geografares_leituras de mundo no ensino de geografia

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GEOGRAFARES, Vitória, n o 4, 2003 73 LEITURAS DO MUNDO ENQUANTO PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA Manoel Martins de Santana Filho Geógrafo e Mestre em Educação. Professor Assistente do Departamento de Geografia da Faculdade de Formação de Professores da UERJ e Professor de Geografia da rede pública municipal de Itaboraí, RJ. “O mais difícil, mesmo, é a arte de desler” (Mário Quintana) 1. INICIANDO A CONVERSA Antes de tudo, ao ensino há que corresponder uma aprendizagem. Então, o foco dessa reflexão é ocuparmo- nos das possibilidades em que o(s) exercício (s) das distintas leituras contribuam para a aprendizagem e pro- movam a compreensão da geografia do mundo. Por que esse tema se justifica? No exercício de ensinar Geografia e educar espaci- almente crianças, jovens e adultos é importante dar atenção e lugar às múltiplas linguagens e distintas lei- turas que o mundo permite, que a sociedade criou e requisita de nós. Para isso, cremos, é preciso em primeiro lugar atitu- de: de estranhamento e curiosidade, de abdicar do lugar- comum, seja no “chão da escola” básica, seja na Univer- sidade e seus institutos, departamentos e laboratórios. Ser leitor! (Lajolo, 1994). Escapar ao espontaneísmo, que é licencioso (Freire, 1993, p. 25). É opção política. Em seguida, um conjunto de aspectos conceituais e práticos deveriam ser enfrentados, esclarecidos e colo- cados em movimento. Eis o que pensamos, inspirados na prática docente e em alguns estudos e conversas: 1. compreender e assumir uma concepção do que seja leitura; 2. indagar-se sobre a possibilidade de uma leitura da espacialidade do mundo e da vida; 3. pensar/estabelecer um pensamento sobre a finalida- de da leitura; 4. fazer opção do que se faz necessário ler para inter- pretar e compreender o mundo; 5. conhecer as possibilidades e desafios da própria es- cola, dos alunos e não se satisfazer com a leitura, tor- nar-se também um produtor junto com os educandos. 2. AFINANDO ALGUMAS IDÉIAS SOBRE LEITURA O ato de ler é mais do que o mecânico ato de deci- frar códigos, ele preexiste à leitura da palavra e à lei- tura escolar. Lemos desde nossos primeiros contatos

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  • GEOGRAFARES, Vitria, no 4, 2003 73

    LEITURAS DO MUNDO ENQUANTOPRTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA

    Manoel Martins de Santana FilhoGegrafo e Mestre em Educao. Professor Assistente

    do Departamento de Geografia da Faculdade de Formao de Professores da UERJe Professor de Geografia da rede pblica municipal de Itabora, RJ.

    O mais difcil, mesmo, a arte de desler

    (Mrio Quintana)

    1. INICIANDO A CONVERSA

    Antes de tudo, ao ensino h que corresponder umaaprendizagem. Ento, o foco dessa reflexo ocuparmo-nos das possibilidades em que o(s) exerccio (s) dasdistintas leituras contribuam para a aprendizagem e pro-movam a compreenso da geografia do mundo.

    Por que esse tema se justifica?No exerccio de ensinar Geografia e educar espaci-

    almente crianas, jovens e adultos importante darateno e lugar s mltiplas linguagens e distintas lei-turas que o mundo permite, que a sociedade criou erequisita de ns.

    Para isso, cremos, preciso em primeiro lugar atitu-de: de estranhamento e curiosidade, de abdicar do lugar-comum, seja no cho da escola bsica, seja na Univer-sidade e seus institutos, departamentos e laboratrios. Serleitor! (Lajolo, 1994). Escapar ao espontanesmo, que licencioso (Freire, 1993, p. 25). opo poltica.

