fusÕes e incorporaÇÕes de mÉdias empresas – uma

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ROBERTO CORREA BUCHALA FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS UMA ANÁLISE DAS ATUAÇÕES DE ASSESSORES FINANCEIROS E FUNDOS DE PRIVATE EQUITY NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo Curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Eletrônica ORIENTADOR: Wilson Kendy Tachibana São Carlos 2011

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Page 1: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

ROBERTO CORREA BUCHALA

FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA ANÁLISE DAS ATUAÇÕES DE ASSESSORES

FINANCEIROS E FUNDOS DE PRIVATE EQUITY NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Escola de Engenharia de São Carlos, da

Universidade de São Paulo

Curso de Engenharia Elétrica com ênfase em

Eletrônica

ORIENTADOR: Wilson Kendy Tachibana

São Carlos

2011

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP

Buchala, Roberto Correa.

B918f Fusões e incorporações de médias empresas : uma

análise das atuações de assessores financeiros e fundos

de Privaty Equity no Brasil / Roberto Correa Buchala ;

orientador Wilson Kendy Tachibana –- São Carlos, 2011.

Monografia (Graduação em Engenharia Elétrica com

ênfase em Eletrônica) -- Escola de Engenharia de São

Carlos da Universidade de São Paulo, 2011.

1. Fusões e incorporações. 2. Assessor financeiro. 3.

Privaty equity. 4. Métodos de avaliação de empresas. I.

Titulo.

Page 3: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

i

RESUMO

As Fusões e Incorporações são processos cada vez mais presentes no ciclo de vida de uma

empresa. Contudo, as características destes processos e a forma como são conduzidos

ainda são de difícil compreensão para boa parte de empresários da categoria de médias

empresas. Dado isso, este trabalho pretende esclarecer estas características e introduzir

dois elementos participantes destes processos, o assessor financeiro e os fundos de private

equity. A presença do primeiro, mais comum nas transações envolvendo empresas maiores,

agrega valor e estrutura o processo, além de preparar melhor as partes para a fase

posterior de integração. O segundo fomenta o crescimento das médias empresas,

investindo e inserindo práticas de governança corporativa, contribuindo para o

desenvolvimento da economia como um todo.

Palavras-chaves: fusões e incorporações; assessor financeiro; private equity; métodos de

avaliação de empresas.

Page 4: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

ii

ABSTRACT

The Mergers and Acquisitions processes are increasingly present in the life cycle of a

company. However, the characteristics of these processes and how they are conducted are

still difficult to understand for most of the middle market businessman. Given this, this paper

aims to clarify these characteristics and introduce two participating elements of these

processes, the financial advisor and private equity funds. The presence of the first, more

common in transactions involving larger firms, adds value and structure the process, and

better prepare the participants for the further integration. The second promotes the growth of

middle market enterprises, and introduces corporate governance practices, contributing to

the development of the economy as a whole.

Key-words: mergers and acquisitions, financial advisor; private equity; enterprise valuation

methods.

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iii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Evolução anual do número de transações ............................................................ 3

Figura 2 – Relação entre Nível de Investimento e Operação ................................................ 9

Figura 3 – Motivos e Problemas Relacionados com Operações de F&I .............................. 23

Figura 4 – Investimento de Longo Prazo e Estágios de Desenvolvimento .......................... 25

Figura 5 – Papel do Assessor Financeiro ............................................................................ 28

Figura 6 – Ranking de Operações de F&I no Brasil............................................................. 29

Figura 7 – Evolução da Atuação do Assessor Financeiro no Brasil ..................................... 30

Figura 8 – Porcentagem das Operações de F&I Assessoradas no Brasil ............................ 30

Figura 9 – Fluxograma das Principais Atividades em uma Assessoria de Venda ................ 34

Figura 10 – Fluxograma das Principais Atividades em uma Assessoria de Fusão .............. 36

Page 6: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

iv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação de Empresas de Acordo com o Número de Funcionários .............. 5

Tabela 2 – Classificação de Empresas de Acordo com a Receita Operacional Bruta Anual . 5

Tabela 3 – Tipos de Operações Quanto a Origem de Capital ............................................. 13

Tabela 4 – Comparação entre os Principais Métodos de Avaliação .................................... 20

Tabela 5 – Empresas Recém Investidas de Fundos de Private Equity ................................ 38

Tabela 6 – Estágio de Investimento dos Fundos de PE Realizados nos Últimos 12 Meses 39

Page 7: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

v

LISTA DE SIGLAS

BC Banco Central

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

DCF Discounted Cash Flow – Fluxo de Caixa Descontado

EBITDA Earns Before Interest, Tax, Depreciation and Amortization – Lucros antes de

Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA)

EV Enterprise Value – Valor da Empresa

EVA Economic Value Added – Valor Econômico Adicionado

F&I Fusões e Incorporações

FIP Fundo de Investimento em Participação

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPO Initial Public Offering – Oferta Pública Inicial

MVA Market Value Added – Valor de Mercado Agregado

NOPAT Net Operating Profit after Taxes – Lucro Operacional Líquido após Impostos

PE Private Equity

PIPE Private Investments in Public Equity

PME Pequenas e Médias Empresas

PL Patrimônio Líquido

VC Venture Capital

WACC Weighted Average Cost of Capital – Custo Médio Ponderado de Capital

Page 8: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA
Page 9: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

1

SUMÁRIO

1. Introdução ...................................................................................................................... 3

1.1 O Segmento de Médias Empresas.......................................................................... 4

2. Objetivo ......................................................................................................................... 6

3. Método ........................................................................................................................... 7

4. Revisão Bibliográfica ..................................................................................................... 8

4.1 Fusões e Incorporações.......................................................................................... 8

4.2 Razões e Motivos para Transações de Fusões e Incorporações ............................ 9

4.2.1 Crescimento................................................................................................... 10

4.2.2 Expansão Geográfica .................................................................................... 10

4.2.3 Sinergia ......................................................................................................... 11

4.2.4 Razões Financeiras ....................................................................................... 11

4.2.5 Aumento da Capacidade Administrativa ou Tecnologia ................................. 12

4.3 Classificações de Fusões e Incorporações Quanto à Origem do Capital .............. 13

4.4 Métodos de Análise de Empresas ......................................................................... 14

4.4.1 Método Patrimonial ........................................................................................ 15

4.4.2 Método do Fluxo de Caixa Descontado ......................................................... 15

4.4.3 Método dos Múltiplos ..................................................................................... 17

4.4.4 Método EVA/MVA .......................................................................................... 19

4.5 Etapas de um Processo de F&I ............................................................................. 21

4.6 Problemas Enfrentados Após as Operações de Fusões e Incorporações ............. 22

4.7 Private Equity e Venture Capital ........................................................................... 23

Page 10: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

2

5. Estudo de Caso ........................................................................................................... 26

5.1 Contextualização da Pesquisa .............................................................................. 26

5.2 Assessoria Financeira a Médias Empresas........................................................... 27

5.2.1 Assessoria de Venda ..................................................................................... 31

5.2.2 Assessoria de Compra ................................................................................... 34

5.2.3 Assessoria de Fusão ..................................................................................... 35

5.3 Investimento em Empresas - Private Equity .......................................................... 37

6. Conclusão .................................................................................................................... 40

7. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 41

Page 11: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

3

1. Introdução

Há algum tempo o mundo tem presenciado diversos anúncios de fusões e

incorporações (F&I) de empresas de todos os setores econômicos. Estas transações fazem

parte de um mercado que movimenta mais de US$ 2 trilhões em todo o mundo, com

destaque cada vez maior para os países emergentes.

No Brasil, as operações de F&I foram alavancadas após algumas mudanças na

política econômica nacional. Segundo Rossetti (2001), entre as décadas de 1950 e 1980,

visando a construção de uma potência mundial auto-suficiente, a economia brasileira

firmou-se em princípios nacionalistas, propósitos protecionistas, reservas de mercado,

estatização e concessão de incentivos para a expansão do setor produtivo privado. Estes

fatos permitiram, ao longo dos anos seguintes, que as transações de F&I ocorressem no

cenário nacional, consolidando novas diretrizes estratégicas para a economia brasileira.

Figura 1 – Evolução anual do número de transações

Fonte: KPMG (2011)

A Figura 1 ilustra o aumento do número de transações nos últimos anos no cenário

brasileiro. Com a ressalva de algumas crises econômicas ao longo deste período, a

tendência de evolução mostra-se positiva.

O crescimento no número de transações é explicado, em parte, pela atuação cada

vez mais frequente de dois segmentos da economia: os assessores financeiros e os fundos

de participação em empresas – private equities. Estes dois elementos estimulam as

175 212

328

372 352

309

353 340

227 230

299

363

473

699 663

454

726

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Page 12: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

4

operações de F&I atuando de duas formas: o primeiro auxilia as partes e coordena as

etapas do processo, enquanto o segundo atua na figura do investidor, porém não adquirindo

a totalidade das cotas de capital das empresas.

Em ambos os escopos de atuação verifica-se a utilização de métodos específicos

para determinação do valor de uma empresa, valor este que tem entrado cada vez mais no

foco dos acionistas, gestores e administradores financeiros.

(...) o objetivo econômico das empresas é a maximização de seu

valor de mercado a longo prazo, pois dessa forma estará sendo

aumentada a riqueza de seus proprietários (acionistas de sociedades

por ações ou sócios de outros tipos de sociedades).

