gestÃo dos espaÇos livres: uma abordagem para cidades universitÁrias

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1. FACULDADE DOM BOSCO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Lato Sensu ESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO GESTÃO PÚBLICA E POLÍTICAS SOCIAIS GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS ROBERTA DE OLIVEIRA PEREIRA Cascavel - PR 2014

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Page 1: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

1.

FACULDADE DOM BOSCO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Lato Sensu

ESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO GESTÃO PÚBLICA E POLÍTICAS SOCIAIS

GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

ROBERTA DE OLIVEIRA PEREIRA

Cascavel - PR

2014

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ROBERTA DE OLIVEIRA PERERIA

GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da Faculdade Dom Bosco, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Administração Gestão Pública e Políticas Sociais.

Orientador: Prof°. Leandro da Silveira, Msc.

Cascavel - PR

2014

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PEREIRA, Roberta de Oliveira. Gestão dos espaços livres: uma abordagem para cidades universitárias / Roberta de Oliveira Pereira – 2013. 51 páginas.

Orientador: Leandro da Silveira, Msc.

Monografia (Especialização Lato Sensu acadêmica em Administração Gestão Pública e Políticas Sociais) – Curso de Pós-Graduação em Administração Gestão Pública e Políticas Sociais – DOM BOSCO- UNIESC, 2014.

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ROBERTA DE OLIVEIRA PEREIRA

GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista no Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Administração Gestão Pública e Políticas Sociais da Faculdade Dom Bosco.

Cascavel-PR, 20 de setembro de 2014.

__________________________________________

Prof. Dr. Isaías Régis

Coordenador do Curso

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof°. Leandro da Silveira, Msc.

Orientador

__________________________________________

Prof.

___________________________________________

Prof.

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“A paisagem urbana é, para além de outras coisas, algo para ser apreciado, lembrado e contemplado.”

Kevin Lynch

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RESUMO

Aborda-se nesta pesquisa, o tema degestão para os espaços livres, delimitado para as cidades universitárias. Tem-se como objetivo pricipal elencar informações a se considerar para a produção dos espaços livres. Justifica-se a pesquisa deste tema ao fato de os espaços livres terem relação direta com a qualidade de vida das pessoas que permanecem bastante tempo do seu dia fora de casa e a abrangêncica populacional atingida. Para tanto, usou-se de metodologia científica com métodos adequados, sendo utilizado materiais de meio eletrônicos, como alguns artigos científicos e livros. Por fim, teve-se como resultados mais expressivos que, além de uma área que pode ser delimitada física e geograficamente entre o volume das edificações, inclui também os elementos que a compõe e o fator perceptivo da paisagem urbana que considera fatores do aspecto visual e estético para a organização do espaço e torna-lo agradável. Os hábitos e o comportamento social determinam os usos dos espaços e utilizam os elementos urbanos, a tecnologia e o próprio espaço natural para interação. Muitos dos fatores levantados têm características técnicas, normativas, jurídicas e outros características humanísticas, antropológica e sociais, necessitando de várias áreas do conhecimento, portanto, havendo necessidade de uma equipe multidisciplinar para produção de um espaço livre de qualidade.

Palavras-chave: Gestão. Espaços livres. Cidades universitárias.

Page 7: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

SUMÁRIO

1.1Apresentação......................................................................................................................1

1.2Justificativa..........................................................................................................................2

1.3Problemática ......................................................................................................................2

1.4Objetivos.............................................................................................................................3

1.5Metodologia........................................................................................................................3

1.5.1Técnicas de Pesquisa:.......................................................................................................3

1.6 Estrutura do artigo.............................................................................................................4

2.1 IDENTIFICAÇÃO DA ÁREA....................................................................................................6

2.1.1Contextualização Histórica ..............................................................................................6

2.1.2Cidades Universitárias......................................................................................................9

2.1.3Paisagem Urbana............................................................................................................10

2.1.4Espaços Livres.................................................................................................................18

2.1.5Ambiente........................................................................................................................19

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema os Espaços Livres. Inicia-se com uma apresentação onde

se pode perceber sua importância e a relação direta do assunto com a vida prática e cotidiana

das pessoas de maneira geral. Na sequência, indagou-se sobre uma problemática para os

gestores públicos e traçou-se alguns objetivos.

A partir de então, fez-se uma pesquisa sobre o assunto para ter uma contextualização

histórica e formar uma base teórica. Por conseguinte, formou-se conceitos e especificou-se a

áreas abordada conceitualmente.

Analisou-se usuários desta área e suas necessidades. E, após, fez-se considerações com

teor técnico, normativo, conceitual, experiencial, entre outros, e com base no local e nas

pessoas que irão utiliza-lo para que os gestores públicos possam ter mais embasamento na

criação do espaço livre.

E, para encerrar, fez-se um fechamento do trabalho analisando se a problemática e os

objetivos previamente traçados foram alcançados. Acrescentando ainda sugestão para

desenvolvimento de outras projeções em torno deste tema.

1.1 Apresentação

De modo geral pode-se considerar os espaços públicos urbanos como ambientes que

fazem parte da vida de todos os cidadãos. Seja para usá-los em sua forma efetiva, seja como

ponto de referência e localização nas cidades. O que nos traz essa referência é a forma como

vemos este meio ambiente. Mais especificamente a importância que damos segundo a nossa

percepção, como explica Sternberg (2000, p. 110 apud TORRES, 2009, p. 35) “percepção é o

conjunto de processos pelos quais os indivíduos reconhecem, organizam e entendem as

sensações recebidas pelos estímulos ambientais”.

O ambiente é responsável por fornecer estímulos sensoriais e, de acordo com a

maneira como se apresenta configurado, desperta sensações que vão fazer com que as pessoas

sintam-se bem ou desconfortáveis naquele lugar. Um ambiente desprezado, de aspecto sujo ou

desagradável desestimula o uso. Os ambientes de convívio público (praças e parques) quando

são bem tratados diminuem o medo da violência urbana, afirma Mourthé (1998).

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Os gestores públicos podem tornar esses ambientes mais agradáveis. Como reforça

Mourthé (1998) dizendo que os projetos das peças de mobiliário urbano passam a diferenciar

e a valorizar o espaço público, definindo padrões de qualidade. Pois, aplicando seus

conhecimentos, os profissionais oferecem espaços sociais de qualidade criados com

funcionalidade para atender as necessidades dos usuários. Como sendo um lugar agradável

que permite despertar o interesse do usuário, ofereça o contato com o meio ambiente, aguce

seus estímulos sensoriais e permita convivência social.

Diante do exposto, prepara-se um estudo sobre a gestão dos espaços públicos com

foco nas cidades universitárias, especificamente a Universidade Federal de Santa Catarina –

UFSC, com base na análise de parâmetros e proporções de conceitos relativos as cidades

municipais. Com o recorte específico para as áreas de espaços livres das cidades

universitárias. Assim, para este artigo, converte-se em proporção, os conceitos e teorias

aplicáveis as grandes metrópoles para as cidades universitárias.

1.2 Justificativa

É de grande importância, pois o espaço público é um lugar de convívio social,

ambiental, de lazer e cultural que pode ser potencializado com uma melhor qualidade do

ambiente.

É um local público, e como tal, pertence a toda população igualmente, independente

de posição econômica ou social. As cidades universitárias são frequentadas tanto por

estudantes, participantes de congressos, quanto pela comunidade do entorno que se favorecem

com os serviços disponíveis (banco, correio, restaurante, hospital, entre outros), candidatos ao

vestibular, professores, funcionários técnico-administrativos e visitantes em geral. Espaço este

que, não sendo bem cuidado, pode tornar-se um lugar propício ao vandalismo e a

marginalidade, segundo Mourthé (1998).

1.3 Problemática

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Diante das justificativas apresentadas, que considerações deve-se ter ao gerir os espaços livres

em cidades universitárias?

1.4 Objetivos

Como objetivo geral identificar quais considerações são necessárias para gerir os

espaços livres nas cidades universitárias. E, para isso, trabalhamos com a hipótese de obter

considerações para a gestão dos espaços livres nas cidades universitárias.

Com objetivos mais específicos pesquisamos: 1- o que compreende as áreas dos

espaços livres nas cidades universitárias; 2- quais as necessidades das pessoas que utilizam os

espaços livres nas cidades universitárias 3- os pontos a serem considerados para espaços livres

universitário de qualidade.

1.5 Metodologia

Para a escolha e apresentação do tema foi feito uso de materiais de meio eletrônicos,

como alguns artigos científicos, livros, outros trabalhos de conclusão de curso e livros

digitais.

Para o referencial teórico sobre a gestão dos espaços públicos foi feito uso de livros e

artigos eletrônicos das áreas de gestão pública, administração e suas ferramentas

administrativas. E para a área de espaços públicos e seu mobiliário foram utilizados materiais

das áreas da arquitetura, design, geografia e normas técnicas.

1.5.1 Técnicas de Pesquisa:

Quanto ao método utilizou-se dedutivo, pois partiu de conhecimentos universais para a

conclusão de questões mais específicas.

Quanto à investigação utilizou-se qualitativa, pois não se fez uso de instrumental

estatístico (quantitativo) e monográfica, pois parte-se do princípio que o estudo pode ser

representativo de muitos outros.

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Porém, quanto à finalidade utilizou-se pesquisa aplicada, pois esperar-se que seus

conhecimentos possam ser utilizados na solução de problemas.

O tipo de pesquisa que utilizou-se teórico no que se refere à consulta em matérias

impressos e eletrônicos. Abrange não só a área de Administração e Gestão pública como

também da arquitetura, design e geografia.

Quanto ao nível utilizou-se descritiva visando analisar, observar, registrar aspectos que

envolvam fatos ou fenômenos, sem manipulá-los. Utilizando-se como procedimentos a

pesquisa bibliográfica e documental.

Quanto aos procedimentos: bibliográfica, documental e complementação em fonte

eletrônica em áreas carentes em informação.

Apresenta caráter social: com a intenção de favorecer as relações e interações pessoais

de frequentadores de universidades e seu espaço urbano; histórico: por trazer o surgimento

dos espaços públicos; cultural: a fim de repassar conhecimento sobre a histórica, técnica e os

componentes de um espaço público; e inclusivo: na intenção de abordar aspectos que atendam

o maior número de usuários nesses ambientes, fazendo-se uma gestão com foco no

cliente/usuário.

1.6 Estrutura do artigo

O presente trabalho está dividido em 5 macro partes. Nos quais transcorre em ordem a

apresentação do tema, no capítulo atual. Devidamente justificado, com sua problemática,

objetivos, metodologia e técnicas de pesquisa descritas.

Seguido da contextualização histórica sobre as áreas livres das cidades, definição de

cidades universitárias, paisagem urbana e conceituação de ambiente e espaços livres, no

Capítulo 2.

No Capítulo 3, mostrou-se algumas necessidades das pessoas que utilizam os espaços

livres segundo algumas autores e análises feitas partir de observações.

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No capítulo seguinte, apresentou-se requisitos, recomendações e considerações para a

produção dos espaços livres a partir de conceitos estudados. Pertinentes tanto para projetos

inicias quanto para manutenção e reforma dos espaços já existentes.

E, por fim, no Capítulo 5, reflexões obtidas com base nos estudos e nos objetivos

traçados.

