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GESTÃO DO CONHECIMENTO NA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA BRASILEIRA: SEU PAPEL NA PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade
Renata Martins Pacheco
Alexandre Rochinski
Ana Laura Lasso Peñaloza
Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto
Resumo: O mundo se torna cada vez mais um ambiente altamente competitivo. Nesse contexto, organizações privadas
procuram se aprimorar sempre, buscando garantir sua sobrevivência, enquanto as organizações públicas buscam,
principalmente, qualidade, eficiência, efetividade social e desenvolvimento econômico e social. Para tanto, novos
paradigmas de gestão vêm surgindo e, dentre eles, pode-se destacar a Gestão do Conhecimento (GC), que vem sendo
aplicada em ambos os setores. Todavia, essa competividade acaba tendo forte impacto no consumo de recursos
naturais e na poluição do planeta, exigindo dos órgãos públicos políticas e práticas a favor da sustentabilidade, que é
uma preocupação crescente das populações. Para isso, é exigido que a administração pública também se adeque, no
sentido de aumentar sua eficiência, prestando melhores serviços aos cidadãos, além de guiar desenvolvimento do país
considerando essas premissas de sustentabilidade e eficiência. Nessa conjuntura, o objetivo deste trabalho é analisar
as possibilidades da administração pública brasileira empregar ferramentas de GC para apoiar medidas de
desenvolvimento, focando as questões de sustentabilidade.
Palavras-chaves: Gestão do Conhecimento; Administração Pública; Sustentabilidade no Setor
Público
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
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1. INTRODUÇÃO
Na sociedade atual, denominada de sociedade do conhecimento, se explora o argumento de que
o recurso básico da economia não é mais o capital, os recursos naturais ou o trabalho, mas sim o
conhecimento (DRUCKER, 1998). Muitos estudos vêm apontando a importância do conhecimento
dentro de um sistema de gestão organizacional. Entre 1995 e 2005, mais de quatro mil artigos foram
publicados com o termo Gestão do Conhecimento (GC) no título, sendo que mais de cem incluíram o
termo “modelo” no título e quase setecentos, no resumo (GIRARD; MCINTYRE, 2010).
Em um ambiente cada vez mais competitivo, as organizações privadas buscam criar estratégias
de gestão que as possibilitem sobreviver. Nesse contexto, há a preocupação constante em aumentar sua
capacidade competitiva, por meio da adoção de novos métodos e ferramentas de gestão, como a GC,
sob pena de desaparecerem. Por sua vez, as organizações públicas não enfrentam essa ameaça, sendo
que a mudança no setor público não é impulsionada pela competição. O setor público lida com
prestação de serviços, fornecimento de informações, compartilhamento e uso do conhecimento
(CONG; PANDYA, 2003). Enquanto o setor privado implementa a GC visando ao lucro e ao
crescimento, a administração pública busca principalmente qualidade, eficiência, efetividade social e
desenvolvimento econômico e social (BATISTA, 2012).
Concomitantemente, há uma crescente preocupação internacional relacionada ao atual modelo
de desenvolvimento (LÉLÉ, 1991; GIDDINGS et al., 2002; MORSE, 2008), devido à excessiva
pressão que causa sobre o meio ambiente e aos diversos problemas sociais causados sobre as
populações. Múltiplos esforços internacionais têm sido feitos para desenvolver e promover estudos e
aplicações da sustentabilidade no mercado e no setor público (TROTTA, 2010). Isso está levando a
uma mudança na lógica das organizações, que estão buscando trabalhar simultaneamente aspectos
financeiros, desenvolvimento humano, qualidade ambiental e equidade social. Apesar de alguns desses
aspectos poderem ser considerados pouco tangíveis, investidores, consumidores e a sociedade estão
gradualmente aumentando o apoio e o comprometimento com organizações que adotam o conceito da
sustentabilidade (KNOEOFEL, 2001).
Nessa conjuntura, a Gestão do Conhecimento e a Administração Pública têm importantes
papéis na promoção da sustentabilidade. A GC é central ao debate da sustentabilidade, pois promove
melhorias contínuas, é facilitadora da inovação em processos de negócios e produtos, entende as
pessoas como arquitetas no centro da criação do conhecimento, além de melhorar a gestão do
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relacionamento com os acionistas (ROBINSON et al., 2006). Os governos, por sua vez, têm
participação crucial na promoção da sustentabilidade ambiental, ao prover padrões ambientais e
legislação específica, para conservar recursos e a qualidade de vida (WILKINSON et al. 2001).
