias para instigar a participação de todos os segmentos da
comunidade escolar e consequentemente construir uma gestão mais transparente e dinâmica.
O objetivo geral do projeto foi conhecer a comunidade escolar para exercer gestão
democrática. E os específicos: i) Explicar para comunidade escolar o funcionamento do PPP
Itinerante; ii) Analisar as respostas obtidas; iii) Reformular o PPP para o ano seguinte.
Os referenciais teóricos que fundamentam este relato de experiência são os autores
Libâneo (2005) e Veiga (2008), corroborando as argumentações sobre os conceitos de gestão
democrática, comunidade escolar, Projeto Político Pedagógico e participação.
2 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ITINERANTE: IDEIAS INICIAIS
A ideia central sobre o Projeto Político Pedagógico Itinerante do CEI Max Scheidemantel
surgiu em 2015 e a prática iniciou, efetivamente, em 2016, com o intuito de fazer a comunidade
escolar refletir, conhecer e participar ativamente da reelaboração do PPP.
Observamos que os pais/responsáveis das crianças tinham dificuldade de participar
dos momentos de estudo para a reelaboração do PPP. Sem a participação dos
pais/responsáveis não tínhamos uma porcentagem muito relevante da comunidade escolar. De
acordo com Teixeira (2010, p. 01), comunidade escolar refere-se: “[...] aos segmentos que 64 Formado em História pela FURB (2008). Mestre em Educação pela FURB (2012). Atualmente é coordenador Pedagógico do Centro de Educação Infantil Max Scheidemantel, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected] 65 Formada em Pedagogia pela FURB (2000). Especialista em Educação, leitura, literatura e letramento pela Fundação Educacional Hansa Hammonia – FEHH (2005). Atualmente é diretora do Centro de Educação Infantil Max Scheidemantel, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected]
131
participam, de alguma maneira, do processo educativo desenvolvido em uma escola. Na
maioria dos casos em que a expressão é mencionada, agrupa professores, funcionários, pais e
alunos”.
Tínhamos ciência também de que: o PPP não pode ser um documento engavetado, o
diretor de uma unidade não pode centralizar suas ações e a gestão democrática é muito
importante na unidade educacional. A partir desses pressupostos, Libâneo (2005, p. 332)
corroborou ao argumentar que:
O gestor escolar tem de se conscientizar de que ele, sozinho, não pode administrar todos os problemas da escola. O caminho é a descentralização, isto é, o compartilhamento de responsabilidades com alunos, pais, professores e funcionários. O que se chama de gestão democrática onde todos os atores envolvidos no processo participam das decisões. Uma vez tomada, trata-se as decisões coletivamente, participativamente, é preciso pô-las em práticas. Para isso, a escola deve estar bem coordenada e administrada. Não se quer dizer com isso que o sucesso da escola reside unicamente na pessoa do gestor ou em uma estrutura administrativa autocrática na qual ele centraliza todas as decisões. Ao contrário, trata-se de entender o papel do gestor como líder cooperativo, o de alguém que consegue aglutinar as aspirações, os desejos, as expectativas da comunidade escolar e articular a adesão e a participação de todos os segmentos da escola na gestão em um projeto comum. O diretor não pode ater-se apenas às questões administrativas. Como dirigente, cabe-lhe ter uma visão de conjunto e uma atuação que apreenda a escola em seus aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros e culturais.
A partir dessas situações, dificuldade de participação dos pais/responsáveis, escolha de
não engavetar o PPP e descentralização do poder visando à gestão democrática, começamos a
pensar estratégias que pudessem sanar esses problemas. Refletindo, discutindo e dialogando
com os funcionários, Associação de Pais e Professores e Conselhos Escolares formulamos a
seguinte pergunta: Como trazer as famílias ao CEI para participarem da reelaboração do PPP,
tendo elas entraves com dias e horários? Outra reflexão que fizemos foi a de levar em conta os
documentos oficiais que tratam da participação da comunidade escolar, focando que os
pais/responsáveis devem participar da vida escolar de seus filhos. Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996).
O fato é que as famílias das crianças eram convidadas, porém não compareciam na
reunião pedagógica para reelaboração do PPP. Tivemos a ideia de inverter o papel, fazendo
com que o PPP chegasse até as famílias. A Avaliação Institucional Participativa – SIMAIP
também nos ajudou nessa análise e reflexão, pois percebemos nas respostas específicas da
132
unidade que alguns pais/responsáveis respondiam que não tinham conhecimento do PPP.
Assim, aprofundamo-nos no PPP e consideramos que:
Construir um PPP requer uma visão ampla que seja capaz de visualizar estratégias eficazes para que, futuramente, a escola obtenha um bom desempenho de suas atribuições. Logo a elaboração do projeto não pode se restringir apenas às pessoas diretamente ligadas à escola (gestor, coordenador, supervisor e professores), mas, deve-se levar em consideração as contribuições que a comunidade local tem a oferecer. Dessa forma, sua participação deve ser estimulada e colocada em vigor, afinal a comunidade age de forma pertinente quanto à elaboração de ações que estejam diretamente ligadas aos fatores externos das instituições de educação e sabe-se que tais fatores externos exercem significante influência na escola. (VEIGA, 2008, p. 12).
Sabendo que o momento de conhecimento e de estudo do Projeto Político Pedagógico
não poderia acontecer de qualquer forma, decidimos enviar o PPP para comunidade escolar. O
PPP seria levado para as casas da comunidade escolar, onde realizariam a leitura, passariam
um tempo com o documento e contribuiriam com sugestões para reelaboração.
2.1 O FUNCIONAMENTO
No ano de2016, após reelaboração do PPP do ano anterior, que ocorreu sem a
representatividade das famílias, imprimimos o material. Após a impressão, fizemos uma cópia
para cada turma do CEI e uma cópia para leitura dos colaboradores da unidade educacional.
Ao final de cada cópia foram anexad as páginas no documento com o seguinte dizer: “Após a
leitura do PPP 2016, sugiro as seguintes contribuições para reelaboração do PPP 2017 do
CEI Max Scheidemantel.”
Cada turma recebeu sua cópia para ser customizada pelas crianças, conforme ilustra a
Figura 1, e um protocolo no qual constava o nome de cada criança para controle de quem
estava com o documento. Ao pegarem o PPP Itinerante, os pais/responsáveis assinam um
protocolo. No protocolo, as professoras colocaram a data da entrega para a família e a data de
recebimento.
Figura 1 – Customização das crianças da turma do Pré II B
Fonte: Acervo do CEI Max Scheidemantel
133
No primeiro ano de funcionamento do PPP Itinerante as professoras explicavam para
os pais/responsáveis individualmente o motivo do envio do documento e os procedimentos a
serem seguidos. No ano de 2017, como já tínhamos a experiência do ano anterior, na primeira
reunião de pais/responsáveis já informamos que daríamos continuidade ao PPP Itinerante,
como já havia ocorrido em 2016.
A permanência do PPP Itinerante com cada família/profissional da educação foi de
uma semana, pois a comunidade escolar teria de ter o tempo para a leitura e para as sugestões.
Optamos por uma semana ao refletirmos sobre o tempo que também necessitaríamos para
trabalhar com os dados coletados.
2.2 A ANÁLISE DAS RESPOSTAS NO PPP
No final de 2016, após todas as famílias e profissionais da educação terem levado o
documento (PPP) para casa e dado sugestões, nós, membros da equipe gestora recolhemos
todas as cópias para digitar as contribuições das famílias e dos servidores. As respostas foram
apresentadas no último encontro pedagógico de 2016, na qual foi feita a leitura na integra de
todas as contribuições. Essas, depois de apreciadas, foram compiladas e organizadas por tema
para serem acrescentadas ao novo documento. Como equipe gestora, ficamos incumbidos de
fazer as adequações ao documento para que fosse novamente apresentado e apreciado pelo
grupo no primeiro encontro pedagógico de 2017.
Nesse encontro pedagógico o documento foi apresentado ao grupo com as devidas
alterações. Na data, os presentes, após leitura, avaliaram as adequações realizadas, teceram
novas considerações e sugeriram adequações. Concluído esse processo, o documento final foi
impresso com cópias para as turmas e profissionais da educação seguindo a mesma dinâmica
já relatada.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração o relato apresentado, pudemos perceber que a comunidade
escolar se envolveu de forma dinâmica e participativa, colaborando com a reformulação do
Projeto Político Pedagógico do Centro de Educação Infantil Max Scheidemantel.
Percebemos que tal estratégia obteve o envolvimento de famílias, como, por exemplo,
nos relatos a seguir:
134
“É de grande importância a participação de forma ativa dos pais na vida escolar das
crianças. Achei o PPP muito bem elaborado e transparente”.
“Parabenizo pela iniciativa da participação dos pais no PPP.”
“Excelente iniciativa de enviar aos pais o PPP do Centro Infantil, porque por mais
que ele esteja de livre acesso, nem todos já haviam lido”.
Além dos elogios dos pais/responsáveis apareceram também sugestões como:
“Nossa sugestão é que seja intensificada a participação das crianças em eventos
culturais, visitação de museus, teatros e cinemas, bem como, o projeto de leitura e contação
de histórias que tanto mexem com o imaginário de nossas crianças”.
Com as respostas obtidas percebemos que estamos na trilha de uma gestão
democrática, pois a participação dos pais/responsáveis na construção do novo PPP ocorreu de
maneira profícua e significativa. Percebemos também que criamos um material muito rico,
pois as respostas obtidas são dados que podem ser analisados em futuras pesquisas.
O trabalho realizado com o PPP Itinerante teve grande importância. As famílias e os
profissionais da educação ao opinarem, darem sugestões, exerceram ativamente o seu papel,
vivenciaram e contribuíram com a construção do documento central da instituição,
possibilitando o exercício da gestão democrática.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. Lei Nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. LIBÂNEO, J. C. Educação escola, políticas, estruturas e organização. 2. ed. SP: Cortez, 2005. TEIXEIRA, B. B. Comunidade escolar. In: OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CDROM. Disponível em: <http://www.gestrado.net.br/pdf/374.pdf>. Acesso em: 28 de set de 2017. VEIGA, I. P. A. Escola: espaço do projeto político pedagógico. 13.ª edição. Campinas: Papirus, 2008
135
FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO NA
E.B.M. PROFª ZULMA SOUZA DA SILVA
Gizéli Coelho66 Jaime Bachmann67
1 INTRODUÇÃO
“O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem moral para exercer sua profissão”.
(FREIRE, 1996, p.103)
Professores/as da E.B.M. Profª Zulma Souza da Silva, escola de Ensino Fundamental,
localizada no bairro da Velha, Blumenau-SC, acreditam ser a formação continuada
responsável pelo debate contínuo acerca da prática pedagógica.
Nos últimos anos, a formação continuada vem se caracterizando de forma
descompassada, distanciando-se da proposta que Freire anunciou: A melhora da qualidade da educação implica a formação permanente dos educadores. E a formação permanente se funda na prática de analisar a prática. É pensando sua prática, naturalmente com a presença de pessoal altamente qualificado, que é possível perceber embutida na prática uma teoria não percebida ainda, pouco percebida ou já percebida, mas pouco assumida (FREIRE, 2001, p.72).
A formação continuada é imprescindível para o processo de um ensino responsável e
comprometido, mas a carga horária assumida por muitos profissionais engessa qualquer
possibilidade de participação em discussões que não aquelas oferecidas pela Secretaria
Municipal de Educação. Pensa-se ser formação continuada àquela que estabelece uma
frequência sistemática de encontro e, não somente, as acontecidas nos grandes eventos. Ainda
hoje, na escola, nem todos os/as professores/as dispõem de tempo em sua carga horária para
participar dessa formação, visto que passam todo o tempo em sala de aula, em atendimento
aos estudantes. Essa é uma situação que implica em prejuízos nas discussões e debates que
todos os dias provocam e desestabilizam a prática pedagógica.
66 Coordenadora pedagógica na E.B.M. Profª Zulma Souza da Silva. Pedagoga – UDESC (1995); especialista em Educação e Cultura – UDESC (2005), em Gestão do Cuidado para uma Escola que Protege – UFSC (2012), em Coordenação Pedagógica – UFSC (2015). 67 Professor de História e Geografia na E.B.M. Profª Zulma Souza da Silva. Graduado em História e Geografia – UNIOESC (1987); especialista em Gestão Pública – FURB (2002), em Pedagogia Gestora – IPGEX (2005); mestre em Desenvolvimento Regional – FURB (2010).
136
A coordenação pedagógica e a direção escolar, preocupadas com o processo de
formação continuada na escola, propõem encontros com os/as professores/as de modo a
garantir a reflexão e a avaliação dos modos de ensinar e de aprender. Todos os/as
professores/as participam de encontros junto à coordenação pedagógica, com planejamento
específico e acompanhamento posterior dos encaminhamentos ali tirados.
Segundo os/as professores/as, a formação continuada é um momento precioso, porque
favorece a troca de ideias, opiniões, debates, aperfeiçoamento, socializações; subsidia a
prática pedagógica; prepara para responder aos anseios dos estudantes; propicia momentos
para repensar a prática; possibilita reflexões sobre a realidade e as transformações por quais
passa a sociedade.
A formação continuada elege a participação como possibilidade de aproximação de
discursos, de debates, de conflitos que promovam o avanço de todos/as. O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca. Daí a importância do exemplo que o professor ofereça de sua lucidez e de seu engajamento na peleja em defesa de seus direitos, bem como na exigência das condições para o exercício dos seus deveres. O professor tem o dever de dar suas aulas, de realizar sua tarefa docente. Para isso, precisa de condições favoráveis, higiênicas, espaciais, estéticas, sem as quais se move menos eficazmente no espaço pedagógico. Às vezes, as condições são de tal maneira perversas que nem se move. O desrespeito a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos educadores e à prática pedagógica (FREIRE, 1996, p.73).
Paulo Freire provoca a reflexão de que a formação continuada é prática fundamental
para que se efetivem processos educativos em que seja possível aos estudantes a compreensão
de aspectos do conhecimento científico e do conhecimento cotidiano. Não há competência
que se funde no vazio, no abstrato, na hipótese não confirmada ou negada. É preciso
materializar as condições necessárias para que se efetive uma relação verdadeira de
aprendizado entre todos/as os/as envolvidos/as.
A escola realiza em Hora Aula Extraclasse - HAE de professores/as, a cada mês,
espaços de formação continuada entre professores/as e tem a intenção de expandir para toda a
comunidade escolar. Faz-se necessário que professores/as construam autonomia tal, que não
considerem a formação institucionalizada a única, válida e aceita. É preciso, mais do que
nunca, de professores/as autores/as de uma formação própria que mobilize a busca por outras
formações em lugares de importância social, quais sejam, museus, cinemas, praças,
exposições.
Profissionais da educação não se satisfazem com o instituído formalmente, com o que
137
é oferecido por secretarias e afins. A constituição do sujeito professor/a se faz com leituras
que não são somente técnico-profissionais. A construção de pessoas passa necessariamente
por prestar atenção em todas as dimensões do ser humano. E é por isso que realizar leituras
outras, assistir a filmes, ouvir músicas, investigar sobre elas, comparecer a eventos culturais e
tantas outras opções fazem de cada professor/a um ser de diversidade: sujeitos sensíveis –
estudantes e professores/as – capazes e dispostos à felicidade e a práticas pedagógicas capazes
de perceber os sujeitos nas suas totalidades.
É importante trazer para o espaço da formação as outras linguagens que vão além da
leitura e da escrita como possibilidade de formação do professor/a. Assim, a arte em geral, por
meio da música, da dança, da poesia, da pintura, do teatro, da escultura, da literatura, da
canção, do cinema, apresenta conteúdo imprescindível ao desenvolvimento humano.
A formação, em que o/a professor/a se faz como participante ativo e não meramente
como ouvinte, possibilita a percepção de suas reais ou não possibilidades de contextualização
na prática pedagógica. O participar interativo cria outras possibilidades. Faz se sentir parte
constitutiva da formação.
2 UM RELATO DE EXPERIÊNCIA QUE DEU CERTO COM PARCEIRIAS
No ano de 2017, a gestão da Escola Zulma apresentou problematizações à formação
em serviço, trazendo especialmente a arte para o debate construtivo. Adiante, será possível
conhecer um pouco da caminhada já percorrida e esboçar uma ideia de que novos modos de
se constituir professor/a precisam ser desenhados. Por isso mesmo é possível dizer que,
provavelmente, tenha-se experiências de formação que não necessariamente estejam reveladas
neste documento.
A abertura para a Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB e outras
universidades conveniadas para os estágios de variadas licenciaturas na escola ampliou o
olhar sobre a própria prática pedagógica da escola, promovendo uma reflexão sobre o
cotidiano. O diálogo aproximado com professoras do estágio, para além da presença das
próprias estagiárias, trouxeram devolutivas à luz das observações realizadas, estreitando laços
de diálogo entre as duas instituições. A presença de dois subprojetos do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID em Educação Física e em Gestão
Escolar Democrática possibilitaram experiências que mobilizaram todos os sujeitos da escola,
refletindo sobre o projeto político pedagógico.
138
A presença de professores/as em seus dias de HAE, hora atividade e estudo na escola
para participar de estudos dirigidos e reformulação do projeto político pedagógico, é uma
necessidade que se apresenta. E, se considerar-se que, como explicita Larrosa (2015, p. 23),
“a experiência é o que nos passa, nos atravessa”, pode-se afirmar que, propor vivências em
formação é propor experiências.
A proposta de formação na HAE, inicialmente para professores/as dos anos iniciais,
vem ganhando legitimidade e incorporando-se à rotina mensal da escola. Nos últimos anos a
gestão da escola tem previsto encontros sistemáticos para a formação continuada. A pauta
vem ao encontro das urgências que se apresentam. Contudo, e considerando as experiências
vividas, a necessidade de realizar de maneira diferente a formação em serviço é urgente.
Professores/as, mais que estudarem sobre o conhecimento científico e sobre modos de
ensinar, fornecem pistas de que gostariam de uma formação que os possibilite aprendizagens
enquanto sujeitos que são (Arroyo, 2000). O que se pretende dizer aqui é que professores/as
poderão oferecer experiências diferentes e diversificadas atreladas aos conhecimentos
cotidianos e científicos tanto mais tiverem ampliado seu repertório cultural, artístico, em suas
mais variadas manifestações.