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2. ESPAÇOS LIVRES

Neste artigo faz-se uma abordagem sobre os espaços livres das cidades universitárias.

Apresenta argumentações conceituais válidas para um estudo mais abrangente dos espaços

públicos em geral das áreas urbanas. Situa-se no âmbito de planejamento, gestão e

administração tangenciando o urbanismos, arquitetura, geografia, design e engenharias

ambiental relacionando-os com as ciências sociais aplicadas.

Por ser de um tema abrangente, para um melhor entendimento faz-se necessário tomar

conhecimento sobre o ambiente ao qual se pretende apontar as considerações

contextualizando-o com as áreas afins.

2.1 IDENTIFICAÇÃO DA ÁREA

Há nomenclaturas semelhantes para áreas de abrangência coincidentes por isso faz-se

necessário uma explicação a respeito das nomenclaturas. Para tanto é necessário entender

quais são esses espaços a serem tratados aqui e por motivos didáticos chamar-se-ão espaços

públicos. Porém, de início, faz-se da contextualização histórica do surgimento dos centros

urbanos e, por consequência, dos espaços públicos e seus elementos principais.

2.1.1 Contextualização Histórica

Os espaços públicos urbanos de hoje estão muito ligados as áreas de referência e

localização geográfica das cidades, assim como, de encontro e convivência de indivíduos de

uma mesma região. Para melhor compreensão desta a afirmação precisa-se conhecer como e

porque se deu o surgimento destes locais.

O surgimento dos centros urbanos é um fato histórico, geográfico e social. Segundo

explica Lima (2002), têm seu surgimento após a pré-história, no período neolítico, onde o

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homem passou a cultivar o solo, a domesticar os animais, a polir a pedra e a fabricar objetos

de cerâmica, deixando a selvageria e ingressando na barbárie.

Apartir de então, aconteceram revoluções bastante importantes, caracterizadas por dois

movimentos sociais e culturais que provocaram mudanças significativas na estruturação das

cidades e nas estruturas das classes sociais:

a) Revolução agrícola: onde os homens de atividades agrícolas começaram a aplicar

processos mais mecanizados e a gerar excedentes favoráveis à troca de produtos;

b) Revolução urbana: advinda de desacordos entre as atividades de pastoreio e agrícola.

Percebe-se o aparecimento de duas atividades distintas: a agricultura e o pastoreio que,

por consequência, geraram uma divisão na estrutura social. Porém, um (pastor) precisava dos

produtos do outro (agricultor) e vice-versa. Surgindo os aglomerados de pessoas para fazer a

permuta destes produtos, novas especializações nessas atividades de trabalho, as primeiras

cidades e os primeiros centros de convivência.

Para Sjoberg (1977, p.36), no capítulo II ‘Origem e Evolução das Cidades’, “as

primeiras cidades apareceram há cerca de 5.500 anos”, mas elas só começaram a crescer

significativamente em meados do século XIX. Seu crescimento está relacionado a três níveis

de evolução de organização humana com características (tecnológicos, econômicos, sociais e

políticos) semelhantes:

a) ‘Sociedade de gente’ pré-urbana e antecede a alfabetização. Eram pequenos grupos

dedicados inteiramente à busca por alimentação. Tiveram um longo período de evolução para

transformarem-se em sociedades organizadas, em vilas e aperfeiçoarem suas técnicas.

b) ‘Sociedade pré-industrial ou feudal’ estocava alimentação proveniente da agricultura e

pecuária. Permitia a especialização do trabalho, estruturas de classes, condicionarem

lideranças e organizarem-se. Utilizavam metalurgia, roda e arado, multiplicavam a produção,

escrita e fontes de energia;

c) ‘Cidade industrial moderna’ havia educação das massas, sistema de classes fluido e

avanço tecnológico, com novas fontes de energia.

A partir do segundo estágio de organização de sociedade as primeiras cidades se

desenvolveram e, no terceiro estágio, aparecem em nível de sociedades pré-industriais.

Além do aprimoramento técnico, outros dois fatores foram necessários para o

aparecimento das cidades:

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a) A organização social – poder controlar o excedente agrícola decorrente do avanço

tecnológico (colher, armazenar, manufaturar e distribuir) e organizar a mão-de-obra

para a construção civil em larga escala;

b) A região de solo favorável – que além de fértil também deveria forneça água para

suprir o consumo e agricultura.

Então, para termos de definição o que é uma cidade? Segundo Sjoberg (1977, p. 38)

“É uma comunidade de dimensões e densidade populacional considerável, abrangendo uma

variedade de especialistas não-agrícolas, nela incluída a elite culta.” A elite culta é que

diferencia as comunidades urbanas das não urbanas, pois com ela criam-se sistemas

administrativos e legais mais complexos.

As primeiras cidades tinham como características a forma de organização social

dominante a teocracia (apenas o líder acumulava as funções de rei e chefe espiritual), a elite e

seus dependentes moravam no centro da cidade (área de maior prestígio, de centros religiosos

e governamentais, facilitando a comunicação entre eles e se protegendo de ataques). A uma

distância maior ficava as lojas e residências dos artesões (pedreiros, carpinteiros, joalheiros,

ceramistas) que serviam à elite. E os mais pobres viviam nos arrabaldes das cidades

(trabalhadores agrícolas).

O fato de um grande número de especialistas encontrarem-se reunidos nas cidades

incentivava a inovação técnica, de ideias, religiosa, filosófico, científica, e as invenções para o

próprio desenvolvimento e crescimento das cidades.

Como ressalta Sjoberg (1977, p. 44) “só é possível interpretar corretamente o curso da

evolução urbana comparando-a a evolução tecnológica e à evolução da organização social.

Não são pré-requisitos da vida urbana, porém são bases do seu desenvolvimento”.

O quarto nível de evolução de organização humana adveio da Revolução Industrial.

Ocasionou transformações na geografia social da cidade que passou a ter aperfeiçoamento da

educação e comunicação em massa, mais uma estratificação chamada de especialista e parte

da elite afastada do centro para os subúrbios.

As primeiras cidades industriais surgiram na Inglaterra pela sua estrutura social não

ser tão rígida. O que permitia aos sábios uma comunicação mais facilitada com os artesãos.

O industrialismo trouxe melhorias nas técnicas agrícolas, conservação dos alimentos,

nos transportes e comunicação, suprimento de água e esgoto. Todos esses fatores favoreceram

a concentração da população em locais atribuídos como centro das cidades, por se tratar de

área de comércio (dos excedentes agrícolas manufaturados), lazer e conveniências.

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Cauduro (1981) resume sucintamente a função dos centros das cidades, as suas

diferentes épocas, dizendo que a cidade grega era como um ponto de encontro, núcleos

comunitários, ponto de convergência e como um complemento da vida rural; a cidade

medieval era subordinada ao campo; e a cidade após a Revolução Industrial é a cidade do

poder econômico e político.

Surgindo, assim, pontos de aglomerações de pessoas, os chamados centros de

convivência urbana.

2.1.2 Cidades Universitárias

Assim como Sjoberg (1977) define uma cidade pode-se fazer uma analogia para com

as cidades universitárias, ou como diz Souza (2008) uma abstração, buscando coisas em

comum ou regularidade entre coisas diferente, uma vez que até o momento não se encontrou

uma definição específica nas bibliografias pesquisadas a fim de aproximar os conceitos do

foco do estudo.

Percebe-se semelhanças entre uma cidade e as cidades universitárias quando Sjoberg

(1977) afirma que para existir uma cidade precisa-se ter uma comunidade de densidade

populacional considerável, variedade de especialistas e uma elite culta. Pois, as cidades

universitárias têm circulando diariamente uma grande quantidade de alunos, professores,

funcionários, visitantes, participantes de congressos e conferências e comunidade dos bairros

vizinhos que utilizam seus serviços. Além dos cursos oferecidos em diversas áreas formando

especialistas e uma elite culta que contribuem com suas pesquisas, inovação técnica e

científica para o engrandecimento do país.

Para tanto, utilizou-se alguns textos do meio eletrônico, (FREITAS, 2009;

SAAVEDRA, 2009) para auxiliar a descrever um conceito para as cidades universitárias, ou

como também são conhecidos, grupos universitários, campi e campus, como termos utilizados

para denominar o espaço físico das instalações de uma instituição de ensino superior

(faculdade, universidade, centro universitário, centro tecnológico).

Caracterizam-se na forma de um grande complexo acadêmico com estrutura própria e

autônoma. Formada por unidades administrativas (reitoria, pró-reitorias, prefeitura, escritório

técnico), unidades de ensino, pesquisa e extensão, laboratórios, hospital, complexo

desportivo, estacionamentos, parques, praças, ruas, casa de estudantes, colégio, museu, entre

outros em um mesmo local.

Page 17: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

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Apresenta-se em um espaço arquitetônico e urbanístico com características próprias

onde cada centro acadêmico pode-se considerar um bairro. E que toda cidade universitária

como um grande bairro que faz parte do município. Porém, tem gestão federal e mantém-se

como uma cidade aberta e integrada à sociedade. Estruturada com centros de conveniência

aos alunos, funcionários e comunidade dos bairros vizinhos, bancos, copiadora, atendimento a

saúde, restaurantes, lazer, cultura, atividade física e suporte de transporte público e particular.

Pode possuir, além da sede principal, outras unidades de apoio, com tamanho reduzido

localizadas em áreas de acordo com as conveniências de serviços, comodidade e interesses do

curso oferecido. E com o avanço da tecnologia acrescentam-se ainda as unidades de ensino a

distância (EAD) com as aulas virtuais.

2.1.3 Paisagem Urbana

Dentro das cidades sejam elas municipais ou universitárias, a paisagem urbana é de

suma importância para o estudo dos espaços livres. É nelas e com elas que trabalhamos. Junto

com a teoria de surgimento das cidades, as paisagens urbanas apresentam algo que as

caracterizam, definida por Silva (1995 apud LIMA, 2002, p. 6).

a roupagem com que as cidades se apresentam a seus habitantes e visitantes. Revela-se nos elementos formais da cidade, espalhando-se nas superfícies constituídas das edificações e dos logradouros da cidade. Seus componentes fundamentais se exteriorizam no traçado urbano, nas áreas verdes e outras formas de arvoredos, nas fachadas arquitetônicas e no mobiliário urbano com suas várias espécies.

E, o mesmo autor, Silva (1995 apud LIMA, 2002), explica cada um dos componentes:

a) O traçado urbano como sendo o desenho geral da cidade, resultante da disposição de

vias públicas e dos logradouros no plano geral da cidade. É composto de elementos como

pontes e viadutos;

b) As áreas verdes que dão o colorido e a plasticidade ao ambiente urbano na arborização

de vias públicas e configuração estética de praças;

c) As fachadas arquitetônicas;

d) O mobiliário urbano como os elementos complementares, ditos de escala ‘micro

arquitetônica’, que integram o espaço urbano. São monumentos, anúncios, elementos de

infraestrutura, entre tantos outros.

Na visão de Carlos (1994) a análise e a definição espacial dos locais urbanos cabem a

geografia que deve determinar os espaços para as relações sociais. Como palco da atividade

Page 18: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

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do homem organizado em função das necessidades dos grupos humanos. Esse local urbano é

o produto, a condição e o meio onde acontecem todas as atividades.

