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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA ENTRE O MEDO E O RISCO: BIOSSEGURANÇA E MÍDIA Ricardo Gustavo Garcia de Mello: [email protected] SÃO PAULO NOVEMBRO DE 2009

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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO

I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

ENTRE O MEDO E O RISCO: BIOSSEGURANÇA E MÍDIA

Ricardo Gustavo Garcia de Mello: [email protected]

SÃO PAULO

NOVEMBRO DE 2009

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ENTRE O MEDO E O RISCO: BIOSSEGURANÇA E MÍDIA

Ricardo Gustavo Garcia de Mello: [email protected]

Resumo O presente trabalho traz a pergunta: como a televisão vai nortear as

questões das relações internacionais dentro do debate da concepção de

biossegurança, já que os Estados dão soluções endêmicas diante de crises

pandêmicas. Biossegurança é antes de tudo uma estratégia de poder formada por um

conjunto de mecanismos que operam no serviço de saúde (em sentido lato). Por isto

não só aborda medidas de controle de infecções laboratoriais e a saúde dos

infectados. Esta para ser uma política de segurança deve tornar o inimigo invisível

visível. Fazendo a distinção de medo e risco.

Palavras – Chave: Vírus, biossegurança, medo, risco, mídia, política.

Introdução

O trabalho nasce do sentido que hoje compartilhamos de “crise do progresso”

onde os homens tinham seu futuro bem encaminhado, o futuro era dado como destino.

Tal progresso como destino vêem acumulando esperanças frustradas num cemitério, a

natureza dominada na palma da mão vemos agora sobre nossas cabeças como o

dilúvio.

Como relatou o patologista molecular, Jeffery Taubenberger. A pandemia de

1918 popularmente conhecida como gripe espanhola, foi um assassinato em massa

que ocorreu a mais de oitenta anos atrás. Concluindo que tal fato é uma historia

policial na qual o assassino jamais foi levado à justiça. Gina kolata patologista

molecular e repórter de ciência do New York Times. Perto da epidemia de gripe de

1918, qualquer outra epidemia desse século perde importância. Foi uma calamidade

tão mortífera que, se um vírus semelhante atacasse nos dias de hoje, mataria mais

pessoas num único ano do que as doenças cardíacas, o câncer, derrames, doenças

pulmonares crônicas, Aids e Alzheimer juntas. A epidemia afetou o curso da história e

foi uma presença aterrorizante no final da Primeira Guerra Mundial, matando mais

americanos num só ano do que os que morreram nas batalhas da Primeira Guerra

Mundial, da Segunda Guerra Mundial e da Guerra do Vietnã.

A história prossegue, mas não como uma farsa, mas com mais uma tragédia. A

cidade do México foi no dia 23 de abril um farol de alerta mundial. O seu sinal

vermelho, ganhou corações e mentes, tocando profundamente até os historiadores

que contavam a historia se esquecendo que, “os homem tem que estar vivo para fazer

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historia”. Isto é desprezando a ciência e tecnologia, mas mesmos estes não podem

ignorar as pragas, já que não é a questão da ciência em si, mas da política. A

realidade da maior metrópole latino-americana, México, apresentou um cenário de

terror. O anuncio feito em rede nacional por Felipe Calderón, que uma epidemia se

alastrava com alto poder de disseminação, e os sanitaristas mexicanos

recomendavam às pessoas se comunicassem somente o necessário, sem apertos de

mão, beijos e abraços e que aqueles que se arriscassem sair que saíssem usando

mascaram “tapabocas”. Não é por menos que poucas horas depois do anuncio as

pessoas disputaram os supermercado em busca de mantimentos para evitar o futuro

confinamento por tempo indeterminado. Após 16 dias de surto no México, canadenses

e americanas identificaram o surto, dizendo que se tratava de um novo vírus (H1N1),

