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GESTÃO CONTÁBIL NAS MPES: RELEVÂNCIA PARA OS FORMANDOS EM ADMINISTRAÇÃO Renate Würzler de Oliveira Pinheiro Cangussú 1 Edilei Rodrigues de Lames 2 Liliane da Costa Jacobs Lames 3 Submissão: 10/04/2017 Aceite: 30/04/2017 Resumo: Todo empreendimento, grande ou pequeno, busca solidez e permanên- cia no mercado, utilizando-se para isso de várias ferramentas. Dentre estas, uma de primordial importância para a condução dos negócios é a Gestão Contábil. O objetivo deste estudo foi analisar a percepção dos formandos em Adminis- tração com relação à relevância da Gestão Contábil para as micro e pequenas empresas. O estudo foi feito com formandos em Administração da cidade de Hortolândia (SP). Verifica-se baixo conhecimento dos processos e ferramentas 1 MBA em Gestão Estratégica de Negócios pelo Centro Universitário Adventista de São Pau- lo (Unasp). E-mail: [email protected] 2 Mestre em Ciências Contábeis, professor dos Cursos de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: [email protected] 3 Mestre em Ciências Contábeis, professora dos Cursos de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: [email protected]

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GESTÃO CONTÁBIL NAS MPES: RELEVÂNCIA PARA OS FORMANDOS EM ADMINISTRAÇÃO

Renate Würzler de Oliveira Pinheiro Cangussú1

Edilei Rodrigues de Lames2

Liliane da Costa Jacobs Lames3

Submissão: 10/04/2017

Aceite: 30/04/2017

Resumo: Todo empreendimento, grande ou pequeno, busca solidez e permanên-cia no mercado, utilizando-se para isso de várias ferramentas. Dentre estas, uma de primordial importância para a condução dos negócios é a Gestão Contábil. O objetivo deste estudo foi analisar a percepção dos formandos em Adminis-tração com relação à relevância da Gestão Contábil para as micro e pequenas empresas. O estudo foi feito com formandos em Administração da cidade de Hortolândia (SP). Verifica-se baixo conhecimento dos processos e ferramentas

1 MBA em Gestão Estratégica de Negócios pelo Centro Universitário Adventista de São Pau-lo (Unasp). E-mail: [email protected]

2 Mestre em Ciências Contábeis, professor dos Cursos de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: [email protected]

3 Mestre em Ciências Contábeis, professora dos Cursos de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: [email protected]

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da Contabilidade. Estes percebem a importância da Contabilidade, porém, há necessidade de compreender com maior profundidade e amplidão a relevância da Gestão Contábil para conduzir com vitalidade os empreendimentos de que fu-turamente serão gestores. Conclui-se que um grupo significativo dos potenciais gestores, sob o ponto de vista financeiro, está despreparado para gerir um peque-no empreendimento, tendo em vista o pouco conhecimento da área contábil e a distorção na classificação da importância destas ferramentas.

Palavras-Chave: Gestão contábil; Pequena empresa; Relevância da contabilidade.

ACCOUNTING MANAGEMENT IN MPES: RELEVANCE TO TRAINERS IN ADMINISTRATION Abstract: Every enterprise, big or small, seeks solidity and permanence in the market, using for that of several tools. Among these, one of primary importance for conducting business is Accounting Management. The objective of this study was to analyze the perception of the trainees in administration regarding the re-levance of Accounting Management for micro and small companies. The study was done with graduates in administration of the City of Hortolândia. There is low knowledge of accounting processes and tools. They realize the importance of accounting, however, there is a need to understand with greater depth and breadth the relevance of Accounting Management to conduct with vitality the enterprises that will be managers in the future. It is concluded that a significant group of potential managers is unprepared to manage a small enterprise, due to the little knowledge of the accounting area and the distortion in the classification of the importance of these tools.

Keywords: Management accounting; Small business. Relevance of accounting.

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Acta Negócios, Engenheiro Coelho, SP, v. 1, n. 2, p. 55-78, 2º semestre de 2017http://dx.doi.org/10.19141/2594-7680/actanegocios.v1.n2.p55-78

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Introdução

Abrir um novo negócio é o sonho de um grupo significativo de pessoas. Em busca deste sonho, milhares de empresas iniciam suas ati-vidades todos os anos, aumentando o volume das Micro e Pequenas Empresas (MPEs). Porém, ao mesmo passo que elas abrem, após certo período, várias empresas fecham suas portas por não conseguirem gerir corretamente seus negócios. Para isso, é necessária a elaboração de es-tratégias de controle para a sobrevivência das MPEs.

