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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS DE JI-PARANÁ DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INTERCULTURAL CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO BÁSICA INTERCULTURAL CONHECIMENTO TRADICIONAL DO POVO ORO NAO’ DA ALDEIA BOM JESUS SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS Acadêmico: José Maria Oro Nao’ Orientador: Reginaldo de Oliveira Nunes Ji-Paraná 2016

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

CAMPUS DE JI-PARANÁ

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INTERCULTURAL

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO BÁSICA INTERCULTURAL

CONHECIMENTO TRADICIONAL DO POVO ORO NAO’ DA ALDEIA BOM

JESUS SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS

Acadêmico: José Maria Oro Nao’

Orientador: Reginaldo de Oliveira Nunes

Ji-Paraná – 2016

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JOSÉ MARIA ORO NAO’

CONHECIMENTO TRADICIONAL DO POVO ORO NAO’ DA ALDEIA BOM

JESUS SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de

Educação Intercultural da UNIR, como

requisito para a obtenção do título de

licenciado em Educação Básica

Intercultural, sob orientação do Professor

Dr. Reginaldo de Oliveira Nunes.

Ji-Paraná – 2016

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu povo Oro Nao’, que foi muito difícil para eu produzir esta

pesquisa. Espero que este trabalho tenha finalidade de alcançar o objetivo que possa resgatar

os conhecimentos medicinais. Dedico principalmente aos sabedores, que contribuíram com a

minha pesquisa, que são: Mam Xun Tamanain Oro Nao’, Ma Xun Corain Oro Jowin,

Tocowet Cao Xeo é Win Oro Nao’. Eu agradeço muito a eles que colaboram o meu objetivo

da minha pesquisa das plantas medicinais do povo Oro Nao’.

Eu como escritor do povo preciso deixar uma escrita do nome de cada tipo de plantas

medicinais para meu povo é por isso que foi muito importante dedicar ao meu povo. Estas

pessoas que contribuíram junto com o meu trabalho de descrever os nomes de plantas

medicinais para tratar das doenças.

Dedico também a minha família, que são: Claúdia Oro Nao’ (esposa), Rosilene Oro

Nao’, Juscelino Oro Nao’, Maurício Oro Nao’, Ingrid Oro Nao’, Plínio Oro Nao’ e Josenildo

Oro Nao’ (meus filhos). Dedico também ao meu pai Valdemar Cabixi e minha mãe Win Oro

Nao’.

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AGRADECIMENTOS

Primeiro eu agradeço a Deus

Minha família, minha esposa Claudia Oro Nao’, filhos, Rosilene Oro Nao’,

Juscelino Oro Nao’, Mauricio Oro Nao’, Josenildo Oro Nao’, Ingrid Oro Nao’, Plinio

Oro Nao’.

Meus amigos que me deram muita força de chegar até aqui, Salomão Oro Win,

Abel Oro Nao’, esses são os grandes guerreiros para mim.

Minha família: mãe, Win Oro Nao’, Padrasto, Mam Xowi Oro Eo, irmãos;

Elizabete Oro Eo, Reginaldo Oro Eu, Maria José Oro Nao’, Fátima Oro Eó e

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Raimundo Oro Nao’. Pela parte do meu Pai, Valdemar Cabixi, meus irmãos: Olívia

Cabixi, Sérgio Cabixi, Isaura Cabixi, e outros.

Meus primos Roberval Oro Nao’, Salomão Oro Nao’ e outros.

Os meus sobrinhos, Sérgio Oro Nao’, Marlina Oro Nao’, Jaqueline Oro Nao’,

Mariana Oro Nao’, Zaqueu Oro Nao’, Ezequiel Oro Nao’, e outros

Os meus cunhados (as), Ximain Oro Waram Xijein, Zaqueu Oro Nao’, Rebeca

Oro Nao’ , Nanci Oro Eó, Luís Oro Nao’.

Aos meus pastores, Rubens Oro Nao’, Ricardo Oro Nao’, Moacir Oro At,

pessoas que me deram muitos conselhos para enfrentar o meu estudo.

Os meus sabedores nas plantas medicinais do povo Oro Nao’, Mam Xun

Tamanain Oro Nao’, Tocowet Cao Xem Oro Nao’, Wim Oro Nao’, Paulo Oro Nao’.

Essas pessoas que colaboram com a minha pesquisa.

