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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGIAS DE VALORIZAÇÃO DAS EMPRESAS COM AÇÕES NEGOCIADAS EM BOLSA DE VALORES CAMILA BATISTA DO AMARAL TERESÓPOLIS NOVEMBRO, 2011

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS

CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

ESTRATÉGIAS DE VALORIZAÇÃO DAS EMPRESAS COM

AÇÕES NEGOCIADAS EM BOLSA DE VALORES

CAMILA BATISTA DO AMARAL

TERESÓPOLIS

NOVEMBRO, 2011

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS

CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS

CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

AS ESTRATÉGIAS DE VALORIZAÇÃO DAS EMPRESAS COM

AÇÕES NEGOCIADAS EM BOLSA DE VALORES

CAMILA BATISTA DO AMARAL

TERESÓPOLIS

NOVEMBRO, 2011

Trabalho de Curso elaborado como requisito obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Administração, no UNIFESO, sob orientação do Prof. Oscar Lewandowski.

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Dedico este trabalho a minha família,

pelo apoio e esforço, que foram

essenciais para que eu continuasse

firme na minha caminhada acadêmica, e

por acreditarem e confiarem em mim.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Oscar Lewandowski, pelo incentivo, apoio e orientação essenciais para

a realização deste trabalho;

Á professora Rita de Cássia, pela dedicação e auxilio nas revisões metodológicas;

Ao Professor Paulo Fontes e João Batista pela colaboração através de seus

conhecimentos e experiências que forneceram dicas importantíssimas a respeito do

tema deste trabalho;

Á minha amiga Rosana Dantas, pelo incentivo, paciência e ajuda no

desenvolvimento deste trabalho.

Muito obrigada!

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“Nunca deixe que lhe digam que não vale à pena acreditar no sonho que se tem.”

Renato Russo

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RESUMO

As empresas necessitam de recursos financeiros para realizarem investimentos, refinanciamentos ou liquidarem suas obrigações. Devido a essa necessidade de se capitalizarem, cada dia mais empresas estão abrindo o seu capital para que suas ações possam ser negociadas no mercado financeiro. Para que as empresas de capital aberto consigam se capitalizar, elas precisam atrair investidores e para tal utilizam estratégias no intuito de agregar valor à suas ações. O presente trabalho identifica qual o interesse dos investidores, seja ele consciente ou não, ao comprar uma ação. Partindo das demandas dos acionistas, o trabalho se ateve as estratégias das empresas em atraí-los. Este estudo tem como objetivo principal demonstrar algumas das decisões estratégicas que as empresas utilizam para maximizar o valor da empresa ao atrair os acionistas. As estratégias abordadas serão as boas práticas de governança corporativa e as estratégias que envolvem decisões de investimentos voltadas para a criação de valor. Devido ao destaque crescente e ao reconhecimento de sua importância, a estratégia baseada em boas práticas de governança como, transparência na divulgação de informações, maior proteção aos acionistas minoritários e idoneidade na prestação de contas, se mostrou uma ferramenta importante para a redução do custo de capital do investimento dos acionistas, sendo verificada uma busca crescente por empresas que adotam tais práticas. As empresas que possuem maior eficiência nas decisões de investimento, transmitem ao mercado uma confiabilidade na viabilização dos fluxos de caixa futuros, criando à perspectiva de aumento do valor da empresa e consequentemente a maximização da riqueza dos acionistas. Palavras-chaves: Estratégias de valorização. Governança Corporativa. Decisões financeiras.

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SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 5

SUMÁRIO.................................................................................................................... 6

