gerenciamento de resÍduos do serviÇo da saÚde: … · 2016-08-11 · funcionários da...

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DO SERVIÇO DA SAÚDE: ESTUDO DE CASO NO CENTRO CLÍNICO DA AFURN - ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Ilane Mayara Palhares de Oliveira (UFRN) [email protected] SUANNY DANTAS BRANDAO SOARES (UFRN) [email protected] Ciliana Regina Colombo (ufrn) [email protected] Cristina de Souza Bispo (ufrn) [email protected] Ana Clara Cachina Saraiva (ufrn) [email protected] Um dos grandes desafios da sociedade atual seja ela poder público, sociedade ou empresas de pequeno, médio ou grande porte é a gestão adequada dos resíduos produzidos diariamente. A falta de compromisso por parte desses atores acaba por proovocar danos ao meio ambiente, como a contaminação de mananciais, e à saúde pública, devido à proliferação de patógenos que elevam a incidência de doenças. Dentre os mais variados tipos de resíduos existentes, um dos que se destacam e merecem atenção integral dos tomadores de decisões do nosso país é o Resíduo de Serviço de Saúde - RSS, principalmente devido aos potenciais riscos à saúde humana caso não seja gerenciado de maneira adequada conforme exigido pela legislação vigente. Diante desse contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA e o Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, resolveram tornar uniforme o gerenciamento desse tipo de resíduo, estabelecendo então uma série de resoluções voltadas à segregação, acondicionamento e destinação final dos resíduos de serviços de saúde gerados no Brasil. O presente estudo de caso tem como objetivos realizar uma análise da situação atual do gerenciamento dos Resíduos do Serviço de Saúde do Centro Clínico da AFURN, que funciona na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal/RN, assim como contribuir para a elaboração de um futuro Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde - PGRSS. A metodologia do estudo é do tipo quali-quantitativa, com realização de XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DO

SERVIÇO DA SAÚDE: ESTUDO DE CASO

NO CENTRO CLÍNICO DA AFURN -

ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE

Ilane Mayara Palhares de Oliveira (UFRN)

[email protected]

SUANNY DANTAS BRANDAO SOARES (UFRN)

[email protected]

Ciliana Regina Colombo (ufrn)

[email protected]

Cristina de Souza Bispo (ufrn)

[email protected]

Ana Clara Cachina Saraiva (ufrn)

[email protected]

Um dos grandes desafios da sociedade atual seja ela poder público,

sociedade ou empresas de pequeno, médio ou grande porte é a gestão

adequada dos resíduos produzidos diariamente. A falta de compromisso

por parte desses atores acaba por proovocar danos ao meio ambiente,

como a contaminação de mananciais, e à saúde pública, devido à

proliferação de patógenos que elevam a incidência de doenças. Dentre os

mais variados tipos de resíduos existentes, um dos que se destacam e

merecem atenção integral dos tomadores de decisões do nosso país é o

Resíduo de Serviço de Saúde - RSS, principalmente devido aos potenciais

riscos à saúde humana caso não seja gerenciado de maneira adequada

conforme exigido pela legislação vigente. Diante desse contexto, a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA e o Conselho

Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, resolveram tornar uniforme o

gerenciamento desse tipo de resíduo, estabelecendo então uma série de

resoluções voltadas à segregação, acondicionamento e destinação final

dos resíduos de serviços de saúde gerados no Brasil. O presente estudo de

caso tem como objetivos realizar uma análise da situação atual do

gerenciamento dos Resíduos do Serviço de Saúde do Centro Clínico da

AFURN, que funciona na Universidade Federal do Rio Grande do Norte

em Natal/RN, assim como contribuir para a elaboração de um futuro

Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde - PGRSS. A

metodologia do estudo é do tipo quali-quantitativa, com realização de

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

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visitas in loco para a coleta de dados e observação do processo de

gerenciamento dos resíduos gerado no referido centro clínico. As

fundamentações teóricas foram feitas com o auxilio de artigos, livros,

guias e legislação acerca do assunto de interesse. Com base na

metodologia utilizada foi possível constatar que os resíduos gerados no

Centro Clínico da AFURN são separação de destinados de forma

parcialmente correta, no entanto, existem algumas inadequações; e que a

implantação de um PGRSS é necessária, no entanto, deve-se aliar

educação e treinamento dos profissionais de saúde, além do

esclarecimento dos geradores, resultando em preservação do meio

ambiente e garantindo, assim, a qualidade de vida.

Palavras-chaves: Gerenciamento, Resíduos, Saúde.

