gastronomia e sua defesa

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Gastronomia e sua defesa Existem variadas formas de defesa da gastronomia, desde a escrita de livros de cozinha, passando por feiras e festivais gastronómicos como o do Bacalhau, do Azeite, do Lagostim de Rio, do Tremoço, do Anho Assado com Arroz de Forno, da Chanfana, da Maçã, dos Doces Conventuais entre outras actividades. Mas o que gostaria de partilhar com vocês é o movimento existente um muitos países, que se intitula por movimento Confrádico. Este movimento congrega no seu seio as Confrarias Gastronómicas e Enófilas que pretendem defender a gastronomia e o vinho de certa região ou iguaria típica de certa região. Contudo gostaria de fazer um enfoque muito especial nas Confrarias Gastronómicas, pois é através delas que se estão a recuperar muitas receitas, sabores e confecções que de outra forma se perderiam no tempo. Tipicamente uma Confraria Gastronómica é uma associação sem fins lucrativos e que se propõe defender o património gastronómico de uma região como por exemplo a Confraria Gastronómica do Norte Alentejano, ou Confraria Gastronómica do Pinhal do Rei (Leiria), ou mesmo a Confraria Gastronómica do Ribatejo. Ou pode defender um produto gastronómico específico como a Confraria Gastronómica do Bacalhau (de Ílhavo), Confraria da Chanfana (de Vila Nova de Poiares), ou Confraria Gastronómica Queijo Serra da Estrela, entre muitas outras. Este movimento Confrádico é representado em primeira instância através da Federação Portuguesa de Confrarias Gastronómicas, presentemente fazem parte da Federação cerca de 60 Confrarias entre efectivas e em período probatório. Contudo existem outras que, desempenham o seu papel fundamental na preservação da gastronomia nacional e que não fazem parte da Federação.

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8/6/2019 Gastronomia e Sua Defesa

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Gastronomia e sua defesa

Existem variadas formas de defesa da gastronomia, desde a escrita de livrosde cozinha, passando por feiras e festivais gastronómicos como o do Bacalhau,

do Azeite, do Lagostim de Rio, do Tremoço, do Anho Assado com Arroz deForno, da Chanfana, da Maçã, dos Doces Conventuais entre outrasactividades.Mas o que gostaria de partilharcom vocês é o movimentoexistente um muitos países,que se intitula por movimentoConfrádico. Este movimentocongrega no seu seio asConfrarias Gastronómicas eEnófilas que pretendemdefender a gastronomia e ovinho de certa região ou iguaria típica de certa região.Contudo gostaria de fazer um enfoque muito especial nas ConfrariasGastronómicas, pois é através delas que se estão a recuperar muitas receitas,sabores e confecções que de outra forma se perderiam no tempo.

Tipicamente uma Confraria Gastronómica é uma associação sem fins lucrativose que se propõe defender o património gastronómico de uma região como por

exemplo a Confraria Gastronómica do Norte Alentejano, ou ConfrariaGastronómica do Pinhal do Rei (Leiria), ou mesmo a Confraria Gastronómicado Ribatejo. Ou pode defender um produto gastronómico específico como a

ConfrariaGastronómica doBacalhau (de Ílhavo),Confraria da Chanfana(de Vila Nova dePoiares), ou ConfrariaGastronómica QueijoSerra da Estrela, entremuitas outras.Este movimentoConfrádico é

representado em primeira instância através da Federação Portuguesa deConfrarias Gastronómicas, presentemente fazem parte da Federação cerca de60 Confrarias entre efectivas e em período probatório. Contudo existem outrasque, desempenham o seu papel fundamental na preservação da gastronomianacional e que não fazem parte da Federação.

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Mas o que se pretende de uma Confraria Gastronómica? Por vezes, surge aideia que são um grupo de bons garfos que se juntam para comer bem e andara passear. Tal ideia está longe da verdade.Um Confrade deve defender a gastronomia com paixão, com carinho, comemoção pois está a defender muitas vezes os pratos, iguarias, saberes esabores com que cresceu e isso é algo que vive ardentemente no seu coraçãoe na sua alma. Portanto, quando se forma uma Confraria, ela deverá ser oreflexo dessa mesma paixão e defesa.

As Confrarias têm um papel único eessencial na defesa deste património,elas devem divulgar activamente umproduto específico ou a gastronomiade uma região, bem como contribuircom uma investigação histórica,cultural, económica e social, entreoutras actividades.

Devem igualmente recolher receituários, salvaguardar e promover, a flora, afauna, os saberes e sabores.Por exemplo no Norte Alentejo quem não conhece o poejo, o coentro, abeldroega, ou o serpão que se encontra sobretudo na região de Vila Nova dePoiares. Estas e outras ervas são essenciais à elaboração de pratos tãosaborosos como o Arroz de Bucho, Pézinhos de Coentrada, Sopa de Peixe de

Rio, Chanfana, etc…Para muitos de nós, só noslembramos destas iguariasou sabores quandorevisitamos a família, ouquando degustamos um bomBacalhau à Brás, umaCabidela de Lampreia, umLeitão da Bairrada, umasEnguias Fritas, umasLentriscas, uns Maranhos oumesmo uma Fritada dePorco.

Num mundo e num país de economia global é essencial preservar as tradições,os receituários, os sabores. Pois corremos o risco de através da normalizaçãoimposta a nível europeu e através de autoridades nacionais, perder aquelesabor ou aquele prato que nos sabe tão bem e que crescemos com ele.

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Quem nunca degustou num restaurante ou em casa de família um prato eexclama “Sabe ao mesmo quando eu era criança….”. Estas memórias vivemdentro de nós para sempre, mas para as experienciarmos de novo elas têm deser mantidas. E para que esse momento mágico e sublime de degustaçãoaconteça, a iguaria que estamos a comer tem de ser feita da mesma forma ecom os mesmos produtos de antigamente, pelo menos o mais aproximadopossível.Todos nós de uma forma ou de outra sentimos a diferença entre um cabritoassado no forno a lenha, de um eléctrico. Ou de um Pudim a Abade de Priscosindustrial de um caseiro. A preferência é óbvia, preferimos sempre o tradicionalpois é esse sabor, esse aroma, essa textura que nos trás à memória

recordações que nosembalam o coração eaquecem a alma.Podemos estar a viver ummomento difícil na nossa vida,mas ao trazer à memóriacerto sabor que sentimos emcriança, tudo se torna relativoe até esquecemos o problemaque temos.

Para mim, é esta memória sublime e perfeita de sabor e aroma que pretendo

continuar defender. Para mim ser Confrade, que significa irmão do latim, épreservar estas e outras memórias e partilhar com todos esta mesma emoçãoe sentimento que sinto ao degustar um determinado prato regional. O meuprazer à mesa e conseguir que amigos, família ou colegas sintam aquelamemória do antigamente, poder proporcionar aquele clique, reacender aquelachama que está lá no fundo do nosso baú de memórias. É este e outropatrimónio que tem de ser defendido com garra, com emoção e empenho.Quando aceitamos fazer parte de uma Confraria, aceitamos defender algoimaterial mas defendemos muito mais que isso, defendemos as nossasmemórias de criança.

Frederico MartinsConfrade da Confraria Gastronómica do NorteAlentejano