Administrar uma Microempresa e/ou Pequena Empresa parece fá-cil. “Parece!” Essa aparência de facilidade administrativa engana, pois os princípios organizacionais que as MPEs devem observar são os mesmos dos grandes conglomerados — sejam eles comerciais, de serviços ou industriais. É preciso cuidar com a administração no improviso, aquela que ignora todo e qualquer planejamento estratégico.

Por mais complicada e injusta que seja a Política Tributária, assim como a Conjuntura Econômica do país, quase sempre o fracasso está associado à falha da administração do negócio. Para Santana (2007), um bom planejamento em todos os âmbitos da entidade deve levar em conta a parte contábil.

O Sistema Simples/Federal, introduzido a partir de 1997, pela Lei nº 9.317, de 19964, propondo desburocratizar a tributação para as MPEs, unifica seis tribu-tos federais, um tributo estadual e outro municipal, reduzindo a carga tributária. Como a nomenclatura sugere — simples — pode exercer efeito subliminar sobre o administrador despreparado, porque sugere “conforto na administração”. Dessa forma, essa falsa segurança na administração pode levar o negócio ao insucesso.

4 Disponível em: <http://bit.ly/2I6Maae>. Acesso em: 17 out. 2017.

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Em face de tantas variáveis que influenciam diretamente no resultado final, torna-se necessário e imprescindível um fluxo de informações geren-ciais bem fundamentadas e sob controle racional dos administradores. De acordo com Santana (2011), a Contabilidade deve ser usada como suporte para a direção administrativa. Através dos resultados de seus cálculos, ela ajuda no planejamento estratégico, dando aos gestores das empresas que a utilizam, parâmetros para a tomada de decisões, pois fornece demonstra-ções da situação econômico-financeira da entidade.

Sendo a Contabilidade uma das ciências utilizadas como subsídio para o controle e condução das transações existentes em uma empresa, é necessário que aqueles que pretendem gerir um negócio tenham ciência da real dimensão da indispensabilidade desta ferramenta no auxílio da gestão empresarial. É preciso saber então se os formandos da área da Ad-ministração, prováveis gestores de empreendimentos de micro e pequeno porte, têm percepção deste instrumento como aliado para a perpetuidade de seus negócios e observar as possíveis tendências ou preconceitos da visão dos mesmos com relação à utilização da Contabilidade na gestão de pequenos empreendimentos.

Sendo assim, esse artigo busca lançar um novo olhar sobre o tema ora abordado, levantando o seguinte questionamento: Que percepção têm os for-mandos em Administração da cidade de Hortolândia (SP) sobre a relevância da Contabilidade para as Micro e Pequenas Empresas?

Para isso, o objetivo desse estudo foi analisar a percepção dos forman-dos em Administração com relação à relevância da Gestão Contábil para as Micro e Pequenas Empresas. Este estudo se justifica pelos desafios enfrenta-dos pela cidade de Hortolândia (SP) que foi reconhecida, em 2010, como a cidade que mais cresce no Brasil e, em 2011, como uma das 300 cidades mais dinâmicas do mundo pela Organização Mundial dos Estados, Municípios e

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Acta Negócios, Engenheiro Coelho, SP, v. 1, n. 2, p. 55-78, 2º semestre de 2017http://dx.doi.org/10.19141/2594-7680/actanegocios.v1.n2.p55-78

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Províncias (Omemp), recebendo um prêmio na 17ª Meeting City Dinamics Word 2011 que ocorreu na Alemanha. Tal dinamismo que se mantém nos últimos anos, propicia à cidade o local ideal para o nascedouro de diversas MPEs que serão geridas, inclusive, por gestores formados na cidade e região.

Metodologia da pesquisa

Com o intuito de analisar a percepção dos formandos em Adminis-tração, com relação à relevância da Gestão Contábil nas MPEs, foi de-senvolvido um estudo descritivo, com pesquisa de campo e abordagem quantitativa. Teve como recorte todos os alunos formandos das duas ins-tituições de ensino superior da cidade de Hortolândia (SP). A aplicação do questionário foi previamente agendada e realizada nos dias 02 e 07 de maio de 2013, um dia em cada instituição. A amostra foi composta por 92 formandos. O questionário foi composto de vinte e uma questões fechadas, com questões dicotômicas e de múltipla escolha. Foi aplicado um pré-teste com sete alunos de uma das instituições, os quais foram excluídos da amostra.

