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95 DIREITO À VIDA X LIBERDADE DE CONVICÇÃO RELIGIOSA: TRANSFUSÃO DE SANGUE EM TESTEMUNHA DE JEOVÁ Luciana Jorge Gomes 1 Cristiane Afonso Soares Silva 2 Alda da Silva Barreiros 3 RESUMO: A pesquisa aborda a questão do posicionamento da seita Testemunha de Jeová no que diz respeito à transfusão sanguínea, tratamento este que recusam, mesmo quando diante de iminente perigo de vida, diagnosticado pela sociedade médica, dispondo então, em nome da convicção religiosa, da própria vida ou daquela pela qual é responsável (menores, incapazes). Mediante o exposto, o artigo visa analisar a colisão entre o direito à vida e o direito à liberdade de convicção religiosa. Para tanto, buscou-se apresentar a abordagem teórica do Direito à vida e à liberdade, tendo em vista o Princípio da dignidade da pessoa humana, bem como as passagens bíblicas que fundamentam o entendimento dos pacientes fiéis da seita Testemunha de Jeová. Em seguida, discute-se a questão central, esclarecendo a colisão entre os direitos fundamentais e a aplicação do princípio da proporcionalidade perante o caso concreto e a descrição de como é aplicado. Dentre os resultados alcançados, destaca-se que, apesar de fundamental, o direito à liberdade religiosa não pode ser analisado de forma isolada, dada a sua interdependência com os direitos fundamentais e, em caso de colisão com o direito à vida, ainda que seja dever do Estado respeitar a liberdade de convicção religiosa, a vida deve ser elevada a um patamar naturalmente superior. PALAVRAS - CHAVE: Direito à vida, Direito à liberdade, Religião. 1 Acadêmica do Curso de Direito do IESI/FENORD, graduada em 2013. 2 Mestranda em Gestão Integrada de Território (UNIVALE), especialista em Ciências Jurídicas, professora de Direito Civil do IESI/FENORD. 3 Especialista em Direito Civil, professora de Direito Civil do IESI/FENORD.

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DIREITO À VIDA X LIBERDADE DE CONVICÇÃO

RELIGIOSA: TRANSFUSÃO DE SANGUE EM

TESTEMUNHA DE JEOVÁ

Luciana Jorge Gomes1

Cristiane Afonso Soares Silva2

Alda da Silva Barreiros3

RESUMO: A pesquisa aborda a questão do posicionamento da seita

Testemunha de Jeová no que diz respeito à transfusão sanguínea,

tratamento este que recusam, mesmo quando diante de iminente

perigo de vida, diagnosticado pela sociedade médica, dispondo então,

em nome da convicção religiosa, da própria vida ou daquela pela qual

é responsável (menores, incapazes). Mediante o exposto, o artigo visa

analisar a colisão entre o direito à vida e o direito à liberdade de

convicção religiosa. Para tanto, buscou-se apresentar a abordagem

teórica do Direito à vida e à liberdade, tendo em vista o Princípio da

dignidade da pessoa humana, bem como as passagens bíblicas que

fundamentam o entendimento dos pacientes fiéis da seita Testemunha

de Jeová. Em seguida, discute-se a questão central, esclarecendo a

colisão entre os direitos fundamentais e a aplicação do princípio da

proporcionalidade perante o caso concreto e a descrição de como é

aplicado. Dentre os resultados alcançados, destaca-se que, apesar de

fundamental, o direito à liberdade religiosa não pode ser analisado de

forma isolada, dada a sua interdependência com os direitos

fundamentais e, em caso de colisão com o direito à vida, ainda que

seja dever do Estado respeitar a liberdade de convicção religiosa,

a vida deve ser elevada a um patamar naturalmente superior.

PALAVRAS - CHAVE: Direito à vida, Direito à liberdade, Religião.

1 Acadêmica do Curso de Direito do IESI/FENORD, graduada em 2013. 2 Mestranda em Gestão Integrada de Território (UNIVALE), especialista em

Ciências Jurídicas, professora de Direito Civil do IESI/FENORD. 3 Especialista em Direito Civil, professora de Direito Civil do IESI/FENORD.