A necessidade de convivência em sociedade com relações sociais é uma consequência

da evolução da raça humana. E a satisfação dessas necessidades coloca o homem como

condição do processo histórico. Na medida em que a sociedade produz, transforma e reproduz

sua existência no meio social deixa características específicas no processo histórico.

Carlos (1994) fala da análise no espaço urbano a partir dos elementos que a compõem.

Explica que isso acontece em dois momentos: um quando se decompõe a paisagem de forma

geográfica e outro quando se recompõe a partir de seus elementos da paisagem. Elementos

que dizem respeito ao ‘espaço construído’ (objetos e edificações de usos diferentes e

contrastantes de habitar, trabalhar e laser) e ao movimento da vida (o ir e vir cotidiano das

pessoas com atividades sociais que aparecem na relação com as coisas através de uma série

elementos, coisificação). Compreendido em sua manifestação formal, paisagem e vida

cotidiana que é mostrada através dela.

Lynch (1997), assim como Carlos (1994), também trata a paisagem da cidade a partir

de seus elementos. Considera que os aspectos mais importantes de uma paisagem são os

relatados pelos habitantes e usuários da localidade, sendo ressaltados os elementos físicos

mais imperceptíveis. O que pode ser de grande valia para os gestores no sentido de servir de

orientação na busca dos novos elementos, e descobrir a importância do espaço para reforçar o

seu significado, utilização e conservação.

Lynch (1997) divide em cinco categorias com relação à forma física dos elementos da

cidade. A primeira categoria é das vias (ruas, passeios, caminhos) que para muitas pessoas são

os elementos mais importantes, pois à medida que se deslocam por elas organizam-se e

orientam-se através dos elementos que nela estão dispostos relacionando-se.

A segunda são os limites. Referências secundárias de ordens geográficas (costas

marítimas, montanhas, córregos, rios). Tem a água como elemento de maior predominância,

porém as ruas também podem servir como limitantes de regiões.

A terceira são os bairros. Regiões urbanas com características identificáveis

semelhantes. São áreas citadinas penetráveis mentalmente, ou seja, que as pessoas podem se

imaginar transitando por ela. Apresenta características físicas de continuidades temáticas

como componentes, textura, espaço, forma, detalhe, símbolo, tipo de edifício, costumes,

atividades, habitantes, estados de conservação, topografia, entre tantas outras.

Page 19: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

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A quarta categoria são os cruzamentos. Locais estratégicos por constituírem-se de

pontos de muita atenção. São locais de tomada de decisões e exigem maior atenção, portanto

de grande importância perceptual. Estão relacionados a primeira e terceira categorias.

A quinta e última categoria refere-se aos pontos (ou elementos) marcantes.

Representam os objetos físicos (edificações, mobiliário) variáveis em tamanho. Funcionam

como indicadores de identidade, estrutura e orientação do caminho. Apresentam importância

funcional e/ou simbólica bastante relevante. No caso dos objetos terem uma forma clara

torna-se mais fáceis de identificar, ainda mais se contrastarem com o fundo da paisagem ou

estiverem em local destacado. Segundo Lynch (1997) a forma física destes elementos

(edificações e mobiliários) são de uma grande importância na composição da paisagem, pois

podem ser agradáveis visualmente ou extremamente irritantes.

Por terem tal peso na composição da paisagem urbana, os pontos marcantes merecem

certo destaque e consideração. Assim como os espaços públicos tiveram papéis diferentes ao

longo da história com suas funções utilitárias e simbólicas os mobiliários e equipamentos

também as tiveram. Alguns destes equipamentos sairão de uso, outros perderam a sua

primeira função, outros foram se transformando e poucos são os que apresentam a sua função

inicial.

Os primeiros elementos e artefatos surgiram com os primeiros aglomerados

populacionais nos espaços públicos da Mesopotâmia, afirma Carmona (1985 apud SEABRA

ÁGUAS, 2009). Contudo antes delas

houve a pequena povoação, o santuário e a aldeia; antes da aldeia, o acampamento, o esconderijo, a caverna, o montão de pedra; e antes de tudo isso, houve certa predisposição para a vida social que o homem compartilha, evidentemente, com diversas outras espécies animais (MUMFORD, 1965, p. 13 apud ARAÚJO, 2008, p. 5).

Locais de concentração da população agrícola que foram crescendo e se

desenvolvendo. Fazendo surgir novas atividades nestes espaços evocando o surgimento e

instalação de equipamentos como poços escavados para retirada de água, posteriormente os

romanos construíram aquedutos (o primeiro deles o Aqua Appi), fontes, chafarizes,

barracas para comércio dos produtos manufaturados excedentes, marcos que serviam para

fazer a divisão das áreas. A necessidade de alimentar e prender os animais exigia

equipamentos de uso coletivo como postes para amarrá-los, segundo Carmona (1985 apud

SEABRA ÁGUAS, 2009).

Page 20: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

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Os sanitários públicos da Antiga Roma são exemplos de mobiliários urbanos que, de

acordo com Jovés, (2007 apud ARAÚJO, 2008), pode ser considerado um dos primeiros

elementos classificados propriamente como mobiliário urbano. Outros equipamentos ligados a

água tiram importância como: termas de banho público, poços, fontes, bebedouros e das

primeiras latrinas públicas, respondendo às exigências de higiene e conforto individual.

Sendo as fontes o maior legado da antiga Roma para a cidade moderna, segundo Mumford

(1965 apud ARAÚJO, 2008). Atualmente muitos destes equipamentos históricos passaram a

ser de função simbólica convertidos em obras de arte pública, Remesar (2004 apud

ARAÚJO, 2008).

Apareciam também os bancos, porém, no geral, estavam interligados às edificações.

Assim como também a iluminação pública, apesar de serem elementos muito rudimentares,

Remesar (2004 apud ARAÚJO, 2008).

Sitte e Andrade (1992), afirmam que na Idade Média havia também as forcas,

guilhotinas e os primeiros pelourinhos, (figura 1), Sortelha em Portugal.

Figura 1 – Pelourinho de Sortelha, em Portugal. Fonte: ARAÚJO, Roberto Gonçalves. O mobiliário urbano ao longo dos tempos. In: COLÓQUIO SOBRE HISTÓRIA e HISTORIOGRAFIA DA ARQUITETURA BRASILEIRA, 1, 2008, Brasília, DF. Anais...

No final da idade média surge uma maior generalização da iluminação, que obrigava

os habitantes a manterem uma vela na janela de suas residências como forma de iluminação

pública.

Em época seguinte, surgem placas nas ruas, numerosas bancas e pequenas lojas nos

espaços públicos. Os marcos se expandem continuamente numa tentativa de controlar a

crescentes circulação de veículos. Dá-se a introdução de vias destinadas a pessoas (passeios) e

a veículos (estradas), segundo Remesar (2004 apud ARAÚJO, 2008), que implica na

progressiva pavimentação dos espaços.

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Os elementos que continuaram evoluindo na tentativa de uma estruturação foram os de

iluminação pública. Os novos elementos eram constituídos por uma as lanternas de vidro

com vela dentro, geralmente localizadas nas janelas dos proprietários detinham a

responsabilidade sobre elas. Mais tarde, no século XVIII, passou-se a iluminação a azeite

para substituir as velas. Estes, foram denominados os primeiros candeeiros, eram constituídos

por lanternas suspensas nas extremidades de uma haste de ferro, ou tinha um sistema de

roldanas para fazer subir e descer para manutenção.

Figura 2 – Postes de iluminação.Fonte: ARAÚJO, Roberto Gonçalves. O mobiliário urbano ao longo dos tempos. In: COLÓQUIO SOBRE HISTÓRIA e HISTORIOGRAFIA DA ARQUITETURA BRASILEIRA, 1, 2008, Brasília, DF. Anais...

A partir do século XIX com o surgimento do sistema de iluminação a gás que

modernizou a cidades, ornamentados com motivos vegetais e coroados por um capitel (figura

2). O século XX é sinônimo de consolidação da iluminação elétrica e assume caráter

definitivo do serviço público ao cidadão e a fazer parte da paisagem das cidades.

No Brasil, a partir de 1808, com a chegada da corte portuguesa, foram feitas

importantes intervenções na cidade do Rio de Janeiro com implantação de serviços públicos.

Os investimentos públicos equiparam a cidade com novas fontes e chafarizes, pontes e

calçadas, além de iluminação pública feita com óleo de peixe, afirma Araújo (2008).

Mais tarde, com as descobertas científicas a Grã-Bretanha começou a utilização do

carvão de pedra, no lugar do carvão vegetal com o propósito de redução do minério de ferro,

despontando na siderurgia. A descoberta possibilitou o uso do ferro fundido em larga escala

na construção civil, estradas de ferro, peças construtivas e ornamentais muito usadas no

século XIX. No mobiliário o urbano utilizou-se em postes, torres de relógios, bebedouros,

coretos, bancos de praça e grades.

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No Brasil, com a prosperidade econômica por conta do café e da borracha, percebe-se

que houve necessidade de seguir os modelos de estética urbana europeia. Pois foram

importados vários elementos para os espaços urbanos brasileiros, tais como pequeno porta-

cartaz, quiosques de jornal, bebedouros, fontes, relógios, postes de iluminação, equipamentos

sanitários, conforme Costa (2001, apud ARAÚJO, 2008).

Os elementos de mobiliário urbano moderno surgem verdadeiramente no século XX

quando é alcançada sua racionalização. Época em que se da maior importância à estética e a

qualidade de vida dos usuários e que o termo mobiliário urbano refere-se ao sentido atual.

Neste período, alguns elementos são abandonados ou substituídos por outros conceitos. Como

os marcos que perdem o sentido com o surgimento dos passeios em elevação e as fontes que

perdem a utilidade com a chegada da água canalizada as casas, assumindo caráter de arte

urbana. As placas com o nome das ruas e os números das casas vão sendo utilizados de

forma mais racional.

Surgem os bancos. A iluminação do espaço público continua se destacando de

evolução e apresenta seu ápice com o surgimento da pavimentação das ruas, como afirma

Carmona (1985 apud SEABRA ÁGUAS, 2009). As colunas (figura 3) passaram a ser um

equipamento desenvolvido para a fixação de cartazes no espaço público: função publicitária; a

função social, evitando a colocação desordenada de anúncios; e a função financeira, uma vez

que a empresa interessada no uso da coluna pagava ao município por exclusividade da

concessão beneficiando economicamente o poder público, como explica Araújo (2008). Era

uma seção cilíndrica onde se colocavam os anúncios de concertos e peças de teatro, como um

espaço publicitário, na intenção de organizar.

Com a expansão das cidades os administradores públicos tiveram que encontrar novos

meios de solucionar problemas relativos à circulação, saneamento básico, melhoria do

ambiente urbano e estética da cidade.

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Figura 3 – Coluna anunciadora. Fonte: ARAÚJO, Roberto Gonçalves. O mobiliário urbano ao longo dos tempos. In: COLÓQUIO SOBRE

HISTÓRIA e HISTORIOGRAFIA DA ARQUITETURA BRASILEIRA, 1, 2008, Brasília, DF. Anais...

