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GESTÃO DO CONHECIMENTO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA: SEU PAPEL NA PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade Renata Martins Pacheco [email protected] Alexandre Rochinski [email protected] Ana Laura Lasso Peñaloza [email protected] Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto [email protected] Resumo: O mundo se torna cada vez mais um ambiente altamente competitivo. Nesse contexto, organizações privadas procuram se aprimorar sempre, buscando garantir sua sobrevivência, enquanto as organizações públicas buscam, principalmente, qualidade, eficiência, efetividade social e desenvolvimento econômico e social. Para tanto, novos paradigmas de gestão vêm surgindo e, dentre eles, pode-se destacar a Gestão do Conhecimento (GC), que vem sendo aplicada em ambos os setores. Todavia, essa competividade acaba tendo forte impacto no consumo de recursos naturais e na poluição do planeta, exigindo dos órgãos públicos políticas e práticas a favor da sustentabilidade, que é uma preocupação crescente das populações. Para isso, é exigido que a administração pública também se adeque, no sentido de aumentar sua eficiência, prestando melhores serviços aos cidadãos, além de guiar desenvolvimento do país considerando essas premissas de sustentabilidade e eficiência. Nessa conjuntura, o objetivo deste trabalho é analisar as possibilidades da administração pública brasileira empregar ferramentas de GC para apoiar medidas de desenvolvimento, focando as questões de sustentabilidade. Palavras-chaves: Gestão do Conhecimento; Administração Pública; Sustentabilidade no Setor Público ISSN 1984-9354

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GESTÃO DO CONHECIMENTO NA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA BRASILEIRA: SEU PAPEL NA PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade

Renata Martins Pacheco

[email protected]

Alexandre Rochinski

[email protected]

Ana Laura Lasso Peñaloza

[email protected]

Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto

[email protected]

Resumo: O mundo se torna cada vez mais um ambiente altamente competitivo. Nesse contexto, organizações privadas

procuram se aprimorar sempre, buscando garantir sua sobrevivência, enquanto as organizações públicas buscam,

principalmente, qualidade, eficiência, efetividade social e desenvolvimento econômico e social. Para tanto, novos

paradigmas de gestão vêm surgindo e, dentre eles, pode-se destacar a Gestão do Conhecimento (GC), que vem sendo

aplicada em ambos os setores. Todavia, essa competividade acaba tendo forte impacto no consumo de recursos

naturais e na poluição do planeta, exigindo dos órgãos públicos políticas e práticas a favor da sustentabilidade, que é

uma preocupação crescente das populações. Para isso, é exigido que a administração pública também se adeque, no

sentido de aumentar sua eficiência, prestando melhores serviços aos cidadãos, além de guiar desenvolvimento do país

considerando essas premissas de sustentabilidade e eficiência. Nessa conjuntura, o objetivo deste trabalho é analisar

as possibilidades da administração pública brasileira empregar ferramentas de GC para apoiar medidas de

desenvolvimento, focando as questões de sustentabilidade.

Palavras-chaves: Gestão do Conhecimento; Administração Pública; Sustentabilidade no Setor

Público

ISSN 1984-9354

XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015

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1. INTRODUÇÃO

Na sociedade atual, denominada de sociedade do conhecimento, se explora o argumento de que

o recurso básico da economia não é mais o capital, os recursos naturais ou o trabalho, mas sim o

conhecimento (DRUCKER, 1998). Muitos estudos vêm apontando a importância do conhecimento

dentro de um sistema de gestão organizacional. Entre 1995 e 2005, mais de quatro mil artigos foram

publicados com o termo Gestão do Conhecimento (GC) no título, sendo que mais de cem incluíram o

termo “modelo” no título e quase setecentos, no resumo (GIRARD; MCINTYRE, 2010).