O PIBID Gestão Escolar Democrática, nas observações do cotidiano da escola, trouxe
junto à gestão o estranhamento do formato até então proposto para encontros formativos com
professore/as. A experiência tem que passar especialmente por aqueles/as que atuam
diretamente com estudantes e que, em muitas situações, não lhes foi possível o acesso durante
o processo de formação profissional. A ação “Vivências em Formação” nasce desse olhar. A
proposta de formação continuada se apresenta com encontros mensais, fora e no espaço
escolar, nos tempos de HAEs, com pauta que remete aos processos de desenvolvimento e
alargando o olhar de professores/as quanto às possibilidades de ensinar e de aprender através
das diversas vivências culturais.
Nesse sentido foram organizados oito encontros, distribuídos durante o ano de 2017,
que possibilitaram aos professores/as vivenciar diversas expressões e linguagens com o intuito
de sensibilizá-los para as manifestações que estão no cotidiano da sala de aula. As vivências –
capacidade de estar no aqui-agora, no fazer-se presente, dar presença (TORO, 2002) –
aconteceram em: biodanza, música, cinema, fotografia, literatura, dança circular, salas
temáticas e comunidade escolar.
139
2.1 VIVÊNCIAS EM BIODANZA
Foi possibilitado aos professores/as o contato com a Biodanza, atividade que através
da música, movimento e situações de encontro em grupo possibilita aos participantes
perceberem seu corpo, contato e presença consigo, com o outro e com o universo. É uma
prática desenvolvida desde a década de 60 pelo chileno Rolando Toro Araheda. Por definição, Biodanzaé um sistema de integração humana, renovação orgânica, reeducação afetiva e reaprendizado das funções originárias da vida. Sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio da música, do canto, do movimento e de situações de encontro em grupo (TORO, 2002, p. 33).
Num espaço alternativo e com um professor habilitado na área, ao grupo de
professores/as dos anos iniciais foi proporcionada a experiência de “dançar a vida”.
Experiência tocante, sensível, que a partir da experiência do momento, abriu o debate para
refletir sobre a prática cotidiana.
2.2 VIVÊNCIAS MUSICAIS
Ocupando o espaço da universidade e sob a mediação de bolsistas do PIBID,
professores/as vivenciaram a música como elemento constitutivo dos sujeitos e da cultura
humana. O encontro com instrumentos musicais e suas possibilidades sonoras, bem como o
contato com composições específicas e não cotidianas, trouxeram significados para a música,
percebê-la no espaço escolar sem, contudo, ser escolarizada. A cultura da música de massa,
amplamente veiculada na mídia, também precisa ser problematizada nos espaços
institucionais.
Figura 1 – Vivências musicais na FURB
Fonte: Acervo da E.B.M. Profª Zulma Souza da Silva
140
2.3 VIVÊNCIAS EM CINEMA
A indústria cinematográfica também é constitutiva dos sujeitos. Há um impacto do
cinema sobre os sujeitos, seja através dos roteiros, da criatividade, dos recursos tecnológicos e
tudo o que cerca essa arte. Aos/às professores/as são oferecidos filmes produzidos fora do
circuito norte americano, para que se conheçam outras possibilidades de produções.
2.4 VIVÊNCIAS EM FOTOGRAFIA
Olhar o mundo em detalhes é um dos privilégios da fotografia. O olhar sensível,
direcionado, detalhado para um objeto, cena, sujeito e outros é imprescindível para ver, além
do ponto, o seu entorno.
2.5 VIVÊNCIAS EM LITERATURA
Professores/as da escola, por adesão, estiveram na Feira do Livro em Porto Alegre/RS.
A literatura é tratada como formativa para estudantes e professores/as na rotina escolar, tendo,
semanalmente esses dois segmentos, entrada na biblioteca escolar para ouvir histórias. A
capacidade imaginativa, que emerge das ficções, poesias ou através das leituras técnicas
debatidas nos encontros, contribuem sobremaneira para que se renovem os discursos e as
práticas pedagógicas.
2.6 DANÇA CIRCULAR
Com formadora específica para essa vivência, a dança fez parte de uma reunião
pedagógica. Trabalhar o conhecimento científico atrelado ao sujeito professor/a. Dançar,
vivenciar a formação para além dos textos e referenciais teóricos. Dançar, simplesmente
dançar.
2.7 SALAS TEMÁTICAS
A sala de professores/as e funcionários/as, bimestralmente, para a acolhida, recebe
instalações acerca de um/a personagem vinculado à arte. São oferecidas comidas, músicas,
informações sobre o tema/personagem em questão. É uma vivência coletiva que envolve todas
as pessoas da escola, professores/as, trabalhadores/as. Ação que amplia a formação.
2.8 COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA
A entrada dos estágios e do PIBID na escola aproximou sobremaneira escola e
universidade, a ponto de, a partir dessa parceria pedagógica, professores/as universitários/as
141
contribuírem com a formação continuada na escola. Além daqueles/as responsáveis por
estágios, outros profissionais da universidade fazem parte dos momentos de formação da
comunidade escolar, tais como: reunião pedagógica, reunião de pais e comunidade, encontros
com estudantes.
Figura 2 – Grupo de Estudos PPP – Reunião Pedagógica
Fonte: Acervo da E.B.M. Profª Zulma Souza da Silva
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação continuada no local de serviço ou fora dele não traz resultados imediatos,
tampouco a isso se propõe. Trata-se de um movimento vivo e crescente que precisa ser tratado
com rigorosidade metódica (FREIRE, 1996, p. 31) e com tempo para se efetivar.
A proposta de vivenciar a formação a partir das diversas linguagens se mostrou como
um movimento rico para a escola e, sobretudo, na prática pedagógica de professores/as no
cotidiano, provocando novas problematizações sobre o conhecimento e sobre a escola.
As vivências em formação impactam os sujeitos da escola, quer sejam eles/as
professores/as, estudantes ou demais funcionários/as. A todas/os é oferecido a oportunidade
de aprender, de ensinar, de sair dos formatos previamente dados. A formação em serviço
precisa ser potencializada para que se torne possível novas intervenções pedagógicas baseadas
no desenvolvimento humano. Segundo Larrosa (2015), Freire (1996 e 2001), Vigotski (2007),
homens e mulheres, crianças e adolescentes são sujeitos constituídos das vivências e das
experiências, que acumulam nos mais variados espaços sociais. A escola é um espaço
potencializador, mas precisa ousar e romper com as amarras de um sistema formativo
142
ultrapassando resultados. Há que se ter uma nova escola com coletivos humanos, instigadores
e profissionais sensíveis.
REFERÊNCIA
BLUMENAU. Decreto N.º 9645, de 19 de março de 2012, que regulamenta a implantação da hora atividade extraclasse no âmbito do Magistério Público Municipal de Blumenau. ARROYO, M. G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2000. 251 p. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra; 1996. FREIRE, P. Pedagogia dos Sonhos Possíveis. São Paulo: Editora UNESP, 2001. LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. TORO, R. Biodanza. (M. Tápia, trad.). São Paulo: Editora Olavobrás, 2002. VYGOTSKY. L.S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
143
A TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS NO CEI PROFESSOR ANSELMO
ANTÔNIO HILLESHEIM
Gabriele Krause68
Sandra Aparecida Azzolini Pool69
Silvana Cardoso Wichinheski70
1 INTRODUÇÃO
No início do ano de dois mil e dezessete, sentimos a necessidade de revitalizar os
. Os
desejos foram manifestados com entusiasmo por professores, funcionários e equipe gestora.
Diante dessa necessidade de mudança, um dos grupos deu a ideia de desenhar no piso uma
pista de carrinhos, reformar e mudar uma casinha para a árvore.
Como partilhamos do mesmo pensamento de Freire (1996), ao dizer que percebemos
que toda a ação, quando parte da consciência e da necessidade, do desejo do coletivo, torna-se
uma ação real e regada de força para seguir em frente, construindo assim as mudanças
desejadas, decidimos, então, pela ação de transformar esse nosso espaço.
2 CRIAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE ESPAÇOS
Após reflexão evidenciamos que os espaços deveriam ser modificados. Passada essa
fase de discussão e compreensão do que foi proposto pela equipe gestora, iniciamos outra
etapa: Como construir e fazer tais modificações e onde conseguir os devidos recursos?
Segundo GAARDER (2005); O futuro não é algo que simplesmente acontece por si mesmo. Estamos criando o amanhã neste mesmo momento. Hoje em dia muitas pessoas sentem-se como meros espectadores dos fatos globais. Mas devemos aprender que todos nós somos atores e que estamos modelando nosso futuro agora mesmo.
1Licenciatura Plena em Pedagogia com especialização em Orientação Educacional, pela FURB (985). Pós- Graduada no Curso de Artes na Educação Infantis anos iniciais, IPEGEX (2015). Atualmente atua como coordenadora pedagógica no CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim, na cidade de Blumenau. E-mail: [email protected] 2Licenciatura Plena em Pedagogia, pela UDESC/2006. Pós Graduada no Curso de Gestão Escolar, UNIASSELVI/2015. Atualmente atua como diretora no CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim, na cidade de Blumenau. E-mail: [email protected] 3Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, UNIASSELVI/2013. Atualmente atua como secretária no CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim, na cidade de Blumenau. E-mail: [email protected]
144
Dessa forma, decidimos que a melhor maneira de realizar essas ações seríamos todos
nós nos tornarmos coautores. Deveríamos formar equipes comprometidas com a revitalização
de cada espaço, realizar os esboços de projetos, buscar formas e recursos, envolvendo as
crianças, os pais/responsáveis e, de modo geral, toda a comunidade escolar.
A ideia do reaproveitamento de materiais alternativos trouxe a toda a comunidade
escolar o conhecimento do conceito de reaproveitamento e reutilização, que visa o preservar,
o cuidar. De acordo com o Relatório de Brundtland (1987), o uso sustentável dos recursos
naturais deve suprir as necessidades da geração presente, sem afetar a possibilidade das
gerações futuras de suprir as suas.
Assim, nossas equipes foram formadas a partir da afinidade e do desejo de cada
grupo pela modificação e revitalização dos espaços. A formação dos grupos ficou assim
constituída: Creche I, Creche III e a Creche III/Pré-I Mista – parque e pátio. Creche II –
varanda. Pré-Escolar I – refeitório. Pré-Escolar II e III – banheiro e nós, da equipe gestora,
revitalizaríamos a parte externa da unidade. Cozinheiras, zelador e auxiliares de serviços
gerais ajudariam em todos os grupos, conforme a necessidade.
Em março de dois mil e dezessete, iniciamos as primeiras etapas do projeto. Um
projeto que busca a reutilização de recursos que são abundantes no meio industrial e passíveis
de doação. Nesse CEI, professores, funcionários e gestores estão sempre engajada em
reinventar espaços para instigar e aguçar a curiosidade das crianças.
2.1 EM BUSCA DE RECURSOS
A WEG Transformadores doou as bobinas de fios de alta tensão, caixas e tampas de
madeira recicladas, e o pai de uma das crianças do CEI doou caixotes de verdura, pallets e o
transporte para conduzir ao CEI as suas doações e as da doação da WEG. Além disso,
realizamos um brechó de roupas usadas, arrecadas pela comunidade escolar, para também
angariar fundos. As crianças ficaram tão empolgadas com a possibilidade de ter uma casa da
árvore, que vieram acompanhadas dos pais para doar umas moedas.
2.2 PARQUE
A principal mudança que fizemos no parque foi a construção de um deck suspenso
no entorno de uma árvore, sobre o qual foi transportada e colocada uma casinha que já existia
no pátio. Esse deslocamento foi realizado com a parceria de pais/responsáveis e funcionários
da empresa de transporte urbano BLUMOB. Como esse deck necessitaria de um investimento
145
maior, visto que o material teria de ser resistente, com mão de obra especializada, contratamos
um profissional na área de carpintaria e outro para instalação da tela de proteção. Contamos
também com a participação de nosso zelador para pintura. As crianças decoraram a casinha
com auxilio das professoras, utilizando tampinhas de garrafa em formato de flores. Assim
ficamos com a casa da árvore.
2.3 PÁTIO E ENTRADA DA UNIDADE
A entrada da unidade foi contemplada com uma cobertura de vidro, também
reaproveitado de outra obra. O pátio recebeu garrafas pet coloridas para evitar o deslocamento
das britas para o passeio e as crianças agora as usam para brincar de se equilibrar. Além disso,
as professoras do grupo desenharam no chão uma pista para carrinhos, as crianças adoraram.
Esse acabou se tornando mais um espaço convidativo para os movimentos de interações e
brincadeiras (figuras 1, 2).
Figura 1 e 2 - Pátio
Fonte: Acervo do CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim
2.3.1 SOLÁRIO
O grupo responsável pela revitalização do pátio criou um solário para as crianças de
0 a 1 ano. Todos os materiais utilizados se encontravam em desuso no sótão do próprio CEI.
Para delimitar o espaço, fios de malha compuseram a cama de gato. O grupo tratou de
organizar esse espaço do pátio, preocupando-se com a riqueza de cores, detalhes e com a
diversidade de texturas. Um pedaço de grama natural foi plantado, numa parte foram
colocadas pedrinhas, pisos coloridos de diferentes relevos e pallets, usados como deck no piso
do solário. Nas paredes do muro foram fixados brinquedos como telefones e canos de PVC de
diferentes tamanhos, com os quais as crianças podem brincar de jogar bolinhas pequenas por
canos menores e bolinhas maiores por canos mais largos e ainda produzir sons.
146
2.4 VARANDAS
Nas paredes do CEI criamos painéis para exposição. Utilizamos a técnica de cama
de gato feita com fios de malha (ribana), doados por mães costureiras. Os painéis auxiliam e
facilitam no trabalho de curadoria das exposições dos trabalhos das crianças. Por meio dessa
instalação não necessitamos mais colar nas paredes as produções das crianças, pois agora
ficam entrelaçadas nos fios de malha, fixadas com grampos de roupa. As crianças realizaram
pintura de telas, que foram confeccionadas a partir de retalhos de cortinas doados por uma
empresa local e depois colocadas em molduras feitas com restos de madeira da marcenaria da
prefeitura e expostas nas paredes do CEI. O grupo responsável pelas varandas montou com
um rolo de papel pardo um cantinho de artes para as crianças desenharem. Quando ficou todo
desenhado, foi retirado e levado para a secretaria e reaproveitado para confecção de envelopes
que serão usados para enviar ofícios. Na outra varanda dos fundos do CEI foi criado o espaço
para a biblioteca, o Cantinho da imaginação, com estantes que estavam sem uso no sótão da
unidade. 2.5 REFEITÓRIO
O refeitório recebeu uma decoração pitoresca, nichos feitos com caixas de verdura,
nos quais foram colocados objetos que reportassem a alimentos saudáveis, como potes de
arroz, feijão e trigo. O grupo do Pré-I conseguiu objetos como talheres, copos, xícaras e pratos
em miniatura que vieram para compor a revitalização do refeitório. Sobre as mesas, vasos
com flores confeccionadas com garrafas pet e copos descartáveis pelas crianças e pelas
professoras. Os lustres foram feitos de escorredores de macarrão de plástico. Escorredores e
escumadeiras em desuso foram fixados na parede como decoração. Fizemos também cortinas
com garrafas PET. O efeito desse conjunto decorativo realizado com as crianças garantiu um
novo design ao refeitório, deixando-o mais aconchegante e prazeroso para a alimentação
(figuras 3, 4).
Figura 3 e 4 - Revitalização do Refeitório Fonte: CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim
147
Fonte: Acervo do CEI Professor Anselmo Antônio Hillesheim
2.6 BANHEIRO
O banheiro necessitaria de uma decoração adequada às exigências da vigilância
sanitária, como molduras e tintas laváveis. O grupo responsável por esse espaço recebeu
espelhos doados pelo avô de uma criança e pastilhas que haviam sobrado de uma obra e
doadas por um morador da comunidade. As pastilhas foram usadas como molduras ao redor
dos espelhos. Além disso, colocamos uma cortina de fuxico colorido confeccionado por uma
funcionária do CEI juntamente com as crianças. O tecido para confecção dos fuxicos foi
doado por mães costureiras. A revitalização do banheiro possibilitou a criação de um
ambiente mais aconchegante e humanizado.
2.6 CRIAÇÃO DA SALA DA DIREÇÃO
Durante todo o processo de revitalização, percebemos que sobrou muito material.
Como a sala da direção não tinha um espaço físico restrito, os espaços secretaria/direção eram
compartilhados, optamos por criá-lo. Após nossa reflexão e avaliação surgiu a ideia de
redefinirmos esses espaços para qualificar a execução das funções de cada profissional da
equipe. Todos os móveis dessa sala foram criados com caixas de madeira compensada bruta e
bobinas. O vidro utilizado na mesa foi doado por um senhor da comunidade escolar, que
trabalha na construção civil. Assim surgiram também nichos, mesa e suporte de plantas com
as caixas doadas pela WEG.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca pela reutilização de materiais alternativos para a revitalização dos espaços
vem sendo uma experiência enriquecedora para todos nós, funcionários, professores, equipe
gestora, pais/responsáveis e principalmente para as crianças, que tem a oportunidade de
explorar cada espaço revitalizado. Cada grupo responsável por um espaço procurou parcerias
junto às empresas da região para aquisição dos materiais recicláveis e outros necessários para
os projetos de revitalização.
Vivemos em um mundo em que é preciso cuidar do meio ambiente. Precisamos plantar a semente da conscientização também para os pequenos, para que as crianças de hoje percebam-se parte do ambiente, zelando-o e sejam os conscientes adultos de amanhã. (MARCHESAN; PAZ, 2015, p. 2)
148
Em um artigo escrito por Stevanato, no site do Portal Educação, ela cita um trecho
do livro Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil de Pádua e Tabanez (1998), em
que diz que “a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudança de valores
e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e
harmonia dos indivíduos com o meio ambiente”.
Durante esses primeiros meses percebemos vários avanços do grupo de profissionais
no âmbito do comprometimento, na redefinição e ressignificação dos espaços para o educar e
o brincar das crianças. O grupo se mostrou comprometido com a criação das ideias e com o
fazer acontecer. Além disso, na medida em que as crianças foram envolvidas, tornaram-se
também autoras das ideias e de como pô-las em prática. Percebemos avanços na autonomia e
na responsabilidade dessas crianças que passaram a cuidar mais dos espaços.
Durante o processo de revitalização, utilizamos várias linguagens e meios: escrita,
internet, vídeos, fotos, diálogo e reflexões entre as professoras e as crianças. Aperfeiçoamos o
nosso olhar de cuidado com o meio ambiente e com o outro.