No questionário foi verificada a relevância da Gestão Contábil na condução das MPEs sob a ótica dos formandos em Administração, assim como o seu grau de conhecimento do tema. Foram abordadas questões de caráter demográfico, como sexo, faixa etária, formação, ramo e função na empresa em que trabalha, tempo de atuação, dentre outros. Em seguida, questionou-se sobre o conhecimento do aluno com relação à Contabilida-de. Perguntou-se também aos respondentes sobre a aplicação dos elemen-tos da Contabilidade Gerencial nas organizações. A análise dos dados colhidos foi feita mediante estatística descritiva, tendo como parâmetro

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a utilização ou não da Contabilidade Gerencial na gestão de empresas de Micro e Pequeno Porte e os impactos de sua utilização.

Desafios da Micro e Pequena Empresa

O pequeno negócio exige os mesmos cuidados que demandam os grandes empreendimentos, pois as características básicas são as mes-mas. A concentração de todas as atividades sobre o idealizador do ne-gócio leva-o a exercer todas as funções que são exercidas por equipes e departamentos nas grandes empresas, pois todas as atividades recaem sobre o mesmo indivíduo. Golde (1986) já afirmava que não bastassem os entraves de planejar, produzir, promover e vender os produtos, o único funcionário dessa pequena empresa tem que administrar o f luxo financeiro, que é geralmente escasso para os pequenos investidores. A concentração de todas as atividades sobre um mesmo indivíduo pode fazer com que o planejamento seja feito com insegurança e improviso.

Segundo Breda (2011), Micro e Pequenas Empresas são definidas como aquelas que não têm obrigatoriedade na prestação de suas contas como também aquelas que fazem suas demonstrações financeiras com o propósito de mostrá-las aos credores, proprietários ou agências de crédito. As MPEs podem ser classificadas tanto de acordo com o valor de seu faturamento anual, quanto com o número de seus empregados. Tomando-se como base a Lei Complementar nº 123 (2006)5, de 14 de dezembro de 2006, que institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, elas se enquadram em um faturamento

5 Disponível em: <http://bit.ly/2ocFvTM>. Acesso em: 22 ago. 2017.

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Acta Negócios, Engenheiro Coelho, SP, v. 1, n. 2, p. 55-78, 2º semestre de 2017http://dx.doi.org/10.19141/2594-7680/actanegocios.v1.n2.p55-78

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igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Com relação ao número de empregados, o SEBRAE6 classifica estas empresas como tendo até 99 empregados no segmento da Indústria e até 49 empregados no segmento de Comércio e Serviços.

Lacerda (2003) afirma que as MPEs são importantes no contexto nacional e global, pois representam a maior parte da empregabilidade, considerando numericamente a situação. Podem ser consideradas, em sua essência, como gigantes devido à importância social no contexto da ocupação humana. Nelas pode-se ver o modelo das grandes organi-zações replicado de maneira simples.

Dados do site Empresômetro (2016)7 informam que são criadas mais de 1,2 milhão de novas empresas anualmente no Brasil. Deste montante, mais de 99% são formados por MPEs ou Microempreen-dedor Individual (MEI). São elas que empregam mais da metade dos trabalhadores brasileiros que têm carteira assinada. Diante destes números é possível compreender como a sobrevivência destes empre-endimentos é importante para a economia do País. O esforço deve concentrar-se sobretudo nos dois primeiros anos da formação de uma nova empresa, pois esses são os anos mais difíceis. Dados recentes (SEBRAE, 2016) mostram que há um índice de aproximadamente 69% de empreendimentos que sobrevivem aos dois primeiros anos no Bra-sil. Do total de empreendimentos iniciados no Brasil, 60% “morrem” antes de completarem cinco anos, o que representa uma quantia con-siderável de mortalidade empresarial.

6 Disponível em: <http://bit.ly/1A4EuMj>. Acesso em: 11 set. 2017.7 Empresômetro: Estatísticas MPEs. Disponível em: < http://bit.ly/2I9bdtf >. Acesso em:

23 mar. 2017.

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A importância da Contabilidade

De acordo com Cornacchione Júnior (2008)8, “a Contabilidade é a ci-ência que estuda, interpreta e registra os fenômenos que afetam o patrimô-nio da entidade”. O mundo dos negócios passa por uma situação que faz com que os seus gestores estejam, no mínimo, em uma situação desconfor-tável: a globalização, as compras online, a facilidade na pesquisa de preços, a oferta abundante de produtos e serviços ou a inovação constante dos pro-dutos. Tudo isso faz com que a concorrência seja acirrada.