(Hoji, 1999, p. 13)

Esta definição, embora simples, promoveu uma mudança na cultura corporativa e

gestão empresarial nas últimas décadas, levando o foco de atuação não necessariamente

para o lucro presente, mas sim no valor futuro da empresa como um todo.

O valor de mercado de uma empresa é verificado diariamente nas operações

realizadas nas bolsas de valores ao redor do mundo. Porém não somente corporações de

grande porte têm seu valor avaliado constantemente. O universo das transações de F&I

envolve grandes e médias empresas, com maior exposição das primeiras, devido ao seu

tamanho e impacto sobre a sociedade. Entretanto, as médias empresas também fazem

parte deste promissor mercado, contribuindo ativamente para o aumento do número de

operações e todo o desenvolvimento do setor econômico envolvido neste contexto.

1.1 O Segmento de Médias Empresas

Muitos economistas defendem a tese de que o segmento de pequenas e médias

empresas (PMEs) é fundamental para o desenvolvimento econômico de um país. Em se

tratando de F&I, estas empresas são alvos frequentes de fundos de investimento em

participação, buscando as elevadas taxas de crescimento apresentadas por estas

empresas.

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divide as empresas pelo seu porte

de acordo com as faixas de pessoal ocupado definidas pela Oficina Estatística da

Comunidade Europeia – Eurostat (Statistical Office of the European Communities) e pela

Organização das Nações Unidas – ONU, na Recomendação 2003/361/CE, de 20 de maio

de 2003, da Comissão das Comunidades Europeias. Por esta definição tem-se (Tabela 1):

Page 13: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

5

Tabela 1 – Classificação de Empresas de Acordo com o Número de Funcionários

Porte de Empresa

Número de funcionários

Quantidade de empresas

Micro até 9 4.309.463

Pequena de 10 a 49 456.118

Média de 50 a 249 62.838

Grande acima de 250 18.220

Total - 4.846.639

Fonte: IBGE (2009)

Já os critérios utilizados por instituições financeiras levam em conta dados

relacionados às características econômicas das empresas. O tipo mais comum de divisão

adotado é a classificação quanto ao faturamento líquido ou receita líquida. O BNDES –

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social adota a classificação definida nas

circulares nº 11/2010 e 34/2011.

Tabela 2 – Classificação de Empresas de Acordo com a Receita Operacional Bruta Anual

Porte de Empresa Receita Operacional Bruta Anual

Micro Menor ou igual a R$ 2,4 milhões

Pequena Maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões

Média Maior que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões

Média-grande Maior que R$ 90 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões

Grande Maior que R$ 300 milhões

Fonte: BNDES (2011)

Dado o foco deste trabalho nas características financeiras das empresas, mais

precisamente no seu valor de mercado, será adotado o critério para classificação de

empresas utilizado pelo BNDES. Desta forma, entende-se por empresas de porte médio, o

chamado “middle market”, aquelas que possuem uma receita operacional bruta anual na

faixa de R$ 16 milhões a R$ 300 milhões.

Page 14: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

6

2. Objetivo

O objetivo deste trabalho é sintetizar todas as características relevantes dos

processos de fusões e incorporações de médias empresas, detalhar as etapas que

precedem estes processos sob a ótica do assessor financeiro e de um potencial investidor,

neste caso, um fundo de investimento em participação de empresas.

Serão abordados temas relativos ao papel do assessor financeiro em um processo

de venda de uma empresa de médio porte, seja esta venda total ou parcial, bem como as

etapas de um processo de fusão. Além disso, tópicos relacionados à avaliação financeira de

médias empresas e o escopo do trabalho de um fundo de investimento em participação

também serão analisados.

Este trabalho também busca responder as seguintes perguntas:

Como é feita a análise financeira envolvendo processos de F&I de médias empresas

no Brasil?

Qual o papel do assessor financeiro focado em médias empresas em um processo

de F&I?

O que um fundo de private equity avalia em uma empresa alvo?

Os processos de F&I envolvendo médias empresas têm participação relevante na

economia brasileira?

Page 15: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

7

3. Método

Diversos autores classificam as pesquisas de acordo com os propósitos e métodos

utilizados para a elaboração do estudo. O método de pesquisa utilizado neste Trabalho de

Conclusão de Curso caracteriza-se como pesquisa qualitativa. De acordo com Flick (2009)

a “pesquisa qualitativa é uma atividade situada que posiciona o observador no mundo. Ela

consiste de um conjunto de práticas interpretativas que tornam o mundo visível.”

Segundo Neves (1996), a pesquisa qualitativa possui um foco de interesse amplo,

não tendo como objetivo o uso de instrumental estatístico para análise de dados e a

formulação de hipóteses, “nas pesquisas qualitativas, é frequente que o pesquisador

procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação

estudada e, a partir disto, situar a interpretação dos fenômenos estudados.” (Neves, 1996,

p. 1)

A primeira etapa deste trabalho consiste no levantamento e análise de material

bibliográfico sobre conceitos de fusões e incorporações, análise financeira de empresas e

do mercado de private equity e venture capital. Em seguida, será realizado um estudo de

caso de um banco nacional que possui uma equipe de assessoria financeira para empresas

de médio porte e uma unidade responsável por gerir um fundo de private equity.

Page 16: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

8

4. Revisão Bibliográfica

4.1 Fusões e Incorporações

Segundo Gitman (2007), uma fusão é a combinação de duas ou mais companhias

para formar uma empresa inteiramente nova. A nova empresa absorve os ativos e

obrigações das companhias que a geraram. Ainda segundo o autor, uma incorporação é a

combinação de duas ou mais empresas onde uma delas mantém sua identidade inicial e

absorve meramente as demais, sendo que estas combinações geralmente ocorrem entre

empresas de tamanho desigual.

Algumas empresas de consultoria e bancos de investimentos adotam outras

categorias de transação além das usuais. A PricewaterhouseCoopers (2011) define seis

tipos de operações de F&I:

a) Aquisição de participações controladoras: ocorre quando o comprador obtém o

controle da empresa adquirida através da transação;

b) Compra de participações não-controladoras: são transações cujo controle da

empresa não é transferido junto com as ações;

c) Joint-venture: empreendimento de dois ou mais sócios em uma nova empresa,

sendo que os sócios permanecem com suas operações independentes;

d) Fusão: união de operações de duas empresas dando origem a uma terceira, sendo

que as primeiras empresas deixam de existir isoladamente;

e) Incorporação: uma empresa absorve as operações de outra, que deixa de existir;

f) Cisão: transação onde a empresa é dividida originando uma segunda empresa;

Pela Lei das Sociedades Anônimas de 15 de dezembro de 1976, “a incorporação é a

operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em

todos os direitos e obrigações” (artigo 227) e “a fusão é a operação pela qual se unem duas

ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e

obrigações” (artigo 228).

Com base nestas definições entende-se que em uma fusão ocorre a criação de uma

nova firma, ao passo que em uma incorporação uma das empresas mantém sua identidade

jurídica. Na fusão o meio de pagamento utilizado é, na maioria das vezes, uma troca de

ações, já na incorporação este pagamento dá-se por transferência de dinheiro, ações,

títulos, etc.

Em uma fusão as empresas são geralmente do mesmo porte, em termos de

faturamento e market share, e atuam em um mesmo setor, ainda que possa haver uma

Page 17: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

9

fusão entre duas empresas que operam segundo a relação fornecedor-cliente; enquanto

que em uma incorporação uma empresa é relativamente maior do que a outra e não

necessariamente atuam em um mesmo setor.

A Figura 2 sintetiza a relação entre os níveis de investimento e relacionamento

necessários para cada tipo de operação entre empresas.

Figura 2 – Relação entre Nível de Investimento e Operação

Fonte: Barros (2003)

Para o mercado de middle-market especificamente, a incorporação de empresas dá-

se em escala muito maior do que as fusões, visto que, na maioria das vezes, uma empresa

média é adquirida por uma maior, por motivos que serão discutidos posteriormente.

4.2 Razões e Motivos para Transações de Fusões e Incorporações

Diversos autores citam enumeras razões para uma transação de fusão ou

incorporação, segundo Gitman (2007) o motivo básico deveria ser o aumento do valor da

ação, ou valor de mercado da empresa, porém há outros motivos mais imediatos que

justificam as operações. Os principais são:

Crescimento ou diversificação

Sinergia

Captação de fundos

Considerações fiscais

Aumento da liquidez para os acionistas

Aumento de capacidade administrativa ou tecnologia

Defesa contra aquisição hostil

Para Rossetti (2001) são três os motivos principais que levam as empresas a

realizarem este tipo de operação. Em mais da metade dos casos, os ganhos de market

share, maior amplitude geográfica de atuação e crescimento com ampliação de escalas

operacionais são os fatores determinantes para uma transação de F&I.

Page 18: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

10

4.2.1 Crescimento

O motivo mais claro que justifica uma incorporação é o rápido crescimento

alcançado pela empresa consolidada. Ao invés de optar por um crescimento orgânico, as

empresas podem adquirir ativos que permitam um ganho de escala com significativa

rapidez. Este crescimento pode dar-se de duas formas principais: vertical ou horizontal.

