gary cantrell - wiccalivros.files.wordpress.com · o rito de dedicação ou iniciação 114 o rito...

215

Upload: dinhhuong

Post on 08-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Gary Cantrell

    Traduo: Ana Glaucia Ceciliato

    MADRAS

  • Do original: Wiccan Beliefs & Practices 2001 by Gary Cantrell Publicado por Llwellyn Publications St. Paul, MN 55164 USA Traduo autorizada do ingls 2002, Madras Editora Ltda.

    Editor: Wagner Veneziani Costa

    Produo e Capa: Equipe Tcnica Madras

    Ilustrao da Capa: Equipe Tcnica Madras

    Traduo:

    Ana Glaucia Ceciliato

    Reviso: Cristina Loureno Rita Sorrocha

    ISBN: 85-7374-559-2

    Proibida a reproduo total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qual-quer meio eletrnico, mecnico, inclusive por meio de processos xerogrficos, sem permisso expressa do editor (Lei n2 9.610, de 19.2.98).

    Todos os direitos desta edio, em lngua portuguesa, reservados pela

    MADRAS EDITORA LTDA. Rua Paulo Gonalves, 88 Santana 02403-020 So Paulo SP Caixa Postal 12299 CEP 02013-970 SP Tel.: (0 11) 6959.1127 Fax: (0_ _11) 6959.3090 www.madras.com.br

    http://www.madras.com.br
  • Por que Decidi Sair

    do Armrio da Vassoura

    Decidi revelar publicamente que pratico feitiaria, simplesmente por-gue sinto que o tempo de nos escondermos intencionalmente chegou ao fim. Somos praticantes de uma religio bondosa, gentil e amante da paz. No somos os sanguinrios ou depravados fanticos orgacos geralmente retratados em espetculos de diverso ou pela mdia. O pblico em geral vem sendo enganado a respeito de feitiaria h mais de mil anos, e, agora, diante de nosso grande crescimento, j tendo ultrapassado a casa de um milho de pessoas no mundo, precisamos defender nossa posio e colocar as coisas nos devidos lugares.

    Somos centenas e centenas de milhares espalhados pelo mundo. Po-demos ser encontrados nos campos das artes, da cincia e das humanida-des. Somos policiais, engenheiros, construtores, mdicos e fazendeiros. Nossa religio legalmente reconhecida e est sob a proteo da Primeira Emen-da da Constituio dos Estados Unidos, e nosso isolamento do resto da comunidade religiosa deve e precisa terminar. Com o crescimento fenome-nal da feitiaria desde a dcada de 1970, e com o livre e fcil intercmbio de informaes, proporcionado por coisas como a Internet, isso vai aconte-cer e vai acontecer logo. Pode estar acontecendo agora.

    Para Escrever ao Autor

    Caso deseje entrar em contato com o autor ou esteja interessado em mais informaes sobre este livro, escreva-lhe aos cuidados de Llewellyn Worldwide e sua solicitao ser encaminhada. Tanto o autor como o edi-tor gostariam de saber sua opinio sobre o livro e como foi que ele o ajudou. Llewellyn Worldwide no pode garantir que todas as cartas sejam respon-didas, mas elas sero encaminhadas.

  • Agradecimentos Agradeo muito minha mulher por seus incansveis esforos ao

    revisar as vrias verses deste manuscrito e por seus comentrios valiosos. Sou-lhe muito grato por ajudar-me a levar este trabalho a uma concluso positiva. Meus agradecimentos tambm aos membros de meu Coven por terem lido a verso final do manuscrito e por suas sugestes. Tambm, um agradecimento especial a Miranda, Sumo Sacerdotisa e Mestre, Crculo do Clice e a Espada, quem, saiba ela ou no, assegurou-me que meus ps estavam firmemente plantados no caminho certo.

  • ndice Prefcio 15

    CAPTULO 1 DEFINIES 17

    A Wicca e o Paganismo 18 O que a Wicca Abrange Realmente? 27 A Filosofia Wicca 30 Sumrio do Captulo 36 Tabela 1: Drescrio de vrios Caminhos da Wicca 38

    1. Alexandrina 38 2. BTW (Feiticeiro Tradicional Britnico) 39 3. Cltica 39 4. Dinica 39 5. Ecltica 40 6. Feiticeiro Kitchen 40 7. Gardneriana 40 8. Hereditria 40 9. Strega (Bruxa) 41 10. Teutnica ou Nrdica 41 11. Wicca-Seax 41

    CAPTULO 2 A TICA WICCA 43

    A Rede Wicca 45 A Regra de Trs 47 O Cdigo de Cavalheirismo Wicca 49 O Crculo Inviolvel 49 O Certo e o Errado em Nosso Ofcio (Craft) 50

    1. Adorao do Demnio, Satanismo ou "Massas Negras" 51 2. Bestialidade ou Sacrifcio de Sangue 51 3. Atos Sexuais Pblicos 51 4. Adorao de dolos 52 5. Magia Negra 52

    Sumrio do Captulo 52

  • 10 Wicca Crenas e Prticas

    CAPTULO 3 INICIANDO 55 O Livro do Espelho e o Livro das Sombras 56

    O Livro do Espelho 56 O Livro das Sombras 57

    Ferramentas e Instrumentos 59 Altar 59 Atame 60 Besom 60 Boline 60 Caldeiro 61 Clice 61 Espada 61 Incenso e Incensrio 61 Recipiente para Agua 62 Recipiente para Sal 62 Salvia Purificadora 63 Smbolo do Pentagrama 63 Toalha do Altar 63 Vara de Condo 63 Velas das Quatro Direes 64 Velas do Altar 64

    Roupas e Adornos 64 Preparao para Rituais e Ritos 65

    Purificao da rea 66 Lanando o Crculo 67 Invocao aos Quadrantes 68 Invocao Divindade 70 Abrir e Fechar Temporariamente o Crculo 71 Fechar o Crculo 71

    Sumrio do Captulo 72 Tabela 2: Velas 73 Tabela 3: Incenso 73

    Tipos de Incensos/Usos Sugeridos 74

    CAPTULO 4 MISTRIOS E RITUAIS 75

    Os Mistrios Wiccas 75 Rituais dos Sabs 78

    Yule 80 Inbolc 81 Ostara 84 Beltain 86 Litha 88 Lughnasadh 90 Mabon 92 Samhain 94

  • ndice 11

    Rituais dos Esbats 97 Lua Cheia 97 Lua Escura 99

    Ancoramento 104 Sumrio do Captulo 105 Tabela 4: Datas da Lua Cheia at 2004 106 Tabela 5: Datas da Lua Escura at 2004 105 Tabela 6: Correspondncia Lunar 108

    CAPTULO 5 OUTROS RITOS 111

    O Rito de Consagrao 112 O Rito de Dedicao ou Iniciao 114 O Rito do Bolo e da Cerveja 116 Consagrao de Ferramentas 117 Intensificando o Poder 117 Invocao Lua 118 O Grande Rito 120 Contrato de Casamento 121 Rito da Anci 122 Passagem para a Terra do Vero 123 Meditao 125 Sumrio do Captulo 127

    CAPTULO 6 ENCANTAMENTO E MGIKA 129

    O que Encantamento? 129 Fazendo Mgikas 136

    Purificao da rea 137 Lanando o Crculo 137 Evocao da Divindade 138 Modelos de Encantamentos da Mgika da Vela e do N 140 Mgika da Vela 140 Mgika do N 142 Finalizar o Encantamento 143 Fechamento do Crculo 144

    Ervas 144 Sumrio do Captulo 145

    CAPTULO 7 ADIVINHAO 147

    O Pndulo 148 O Espelho Refletor 149 As Runas 150

    Tipos de Lanamentos de Runas 153

  • 12 Wicca Crenas e Prticas

    CAPTULO 8 OS DESAFIOS FSICOS DO BRUXO 155

    Perda Aguda de Audio 156 Problemas Srios de Coluna 158 Imobilizada e Dependente 158 Sumrio do Captulo 160

    CAPTULO 9 O LADO HUMORSTICO 163

    Um Estranho Bate Porta ....................................................... 164 Invocao Singular ao Esprito da gua 165 Velas e Espaos Pequenos 166 Um Animal Entra no Crculo , 167 Algumas Histrinhas 168

    Velas So Perigosas ; 169 O Smbolo do Oeste no para Consumo 169 A Fumaa da Salvia pode Sobrecarregar Seus Pulmes 169 O Extintor de Incndio 170

    Sumrio do Captulo 170

    CAPTULO 10 SAINDO DO ARMRIO DA VASSOURA 171

    A Wicca uma Religio Devidamente Constituda e Reconhecida Oposio 173

    A Emenda Helms, 1985-1986 173 Caso dos Militares de Ford Hood Praticantes de Feitiaria 174 Distrito Escolar versus ACLU 175 Saindo Vagarosamente do Armrio da Vassoura 176 Uma Tragdia Pessoal 177

    Por que Decidi Sair do Armrio da Vassoura 180 Como Faz-lo 182 Sumrio do Captulo 186

    APNDICE A TEXTOS CLSSICOS DA WICCA 191

    A Rede Wicca (verso 1) 191 A Rede Wicca (verso 2) 192 A Ordem da Deusa 193 A Ordem do Deus 194

    APNDICE B INVOCAES GERAIS S

    DIVINDADES E S QUATRO DIREES (QUADRANTES) 197

    Invocao Deusa 197 Invocao ao Deus 198 Invocaes Ritualsticas Bsicas ao Deus e Deusa 199 Invocaes s Quatro Direes (Quadrantes) 203

    APNDICE C PEQUENO DICIONRIO DE

    DEUSES E DEUSAS PAGOS 207

  • ndice 13

    APNDICE D LOJAS E FONTES DE INFORMAES 213

    Lojas Pags 213 Publicaes Peridicas 213 Armas e Indumentrias Clssicas e Medievais 214 Armas e Acessrios Cortantes 214

    BIBLIOGRAFIA 215

    Websites 216 Livros de Interesse Geral e Histrico 218 Livros sobre Wicca e Feitiaria 220

    GLOSSRIO 225

  • Prefcio

    Este livro nasceu de uma sugesto de amigos e companheiros do Ofcio, para que eu documentasse tcnicas e rituais que poderiam ser usados tanto por um pequeno Coven como por um praticante Solitrio da Wicca. Nesse sentido, este , na verdade, um livro de instrues sobre feitiaria. tam-bm um tanto autobiogrfico, pois descreve muitos de meus prprios pro-cessos de pensamento e de desenvolvimento de rituais, ao trilhar meu ca-minho na vida pag, que me levou de praticante Solitrio a sacerdote da Wicca, e, finalmente, honra de Sumo Sacerdote do Coven. Aqueles que leram meu outro livro, Out of the Broom Closet, reconhecero parte do material aqui apresentado no captulo sobre como tornar pblico o fato de que voc pratica a feitiaria.

    Grande parte do que transmito a respeito dos rituais, dos ritos e da teologia do Ofcio foi influenciada por vrios professores, assim como por outros autores de obras pags e wiccas. Embora as palavras deste livro se-jam minhas, excetuando-se alguns dos rituais sugeridos por outros amigos wiccas, algumas partes desta obra talvez reflitam essa influncia externa.

    Wicca Crenas e Prticas uma tentativa de colocar o conheci-mento da Wicca e seus rituais em um contexto prtico tanto para o prati-cante Solitrio como para membros de pequenos Covens. Muitos outros livros de instrues do Ofcio que tratam do trabalho do Coven, especial-mente os dos Farrars, tendem a presumir que o Coven formalmente estruturado segundo as linhas tradicionais gardnerianas ou alexandrinas, com seus processos de iniciao e graus, e composto de pelo menos treze ou mais membros. Minha prpria experincia ensinou-me que ge-ralmente esse no o caso. Muitas vezes, um Coven formado por ape-nas um punhado de membros que podem ser muito mais eclticos do que tradicionais.