Em um ambiente cada vez mais competitivo, as organizações privadas buscam criar estratégias

de gestão que as possibilitem sobreviver. Nesse contexto, há a preocupação constante em aumentar sua

capacidade competitiva, por meio da adoção de novos métodos e ferramentas de gestão, como a GC,

sob pena de desaparecerem. Por sua vez, as organizações públicas não enfrentam essa ameaça, sendo

que a mudança no setor público não é impulsionada pela competição. O setor público lida com

prestação de serviços, fornecimento de informações, compartilhamento e uso do conhecimento

(CONG; PANDYA, 2003). Enquanto o setor privado implementa a GC visando ao lucro e ao

crescimento, a administração pública busca principalmente qualidade, eficiência, efetividade social e

desenvolvimento econômico e social (BATISTA, 2012).

Concomitantemente, há uma crescente preocupação internacional relacionada ao atual modelo

de desenvolvimento (LÉLÉ, 1991; GIDDINGS et al., 2002; MORSE, 2008), devido à excessiva

pressão que causa sobre o meio ambiente e aos diversos problemas sociais causados sobre as

populações. Múltiplos esforços internacionais têm sido feitos para desenvolver e promover estudos e

aplicações da sustentabilidade no mercado e no setor público (TROTTA, 2010). Isso está levando a

uma mudança na lógica das organizações, que estão buscando trabalhar simultaneamente aspectos

financeiros, desenvolvimento humano, qualidade ambiental e equidade social. Apesar de alguns desses

aspectos poderem ser considerados pouco tangíveis, investidores, consumidores e a sociedade estão

gradualmente aumentando o apoio e o comprometimento com organizações que adotam o conceito da

sustentabilidade (KNOEOFEL, 2001).

Nessa conjuntura, a Gestão do Conhecimento e a Administração Pública têm importantes

papéis na promoção da sustentabilidade. A GC é central ao debate da sustentabilidade, pois promove

melhorias contínuas, é facilitadora da inovação em processos de negócios e produtos, entende as

pessoas como arquitetas no centro da criação do conhecimento, além de melhorar a gestão do

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relacionamento com os acionistas (ROBINSON et al., 2006). Os governos, por sua vez, têm

participação crucial na promoção da sustentabilidade ambiental, ao prover padrões ambientais e

legislação específica, para conservar recursos e a qualidade de vida (WILKINSON et al. 2001).

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é buscar subsídios na literatura que explicitem o uso

de ferramentas de GC como forma de apoio ao desenvolvimento de medidas de sustentabilidade e que

possam ser empregadas na administração pública brasileira. Com essa finalidade, o artigo se estrutura

em oito seções. Após a contextualização e justificativa do estudo, se definem os preceitos que o

subsidiaram. Em seguida, se apresenta o método de pesquisa adotado. Na sequência, se evidenciam as

inter-relações e exemplos identificados na literatura. Para finalizar, se descrevem as considerações

finais e são listadas as referências bibliográficas utilizadas.

2. Gestão do Conhecimento na Administração Pública

O maior desafio das organizações, na atualidade, está em aprender a converter o conhecimento

dos seus colaboradores em conhecimento organizacional. As organizações vêm procurando

alternativas para se tornarem instituições que valorizem o aprendizado, com espaços para a criação e o

compartilhamento de conhecimentos e se adequando ao ambiente cada vez mais turbulento, no qual

vantagens competitivas precisam ser permanentemente reinventadas (SCHLESINGER et al., 2008).

Nesse cenário, a GC, que pode ser definida como uma abordagem integrada para criar, compartilhar e

aplicar conhecimento para melhorar a produtividade, lucratividade e crescimento organizacional

(NAIR; PRAKASH, 2009), vem ganhando espaço.