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é buscar subsídios na literatura que explicitem o uso
de ferramentas de GC como forma de apoio ao desenvolvimento de medidas de sustentabilidade e que
possam ser empregadas na administração pública brasileira. Com essa finalidade, o artigo se estrutura
em oito seções. Após a contextualização e justificativa do estudo, se definem os preceitos que o
subsidiaram. Em seguida, se apresenta o método de pesquisa adotado. Na sequência, se evidenciam as
inter-relações e exemplos identificados na literatura. Para finalizar, se descrevem as considerações
finais e são listadas as referências bibliográficas utilizadas.
2. Gestão do Conhecimento na Administração Pública
O maior desafio das organizações, na atualidade, está em aprender a converter o conhecimento
dos seus colaboradores em conhecimento organizacional. As organizações vêm procurando
alternativas para se tornarem instituições que valorizem o aprendizado, com espaços para a criação e o
compartilhamento de conhecimentos e se adequando ao ambiente cada vez mais turbulento, no qual
vantagens competitivas precisam ser permanentemente reinventadas (SCHLESINGER et al., 2008).
Nesse cenário, a GC, que pode ser definida como uma abordagem integrada para criar, compartilhar e
aplicar conhecimento para melhorar a produtividade, lucratividade e crescimento organizacional
(NAIR; PRAKASH, 2009), vem ganhando espaço.
A GC é vista, no setor privado, como uma importante ferramenta para a inovação de processos,
produtos e serviços (BATISTA, 2012). Em contraste, no contexto da esfera pública, segundo
Schlesinger et al. (2008), o processo de mudanças caminha em um ritmo mais lento. A grande maioria
dessas instituições ainda preserva características da administração burocrática, que, segundo Abrucio
(1997), são caracterizadas por uma estrutura rígida e centralizada, voltada ao cumprimento dos
regulamentos e procedimentos administrativos e onde o desempenho é avaliado apenas com referência
à observância das normas legais e éticas. Nesse contexto, pode-se afirmar que, atualmente, existe um
choque entre os valores da administração pública e os da nova economia, resultando na imagem tão
difundida na sociedade da ineficiência e má qualidade da administração pública (SCHLESINGER et
al., 2008).
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No entanto, a administração pública, em qualquer sociedade, é fundamental e complexa.
Assim, Wiig (2000) destaca a importância do conhecimento na administração pública, afirmando que a
viabilidade de qualquer sociedade depende da qualidade do fornecimento dos serviços públicos, sendo
que essa qualidade é influenciada por fatores como estrutura governamental, responsabilidades,
capacidades, informação, especialização do quadro de servidores e conhecimento disponível. Nesse
sentido, em 2008, a Organização da Nações Unidas (ONU) realizou um estudo na esfera pública no
qual destaca que, para os cidadãos, as vantagens advindas da GC incluem melhores serviços públicos,
mais oportunidades de escolhas, maior personalização no serviço prestado e maior controle sobre
como o erário é gasto (ONU, 2008).
Segundo a mesma pesquisa, o maior benefício da GC é o aumento da eficiência e da inovação,
mas, para que esses benefícios ocorram, é necessário que os processos que dão base à GC realmente
aconteçam. Segundo Wiig (2000), é importante criar uma visão, que deve ser amplamente
disseminada, sobre o que a GC pode fazer em cada unidade da administração pública, com foco
especial nos benefícios e impactos que podem ser esperados por essas novas práticas. Batista (2012)
complementa afirmando que, no setor público, é importante relacionar também os processos de GC
(identificação, criação, compartilhamento, armazenamento e aplicação do conhecimento) com a
aprendizagem e a inovação, sendo que a inovação nas organizações públicas é voltada para o aumento
da eficiência e para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados à população. Cabe
destacar que a Eficiência, além da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade e Publicidade, é um dos
princípios constitucionais que regem a administração pública brasileira.
Nessa conjuntura, a importância de uma política de Gestão do Conhecimento para o setor
público foi indicada por um estudo efetuado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).
