genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin conflitos na construçao sócio-ambiental - brasil...

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1 CONFLITOS NA CONSTRUÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL O CASO DAS AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES RURAIS DA REGIÃO DA QUARTA COLÔNIA DE IMIGRAÇÃO ITALIANA DO RIO GRANDE DO SUL BRASIL Cícero João Mallmann Genro 1 ; Paulo Roberto Cardoso da Silveira 2 ; Aline Weber Sulzbacher 3 ; Gisele Martins Guimarães 4 ; Ezequiel Redin 5 Palavras chaves: Agroindústria Familiar Rural, construção sócio-ambiental, atores locais 1. Introdução Neste trabalho, analisamos alguns interclaves da gestão ambiental nas Agroindústrias Familiares Rurais (AFR) que fazem parte da região da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul 6 . Este recorte espacial tem por mérito dois fundamentos: a ação do PRODESUS 7 implementado de 1995 a 1998 e que teve por objetivo a promoção de um conjunto de ações de fortalecimento do processamento artesanal de alimentos de origem animal e vegetal; e a demanda por estudos, por parte da comunidade local, quanto as problemáticas enfrentadas no âmbito da gestão 1 Engenheiro Florestal NEPAL/UFSM, email: [email protected] 2 Prof. Ms. Depto. Educação Agrícola e Extensão Rural CCR/UFSM, coordenador NEPAL, e-mail [email protected] 3 Geógrafa, Mestranda em Extensão Rural PPGExR/UFSM, integrante NEPAL, email: [email protected] 4 Prof. Dr. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul UERGS, coordenadora NEPAL, e-mail [email protected] 5 Acadêmico dos Cursos de Tecnólogo em Sistemas de Produção ênfase em agropecuária UERGS, e de Administração Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), integrante NEPAL, email: [email protected]. 6 Localizada no centro do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tal região é ocupada pelos imigrantes italianos chegados em 1878, assentados no entorno do núcleo colonial e atual município de Silveira Martins. Político e administrativamente, a partir da criação do Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (CONDESUS) em 1995, passa a incluir os municípios de Silveira Martins, Ivorá, Pinhal grande, Nova Palma, Faxinal do Soturno, São João do Polêsine, Dona Francisca, Agudo e Restinga Seca, sendo que este dois últimos pertenciam a colônia Alemã de Santo Ângelo e se agregam em função de um projeto de desenvolvimento regional construído a partir dos anos 1980. Destacamos que, dado o processo histórico de evolução do debate sobre a produção artesanal de alimentos e bebidas, o estudo tem por objeto treze agroindústrias familiares, que atualmente compõe a Rede da Casa. 7 Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (CONDESUS) é composto pelos nove prefeitos dos municípios da Quarta Colônia e foi criado para gerenciar o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (PRODESUS).

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CONFLITOS NA CONSTRUÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DE POLÍTICAS DE

DESENVOLVIMENTO RURAL – O CASO DAS AGROINDÚSTRIAS

FAMILIARES RURAIS DA REGIÃO DA QUARTA COLÔNIA DE

IMIGRAÇÃO ITALIANA DO RIO GRANDE DO SUL – BRASIL

Cícero João Mallmann Genro1; Paulo Roberto Cardoso da Silveira

2; Aline Weber Sulzbacher

3;

Gisele Martins Guimarães4; Ezequiel Redin

5

Palavras chaves: Agroindústria Familiar Rural, construção sócio-ambiental, atores

locais

1. Introdução

Neste trabalho, analisamos alguns interclaves da gestão ambiental nas

Agroindústrias Familiares Rurais (AFR) que fazem parte da região da Quarta Colônia

de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul6. Este recorte espacial tem por mérito dois

fundamentos: a ação do PRODESUS7 implementado de 1995 a 1998 e que teve por

objetivo a promoção de um conjunto de ações de fortalecimento do processamento

artesanal de alimentos de origem animal e vegetal; e a demanda por estudos, por parte

da comunidade local, quanto as problemáticas enfrentadas no âmbito da gestão

1 Engenheiro Florestal – NEPAL/UFSM, email: [email protected] 2 Prof. Ms. Depto. Educação Agrícola e Extensão Rural – CCR/UFSM, coordenador NEPAL, e-mail [email protected] 3 Geógrafa, Mestranda em Extensão Rural – PPGExR/UFSM, integrante NEPAL, email:

[email protected] 4 Prof. Dr. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS, coordenadora NEPAL, e-mail

[email protected] 5 Acadêmico dos Cursos de Tecnólogo em Sistemas de Produção ênfase em agropecuária – UERGS, e de

Administração – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), integrante NEPAL, email:

[email protected]. 6 Localizada no centro do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tal região é ocupada pelos imigrantes

italianos chegados em 1878, assentados no entorno do núcleo colonial e atual município de Silveira

Martins. Político e administrativamente, a partir da criação do Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (CONDESUS) em 1995, passa a incluir os municípios de Silveira Martins, Ivorá,

Pinhal grande, Nova Palma, Faxinal do Soturno, São João do Polêsine, Dona Francisca, Agudo e Restinga

Seca, sendo que este dois últimos pertenciam a colônia Alemã de Santo Ângelo e se agregam em função

de um projeto de desenvolvimento regional construído a partir dos anos 1980. Destacamos que, dado o

processo histórico de evolução do debate sobre a produção artesanal de alimentos e bebidas, o estudo tem

por objeto treze agroindústrias familiares, que atualmente compõe a Rede da Casa. 7 Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (CONDESUS) é composto pelos nove

prefeitos dos municípios da Quarta Colônia e foi criado para gerenciar o Programa de Desenvolvimento

Sustentável da Quarta Colônia (PRODESUS).

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ambiental das AFRs, principalmente frente ao ambiente institucional restritivo, processo

que resultou no projeto de pesquisa e extensão Gestão Ambiental nas AFRs8.

As ações do PRODESUS foram articuladas com a adoção do turismo religioso,

cultural e gastronômico como estratégia de desenvolvimento regional. As AFRs passam

a ser um elemento chave neste processo, uma vez que permitiam o elo temporal entre a

construção histórica da identidade territorial, através dos produtos e da paisagem, e a

demanda contemporânea por produtos carregados de valor simbólico, como por

exemplo, a produção artesanal ou colonial de alimentos e bebidas.