A GC é vista, no setor privado, como uma importante ferramenta para a inovação de processos,

produtos e serviços (BATISTA, 2012). Em contraste, no contexto da esfera pública, segundo

Schlesinger et al. (2008), o processo de mudanças caminha em um ritmo mais lento. A grande maioria

dessas instituições ainda preserva características da administração burocrática, que, segundo Abrucio

(1997), são caracterizadas por uma estrutura rígida e centralizada, voltada ao cumprimento dos

regulamentos e procedimentos administrativos e onde o desempenho é avaliado apenas com referência

à observância das normas legais e éticas. Nesse contexto, pode-se afirmar que, atualmente, existe um

choque entre os valores da administração pública e os da nova economia, resultando na imagem tão

difundida na sociedade da ineficiência e má qualidade da administração pública (SCHLESINGER et

al., 2008).

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No entanto, a administração pública, em qualquer sociedade, é fundamental e complexa.

Assim, Wiig (2000) destaca a importância do conhecimento na administração pública, afirmando que a

viabilidade de qualquer sociedade depende da qualidade do fornecimento dos serviços públicos, sendo

que essa qualidade é influenciada por fatores como estrutura governamental, responsabilidades,

capacidades, informação, especialização do quadro de servidores e conhecimento disponível. Nesse

sentido, em 2008, a Organização da Nações Unidas (ONU) realizou um estudo na esfera pública no

qual destaca que, para os cidadãos, as vantagens advindas da GC incluem melhores serviços públicos,

mais oportunidades de escolhas, maior personalização no serviço prestado e maior controle sobre

como o erário é gasto (ONU, 2008).

Segundo a mesma pesquisa, o maior benefício da GC é o aumento da eficiência e da inovação,

mas, para que esses benefícios ocorram, é necessário que os processos que dão base à GC realmente

aconteçam. Segundo Wiig (2000), é importante criar uma visão, que deve ser amplamente

disseminada, sobre o que a GC pode fazer em cada unidade da administração pública, com foco

especial nos benefícios e impactos que podem ser esperados por essas novas práticas. Batista (2012)

complementa afirmando que, no setor público, é importante relacionar também os processos de GC

(identificação, criação, compartilhamento, armazenamento e aplicação do conhecimento) com a

aprendizagem e a inovação, sendo que a inovação nas organizações públicas é voltada para o aumento

da eficiência e para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados à população. Cabe

destacar que a Eficiência, além da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade e Publicidade, é um dos

princípios constitucionais que regem a administração pública brasileira.

Nessa conjuntura, a importância de uma política de Gestão do Conhecimento para o setor

público foi indicada por um estudo efetuado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).

Nele concluiu-se que, no Brasil, existem iniciativas isoladas, esforços pulverizados, muitas vezes em

um mesmo órgão. Há, também, ausência de comunicação e compartilhamento de informações

internamente e entre as instituições, bem como o desconhecimento do tema GC entre membros da alta

administração, chefias intermediárias e servidores de maneira geral (BATISTA et al., 2004).

Diante do exposto, alguns órgãos governamentais brasileiros já identificaram a necessidade de

mudarem seu paradigma de gestão, acompanhando as rápidas mudanças na sociedade

(SCHLESINGER et al., 2008; BATISTA, 2012; BRASIL, 2013). Como exemplo, pode-se citar o

trabalho realizado por Batista (2012) que, junto ao IPEA, desenvolveu o trabalho intitulado “Modelo

de Gestão do Conhecimento para a Administração Pública Brasileira”, que tem como objetivo mostrar

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“Como implementar a Gestão do Conhecimento para produzir resultados em benefício do cidadão”.

3. Gestão do Conhecimento como Promotora de Medidas de Sustentabilidade

O termo Desenvolvimento Sustentável surgiu a partir de estudos da ONU sobre as mudanças

climáticas, como forma de responder à crise social e ambiental vividas pela humanidade. Uma das

definições mais difundidas de desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que atende às

necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem suas próprias

necessidades” (ONU, 1987).