Para conseguir superar todas estas dificuldades é preciso uma qualidade essencial a qualquer empreendimento: competitividade. Sendo que a concor-rência é tão grande, lutar para a manutenção da sua permanência no mercado envolve o aprimoramento dos custos para resultar no ganho de produtivida-de. Para poder competir no cenário atual é necessária, além da qualidade nos produtos e serviços, a oferta de preços finais cada vez menores. A Contabi-lidade Gerencial poderá fornecer informações que embasarão a tomada de decisões e a agilidade nas ações, ganhos advindos da utilização desta impor-tante ferramenta (CREPALDI, 2004).

A Contabilidade é fundamental na vida econômica. Segundo Crepaldi (2004), das grandes organizações aos pequenos negócios é imprescindível ter a documentação dos custos, dívidas, ativos, passivos ou das negociações. A Contabilidade se torna cada vez mais essencial na intrincada economia moderna. No sentido geral, a Contabilidade envolve a coleta, a exibição e a interpretação dos resultados econômicos. Na Contabilidade Financeira, a exposição dos demonstrativos é direcionada aos propósitos externos, como

8 Informação escrita por Edgard Bruno Cornacchione Junior no texto "O que é Contabilida-de", publicado no site da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA) da USP-SP, em 2008. Disponível em: <http://bit.ly/2tmSpDw>. Acesso em: 12 set. 2017.

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acionistas, credores ou autoridades do Governo. Já a Contabilidade Geren-cial tem como fim proporcionar dados aos administradores das empresas para auxílio de suas atividades gerenciais. E a Contabilidade de Custos tem duas funções importantes: a utilização das informações dos custos para auxílio na tomada de decisões e como instrumento na formação dos preços.

As informações contábeis são importantes para o público externo, po-rém sua utilização é de extrema importância internamente. De acordo com Padoveze e Benedicto (2007, p. 77), “a análise econômico-financeira tem por objetivo extrair informações das demonstrações contábeis para ser utiliza-da no processo de tomada de decisões na empresa”. Estas informações são essenciais no planejamento, controle e tomada de decisão na organização.

A Contabilidade nas micro e pequenas empresas

Apesar ser em menor proporção, as MPEs também devem expor suas demonstrações contábeis para dar informações de sua posição financeira, de seu desempenho e dos seus fluxos de caixa disponibilizadas para a tomada de decisões de seus usuários. Com ela é possível avaliar aconte-cimentos passados, presentes e futuros. A Contabilidade é relevante, pois demonstra a responsabilidade daqueles que estão administrando seus re-cursos (BREDA, 2011).

Entre as orientações para a sobrevivência das MPEs pode-se citar a ne-cessidade de inovação, o abandono da informalidade, a falta de crédito e a redução da carga tributária, sendo que as duas últimas são abrangidas pela Contabilidade (FELDMANN, 2011).

Um relatório contábil, com informações confiáveis e exatas, é um ele-mento imprescindível para o administrador conduzir a empresa aos melho-res resultados. Assim fica claro que para administrar e sobreviver no mundo

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corporativo é necessário ter todos os controles gerenciais bem compilados e traduzidos, e isso a Contabilidade fornece com maestria.

Se as informações forem confiáveis, as decisões serão acertadas e lucra-tivas. Não basta ter relatórios bem apresentáveis se não forem confiáveis (CA-NECA et al, 2009). Segundo Lacerda (2003), a gestão de custos bem planejada e bem dimensionada vai trazer capacidade gerencial e industrial e, sobretudo, segurança na direção do empreendimento. Sendo assim, é recomendada a implantação e o uso das ferramentas gerenciais a fim de minimizar e, se pos-sível, evitar as restrições surgidas pela falta das informações gerenciais no processo decisório de uma organização.

Segundo Siqueira et al. (2009), a Contabilidade Gerencial propicia infor-mações para gestores das organizações e, em termos gerais, para os usuários internos das empresas, sendo um instrumento essencial para gerir qualquer empreendimento. Ela fornece informações “financeiras e operacionais” para funcionários e gestores. A Contabilidade Gerencial, conforme Siqueira et al. (2009, p. 2) foi definida pelo Instituto de Contadores Gerenciais, como:

[…] o processo de identificação, mensuração, acumulação, análise, pre-

paração, interpretação e comunicação de informações financeiras usa-

das pela Administração para planejar, avaliar e controlar dentro de uma

empresa e assegurar uso apropriado e responsável de seus recursos.