    Pequenos grupos de praticantes e, obviamente, os Solitrios, que pra-ticam por conta prpria, s vezes encontram dificuldade em adaptar rituais

  • 16 Wicca Crenas e Prticas

    e ritos escritos para grupos maiores, uma vez que nem sempre h um n-mero suficiente de membros para preencher as inmeras funes envolvi-das nos rituais s vezes descritos por outros escritores. Na verdade, no h razo que impea o praticante Solitrio de realizar os mesmos rituais feitos em mbito de Coven. Os rituais que descrevo nos captulos apropriados foram especificamente formulados para uso de Solitrios ou pequenos Covens.

    Embora eu faa muitas consideraes sobre ferramentas e rituais, incluindo alguns encantamentos bsicos, tambm defino a Wicca e falo sobre nossa tica. Acredito que uma compreenso slida desses pontos necessria e at crucial para entendermos a filosofia Wicca em geral e nossas prprias metas quando entramos para este Caminho. Se voc esti-ver disposto a aprender, partindo da base, e a estabelecer uma slida com-preenso da Wicca, ser recompensado muitas vezes em seu relaciona-mento cada vez mais forte com o Senhor e a Senhora.

    Wicca Crenas e Prticas no foi planejado para conter tudo so-bre a Wicca nem para aprofundar-se em todos os seus ritos e rituais. H muitos deles, e suas mltiplas variantes encheriam volumes. O material descritivo contido neste texto, referente ao trabalho ritualstico, tem o obje-tivo apenas de dar-lhe um ponto de partida ou referncia no desenvolvi-mento de seus prprios rituais. Espero que as informaes aqui apresenta-das, caso voc esteja interessado neste caminho, apontem-lhe a direo para descobrir tudo que desejar. Meu intento apenas oferecer algumas diretrizes gerais e no, necessariamente, fornecer instrues pormenoriza-das. Seus ritos e rituais sero muito mais significativos se voc os desenvol-ver pessoalmente, pelo menos em parte, em vez de simplesmente copiar as palavras de outra pessoa.

    Creio que este livro seja um ponto to bom quanto qualquer outro para iniciar sua jornada, alm de vrios outros livros que inclu na bibliografia. Tenha certeza de que meus esforos representam apenas o primeiro de muitos degraus no Caminho da Wicca, o Ofcio do Sbio, a Antiga Religio. Uma vez iniciado este Caminho, estou convencido de que voc ser re-compensado alm de seus mais incrveis sonhos. A escolha para entrar nele sua, e a porta est aberta.

    Portanto, meu amigo, dou-lhe as boas-vindas. Que voc encontre paz, amor e alegria no mundo do Ofcio. Desejo-lhe lindas bnos, e que o Senhor e a Senhora sempre estejam a seu lado.

  • 1

    Antes de entrarmos nesta estrada de definies, que muito detalhada, quero deixar bem claro que praticamente qualquer definio que se possa atribuir s palavras bruxo, feitiaria ou Wicca depende muito do autor da definio. Minha prpria experincia ensinou-me que, se perguntarmos a uma dzia de pessoas que afirmam ser wiccas exatamente o que significa determinada palavra, provvel que recebamos pelo menos uma meia d-zia de respostas diferentes, e cada resposta provavelmente estar ligada a alguma fonte de referncia fidedigna.

    Esta aparente discrepncia no tem origem em qualquer tentativa de mascarar a verdade, ou em uma falta de informaes entre os praticantes da Wicca, mas especialmente no fato de que nosso Ofcio est crescendo e se diversificando em uma velocidade fenomenal. Muitos dos mais novos Caminhos da Wicca, chamados s vezes de neo-wiccas, desenvolveram-se com suas prprias definies ou interpretaes de palavras bsicas. Essas definies nem sempre coincidem com as formas mais antigas anglo-cen-tralizadas, as formas tradicionais britnicas da Wicca, que se originaram no Reino Unido.

    H muitas Tradies da Antiga Religio e muitos Caminhos dentro de cada Tradio, todos suficientemente diferentes para que at mesmo algu-mas definies bsicas se tornem um tanto abertas interpretao dos praticantes. As definies que apresento neste captulo so essencialmente minhas, baseadas em minhas fontes de pesquisa e minha compreenso pes-soal da Tradio e do Caminho que escolhi, geralmente considerado como a Wicca Ecltica Cltica. Essas definies talvez no reflitam as de outros praticantes da Wicca que seguem outras tradies. Eles talvez usem fontes de referncia diferentes das que apresento aqui. Entretanto, acredito que as definies e explicaes que dou oferecem um ponto de partida to bom como qualquer outro.

    Definies

  • 18 Wicca Crenas e Prticas

    Quero deixar bem claro que os comentrios, idias e opinies que voc vai ler aqui a respeito da teologia, rituais e outros pontos da Wicca so meus, como eu os entendo com base em minha prpria experincia e apren-dizado. Refletem minha interpretao de como vivo e pratico a Wicca da perspectiva de minha prpria Tradio e Caminho, e minhas prprias fontes de informao. No estou, de forma alguma, apregoando que o material deste livro fala por todos os wiccas. No tenho inteno de fazer essa reivindicao, nem creio que qualquer outro autor pretenda isso. Quando uso as palavras ns ou nosso(a), neste livro, refiro-me simplesmente aos wiccas em geral. O uso desses pronomes no significa que a afirmao tratada seja aceita exatamente como a apresento e por todos os praticantes da Wicca. Na verdade, no existe "uma nica forma" de trabalhar o Ofcio e adorar nossas divindades. Todos ns temos diferentes entendimentos ou interpretaes de muitos aspectos da Antiga Religio, e cada uma dessas interpretaes , por definio, a correta para aqueles que a abraam.

    De qualquer forma, incentivo-o a ler o que apresento e utilizar estas informaes como ponto de partida para o desenvolvimento de sua prpria compreenso do Ofcio. Examine todas as fontes que puder, faa todas as pesquisas possveis e no considere uma nica fonte como representante da verdade pura e irrefutvel, acima de todas as outras.

    O que realmente significa a palavra Wicca e qual a sua origem? Wicca apenas uma das muitas religies do mundo que podem ser agrupadas sob a conotao de Paganismo. Portanto, antes de definirmos Wicca, precisa-mos primeiro definir a palavra pago. Pago vem da palavra latina pagani ou paganus, que se traduz como "habitante do lar ou casa", geralmente significando uma pessoa do campo. Nos dias da Repblica Romana, a pa-lavra pagani era um tanto pejorativa, uma vez que os assim chamados eram considerados "primos do campo" e, em geral, vistos como um tanto inferiores s pessoas mais conhecedoras do mundo, os habitantes da cida-de. Com a expanso do Cristianismo, a palavra pago foi redefinida como algum que adorava os velhos deuses e deusas e no adorava seriamente o novo deus cristo. Nos primeiros anos do movimento cristo, ser pago ainda no indicava os sobretons do atesmo e da heresia que, mais tarde, levaram s perseguies e aos horrores da Idade Mdia, o perodo da his-tria geralmente chamado de Inquisio ou Tempos da Queima.

    A definio corrente da palavra pago, encontrada no The American Heritage Dictionary of the English Language "um praticante de qual-quer das religies no-crists, no-muulmanas ou no-judaicas, tipicamente possuindo uma doutrina, filosofia ou credo politesta ou pantesta"1. Um

    A Wicca e o Paganismo

  • Definies 19

    pago , assim, qualquer pessoa que siga uma religio que no seja crist, muulmana ou judaica. Isto obviamente inclui religies diversas como o hindusmo, o taosmo, o confucionismo, o budismo, os ilhus do Pacfico, os ndios americanos e, naturalmente, todas as religies orientadas para a Natureza ou adorao da Terra, com seus deuses e deusas. De acordo com informaes contidas tanto na Enciclopdia Britnica de 1993 como no 7995 Cambridge Fact Finder, essas religies definidas como pags constituem, aproximadamente, 50% de todas as religies do mundo, o que, desnecessrio dizer, representa um nmero considervel de pessoas. 2

    A Figura 1 uma representao grfica de como o Paganismo, as Tradies da Wicca e alguns dos vrios Caminhos dentro da Wicca podem ser visualizados de minha prpria perspectiva e aprendizado. Outros talvez no concordem com minha disposio de alguns dos componentes desse grfico, discordando da forma em que eu representei as relaes entre algumas das Tradies ou Caminhos. Aprecio e compreendo tal discordncia, uma vez que poucos de ns enxergam estes conceitos exatamente da mes-ma forma.

    De qualquer maneira, esta figura tem o propsito apenas de dar uma forma visual aos conceitos de Tradio e Caminho e, obviamente, no ser-ve para mostrar cada uma das formas da Tradio Pag ou do Caminho da Wicca. Um grfico simples no pode incluir tudo, e apenas alguns exem-plos escolhidos entre as principais Tradies e Caminhos esto representa-dos. Observe que a disposio da Figura 1 alfabtica; a ordem no indica posio de superioridade, nem a ausncia de outras Tradies e Caminhos importantes indica inferioridade.

    Isso nos leva de volta pergunta original: o que significa Wicca? Al-guns dizem, justificadamente, que qualquer pessoa que invoque uma divin-dade e a ela se dirija por meio de magia a fim de provocar uma mudana, est praticando feitiaria e , portanto, bruxa. Aplicando-se essa definio de feitiaria, qualquer pessoa pode assumir o ttulo de bruxa, caso haja praticado mgika pela invocao a uma divindade associada a basicamente qualquer teologia, e ningum poder dizer-lhe que no est praticando feiti-aria segundo sua prpria compreenso.

    Tambm h pessoas dentro da Wicca que talvez no reconheam totalmente a afirmao feita por voc de que praticante de feitiaria, pois essa alegao pode no concordar com o que a Tradio ou Caminho delas define ou reconhece como prtica da bruxaria. Isto pode soar como exage-ro, mas acredito que tem algum fundamento, uma vez que o ttulo de bruxo/ feiticeiro e a compreenso do que feitiaria podem estar diretamente relacionados maneira como uma pessoa interpreta a origem dessas pala-vras. Isso no quer dizer que uma pessoa iniciada como feiticeira, em uma teologia fora da Wicca, no seja considerada bruxa longe disso. Estou apenas dizendo que o valor da alegao de uma pessoa de que ela prati-

  • Figura 1. Representao das Tradies e Caminhos Pagos.

  • Definies 21

    cante de feitiaria talvez no seja necessariamente reconhecida por todos os praticantes de outras Tradies ou Caminhos da Wicca. Esta anlise, contudo, refere-se mais aos ensinamentos associados aos Britnicos Tradi-cionais mencionados anteriormente, como as Tradies gardneriana e alexandrina, e muito menos s mais novas e geralmente mais eclticas Tra-dies do Ofcio desenvolvidas fora dessa influncia.

    Muita gente acha que, tecnicamente, a palavra bruxo/feiticeiro deve ser aplicada apenas aos praticantes do paganismo que seguem uma das muitas Tradies da religio Wicca. A razo para isto parece ter suas razes na derivao da palavra bruxo. Alguns dicionrios e enciclopdias variam quando definem sua raiz, sendo que alguns alistam-na como palavra de origem germnica, e outros afirmam que vem do ingls antigo.

    The 1999 World Book Encyclopedia define Wicca como "a prtica de feitiaria na qual a maioria dos bruxos chama sua religio de Wicca, que vem da palavra anglo-saxnica que significa sabedoria ou sbio, que a raiz de palavras como feiticeiro e mago".3 O American Heritage Dictionary of the English Language define a palavra feiticeiro como "do ingls mdio wicchie, do ingls antigo wicce (feminino) e wicca (mas-culino), significando mago ou feiticeiro, um crente ou seguidor da Wicca, um wicca." 4 The 1999 World Book Encyclopedia define a palavra bruxo como vinda "da palavra do ingls antigo wicca, que derivada da raiz germnica wic, significando dobrar ou virar. Usando mgika, acredita-se que uma feiticeira tenha a habilidade de mudar ou dobrar os eventos. A palavra pode ser aplicada a um homem ou a uma mulher". 5 A palavra feiti-ceiro parece, assim, derivar de Wicca, significando um praticante da reli-gio Wicca, um sbio, ou algum que pode influenciar e mudar os eventos. As palavras feiticeiro e wicca parecem, portanto, ter uma inter-relao, pelo menos de acordo com essas fontes de referncias.