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7

2. PERCEPÇÃO DO ACIONISTA ........................................................................... 9

2.1. Porque o investidor compra ação? ............................................................ 10

2.2. Ganho de capital ........................................................................................ 12

2.3. Ganho corrente .......................................................................................... 13

3. GOVERNANAÇA CORPORATIVA ................................................................... 15

3.1. Modelos ..................................................................................................... 17

3.1.1. Concentrado ................................................................................... 19

3.1.2. Não-concentrado ............................................................................ 20

3.2. Governança Corporativa no Brasil............................................................ 21

3.2.1. Panorama da Governança Corporativa no Brasil: 2001/2010 ...... 22

3.3. A Importância da transparência nas organizações ................................... 25

3.4. A Nova Lei das S.A. ................................................................................. 26

3.5. Níveis de Governança Corporativa na Bovespa ....................................... 29

3.5.1. Nível 1 .......................................................................................... 30

3.5.2. Nível 2 .......................................................................................... 31

3.5.3. Novo Mercado (NM)..................................................................... 32

4. DECISÕES FINANCEIRAS PARA A GERAÇÃO DE VALOR .......................... 34

4.1. Decisões de investimento ......................................................................... 36

4.2. Decisões de financiamento ...................................................................... 39

4.3. Decisões de alocação de recursos ........................................................... 41

5. CONCLUSÃO ................................................................................................... 43

5.1. Pesquisas que podem ser realizadas futuramente ................................... 45

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS .................................................................... 46

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1. INTRODUÇÃO

A realização deste trabalho foi motivada pela leitura da matéria “A classe C vai à

bolsa”, publicada pela revista Exame, edição 960 de 20/01/2010. Segundo a matéria

publicada, o crescimento da classe média, que em 2010 representava cerca de 95

milhões de pessoas, contribuiu muito para o desenvolvimento da economia

brasileira. Ainda de acordo com a matéria, cerca de 15% das pessoas da classe

média conseguem poupar parte de sua renda e começam a buscar meios de

investimentos para que esse dinheiro tenha um rendimento maior do que o da

caderneta de poupança. Devido a essa busca por investimentos mais rentáveis o

número de investidores da classe média quase que triplicou de 2008 para 2010. As

empresas percebendo o potencial do mercado de capitais e sedentas por captar

recursos a um custo mais baixo buscam melhorar o seu mix entre capital próprio e

capital de terceiros, desta forma as empresas tem realizado a abertura do seu

capital e emitido ações no mercado brasileiro. Segundo a empresa de consultoria

Ernst & Young, em uma matéria publicada no website da Revista Veja no dia 30 de

março de 2011, existem as perspectivas de que pode ocorrer um novo recorde de

IPOs, com uma estimativa de captações que deverão somar em breve cerca de 500

milhões de reais anuais no Brasil.

Se por um lado estão os poupadores, buscando alternativas que proporcionem

maiores rendimentos ao seu capital, por outro lado estão as empresas que buscam

alternativas de financiamento a custos mais baixos para que possam realizar novos

investimentos ou uma reestruturação dos seus passivos financeiros. Partindo do

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reconhecimento das necessidades e objetivos das empresas e investidores, serão

apresentadas algumas das estratégias utilizadas pelas empresas para agregar valor

as suas ações.

Este trabalho justifica-se pela busca da compreensão das estratégias utilizadas

pelas empresas no intuito de agregar valor à suas ações, tanto por meio das

decisões de investimento quanto debatendo se é possível gerar valor pelas decisões

de financiamento. Mais do que realizar uma discussão teórica sobre a estrutura de

capital, enquanto geradora de riqueza, o trabalho buscou reconhecer a importância

de boas praticas de Governança Corporativa para criar valor, enquanto instrumento

de redução do custo de capital. Utilizou-se para a realização deste trabalho uma

pesquisa bibliográfica para reconhecimento das estratégias utilizadas pelas

empresas e o levantamento de informações obtidas no site da Bovespa, CVM, IBGC

e na Nova Lei das S.A, a Lei 10.303/01, para o reconhecimento da importância das

boas práticas de Governança Corporativa para geração de valor.

Tomando por base o exposto, o segundo capítulo aborda a percepção do investidor,

identificando seus objetivos e apresentando um estudo sobre o que o acionista

espera ao comprar a ação de uma empresa e quais fatores são geradores de valor.