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ABSTRACT: The research approaches the question of positioning the

sect Jehovah's Witness with respect to blood transfusion, this

treatment, that refusal, even when faced with imminent danger to life,

diagnosed by the medical society, disposing then, in name of religious

conviction, own life or that by which it is accountable (minors,

incapable). By the above, the article aims analyze the collision between

and the right to freedom of religious conviction. To this end, we sought

to present the theoretical approach of the Right to life and liberty, in

view of the Principle of human dignity, as well as the biblical passages

that support the understanding of the faithful patients of sect Jehovah

Witness. Then, discusses the central question, clarifying the collision

between fundamental rights and the principle of proportionality to the

case and the description of how it is applied. Among the results, it is

emphasized that, although fundamental, the right to religious freedom

can’t be analyzed separately, given their interdependence with the

fundamental rights and, in case of collision with right to life, even

though it is the duty of the State to respect the freedom of religious

conviction, the life should be elevated to a higher level naturally.

KEYWORDS:

Right to life, right to liberty, religion.

1 INTRODUÇÃO

É relevante, e porque não dizer, preocupante, a polêmica

envolvendo o posicionamento da seita Testemunhas de Jeová, no

que diz respeito à transfusão sanguínea, tratamento este que

recusam, mesmo quando diante de iminente perigo de vida,

diagnosticado pela sociedade médica, dispondo então, em nome da

convicção religiosa, da própria vida ou daquela pela qual é

responsável (menores, incapazes).

Assim, justificada está a relevância deste trabalho, que tem como

tema a recusa de transfusão de sangue nos pacientes a d e p t o s d a

seita Testemunha de Jeová embasados, unicamente, em convicção

religiosa. A pesquisa analisa a colisão entre a busca de uma vida digna

e os direitos fundamentais, a saber, o direito à vida – indisponível,

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inviolável, porém não absoluto e o direito à liberdade de convicção

religiosa.

A recusa a transfusão sanguínea por motivo religioso gera uma

série de consequências que tornam o tema objeto de estudo dessa

pesquisa, merecedor de atenção no âmbito jurídico, das academias aos

tribunais, uma vez que envolve direitos à liberdade, à vida e ao

princípio da dignidade humana, pressupostos intimamente ligados ao

ser humano e protegidos constitucionalmente.

Como a Constituição garante a liberdade de crença religiosa

como um direito fundamental, bem como o direito à vida, no caso da

recusa transfusional, perante iminente risco de vida, criado está o

conflito de interesses entre estes princípios fundamentais.

Diante desses conflitos principiológicos, a solução encontrada

por muitos autores é a utilização da técnica de ponderação de

interesses, técnica esta que atribui pesos a princípios conflitantes na

decisão entre quais prevalecerão.

A dificuldade em orientação jurídica pela qual passam a

maioria dos autores consiste no fato de não existir nenhuma

previsão legal referente à transfusão de sangue, bem como o fato

dos direitos individuais de hierarquia constitucional somente

poderem ser limitados por expressa disposição constitucional ou por

meio de lei ordinária, promulgada com fundamento imediato na

própria constituição, fazendo assim com que surja a necessidade da

prestação jurisdicional a fim de que seja feita uma interpretação dos

valores e elementos envolvidos nessa questão, na busca da solução

ao conflito existente.

Dessa forma, para tratar o problema central da pesquisa, o

artigo aborda primeiramente o direito à vida e à liberdade religiosa,

passando em seguida a apresentar as passagens bíblicas que

fundamentam o entendimento dos pacientes Testemunhas de Jeová.

A terceira seção do trabalho trata de forma específica o tema

central, buscando a elucidação da colisão entre os dois direitos

fundamentais referidos e focalizando a aplicação do princípio da

proporcionalidade perante o caso concreto e como ele é aplicado.

E por fim, de forma sucinta, é tratada a responsabilidade

médica diante da transfusão de sangue contra a vontade do

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paciente, considerando-se o dever médico legal de primar pela vida.

Na última parte, apresentam-se os resultados alcançados que

certamente não se apresentam como soluções definitivas, mas trazem

apontamentos sobre os aspectos jurídicos em questão, analisando,

tanto o posicionamento jurisprudencial; doutrinário e médico; quanto

as convicções pessoais e religiosas dos pacientes e seus familiares,

contribuindo, assim, para o fomento do tema, dada a sua

relevância, vez que envolve valores basilares da sociedade

contemporânea trazidos pelos princípios constitucionais da

liberdade e da dignidade.