As informações econômicas podem ser classificadas de várias formas, porém as informações contábeis são divididas em financeiras ou gerenciais pelos contadores. Sendo assim, é preciso fazer a distinção entre ambas. As informações da Contabilidade Financeira são úteis para usuários externos, como credores, instituições governamentais, acionistas ou o público em ge-ral. Ela demonstra os resultados e a condição financeira da organização

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conforme os princípios da Contabilidade. Já as informações da Contabi-lidade Gerencial contêm dados históricos e estimados, que são úteis nos planos para as atuações futuras e na formulação de estratégias de negócios. Ela se baseia em dados passados e prevê estimativas subjetivas de futuras decisões que auxiliarão na Administração (WARREN et al. 2008).

No atual mundo globalizado, com um mercado altamente competitivo, as empresas necessitam ser dinâmicas e objetivas nas suas tomadas de decisão. Para isso, a Contabilidade Gerencial é extremamente útil, pois fornece infor-mações pertinentes para as decisões e estratégias de negócios, tais como re-dução de impostos, investimentos, gestão de custos, dentre outros. Processos gerenciais compõem informações que auxiliam gerentes, administradores, di-retores e executivos na execução de suas decisões e na maximização de seus lu-cros (MIOTTO; LOZECKYI, 2008). As MPEs sofrem de modo diferenciado o impacto do ambiente, pois como sua estrutura é micro ou pequena, como a de-finição pressupõe, elas têm recursos limitados, o que exige cuidados especiais dos seus gestores. Muitas vezes o empreendedor não tem tempo para analisar todas as variáveis possíveis que influenciam nos resultados do seu negócio, fi-cando assim exposto às intempéries do mundo corporativo (LACERDA, 2003).

Sobre a importância da gestão contábil nas MPEs, Callado et al. (2005) afirmam que a simplicidade aparente das micro e pequenas empresas pode su-gerir que elas podem ser simplificadamente administradas. Isso não é verdade, pois seus princípios administrativos são os mesmos das grandes organizações. Esse segmento difere, apenas e tão somente, no volume de informações, sendo essencialmente igual em todos os processos e controles. A maximização dos lu-cros, bem como a minimização dos prejuízos passa, invariavelmente, pela Con-tabilidade, o que a torna imprescindivelmente relevante na tomada de decisões.

Gonçalves e Losilla (2011) afirmam que a essência de uma organiza-ção está na qualidade das informações que balizam as decisões dos seus

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gestores. Dessa forma é evidente que os relatórios de controle devem ser exatos e incontestáveis para que a tomada de decisões possa ser convertida em lucro e riqueza. Não é a dimensão de um negócio que lhe dá importân-cia e, sim, a forma como as organizações, nas pessoas de seus gestores, va-lorizam ou não o ferramental à sua disposição fornecido pelo setor contábil.

Resultados e discussões

Com o intuito de analisar a relevância da Contabilidade para a Gestão das MPEs solicitou-se aos formandos do curso de Administração que res-pondessem como potenciais gestores. Sendo assim, obteve-se uma amostra de 92 alunos representada 62% pelo sexo feminino e o restante masculino. A faixa etária predominante é de jovens entre 20 e 24 anos (53%), seguidos dos que tem entre 25 a 29 anos (23%).

Gráfico 1: Faixa etária dos respondentes

20-24 anos 25-29 anos 30-34 anos 35-39 anos 40-49 anos53% 23% 12% 7% 5%

53%

23%

12%

7%

5%

20-24 anos

25-29 anos

30-34 anos

35-39 anos

40-49 anos

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Os formandos respondentes já atuam em empresas de diversos ra-mos, por exemplo, 43% em empresas de serviços, seguidos de 35% que trabalham em indústrias. A maioria desenvolve funções de auxiliar (63%) e as funções de gerente e diretor/proprietário, 10% dos respon-dentes já atuam nessas funções, com o mesmo percentual em ambas (5%), os 27% restantes têm cargos de análise e supervisão.

Em relação ao tempo em que estão trabalhando na empresa, o Gráfico 2 mostra que mais da metade (51%) está há menos de dois anos, e a minoria (7%) está há mais de 10 anos nas empresas. Entretan-to, pelo Gráfico 3 verifica-se que está ocorrendo mudança de função com o decorrer do tempo, pois (61%) estão na atual função por um período de até dois anos.

Gráfico 3: Tempo na função em que trabalhaAté 1 ano 1 a 2 anos 2 a 5 anos 5 a 10 anos Mais de 10 anos22% 29% 30% 12% 7%

22%

29%

30%

12%

7%

Até 1 ano

1 a 2 anos

2 a 5 anos

5 a 10 anos

Mais de 10 anos

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Até 1 ano 1 a 2 anos 2 a 5 anos 5 a 10 anos Mais de 10 anos30% 31% 26% 6% 7%

30%

31%

26%

6%

7%

Até 1 ano

1 a 2 anos

2 a 5 anos

5 a 10 anos

Mais de 10 anos

Analisando a visão desses formandos de Administração sobre a impor-tância da Contabilidade na condução de uma organização, a maior parte de-les (51%) afirma que terceirizaria a Contabilidade, enquanto 49% fariam a Contabilidade internamente, na própria empresa. Sendo que a pessoa respon-sável pelas informações contábeis, na grande maioria (64%), seria o contador, e 20% tencionam serem eles mesmos os responsáveis por estas informações.