    Isto significa que apenas os wiccas so feiticeiros? No necessaria-mente, uma vez que j dissemos que, em um sentido amplo, o feiticeiro aquele que tem a habilidade de influenciar eventos por meio de mgika, e que esta habilidade no limitada aos wiccas. Essa idia pode, provavel-mente, ser resumida com a afirmao de que nem todos os pagos so feiticeiros, nem todos os bruxos so wiccas, mas todos os wiccas so bru-xos. H muitas Tradies diferentes da religio pag que realizam rituais com magia, e elas podem estar praticando feitiaria, mas os praticantes da Wicca parecem ser feiticeiros e estar praticando feitiaria no sentido mais literal da palavra.

    Pode-se estender o argumento a respeito das palavras feiticeiro e wicca, dizendo-se que a prtica da Wicca traz consigo uma aceitao de todos os efeitos inerentes aos trabalhos de mgika destinados a provocar mudanas. O que quero dizer que ns, que praticamos a Wicca, assumi-mos todas as responsabilidades e conseqncias de nossos atos ligados

  • 22 Wicca Crenas e Prticas

    Lei Wicca, s vezes tambm chamada de tica Wicca. Compreendemos a Lei e a tica Wicca e a aplicamos em nosso dia-a-dia. Apreciamos plenamente o significado da Rede Wicca e da Lei de Trs, e tentamos sustentar o antigo Cdigo de Cavalheirismo Wicca. Esses conceitos for-mam a base da tica da Antiga Religio, que ser discutida no prximo captulo.

    H outras tradies pags que praticam a mgika para provocar mu-danas, mas em alguns casos essas tradies podem no reconhecer o conceito de "no prejudicar ningum", que se acha na raiz da Lei Wicca. Com isso, elas podem estar fazendo mgika e efetuando mudanas, mas possivelmente de uma forma no aceitvel aos wiccas, embora na verdade ainda estejam praticando feitiaria. Ao lerem esta afirmao, lembrem-se de que eu, de forma alguma, estou querendo dizer que essas outras tradi-es pags so inferiores Wicca, ou que a Wicca a nica forma de praticar o paganismo ou mesmo a feitiaria. Todas as tradies pags ou quaisquer tradies religiosas, por assim dizer, so vlidas para seus segui-dores. Se um Caminho espiritual ou Caminho de iluminao for apropriado para o praticante, ento com toda certeza ser adequado e vlido para aqueles que o seguirem.

    Como sempre, um dos principais ingredientes da aceitao de qual-quer doutrina religiosa deve ser o despertar espiritual e emocional que vem do interior do praticante. Esta idia exemplificada pelas palavras da Or-dem da Deusa, que diz: "Se no encontrares dentro de ti aquilo que buscas, nunca o encontrars fora de ti". Assim, se tal despertar ocorre dentro de ns, o Caminho vivel, independentemente do que outros possam pensar ou presumir. Isto tambm verdadeiro em relao ao praticante Solitrio da Wicca, porque todo treinamento do professor-aluno e as iniciaes do Coven no mundo todo no faro qualquer diferena se o iniciado no esti-ver plena e totalmente em sintonia com a Antiga Religio em um nvel espiritual. Essa uma deciso que o Deus e a Deusa tomaro quando Eles estiverem prontos para tom-la e, acredite-me, Eles iro indicar-lhe o tem-po certo. No algo que os novatos possam arbitrariamente decidir por conta prpria, e no algo conferido automaticamente s por causa de um rito pblico de iniciao no Coven.

    Tornar-se verdadeiramente bruxo, seja como Solitrio ou membro do Coven, uma profunda experincia mental, espiritual, emocional e, s ve-zes, at fsica. uma conscincia de sua ligao com o Deus e a Deusa, uma percepo ou talvez at um despertar para essa coisa maravilhosa e abrangente que chamamos de Natureza. Os sentimentos e emoes que experienciamos nesse despertar so impossveis de descrever. Eles alte-ram o corao e elevam a alma. Deixam uma marca eterna em todos os que passam por esse despertar, tendo um impacto psicolgico que quase fsico e mudando vidas para sempre. Uma vez que voc verdadeiramente

  • Definies 23

    reconhea e aceite o ttulo de feiticeiro, que seu por direito independente-mente de como lhe seja conferido, nunca mais ser o mesmo.

    A Wicca no afirma ser o "nico Caminho"; na verdade, nenhuma religio pode realmente fazer tal reivindicao, porque todas as Tradies ou Caminhos espirituais so significativos e vlidos para seus seguidores. Infelizmente, h muitos Caminhos religiosos ou espirituais que no compar-tilham este conceito e acreditam honestamente que so o nico Caminho significativo e correto na busca espiritual. Este tipo de pensamento mope pode ser encontrado geralmente nas faces mais fundamentalistas ou mi-litantes da maioria das religies. Isso em geral acaba manifestando-se como inquisies, guerras santas ou outras tentativas de impor a vontade das (comumente) minorias fundamentalistas sobre o resto dos seguidores. Por sorte, a Wicca no faz tal reivindicao; na verdade, ns refutamos esse tipo de afirmao e apoiamos totalmente o conceito de que qualquer Cami-nho religioso , por definio, aceitvel para seus seguidores.

    Alguns wiccas reconhecem agora os muitos aspectos diferentes da Antiga Religio, at afirmando inflamadamente que a Wicca, como a co-nhecemos hoje em dia, evoluiu muito alm dos conceitos descritos por Gardner e do modo como praticado por bruxos gardnerianos ou alexandrinos.

    A feiticeira e Sumo Sacerdotisa tradicional inglesa Raven Scott afas-ta-se da escola do pensamento mais Tradicional e afirma que o uso comum mudou o modo de vermos e compreendermos a Wicca e o que significa ser um wicca. Scott afirma: "Parte desta mudana foi provocada por aquilo que na verdade desejvamos ver: uma religio organizada, formalmente aceita pelas leis dos Estados Unidos". 6

    Scott tambm aceita o fato de que nem todos os wiccas podem co-nhecer os Mistrios e crenas dos Tradicionalistas britnicos. Ela comenta que "os novatos na Wicca esto descobrindo seus prprios Mistrios a fim de fazerem suas prprias Tradies a seu prprio modo, ou esto traba-lhando o Ofcio como Solitrios e, ao faz-lo, desenvolvem mltiplas ver-ses da Wicca." 7 Sinto, como Scott, que ambas as verses da Wicca tm um lugar em nossa sociedade pag, porque tanto a tradicional como a nova permitem que nos conectemos com nossos ancestrais e encontremos a divindade que buscamos. Afinal, no isso o que realmente importa?

    Muitos de ns encontramos algo que fala parte mais profunda e emocional de nosso eu interior, algo que nos fala atravs do espao de milhares de anos. O que nos fala no era chamado de Wicca esses milha-res de anos. No havia gardnerianos nem alexandrinos na construo de Stonehenge, havia apenas o Ofcio do Sbio, que simplesmente existia como parte da vida diria de nossos ancestrais. Esse o conceito da Antiga Religio que muitos abraam hoje. Decidimos chamar a prtica daquela religio de Wicca e chamar a ns mesmos de bruxos.

    Acho que a maioria dos praticantes do Ofcio de hoje percebem que estas novas abordagens abandonaram qualquer contedo profundo ou oculto

  • 24 Wicca Crenas e Prticas

    e, em vez disso, abraaram um caminho totalmente aberto e visvel. Creio que ns tambm compreendemos que aprender os diferentes aspectos mais profundos de nossa religio no algo que possa ser feito rapidamente, apenas com a leitura de alguns livros. Podemos provavelmente concordar aqui que uma compreenso mais profunda do Ofcio requer um programa de dedicao: no algo que possa ser aprendido facilmente. Por outro lado, os Caminhos mais novos, abertos ou visveis, prestam-se a um curso de estudos rpido. Embora possam mascarar os significados mais profun-dos de nossa religio, ainda assim constituem um ponto de apoio para Soli-trios ou membros de um Coven no tradicional.

    Resumindo esses pensamentos, podemos provavelmente presumir que o Ofcio do Sbio foi originalmente formado em volta desses conceitos mais profundos e ocultos; no tinha o propsito de ser uma religio para um grande nmero de pessoas. Havia apenas um feiticeiro ou curador nos lugarejos que verdadeiramente conheciam os Mistrios, e creio que pouco se pensava em interpretar o sistema de crenas alm do necessrio para os rituais comunitrios.

    O resultado dessa transio do oculto para o aberto no sculo XX que muitos pesquisadores da Wicca aprenderam a religio por meio de livros. Infelizmente, por causa disso, muitos dos conceitos mais profundos podem ter sido mal interpretados ou mal compreendidos; assim, os Mist-rios foram mudados daquilo que era entendido pelos tradicionalistas para o que compreendido pelos novatos.

    O que estamos postulando , essencialmente, o reconhecimento da emergncia de uma forma diferente da Wicca, uma Wicca que aberta, fluda, evolutiva e dinmica. Este novo conceito da Wicca s vezes causa srias preocupaes entre os praticantes tradicionalistas, porque parece atingir aquilo que eles vem como o prprio corao da Wicca; e precisa-mos compreender que seus pontos de vista, por mais estreitos que paream para alguns novatos, na verdade tm seu mrito.

    A Wicca com a qual me identifico a prtica da Antiga Religio que reconhece os velhos deuses e deusas que tm estado conosco por centenas de milhares de anos somente seus nomes mudaram. a que compreen-de o equilbrio da Natureza que nos traz a vida, a morte e o renascimento e me chama do mais profundo de meu ser. Essa a minha verso da Wicca. E verdade que talvez no seja exatamente a mesma praticada pelos tradici-onalistas, mas a que me atrai. E como eu compreendo e adoro os Antigos, abraando a divindade, que chamamos de Natureza, em todas as suas glo-riosas manifestaes.

    A Tabela 1, ao final deste captulo, descreve alguns dos melhores Caminhos conhecidos da Wicca, que alguns considerariam subtradies. uma tabela relativamente curta, uma vez que seria impossvel incluir nela todos os Caminhos. Apresento a Tabela apenas para dar ao leitor iniciante uma noo da profundidade dos diferentes Caminhos. No pretendo, de

  • Definies 25

    forma alguma, oferecer uma lista completa dos principais Caminhos da Wicca. Caso voc siga um deles no descrito nesta Tabela, peo-lhe des-culpas por minha falha no intencional. Listei os vrios Caminhos em or-dem alfabtica, sendo que essa ordem no deve, de forma alguma, ser considerada uma ordem de importncia.

    Se voc est apenas comeando um estudo do Paganismo, precisar avaliar muitas Tradies ou Caminhos diferentes para encontrar aquele que est buscando. O Caminho da Antiga Religio que voc escolher deve-r ser um que o satisfaa como indivduo e que lhe permita falar ao Senhor e Senhora sua prpria maneira. Esse Caminho poder lev-lo a profes-sores e a um Coven, ou, ainda, a um caminho Solitrio. Cada Caminho tem seu prprio valor, e preciso entender que um no superior ao outro.