O crescimento horizontal ou consolidação horizontal é o método mais comum. Neste

tipo de transação empresas adquirem seus concorrentes ou se fundem, podendo ser um

concorrente direto, atuando inclusive na mesma região ou um concorrente em outra

localidade. Neste último caso, além dos ganhos visíveis de penetração em outras regiões, a

empresa conta com ganhos referentes à economia em compra de matéria prima, por

exemplo.

Como este tipo de transação muitas vezes engloba ganhos consideráveis de market

share – sendo que em alguns casos é justamente este o objetivo da operação; dependendo

do domínio do mercado alcançado pela empresa, a transação pode ser submetida à

aprovação de órgãos governamentais que protegem os direitos dos consumidores. No

Brasil, este controle é feito pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

O crescimento vertical ou consolidação vertical é um método mais arriscado, já que

a empresa adquirida não opera diretamente no mesmo segmento da compradora, mas que

pode gerar mais resultados. Neste processo uma empresa pode adquirir seu fornecedor ou

então seu cliente, tendo como objetivo o controle total do processo produtivo. Como

exemplo, neste caso pode-se controlar desde a compra de matéria prima até o consumidor

final, obtendo o domínio de toda a cadeia produtiva.

Quando uma incorporação tem por objetivo o crescimento ou consolidação

horizontal esta operação pode ser classificada como horizontal e, analogamente, quando a

incorporação visa ganhos verticais, esta pode ser classificada como vertical. Além disso,

ambas as transações são classificadas como estratégicas, por envolverem aspectos

operacionais e estratégicos para atingir o crescimento.

4.2.2 Expansão Geográfica

A expansão geográfica ocorre quando uma empresa adquire ativos em lugares

distantes do seu foco de atuação, principalmente no exterior, a fim de inserir-se em novos

mercados ou aproximar-se de fontes de matéria-prima.

No segmento de middle-market este tipo de transação é bastante comum, pois um

grande player setorial prefere adquirir ativos com forte presença em um determinado local

Page 19: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

11

do que investir pesadamente para ampliar ou iniciar suas atividades nesta região e ainda ter

que competir por market share com a empresa já estabelecida.

Este tipo de transação também se faz presente quando há entrada de capital

estrangeiro visando atuar no mercado nacional, embora neste caso a expansão geográfica

seja a nível global.

4.2.3 Sinergia

Os ganhos de sinergia de uma operação de consolidação provêm de economias de

escala resultantes de redução de custos indiretos. Segundo Gitman (2007), as economias

de escala que geralmente resultam da combinação de empresa reduzem seu custo indireto

combinado, elevando seu lucro a um nível superior a soma dos lucros das empresas

independentes.

Para Lemes Jr, Rigo e Cherobim (2010) as principais fontes de sinergia são:

a) Economias de escalas operacionais: provêm da redução ou eliminação de custos e

despesas das atividades corporativas como marketing, finanças, etc;

b) Economias financeiras: provêm da melhor estrutura de capital, maior capacidade de

alavancagem e menores custos de endividamento;

c) Melhorias na eficiência gerencial: provêm da substituição de uma administração

ineficiente, geralmente da empresa incorporada, melhorando seu desempenho

econômico e financeiro;

d) Maior poder de mercado: grandes empresas possuem maior poder de mercado, com

maior capacidade de negociação e competição;

e) Economias fiscais: provêm da utilização de isenções e compensações autorizadas

por lei, como o uso de prejuízos fiscais decorrentes de prejuízos operacionais, com

um planejamento tributário ou da eliminação de bitributação.

Assim como as transações que visam o crescimento, as operações com ganho de

sinergia são classificadas como estratégicas, podendo ser verticais ou horizontais,

dependendo da natureza das empresas envolvidas.

4.2.4 Razões Financeiras

As razões financeiras também motivam algumas transações de F&I, sejam elas

levantamento de fundos ou considerações fiscais, caracterizando-as como transações do

tipo financeiras.

Page 20: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

12

De acordo com Gitman (2007) uma das razões para a fusão de empresas é o

aumento da sua capacidade de levantar fundos, uma empresa poderá combinar-se com

outra que possui um nível elevado de ativos líquidos e um nível baixo de obrigações. Este

tipo de operação aumenta imediatamente o poder de empréstimo de uma empresa além de

reduzir o risco financeiro, facilitando a tomada de crédito e, consequentemente, o potencial

de investimento.

No caso da formação de um conglomerado de empresas o benefício fiscal pode ser

alcançado por meio de fusões ou incorporações com este intuito. A incorporação de

empresas que não atuam no mesmo setor trás vantagens para o conglomerado formado,

diversificando os investimentos e reduzindo o risco global do conglomerado. Além disso,

este tipo de sociedade aproveita-se de mais oportunidades devido ao fato de sua atuação

estar espalhada por mais de um setor da economia, embora dificulte a definição de um foco

de atuação setorial concreto, contrariando um dos princípios fundamentais do Taylorismo,

de que a especialização das tarefas leva ao aumento da eficiência operacional.

Outro ponto a ser considerado na motivação financeira é transferência de prejuízo.

Segundo Gitman (2007) se uma das empresas envolvidas apresenta prejuízo fiscal, este

prejuízo pode ser lançado contra um volume limitado de lucro futuro da nova empresa por

vinte anos ou até a recuperação integral do montante. Uma empresa com prejuízo pode

adquirir outra com lucro para utilizar o prejuízo abatendo parte do lucro tributável. A situação

oposta também pode ocorrer, com a ressalva de que ambas as operações devem ser

caracterizadas como fusão, excluindo o caso da formação de holdings, pois neste último os

resultados operacionais não são consolidados.

Por fim, uma combinação de empresas geralmente resulta em uma empresa maior.

Em se tratando de empresas de capital aberto, quanto maior o porte, mais negociável é a

ação, resultando em um aumento de liquidez para os acionistas. Uma empresa menor, sem

ações negociadas em bolsa, pode receber como moeda de troca ações da nova empresa,

negociadas com relativa liquidez, caracterizando-se como um fator determinante para a

operação.

4.2.5 Aumento da Capacidade Administrativa ou Tecnologia

Uma empresa também pode combinar-se com outra para adquirir profissionais que

ache relevante para a maximização da riqueza no longo prazo ou ainda para agregar

capacidade técnica ainda não possuída. Este tipo de justificativa para a transação é mais

incomum, porém não inexistente.

Page 21: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

13

4.3 Classificações de Fusões e Incorporações Quanto à Origem do Capital

Além das classificações citadas anteriormente pode-se classificar as transações de

F&I pela origem do capital. A presença de empresas multinacionais já é um elemento

comum no cenário econômico brasileiro e muitas destas empresas iniciaram suas

atividades no país através de aquisições de empresas locais.

Segundo a consultoria KPMG (2011) as operações podem ser domésticas ou do tipo

cross border. Esta última ainda pode ser dividida em cinco tipos, totalizando seis definições

quanto à origem do capital:

a) Transações domésticas: são transações envolvendo somente empresas nacionais,

por exemplo, empresas brasileiras adquirindo empresas brasileiras.

b) Cross border 1: empresa de capital estrangeiro adquirindo, de brasileiros, empresa

de capital brasileiro estabelecida no País.

c) Cross border 2: empresa de capital brasileiro adquirindo, de estrangeiros, empresa

de capital estrangeiro estabelecida no exterior.

d) Cross border 3: empresa de capital brasileiro adquirindo, de estrangeiros, empresa

de capital estrangeiro estabelecida no país.

e) Cross border 4: empresa de capital estrangeiro adquirindo, de estrangeiros, empresa

de capital estrangeiro estabelecida no país.

f) Cross border 5: empresa de capital estrangeiro adquirindo, de brasileiros, empresa

de capital brasileiro estabelecida no exterior.

A Tabela 3 relaciona os dados referentes às transações classificadas pelos critérios

acima, comparando o 1º semestre de 2010 com o 1º semestre de 2011.

Tabela 3 – Tipos de Operações Quanto a Origem de Capital

Tipo de transação

1º semestre de 2010

1º semestre de 2011

Doméstica 161 175

Cross Border 1 77 95

Cross Border 2 38 32

Cross Border 3 22 15

Cross Border 4 46 58

Cross Border 5 7 4

Total 351 379

Fonte: KPMG (2011)

Nota-se que o tipo mais comum é o de transação doméstica, refletindo o bom

momento que vive a economia brasileira. Em seguida, um grande número de empresas de

Page 22: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

14

capital estrangeiro entrando em mercados emergentes, possivelmente com o propósito de

crescimento acelerado que o País pode proporcionar.

4.4 Métodos de Análise de Empresas

Os métodos utilizados para analisar o valor de mercado de uma empresa são

divididos basicamente de duas formas, de acordo com a sua abordagem. Damodaran

(2009) cita a avaliação financeira intrínseca ou por fluxos de caixa descontados, onde o

valor é estimado por meio do desconto dos fluxos de caixa até o presente; e a avaliação

relativa, cujo valor é estimado segundo a avaliação do mercado para uma empresa

semelhante.

Além destas duas definições básicas, outros autores apresentam formas distintas de

avaliação. Segundo Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005) as metodologias mais utilizadas

para se avaliar empresas são:

Método contábil/patrimonial

Método do fluxo de caixa descontado

Método dos múltiplos

Método de EVA/MVA

Já Lemme (2001) conceitua cinco métodos principais:

Método do valor patrimonial ajustado

Método do valor de mercado dos títulos

Método da comparação direta

Método dos fluxos de caixas descontados

Opções reais

Os métodos apresentados por Martelanc et al. (2005) são mais atuais e condizentes

com o praticado no mercado financeiro, porém o método das opções reais citado por

Lemme (2001) utiliza uma abordagem mais recente, embora não comumente utilizado pelos

principais assessores financeiros e fundos de investimentos de participação em empresas.

