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73 CAPÍTULO 1 - EDUCAÇÃO GÊNERO E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE INTERPRETAÇÃO DE GÊNERO E DISCRIMINAÇÃO NO MAGISTÉRIO FEMININO EM ESCOLAS PÚBLICAS DO PARANÁ Marcia Maria Lopes de Souza - SEED Sueli Aparecida Lopes Braga - SEED Marli de Lourdes Verni - UEL INTRODUÇÃO A escolha deste tema veio ao encontro de preocupações e questionamentos acerca das perspectivas nas relações de gênero, na tentativa de superar preconceitos e discriminação no que concerne a diversos aspectos da sociedade humana que tanto desfavorecem as mulheres. Já é sabido que, nas as relações de poder da vida social, nas mensagens subliminares contidas nos currículos escolares, nos livros didáticos, a mulher ocupa um papel de desprestígio nos espaços públicos ou mesmo nas áreas privadas. Perpetua-se ao longo do tempo a lógica masculina na sociedade de diversas formas, através da literatura, da imprensa, das artes, das leis e nas práticas no mercado de trabalho e na vida cultural da sociedade ocidental. Existe, segundo CARVALHO (1999), na sociedade ocidental, uma prática discriminatória arraigada nas manifestações culturais onde mulheres são desfavorecidas constantemente nas relações sociais, e no mercado de trabalho, a mulher continua recebendo salários mais baixos do que os homens, mesmo desempenhando funções semelhantes. Continuam sendo desfavorecidas nas esferas de poder ou nos postos de comando e tomada de decisões, quer nas práticas religiosas quer mesmo, na educação formal processada nas escolas. A condição da mulher inspira análise, ainda que os atuais direitos civis e humanitários coloque um mesmo nível de igualdade as relações sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas nas relações homens e mulheres, na realidade prevalece o mando masculino. Verifica-se no nosso dia a dia, no mundo das leis e dos negócios, que o mando ainda é predominantemente masculino, o que estabelece um olhar, um sentir e um agir exclusivamente sob o pensamento do HOMEM. Prevalece então, à lógica masculina, um predomínio discriminatório. (GENRO, 2008, p. A3) Partindo-se da suposta crença da mulher submissa, explorada e subjugada por homens que são: patrões, pais, companheiros, maridos, filhos ou demais cidadãos comuns, pois estas são permanências na prática das atuais relações humanas, este estudo analisa essa realidade a partir da percepção de mulheres (professoras) em três escolas públicas do Estado do Paraná, e com base nesses dados, sugerir políticas públicas destinadas à superação da discriminação e preconceitos contra o gênero feminino. 1 ASPECTOS TEÓRICOS Segundo dados do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, nós não podemos comemorar justiça e igualdade de gênero, pois em nosso país de maioria populacional católica, 52% da população feminina usufrui de escolarização média, persistindo índices desfavoráveis à vida da mulher brasileira. Centenas de milhares de mulheres são vítimas de violência doméstica e cerca de 20% das mulheres brasileiras já sofreram alguma forma de discriminação ou de preconceito de gênero. Geralmente as maiores vítimas de preconceitos e discriminação são as

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73Capítulo 1 - eduCação

Gestão de polítiCas públiCas no paraná

GÊNERO E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE INTERPRETAÇÃO DE GÊNERO E DISCRIMINAÇÃO NO MAGISTÉRIO FEMININO EM

ESCOLAS PÚBLICAS DO PARANÁ

Marcia Maria Lopes de Souza - SEEDSueli Aparecida Lopes Braga - SEED

Marli de Lourdes Verni - UEL

INTRODUÇÃO

a escolha deste tema veio ao encontro de preocupações e questionamentos acerca das perspectivas nas relações de gênero, na tentativa de superar preconceitos e discriminação no que concerne a diversos aspectos da sociedade humana que tanto desfavorecem as mulheres. Já é sabido que, nas as relações de poder da vida social, nas mensagens subliminares contidas nos currículos escolares, nos livros didáticos, a mulher ocupa um papel de desprestígio nos espaços públicos ou mesmo nas áreas privadas. perpetua-se ao longo do tempo a lógica masculina na sociedade de diversas formas, através da literatura, da imprensa, das artes, das leis e nas práticas no mercado de trabalho e na vida cultural da sociedade ocidental.

existe, segundo CarValHo (1999), na sociedade ocidental, uma prática discriminatória arraigada nas manifestações culturais onde mulheres são desfavorecidas constantemente nas relações sociais, e no mercado de trabalho, a mulher continua recebendo salários mais baixos do que os homens, mesmo desempenhando funções semelhantes. Continuam sendo desfavorecidas nas esferas de poder ou nos postos de comando e tomada de decisões, quer nas práticas religiosas quer mesmo, na educação formal processada nas escolas. a condição da mulher inspira análise, ainda que os atuais direitos civis e humanitários coloque um mesmo nível de igualdade as relações sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas nas relações homens e mulheres, na realidade prevalece o mando masculino.