de origem suína. Mas mesmos os americanos que identificaram o vírus não foram

capaz de conte-los e o seu vizinho Canadá no dia 2 de maio anunciaram a primeira

infecção pelo vírus, e numa de suas fazendas com 2.200 animais, 10% foram

infectados, estes mesmos nunca haviam saído do país. As previsões da OMS

(organização mundial de saúde) que no fim de julho ao menos 25 países seriam

infectados inclusivo o Brasil. Tal “recorde” foi batido em meados de Junho, após

contabilizar 36 mil casos em 75 países. O H1N1 ou Influenza A como nos demonstra

a comunidade medica, é como grande parte das enfermidades humanas origina-se de

reservatórios animais; estima se que 75% das doenças emergentes são zoonóticas. A

existência de múltiplos reservatórios do vírus da influenza na natureza favorece

recombinações de vírus que circulam em humanos e animais, numa constante

mutação do genoma viral, aumentando a possibilidade de emergência de novos

subtipos, aos quais as populações humanas se tornam indefesos ou susceptíveis. Por

isto a criação de animais seriam os maiores berços de novos vírus. No caso do H1N1

este aflora do contato de porcos e homens. A concepção do termo influenza é de

importância como já nos demonstra os astrólogos italianos que atribuem ao termo

influenza aos distúrbios sociais causados por fenômenos astrológicos. Porque a

gravidade da condição é tal que se apresenta aos nossos olhos sob a forma de uma

diversidade infinita, incoerente e de difícil condução como um dado racional, por isto o

termo tem um caráter astrológico, como se o destino dos homens estivessem nas

mãos do acaso. A noção de vírus é correlata a da influenza como nos demonstra

bacteriologista Russo Dmitri Iwanowski como algo que se pode passar livremente

através dos filtros. Os vírus invadem as células tomando o controle de seu modus

operanti , transformando a célula numa fabrica de novos vírus, tornando este ser um

autômato “zumbi” a seu serviço. O corpo deste se torna vulnerável surgindo os

sintomas da doença, já que as “fechaduras”, anticorpos são violados, é tal fraqueza

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nas “fechaduras” é o que marca o corpo doente. Por isto aqui atribuímos aos vírus o

adjetivo fluidez. A fluidez é a qualidade de líquidos e gases, distinta da dos sólidos.

Fluido é tudo que quando submetido à pressão ou tensão se deforma, mas sem perder

suas propriedades enquanto os sólidos possuem a capacidade de

resiliência/resistência, possuindo uma liga que une os átomos em arranjos, cria o que

se chama de sistema. Os sólidos possuem dimensões espaciais claras, como o

Estado nacional e o corpo. O fluido não se circunscreve a dimensão espacial, porque

não se atem à forma alguma tendo auto-propensão a mudar. Para fluidez o que conta

é o tempo e não o espaço, já que este é tocado por um instante, enquanto que para os

sólidos é o espaço que importa. Tal fluidez “viral” gera a própria ubiqüidade do medo

mesmo, mesmo o perigo real o vírus H1N1 não estando em cena. A não visibilidade

do inimigo gera a onipresença do medo mesmo este não estando em cena, por isto o

medo possui uma capacidade de autopropulsão. Penetrando até no ar que

respiramos. Pode se dize que o vírus se torna um sujeito histórico tendo uma historia

que é sua ou “carga própria” ganhando força temporal por adquirir velocidade. A distância

percorrida de um espaço a outro passou a depender da fluidez logo todos os limites

espaciais herdados ou existentes poderiam ser transgredidos. O vírus é a arma na

conquista do espaço, enquanto o espaço fica na guerra defensiva. O vírus opera no

contagio como um software se remete a algo fora de si mesmo. Um vírus em si nada

significa. O vírus é inerte como uma pedra não tem autonomia própria sendo nada

auto-suficiente, mas mesmo assim tem a necessidade de se fazer existir perpetuar,

igual aos seres humanos foi feito para gerar descendentes. O vírus é como um

software necessita de um hardware ou de um corpo para se fazer existir.