Neste trabalho serão abordados os métodos: patrimonial, fluxo de caixa descontado,

múltiplos e EVA/MVA.

Page 23: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

15

4.4.1 Método Patrimonial

Este método leva em conta o valor do patrimônio líquido (PL) das empresas, seus

imóveis, estoques e contas a receber. Sua utilização é mais frequente quando os ativos da

empresa são liquidados.

O valor do patrimônio líquido corresponde ao investimento feito pelos sócios ao

longo do ciclo de vida da empresa e o acúmulo de lucros passados. Para uma avaliação

mais precisa de uma empresa leva-se em conta a capacidade de geração de lucros futuros,

não considerando o acúmulo de lucros passados e investimentos realizados. Desta forma,

não se deve acrescentar o patrimônio líquido no valor da empresa. (Martelanc, Pasin, &

Cavalcante, 2005)

Cabe ressaltar que os imóveis de uma empresa são fundamentais para sua

operação, ou seja, sem os imóveis a empresa não gera lucro nem fluxos de caixa. Sendo

assim seu valor já está incluso na avaliação dos principais métodos utilizados baseados na

rentabilidade projetada.

Apesar do presente método não ser utilizado por assessores financeiros, consultores

e fundos de investimento de participação em empresas na maioria dos casos de F&I, sua

menção faz-se necessária, pois é razoavelmente comum uma empresa ou fundo adquirir

outras empresas que estão passando por dificuldades financeiras, sendo ainda possível a

empresa alvo encontrar-se em fase de liquidação de ativos.

Contudo, se a empresa possuir patrimônio líquido positivo, o uso deste método é

bastante simples. O método consiste em ajustar o valor do patrimônio líquido que consta no

último balanço da empresa de modo trazê-lo para o valor atual de mercado, tanto os ativos

quanto os passivos. (Lemme, 2001)

4.4.2 Método do Fluxo de Caixa Descontado

O método do DCF (Discounted Cash Flow – fluxo de caixa descontado) é o método

amplamente utilizado no mercado financeiro para calcular o valor de uma empresa no

presente momento. De todas as formas existentes é a mais aceita por analistas, pois

considera o potencial futuro da empresa, sua capacidade de gerar fluxos de caixas e,

eventualmente, lucros e dividendos.

Basicamente, o método consiste em associar o valor de uma empresa ao valor

presente dos fluxos de caixa futuros, considerando os ingressos e desembolsos, inclusive

os investimentos necessários à manutenção e à expansão das atividades, previsíveis sob a

perspectiva de perpetuidade da empresa, descontando fluxos de caixas operacionais

Page 24: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

16

relativos a gastos ou receitas extra-ordinárias e agrupando componentes de fluxo de caixa

de acordo com seus riscos.

O modelo DCF empresarial determina o valor acionário de uma

empresa como o valor de suas operações (o valor empresarial

disponível para todos os investidores) menos o valor do

endividamento e outras formas de prioridade superior à do capital

ordinário (como, por exemplo, ações preferenciais). O valor

operacional e de endividamento são iguais aos respectivos fluxos de

caixa descontados a taxas que reflitam o risco desses fluxos.

(Koller, Murrin, & Copeland, 2002, p. 136)

Segundo Koller et al. (2002) o fluxo de caixa livre é igual aos lucros operacionais

descontados dos impostos pagos pela empresa, mais os encargos não-caixa, como a

depreciação, menos investimentos em capital de giro operacional, equipamentos,

instalações e outros ativos. O fluxo de caixa livre não incorpora os fluxos de caixa

relacionados com aspectos financeiros. Com isso, o valor operacional da empresa é o fluxo

de caixa livre futuro esperado descontado.

O método DCF incorpora o valor de todos os ativos intangíveis, como: marca,

participação de mercado, carteira de clientes, know-how, e afins, já que todos esses ativos

impactam diretamente na capacidade da empresa gerar resultados e fluxos de caixa.

Além disso, o método também trata da relação entre o risco e o retorno esperado,

Martelanc et al. (2005, p. 11) afirmam que “pela abordagem do fluxo de caixa descontado, o

valor da empresa é determinado pelo fluxo de caixa projetado, descontado por uma taxa

que reflita o risco associado ao investimento.”

O cálculo do valor da companhia por DCF é feito da seguinte forma:

Equação 1

Sendo:

VPL: Valor Presente Líquido

FCe: Fluxo de caixa da empresa no período t

WACC: Weighted Average Cost of Capital ou custo médio ponderado de capital,

definido por Gitman (2007) como sendo o custo ponderado específico de capital de

acordo com sua proporção na estrutura de capital da empresa.

Page 25: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

17

O WACC da empresa é uma média ponderada das fontes de capital utilizada pela

empresa, como dívidas e capital próprio. Este indicador simboliza o preço que a companhia

paga pela obtenção das fontes de capital, servindo de referência para as decisões de

investimento.

Damodaran (2009) esclarece que a fórmula acima é utilizada para empresas com

existência infinita. Como não é possível estimar fluxos de caixa infinitamente, estimam-se os

fluxos de caixa por um período de crescimento conhecido e, em seguida, estima-se um

valor terminal aproximando o final deste período:

Equação 2

Em relação à taxa de desconto a ser utilizada, este deve ser a que melhor reflita o

custo da oportunidade sem risco juntamente com os riscos dos fluxos de caixa.

4.4.3 Método dos Múltiplos

A análise de uma empresa com base em múltiplos de mercado, sejam eles de

empresas negociadas em bolsa ou de transações envolvendo empresas de um mesmo

setor, fornece parâmetros de comparação relativamente satisfatórios que, se não

determinam exatamente o valor de uma empresa, ao menos colabora intuitivamente com a

visão de valor, tanto por parte dos acionistas quanto por parte do comprador.

Estes múltiplos são obtidos de duas formas principais, pelo valor de ações das

empresas de capital aberto e seus indicadores financeiros ou pelo valor de uma transação

de aquisição, ou uma oferta, e os indicadores financeiros da empresa-alvo, quando

divulgados.

De acordo com Martelanc et al. (2005), o método dos múltiplos com base em ações

de empresas negociadas em bolsa busca identificar empresas semelhantes às listadas e

utilizar os parâmetros das negociações para avaliar a empresa alvo.

Para determinar os múltiplos primeiramente define-se o valor da empresa, ou Enterprise

Value (EV). O EV é calculado da seguinte forma:

Page 26: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

18

Equação 3

Sendo que o Market Value corresponde ao total das ações da empresa multiplicadas

pelo seu valor de cotação. Para empresas com ações ordinárias e preferenciais a conta é

feita multiplicando-se o total de ações ordinárias pelo seu preço mais o total de ações

preferenciais multiplicado pelo seu preço. Sucintamente, o EV é o valor da empresa somado

da sua dívida líquida.

Os índices mais utilizados para este método são:

EV/Faturamento

EV/EBITDA

EV/Lucro líquido

Dos três indicadores apresentados, o uso mais comum é o, EV/EBITDA, pois leva

em consideração o valor da empresa dividido pelo EBITDA (Earns Before Interest, Tax,

Depreciation and Amortization – lucros antes de juros, impostos, depreciação e

amortização), um indicador que mais se aproxima do fluxo de caixa da empresa, sendo

mais aplicável do que a comparação com o lucro líquido. O múltiplo EV/Faturamento

também é utilizado para avaliação de empresas específicas de determinado setor, como o

varejo.

O método dos múltiplos de transações comparáveis utiliza os mesmos princípios que

o método dos múltiplos de empresas listadas, com a diferença que a transação ocorre uma

única vez e os dados referentes aos indicadores financeiros da empresa-alvo não

necessariamente são disponibilizados. No entanto cabe ressaltar que, quando uma

empresa de capital aberto realiza uma aquisição, esta deve comunicar ao mercado de

acordo com a Instrução CVM Nº 358 de 3 de janeiro de 2002. Além disso, é comum as

empresas incorporarem em seu balanço os dados da adquirida, tornando possível a análise

por múltiplos de transação.

Outro múltiplo utilizado pelo mercado é o EV/Patrimônio Líquido, porém este múltiplo

não é um indicador sólido utilizado em transações de F&I por motivos apresentados

anteriormente no método patrimonial.

Há ainda outra modalidade de múltiplos, relacionados com características

operacionais de cada empresa. De maneira análoga aos múltiplos das transações

comparáveis, estes múltiplos são obtidos dividindo-se o valor divulgado da transação por

indicadores como: alunos, no caso de universidades, escolas e cursos; capacidade de

geração de energia, para usinas geradoras de energia elétrica; capacidade de produção,

Page 27: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

19

em setores industriais como as empresas de transformação primária de matéria prima;

dentre outros.

4.4.4 Método EVA/MVA

De acordo com Stewart III (1999) o método EVA (Economic Value Added - Valor

Econômico Adicionado) é uma medida de desempenho relacionada diretamente com a

criação de riqueza dos acionistas. O método reflete o montante de valor que foi produzido

ou destruído em um determinado período pelos administradores da companhia.