Uma vez realizados os cursos de aperfeiçoamento e qualificação, observa-se

atualmente uma demanda pela gestão dos resíduos gerados pelas atividades. Uma

demanda colocada principalmente no universo institucional [de ordem buro-crática]

uma vez que suas restrições não permitem apreender que, na atividade agrícola, os

impactos são difusos, de difícil mensuração pelo seu caráter acumulativo e onde a

responsabilização individual pela poluição é pouco comum pelas suas causas coletivas

(Silveira e Guimarães, 2007). Exemplo típico neste sentido é a poluição dos recursos

hídricos e edáficos pelos dejetos de suínos no oeste catarinense (Guivant e Miranda,

1999), onde exige-se uma intervenção de caráter regional e a ação coletiva dos

diferentes atores sociais envolvidos.

No caso das AFRs, o impacto causado pelos resíduos gerados é de caráter

localizado, sazonal, de maior intensidade e passível de responsabilização legal do

responsável pelo empreendimento. Gera-se um contexto onde surge a dimensão

ambiental como uma exigência nova e punitiva e da qual os responsáveis pelas AFRs,

em sua maioria, carecem de informações sobre a legislação ambiental, relutando,

inclusive, em coloca-la como prioridade.

Neste lócus, percebe-se, de imediato, duas concepções de risco que entram em

conflito: a do agricultor/produtor versus a do perito ambiental. A partir desta

problemática insere-se o projeto de Gestão Ambiental nas AFRs que toma por objetivo a

realização de diagnósticos dos sistemas de gestão ambiental dos resíduos sólidos e

8 O projeto, denominado aqui genericamente de Gestão Ambiental nas AFRs, toma por título original

Poluição dos recursos hídricos e edáficos causados por resíduos sólidos e líquidos resultantes do

processamento de matérias-primas de origem animal e vegetal em agroindústrias familiares rurais,

projeto financiado pelo CNPq. Coordenação Prof. Dr. Danilo Rheinheimer dos Santos –

NESAF/CCR/UFSM e Prof. Ms. Paulo Roberto C. da Silveira – NEPAL/CCR/UFSM.

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líquidos, a fim de identificar os pontos críticos em relação ao seu tratamento. Como

parte desse processo, busca-se também avaliar a qualidade da água, dos resíduos sólidos

e efluentes líquidos e os riscos de poluição dos recursos hídricos, verificando a eficácia

daquelas unidades de tratamento já existentes, contribuindo para a elaboração de planos

de controle ambiental adequados. Noutro extremo, visa-se também compreender a

forma de ação dos agentes de desenvolvimento no processo de implantação de

agroindústrias familiares rurais (Reinheimer et al, 2007).

Essa investigação, ainda em desenvolvimento, fornecerá dados e informações

que contribuirão para compreender os conflitos gerados na gestão ambiental das AFRs.

E, de forma preliminar pode-se observar diferentes impasses causados pela adoção da

lógica do imperativo técnico, para tanto, propomos refletir acerca da potencialidade da

construção sócio-ambiental como processo de negociação entre os diferentes atores

sociais.

Por fim, para compreender os interclaves que se colocam como limitantes ao

pleno desenvolvimento das AFRs, usamos do resgate de sua historicidade atentando

para a evolução da relação entre a atividade e o meio ambiente. Num segundo momento,

o estudo da ação dos atores sociais poderá fornecer alguns elementos (ate agora

sondados pela pesquisa) para compreender os motivos que conduzem ao conflito

eminente entre agricultores versus peritos. Ao final, apresentamos algumas reflexões

sobre os caminhos a serem construídos, principalmente quanto a consolidação de uma

gestão ambiental de compromisso social e que, portanto, pode fortalecer os laços

comunitários em prol de um Sistema Agroalimentar Localizado, competitivo e

aglutinador dos interesses regionais.

2. Procedimentos Metodológicos

As reflexões e discussões apresentadas neste trabalho tomam por base o

Diagnóstico Parcial dos Sistemas de Gestão Ambiental das Agroindústrias Familiares

Rurais que compõem a Rede da Casa, que, por sua vez, é fruto da conclusão da primeira

etapa do Projeto de Gestão Ambiental nas AFRs.

O diagnóstico foi construído a partir de visitas de reconhecimento, onde foram

realizadas várias reuniões com os componentes da Rede a fim de apresentar o projeto,

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suas propostas e ações previstas, visando também dialogar com a comunidade local.

Nos encontros com os membros da Rede da Casa, em especial, discutiu-se também os

desafios na regulamentação das AFRs, a relação com o PRODESUS, com os serviços

de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e órgãos de fiscalização sanitária e

ambiental, além das formas de inserção do mercado, enfatizando as ações coletivas

efetivadas pela Rede e pelo CONDESUS. Após este processo de diagnóstico

colaborativo, realizou-se seminário com os membros da Rede da Casa e representantes

das entidades apoiadoras, destacando-se os agentes de ATER e os poderes públicos

municipais, objetivando a discussão do projeto de pesquisa e a problemática ambiental

das AFRs.

Em um momento seguinte, realizou-se visitas às unidades agroindustriais tendo

em vista o levantamento preliminar de informações básicas, como os pontos de

impactos ambientais, tipo e volume de resíduos e formas de tratamento utilizadas, as

instalações, equipamentos, processo de produção, percurso realizado em função da

legalização e as relações com o mercado regional. Resgatou-se o processo histórico de

constituição das atividades e as relações de produção além de sondar os desafios que são

necessários superar para fortalecimento não somente da Rede da Casa, mas da produção

artesanal de alimentos como elemento fundamental para o desenvolvimento regional.

Dentre estes desafios foi dado destaque aos problemas ambientais gerados pelos

dejetos das AFRs, buscando compreender a percepção dos empreendedores sobre a

problemática ambiental no espaço regional e em sua propriedade seja rural ou urbana.

Por fim, para conhecer a forma de ação dos atores locais, a sua análise sobre os

problemas enfrentados pelas AFRs e as soluções por eles defendidas em relação aos

aspectos ambientais das AFRs, entrevistou-se os agentes de ATER e dos profissionais

das Secretarias Municipais de Meio-Ambiente (naqueles onde o licenciamento

ambiental é municipal) ou das Secretarias de Agricultura ou Saúde nos demais

municípios.

À titulo de contextualização, a Rede da Casa é formada atualmente por treze

atividades que tem em comum o processamento de alimentos, oscilando entre aquelas

com uma característica artesanal muito presente e outras onde está já esta um tanto

suprimida dada a natureza da atividade e as técnicas modernas utilizadas durante o

processamento. Mesmo apresentando esta diversidade quanto a característica dos

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produtos, todas visam trabalhar com um produto diferenciado e que tem pretensão de,

além de agregar valor, agregar também um sentido simbólico, de identidade territorial,

motivo da constituição da marca Rede da Casa.