Verifica-se no nosso dia a dia, no mundo das leis e dos negócios, que o mando ainda é predominantemente masculino, o que estabelece um olhar, um sentir e um agir exclusivamente sob o pensamento do HoMeM. prevalece então, à lógica masculina, um predomínio discriminatório. (Genro, 2008, p. a3)

partindo-se da suposta crença da mulher submissa, explorada e subjugada por homens que são: patrões, pais, companheiros, maridos, filhos ou demais cidadãos comuns, pois estas são permanências na prática das atuais relações humanas, este estudo analisa essa realidade a partir da percepção de mulheres (professoras) em três escolas públicas do estado do paraná, e com base nesses dados, sugerir políticas públicas destinadas à superação da discriminação e preconceitos contra o gênero feminino.

1 ASPECTOS TEÓRICOS

segundo dados do Conselho nacional dos direitos da Mulher, nós não podemos comemorar justiça e igualdade de gênero, pois em nosso país de maioria populacional católica, 52% da população feminina usufrui de escolarização média, persistindo índices desfavoráveis à vida da mulher brasileira. Centenas de milhares de mulheres são vítimas de violência doméstica e cerca de 20% das mulheres brasileiras já sofreram alguma forma de discriminação ou de preconceito de gênero. Geralmente as maiores vítimas de preconceitos e discriminação são as

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mulheres pobres, negras, indígenas ou portadoras de necessidades especiais. (assoCiação de proFessores do paraná – app, 2006)

no mercado de trabalho, existem mulheres exercendo a mesma função que homens e recebendo salários menores. em especial, as profissões cuja maioria é desempenhada por mulheres, percebem salários menores como, por exemplo, professoras da educação básica do ensino Fundamental e Médio, o foco deste estudo.

no brasil, em especial, existe uma tolerância com índices preocupantes de violência doméstica, prostituição infantil, mortalidade materna ou com o número crescente de mulheres heterossexuais, sendo vítimas da aids, por exemplo.

Considera se a participação política das mulheres de forma incipiente, e as políticas públicas existentes não têm dado conta de inserir cultural, social e economicamente a participação feminina na perspectiva da consciência do respeito, da igualdade e justiça à mulher na sociedade capitalista atual.

À luz das reflexões do ConselHo naCional dos direitos das MulHeres – CediM (2005) deve-se rever esta cidadania considerada de segunda classe, de segunda grandeza, mantida sob a ética masculina que tem se mostrado desigual e discriminatória, cuja mentalidade tem se perpetuado.

originalmente, as questões de gênero são abordagens relativamente novas. no brasil, data da década de 40 para cá, o entendimento de que os papéis de gênero são construídos sobre as diferenças biológicas, sendo produto histórico das atitudes e práticas discriminatórias.

ocorria uma subordinação da mulher, mantida sobre o controle e a dependência do homem; esta relação podia ser sexual, de posição hierárquica, cultural, histórica e nas relações de trabalho etc.

Havia uma desigualdade quanto às mulheres que desempenhavam o trabalho no espaço do lar. estas, muitas vezes, eram invisíveis. suas atividades reprodutivas e produtivas não eram remuneradas, portanto, não eram valorizadas monetariamente.

segundo autores como: Vianna; silVa (1999, p. 11); Vianna; silVa (2008, p. 14),

as diferenças entre os indivíduos são explicadas pelo determinismo biológico, como se caracterizar homens e mulheres como seres distintos, baseado nas diferenças de sexo. esta concepção não se sustenta, na medida em que, não contempla a percepção dos fenômenos sociais, culturais, de onde, em cada organização social são constituídas as relações sociais – estas, fundamentais para marcar a experiência humana e sustentar as identidades: papéis masculinos e femininos.

no final do século XViii deu-se o início do movimento social feminista, que instaurou a luta por conquistas de direitos humanos em que considera a mulher gente, sujeito racional que toma decisões, pensa, sente, constrói cultura, trabalha e pode receber leis e tratamento igual ao dispensado aos homens. Mesmo assim, ainda hoje, milhares de mulheres sofrem diariamente inúmeros preconceitos, discriminação e formas de violências domésticas.

no caso específico do exercício do magistério, a atividade parece ser permitida, indicada para a mulher. passa a ganhar um novo significado, como uma função feminizada, como extensão do lar, um trabalho de mulher. por outro lado, a escola representa um espaço de papéis definidos, onde comportamentos são ordenados por aprendizagens, habilidades: ser homem, ser mulher.

a cultura escolar não é neutra, ao contrário, reflete como as relações sociais de gênero são produzidas e estabelecidas socialmente. de fato, ainda hoje, nas escolas vêm se