Ainda segundo o autor, o EVA é o lucro operacional após o pagamento de impostos

menos o custo do capital utilizado para produzir este lucro. Desta forma, o EVA crescerá a

medida que o lucro operacional puder aumentar sem a injeção de mais capital. Stewart III

(1999) define:

Equação 4

Sendo:

NOPAT: Lucro operacional líquido após o imposto de renda, antes da dedução dos

encargos de capital.

Capital: Volume de capital incorporado à empresa pelos seus provedores de

recursos.

A grande vantagem deste método é o reconhecimento atingido por operações

passadas da empresa levando em consideração o custo do capital investido. Este método

realiza uma abordagem do ponto de vista do investidor, retornando o real valor do seu

investimento após determinado período. Em contrapartida, o método não considera os

potenciais ganhos futuros da empresa, sendo inviável a sua utilização para uma companhia

que não apresenta fluxos de caixa positivos ou que ainda não iniciou suas atividades.

Assim como o método EVA, o método MVA (Market Value Added - Valor Adicionado

pelo Mercado) também é uma forma de medir o desempenho da companhia avaliada,

sendo que o MVA representa a diferença entre o valor de mercado da empresa e o

correspondente capital investido.

De acordo com Malvessi (2000) o método MVA representa um indicador de

desempenho em valores monetários da empresa, o método relaciona quanto o valor de

mercado das ações da empresa tem adicionado valor aos acionistas se comparado com o

Page 28: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

20

valor originalmente investido. Analogamente, o MVA reflete os resultados financeiros,

sintetizando se a empresa criou ou destruiu a riqueza dos acionistas.

Ehrbar (1999) define o método como:

Equação 5

Pela definição de EV apresentada anteriormente, o cálculo se aplica somente a

empresas de capital aberto, porém Young e O’Bryne (2001, p. 39) definem o EV como

sendo a “soma do valor de mercado de todos os reclamos de capital mantidos contra a

empresa por seus credores e investidores em uma determinada data. Em outras palavras, é

o somatório do valor de mercado das dívidas da empresa junto a credores e acionistas.”

O método MVA avalia a forma como o mercado reflete as expectativas do nível de

sucesso com que os administradores da empresa utilizam o capital subordinado a eles, ou

seja, a capacidade da empresa de transformar o investimento.

Ambos os métodos apresentados neste tópico são indicadores de desempenho da

empresa, sendo que o método EVA baseia-se em demonstrativos contábeis, de certa forma

analisando o passado da companhia, ao passo que o método MVA reflete as expectativas

futuras da empresa. A relação entre os métodos dá-se pelo fato que o MVA está

relacionado intrinsecamente com os EVAs futuros esperados pelos acionistas e

investidores. Embora estes métodos não sejam utilizados isoladamente para a avaliação de

empresas, eles constituem ferramentas importantes de gestão baseadas em valor de

riqueza, conceito fundamental nos mercados financeiros modernos.

A Tabela 4 sintetiza uma comparação entre os métodos apresentados, apontando as

principais características atribuídas a cada método o respectivo problema associado.

Tabela 4 – Comparação entre os Principais Métodos de Avaliação

Método Principais Características Problema

Patrimonial Baseia-se no PL da empresa Considera somente o patrimônio

Múltiplos Rapidez e condizente com o mercado Dificuldade de comparar as empresas

DCF Avalia potencial futuro Alterações em cenários futuros impactam diretamente na avaliação

EVA/MVA Indicadores de desempenho Métodos complementares

Page 29: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

21

4.5 Etapas de um Processo de F&I

As etapas de um processo de F&I dependem principalmente de quem está

conduzindo a operação. O intermediador do processo organizará as etapas de acordo com

o andamento das negociações entre as partes envolvidas. Barros (2003) cita três etapas de

processos de F&I além da intenção inicial de compra: due diligence, negociação e

integração, salvo a situação denominada escolha reversa, conforme a autora menciona.

Segundo Barros (2003), a escolha reversa ocorre quando o vendedor seleciona o

comprador correspondente, de forma que a oferta financeira, apesar de relevante, não é

caracterizada como o principal atrativo da negociação. Outras razões, como as

características culturais dos potenciais compradores acabam sendo envolvidas de forma

mais direta no processo. Além destas, a ocorrência de superposição de operações e a

possibilidade de um potencial interessado ser um concorrente direto da empresa também

influenciam a decisão por parte dos vendedores.

A etapa de due diligence marca o início do processo de aquisição, podendo ou não

ser realizada de forma sigilosa, com preferência para a última. Nesta etapa são realizados

todos os levantamentos relevantes às informações financeiras da empresa alvo,

contingências trabalhistas e tributárias, com o intuito de avaliar a viabilidade da aquisição,

avaliar os riscos inerentes a compra da empresa, bem como a estrutura do processo final

de aquisição.

Santos (2006) define a due diligence como “o procedimento metódico de análise de

informações e documentos de uma determinada empresa, com objetivo predeterminado –

fusões e aquisições, planejamento de reestruturações societárias, operações financeiras

complexas ou processos de privatização de empresas – que resultará em um relatório das

reais condições da empresa analisada.”

A ausência de uma etapa de due diligence detalhada explica o insucesso de muitas

empresas pós-incorporação. De certa forma, esta é a etapa mais importante de um

processo de F&I, pois engloba aspectos jurídicos e financeiros antes da conclusão do

negócio.

Santos (2006) também explica que a etapa em questão inicia-se pela demonstração

de interesse por parte de um potencial investidor, caracterizado por um acordo preliminar de

aquisição. Uma empresa que está à venda pode entrar na etapa de due diligence com mais

de um potencial investidor, embora seja muito comum a esta fase ocorrer em regime de

exclusividade com o fim de acelerar o processo.

A negociação define os termos contratuais e a oferta final (binding) referente a

aquisição da empresa. Nesta etapa são inseridos no processo os advogados, atuando junto

aos vendedores e compradores definindo os termos legais da transação. A qualidade das

Page 30: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

22

informações obtidas na due diligence é essencial para o bom andamento desta etapa,

acelerando as negociações e garantindo a continuidade do processo.

A última etapa de um processo de F&I consiste na integração. Segundo as autoras

Tanure e Cançado (2005) a fase de integração é a etapa fundamental que garante o

sucesso da operação, pois determina o fator mais importante da criação de valor, devendo

ser cautelosamente planejada. Esta etapa varia conforme os objetivos pretendidos com a

fusão ou incorporação, determinando a maneira como será conduzida a gestão de pessoas

e integração das operações. É nesta etapa do processo que deve ser administrado o

choque de culturas organizacionais.

4.6 Problemas Enfrentados Após as Operações de Fusões e Incorporações

Diversos são os motivos para as empresas passarem pelos processos de F&I,

porém muitas das expectativas previstas por estas empresas acabam por não se

concretizarem devido a inúmeros motivos.

O mercado também aponta cinco indícios do que pode ocorrer de errado em um

eventual processo de F&I (Mano & Grando, 2011):

Diversificar demais: o maior risco relacionado com a diversificação do foco de

atuação da empresa está na dificuldade de obter ganhos de sinergia

Prometer mais do que entrega: a possibilidade relativamente fácil de obtenção de

capital pode gerar maior cobrança por parte dos investidores

Demorar para “digerir” as compras: dificuldade encontrada por empresas operando

sob um intenso regime de incorporações

Perder o conhecimento do antigo dono: a perda do antigo controlador pode impactar

diretamente os resultados da sua antiga empresa

Subestimar diferenças de cultura: o choque de culturas já foi apontado por diversos

autores como sendo o principal problema dos processos de F&I

É sabido que um processo de F&I demanda um esforço considerável por parte das

empresas envolvidas, muitas vezes as expectativas criadas não são atendidas e o mercado

responde imediatamente a resultados não alcançados. Especialmente as empresas de

capital aberto, responsáveis pelo maior volume nas operações de F&I, frequentemente são

penalizadas pelos investidores quando as fusões e incorporações não são bem sucedidas.

A Figura 3 relaciona alguns motivos que levam as empresas a passarem por

processos de F&I e eventuais problemas encontrados por estas empresas após as

operações.

Page 31: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

23

Figura 3 – Motivos e Problemas Relacionados com Operações de F&I

Fonte: Hitt, Ireland e Hoskisson (2005)

4.7 Private Equity e Venture Capital

Segundo a Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP),

Private Equity e Venture Capital são tipos de investimentos que envolvem a participação em

empresas com um alto potencial de crescimento e rentabilidade, através da aquisição de

ações ou de outros valores mobiliários, como debêntures conversíveis, bônus de

subscrição, entre outros, com a finalidade de obter ganhos expressivos de capital a médio e

longo prazo. Os PE e VC proporcionam às pequenas e médias empresas oportunidades de

financiamento para suportar seu desenvolvimento, apoiando a estruturação da governança

corporativa, com foco no crescimento, lucratividade e sustentabilidade.

O Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV-EAESP (GVcepe)

define:

Private Equity (PE), em sua definição estrita, refere-se a

investimentos em ações (equity investments) de empresas não

listadas em mercados públicos de valores, independentemente da

estrutura societária utilizada. Em razão de sua natureza caracterizada

Page 32: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

24

por baixa liquidez, retornos de longo prazo, e assimetria

informacional, negócios de Private Equity possuem riscos e retornos

mais elevados que os tradicionais, o que os classifica na categoria de

ativos alternativos (alternative assets).