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1. Introdução

Embora a geração de resíduos oriundos das atividades humanas faça parte da própria história do

homem, é a partir da segunda metade do século XX, com os novos padrões de consumo da

sociedade industrial, que essa geração cresce em ritmo superior à capacidade de absorção pela

natureza. Aliado a isso, apesar do avanço tecnológico das últimas décadas ter possibilitado

conquistas surpreendentes no campo das ciências, também contribuiu para o aumento da

diversidade de produtos formados por componentes de difícil degradação e maior toxicidade

(RIBEIRO; MORELLI, 2009).

Em virtude desse contexto, a gestão dos resíduos constituí-se um desafios à sustentabilidade e

houve a necessidade de criar especificações que lidassem com cada tipo, destacando-se, devido às

suas peculiaridades, os Resíduos de Serviço de Saúde – RSS. Com relação esse tipo de resíduo, é

importante salientar que do total de resíduos sólidos urbanos gerados diariamente apenas uma

fração inferior de cerca de 3% (BRASIL, 2006) é composta por RSS. Portanto, a implantação de

processos de segregação dos diferentes tipos de resíduos em sua fonte e no momento de sua

geração conduz certamente à minimização de resíduos, em especial àqueles que requerem um

tratamento prévio à disposição final.

Diante dessa necessidade, o presente trabalho visa descrever o gerenciamento dos Resíduos de

Serviços de Saúde – RSS realizada em um Centro Clínico da AFURN – Associação dos

Funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, localizado em Natal/RN, isto é,

as ações relativas ao manejo dos resíduos gerados, observadas suas características, levando em

conta os aspectos referentes à Geração, Segregação, Acondicionamento, Coleta, Armazenamento,

Transporte, Tratamento, Destinação Final e, principalmente, proteção à saúde pública do

município.

Através disso, o trabalho se justifica pelo fato de que até o presente momento, muitas empresas

do ramo hospitalar não tem ideia de onde dispor seus resíduos gerados, mesmo já havendo

legislação que define onde e como destinar tais rejeitos. Assim, avaliou-se a situação atual do

gerenciamento de resíduos no Centro Clínico supracitado para então propor a implantação de um

Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde para o local.

2. Fundamentação Teórica

2.1 Resíduos dos serviços de saúde: panorama nacional, legislação e classificação

Os resíduos de serviços de saúde são parte importante do total de resíduos sólidos produzidos nos

centros urbanos brasileiros, não necessariamente pela quantidade gerada, cerca de 1% a 3% do

total (BRASIL; SANTOS, 2004), mas pelo potencial de risco que representam à saúde e ao meio

ambiente, os quais serão descritos posteriormente nesse artigo. Assim, o gerenciamento dos

Resíduos dos Serviços de Saúde torna-se imprescindível, ou seja, como forma de, de acordo com

a RDC N°306/2004 ANVISA, “minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos

gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a

preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente”.

Conforme a Resolução CONAMA Nº 358/05, os RSS são definidos como aqueles originados de,

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Serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os

serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de

produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de

embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal;

drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e

pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos

farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para

diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura;

serviços de tatuagem, entre outros similares. (BRASIL, 2005, p.01)

A legislação federal atribui aos geradores a responsabilidade pelo tratamento e destinação final

dos Resíduos de Serviços de Saúde – RSS, no entanto, a Associação Brasileira de Empresas de

Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE (2010) afirma que “a coleta realizada pela

maior parte dos municípios brasileiros é parcial”, contribuindo de maneira significativa para a

não obtenção da situação real acerca da quantidade de resíduos gerados, assim como da

destinação final dos RSS no Brasil, questão esta que deve ser tratada com a máxima seriedade

pelos tomadores de decisão do país, pois esse tipo de resíduo configura-se como um aspecto da

saúde pública, haja vista apresentar um grande potencial de contaminação ao meio ambiente,

referente ao potencial de contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas (pelo

lançamento de RSS em lixões ou aterros controlados) e aos seres humanos, estes vinculados aos

acidentes que ocorrem devido às falhas no acondicionamento e segregação dos materiais perfuro-

cortantes sem utilização de proteção mecânica, além da ingestão de alimentos contaminados, ou

aspiração de material particulado contaminado em suspensão (BRASIL, 2006).