Outro aspecto que pudemos observar foi que as curadorias na sua totalidade foram
voltadas para o uso de materiais reciclados. Também foram realizados trabalhos a partir da
apresentação de artistas pintores como Luciano Martins, Jackson Pollock e Vincent Van
Gogh, cujas obras foram objeto de trabalho com releituras voltadas para uso de materiais
reciclados. As releituras se deram a partir de: o Quarto de Van Gogh, em que as crianças
criaram dobraduras, usando caixinhas para reproduzirem os móveis, Pollock, com o uso de
tecidos reutilizados respingados com tinta e uso de diversos materiais reciclados e da sua
transformação em quadros emoldurados com pedaços de sarrafos reutilizados também. Ou
outras atividades de socialização e respeito às diversas culturas, como o trabalho com as
Abayomis, confecção com retalhos de tecidos.
Podemos afirmar que todo esse trabalho de revitalização provocou a sensibilidade,
bem como o respeito entre todos. A partir do momento em que começamos a pensar em
reutilizar materiais, consequentemente se abriu diálogo sobre o respeito e o cuidado com a
natureza, uma vez que reutilizando materiais industrializados ou feitos pelo ser humano, não
há necessidade de retirar novamente da natureza.
A conscientização sobre o economizar e o reaproveitar fez com que ficasse evidente
a atitude de respeito à natureza, de conservação dos rios e demais recursos naturais. Como
também em outro momento, transpareceu através das atitudes e dos olhares das crianças a
indignação ao verem um filme sobre o corte de árvores.
149
Temos consciência de que o trabalho de revitalização apenas iniciou e que com essas
atitudes estamos contribuindo com os espaços da instituição e com o meio ambiente. Por
sermos um espaço de educação entendemos que devamos plantar boas sementes para no
futuro colhermos bons frutos.
REFERÊNCIAS
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum). Londres: Editora Oxford University Press, 1987. FREIRE. P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GAARDER, J. Uma ética ambiental para o futuro. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/artigos/uma_etica_ambiental_para_o_futuro.html>. Acesso em: 1 dez 2017. MARCHESAN, T.; PAZ, D.M.T. Reciclar, recriar, transformar e reinventar na educação infantil. Revista gestão e desenvolvimento em contexto – GEDECON. Cruz Alta: Universidade de Cruz Alta, vol.3, n. 01, 2015. STEVANATO, P. Educação Ambiental. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/estetica/educacao-ambiental/14700>. Acesso em: 01 dez de 2017.
150
CLUBES DE CIÊNCIAS COMO ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: A
EXPERIÊNCIA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE BLUMENAU
Celso Menezes71
1 INTRODUÇÃO
Entre as ações que a Secretaria Municipal de Educação de Blumenau – SEMED
desenvolve, o projeto Clube de Ciências é uma alternativa em busca da educação científica,
com vistas a um novo olhar para o ensino de Ciências. Considera-se o estudante como um
sujeito que se apropria dos conhecimentos em um processo de construção de significados, por
isso necessita estabelecer conexões dos conhecimentos com a sua realidade, caso contrário,
esses não farão sentido. Nessa perspectiva, cabe ao professor mediar à relação entre os
conhecimentos cotidianos e os conhecimentos científicos.
Conforme Chalmers (1993), a ciência pode ser compreendida como uma elaboração
humana e histórica, que faz parte da cultura e que se encontra em processo de contínua
transformação. Partindo desse pressuposto, entende-se que o ensino de Ciências deve auxiliar
os estudantes na apropriação dos conhecimentos científicos, não pela lógica da transmissão –
recepção, mas por meio de um ensino que considere o estudante como protagonista e não
como mero espectador do processo. Nesse sentido, é fundamental o desenvolvimento de
propostas que incentivem a construção do conhecimento por parte dos estudantes
(MENEZES, 2012).
A proposta de implantação dos Clubes de Ciências se baseia na concepção de que os
conhecimentos são construídos pelos estudantes em um processo de elaboração pessoal,
consequentemente, não depende exclusivamente do professor. No entanto, o professor tem
importância determinante nesse processo: o de orientar e conduzir a aprendizagem por
intermédio de propostas de ensino que tornem os conhecimentos científicos muito mais
significativos para todos. É preciso incentivar o protagonismo dos estudantes a partir das
atividades no Clube de Ciências, com olhar atento para o desenvolvimento das 71Professor de Ciências da Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Coordenador de Ciências da Secretaria Municipal de Ensino de Blumenau. Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (2012), especialista em Práticas Pedagógicas Interdisciplinares pela Faculdade Dom Bosco (2009), especialista em Interdisciplinaridade pela Faculdade de Educação de Joinville (2002), licenciado em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Estado do Paraná (1993). E-mail: [email protected]
151
potencialidades de cada aprendiz. Quando o estudante se manifesta com questionamentos,
por exemplo, possivelmente está interessado no tema e no seu aprofundamento. Dessa forma,
não se transforma num mero espectador de conhecimentos repassados pelo professor.
Aprender Ciências envolve a iniciação dos estudantes em novas formas de pensamento
e explicação do mundo natural, que é fundamentalmente diferente daquelas disponíveis no
senso comum. Envolve, também, um processo de apreensão das práticas da comunidade
científica e de suas formas particulares de pensar e ver o mundo. Entende-se que os
conhecimentos ensinados nas aulas de Ciências devam auxiliar os estudantes na construção de
uma cultura científica. Essa cultura tem em vista um entendimento dos fenômenos do mundo
físico e dos aspectos ambientais necessários para a manutenção da vida, além da compreensão
dos processos de produção do conhecimento humano e da tecnologia, suas aplicações,
consequências e limitações (SCHROEDER, 2008).
Cientes da emergência e importância da educação científica das crianças e dos
adolescentes, a SEMED promoveu diversas ações, juntamente com as escolas e seus
professores de Ciências, para dinamizar esse ensino, entre elas, a implantação dos Clubes de
Ciências. Essa ação foi ao encontro dos anseios de muitos professores que sempre viram nos
Clubes de Ciências uma oportunidade para a aprendizagem e para o desenvolvimento
intelectual dos seus estudantes.
A implantação dos Clubes de Ciências pela SEMED aconteceu com a finalidade de
desenvolver, por meio da educação científica, o entendimento dos fenômenos do mundo físico
e dos aspectos ambientais necessários para a manutenção da vida, além da compreensão dos
processos de produção do conhecimento humano e da tecnologia, suas aplicações,
consequências e limitações. Além desse objetivo central, propor via formação científica uma
compreensão do mundo muito mais completa e interessante, conduzindo os estudantes para a
utilização dos conhecimentos adquiridos, integrados a valores éticos que os auxiliem na
tomada de decisões e na sua emancipação social e cultural. Como objetivos específicos, o
desenvolvimento de habilidades científicas como a observação, a escrita, o pensamento
crítico, a aplicação de conhecimentos científicos entre outros. Além disso, desenvolver
metodologias que estimulem a motivação dos estudantes frente aos conceitos de Ciências, que
incentive a curiosidade científica por meio de experiências significativas.
No ano de 2005, por iniciativa da SEMED, foram reativados os Clubes de Ciências,
projeto que tinha finalizado na década de 1990. Com o objetivo de aprimorar a educação
científica, os Clubes de Ciências voltaram a fazer parte de algumas escolas que optaram pela
retomada de seus Clubes ou por sua instalação. A coordenação para o ensino de Ciências
152
entre outras atividades ficou responsável pela reestruturação do projeto, bem como pelos
processos de formação dos professores coordenadores, além da organização dos encontros
para socialização de atividades desenvolvidas nos Clubes.
A reimplantação aconteceu por intermédio de um projeto piloto, incluindo os Clubes
de Ciências em 6 escolas da Rede. No ano de 2006, ampliaram-se para doze escolas e, em
2007, quatorze escolas já desenvolviam seus Clubes. No ano de 2008, em função da
catástrofe72 que se abateu sobre o município, apenas 5 Clubes se mantiveram ativos, uma vez
que a cidade tinha outras prioridades. No ano de 2009, ampliou-se a oferta dos Clubes para 10
escolas. No ano de 2010, com a nova proposta de reorganização da SEMED, formou-se a
Diretoria de Programas e Projetos Integrados – DPPI, que centralizou todos os programas e
projetos numa nova logística de trabalho. A partir desse momento as escolas interessadas no
desenvolvimento de um Clube de Ciências também necessitavam concretizar sua intenção por
intermédio de um projeto. No ano de 2011, havia 9 Clubes de Ciências ativos na Rede
Municipal de Ensino de Blumenau.
A partir do ano de 2012 em diante, o projeto teve a participação do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, por intermédio do subprojeto
Biologia, da Universidade Regional de Blumenau – FURB. A atuação do PIBID já ocorre há
cerca de 6 anos e tem trazido contribuições significativas. Contributos acerca do
desenvolvimento de Clubes de Ciências, da educação científica dos estudantes clubistas, dos
professores de Ciências coordenadores dos Clubes (que são Bolsistas Supervisores), bem
como dos licenciandos do curso de Ciências Biológicas (Bolsistas Licenciandos), que
vivenciam na prática o movimento de formação do futuro professor de Ciências.
Atualmente, a Rede Municipal atende 5 Clubes, efetivamente implantados e com
projetos em andamento. Os 5 professores de Ciências que coordenam as atividades nos
Clubes de Ciências dedicam 5 horas aula, dependendo do número de estudantes que compõem
a escola, recebendo instruções e apoio logístico da coordenação da SEMED, bem como do
PIBID - subprojeto Biologia.
O projeto Clubes de Ciências tem como finalidade principal proporcionar um espaço
para que os estudantes tenham oportunidade de desenvolver habilidades e atitudes científicas,
além de contribuir para a construção do conhecimento. Atualmente, o projeto conta com a
participação de cerca de oitenta estudantes do ensino fundamental, que participam mais 72No mês de novembro de 2008, após consequentes meses de chuvas intensas, o município de Blumenau teve um grande número de deslizamentos em diferentes bairros, além de inundações, desabrigando muitas famílias e levando tantas outras a óbito. A prioridade do governo municipal foi o restabelecimento das condições humanas na cidade.
153
ativamente das atividades e transformam-se em multiplicadores, isto é, interagem com os
demais estudantes que optaram por não participar do Clube de Ciências da escola. Dessa
forma, por exemplo, o Clube, ao desenvolver um projeto de iniciação científica, visa estender
suas ações e atender não somente a unidade escolar, mas a comunidade onde está inserido.
Professores e coordenação da SEMED deliberaram os seguintes objetivos específicos:
(i) desenvolver no estudante a curiosidade e o interesse pela investigação, fazendo uso de
bibliografias diversas, da experimentação e utilizar a metodologia científica; (ii) desenvolver
nos estudantes a solidariedade, o respeito e a tolerância, incentivando campanhas que
promovam essas atitudes na escola; (iii) despertar atitudes de respeito para com as pessoas e o
meio ambiente; (iv) incentivar a prática da leitura como fonte de informação e da escrita como
instrumento de comunicação de ideias; (v) identificar jovens talentos e incentivar sua
participação nas Feiras de Ciências; (vi) incentivar o interesse pelo aprendizado de Ciências,
formando uma atitude científica diante dos fatos e fenômenos da natureza (MENEZES, 2012).
A participação das crianças e adolescentes no Clube de Ciências é feita por meio de
um convite do professor coordenador, que apresenta os objetivos, a organização do trabalho
que precisa ser feito, enfim, os desafios associados à proposta. Isso inclui, por exemplo, a
participação desses estudantes na construção dos estatutos, na organização dos espaços, na
definição das diretrizes, na escolha das atividades e projetos de iniciação científica, além da
escolha do nome do Clube da escola. Mas, afinal, o que é um Clube de Ciências e quais as
suas contribuições para a formação dos estudantes participantes?
2 O QUE É UM CLUBE DE CIÊNCIAS E SUAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES
PARA A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Chassot (2003) apresenta a ciência como uma linguagem para facilitar a leitura do
mundo, entretanto, insistindo na necessidade de se considerar que essa linguagem é uma
construção humana, logo, mutável e falível, sem as certezas absolutas (CHASSOT, 2002). Em
uma tentativa de significação para compreender o que é ciência, pode-se asseverar que se trata
de uma das formas em que o conhecimento humano se apresenta considerado no sentido
estrito de aquisições intelectuais (GERALDO, 2009). Pode-se identificar um significativo
número de conhecimentos que compõem a cultura: o conhecimento mitológico, o
conhecimento religioso, o conhecimento técnico, o conhecimento artístico, o conhecimento
filosófico, o conhecimento científico. Entretanto, não se poderia deixar de fazer referência ao
154
conhecimento popular, também denominado de conhecimento do senso comum, empírico ou
conhecimento prático. Conforme argumenta Geraldo (2009), em uma análise pode-se
claramente ressaltar que esses conhecimentos não se encontram desconexos, pois se
interpenetram, influenciam-se reciprocamente. O conhecimento popular, por exemplo, pode
ser compreendido, muitas vezes, como um amálgama entre este e o conhecimento técnico,
místico, religioso e até científico, todos assimilados rotineiramente, de forma não sistemática,
na tentativa de promover e viabilizar ações que respondam às demandas do cotidiano.
Como prática social particular e relevante, cada tipo de conhecimento apresenta suas
delimitações. Assim, por meio da ciência se procura compreender, de uma forma muito
objetiva, a natureza e suas relações lógicas, isso por intermédio de uma linguagem simbólica.
A ciência é construída na medida das necessidades e interesses, seja controlando a natureza,
conservando-a ou até mesmo transformando-a, com objetivos claros, a partir dos problemas
que acabam aparecendo ao longo da história humana (SCHROEDER, 2008).
A ciência, como uma manifestação do conhecimento humano, propõe modelos
interpretativos da realidade, desenvolve leis e teorias. Embora o conhecimento científico seja
considerado como um conjunto de informações específicas sobre os fenômenos naturais está
organizado a partir de uma estrutura que prima pela objetividade, a lógica e o questionamento
metódico, sem perder sua base geral objetiva, característica geral do conhecimento
(CHALMERS, 1993).
O conhecimento científico, sem dúvidas, trata-se da forma mais desenvolvida de
conhecimento nas sociedades atuais. Segundo Geraldo (2009), a ciência apresenta em seu
conteúdo e seus métodos elementos basilares da constituição do homem moderno. Constitui
um direito do indivíduo na atual conjuntura, pois é esse conhecimento que contribuirá para o
desenvolvimento das suas capacidades humanas de uma forma plena do exercício da
cidadania e o livre acesso aos bens materiais e intelectuais do mundo desenvolvido.
Na atualidade, o conhecimento científico passou a ser uma importante ferramenta,
condição primordial para o desenvolvimento de uma nação. Geraldo (2009) assevera que o
conhecimento científico tem força para transformar ou manobrar as estruturas sociais, pois
são constituídos de uma base consolidada no poder.
Um Clube de Ciências pode vir a se tornar um espaço importante e complementar para
a educação científica nas escolas. Conforme Geraldo (2009), o conhecimento científico pode
ser compreendido como instrumento de desenvolvimento da racionalidade, da “visão crítica”,
da capacidade de problematizar, do trabalho e de transformação social.
155
Mancuso, Lima e Bandeira (1996), argumentam que, desde que se tenha um grupo
mais interessado do que a média das pessoas, buscando aprofundamento em assuntos de seu
interesse pessoal (nesse caso, a ciência), reunidos em horários comuns, já se estaria em
presença de algo que poderia se assemelhar a um Clube de Ciências ou, pelo menos, na
semente que poderia dar origem ao mesmo.
Uma das denominações do que poderia ser um Clube, conforme Mancuso, Lima e
Bandeira (1996) constante na literatura específica, assinala para expressão “Centro de Estudos
de Ciências” onde, entre várias intenções, está a de contribuir para a educação científica, não
só no âmbito escolar, mas em toda a comunidade.
Mancuso, Lima e Bandeira (1996) definem Clube de Ciências como organização em
que os estudantes se dedicam regularmente ao estudo mais aprofundado de temas relacionado
às Ciências Naturais, a partir de problemas específicos e objetivos específicos. Basicamente,
um Clube objetiva incentivar o interesse pela ciência e possibilitar a vivência do “fazer
ciência” como um processo construtivo. Evidentemente, as atividades acontecem sob a
coordenação do professor que orienta o desenvolvimento e a concretização de uma
alfabetização científica muito mais significativa para todos.
A proposta de implantação de um Clube de Ciências está baseada na concepção de que
os conhecimentos científicos são construídos pelos estudantes, em um processo de elaboração
que é pessoal e social, apoiado pelo professor. Nesse processo, o professor tem a função de
orientar e conduzir a aprendizagem por intermédio de atividades que tornem os
conhecimentos científicos muito mais significativos para todos (DELIZOICOV; ANGOTI;
PERNAMBUCO, 2002; GIL- PÉREZ, 2005).
No entanto, a realidade tem mostrado que os estudantes encontram dificuldades e não
conseguem adquirir os conhecimentos científicos básicos necessários para sua alfabetização
científica. Um ensino de Ciências baseado apenas na transmissão de conteúdos priva os
estudantes de diferentes oportunidades. Impede o desenvolvimento das suas habilidades
construtivas, a capacidade de compreensão e aplicação dos conhecimentos e o
desenvolvimento do pensamento e de atitudes como a crítica, o interesse, a dedicação e a
responsabilidade.
Os conhecimentos científicos ensinados na escola, considerando-se o seu valor e o seu
sentido, estão bastante afastados do cotidiano de grande parte dos estudantes. Esses
conhecimentos têm pouco significado e isso dificulta a reflexão e a ação na sua vida
cotidiana. Aprender Ciências envolve a iniciação dos estudantes em novas formas de
pensamento e da explicação do mundo natural, que é fundamentalmente diferente daquelas
156
disponíveis no senso comum. Aprender Ciências envolve, também, um processo de
socialização das práticas da comunidade científica e de suas formas particulares de pensar e
ver o mundo (MENEZES, 2012).
Os conhecimentos derivados das Ciências Humanas e Naturais necessitam ampliar as
experiências dos estudantes na construção de concepções adequadas sobre o meio natural,
social e tecnológico (BUCH; SCHROEDER, 2010). Um Clube de Ciências não visa à
formação de futuros cientistas, mas sim, à aproximação dos estudantes aos temas
significativos e à vivência do “fazer ciência”. Neste sentido, o cotidiano dos estudantes
contém fortes indicadores para a seleção de conteúdos mais próximos de seus interesses e dos
problemas mais imediatos. Poder-se-ia acrescentar, ainda, como objetivos, o desenvolvimento
de habilidades científicas como a problematização, a observação, a crítica, a aplicação de
conhecimentos entre outras importantes habilidades.