Aos meus amigos do projeto Açaí que estudaram junto conosco, Karitiana,

Suruí, Gavião, Zoró e outras etnias

Os meus professores da Universidade Federal de Rondônia, em Ji-Paraná,

Reginaldo de Oliveira Nunes, Kécio Gonçalves Leite, José Joaci Barboza, Edinéia

Aparecida Isidoro, Josélia Gomes, Cristóvão Teixeira Abrantes, Carma Maria Martini,

João Carlos Gomes, essas pessoas me ajudaram muito no estudo durante cinco anos.

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RESUMO

O conhecimento tradicional do povo Oro Nao’ sobre as plantas medicinais ainda é

desconhecido, pois não existe nenhuma literatura que fale sobre o tema. O objetivo desta

pesquisa e fazer junto aos sabedores da aldeia um levantamento das principais plantas

medicinais usadas pelo povo Oro Nao’ no tratamento de suas doenças. A pesquisa foi

realizada com sabedores indígenas da Aldeia Bom Jesus, localizada na Terra Indígena Pacaas

Novos, município de Guajará Mirim, Rondônia. As entrevistas foram grafadas para facilitar o

registro das informações e depois transcritas para o trabalho. As plantas medicinais citadas

pelos sabedores foram registradas por meio de fotografias e estão ilustradas no trabalho.

Percebeu que o povo Oro Nao’ conhece as plantas medicinais e ainda fazem uso para tratar

suas doenças. Esse conhecimento sobre as plantas é aprendido com os mais velhos e ainda é

repassado pelos pais aos seus filhos. A pesquisa foi importante, pois registrou as principais

plantas medicinais utilizadas pelo povo, sendo uma forma de registro para que as futuras

gerações possam ter acesso a esse conhecimento tão importante na cultura do nosso povo.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Povo Oro Nao’, Conhecimento Tradicional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ........................................................................................................................................... 10

MINHA TRAJETÓRIA DE LUTA E CONQUISTAS .................................................................................... 10

CAPÍTULO II .......................................................................................................................................... 12

PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA ........................................................................................ 12

2.1. A TERRA INDÍGENA DO POVO ORO NAO’ ................................................................................ 12

2.2. OS SABEDORES ENTREVISTADOS E COMO A PESQUISA FOI REALIZADA ................................. 14

CAPÍTULO III: ........................................................................................................................................ 16

PLANTAS MEDICINAIS DO POVO ORO NAO’ ....................................................................................... 16

3.1. AS PESQUISAS INDÍGENAS SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS EM RONDÔNIA ........................ 16

1. CORAIN ................................................................................................................................. 19

2. CARAMA’ .............................................................................................................................. 19

3. MEMEN – maracujá do mato ............................................................................................... 20

4. TAPARI PANA - sucuba ....................................................................................................... 20

5. CARAPITAIN IRAM - açaí .................................................................................................. 21

6. MAWIN - urucum .................................................................................................................. 21

7. MAKARAO’ - copaíba........................................................................................................... 22

8. XIRI - sororoca ...................................................................................................................... 22

9. MATIROP - cajazinho .......................................................................................................... 23

10. XIKINAKON COPACAO’ - unha de gato ...................................................................... 23

11. WINO - caju ....................................................................................................................... 24

12. KITA’ .................................................................................................................................. 24

13. TOROT - aracuri................................................................................................................ 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................... 26

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 27

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INTRODUÇÃO

As plantas medicinais do povo Oro Nao’ são muito difícil para deixar por escrito,

porque os sabedores não sabem como registrar em um livro, mas eles sabem guardam muito

bem na memória.

Antigamente, o povo Oro Nao’ não dependia do médico não indígena, porque os

indígenas têm seus próprios médicos que são os pajés. Os pajés faziam os tratamentos com as

plantas medicinais para cuidar do corpo e dos espíritos que causavam mal ou problemas de

saúde.

Quem conhecia as plantas medicinais eram os pajés, porque eles dormiam e sonhavam

com espírito das plantas dizendo o que podia usar contra aquela doença, o espírito também

orientava como preparar as plantas medicinais para usar como remédio. Essas plantas eram

muito utilizadas pelo povo Oro Nao’ antigamente. Não tinha tanta doença como hoje, só

tinham problemas simples de saúde, como tosse, gripe e diarreia.