    As pessoas que dizem que o Solitrio no um bruxo real, que uma iniciao solitria ao Ofcio no uma iniciao verdadeira, e que somente um bruxo de Terceiro Grau ou um lder pode iniciar outra pessoa, apresen-to minhas reservas. Se um indivduo Solitrio completar um curso razovel no estudo da religio Wicca, dedicar-se a ela formalmente e sem reservas, consagrar-se ao Senhor e Senhora, jurar defend-Los e defender a todos os que Os amam, prometendo seguir a Lei Wicca, ento essa pessoa real-mente se auto-iniciou. Essa iniciao foi verdadeiramente aceita pelo Deus e pela Deusa, e a pessoa tem tanto direito ao ttulo de bruxo quanto qual-quer outra iniciada por uma Suma Sacerdotisa ou Sumo Sacerdote em qual-quer ritual de um Coven.

    Quanto ao uso do termo auto-iniciado em oposio a autodedicado, sinto que, de alguma forma, isto simplesmente um caso de semntica. Jlie 1999 World Book Encyclopedia define a palavra dedicar como "o ato ou estado de entregar-se totalmente ou sinceramente a alguma pessoa ou propsito". 8 Define a palavra iniciar como "uma admisso formal em grupo ou sociedade, ou as cerimnias pelas quais uma pessoa admitida em um grupo ou sociedade". 9 Use voc a palavra dedicar ou iniciar e estar fazendo a mesma coisa em ambos os casos, ou seja, entregando-se totalmente a um propsito (Wicca) e sendo admitido em uma sociedade (da Wicca) por meio de uma cerimnia.

    Tendo estabelecido o fato de que os Solitrios tm exatamente o mes-mo direito ao uso do ttulo de bruxo que qualquer iniciado do Coven, importante compreender que os praticantes Solitrios precisam, necessa-riamente, obter suas informaes em fontes escritas, seja em livros ou, possivelmente, na Internet. Tenha cuidado, porque nem todas as fontes escritas disponveis em nosso Ofcio so necessariamente "boas". H mui-tos materiais publicados que contm erros ou informaes incorretas. Isso geralmente no proposital, mas surge de opinies ou filosofias conflitantes entre autores ou, em alguns casos, da falta de pesquisas por parte do autor. Tenha cuidado, portanto, e procure as opinies de outras pessoas a respeito da credibilidade de um autor antes de aceitar totalmente suas palavras.

  • 26 Wicca Crenas e Prticas

    Nunca presuma que um determinado autor ou professor tem as respostas finais e absolutas a todas as suas perguntas, e sempre saiba que pode haver alguma semente de sabedoria em quase todas as fontes. Se necessrio, considere as informaes que sente que pode usar, trabalhe com elas e deixe o resto para trs.

    A maioria das pessoas que conhecem a Antiga Religio tambm lhe dir que no existe "um nico Caminho" no Paganismo ou na Wicca. Se voc tiver a m sorte de encontrar um professor ou fonte que adote essa filosofia, fuja correndo, porque esse o ltimo lugar em que um novio ou buscador deve estar. No existe "um nico Caminho". Desde que seus estudos sejam construdos sobre uma base slida de informaes, muito aceitvel, ou at necessrio, que voc desenvolva sua prpria filosofia reli-giosa, escolhendo as melhores partes de muitas outras para com elas for-mar um todo novo. O Caminho que alguns identificam como Wicca Ecltica Cltica, que tomou o que seus praticantes acreditavam ser o melhor de vrios Caminhos (irlands, gals e escocs, e talvez at algumas influn-cias anglo-romanas), exatamente isso e perfeitamente aceitvel. O prin-cipal em um Caminho assim ecltico a conexo espiritual entre voc e as divindades. Desde que tal conexo seja estabelecida, ela lhe trar cresci-mento tanto espiritual como mgiko, e se esse Caminho for confortvel para voc, adote-o.

    No h nada de errado em mudar seu Caminho mais tarde. A medida que seu conhecimento do Ofcio se expandir, voc poder perceber que existe algum outro Caminho dentro de uma Tradio, ou talvez uma Tradi-o inteiramente diferente, que lhe parece mais confortvel. Se isso acon-tecer, totalmente permitido mudar de direo e seguir uma nova nada definitivo. Voc livre para escolher o Caminho que lhe seja mais ade-quado, trabalhe como Solitrio ou como seguidor de uma Tradio estabelecida, mas importante que seja uma de sua prpria escolha, uma que impulsione sua espiritualidade.

    Quero deixar claro, entretanto, um ponto importante que cada prati-cante Solitrio deve levar em considerao. No estou, de forma alguma, dizendo que um ano e um dia de estudo sozinho, seguidos de uma auto-iniciao, automaticamente dem ao Solitrio paridade e igualdade com pessoas que completaram anos de estudo formal com professores estabe-lecidos e atingiram o nvel de Terceiro Grau em um Coven estruturado.

    H pessoas em nossa religio que dedicaram a vida a aprender o Ofcio. Elas foram ensinadas por outros que igualmente dedicaram a vida ao estudo de nosso Ofcio e muitas delas so hoje Sumos Sacerdotes ou Sumas Sacerdotisas de um Coven. Alguns tambm conquistaram o direito ao ttulo de lder, com todo o respeito que lhes devido por sua sabedoria e sua educao, arduamente alcanadas. Essas so as pessoas que voc deve procurar, se possvel, pois so os professores que podem transmitir-lhe um conhecimento praticamente impossvel de se obter sozinho, apenas

  • Definies 27

    com a leitura de livros. Sou pago h mais de trinta anos e maravilho-me quase que diariamente diante do conhecimento que ainda preciso adquirir. O velho axioma "quanto mais voc aprende, mais voc percebe que no sabe" muito verdadeiro, acredite-me.

    Isto nos leva a uma breve discusso do que constitui uma sacerdotisa ou um sacerdote wicca. Falando de um modo geral, a Wicca no abrange a estrutura de clero e congregao geralmente encontrados na maioria das religies. Sacerdotes e sacerdotisas da Wicca so todos os praticantes do Ofcio iniciados. No existe um corpo governante oficial que conceda certificaes formais. Isso no quer dizer que essas pessoas iniciadas ad-quiriram habilidades ou conhecimentos suficientes para tornarem-se pro-fessores, mas apenas que, na poca da iniciao, j haviam desenvolvido tcnicas de rituais e afinidade com nossas divindades, o que, essencialmen-te, define as palavras sacerdote e sacerdotisa.

    Quanto a Sumas Sacerdotisas ou Sumos Sacerdotes, cada Tradio tem seus prprios requisitos de tempo e aptides necessrias para que um sacerdote ou sacerdotisa possa atingir tal posio. uma posio de lide-rana dentro do Coven, e os indivduos assim designados so responsveis pela direo de todos os rituais e ritos mgikos. tambm uma posio de confiana e responsabilidade, que ser discutida com mais detalhes no Ca-ptulo 2, que trata da tica.

    A Wicca uma religio enraizada nas nvoas da histria neoltica. Seja qual for o nome que lhe dermos Wicca, a Antiga Religio, Feitiaria ou o Ofcio do Sbio basicamente uma religio agrria e de fertilidade. uma religio de adorao da Natureza e subseqente interao com Ela, proveniente da praticada pelos cls clticos da Europa Ocidental e pelos povos indgenas das Ilhas Britnicas, os construtores de monumentos como Stonehenge. A base do que hoje chamamos de Wicca pode ser encontrada nos pantees e teologias tanto dos celtas como dos ilhus britnicos. A Wicca, por definio, , portanto, uma religio anglo-europia-pag, e eu, pessoalmente, sinto ser impossvel existir uma Tradio Wicca, como Wicca Egpcia, Wicca Budista ou Wicca dos ndios da Amrica do Norte. Embora as religies dos egpcios, dos budistas e dos ndios americanos sejam obvia-mente pags por direito, elas no podem fazer parte da Tradio Wicca do Paganismo.

    Isso no quer dizer, naturalmente, que uma pessoa no possa extrair elementos da Wicca e, de alguma forma, fundi-los com elementos de algo como o Budismo. Suponho que isso possa ser feito, mas tal conglomerao, embora talvez significativa para seus seguidores, no poderia realmente ser chamada de Wicca, uma vez que os conceitos teolgicos estariam, com

    O que a Wicca Abrange Realmente?

  • 28 Wicca Crenas e Prticas

    toda probabilidade, muito distantes da Wicca como ela compreendida por seus seguidores.

    Apenas mais algumas palavras precisam ser ditas sobre a origem da Wicca. Embora no haja dvida de que Gerald Gardner deva receber o crdito por ter levado nossa religio para a vista do pblico no sculo XX, ele no inventou a Wicca. Seria mais correto afirmar que Gardner redescobriu-a ou, possivelmente, reinventou-a, desenvolvendo a Tradio que traz seu nome, ou seja, Wicca Gardneriana, da qual muitas das inme-ras Tradies Wiccas de hoje podem ter evoludo. Gerald Gardner, Aleister Crowley e Margaret Murray contriburam indelevelmente para o reavivamento da religio Wicca como existe hoje, e sua participao em nossa evoluo no deve jamais ser esquecida.

    A religio que conhecemos como Wicca j tinha milhares de anos antes que qualquer dessas pessoas entrasse em cena. verdade que pro-vavelmente no se chamava Wicca cinco mil anos atrs. Tenho certeza de que os ritos e rituais praticados ento eram um tanto diferentes dos seus correspondentes atuais, mas a religio que ns, wiccas, praticamos no ama-nhecer do sculo XXI , verdadeiramente, baseada nas observncias reli-giosas mais antigas de nossos ancestrais neolticos. Ela , essencialmente, a mesma velha religio, observando os mesmos feriados ritualsticos guia-dos pela Natureza, e reconhecendo o ciclo eterno da vida, morte e renasci-mento. , hoje, a mesma de ento.

    Como mencionamos anteriormente, as definies de nossa religio podem depender um pouco da pessoa a quem voc pergunta. A Wicca est mudando a cada dia. Est crescendo e expandindo-se, o que, s vezes, traz muitas dores. H praticantes que passam a maior parte da vida aprendendo as complexidades do Ofcio, estudando durante anos antes de ousar assu-mir o manto de bruxo, e sentindo, s vezes, que os velhos costumes esto sendo ignorados e deixados de lado por uma nova leva de praticantes. At certo ponto, este sentimento pode ter algum mrito. Provavelmente h li-vros demais, com instrues sobre Wicca e feitiaria, que no se preocu-pam em transmitir o que significa ser um wicca. Eles pulam diretamente para o mecanismo de "como ser um bruxo", sem considerao pela res-ponsabilidade e compreenso que deve acompanhar esse ttulo.

    Como wiccas, ns reconhecemos e adoramos os antigos deuses e deusas de um modo agradvel para Eles e significativo para ns, e isso permaneceu essencialmente imutvel por milhares de anos, independente-mente da Tradio ou do praticante. No desejamos mudar os pontos bsi-cos da adorao, pois eles constituem o corao da prtica da Wicca. Se voc sair dessa filosofia e desenvolver um caminho de adorao que deixe de considerar seus pontos bsicos ou que subverta os velhos mtodos, j no estar praticando a Wicca.

    Mesmo levando em conta as definies diversas de Wicca, ainda pode-mos fazer as seguintes afirmaes gerais a respeito dos princpios fundamen-

  • Definies 29

    tais da religio, com um certo grau de certeza. A religio Wicca, a Antiga Religio, pag, amorosa e pacfica da Natureza ou de adorao da Terra. Ela est ligada s fases da Lua e s estaes do ano, como definidas por eventos astronmicos lunares e solares. orientada, de um modo geral, para as celebraes agrrias de fertilidade e reconhece uma deusa feminina e um deus masculino como divindades anlogas. A Wicca um despertar espiri-tual dentro do prprio eu, reconhecendo a inter-relao da humanidade e da Natureza. , antes de qualquer coisa, uma venerao do Senhor e da Senho-ra, uma compreenso profunda e permanente da ordem natural das coisas, e uma conscincia do significado religioso e cultural de nossos dias santos es-peciais. Apenas depois de tudo isso a Wicca comea a preocupar-se com encantamentos, mgika e as artes da adivinhao.