O processo de educação científica implica numa compreensão do mundo muito mais
completa e interessante, conduzindo os estudantes para a utilização dos conhecimentos
adquiridos, integrados a valores éticos que os auxiliem na tomada de decisões e na sua
emancipação social e cultural, conforme as contribuições de Chassot (2003; 2008) e Fourez
(1997; 2003).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência acumulada pela Rede, a partir do Projeto Clube de Ciências, agora
também com a participação do PIBID, permite diferentes indicadores de formação de todos os
envolvidos no projeto, sobretudo dos professores coordenadores e dos estudantes licenciandos
do curso de Ciências Biológicas da universidade.
Objetivando a educação científica dos estudantes, onze indicadores são apresentados
em dois movimentos de formação: as reflexões teórico/epistemológicas associadas ao se
pensar um Clube de Ciências (por que fazer) e o aprofundamento das questões relacionadas à
prática cotidiana (como fazer). Esses indicadores poderão inspirar futuros processos de
formação pela Rede, bem como contribuir para uma reestruturação dos pressupostos e
objetivos dos Clubes de Ciências, constantes no projeto, concebido pela SEMED de
Blumenau.
Sobre as reflexões teórico/epistemológicas, conforme Menezes (2012) sugere-se:
1. A discussão e o aprofundamento sobre concepções de ciência e natureza da ciência.
157
2. O aprofundamento de temáticas sobre a concepção empirista-indutivista, ainda
presente em algumas práticas feitas nos Clubes de Ciências.
3. O estudo do papel da história da ciência no processo de construção dos conhecimentos
científicos.
4. O aprofundamento a respeito das relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade.
5. A discussão sobre as relações entre alfabetização científica e educação científica.
6. O estudo sobre a relação entre a linguagem e a ciência.
7. A discussão sobre os processos de construção do conhecimento científico pelos
estudantes.
No que diz respeito às questões relacionas à prática, recomenda-se:
1. O desenvolvimento de projetos de iniciação científica (concepção, organização,
efetivação, síntese e socialização).
2. O aprofundamento do papel da leitura e da escrita como condição da atividade
científica.
3. O esclarecimento do papel da modelização nos Clubes de Ciências (saber construir e
estruturar o saber científico).
4. A elucidação do papel das atividades laboratoriais: o desenvolvimento de um Clube de
Ciências na escola não precisa, necessariamente, de sofisticação tecnológica ou de grandes
laboratórios, pois, esse entendimento, de certa maneira, inibe a iniciativa do professor em
concretizar suas ideias.
Considera-se fundamental repensar os Clubes de Ciências em desenvolvimento na
Rede Municipal de Ensino de Blumenau, levando-se em consideração a história já construída
até aqui. Isso porque há significativos avanços que não podem ser desconsiderados,
ressaltando-se o empenho e o comprometimento dos professores coordenadores que sempre
almejam fazer o melhor possível, bem como da coordenação do subprojeto Biologia. E isso já
foi comprovado nos encontros para socialização, efetivados pela Rede Municipal de Ensino
de Blumenau, bem como pelo PIBID.
O que se propõe é a construção de um Clube que consiga promover, de fato, a
educação científica dos estudantes. Só assim o “saber Ciências” passará a ter muito mais
significado dentro e fora dos espaços das escolas.
158
REFERÊNCIAS
BUCH, G.; SCHROEDER, E. Clubes de Ciências e educação científica: concepções dos professores coordenadores da Rede Municipal de Ensino de Blumenau (SC). 2010. 39 p. Universidade Regional de Blumenau, FURB - Blumenau, 2010. Trabalho de Conclusão de Curso. CHALMERS, A. F. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993. CHASSOT, A. Sete escritos sobre educação e ciência. Cortez: São Paulo, 2008. _____. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 4 ed. Ijuí: UNIJUI, 2003. _____ . As Ciências através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. In.: DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. FOUREZ, G. Alfabetización Científica Y Tecnológica: Acerca de lãs finalidades de la enseñanza de lasciencias. Buenos Aires - Argentina. Ediciones Colihue, 1997. _____. Crise no ensino de Ciências? Investigações em ensino de Ciências, v.8, n.2, 2003. Disponível em:<http://www.if.ufrgs.br/ienci/?go=artigos&idEdicao=26> Acesso em: 03 de maio de 2017. GERALDO, A. C. H. Didática de Ciências naturais: na perspectiva histórico-crítica. Campinas: Autores Associados, 2009. GIL-PÉREZ, D.; et al. Superação das visões deformadas da ciência e da tecnologia: um requisito essencial para a renovação da educação científica. In: CACHAPUZ, A. et al. A necessária renovação do ensino das Ciências. São Paulo: Cortez, 2005. MANCUSO, R.; LIMA, V. M. R.; BANDEIRA, V. Clubes de Ciências: criação, funcionamento, dinamização. Porto Alegre: SE/CECIRS, 1996. MENEZES, C. Clubes de Ciências: contribuições para a educação científica nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Blumenau – SC. 2012. Dissertação. Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2012. SCHROEDER, E. A teoria histórico-cultural do desenvolvimento como referencial para análise de um processo de ensino: a construção dos conceitos científicos em aulas de Ciências no estudo de sexualidade humana. 2008. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
159
ESCOLA CRIATIVA E SUSTENTÁVEL: O PERCURSO DA E. B. M. VISCONDE DE TAUNAY.
Jeane Pitz Pukall73
Vera Lúcia de Souza e Silva74 1 INTRODUÇÃO
A escola pode se tornar um espaço de contribuição para o despertar de uma
consciência diante de padrões de percepção sobre a realidade, do sentido da vida e do ser
humano neste universo planetário que nos toca viver (TORRE; ZWIEREWICZ, 2012). Desse
modo, a escola e seu processo pedagógico podem contribuir para uma ampliação de tomada
de consciência em relação às possibilidades oferecidas na direção de atitudes e reflexões
acerca da sustentabilidade.
A educação é elemento fundamental na construção de uma sociedade do
conhecimento. Educar, nessa sociedade, requer ampliação de horizontes da prática pedagógica
fragmentada e repetitiva para vivências de aprendizagem mais voltadas para a formação
contínua e contextualizada do ser humano.
Morin (2000) preconiza que é preciso aprender a contextualizar os conhecimentos,
pois o conhecimento progride não tanto por sofisticação, formalização e abstração, mas,
principalmente, pela capacidade de contextualizar e englobar. Assim, é necessário que a
escola se torne um lócus de processos de aprender para o desenvolvimento de atitudes de
responsabilidade e autonomia que visam à construção contínua de conhecimento.
Para se tornar esse lócus, a gestão e professores da Escola Básica Municipal
Visconde de Taunay – EBMVT entendem, baseados no que defende Morin (2002), que é
preciso reformar o pensamento para reformar a instituição, mas que se faz necessária a
reforma da instituição para reformar o pensamento. Dessa forma, ao longo de sua história, a
EBMVT passou por várias reformas em seu currículo, que possibilitassem a formação integral
do ser humano. Foi a construção do Projeto Escola Sustentável juntamente com as
certificações recebidas que também possibilitaram essa reforma.
73 Licenciada em Pedagogia (FURB, 1993), especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (UNIASSELVI, 2006) e mestre em Ensino de Ciências e Matemática (FURB, 2016). E-mail: [email protected] 74 Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas (FURB,1983), mestre em Educação (FURB, 1999) e doutora em Engenharia de Produção (UFSC, 2003). E-mail: [email protected]
160
A EBMVT teve sua origem como uma escola particular alemã em 1903. Atualmente,
atende cerca de 850 estudantes do pré-escolar ao nono ano do ensino fundamental. Está
localizada na região Norte do município de Blumenau-SC, no bairro Itoupava Central, numa
área urbana privilegiada, pois ainda predominam matas, córregos e animais silvestres. A
escola contempla uma das maiores áreas físicas da rede municipal de Blumenau, com
41991,21 m² distribuídos em área construída, bosques, campos esportivos e amplo espaço
natural para processos educativos inovadores e criativos.
Foi a partir da percepção do entorno escolar como espaço com potencial educativo a
ser utilizado nas práticas pedagógicas que a comunidade escolar elaborou, no ano de 2011, o
Projeto Escola Sustentável, uma proposta ecoformadora e criativa para (re) organizar os
espaços e o currículo.
2 O PROJETO ESCOLA SUSTENTÁVEL
Para ser considerada sustentável (BRASIL, 2012) a escola deverá estar atenta a três
dimensões que estão inter-relacionadas: gestão, espaço físico e currículo.
A gestão cuida e educa, pois encoraja o respeito à diversidade, a mediação pelo
diálogo, a democracia e a participação, dessa forma o coletivo escolar constrói mecanismos
mais eficazes para a tomada de decisões (BRASIL, 2012). A Gestão da EBMVT é percebida,
desde o início do projeto, como compartilhada, pois o Projeto Escola Sustentável foi criado e
elaborado em parceria com professores, estudantes, comunidade e parceiros do projeto.
Em 2011, após visitar o Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, em Goiás,
os gestores e professores da EBMVT pensaram em reorganizar os espaços da escola de
maneira sustentável. Iniciou-se a elaboração coletiva, escola com a comunidade, do Projeto de
Escola Sustentável, cujo objetivo era adotar práticas de sustentabilidade na escola, adaptando
seus espaços e tempos para sensibilizar estudantes e famílias de que as mudanças no planeta
começam em casa, na escola e na comunidade.
Em 2012, ficou assegurada pelo secretário de educação a contratação de uma
professora articuladora do projeto. Os professores, então, foram convidados a incluir o projeto
em seus planejamentos curriculares, pois entendemos que além dos espaços sustentáveis e a
gestão compartilhada, a inclusão de conhecimentos contextualizados e voltados a práticas
sustentáveis devem compor o currículo num Projeto de Escola Sustentável.
Desde então a escola se tornou referência na região, recebendo visitas de outras
instituições de ensino e secretarias de educação a fim de entender o desenvolvimento do
projeto. Além disso, a escola passou a ser espaço de pesquisas universitárias dentro dos
161
pressupostos da ecoformação e da transdisciplinaridade, bem como da alfabetização
científica.
Durante a qualificação de nossos processos educativos tivemos a Universidade
Regional de Blumenau - FURB como importante parceira na escrita e fundamentação teórica
do projeto escola sustentável, assim como para valorizar e tornar a escola um lócus de
reflexão e ação para a promoção de práticas pedagógicas inovadoras e criativas.
Ainda em 2012, a EBMVT foi a primeira escola a ser campo de pesquisa da Rede
Internacional de Escolas Criativas75 (RIEC) em Blumenau e recebeu o Certificado de Escola
Criativa, em maio de 2013. A escola foi escolhida para uma pesquisa sobre criatividade pela
RIEC FURB, que resultou num Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, da acadêmica
Daiana Cardoso, orientada pela professora Vera Lúcia de Souza e Silva e foi publicada na
REID-Revista Electrónica de Investigación y Docencia76 (CARDOSO; SILVA, 2014). A
pesquisa baseada em 100 critérios de Valoração do Desenvolvimento Criativo de Instituições
Educativas propostas pelo VADECRIE77 (Instrumento para valorizar o desenvolvimento
criativo das instituições de ensino) identificou a EBMVT como Instituição Criativa.
Posteriormente foi enviado o relatório de pesquisa para a Universidade de Barcelona, para
avaliação, com pedido oficial da RIEC FURB para reconhecimento como Escola Criativa. A
avaliação foi feita pelo conselho gestor da RIEC (Universidade de Barcelona) e a diplomação
aconteceu em maio de 2013 (ANDRADE; PUKALL; SILVA, 2014).
Em 2015, o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação – MEC78, fez uma
chamada pública para identificar e conhecer iniciativas inovadoras e criativas na educação
básica. De 683 instituições inscritas, 178 foram reconhecidas como inovadoras e criativas
segundo os seguintes critérios avaliados: Gestão, Currículo, Ambiente, Metodologia e
Intersetorialidade. A EBMVT foi uma das cinco escolas catarinenses a receber o certificado
nacional de Escola Inovadora e Criativa.
A escola tem um papel fundamental na formação de cidadãos criativos e
comprometidos, que possam identificar problemas da sua realidade e solucioná-los por meio
do que aprendem. Numa sociedade em transformação e cada vez mais desenvolvida
necessitamos de um sistema de ensino mais atento às necessidades na formação de estudantes
para essa realidade. 75Rede Internacional de Escolas Criativas (RIEC), disponível nas páginas eletrônicas: Brasil: www.escolascriativas.com.br e na Espanha: www.escuelascreativas.com 76https://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/reid/article/download/1226/1082 77Instrumento para Valorar el Desarrollo Creativo de las Instituciones Educativas. 78http://criatividade.mec.gov.br/
162
Dessa forma, uma escola sustentável possibilita uma formação que busca por uma
educação transdisciplinar e ecoformadora, que possa contribuir para mudanças significativas
nas estruturas sociais, econômicas e culturais como um desafio no século XXI (SILVA;
TORRE, 2014). Educar para a sustentabilidade vai muito além do cuidado com o Meio
Ambiente e tem como pressupostos o ensino de valores, o cuidado com o planeta e com as
pessoas.
Por isso escolas que têm esses pressupostos precisam se preocupar com a
transformação da prática educativa que contemple as dimensões cognitiva, emocional,
corporal e espiritual do estudante (MENCHÉN, 2013). Assim estaremos educando para a
compreensão de que tudo está interconectado e que o conhecimento se constrói de forma
articulada e contextualizado com a vida dos estudantes. Dessa forma, a gestão escolar precisa
estar atenta aos processos de formação continuada de seu coletivo de professores para que as
transformações necessárias para uma escola desse tempo se concretizem.
As Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN (BRASIL, 2015), em seu capítulo VI,
sugere que a formação continuada de professores leve em consideração o projeto pedagógico
das instituições e os problemas e desafios do contexto em que a escola está inserida.
Acreditamos, assim como Nóvoa (1992), em uma formação caracterizada como um processo
permanente, em que a escola é concebida como um ambiente formativo, onde trabalhar e
formar não sejam atividades distintas.
Entendendo a escola como um espaço formativo, os professores procurarão por
práticas pedagógicas que possibilitem o desenvolvimento da autonomia, da criatividade, do
espírito colaborativo e da transformação do estudante na construção do conhecimento. Para
isso é preciso romper com algumas convicções que muitos de nós, professores, temos com
relação à educação: os currículos prescritos, a atenção voltada mais aos conteúdos do que aos
estudantes, a supervalorização de algumas disciplinas, como Língua Portuguesa e
Matemática, e o valor à nota como principal índice de desempenho escolar (TORRE, 2013).
Para Pineau (2008) uma formação docente a partir da transdisciplinaridade se
converte em ecoformação, ou seja, uma formação integradora daquilo que está ao nosso redor.
Para isso requer três eixos complementares: a autoformação (relação consigo mesmo), a
heteroformação (relação com o outro) e a ecoformação (relação com o meio ambiente).
A ecoformação possibilita “uma educação para o compromisso com a Terra em
escala planetária, em sentido amplo” (MALLART, 2008, p.235). Pode-se dizer que a
ecoformação permite um trabalho que vai muito além do cuidado com o meio ambiente. É um
163
trabalho que se preocupa com as pessoas e com o meio em que estão inseridas, assim como a
valorização por sermos cidadãos da Terra.
As transformações das práticas pedagógicas para uma concepção inovadora de
ensino dependem de vontade e disponibilidade da equipe gestora e dos professores da escola.
Ao escolhermos o trabalho com projetos, como prática criativa e inovadora, assumimos um
trabalho de construção coletiva, que partisse dos interesses de estudantes e professores. Torre
e Zwierewicz (2009) afirmam que o trabalho com projetos é uma proposta de ensino baseado
nos interesses e necessidades dos estudantes e professores. E que vão além de um ensino
fragmentado, gerando aprendizagens significativas para a vida. Dessa forma, conseguimos
agregar os componentes curriculares necessários a cada ano escolar, num trabalho
contextualizado, dentro de um tema de interesse e ou necessidade dos estudantes.
A metodologia dos Projetos Criativos Ecoformadores – PCE foi criada em 2009, por
Marlene Zwierewicz e Saturnino de la Torre, como um referencial metodológico criativo e
com base em um ensino a partir da vida e para a vida. Tem como pressupostos teóricos e
metodológicos o Paradigma da Complexidade, a Transdisciplinaridade e a Ecoformação.
Como o PCE é um projeto com olhar transdisciplinar e ecoformador (TORRE;
ZWIEREWICZ, 2009), o que o diferencia dos demais projetos é a preocupação em relacionar
três elementos:
cognição: é preciso construir e desenvolver saberes;
emoção: é a dimensão emocional que tornará a aprendizagem significativa e relevante;
ação: desenvolver em cada pessoa o reconhecimento de si mesmo como cidadão da
Terra e gerar uma ação sustentável para com os outros e com o planeta.
A integração desses três elementos contribui para o desenvolvimento integral dos
estudantes, numa educação contextualizada com a vida. Pois, se no processo de aprendizagem
o estudante se envolve emocionalmente com o tema proposto, ele buscará por novos saberes
que o ajudarão a ter atitudes mais dinâmicas e sustentáveis. Dessa forma demonstrará uma
atitude ecoformadora de cuidado consigo, com o outro e com o meio.
A EBMVT implementou um processo de (Eco)formação continuada de professores,
baseada na metodologia dos PCE, a partir da pesquisa de mestrado da professora articuladora
do Projeto Escola Sustentável da EBMVT, Jeane P. Pukall79. Esta formação teve 50 horas, no
período de agosto de 2015 a setembro de 2016, com a participação de 20 professores.
79 Disponível em: http://www.bc.furb.br/docs/DS/2017/362602_1_1.pdf. Acesso em: 13 abril 2018.
164
A grande mudança na prática pedagógica com o PCE é educar a partir de situações
reais, que permitam a articulação do conhecimento acadêmico ao cotidiano de cada estudante.
“A utilização do PCE contribui para a transformação de problemáticas locais/globais, já que
em sala de aula a ênfase é uma educação comprometida com a vida e, portanto, com o bem-
estar das pessoas, da sociedade e da natureza” (ZWIEREWICZ et al, 2015, p. 214).
Como forma de facilitar o entendimento da aplicação de um PCE, foram criadas
diferentes etapas para sua realização. Todas as etapas contemplam os pressupostos teóricos da
criatividade, da transdisciplinaridade e da ecoformação. Assim as etapas não são lineares, são
complexas e estão interligadas, apresentam-se em forma circular, como se o projeto não
tivesse um fim.