    Em seguida, um conjunto de aspectos conceituais eprticos deveriam ser enfrentados, esclarecidos e colo-cados em movimento. Eis o que pensamos, inspiradosna prtica docente e em alguns estudos e conversas:1. compreender e assumir uma concepo do que sejaleitura;2. indagar-se sobre a possibilidade de uma leitura daespacialidade do mundo e da vida;3. pensar/estabelecer um pensamento sobre a finalida-de da leitura;4. fazer opo do que se faz necessrio ler para inter-pretar e compreender o mundo;5. conhecer as possibilidades e desafios da prpria es-cola, dos alunos e no se satisfazer com a leitura, tor-nar-se tambm um produtor junto com os educandos.

    2. AFINANDO ALGUMASIDIAS SOBRE LEITURA

    O ato de ler mais do que o mecnico ato de deci-frar cdigos, ele preexiste leitura da palavra e lei-tura escolar. Lemos desde nossos primeiros contatos

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    com o mundo. No entanto, o ato de ler no natural,ele depende da articulao entre as condies subjeti-vas e objetivas em relao aos indivduos isto exigecompreender as barreiras com as quais nos deparamosquanto ao exerccio da leitura, sejam de ordem pes-soal ou coletiva (Martins, 1991).

    Ningum nasce sabendo ler: aprende-se a ler medida que se vive(Lajolo, 1994, p. 7). Aprendemosvrias leituras no mundo das coisas para alm da esco-la, na espiral das idias e da vida! Nisso tudo difcilprecisar a fronteira entre a leitura do mundo e o mun-do da leitura, entrelaados que esto na vida real. En-to, por que a escola, a academia, nos fraciona tanto?

    Uma definio de leitura que nos contempla consider-la como um processo de compreenso deexpresses formais e simblicas, no importando pormeio de que linguagem (Martins, 1991, p. 30). A idiade compreenso supera a mera decodificao da escri-ta formal, alm disso nos oferece a riqueza das mlti-plas linguagens, nem sempre dominadas ou conheci-das por ns, nem promovidas no ensino escolar.

    Linguagem e realidade se prendem mutuamente(Freire, 1993, p. 11). O contexto do texto (paisagem/fenmeno) proposto encontra-se inevitavelmente arti-culado leitura feita e refeita. importante que a lei-tura da palavra no signifique uma ruptura com a lei-tura do mundo (Freire, 1993, p. 15). Ento, os con-tedos geogrficos no podem arrancar o educando doseu mundo, mas ao contrrio deveriam revel-lo tor-nando-o acessvel. No a revelao como viso meta-fsica, mas uma descoberta da geografia do mundo pormeio da observao curiosa, do estudo efetivo, da com-preenso dos agentes produtores do espao e das rela-es entre eles estabelecidas.

    Uma compreenso mais ampla da leitura pressu-pe transformaes na viso de mundo e da cultura(abrindo questionamentos diversos). Isto significa quemesmo ns, educadores, enfrentamos limitaes ine-vitveis para uma atitude de ruptura com a nossa pr-tica, naquilo que ela possui de herana cultural, esco-lar, ideolgica e terica. impensvel que nos sejapossvel escapar por inteiro, prescindir da formaoque tivemos. Isto quer dizer que nossa capacidade deromper, de transformar, em algum momento estanca,refreia-se. Tal reconhecimento parece-nos salutar paraevitarmos o imobilismo, para acolher a novidade nolugar do conformismo.

    3. POSSVEL UMA LEITURADA ESPACIALIDADE DO MUNDO

    E DA VIDA ?

    Na compreenso de leitura que temos, sim. Pelo jexposto, concordamos que a mensagem inscrita noespao, seja ela histrica, esttica, econmica emformas fluxos e fixos , no est naturalmente dada.Portanto, pede um trabalho de desvendamento prprioda Geografia, mas que a transcende enquanto discipli-na escolar.

    uma idia que nos persegue (aos educadoresgegrafos) desde muito.