    A Wicca ensina-nos que a Deusa e o Deus so iguais e existem juntos em todas as coisas desta e nesta Terra, incluindo cada um de ns, de modo que somos parte Deles, assim como Eles so parte de ns. Ns e nossas divindades estamos todos ligados como parte da fora vital ou energia cs-mica que flui atravs de todas as coisas, tanto animadas como inanimadas. O feiticeiro sintoniza-se com esta fora, esta energia, durante os rituais. a mesma fora qual nos ligamos e que manipulamos, por meio de encan-tamentos e mgikas, para a criao de mudanas pessoais positivas.

    A Wicca uma religio baseada na harmonia com a Natureza e todos os aspectos da divindade do Deus e da Deusa. uma venerao de nossa Terra. Ns compreendemos que nosso mundo est beira de um desastre ecolgico, e que nossa atmosfera e nossa gua foram poludas a tal ponto que grandes esforos e despesas so agora necessrios para se iniciar a reparao dos danos. Felizmente, alguns passos foram finalmente dados para deter a destruio da camada de oznio e para diminuir as emisses de gases que contribuem para elevar a temperatura da atmosfera da Terra. Isso no significa que a batalha ecolgica tenha terminado longe disso uma vez que os danos j causados nossa atmosfera e a nossos ocea-nos levaro anos, talvez sculos, para serem reparados. Embora possivel-mente no existam solues imediatas para esses problemas, ns, pagos e wiccas, estamos muito conscientes dessas questes.

    Compreendemos e estamos sintonizados com as estaes, a ordem natural das mudanas na Natureza e no Universo. Reconhecemos que a morte parte da vida, assim como a noite parte do dia, e que as tempes-tades e chuvas de mono so to necessrias quanto as quentes nvoas de primavera e os secos dias de vero. No se pode ter uma coisa sem a outra. Este conceito de equilbrio entra na compreenso que temos da ne-cessidade de equilbrio entre o masculino e o feminino, e em nossa crena de que o Deus e a Deusa so sempre iguais, embora Ele ou Ela tendam a dominar em alguns rituais.

    A Wicca uma religio pacfica e amorosa, que exemplifica a alegria e a harmonia com todas as manifestaes da Natureza. Compreendemos e

  • 30 Wicca Crenas e Prticas

    reconhecemos a relao da humanidade com a ordem natural de todas as coisas. Reconhecemos a divindade em tudo, tanto nas coisas animadas como nas inanimadas, e abraamos o Deus e a Deusa igualmente, em per-feito amor e perfeita confiana.

    A Wicca tem suas razes em uma fertilidade pr-industrial ou religio agrria orientada para a Natureza, e os festivais das estaes ou outras reunies de feitiaria coincidem com os ciclos solares ou lunares. Esses festivais e reunies, geralmente chamados de Sabs e esbats, sero trata-dos mais detalhadamente no Captulo 4.

    O que uma crena bsica da Wicca? Tendo anteriormente apresen-tado a Wicca como um conceito esotrico, multifacetado, quase etreo, possvel responder a essa pergunta? Talvez no exista uma nica resposta, mas creio que podemos pelo menos tentar um esclarecimento. Em primeiro lugar, preciso entender que eu defino a Wicca com base nos ensinamen-tos e prticas de minha prpria Tradio. No estou querendo dizer que os pensamentos e conceitos que apresentarei nos prximos pargrafos sejam universalmente aceitos por todos os wiccas. Creio, entretanto, que voc vai descobrir que a maior parte do material bsico aqui tratado aceito de uma forma geral pela grande maioria dos praticantes da Wicca.

    Tambm preciso compreender que nossa religio no especifica-mente uma religio da Deusa. uma religio da Natureza, ligada ordem natural de eventos que , de alguma forma, orientada para a Deusa devido, especialmente, posio nica da mulher no ciclo de nascimento. Com-preendemos que tanto os componentes masculinos como os femininos so necessrios para a reproduo, mas tambm reconhecemos o lugar espe-cial da mulher nesse ciclo. Quando falarmos sobre os Sabs, voc ver que a Deusa a entidade dominante durante os rituais da primavera e do vero, e o Deus predomina nos rituais do outono e inverno; mas mesmo nas cele-braes e rituais do final do ano, o elemento Deusa ainda est presente.

    Como a maioria das religies do mundo, as pags tambm tm suas prprias histrias da criao, aquelas que dizem "E no princpio" e que diferem muito de uma religio pag para outra. Embora existam muitas semelhanas, h diferenas significativas entre as histrias da criao dos budistas, dos nativos americanos e dos wiccas, e dentro da religio Wicca h diferenas entre as histrias da criao contadas nas vrias Tradies.

    Se h uma histria bsica da criao embutida na maioria das Tradi-es da Wicca, poderia ser algo como segue, e que no difere muito dos fatos aceitos basicamente pela cincia evolucionria. Falando de um modo geral, aceitamos o fato de que bilhes de anos atrs, segundo as cincias astrofsicas, todo o Universo foi criado em um timo de segundo pelo que

    A Filosofia Wicca

  • Definies 31

    conhecido como o Big Bang. Esta violenta exploso de matria e antimatria expeliu gases e partculas de poeira em velocidades fenomenais em todas as direes, um processo que continua ainda hoje. Com o passar de eons, muitas dessas partculas de poeira e matria estelar condensaram-se e aglutinaram-se, tornando-se objetos cada vez maiores e finalmente trans-formando-se em uma multido de estrelas e sistemas planetrios. Em mui-tos desses sistemas, teve incio a vida.

    Como wiccas, cada uma de nossas Tradies tem uma viso deste processo e de como a vida, como a conhecemos, evoluiu; mas eu acredito que muitos de ns acham que este conceito do Big Bang pode ter surgido de algo semelhante ao orgasmo csmico entre o Deus e a Deusa, que deu luz todos os elementos e componentes de nosso Universo. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da vida em mirades de planetas, universal-mente surgiu o equilbrio e a igualdade do masculino e do feminino, que personificada pelo Deus e pela Deusa. No planeta Terra, as primeiras for-mas de vida comearam a reconhecer e aceitar o equilbrio e a divindade personificados pelo que decidiram identificar como Natureza. O equilbrio do masculino e do feminino foi reconhecido pelas formas mais primitivas da vida emergente, e a aceitao da Natureza como manifestao da divinda-de do Deus e da Deusa comeou a emergir como fora propulsora em todos os seres sensveis.

    Com o passar do tempo, nossos ancestrais saram de suas cavernas paleolticas e construram vilarejos e cidades; eles adoravam o Deus e a Deusa, pois viam Sua existncia em todas as coisas. Observavam a Nature-za sempre se renovando, ano aps ano. Este pode ter sido o incio, a criao do que hoje chamamos de nossa religio Wicca. Desses conceitos bsicos saiu a imagem da vida sempre morrendo para renascer, o que ns entende-mos como nossa "Roda da Vida" e identificamos como nossos "Mistrios".

    O conceito da Roda do Ano est contido na maioria das Tradies (ver Figura 2). Simplificando: nosso calendrio que define as datas de nossos rituais sabticos e mostra esses rituais se repetindo ano aps ano, eternamente. A Roda nos mostra que o ano wicca comea no Sab do Yule, quando a Deusa d luz o Deus. O Deus cresce forte durante os Sabs do Ostara e do Beltain da primavera e do vero, quando o Deus e a Deusa se unem e ela fica grvida do novo Deus. O Deus comea Seu repouso pelos Sabs do Lughnasadh e Mabon, morrendo finalmente no Samhain para renascer no Yule, e ento o ciclo recomea.

    Entrelaados com a Roda do Ano esto os Mistrios, as partes mais interiores da teologia de cada Tradio, que a tornam nica e especial para seus seguidores. Os Mistrios so parte integrante de cada Tradio wicca e as definem. Eles so uma parte cclica da Roda do Ano, o ciclo da Natureza, e o que os novios aprendem quando a Tradio estudada, definindo sua herana wicca e moldando seu futuro. O conceito dos Mis-trios wiccas tratado mais pormenorizadamente no Captulo 4, embora

  • 32 Wicca Crenas e Prticas

    em sentido um tanto genrico. Como este livro foi escrito essencialmente para cortar caminho por meio das Tradies e ser to no-tradicional quanto possvel, deixarei que cada leitor identifique, compreenda e aprenda de maneira independente as coisas que formam o Mistrio da Tradio que escolheu.

    Este conceito do ciclo eterno de todas as coisas est no corao da filosofia wicca, porque exemplifica nossa crena de que todas as coisas devem continuar, e de que preciso, no fim, existir equilbrio em todas as coisas. No pode haver primavera sem inverno, chuva sem sol, dia sem noite e vida sem morte. A Roda do Ano e os Mistrios mostram-nos que todos os aspectos da existncia so cclicos e se repetem, sem jamais ter-minar eternos e perptuos.

    Assim, reconhecemos a existncia de um(a) criador(ora) supremo(a), do qual brotam todas as outras coisas que os wiccas consideram sagradas. Acreditamos que tudo foi criado por uma entidade que chamamos de "o nico" (N. do T. Em ingls, "the One". Este termo, em ingls, indefinido, podendo aplicar-se tanto a homem como a mulher e literalmente quer dizer "o/a Um/Uma". Em portugus, qualquer termo usado definir um gnero, dificultando a idia do homem/mulher como um s.). Esse nico a essn-cia primordial e indefinvel da existncia mxima que est quase alm da compreenso e que se encontra no centro de tudo que identificamos como incio espiritual de todos ns. Percebemos que o nico composto de ele-

    Samhain 31 de outubro

    Mabon (Equincio de Outono)

    21 de setembro

    Yule (Solsticio de Inverno)

    21 de dezembro

    Lughnasadh l 5 de agosto

    Noite de Pleno Vero (Solsticio de Vero)

    22 de junho

    Imbolc 2 de fevereiro

    Ostara (Equincio de Primavera)

    21 de maro Beltain

    l 2 de maio

    Figura 2. A Roda do Ano.

  • Definies 33

    mentos iguais, tanto do homem como da mulher, que personificado como a divindade da Deusa e do Deus, trazendo o conceito de equilbrio a tudo que conhecemos como Natureza. A Deusa e o Deus so conhecveis e esto, em geral, ao nosso alcance, mas alm de nossa compreenso real. Sua essncia est sempre presente em todas as coisas: no cu, nos cam-pos, nos riachos, nos rios, nas rvores, nas flores e em todos ns. Somos e sempre fomos parte da Deusa e do Deus, e Eles so e sempre foram parte de todos ns.

    Para levarmos esta idia ainda mais adiante, tambm consideramos os muitos aspectos do Deus e da Deusa que so representados pelos no-mes reais das entidades que invocamos e a Quem nos dirigimos em nossos rituais e ritos. Compreendemos que nossas divindades no so entidades individuais singulares. Milhares de aspectos fazem parte da personalidade essencial do Deus e da Deusa, cada um deles podendo ser invocado direta-mente. Quando fazemos uma invocao ou um ritual para lanar um en-cantamento, de importncia vital que compreendamos exatamente qual a personificao ou o aspecto de nossa divindade que desejamos invocar. Cada aspecto do Deus e da Deusa tem um nome especfico, e so esses nomes que chamamos em nossos ritos. Resumindo: todo Deus e Deusa de praticamente qualquer Tradio wicca tem mltiplos aspectos, todos dispo-nveis ao praticante, que pode invoc-los segundo suas necessidades; e cada um deles nico.