2 OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

2.1 O direito à vida

Assim como a igualdade perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, prevista no caput do art. 5º da Constituição Federal

de 1988, juntamente com a inviolabilidade do direito à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade, a inviolabilidade do direito à

vida, suporte indispensável para que sejam usufruídos todos os

direitos existentes no nosso ordenamento, é garantida a todos os

brasileiros e estrangeiros residentes no país.

Bulos ensina que:

Seu significado é amplo, porque ele se conecta com

outros, a exemplo dos direitos à liberdade, à igualdade,

à dignidade, à segurança, à propriedade, à alimentação,

ao vestuário, ao lazer, à educação, à saúde, à habitação,

à cidadania, aos valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa (BULOS, 2007, p. 410)

A garantia de direito fundamental à vida permite dizer que ela

é inviolável, ou seja, tanto o Estado de Direito quanto os particulares

devem se privar da realização de procedimentos que possam atentar

contra o direito à vida.

Em regra, a humanidade compartilha o sentimento de que a vida

é um bem de valor inestimável. Ocorre, porém, que mesmo sendo

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reconhecido como o mais importante dos direitos fundamentais,

admite-se também que, como qualquer outro direito, ele não é

absoluto, assim, são consideradas hipóteses em que a inviolabilidade

pode ser afastada para contemplar outros interesses. Assim, tem-se

que ele não é soberano, nem sempre prevalecerá sobre os demais

direitos, a depender do caso concreto.

Nas palavras de Walber de Moura Agra:

Como nenhum direito é absoluto, podendo ser

restringido ou até mesmo retirado em razão de

relevante interesse público, o direito à vida sofre

exceção em caso de guerra declarada, havendo a

tipificação dos crimes de deserção ou traição ( AGRA,

2006, p. 115).

É destaque do Supremo Tribunal Federal

Reputou inquestionável o caráter não absoluto do direito

à vida ante o texto constitucional, cujo art. 5º, XLVII,

admitiria a pena de morte no caso de guerra declarada

na forma do seu artigo 84, XIX. No mesmo sentido,

citou previsão de aborto ético ou humanitário como

causa excludente de ilicitude ou antijuricidade no

Código Penal, situação em que o legislador teria

priorizado os direitos da mulher em detrimentos dos do

feto. Recordou que a proteção ao direito à vida

comportaria diferentes gradações, consoante o que

estabelecido na ADI 3510/DF. (STF – Pleno – ADPF

54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, decisão: 11 e 12-4-

2012, Informativo STF nº 661).(BRASIL, STF, 2012).

A ideia atual trazida pelos direitos humanos exalta a dignidade,

de modo que, sob a obrigação de zelo e respeito, todo o sistema

estatal esteja vinculado ao princípio da dignidade humana.

Nesse sentido, diz Ingo Wolfang Sarlet,

Pautado no direito à vida, a dignidade da pessoa

humana é o direito fundamental mais fortemente

empregado da visão ideológica e política. Por isso, o

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preceito da dignidade da pessoa humana causa

especiais dificuldades que resultam não apenas dos

enraizamentos religiosos, filosóficos e históricos da

dignidade da pessoa humana, como também da

dependência da respectiva situação global

civilizacional e cultural sociedade ( SARLET, 2005,

p. 159).

A cada ser humano deve-se reconhecer a dignidade da

pessoa humana, fazendo assim, com que cada pessoa seja alvo

de respeito e valorização pelo Estado e pela sociedade em geral,

gerando direitos e deveres fundamentais para que seja levada a

efeito a proteção da pessoa ante qualquer ato que possa inviabilizar

a existência de condições básicas para uma vida benéfica perante

a sociedade.

Dito isso, conclui-se que é de extrema importância o

uso correto dos meios disponíveis para a efetivação e gozo dos

direitos garantidores da dignidade da pessoa.

2.2 Do direito à liberdade religiosa

Instalada na primeira geração de direitos fundamentais, a

liberdade é um adjetivo que diferencia a homem de todos os outros

seres existentes no planeta, indispensável para efetivação desses

direitos, impulsionando o cidadão brasileiro a lutar por aquilo que

acredita desde que, é claro, não prejudique a liberdade de outros.