Nele concluiu-se que, no Brasil, existem iniciativas isoladas, esforços pulverizados, muitas vezes em
um mesmo órgão. Há, também, ausência de comunicação e compartilhamento de informações
internamente e entre as instituições, bem como o desconhecimento do tema GC entre membros da alta
administração, chefias intermediárias e servidores de maneira geral (BATISTA et al., 2004).
Diante do exposto, alguns órgãos governamentais brasileiros já identificaram a necessidade de
mudarem seu paradigma de gestão, acompanhando as rápidas mudanças na sociedade
(SCHLESINGER et al., 2008; BATISTA, 2012; BRASIL, 2013). Como exemplo, pode-se citar o
trabalho realizado por Batista (2012) que, junto ao IPEA, desenvolveu o trabalho intitulado “Modelo
de Gestão do Conhecimento para a Administração Pública Brasileira”, que tem como objetivo mostrar
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“Como implementar a Gestão do Conhecimento para produzir resultados em benefício do cidadão”.
3. Gestão do Conhecimento como Promotora de Medidas de Sustentabilidade
O termo Desenvolvimento Sustentável surgiu a partir de estudos da ONU sobre as mudanças
climáticas, como forma de responder à crise social e ambiental vividas pela humanidade. Uma das
definições mais difundidas de desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que atende às
necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades” (ONU, 1987).
O grande desafio do século XXI é que o desenvolvimento sustentável aja de forma
economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. Nesse cenário de mudança, Lélé
(1991) afirma que a pergunta a ser respondida deixa de ser “As preocupações com desenvolvimento e
com o meio ambiente são contraditórias?” e passa a ser “Como pode o Desenvolvimento Sustentável
ser atingido?”.
Nessa conjuntura, fica evidente que o crescimento econômico não pode se sobrepor aos demais
pilares da sustentabilidade e, portanto, as organizações precisam, cada vez mais, adotar práticas mais
adequadas. Nesse sentido, Trotta (2010) destaca que os consumidores estão ficando mais atentos,
dando preferência a companhias que desenvolvem suas atividades em conformidade ambiental e
buscam a sustentabilidade. Robinson et al. (2006) vão além, afirmando que a sustentabilidade deve ser
trabalhada não apenas por preocupações ambientais ou expectativas sociais, mas porque ela faz sentido
dentro dos negócios.
Apesar de não ser usada tradicionalmente no setor ambiental, a GC tem grande potencial para
ser aplicada visando atingir objetivos de sustentabilidade (MCNEIL, 2011). Pesquisas na área estão
indicando que a GC pode ser um componente importante para acelerar uma organização no sentido da
sustentabilidade, pois há um crescente reconhecimento da importância dos bens intangíveis e do
conhecimento tácito que as pessoas possuem, ou seja, o chamado capital intelectual (SVEIBY, 1998).
De fato, Boiral (2002) realizou um estudo que demonstrou a relevância do conhecimento tácito na área
da gestão ambiental.
Nesse sentido, Fialho et al. (2008) aprofundam a questão, afirmando que, com a utilização do
conhecimento tácito e explícito dos colaboradores, as empresas podem quebrar paradigmas,
conduzindo as pessoas a adotar novos hábitos e costumes, bem como desenvolver novas competências.
Nessa conjuntura, Robinson et al. (2006) destacam que a noção de sustentabilidade corporativa resulta
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em uma mudança fundamental da lógica dos negócios, exigindo que as organizações abordem
simultaneamente aspectos ambientais e sociais, junto com os tradicionais aspectos financeiros.
Segundo Tyler et al. (2007), ao se incorporar pensamentos e práticas voltados à
sustentabilidade nos sistemas de valor individuais, há uma tendência da sustentabilidade se tornar parte
das atividades diárias dos trabalhadores. Independentemente de qual carreira um indivíduo estiver
seguindo, ele sempre levará seu conhecimento e seu capital intelectual para o trabalho que vier a
desempenhar, ajudando, assim, na disseminação das ideias da sustentabilidade. Ainda segundo o
mesmo autor, a integração de medidas eficientes de GC dentro de uma organização possibilita a
promoção de uma cultura baseada na colaboração, compartilhamento e comunicação aberta, levando a
organização a prosperar.