    Tambm compreendemos que o domnio da Deusa o cu noturno. Ela invocada a cada esbat como a Senhora Prateada da Noite, a lua cheia, regendo as mars dos oceanos e os ciclos das mulheres. Ela a Deusa Tripla e Seu smbolo move-se da jovem para a mulher amadurecida e para a Anci, para a morte e o renascimento, em um ciclo mensal repre-sentado pelas fases da lua. Como Donzela, Ela traz um novo incio; como Me, representa a nutrio do nascimento; e como Anci, sabedoria e compaixo. Ela reina sobre a fertilidade, as colheitas e a reproduo. a deusa dos campos, dos riachos, das florestas, do mar e de todas as criatu-ras pequenas. Ela fertilidade para todas as coisas vivas, dando nascimen-to ao jovem e cuidando dele, seja animal ou vegetal. a me de todos ns, nossa criadora, e, no final, todos voltaremos para Ela.

    Compreendemos que o domnio do Deus o cu diurno. Ele rege todos os aspectos da caa e o consorte da Deusa na reproduo, sempre morrendo e sendo constantemente renascido para elevar-se como filho Dela e como Seu amante. Ele o senhor do fogo do dia, do cu abrasador. Ele o que dispersa o frio do inverno e traz o calor do vero. o caador, o artfice, o guerreiro, o pastor e o amante. o Deus com Chifres das flores-tas e montanhas e defensor de todas as criaturas. Ele a fora da Nature-za que impregna a Me Terra. Ele a sabedoria e a potncia de todas as leis fsicas. o pai de todos ns, nosso criador, e, no final, todos voltaremos para Ele.

  • 34 Wicca Crenas e Prticas

    Como a Deusa, o Deus pode ter muitos aspectos e, como em relao a Ela, necessrio saber e compreender qual de Seus aspectos se est tentando invocar quando da realizao de um trabalho ritualstico. A Figura 3 uma representao grfica desses conceitos. Embora esta figura no tente identificar os muitos aspectos que nosso Deus e nossa Deusa podem representar, pois isso seria impossvel em uma nica figura, ela d uma idia geral de como podemos ver ou interpretar as inter-relaes que com-preendem uma teologia wicca bsica. Os retngulos indicados como "As-pectos" podem representar literalmente milhares de entidades, cada uma com um nome especfico e cada uma com uma responsabilidade especfica dentro de qualquer nmero de pantees.

    A Wicca, como todas as religies, tambm trata da questo da vida aps a morte. Entretanto, diferentemente pelo menos das religies crists, a Wicca no endossa os conceitos de cu ou inferno como uma nica re-compensa ou punio, o que faz parte estritamente da teologia crist. A filosofia wicca aceita o conceito de reencarnaes mltiplas. O corpo fsi-co que voc habita atualmente apenas uma concha para o intelecto, a alma, ou o esprito, como quiser chamar. A morte fsica dessa entidade material libera o esprito de volta para um lugar que chamamos de Terra de Vero, para um perodo de rejuvenescimento, reflexo, e finalmente para outra encarnao do eu fsico. Este processo de reencarnao se repete por inmeras vidas at que o esprito alcance um desenvolvimento em que possa verdadeiramente fundir-se com a entidade equilibrada homem/mu-lher do criador/criadora. Voltamos para o Deus e para a Deusa. Esta uma das verdades bsicas da religio wicca.

    Figura 3. Um conceito de Divindade.

  • Definies 35

    O que realmente a Terra de Vero? Muitos a definem como o lugar da paz e do contentamento mximo, o lugar das eternas primaveras e ve-res, de gramas verdes macias e suaves brisas mornas, de guas claras e frescas. o paraso mximo, um lugar de vida, no de morte. Os romanos o chamavam de Avalonia, de onde vem a lenda de Avalon ou lenda arturiana. Os nrdicos chamam-no de Valhalla; os ndios norte-americanos podem cham-lo de Ultimo Lugar de Caa; e algumas outras religies pags sim-plesmente o chamam de Outro Mundo. Todos ns temos nossas definies e nossos conceitos do que seja a Terra de Vero, e eles so bem diferentes, dependendo de nossos prprios desejos e nossa compreenso da outra vida. No , portanto, facilmente definvel no sentido escrito. um lugar no cora-o e na mente de cada um de ns, e suas definies variam segundo a pessoa. Uma coisa, porm, certa na filosofia da Wicca: Ns sabemos que a Terra de Vero espera por todos ns quando terminarmos esta encarna-o, e sabemos que ela apenas o primeiro passo em nossa estrada indivi-dual rumo imortalidade.

    Como pagos, compreendemos que quando nosso corpo fsico ces-sa de existir no que podemos perceber como o mundo fsico atual, algo de nossa essncia continua a habitar este mundo, mesmo quando nosso esp-rito atravessa os portes para a Terra de Vero. Este conceito apresen-tado de modo muito bonito em palavras que vi muitas vezes e de muitas formas, embora cada uma das variaes diga essencialmente a mesma coisa. No sei quem o autor, portanto, neste livro, diremos simplesmen-te que "Annimo".

    No chore por mim quando eu morrer, pois ainda estou aqui. Estarei no verde das rvores da floresta, Estarei nas flores dos campos, Estarei no borrifar das guas na praia, Estarei no suspiro do vento de um dia quente de vero, Estarei nas guas encapeladas dos riachos, Estarei na luz do Sol e da Lua Cheia. Estarei com o Deus e a Deusa para sempre. E renascerei.

    Annimo

    A freqncia com que reencarnamos e quanto tempo ficamos na Terra de Vero entre encarnaes uma questo de conjetura entre v-rios autores e praticantes da Wicca. Minhas prprias experincias de vi-das passadas me fazem acreditar em um espao que me parece ser de, pelo menos, centenas de anos. Quantas encarnaes podemos experienciar

  • 36 Wicca Crenas e Prticas

    provavelmente depende da entidade espiritual de cada pessoa. Como o processo de fuso definitiva um processo de crescimento e experincia, provavelmente cabe a cada um de ns, como indivduos, determinar quantas encarnaes experienciamos antes da unio final com nosso Deus e nos-sa Deusa.

    Pode o processo de reencarnao passar por espcies diferentes e gneros diferentes? Pessoalmente, acredito que no passamos por esp-cies diferentes. Quando o ciclo iniciado como uma entidade humana, deve continuar assim at ser completado. Quanto a gneros diferentes, no sei. Pode-se argumentar que, a fim de se atingir o equilbrio completo do mas-culino e do feminino, o que enfatizado na Wicca, dever-se-ia experimen-tar a existncia em ambos os sexos. At agora, minhas experincias pes-soais de vidas passadas, tanto quanto posso dizer, refletiram apenas uma existncia masculina.

    A Wicca mais do que uma religio de rituais naturais e filosofia reencarnacional. tambm uma religio de cura e mudanas, usando-se um estado mental positivo e energia positiva a fim de alcanar alvio, tanto de dores como de problemas internos e externos. Esta a aplicao da mgika ou encantamento que usamos para produzir essas mudanas positivas, um conceito que trataremos com mais detalhes no Captulo 6. O feiticeiro tam-bm compreende e usa tcnicas de meditao, bem como vrias ervas (sil-vestres ou cultivadas) juntamente com prticas mdicas comuns para ajudar a curar doenas ou ferimentos. Nossas habilidades tm o propsito de traba-lhar em conjunto com a medicina moderna, no de substitu-la.

    Como explicamos neste captulo, a definio de pago, wicca e feiticeiro/bruxo varia entre os pagos, dependendo do treinamento e da Tradio pag seguida. Falando de um modo geral, nem todos os pagos so wiccas, nem todos os pagos so necessariamente feiticeiros, nem todos os feiticeiros so wiccas, mas todos os wiccas so verdadeiramen-te feiticeiros.

    Pratiquemos ns o Ofcio nos Covens ou como Solitrios, essa prtica se d em um ambiente totalmente autnomo. Ns, e apenas ns, somos totalmente responsveis pelo contedo e forma de nossos rituais e ritos e pela maneira como estabelecemos uma relao com o Senhor e a Senhora. No existe uma pessoa nica designada para nos guiar, ningum recebe o poder do ttulo de Gro-Pago, Rei ou Rainha de todos os Feiticeiros, ou Wicca Supremo; no existe tambm um Conselho Mundial de Bruxos que estabelea leis e transmita diretivas para o resto de ns. Mesmo quando um novo Coven se desliga de outro e existe alguma disputa entre os dois, essa relao nunca exige ou indica subservincia de um ao outro.

    Sumrio do Captulo

  • Definies 37

    H, entretanto, vrias confederaes de pagos que so livres, como a Aliana da Deusa e algumas de conhecimento pblico ou organizaes educacionais pblicas, como a Rede Educativa Pag. Nesses tipos de as-sociao, os Covens e os Solitrios s vezes se renem, quando indivduos e grupos celebram juntos um Sab importante ou tratam de uma questo comum.

    O lado positivo dessa autonomia que todos temos realmente total independncia de pensamento, palavra e ao (pelo menos dentro de nossa Tradio) para praticar o que achamos adequado. O lado negativo que fica difcil nos organizarmos em um todo realmente unificado ou coerente quando se torna necessrio tratar de uma questo legal que envolva nossos direitos, ou mesmo se um de ns ameaado. Eu sugiro enfaticamente que se voc pratica em um Coven pequeno ou como Solitrio, que pelo menos faa um esforo para entrar em contato com outros pagos de sua rea, desenvolvendo alguma forma de relacionamento. Isso geralmente aconte-ce por meio de uma loja de produtos do Paganismo ou ocultismo local, ou, caso isso no funcione, tente a Internet e procure grupos de idias seme-lhantes em sua rea geogrfica.

    importante que voc tenha alguma idia de aonde ir a fim de resol-ver questes sobre a religio ou apenas trocar idias e conceitos com ou-tras pessoas, e de tomar conhecimento de possveis atividades ou pogroms antipagos, ou, em casos mais srios, ter algum lugar para pedir ajuda, caso isso se torne necessrio.

    Uma vez que somos todos plenamente autnomos, tambm somos li-vres para interpretar as diretrizes da Antiga Religio nossa prpria manei-ra. Outros podero discordar de nossas interpretaes e at de alguns de nossos rituais, sendo que eles tm todo o direito de faz-lo, seja um novio ou um lder, mas qualquer desacordo deve ser considerado no contexto da Tra-dio ou Caminho da outra pessoa, e ningum, independentemente da sua posio no Ofcio ou em seu prprio Coven, est automaticamente investido de sabedoria infinita e conhecimento infalvel de todas as coisas referentes Wicca. Ningum tem o direito de dizer a outro praticante que o que ele est fazendo " errado"; na verdade, conheci novios, ainda em seus primeiros tempos de estudo, que demonstraram mais espiritualidade e viso mgika do que algumas pessoas que vm praticando o Ofcio h anos.

    Ns praticamos uma religio muito antiga, que venera a vida e com-preende a relao mgica entre ns e a divindade que chamamos de Natu-reza, uma religio que antecede, por milhares de anos, o advento de Gerald Gardner e o estabelecimento da Wicca gardneriana. Nossa religio gene-ricamente chamada de feitiaria, embora ns, que a praticamos hoje, a chamemos em geral de Wicca. Ningum, seja qual for sua professada genealogia no Ofcio, tem a propriedade da palavra feiticeiro/bruxo e pode dizer-lhe que voc no tem o direito de chamar a si mesmo de feiticeiro, ou de praticar a feitiaria, a menos que o faa de uma determinada forma.

  • 38 Wicca Crenas e Prticas

    Pratique o Ofcio da maneira que lhe traga uma conexo espiritual com o Deus e a Deusa, e pratique-o de tal forma que cresa espiritualmente e magikamente. Faa todas essas coisas de acordo com a Lei Wicca e esta-r, realmente, praticando feitiaria.

    A Wicca uma religio pacfica, amorosa e de afirmao de vida, que pode incorporar a prtica da bruxaria a fim de criar uma mudana positiva em nossa vida e em nosso ambiente. No professamos ser "o nico Caminho" e compreendemos que o que constitui um Caminho certo e lgico para ns, pode no ser o correto para outros. H muitas religies neste mundo, h muitas Tradies dentro do Paganismo e muitos Caminhos dentro da Wicca. Cada um deles significativo e vivel para seus praticantes.