A transformação dos antigos aglomerados urbanos de ruas estreitas, mal

pavimentadas, insalubres em cidades modernas e sistematicamente ordenadas propiciou o

local ideal para desenvolvimento dos espaços urbanos como os conhecemos hoje. Surgiram os

quiosques de flores e revistas. Porém, o fenômeno que motivou o desenvolvimento de novos

equipamentos foi a disseminação do transporte público que fez surgirem as paradas de

ônibus. Antes representadas simplesmente por um poste e uma placa e posteriormente veio a

constituir-se de fato por abrigos para os passageiros.

A segunda parte do século XX indica a última grande transformação do mobiliário

urbano na atualidade. Marcada notadamente pelo desenvolvimento de novos métodos

produtivos, novas tecnologias, novos materiais; por novas tecnologias de transporte e de

comunicação que propiciaram a criação de artefatos específicos (abrigo para os passageiros,

cabines telefônicas, elementos de sinalização, armário técnico, protetor de pedestres); e,

principalmente, por transformações das necessidades sociais humanas que geram novas

necessidades para com o espaço público.

Até o momento haviam muitos e variados conceitos para definir mobiliário urbano e

tratou-se de forma generalizada englobando e fazendo referência a qualquer conjunto de

produto/objeto locados em espaços públicos e de funções urbanas. Como na definição de

Ferrari (2004, p. 240) no ‘Dicionário de Urbanismo’: “conjunto de elementos materiais

localizados em logradouros públicos ou em locais visíveis desses logradouros e que

complementam as funções urbanas de habitar, trabalhar, recrear e circular [...]”.

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Portanto, para fins mais didáticos de conceituação buscou-se amparo na Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) com as Normas Brasileiras (NBR) 9.283 e 9.284 que

diferenciam, definem e classificam, em categoria e subcategoria segundo sua função

predominante em termos específicos, respectivamente, mobiliários urbanos e equipamentos

urbanos.

A NBR 9.283:1986 – ‘Mobiliário urbano’ tem por definição: “todos os objetos,

elementos e pequenas construções integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou

não, implantada mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados.”

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986a, p. 1).

E a NBR 9.284:1986 – ‘Equipamento urbano’ tem por definição: “todos os bens

públicos e privados, de utilização pública, destinados à prestação de serviços necessários ao

funcionamento da cidade, implantados mediante autorização do poder público, em espaços

públicos e privados.” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986b, p.

1).

Onde cada qual especifica em categorias e sub-categorias uma vasta listagem de

produtos/objetos/ambientes a que pertencem, sendo alguns item comuns as duas normas. E,

para contexto deste documento, destaca-se a categoria ‘4.3 Esporte e Lazer’ que inclui parque

e praças e a categoria ‘Educação’ que inclui faculdades e universidades da NBR 9.284 –

‘Equipamento Urbano’. Da NBR 9.283 – ‘Mobiliário Urbano’ destaca-se a categoria ‘4.9

Ornamentação da Paisagem e Ambientação Urbana’ que contém bancos e assentos.

Há também a NBR 9.050:2004 – ‘Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e

equipamentos urbanos’ que tem as diretrizes para novos projetos e adequação dos espaços

existentes de forma acessível a portadores de necessidades especiais (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004).

No entanto, para Creus (1998 apud SERRA, 2002) ‘Elementos Urbanos: Mobiliários e

microarquitetura’, e no livro de Mourthé (1998) ‘Mobiliário Urbano’, o termo mobiliário

urbano não é muito correto por gerar ambiguidade com mobiliar ou decorar a cidade no seu

sentido mais superficial e estético fazendo uma relação no sentido mais antigo da história das

cidades no qual se fazia alusão à decoração da cidade. Sugere o termo ‘Elementos Urbanos’, o

qual será utilizado apartir de agora neste documento e por abranger tanto os mobiliários

quanto os equipamentos urbanos que serão geridos. Além de o termo atual enfocar a

colocação dos elementos urbanos nos espaços livres das paisagens urbanas segundo sua

funcionalidade, característica importante a ser considerada, pois segundo Mourthé (1998),

contribui para que os usuários utilizem e preservem o ambiente.

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2.1.4 Espaços Livres

Agora como já se conhece os elementos que compõem os espaços livres pode-se

entender melhor sua definição. Segundo Magnoli (1983), espaço livre é todo espaço não

ocupado por um volume edificado ao redor das edificações a que as pessoas têm acesso.

Conforme Carneiro e Mesquita (2000, p. 27) apresentam função de convívio social,

elemento organizador da circulação se inseridos na malha urbana, função de respiradouros, de

propiciadores do encontro social e atividades lúdicas temporárias. Citam ainda que estes

espaços são consolidados apartir das necessidades surgidas durante o processo inicial de

ocupação do local.

Robba e Macedo (2002, p. 17) explicam que os espaços livres públicos urbanos são

destinados ao lazer e ao convívio da população, além de serem acessíveis aos cidadãos e

livres de veículos.

A qualidade nos espaços urbanos em geral está vinculada a sua utilização pelo público

e alguns aspectos devem ser seguidos, como sugere Macedo (1995):

• Adequação funcional – formas e dimensões adequadas às atividades.

• Adequação ambiental – salubridade, ventilação, insolação, sombreamento (a

qualidade da água) e ainda permeabilidade do solo, estabilidade, rugosidade dos

pisos.

• Adequação estética – que variam de acordo com as expectativas sociais.

Os espaços livres também podem ser definidos morfologicamente pelos planos

horizontais e verticais, seus elementos são os naturais, tais como as encostas dos morros, os

arvoredos e os arbustos. O plano horizontal é delimitado principalmente pelo piso, com

diferentes tipos de pavimentos, grama, areia, cimento, asfalto e por expressivas superfícies de

água.

São exemplos de espaços livres: as ruas, praças, largos, pátios, quintais, parques,

jardins, baldios, corredores externos, vilas e vielas.

Outros termos também são utilizados para definirem áreas específicas que fazem parte

do espaço livre. Os mais utilizados são:

1. Espaços verdes são áreas urbanas ocupadas por qualquer tipo de vegetação e que

tenham um valor social: bosques, campos, matas, jardins, alguns tipos de praças e parques. O

valor social pode estar associado a utilidades, tais como a produção de alimentos, ou pelo

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interesse para a conservação de ecossistemas, pelo valor cultural, estético e de lazer. Áreas

Verdes designam toda e qualquer área onde por qualquer motivo exista vegetação. Entretanto,

não é vista somente do aspecto valor social anteriormente mencionado, mas pode ser também

um remanescente como um baldio (que não existirá mais) ou como uma rótula ou ilha do

sistema viário, que raramente são utilizados.

2. Áreas de Lazer são espaços livres de edificação, destinados prioritariamente ao lazer,

sejam eles ativos (devido às possibilidades de jogos de atividades) ou de contemplação

(devido à tranquilidade ou aos aspectos cênicos). Devido à carência de espaços destinados

para este fim, é comum que as atividades de lazer aconteçam nas ruas e calçadas.

3. Áreas de Circulação são a maioria dos espaços livres de propriedade pública, como é o

caso do sistema viário, praças, parques, largos e passeios, que se constituem em um sistema

de espaços públicos. Os interiores dos condomínios e vilas podem ser considerados espaços

livres privados, o que inclui a circulação. Segundo o conceito ambiental, o sistema de espaços

livres pode ser organizado a partir dos ecossistemas existentes, em especial as linhas de

drenagens das bacias hidrográficas.

2.1.5 Ambiente

“A forma física de uma cidade tem um impacto sensorial que condiciona profundamente a vida de seus habitantes, e esse fato é frequentemente ignorado na tarefa da construção urbana.” Kingsley Davis

Das questões apresentadas anteriormente esta é que mais se aproxima da área de

arquitetura e urbanismo. Pois, trata-se do local, espaço ou ambiente que será gerido através

dos seus elementos. E a preocupação com o espaço deve ser ainda maior por se tratar de um

local onde ocorrem sensações e percepções de conforto, segurança, bem-estar aos usuários.

Estes espaços livres, seja das cidades universitárias ou não, pertencem a um bairro e, por sua

vez, a uma cidade, que se apresenta em um contexto urbanístico em que o projeto dos novos

elementos deve-se integrar e os existentes devem ser conservados e mantidos.

Há muitos aspectos visuais e estéticos de características importantes para os espaços

livres. Como a legibilidade (ou clareza), explicada por Lynch (1997), Cauduro (1981), Davis

et al (1977) e Mourthé (1998) refere-se à característica do lugar em oferecer evidência visual

com relação aos pontos focais de referência que auxiliem o deslocamento e orientação dos

indivíduos. Assim como a facilidade de apresentar as partes reconhecíveis e relacionáveis

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com o usuário, ou seja, é preciso que ele localize estes pontos de referência em um lugar,

saiba utilizar, compreende-lo e orientar-se apartir destes elementos. Estruturar e identificar o

meio ambiente são questões de sobrevivência na orientação para o deslocamento dos

indivíduos. Boa legibilidade ou clareza dão sentido importante de segurança emocional

(inverso de perdido) ao indivíduo.

São muitos os tipos de orientações utilizados fornecido pelo meio ambiente. Como,

por exemplo, podemos citar as orientações sensoriais (a sensação visual da cor, da forma, do

movimento, da luz, assim como o cheiro, o ruído, barulho ou som dos pássaros, o tato, a

cinestesia).

Outra característica de qualidade é a identidade do local. Representa o conjunto de

atributos peculiares de um determinado lugar reconhecíveis por seus objetos, os quais se

distinguem de elementos de outros locais pela sua individualidade e particularidade. Mantém

uma relação espacial destes com o observador com significado prático ou emocional. Estes

aspectos dão uma unidade ao lugar, conferindo-lhe uma coerência formal. Uma vez que,

estes elementos são repetidos acabam criando uma linguagem de identidade nos espaços

públicos.

Davis et al (1977) apresentam ainda quatro pontos que se deve evitar ao se projetar os

espaços urbanos. O primeiro deles é preocupar-se com a carga de tensão perceptiva, onde as

sensações devem estar num limite de conforto ou tolerância. A segunda e a terceira são, as já

mencionadas, falta de identidade e ilegibilidade. E, por fim, a quarta é a rigidez, que é a

capacidade que o meio ambiente tem de permitir que o indivíduo possa interagir naquele

espaço. Seja usando-o, transformando-o ou organizando-o de forma que possa ser acessível,

estimulante e sensível de forma individual ou que auxilie em ações coletivas favorecendo a

satisfação de relações interpessoais. Uma vez que a imagem visual desse ambiente é formada

diferentemente por cada pessoa dependendo de acontecimentos, recordações e experiências

passadas, segundo Lynch (1997).

Estas características são apontadas para garantir a qualidade em qualquer espaço

público, segundo os autores já citados. Porém, cada lugar pertence a um contexto único com

características que evidencia o seu caráter singular e específico. Assim, temos uma

diversidade de ambientes públicos onde cada um tem sua importância simbólica atuando na

vida e nas lembranças dos usuários como cenários do seu comportamento particular.