(GVcepe, 2011, p. 41)

Já o conceito de VC está relacionado a empreendimentos em fase inicial, anterior ao

desenvolvimento. Em investimentos desta característica, o investidor se envolve mais

intensamente na fase de monitoramento e adição de valor à empresa. Embora os

investimentos em VC sejam uma variação de PE, estes termos passaram a ser adotados

com significados distintos ao longo dos anos, porém a essência dos investimentos

permaneceu a mesma. O compartilhamento de riscos, com grandes perspectivas de

crescimento e rentabilidade, continua orientando o foco dos investidores com preferência

por este tipo de ativo.

Além disso, as atividades de PE e VC se apresentam como alternativas aos meios

tradicionais de financiamento obtido através de bancos, como os empréstimos e

financiamentos. Por meio do investimento em participação, os fundos de PE e VC injetam

capital nas empresas, permitindo a aquisição de novos ativos ou até mesmo a incorporação

de empresas menores. Estas formas suplementares de alavancagem financeira também

fornecem suporte para a abertura de capital em uma fase posterior do ciclo de vida das

companhias.

A Figura 4 relaciona os níveis de investimento de longo prazo com o estágio de

desenvolvimento corporativo de uma empresa. Dentro do ciclo de vida normal de uma

companhia, as médias empresas enquadram-se no estágio de desenvolvimento e

consolidação, enquadrando-se no campo de atuação de um fundo de private equity.

Page 33: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

25

Figura 4 – Investimento de Longo Prazo e Estágios de Desenvolvimento

Fonte: CRP (2006)

Page 34: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

26

5. Estudo de Caso

O estudo de caso constitui uma importante ferramenta de pesquisa empregada em

diversos estudos acadêmicos. Segundo Yin (2005, p. 33), “o estudo de caso como

estratégia de pesquisa compreende um método que abrange tudo – tratando da lógica de

planejamento, das técnicas de coleta de dados e das abordagens específicas à análise dos

mesmos.”

O mesmo autor define que para a abordagem do problema utilizando o estudo de caso

deve-se definir o projeto de pesquisa a ser realizado. Para este estudo, a fim de se

responder as perguntas elencadas no Capítulo 2, foi utilizado a técnica de entrevistas a

profissionais das áreas de estudos e coleta de dados disponíveis em institutos, empresas e

associações do setor.

Neste trabalho as entrevistas foram feitas ao longo do ano de 2011 com os

superintendentes das áreas de finanças corporativas e private equity de um grande banco

nacional.

5.1 Contextualização da Pesquisa

Dentre as muitas atividades exercidas por bancos nacionais, duas em particular são

de elevada relevância para este trabalho. A primeira delas diz respeito a atividade de banco

de investimento. Gitman (2007) define os bancos de investimentos como intermediários

financeiros cuja função principal é assessorar empresas na emissão de ofertas públicas,

além disso também podem ser contratados por empresas compradoras para encontrar

empresas visadas e conduzir as negociações e, de forma semelhante, também podem ser

contratados pela administração de um empresa que deseja vender a companhia ou uma de

suas unidades para buscar potenciais compradores.

De uma forma geral, as atividades de banco de investimento constituem uma das

áreas mais importantes e rentáveis para as instituições financeiras. Segundo Gtiman (2007),

a remuneração praticada pelo mercado é uma comissão fixa, uma comissão relacionada

com o preço da transação ou uma combinação de ambas.

Outra atividade importante dos bancos é a gestão de ativos financeiros de terceiros.

Os clientes alocam recursos nos bancos de diversas maneiras, sendo que para cada uma

delas há uma forma determinada pelo Banco Central (BC) de utilização destes recursos.

Uma das maneiras de alocar ativos de terceiros é por fundos de investimento. Segundo a

ANBID, “um fundo de investimento é um condomínio que reúne recursos de um conjunto de

Page 35: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

27

investidores, com o objetivo de obter ganhos financeiros a partir da aquisição de uma

carteira de títulos ou valores mobiliários.”

A principal vantagem dos fundos de investimentos para os investidores é a reunião

de recursos de diversas pessoas físicas ou jurídicas para a formação de uma grande

quantia de capital, permitindo grandes aportes de investimento com menores custos e

administração profissional. Cabe ressaltar que, em um fundo de investimento, os recursos

da própria instituição não se misturam ao de terceiros.

Um dos tipos de investimentos em fundos, embora não amplamente utilizado, é o

investimento em fundos de private equity. Estes investimentos são caracterizados por ser

de longo prazo e de baixa liquidez, porém com alto potencial de retorno.

Os principais bancos nacionais e bancos estrangeiros atuantes no país contam com

unidades responsáveis pelas atividades de banco de investimento e gestão de ativos, sendo

que algumas instituições incluem nesta gestão as atividades de fundos de investimento em

participação (FIPs).

5.2 Assessoria Financeira a Médias Empresas

Os bancos de varejo usufruem de uma ampla gama de gerentes de relacionamento

para alcançar seu cliente, seja este pessoa física ou jurídica. Através destes gerentes e o

canal bancário de atendimento são oferecidos diversos produtos e serviços financeiros

disponibilizados pelo banco.

É comum, inclusive, que o cliente pessoa física seja também cliente pessoa jurídica,

tanto na figura do funcionário de uma empresa, através da negociação da folha de

pagamento da empresa, como na do acionista ou clientes com altos cargos corporativos, no

segmento de clientes de alta renda/patrimônio. Estes últimos tipos de clientes não estão

necessariamente inseridos no universo de atendimento proveniente de bancos de

investimento, pois também é comum o fato destas empresas não constituírem grandes

corporações.

Dado estes fatos e o potencial mercado, alguns bancos nacionais criaram outras

equipes destinadas às atividades de banco de investimento, porém focadas no segmento de

médias empresas. A atividade mais comum a esta equipe é a assessoria financeira: serviço

oferecido aos clientes que desejam vender suas empresas, passar por um processo de

reestruturação societária, realizar um processo de fusão de companhias, adquirir empresas

ou participação em empresas e avaliar estas oportunidades.

Na forma como é oferecido, este serviço é remunerado através do pagamento de

honorários referentes à prestação dos serviços, podendo ser pago de diversas maneiras

passíveis de negociação.

Page 36: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

28

Para as empresas envolvidas nas transações as atividades de F&I envolvem tarefas

não usuais, e de certa forma complexas, que somente grandes corporações possuem

condições de arcar com os custos de manter uma equipe altamente capacitada para

conduzir estes processos com competência. E mesmo quando estas empresas contam com

equipes especializadas em incorporações, a presença de um assessor financeiro é bastante

comum, pois ambos os lados de uma operação de F&I podem ser assessorados.

Além de conduzir o processo de forma organizada, proporcionando maiores chances

de sucesso, os principais benefícios em contar com o assessor financeiro são (Figura 5):

Tipo de Assessoria Objetivos

Assessoria de venda → Maximização do valor da transação

Assessoria de compra → Seleção de alvos e valuation

Assessoria de fusão → Valuation e estruturação

Figura 5 – Papel do Assessor Financeiro

Além destes três casos mais comuns, as assessorias prestadas a empresas

passando por processos de reestruturação societária também constituem um importante

serviço prestado por assessores financeiros, uma vez que esta operação envolve, de certa

forma, uma combinação dos casos acima.

Uma das principais características requisitadas por este mercado é a experiência. A

liquidação de um ativo de tamanha importância, mesmo que parcial, é encarada por muitos

acionistas como uma das principais decisões tomadas durante o ciclo de vida de suas

empresas, por isso, confiar tal tarefa à equipes sem experiência anterior pode determinar o

fracasso da operação. As melhores equipes de assessoria financeira contam com uma

ampla rede de contatos corporativos que permitem aos assessores a exclusividade de

assessorar seus clientes.

Esta exclusividade resulta em um contrato de prestação de serviços, usualmente

denominado de mandato, e é por meio deste acordo que um assessor detém a

exclusividade de assessorar seus clientes em qualquer operação de F&I envolvendo os

mesmos.

Page 37: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

29

Figura 6 – Ranking de Operações de F&I no Brasil

Fonte: Thomson (2011)

A Figura 6 ilustra os principais assessores financeiros em operações de F&I

atuantes no Brasil desde a criação do ranking pela Thomson até o dia 26/10/2011. A Figura

7 representa a evolução da participação dos assessores financeiros no Brasil nas

operações catalogadas pela Thomson nos últimos anos.

0

25

50

75

100

125

150

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

de O

pera

çõ

es

US

D M

ilh

ões

Valor Total das Operações Número de Operações

Page 38: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

30

Figura 7 – Evolução da Atuação do Assessor Financeiro no Brasil

Fonte: Thomson (2011)

E a Figura 8 representa o tipo de assessoria prestada, sendo que os casos de fusão

são enquadrados como assessoria prestada a ambas as partes envolvidas.