Por fim, cabe salientar que o processo de constituição da Rede da Casa contou

com a participação de vários agentes e instituições, e que resguarda o compromisso com

a qualidade dos produtos e a tradição da produção artesanal: Tudo começou por meio de

trabalhos realizados em parceria (...) atividades de estudo, consultoria, troca de

informações e visitas técnicas, além do aprimoramento de conhecimentos, chegamos a

evolução de cada uma das agroindústrias que, de forma incansável, hoje constituem-se

também em rede em prol da qualidade do produtos e consumo de seus clientes.

Sentimos que cumprimos as etapas estabelecidas e, atualmente, o desejo e anseio de

todos os nossos membros, é legitimar a criação dessa marca que, de forma singela,

transmite a nossa identidade, qualidade, confiança, seriedade e, principalmente a

tradição do produto da Quarta Colônia9.

3. A Implantação das AFRs e a sua Dimensão Ambiental

As Agroindústrias Familiares Rurais desenvolveram-se a partir de uma tradição

na produção artesanal de alimentos e bebidas relacionada ao patrimônio histórico-

cultural herdado dos imigrantes italianos, baseadas no saber-fazer inter-geracional. Na

década de 1990, através de políticas públicas e mobilização de diferentes atores sociais

houve um processo de qualificação das unidades de processamento artesanal de

alimentos e bebidas associado à “re-criação” de outras10

.

Neste contexto, buscou-se a legalização destas AFRs, sendo dada grande ênfase

nos aspectos sanitários, impondo-se mudanças no processo de produção com

investimentos em infra-estrutura predial e equipamentos. A orientação dos agentes de

9 Informações referentes ao folder publicitário da Rede da Casa. 10 O processo de re-criação de AFRs ocorre na década de 1990-2000, através do estímulo das políticas

públicas incentivadoras do processamento de alimentos de origem animal e vegetal como estratégia de

agregação de valor aos produtos da agricultura familiar aplicadas a famílias que no passado haviam se

dedicado a esta atividade, mas a abandonaram pressionados pela legislação sanitária e serviços de

fiscalização, que a partir da década de 1950 passam a apoiar o desenvolvimento de grandes plantas

industriais. A re-criação caracteriza-se pela retomada de uma tradição, agora como um negócio que visa

lucro e que implica em investimentos para buscar a legalização do empreendimento. Ver Silveira et al,

2006; Diesel et al, 2006 e Neumann & Souza, 2006.

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ATER é baseada na mesma lógica da legislação sanitária brasileira construída a partir

dos anos 1950, objetivando a inserção dos produtos nos mercados nacional e

internacional (Guimarães, 2001; Prezzoto, 2002). Esta legislação tinha como princípios

a grande escala de produção e elevado tempo entre produção e consumo (Silveira e

Zimermann, 2004).

As condições das AFRs aqui analisadas em muito se diferenciam deste padrão

normativo, pois tratam-se de pequena escala de produção e voltadas ao mercado local e

regional. Mesmo assim, as ações de legalização apoiadas por políticas públicas

impactaram nos processos de produção, ameaçando a característica artesanal dos

produtos pela padronização das técnicas adotadas e induzindo a necessidade de aumento

de escala de produção para alcançar a capacidade de retorno em relação aos

investimentos realizados (Guimarães e Silveira, 2007).

Em relação às características artesanais dos produtos das AFRs, deve-se salientar

que a adoção de tecnologia não necessariamente as eliminam, pois estão relacionadas

com o saber-fazer de cada unidade de produção, uma “arte” que acrescenta um toque

específico e único ao produto produzido (Silveira e Heinz, 2005). No entanto, percebe-

se em algumas das AFRs estudadas que seus produtos passam a ser menos diferenciados

do industrial pela massificação do processo de produção.

Quanto aos efeitos do aumento de escala, pôde-se verificar uma mudança na

lógica de produção, caracterizada pela especialização das unidades de produção na

atividade de processamento com a conseqüente aquisição de matéria-prima e perda do

caráter diversificado da agricultura familiar, além da contratação de mão-de-obra e

busca de mercados mais amplos e distantes (Guimarães e Silveira, 2007). Mas segundo

estes autores, tais problemas atingem de forma conflitiva apenas as unidades de

produção artesanal, marcadas pelo saber inter-geracional e a relação da atividade de

processamento com a agricultura na produção das matérias-primas e pouco significam

para as agroindústrias familiares de pequeno porte que somente diferenciam-se das

grandes plantas industriais pela escala de produção11

.

11 No trabalho, publicado por Guimarães e Silveira (2007), propõe-se uma tipologia para as AFRs,

classificando-as como Agroindústria Caseira – não possui instalações próprias para processamento de

matérias-primas, pequena escala e problemas no controle de qualidade de seus produtos; Agroindústria

Artesanal – aquela que já possui instalações e equipamentos específicos para processamento, baseada no

saber-fazer inter-geracional que confere aos seus produtos uma característica diferenciada do produto

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No entanto, a legalização não abrange apenas aspectos sanitários, mas envolve

aspectos fiscais e previdenciários que também não favorecem as AFRs (Prezzotto,

1999). E mesmo após anos de esforços com objetivo de garantir aval legal aos produtos

das AFRs, são poucas que superaram tal desafio. E uma dimensão que tem se tornado

importante neste processo, é a dimensão ambiental. Deixada de lado, em um primeiro

momento, passa a ser um desafio concreto quando as barreiras sanitárias e fiscais são

ultrapassadas. É o que acontece com as AFRs pertencentes a Rede da Casa, objeto deste

estudo.

No caso da legislação ambiental, ocorre a mesma situação examinada

anteriormente em relação aos aspectos sanitários: as exigências legais apresentam-se

incompatíveis com a capacidade de investimento das AFRs, dadas sua pequena escala

de produção (Silveira e Guimarães, 2007). A escala de produção reduzida e, às vezes,

também sazonal, significa menor quantidade de resíduo gerada e, em muitos casos, com

um poder poluente reduzido como temos observado em nossa pesquisa12

.

Mas as exigências legais não são flexibilizadas para uma pequena escala de

produção, pois foram definidas com base em grandes plantas industriais no momento

que a poluição causada pela industrialização do país torna-se preocupação corrente na

década de 1970-1980 (Boeira, 2004; Silveira e Guimarães, 2007). É de fundamental

importância perceber que a aplicação desta legislação surge na tradição “fim de tubo”,

centrada na identificação e repressão aos impactos ambientais, exigindo-se sua

reparação (Andrade, Kiperstok e Marinho, 2001). Esta tradição permanece latente nos

interstícios dos órgãos públicos encarregados da gestão ambiental e na forma de ação de

seus agentes fiscalizadores, mesmo que no discurso atual apareça uma preocupação com

a abordagem preventiva.