No tocante à coleta dos RSS produzidos no país, ao se realizar um comparativo entre os anos de

2009 e 2010, com base nos dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil da ABRELPE

(2010), a quantidade de RSS coletada no país teve um ínfimo aumento (3%) passando de 221.270

t/ano para 228.067 t/ano, destacando-se no ano de 2010 as regiões sudeste (157.113 t/ano) e

nordeste (33.455 t/ano), responsáveis pela coleta de 190.568 t/ano, ou seja, mais de 80% desse

tipo de resíduo.

Quanto ao tratamento e à destinação final dos Resíduos de Serviços de Saúde, os municípios

brasileiros que promovem a coleta desse material realizam o seu tratamento e a sua disposição de

diversas formas (Figura 1), são elas: incineração; aterro; autoclave; vala séptica; microondas; e,

apesar da existência de legislação federal que estabelece os tipos adequados de

tratamento/destinação de acordo com as classes de resíduos da saúde, esses ainda são despejados

em lixões à céu aberto, sendo esta a maneira totalmente inadequada para disposição desse e de

qualquer outro tipo de resíduo, devido aos riscos à população e ao ambiente já citados em tópicos

anteriores desse artigo.

Além disso, o Brasil possui capacidade instalada de tratamento de apenas 92% (210.459 t/ano)

embora sejam coletados 228.067 t/ano. No Nordeste essa capacidade de tratamento comporta

apenas 65,8% do total de resíduos coletados, com destaque para o estado do Rio Grande do Norte

que possui competência para tratar 2.839 t/ano, ficando atrás dos estados de Pernambuco e Piauí,

que são capazes de tratar 5304 t/ano e 2.964 t/ano, respectivamente (ABRELPE, 2010).

Atualmente no Brasil existe legislação específica relacionada aos Resíduos de Serviço de Saúde,

composta pelas Normas Regulamentadoras da Associação Brasileira de Normas Técnicas –

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ABNT, representadas pelas NBR 12.807/93, 12.808/93, 12.809/93 e 12.810/93, que versam

acerca de aspectos que vão desde a terminologia própria utilizada na área da saúde até aos

procedimentos de coleta desse tipo tão peculiar de resíduo. Além dessas, outras normas são a

resolução N° 358/05 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, referente ao

tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde; e a resolução Nº 306/04 da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, a qual trata do regulamento técnico para o

gerenciamento dos RSS.

Figura 1 – Formas de destinação final dos Resíduos de Serviços de Saúde nos municípios brasileiros. Fonte:

Adaptado de ABRELPE (2010)

A classificação dos RSS vem sofrendo um processo de evolução contínuo, na medida em que são

introduzidos novos tipos de resíduos nas unidades de saúde e como resultado do conhecimento do

comportamento destes perante o meio ambiente e a saúde, como forma de estabelecer uma gestão

segura com base nos princípios da avaliação e gerenciamento dos riscos envolvidos na sua

manipulação. Entretanto, atualmente no Brasil, para fins de classificação dos RSS adotam-se as

supracitadas resoluções do CONAMA e da ANVISA, sendo os resíduos em questão classificados

em cinco grupos distintos, são eles:

GRUPO A: Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características

de maior virulência (patogênese) ou concentração, podem apresentar risco de infecção.

Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros), tecidos, entre

outras.

GRUPO B: Resíduos contendo substancias químicas que podem apresentar riscos à saúde

pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade,

corrosividade, reatividade e toxicidade. Exemplos: medicamentos, reagentes de laboratório e

resíduos contendo metais pesados, como chumbo e mercúrio.

GRUPO C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham

radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas

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da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilização é imprópria

ou não prevista. Exemplos: serviço de medicina nuclear e radioterapia.

GRUPO D: Resíduos que não apresentam lixo biológico, químico ou radiológico à nossa saúde

ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares.

GRUPO E: Materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear,

agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas

de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os

utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de

Petri) e outros similares.

2.2 Aspectos técnico-operacionais de manejo, tratamento e disposição

Outro aspecto fundamental do gerenciamento de resíduos e que será abordado nesse estudo de

caso é a destinação final, sendo necessárias as seguintes etapas anteriores: acondicionamento e

tratamento, em conformidade com a classificação descrita na seção anterior. De acordo com a

RDC N°306/2004 ANVISA e com o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de

Saúde, as etapas da gestão de resíduos são:

Acondicionamento: ato de embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que

evitem vazamento e resistam às ações de punctura e ruptura, observando a capacidade dos

recipientes e preenchendo-os até 2/3 de seu volume;