Hoje ainda usamos as plantas medicinais, porque cada vez que nossa mãe, pai, avó e

avô usam, estamos aprendendo também a usar e repassar isso para nossos filhos. Isso é muito

importante de estar presente no cotidiano da aldeia.

Ma Xun Corain é um pajé que sabe todos os nomes das plantas medicinais do povo

Oro Nao’. Foi ele que me ensinou quando era jovem, quando ele estava vivo e com saúde, eu

aproveitei para saber os nomes das plantas medicinais, daí preservei esse conhecimento na

memória, pois Ma Xun Corain morreu em 1996 com mais de 98 anos de idade. Se não tivesse

aprendido com ele, muitas coisas tinham se perdido junto, afinal, os mais velhos da nossa

comunidade são nossa biblioteca, e na memória deles que estão guardadas todas as

informações sobre o povo, e isso deve ser preservado pois senão o conhecimento se perde

junto quando eles morrerem.

Tudo o que eu aprendi junto aos sabedores da aldeia, estou deixando por escrito para

que o meu povo possa usar as plantas medicinais e tratar os nossos filhos, netos e bisnetos,

por isso essa pesquisa é muito importante para minha comunidade.

Hoje em dia, ainda estamos usando as plantas medicinais, a gente nunca deixou de

usar o nosso conhecimento. Também não deixamos de usar os remédios industrializados nos

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casos mais graves, porque, com o contato apareceu muitos tipos de doenças contagiosas, que

antes não tinham.

O Trabalho de Conclusão de Curso está organizado em três capítulos. O primeiro

aborda minha trajetória acadêmica e meu interesse em estudar sobre as plantas medicinais. O

segundo capítulo apresenta como o trabalho foi realizado e descrição do meu povo e da

aldeia. O terceiro apresenta os resultados sobre os saberes específicos das plantas medicinais

do povo Oro Nao’, da Aldeia Bom Jesus, município de Guajará Mirim.

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CAPÍTULO I

MINHA TRAJETÓRIA DE LUTA E CONQUISTAS

José Maria Oro Nao’ e Win Oro Nao’ (minha mãe)

Nesse capítulo, vou contar um pouco da minha vida. Quando eu era criança gostava

muito de jogar bola, depois fiquei grande e meu tio me colocou para estudar. Comecei a

estudar com 5 anos, eu só estudava a língua materna, estudei a língua materna até os 8 anos,

daí eu comecei a estudar o livro de português, matemática e vários outras matérias.

Estudei até o quinto ano e parei de estudar. Com 16 anos casei com a minha esposa,

que é a Claúdia Oro Nao’, depois de um tempo tive filhos e parei de estudar. Depois de 8

anos, pensei em continuar a estudar, já com 27 anos, conclui o primeiro grau que era o

supletivo, com a professora Maria Evanir da FUNAI.

Quando conclui o primeiro grau, comecei a trabalhar para dar aula na minha

comunidade, que é na Aldeia Sotério, onde trabalhei por 5 anos.

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Nesse momento, começou o projeto Açaí e fui fazer. Eu estudei por 5 anos e me

formei. Nesse projeto conheci vários amigos que me apoiaram e incentivaram a continuar

estudando.

Em 2010 fiz o segundo vestibular do curso de Licenciatura em Educação Básica

Intercultural da Universidade Federal de Rondônia, e fiquei muito feliz pois passei e comecei

a estudar em Ji-Paraná. Estudei várias disciplinas, conheci vários professores que me

ajudaram nessa trajetória. Tive alguns problemas e atrasei o meu curso, por isso estou

concluindo só agora em 2016, mas com muito esforço e uma felicidade enorme, pois consegui

vencer e agora vou ser professor na minha aldeia, com nível superior.

Claúdia Oro Nao’ (esposa) segurando meus netos

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CAPÍTULO II

PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

2.1. A TERRA INDÍGENA DO POVO ORO NAO’

O povo Oro Nao’ vive na Terra Indígena Pacaas Novos, tem várias aldeias. A aldeia

mais antiga é a Tanajura. Quando aumentou a população, o mesmo povo foram construir

outra aldeia, que foi chamada de Aldeia Sotério, fundada no ano de 1985, com moradores que

vieram da aldeia Tanajura. Isso aconteceu porque a população da aldeia Tanajura aumentou

muito, ai a população resolveu criar outra aldeia. Foi uma luta para fazer as mudanças de uma

comunidade para outra, onde vieram 18 famílias, depois as moças casaram com jovens de

outras etnias.