O vírus não tem um único foco radiador ou núcleo que o difunde e nem um

circulo concêntrico que o espraia. É esta dificuldade de localizar uma forma singular e

regular de percepção comum ou em outros termos ausência de uma sintomatologia, é

uma das características da pandemia. Por isto a distinção entre endemia e pandemia é

de suma importância. Endemia é relativa a algo endêmico de uma determinada

geografia e restrita aos seus elementos, um determinado clima, solo e população. A

pandemia é algo que não tem suas proporções delimitadas, pois a disseminação do

vírus pelos diversos países não tem um único foco radiador, podendo ter sim um pais

com um nível mais alto de casos de contaminação pelo vírus, mas não que esta parte

seja tomada como responsável pelo todo, porque outros países, que não possuem

altos índices também desenvolvem casos autóctones. O vírus é como um campo

minado que implica a conexão entre heterogêneos: qualquer ponto pode ser

conectado com qualquer outro; ele não pode ser compreendido em relação a um único

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ponto, pois este pode ser rompido em qualquer lugar e dividir-se segundo outra lógica

de transformação pode ser somente mapeado.

Tal fluidez viral. Quebra com os sólidos paradigmas que orientam nossa

civilização. Exemplos são as divisões entre natureza e cultura e entre política

“domestica” e política “externa”. Na distinção política “domestica” e política “externa”.

Na política “domestica” seriam as boas leis. O Estado que concentra o monopólio da

violência sobre uma autoridade legitima, no sentido de Weber. Fazendo com que os

homens possam viver em paz no interior de uma coletividade, tal Estado ou unidade

de poder é una e indivisível, indispensável para viver em sociedade, como Hobbes à

consagrou. Na política externa são as boas armas, a sobrevivência do Estado diante

da ameaça virtual de outros Estados. Nas relações entre os Estados estes não

possuem um centro de poder ou unidade de justiça. Assim o que se encontra é uma

guerra de leviatã contra leviatã, “estado de natureza”, cada Estado julga o que é mais

favorável ao seu interesse. Os Estados em relação ficam em uma situação de guerra

perpétua e contínua vigília de suas fronteiras. Na ausência da conscientização clara

entre política “domestica” e política “externa” uma tende a se confundir com a outra,

deixando uma de ser essencialmente pacifica e a outra de ser radicalmente belicosa,

logo o inimigo não pode ser circunscrita como aquele que esta para além da fronteira.

O inimigo não é mais relativo a um determinado espaço ou localizado. Assim todos e

qualquer um podem ser um inimigo em potencial. O vírus flui como o medo que

penetra em qualquer canto ou fresta de nossas casas, ruas, nas telas luminosas dos

meios de comunicação, locais de trabalho e no ir e vir do metro. Flui do corpo e até

está no ar que respiramos. É há não visibilidade do inimigo que gera a

ubiqüidade/onipresença do medo.

Na distinção de natureza e cultura. A natureza se caracteriza como

inconstante, incoerente, irracional e principalmente como ausência de regra e a cultura

se caracteriza como constante, coerente, racional, e principalmente como reino da

regra. A unidade de poder é uma condição indispensável para a vida em sociedade,

ou seja, a cultura surge como a instauração da sociedade no sentido de civilização.

Tal concepção de cultura é inerente ao pensamento da política. Onde a sociedade se

formar como sociedade política (Estado e instituições). A vida sem a sociedade política

é solitária e embrutecida, sórdida e curta, os homens são entre si ingratos, covardes,

volúvel e opaco aos olhos de seu semelhante. A natureza diante da formação da

sociedade política/unidade de poder ou em outros termos cultura, não se extingue,

pois está se faz presente com os abalos na unidade de poder, dado pela falta de

segurança, é como se toda a cultura formada pela longa experiência ou

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conscientização, fosse dominada pelas forças do acaso ou por uma praga. Devido à

fluidez do vírus tais distinções se borram, ocorrendo um imbróglio, não podendo saber

onde começa as boas leis e onde começa as boas armas, onde começa natureza e

onde começa a cultura. Porque só é possível a unidade política e a paz, sabendo com

o que enfrentamos, ou quem é o inimigo. O resultado que temos é o medo.