Para Fialho et al. (2008), essa cultura deverá ser a direcionadora de condutas para a criação,
compartilhamento e disseminação do conhecimento da sustentabilidade na prática, com a preocupação
de satisfazer as necessidades de gerações atuais e futuras. Dessa forma, Robinson et al. (2006)
destacam que desenvolver uma estratégia de GC é central para a operacionalização do conceito de
sustentabilidade, melhorando a forma com a qual os bens de conhecimento são geridos e registrados,
podendo levar à melhor governança corporativa, permitindo melhorias contínuas e aumentando a
percepção de valor da empresa.
4. Sustentabilidade na Administração Pública
Como conceito e ferramenta, a sustentabilidade está em um estágio inicial de desenvolvimento,
sendo que ainda não há consenso sobre quais aspectos dos sistemas e organizações essa temática é
mais relevante (MERAD et al., 2014). Nesse contexto, os governos claramente têm um papel central
na sua promoção, ao prover padrões e legislação específica para conservar recursos e a qualidade de
vida, em um ambiente econômico no qual tais ações podem ser entendidas como ampliadoras de custo
e prejudiciais à competitividade industrial (WILKINSON et al. 2001).
De fato, esses eventuais custos adicionais podem causar problemas reais à indústria em curto
prazo, principalmente se um planejamento prévio para a adequação não for feito. Entretanto, em longo
prazo, padrões ambientais bem fundamentados podem desencadear inovações que possibilitem
diminuir o custo total de um produto ou melhorar seu valor. Tais inovações podem permitir que
companhias usem seus insumos mais produtivamente – matérias primas, energia, recursos humanos –
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compensando os custos das melhorias ambientais feitas e, assim, resolvendo esse dilema. Por fim, esse
melhor aproveitamento dos recursos acaba por tornar as companhias mais competitivas, não o
contrário (PORTER; VAN DER LINDE, 1995).
Dessa forma, percebe-se que o governo, ao desenvolver normas e diretrizes em favor da
sustentabilidade, em especial do meio ambiente, pode influenciar positivamente o próprio mercado.
Nessa conjuntura, Batista (2012) destaca que o objetivo das organizações públicas é gerar valor para a
sociedade e formas de garantir o desenvolvimento sustentável, sem perder de vista a obrigação de
utilizar os recursos de forma eficiente. O mesmo autor afirma que a GC pode ter um importante papel
para o desenvolvimento sustentável. Nesse mesmo contexto, o IPEA (2011) identificou sete eixos
temáticos para o desenvolvimento nacional, dentre os quais está a sustentabilidade ambiental.
Considerando que as compras governamentais no Brasil movimentam de 10 a 15 % do Produto
Interno Bruto (PIB) nacional (MMA, 2009) e ponderando que existe mais de 1 milhão de servidores
públicos, somente na esfera federal (ENAP, 2013), fica claro que, ao adotar medidas de
sustentabilidade internas, o governo é capaz produzir um impacto positivo e de proporções
consideráveis no desenvolvimento do país.
Diante da comprovada importância do governo como promotor do desenvolvimento sustentável
nacional, no Brasil, leis, resoluções e programas vêm sendo desenvolvidos no sentido de dar apoio a
medidas de sustentabilidade. Dentre os programas governamentais voltados à sustentabilidade pode-se
destacar a Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P do Ministério do Meio Ambiente –
MMA. No ano de 2002, a A3P foi reconhecida pela Unesco, ganhando o prêmio “O melhor dos
exemplos” na categoria Meio Ambiente, devido à relevância do trabalho desempenhado e dos
resultados positivos que vem obtendo (MMA, 2015).
Ainda segundo o MMA (2015), a Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P é um
programa sob sua coordenação, com a finalidade de promover a responsabilidade socioambiental e a
adoção de procedimentos, de referenciais de sustentabilidade e de critérios socioambientais nas
atividades do setor público. Como forma de alcançar tais objetivos, A3P se estrutura em seis eixos
temáticos:
1. Uso racional dos recursos naturais e bens públicos;
2. Gestão adequada dos resíduos gerados;
3. Melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho;
4. Sensibilização e capacitação dos servidores;
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5. Contratações de bens e serviços com sustentabilidade;
6. Implementação de critérios para construções sustentáveis.
5. Procedimento metodológico
Quanto aos seus fins e aos seus meios, o presente estudo foi classificado de acordo com a
taxonomia de tipos de pesquisa proposta por Vergara (2003).
a. Quanto aos fins, a pesquisa é identificada como exploratória e descritiva (GIL, 2002).