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Estes ambientes públicos, especialmente nas cidades universitárias, desempenham um

papel social importantíssimo. Pois, fornecem a matéria-prima para os símbolos e as memórias

coletivas de interação em grupo e ao mesmo tempo são locais de mitos socialmente

importantes na vida dos universitários. São locais onde os elementos móveis, pessoas e

atividades, são tão importantes como as suas partes físicas e imóveis, como destaca Lynch

(1997).

As ruas, passeios e vias por se tratarem de traçados de deslocamento (especialmente

nas cidades universitárias onde há grande circulação de pedestres) constituem meios

significativos de organização e interligação de elementos de mobiliário urbano. Apresentam

qualidades particulares de concentração de hábitos, atividades ao longo de suas margens e

grande circulação.

Funcionam como um esqueleto estrutural da cidade universitária. Servem também

como limites, já citado por Lynch (1997), separando de centros acadêmicos como se fossem

bairros. Uma área de caráter homogêneo, reconhecida por indicações que são contínuas dentro

de uma mesma área. Com características espaciais homogêneas como requisito da identidade.

Outro elemento direcionador e orientador de ponto de referência, citado por Lynch

(1997), são as superfícies. Podem estar caracterizadas por determinado tipo de pavimento,

textura, transparência ou uma cor codificada. Durante a caminhada a mudança do tipo de

pavimento representa bem essa característica: caminha-se por uma calçada de cimento, depois

atravessa-se a rua de asfalto ou de lajotas, retorna-se pelo passeio de cimento e ainda pode-se

passar por um caminho de grama ou areia.

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3. NECESSIDADES DOS USUÁRIOS

Segundo Cauduro (1981), cada vez mais se torna necessário fazer uma análise cultural

e histórica dos locais e dos habitantes ao se projetar algo. Principalmente o estudo dos hábitos

e costumes de uma determinada região, pois, ao se projetar para o meio ambiente, estará se

projetando também para uma comunidade inteira e este terá o resultado mais positivo quanto

maior for o seu conhecimento sobre os valores, comportamentos e necessidades humanas.

Uma vez que são as pessoas que detêm os hábitos dos espaços livres urbanos que os

elementos devem atender, como reforça Mourthé (1998). Quem vive na região da sua cultura

local aprecia com sentimento e sem julgamento os espaços urbanos, utilizando-o com prazer e

as sensações que lhe possam transmitir. Diante disto, pode-se envolver profissionais

qualificados especificamente para auxiliar nesta análise do conhecimento e comportamento

humano, como por exemplo, antropólogos e sociólogos.

Mourthé (1998) explica também que o ato de criar / manter um espaço em função da

análise dos hábitos e comportamentos fica mais claro com a prática, pois a experiência auxilia

o aperfeiçoamento da estética e do conhecimento da cultura daquela região.

Os elementos urbanos, mais especificamente os mobiliários e equipamentos, possuem

um papel interativo entre o espaço público e os usuários que influenciam e são influenciados

pelos comportamentos sociais e expressões culturais. São produtos funcionais e de serviços

que, justamente, por servirem para algo e para alguém se conserva, se preserva, é o que

explica Mourthé (1998), as conveniências ajudam a diminuir o vandalismo, pois as pessoas

tendem a preservar mais as coisas que precisam.

Cauduro (1981) diz que juntamente com as novas tecnologias surgem novos hábitos,

novas funções urbanas e novas condições de vida. Muitas necessidades dos indivíduos que

passam boa parte do dia nas ruas precisam ser atendidas através de um sistema coordenado de

elementos urbanos com índices satisfatórios de conforto, conveniência aos usuários

combinados com uma estética agradável.

Direcionando o foco para as cidades universitárias, percebe-se que em função do

transito cada vez mais difícil de circular pela cidade, tarifas altas do transporte público e uma

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grade de horários ampla dos trabalhadores e irregular dos alunos são alguns dos motivos que

fazem as pessoas permanecerem boa parte do dia fora de casa. Dividindo o tempo entre

trabalho, estudo, estágio, aula, momentos ociosos e de lazer. Cada vez mais a rua deixa de ser

um local de passar para um local de estar, havendo a necessidade de um lugar que os acolha.

Os espaços livres são locais propícios para receber as pessoas entre uma atividade e

outra, independente do tempo entre elas. Observou-se algumas atividades desenvolvidas pelas

pessoas da Universidade Federal de Santa Catarina e percebeu-se que estes locais atuam

diretamente na qualidade de vida se permitir alguns fatores, caso contrário serão tratados com

desprezo, vandalismo e tornar-se-á uma zona de conflitos.

Observou-se que as pessoas precisam de algum local que permitia interações sociais.

Um espaço que proporcione o encontro e seja fácil de localizar. Onde possam permanecer por

um determinado tempo para o convívio social e contemplativo. Exige alguma estrutura que os

permita estar, permanecer, ficar mesmo que não seja para nenhuma atividade específica,

apenas contemplativa.

Cultural. Por ser um espaço aberto e frequentado por pessoas de várias áreas do

conhecimento há expressões culturais dos mais variados tipos. Encontra-se música,

apresentações artísticas, culturais, circense, teatrais, exposições, instalações, intervenções,

assim como, palco para manifestações sociais, protestos e reivindicações.

Circulação. Caminhos que permitam transitar de uma edificação a outra ou de uma

área livre a outra de forma tranquila, sem obstáculos, em caminhos sinalizados, orientados,

contemplativos, acessíveis, com segurança e bem iluminados. Pode-se pensar em calçadas

para os pedestres, ciclovias ou ciclo faixa (corredores de circulação) para as bicicletas, patins

e afins e as vias para os veículos automotores.

Conveniências. Usar o espaço da rua é revitalizar o ambiente, fomentar a região e, por

mais contraditório que possa parecer, também é preservar. Permanecer muito tempo fora de

casa acarreta em algumas necessidades que a prestação de serviços pode suprir. Há

necessidades básicas como utilizar uma lanchonete ou restaurante e sanitários. E outras que

são conveniências e comodidades, como serviços de fotocópia, fotografia para documentos,

livraria, lavação automotiva, venda de artesanatos e produtos orgânicos em barracas, abrigo

de passageiros de ônibus.

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Meio ambiente. Além de permitir aproximar a população urbana da natureza torna o

local mais agradável, utiliza-se a sombra, colorido, o aroma das árvores, flores e frutos.

Espaços verdes diminuem a temperatura, melhoram a qualidade do ar, valorizam a região do

entorno e funcionam como uma barreira sonora. Colaboram para a qualidade de vida, saúde

física e psicológica dos cidadãos. Podem ter inseridos no seu contexto espaços didáticos, de

lazer e de contemplação. Aproximar a população da natureza informando e educando aumenta

a chance da população preservar.

Sustentável. A presença de coletores de lixo separados por categorias de reciclagem,

pontos coletores de pilhas e baterias, recolhimento de lixo eletrônico são alguns exemplos de

pequenas iniciativas que trazem benefício para as pessoas que precisam e querem descartar

corretamente os materiais. Além do benefício ambiental da preservação, conservação e

reaproveitamento dos materiais isso também traz a consciência ambiental para mais perto da

população.

Tecnologias. Conforme explicou Cauduro (1981), com as novas tecnologias surgem

novos hábitos, novas funções urbanas e novas condições de vida. Com a propagação de

internet sem fio pelo campus universitário mudam também os hábitos de estudos. É possível

perceber pessoas e grupos reunidos com computadores portáteis, celulares e afins que

acessam informações para estudo ou lazer nos espaços livres, ambiente que se permite ficar de

forma mais descontraída e mais a vontade com os colegas, se compararmos a uma biblioteca,

por exemplo. Também há o benefício dos painéis de luminosos que informam a hora, a

temperatura e publicidade.

Acessibilidade. Sua falta pode impedir ou não propiciar um dos direitos mais básicos

da constituição, o direito de ir e vir, e causar constrangimentos, como citado no artigo

Acessibilidade para pessoas portadoras de deficiências, de LIMA (2006). Este fator não

restringe-se apenas a locomoção, mas a orientação, boa iluminação, calçadas com material

apropriado para o deslocamento de cadeiras de rodas, áreas de descanso ao longo das faixas

de circulação, posicionamento de mobiliário urbano adequadamente, largura das calçadas,

local para que a pessoa cadeirante possa ficar de forma integrada nos espaços de interação

social, acesso das edificações para as áreas livres, conexão com as vias públicas (incluindo a

transposição de um lado para o outro e vias públicas) e integração com o transporte público.

Em resumo, permitir mobilidade e acessibilidade de bens e serviços com o uso equitativo da

cidade universitária e integração sócio espacial da população.

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Dentro do desenho urbano é possível desenvolver uma proposta arquitetônica /

urbanística / paisagística para que a gestão consiga um diálogo harmônico entre usuários e

ambiente trabalhando com características que os conecte ao local, tornando-os proativos nas

atividades de uso, criando novos usos, acolhendo bem os usuários e recepcionando os novos.

Como exemplo de uso dos ambientes livres urbanos de forma a respeitar as várias

formas de se usar o espaço público sem conflitos pode-se citar o mapa que foi criado para o

Parque do Ibirapuera. Nele são indicados os locais mais propícios para cada atividade como,

por exemplo, locais para encontrar pessoas, pensar, ler e brincar com as crianças.

No caso das cidades universitárias, especificamente a Universidade Federal de Santa

Catarina – UFSC aonde se observou estes fatores, pode-se mapear em três grupos de

atividades conforme os fatores apresentados à cima: de estar, de deslocar e de contemplar.

Estar inclui interações sociais, cultural, conveniências e tecnologia. Atividades que também

se pode relacioná-las com o desenvolvimento social, o lazer, tempo livre e vivências.

Deslocar inclui circulação e acessibilidade. Fatores relacionados com o movimento,

atividades de passagem e caminhos. Contemplar inclui os fatores de meio ambiente e

sustentável. Incentiva e abriga interações com a natureza, relaxamento e bem-estar, mais

relacionados com a ambiência do que com uma atividade especificamente.

A ocupação do tempo livre e suporte social auxiliam na diminuição da insegurança,

vandalismo e criminalidade, conforme (PERES, 2013).

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4. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESPAÇOS LIVRES: PLANEJAMENTO,

GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO

Assim como cuidar dos espaços livres um pequeno quintal residencial exige

organização, mão-de-obra, material e planejamento e demanda de empenho gestar os espaços

livres das cidades e cidades universitárias mais ainda, dada tamanha proporção.

Os espaços públicos urbanos, como visto anteriormente, surgiram principalmente de

uma necessidade de ordem econômica, a fim de permitir a comercialização dos produtos

agrícolas excedentes em regiões de maior aglomeração populacional. Com isso, motivou

também novos hábitos, necessidades nos fatores sociais, culturais, ambientais, físicos e,

posteriormente, estéticos. E os elementos urbanos serviram e servem até hoje de instrumento

para o convívio social em áreas públicas cumprindo suas funções estéticas, básicas e

simbólicas.

Diante disso, os gestores dos ambientes urbanos deverão ter como premissa para os

seus projetos a análise dos fatores de ordem econômica. Pode-se exemplificar as questões

relacionadas ao projeto dessas áreas. Manutenção dos seus equipamentos, durabilidade,

reparos, facilidade de montagem e desmontagem dos mesmos. Cuidados com o paisagismo:

manutenção, podas, plantiu, adubação e varrer folhas e lixo. Pintura de fiaxas de pedestres e

meio fio. Entre outros elementos da paisagem elencados no c apítulo anterior, como as vias,

os limitantes geográficos, os cruzamentos e os pontos marcantes da paisagem urbana. Todos

estes fatores exigem estimativa de custo para criação e manutenção.