Medo primário ou “natural” é a experiência que compartilham homens e

animais, que são os perigos de perder a própria vida "corpo e sustento". E a resposta

ao medo é a fuga ou agressão ou conceitualmente conhecido "o homem é o próprio

lobo do homem" de Hobbes. Medo secundário/derivado em outros termos socialmente

construído seria um medo cultural, cultivado dentro de determinados patrões de vida,

que deriva em relação ao conforme o segmento social, classe, faixa etária e gênero. O

caráter diferenciado do medo “social” que pode ser facilmente desacoplado dos

perigos que o causam ou ditos perigos reais. E já que o vírus cria um imbróglio entre

natureza e cultura. Medo híbrido é uma zona não delimitada geograficamente, algo

sem categoria ou disciplina que lhe dei nome, onde encontramos os medos mais

densos e apavorantes, que aterrorizam numa mesma onda o que é socialmente

construído como o segmento social, classe, faixa etária e gênero, os perigos

culturalmente cultivados. E o que é da natureza, que compartilham homens e animais,

que são os perigos de perder a própria vida "corpo e sustento". Medo social, mas nem

tanto, medo natural, mas não por inteiro. Ao mesmo tempo natural e social, mas

embora diferente de ambos. São como o buraco na camada de ozônio, as redes de

energia que saem do ar, a queda dos jatos em dias inesperados, barris de petróleo

que secam as pragas nas plantações, tsunamis que desabem construções. É a ira do

incomensurável como se as forças da natureza dominada pela mão do homem

viessem sem data e hora marcada e pior que o apocalipse sem distinguir os salvos

dos anticristos.

Nossa capacidade de agir depende da chamada consciência política, que

pressupõem o Estado como detentor legitimo da decisão entre amigo e inimigo

deixada de forma clara, com as condições históricas concretas que tornem viáveis as

ações daqueles que pretendem agir ou enfrentar o inimigo. Tal clareza só é possível

quando se enfrenta um inimigo relativo que pode ser circunscrito, limitado,

quantificado, e essencialmente visível e distinto do resto. Tal realidade solida de

mundo não mais existe não se pode louvar a “máxima” os homens tornam-se

conscientes nas contradições materiais. O ataque do inimigo invisível derruba o

paradigma de tal consciência, mas não derruba o inimigo que é agora se torna total. Já

que os olhos não vêem a consciência se nega. A potencialidade deste inimigo é ser

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invisível não deixando sensação de segurança, só o medo na vida. È assim que os

veículos de comunicação ganham um papel de importância sem igual e em especial a

televisão. A televisão aqui não é mais o espelho da realidade, nem mais a imagem de

segunda mão. A tela agora não é o ponto de vista, mas a encarnação dos olhos, a

consciência se arquiteta na tela. Somente a televisão pode tornar visível e informar os

rumos do “inimigo invisível”. Em um mundo crescentemente dominado pela lógica

instrumental da técnica-moderna, os veículos de comunicação seriam os verdadeiros

portadores do principio do político, tomando o monopólio da visão, tornando visível o

“inimigo invisível”. A televisão como soberano eletrônico sendo capaz de capturar em

imagem a sensação política, articulando a virtù e a fortuna, como comprovação da

política. A virtù se expressa nas qualidades de liderança, atuação inteligência ou

predicados qualitativos necessários para captura da imagem-sensação do vírus. A

fortuna são as condições sociopolíticas, conjuntura ou meio social. Não é por acaso

que Maquiavel compara a fortuna a um rio furioso que imunda as planícies, derruba as

arvores e casas e diante desta a fuga é impossível. O vírus toma a mesma liquidez da

metáfora do rio em fúria. Maquiavel afirma que a fortuna é dona de mais da metade de

nossas ações humanas, mas como “representante da política dos homens” sabe que é

diante das crises que a virtude no sentido político se faz necessária abrindo na

descalcificada estrutura uma margem de renovação.

