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Page 1: Fundamental direito à segurança · direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Por seu turno, a Carta Magna de 1988 também estampa, Por seu turno, a Carta Magna de

Fundamental direito à segurançaDaniel de Resende Salgado

No discurso relativo aos direitos humanos, raramente a segurança é lembrada como direito fundamental dos mais importantes e elementares.

A propósito, no artigo 2º da primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, estão elencados como direitos “naturais e imprescritíveis do homem”, “a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão”. Já em 1793, no momento em que a Revolução Francesa empreende uma guinada social, mais uma vez, em nova declaração, o direito à segurança é lembrado; 150 anos depois, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU repetia em seu artigo 3º: “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Por seu turno, a Carta Magna de 1988 também estampa, em seu artigo 6º, a segurança como um direito fundamental.

Entretanto, a segurança é lembrada (quando lembrada) apenas em situações onde os seus titulares são os presos políticos, ou mesmo os presos comuns, agredidos na sua integridade física e moral pela ação de agentes estatais. Há curioso esquecimento: o de que o cidadão comum tem também direito à segurança, violada com preocupante freqüência pelos criminosos.

Alguns justificam esse descuido aduzindo que o conceito de violação de direitos humanos deve ser reservado a ações estatais, porquanto as garantias fundamentais foram concebidas para fazer frente aos abusos do poder do Estado. Além disso, sustentam, é o Estado quem se compromete, mediante pactos internacionais, a respeitar os direitos humanos. Ademais, concluem, não faria sentido exigir de criminosos que sejam eles respeitadores de direitos humanos, uma vez que é da essência da criminalidade a sua violação. E o Estado, ao contrário do criminoso, deve ser sempre respeitador e protetor de direitos.

Mesmo que concordemos com tais proposições, a violação da segurança das pessoas cometida pelos criminosos não pode deixar de ser considerada na reflexão sobre direitos humanos. Isso porque a insegurança promovida pela criminalidade gera a aceitação popular das violações perpetradas pelo Estado.

Explico: quanto mais as pessoas ficam expostas ao crime violento, mais aceitam as ações arbitrárias da polícia e da comunidade e mais tenderão a apoiar soluções “de força” para o problema da violência que as aflige, ou seja, quanto maior o estado de desespero do grupo, mais receptivo às violações de direitos humanos ele é.

Dessa forma, a segurança pessoal é uma variável importante a ser considerada nas discussões e estratégias de respeito aos direitos humanos. Tanto quanto a saúde, a educação e o trabalho, a segurança é um dever do Estado democrático perante seus cidadãos.Daniel de Resende Salgado é procurador da República, membro do Conselho Penitenciário e coordenador criminal do Ministério Público Federal em Goiás.

(artigo publicado em O Popular)