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demonstrando preocupação com o direito da busca da cidadania plena. atualmente ganha visibilidade a discussão de temas relacionados à exclusão de classe, à etnia, raça geração, sexo e gênero. nas escolas, no entanto , permanecem contradições, pois, embora no campo jurídico não existe a exclusão de estudantes, ocorre um pressão cultural sobre qualquer manifestação distinta do padrão de gênero preestabelecido para cada sexo, padrão cultural etc. persistem, portanto, os papéis distintos: o de ser homem o de ser mulher.

são implicações do entendimento dos conceitos de gênero, que podem explicar o caráter sociológico da construção dos sentidos e dos significados relacionados aos papéis do que seja ser masculino ou ser feminino. estas concepções diferentes, de como percebemos e estabelecemos nossos nomes, escolhas, brincadeiras, cargos, funções, referências, hierarquias e decisões, podem mudar ou não, a estrutura de dominação que é fundamentalmente masculina.

nesta perspectiva, gênero é um aspecto importante para a compreensão da complexidade da real dimensão do fenômeno das relações humanas. o conceito de gênero, portanto, é construído nas relações humanas. trata-se de um processo cultural, aprendido e ensinado historicamente nos grupos sociais.

estas lições são repassadas geração após geração, e as próprias mulheres tornam esses valores presentes no dia a dia. são gestos, palavras, músicas que constroem, por exemplo, mulheres subordinadas, submissas e silenciosas, socialmente tidas como subalternas aos homens.

nesta lógica, a professora perpetua valores onde ela própria se desvaloriza, sua função é desprestigiada, mal remunerada, tida como extensão da instrução natural do lar.

Considerando, pois, esta realidade, em especial, no exercício do magistério da educação básica: ensino Fundamental e Médio, onde a mulher representa a imensa população de profissionais da educação, cerca de 80%, e mesmo assim são relegadas ao segundo plano, nas políticas governamentais. estas são pensadas, elaboradas e executadas sob o olhar masculino.

1.1 CONCEPÇÕES SOBRE GÊNERO

a forma como as questões de gênero são tratadas na Constituição Federal, na nova ldb e no plano nacional da educação do MeC, segue três características distintas. uma, se refere à linguagem utilizada; a segunda, à questão dos direitos, na qual o gênero pode estar subentendido; e a última, à certa ambiguidade, pela referência ao gênero desaparece da apresentação geral do documento, mas aparece – timidamente – em alguns tópicos.

Chama a atenção aqui a linguagem utilizada ao longo dos documentos para nomear os indivíduos de ambos os sexos, com ênfase na forma masculina:

“É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei”. (brasil, 1998, p. 185)

“será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançarem relações adequadas entre o número de alunos e o professor [...]”. (brasil, 1996)

“promover debates com a sociedade civil sobre o direito dos trabalhadores à assistência gratuita a seus filhos e dependentes em creches e pré-escolas”. (brasil, 2001)

a ausência da distinção de gênero na linguagem que fundamenta as políticas educacionais pode justificar formas de conduta que não estão privilegiando mudanças das relações de gênero no debate educacional, perpetuando sua invisibilidade.

[...] o gênero pode ser compreendido como um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos (e como) um primeiro modo de

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dar significado às relações de poder [...] a cultura é a responsável pela transformação dos corpos em entidades sexuadas e socializadas[...]. (Vianna; silVa, 2008, p. 14)

excluindo essa remota lembrança da palavra, o conceito de gênero é pouco conhecido pela maioria das pessoas, considerando-se que a inclusão de gênero, enquanto categoria histórica e analítica é algo muito recente. no final dos anos 60,

o conceito de gênero foi trabalhado inicialmente pela antropologia e pela psicanálise, situando a construção das relações de gênero na definição das identidades feminina e masculina, como base para experiência de papéis sociais distintos e hierárquicos e a forma de relação social que se estabelece entre mulheres e homens, entre mulheres entre si e homens entre si. (nalu; nobre apud louro, 1998, p. 98)

desde o nascimento do bebê, a partir do momento em que é anunciado o seu sexo, há uma expectativa em relação a sua identidade social. ao visitar um recém-nascido, por exemplo, quem não ouviu algo assim: “É uma menina: será uma companhia para a mãe!”. dentre outros, não se espera que um menino seja companhia para a mãe, porque dele se espera que “ganhe a estrada”.