Existem dois tipo de armazenamento:

o Armazenamento temporário: guarda temporária dos recipientes (sacos ou caixas

com identificação adequada) contendo os resíduos já acondicionados, em local

próximo aos pontos de geração. Esse armazenamento pode ser dispensado caso o

local gerador seja próximo do armazenamento externo. O armazenamento não

poderá ser realizado com a disposição direta dos sacos sobre o piso, sendo

obrigatória a conservação dos sacos em recipientes de acondicionamento. Não é

permitida a retirada de sacos de resíduos de dentro dos recipientes coletores ali

estacionado;

o Armazenamento externo: acondicionar os resíduos em recipientes coletores

adequados (tambores ou bobonas), em ambiente exclusivo com acesso facilitado

para os veículos coletores. Deve haver um ambiente exclusivo construído em

alvenaria, piso e paredes revestidos com material liso, lavável, impermeável,

resistente ao tráfego e impacto, fechado, com abertura apenas para ventilação e

com telas de proteção contra roedores e vetores e separado para os diferentes

grupos. Porta com, largura adequada à passagem dos carros coletores. Símbolo de

identificação de fácil visualização e área de higienização dos recipientes coletores.

Disposição ou destinação final: locais de disposição definitiva, normalmente, preparados

para acomodá-los. Existem 4 locais para a disposição dos RSS:

o Aterros sanitários: disposição de resíduos sólidos no solo de forma segura e

controlada, garantindo a preservação ambiental e a saúde pública;

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o Lixões ou Vazadores: simples descarga de resíduos sobre o solo, sem quaisquer

medidas de proteção ao meio ambiente e à saúde (método inadequeado de

disposição);

o Aterros controlados: resíduos são descarregados no solo, com recobrimento de

camada de material inerte, diariamente, sendo carente de sistemas de drenagem,

tratamento de líquidos, gases e impermeabilização (menos poluentes que os

anteriores);

o Valas sépticas: preenchimento das valas escavadas impermeabilizadas, com

largura e profundidade proporcionais à quantidade de lixo aterrada.

Todas essas características estão presentes no Manual de Gerenciamento de RSS e são

ultilizadas em todo o território nacional, uma vez que, a cada dia observa-se aumento

considerável desse tipo de resíduo no país.

3. Metodologia

Para alcançar os objetivos traçados no presente estudo utilizou-se os procedimentos

metodológicos apresentados sucintamente a seguir: um levantamento bibliográfico/documental

para a obtenção do referencial teórico junto à literatura realacionada ao tema; análise da

legislação nacional referente à temática dos resíduos de saúde; visitas in loco, entrevistas,

tabulação e análise dos dados obtidos; e por fim as conclusões.

O presente artigo caracteriza-se, segundo o procedimento técnico, como um estudo de caso que

apresenta uma abordagem qualitativa (MIGUEL, 2010). Quanto aos fins, a pesquisa em questão é

do tipo descritiva/exploratória (VERGARA, 2006; GIL, 1991), e observacional já que não haverá

interferência na coleta de informações por parte dos pesquisadores. No que diz respeito aos meios

de investigação (VERGARA, 2006) utilizados para o desenvolvimento dessa pesquisa, foram

eles: levantamentos bibliográficos, pois em toda a fundamentação teórica foram analisados livros,

revistas especializadas, bases de dados, entre outras, buscando sistematizar os conceitos e teorias

relacionados com o tema; além de visitas periódicas in loco.

A área de estudo escolhida foi o Centro Clínico da AFURN – Associação dos Funcionários da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte com o objetivo de descrever como funciona o

gerenciamento (identificação, quantificação, coleta e disposição final) dos resíduos de serviço de

saúde produzidos no local e propor a implantação de um PGRSS e para tal foram realizadas

inúmeras visitas, durante um período de 3 (três) meses do ano de 2011, haja vista as observações

serem importantes para a comprovação dos dados coletados, sendo possível o registro com fotos;

para a coleta de dados foram utilizadas técnicas de entrevistas e questionários (MARCONI E

LAKATOS, 2010) com auxílio de gravadores; além de relatos dos geradores (funcionários,

colaboradores e pacientes).

Em seguida, os supracitados dados foram analisados mediante a construção de quadros e

gráficos; sendo feitas posteriormente inferências e proposições de melhorias em relação aos

resultados apresentados.