    Honramos e apoiamos todas as religies, na crena de que a religio uma escolha individual, e que cada pessoa precisa seguir seu prprio Caminho de convico. No desprezamos outras religies ou modos de adorao e no tentamos converter outros a nosso modo de pensar. Nosso Caminho s pode ser alcanado por meio da prpria iniciativa da pessoa, nunca por proselitismo ou recrutamento.

    A Wicca uma religio pacfica e amorosa, e estes conceitos so incorporados a nossos rituais e atividades dirias. O lema "O Amor a Lei e o Amor o Elo" totalmente compreendido e reconhecido por todos os praticantes da Wicca.

    Tabela 1: Descrio de vrios Caminhos da Wicca

    O material apresentado nesta tabela foi inicialmente inspirado pelo livro de Raymond Buckland Buckland's Complete Book of Witchcraft, assim como por conversas com outros do Ofcio. O material aqui apresen-tado no tem, obviamente, o objetivo de dar ao leitor uma descrio com-pleta de cada Tradio listada, e sua disposio nesta tabela puramente alfabtica. No existe indicao de superioridade ou inferioridade de uma Tradio ou Caminho, seja expressa ou sugerida, na ordem em que apare-cem ou at no fato de no aparecerem.

    1. Alexandrina

    Esta uma das Tradies geralmente listada sob o ttulo de "Brit Trad", ou seja, forma Tradicional Britnica da Wicca. Esta Tradio origi-nou-se na Inglaterra com Alex Sanders no incio da dcada de 1960, e seus rituais eram essencialmente uma modificao da Wicca Gardneriana. Um sistema estruturado de graus, do Primeiro ao Terceiro, usado para avano

  • Definies 3 9

    dentro do Coven. A Wicca Alexandrina uma Tradio iniciatria e, por-tanto, no est aberta a Solitrios.

    2. BTW (Feiticeiro Tradicional Britnico)

    Esta Tradio essencialmente derivada dos princpios gardneria-nos e tem um forte componente cltico. E altamente estruturada, com requisitos especficos de educao e treinamento, que precisam ser aten-didos para avano no Coven, no processo de graus. Esta uma Tradi-o iniciatria, onde a iniciao feita apenas por um lder adequado, e os iniciados podem traar sua linhagem at o Coven original de Gerald Gardner; assim, a BTW no uma Tradio aberta aos praticantes So-litrios. Alguns Covens da BTW ainda tendem a defender o uso da palavra feiticeiro/bruxo apenas pelos militantes. Eles acreditam que esta palavra adequadamente aplicada apenas aos membros iniciados nessa Tradio.

    3. Cltica

    Esta Tradio uma mistura do Kitchen Witch Path (Caminho do Feiticeiro Kitchen) com o prprio panteo primitivo cltico de escoceses, irlandeses e galeses, e contm at alguns toques drudicos. Influncias anglo-romanas tambm podem estar presentes em alguns Caminhos da Wicca Cltica. A nfase est na venerao da Natureza e nos elementos identifi-cados como os Antigos ou Velhos, e salienta as propriedades mgikas de rvores e plantas. A Wicca Cltica no tem, entretanto, uma ligao forte com bosques, fontes ou rvores especficos e sagrados, como a Tradio Druida, e facilmente adaptvel para os Solitrios. A estrutura e o conte-do ritualstico bsicos da Wicca Cltica podem geralmente ser encontrados, at certo ponto, na maioria das Tradies. Esta talvez uma das mais antigas Tradies wiccas, por causa de sua ampla influncia no formato geral da Wicca.

    4. Dinica

    Desenvolvida por Margaret Murray em 1921, esta Tradio tipica-mente identificada como uma Tradio feminista. O foco de muitos Covens dinicos pode estar totalmente sobre a Deusa, com a excluso do componen-te do Deus masculino, indo toda nfase para a mulher. Esta, em geral, uma Tradio iniciatria, mas muitos praticam seus ensinamentos como Solitrios. Quase todas as Tradies Pags podem sustentar um Caminho Dinico.

  • 40 Wicca Crenas e Prticas

    5. Ecltica

    Esta Tradio essencialmente uma mistura de vrios Caminhos, onde o adorador escolhe o que considera as melhores partes de vrios Caminhos e combina-os em um novo todo, sem seguir qualquer Tradio ou prtica mgika especfica ou nica. facilmente adaptvel para o praticante Soli-trio, mas o ponto negativo de ser totalmente ecltico o bvio resultado final do desenvolvimento de um novo conceito de adorao, to novo ou diferente que talvez j no possa ser considerado Wicca.

    6. Feiticeiro Kitchen

    Esta Tradio devotada essencialmente parte prtica ou de traba-lho da Antiga Religio, com nfase no uso de plantas e encantamentos para proteo e cura. a que mais se aproxima do significado geralmente com-preendido do que e faz um feiticeiro e era, aparentemente, praticada por habitantes neolticos da maior parte da Europa ocidental. Esta tambm uma das Tradies mais facilmente praticadas por Solitrios, uma vez que a educao exigida pode ser obtida por estudos pessoais ou aprendida com outros.

    7. Gardneriana

    Esta Tradio foi fundada por Gerald Gardner, em meados da dcada de 1950, e geralmente considerada como tendo iniciado o movimento de reativao da Tradio da feitiaria moderna. A Wicca Gardneriana ou-tra dos Britnicos Tradicionais e solidamente estruturada, com firmes re-quisitos, tanto de tempo como de habilidades, que devem ser cumpridos para avano nos vrios graus. A auto-iniciao no possvel na Wicca Gardneriana; assim, no um Caminho vivel para Solitrios.

    8. Hereditria

    Esta uma tradio altamente restritiva, uma vez que requer que a pessoa trace a prpria ancestralidade wicca, vrias geraes para trs, na prpria genealogia. Ensinamentos e iniciaes so transmitidos apenas por um parente vivo que tenha sido instrudo e iniciado da mesma forma, e pessoas de fora ou que no sejam membros da famlia no podem partici-par. ideal para Solitrios, caso a pessoa consiga cumprir esses requisitos.

  • Definies 41

    9. Strega (Bruxa)

    Esta uma Tradio italiana, datada mais ou menos de meados do sculo XIV d .C, e enfatiza a adorao da Deusa em Sua forma de Aradia, filha de Diana. Alguns dos nomes do Sab na Strega podem diferir dos usados em outras Tradies da Wicca, embora sejam celebrados muitos dos mesmos ritos e festivais.

    10. Teutnica ou Nrdica

    Esta Tradio provavelmente apenas uma forma to antiga da Wicca como a forma Cltica, mas tem sua base nos pases nrdicos da Europa, com mais nfase no panteo nrdico do que nas divindades das Ilhas Brit-nicas ou clticas. Prevalece mais tipicamente entre alguns dos povos de lngua germnica, como os holandeses, os dinamarqueses, os noruegueses, os suecos e os alemes.

    11. Wicca-Seax

    Esta Tradio foi fundada por Raymond Buckland no incio da dcada de 1970, como ramo da Wicca Gardneriana. A Wicca-Seax (esta a grafia correta deste Caminho) difere da Gardneriana principalmente em sua ca-pacidade de acomodar os praticantes Solitrios. No h graus na Wicca-Seax, mas a nfase colocada nas habilidades aprendidas por instrues recebidas ou de auto-instruo, e a pessoa pode auto-iniciar-se.

    1. The American Heritage Dictionary of the English Language, 3a

    Edio, v. "pagan".

    2. The 1993 Encyclopedia Britannica, v. "world religions"; The 1998 Cambridge Fact Finder, v. "religions".

    3. The 1999 World Book Encyclopedia, v. "Wicca".

    4. The American Heritage Dictionary of the English Language, 3s ed., v. "witch".

    5. The 1999 World Book Encyclopedia, v. "witch".

    6. Ver Raven Scott, Who is Wiccan? http://annex.com/raven/wiccans.htm

    7. Ibid.

    8. The 1999 World Book Encyclopedia, v. "dedicate".

    9. Ibid, v. "initiate".

    http://annex.com/raven/wiccans.htm
  • 2 A tica Wicca

    A Wicca , sem qualquer dvida, uma religio devidamente organizada sob a proteo da Primeira E m e n d a da Consti tuio dos Estados Unidos , como definida pela lei federal (Dettmer v. Landon)1 e c o m o sustentada pelo Congresso dos Estados Unidos, com a revogao da Emenda de Helms. 2

    A Wicca t em sido identificada como uma religio aceitvel para membros das Foras Armadas dos Estados Unidos , e nossas crenas bsicas so exp l i cadas no Manual dos Capeles Militares dos Estados Unidos.3

    Mais detalhes a respeito da questo legal Dettmer v. Landon e a Emenda de Helms so apresentados no Captulo 8.

    A Wicca , assim, uma religio identificvel e reconhecida por qual-quer teste que possa ser aplicado a esta terminologia. C o m o na maioria das religies, a Wicca tem um concei to de tica, o cdigo de comportamento que definido pelo The American Heritage Dictionary como "um ramo da filosofia que tenta auxiliar-nos a compreender quais os caminhos da vida que so dignos de serem seguidos e cujas aes so certas ou erradas"'." A palavra tica descrita por The Concise Columbia Encyclopedia como "o estudo da natureza geral da moral e das escolhas morais especficas a serem feitas por uma pessoa; ou a filosofia, as regras ou padres morais que governam a conduta de uma pessoa ou membro de uma profisso". 5

    A p a l a v r a tica t a m b m p o d e se r d e s c r i t a um p o u c o m a i s pormenorizadamente luz dos princpios morais , como algo que pode ser considerado padro de conduta de um indivduo ou grupo, ou c o m o um corpo de obrigaes e deveres sociais. Essas obrigaes e deveres consti-tuem o que ns s vezes chamamos de nossa conscincia, nossa percepo moral do certo e do errado, o conjunto ou sentido de valores inato que derivam da experincia individual ou ensinamentos de grupo. Idealistas como Plato argumentaram que existe um b e m absoluto ao qual aspiram as ativi-dades humanas . Esse b e m absoluto, s vezes chamado de critrio tico, pode ser baseado em pontos religiosos absolutos, ou ser independente de

  • 44 Wicca Crenas e Prticas

    consideraes teolgicas, baseando-se unicamente em padres sociais acei-tos. A fonte de um critrio tico pode, portanto, ser equiparada religio, ao estado ou ao b e m de um grupo, segundo definio do prprio grupo.

    Dadas essas definies e explicaes da palavra tica, podemos exa-minar nossa religio e fazer a declarao categrica de que, como prati-cantes da Wicca, ns realmente temos um conjunto de valores morais e espirituais que se adequam precisamente a essas definies. Temos um padro de tica que governa nossa vida como bruxos, tanto dentro quanto fora do Coven.

    Mencionei brevemente o assunto da tica no Captulo 1, mas um conceito que est no corao de nosso sistema de crenas wicca, e eu sinto que algo que merece comentrios considerveis. Existe um excelente livro de Robin Wood sobre a tica de nossa religio, intitulado When, Why... If (Quando, Por qu... Se). Embora no seja minha inteno citar literal-mente essa obra em particular nem parafrase-la neste captulo, discutirei a tica do Ofcio a partir de minha prpria perspectiva e t reinamento. De qualquer forma, recomendo When, Why... If como leitura obrigatria para o novio ou pesquisador.