Decorre da liberdade, os direitos à liberdade de expressão, de

pensamento, de propriedade e finalmente, liberdade religiosa.

A liberdade religiosa foi tutelada no artigo 10 da Declaração

dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, disfarçada de

liberdade de opinião, ao dizer que “ninguém deve ser inquietado por

suas opiniões, mesmo religiosas, desde que sua manifestação não

perturbe a ordem pública estabelecida pela lei” (FERREIRA

FILHO, p.13).

No mesmo sentido, o Brasil em sua Constituição de 1967

protegia a liberdade religiosa, contanto que não atentasse contra a

ordem pública e os bons costumes.

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A liberdade de crença, assegurada pela Constituição de 1988,

compreende a liberdade de optar por uma religião, de apoiar-se em

alguma seita religiosa, de mudar, caso queira, de religião, bem como a

liberdade de descrença, assim entendida como a liberdade de não se

firmar, de não ter apoio espiritual de religião alguma, de ser ateu ou

expressar o agnosticismo. No entanto, ela não permite que se atrapalhe

o exercício da religião, de crença de outra pessoa, pois a liberdade só

se estende até onde não interfira na liberdade dos outros. Já a liberdade

de culto, diz respeito à liberdade de cultuar o deus no qual se crê, cada

religião, cada seita à sua maneira. E por último, a liberdade de

organização religiosa, pressupõe a possibilidade de fundação e

organização das igrejas e seus vínculos com o Estado.

A liberdade leva a entender que o ser humano é quem

escolhe como deve agir. Tanto é que em meio a seus valores e entre

as diversas condutas de serem por ele concretizadas através de suas

ações, opta pela prática daquelas que mais condizem com aquilo que

realmente deseja. Entendido dessa forma, nota-se que a liberdade,

em conjunto com a igualdade, é fonte da democracia, uma vez

que apesar da autoridade do regime, o indivíduo tem a possibilidade

de manifestar a sua personalidade. Nas palavras de Norberto

Bobbio, “a maior ou menor democraticidade de um regime se

mede precisamente pela maior ou menor liberdade de que

desfrutam os cidadãos e pela maior ou menor igualdade existente

entre eles”( BOBIO, 1996, p.7).

Apesar de breves, importantes se fazem os esclarecimentos

prestados sobre a Liberdade religiosa, visto que a problemática desse

trabalho consiste em ponderar a aplicação dos direitos fundamentais

à vida e à liberdade religiosa, e pelo que se percebe, a recusa das

Testemunhas de Jeová se pauta nessa liberdade garantida pela nossa

Constituição, do contrário, dúvida nenhuma se teria de que o certo é

sempre optar pela vida, bem maior protegido pelo Estado.

2.3 Do princípio da dignidade da pessoa humana

Inicialmente, cumpre dizer que a dignidade da pessoa humana,

dada a impossibilidade de conceito universal, portanto, analisada

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num contexto histórico- cultural é, além de o ápice do sistema

jurídico brasileiro, irrenunciável e inalienável, um elemento

qualificador do ser humano, do qual emana a necessidade de respeito

à integridade física, psíquica e intelectual do indivíduo. Assim, diz-

se que não pode ser postulada, mas tem o dever de ser garantida,

reconhecida, protegida e efetivada, não podendo de forma alguma ser

retirada do ser humano, uma vez que faz parte de si.

A dignidade do homem é intangível. Respeitá-la e protegê-la é

obrigação de todo poder público. Conforme coloca Luiz Alberto

David Araújo:

[...] a expressão dignidade da pessoa humana tem

um forte conteúdo moral, mas os autores

constitucionalistas procuram deixar claro que não foi

esse aspecto que o legislador pretendeu evidenciar. O

que se buscou enfatizar foi o fato de o Estado ter,

como um de seus objetivos, proporcionar todos os

meios para que as pessoas possam ser dignas.

(ARAÚJO, 2000, p. 102).

Por serem valores inerentes a cada pessoa, é no campo

intersubjetivo que a dignidade da pessoa humana e os direitos

fundamentais encontrarão efetividade da proteção e reconhecimento

que lhes é dado no âmbito jurídico, devendo para tanto, obviamente,

utilizar-se da cautela para que os direitos de uns não se sobreponham

aos de outros, evitando o que chamamos de desigualdade por parte

do Estado e da Sociedade.

