genÉtica no cotidiano - o sistema abo na transfusÃo sanguÍnea

Upload: marcia-genovez

Post on 07-Apr-2018

234 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/3/2019 GENTICA NO COTIDIANO - O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO SANGUNEA

    1/6

    30

    04.02, 30-35 (2009)www.sbg.org.br

    ISSN 1980-3540

    Palavras-chave: Atividade ldica, sistema ABO,transfuso sangunea.

    Introduo

    De um modo geral, em sala de aula, os estudantesapresentam diculdades para o entendimento dos meca-nismos de transmisso hereditrios envolvidos na deter-minao do Sistema Sanguneo ABO, que o principalsistema na medicina transfusional. Em casos como este,as atividades ldicas so muito ecientes pois auxiliam:

    no esclarecimento de nomes e conceitos; na xao do

    conhecimento; na consolidao da informao cienti-camente correta que, muitas vezes, atrapalhada pelainformao leiga, no cientca, que eles trazem em sua

    histria social (da famlia, do grupo de amigos etc).O objetivo desta proposta apresentar uma ativi-

    dade ldica de baixo custo e de fcil confeco, com a

    nalidade de auxiliar o professor a ensinar, de maneira

    dinmica, os fundamentos da gentica do sistema san-guneo ABO para alunos de ensino mdio. Desse modo,o estudante pode aprender mais facilmente, pois percebecomo o conhecimento gentico importante e eciente

    para enfrentar com rapidez e solucionar adequadamen-te uma situao de transfuso sangunea, problema que

    pode ocorrer no cotidiano das pessoas.Aspectos Importantes do Sistema Sanguineo

    ABO

    O sistema sanguneo ABO codicado por um

    dos milhares de genes encontrados no genoma huma-no. Esse sistema possui trs alelos principais: A, B e O.

    Como a espcie humana diplide, os dois alelos por in-divduo fornecem seis gentipos: AA, AO, BB, BO, AB,

    OO. Esses alelos esto em um locus gentico localizadono cromossomo 9, nos quais A e B dominam sobre O,

    porm os alelos A e B so codominantes, resultando em

    GENTICA NO COTIDIANO: O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO

    SANGUNEA

    Karine Lourenzone de Araujo Dasilio1 e Marcela Ferreira Paes1

    1- Farmacutica Bioqumica, Especialista em Biologia Celular e Citologia Clnica, Mestre em Biotecnologia e Doutoranda em Biotecnologia- Renorbio Universidade Federal doEsprito Santo Rede Nordeste de Biotecnologia-Universidade Federal do Esprito Santo

    Endereo: Rua Dois Irmos, n 100, Edifcio Rosa Giuriatto, Campo Grande,

    Cariacica, ES. CEP: 29146-0 20

    E-mail: [email protected]@gmail.com

    quatro fentipos: os grupos sanguneos A, B, AB, O.

    J foi observado que a frequncia dos grupos san-guneos varia de acordo com a populao estudada. Batis-soco e Novaretti (2003) mostraram essa variao entre os

    doadores de sangue da Fundao Pr-Sangue/Hemocen-tro de So Paulo, Brasil. Esse estudo mostrou que entreos caucasides e negrides (mulatos e negros) a preva-lncia dos tipos sanguneos acompanha a seguinte ordem:

    O>A>B>AB. Os alelos A e B codicam as glicosiltrans-ferases responsveis pela transferncia dos resduos espe-ccos de acar, N-acetil-galactosamina e N-galactosil,

    galactose terminal de uma substncia precursora, co-nhecida como substncia H, que os convertem em ant-geno A ou B, respectivamente. O alelo O um alelo nulo(no codica transferase modicadora da substncia H).

    A substncia H gerada a partir da adio de fucose cadeia de polissacardeo da superfcie das hemcias poruma fucosiltransferase. A substncia H um precursorobrigatrio para a expresso dos alelos A ou B. A fuco-siltransferase necessria para a produo da substncia Hest sob controle do gene H localizado no cromossomo19. Os antgenos ABO so, portanto, constitudos por um

    grande e nico polissacardeo ligado a lipdios ou a pro-tenas da membrana celular. Esses antgenos no estorestritos apenas membrana das hemcias, podendo serencontrados tambm em clulas como linfcitos, plaque-tas, medula ssea, mucosa gstrica, alm de secrees eoutros udos como saliva, urina e leite. Todos os indiv-duos apresentam nveis de anticorpos naturais contra an-tgenos que no estejam presentes em suas clulas. Logo,um indivduo tipo A possui anticorpo anti-B; um do tipoB possui anti-A; um do tipo O possui anti-A e anti-B, e

    um do tipo AB no possui nenhum deles.No incio dos anos 50, foi descoberto um fentiporaro na populao chamado de Bombay ou grupo falsoO. Esses indivduos possuem gentipo hh e codicam

  • 8/3/2019 GENTICA NO COTIDIANO - O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO SANGUNEA