O terceiro capítulo discorre sobre a Governança Corporativa como uma das

estratégias utilizadas pelas empresas para gerar valor. Neste capítulo são

apresentados os segmentos especiais da Bovespa: nível 1, nível 2 e novo mercado,

tendo em vista que possuem exigências superiores a legislação e buscam

implementar nas empresas as melhores práticas de governança. O quarto capítulo

apresenta as decisões financeiras como estratégias para a geração de valor, tanto

para a empresa como para os acionistas. As decisões financeiras foram dividas em

decisões de investimento, decisões de financiamento e decisões de alocação de

recursos disponíveis. Ao termino esta o capítulo de conclusão do trabalho onde além

do destaque de algumas considerações a respeito da importância das decisões

financeira incluindo sugestões de trabalhos futuros.

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2. PERCEPÇÃO DO ACIONISTA

Para falar sobre as estratégias utilizadas pelas empresas com o intuito de tornar

suas ações atraentes aos olhos dos investidores, ou seja, de valorizar as suas

ações, é preciso primeiramente reconhecer quais sãos os interesses dos

investidores ao comprar uma ação de determinada empresa, quais são as

expectativas desse investidor. O investidor pode escolher uma ação, ou outra,

baseado em uma combinação de motivações, que podem ser a possibilidade de

maior rentabilidade, maior liquidez da aplicação ou por apresentar um menor nível

de risco do investimento. Esse reconhecimento é fundamental para a formação de

estratégias por parte das empresas. Empresas que buscam exercer boas práticas de

governança corporativa, exercendo a administração com maior transparência e

divulgação de informações relevantes, que oferecem proteção e benefícios aos

acionistas em seus estatutos tendem a reduzir o risco do investimento do acionista,

tornando, dessa forma, essas ações mais atraentes aos investidores e

consequentemente essa busca pelas ações gera valor para a empresa. O mesmo

ocorre quando as empresas geram uma expectativa de maior rentabilidade, como

por exemplo, quando a empresa planeja a realização de investimentos que podem

aumentar o resultado da mesma, pois quanto maior o resultado da empresa maior

será o retorno do investimento para os acionistas.

Devido à importância da ótica do investidor para o desenvolvimento de estratégias

por parte das empresas, este primeiro capítulo irá apresentar um estudo sobre o que

o acionista espera ao comprar a ação de uma empresa e quais fatores são

geradores de valor para o acionista.

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2.1. Porque o investidor compra ação?

Os acionistas podem ser classificados de duas formas: como pessoa física, ou seja,

investidores individuais, onde este utiliza o seu próprio dinheiro para a realização do

investimento, e pessoa jurídica, que são os investidores institucionais, ou seja, são

organizações que investem o dinheiro dos outros. Os investidores institucionais

podem ser fundos de pensão, bancos, companhias de seguros, corretoras de

investimento entre outros.

O investidor ao comprar a ação de uma determinada empresa se torna um sócio, um

acionista dessa empresa, e terá sua participação nesta sociedade na mesma

proporção do capital da empresa que este adquirir. Os acionistas podem possuir

dois tipos de ações, as ordinárias e ações preferenciais. As ações ordinárias (ON)

conferem aos seus detentores o direito de voto proporcional a quantidade de ações

ordinárias que estes possuem, portanto ao comprar ações ordinárias o investidor

possui o interesse em participar das decisões da administração da empresa nas

assembléias deliberativas. Já as ações preferenciais (PN) não concedem ao seu

detentor o direito de voto. Para suprir essa desigualdade as ações PN apresentam

algumas preferências em relação às ações ordinárias, como a prioridade no

recebimento de dividendos a serem pagos ou no reembolso do capital em caso de

liquidação da companhia. As ações preferenciais podem apresentar diferentes

classes, que são diferenciadas por letras, como PNA, PNB e PNC, e possuem

diferentes vantagens que se encontram determinadas nos Estatutos Sociais de cada

empresa, isso por não existir obrigatoriamente um padrão, portanto os direitos e

restrições das classes são determinadas pela própria empresa. (BOVESPA, 2011).

A escolha do destino do investimento está diretamente ligada à perspectiva de

retorno e benefícios que ele poderá lhe proporcionar. Ao analisar o melhor destino

para os seus recursos, o investidor irá decidir por aquele que oferecer a

possibilidade de otimizar alguns aspectos esperados, que são:

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Rentabilidade: se refere à remuneração do capital investido ou o seu ganho

corrente;

Valorização: se refere ao crescimento do capital investido, ou seja, o ganho

de capital, o valor agregado em caso de venda das ações;

Risco do investimento;

Liquidez: se refere à velocidade para se obter disponível o capital investido.