Figura 8 – Porcentagem das Operações de F&I Assessoradas no Brasil

Fonte: Thomson (2011)

31% 24%

44% 40% 35% 46%

26% 24% 34% 38%

32%

69% 76%

56% 60% 65% 54%

74% 76% 66% 62%

68%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Com Assessor Financeiro Sem Assessor Financeiro

17%

20%

35%

27%

20%

27%

17% 16%

24% 25%

20% 20%

11%

22%

25%

22%

30%

17% 16%

23%

26%

19%

6% 7%

13% 12%

8%

11%

8% 7%

13% 13%

8%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Assessoria de Venda Assessoria de Compra Ambos

Page 39: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

31

5.2.1 Assessoria de Venda

A maior parte dos serviços prestados envolvendo o segmento de médias empresas

provém de mandatos de assessoria de venda para as empresas. Com o desenvolvimento

econômico alcançado nos últimos anos, muitas empresas brasileiras tornaram-se grandes

corporações, algumas inclusive com presença em diversos países. Estas empresas

atingiram determinado porte financeiro que possibilitou a obtenção de capital através de

novas fontes, com menores custos e maior volume, como por exemplo, abertura de capital

em bolsa ou aportes de capital provenientes de venda de participação para fundos de PE.

Essa alta disponibilidade de capital combinada com mercados pulverizados

proporciona um enorme potencial de consolidação das maiores empresas de um setor,

impulsionando-as na tendência de adquirir suas concorrentes menores.

Comparando o cenário brasileiro atual de uma economia em desenvolvimento com o

cenário americano, nota-se que em praticamente todos os setores da economia a tendência

de consolidação foi adotada em alguma etapa da cadeia produtiva, e a partir desta etapa,

todo o setor evoluiu na direção da consolidação, na maioria das vezes através de

incorporações e, em outras, por meio de fusões.

Desta forma, o momento presente da economia brasileira é favorável a incorporação

de empresas menores às suas maiores concorrentes, fomentando um grande mercado de

assessoria financeira às médias empresas.

As primeiras etapas envolvendo os serviços de um assessor em um processo de

venda consistem na avaliação financeira da empresa em questão, já que é com base neste

valor que o acionista deve tomar suas decisões envolvendo possíveis futuras propostas de

investidores. Porém, até mesmo pela diversidade de métodos existentes de avaliação

financeira e pelas diferentes abordagens no uso de cada método por parte dos investidores,

o resultado da avaliação financeira compõe desde um valor central até uma faixa de valores

mais abrangente, dependendo do tipo de ativo avaliado e suas características financeiras e

operacionais, logicamente.

O principal método utilizado pelos assessores financeiros é o DCF. Este método, por

incorporar na sua avaliação o potencial futuro das empresas, é o mais adotado pelos

assessores e investidores. Para a elaboração deste método, os assessores financeiros

devem ter conhecimento dos planos de negócios das empresas, bem como suas

demonstrações financeiras anteriores, caso existam, já que uma avaliação também pode

ser feita com base somente em um business plan no caso de uma empresa em fase não

operacional. O método dos múltiplos também é utilizado, pois fornece parâmetros de

comparação com o adotado pelo mercado, tanto nas operações em bolsa como em outras

aquisições semelhantes.

Page 40: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

32

Com base na avaliação e previsões futuras das empresas, as estratégias de venda

são decididas, em comum acordo com os acionistas.

A definição da estratégia de venda é o guia para o assessor financeiro iniciar a etapa

seguinte da execução do processo. Nesta fase são decididas as premissas básicas do

escopo do projeto como: modalidade da venda, estrutura da operação, duração do processo

e sigilo, para em seguida, dar início a primeira fase de seleção e abordagem de

investidores. Ao mesmo tempo, são preparados documentos que resumem as principais

características da empresa de uma forma genérica, sem citar o nome da mesma.

A próxima etapa do processo é uma das mais importantes, pois é na abordagem de

investidores que o potencial real de conclusão do mandato será verificado. É nesta etapa

que os acionistas da empresa vendedora decidem o tipo de investidor que será abordado,

com base na estratégia decidida anteriormente.

Basicamente existem dois tipos principais de investidores que uma empresa pode

decidir abordar através do assessor financeiro em um processo de venda, divididos de

acordo com a intenção da aquisição: estratégico e parceiro financeiro.

O primeiro tipo ocorre de forma mais comum em incorporações totais de empresas,

principalmente no segmento de médias empresas. Este investidor frequentemente atua no

mesmo segmento econômico do alvo e busca crescer através de aquisições, não excluindo

os casos de incorporações com intenção de diversificação de negócios (conglomerados). O

tipo de investidor estratégico pode ser um concorrente direto, usualmente de maior porte,

atuando ou não na mesma região da empresa alvo, podendo inclusive ser uma empresa

estrangeira com interesse em iniciar atividades em outros países.

Os parceiros financeiros representam instituições financeiras, normalmente fundos

de private equity, que adquirem cotas de participação da empresa com a intenção de

disponibilizar elevadas quantias de capital para fins como investimento em ativos e futuras

incorporações, visando o crescimento destas empresas. Este tipo de investimento é

caracterizado por ter uma estratégia de saída, seja através da venda desta participação

para outros investidores ou em uma oferta pública de ações. Há também os casos em que

empresas do mesmo setor adquirem participações umas das outras, buscando a troca de

conhecimentos e investimento em ativos cuja companhia compradora possui experiência.

Definidos os tipos de investidores, na etapa seguinte é feita a seleção dos mesmos,

em comum acordo com os acionistas. Em seguida, inicia-se a abordagem à estes

investidores apresentando os documentos elaborados anteriormente, contendo uma breve

descrição da empresa e alguns dados financeiros relevantes. Nesta etapa, os serviços

executados pelo assessor financeiro já constituem uma ferramenta de análise única para a

empresa alvo, pois neste nível do processo a empresa obtém uma completa análise do

Page 41: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

33

setor de atuação e o sua posição no mercado, além de tomar conhecimento de valor

financeiro com base no potencial futuro de crescimento.

Caso haja a confirmação deste interesse por parte dos investidores, o assessor

financeiro disponibiliza mais informações a respeito do investimento. É prática comum do

mercado a assinatura de acordos de confidencialidade para a abertura do nome da

empresa alvo e mais documentos relacionados com a operação. Desta forma, os

interessados analisam a oportunidade e, se esta se mostrar atrativa, o processo entra em

uma nova etapa, a negociação.

A figura do intermediador da negociação é preenchida pelo assessor financeiro. É

ele quem vai conduzir as conversas entre os acionistas vendedores e os potenciais

investidores. A próxima fase é caracterizada pela elaboração de dois documentos, a carta

de intenção e contrato de aquisição.

A primeira define, de uma forma geral, as condições da operação. A carta de

intenção não tem valor legal, porém ela estipula o caminho seguinte a ser percorrido,

contendo as premissas básicas a serem discutidas para o contrato de aquisição.

Este último conclui a última fase das etapas preliminares do processo, já com valor

legal, incluindo as condições de venda, com garantias e estrutura da operação. Desta

forma, as partes entram na primeira etapa real de um processo de F&I: a due dilligence. É

nesta fase que os investidores tem acesso a todos os documentos relevantes a empresa

alvo, levantando os principais potenciais problemas como contingências trabalhistas,

tributárias, fiscais, previdenciárias e ambientais, que poderiam acarretar em problemas

futuros. Também são verificadas as informações apresentadas anteriormente no processo,

que serviram de base para elaboração do contrato de aquisição. Dependendo do acordo

envolvido, pode haver mais de um interessado participando da due dilligence,

potencializando o valor da operação para o acionista. Cabe ressaltar que a presença de um

assessor financeiro nesta etapa do processo emerge como fundamental, além de outros

profissionais necessários, como advogados, técnicos, engenheiros, auditores, etc.

Terminada a due dilligence, inicia-se o processo de negociação. Os acionistas

vendedores devem decidir se aceitam a oferta e as condições impostas pelos investidores.

Esta fase pode se estender por um longo período de tempo, já que as partes negociam de

forma exaustiva estas condições. Exemplos de estrutura de negociação são os mecanismos

de earn out, onde o valor referente à compra da empresa a ser recebido pelos acionistas é

atrelado a metas que devem ser atingidas pela empresa adquirida, forçando a permanência

dos ex-donos para auxiliar o alcance destas metas.

Concluída a assinatura do contrato de aquisição, o assessor financeiro recebe uma

comissão de acordo com o valor da operação e o processo passa para a terceira e última

Page 42: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

34

etapa, a integração, porém já não contando mais com os serviços prestados pelos

assessores.

Figura 9 – Fluxograma das Principais Atividades em uma Assessoria de Venda

5.2.2 Assessoria de Compra

Em uma assessoria de compra o escopo do trabalho do assessor financeiro focado

em médias empresas é bastante semelhante à assessoria de venda, porém os serviços são

prestados, em sua maioria das vezes, às empresas de grande porte interessadas em

adquirir empresas menores. Desta forma, o foco de atuação continua o mesmo, porém o

contratante deixa de ser uma empresa de médio porte.

Além de grandes corporações nacionais mostrarem interesse em adquirir empresas

menores, e também realizarem isto com intermédio de um assessor, empresas estrangeiras

também o fazem, muitas vezes contratando assessores no país de interesse. No caso das

Page 43: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

35

primeiras, o trabalho geralmente resume-se a abordagem de alvos pré-selecionados e

avaliação e condução do processo.

O segundo caso é mais comum devido ao fato de o Brasil se apresentar como opção

viável à expansão das atividades de empresas multinacionais que ainda não operam no

país ou o fazem de maneira pouco significante. É comum o fato de estas empresas não

terem um amplo conhecimento do segmento em que atuam fora dos países em que estão

presentes, além disso, muitas delas optam por ativos de médio porte, com receio de realizar

um grande investimento em um país com risco elevado.