Por isto é possível antes da tempestade das águas, ou das ondas “virulentas”,

a virtù poder construir os diques e canais, de modo que as águas corram para estes

canais, ou se utilizar da ciência e da tecnologia de modo politizado. O fato é que não

dá para anular a tempestade, mas pode se mostrar ao menos virtuoso para usar

expressões de Maquiavel. E é por estas considerações que a biossegurança não pode

ser um produto de uma política isolacionista de um Estado autárquico, que se volta pra

si. Porque a possibilidade de uma política de segurança producente requer considerar

a situação do vírus H1N1 que é uma situação pandêmica, exigindo interdependência

complexa entre Estados demandando uma estratégia que necessita de canais de um

nível comunicação e um nível significativo de solidariedade internacional.

Biossegurança é antes de tudo uma estratégia de poder formada por um conjunto de

mecanismos que operam no serviço de saúde (em sentido lato) com medidas técnicas,

administrativas, educativas, medicas e psicológicas. Por isto não só aborda medidas

de controle de infecções laboratoriais e a saúde dos infectados. Esta para ser uma

política de segurança deve fazer a contenção de agentes patogênicos é a

predominância da “medicina preventiva” sobre a “medicina curativa” que de modo

algum pode dispensar a curativa. Devido está predominância da prevenção/contenção,

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faz-se necessário edificar uma consciência coletiva. Quando dissemos que a

biossegurança é antes de tudo uma estratégia. É dizer que o movimento de contenção

existe dentro da área de influencia do microorganismo patogênico. “Não é uma

estratégia como movimentos fora do alcance do tiro dos canhões inimigos ou do

contagio. Mas uma estratégia norteada na contenção do H1N1.

Por isto a biossegurança não pode ser pensada como mera acumulação de

informação progressiva, está tem que ser re-significada, atualizada e especialmente

supervisionado conforme as exigências patogênicas. Por isto não inclui uma conclusão

em sua própria terminologia diante das necessidades concretas. É diante do perigo

que se forma e se sujeita o próprio conceito de segurança, que aqui é exigido no

combate a microorganismos patogênicos. A televisão tem a capacidade de ser um

instrumento pelo qual tal política de contenção opera. Porque permita o movimento da

política, que formando uma moral de conduta ou concepção de mundo. Esta

concepção de mundo é multidimensional e multifuncional, tendo que incluir as

dimensões materiais, sociais e simbólicas do vírus, nas diferentes conjunturas

nacionais. Não podendo negar a heterogeneidade das coletividades humanas, suas

geografias e composições de clima, solo e população de modo particular e autônomo.

Mas tal autonomia não é restritiva, mas relativa diante as pandemias que possuem

vírus que age de modo abrangente em todas as nações, mas sendo múltiplas as suas

formas de mutação em contato com estas. A questão importante a considerar aqui é

que há uma pretensão de uniformização que só é possível, sem menosprezar os

fundamentos do processo de diversificação em que cada Estado está ancorado.

Ancorado em diferentes condições concretas de existência resultantes do próprio

modo de produção. A concepção de mundo corresponde a uma resposta ou formação

de um discurso dominante, sobre um problema que é original em sua atualidade e

complexidade, mas tal resposta se dá pela padronização das condutas. Faz com que

as opiniões e modos de ver e agir dispares no tempo e espaço e os dialetos ou

discursos de segmentos da sociedade (médicos, militares, lideres de partidos,

trabalhadores entre outros), que são contraditórios entre si, ressoassem a um centro

unívo, ou discurso dominante.