O investidor em ações tem como objetivo principal a obtenção de ganho corrente,

pois o ganho de capital é apenas a conseqüência de uma perspectiva de ganhos

futuros, sendo responsável pela valorização da ação. Porém as boas práticas de

governança corporativa influenciam fortemente a escolha do destino do

investimento, tendo em vista que estas diminuem o risco do mesmo. Essa visão é

citada por Monforte (2004), segundo ele, “A governança bem instalada leva uma

operação de risco menor de expropriação por parte dos acionistas que não são

controladores ou não estão na gestão”.

Devido à crescente busca dos investidores por companhias comprometidas com

transparência (Transparency), prestação de contas (accountability), equidade

(equity) e responsabilidade corporativa (Probity), princípios fundamentais das boas

práticas de governança corporativa, as empresas têm reconhecido que atualmente

apresentar lucro e retorno sobre o capital investido não é mais suficiente, é preciso

que as empresas proporcionem transparência na prestação de contas e respeito aos

direitos e interesses dos acionistas minoritários, sendo estas práticas também

geradoras de valor para o acionista e consequentemente para a empresa.

Um estudo realizado pela McKinsey Company (2000), com o objetivo de verificar a

atração dos investidores por empresas que possuem boas práticas de Governança

Corporativa, reconhecendo se estes estariam dispostos a pagar mais caro pelas

ações destas empresas e até quanto seria esse valor, demonstrou que dos

investidores entrevistados na Europa, Ásia e America Latina, 75% dos entrevistados

consideram que a Governança Corporativa é tão importante quanto o desempenho

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financeiro da empresa e 80% estariam dispostos a pagar mais pelas ações dessas

empresas, entre 18% e 28% a mais do valor das ações, sendo reconhecido portanto,

que a Governança Corporativa pode influenciar positivamente na valorização das

ações das empresas que possuem boas práticas de governança.

Nos próximos itens, 2.2 e 2.3, serão melhores detalhados conceitualmente o ganho

de capital e ganho corrente e no capítulo 3 será apresentada uma abordagem mais

detalhada sobre a governança corporativa incluindo os segmentos especiais da

Bovespa, as principais contribuições da Lei 10.303/01 e a importância das boas

práticas de governança corporativa como estratégia para geração de valor.

2.2. Ganho de capital

O investidor tem como objetivo ao utilizar sua poupança, ou recursos disponíveis,

obter um ganho onde este seja maior do que o seu custo de capital, lhe

proporcionando o retorno do investimento. O ganho de capital é uma função que

mede a diferença entre o preço de compra de um ativo e, na possibilidade de venda

deste ativo, o preço pelo qual poderá ser vendido ao mercado, ou seja, é a

possibilidade de um ganho obtido através da valorização do ativo, que só se

realizará caso seja feita efetivamente a venda deste ativo, em caso de

desvalorização ocorre à perda de capital. A fórmula do retorno de capital tem em seu

numerador o ganho monetário dado pela diferença entre o peço “atual” e anterior

enquanto o denominador representa o preço anterior. A alternativa da fórmula é

dada por:

Rcap = Pt - Pt-1 ou Pt -1

Pt-1 Pt-1

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Ao comprar ações de uma determina empresa, o investidor o faz buscando tanto o

ganho de capital como o ganho corrente, embora sua maior expectativa esteja

voltada para a obtenção do ganho corrente. Pois o investidor só terá ganho de

capital se a empresa possuir a perspectiva de ganho corrente, tendo em vista que

esta perspectiva valoriza a ação.

2.3. Ganho corrente

Quando se fala em investimento em ações, o retorno proporcionado pela aplicação

não possui um prazo determinado, portanto levando-se em consideração a não

pretensão da venda do ativo, este pode oferecer retornos perpétuos. Estes retornos

são decorrentes da distribuição de parte dos lucros da empresa na forma de

dividendos.