Desta forma, estas empresas solicitam os serviços de um assessor financeiro para

realizar um mapeamento do setor e selecionar os principais alvos de uma eventual

incorporação. Além disso, o assessor é responsável por efetuar a avaliação financeira

destes alvos e conduzir as etapas de F&I, de maneira análoga à assessoria de venda,

porém intermediando as negociações de acordo com os interesses do comprador.

5.2.3 Assessoria de Fusão

Da mesma maneira que o potencial presente do mercado conduz as empresas a

adquirirem suas concorrentes pelas razões já apresentadas neste trabalho, o processo de

fusão também é uma alternativa buscada pelas companhias de médio porte.

No processo de fusão o assessor financeiro auxilia desde o planejamento da

operação até as documentações finais referentes a conclusão do acordo. Os procedimentos

preliminares envolvidos na operação englobam a análise das empresas e potencial de

mercado e estratégias da fusão, bem como a viabilidade da mesma.

Em um primeiro momento após a assinatura do mandato de fusão, os envolvidos no

processo reúnem-se e discutem as premissas básicas do procedimento. A primeira etapa

preliminar consiste na avaliação financeira das empresas. Da mesma maneira que nos

outros tipos de serviços, a avaliação é feita segundo os métodos dos múltiplos e DCF, com

enfoque maior neste último.

No processo de fusão o assessor financeiro desempenha papel importante na

estruturação das principais diretrizes de governança corporativa da nova empresa. Como

exemplo, na definição de um novo estatuto de acionistas, modelo de gestão, elaboração de

comitês e conselho de administração.

Definidas as premissas básicas e a avaliação financeira das empresas, dá-se início

a etapa de due dilligence, onde as empresas e o assessor financeiro têm acesso aos

principais documentos financeiros e gerenciais referentes às partes e os riscos da operação

são avaliados detalhadamente. Assim como nos outros processos, esta etapa é

fundamental para o desempenho futuro da empresa resultante da fusão, tendo o assessor

Page 44: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

36

financeiro, assim como outros profissionais requisitados nesta fase, um importante papel

para a operação ser concluída com sucesso, satisfazendo ambos os lados.

Na etapa seguinte a due dilligence, a negociação, são discutidas as estruturas de

moeda de troca e estratégias de fechamento. Esta etapa, assim como nos outros tipos de

mandatos, pode ser demasiadamente longa, já que envolve a nova estrutura societária e

termos contratuais do processo.

Figura 10 – Fluxograma das Principais Atividades em uma Assessoria de Fusão

Page 45: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

37

5.3 Investimento em Empresas - Private Equity

A divisão de negócios de um banco nacional responsável pela gestão dos fundos de

private equity conta com um enorme potencial de capitação de recursos devido ao tamanho

do banco e da sua carteira de clientes. Diferente dos fundos multimercado, que possibilitam

um aporte menor de capital individual de terceiros, os fundos de private equity demandam

maior poder aquisitivo, sendo destinados a clientes com maior patrimônio.

No presente momento, a unidade responsável pela gestão destes fundos possui em

sua carteira somente um fundo, constituído em 2009, com um capital de R$ 300.000.000,00

(trezentos milhões de reais) com a finalidade de investimentos em participações para

controle ou participação minoritária em empresas de médio porte, do tipo growth capital,

buy-outs e PIPEs (Private Investments in Public Equity).

O papel do gestor de fundos de private equity é avaliar os investimentos em

participação em empresas de forma a agregar valor à estas empresas após o aporte de

capital. Muitas vezes, os fundos de PE realizam a injeção de capital nas empresas para

aumentar a capacidade de crescer via aquisições, recuperação financeira e investimentos

diversos em ativos. Todas estas atividades visam o crescimento da empresa e,

consequentemente, o aumento do seu valor, pois como dito anteriormente, a estratégia de

entrada de um fundo de PE em uma empresa está sempre atrelada à estratégia de saída,

visando à valorização do investimento realizado.

Os fundos de PE também atuam na gestão das empresas investidas, participando

das tomadas de decisões relevantes aos investimentos futuros, metas e estratégias de

mercado. Estas práticas de governança corporativa, além de melhorar a gestão das

empresas, têm por objetivo preparar as empresas para um eventual IPO (Initial Public

Offering – Oferta Pública Inicial), principal meio de saída adotado nas estratégias dos

fundos.

Outro papel importante dos fundos de PE é o chamado turnaround. Neste modelo de

investimento os fundos realizam o aporte de capital para reerguer as companhias que estão

passando por dificuldades financeiras. O fundo paga um preço baixo pela participação,

normalmente utilizando uma taxa de desconto maior do que a praticada pelo mercado,

porém participam com gestão ativa, na tentativa de retomar patamares históricos de

crescimento ou ainda mais elevados, recuperando a capacidade operacional das empresas.

O modelo de avaliação utilizado pelos principais fundos varia de acordo com a

estratégia de investimento. Se a empresa ainda não está em fase operacional, mas

demonstra ter um grande potencial de ganhos futuros, o melhor método a ser utilizado é o

DCF. Em se tratando de empresas já consolidadas, com potencial para futura abertura de

Page 46: FUSÕES E INCORPORAÇÕES DE MÉDIAS EMPRESAS – UMA

38

capital em bolsa, os fundos utilizam, quando aplicável, o método dos múltiplos, analisando

principalmente o EBITDA das empresas.

Tabela 5 – Empresas Recém Investidas de Fundos de Private Equity

Data (Mês) Empresa Investida

outubro Camil Alimentos S.A.

outubro Elo7

setembro Agrifirma Brasil Agropecuaria SA

setembro Mtel Tecnologia S/A

agosto Bioenergy

agosto Shoes4you

julho Grupo Linx

julho Banco Fibra S. A.

julho MRV Logistica e Participacoes S.A.

julho Atacado Brasileiro da Construcao

julho Grupo Tenco Realty SA

junho Unidas SA

maio Boavista Servicos Tecnologicos LTDA

maio TVLX Travel SA

maio Ciashop

maio Web Servicos Digitais Ltda

maio GPS Participacoes SA

abril BGK do Brasil SA

abril Liquigas Distribuidora

abril KaBuM

Fonte: Thomson (2011)

A Tabela 5 apresenta as vinte últimas empresas que receberam aporte de fundos de

PE no Brasil. Nota-se a alta intensidade de investimentos em médias empresas,

proporcionada pelo bom cenário atual da economia brasileira. A Tabela 6 ilustra o estágio

de investimento feito por fundos de PE nos últimos doze meses, juntamente com o

montante investido.

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39

Tabela 6 – Estágio de Investimento dos Fundos de PE Realizados nos Últimos 12 Meses

Estágio Nº de Operações Total Investido (USD Milhões)

Pendente 6 1.879,04

Adquirida 10 575,16

LBO 8 193,45

Estágio Inicial 5 4,78

Expansão 7 113,91

Estágio Final 5 212,36

Aquis para Expansão 1 -

Bridge Loan 1 -

Total 43 2.978,70

Fonte: Thomson (2011)

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40

6. Conclusão

As operações de fusões e incorporações constituem uma importante ferramenta

utilizada pelas empresas ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. Se o capitalismo e a

estrutura econômica em que vivemos pregam o crescimento como principal objetivo destas

empresas, não há dúvidas que a grande maioria enfrentará, em algum momento, uma

decisão envolvendo processos de F&I.

Neste cenário é evidente o papel cada vez mais presente e importante do assessor

financeiro. Não somente agregando valor para um dos lados negociantes, mas

coordenando e estruturando todo o processo de F&I, garantindo a conclusão com sucesso

da operação e preparando os envolvidos para a fase final de integração.

Os fundos de private equity constituem uma importante ferramenta para

empreendedores desenvolverem suas empresas. A constatação deste fato é dada pelo

próprio governo brasileiro que através de seu banco de fomento, o BNDES, atua como um

grande fundo de participação em empresas, obviamente com um foco ligeiramente diferente

da definição apresentada neste trabalho, porém com resultados igualmente expressivos.

Infelizmente, não são disponíveis no mercado todos os valores despendidos pelas

empresas no anúncio de uma incorporação ou fusão, dificultando a análise mais precisa

destas operações. Porém é certo que os métodos de análise utilizados e as etapas dos

processos enfrentados por estas empresas são os mesmos que aplicados às grandes

corporações.

A análise baseada na expectativa futura e a verificação precisa dos dados

apresentados no momento anterior a oferta, destacam-se como as principais características

dos processos de F&I. Ainda que não haja um assessor financeiro presente, esta é a base

da operação. Em relação aos fundos de investimento em participação, a principal vantagem

em contar com esta parceira na sociedade da empresa é equivalente a uma oferta pública

de ações: o acesso fácil ao capital; com a diferença de que um fundo participa mais

ativamente da gestão da empresa.

Por fim, o segmento de médias empresas continua apresentando papel vital na

economia de um país. Seja através da geração de empregos, melhor distribuição de renda

ou empreendedorismo, este segmento é foco cada vez mais constante de assessores

financeiros e fundos de private equity. O elevado potencial de crescimento alavancado pelo

momento promissor de países emergentes no qual o Brasil se encontra, torna ainda mais

atrativo o investimento em médias empresas. Oportunidade única, em um cenário cada vez

mais turbulento da economia mundial.

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41

7. Referências Bibliográficas

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