No que diz respeito à valorização dada aos direitos

humanos e fundamentais, Sarlet acrescenta

O que se percebe, em última análise, é que onde não

houver respeito pela vida e pela integridade física e

moral do ser humano, onde as condições mínimas

para uma existência digna não forem asseguradas,

onde não houver limitação de poder, enfim, onde a

liberdade e a autonomia, a igualdade (em direitos e

dignidade) e os direitos fundamentais não forem

reconhecidos e minimamente assegurados, não

haverá espaço para a dignidade da pessoa humana e

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esta (a pessoa), por sua vez, poderá não passar de

mero objeto de arbítrio e injustiças ( SARLET, 2000,

p. 61).

Um fator essencial ao gozo do termo dignidade é a autonomia,

que nada mais é do que o poder que cada ser humano traz consigo de

fazer suas próprias escolhas, de se autodeterminar, encontrado no art.

1º da Declaração Universal da ONU de 1948, perante o qual “todos

os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”,

bem como o que garante a nossa Constituição Federal de 1988,

ao expor que “todos são iguais perante a lei”.

A dignidade pode por um ângulo ser considerada um meio de

expressar a autonomia inerente a cada ser humano e por outro

necessita da proteção da comunidade ou do Estado ocorrendo a

possibilidade de o indivíduo não se encontrar em plenas condições

de exercê-la por si mesmo, ou mesmo quando preciso for a ajuda do

Estado para que seja efetivada em sua totalidade.

Considerando-a como princípio fundamental que é, a

dignidade da pessoa humana faz nascer direitos subjetivos que

semelhantemente a ela devem ser respeitados e causados pelo

Estado e até mesmo por particulares, “seja pelo reconhecimento de

direitos fundamentais específicos, seja de modo autônomo,

igualmente haverá de se ter presente a circunstância de que a

dignidade implica também [...] a existência de um dever geral de

respeito [...]” (SARLET, 2002, p. 115).

E como direito subjetivo, passaremos à análise do

direito de liberdade religiosa.

3 RECUSA À TERAPIA TRANSFUSIONAL POR

MOTIVAÇÃO RELIGIOSA

3.1 Justificativa religiosa

Baseado em singular interpretação bíblica, sustentam as

Testemunhas de Jeová que ao receber sangue de outro indivíduo ou

de seus componentes primários, bem como coleta e armazenamento

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pré-operatório de sangue para reinfusão, proibidos pela lei divina e se

desobedecida, serão consideradas impuras em seu meio social, isso

com base na interpretação dos ensinamentos bíblicos, um

ordenamento, que segundo a crença dos testemunhos, foi dado à

humanidade desde a origem do homem e por diversas outras ocasiões.

Afirmam que seu posicionamento diante da recusa em

transfundir sangue, nada tem a ver com suicídio ou mesmo

eutanásia, uma vez que para eles um ser humano que decide morrer

não procura atendimento hospitalar para ser tratado dessa ou daquela

forma, pelo contrário, fica em casa, consciente de sua

necessidade de procurar tratamento, porém inerte, aguardando tão-só

a hora da morte. O que desejam, segundo o que entendem, é a

submissão a tratamento alternativo, mas como a medicina ainda não

dispõe de alternatividade para todos os casos, eis que surge o choque

entre os direitos fundamentais.

Assim, percebe-se a gravidade da escolha a ser feita pelos

médicos: respeita- se a autonomia de vontade do paciente ou intenta-

se salvar a vida?

4 COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS: DIREITO

À VIDA X LIBERDADE DE CONVICÇÃO RELIGIOSA

4.1 Princípio da proporcionalidade

É relevante e porque não dizer, preocupante, a discussão

do tema nas áreas jurídica, social e também religiosa, quando é feita

uma análise do número de pessoas integrantes dessa religião.

Segundo o Ano de Serviço de 2011, as Testemunhas de Jeová

tiveram um auge de 7.659.019, sendo adeptos em 236 países e

territórios autônomos; estima-se que só nos últimos dez anos mais de

três milhões de pessoas foram batizadas, uma média de cinco mil

novos membros por semana. No Brasil, que é considerado na

atualidade um dos países com maior número de Testemunhas de

Jeová, somam 742.425 pessoas, que se distribuem em 10.926

congregações. Como não ter cautela na busca de soluções, se não

pacíficas, no mínimo mais adequadas a um possível conflito de

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direitos e interesses que pode surgir da imposição das convicções

religiosas desse grupo tão abrangente em nosso país?