Segundo Damodaran (1999), o Modelo de Gordon, precifica todas as ações, onde a

ação vale a possibilidade de gerar dividendos no futuro em função da taxa de juros e

em função das perspectivas de crescimento que ela apresenta. O modelo de

crescimento de Gordon é uma ferramenta utilizada para calcular o valor atual de

uma ação, através da relação entre o pagamento de dividendos, a taxa de

crescimento esperada dos dividendos e a taxa de retorno esperada pelos

investidores.

De acordo com a fórmula de Gordon pode-se determinar o valor corrente de uma

ação através da fórmula:

P0 = Dt .

(ks – g)

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Sendo,

P0 o valor atual da ação

Dt o valor esperado do dividendo

ks a taxa de retorno exigida pelos investidores

g a taxa de crescimento constante esperada dos dividendos

Se segundo Ross & Westerfield e Jordan (1998), "o objetivo da administração

financeira, numa sociedade por ações, é maximizar o valor corrente de cada ação

existente". O crescimento dos dividendos ocorre como reflexo do crescimento dos

lucros por ação, obtidos através da capacidade de retorno do reinvestimento dos

recursos retidos pela empresa. O aumento dos dividendos pode influenciar em um

aumento no valor das ações. Porém a empresa deve buscar um equilíbrio entre a

distribuição de dividendos e o montante do capital que ficará retido para

reinvestimento, tendo em vista que quanto maior a distribuição desses recursos aos

acionistas, menor será o montante disponível para novos investimentos, podendo

assim, comprometer os resultados dos fluxos futuros, diminuindo o resultado da

empresa e consequentemente o valor das ações.

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3. GOVERNANAÇA CORPORATIVA

Para o estudo neste capítulo foram utilizadas informações fornecidas pelo Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, BM&FBOVESPA, Comissão de

Valores Mobiliários – CVM e pela nova lei das sociedades por ações, Lei 10.303/01.

O termo governança corporativa surgiu na década de 1990 em um movimento,

iniciado principalmente nos Estado Unidos, contra os abusos exercidos por parte da

administração das empresas de capital aberto. Alguns autores como Steinberg

(2003), Yamamoto e Almeida Prado (2003) e o consultor e professor Antonio Carlos

Vidigal (2004) compartilham a idéia de que termo “Governança Corporativa” seja

uma tradução incorreta do termo Corporate Governance, pelo fato de ser uma

tradução literal do inglês e não uma tradução semântica. A palavra governança

origina-se do latim “gubernare”, cujo sentido é o de governar ou dirigir, e a palavra

corporativa referir-se a corporação.

Segundo o Professor Arnold Wald (2002), a tradução correta do termo é “governo

das empresas”, e explica que não se deve caracterizar empresas com sociedade

anônima como sendo uma corporação, pelo fato de permitir que haja uma

associação incorreta de idéias, pois o próprio conceito de corporações pode não ser

aplicável a realidade brasileira. Ele afirma que as palavras, corporativo e

corporativista, possuem um sentido negativo, dando a idéia da existência de

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sobreposição de interesse de um grupo em relação a outro. Já o termo governança,

por sua vez, permite o entendimento de uma renovação da entidade onde os

interesses de todos os envolvidos serão atendidos em igualdade.

Neste sentido o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, principal

responsável por estimular e desenvolver boas práticas de Governança Corporativa,

além de promover discussões sobre o tema na busca da excelência de tais práticas,

atualmente, apresenta a seguinte definição:

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capital e contribuindo para a sua longevidade. (IBGC, 2011).

A Comissão de Valores Mobiliários – CVM, diz que a governança corporativa é “o

conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma

companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como investidores,

empregados e credores, facilitando o acesso ao capital” (CVM, 2002).

O renomado Prof. Dr. Alexandre Di Miceli (2011), um dos maiores palestrantes

nacionais sobre o assunto, define a governança corporativa como “um conjunto de

mecanismos que visam a fazer com que as decisões corporativas sejam sempre

tomadas com a finalidade de maximizar a perspectiva de geração de valor de longo

prazo para o negócio”.