Deve-se considerar, também, que esta forma de ação dos peritos da área

ambiental é baseada em referências científicas que legitimam determinadas

metodologias de controle ambiental, não havendo espaço para negociação das ações a

industrial, voltada ao mercado local e regional e já adotando procedimentos de controle de qualidade; e a

Agroindústria de Pequeno Porte – diferencia-se da grande indústria apenas na escala de produção, pois

seus produtos não apresentam características artesanais, adotando padrões industriais de produção. 12 Das treze atividades que fazem parte da pesquisa, apenas duas possuem uma considerável escala de

produção capaz de gerarem resíduos ininterruptamente, ainda neste caso, os resíduos sólidos representam

menor impacto uma vez que podem ser re-utilizados na propriedade (bagaço da uva ou da cana-de-

açúcar) enquanto que aos resíduos líquidos (soro de leite e vinhoto) merecem atenção mais acurada.

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serem realizadas para minimização dos impactos ambientais. Esta forma de ação tem

sido pouco receptiva a novas metodologias que poderiam ser adotadas em caso de

pequeno impacto ambiental como em muitas AFRs, alegando-se que não tem

comprovada eficácia pelos trabalhos acadêmicos. Como também são escassas as

pesquisas sobre estas possíveis alternativas, temos poucos graus de liberdade no

enfrentamento de problemas ambientais em pequenas AFRs. Tal lógica tem sido

denominada de Imperativo Técnico (Silveira e Guimarães, 2007), a qual abordaremos

mais adiante em seus eixos constituintes.

No caso aqui analisado percebe-se um conflito na relação entre os agentes

envolvidos na proteção ambiental e os responsáveis pelas AFRs, o qual tem levado a

condenação à informalidade de unidades de produção que já demonstraram capacidade

de superação de outras barreiras legais. A caracterização deste conflito, buscando

compreender sua origem e a sua influência na estratégia de consolidação do SIAL

Quarta Colônia é que buscamos empreender neste artigo. Mas antes se requere que

reflitamos sobre as duas lógicas de ação em relação a gestão ambiental das AFRs: o

Imperativo Técnico e a Construção Sócio-Ambiental.

4. A Lógica do Imperativo Técnico e a Construção Sócio-ambiental

Em outro trabalho, já propusemos uma reflexão sobre a gestão ambiental em

espaços rurais, procurando demonstrar que a lógica que denominamos de “Imperativo

Técnico” ainda permanece subjacente na ação dos atores sociais ligados aos órgãos

públicos encarregados da proteção ao meio-ambiente (Silveira e Guimarães, 2007).

Neste artigo, procuramos demonstrar a implicação desta lógica de ação na exacerbação

dos conflitos ambientais em torno da regularização das AFRs.

Mas em que consiste tal lógica? O termo imperativo refere-se a imposição de

normas por um agente público investido de legitimidade jurídica (calcada na legislação

ambiental vigente no país) e na legitimidade científica (calcada no conhecimento

produzido pela ciência) diante da população envolvida em atividades que gerem

impacto ambiental13

. E o técnico se refere à pré-suposta predominância da dimensão

13 Compreende-se aqui, impacto ambiental como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e

biológicas do meio-ambiente, causada por qualquer forma de matéria e energia resultante das atividades

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técnica sobre as dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais. Tal lógica

estabelece a clivagem entre leigos e peritos, onde os segundos detêm a autoridade do

saber acadêmico que deve prevalecer diante dos primeiros (Irwin, 2001).

Analisando as ações dos extensionistas na busca de introdução de práticas

baseadas nos princípios da Agroecologia na forma de produção dos agricultores

familiares, Gerhardt e Almeida (2004, p. 144), exemplificam tal lógica ao perceber que

ocorre uma imposição por parte dos peritos de uma determinada interpretação dos

problemas ambientais, levando a “novas arbitrariedades simbólicas, sociais, culturais,

econômicas e produtivas”.

Deste modo, a lógica do Imperativo técnico pode ser conceituada como aquela

em que “o responsável pela geração do impacto ou risco ambiental deve adotar medidas

pré-estabelecidas por mediadores sociais, legitimados pela legislação ambiental ou pelo

conhecimento técnico-científico e, portanto, não disponibilizadas para o debate público”

(Silveira e Guimarães, 2007). Assim, as medidas punitivas e restritivas se sobrepõem às

iniciativas educativas (Furnival, 2006).

As práticas sociais na relação com os agroecossistemas, historicamente

constituídas e baseadas em um conhecimento empírico-vivencial são desconsideradas

diante da imposição de normas legais que pretensamente visam proteger o meio-

ambiente, mas desvalorizam e até desconhecem as formas de exploração do espaço que

tem subsistido no tempo (Silva, 2004).

Mas quais os fundamentos desta concepção de gestão ambiental? Um dos

principais elementos fundantes da Lógica do Imperativo Técnico é a concepção

naturalista dos processos sociais, onde a natureza é vista como realidade exterior aos

agentes sociais e que existe independente do que façamos como observadores,

entendimento comum em nossa cultura ocidental (Maturana, 1996) e que subjaz às

políticas ambientais no Brasil (Furnival, 2006). Neste sentido,

... a compreensão dos problemas ambientais sustenta-se na crença de

que o conhecimento científico é a leitura inquestionável da realidade e

fornece elementos para descrição do funcionamento dos sistemas naturais e estes devem ser os critérios para avaliar os impactos das

humanas, que direta ou indiretamente afeta a saúde, a segurança, e o bem-estar da população, as

atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio-ambiente e a

qualidade dos recursos naturais” (REIS & QUEIROZ, 2002, 05).

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ações humanas sobre o meio-ambiente (Silveira e Guimarães, 2007, p.

07).

A fragilidade desta concepção está em não perceber que:

...la realidad no es una experiência, es um argumento dentro de uma explicación. En otras palabras, la realidad surge como uma

proposición explicativa de nuestra experiência de las coherencias

operativas de nuestra vida cotidiana y de nuestra vida técnica al vivir nuestra vida cotidiana y nuestra vida técnica (Maturana, 1996, p. 31).

Deste modo, se a realidade é explicação de uma experiência vivida na vida

cotidiana ou técnica, então para observadores diferentes que vivem experiências

diferentes a realidade não pode ser a mesma. Assim, torna-se compreensível que em

diferentes culturas hajam diferentes premissas aceitas como critério para julgar-se

discursos, ações e justificações de ações (Maturana, 1996). Como adverte Beck (1998),

a natureza é sociedade, sendo sua definição resultado de processos sociais, políticos e

culturais. Tais processos são cambiáveis no tempo e no espaço, já que, “a cultura da

natureza - as formas com pensamos, ensinamos, falamos sobre o mundo natural e

formulamo-lo - é uma importante área de luta como é a própria terra” (William apud

Hannigan, 1995, p. 168).