O grande desafio do século XXI é que o desenvolvimento sustentável aja de forma

economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. Nesse cenário de mudança, Lélé

(1991) afirma que a pergunta a ser respondida deixa de ser “As preocupações com desenvolvimento e

com o meio ambiente são contraditórias?” e passa a ser “Como pode o Desenvolvimento Sustentável

ser atingido?”.

Nessa conjuntura, fica evidente que o crescimento econômico não pode se sobrepor aos demais

pilares da sustentabilidade e, portanto, as organizações precisam, cada vez mais, adotar práticas mais

adequadas. Nesse sentido, Trotta (2010) destaca que os consumidores estão ficando mais atentos,

dando preferência a companhias que desenvolvem suas atividades em conformidade ambiental e

buscam a sustentabilidade. Robinson et al. (2006) vão além, afirmando que a sustentabilidade deve ser

trabalhada não apenas por preocupações ambientais ou expectativas sociais, mas porque ela faz sentido

dentro dos negócios.

Apesar de não ser usada tradicionalmente no setor ambiental, a GC tem grande potencial para

ser aplicada visando atingir objetivos de sustentabilidade (MCNEIL, 2011). Pesquisas na área estão

indicando que a GC pode ser um componente importante para acelerar uma organização no sentido da

sustentabilidade, pois há um crescente reconhecimento da importância dos bens intangíveis e do

conhecimento tácito que as pessoas possuem, ou seja, o chamado capital intelectual (SVEIBY, 1998).

De fato, Boiral (2002) realizou um estudo que demonstrou a relevância do conhecimento tácito na área

da gestão ambiental.

Nesse sentido, Fialho et al. (2008) aprofundam a questão, afirmando que, com a utilização do

conhecimento tácito e explícito dos colaboradores, as empresas podem quebrar paradigmas,

conduzindo as pessoas a adotar novos hábitos e costumes, bem como desenvolver novas competências.

Nessa conjuntura, Robinson et al. (2006) destacam que a noção de sustentabilidade corporativa resulta

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em uma mudança fundamental da lógica dos negócios, exigindo que as organizações abordem

simultaneamente aspectos ambientais e sociais, junto com os tradicionais aspectos financeiros.

Segundo Tyler et al. (2007), ao se incorporar pensamentos e práticas voltados à

sustentabilidade nos sistemas de valor individuais, há uma tendência da sustentabilidade se tornar parte

das atividades diárias dos trabalhadores. Independentemente de qual carreira um indivíduo estiver

seguindo, ele sempre levará seu conhecimento e seu capital intelectual para o trabalho que vier a

desempenhar, ajudando, assim, na disseminação das ideias da sustentabilidade. Ainda segundo o

mesmo autor, a integração de medidas eficientes de GC dentro de uma organização possibilita a

promoção de uma cultura baseada na colaboração, compartilhamento e comunicação aberta, levando a

organização a prosperar.

Para Fialho et al. (2008), essa cultura deverá ser a direcionadora de condutas para a criação,

compartilhamento e disseminação do conhecimento da sustentabilidade na prática, com a preocupação

de satisfazer as necessidades de gerações atuais e futuras. Dessa forma, Robinson et al. (2006)

destacam que desenvolver uma estratégia de GC é central para a operacionalização do conceito de

sustentabilidade, melhorando a forma com a qual os bens de conhecimento são geridos e registrados,

podendo levar à melhor governança corporativa, permitindo melhorias contínuas e aumentando a

percepção de valor da empresa.

4. Sustentabilidade na Administração Pública

Como conceito e ferramenta, a sustentabilidade está em um estágio inicial de desenvolvimento,

sendo que ainda não há consenso sobre quais aspectos dos sistemas e organizações essa temática é

mais relevante (MERAD et al., 2014). Nesse contexto, os governos claramente têm um papel central

na sua promoção, ao prover padrões e legislação específica para conservar recursos e a qualidade de

vida, em um ambiente econômico no qual tais ações podem ser entendidas como ampliadoras de custo

e prejudiciais à competitividade industrial (WILKINSON et al. 2001).