Exploratória pela relativa escassez de estudos que abordam a GC na administração pública
brasileira, a GC como promotora de medidas de sustentabilidade e a sustentabilidade na
administração pública brasileira. O estudo é também descritivo, porque visa identificar,
descrever e analisar como a GC pode colaborar para o sucesso de medidas de sustentabilidade
na administração pública.
b. Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental (GIL, 2002).
Bibliográfica, pois a base teórica é subsidiada por materiais previamente publicados em livros e
revistas científicas. Também é documental, uma vez que leis e outros materiais publicados pela
Organização das Nações Unidas e pelo governo federal brasileiro são igualmente consultados.
Após a coleta do referencial teórico, analisou-se o conteúdo, buscando identificar na literatura
exemplos de aplicação de ferramentas de GC para a promoção de medidas sustentabilidade e sua
possível implantação na administração pública brasileira. Finalmente, construiu-se um quadro
buscando evidenciar como essas experiências podem ajudar na concretização das medidas de
sustentabilidade na administração pública brasileira, conforme proposto pela A3P.
6. Gestão do Conhecimento, Sustentabilidade e Administração Pública
Há muitos desafios para melhorar a eficiência da administração pública, assim como para que
se atinja um desenvolvimento nacional que possa ser considerado sustentável. As organizações
públicas, além de garantir os meios básicos de manutenção da sociedade, ainda devem ter como
objetivo gerar valor e buscar formas de garantir a sustentabilidade dessa sociedade. A GC pode ser
uma importante ferramenta para a elaboração e a implementação de políticas públicas que levem a um
desenvolvimento nacional sustentável.
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No mesmo cenário, Robinson et al. (2006) ressaltam que a GC é central ao debate da
sustentabilidade, pois promove melhorias contínuas, inovação em processos de negócios e produtos e
enxerga as pessoas no centro da criação do conhecimento. Paralelamente, Wilkinson et al. (2001)
destacam que os governos são cruciais na promoção da sustentabilidade, ao legislar e estabelecer
padrões para a conservação de recursos e da qualidade de vida.
Nesse sentido, é importante que as organizações públicas incrementem o compartilhamento de
conhecimentos, além de capturar e disseminar suas melhores práticas internas. Também, a cooperação
entre as organizações do governo federal, e destas com outras organizações da esfera estadual e
municipal, é outro aspecto importante e que precisa ser trabalhado. Nessa conjuntura, Batista (2012)
destaca que, no setor público, é importante relacionar os processos de GC (identificação, criação,
compartilhamento, armazenamento e aplicação do conhecimento) com a aprendizagem e a inovação.
Fialho et al. (2008) afirmam que é necessário que se crie uma cultura organizacional voltada a
condutas para a criação, compartilhamento e disseminação do conhecimento da sustentabilidade na
prática, com a preocupação de satisfazer as necessidades de gerações atuais e futuras.
Visto que o conceito de sustentabilidade e sua aplicabilidade ainda são alvo de pesquisas e, por
vezes, considerados confusos e intangíveis (LÉLÉ, 1991; MERAD et al., 2014), para o presente estudo
optou-se por adotar a abordagem de sustentabilidade organizacional proposta pelo Ministério do Meio
Ambiente, delimitada pelos eixos temáticos da A3P.
No intuito de ilustrar a possibilidade de aplicação de modelos e ferramentas de CG visando à
sustentabilidade no setor público, a Quadro 1 elenca estudos realizados nesse sentido, agrupando-os
conforme os eixos da A3P.
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Quadro 1 - Estudos que abordam preceitos de CG voltados à sustentabilidade.
Eixo Estudo sobre GC no respectivo Eixo da A3P
Uso racional dos recursos
naturais e bens públicos
Al-Jayyousi (2004) realizou um estudo no qual destacou o valor
da gestão do conhecimento no reuso de água. Apresentou um modelo de
GC que mostrou como o conhecimento institucional pode ser criado na
gestão da água, por meio da conversão de conhecimento tácito em
explícito, sendo parte de um processo de socialização, que se reflete nos
profissionais da área.