Essas etapas são os organizadores conceituais do PCE, que segundo Torre e
Zwierewicz (2009) funcionam como uma rota de expedição em busca daquilo que queremos
alcançar. Mas não há caminhos estabelecidos, pois a incerteza é o ponto de partida e os
objetivos são definidos conforme se avança. A (Eco)formação continuada dos professores da
EBMVT foi estruturada a partir dos organizadores conceituais do PCE.
Figura 1: Organizadores conceituais do PCE
Fonte: Adaptado de Zwierwicz (2009)
Dessa forma, foram planejados e implementados, no ano de 2016, nove PCE pelos
professores da escola, que foram apresentados à comunidade escolar na Mostra Cultural da
escola, no mês de setembro. Os PCE foram publicados no livro Projetos Criativos
Ecoformadores na Educação Básica: uma experiência em formação de professores na
perspectiva da criatividade80, como produto da (Eco)formação continuada.
80 Disponível em: http://bu.furb.br/consulta/novaConsulta/recuperaMfnCompleto.php?menu=avancada&CdMFN=362604. Acesso em: 14 abr 2018.
165
PCE Deu Bicho nas Cantigas (foto 1): desenvolvido com os estudantes dos 1.ºs anos
e sua professora regente, partiu do interesse e gosto das crianças pelas cantigas de roda,
principalmente as que envolvem animais na letra da música.
PCE Zooplantas (foto 2): consiste em um canteiro com plantas com nomes de animais
e foi desenvolvido pelos estudantes do 4.º ano D e 5.º ano D, juntamente com a professora de
Arte. O projeto partiu da necessidade de trabalhar com canteiros que completassem o estudo
peculiar das plantas e do meio ambiente como uma forma convidativa, além da teoria.
PCE Natureza-Nossa Mãe e Irmã (foto 3): desenvolvido com os estudantes dos 5.ºs
anos e a professora de Ensino Religioso, a partir da necessidade de orientar os estudantes a
refletir sobre como os seres humanos ocupam e organizam os espaços geográficos nos dias
atuais e o modo como a sociedade se estrutura e influencia as relações com o meio ambiente,
com os outros e consigo mesmo.
PCE Horta Geométrica (foto 4): desenvolvido com os estudantes do 8.º ano A, foi um
trabalho interdisciplinar envolvendo os componentes curriculares de Educação Física, Arte e
Ciências e contou com a ajuda da professora de Apoio Pedagógico da turma. O projeto
consiste em uma horta feita em canos de PVC, suspensa, ocupando pouco espaço e facilitando
a manutenção.
PCE Álbum dos animais (foto 5): projeto desenvolvido com os estudantes do 1.º ano D
e a professora regente. Envolveu os componentes curriculares de Língua Portuguesa,
Matemática, Geografia e Ciências e teve como objetivo organizar com as crianças um álbum
de figurinhas com os animais vistos no zoológico durante o passeio de estudos.
PCE Plantando e Encantando (foto 6): desenvolvido com os estudantes dos 3.ºs anos
B e D e 4.ºs anos A e C, juntamente com as professoras regentes e professora de Apoio
Pedagógico. Consiste na construção de uma espiral de plantas e de uma composteira com
minhocas, que possibilitou um trabalho interdisciplinar e ecoformador.
PCE Biomas e Minecraf (foto 7): desenvolvido com os estudantes dos 6.ºs anos e os
professores de Ciências e Informática. A proposta do jogo foi trazida pelos estudantes durante
a apresentação da professora de Ciências sobre o assunto Biomas. O assunto foi abordado e
trabalhado a partir do jogo Minecraft e o resultado foi muito além do esperado.
PCE Minha escola, minha vida (foto 8): desenvolvido com os estudantes dos 6.ºs anos
do período matutino em parceria com os componentes curriculares de Língua Portuguesa,
Arte e Ensino Religioso. O tema foi escolhido tendo como base as percepções dos estudantes
acerca da escola e as memórias literárias dos ex-estudantes.
166
Fonte: EBMVT
Legenda: 1) PCE Deu Bicho nas Cantigas; 2) PCE Zooplantas; 3) PCE Natureza- Nossa Mãe e Irmã; 4) PCE
Horta Geométrica; 5) PCE Álbum dos Animais; 6) PCE Plantando e Encantando; 7) PCE Biomas e Minecraft; 8)
PCE Minha Escola, Minha Vida.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É fato que quando a escola se propõe a desenvolver um projeto envolvendo a gestão,
professores, funcionários, estudantes e pais, fundamentado na ecoformação e criatividade, o
processo de ensinar e de aprender pode sofrer transformações. Os resultados dessa (Eco)
formação nos mostram possibilidades de humanização e transformação das formações
167
continuadas de professores, resultando em avanços nas práticas docentes na direção de
práticas ecoformadoras.
A Mostra Cultural da escola revelou o quanto o trabalho repercutiu na prática
pedagógica dos professores a partir dos princípios da ecoformação e da transdisciplinaridade.
Os trabalhos apresentados pelos estudantes mostravam um conhecimento muito além das
disciplinas. O processo de formação por meio do PCE estimulou os professores a registrarem
seu trabalho e a desejarem polinizar sua experiência para além dos muros da escola.
Por meio do PCE foi possível identificar limites e possibilidades na escola, partindo
do olhar conjunto dos professores. Transformamos o conhecimento em consciência,
polinizamos nossas ações e percebemos que uma educação contextualizada, a partir da vida e
para a vida, transcende qualquer conteúdo. O PCE, sem dúvida, nos auxiliou na promoção de
uma formação de professores transformadora e preocupada com uma educação integral e
globalizada.
REFERÊNCIAS:
ANDRADE, R.; PUKALL, J. P.; SILVA, V. L. S. Escola Sustentável e Rede de Escolas Criativas: parceria entre escola e universidade. In: SCHROEDER, E.; SILVA,V. L. S. (Orgs) Novos Talentos: processos educativos em ecoformação. Blumenau: Editora Legere, 2014, p. 231-243. BLUMENAU (SC). Escola Básica Municipal Visconde de Taunay. Projeto Político Pedagógico. Blumenau, 2014. BRASIL. Ministério da Educação - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Vamos Cuidar do Brasil com Escolas Sustentáveis: educando-nos para pensar e agir em tempos de mudanças socioambientais globais. Brasília: Mec, 2012. _______. _______. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n.º 2, de 1.º de julho de 2015. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada. Brasília, 2015, cap.VI, p. 14. CARDOSO, D.; SILVA, V. L. S. Investigación sobre la creatividad en una escuela de la Red Pública de Blumenau - SC. Revista Electrónica de Investigación y Docencia (Reid), Jáen, Espanha, n. 11, p. 107-122, 01 jan 2014. Semestral. Disponível em: <http://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/reid/issue/view/129>. Acesso em: 07 abr 2016. MALLART, J. Ecoformação – Além da educação ambiental. In: TORRE, S.; PUJOL, M. A.; MORAES, M. C. (Org.). Transdisciplinaridade e Ecoformação: um novo olhar sobre a educação. São Paulo: Triom, 2008, p. 235-260. MENCHÉN, F. A escola galática, a escola criativa transformadora: uma nova consciência. In:TORRE, S.; PUJOL, M. A.; SILVA,V. L. S. Inovando na sala de aula: instituições transformadoras. Blumenau: Nova Letra, 2013, p. 32-51.
168
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169
MÃOS QUE FALAM: TRABALHANDO COM LIBRAS NO CEI PROFESSORA
ELZIRA HORNBURG
Ana Carla Miguel Figueredo81
Izabel Cristina dos Santos Ribeiro82 Janete Gomes Americano83
Patrício Fernando Veja Garrao84 Sônia Maria Dias Aragão85
1 INTRODUÇÃO
O Centro de Educação Infantil – CEI Professora Elzira Hornburg foi fundado em
agosto de 2011 e, atualmente, atende cerca de 140 crianças. No ano de 2016, nós, professoras
da turma do pré-escolar I (crianças de 3 a 4 anos), observamos que uma criança com
deficiência auditiva estava sentindo dificuldade para acompanhar as atividades e propostas
oferecidas. Apesar de a criança já estar na unidade há dois anos e sempre ter sido
acompanhada por professora intérprete, não havíamos ainda conseguido um desenvolvimento
satisfatório acerca do uso da linguagem de sinais. Então buscamos apoio junto ao professor
intérprete de Libras dessa turma, surgindo desde então, o projeto intitulado: Mãos que falam,
Libras na educação infantil. O projeto não se restringiu à turma em que a criança estudava.
Ele foi estendido para todos os profissionais da instituição que demonstraram interesse.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica: diversidade
e inclusão, no Art. 10:
O projeto pedagógico da escola de ensino regular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua organização: VI - outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção (BRASIL, 2013, p. 164-165).
Sendo assim, buscamos a equiparação de oportunidades na educação e no âmbito do
seu desenvolvimento, pois:
81 Professora na Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Graduada em Pedagogia pela UDESC (2006) e em Artes pelo IPEGEX (2015). E-mail: [email protected] 82 Professora na Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Graduada em Pedagogia pela Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (2007), especialização em Arte Unicesumar (2015). E-mail: [email protected] 83 Professora na Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Graduada em Pedagogia UNIASSELVI (2011). E-mail: [email protected] 84 Professor na Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Graduado em Pedagogia para Surdos e em Educação Especial pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (2010). E-mail: [email protected] 85 Professora na Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Graduada em Pedagogia e Artes pelo IPEGEX (2015). E-mail: [email protected]
170
Pessoas com deficiência são, antes de mais nada, PESSOAS. Pessoas como quaisquer outras, com protagonismo, peculiaridades, contradições e singularidades. Pessoas que lutam por seus direitos, que valorizam o respeito pela dignidade, pela autonomia individual, pela plena e efetiva participação e inclusão na sociedade e pela igualdade de oportunidades, evidenciando, portanto, que a deficiência é apenas mais uma característica da condução humana (BRASIL, 2011a, p.13 – grifo do autor).
Assinalamos que o trabalho realizado foi de suma importância e que, no decorrer do
ano letivo, observamos na criança avanços em sua linguagem e em sua comunicação. Outro
ponto positivo que podemos ressaltar foi que observamos que anteriormente, quando a criança
com deficiência auditiva não conseguia se comunicar, sentia-se incomodada.
O projeto teve como objetivo geral a efetivação da inclusão por meio do aprendizado
da língua de sinais. Optamos pela inserção, de maneira lúdica, da língua de sinais; pela
interação da criança com deficiência auditiva com os colegas, professores e funcionários do
CEI; pelo trabalho do professor de Libras com toda a turma. Partindo dessas definições,
procuramos incluir o planejamento do professor intérprete de Libras, com adaptações, de
maneira que a criança pudesse participar com todos da turma e não com atividades
individuais.
2 COMO TUDO SE DESENVOLVEU
No decorrer do projeto, buscamos bases teóricas fundamentadas em literaturas sobre
deficiência auditiva, filmes baseados em histórias reais e coleções áudio visuais do Ministério
da Educação – MEC. Alguns livros utilizados para fundamentar e compreender não só a
língua de sinais, mas principalmente a cultura surda foi: “Inclusão Social”, de Márcia M. do
Nascimento (2011), “Deficiência Visual e Surdocegueira: encontro pelas mãos”, de Pereira -
Programa de Educação Inclusiva (2009), “As imagens do outro sobre a cultura surda”, de
Karin Strobel (2008), dentre outros. Embasados nessas leituras e com conversas com o
professor também com deficiência auditiva, especialista em Libras, buscamos a cada dia
compreender o cultura surda e a importância das imagens para o entendimento da criança.
Alguns professores motivados pelo tema contribuíram com materiais, o que enriqueceu a
prática dos professores em sala de aula.
Iniciamos o projeto com a leitura da literatura “A casa amarela”86, dialogando com
as crianças sobre a inserção de um amigo com deficiência auditiva na escola. A história
retrata de maneira semelhante a vida da criança que tínhamos no CEI, naquele momento. A
86 Autora: Keila Ferrari.
171
equipe gestora, professores e equipe operacional demonstraram interesse e também vieram
participar, aprender um pouco mais sobre a cultura surda.
Figura 1: Menino (ao centro, de camiseta laranja) ensinando o sinal da palavra arroz em
Libras.
Fonte: Arquivo do CEI.
Por meio do lúdico e das experiências de interações com os pares, professor/criança,
criança/professor, criança/criança, as práticas pedagógicas do cotidiano da sala passaram a ser
bilíngues: Libras e oral. As crianças demonstraram interesse e facilidade em falar usando as
mãos, observamos que o progresso foi contínuo, proporcionando situações envolventes de
aprendizagem durante o ano. Vale considerar a participação dos pais nesse movimento, pois
recebemos inúmeros relatos de que, conforme os dias iam passando e as crianças iam
aprendendo a se comunicar em Libras, consequentemente os pais, em casa, também iam
aprendendo. As crianças comunicavam e ensinavam à família. Chegamos a ouvir relatos de
que já estavam usando Libras em casa para dizer “bom dia” e “boa tarde”, contribuindo na
propagação da língua de sinais, por exemplo.
Outro exemplo ocorreu depois da aprendizagem das cores, quando algumas crianças
começaram a solicitar em Libras objetos ou roupas pelo atributo de cor. Após o início da
aplicação do projeto, observamos que as brincadeiras também adquiriram características
singulares. A exemplo disso, a brincadeira da dança das cadeiras em que foi trocado o som
por jogo de luzes (luzes acesas, sinal para andar e dançar, luzes apagadas, sinal para todos se
sentarem) e todas as crianças podiam participar com muita tranquilidade.
A prática do “Dia de novos experimentos” também foi muito interessante. As turmas
do CEI assistiram ao DVD a “Fábula do guaraná”,87 narrada em Libras. Em outro momento
87 DVD: Educação de Surdos 3, MEC, 2005.
172
experimentaram o suco de guaraná, sentindo o sabor e então observando o fruto. Outra
situação importante foram os cartazes com fotos de alimentos: arroz, feijão, carne, fixados na
parede do refeitório, com os respectivos sinais da língua de Libras.
Observamos o empenho das cozinheiras do CEI em aprender a língua de sinais dos
alimentos mais comuns no cotidiano das refeições das crianças.
A literatura infantil “A Família Sol, Lá, Si” 88, narra a experiência da chegada de um
filho com deficiência auditiva numa família de músicos. A literatura veio ao encontro das
propostas planejadas dentro do projeto de musicalização. Proporcionou às crianças o sentido
das vibrações por meio do tato nos instrumentos musicais e na caixa de som.
Uma observação relevante ao projeto foi o depoimento do professor instrutor de
Libras. Relatou que [...] geralmente a criança com deficiência auditiva se sente isolada dos
demais pela falta e dificuldade de comunicação. O professor aponta que conseguimos criar
uma “ponte” entre os adultos e crianças envolvidas. O ato de observar, perceber e planejar
proporcionou à criança com deficiência auditiva sentimento de inclusão, e, aos amigos de
sala, professoras, equipe gestora, operacional, famílias, compreensão e respeito à deficiência
auditiva num ambiente de ouvintes.
O projeto, por sua importância, sensibilidade e repercussão, chamou a atenção da
mídia. Nesse momento, a mãe da criança com deficiência auditiva relatou seu depoimento:
“Sei que a inclusão de uma pessoa com deficiência na sociedade é difícil e fico muito grata
por ver minha filha sendo aceita desta forma aqui”. A mãe ressaltou ainda de como era
gratificante ver sua filha sendo respeitada e realmente incluída na turma.
Figura 2: Professora faz sinal em Libras do nome da criança
Fonte: Arquivo do CEI.
88 Autora: Márcia Honora.
173
Segundo a coordenadora de Educação Inclusiva da Secretaria Municipal de Educação
de Blumenau – SEMED, o nosso projeto surpreendeu: “Aqui o trabalho foi além da turma em
que a criança está inserida. Abrangeu toda a escola e isso é muito positivo”, falou.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica, os espaços de
educação infantil devem promover o atendimento às crianças contemplando a sua totalidade e
diversidade: O olhar acolhedor de diversidade também se refere às crianças com deficiência [...]. Também o direito dessas crianças à liberdade e à participação, tal como para as demais crianças, deve se acolhido no planejamento das situações de vivências e aprendizagens na Educação Infantil. [...] Isso inclui garantir no cotidiano da Instituição acessibilidade de espaços, materiais, objetos e brinquedos, procedimentos e formas de comunicação e orientações vividas, especificidades e singularidades das crianças com deficiências, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. (BRASIL, 2013, p. 90).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embasados nas pesquisas com as DCMs e materiais citados anteriormente,
constatamos que o projeto alcançou mais do que o previsto inicialmente, pois recebemos
retorno positivo das famílias, dos professores, da equipe gestora, da comunidade escolar, da
equipe multifuncional, da educação especial da secretaria municipal de Blumenau. O projeto
ganhou repercussão nos jornais da cidade89 e ainda alcançou nível estadual, em reportagem
realizada pelo Jornal do Almoço90.
REFERÊNCIAS
BLUMENAU. Diretrizes Curriculares Municipais para a Educação Básica. Educação Infantil, Vol 1. 2012. BRASIL. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: decreto legislativo n.º 186, de 09 de julho de 2008: decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. -- 4. ed., rev. e atual. – Brasília : Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2011. Disponível em:
89 Disponível em: <http://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/secretaria-de-educacao/semed/projeto-do-cei-elzira-hornburg-promove-inclusao-de-aluna-com-deficiencia-auditiva99> Acesso em 07 de dezembro de 2017. 90 Disponível em: <http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/jornal-do-almoco/videos/t/edicoes/v/em-blumenau-escola-desenvolve-projeto-pratico-sobre-a-inclusao/5476865/> Acesso em 07 de dezembro de 2017.
174
<https://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/pdf/acessibilidade/Convencao_PessoascomDeficiencia.pdf>. Acesso em: 30 jan 2018. _________. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEL, 2013. _________. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica: diversidade e inclusão. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEL, 2013. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=17212-diretrizes-curriculares-nacionais-para-educacao-basica-diversidade-e-inclusao-2013&category_slug=marco-2015-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 1 de fev 2018. HONORA, Márcia. Ciranda das Diferenças, São Paulo: Ciranda Cultural, 2008. NASCIMENTO, M. M. do. Inclusão Social: primeiros passos. MÁRCIA M. do Nascimento, Ivete Raffa; Ilustrações Ana Rosa Gonçalves. 2. ed. São Paulo: Rideel, 2011. PEREIRA, L. P. Deficiência visual e Surdocegueira: encontro pelas as mãos. 1. ed. São Paulo: Mais Diferenças, 2009.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda, 3 ed. UFSC, 2008.