    2/6

    31

    fucosiltransferases inativas, portanto so incapazes deproduzir os antgenos A e B. Ademais, alm dos anticor-pos anti-A e anti-B, eles apresentam grandes quantida-des de anticorpos contra substncia H, anti-H, no plasmasanguneo. A importncia clnica dos grupos sanguneosna transfuso de sangue que, se no houver compatibi-

    lidade sangunea entre os indivduos doador e receptor, pode ocorrer reao transfusional hemoltica. Hoje, oscomponentes do sangue so separados para transfuso.Classicamente, hemcias do grupo O podem ser doadas

    para todos os indivduos do sistema ABO, enquanto pes-soas do grupo AB podem receber hemcias de todos osgrupos sanguneos desse sistema. Em relao ao plasma,

    pessoas do grupo AB podem doar plasma para indivdu-os de qualquer grupo sanguneo ABO, enquanto indiv-duos do grupo O podem receber de qualquer grupo dessesistema. interessante observar que indivduos com o

    fentipo Bombay podem doar hemcias para qualquerpessoa do sistema ABO e somente recebem hemcias deindivduos com o fentipo Bombay, pois o plasma dessas

    pessoas possui anticorpos contra todos os antgenos dosistema ABO, alm do anticorpo anti-H. Vale ressaltarque, apesar do sistema ABO ser o principal na medicinatransfusional, existem outros grupos sanguneos, como

    o Rh, a serem analisados quando necessria uma trans-fuso de sangue.

    Atividade

    Nmero de jogadores: escolha do professor.Material necessrio: cartolinas de cores diferentes.Preparando o material para o jogo: 1.- so

    confeccionados quatro (04) cubos com papel carto, de

    modo que dois so reservados para a indicao do aleloH e alelo h e, os outros dois, para a indicao dos alelosA, B e O; 2.- peas representando a cadeia de polissa-cardeo na superfcie das hemcias, a fucose, a N-ace-til-galactosamina, a N-galactosil, as transferases ativasdevem ser confeccionadas. Essas peas devem conter

    encaixes que indiquem a interao dessas molculas; 3.-peas representando as transferases inativas devem serconfeccionadas sem os stios de encaixe, representando

    a falta de atividade dessas enzimas; 4.- peas represen-tando os anticorpos naturais podem ser confeccionadas

    para representar a presena dessas molculas no sangue;sugestes do formato das peas esto apresentadas.

    Como jogar: Na primeira etapa da atividade, oaluno joga os quatro (04) dados e observa os gentipos

    adquiridos. Em relao presena ou ausncia da fuco-siltransferase ativa, podem-se obter os gentipos HH, Hh

    e hh. Em relao ao sistema ABO, podem-se obter osseguintes gentipos: AA, AO, BB, BO, AB, OO. Nessa

    etapa, o aluno montar, a partir dos gentipos, o fentipo

    do grupo sanguneo, ou seja, a constituio do antgenode superfcie das hemcias. Alm disso, dever mostrarquais anticorpos naturais esto presentes no grupo san-guneo ABO montado no jogo. Durante a atividade, o

    professor pode questionar a respeito dos fundamentos degentica como alelos, gentipo, fentipo, interao g-

    nica, entre outros, alm de discutir sobre conceitos deimunologia, como antgeno e anticorpos, e a ao dessasmolculas na transfuso sangunea.

    Referncias

    1. ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; POBER, J.S. Imunologia celular e

    molecular. 3 ed. Rio de Janeiro: Revinter, p. 486. 2000.

    2. BATISSOCO AC; NOVARETTI MCZ. Aspectos moleculares

    do Sistema Sangneo ABO. Revista Brasileira Hematologia e

    Hemoterapia, v. 25, p. 47-58. 2003.

    3. GAMBERO, S. et al. Freqncia de hemolisinas anti-A e anti-B emdoadores de sangue do Hemocentro de Botucatu. Revista Brasileira

    Hematologia e Hemoterapia, v. 26(1), p. 28-34. 2004.

  • 8/3/2019 GENTICA NO COTIDIANO - O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO SANGUNEA

    3/6

    32

    Figura 1. Membrana Celular

    Figura 2. Cadeia de polissacardeo da superfcie das clulas.

    Figura 3. Carboidrato Fucose e a enzima Fucosiltransferase que liga esse carboidrato Galactose terminal

    da cadeia de polissacardeo da superfcie das clulas.

  • 8/3/2019 GENTICA NO COTIDIANO - O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO SANGUNEA

    4/6

    33

    Figura 4. Carboidrato Galactose e a enzima que liga esse carboidrato ltima Galactose da substncia H

    (cadeia de polissacardeos com uma Fucose terminal) da superfcie das clulas.

    Figura 5. Carboidrato N Acetil galactosamina e a enzima N Acetil galactosamina transferase que liga

    esse carboidrato ltima Galactose da substncia H (cadeia de polissacardeos com Fucose terminal) da superfcie

    das clulas.

    Figura 6. (A) Enzima codicada pelo alelo O. (B) Enzima Fucositransferase inativa codicada pelo alelo h.

  • 8/3/2019 GENTICA NO COTIDIANO - O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO SANGUNEA

    5/6

    34

    Figura 7. Representando os anticorpos naturais presentes no sangue.

    Figura 8. Dado representando os alelos A, B e O e o cromossomo em que se encontra o locus desses alelos.

  • 8/3/2019 GENTICA NO COTIDIANO - O SISTEMA ABO NA TRANSFUSO SANGUNEA

    6/6

    35

    Figura 9. Dado representando os alelos H e h e o cromossomo em que se encontra o locus desses alelos.

    Dicas para os Jogadores

    Relao de gentipos e fentipos do sistema ABO