Gestão adequada dos
resíduos gerados
Söderberg; Kain (2006) desenvolveram um estudo no qual
abordaram o processamento do conhecimento no planejamento de um
sistema de gerenciamento de resíduos sólidos. Evidenciaram que, em
situações complexas de planejamento, há a necessidade de uma gestão
do conhecimento coletiva, reflexiva e transparente, sendo que o enfoque
deve estar em discussões, mais do que em ferramentas de avaliação e na
elaboração de materiais escritos.
Melhoria da qualidade de
vida no ambiente de
trabalho
Sherehiy; Karwowski (2006) propuseram a criação de um
modelo de GC, a ser aplicado na indústria, que aborda questões relativas
à segurança ocupacional, saúde e ergonomia. O modelo incluiu os
sistemas de conhecimento organizacional, aprendizagem organizacional
(criação do conhecimento, distribuição, elaboração e consolidação),
desenvolvimento de trabalhadores do conhecimento, processos de GC
(revisão, conceitualização, reflexão e ação) e tecnologias da informação
relevantes.
Sensibilização e
capacitação dos
servidores
Escrivão et al. (2011) desenvolveram um estudo teórico, com
enfoque sobre Educação Ambiental - EA, no qual propuseram medidas
de criação do conhecimento (CC) para a melhoria dos resultados da EA.
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Contratações de bens e
serviços com
sustentabilidade
Testa et al. (2014) realizaram um trabalho sobre compras
públicas sustentáveis, no qual destacaram a importância do processo de
aquisição do conhecimento para incrementar a efetividade das ações
voltadas a esse fim.
Implementação de
critérios para construções
sustentáveis
Robinson et al. (2006) aplicaram ferramentas de GC com o
intuito de identificar conhecimentos de empresas de construção no
sentido de se atingir metas de sustentabilidade. Segundo os autores, se
espera que construtoras abracem o conceito de sustentabilidade e
apliquem seus princípios, como forma de fazer negócios e gestão de
conhecimento, para melhorar o desempenho organizacional
continuamente.
Conforme indicado no Quadro 1, estudos envolvendo a GC e sustentabilidade vêm sendo
desenvolvidos em torno dos eixos estabelecidos na abordagem proposta pelo Ministério do Meio
Ambiente Brasileiro. Isso mostra que a GC pode ser uma importante ferramenta para a promoção do
Desenvolvimento Sustentável dentro da Administração Pública Brasileira. Entretanto, na revisão da
literatura realizada neste trabalho, ainda não foram encontrados estudos envolvendo a GC que abordem
esses eixos de maneira conjunta ou sistêmica.
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7. Considerações Finais
São cada vez maiores as pressões para que se encontre um modelo de gestão que aborde
simultaneamente aspectos sociais, ambientais e econômicos. Essa pressão é ainda maior sobre o
governo federal, que deve prover padrões e regulamentar o assunto, além de dar o exemplo ao aplicar
o que prega na administração pública.
Nesse contexto, novos paradigmas de gestão, como a Gestão do Conhecimento, têm um grande
potencial para promover as mudanças necessárias, seja em termos de eficiência administrativa, ou em
questões relativas à sustentabilidade.
A administração pública precisa estar constantemente se aprimorando, de modo a atender
melhor a população e ser mais eficiente em suas finalidades, colaborando diretamente com o
desenvolvimento do país. Cabe destacar que a eficiência é um dos cinco princípios constitucionais que
regem a administração pública brasileira.
E quando o assunto é desenvolvimento, as questões concernentes à sustentabilidade devem
estar presentes, buscando conciliar questões ambientais, sociais e econômicas da melhor forma
possível. Nesse sentido, conforme o exposto, a GC pode representar um meio de se trabalhar essas
frentes, de modo a entregar mais valor aos cidadãos, ajudando a garantir a qualidade de vida e
ambiental do país.
Finalizando, este é um trabalho de natureza exploratória e descritiva, que tem como intuito
principal a indicação de um nicho de pesquisa que precisa ser mais bem explorado, pois a gestão
pública e a sustentabilidade são questões cruciais para o desenvolvimento do país e ainda são poucos
os trabalhos que abordam de maneira integrada essas temáticas.
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8. Referências
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