4. Estudo de Caso

4.1 Análise da situação atual: Identificação, Segregação e Acondicionamento

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Após a realização de diversas visitas no Centro Clínico AFURN para observação in loco e

aplicação de questionários e entrevistas, foi possível entender o gerenciamento de resíduos do

local. Com base na resolução CONAMA N° 358/05, identificou-se os grupos de RSS gerados, os

quais pertencem aos Grupos A, B, C e D, excetuando-se o Grupo E (materiais perfurocortantes

ou escarificantes). Quanto ao armazenamento temporário/externo, o centro clínico foi separado

por grupos de classificação, analisando-se também o tipo de revestimento das paredes e pisos

onde os resíduos ficam acondicionados, verificando-se que a maior parte dos resíduos fica

armazenada em locais com pisos de cerâmica, e os outros em locais com piso de concreto e

portas com identificação, além da existência de ponto de água, ventilação e iluminação

adequadas.

No que diz respeito à coleta interna da associação, esta é feita diariamente por um funcionário

totalmente equipado com luvas, botas e máscaras. Os resíduos são armazenados em sacos

plásticos de 10 e 20 litros, e em caixas de papelão. Após esta coleta, os resíduos são armazenados

em tambores e bombonas, as quais posteriormente são levadas para a área externa da associação.

Em relação ao tratamento interno, classificaram-se os resíduos por grupos, considerando-se sua

descrição, quantidade e gerenciamento (Figura 2), verificando-se que para quaisquer grupos não

existe tratamento interno que fica a cargo da prefeitura ou de empresa privada.

Figura 2 – Tratamento interno dos RSS, conforme a classificação por grupos. Fonte: Elaboração própria

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Quanto à destinação final dos RSS, observou-se no Centro Clínico AFURN, conforme a

classificação por grupos os tipos de resíduos, recipientes utilizados, frequência de coleta de lixo,

e os responsáveis pela coleta (Figura 3). Em Natal, assim como em outros Municípios, como

Recife, optou-se pela incineração, método de eliminação estabelecido na Lei Orgânica de

Limpeza Pública e Código do Meio Ambiente do Município.

A partir dos dados coletados pode-se afirmar que as formas de armazenamento dos RSS do centro

clínico realizam-se a contento, atendendo as especificações de segurança e saúde e, portanto, não

promove impacto negativo ao meio ambiente. No tocante à coleta, observou-se que esta é

realizada repetidas vezes ao dia, para que não se acumulem na fonte geradora e que o transporte

dos resíduos não representa risco aos funcionários que os manipulam (fazendo o uso adequado de

equipamentos de segurança como botas e luvas, e sacos plásticos diferenciados por cores de

acordo com o resíduo, em conformidade com a legislação vigente), estando dentro das normas de

segurança exigidas, as quais impedem o contato direto com os resíduos.

Além disso, verificou-se a possibilidade de ser realizada a geração de materiais potencialmente

recicláveis, sendo possível a sua segregação por meio do sistema de coleta seletiva, sendo essa

uma atividade interna da empresa, já que a mesma não realiza tratamento interno de resíduos,

podendo assim auxiliar nesse processo.

Figura 3 – Destinação final dos RSS, conforme a classificação por grupos. Fonte: Elaboração própria

Uma avaliação preliminar dos riscos foi realizada no centro clínico, permitindo identificar os

tipos de riscos de cada setor do local e quais desses setores necessitam de atividades especiais na

separação dos seus resíduos, tanto no quesito segurança dos funcionários, quanto das pessoas que

entram em contato com os resíduos fora da AFURN; o que facilitou e a elaboração de estratégias

de controle desses riscos. Os riscos foram divididos em três classes (Figura 4): biológicos,

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químicos, e acidentes; sendo descritos os seguintes aspectos: tipos de riscos e atividades que o

geram (O QUÊ?), indivíduos expostos a esses riscos (QUEM?), forma de exposição aos riscos

(COMO?), e descrição da forma de controle de riscos (AÇÃO?).

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Figura 4 – Mapeamento de riscos dos ambientes do centro clínico. Fonte: Elaboração própria

A partir da análise realizada foi possível perceber que em quase todos os casos que contem riscos

biológicos, químicos e de acidentes são sugeridas ações de segregação correta e

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acondicionamento em recipientes específicos para cada tipo de resíduo, pois assim não há

colocam a segurança ou saúde dos funcionários em ameaça.

5. Proposições para implantação de um PGRSS - Plano de Gerenciamento dos Resíduos dos

Serviços de Saúde

5.1 Plano de Ação

Uma vez descrito e analisado o panorama da situação atual do local em estudo, através do

preenchimento de formulários com informações acerca da segregação, acondicionamento e

destinação final de todos os resíduos de serviços de saúde gerados, foi possível montar um plano

de ação para corrigir inadequações encontradas, bem como possibilitar a implantação de

possíveis melhorias.