apesar das grandes mudanças ocorridas no século passado, nesse início de um novo século, ainda se espera que a mulher ocupe o espaço privado, enquanto que ao homem cabe o espaço público (trabalho, política, tecnologia, esporte ,lazer,comércio, indústria , negócios, pesquisa científica etc.). essas atribuições estão fundamentadas no simples fato de um, ser mulher e outro, ser homem. ou seja: sustenta-se em valores socioculturais estabelecidos por uma determinada sociedade, a qual atribui lugares sociais distintos a mulheres e homens. (Vianna; silVa, 1999)

ainda em nossa sociedade, são consideradas características femininas: fragilidade, sensibilidade, meiguice, passividade, cooperatividade, meticulosidade, maior preocupação com os problemas familiares e menor preocupação com a promoção profissional. Coragem, racionalidade, força, competitividade, preocupação com a carreira profissional, menor participação nos assuntos familiares são consideradas características masculinas. um menino que não possua as características esperadas poderá ser chamado de “maricas”, “mulherzinha”, dentre tantos outros adjetivos (que, por serem associados à mulher, são tidos como pejorativos), os quais são utilizados como forma de pressão do grupo social, para que cada um tenha o comportamento esperado. igualmente, a menina, na maioria das vezes, também é repreendida quando não corresponde ao padrão estabelecido para o seu gênero.

Considera-se que as questões que permitem as relações sociais entre os sexos constituem-se num arcabouço ideológico e colocam as pessoas numa relação hierarquizada. no que se refere às relações de gênero, da forma como estão configuradas na sociedade, apesar dos avanços observados nas últimas décadas, os valores predominantes ainda colocam as mulheres numa situação de subordinação, porque as diferenças biológicas são transformadas em desigualdades.

Gênero é assim uma forma primária de dar significado às relações de poder, é um campo primário no interior do qual, ou por meio do qual, o poder é articulado. ainda que não seja a única, parece ter sido uma persistente e recorrente forma de possibilitar a significação do poder no ocidente, nas tradições judaico-cristãs e islâmicas. (Vianna; silVa, 1999, p. 11)

essa desigualdade se expressa das mais variadas formas, como nas peças de propaganda, em que, explicitamente, a mulher é colocada como um objeto de consumo. esse tipo de discriminação é visível também na menor remuneração do trabalho feminino, considerando–se que no brasil, as mulheres possuem, em média, mais instrução do que os homens. na visão de silVeira (2004, p. 17),

a divisão dos espaços como feminino e masculino tem consequências de uma divisão sexual do trabalho que interpreta as habilidades adquiridas pela socialização das mulheres

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como “naturais”, portanto, não qualificadas. servindo para justificar a má remuneração do trabalho das mulheres, sobretudo das profissões consideradas extensão do lar e do cuidado, referentes à função de mãe, como desdobramento da atividade procriativa, professoras, enfermeiras etc. essa visão, apesar das mudanças, entra de contrabando nos argumentos patronais que tratam a mulher no trabalho como força auxiliar, portanto, de salário complementar, justificando salários menores.

a desigualdade também é visível no que se refere à divisão sexual do trabalho. apesar da crescente participação feminina na população economicamente ativa (pea), a mulher continua sobrecarregada, com um acúmulo de atividades, que a obriga a enfrentar muitas vezes, dupla ou até tripla jornada de trabalho, para cumprir os papéis de mãe, dona de casa, esposa e profissional.

de acordo com dados do ibGe, coletados no Censo de 2000, as mulheres recebem, em média, no brasil, 71,5% do rendimento masculino. na região metropolitana de são paulo, a diferença salarial aumenta ainda mais: dados da Fundação seade, demonstram que a paulistana recebe apenas 67,5% do salário dos homens. (a eManCipação..., 2005, p.17)

neste sentido:

a educação tem um papel fundamental na produção e reprodução cultural e social e começa no lar (educação doméstica) com a família, que é o lugar da reprodução física e psíquica cotidiana – onde se dão os primeiros cuidados do corpo, higiene, alimentação, descanso, afeto – que constituem as condições básicas de toda a vida social e produtiva. (CarValHo, 2004, p.46)

Cabe ressaltar, no entanto, que o sucesso escolar não foi universal, tampouco a escolarização em massa, embora com relativo sucesso não eliminasse a desigualdade social. o processo de aculturação certificou multidões, mas não lhe reservou ganhos sociais e econômicos. “Com o advento da escolarização, a educação, que antes significava cuidado físico, atenção, nutrição se expandiu de modo que incluísse hábitos, maneiras e preocupações intelectuais”. (CarValH0 2004, p. 45)

este contexto se caracterizou principalmente porque ocorreu uma seleção social nos processos pedagógicos escolares – baseados subjetivamente pela imposição de conteúdos (conhecimentos ditos universais e que muitas vezes não são da lógica familiar).

existe uma força da presunção de um modelo de família (padrão) que, muitas vezes, não percebe (não vê) a mulher na chefia destas famílias. não reconhece a autoridade feminina na educação familiar, tampouco em outras funções.