    O professor Geraldo Sampaio, em um texto de 1967intitulado A leitura no processo da aprendizagem dageografia, nos oferece os primeiros elementos. Em quepese nossa discordncia com algumas idias e resguar-dadas as limitaes de seu tempo, tiramos dali algumaslies: a necessidade do interesse do professor (p. 118),o bom uso do livro didtico, a leitura de mapas, de gr-ficos e tabelas, de gravuras, de fotos e esquemas. Estasprticas e estes recursos, entre outras coisas, compemo conjunto de atitudes e instrumentos que podem via-bilizar a ao pedaggica efetiva e os passos doseducandos para o conhecimento e a descoberta.

    A idia de que possvel uma alfabetizao geo-grfica nos remete para uma outra dinmica. Toma-se a necessidade e a possibilidade de ensinar-apren-der a interpretao da paisagem, dos lugares, bem comoas formas de representao. Katuta e Souza (2001, p.130) vo alm e propem a leiturizao, acrescendoquestionamentos, visto que esse trabalho deveria re-sultar em uma atribuio de significado, pelo leitor,em relao escrita, transcendendo a alfabetizao.Esses autores sustentam que

    o clareamento desses conceitos relevante porque a

    partir de nosso entendimento do que vem a ser alfabeti-

    zao e/ou leiturizao que podemos ensinar a ler mapas

    ou apenas decodific-los.

    uma idia que se aproxima, parece-nos, do con-ceito de letramento, definido por Magda Becker Soa-res (2003) como

    resultado da ao de letrar-se, se dermos ao verbo

    letrar-se o sentido de tornar-se letrado. Resultado da

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    ao de ensinar e aprender as prticas sociais de leitura e

    escrita. O estado ou condio que adquire um grupo so-

    cial ou um indivduo como conseqncia de ter-se apro-

    priado da escrita e de suas prticas sociais.

    Outros autores tambm sinalizam, explicitam de-safios recentes, indicando que a leitura espacial se in-sere na realizao do papel social da escola. Leiturageogrfica que requer do professor um redirecionamen-to do seu olhar para o olhar do aluno e da escola, quesurge como caminho para buscar, organizar e inter-pretar informao sobre o lugar, o momento, a vida.Ouso acrescentar que a promoo da leitura geogrfi-ca na escola justifica, em grande medida, a funo so-cial da prpria Geografia no currculo escolar, lhe con-ferindo status e dimenso do fazer pedaggico e dofazer poltico.

    4. DA FINALIDADE DA LEITURAE SUA AFINIDADE COM A FUNO

    DA ESCOLA: PRA QUE LER?

    Algumas possibilidades de respostas: Para decifrar com o aluno a lgica que orienta a pro-duo, a organizao e a distribuio dos fenmenos. Da resposta anterior um desdobramento se faz ne-cessrio: saber o tipo de aluno que desejamos formar.

    O papel da Geografia, no ensino fundamental e mdio,

    deve ou deveria ser o de ensinar ao aluno o entendimento

    da lgica que influencia na distribuio territorial dos

    fenmenos. Para isso faz-se necessrio que o discente

    tenha se apropriado e/ou se aproprie de uma srie de no-

    es, habilidades, conceitos e valores, atitudes, conheci-

    mentos e informaes, bsicos para que o pensamento

    ocorra ou para que o entendimento e o pensamento sobre

    o territrio ocorra. Esse conjunto citado pr-requisito

    para que o aluno construa um entendimento geogrfico

    da realidade. preciso ter clareza, no entanto, sobre o

    tipo de aluno que queremos formar, por qu e para qu.

    um funo dessa reflexo que, posteriormente, devemos

    fazer nossas opes sobre os contedos a serem trabalha-

    dos junto aos alunos (Katuta e Souza, 2001, p. 50).