175
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COTIDIANO DA ESCOLA MUNICIPAL ALWINO
DOROW
Macilene Venturi91 1 INTRODUÇÃO
A Escola Municipal Alwino Dorow – EMAD, localizada no bairro Fortaleza Alta, na
cidade de Blumenau, é uma escola multisseriada92. Atualmente atende a 77 alunos, sendo oito
turmas divididas em quatro salas. No período matutino, a escola tem uma turma mista de Pré-
II e Pré-III, uma turma mista de 4.° e 5.° anos; no período vespertino, uma turma mista de 1.°
e 2.°anos A e uma turma mista de 2.° ano B e 3.° anos.
A escola possui oito professores, desses, três são regentes de turma. Além dos
professores regentes há um professor de Educação Física, um professor de Arte, um professor
de Língua Alemã, um professor de Informática e um professor de Música, especialista em
instrumento de sopro, como a flauta. Não há coordenador pedagógico, a diretora desempenha
sozinha a função de gestão.
A proposta pedagógica da unidade, construída de forma coletiva pelos educadores e
comunidade escolar, busca garantir uma educação de qualidade para todos. Objetiva o
desenvolvimento integral de seus estudantes, o desenvolvimento do conhecimento científico,
do senso crítico, da criatividade, bem como da capacidade para modificar qualitativamente o
meio em que vivem.
O presente trabalho apresenta um relato de experiência de uma das ações que vem
ocorrendo na escola, desde o ano de 2010, e que a cada ano está se aperfeiçoando. Trata-se do
Projeto de Sustentabilidade como ação pedagógica.
A educação ambiental tem tido grande destaque nos últimos 20 anos, depois da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Essa
91 Pedagoga pela Universidade Regional de Blumenau - FURB (1998). Especialista em Orientação, Supervisão e Gestão Pública Democrática pela Associação Educacional Frei Nivaldo Liebel Ltda – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – FACISA (2011). Atualmente é diretora da Escola Municipal Alwino Dorow, na cidade de Blumenau – SC. E-mail: [email protected] 92 Escolas Multisseriadas são escolas localizadas em pequenas comunidades rurais, em geral, muito afastadas das sedes dos municípios. Nessas escolas, normalmente, o quantitativo de estudantes não é suficiente para formar uma turma por ano/série. Com isso, o agrupamento das crianças é organizado com vistas às aproximações de diferentes anos de escolarização, mas com possibilidade de desenvolvimento de bom trabalho pedagógico. Um único professor regente atua com essa turma mista, além do professor de Educação Física, de Arte e de Alemão.
176
Conferência93 foi estruturada pela Organização das Nações Unidas – ONU e realizada no Rio
de Janeiro, no ano de 1992 (Eco-92), com os chefes de Estado. Tinha como objetivo debater
os problemas ambientais mundiais. O tema Educação Ambiental recebeu destaque e foi
considerado um tema de alta relevância para o planeta. Poucos temas possuem o privilégio de
receber o destaque e a atenção pública que a ONU pode oferecer. No ano de 2012, com o
intuito de renovar e reafirmar a participação dos líderes de mais de 193 países que fazem parte
da ONU, a Conferência volta com o slogan Rio+20 para retomar as discussões sobre o tema
desenvolvimento sustentável do planeta.
Embora os temas debatidos fossem de grande relevância para educação ambiental, o
resultado não alcançou os objetivos esperados. Isso se deu devido a impasses, principalmente
entre os interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, frustrando as expectativas
para o desenvolvimento sustentável do planeta. A partir das discussões dessas duas grandes
conferências (Eco-92 e Rio+20) foi redigido um documento que apresenta várias intenções
estabelecendo medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente para os próximos
anos. Alguns analistas disseram que as negociações sobre o tema abordado foram
prejudicadas pelas tomadas de decisões práticas atribuindo a culpa do insucesso dessas
Conferências à crise econômica mundial nos Estados Unidos e Europa. Depois dessas
Conferências, embora com poucos efeitos sob o caráter de documento norteador das políticas
ambientais, o tema ganhou grande espaço na educação, pois não se pode negar que, embora
polêmico, precisa ser discutido dentro e fora das escolas. Atualmente, todos devem se
conscientizar de que é preciso cuidar do meio ambiente e de que é através de ações pontuais
que se pode alcançar um resultado eficaz, que auxiliará o professor e os estudantes nas ações
que poderão ser desenvolvidas sobre o meio ambiente dentro e no entorno da escola.
Foi partindo desse pressuposto que o projeto de Educação Ambiental teve início na
unidade escolar, que culminou com a importância de trabalhar a reciclagem de materiais e a
horta no âmbito da escola. O tema reciclagem foi abordado com o intuito de desenvolver
práticas que pudessem contribuir para a aprendizagem sobre a questão ambiental, que se torna
cada vez mais urgente. Desenvolveram-se então algumas atividades que pudessem trazer
contribuições a respeito da importância da reutilização de alguns materiais e da compreensão
sobre o tema. Foi por intermédio de um projeto de Educação Ambiental da EMAD que houve
o estímulo ao desenvolvimento de diálogos e atividades práticas com embalagens
93 https://www.suapesquisa.com/ecologiasaude/rio20.htm
177
descartáveis. Apresentou-se aos alunos que o objetivo dos fabricantes é o lucro. Entretanto, a
discussão sobre reciclagem com crianças necessita ser cuidadosa para não estimular o
consumo com vistas ao acúmulo de embalagens em função do projeto. Portanto, é
importante estabelecer um diálogo claro, mostrando de forma simples o processo de coleta de
materiais na escola. Outro aspecto pontual é sobre o uso e o descarte desses materiais. Quando
a escola se propõe a desenvolver atividades com embalagens descartáveis se faz necessário o
esclarecimento sobre o destino final dos materiais coletados na comunidade, objetivando a
sustentabilidade e não o lucro advindo da sua venda. As crianças não
podem, equivocadamente, entender que o consumo é algo que irá contribuir para os resultados
do projeto. É necessário, também, um esclarecimento aos pais sobre o processo, objetivando o
desenvolvimento de uma sensibilidade ecológica. Foi essa preocupação que conduziu o
planejamento de atividades que pudessem contribuir para esse desenvolvimento, tanto com
relação às crianças quanto com relação às famílias. Foram organizadas diversas atividades que
conduzissem os alunos ao protagonismo nas ações, seguindo o planejamento do projeto de
Educação Ambiental na escola. As atividades também foram desenvolvidas com vistas à
complementação dos conceitos abordados pelo componente curricular de Ciências, numa
perspectiva interdisciplinar.
Segundo Souza e Galiazzi (2007), é possível ter uma percepção sobre a formação de
uma consciência ambiental que depende das interações que liga os sujeitos nos diversos
espaços, seja na escola ou em outros locais. O objetivo precisa evidenciar a discussão de
novas perspectivas acerca da sociedade humana e da natureza.
Em relação à Educação Ambiental, provavelmente seja consensual o desejo de que as escolas se constituam em espaços para a articulação de ações internas e com outros segmentos da sociedade; que privilegiem a formação de valores, questionando a ênfase exacerbada em informações e conceitos; que construam caminhos em ações educativas sustentadas especialmente no diálogo, respeito ao outro, cooperação, solidariedade e coletividade. A EA, em tal perspectiva, implica assumirmos a escola enquanto espaço privilegiado para a discussão de questões para uma melhor compreensão e apropriação de significados a respeito das relações entre seres humanos e ambiente (SOUZA ; GALIAZZI, 2007, p. 299).
Esse trabalho sobre educação ambiental na EMAD vem contribuindo de forma
sistemática e significativa para o entendimento do tema “sustentabilidade”, que se caracteriza
pela diversificação e participação coletiva.
178
2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A inserção de projetos relacionados ao meio ambiente, que venham ao encontro das
necessidades da comunidade escolar, pode funcionar como mecanismo para despertar o
interesse do estudante para a educação ambiental. Esse trabalho poderá ter um significado
maior para os estudantes, uma vez que têm a oportunidade de conviver com o ambiente
natural, de aprender de forma interdisciplinar, sem fragmentar o processo de construção do
conhecimento. Para tanto, o professor pode diversificar as aulas, desenvolvendo projetos
significativos, dando maior dinamismo ao ensino, aproximando o conceito ao contexto dos
estudantes.
A educação ambiental pode auxiliar os sujeitos a se perceberem como membros do
planeta, com suas transformações históricas e tecnológicas. Enfim, tem entre seus objetivos a
resolução de problemas de uma maneira global, para encontrar soluções possíveis e adequadas,
que viabilizem uma compreensão ambiental de preservação da vida.
Martins (2004) assegura que a educação ambiental não deve ser uma educação
comportamental, que condiciona os estudantes a terem alguns comportamentos sem
conhecerem os motivos. As ações e os comportamentos que estão conectados à educação
ambiental devem ser entendidos como uma atitude responsável que prime por cidadania,
solidariedade e comprometimento com os processos ecológicos, que se iniciam a partir dos
problemas cotidianos que afetam a realidade de cada um. Segundo SAUVÉ (1992),
O maior objetivo dessas dimensões da educação contemporânea é o desenvolvimento de uma sociedade responsável. E sustentabilidade é uma das perspectivas esperadas. [...] A EA pode beneficiar a perspectiva incluída na educação para o desenvolvimento sustentável das sociedades responsáveis [...] (SAUVÉ, 1992, p. 01).
A educação ambiental poderá contribuir para a construção de valores sociais,
conhecimentos, além de desenvolver competências e habilidades resultando em atitudes
voltadas para a preservação do meio ambiente. Essa construção inicia-se na escola e tem
continuidade por meio de diálogos entre os estudantes e seus responsáveis para uma nova
forma de olhar e agir no meio ambiente. Ambos os processos têm em comum a ideia de que é
necessário e urgente formar cidadãos conscientes, capazes de tomar decisões também
conscientes para a vida do planeta.
179
2.1 PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS DESENVOLVIDAS NA ESCOLA
Ações de coletas de materiais que seriam descartados na escola e criação de horta
escolar nasceram timidamente a partir do ano de 2010. De início era realizada a coleta apenas
de plástico, papel e papelão estendendo, nos anos seguintes, a prática a outros materiais. Tais
atitudes trouxeram a conscientização de que era necessária a criança aprender a cuidar do que
estava ao seu redor, para assim transformar o meio ambiente. A partir disso, foi decidido com
os profissionais da escola implantar um projeto único que viesse transformar o ambiente
escolar em um lugar acolhedor, primando pela preservação e cuidado.
A horta escolar trouxe a oportunidade pedagógica de aliar os conceitos do componente
curricular de Ciências à prática do cotidiano, em um processo de construção de
conhecimentos que une saberes cotidianos com os saberes escolares. Cada turma tem um
espaço na horta da escola. Com práticas como essas, o intuito é cuidar do ambiente e
preservá-lo. Com o auxílio do zelador da escola são cultivados canteiros de flores e horta com
chás e verduras. A escola também mantém uma composteira, lugar específico para decompor
os alimentos por meio da ação de microrganismos, que com a ajuda de minhocas,
transformam os restos de frutas, legumes e verduras em um rico adubo, tanto líquido,
fertilizante (chorume), como sólido.
Figura 1: Horta escolar
Fonte: Acervo da escola, 2017.
O zelador contribui na construção de canteiros, organização de mudas e atividades que
não é possível de ser realizada com todas as crianças ao redor.
O que é colhido na horta é utilizado no preparo da merenda escolar. Os chás são
disponibilizados para as crianças da escola quando sentem algum mal-estar e para a
comunidade, quando solicitado.
180
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho pedagógico desenvolvido na EMAD está alinhado à conscientização
preconizada nos pressupostos da educação ambiental, procurando trazer para o cotidiano dos
estudantes e da comunidade ações que possam fazer a diferença na sociedade.
O trabalho pedagógico desenvolvido está apresentando resultados de forma tímida,
porém progressiva. Já se percebe o cuidado para não se deixar restos de comida no prato
durante a merenda, bem como se observa o cuidado com o lixo, utilizando-se as lixeiras
apropriadas para o descarte.
Os estudantes trazem relatos de ocorridos na comunidade, disseminando as práticas do
cuidado com o meio ambiente. Percebe-se o apoio da comunidade nas ações desenvolvidas
pela escola como passeatas e apresentação de trabalhos culturais, além de relatos de pais sobre
o que os estudantes comentam em casa acerca de consumo e descarte de produtos recicláveis
e orgânicos.
Entende-se que bons hábitos aprendidos e cultivados se disseminam pela vida inteira
do sujeito. Portanto, as sementes que estão sendo cultivadas na EMAD, buscando que se haja
maior respeito com o ser humano e com o meio ambiente.
REFERÊNCIAS
MARTINS, N. A Educação Ambiental na educação infantil. 2004. 44 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) - Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2004. SEGURA, D. S. B. Educação Ambiental na escola pública: da curiosidade ingênua à consciência crítica. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2001. 214p. SAUVÉ, L. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: uma análise Complexa,1992. Disponível em:<http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev10/educacao_ambiental_e_desenvolvim.html>Acesso em: 06 jun 2017. SOUZA, M. L.; GALIAZZI, M. do C. Educação Ambiental em Projetos de Aprendizagem: as lidas de um grupo de professoras na tessitura de uma rede de coletivos. In: GALIAZZI Maria do Carmo et al. Construção curricular em rede na educação em ciências: uma aposta de pesquisa na sala de aula. Ijuí: Editora Unijuí, 2007, p. 297-3
181
GESTÃO ESCOLAR COM FOCO NAS VIVÊNCIAS FORMATIVAS NO
COTIDIANO DOS PROFESSORES DO CEI PROFESSORA LENYR PEITER
STARKE
Sandra Denise Pagel94
1 INTRODUÇÃO
Este relato é fruto de uma provocação aos gestores escolares da Rede Municipal de
Ensino de Blumenau durante as formações desse grupo. A professora Dra. Giceli Maria Cervi,
com sua sabedoria, fruto de muita dedicação, estudo e pesquisa, expressa-se com paixão e
encantamento, muitas vezes com indignação, fazendo-nos refletir sobre os projetos de
sociedade que sempre estiveram em conflito. Atualmente, numa sociedade dividida/polarizada
em posições excludentes ocorre a banalização da barbárie, no desmonte do Estado, em nome
do ajuste fiscal, transforma a cada dia mais a educação em mercadoria e não em direito
humano.
O que estamos fazendo na escola nessa conjuntura? Estamos violando os direitos
humanos e educacionais dos educandos? Que concepção de sociedade, de homem e mulher,
de educação, de escola, de gestão democrática estamos materializando na escola? Enfim, a
quem servimos? Estamos pautados para a emancipação humana na construção de sujeitos? Ou
na sociedade do controle?
Essas reflexões apresentadas foram socializadas e ampliadas entre a equipe gestora
do Centro de Educação Infantil – CEI Professora Lenyr Peiter Starke, que também buscou
estudos, principalmente na bibliografia indicada pela Secretaria de Educação e pela professora
formadora. Quantos desafios! Como a educação está distante daquilo que acreditamos e que,
apesar de contraditório, conseguimos materializar nas normas nacionais.
Refletindo sobre a proposta pedagógica implementada no CEI, plano de ação do CEI
e planejamento da equipe gestora, percebemos que apesar de distante das necessidades
94Mestre em Gestão de Políticas Públicas pela UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí, (2005). Servidora Pública na Rede Municipal de Ensino de Blumenau desde 1984, atualmente diretora do CEI Professora Lenyr Peiter Starke; professora da disciplina Políticas Públicas, História e Legislação de Ensino da FURB; coordenadora do subprojeto Gestão Democrática Escolar PIBID/FURB (FURB /Blumenau /Santa Catarina / Brasil). E-mail: [email protected]
182
concretas e subjetivas da educação e, em especial, da educação infantil, estamos trilhando um
caminho coerente com os paradigmas que defendem uma sociedade solidária, justa,
sustentável e para todos.
A provocação foi aceita e apresentamos com muito orgulho o cotidiano formativo
vivenciado no CEI Profa. Lenyr Peiter Starke. Sugerimos que as vivencias que apresentamos
inspire os leitores a outras possibilidades educativas ou ainda ao que não deveria ser
realizado. Entendemos que não possamos transpor essas vivências para outros espaços e
realidades, pois somos sujeitos sócio-históricos, culturais, com trajetórias individuais;
portanto, no ano letivo 2017, este foi o nosso coletivo, nossa caminhada, nossas conquistas e
frustrações.
2 EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO DOCENTE
Esta experiência desvela, ao nosso entender, as atribuições da equipe gestora que se
materializam no cotidiano da instituição educacional. Não é apenas uma ação pontual, mas
sim, concepções e práticas que constituem a gestão democrática escolar.
O Centro de Educação Infantil Profa. Lenyr Peiter Starke, instituição pública
municipal da Rede de Ensino de Blumenau/SC, está situado no loteamento Pôr do Sol, bairro
Itoupava Central. Esta unidade escolar nasceu como um centro comunitário em 1999,
transformando-se em uma escola pública em dezembro de 2002.
Atualmente, o CEI atende aproximadamente 90 crianças de zero a três anos de idade
e 79 crianças de quatro a seis anos de idade na pré-escola, totalizando 169 crianças
matriculadas na educação infantil, primeira etapa da educação básica. O CEI tem dois espaços
de atendimento: duas casas adaptadas para atender às necessidades das crianças pequenas,
sendo uma da municipalidade e outra locada. Para atender ao direito à educação dessas
crianças, contamos com 24 professores, equipe gestora composta por duas coordenadoras
pedagógicas, uma diretora, uma secretária escolar. Também contamos com uma profissional
readaptada de suas funções, que auxilia a todos os servidores do CEI dentro de suas
possibilidades permitidas pelo setor responsável do poder público, um zelador, quatro
cozinheiras e cinco serventes.
Antes de apresentarmos um pequeno retrato das nossas vivências, deixamos
explícito o entendimento de que muitos são os desafios colocados à educação básica, na
efetivação de uma escola democrática, laica, gratuita, de qualidade social. Tarefa que deve ser
acordada e implementada coletivamente.