Por serem elementos públicos e expostos em áreas livres, considerar também a

variação de temperatura, granizo, salinidade, precipitação, vento e sol caracterizando os

fatores ambientais. De modo que os materiais utilizados devem ser considerados para resistir

às intempéries. Incluindo também neste item a iluminação do local, natural ou fornecidas por

sistema próprio.

Preocupar-se com os fatores físicos do local de destino destes elementos de modo que

deverão ser correspondentes e integrados ao ambiente já construído no entorno. Adequando

sua configuração formal ao contexto, sem deixar de respeitar os fatores esclarecidos acima

nem os seguintes.

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27

Os fatores sociais e culturais analisando o local respeitando, a natureza do lugar e o

uso social. Para garantir um ambiente agradável que respeite os usuários e suas várias

necessidades criando uma relação afetiva e simbólica entre o indivíduo e o espaço público.

Com relação aos últimos fatores supra citados, sociais e culturais, deve-se faz um

alerta. Atualmente com a facilidade de comunicação, advinda das tecnologias, as empresas

disponibilizam o catálogo dos produtos na Internet. Mesmo que criados por designers, e com

projetos bem resolvidos, não foram desenvolvidos preocupando-se com o ambiente e o

contexto social e cultural para onde serão implantados. E os critérios de compra baseiam-se

em uma estética interessante e na segurança mais do que a preocupação em criar uma

identidade para o local, correndo-se o risco de se ter uma ‘homogeneidade cultural’. Onde o

mesmo mobiliário pode ser encontrado em locais de características históricas e sociais

diferentes.

Além da produção por conta das próprias instituições públicas, há outras formas de se

adquirir os elementos urbanos para as cidades. Uma delas é a compra por licitação. Onde são

especificados tecnicamente todos os produtos a serem adquiridos e as empresas que se

interessarem em fornecer estes elementos apresentam suas propostas de preço. A empresa que

apresentar o menor valor será responsável pelo fornecimento destes produtos.

Outra forma de aquisição dos elementos urbanos é por meio de concurso público.

Promovido pela própria instituição pública (prefeitura, instituto de planejamento urbano,

secretaria de urbanização ou outras instituições de gestão pública) onde a empresa vencedora

é a responsável pela concepção, desenvolvimento, fabricação, instalação, manutenção,

limpeza e conservação dos elementos e local por um determinado tempo.

Pode haver também uma parceria entre a instituição pública e uma empresa privada.

Em forma de concessão a empresa instala os elementos urbanos e provém a sua manutenção

em troca de comercializar os espaços publicitários.

Para se ter um espaço livre público de qualidade é necessário seguir alguns processos,

como planejamento, projeto, orçamentação, execução / manutenção e/ou reforma. Para

estas fase propõe-se o trabalho de uma equipe multidisciplinar onde o gestor poderá contar

com arquitetos, urbanistas, paisagistas, geógrafos, designers, engenheiros ambientais,

engenheiros agrônomos, cientistas sociais, etc. e outro profissional que se julgar necessário

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28

para o caso de um projeto mais específico ou diferenciado para a produção dos espaços livres

fazendo-se uso da elite culta disponível no quadro de funcionários das instituições públicas.

Por se propor uma equipe multidisciplinar faz-se necessário a figura de um líder, o

gestor, o qual irá gerenciar e gestar as políticas públicas que irão resultar nos espaços livres,

bem como os processos de produção e reprodução do espaço urbano, seus diferentes usos e

interesses de ocupação.

O espaço urbano é um produto social composto por agentes que consomem e

produzem este espaço de acordo com seus interesses. O poder público atua na organização

espacial da cidade para tornar os direitos e, também os deveres, mais equitativos de forma

legitimada. E com o planejamento urbano numa situação ideal de ênfase no social e

preservação dos recursos naturais, tentando desvincular a ideia de que crescimento e

desenvolvimento urbano são diretamente proporcionais à degradação do meio ambiente.

Toda a produção de um espaço urbano começa a ser organizado através de um

planejamento. Como explica Souza (2006), planejar significa tentar prever a evolução de um

fenômeno, tentar simular desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor

precaver-se contra prováveis problemas. É uma ação para se realizar no futuro, com todas as

etapas descritas, pensadas e resolvidas e, alguns riscos ou chances de erros calculados. Para

isso, utiliza instrumentos metodológicos, administrativos, legislativos e de gestão para o

desenvolvimento de atividades num determinado espaço e tempo, incentivando a participação

institucional e dos cidadãos, induzindo a relações mais estreitas entre sociedade e autoridades,

(SANTOS, 2004, p. 24).

É uma preparação para a gestão onde a ênfase principal está na tomada de decisões.

Quem planeja procura entender o processo em todo seu contexto, não centrados em apenas

um tema, mas procurando trabalhar entre as diversas especialidades que compõem processo.

Já a gestão refere-se as ações do presente. Segundo Souza (2006), gerir significa

administrar uma situação dentro da disponibilidade dos recursos e visando atender as

necessidades imediatas. Tem o papel de realizar as ações do planejamento e a efetivação, ao

menos em parte, das condições que o planejamento, feito anteriormente, ajudou a construir,

(SOUZA, 2006, p.46).

Sendo assim, os termos apresentados, são distintos, porém complementares. Tanto a

gestão é algo indispensável, pois consiste em administrar os recursos e as relações de poder

Page 36: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

29

no presente momento, como a falta de planejamento nos priva de escolher e prever as

melhores possibilidades e, por consequência, os melhores resultados, (SOUZA, 2006).

Em se tratando de planejamento e desenvolvimento de áreas públicas urbanas deve-se

pontuar ao menos dois objetivos como de praxe para o planejamento e gestão urbanos: a

melhoria na qualidade de vida e o uso equitativo, com justiça social.

Todas estas etapas de produção do espaço público e das áreas livres devem atender

prioritariamente aos princípios constitucionais da administração pública fedral, art. 37 que

regem da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicicdade e eficiência. Sendo

Administração Pública explicada por Afonso da Silva (2007, p. 655) como:

[...] conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e humanos preordenados à execução das decisões políticas, noção simples de Administração Pública, que destaca, em primeiro lugar, que é subordinada ao poder político, em segundo lugar, que é meio, e, portanto, algo de que se serve para atingir seus fins definidos e, em terceiro lugar, denota os seus dois aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do Poder político e as operações, as atividades administrativas.

E, sucintamente, pode-se explicar seus princípos. Iniciando com legalidade em que

pode-se dizer que o administrador público somente poderá fazer o que estiver expressamente

autorizado em lei e nas demais espécies normativas, segundo (MORAES, 2002), só sendo permitido

fazer o que a lei autoriza.

Impessoalidade deriva de “impessoal” e representa algo que não é pessoal. Bandeira

de Mello (2005, p. 104) diz que os administrados têm que ser tratados sem diferenças nem

interesses sectários ou grupos de qualquer espécie. Está diretamente ligado à igualdade e

isonomia.

Moralidade exige da administração comportamento não apenas lícito, mas também

consoante com a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de

justiça, de equidade e a idéia comum de honestidade segundo relata Di Pietro (2007, p. 333).

Publicidade administrativamente remete à transparência. No sentido que os

administrados tenham conhecimento do que os administradores estão fazendo, conforme

explica Afonso da Silva (2000, p. 653). Isto pode se feito por meio de publicação em diário

oficial ou edital de divulgação de atos públicos para conhecimento do público em geral.

Assim, afirma-se a democracia de modo que o povo pode acompanhar, com transparência, a

materialização e o desenvolvimento das atividades administrativas. Para este princípio há

Page 37: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

30

exceções e estão previstas no art. 5º da CRFB - Constituição da República Federativa do

Brasil.

Eficiência, em se tratando de gestão pública, significa que a administração pública

tem a obrigação de desempenhar suas atribuições buscando a forma mais satisfatória possível

para a coletividade. Assim, atingem-se os objetivos empregando corretamente os recursos e os

meios (humanos, materiais e institucionais) para melhor satisfazer às necessidades coletivas,

Moraes (2000, p. 303).

Além dos princípios constitucionais da administração pública, art. 37, existe critérios

de controle externo, geralmente controlados pelo TCU – Tribunal de Contas da União, no art.

71 e de controle interno feito pelo próprio poder executivo, regido pelos artigos 70 e 74, feito

normalmente pelo sistema de auditoria. Este tipo de controle acompanha execução do

orçamento, verifica a legalidade na aplicaçãodo dinheiro público e auxilia o TCU no exercício

de sua missão institucional, segundo Pietro (2011). Portanto, entende-se que estes tipos de

critérios tratam do controle dos gastos público, com minimização dos custos sem perder a

qualidade especificada.

Cabe ressaltar que outros princípios de diversas normas, como os de Responsabilidade

Fiscal, da Lei Complementar Nr. 101/2000, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal -

LRF (Planejamento, Transparência, Controle e Responsabilização), os Orçamentários, da Lei

Nr. 4.320/64 (Unidade, Anualidade, Universalidade - UAU) e os de outras normas legais

como os da Lei Nr. 8.666/93, os da Lei 8.112/90, também dispõem sobre atos e fatos que

todos os Gestores Públicos devem observar.

Além dos princípios taxativamente enunciados no art. 37 da CRFB, existem dois

outros postulados previstos na Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo

administrativo no âmbito da Administração Pública Federal e mais se aproximam das

atividades relacionadas as etapas de produção dos espaços livres: proporcionalidade e

razoabilidade. Dentre outros, também há o princípio da legalidade, finalidade, motivação,

razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,

interesse público e eficiência.

Razoabilidade é um princípio regido principalmente pela proporcionalidade, justiça e

adequação entre os meios utilizados pelo Poder Público e os fins por ela almejados, levando-

se em conta critérios racionais e coerentes conforme explicou Bucci (1996 apud MORAES,

2002, p. 114). É a maneira de fazer os processos para atingir os interesses públicos.

Page 38: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

31

E, para compreender perfeitamente o conceito, explica-se proporcionalidade segundo

Carvalho Filho (2009, p. 38) como sendo o ato de conter o excesso de poder do agente público

no sentido de adequação das medidas tomadas pela administração às necessidades

administrativas, quando se julgar necessário.

Além das questões técnicas, jurídicas e legais pode-se considerar alguns

desdobramentos mais detalhados e específicos, porém não menos relevantes, para que se

possa começar a planejar um espaço livre.

Como já foi proposto, o planejamento dos elementos urbanos é uma prática

multidisciplinar e que a inserção destes elementos deve-se integrar positivamente à paisagem

dos espaços livres de forma a qualificar os mesmos com ordem e estética. Na eficiência de

suas funções reais e simbólicas adequadas à cultura local e boa legibilidade. Levando-se em

consideração para a projetação dos elementos urbanos que irão compor o espaço a tríade

citada por Creus (1998 apud SERRA, 2002): a racionalidade, a emotividade e a

funcionalidade.