assim sendo, “[...] nas últimas décadas conquistou-se o direito à dissolução do vínculo de casamento, legitimou-se o acesso ao estudo e ao trabalho”. (CarValHo, 2004, p. 11)

a mulher professora assume neste contexto uma jornada que a enquadra numa relação perversa e desigual, onde ela cumpre múltiplas tarefas dentro de casa e em atividades precárias no mundo do trabalho.

embora ainda persista um panorama brasileiro em que “[...] o trabalho feminino está concentrado em atividades precárias ou a um conjunto de atividades vinculadas às funções familiares como empregadas domésticas, professoras, enfermeiras, secretárias, gerentes entre outras”. (louro, 1998, p. 77)

sobre esta lógica encontra-se o fazer pedagógico: ensinar para criança é uma tarefa desprestigiada e tida como feminina. desta forma o espaço limitado para a ação feminina ainda está estreito ao espaço privado – ligado ao mundo da casa – do lar onde elas vivem. esta lógica ainda estreita o mundo feminino ao espaço privado. existe, no entanto, uma vertente que busca superar este limite imposto.

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assim: “as mulheres vivem, atualmente em outro momento histórico. a lógica da dependência diante dos homens não mais rege a condição feminina nas democracias ocidentais. Houve um enfraquecimento do ideal da mulher no lar”. (alonso, 2002, p. 36) esta afirmação, confirma que, de fato, a sociedade caminha na direção em que homens e mulheres convivam, trabalhem e sejam respeitados como seres humanos.

de acordo com o último censo populacional, demonstrou-se que de 32% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. no entanto, à medida que cresce o salário, diminui a participação feminina.

para alonso (2002, p. 38), “[...] o que é ser mulher está posto no imaginário social, implantando de fora, construído, portanto dentro das relações de dominação”. este modelo de sociedade supõe um predomínio masculino em todas as instâncias da sociedade que necessita avançar nestas relações sociais.

1.2 MUlhERES PROfESSORAS

o sistema educacional é um grande reprodutor de valores defendidos por ideias hegemônicas que perpetuam o domínio através da permanência das desigualdades, justificando as diferenças como fenômenos naturais. o fato é que a escola ensina conhecimentos, mas, sobretudo forma sujeitos que pensam, agem e produzem na sociedade.

no seio escolar são muito comuns as brincadeiras e atitudes aparentemente desrespeitosas, muitas vezes recheadas de discriminação. Certamente, o despreparo de professores diante dos episódios de discriminação de gênero na sala de aula, explica-se, por exemplo, na ausência de uma política de formação continuada no reconhecimento e valorização de docentes.

a separação dos alunos por atividades segundo gênero, por exemplo, meninas brincar de casinha, de bonecas, e meninos de carrinho ou bola, pode naturalizar ideias e comportamentos herdados e perpetuar conceitos discriminatórios e desiguais nada saudáveis.

a educação possui inegavelmente um papel restaurador e construtor da consciência e posicionamento do indivíduo na sociedade. todavia, devemos superar os fenômenos ditos naturais e inaugurar novas identidades, novos sentimentos que possam superar os padrões que permanecem historicamente entranhados nas relações sociais, econômicas e políticas.

este contexto se caracterizou principalmente porque ocorreu uma seleção social nos processos pedagógicos escolares – baseados subjetivamente pela imposição de conteúdos (conhecimentos ditos universais e que muitas vezes não são da lógica familiar).

existe uma força da presunção de um modelo de família (padrão) que muitas vezes não percebe (não vê) a mulher na chefia destas famílias. não reconhece a autoridade feminina na educação familiar, tampouco em outras funções.

assim sendo, “[...] nas últimas décadas conquistou-se o direito à dissolução do vínculo de casamento, legitimou-se o acesso ao estudo e ao trabalho”. (CarValHo, 2004, p. 11)

2 METODOlOGIA

na busca da construção de um mundo mais justo e pressupondo o encontro de homens e mulheres à procura de um mundo melhor, com justiça social e eqüidade de gênero, esta pesquisa discute o tema gênero e educação e propõe uma reflexão sobre as condições de vida das mulheres, em especial, das professoras de três escolas públicas de um município paranaense, com mais de 100 mil habitantes, sob a perspectiva da valorização e igualdade de gênero.

o método de estudo foi exploratório e descritivo, baseado nas respostas dos questionários aplicados com 100 professoras de três escolas públicas estaduais. por se tratar de um estudo

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que buscou investigar a subjetividade das relações humanas no trabalho docente feminino, utilizou-se uma metodologia de caráter flexível, que se acredita ser capaz de subsidiar o escopo teórico-sociológico implícito na abordagem deste tema: Gênero, educação e trabalho.