Localização da Terra Indígena Pacaas Novos.

Hoje, na aldeia Sotério moram 84 famílias. A aldeia está localizada na margem direita

do Rio Mamoré, na Terra Indígena Pacaas Novos. Na aldeia Bom Jesus, moram etnias Oro

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Nao’, Oro Eó, já na aldeia central vivem várias etnias da comunidade, como Oro Mon, Oro

Nao’, Oro At, Canoé, Macurap e Jaboti. A comunidade indígena Sotério vive sempre unida. A

aldeia fica na margem direita do rio, pois na margem esquerda alaga muito e forma grande

quantidade de Igapó, muito enorme e alagado. Nessa área ninguém mora, é tudo preservado

pelos não indígenas.

Festa Tradicional do Povo Oro Nao – Ka Kum In Tokwa Totokwe

Rio Negro Sotério – entrada para Aldeia Sotério

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Aldeia Bom Jesus

Jovens Indígenas tomando banho tradicional que faz bem para a saúde do corpo

2.2. OS SABEDORES ENTREVISTADOS E COMO A PESQUISA FOI REALIZADA

A pesquisa foi realizada na Aldeia Bom Jesus, localizada na Aldeia Sotério, Terra

Indígena Pacaas Novos, município de Guajará Mirim.

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Foi feito entrevistas com os sabedores mais velhos da aldeia para buscar informações

sobre as plantas medicinais do povo Oro Nao’. Os sabedores entrevistados foram: Mam Xun

Tamanain Oro Nao’ (Salomão), Tocowet Cao Xem Oro Nao’ (Rosa), Wim Oro Nao’

(Iracema), Wem Canum Oro Nao’ (Paulo).

Wim Oro Nao’ (Iracema)

Tamanain Oro Nao’ (Salomão)

As entrevistas foram gravadas e depois transcritas para o texto do capítulo que trata

sobre os resultados da pesquisa. Após as entrevistas foi realizada ida ao local onde existiam as

plantas para fazer o registro fotográfico, com ajuda dos sabedores entrevistados.

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CAPÍTULO III:

PLANTAS MEDICINAIS DO POVO ORO NAO’

3.1. AS PESQUISAS INDÍGENAS SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS EM

RONDÔNIA

Alexandre Suruí (2015), na sua pesquisa observou 10 plantas medicinais utilizadas

pelo povo Paiter Suruí da Aldeia Gabgir, município de Cacoal.

Cristiané Ambé Gavião (2015), fala que a pesquisa dela teve grande importância para

o povo Zoró, pois a medicina tradicional está sendo esquecida. Em seu trabalho, com a

população indígena Zoró, das aldeias Pawãnewã e Anguj Tapua, fez um levantamento de 18

plantas espécies medicinais.

José Roberto Jaboti (2015), também desenvolveu seu trabalho com a população

indígena da sua etnia, na aldeia “baía das onças”, município de Guajará-Mirim. Observou 14

espécies de plantas medicinais, sendo o uso dessas plantas frequente na cura de várias

enfermidades e que os remédios “dos laboratórios” são pouco utilizados.

Sebastião Gavião (2015), fez um levantamento das plantas medicinais utilizadas pelo

povo indígena Arara-Karo, da aldeia I’terap, município de Ji-Paraná. No estudo foram citadas

21 espécies de plantas medicinais para diversos usos.

José Palahv Gavião (2015), identificou 24 plantas de uso medicinal do povo Gavião,

da aldeia Cacoal, município de Ji-Paraná.

3.2. O CONHECIMENTO DOS SABEDORES SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS

Nas entrevistas com os sabedores foram feitas várias perguntas, sendo o que começo a

descrever a partir de agora no texto. Primeiro, perguntei porque acha importante usar as

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plantas medicinais, como se usava antigamente essas plantas e porque até hoje a gente usa

muito.

Nas informações dos sabedores foi falado que antigamente ninguém brincava com a

natureza, pois o povo Oro nunca destruiu a floresta, era sempre protegida, e por isso até hoje

as plantas medicinais estão na floresta para serem usadas pelo povo. O povo Oro Nao’ sabe

que se acabar com a floresta vai acabar com as plantas medicinais.