A principal razão para a utilização dos serviços da Contabilidade, de acordo com a opinião dos questionados, seria: para receber relatórios con-tábeis da condição da empresa, 38%; para ter embasamento para a tomada de decisão, 29%; para utilizar em pagamento de guias de impostos, 18%; e para aplicar em caso de dúvidas quanto à Legislação específica, 8%.

Percebe-se que alguns respondentes ainda encaram a Contabilidade como “mal” necessário, na confecção de guias de impostos ou suporte à legislação. Crepaldi (2004) declara que as informações contábeis embasarão a tomada de decisões e darão agilidade às ações. Padoveze e Benedicto (2007) corroboram esta assertiva ao dizer que o objetivo da análise econômico-financeira de uma instituição é fornecer um olhar panorâmico sobre períodos contábeis anterio-res para que a tomada de decisões seja feita com convicção e transparência.

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A maioria dos pesquisados (58%) afirmou que sua maior preocupação no gerenciamento de uma empresa seria o planejamento das atividades, seguida por 25% que têm como maior preocupação o controle das atividades, enquanto 17% assumem ser a resolução de problemas sua maior preocupação. Segundo Padove-ze e Benedicto (2007), a Contabilidade é importante não só para fundamentar as resoluções, como também, e não menos importante, para o planejamento estraté-gico e o controle econômico-financeiro da organização. Como se vê, a percepção dos entrevistados está em harmonia com a assertiva desses autores.

O Gráfico 4 indica as áreas que os respondentes dedicariam maior atenção: 50% indicam a Área Financeira; 48% Planejamento e 40% a Área Pessoal. Outras áreas apontadas são: 32% Marketing; 27% Custos e 21% a Área de Vendas. Essa ordem de prioridade para área financeira indica uma noção de importância significativa atribuída à Contabilidade.

Gráfico 11: Áreas privilegiadas na empresa

Pessoal 40%Marketing 32%Financeira 50%Planejamento 48%Concorrência 8%Tributária 10%Custos 27%Formação de preços 3%Vendas 21%Pós-vendas 10%Demanda 8%Outra 1%

40%

32%

50% 48%

8%10%

27%

3%

21%

10%8%

1%0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

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Grande parte do total de respondentes da pesquisa (84%) têm planos de utilizar software próprio para o gerenciamento contábil como ferramenta para o controle financeiro da empresa, seguidos de 15% de formandos que preten-dem utilizar a planilha do Excel para o mesmo fim e apenas 1% fará uso de um caderno ou outro instrumento.

Percebe-se que, para 84% dos potenciais gestores, está claro que a utilização de software para o gerenciamento contábil é o ideal para a ob-tenção de relatórios conclusivos que orientarão a tomada de decisões. O pequeno grupo de (15%) dos participantes julga satisfatória a utilização de planilhas do Excel no controle e tomada de decisão.

As constatações desse trabalho mostram também que, ao enfrentarem dificuldades em assuntos contábeis, 54% buscariam alguma consultoria ex-terna; 26% buscariam aperfeiçoamento no assunto por meio de cursos espe-cíficos; 18% buscariam a assessoria do SEBRAE; e, 2% aconselhariam-se com algum amigo, que segundo a sua visão, poderia assessorá-lo. Dessa forma fica claro que esses gestores, em sua maioria absoluta (98%), não correriam nenhum risco sem aconselhamento profissional e de boa procedência.

Ainda foi verificado que, como gestores de empresas, 59% utiliza-riam a informação contábil para avaliar os impactos financeiros no ge-renciamento dos negócios; 21% utilizariam essas mesmas informações para simples acompanhamento, esperando assim com uma análise su-perficial perceber algum desvio de rota nos empreendimentos; 18% usa-riam esses dados como um termômetro aritmético apenas para auferir os resultados, buscando observar apenas acréscimo ou decréscimo nos seus investimentos. Apenas 2% improvisariam a avaliação dos resulta-dos, expondo-se totalmente ao insucesso.