    A tica de nossa religio est apropriadamente incorporada na Lei Wicca ( tambm conhecida c o m o tica Wicca) , c o m o t ambm na Rede Wicca e na Regra de Trs, que s vezes chamada de Lei Tripla. Esta t raduo da Lei Wicca, como mostrada aqui, uma forma consideravel-mente truncada de duas verses muito mais longas, apresentadas no Apn-dice A. As origens factuais das duas verses, no Apndice A, so incertas para mim, mas ambas devem datar do incio do sculo XX. No obstante, estas palavras ainda formam a pedra angular da tica wicca:

    Viver da Lei Wicca a aliana, Com perfeito amor e perfeita confiana. Oito palavras podem a Rede resumir: Faa o que desejar, se a ningum ferir! E ateno a Regra de Trs: Tudo que enviamos, volta outra vez. Seguir esta regra por toda a vida, Rara um feliz encontro e uma feliz partida.

    Embora existam poucas evidncias concretas que sugiram ser a Lei Wicca muito antiga, h a lgumas indicaes de que ela possa ter t ido seu incio real no livro um de Gargantua and Pantagruel, escrito em 1532 pelo mdico e humanista Franois Rabelais. Nesse livro, Rabelais descreve as leis que governavam a maneira de viver dos telemitas. Se as palavras de Rabelais verdadeiramente inspiraram Crowley ou Gardner, ou qualquer dos que os precederam, no sabemos. De qualquer forma, esses oito versculos

  • A tica Wicca 45

    da Lei Wicca podem ser interpretados como bsicos para a religio Wicca, e so o que considero os fundamentos da feitiaria tica.

    Ora, eu creio que h pessoas que vo arregalar os olhos ao ler essa lt ima sentena, porque no conseguem compreender que a prtica da fei-tiaria possa ser tica e utilizar apenas rituais e mgikas destinados a mu-danas posit ivas, mas essa verdadeiramente a base de nossa religio. Procuramos no ferir n ingum, incluindo nossa prpria pessoa, e procura-mos jamais realizar mudanas que prejudiquem outras pessoas de qualquer forma. Nossa compreenso da Lei Wicca e o ju ramento que fazemos em nossa iniciao probem-nos expressamente de agir de outra maneira.

    Es te o ponto em que a Wicca e a lgumas outras rel igies pags p o d e m diferir quanto a interpretao e apl icao. N o afirmo que todas as mgikas ri tualst icas pags aca tem os concei tos da Lei Wicca , mas apenas que ns , que seguimos e pra t icamos a Wicca , esforamo-nos para cumpri- la . Os wiccas a s sumem total responsabi l idade por seus atos. Te-mos plena conscincia de que apenas ns somos responsveis por todos e quaisquer efeitos resul tantes de nossos atos mgikos . Este concei to faz parte do que somos e do que fazemos, e o que nos separa de a lgumas das outras mais agressivas ou volteis rel igies pags . A Wicca no est ac ima de quaisquer outras rel igies pags e no me lhor que elas: s im-p lesmente diferente.

    Ns que seguimos o Caminho Wicca sabemos e compreendemos ple-namente que a Lei Wicca no um mandamento n e m uma lei em qualquer sentido legal. uma lei no sentido tico, uma diretriz para nossas aes. Embora possa no ser antiga e venerada, ela ainda a diretriz tica pela qual pautamos nossa prtica da magia. Se pudermos, de a lguma forma, incorporar seus princpios em nosso dia-a-dia fora do Ofcio, tanto melhor. Como guia, ela pode ser seguida mais resolutamente por alguns do que por outros, e, no final, o concei to de "no ferir n ingum", c o m o aparece na Rede Wicca, provavelmente estar sempre sujeito a interpretaes e com-preenses dos praticantes. Pessoalmente, interpreto-a como est escrita, sem qualificaes, e esta interpretao tem sido a base de minha prtica tica da feitiaria, desde meu primeiro contato com este caminho.

    A Rede Wicca

    A Rede Wicca, na quarta linha da Lei Wicca, declara que no deve-mos "ferir n ingum", o que significa exatamente isso. A Rede a regra inviolvel da feitiaria c o m o compreendida pelos wiccas. Ns criamos o Universo no qual v ivemos, e todos ns compreendemos que nossa mgika ter um efeito nele. Compreendemos que ns somos, cada um como indiv-duo, responsveis por nossas prprias aes. Ao seguirmos a Rede, temos conscincia de que podemos realizar qualquer mgika ou encantamento

  • 46 Wicca Crenas e Prticas

    que achemos necessrio ou adequado, mas jamais os usaremos para cau-sar sofrimento ou mal a outros de qualquer forma que essas pessoas no causassem a si mesmas com suas prprias aes. Isso no significa que no nos defenderemos n e m defenderemos nossos entes queridos. claro que o faremos, e at com muita eficcia, mas normalmente faramos isso de acordo com a filosofia da Wicca de "no ferir n ingum". Podemos criar a lgumas defesas mgikas bem desagradveis , e se a lgum agressor atirar-se contra elas ao atacar-nos, ento qualquer mal causado a esse agressor ser de sua responsabil idade, no nossa. Gostar amos de explicar que Rede uma expresso arcaica que significa "conselho ou guia".

    Como exemplo de "no ferir n ingum", nunca desejaramos que um motorista apressado sofresse um acidente na estrada; mas no h nada de errado em pedir s divindades que providenciem um policial para det-lo na prxima ponte. U m a ao ou encantamento usado contra um conhecido predador ou assaltante no seria destinado a ferir aquela pessoa diretamen-te, mas poder amos lanar um encantamento para fazer com que os pr-prios processos conscientes de pensamento daquele indivduo inadvertida-mente o levassem a uma situao em que as autoridades policiais efetuas-sem uma priso. Em ambos os exemplos, seria a prpria estupidez da pes-soa em questo que causaria o desfecho. Nos dois casos, ns no estara-mos fazendo nada para prejudicar ou ferir diretamente qualquer delas.

    Quanto segunda parte da Rede, compreendemos que "fazer o que desejarmos" significa essencialmente trabalhar nossos rituais e mgikas de tal forma que alcancemos nossos objetivos sem violar o conceito de "no ferir n ingum"; resumindo, fazer o trabalho apenas para provocar mudan-as positivas e melhorar nossa vida ou a vida daqueles que nos pediram ajuda. Isso nos leva a uma outra compreenso de c o m o um wicca trabalha a mgika "dentro da filosofia de "fazer o que desejar". Sem uma boa razo, ns no faremos mgikas ou encantamentos para uma pessoa sem o seu consent imento, e jamais os faremos contra sua vontade, pois isso seria uma violao do corao da Rede e iria contra os princpios bsicos de nossa religio.

    H um exemplo que poderia demonst rar esta doutr ina. Vamos pre -sumir que voc tenha um amigo ou parente n t imo que esteja beira da mor te , a ponto de no poder reagir. Se voc t iver boas razes para acre-ditar que aquela pessoa , caso pudesse comunicar -se , consentir ia em re-ceber ajuda, e se voc achar hones tamente que sua ajuda necessr ia , no seria u m a vio lao da Rede agir mag ikamen te a favor da pessoa sem seu consent imento expresso . D e v o confessar que eu fiz isso u m a vez, mas apenas depois de medi tar mui to com a Senhora sobre o mot ivo de eu sentir necess idade de real izar aes especficas. No m e u caso, os resul-tados do encantamento que lancei foram imediatos e tota lmente posi t ivos, ento p resumo que minha deciso foi acertada; ou, melhor, a lgum tomou a deciso por mim.

  • A tica, Wicca 47

    A Rede Wicca forma, assim, um dos pontos de definio da religio Wicca. um conceito c o m o qual precisamos estar totalmente familiariza-dos e em plena concordncia todos os momentos . uma pedra fundamen-tal da Lei Wicca e u m a das coisas que nos definem c o m o praticantes da Wicca.

    A Regra de Trs

    A Regra de Trs, do sexto versculo da Lei Wicca, afirma que "o que enviamos volta para ns" . Isso significa essencialmente que qualquer ener-gia que enviemos em um encantamento, seja ela boa ou m, retornar para ns triplicada, ou trs vezes mais forte. Por que precisamos disso, se j dissemos que seguimos a Rede? A Regra de Trs um reforo para a Rede , pois traz baila o conceito de recompensas positivas por atos positi-vos e resultados negativos para atos negativos. Cada um de ns respon-svel por seus prprios atos.

    Em muitos casos, os efeitos da Regra de Trs podem no ser bvios para o recipiente. Por exemplo: se a lgum representando uma instituio de caridade bate minha porta pedindo uma contribuio e eu lhe dou dez dlares, isso no significa necessar iamente que uma semana mais tarde meu banco v descobrir um erro de trinta dlares em minha conta, a meu favor. Na verdade, minha recompensa por esse ato posit ivo pode tomar muitas formas que no sejam a forma bvia do ganho financeiro. Quase qualquer coisa que me traga uma recompensa, seja emocional , mental ou fsica, em qualquer poca futura, poderia estar l igada ao efeito da Regra de Trs, causado por minha ao positiva. Por outro lado, se uma pessoa violar a t ica Wicca , e m p r e e n d e n d o u m a ao contra outra, ca lculada para prejudic-la, t ambm acontecer que o perpetrador rapidamente receber sua prpria medida de prejuzo, trs vezes maior do que aquela que enviou, ou a receber de volta exatamente da mesma forma.

    A Regra de Trs no funciona necessariamente em uma base linear imediata, de dar e receber, e s poder ser percebida posteriormente, quan-do a Regra for aplicada de a lguma forma. Na verdade, os resultados po-d e m ser totalmente transparentes para o praticante. Isso quer dizer que, se enviar energia c o m o propsi to expresso de prejudicar algum, b e m pos-svel que a medida de dano que voc receba de volta esteja mascarada e no seja reconhecida por voc como tal. possvel que a Regra aja de tal forma que voc no receba um resultado negativo bvio, mas que algo que poderia ter sido um resultado mui to posit ivo lhe seja negado.

    C o m o i lustrao, vamos p resumir que , por a lguma razo, voc faa um t raba lho de e n c a n t a m e n t o espec i f icamente des t inado a envia r a ou-tra pessoa a lguma coisa nega t iva . A Regra de Trs garante que , c o m o

  • 48 Wicca Crenas e Prticas

    resu l t ado de sua ao , voc exper ienc ia r a lgo nega t ivo em sua vida. I sso poder ia ser a lguma coisa bvia , c o m o um carro roubado ou u m a srie de danos , ou poder ia ser t ransparen te para voc ao notar que a lgo de b o m que dever ia ter acon tec ido em sua v ida s imp le smen te n o acon-teceu. Por exemplo : s u p o n h a m o s que o p r x i m o b i lhe te da loter ia local es t ivesse p r -o rdenado para ser um vencedor de um mi lho de reais . Em vez de voc compra r aque le b i lhe te e receber u m a r iqueza ins tant-nea, vamos p resumi r que voc , de a lguma forma, teve um imprev is to de l t ima hora , que o fez perder o lugar na fila. Resu l t ado : out ra pessoa c o m p r o u o b i lhe te p r e m i a d o que dever ia ser seu. A out ra pessoa torna-se vencedora , e n o voc . N e s s e caso , voc foi r ea lmen te o rec ip iente de pe los m e n o s trs vezes o mal que ten tou causar, mas t em consc in-cia d i s so? P r o v a v e l m e n t e no . E m b o r a a R e g r a de Trs t enha funcio-nado , isso pode ter acon tec ido de u m a forma que no foi bvia para o rec ip ien te da reao nega t iva .

    Isto levanta a questo de por quanto t empo u m a pessoa pode razoa-ve lmente esperar uma reao posi t iva ou negat iva, o que , por sua vez, nos leva a um breve debate sobre o ca rma e a re t r ibuio crmica ou dbi to crmico. M e u prpr io s is tema de crenas me diz que a resposta a qualquer ato b o m ou mau de minha par te ser exper ienciada, s vezes , nesta vida, s que no sei quando n e m c o m o . Pessoa lmente , no acredi to em retr ibuio crmica ou em pagar pelos erros desta vida em uma outra, e no acredi to que exper ienc iemos , em uma vida, os horrores que poss i -ve lmente infl igi