Com base nos conceitos apresentados anteriormente podemos observar que a

Governança Corporativa surgiu com o intuito de assegurar aos sócios proprietários

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uma administração exercida com transparência, que esteja alinhada com os seus

interesses e que vise maximizar o valor da empresa em beneficio de seus

acionistas. Para isso, são utilizadas medidas que garantam essa seguridade, sejam

elas de incentivo, reguladoras ou de monitoramento, definindo assim os códigos que

irão nortear o relacionamento entre os acionistas minoritários, controladores e

administradores como forma de evitar o conflito de interesse entre essas partes.

O conceito de governança corporativa continua sendo estudado e desenvolvido,

estando em constante transformação e com sua caracterização em um processo

contínuo de formulação. Assim pode-se perceber que Governança Corporativa é um

tema amplo e complexo que envolve vários campos do conhecimento, por isso

encontramos diferentes autores que utilizam Escolas, Fundamentos e definições

para o conceito ainda não padronizadas.

3.1. Modelos

Para este trabalho parte-se da abordagem do IBGC onde é apresentado que cada

país, grupos de países ou regiões possuem características que se diferenciam no

que diz respeito à governança corporativa. Essa diferenciação possibilita uma

análise e classificação de sistemas, ou modelos, de governança corporativa no

mundo.

A diferenciação entre modelos surge principalmente a partir de um conjunto de

fatores que acabam por influenciar na forma da exeqüibilidade da governança, esses

fatores podem ser: A Legislação e os regulamentos, a cultura que rege o

relacionamento dos stakeholders com a gerência das empresas e as instituições que

atuam como fonte de recursos para as empresas, exercendo o papel de

financiadoras destas.

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Andrade e Rosseti (2004) destacam dez fatores que contribuem para a diferenciação

dos modelos de governança corporativa, são eles:

1. Fonte predominante de financiamento das empresas;

2. Separação entre a propriedade e o controle;

3. Separação entre a propriedade e a gestão;

4. Tipologia dos conflitos de agência;

5. Proteção legal aos minoritários;

6. Dimensões usuais, composição e formas de atuação dos conselhos de

administração;

7. Liquidez da participação acionária;

8. Forças de controle mais atuantes;

9. Estágio em que se encontra a adoção das práticas da boa governança;

10. Abrangência dos modelos de governança praticados;

Segundo Alexandre Di Miceli (2002), a influência exercida pelo processo político

sobre as instituições econômicas e legais interferem diretamente no sistema de

Governança Corporativa adotado pelas empresas, tornando o sistema de

governança corporativa mais ou menos eficiente em um país.

Allen e Gale (2000) destacam que a comparação entre esses sistemas de

governança permite realizar uma separação entre, os sistemas centrados no

mercado, como os Estados Unidos e Reino Unido, e os centrados em bancos, como

na Alemanha e no Japão. Os sistemas centrados no mercado são assim

classificados pelo fato que possuir como principal forma de capitação de recursos a

negociação de suas ações no mercado financeiro. Já a classificação dos sistemas

centrados em bancos se dá em razão de que os bancos são os principais

financiadores das empresas.

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3.1.1. Concentrado

O modelo anglo-saxão, Outsider System, ou cujo sistema predominante é o centrado

no mercado, demonstra as características de governança corporativa presentes nos

Estados Unidos e na Inglaterra. Neste sistema podem ser observadas como

principais características o foco na maximização do retorno para os acionistas

(shareholder oriented), um alto nível de pulverização no que diz respeito às

participações acionárias, e a separação entre propriedade e gestão. “Nos Estados

Unidos a soma das participações dos cinco maiores investidores, representa em

média, menos de 10% do capital da empresa.” (Economist 10 fev 1996 apud

LETHBRIDGE, Eric).

Segundo Lethbridge (1997), apesar do alto nível de pulverização das participações

acionárias, as bolsas de valores mais desenvolvidas acabam se tornando agentes

garantidoras da liquidez dessas participações, oferecendo como consequência a

redução do risco ao acionista. Como esse sistema não apresenta a existência de um

controlador para nortear as decisões da empresa, a aprovação ou reprovação dos

investidores com relação às decisões tomadas pelos gestores das empresas é

sinalizada pelo mercado através da variação do preço das ações. Devido ao alto

nível de pulverização das participações acionária e as demais características

presentes neste sistema, o conflito de agência se da principalmente entre os

acionistas e os gestores, por isso esse sistema requer um alto nível de transparência

em sua administração e divulgações periódicas de informações, facilitando assim o

monitoramento e controle das decisões dos gestores e coibindo as práticas como

insider trading, ou seja, o comércio de informações privilegiadas.