Breda (2011) afirma que as MPEs não têm obrigação na prestação de contas, contudo, percebe-se um viés positivo no comportamento destes futuros

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gestores, pois boa parte deles, em seus propósitos, confirma a necessidade destas ferramentas para gerir seus negócios.

Além de quesitos em que os respondentes assumiam o lugar de um gestor contábil de uma Micro ou Pequena Empresa, foi feita uma análise do conheci-mento que os formandos em Administração têm da Contabilidade.

Foi pedido que classificassem a intensidade com que utilizariam as fer-ramentas ou controles Contábeis/Financeiros/Gerenciais na gestão de suas empresas. As questões contemplaram os processos e as ferramentas contábeis.

Quadro 1: Utilização das ferramentas de controle

Ferramentas/Controles0

NãoUsaria

1 UsariaPouco

2 3 45

UsariaMuito

Análise de Investimentos 1% 8% 6% 30% 32% 23%Controle de Estoques 1% 5% 1% 15% 38% 40%Controle de Contas a Pagar 1% 0% 4% 12% 23% 60%Controle de Contas a Receber 1% 0% 4% 12% 23% 60%Controle de Bens do Imobilizado 1% 6% 11% 26% 28% 28%Cálculo de Custos dos Produtos 1% 1% 5% 18% 34% 41%Formação do Preço de Venda 1% 2% 6% 22% 34% 35%Acompanhamento dos Custos 1% 6% 4% 14% 33% 42%Orçamento Real 4% 10% 20% 21% 21% 24%Orçamento Projetado 1% 11% 16% 20% 32% 20%Fluxo de Caixa 0% 4% 4% 18% 20% 54%Análise Demonstrações Contábeis 1% 2% 6% 28% 29% 33%Planejamento Tributário 1% 8% 4% 31% 26% 30%Balanço Patrimonial 1% 2% 5% 10% 30% 52%D.R.E. 1% 1% 5% 14% 22% 57%

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Observa-se (quadro 1) quais ferramentas e controles seriam mais utilizados pelos entrevistados: controle de contas a receber e contas a pagar lideram com 60% cada. Em segundo lugar têm-se a demonstra-ção de resultado do exercício (DRE) com 57%, seguida da elaboração de f luxo de caixa (54%) e balanço patrimonial (52%). Outras ferramen-tas e controles que utilizariam são o acompanhamento dos custos (42%); cálculo de custos dos produtos (41%) e controle de estoques (40%). Esses dados mostram que o f luxo de informações contábeis seria subutilizado pelos gestores e, “felizmente”, apenas 1% apostaria no acaso, ignorando toda a ajuda disponível nas Ciências Contábeis.

Esses dados revelam que há limitações relevantes sobre a visão dos futuros gestores pois deixam para o segundo plano relatórios importan-tes como, por exemplo, o Orçamento Projetado e o Orçamento Real, dos quais dependerá o sucesso da Gestão Empresarial, demonstrando assim inexperiência e baixa maturidade na gestão.

Relativo à periodicidade da elaboração do Fluxo de Caixa (FC), a maioria (48%) afirmou que seria diária, denotando determinação em manter o contro-le do empreendimento bem visível e dominado, enquanto que para 36% seria semanal, o que torna difícil o controle. Apenas 2% afirmaram que não elabora-riam o fluxo de caixa.

Na sequência, o Balanço Patrimonial (BP) seria confeccionado trimestral-mente por 27% dos respondentes, número semelhante para os que afirmaram (26%) que seria semestral, bem como 23% que optaram pelo período semanal.

Por fim, 3% deles não fariam o Balanço Patrimonial. De forma seme-lhante, os resultados foram próximos com relação à elaboração da Demons-tração do Resultado do Exercício (DRE): para 28%, a periodicidade seria trimestral, para 26% seria semestral e para 22% seria semanal. Outros 5% não elaborariam a DRE.

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Gráfico 5: Periodicidade de elaboração de FC, BP e DRE

Fluxo caixa Balanço patriminial DRENão elaboraria 2% 3% 5%Diário 48% 3% 3%Semanal 36% 23% 22%Trimestral 8% 27% 28%Semestral 3% 26% 26%Anual 3% 17% 15%

2%

48%

36%

8%3% 3%3% 3%

23% 27% 26%

17%

5% 3%

22%

28% 26%

15%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Não elaboraria Diário Semanal Trimestral Semestral Anual

Fluxo caixa Balanço patriminial DRE

Por fim, ao relatar seu conhecimento com relação à Contabilidade, dentro de uma escala Likert de 1 a 5, foi observado (quadro 2) que a maior parte dos respondentes, em média 37% deles, se situaram no nível in-termediário (3) em todos os quesitos. Em seguida, em média 23% deles se situaram no nível 4, enquanto aproximadamente 22% deles ficaram posicionados no nível 2 demonstrando-se inaptos em assuntos contábeis.