183
Sem entrar em discussões teóricas sobre o papel da escola, apropriamo-nos das
normas legais, que têm caráter mandatório, por exemplo, das Diretrizes Curriculares
Nacionais. Cabe-nos, como profissionais, estudar, compreender e materializar na proposta
pedagógica da instituição escolar os princípios, as concepções e as diretrizes apontadas.
A primeira questão, apesar de estar pelo menos no imaginário e no discurso da
educação infantil, é incorporar nas práticas pedagógicas a concepção de educar e de cuidar.
Essa concepção está expressa nas Diretrizes Curriculares da educação básica - DCNEB (2010,
p. 64), “Na Educação Básica, é necessário considerar as dimensões do educar e do cuidar, em
sua inseparabilidade, buscando recuperar, para a função social desse nível da educação, a sua
centralidade, que é o educando, pessoa em formação na sua essência humana.”
Ter o educando, a criança como foco do planejamento, ou seja, planejar os tempos e
os espaços com intencionalidade pedagógica, desde o momento em que a criança chega à
instituição até o momento em que vai embora, é um indício, a princípio, de que a concepção
de educar e de cuidar e de que esses sujeitos de direitos são considerados nas suas mais
diversas dimensões humanas, ampliando seus repertórios e autonomia.
As Diretrizes Curriculares Nacionais tratam a escola de educação básica como
“espaço em que se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as identidades
culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias das diferentes regiões do País”.
DCNEB (2010, p. 66). Nesse documento, currículo é compreendido “como o conjunto de
valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço
social e contribuem, intensamente, para a construção de identidades socioculturais dos
educandos” (DCNEB, 2010, p. 66)
Para atender a essas concepções, a equipe gestora das instituições escolares tem a
responsabilidade em articular, organizar, acompanhar os profissionais da escola como
também a comunidade escolar. Com caráter mandatório, essas concepções não são uma opção
a todos nós, mas um desafio que nos impõe romper com paradigmas de homem, sociedade e
escola ultrapassados, rituais disciplinares, fragmentação da vida e dos conhecimentos,
organização dos espaços, tempos, educandos, educadores e famílias, que pressupõe a
dominação e a subserviência.
Além disso, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (2010,
74), “são elementos constitutivos para a operacionalização destas Diretrizes o projeto político-
pedagógico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a gestão democrática e a
organização da escola; o professor e o programa de formação docente”. Entendemos que esses
184
elementos constitutivos se entrelaçam e se complementam, não podendo ser compreendidos e
construídos de forma isolada, como documentos e ações pontuais.
Apesar dessas considerações, tomamos a liberdade em pinçar o programa de
formação docente para apresentar a experiência do CEI Profa. Lenyr Peiter Starke. Trazendo
ainda as contribuições de Bordignon e Gracindo (2013), o autor considera que a gestão
educacional se fundamenta na especificidade do ato educativo. Tem como conceito central a
emancipação, no sentido da construção de sujeitos, condição que só ocorre na relação com o
outro, não mais feito objeto, mas também sujeito, uma relação dialógica entre sujeitos
emancipados.
Entendemos que os professores também são sujeitos desse processo de emancipação,
portanto necessário e fundamental estabelecer oportunidades com intencionalidade para que
ocorram relações dialógicas. Reconhecer que juntos, cada profissional aprende e constrói esse
cotidiano, já que todos trazem muitos conhecimentos das experiências escolares,
profissionais, culturais, sociais.... Entre tantas tarefas e responsabilidades da equipe gestora
para garantir a escola pretendida, destaca-se a formação continuada, entendida como
movimentos que possibilitam relações dialógicas, considerando a reflexão sobre a prática
pedagógica e a pesquisa, ampliando ainda os repertórios dos professores.
Entende-se, ainda, a formação continuada como meio de fortalecer e legitimar a
escola como lócus de formação continuada e permanente para todos nela presente. Conforme
apresentado por Cervi (2013), entendemos também que a formação continuada deve ter uma
abordagem que se centra na figura do professor, promovendo o desenvolvimento de
características éticas e políticas essenciais, um meio para suprir os déficits da formação inicial
dos professores e pautada pelo ciclo da vida profissional. Portanto, trabalhamos na
expectativa da legitimação da escola como um espaço de formação continuada permanente,
no qual uns auxiliam os outros.
Nessa perceptiva, a equipe gestora do CEI Profa. Lenyr Peiter Starke, no seu
planejamento para o ano de 2017, estabeleceu algumas estratégias e ações de formação
continuada. 1. Acolhimento aos professores novos; 2. Construção do plano de ação da
instituição e do calendário escolar; 3. Elaboração do perfil do grupo de professores; 4.
Mediação da documentação pedagógica (planejamento, anedotários, portifólios e pareceres
descritivos individuais); 5. Reuniões de turmas; 6. Reuniões individuais; 7. Oficinas e grupos
de estudo; 8. Encontros Pedagógicos; 9. Formação da Secretaria Municipal de Educação –
SEMED; e 10. Socialização de eventos culturais e formações na cidade.
185
1. Acolhimento aos professores novos
No início do ano letivo, em especial, e no decorrer do ano, os professores novos são
convocados, em sua hora atividade extraclasse, para junto com a coordenação pedagógica se
reunirem para apresentação da proposta pedagógica do CEI, dos instrumentos da
documentação pedagógica e das rotinas da instituição. Consideramos importante esse
momento, apesar de todas as professoras que vieram trabalhar no CEI já terem sido
profissionais da rede municipal de ensino de Blumenau em anos anteriores. Essas professoras
precisam entender o que a instituição já tem construído sobre a forma de implementação das
Diretrizes Curriculares Nacionais e do Município, uma vez que cada instituição tem a
prerrogativa de definir o seu Projeto Político Pedagógico – PPP, sua identidade pedagógica.
2. Construção do plano de ação da instituição e do calendário escolar
A abertura do ano letivo ocorreu no Teatro Michelangelo no período matutino, com
apresentações culturais, ampliando o repertório cultural dos profissionais da educação infantil,
fato a ser valorizado. No período vespertino, os profissionais do CEI foram recepcionados na
instituição com um almoço coletivo. A pauta do encontro foi a apresentação da avaliação
institucional realizada no ano anterior, a definição sobre a construção do plano de ação
coletivamente, do calendário escolar de 2017 e das normas internas. Ficou decidido que o
plano de ação seria discutido e elaborado em grupos de estudo, organizados por dimensões
apresentadas na avaliação. Cada grupo elaborou as propostas para o plano, que foi aprovado
coletivamente no encontro pedagógico realizado em março. Para que o plano de ação pudesse
ser coerente com as concepções e normas da educação, também foi necessária uma análise e
discussão sobre as definições materializadas na proposta pedagógica do CEI. Além de um
exercício democrático que envolveu escuta, respeito, criatividade, profissionalismo, também
foi necessário compromisso com as crianças a nós confiadas. Compromisso de construir um
espaço de vivências das infâncias, que possibilitem experiências significativas e prazerosas,
que possam ser realizadas através do brincar e das diferentes formas de interações. Espaços
que favoreçam as brincadeiras ao ar livre, o contato com a água, o ar, o fogo, as plantas, ou
seja, com os elementos da natureza.
3. Elaboração do perfil do grupo de professores
A equipe gestora entende ser necessário conhecer o grupo com que trabalharemos,
sendo crianças ou adultos na instituição escolar. Para elaborar o perfil do grupo de
professores, a equipe gestora elaborou um instrumento que os professores responderam.
186
Constatamos que no ano letivo de 2017, o CEI contava com seis professoras efetivas e
dezesseis professores admitidos em caráter temporário, o que demandaria um recomeçar a
cada ano. A grande maioria desses profissionais tinha entre dois e cinco anos de experiência,
mais precisamente, 24% com dois anos, 24% com quatro anos e 24% com cinco anos.
Pudemos concluir que a maioria estava iniciando sua carreira docente, mas também possuía
diferentes vivências em espaços de educação infantil, na rede municipal de ensino de
Blumenau. Várias foram as potencialidades apontadas pelo grupo, destacando-se a
criatividade, a paciência e o trabalho em equipe. As fragilidades também foram variadas, mas
o que mais nos chamou a atenção foi: escrita de avaliações; acostumar-se a algumas
exigências e burocracias; objetivar os planejamentos e querer fazer tudo sozinha tomando
toda a responsabilidade para si, ficando sobrecarregada e frustrada. Também apresentaram
dúvidas sobre: como lidar com atitudes de algumas crianças de forma pedagógica para que
participassem da ação planejada; o que deve melhorar e por onde começar para melhor
atender às crianças; o que e como falar com os pais; sobre conceitos e linguagens; se algum
dia teria conhecimento suficiente e aptidão para ensinar tudo o que as crianças precisam e
merecem.
Coube à equipe gestora perceber se as fragilidades apontadas no perfil mobilizariam
ou não os professores na busca por superação, tornando-os pesquisadores e reflexivos.
Quando questionados por que escolheram ser professores, justificaram sobre o
incentivo/referência de familiares professores, a identificação com professores de infância e
admiração pela profissão, ou ainda professores em exercício porque não tinham outra opção
de curso. Quando foi desvelado sobre a escolha pela educação infantil, nos causou decepção
em saber que alguns professores querem se preparar para atuarem no ensino fundamental, que
é mais exigente. Posição que nos preocupa, pois, cada etapa da educação básica tem suas
especificidades e características, mas todas devem ter professores comprometidos e capazes
em exercer a função de docência. A maioria diz que se identifica com as crianças pequenas e
os fazeres da educação infantil. Outra questão que trouxe preocupação à equipe gestora foi
que muitos professores, neste ano letivo, optaram pelo horário disponível e não pela idade das
crianças com que mais se identificam, isso na escolha de turmas (organização feita no início
de cada ano para a formação do quadro de professores por turma). A partir desse perfil e
discussão com o coletivo, as prioridades foram estabelecidas para os movimentos formativos
do CEI, além de temáticas sugeridas pelos próprios professores à equipe gestora.
187
4. Mediação da documentação pedagógica (planejamento, anedotários, portifólios e
pareceres descritivos individuais).
Uma das atribuições da coordenação pedagógica, que entendemos ser de suma
importância, é a de mediação da documentação pedagógica. Mediação que provoque a
reflexão e a pesquisa sobre a intencionalidade pedagógica, clareza dos objetivos de
aprendizagem e do registro. Apesar de trazer angústias a alguns professores, as contribuições
que são trazidas nos documentos pedagógicos não partem do princípio de certo ou errado, mas
têm o objetivo de instigar o avanço na qualidade da ação, mediação desses professores. Os
planejamentos são mediados, semanalmente, antes de serem implementados. Os anedotários
são registros individuais de aprendizagem e experiências vividas por cada criança. Esses
anedotários são subsídios para a elaboração dos portifólios das crianças. Dependendo do
grupo, as crianças escolhem de quatro a seis experiências vivenciadas no trimestre, que mais
gostaram, para compor o portifólio. Este documento segue com a criança desde o momento
em que ela é matricula no CEI Profa. Lenyr Peiter Starke até o momento em que sai, podendo
ser incorporado a outras formas de registros do desenvolvimento e da aprendizagem adotados
pela instituição de ensino em que a criança se inserir. O portifólio traz subsídios para a
elaboração semestralmente do parecer descritivo individual de cada criança, conforme
estabelecido pela Secretaria Municipal de Educação e sistematizado no sistema
ENSINABLU.
5. Reunião de turma
O planejamento institucional estabelece que trimestralmente nos reunamos com os
professores responsáveis por cada grupo de crianças. No primeiro semestre, realizamos essa
reunião bimestralmente. Esse momento tem o objetivo de discutir o desenvolvimento, a
aprendizagem e os desafios de cada criança; avaliar os avanços e próximas ações pedagógicas
necessárias ao grupo de crianças; discutir, refletir sobre as especificidades da idade e também
fragilidades e potencialidades do grupo de adultos, refletindo e avaliando o trabalho de todos.
Nesse momento também se avalia com os professores as necessidades de encaminhamentos
médicos, psicológicos, conversas com pais e responsáveis e outros se necessário. Na avaliação
da equipe gestora, esse momento é riquíssimo, pois percebemos o quanto esses encontros
qualificam a documentação pedagógica e materializam o planejamento.
6. Reuniões individuais
A equipe gestora, em sua rotina mensal, avalia o trabalho realizado por cada
professor e pelo grupo de professores, com feedback individual. Essa ação demonstra que a
impessoalidade se faz necessária, como também a franqueza. Esse momento tem o objetivo de
188
trazer ao professor as considerações que a equipe gestora tem sobre seu trabalho e desafios a
serem superados. A exemplo, a avaliação do estágio probatório, que requer registro formal
das avaliações que se realizaram no decorrer do semestre, não sendo um pretexto ou uma
obrigação de avaliação, burocratizando-a, ou seja, um ritual que se realiza sem um
cumprimento do seu objetivo. Essas reuniões também subsidiam as decisões de renovação ou
não dos contratos pedagógicos. Casos pontuais, que ocorrem envolvendo equívocos na prática
pedagógica observada pela equipe gestora ou demandas trazidas pela família, são pautados
também em reuniões individuais, assim que aparecem.
7. Oficinas e grupos de estudo
A partir do levantamento das necessidades apontadas pelos professores e do perfil do
grupo, a equipe gestora elaborou o plano de formação do ano, priorizando-o no primeiro
semestre. No primeiro semestre, realizamos grupos de estudo sobre várias temáticas:
planejamento, portifólio, objetivos de aprendizagem e parecer descritivo. Sem apresentar o
objetivo geral e específico de cada grupo de estudo, podemos afirmar que essas temáticas
refletem o fazer docente cotidiano, trazendo assim mais subsídios e apontamentos dos
desafios individuais e coletivos de reflexão e pesquisa. No segundo semestre, aconteceu o
grupo de estudo sobre linguagens, com a presença de profissionais do CEI Alwin Knaesel,
para troca de experiências.
8. Encontros Pedagógicos
Conforme calendário escolar estabelecido pela Secretaria Municipal de Educação,
durante o ano letivo, cada unidade escolar tem a responsabilidade em realizar três encontros
pedagógicos a serem definidos pela própria unidade. A equipe gestora entende que esse
momento é de fundamental importância, pois temos condições de reunir todo o coletivo do
CEI. Esses momentos formativos devem ser bem planejados e executados, pois o não
atendimento às crianças, que traz reorganizações familiares a partir dos próprios servidores do
CEI, deve ser bem aproveitado. A equipe gestora também planejou esses encontros com muita
responsabilidade, avaliando, além do plano de formação estabelecido, os grupos de estudo, as
reuniões de turma e individual, as prioridades de reflexão e discussão. No primeiro encontro
ocorrido em março, tivemos como objetivos: provocar situações de interação entre o coletivo
do CEI; ampliar a linguagem gastronômica, a sensibilidade e o pertencimento do grupo;
apresentar o que é Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID e seus
objetivos; apresentar o plano de ação elaborado coletivamente pelos grupos de estudo e
definir os responsáveis pelas ações; definir o dia da assembleia de pais e metodologia para
apresentar a Avaliação Institucional Participativa e o plano de ação; conceituar projetos de
189
trabalho; pactuar o roteiro dos projetos de trabalho; apresentar e discutir o projeto de trabalho
macro do CEI; definir os projetos de trabalho de cada grupo; refletir e vivenciar experiências
sobre/com teatro.
O segundo encontro do CEI foi em maio. Também foi planejado com muito cuidado,
empenho e responsabilidade. Esse encontro teve como objetivos: aguçar a sensibilidade e as
linguagens de cada profissional e coletivamente; estimular e exercitar a cooperação, espírito
coletivo e solidariedade, considerando a importância da diversidade de cada um; degustar
comida italiana (típica na região Sul do Brasil); vivenciar situações que sintam e valorizam
seu corpo; presenciar formas variadas de utilizar a literatura infantil; conhecer o perfil do
grupo elaborado a partir da entrevista; conhecer e avaliar os comentários apresentados pelos
avaliadores da Avaliação Institucional Participativa; realinhar o plano de ação; reconhecer a
diversidade enquanto direito humano, desvelando-a a partir da discussão de estereótipos;
conceituar estereótipos, identificando-os no cotidiano; praticar a linguagem corporal,
ampliando o repertório da dança; conhecer a experiência da viagem de estudos a
Florianópolis. Esse segundo encontro teve um momento de reflexão com a apresentação de
slides e mediações organizadas pela equipe gestora e um outro momento de vivência corporal,
com professora convidada, abordando a temática dança, também com o propósito de
desestereotipar movimentos e vivências relacionados a essa linguagem na prática cotidiana.
O terceiro e último encontro ocorreu em agosto. Foi planejado com os objetivos:
vivenciar experiências fotográficas, qualificando a observação e o ato de fotografar;
apresentar desafios e avanços com relação ao primeiro semestre, como professor avaliador do
grupo de crianças ao grupo profissional; aprofundar e ampliar os pontos que compõem a
planilha de planejamento diário; refletir sobre as múltiplas linguagens utilizadas na educação
infantil; avaliar práticas diárias com e para as crianças, a partir do discutido no encontro
pedagógico; vivenciar um teatro de sombra, através da linguagem representativa; desafiar
cada professor a colocar-se como um par competente perante o grande grupo.
A equipe gestora e a Associação de Pais de Professores do CEI buscaram oferecer o
que fosse necessário para que os encontros ocorressem de forma prazerosa e com qualidade,
dispondo de recursos financeiros para o pagamento de palestrantes e alimentação. Também
contamos com parceiros como Roberto Morauer, que nos trouxe vivências de teatro. Na
avaliação da equipe gestora, bem como da maioria dos participantes, os encontros foram
produtivos e alcançaram os objetivos propostos. Também não podemos deixar de expressar
nossa decepção, pois num dos encontros ocorreram algumas faltas de professores, por
motivos legais, mas gostaríamos que todos estivessem presentes por considerar que o
190
momento foi preparado especialmente para cada um deles e para o grupo. Entendemos que,
mesmo que a proposta formativa seja coerente, prazerosa, acordada coletivamente, por
exemplo, não atingimos todos, pois o participante também deve estar disposto ao diálogo,
reflexão, isto é, “estar de corpo inteiro”.
9. Formação da SEMED
Atendendo a uma das atribuições da Secretaria Municipal de Educação, esta lança,
anualmente, edital de formação continuada. A equipe gestora socializa o documento e ajuda o
grupo, caso necessário, a reorganizar sua hora atividade extraclasse e/ou horário para que cada
professor escolha o tema de maior interesse. A equipe gestora também realiza junto com o
professor a sua inscrição nas formações oferecidas. E de forma planejada ou não buscam
acompanhar e discutir sobre as formações realizadas, articulando-as com o cotidiano docente.