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3.1.2. Não-concentrado

Diferentemente do Anglo-Saxão, o modelo Nipo-Germânico, ou Insider System,

observado na Alemanha e no Japão, apresenta um maior nível de concentração de

propriedade, sendo a maioria dessas participações de longo prazo. “Na Alemanha,

os cinco maiores acionistas detêm, em média, 40% do capital, no Japão essa

representatividade é de 25%” e “entre 50% e 70% das ações de empresas listadas

nas bolsas de valores japonesas são detidas por outras empresas.” (Nikkei Weekly

(23 jun 1997, apud LETHBRIDGE, Eric). Este modelo, além de maior concentração

de propriedade, apresenta características como, a presença de conglomerados

industriais-financeiros, baixo ativismo e menor porte dos investidores institucionais, e

o foco stakeholder oriented, ou seja, onde as empresas devem satisfação não

somente para os acionistas e proprietários, mas sim para todos os interessados na

empresa, fornecedores, credores, funcionários etc. (IBGC, 2011).

O sistema predominante neste modelo é o centrado em bancos, estes agem como

principais fontes financiadoras e exercem fortes influências sobre as empresas

através dos votos da sua participação acionária. Na Alemanha, em especial, por

não existir limitação para a participação dos bancos, estes por vezes acabam até

mesmo assumindo o controle das empresas devido ao não pagamento de

empréstimos tomados de longo prazo. Mesmo com toda essa influência exercida

pelos bancos e com a formação de grandes blocos de ações, as decisões

geralmente são tomadas de forma coletiva orientadas pela colaboração e consenso,

não sendo aceitos comportamentos autocráticos, (ANDRADE; ROSSETI, 2004).

Orientado pelos conhecimentos desenvolvidos pelos autores Andrade e Rosseti no

que diz respeito aos modelos e sistemas de governança corporativa, pode-se

observar que não há um conjunto de regras ou práticas ideais e que devam ser

aplicadas em todas as empresas de todos os países, pois existem fatores que

diferenciam cada um deles e exercem grandes influências sobre a forma de

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governar as empresas como, culturas institucionais e modelos econômicos

diferentes. As práticas de governança corporativa devem ser adequadas às

características de cada país ou região na busca por uma melhor gestão das

empresas, de forma que estas aperfeiçoem o desempenho da companhia e

demonstrem transparência, respeito e proteção aos acionistas.

3.2. Governança Corporativa no Brasil

No Brasil, o primeiro grande marco para introdução do conceito, reconhecimento,

comprometimento e aplicação de ações que gerem maior respeito e transparência,

não somente no que diz respeito aos acionistas (shareholders), mas também para

com todos os envolvidos e interessados na empresa (Stakeholders), ocorreu em

1995 com a fundação do Instituto Brasileiro de Conselheiros - IBCA. Em 1999 o

IBCA passou a se denominar IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa,

lançando no mesmo ano o primeiro código sobre governança corporativa, o “Código

das Melhores Práticas de Governança Corporativa”, de sua própria autoria.

A antiga lei das S.A., a Lei 6.404/76 e as emendas que alteraram a legislação

societária ao longo das ultimas décadas, apresentavam aberturas que permitiam

facilmente o cometimento de abusos com os pequenos e médios acionistas, como

fechamento de capital a preços aviltado. Em virtude da necessidade de medidas

que protegessem os acionistas minoritários detentores de ações ordinárias e

preferenciais, foi criada a lei 10.303/01 como uma reformulação da Lei 6.404/76, e

teve como principal objetivo o fortalecimento do mercado de capitais no Brasil,

através de melhorias que permitissem um maior alinhamento e equilíbrio de

interesses entre acionistas e empresa, buscando mais transparência e

consequentemente mais segurança aos minoritários.