Nesta etapa foram elaboradas recomendações (Figura 5) com vistas a auxiliar na elaboração de

um futuro Plano de Gerenciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde, ou seja, ações/atividades

a serem realizadas (O QUÊ?), os riscos a serem eliminados com a execução das ações (POR

QUÊ?), o local onde serão aplicadas as ações (ONDE?), os responsáveis pelas garantias de

execução (QUEM?), a forma de procedimento da ação (COMO?) e o custo envolvido para a

realização das ações (QUANTO?).

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Figura 5 – Plano de ação. Fonte: Elaboração própria

5.2 Ações de suporte aos 3 Rs (Reutilizar, Reciclar, Reduzir)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, instituída pela Lei 12.305 de 2 de agosto de

2010, propõe que o governo assuma um compromisso de tomar consciência sobre o papel

ambiental, político, econômico e social que cada cidadão desempenha na comunidade em que

vive, exigindo a integração e conscientização de todos com relação aos resíduos gerados

procurando usar formas sustentáveis de produção e consumo, adotando o conceito dos 3 Rs

(reduzir, reciclar e reutilizar).

Na maioria dos casos esse conceito pode ser usado sem acarretar nenhum custo para a empresa

e/ou residências. Assim, foram elaboradas as seguintes ações de suporte, levando em

consideração os resíduos que podem fazer parte:

▪ Reduzir: Informatizar os processos de documentação relacionados aos pacientes, nos setores de

recursos humanos e recepção, para reduzir a o número de impressões e, por conseguinte, a

quantidade de papéis utilizados;

▪ Reutilizar: Utilizar os papéis como forma de rascunho ou bloco de notas, principalmente nos

setores de recursos humanos e recepção;

▪ Reciclar: Separar adequadamente cada tipo de resíduo, principalmente os classificados como

do grupo D (Resolução CONAMA N° 358/05 e ANVISA Nº 306/04), em todos os consultórios,

nos recursos humanos e recepção.

5.3 Acompanhamento: Indicadores, Metas e Ações a serem Implementadas

Após a realização de todas as análises anteriormente descritas, foi possível desenvolver um

instrumento de avaliação e controle, através da elaboração de indicadores e formulação de metas

e ações, autoexplicativos, de forma que permitam acompanhar todos os processos geradores de

RSS (Figura 6) e, consequentemente, eficácia do PGRSS.

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Figura 6 – Indicadores e metas. Fonte: Elaboração própria

6. Considerações Finais

Por volta da década de 90 deu-se início a elaboração de legislação voltada para a gestão dos

resíduos de serviços de saúde, sendo a partir de então possível observar no Brasil a crescente

preocupação por parte do poder público em relação à destinação correta dos resíduos originários

das unidades de saúde dos mais variados tipos; preocupação essa, bastante contundente devido

aos potenciais riscos (biológicos, químicos e radioativos) de contaminações do ambiente e dos

seres humanos, acarretados pela disposição inadequada (em lixões ou vazadouros) dos mesmos.

Diante desse contexto, a realização do presente estudo de caso configurou-se bastante importante,

como forma de verificar de maneira pontual (no Centro clínico da AFURN – Associação dos

Funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) como funciona o gerenciamento

dos RSS no município de Natal/RN. No referido estudo foi possível, com base na legislação

vigente, identificar os tipos de RSS gerados no local; analisar e avaliar os potenciais riscos;

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verificar a adequação da destinação final; assim como propor melhorias para o gerenciamento dos

RSS tentando conciliar as ações fornecidas com o sistema 3R’s (reciclar, reutilizar e reduzir),

com vistas à futura implantação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de

Saúde – PGRSS. A análise do Centro clínico da AFURN permitiu, ainda, verificar que a

administração do local segue as legislações vigentes da ANVISA e CONAMA, podendo ser

melhorado em alguns aspectos de maneira a padronizar os procedimentos internos e externos, ou

seja, desde a fonte geradora até a disposição final de todos os resíduos gerados.

Foram sugeridas, ainda, ações de melhoria com o intuito de reduzir a geração de resíduos, como a

reutilização de papeis, redução de copos descartáveis e a criação de um sistema de compostagem

com o objetivo de degradar de forma natural os resíduos orgânicos gerados, com vistas à

promoção da sustentabilidade.

Referências

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resíduos sólidos no Brasil. São Paulo: ABRELPE, 2010. Disponível em:

<http://www.abrelpe.org.br/download_panorama_2010.php>. Acesso em: 25 abr. 2012.

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