Cabe destacar, que nos tempos obscuros pelo qual passa a sociedade e, em especial, a
educação, o oferecimento de uma proposta de formação continuada, em especial, presencial,
como a ofertada pela Secretaria Municipal de Educação de Blumenau, como prioridade, é
exceção. Muitos gestores públicos da política educacional, em nível estadual ou municipal,
têm trazido outras concepções sobre o que é e como fazer formação continuada para os
profissionais de educação.
10. Socialização de eventos culturais e formações na cidade
Na rede municipal de ensino de Blumenau há reuniões específicas para a equipe
gestora, por exemplo, reunião de matriciamento, de coordenadores, de diretores. Nós, gestão,
socializamos com os profissionais do CEI, por meio de e-mail e whatsapp, o que foi abordado
nesses encontros. Todas as informações são repassadas por esses meios digitais, tanto as
institucionais como também a socialização de convites de eventos, como por exemplo, a
Abertura de Exposições no Museu de Arte de Blumenau - MAB ou a agenda semanal de
cinema do Serviço Social do Comércio – SESC, na Universidade Regional de Blumenau –
FURB. Os convites de formações realizadas pelas instituições de ensino como Universidade
Regional de Blumenau – FURB, Instituto Federal Catarinense – IFC ou Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC também são socializados pela equipe gestora.
Acreditamos que a ampliação do repertório, em especial dos profissionais da
educação, é fundamental e constante. Para tanto, a cidade é, em maior ou menor grau, um
espaço educador, portanto é necessário conhecer o que se oferece nos mais diversos espaços
para não perdermos oportunidades, muitas vezes únicas, como espetáculos e formações.
Nesses movimentos formativos percebemos que além de conceitualmente repensar o
cotidiano docente, a ampliação do repertório cultural, a constituição de professores
191
pesquisadores, os movimentos formativos também trouxeram avanços significativos aos
professores individualmente, respeitando-se a história, tempos, percursos de cada um e de
todos. Também ficou evidente que nesse cotidiano formativo, a proposta pedagógica da
instituição é refletida, vivida, reformulada, ampliada, ou seja, o PPP está em movimento
também. Esta atualização constante traz uma contradição que temos a tarefa de equacionar,
pois o documento formal da proposta pedagógica da instituição, de fato, ao ponderarmos a
movimentação constante, podemos afirmar que o escrito nunca está atualizado. Entendemos
que não existe instituição de ensino séria, comprometida com os princípios e os objetivos
educacionais, sem uma proposta pedagógica vivenciada cotidianamente, por isso não
conseguimos materializar a sistematização no documento oficial. Portanto o documento
oficial da Proposta Pedagógica do CEI está desatualizado perante o tempo vivido.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que os movimentos formativos são cíclicos, que muitas vezes são
retomados com os nossos profissionais que chegam à instituição a cada novo ano letivo,
temos a impressão de um constante recomeçar. De certa forma é verdade, mas em outro
patamar, pois a proposta pedagógica avança a cada dia, a cada ano. Quando apresentamos
acepções, princípios, práticas, rituais, instrumentos aos novos profissionais e retomamos com
os que continuam na caminhada da instituição, percebemos os avanços, as fragilidades e os
desafios a serem superados.
Também podemos considerar que o planejamento da equipe gestora se materializa
de forma mais concreta e efetiva com a conquista dos professores acerca das oito horas
semanais de atividades extraclasse. Tempos de dedicação à documentação pedagógica,
pesquisa, estudo, formação, atendimento às famílias. Tempo esse que deve ser valorizado e
aproveitado. Cabe à equipe gestora qualificar, acompanhar, mediar esses tempos, pois são
horários de trabalho em que nossas atribuições também devem ser exercidas, não horas ou
dias de folga. Enquanto profissionais éticos devemos ter o compromisso de aproveitar esses
tempos, pois as nossas atribuições são de muita responsabilidade com a emancipação humana
dos sujeitos que dividem o espaço educativo conosco, crianças e adultos.
Enquanto política pública, também se deve ter o compromisso de provar que a luta
histórica na defesa da hora atividade extraclasse foi coerente e, na prática, tem sido eficiente
na busca de qualidade social da educação brasileira. A hora atividade extraclasse deve
192
demonstrar avanços positivos no cotidiano da ação docente, ou seja, no desenvolvimento e na
aprendizagem das crianças.
Outro aprendizado da equipe gestora é que algumas das atribuições dessa equipe são
as mesmas da docência. A responsabilidade de observação, de registro, de planejamento e de
avaliação, em outra dimensão, também é inerente à função, pois o ato educativo também é
foco do trabalho da gestão escolar.
Não raro encontrar professores reclamando sobre a quantidade de exigências dos
professores da educação infantil, considerando principalmente a documentação pedagógica.
Também, não raro encontrar equipe gestora apontando críticas às suas atribuições sobre essa
necessidade de observação, registros e planejamento. No entanto, concluímos que a definição
que a Lei de Diretrizes e Bases (1996) apresenta está coerente com o vivido no CEI: “[...] são
consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação
em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de
direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico”.
Por isso, essa é uma provocação, uma vez que acreditamos ser necessário refletir,
estudar, pesquisar, discutir sobre os afazeres da gestão, sobre por que, como e quando. Assim
como é um desafio a ser enfrentado, pois como profissionais do magistério não podemos nos
desunir ou competir, temos que nos afirmarmos como tal, para mantermos as conquistas
históricas na busca da valorização profissional, melhores condições de trabalho e
reconhecimento social, combatendo todas as formas de desprofissionalização que estão em
curso.
REFERÊNCIAS
BORDIGNON, G.; GRACINDO, R. V. Gestão da Educação: O Município e a Escola. Genuinobordignon. wordpress, 2013.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. – Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
_______. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Lei 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
CERVI, G. M. Políticas de Gestão Escolar na Sociedade de Controle. Rio de Janeiro: Achiamé, 2013.
193
GRUPO DE ESTUDO DE PAIS: UM PROJETO DE CONSTRUÇÃO E PARCERIA
ENTRE CEI PROFESSORA MARIA ZIMMERMANN E PAIS
Cláudia Cristina Florência Belegante Augustin95 Loraci Juliana Pacher96
1 INTRODUÇÃO
O Projeto que será apresentado foi construído a partir de uma necessidade latente de
estabelecermos uma relação de parceria entre os pais/responsáveis e o Centro de Educação
Infantil – CEI Profª Maria Zimmermann. Todo o caminhar do projeto foi decorrente de uma
leitura de ampliação do olhar dos pais/responsáveis para a instituição que seus filhos
frequentam.
Este movimento iniciou em agosto de 2001, dentro de uma perspectiva de interação
entre o CEI e as famílias, em trabalho mensal, com os pais/responsáveis que tinham o
interesse em participar. No primeiro encontro se levantava as necessidades dos
pais/responsáveis através de um momento de escuta, investidos em dinâmicas, oficinas, rodas
de conversa. Somente a partir desse primeiro momento inseriríamos formadores.
O mais envolvente desse projeto é a sua permanência, as parcerias estabelecidas com
os formadores para a mudança do olhar dos pais/responsáveis acerca da instituição de seus
filhos. Diante dos anos que o projeto ocorreu e ocorre no CEI, foram inúmeras as construções
voltadas à mudança de concepções dos pais/responsáveis em relação à infância e ao tempo
com seus filhos.
Esse projeto revela o real interesse de uma comunidade escolar que se envolveu em
discussões voltadas à infância. Percebemos, dessa forma, que a interação família/escola é
necessária para que os pais/responsáveis conheçam a realidade da instituição, suas limitações
e busquem caminhos que permitam e facilitem o entrosamento entre si. Essa relação de
parceria precisa ser construída diariamente e o passo inicial a ser dado é pela escola.
95 Orientação Educacional pela Universidade Regional de Blumenau – FURB (1993) e Especialização em Gestão Escolar pela ICPG (2004). Atualmente atua como diretora, no CEI Profª Maria Zimmermann, na Rede Pública Municipal de Educação de Blumenau/SC. E-mail: [email protected] 96 Magistério com habilitação para anos iniciais pelo Colégio Estadual Ruy Barbosa (1990), Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2006) e Especialização em Educação Infantil, Séries Iniciais e Gestão Escolar pela AUPEX (2005). Atualmente atua como coordenadora pedagógica, no CEI Profª Maria Zimmermann, na Rede Pública Municipal de Educação de Blumenau/SC. E-mail: [email protected]
194
Procuramos desenvolver um projeto que leve a família a momentos de estudo e discussão
sobre a criança como sujeito de direito.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, 2010, p. 12,
toda criança é um; Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
2 O PROJETO GRUPO E ESTUDO DE PAIS – GEP: UMA PARCERIA ENTRE
INSTITUIÇÃO E FAMÍLIAS
O Projeto Grupo e Estudo de Pais – GEP97, como é carinhosamente conhecido e
denominado em nossa comunidade escolar, teve seu início em 2001, a partir de um
diagnóstico que a coordenação pedagógica fez da necessidade de um espaço para discussão,
leitura e escuta dos pais/responsáveis. Percebemos, a partir dessas reuniões e movimentos do
cotidiano, que a comunidade escolar não tinha um entendimento do trabalho realizado na
instituição. Desconheciam as concepções que norteiam o trabalho do CEI acerca da infância,
da educação infantil, do currículo da infância, da literatura infantil, da sexualidade infantil,
dos tempos na infância, da necessidade das brincadeiras, da intencionalidade do brincar na
infância, da organização dos espaços e ambientes, dos cantos temáticos entre outras.
Trouxemos para discussão com a equipe de professores todas essas observações e
discutimos coletivamente que criaríamos um espaço de leitura e discussão para os
pais/responsáveis, dentro do CEI, no período noturno. A equipe de professores ficou
extremamente interessada, sentiu a necessidade de fazer parte desse estudo, mas em grupo
distinto do de pais/responsáveis, uma vez que a discussão pedagógica perpassa por caminhos
diferentes. Assim nasceu o Grupo de Estudo de Professores – GEPRO, que acontecia extra-
horário e, atualmente, na hora-atividade extraclasse, com base nas necessidades do grupo.
Os grupos de estudo teriam formatos e propostas diferenciadas. A participação dos
pais/responsáveis no GEP seria por adesão, aconteceria uma vez por mês à noite, com um
tema de interesse do grupo. O primeiro encontro seria conduzido pela equipe gestora e, a
97 O GEP teve inicio na gestão da professora Vera Lúcia Simão (2001) e se manteve durante as próximas gestões: professora Regina Mara Peixer Zoschke (2002-2015) e coordenadora pedagógica Cláudia Cristina Florêncio Belegante Augustin (2016 até a atualidade).
195
partir do segundo, por convidados e com temas sugeridos pelo grupo e assim sucessivamente.
Este modelo se configura até os dias e hoje.
Sempre nas primeiras reuniões de turma do ano explicamos como funciona o GEP, seu
objetivo, sua filosofia e os pais/responsáveis, por adesão, inscrevem-se. Inicialmente tínhamos
mães/responsáveis, representadas somente pela figura feminina, fazendo parte desse grupo,
mas nos últimos cinco anos a adesão também tem sido de casais, pais/responsáveis.
O primeiro encontro é crucial, nele definimos coletivamente o planejamento anual:
quais temas serão abordados, quais as reais necessidades e interesses dos pais/responsáveis.
Nesse encontro sempre procuramos envolver o grupo, criando um ambiente acolhedor. Um
ambiente que remeta os adultos à infância por meio de materiais, músicas, arte, dança, algo
que os sensibilize e os envolva em um trabalho que estabelecerá uma parceria não somente no
GEP, mas em todas as relações na instituição.
Procuramos nesse encontro inicial levar o grupo a conhecer-se, sua cultura, suas
histórias, suas escolhas, assim como a cultura da instituição, o Projeto Político Pedagógico da
escola. Nesse encontro os pais/responsáveis relatam para a gestão as necessidades e interesses
para que assim possamos encaminhar os próximos encontros. Quando aparecem muitos
temas, procuramos contemplar os mais reincidentes e os que mais contribuirão com a
demanda do grupo. Esses temas ora são abordados pela equipe gestora, ora por profissionais
parceiros desse projeto.
Se o grupo desejar discutir sexualidade infantil, por exemplo, a equipe gestora convida
um profissional com formação/afinidade com o tema para realizar uma roda de conversa. A
dinâmica dos encontros é no formato de roda de conversa. O convidado se sente mais à
vontade para conversar com o grupo e, os pais/responsáveis, para questionarem o tema. Tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e suas necessidades que a aproximam dessa mesma instituição. A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança, no entanto ela necessita da família para concretizar o seu projeto educativo (PAROLIM, 2003, p. 99).
No primeiro encontro do GEP, nós, equipe gestora, buscamos acolher os
pais/responsáveis, fazer com que se sintam à vontade no grupo e que compreendam a
importância da participação de cada pessoa, para atingirmos os objetivos do encontro: a
formação. Sabemos que muitas vezes utilizamos linguagens diferentes e pouco compreendias
pelas famílias, por isso uma das nossas tarefas no GEP é a de aproximar, alinhavar nossas
falas e levar os pais/responsáveis à percepção de que estamos caminhando lado a lado e não
196
em caminhos opostos. Que estamos todos envolvidos no respeito à infância e às suas
especificidades.
Os temas abordados durantes esses últimos anos de GEP respeitaram a especificidade
de cada grupo. Tivemos pais/responsáveis que completaram um ciclo no grupo, participaram
durante os cinco anos em que seus filhos frequentaram a instituição. Esses pais/responsáveis,
que tiveram seu último ano em 2008, solicitaram à equipe gestora que criasse o Grupo de
Estudo dos ex- pais/responsáveis.
Percebemos diante dessa fala o quanto vivenciamos nesses encontros e o quanto esses
pais/responsáveis participantes do GEP amadureceram seu olhar para a infância de seus
filhos. Houve relatos de pais/responsáveis que disseram que após as discussões nunca mais
chegaram a casa e foram direto para frente da TV, do computador ou para a pilha de louças na
pia. Foram dedicar um tempo, nem que fosse de meia hora, para brincarem com seus filhos.
Pois, de acordo com Tiba, 2006, p. 15: Os pais precisam estar atentos à questão da convivência familiar. Devem observar que os filhos não exigem ação dos pais/responsáveis o tempo todo. Mas exigem, a cada tempo, um pouco. Por isso, vale a pena atender no momento em que o filho solicita.
Foram testemunhos de pais/responsáveis que ao relatarem essas mudanças de postura
choravam diante do GEP. Choravam por quê? Porque no grupo se sentiam acolhidos e
percebiam que não estavam sós em suas angústias, necessidades, frustrações, acertos e erros.
Que todos no grupo comungavam das mesmas histórias, dos mesmos desafios diários,
tentando ser o melhor para seus filhos.
Havia encontros que eram fora da instituição, procuramos oportunizar nesses
encontros ampliação de repertório, levando o grupo de pais/responsáveis ao teatro, ao museu,
a lugares nunca visitados por boa parte do grupo. Percebemos a criança dentro de cada pai,
quando oportunizamos momentos diferenciados nesses encontros: construção de materiais,
brinquedos alternativos, teatro de bonecos, teatro de sombras, jogos dramáticos, vídeos e
outros movimentos.
Cada encontro oportunizado era planejado minuciosamente, ficando para o grupo uma
tarefa para o próximo encontro. A tarefa trazida para a roda era outro ponto muito favorável,
provocava a curiosidade. Os pais/responsáveis se perguntavam sobre o que iriam fazer a partir
da tarefa trazida para o GEP. Para um encontro, eram solicitadas fotos da infância dos
pais/responsáveis; para outro, uma peça e roupa do seu filho; ou ainda outro, um chapéu;
outro retalho com medida específica.
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Todas essas tarefas determinavam uma construção coletiva. Como na tarefa que
solicitamos um pedaço de tecido de 30 cm por 30 cm, que tivesse uma história vivenciada
com ele. A partir desses retalhos e suas histórias, o grupo construiu sua colcha de retalho, que
ficou exposta na unidade e o significado de cada retalho da colcha ficou guardado em nossos
corações.
Muitos profissionais de diferentes áreas, nesses 17 anos, sentaram em nossa roda de
conversa para tecerem conosco os mais variados temas. Convidamos psicólogos, pediatras,
nutricionistas, fisioterapeutas, profissionais para falarem sobre a importância da literatura
infantil, sobre sexualidade infantil, sobre o que e como utilizamos nosso tempo. Todos
deixaram sua marca e trouxeram suas contribuições, que enriqueceram a nossa caminhada.
Abaixo, alguns registros vivenciados no GEP:
Figura 1: Dinâmica que remetia os pais/responsáveis à infância
Fonte: Acervo da Instituição.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que esse projeto não tem somente histórias dentro da memória afetiva
da escola, mas carrega muitas vivências, que modificaram posturas de pais/responsáveis
diante da educação de seus filhos. Pais/responsáveis que se tornaram protagonistas de uma
história carregada de sentimentos, vivências, inquietações, descobertas. Que aprenderam que
errando acertaram. Que tentaram construir outra história através de um GEP na escola de seus
filhos.
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Percebemos que o aprendizado dos participantes ao final de cada ano era visível e que
nunca mais olhariam uns para os outros da mesma maneira, porque nas rodas de conversa
teceram as suas maiores fragilidades sendo pais/responsáveis na contemporaneidade.
Observamos também, enquanto equipe gestora, como a escola deve promover espaços de
discussão para a comunidade escolar, abrir literalmente as portas e acolher, sensibilizar e criar
laços.
Cada ano que se inicia, um novo grupo se constitui parceiro da instituição, a partir das
discussões promovidas, da abertura ofertada, dos temas desvelados, dos profissionais que sem
custo algum dedicam de duas a três horas para contribuírem com esse grupo.
Consideramos que diante de todos os projetos que desenvolvemos com as famílias em
nossa instituição, o Grupo de Estudo de pais/responsáveis apresenta um retorno imediato da
parceria, da caminhada conjunta e, principalmente, do olhar diferenciado que esses
pais/responsáveis têm sobre a instituição: o de valorização absoluta do trabalho pedagógico
desenvolvido.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 5 jan 2018.
PAROLIM, Isabel. As dificuldades de aprendizagem e as relações familiares. Livro da 5.ª
Jornada de Educação do Norte e Nordeste. Fortaleza, 2003.
TIBA, I. Disciplina: limites na medida certa. São Paulo: Integrare Editora, 2006.