    Desejar a formao de agentes polticos. O mundotornou-se muito complicado e preciso uma explica-o mais sistmica [...]. Opor-se crena de que se

    pequeno, diante da enormidade do processoglobalitrio, a certeza de que podemos produzir idiasque permitem mudar o mundo (Santos, 2000, p. 56). Ainda inspirado em Milton Santos: para desmistificaro espao para o homem, desmascarando a lgica quetudo tem transformado em mercadorias (locais de vi-ver!). Para anunciar e perseguir um espao verdadei-ramente humano! No um espao receptculo, a-his-trico e amorfo.

    S o estudo da histria dos modos de produo e das

    formaes sociais nos permitir reconhecer o valor real

    de cada coisa no interior da totalidade. A totalidade, ob-

    jeto de nossa pesquisa, algo muito diferente de uma

    universalidade parcial, sistema de privilgio e privilegi-

    ados que, para se imporem humanidade, deve antes de

    mais nada adormec-la. Essa universalidade no a ver-

    dade que a Filosofia esperava da Natureza (Santos, 1997,

    p. 25).

    Uma de nossas finalidades deve ser ensinar uma ge-ografia que transcenda os limites de escola. Dizemosisso confiando numa contribuio de Emlia Ferreiro,para quem a escrita um objeto social, mas a escolatransformou-a em um objeto exclusivamente escolar,ocultando ao mesmo tempo suas funes extra-esco-lares. Para o aluno ler, escrever e dizer o mundo (Kaercher,1999). Superar a aparncia. Trs atitudes, trs passosque conduzem autonomia e valorizao do sujeitohumano. Saber como a Geografia que se ensina afeta opertencimento dos indivduos sem ressignific-lo. fundamental enfrentar isso! Em nossas aulas no da-mos notcias sobre o mundo. Enquanto transmitimos oconhecimento produzido e provocamos, ainda que ti-midamente, indagaes novas, estamos instituindoverdades queiramos ou no. Estamos conformandoidentidades, personalidades e a viso de mundo doseducandos. Nesse sentido, as leituras a ser promovi-das na escola carecem de sensibilidade e clareza quan-to ao pertencimento que os alunos trazem consigo. Aleitura geogrfica praticada na escola (no s ela!), aose sobrepor leitura anterior do mundo, conflita como lugar inicial dos indivduos, avaliando-os exclusiva-mente pelos novos contedos, quase nunca conferin-do a aquisio de nova linguagem. Como esse edu-

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    cando retorna e se situa em seus espaos depois da es-cola? E uma outra insistncia, no a ltima, para esse con-junto de respostas: Zeca Baleiro, na cano Musak,diz um recado que vale insistir: tudo que se v praque cr/tudo que se cr pra que crer/ tudo que se tempra quem? Ento preciso indagar-se, inconformar-se com a aparncia das coisas e das intenes.

    Este elenco de possibilidades no esgota nossa pro-cura, mas sugere algumas das motivaes que valori-zamos e perseguimos como resultados. So efeitosdesejados, outros nem tanto assim, que fazem partedessa prtica!

    5. O QUE LER PARA DESVENDAR OMUNDO, O ESPAO GEOGRFICO?

    Partindo de conceitos para interpretar o real: pai-sagem, lugar e territrio. Acreditamos que tais concei-tos possibilitam que elejamos contedos e objetivosescolares que conduzem a uma leitura sistematizada,sem a fragilidade do senso comum e suas cortinas.Ter a maior clareza possvel sobre os conceitos orien-tadores, sobre os respectivos contedos e o suportemetodolgico para no ficar no saber do aluno.

    Reconhecer formas, dinmicas e fluxos. Em segui-da compreend-los, localiz-los. Educar o olhar para aesttica e a diversidade contida na paisagem, bem comopara o que nela h de subjetivo o que depende dascondies e do empenho do leitor.

    Ler o mapa e as distintas formas de representao,tornando o aluno parte do que ele v e interpreta. Nobasta colorir o papel e ler o mapa alheio, mas experi-mentar sua produo e aplicao.