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seu

artigo 16 exprime que: “Não tem Constituição a sociedade na qual

não são assegurados os direitos (fundamentais) nem estabelecida

separação dos poderes”.

Aceitar o Estado como tutor e garantidor da observância dos

direitos fundamentais tidos como indisponíveis, função esta que

exerce através da emissão de leis positivas que devem ser obedecidas,

não simplifica a problemática a que este trabalho se propõe. Sábios

os dizeres de François Ewald (1993, p.790), ao expressar “o direito

não é uma lei”, “... a vontade do legislador se revela como sendo

expressão da dominação temporária de uma maioria”, e por assim

dizer, a vontade da lei pode não mais corresponder à vontade da

sociedade, que evidentemente, com o avanço temporal, e

consequentemente, com as descobertas tecnológicas passou a

compartilhar valores diferentes.

Enfim, fato é que a lei não acompanha os princípios

sociais em tempo real.

O que temos de concreto, é que a lei não pode ser vista como única

fonte normativa. Pacífico é o entendimento de que os princípios

incorporados à ordem jurídica possuem força normativa. O Estado

deixa de ser apenas de Direito, levando consigo o papel e a

nomenclatura de Estado Democrático de Direito.

Face isso, é fácil afirmar que a atividade da hermenêutica do

direito para resolução de casos concretos vai além da

aplicabilidade de uma lei retirada do nosso ordenamento jurídico.

É preciso ponderação de princípios e definição de prevalência em

cada caso específico.

É preciso uma cautela em “dizer o direito”, para que assim

possam ser evitados abusos e distorções, sob a falsa invocação de

argumentos que trazem consigo fundamentos exclusivamente

estatais. E da mesma forma que inúmeras atrocidades já foram

cometidas de forma legal, uma violação ao direito de recusa a

tratamentos por meio de transfusões de sangue pelas Testemunhas de

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Jeová pode ensejar violações aos direitos de qualquer pessoa em

recusar outro tratamento de saúde futuramente.

O vocábulo “proporcional” é utilizado em seu sentido

real, de equilíbrio, harmonia, ponderação entre dois interesses

conflitantes diante de um caso concreto.

A possível colisão de direitos surge exatamente quando

a opinião daqueles que defendem a recusa invocando direitos como

direito à vida digna, à liberdade expressa em nossa Constituição, a

não obrigação de fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de

lei e a existência de tratamentos alternativos diverge com opinião

daqueles que repelem a recusa ao tratamento hemoterápico, trazendo

fundamentos como o direito à vida biológica ser considerado

irrenunciável, não se confundindo, portanto, com uma mera

liberdade, e, consequentemente, nele não se incluindo o direito de

optar por não viver e, ainda, ser a necessidade de transfusão de

sangue um respeito à própria vida, visto que nem sempre é possível a

aplicabilidade das alternativas existentes à transfusão sanguínea.

Enfim, ocorre no exato momento em que um direito fundamental

interfere diretamente no âmbito de proteção do outro.

É de bom alvitre salientar que, inexiste regra geral a ser

observada em todas as situações de conflito. Havendo um impasse,

deve-se aplicar o princípio da concordância prática ou da

harmonização. Somente no caso concreto promover-se- á a

conciliação dos direitos.

O princípio em comento se fundamenta na Constituição

Federal em seus artigos 5º, II, 37 e 84, IV, no princípio da legalidade.

Aquele mesmo princípio, segundo Nishiyama (2012, p. 115) quer

dizer: O princípio da proporcionalidade está relacionado

com a relação adequada entre um ou vários fins da

norma e os meios utilizados para a consecução

daquele (s). Haverá violação da regra da

proporcionalidade, com a ocorrência de arbítrio,

sempre que os meios destinados a lograr determinado

fim não forem apropriados e/ou quando houver

desproporção manifesta entre os meios e o fim. Na

relação meio-fim deve-se sempre controlar o

excesso.