De fato, esses eventuais custos adicionais podem causar problemas reais à indústria em curto

prazo, principalmente se um planejamento prévio para a adequação não for feito. Entretanto, em longo

prazo, padrões ambientais bem fundamentados podem desencadear inovações que possibilitem

diminuir o custo total de um produto ou melhorar seu valor. Tais inovações podem permitir que

companhias usem seus insumos mais produtivamente – matérias primas, energia, recursos humanos –

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compensando os custos das melhorias ambientais feitas e, assim, resolvendo esse dilema. Por fim, esse

melhor aproveitamento dos recursos acaba por tornar as companhias mais competitivas, não o

contrário (PORTER; VAN DER LINDE, 1995).

Dessa forma, percebe-se que o governo, ao desenvolver normas e diretrizes em favor da

sustentabilidade, em especial do meio ambiente, pode influenciar positivamente o próprio mercado.

Nessa conjuntura, Batista (2012) destaca que o objetivo das organizações públicas é gerar valor para a

sociedade e formas de garantir o desenvolvimento sustentável, sem perder de vista a obrigação de

utilizar os recursos de forma eficiente. O mesmo autor afirma que a GC pode ter um importante papel

para o desenvolvimento sustentável. Nesse mesmo contexto, o IPEA (2011) identificou sete eixos

temáticos para o desenvolvimento nacional, dentre os quais está a sustentabilidade ambiental.

Considerando que as compras governamentais no Brasil movimentam de 10 a 15 % do Produto

Interno Bruto (PIB) nacional (MMA, 2009) e ponderando que existe mais de 1 milhão de servidores

públicos, somente na esfera federal (ENAP, 2013), fica claro que, ao adotar medidas de

sustentabilidade internas, o governo é capaz produzir um impacto positivo e de proporções

consideráveis no desenvolvimento do país.

Diante da comprovada importância do governo como promotor do desenvolvimento sustentável

nacional, no Brasil, leis, resoluções e programas vêm sendo desenvolvidos no sentido de dar apoio a

medidas de sustentabilidade. Dentre os programas governamentais voltados à sustentabilidade pode-se

destacar a Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P do Ministério do Meio Ambiente –

MMA. No ano de 2002, a A3P foi reconhecida pela Unesco, ganhando o prêmio “O melhor dos

exemplos” na categoria Meio Ambiente, devido à relevância do trabalho desempenhado e dos

resultados positivos que vem obtendo (MMA, 2015).

Ainda segundo o MMA (2015), a Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P é um

programa sob sua coordenação, com a finalidade de promover a responsabilidade socioambiental e a

adoção de procedimentos, de referenciais de sustentabilidade e de critérios socioambientais nas

atividades do setor público. Como forma de alcançar tais objetivos, A3P se estrutura em seis eixos

temáticos:

1. Uso racional dos recursos naturais e bens públicos;

2. Gestão adequada dos resíduos gerados;

3. Melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho;

4. Sensibilização e capacitação dos servidores;

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5. Contratações de bens e serviços com sustentabilidade;

6. Implementação de critérios para construções sustentáveis.

5. Procedimento metodológico

Quanto aos seus fins e aos seus meios, o presente estudo foi classificado de acordo com a

taxonomia de tipos de pesquisa proposta por Vergara (2003).

a. Quanto aos fins, a pesquisa é identificada como exploratória e descritiva (GIL, 2002).

Exploratória pela relativa escassez de estudos que abordam a GC na administração pública

brasileira, a GC como promotora de medidas de sustentabilidade e a sustentabilidade na

administração pública brasileira. O estudo é também descritivo, porque visa identificar,

descrever e analisar como a GC pode colaborar para o sucesso de medidas de sustentabilidade

na administração pública.

b. Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental (GIL, 2002).