    6. EXPERINCIAS E POSSIBILIDADES

    O caso da escola de uma periferia metropolitana.Estamos em andamento com um trabalho, o traba-

    lho de leitura da paisagem com alunos do Ensino Fun-damental (7a. srie). Consiste numa proposta de inter-pretar na paisagem do municpio (Itabora) elementosconstituintes do processo de humanizao/des-huma-nizao das paisagens cotidianas daquele lugar.Estamos orientados pelos conceitos de lugar, paisageme trabalho para desenvolver os contedos: problemas

    ambientais urbanos: qualidade de vida, meio ambien-te e cidadania. A inteno chegar produo de ma-teriais (textos, vdeos, desenhos) em que os alunos re-velem suas pesquisas, perguntas e respostas alcanadascom a orientao dos professores (Geografia, Histriae Lngua Portuguesa).

    7. EXPECTATIVAS PARA UMAPRODUO DE TEXTO-DISCURSO

    SOBRE O MUNDO LIDO

    fundamental que da leitura geogrfica resulte umaproduo, o texto geogrfico do aluno. Tambm doprofessor! A no-realizao disso aprendizageminconclusa. Ainda mais no mundo atual, repleto detecnologias e possibilidades.

    Por meio desse instrumento discursivo, dizer o pr-prio mundo o lido e o desejado e reconhecer-se narelao com seu lugar, com seus pares. Ensinante eaprendiz, conforme suas capacidades, tornando-se co-partcipes dessa responsabilidade que escrever o es-pao geogrfico em linguagens e aes.

    Analisar e procurar solues para alguns problemasfundamentais do pas, como o da desigualdade e o dapobreza (Andrade, 1999, p.13). um resgate constanteda instncia poltica do conhecimento geogrfico, a suamarca para alm da epistme, porque um saber conse-qente. Provavelmente a melhor contribuio e justifi-cativa para a nossa presena curricular na escola.

    Vale retornar idia de letramento, explicado comoo estado ou condio que adquire um grupo social ouum indivduo como conseqncia de ter-se apropriadoda escrita e de suas prticas sociais (Soares, 2003).Se isto significa tornar a escrita prpria, em nosso caso,nosso objetivo tornar o espao prprio.

    Benjamin, em sua crtica ao progresso como ce-gueira, alerta que preciso novamente escapar ao fe-tiche. Ento, inspirado nele, uma expectativa que nu-trimos h algum tempo que nos eduquemos a todos.Ele escreveu: Um escritor que no ensina outros es-critores no ensina ningum. Em outro texto nosso,dissemos que nessa idia h um recado objetivo

    aos educadores que insistem em possibilitar a cada edu-

    cando ser um produtor de sentido para a histria huma-

    na, e no formar intermedirios da histria dos domina-

    dos. No emudea o clamor dos derrotados. Fique claro

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    LEITURAS DO MUNDO ENQUANTO PRTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA

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    que esse clamor, apesar da possvel melancolia , preci-

    sa ser potencializado para resgatar a sua luta. Essa edu-

    cao estar em parte nas atitudes de confiana, solida-

    riedade, de astcia e firmeza em defesa da liberdade e

    do prazer de aprender e ensinar (Santana Filho, 1999,

    p. 28).

    8. NO SER PENSADO PELO OUTRO,NO SER REFLEXO DA

    LEITURA ALHEIA . MELHOR O RISCODAS PRPRIAS IDIAS

    De alguma maneira, defrontamo-nos com um de-safio: buscar a autoria das propostas de leitura, hoje acargo de editoras, livros didticos, planejadores,capacitadores. Escapar de um receiturio.