Quando a gente usa uma raiz, chama um parente mais próximo da família e prepara a

planta medicinal, sendo essa uma forma de ensinar as outras pessoas, para que esse

conhecimento não se perca com o tempo. Win Oro Nao’ e Mam Xun Oro Nao’ disseram que

quando fazemos um preparo, as pessoas antigas ajudam a preparar o remédio e coloca o

líquido dentro da panela de barro, depois mede o líquido para fazer o remédio e dar para a

pessoa doente tomar.

Quando nossos filhos ou parentes estão doentes, todos vão a procura das plantas que

serve para aquela doença, e a própria mãe ou tia quer fazer o preparo do remédio com as

plantas. Temos várias formas de usar o remédio das plantas, porque elas fazem parte da vida

cotidiana do povo Oro Nao’. Antigamente cuidava muito das plantas, como hoje também, por

isso a gente não tem dificuldade de encontrar as plantas medicinais. Nossa Terra Indígena

nunca foi desmatada, até hoje nós temos a floresta nativa. Como os mais velhos tem muito

conhecimento juntamente com os mais jovens, temos o cuidado com as plantas medicinais do

povo, devido principalmente o surgimento de muitas doenças não indígenas na aldeia, mas

tem doenças dessas que não conhecíamos que temos que procurar o médico ou enfermeiro e

pedir remédio da farmácia, porque ainda não sabemos que planta podemos usar para essas

doenças de “branco”.

Também foi perguntado aos sabedores porque era importante usar as plantas

medicinais. Eles responderam que as plantas medicinais fazem parte da cultura do povo no

seu dia a dia em contato com a natureza. Também que sempre foi ensinado aos jovens que

devem usar e respeitar as plantas medicinais, pois a saúde do povo depende delas.

Quando foi perguntado aos sabedores como era feito o processo de cura do povo

antigamente, as respostas citam a presença do pajé. Os mais velhos sempre vão utilizar as

plantas e eles convidam os mais jovens para preparar as plantas medicinais que vão usar no

seu dia a dia, e é por isso que o povo Oro Nao’ não esquece as formas de usar as plantas

medicinais. Antigamente, o povo não dependia do médico não indígena, porque nós indígenas

tínhamos nossos próprios médicos, que curavam com conhecimento, e eram chamados de

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pajés. Os pajés faziam os tratamentos com as plantas medicinais para cuidar tanto do corpo

como dos espíritos mal que vinham causando o problema de saúde.

Segundo o pajé, chamado Ma Xun Corain Oro Nao’, é muito difícil ser pajé, mas que

é muito bom, pois conhece muitos tipos de plantas. Antigamente, quem conhecia as plantas

medicinais era os pajés, porque o pajé dormia e sonhava com os espíritos dizendo qual planta

podia ser usada contra aquela doença, pois o espírito orienta também como usar as plantas

medicinais. O pajé Ma Xun Corain Oro Nao’, morreu em 1996, mas me ensinou muitas coisas

que sei hoje.

Ma Xun Corain Oro Nao’. Foto de 1982.

Os jovens Oro, não pensam de esquecer o uso próprio das plantas medicinais do seu

povo. Nunca pensam de não usar nossa cultura, sempre pensamos junto com a comunidade e

por isso a gente nunca teve dificuldade de procurar as plantas medicinais na Terra Indígena.

Assim, o objetivo do trabalho nosso é sempre resgatar algum remédio tradicional que foi

esquecido, mas não deixamos ou esquecemos de usar as plantas medicinais com nossos filhos,

netos, bisnetos. Por isso, nos capacitamos nossos filhos para que eles aprendam melhor, a não

prejudicar o seu conhecimento sobre as plantas medicinais e sempre buscar os mais velhos

para conhecer melhor. As plantas medicinais não são difíceis de encontrar, pois a mata é toda

nativa, não tem invasão na Terra Indígena.

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3.3. AS PLANTAS MEDICINAIS DO POVO ORO NAO’ DA ALDEIA BOM JESUS

1. CORAIN

Serve para dores no corpo. É usada 4 folhas, esquenta no fogo e amassa e coloca no

lugar onde está sentindo dor.

2. CARAMA’

Serve para curar diarreia. E feito raspando o caule da planta e colocando dentro de

uma vasilha com água, depois bebe em uma única dose, pois o remédio é muito forte.

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3. MEMEN – maracujá do mato

Serve para derrame. É retirado a casca, depois ferve em 2 litros de água. Toma 3 vezes

ao dia.