os questionários foram aplicados através das pedagogas e diretoras das escolas pesquisadas de forma aleatória, nos três turnos de funcionamento. as três escolas pesquisadas são de porte médio, com cerca de (1.200) mil e duzentos alunos, cada uma ofertando ensino Fundamental e Médio. as escolas são localizadas na zona urbana de um município com mais de 100 mil habitantes, no estado do paraná.

a análise dos dados foi classificada em três momentos:

a) elaboração do instrumento de pesquisa – o questionário (com questões relevantes ao tema);

b) Mapeamento ou classificação das respostas obtidas;

c) análise avaliativa – consideração sob a luz das referências teóricas do resultado obtido nas questões levantadas na pesquisa (aplicação dos questionários).

pressupõe-se que este estudo contribua na elucidação da discriminação ou preconceito de gênero na escola pública, chamando a atenção para um sistema de relações que se perpetua porque serve a interesses, ainda que as relações sociais não tenham sido diretamente engendradas para tal fim. (saFFioto, 1992)

3 ANÁlISE DOS DADOS DA PESQUISA

a questão 1 se referiu ao conhecimento das pesquisadas acerca de gênero. das respostas obtidas, 37% manifestaram que já tinham ouvido falar a respeito. 17% responderam saber do que se trata. 22% não sabem o que significa, e 24% nunca ouviu falar.

em relação aos fatores de origem familiar, as respondentes manifestaram o que segue:

GRÁFICO 1 – A casa em que você morava era sustentada por

GRÁFICO 2 – Quem era o chefe da sua família - ou a pessoa que comandava a casa

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os gráficos 1 e 2 mostram que a maioria das pessoas entrevistadas provém de famílias de estrutura incompleta, não necessariamente com problemas. a percepção relatada indica relativa compreensão sobre sua origem familiar.

um dado interessante diz respeito à composição das famílias das pesquisadas: a maioria das famílias compõe-se de pai, mãe e filhos. para antropólogos citados nas obras pesquisadas (anteriormente citadas como louro, 1998), a suposição de discriminação de gênero pode estar relacionada à permanência de relações fundadas na relação patriarcal, famílias cujo mando é basicamente masculino, o que pode pressupor alguma relação conflitiva ou desigual, relação que pode denotar preconceito ou discriminação para 48% das famílias pesquisadas.

todavia, o resultado da pesquisa revela um dado curioso, pois, perguntadas sobre a pessoa que de fato sustenta a casa , as pesquisadas respondem serem na maioria os pais das famílias completas, ainda que em seguida se apure que em 26% dos lares das professoras pesquisadas relatam que a mãe sustenta suas casas.

parece curioso, pois o resultado da pesquisa faz supor que, ainda que um número expressivo de mulheres sustente suas casas, ainda assim, existe um número bem menor de mulheres que de fato, comandavam estas moradias. existe, entretanto, uma relação direta do número de pais que sustentavam suas casas e as comandavam.

GRÁFICO 3 – Pense sobre a frase: “o homem é superior à mulher”. Em sua opinião

GRÁFICO 4 – Como você se sente no seu ambiente de trabalho?

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GRÁFICO 5 – Quanto ao salário, você acredita que

GRÁFICO 6 – Em sua opinião existe igualdade de oportunidade para homens e mulheres no mercado de trabalho?

no conjunto de questões demonstradas nos gráficos 3, 4, 5 e 6, as respostas das entrevistadas evidenciam a necessidade de avanço social acerca da superação de discriminação de gênero nas relações de trabalho. Verifica-se que um número expressivo acredita que os direitos são iguais para homens e mulheres, pois a maioria das entrevistadas afirmou que existe discriminação de gênero nas relações de trabalho nas escolas pesquisadas.

o resultado da entrevista de fato demonstrou algum tipo de preconceito ou discriminação contra mulheres, pois se refere às mulheres como sendo consideradas menos inteligentes ou fortes, que os homens, ou ainda, referem-se à suposta “verdade bíblica” que assim está escrito e assim deve ser. estas afirmações revelam muito de permanências históricas das construções sociais dos papéis do que seja ser homem ou ser mulher.

a pesquisa revelou que as pesquisadas manifestaram algum prestígio profissional; todavia a maioria das pesquisadas ainda acredita que o homem ganha mais que a mulher, pois suas condições são desfavoráveis, considerando-se que a maior oferta de vagas para o trabalho às mulheres tem origem em postos genuinamente relacionados às atividades domésticas, de educação básica, de cuidados com a saúde etc. estes setores pareceram representar a continuidade do espaço doméstico destinado à mulher.

Constatou-se, ainda, que um número considerável das pesquisadas revela haver discriminação contra mulheres pois se exige boa aparência ou um medo velado de mães que faltam ao trabalho para cuidar de filhos.