    Afinal, se o que propomos no d sentido ao mun-do, no tem sentido algum. Cabe-nos pensar, planejare reivindicar a autoria dos nossos planejamentos, con-tedos e atividades escolares. As nossas aulas, as nos-sas dinmicas e os nossos eventos esto desafiados porisso.

    importante que nossos exerccios de leitura demlugar para se ler a ambigidade, o ldico, o meio-tom,a conotao e menos a tcnica. Estamos nos referindoa uma prtica no dissociada das idias e doembasamento terico-metodolgico, procurando sem-pre exercitar cada passo na direo de um conheci-mento que antepe o humano mercadoria, um co-nhecimento com sujeito.

    A pessoa s conhece um lugar uma vez que o tenha ex-

    perimentado em tantas dimenses quantas possveis. Para

    possuir um lugar preciso se aproximar pelos quatro

    pontos cardeais e, inclusive, preciso sair dele a partir

    desses pontos. De outro modo, este pode inesperadamente

    cruzar seu caminho, trs ou quatro vezes antes que voc

    se prepare para topar com ele (Dialtica do olhar

    Benjamim e o projeto das passagens, por Susan Buck-

    Morss, p. 50).

    BIBLIOGRAFIA

    ANDRADE, Manoel Correia de. Trajetria e compromis-so da geografia brasileira. In: CARLOS et al. (org.).A Geografia na sala de aula. So Paulo: Contexto,1999.

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    KAERCHER, Nestor A. Ler e escrever a geografia paradizer a sua palavra e construir o seu espao. In: NE-VES, Iara et al. Ler e escrever compromisso de to-das as reas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.

    KATUTA, ngela M.; SOUZA. Jos Gilberto de. Geo-grafia e conhecimentos cartogrficos. So Paulo:Unesp, 2001.

    LAJOLO, Mariza. Do mundo da leitura para a leitura domundo. So Paulo: tica, 1994.

    MARTINS, Maria Helena. O que leitura. 13 ed. SoPaulo: Brasiliense, 1991.

    SAMPAIO, Geraldo. A leitura no processo da aprendiza-gem da Geografia. In: Curso de informaes geo-grficas. Rio de Janeiro: FIBGE, 1967.

    SANTANA FILHO. Manoel M. de. Sobre uma leitura ale-grica da escola. Terra Livre, So Paulo, n. 14, 1999.

    SANTOS, Milton. Pensando o espao do homem. SoPaulo: Hucitec, 1997.

    SANTOS, Milton. Territrio e sociedade. So Paulo: Edi-tora Fundao Perseu Abramo, 2000.

    SOARES. Magda Becker. < http://www.moderna.com.br/artigos/pedagogia/0009 >, acessado em 9/9/2003.

    ZACCUR, Edwirges (org). A magia da linguagem. Riode Janeiro: DP&A/SEPE, 2001.

    Texto apresentado na mesa redonda Leituras de mundo enquanto prticas de ensino de Geografia,no 7 Encontro Nacional de Prtica de Ensino de Geografia (Vitria, setembro de 2003).

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    MANOEL MARTINS DE SANTANA FILHO

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    ResumoEste artigo tem as possibilidades do exerccio da leitura noensino de Geografia como tema central. A leitura tratada emrelao s mltiplas linguagens, considerando, inclusive, apossibilidade de ler e interpretar a escrita produzida na paisa-gem. Pretende-se um leitor-autor capaz e desejoso da condi-o de sujeito, de assumir os riscos da prpria leitura no pro-cesso de ensinar-aprender-ensinar.

    Palavras-chaveLeitura Ensino Geografia Espao geogrfico Leiturageogrfica.

    AbstractThis article focus on the possibilities of reading exercisesconcerning Geography teaching. Reading practice is dealt inrelation to the multiple languages, taking even into accountthe possibility of reading and interpreting the writing producedabout landscape. It is intended a reader-author able wishingfor the condition of subject assuming the risks of our ownreading in the process of teaching-learning-teaching.

    KeywordsReading Teaching Geography Geography space Geography reading.