Bibliográfica, pois a base teórica é subsidiada por materiais previamente publicados em livros e

revistas científicas. Também é documental, uma vez que leis e outros materiais publicados pela

Organização das Nações Unidas e pelo governo federal brasileiro são igualmente consultados.

Após a coleta do referencial teórico, analisou-se o conteúdo, buscando identificar na literatura

exemplos de aplicação de ferramentas de GC para a promoção de medidas sustentabilidade e sua

possível implantação na administração pública brasileira. Finalmente, construiu-se um quadro

buscando evidenciar como essas experiências podem ajudar na concretização das medidas de

sustentabilidade na administração pública brasileira, conforme proposto pela A3P.

6. Gestão do Conhecimento, Sustentabilidade e Administração Pública

Há muitos desafios para melhorar a eficiência da administração pública, assim como para que

se atinja um desenvolvimento nacional que possa ser considerado sustentável. As organizações

públicas, além de garantir os meios básicos de manutenção da sociedade, ainda devem ter como

objetivo gerar valor e buscar formas de garantir a sustentabilidade dessa sociedade. A GC pode ser

uma importante ferramenta para a elaboração e a implementação de políticas públicas que levem a um

desenvolvimento nacional sustentável.

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No mesmo cenário, Robinson et al. (2006) ressaltam que a GC é central ao debate da

sustentabilidade, pois promove melhorias contínuas, inovação em processos de negócios e produtos e

enxerga as pessoas no centro da criação do conhecimento. Paralelamente, Wilkinson et al. (2001)

destacam que os governos são cruciais na promoção da sustentabilidade, ao legislar e estabelecer

padrões para a conservação de recursos e da qualidade de vida.

Nesse sentido, é importante que as organizações públicas incrementem o compartilhamento de

conhecimentos, além de capturar e disseminar suas melhores práticas internas. Também, a cooperação

entre as organizações do governo federal, e destas com outras organizações da esfera estadual e

municipal, é outro aspecto importante e que precisa ser trabalhado. Nessa conjuntura, Batista (2012)

destaca que, no setor público, é importante relacionar os processos de GC (identificação, criação,

compartilhamento, armazenamento e aplicação do conhecimento) com a aprendizagem e a inovação.

Fialho et al. (2008) afirmam que é necessário que se crie uma cultura organizacional voltada a

condutas para a criação, compartilhamento e disseminação do conhecimento da sustentabilidade na

prática, com a preocupação de satisfazer as necessidades de gerações atuais e futuras.

Visto que o conceito de sustentabilidade e sua aplicabilidade ainda são alvo de pesquisas e, por

vezes, considerados confusos e intangíveis (LÉLÉ, 1991; MERAD et al., 2014), para o presente estudo

optou-se por adotar a abordagem de sustentabilidade organizacional proposta pelo Ministério do Meio

Ambiente, delimitada pelos eixos temáticos da A3P.

No intuito de ilustrar a possibilidade de aplicação de modelos e ferramentas de CG visando à

sustentabilidade no setor público, a Quadro 1 elenca estudos realizados nesse sentido, agrupando-os

conforme os eixos da A3P.

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Quadro 1 - Estudos que abordam preceitos de CG voltados à sustentabilidade.

Eixo Estudo sobre GC no respectivo Eixo da A3P

Uso racional dos recursos

naturais e bens públicos

Al-Jayyousi (2004) realizou um estudo no qual destacou o valor

da gestão do conhecimento no reuso de água. Apresentou um modelo de

GC que mostrou como o conhecimento institucional pode ser criado na

gestão da água, por meio da conversão de conhecimento tácito em

explícito, sendo parte de um processo de socialização, que se reflete nos

profissionais da área.

Gestão adequada dos

resíduos gerados

Söderberg; Kain (2006) desenvolveram um estudo no qual

abordaram o processamento do conhecimento no planejamento de um

sistema de gerenciamento de resíduos sólidos. Evidenciaram que, em

situações complexas de planejamento, há a necessidade de uma gestão

do conhecimento coletiva, reflexiva e transparente, sendo que o enfoque

deve estar em discussões, mais do que em ferramentas de avaliação e na

elaboração de materiais escritos.