Portanto, no caso aqui estudado as diferentes formas de perceber os problemas

ambientais, ou seja, a relação entre a ação humana e os sistemas naturais, geram

conflitos sócio-ambientais. Tais conflitos podem ser definidos como “relações sociais

de disputa/tensão entre os diferentes grupos de atores sociais pela apropriação e gestão

do patrimônio natural e cultural” (Vivacqua e Vieira, 2005, p. 140).

A lógica do imperativo técnico ao desconsiderar o modo pela qual os

responsáveis pelas AFRs concebem os problemas ambientais contribui para exacerbar o

conflito sócio-ambiental e tem obstaculizado a negociação de alternativas aos preceitos

normalmente adotados em grandes empreendimentos industriais.

A lógica do imperativo técnico tem como outro pilar a crença na ciência como

produtora de dados objetivos que fornece certeza na definição do impacto ou risco

ambiental. Nesta forma de abordagem, definido o impacto ou risco, o conhecimento

científico possuiria elementos, materializados em tecnologias adequadas para eliminá-

los ou pelo menos reduzi-los. Como demonstra Irwin (2001), o reconhecimento da

incerteza nos paradigmas atuais das ciências naturais enfraquece o realismo científico e

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cresce o número de autores que aceitam que o conhecimento é socialmente construído,

caracterizando-se pela provisoriedade. Assim, esvai-se a certeza unívoca na definição de

um problema ambiental.

Como demonstra Hannigam (1995), a definição de um problema ambiental é

uma disputa de interpretações, onde os formuladores de exigência de acordo com seu

poder de influência na arena pública legitimam determinada representação socialmente

aceita. Os formuladores de exigência que estão em permanente disputa englobam os

movimentos sociais, os meios de comunicação de massa, as organizações

representativas dos produtores e consumidores, os grandes grupos econômicos, o

ministério público, os gestores públicos e os dois atores mais relevantes no caso aqui

analisado, os peritos dos órgãos de proteção ambiental e os agentes de desenvolvimento,

encarregados de fornecer suporte técnico as AFRs (neste estudo representados pelo

serviço público de ATER e as entidades parceiras envolvidas com a produção e difusão

do conhecimento técnico-científico).

Neste contexto, se analisamos especificamente a questão do uso de determinadas

tecnologias, observamos que a lógica do imperativo técnico parte de uma visão a-social

da tecnologia, enquanto na perspectiva construcionista as tecnologias são vistas e

interpretadas na vida social e no mundo do trabalho (Irwin, 2001), onde assumem

significados diversos. Assim, as soluções tecnológicas recomendadas são passíveis de

contestação e adaptação a realidade concreta de cada AFR.

No entanto, para a lógica do Imperativo Técnico, a natureza é uma realidade que

tem mecanismos próprios e sua lógica deve ser respeitada pelas ações humanas. Assim,

em uma visão naturalista, gerir o ambiente é seguir a lógica da natureza e, portanto,

cabe aos “gestores do ambiente” impor esta lógica aos atores sociais. Nesta perspectiva

extrema, qualquer ação humana é interferência sobre a natureza e até no extrativismo

estaríamos contribuindo com sua des-regulação e por que não dizer, ameaçando a

sustentabilidade dos ecossistemas. Devido a impraticabilidade de uma ação de não

interferência, passa-se a defender a minimização dos impactos ambientais.

No percurso histórico do movimento ambientalista e na evolução das políticas

ambientais no Brasil, percebe-se este processo de afastamento do mito de uma natureza

intocada, típica da corrente ambientalista denominada de “culto ao silvestre” por

Martínez Alier (2007). Para uma concepção de gestão ambiental como formas de ação

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em um espaço cada vez mais artificializado, um meio técnico-científico-informacional

que se assentou sobre o meio “natural” (Santos, 1996).

Neste sentido, como observa Moraes (2002, 23),

...de uma visão essencialmente preservacionista passa-se a uma perspectiva bem mais ampla de intervenção que até ilustra bem o

movimento de maturação teórica do próprio pensamento ambientalista

no país (que de uma preocupação ecologista evolui para conceitos

como qualidade de vida e desenvolvimento sustentado).

Mas tal evolução na forma de agir em relação ao meio-ambiente ainda não

eliminou a lógica do Imperativo Técnico que continua a dar sustentação a políticas e

programas de gestão ambiental. Caso ilustrativo são as Unidades de Conservação da

Natureza (UCs), em suas diferentes formas, onde continuam sendo criadas,

administradas e avaliadas pelo Instituto Brasileiro de Meio-Ambiente e Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA), órgão responsável pela gestão das UCs “adotando uma

postura autoritária, com viés preservacionista e avessa a participação das populações

locais no processo de gestão” (Vivacqua e Vieira, 2005,140).

No mesmo sentido, pode-se afirmar que “no Brasil a maioria das Unidades de

Conservação Ambiental foram criadas de modo autoritário, ou seja, sem os devidos

estudos físico-naturais e, principalmente, sem estudos sociais e humanos” (Silva, 2004).

A autora analisando o caso da Unidade de Conservação Ambiental de Camburi no

estado de São Paulo e demonstra que agentes externos passam a interferir no modo de

vida da população local e que esta nunca foi informada e consultada sobre o que

aconteceria com suas terras a partir da criação da UC.

A superação desta lógica de Imperativo Técnico que não contempla a construção

social e política em torno de ações de gestão ambiental exige arranjos institucionais

capazes de garantir uma gestão integrada, participativa e cooperativa dos recursos

naturais (Vivacqua e Vieira, 2005, p. 140). Para estes autores,

...o maior desafio apresentado às agencias governamentais, às ONGs e à comunidade científica relaciona-se à criação e implementação de

tecnologias apropriadas. Em princípio elas seriam capazes de

minimizar os conflitos que emergem nos sistemas de gestão, norteando assim sua dinâmica pela via da negociação patrimonial (Vivacqua e

Vieira, 2005, p. 147/8).

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Esta forma de gestão ambiental é que chamamos de construção sócio-ambiental,

onde reconhecem-se as diferentes representações sociais do nexo sociedade-natureza e

as relações de poder entre os diferentes atores sociais. Deste modo, gera-se uma arena

de negociação dos conflitos sócio-ambientais, onde leigos e peritos compartilham suas

diferentes percepções em relação a cada problema ambiental identificado, considerando

que sua superação implica em manipulação de variáveis de natureza econômica, social e

cultural.

No caso aqui abordado, não se pode deixar de considerar a tradição difusionista

dos agentes de ATER envolvidos no apoio a implantação e consolidação das AFRs, o

que tenciona no sentido de uma intervenção muito mais normativa do que participativa.