Quadro 2: Área do conhecimento

Área do Conhecimento1

Pouco Conhecimento

2 3 45

Muito Conhecimento

Contabilidade Geral/Financeira 8% 19% 43% 21% 9%Contabilidade de Custos 7% 16% 45% 25% 8%Contabilidade Gerencial 12% 19% 37% 27% 4%Demonstrações Contábeis 8% 24% 36% 28% 4%

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Gestão de MPE’s 16% 20% 33% 23% 8%Gestão de Empresas de Serviços 18% 26% 32% 17% 7%Estrutura e Análise das Demonstrações Contábeis 12% 28% 34% 21% 4%

Média das Porcentagens 12% 22% 37% 23% 6%

Apesar do aparente despreparo do grupo, 9% dos participantes da pesquisa afirmam conhecer a Contabilidade Geral/Financeira e 8% se apresentam como bem informado em Contabilidade de Custos. A área mais desconhecida, com 18% dos entrevistados, foi a de Gestão de Empresas de Serviços, vindo a seguir a Gestão de MPEs, com 16% decla-rando ter pouca informação na área.

Conforme Crepaldi (2004), a Contabilidade é imprescindível para a vitalidade financeira de toda e qualquer instituição, pois ela registra os custos, dívidas, ativos, passivos, como também todas as negociações ocorridas. É importante lembrar que as MPEs necessitam de uma aten-ção redobrada, pois os gestores destas são tendenciosos em tomar suas decisões no improviso, comprometendo a permanência destas no mer-cado corporativo.

Considerações Finais

A Contabilidade está intrinsecamente ligada a todas as modalida-des de empreendimentos e, em particular, às Micro e Pequenas Empre-sas. De maneira especial, a Contabilidade Gerencial é fundamental para gerir eficazmente pequenos empreendimentos, garantindo condições de decidir com segurança. Justifica-se, portanto, que os dados contábeis devem ser corretamente coletados, classificados e analisados para que

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os resultados sejam conclusivos. Os gestores das MPEs não precisam ser experts contábeis para gerirem seus empreendimentos. Contudo, é ne-cessário que tenham familiaridade com as informações fornecidas pela Contabilidade Gerencial, Contabilidade Financeira e Contabilidade de Custos para a correta gestão de seus negócios.

Para isso, o objetivo desse estudo foi analisar a percepção dos for-mandos em Administração, com relação à relevância da Gestão Contá-bil nas MPEs. Verifica-se na população pesquisada algum despreparo na utilização das informações contábeis como instrumento de gestão e planejamento financeiro. Foi observado que, no geral, há pouco conhe-cimento dos processos e ferramentas da Contabilidade. Observa-se tam-bém dificuldades com relação à prioridade atribuída a cada ferramenta contábil, ora priorizando as de menor importância, e ora desprezando as essenciais no processo decisório.

Infere-se, pelas respostas dos entrevistados que estes veem impor-tância na Contabilidade, porém, talvez pelo despreparo e inexperiência, necessitam compreender com maior profundidade e amplidão a real re-levância desta ciência para conduzir com vitalidade os empreendimen-tos de que futuramente serão gestores.

Em se tratando de coadjuvantes do mundo corporativo, a pesquisa mostra que aqueles que buscariam aperfeiçoamento contábil serão um time de futuros administradores preparados para os desafios que a cada dia são lançados pelo ambiente empresarial. Logo, os demais são possí-veis candidatos a gestores que tomarão suas decisões improvisadamente, sem o embasamento das informações contábeis. Sendo assim, conclui-

-se que há necessidade de uma visão holística dos potenciais gestores das MPEs garantindo que estas tenham, durante a sua gestão, maiores chances de sobrevivência no mercado.

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Uma limitação desta pesquisa foi o fato de que a maioria dos alunos pesquisados são funcionários de empresas de grande porte, via de regra tiveram seu primeiro emprego em grandes corporações, o que faz com que sua visão de uma pequena empresa seja limitada.

Sugere-se, para pesquisas futuras: a) replicar a pesquisa em outras cidades para verificar a tendência e criar um quadro amplo dessa rea-lidade, comparando-a entre as cidades; e b) aplicar a referida pesquisa com gestores de Micro e Pequenas Empresas da Região Metropolitana de Campinas; e, por fim, comparar os resultados entre potenciais ges-tores (formandos) e gestores efetivos das Micro e Pequenas Empresas.

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