4. TAPARI PANA - sucuba

Serve para mioma, câncer e dor de cabeça. Tira a casca da planta onde nasce o sol,

coloca a casca para secar durante 5 dias, depois coloca em 2 litros de água para ferver.

Depois que ferver, fica bem preparada, coloca em um litro limpo, e coloca na

geladeira e toma 3 vezes ao dia.

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5. CARAPITAIN IRAM - açaí

Serve para hepatite. Retirar no máximo 10 raízes novas de açaí, tirar onde nasce o sol.

As raízes devem ser todas colocadas para ferver com água, depois coloca em um litro

limpo e deixa na geladeira. Toma esse líquido 3 vezes ao dia.

6. MAWIN - urucum

Serve para catarata. Usa só as folhas novas, retira umas oito folhas e coloca três gotas

de água, e amassa bem amassado o líquido para ficar bem branca, ai é só colocar o

líquido no olho duas vezes ao dia e usar por cinco dias.

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7. MAKARAO’ - copaíba

Serve para doenças do coração e cicatrização de cirurgias. Tira o líquido da casca.

Para retirar o líquido precisa de um bloco para furar o máximo sessenta centímetros da

casca. Usa duas gotinhas no chá de capim santo, e toma três vezes ao dia por cinco

dias. Se não conseguir curar, continua tomando. A casca dela é melhor do que o

líquido, você retira a casca deixa secar no sol, depois cozinha numa vasilha com dois

litros de água por dez minutos, depois coloca em um litro limpo e toma depois das

refeições.

8. XIRI - sororoca

Serve para gastrite. Retirar o palmito, partir no meio, pegar só um lado, jogar o outro

fora, e raspar, espremer e tomar uma vez por dia o líquido, um copo grande, pelo

menos 6 dias seguidos.

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9. MATIROP - cajazinho

Serve para diarreia e leishmaniose. A casca serve para diarreia e vômito. Tira a casca,

ferve na água e coloca em um litro limpo, tomar três vezes ao dia. O caroço serve para

leishmaniose. Queima o caroço, amassa e coloca nas feridas, faz isso até sarar as

feridas.

10. XIKINAKON COPACAO’ - unha de gato

Serve para dor no estômago e pressão alta. Coloca a casca para ferver e depois guarda

em um litro na geladeira e toma quatro vezes ao dia.

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11. WINO - caju

Serve para diarreia e vômito. Usa a casca, ferve e coloca em um litro e tomar duas

vezes ao dia. Também pode beber o suco do fruto duas vezes ao dia.

12. KITA’

Serve para dor de dente. Pega a raiz, amassa e coloca no lugar onde está doendo.

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13. TOROT - aracuri

Serve para conter sangramentos de mulher grávida e não deixar abortar. Ferve o fruto

na água até ficar bem azul, e tomar somente uma vez, pois é forte.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As plantas medicinais do povo Oro Nao’ são muito importantes para a manutenção da

saúde do nosso povo. É importante destacar que esse conhecimento vem sendo repassado aos

nossos jovens e que nossas plantas estão protegidas na floresta, pois nós cuidamos delas.

Os sabedores são importantes pois detém conhecimento milenar do povo, que vem

repassando na comunidade e são responsáveis pela boa saúde do nosso povo. Sem o

conhecimento deles, estávamos tendo que usar só o remédio que o homem branco trouxe para

dentro da aldeia, que vem da cidade de barco junto com o enfermeiro e que nem sabemos se

vai fazer bem ou mal, pois esses remédios não são naturais como as plantas, então pode curar

uma doença mas pode prejudicar o organismo e gerar outras, que muitas vezes nem

conhecemos.

A pesquisa que fiz é boa pois vai ficar registrado na comunidade as informações dos

sabedores, e os alunos da escola podem consultar esse material e conhecer ainda mais sobre as

plantas do nosso povo. O trabalho destacou treze plantas medicinais, mas sabemos que tem

muito mais, no entanto, com a morte do pajé, muitas não foram registradas. Nesse caso, os

próximos alunos do curso da etnia Oro Nao’ podem dar continuidade ao meu trabalho e ir

acrescentando mais informações sobre as plantas medicinais das suas aldeias. No final,

teremos muitas plantas usadas pelo povo Oro Nao’ e esse conhecimento ficará registrado

graças ao nosso empenho enquanto pesquisadores indígenas e também a ajuda da

universidade que nos proporcionou desenvolver essa pesquisa para finalizar nosso tão

sonhado curso superior.

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