Para tanto, nota-se que devem ser consideradas mais três grandes questões levando em

consideração a totalidade dos espaços livres: o ambiente e o contexto em que estes elementos

serão inseridos; o design especificamente das peças considerando os aspectos técnicos; e as

necessidades dos usuários daquela região.

Qualquer elemento inserido no espaço livre deve ser bem planejado, pois por mínima

que seja, ele apresentará a necessidade de manutenção para garantir seu perfeito uso,

qualidade e segurança. A qualidade do material utilizado e da mão-de-obra fazem

correspondência direta no resultado da qualidade do espaço. Isto serve para exemplificar tanto

uma lixeira quanto um canteiro de flores.

A escolha dos materiais utilizados nos objetos ou as plantas para o espaço livre

também é importante, visto que uma das características mais importante para tornar o

ambiente mais agradável são as propriedades dos materiais percebidas pelas estruturas

fisiológicas sensoriais (tato, audição, olfato, paladar, visão) formando um conjunto de

propriedades sensoriais. Apartir do contato dessas estruturas fisiológicas sensitivas com o

produto o indivíduo inicia um processo de associação das sensações com seu repertório

formando o processo de percepção, de acordo com Sternberg (2000 apud TORRES, 2009).

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32

Os materiais também têm influência direta no custo para a produção do espaço,

contudo, para sua escolha deve-se levar em consideração características técnicas, formais, de

funcionalidade, culturais, econômicas, de fabricação, peso, conformação, resistência,

manutenção, limpeza, intempéries, pichação, vandalismo, tecnológicos, sustentáveis,

socioambientais, entre outras, além das normas e legislação quando for o caso. Os processos

produtivos para desenvolver o projeto do espaço planejado são variáveis (de acordo com

material escolhido e o projeto), porém apresentam, de maneira geral, a busca por

características que favorecem a concretização do espaço, como baixo custo de produção,

utilização de mão-de-obra não especializada, equipamentos de simples manuseio e matérias-

primas fáceis de encontrar. Seu processo é facilitado quando o projeto é bem resolvido tanto

em soluções de materiais quanto em processos de fabricação, mecanismos, encaixes,

conformação, sistemas e subsistemas de funcionamento, planejamento e otimização dos

recursos (ROZENFELD, 2006).

Outro ponto a ser considerado para a elaboração do espaço livre é a utilização da

tecnologia. Deve-se considera-lo como um requisito e também como um aliado. Segundo

Baxter (1998), juntamente com uma boa demanda de mercado a oferta de tecnologia é um dos

grandes motivos para o sucesso de um produto. Rozenfeld (2006, p. 126) define tecnologia

“como um modo peculiar de resolver um determinado problema, utilizado com princípios

físicos ou químicos”. A utilização de tecnologias agrega valor ao espaço, desperta o interesse

e a curiosidade dos usuários.

Rozenfeld (2006) ainda explica ainda que muitas empresas utilizam-se o subterfúgio

de criar produtos conceito para avaliar tecnologias futuras incorporando componentes,

materiais inovadores e tendências de forma e cor. Com isso, podem avaliar a viabilidade de

cada tecnologia e entender melhor a reação do público. Excelente oportunidade para que os

próprios alunos das universidades tenham a possibilidade de colocar seus produtos em teste,

utilizando o próprio campus universitário como laboratório de pesquisa.

Alguns exemplos simples da utilização da tecnologia nos espaços livre são

encontrados em totens e painéis eletrônicos que informam a temperatura, a hora, a data e

ainda dispõem de espaço para comercializar anúncios publicitários criando condições para

sustentabilidade do próprio produto, no caso concessão do espaço publicitário. Há também

painéis que apresentam tecnologia 3D. Além disso, há materiais tecnológicos contra pichação,

tecnologias de conformar os materiais, para acabamento e proteção dos materiais, tratamento

Page 40: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

33

contra os raios ultravioletas, pigmentação dos materiais e nos processos de produção, por

exemplo.

Assim com os materiais escolhidos para compor os espaços livres são importantes para

as propriedades perceptivas dos usuários a forma e a proporção destes elementos nos espaços

também. Configurando considerações a respeito do design dos elementos do espaço o qual

também se utiliza da interdisciplinaridade das áreas profissionais para sua projetação,

conforme (PEREIRA, 2010).

Percebe-se que as características relacionadas ao design e a escolha dos materiais são

subjetivas. Ou seja, não são princípios ou requisitos específicos mensuráveis para a projetação

dos espaços livres. Como justificativa a esta constatação pode-se atribuir a variabilidade dos

fatores sociais, culturais, econômicos, estéticos, características de uso, climáticas, ambientais,

físicas e a disponibilidade de matérias-primas que devem ser consideradas para cada situação

de uso e cada espaço livre. Isso torna os processos metodológicos intuitivos em algumas das

fases de projeto e elaboração dos espaços.

Mourthé (1998) levanta a questão da padronização e/ou personalização dos espaços

urbanos. Consideração que cabe às cidades universitárias uma vez que cada centro de ensino

pode-se considerar como um bairro, pois possui características próprias, assim como os seus

usuários. Portanto, pode-se defender a personalização dos elementos urbanos com base em

culturas locais (ou subculturas) como forma de criar uma identificação com o usuário de cada

setor, fazendo uma referência visual a fim de tornar uma cidade universitária mais legível, de

acordo com Mourthé (1998) e Lynch (1959).

Não que a padronização seja algo condenável, pois se tem exemplos de padronização a

nível nacional que funcionam. Como no caso da Empresa Brasileira De Correios e Telégrafos,

com a padronização das caixas de postagem e as empresas telefônicas com os telefones

públicos gerando uma identificação institucional.

A ergonomia1 é um pressuposto para a projetação tanto do espaço como um todo

como dos elementos urbanos. Neste caso apontam-se algumas questões para conceituação

sobre o assunto. Pode-se elucidar ergonomia como um estudo sobre as habilidades, limitações

e outras características humanas relevantes a design. Explicar também que o projeto

1 Informações obtidas no material didático disponibilizado pela professora doutora Lisandra Andrade, na disciplina de Ergonomia I, na Universidade do Estado de Santa Catarina, em 2008.

Page 41: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

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ergonômico é a aplicação destas informações ao design de máquinas, ferramentas, sistemas,

tarefa, trabalhos e para o uso humano seguro, confortável e efetivo (CHAPANIS, 1959).

De acordo com esta explicação, o destaque fica por conta da palavra design, pois ela

separa a ergonomia das disciplinas puramente acadêmicas como antropologia, fisiologia e

psicologia. Assim, as atividades humanas relacionam-se sempre com um componente físico e

outro mental. Motivando o projetista a trabalhar com as duas especialidades: a física e a

cognitiva.

Na ergonomia física englobam-se as bases da antropometria e biomecânica estudando

posturas desconfortáveis, a força exercida, força excessiva, movimentos repetitivos, transporte

de cargas, iluminação, vibração, mudanças de temperatura, entre outros. Na ergonomia de

produto evitam-se constrangimentos posturais, favorece a boa posta, saúde e segurança do

usuário.

E a ergonomia cognitiva tem suas bases na psicologia cognitiva, antropologia e

sociologia. Aborda a análise de informações das tarefas realizadas pelos usuários, bem como

os processos mentais de percepção, memória, raciocínio, resposta motora e tomada de

decisão, etc.

Lynch (1997) destaca várias categorias importantes que o projetista deve considerar

quanto ao design dos elementos urbanos. A primeira delas é a singularidade ou clareza das

figuras de fundo. Refere-se ao elemento único (uma torre, um totem, o paisagismo de uma

região específica) e a relação deste elemento com o plano de fundo da paisagem.

A segundo a categoria é sobre a simplicidade da forma. Lynch (1997) afirma que

clareza e simplicidade no sentido geométrico da forma visual dos elementos são mais

facilmente lembradas pelos usuários do que as formas complexas.

Continuidade é a terceira categoria a ser considerado no desenvolvimento de novos

projetos. Referem-se tanto a paisagem como um todo quanto aos elementos a que compõe.

Lembra que a repetição dos elementos deve apresentar um intervalo rítmico, semelhanças,

harmonia com a superfície, na forma e nos hábitos.

A quarta categoria é a predominância. É o destaque que se dar de uma parte ou algo

em relação às outras devido ao tamanho, intensidade ou interesse. Resultando em um

Page 42: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

35

interessante efeito de omissão ou inclusão em determinadas situações onde queira se destacar

algum elemento da paisagem ou outras onde se queira amenizar a pregnância perceptual.

Outra categoria importante é a clareza de ligação. Deve-se fazer uma boa visibilidade

das ligações, uma relação clara entre os elementos, suas funções e o meio ambiente.

A sexta categoria é a diferenciação direcional e refere-se a assimetrias, mudanças e

referências radiais na estrutura da cidade em grande escala.

Outra categoria é o alcance visual. Diz respeito a paisagem como um todo. É uma

qualidade que aumenta ou organiza a possibilidade de uma boa visão, no sentido real ou

simbólico. Incluem as transparências, sobreposições de vistas, panoramas, elementos

articulantes, entre outros que explicam visualmente um espaço.

A oitava categoria é a consciência do movimento. São qualidades que tornam um

observador perceptivo do seu próprio movimento, através dos sentidos visuais e cinestésicos.

São indicativos que reforçam a clareza de desníveis e curvas ajudando a manter a coerência

direcional. Uma vez que movimentar-se pela cidade de forma orientada faz parte da atividade

vital do ser humano.

A nona categoria é a de séries temporais. Uma seqüência de elementos dispostos de

maneira que o observador possa fazer uma ligação simples entre eles sabendo associá-lo ao

que o precede e ao que lhe segue. E outra seqüência de forma mais melódica, compassada

(como na música) onde se percebe um ritmo na disposição dos elementos, mais do que no

próprio objeto. Considera também os conceitos da forma como uma continuidade que exibem

uma seqüência da imagem dos elementos como uma sucessão formal de espaço, textura,

movimento e luz.

A décima e última categoria é a de nomes e significados. São características não

físicas que reforça a imagem de um elemento. Como, por exemplo, os nomes que podem

cristalizar a identidade de um objeto ou lugar ou associados ao significado histórico, social,

funcional ou econômico reforçam grandemente a estrutura organizacional e direcional de um

indivíduo com relação ao local de deslocamento.

Há normas que tratam sobre os elementos da paisagem urbana. A Associação

Brasileira de Normas Técnicas (NBR) de mobiliário urbano NBR 09283 - Mobiliário urbano

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36

de março 1986 e a NBR 09284 - Equipamento Urbano de março 1986 que apenas classificam

em categorias e subcategorias os equipamentos e os mobiliários.

Porém, existe a NBR 9050 de 2004 – ‘Acessibilidade a edificações, mobiliário,

espaços e equipamentos urbanos’, deve-se considerar as seções 8 e 9 que dizem respeito,

respectivamente, a equipamentos urbanos e mobiliário. Colocando os equipamentos urbanos

em rotas interligadas e acessíveis para pessoa em cadeira de rodas (PCR) e pessoa com

mobilidade reduzida (PMR), em locais de piso plano horizontal, distribuir os assentos para

PMR e pessoa obesa (PO), conforme a tabela 8 da norma, nas quantidades determinadas e

juntos das áreas de circulação. Dimensiona espaços para PCR e assentos para PMR e PO de

modo que o espaço para a cadeirante deve possuir 0,80 m por 1,20 m, acrescido de 0,30 m de

largura na frente e/ou atrás como dimensões mínimas. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

NORMAS TÉCNICAS, 2004).