Esta tradição resiste a considerar o saber popular como elemento fundante e legítimo

das práticas sociais, mesmo que nos últimos trinta anos os discursos em prol da

necessidade estratégica da participação efetiva dos agricultores sejam cada vez mais

freqüentes.

Neste contexto, ao silenciar-se os agricultores, obstaculiza-se o espaço de

construção de possibilidades para prevenir e controlar os impactos ambientais e, deste

modo, dentro da inviabilidade da adoção das medidas propostas pelos porta-vozes do

Imperativo Técnico, condena-os a informalidade. E, logicamente, o impacto ambiental

permanece e com ele a permanente ameaça de que uma ação fiscalizatória impeça que a

AFR continue a funcionar. É neste contexto de instabilidade que realizamos a análise

que segue.

5. As AFRs e os conflitos sócio-ambientais

Antes de adentrar na análise pormenorizada dos interclaves que se colocam

como limitantes ao pleno desenvolvimento das AFRs no sentido de fortalecer laços

comunitários e consolidar um SIAL competitivo, vamos atentar para uma breve

caracterização das unidades de processamento.

De forma geral, todas observaram que houve melhoria na qualidade de vida em

relação ao período anterior ao inicio da atividade. Na condução do negocio, verificou-se

a preocupação, respectivamente, com os recursos financeiros, com a falta de tempo e,

portanto, de força de trabalho qualificada que pudesse contribuir na expansão da

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produção. Ao final foram citadas preocupações com o bem estar familiar e com

questões relativas a saúde. Isso denota uma avaliação preliminar de que a garantia do

bem estar familiar está na ampliação da atividade e, portanto, na necessidade de galgar

recursos financeiros.

A única AFR que caracterizou sua condição de vida pior que a anterior, ressaltou

como fatores negativos, o stress cotidiano vivido na atividade em função da falta de

eficiência profissional, principalmente por parte dos funcionários contratados (falta de

empreendedorismo). Contraditoriamente, relatou que na questão econômica, a

qualidade de vida do grupo familiar apresentou considerável melhorias, mas que nos

aspectos de bem estar, tranqüilidade, deixou a desejar.

Ao atentar para a historicidade das unidades de processamento, pôde-se verificar

que os integrantes da Rede da Casa têm uma historia produtiva variando de dois a vinte

anos, sendo que 42% das agroindústrias possuem atividades na unidade de produção

acima de dez anos, ou seja, possuem relativa experiência no processo produtivo bem

como na atuação no mercado.

Em relação à atividade produtiva, ao longo do tempo, foram realizadas

fiscalizações nas AFRs para verificar as metodologias e as instalações, sendo relatado

pelos mesmos que o local apresenta as condições adequadas. Foi detectado que 58,4%

das agroindústrias não tiveram visitas dos órgãos responsáveis por tais atividades. Isto

reforça o entendimento que o estado brasileiro durante décadas favoreceu a agricultura

patronal e a agricultura familiar foi preterida em favor do modelo de alto interesse

econômico, quase sempre desconsiderando questões ambientais.

Constatou-se que 58,4% dos entrevistados demonstraram que não tem domínio

ou conhecimento mínimo sobre os procedimentos para o licenciamento ambiental,

ficando a mercê dos atores locais e, principalmente, da relação anti-dialógica dos peritos

orientados pela lógica do Imperativo técnico.

Em relação à propriedade rural algumas atividades como o desmatamento (2

vezes citadas), exploração de madeira (4 vezes citadas) e caça de animais (1 vez citada)

foram apontadas como sendo atividades realizadas sem autorização. Tal fato, no

argumento dos proprietários, deve-se as demandas burocráticas, que, no mínimo,

demandam de tempo para obter a liberação e causam uma série de incômodos. Em

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último caso, optam por não utilizar-se de recursos extrativistas a fim de evitar

transtornos.

No que diz respeito à preservação ambiental, todos os entrevistados

demonstraram-se preocupados e acreditam que é importante a sua manutenção para a

continuidade das gerações futuras. Sendo que onze AFRs possuem áreas de

preservação, mas não estão legalmente registradas. Aqui percebe-se, novamente, o

abismo entre a racionalidade que norteia as práticas dos agricultores familiares e as

demandas colocadas pelo ambiente institucional: a preservação é um ato subjetivo e

intrínseco à relação do sujeito rural com seu meio – em geral, sob esta racionalidade,

não haveria necessidade de impor parâmetros mínimos de preservação, como opera a

lógica do imperativo técnico.

Estas questões nos levam a compreender que, a legislação ambiental brasileira,

foi historicamente construída e executada, primeiramente, através de regulamentações

de normas, regras, procedimentos e padrões que asseguraram a eficiência burocrática do

gestor público em detrimento de ações construídas em sintonia com as praticas

agrícolas. Essas ações levaram e levam a uma insustentabilidade econômica e

ambiental, gerando conseqüências na aceleração dos impactos ambientais, pela não

busca do conhecimento da realidade efetiva do local. Esse modelo de gestão ambiental

se apóia somente em instrumentos reguladores, punitivos e que não propiciam o

crescimento da produção agrícola sob as dimensões da sustentabilidade, que em geral,

está presente no modo como as comunidades tradicionais se relacionam com a natureza

(Zanoni, 2000).

No processo de incentivo a consolidação das AFRs como estratégia de

desenvolvimento regional ocorreram uma série de cursos de capacitação voltados

principalmente para boas práticas de fabricação, marketing e comercialização. No

entanto, quanto a gestão ambiental os entrevistados alegaram que não receberam

nenhum tipo de formação específica, apenas algumas orientações quanto às exigências a

serem cumpridas. Observa-se novamente o conflito eminente, seja nas diferentes

concepções de risco ambiental (Sulzbacher, Silveira e Genro, 2008), seja na qualidade

das informações – geralmente muito mais com intuito punitivo e restritivo do que de

esclarecimento.

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A legislação ambiental precisa ser construída com ações de auto-regulação, para

a construção de mecanismos com responsabilidade social, para atingirmos a

socialização das informações, que na atualidade, estão sob domínio das organizações

publicas e privadas. Essas informações reguladoras precisam ser de conhecimento

amplo da sociedade civil, para que possibilite suas modificações. Cavalcanti (1997) diz

que o desenvolvimento sustentável de uma sociedade será obtido, quando se alcançar

um grande compromisso com a chamada sustentabilidade ética, para que assim os seres

possam viver de maneira sustentável.