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GRÁFICO 7 – Para que a MULHER seja valorizada e/ou respeitada é preciso

GRÁFICO 8 – Na escola, até onde você tem conhecimento

GRÁFICO 9 – Em sua opinião, no ambiente escolar a mulher

GRÁFICO 10 – O ambiente escolar demonstra em sua opinião que

o resultado das questões sete a dez revelou alguns dados importantes. a maioria das pesquisadas referem-se à educação como uma possibilidade de superação da discriminação contra as mulheres; pontuaram o estudo como alavanca de mudanças sociais, especialmente apresentaram as alunas como mais dedicadas aos estudos. não é possível precisar se esse

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dado diz respeito ao ensino Fundamental ou Médio, visto que as pesquisadas atuavam ora numa modalidade, ora noutra, ou nas duas simultaneamente.

o resultado da pesquisa apontou que a exigência do fomento de políticas públicas deverá ser na direção da punição contra a discriminação de: gênero, sexista ou contra as mulheres.

a pesquisa constatou certo estereótipo em que os meninos manifestam brincadeiras ou comportamentos mais agressivos e menor interesse pelo estudo (lembrando que as pesquisadas lecionavam no ensino fundamental e ensino médio), ao contrário, a pesquisa revelou que existe uma pequena relação ou correspondência entre comportamentos semelhantes demonstrados por meninas e meninos convivendo e relacionando-se entre si.

um aspecto apontado na pesquisa ilustrou toda a importância desta, 28% das pesquisadas relataram que os poucos homens existentes nas escolas ocupam cargos de chefias ou são mais respeitados (prestigiados). em contrapartida 22% das docentes entrevistadas afirmaram ser “normal” homens estarem em posição de prestígio, pois são mais fortes e superiores. Confirma, portanto, a permanência de ideias preconceituosas contra as mulheres. outros 22% das docentes pesquisadas relataram, uma suposta normalidade, concebida para homens, no mando. esta foi uma questão colocada no questionário como “questão a ser“ refutada ao longo das entrevistas ou seja, pensou-se que tais questões, jamais seriam sinalizadas . surpreendeu o resultado, pois não se tratou de brincadeira a introdução das questões discriminatórias, ao contrário, nas hipóteses pensadas não se atribuiu crédito às perguntas tidas como supostamente machistas, portanto não foi intenção das pesquisadoras brincar com a discriminação de gênero; todavia, enriqueceu a realização da pesquisa pois representou um fenômeno social interessante tomar conhecimento, que, entre docentes da educação básica, existia um pensamento de submissão, baixa estima e desprestigiada aceitação social.

o dado de que 18% das pesquisadas assumiram que já observaram alguma brincadeira ou atitude de discriminação de gênero pareceu contraditório quando se compreende as respostas dadas por algumas das docentes que consideram homens “supostamente superiores” às mulheres.

a pergunta que se faz não pode deixar de ser realizada: Mulheres apresentam atitudes preconceituosas e discriminatórias contra si próprias?

GRÁFICO 11 – Em sua escola você já ouviu expressões “machistas” ou “preconceituosas”?

GRÁFICO 12 – Assinale sua idade correspondente

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GRÁFICO 13 – Qual é a seu grau de instrução

o resultado das questões treze a quinze reporta-se às expressões ditas machistas ou preconceituosas. são reveladoras as respostas em que docentes com formação universitária relatam terem ouvido, presenciado afirmações machistas muitas vezes como brincadeiras familiares ou piadas em grupos sociais. as pérolas relatadas muitas vezes são pensamentos e ações impregnados na sociedade, muito mais do que se quer supor, como, por exemplo:

• “Elaésolteira,masprovocouasituaçãodeadultério”.

• “Elaécompetente,atépareceumhomemadministrando”.

• “Elasofreuabuso,masprovocouasituação”.

• “Professoranãotrabalha,apenas dá aulas”.

• “Professoranãoganhapouco,émalcasada”.

novamente não se esperava o alto número de docentes conhecedoras de frases supostamente tão machistas e preconceituosas, ainda que no seio escolar , pois a pesquisa revelou que todas as pesquisadas em algum momento já vivenciaram a discriminação de gênero, mesmo entre mulheres. outro dado relevante demonstrou que a maioria das pesquisadas possui formação universitária e pós-graduação; 57% das pesquisadas possuem mais de trinta e seis anos de idade, o que faz supor alguma experiência profissional.

CONClUSÕES E CONSIDERAÇÕES

a história da sociedade brasileira se faz marcada pela implantação gradativa, competente e bem-sucedida do modo de produção capitalista. essa sociedade pressupõe a existência de mecanismos políticos, econômicos, religiosos e culturais que representam interesses direitos civis e sociais favoráveis à manutenção da ordem capitalista vigente: desigual, excludente, com tradições paternalistas e clientelistas.