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Utilizar do princípio da proporcionalidade como forma de

ponderar os direitos fundamentais deve ser ato a ser realizado diante

de um caso concreto, onde se possa visualizar uma colisão entre esses

mesmos direitos, sem que se faça necessária a concordância entre si,

como é o caso do tema tratado nesse trabalho, a recusa da transfusão

de sangue pelas pessoas aderentes da religião Testemunhas de

Jeová.

E por inexistir hierarquia entre os direitos fundamentais, dada

a dignidade semelhante entre as normas, decorrente do princípio da

unidade da Constituição, surge a problemática do tema em estudo,

vez que quando provocado o Judiciário, a solução fica a cargo do

julgador, que provavelmente se atentará para a ponderação dos bens

envolvidos no litígio, pautado no princípio da proporcionalidade e

razoabilidade.

Partindo da premissa de que não há hierarquia entre normas e

princípios constitucionais, pergunta-se: o que fazer quando dois ou

mais princípios se colidem? O Estado, garantidor dos direitos

fundamentais, pode permitir que um indivíduo disponha de sua vida

em prol da dignidade humana ou mesmo de um fundamento

religioso?

Na prática, ao utilizar-se do princípio da proporcionalidade,

isso não significa descarte daquele direito que foi sobreposto. O

que ocorre, na verdade, é que devido às circunstâncias do caso

concreto, dos cuidados que ele requerer, deve ser buscada a

harmonia e equilíbrio entre ambos. No momento da decisão, para

aqueles que acreditam que o direito à vida é primordial, a

dignidade se encontra presente nele, sem que se negue o direito à

liberdade religiosa.

A ponderação consiste, portanto, em uma técnica de decisão

jurídica aplicável a casos difíceis, em relação aos quais a

subsunção se mostrou insuficiente, especialmente quando uma

situação concreta dá ensejo à aplicação de normas de mesma

hierarquia que indicam soluções diferenciadas. A estrutura interna do

raciocínio ponderativo ainda não é bem conhecida, embora esteja

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sempre associada às noções difusas de balanceamento e sopesamento

de interesses, bens, valores ou normas (BARROSO).

A questão principal discutida é a dignidade da pessoa

humana sob o ponto de vista daquela pessoa envolvida, quais as

consequências da aplicação de um princípio em detrimento do outro

pode ocasionar àquela pessoa, dentre elas sua aceitação ou não em

seu seio de convivência; seu pensamento futuro quanto a si mesmo,

uma vez que poderá ou não ser visto como transgressor das leis

divinas, uma vez certos valores estão tão profundamente ligados a

um determinado grupo, de modo que, a sua inobservância

representa uma afronta à honra subjetiva daquelas pessoas, um

verdadeiro desrespeito de foro íntimo.

4 A RESPONSABILIDADE MÉDICA DIANTE DA

TRANSFUSÃO DE SANGUE CONTRA A VONTADE DO

PACIENTE POR MOTIVO DE CRENÇA RELIGIOSA

4.1 - Dever de zelar pela vida do paciente

No tocante à responsabilização do médico, na esfera do direito

penal, a atitude de realizar o tratamento em paciente pertencente à

religião Testemunha de Jeová, verificado o risco de vida, ainda que

tal paciente traga consigo documento que expresse sua recusa

quanto ao procedimento transfusional, não há de ser considerada

crime de constrangimento ilegal, previsto no código penal em seu

artigo 146. Nesse diapasão, nos diz Rogério Greco:

Na hipótese de ser imprescindível a transfusão de

sangue, mesmo sendo a vítima maior e capaz, em

caso de recusa, tal comportamento deverá ser

encarado como uma tentativa de suicídio, podendo o

médico intervir, inclusive sem o seu consentimento,

uma vez que atuaria amparado pelo inciso I do § 3º

do art. 146 do Código Penal, que diz não se

configurar constrangimento ilegal a intervenção

médica ou cirúrgica, sem o consentimento do

paciente ou de seu representante legal, se justificada

por iminente perigo de vida. (GRECO, 2008, p. 401).

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É complemento do renomado Pedro Lenza,

[...] se estiver o médico diante de urgência ou perigo

iminente, ou se o paciente for menor de idade, pois,

fazendo uma ponderação de interesses, não pode o

direito à vida ser suplantado diante da liberdade de

crença, até porque, a Constituição não ampara ou

incentiva atos contrários à vida. (LENZA, 2009, p.