Nove das AFRs analisadas estão ilegais, ou seja, ainda estão trabalhando na

informalidade. Além disso, os mesmos salientam que a demora na análise de pedidos, a

falta de informações e a legislação complexa ou confusa são as principais dificuldades

enfrentadas para com os órgãos do governo para a efetivação do processo. De fato, para

que esta atividade se constitua como um verdadeiro processo de (re)valorização do

espaço rural, e portanto, tenha capacidade de fomentar o fortalecimento dos laços

comunitários, é preciso que venha consorciada com políticas públicas que considerem a

diversidade de atores sociais e redes e as suas diferentes lógicas de organização da

produção (Sulzbacher e David, 2008).

Outro interclave que se apresenta problemático refere-se a transição de

racionalidades quando se observa a expansão, da produção artesanal para a consolidação

da agroindústria familiar. A primeira geralmente nasce sob a égide da racionalidade

camponesa, envolvendo a produção da matéria prima, seu processamento e

comercialização baseados em relações de produção pautadas no trabalho familiar e,

onde o excedente é comercializado. Quando os produtos passam a ser valorizados no

mercado local/regional, aumenta-se a demanda e, portanto, a legalização da atividade

acaba sendo uma exigência e, neste processo, exige-se também a incorporação de uma

racionalidade mais próxima àquela empresarial que não é de domínio dos agricultores.

Esta última exige o domínio mínimo dos processos burocráticos e das legislações

pertinentes à inspeção sanitária, trabalhista, tributária e ambiental. Daí emerge os

conflitos, uma vez que esta transição é realizada, geralmente, de forma abrupta

incitando, invariavelmente à informalidade (Sulzbacher e David, 2008).

De fato, observa-se em diferentes literaturas e também de forma empírica que as

várias exigências, que vão da ambiental, sendo que os aspectos sanitários são os mais

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restritivos, ao fiscal, adotam sempre uma visão da necessidade de adoção de tecnologias

de final de tubo. Na visão do poder publico as ações devem seguir a legislação de forma

linear não permitindo uma avaliação de alguns aspectos como a existência de condições

ecológicas diferenciadas, características polifuncionais do rural e a existência de um

mosaico de unidades de produção agropecuárias diferenciadas entre si (Neumann,

2006).

Noutro extremo, a pesquisa levantou uma série de ações que são adotadas pelas

AFRs, como a reciclagem ou o aproveitamento dos materiais, principalmente dos

resíduos sólidos [orgânicos] como o bagaço da cana-de-açúcar e da uva. Nos casos onde

a escala de produção demanda um tratamento mais acurado, verificou-se a existência de

estações de tratamento de efluentes e a disposição adequada dos resíduos sólidos. Sabe-

se que toda atividade de algum modo gera algum determinado tipo de sobras ou

simplesmente lixo.

Nos casos onde a produção é irrisória (sacos plásticos, etc) há coleta do material

pela Prefeitura Municipal, porém ainda não é seletiva. A seleção do material a ser

dispensado é feito de forma consciente, no entanto, neste caso, observa-se a necessidade

de um ajuste de conduta por parte deste órgão público quanto a um recolhimento

seletivo.

Quanto à água utilizada na propriedade rural e na agroindústria, em 75% dos

casos, é destinada diretamente na fossa séptica juntamente como os dejetos do banheiro.

Em relação ao destino dos efluentes de animais, quando existentes na propriedade, são

recolhidos e usados como adubação em hortas e lavouras e, muitas vezes, os mesmos

são eliminadas na própria lavoura durante a permanência dos animais durante a noite,

não sendo necessária nenhuma prática, argumentam os agentes.

Ainda no âmbito das demais atividades desenvolvidas na propriedade rural e, de

acordo com os pressupostos de manutenção e cuidado com o meio ambiente, aquelas

que utilizam embalagens de agrotóxicos ou químicos para limpezas devolvem a

embalagem para a indústria ou fabricante após a tríplice lavagem. Preocupados em

relação aos métodos de aplicação do mesmo verificou-se que 80% deles usam parte dos

equipamentos de proteção individual, muitos relatam a dificuldade de usar todos por ser

sufocante e impróprio, mas acham necessários.

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Na atualidade, as grandes organizações na sua maioria, encontram-se em estagio

avançado no que se refere à questão ambiental, porque o modelo já parte desde a sua

implementação. Porém, as pequenas e médias empresas, estão em situação de

desvantagem na operacionalização de suas atividades, pois a obtenção do conhecimento

via pesquisa de novas soluções, lhe são escassas. Isso ocorre porque essas pequenas

agroindústrias não dispõem de condições para investir em tecnologias de pesquisa,

devido aos elevados custos para a sua realidade. Daí a necessidade e a importância em

que se coloca a pesquisa, ensino e extensão da universidade pública, a fim de buscarmos

novas formas de produção e crescimento, que valorizem a realidade e as potencialidades

locais, com atenção para cada comunidade a fim de potencializar estratégias de

desenvolvimento sustentável. Este universo apresenta-se com significativa deficiência,

principalmente entre a busca de tecnologias adequadas ao controle da geração de

impactos negativos ao ambiente e as políticas agrícolas de fortalecimento da agricultura

familiar.

Em relação à assistência técnica nas propriedades rurais quando requisitadas são

atendidas, mas muitas vezes utilizam aquela oferecida pelas empresas particulares. Por

outro lado, o mesmo não acontece com as agroindústrias sobre a situação ambiental em

que, muitas vezes, inexiste qualquer tipo de assistência técnica.

É fato que a maioria de nossos técnicos até pouco tempo atrás não visualizavam

as questões ambientais rurais, pois as mesmas eram renegadas ao segundo plano. A

capacidade profissional tanto dos técnicos como dos agentes fiscalizadores também são

fundamentais para uma construção de desenvolvimento econômico, social e ambiental

das agroindústrias familiares. Afinal, passaram-se décadas acreditando-se que não havia

necessidade de promover o desenvolvimento do setor da agricultura familiar, pois este

iria desaparecer como avanço da racionalidade capitalista no campo.

Este processo somente começa a ser revisado recentemente, nos idos dos anos

1990, oportunidade em que se inicia uma articulação interna no setor da agricultura

familiar. Discutem-se as reais demandas e projetos para o espaço rural (necessidades e

vontades), fugindo ao padrão normativo de total subordinação da agricultura familiar ao

sistema de integração industrial.

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6. Para não encerrar...