85Capítulo 1 - eduCação

Gestão de polítiCas públiCas no paraná

atualmente vive-se num período histórico de crise social. o determinismo tecnológico e a economia globalizada não têm conta de incluir diferentes segmentos sociais nesta sociedade plural que carece de mudanças e avanços.

o fenômeno da discriminação ainda representa um aspecto da realidade de organização social na escola. os limites e dimensões nas relações sociais e profissionais, e ou educativas no seio da escola pública, evidenciados nessa pesquisa, nos permite afirmar a persistência da discriminação contra o gênero feminino. logo na escola onde deveria haver a incessante busca, por superação de qualquer intolerância, preconceito ou discriminação, a mulher permanece sendo tratada de forma desigual.

ora, não se pode permitir que o progresso científico, tecnológico, os valores do mercado de trabalho ou da ordem do mercado consumidor distorçam de forma irremediável a natureza humana, numa atrofia da ética ou da dimensão da sociedade como um todo.

Considerando as contradições presentes no devir humano, a busca pela superação concreta, incessante e consciente da discriminação de gênero na convivência e produção humana, parece ser a intenção permanente pela promoção e dignidade humana.

a questão que se impõe é traduzida nas palavras de louro (1998, p. 110): “no brasil é possível identificar desde o século 19 a entrada e permanência da mulher na sala de aula. o magistério não é só permitido, mas indicado para mulheres”.

Mulheres passam uma vida modelar incumbidas de tarefas distintas, separadas por gênero: senhoras honestas e prudentes ensinam meninas, homens ensinam meninos. tratam de saberes diferentes, os currículos e programas distinguem conhecimentos e habilidades adequadas a eles ou a elas, recebem salários diferentes, têm objetivos de formação diferentes e avaliam de formas distintas.

aos poucos os argumentos a favor da instituição feminina, usualmente vinculam-na à educação dos filhos e filhas. Gradualmente o discurso da construção da ordem e do progresso, da modernização da sociedade, da higienização da família e a formação de jovens cidadãos implicará a educação das mulheres.

o caráter de doação, professora como modelo religioso e de metáfora materna: significa dedicação, disponibilidade, humildade, submissão, abnegação e sacrifício. a questão está posta. a temática das desigualdades parece estar relegada ao segundo plano, em benefício da temática das identidades.

nesse tempo em que as mulheres tornaram-se independentes nas escolha de suas vidas profissionais e de sua maneira de ser, os modelos femininos tornaram-se complexos e diversificados. as mulheres reivindicam não mais serem reduzidas a uma só dimensão. elas querem ser ao mesmo tempo mães, trabalhadoras, cidadãs e sujeitos de seu lugar e prazer. sabemos perfeitamente que o pilar de uma sociedade saudável não é apenas a mulher, mas ambos: o homem e a mulher.

sabe-se que não há espaço social livre do exercício do poder. a realização desta pesquisa em escolas públicas, num universo de professoras da rede estadual de educação básica, manifesta ranços e permanências da discriminação de gênero no exercício do magistério.

pode-se verificar que tal fenômeno social tem sido reproduzido nas relações docentes, ainda que muitos avanços possam ser detectados no processo cultural das relações sociais existentes e percebidos nas três escolas pesquisadas.

ainda que a pesquisa tenha sido realizada apenas em três escolas, comprovou-se a hipótese das desigualdades de gênero, e aponta para a necessidade de maior estudo e aprofundamento do tema em debate: gênero e educação. as escolas se mostraram eficientes laboratórios para análise e superação dos fenômenos.

86 GÊNERO E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE INTERPRETAÇÃO DE GÊNERO E DISCRIMINAÇÃO NO MAGISTÉRIO...

Gestão de polítiCas públiCas no paraná

propõe-se o real estabelecimento de programas, projetos e medidas efetivadas em políticas públicas que possam promover a dignidade e da população feminina urgentemente. assim, este tema torna-se importante nas agendas sociais e nas escolas paranaenses.

sobretudo, faz-se necessária a instauração de um programa educativo nas escolas estaduais, onde se possa refletir e modificar o trato às mulheres na sociedade brasileira. a busca pelo respeito à mulher-cidadã necessita de entendimento e valorização das diversas e múltiplas tarefas desempenhadas por mulheres que são tratadas de forma desprestigiada, por exemplo, pelo sistema público de saúde, por instâncias de leis omissas, pelas aplicações e permanências culturais e históricas que resistem no seio da sociedade, subjugando mulheres em todos os níveis de relacionamento humano.

a escola carece ver superadas questões de gênero na própria relação aluno-aluna, professor-professora, professora-professora. os docentes, mulheres e homens precisam estabelecer uma relação social mais igualitária onde seres humanos se respeitem e convivam apesar das suas diferenças com princípios humanos comuns de dignidade, justiça e tolerância antropológica e social.

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