208).

Encontra-se no teor do Código de Ética Médica a exigência de

que o médico, no exercício de seu dever legal, mesmo diante de

impedimento embasado em consciência religiosa, faça uso do

tratamento mais adequado à conservação da vida e saúde do paciente.

Assim, justificada a necessidade de suprimento de consentimento

judicial. Vê-se no supracitado código:

É vedado ao médico:

Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente

ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre

o procedimento a ser realizado, salvo em caso de

risco iminente de morte.

Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu

representante legal de decidir livremente sobre a

execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas,

salvo em caso de iminente risco de morte.

Ora, NESSA DIREÇÃO preservar as convicções religiosas É

dispor do bem maior a ser protegido pelo ordenamento jurídico: O

direito à vida. DESSA FORMA partindo do princípio lógico de que

sem A VIDA nenhum outro direito se faz possível, A PROIBIÇÃO

DA INTERVENÇÃO MÉDICA NO CASO EM TELA não se

justifica.

O que se percebe, portanto, é que além do risco iminente de

vida, ALGUNS pacientes que não podem, mesmo que

momentaneamente, manifestarem o seu desejo de optar ou não pela

transfusão sanguínea, ASSIM SENDO, é dever do médico

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primar pela vida do paciente, sem que se leve em consideração a

crença religiosa.

5 CONCLUSÃO

A meta do estudo apresentado foi a recusa dos testemunhos de

Jeová por motivo religioso ao tratamento de sangue e os conflitos que

essa privação faz nascer entre os direitos fundamentais, quando essa

recusa ocorre diante de iminente perigo de vida, por maior capaz

ou representante legal de menor ou incapaz, já que quando não

há perigo, a vontade do paciente prevalece.

O trabalho monográfico tem início com o estudo dos direitos

à vida e à liberdade religiosa, direitos esses consagrados

fundamentais pela Constituição de 1988 e apesar de assim serem,

não são absolutos, podendo, no caso demonstrado no

desenvolvimento textual, o direito à liberdade religiosa sofrer

privações quando concretizado o descumprimento de obrigação legal

imposta a todos os conviventes em sociedade, bem como das

prestações alternativas fixadas em lei ou quando para ser exercido

ameaçarem o direito à vida, uma vez que não há como dissociar o

princípio da liberdade do princípio da legalidade, pois se

complementam quando diante de um flagrante desrespeito à vida.

Avançando, foram colocados os motivos, passagens bíblicas

invocadas pelas Testemunhas de Jeová para justificarem sua

incontestável recusa diante do tratamento com sangue ou de seus

componentes primários na idealização do princípio da liberdade e da

dignidade da pessoa humana, mesmo considerando que, sem a vida,

qualquer outro direito poderá surgir.

No tocante à dignidade humana, conclui-se que ela deve ser

reconhecida individualmente, de forma que cada ser humano seja

merecedor de valorização pelo Estado e pela sociedade no âmbito de

convivência.

Ele invoca um complexo de direitos e deveres fundamentais a

serem protegidos contra qualquer ato que possa intervir nas

condições mínimas para uma vida saudável e democrática. Quando

todos os aspectos inerentes a esse princípio são devidamente

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considerados, é possível afirmar que é um princípio fundamental à

existência e que dele decorrem o direito à vida e à liberdade religiosa.

É conclusivo também que, apesar de fundamental, o direito à

liberdade religiosa não pode ser analisado de forma isolada, dada a

sua interdependência com os direitos fundamentais e, em caso de

colisão com o direito à vida, ainda que seja dever do Estado respeitar

a liberdade de convicção religiosa, a vida deve ser elevada a um

patamar naturalmente superior.

Dessa colisão, buscando a solução, quando provocado o

judiciário, conclui-se pela aplicação do princípio da

proporcionalidade, com uso de técnicas que melhor se adequem ao

caso, onde, indiscutivelmente, o valor que mais pesa na balança de

pesos e medidas é o direito à vida, que dá lugar a todos os

outros direitos protegidos e reconhecidos constitucionalmente, no

mais, impensável seria o descarte da vida por motivos religiosos na

visão ocidental de um país laico.

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