Alguns apontamentos finais merecem ser retomados. Os interclaves que se

apresentam como limitantes ao pleno desenvolvimento das AFRs na Quarta Colônia e

na consolidação destas enquanto um Sistema Agroalimentar Localizado se apresentam

como verdadeiras muralhas a serem transpostas. Portanto, se efetivamente pretendemos

buscar alternativas para conseguir transpô-los precisamos partir para a construção de

algumas iniciativas que podem apresentar resultados a longo prazo. Seria ingênuo

acreditar que os conflitos entre as concepções dos agricultores e dos peritos, que

envolvem também a atuação dos diferentes atores sociais, poderia ser resolvida num

simples salto qualitativo ou quantitativo, seja através de uma enxurrada de cursos de

qualificação seja através de contínuos espaços de discussão.

O processo está além do universo teórico, não que este não seja pertinente, no

entanto, exige-se uma atenção mais acurada para um processo de construção sócio-

ambiental dos riscos, para uma relação dialógica e educativa, onde, tanto peritos

quantos produtores permitam-se aprender sobre os limitantes, seja na aplicação da

legislação, seja na expansão da produção.

Há um evidente interesse por parte do grupo de AFRs da Rede da Casa em

buscar formas alternativas de tratamento dos resíduos (líquidos e sólidos) gerados pelas

atividades de processamento dos produtos agropecuários. Conhecidas ou tratadas aqui

sob uma denominação que generaliza a diversidade de produtos, relações de trabalho e

de produção destas atividades, as agroindústrias familiares entraram para a lista negra

dos peritos em impacto ambiental. A geração de resíduos ao ser regulamentada, passa a

demandar exigências, geralmente de ordem estrutural, que visam garantir o mínimo

impacto no meio ambiente. É neste rol de questões que geram-se conflitos na Quarta

Colônia e para a solução destes, buscam-se alternativas.

Dentre as problemáticas iniciais, destaca-se o fato de que os produtores não

percebem os impactos que estes resíduos podem causar ao meio ambiente. Esta questão

pode ser conseqüente de uma série de variáveis, mas onde a imunidade subjetiva

(Guivant, 1994) e a construção social de risco (Veyret, 2007) merecem significativa

consideração. Do outro lado, o perito não percebe a dimensão, muitas vezes, restrita e

local dos impactos ou as possibilidades de solucioná-los sem, necessariamente, mover

grandes investimentos com infra-estruturas sobre-estimadas. Incompatibilidades de

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saberes e a dificuldade de estabelecer um diálogo produtor-perito, acentuam os conflitos

e dificultam a mediação ou solução, restando, portanto, a pressão da sociedade civil

organizada.

A informação exerce um papel estratégico nesta temática e neste cenário

conflitual. Informação com capacidade de promover a construção do conhecimento,

permitindo as partes diretamente envolvidas (produtor e perito) o alcance de um

denominador comum. O perito, ciente de seu total esclarecimento, não depreende tempo

esclarecendo aos produtores a importância do tratamento de resíduos e suas vantagens

para a família, propriedade e para a própria atividade agroindustrial. Enquanto isso, o

produtor não compreende como e porque deve agir de acordo com o recomendado e,

portanto, não faz cumprir os ditames da lei. Em geral, acaba por ir fazendo como dá,

afinal preocupar-se com o destino dos resíduos aparentemente não tem prioridade.

Diretamente relacionada com esta questão está a disponibilidade de informação.

As informações, em quantidade e qualidade, acessíveis aos produtores rurais e que

permita faze-los perceber os impactos que podem ser gerados e, que, a partir disso

possam ter autonomia para decidir. No âmbito da legislação ambiental, em específico

nas questões relacionadas com o processamento de alimentos, percebe-se que há pouca

clareza, além de informações distorcidas e incompletas, situações que, de imediato,

assustam os produtores e incita-os a permanecer em posição de defesa, sendo uma delas

a opção por não legalizar em função da suposta exigência de substanciais alterações na

infra-estrutura da agroindústria.

O acesso à informação sobre o que a legislação prevê no âmbito da temática

ambiental incide também nos tipos de sistemas de tratamento adotados. Observados em

uma das atividades visitadas um alto investimento em infra-estrutura sub-superfície a

fim de realizar o tratamento dos resíduos. Uma obra superestimada para a realidade da

agroindústria. Desta forma, este exemplo negativo contribui para a formação de

opiniões do senso comum, ou seja, a suposição de que há somente alguns modelos de

sistemas de tratamento de resíduos e estes são, em geral, de alto custo. Realidade que se

contrapõe à escala de produção, freqüência e volume de geração de resíduos das AFRs

inviabilizando este tipo de investimento. A tomada de consciência quanto aos impactos

dos resíduos em cada tipo de processamento bem como o esclarecimento e a construção

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participativa de sistemas de tratamento devem ser um dos eixos centrais das próximas

ações projetadas para o grupo da Rede da Casa pelo projeto de pesquisa em andamento.

Neste sentido, seria interessante utilizar materiais (como maquetes, pôsteres, etc)

que possam demonstrar ou representar como seria um processo de tratamento de

resíduos em escala adequada a Unidade de Produção Agropecuária - UPA ou AFR. Um

sistema de tratamento adequado à realidade das unidades de processamento deveria,

num primeiro momento, atender às necessidades de minimização dos impactos ao meio

ambiente sem implicar em alto custo ao produtor (que geralmente é equilibrado com um

aumento na escala de produção).

Destaca-se que o intuito ideal da legislação seria a proteção ao meio ambiente e

ao futuro da humanidade. Esta escala de compreensão parece não estar acessível ao

produtor da AFR, portanto, ele não percebe isso como importante ou pelo menos se

sente injustiçado. Um outro fator não menos importante é a percepção temporal, ou seja,

na memória das práticas familiares não havia exigências quanto ao cuidado com os

resíduos ou práticas agrícolas.

Um ajuste de conduta passa a ser interessante na medida em que prevê o

esclarecimento e a construção de sistemas de tratamento alternativos, adequados a

realidade de cada unidade de processamento. Um desafio que exige, no mínimo,

interesse por parte dos agricultores e articulação entre as entidades públicas (e privadas)

a fim de dedicar-se a pesquisa e criação e, principalmente, capacidade de exercer

pressão exigindo flexibilização da legislação ambiental, reconhecendo aquelas

tecnologias desenvolvidas e que se apresentaram como eficientes quando adotadas em

nível de teste.

Por fim, em geral, as histórias familiares ou mesmo pessoais interagem com a

construção da agroindústria. A iniciativa geralmente parte de algum membro que passa

a sensibilizar os demais ou a iniciar a atividade sem apoio de qualquer serviço de ATER

e vai ganhando confiança dentro do grupo familiar, que aos poucos, vai integrando-se

na produção. Esta realidade é particularmente pertinente quando a iniciativa parte das

mulheres, pois estas normalmente permanecem ocultas nos processos de decisão e,

assim, se perde um conhecimento empírico valioso sobre os procedimentos adotados em

relação ao ambiente doméstico.

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