Com relação às praças e parques a norma diz que tanto a pavimentação (com rotas

acessíveis com pisos específicos) quanto o mobiliário e os equipamentos edificados ou

montados devem ser acessíveis. E que pelo menos 5% das mesas destinadas a jogos ou

refeições deve estar entre 0,75 m e 0,85 m de altura do piso. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE NORMAS TÉCNICAS, 2004).

Para as escolas, complexos educacionais e campi universitários deve haver pelo menos

uma rota acessível interligando os alunos as áreas administrativas, de prática desportiva, de

recreação, de alimentação, salas de aula, laboratórios, bibliotecas, centros de leitura, praças,

demais ambientes pedagógicos e todos ambientes acessíveis. Todos os elementos do

mobiliário urbano da edificação como bancos de alvenaria, devem ser acessíveis garantindo

ao lado dos assentos fixos em rotas acessíveis um módulo de referência (MR), espaço de 1,20

m por 0,80 m, sem que interfira com a faixa de livre circulação (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Como mostra a figura 4 abaixo.

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Figura 4 - Exemplo de módulo de referência.Fonte: Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 9050: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços

e equipamentos urbanos. 2. ed. Rio de Janeiro, 2004.

Para os casos de mobiliário a NBR 9050 de 2004 determina condições específicas para

mesas ou superfícies para refeições ou trabalho, assentos fixos e corredores. Para as mesas

determina que seja previsto pelo menos 5% delas em espaços acessíveis, com no mínimo uma

para PCR, localizada junto às rotas acessíveis e distribuída por todo o espaço. Com altura

livre de no mínimo 0,73 m do piso, MR para a aproximação frontal possibilitando avançar sob

as mesas até 0,50 m, altura entre 0,75 m e 0,85 m do piso (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

NORMAS TÉCNICAS, 2004). Conforme figura 5:

Figura 5 - Exemplo de mesas.Fonte: Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 9050: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços

e equipamentos urbanos. 2. ed. Rio de Janeiro, 2004.

Quanto aos assentos fixos a norma determina que deve existir ao seu lado um MR,

sem interferir com a faixa livre de circulação, conforme figura 5 apresentada acima, devem

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38

contemplar pelo menos 5% dos assentos fixos do local e que pelo menos outros 10% sejam

adaptáveis. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004).

E, para os corredores e áreas de circulação, a NBR 9050 de 2004 acessíveis para PCR,

deve estar vinculada a rotas acessíveis, ter largura de no mínimo 0,90 m e possuir áreas de

circulação e manobra no seu início e término. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS

TÉCNICAS, 2004).

Cauduro (1981) afirma, e pode-se perceber claramente, que há um certo caos com

relação às várias áreas do sistema de objetos / produtos / elementos do mobiliário urbano. Os

elementos são feitos de forma isolada, não falam a mesma linguagem e, portanto, não tem

uma unidade nem identidade.

Isto pode ser entendido pelo simples fato de que uma empresa não produz todos os

tipos de elementos urbanos necessários para compor um conjunto mínimo de elementos para o

ambiente, constatado em pesquisa feita por meio eletrônico. A empresa que produz bancos de

madeira, na maioria das vezes, não produz elementos relacionados à iluminação, e assim por

diante.

Considerando-se ainda a utilização necessária de semáforos e placas de orientação de

trânsito, placas de sinalização e tapumes de obras que causa ‘uma nova doença’ nomeada por

Cauduro (1981) como stress perceptual.

Uma vez percebido a falta coerência formal entre os elementos de mobiliário urbano

pode-se contar com a contribuição dos designers industriais. Desenvolvem sistema de

produtos / objetos, e não objetos isolados de modo que podem trabalhar em equipe composta

por especialistas das áreas de tecnológicas e das ciências humanas, como propõe (PEREIRA,

2010). Sua área de estudo deve ser responsável pela concepção e desenvolvimento de

artefatos direcionados a oferecer conforto e comodidade aos cidadãos, não só das cidades

universitárias, como também da cidade como um todo, sendo parte do desenho urbano das

ruas no contexto sócio-cultural-ambiental.

Ainda assim, podem fazer a projetação dos elementos de mobiliário urbano de forma a

ser mais funcional, durável, seguro, resistente e acessível. Além de características que podem

dar um diferencial ao projeto, como por exemplo, ser múltiplo, permitir vários usos, utilizar

tecnologias de produção o mais sustentável possível, compatibilidade com os locais do

contexto flexibilidade, permitir acrescentar ou suprimir componentes, a partir de um modelo

Page 46: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

39

básico, de acordo com as necessidades. Preocupar-se com o estresse perceptivo dos painéis

publicitários.

Como Lynch (1997) afirma sobre esses conceitos, e relaciona outros citados para

complementar, todas estas qualidades pautadas facilitam a compreensão, aumentam a

eficiência da visão, organização e poder de resolução sobre o objeto ou local.

Para aumentar a qualidade do espaço livre o gestor público pode ainda fazer o

exercício de observação. Sugere-se que, para uma boa prática, o gestor observe a situação

exitente e os problemas existentes. Solucionam-se problemas existentes e minimizam-se os

erros das próximas projatações. Como exemplo para a sugestão pode-se observar a figura 6

que represente a situção comum do campus da Universiade Federal de Santa Catarina –

UFSC, onde ocorre constante erosão nos pés do banco. Ergonomicamente não é adequado,

conpromente a estrutura e a segurança.

Figura 6 - Exemplo de problema existente.Fonte: foto da autora.

É sabido que as tecnologias evoluem muito rapidamente e com com isso novas

soluções odem surgir para os problemas. Por isso há necessidade de uma constante

atualização de informações e conhecimento por parte do verdadeiro gestor. Porém, diante do

exposto sugere-se ainda um último componente fundamental para o trabalho de projetação,

seja de qualquer especificidade: a criatividade. Com ela pode-se resolver situações difíceis,

fora do comum e problemas não solucionados pelas normas.

Page 47: GESTÃO DOS ESPAÇOS LIVRES: UMA ABORDAGEM PARA CIDADES UNIVERSITÁRIAS

40

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como expôs-se neste documento os espaços livres permitem convivência e interação

entre as pessoas e das pessoas com o ambiente, assim como nas cidades universitárias. Atuam

em relação direta na vida dos usuários, proporcionando-lhes sensações que influenciam na

qualidade de vida. Isso aumenta ainda mais a importância e a responsabilidade dos gestores

públicos tamanha a abrangência populacional atingida.

Diante de tal importância, o problema principal proposto a ser resolvido foi o de

levantar informações consideráveis para auxiliar na gestão dos espaços livres. E, para isso,

objetivou-se compreender as áreas livres nas cidades universitárias; entender as necessidades

das pessoas que utilizam estes espaços; e elencar as considerações para a gestão deste espaço

público.

Para solucionar o primeiro objetivo, buscou-se características, conceitos e formas de

relacionar estes espaços e seus elementos com os usuários. Fez-se, em alguns casos, estudos

por analogia com os estudos existentes sobre as áreas livres das cidades. Obteve-se o

resultado esperado podendo ter base histórica importante para compreensão do passado e

projeção para o desenvolvimento e futuro dos espaços. Conclui-se que, além de uma área que

pode ser delimitada física e geograficamente entre o volume das edificações, inclui também

os elementos que a compõe, dentre mobiliários, equipamentos e elementos da própria

paisagem natural. Existe ainda o fator perceptivo da paisagem urbana que considera fatores do

aspecto visual e estético para a organização do espaço e torna-lo agradável. Percebeu-se que

há diversas características de qualidade para o espaço e que cada espaço tem suas próprias

características considerando sua importância simbólica, social, de hábitos e costumes das

pessoas que utilizam o local. São características que não são técnicas e devem ser tratadas de

forma empírica e perceptiva.

Por consequência, após analisar o local, analisou-se a necessidades das pessoas que

utilizam os espaços livres, como segundo objetivo deste trabalho. Percebeu-se que o

surgimento e o desenvolvimento dos espaços de convívio e interação das pessoas nas cidades

estão atrelados ao seu desenvolvimento das mesmas e a sua organização social. Com o passar

dos tempos as sociedades foram crescendo e com isso aspirando necessidades diferentes.

Assim, pode-se entender que o futuro dos espaços livres está ligado ao futuro das cidades

como um todo, a organização social e ao surgimento e desenvolvimento de novas tecnologias

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41

que por sua vez geram novas necessidades. Verificou-se que os hábitos e o comportamento

social determinam os usos dos espaços. Utilizam-se do mobiliário urbano para interação, de

tecnologia e do próprio espaço natural para convívio e contemplação. Concluiu-se que as

necessidades estão atreladas ao uso que as pessoas irão fazer dos espaços e estão relacionados

basicamente com três ações: estar, deslocar e contemplar. Essas três ações compreendem mais

estar pelos espaços livres do passar por eles. Faz com que um espaço público se torne também

um espaço um pouco pessoal. Analisa-se fatores de qualidade que não são mensuráveis

tecnicamente.

Após analisar o local e as necessidades dos usuários procurou-se reunir considerações

para que os gestores possam dar mais qualidade ao espaço e aos usuários, atendendo ao

terceiro objetivo. Para o efetivo trabalho de criação, planejamento, execução/manutenção e

gestão dos espaços livres públicos é preciso a análise de algumas condicionantes que

abrangem diversas áreas do conhecimento. São fatores de ordem administrativa, gestão e

planejamento; técnicos, jurídicos e normativos; sociais, culturais e ambientais; tecnológicos,

ergonômicos, perceptivos e estéticos; criação, produção e manutenção. Conclui-se, portanto,

que há necessidade de uma equipe multidisciplinar para produção de um espaço livre de

qualidade, pois muitos dos fatores levantados têm características técnicas e outros

características humanísticas, antropológica e sociais, necessitando de várias áreas do

conhecimento.

Considera-se, com estas colocações, que o objetivo geral desta pesquisa foi alcançado,

visto que consegui-se delimitar a área de trabalho dos gestores públicos proposta no início do

trabalho. Além de conseguir identificar as necessidades dos usuários, descrita no segundo

objetivo, percebeu-se ainda seus hábitos e costumes. E, por fim, elencou-se fatores de

qualidade para os espaços livres que abrangem os aspectos importante tanto para quem utiliza

quanto para quem ira produzir o espaço livre.

Contudo, mais atividades ainda podem ser feitas nesta área. Como trabalho futuro,

pode-se pensar na formação de um centro de pesquisas e aplicação de estudos dos ambientes

urbanos da cidade universitária. Formar um centro de pesquisas interdisciplinares com o

intuito de aprimorar as relações entre os usuários da universidade (estudantes universitários,

professores, técnico-administrativos, prestadores de serviço, comunidade dos bairros vizinhos,

visitantes de encontros, congressos e candidatos ao vestibular) e os componentes do meio

ambiente.

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42

REFERÊNCIAS

AFONSO DA SILVA, José. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.

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