Nesse sentido a televisão tem papel fundamental para abarcar as mais

diferentes oposições, sem reduzi-las, a uma síntese qualquer, que negue o conflito

como horizonte. Tal complexidade é capaz de criar a dita concepção de mundo que

chama atenção para o acontecimento, mas sabe o traduzir para cada conjuntura

especifica. Se nos pensarmos na televisão, em termos da divulgação de “bens

culturais” como pesquisa científica e informação na disseminação das descobertas.

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Vemos que a imagem passa a ser um dos elementos mais expressivos na

formação do consenso como modo de vida. A potência da televisão seria o resultado

da sua capacidade de moldar a matéria viva da experiência, sem reduzi-la a

esquemas abstratos. A televisão não se restringe a esfera do desenvolvimento

técnico-científico, pois possui uma concepção de racionalidade não despojada de todo

conteúdo e centrada nos princípios do cálculo, da eficiência e da previsibilidade, uma

racionalidade, não só conhece um tipo de forma de precisão técnica. Esta apresenta

acima de tudo uma forma de definição valorativa dento um caráter substancioso. Por

isto a televisão, não se nutri do “dualismo estrutural” da fratura entre espírito e

natureza, pensamento e ser, sujeito e objeto que seria característica da

instrumentalização da realidade pelo racionalismo-técnico. O caráter político da

televisão tem como premissa uma racionalidade capaz de compreender e configurar

formas múltiplas e contraditórias da experiência individual, numa unidade coletiva.

A televisão aqui não é um mero efeito-placebo. Dispositivo-placebo. O efeito-

placebo ocorre quando uma substancia produz um efeito que suas propriedades não

possuem. Por exemplo, quando as pessoas ingerem uma pílula contendo açúcar ou

farinha, resultando numa melhora da doença. O placebo mesmo mostrando melhoras

em exames este só atinge melhoras em indivíduos isolados e nunca num coletivo por

isto este não se faz remédio. Logo a metáfora do placebo nos explica um pouco de

nosso individualismo em relação à problemas, a negação da representação coletiva

como horizonte. A representação coletiva é como a vida coletiva só pode existir no

todo pela reunião. O começo da vida coletiva marca a vida moral. A moral se

apresenta como um conjunto de máximas ou regras de conduto que prescrevem o

indivíduo lhe adjetivando como agente. A moral é ao mesmo tempo ordem e ligação,

coerção e coesão sendo por isto desejável e dever do indivíduo. Nas representações

individuais reina o solipsismo onde é a sensação do Eu, o momento particular

considerado como única realidade e concepção de mundo possível. O placebo é

"solipsista" só hoje sobre o Eu nunca cria uma força permanente organizada que

possa dar conta do problema no publico.

Para isto dirá a nebulosidade/escuridão do perigo real, chamada medo. Na

escuridão tudo pode acontecer não há como prever o que vira. A escuridão é a imagem e

semelhança da incerteza não só uma metáfora nem sempre dentro da escuridão se

encontrou o perigo-real, mas sim o gene da incerteza, portanto habitat/moradia do

medo. O medo não resulta da perda dos dispositivos de segurança, mas da

"nebulosidade" da segurança alcançar seu objetivo. Não é por acaso que o termo risco

e usado no lugar de medo durante a política de biossegurança.

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Risco são os perigos cuja probabilidade pode calcular, o perigo é mensurável, ou

seja, calculável. A “calcubilidade” não significa previsibilidade, a previsão do

acontecimento que vira. O que se calcula é a probabilidade de que as coisas têm de

dar certo ou errado, o calculo e feito e sustentado no chão real, não tem curva de

especulação como a previsibilidade. O inimigo é claro e localizado. Porque se tem a

testemunha ocular do acontecimento. As imagens são muitas mais reais do que as

palavras faladas e até do que a escrita impressa. O "ver para crer" é o provérbio que

marca a ascensão dos meios de comunicação. Sabendo de onde vem o golpe e o que

podemos fazer para afastá-lo é só ai que vem o alivio.

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