Melhoria da qualidade de

vida no ambiente de

trabalho

Sherehiy; Karwowski (2006) propuseram a criação de um

modelo de GC, a ser aplicado na indústria, que aborda questões relativas

à segurança ocupacional, saúde e ergonomia. O modelo incluiu os

sistemas de conhecimento organizacional, aprendizagem organizacional

(criação do conhecimento, distribuição, elaboração e consolidação),

desenvolvimento de trabalhadores do conhecimento, processos de GC

(revisão, conceitualização, reflexão e ação) e tecnologias da informação

relevantes.

Sensibilização e

capacitação dos

servidores

Escrivão et al. (2011) desenvolveram um estudo teórico, com

enfoque sobre Educação Ambiental - EA, no qual propuseram medidas

de criação do conhecimento (CC) para a melhoria dos resultados da EA.

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Contratações de bens e

serviços com

sustentabilidade

Testa et al. (2014) realizaram um trabalho sobre compras

públicas sustentáveis, no qual destacaram a importância do processo de

aquisição do conhecimento para incrementar a efetividade das ações

voltadas a esse fim.

Implementação de

critérios para construções

sustentáveis

Robinson et al. (2006) aplicaram ferramentas de GC com o

intuito de identificar conhecimentos de empresas de construção no

sentido de se atingir metas de sustentabilidade. Segundo os autores, se

espera que construtoras abracem o conceito de sustentabilidade e

apliquem seus princípios, como forma de fazer negócios e gestão de

conhecimento, para melhorar o desempenho organizacional

continuamente.

Conforme indicado no Quadro 1, estudos envolvendo a GC e sustentabilidade vêm sendo

desenvolvidos em torno dos eixos estabelecidos na abordagem proposta pelo Ministério do Meio

Ambiente Brasileiro. Isso mostra que a GC pode ser uma importante ferramenta para a promoção do

Desenvolvimento Sustentável dentro da Administração Pública Brasileira. Entretanto, na revisão da

literatura realizada neste trabalho, ainda não foram encontrados estudos envolvendo a GC que abordem

esses eixos de maneira conjunta ou sistêmica.

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7. Considerações Finais

São cada vez maiores as pressões para que se encontre um modelo de gestão que aborde

simultaneamente aspectos sociais, ambientais e econômicos. Essa pressão é ainda maior sobre o

governo federal, que deve prover padrões e regulamentar o assunto, além de dar o exemplo ao aplicar

o que prega na administração pública.

Nesse contexto, novos paradigmas de gestão, como a Gestão do Conhecimento, têm um grande

potencial para promover as mudanças necessárias, seja em termos de eficiência administrativa, ou em

questões relativas à sustentabilidade.

A administração pública precisa estar constantemente se aprimorando, de modo a atender

melhor a população e ser mais eficiente em suas finalidades, colaborando diretamente com o

desenvolvimento do país. Cabe destacar que a eficiência é um dos cinco princípios constitucionais que

regem a administração pública brasileira.

E quando o assunto é desenvolvimento, as questões concernentes à sustentabilidade devem

estar presentes, buscando conciliar questões ambientais, sociais e econômicas da melhor forma

possível. Nesse sentido, conforme o exposto, a GC pode representar um meio de se trabalhar essas

frentes, de modo a entregar mais valor aos cidadãos, ajudando a garantir a qualidade de vida e

ambiental do país.

Finalizando, este é um trabalho de natureza exploratória e descritiva, que tem como intuito

principal a indicação de um nicho de pesquisa que precisa ser mais bem explorado, pois a gestão

pública e a sustentabilidade são questões cruciais para o desenvolvimento do país e ainda são poucos

os trabalhos que abordam de maneira integrada essas temáticas.

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8. Referências

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