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Mesmo com todas as novas medidas que normatizam e incentivam as empresas

brasileiras a adotarem boas práticas de governança corporativa, existem ainda

brechas na legislação, como por exemplo, a não obrigação da realização das

alterações trazidas pela Lei 10.303/01 para as empresas que já negociavam suas

ações em bolsa de valores antes da criação desta lei, e que acabam possibilitando

ainda algumas situações que podem influenciar os resultados da empresa e

afetarem diretamente não somente os acionistas, mas todos os stakeholders.

3.2.1. Panorama da Governança Corporativa no Brasil: 2001/2010

A Korn/Ferry International e McKinsey & Company, empresas de consultoria lideres

no seu segmento, realizaram em 2001 uma pesquisa voltada para análise do

panorama da Governança corporativa no Brasil. A pesquisa analisou cinco

diferentes critérios, estrutura de propriedade, relação entre propriedade e gestão

executiva, estrutura do conselho, pessoas e processos do conselho. Baseado

nesses cinco critérios a pesquisa demonstrou o modelo de governança corporativa

percebido no Brasil em 2001.

No que diz respeito à estrutura de propriedade as empresas brasileiras são em sua

maioria de controle familiar, controle compartilhado ou multinacional, apresentando

um alto nível de concentração de propriedade, “mais da metade das ações

ordinárias (61%) pertence, em média, a um só acionista. Considerando os 3 maiores

acionistas, esse número chega a 85%”. Os interesses dos acionistas minoritários

não eram levados em consideração pelos acionistas majoritários ou controladores

contribuindo para que os minoritários fossem pouco ativos nas assembléias.

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Existia uma alta sobreposição entre propriedade e gestão executiva, “dos

conselheiros que responderam à pesquisa, 60% afirmaram ter um alto grau de

envolvimento nas tarefas de caráter executivo”. Os conselhos apresentavam

estruturas informais e com baixo nível de preparação para as reuniões, “somente

66% reconhecem que os conselheiros analisam os relatórios e os projetos que serão

votados antes das reuniões do conselho.” As atribuições do conselho e da gestão

executiva não eram bem definidas e apesar de conterem boas informações havia um

alto nível de deficiência na análise de relatórios para tomada de decisão.

No que diz respeito ao nível de transparência demonstrado pelas empresas, os

conselheiros consideraram satisfatória por julgar que a divulgação de muitas

informações poderia comprometer o resultado a empresa por fornecer informações

valiosas para os concorrentes. Por outro lado para os acionistas, as empresas

demonstram um nível insatisfatório de transparência, sendo assim uma problemática

no momento de realizarem novos investimentos.

Através desta pesquisa foi possível observar não somente o modelo de governança

corporativa presente no Brasil no ano de 2001, mas também perceber que este

estava iniciando uma fase de transição. A pesquisa indicou que tal transição estava

levando a um modelo com novas características, a um “modelo emergente”,

caracterizado principalmente por um maior profissionalismo. De modo geral puderam

ser observadas tendências de mudanças no pensamento tanto dos acionistas como

controladores e gestores no que diz respeito à importância da adoção de boas

práticas de governança e reconhecimento dos benefícios proporcionados por tais

práticas, como a valorização da própria companhia.

Com relação à Estrutura de Propriedade, apesar das empresas apresentarem alto

nível de concentração e serem originalmente de controle familiar, pode ser

observado uma tendência do aumento do respeito e consideração pelos interesses

de acionistas minoritários, possibilitando que estes tenham participações mais

ativas. Este “modelo emergente”, percebido nesta pesquisa realizada em 2001,

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sugere mudanças também na estrutura do conselho, tornando-a mais formal e bem

definida no que diz respeito às atribuições do conselho e executivo. Demonstrou

tendência a uma diminuição do nível de sobreposição na relação entre propriedade

e gestão, além de apresentar um aumento do número de conselheiros externos e

conselheiros com melhor capacitação, profissionalismo e mais envolvidos nas

questões estratégias da companhia.

Nove anos mais tarde foi desenvolvida uma nova pesquisa, porém com o mesmo

objetivo, verificar o atual panorama da governança corporativa no Brasil. A pesquisa

realizada pelo IBGC e pela Booz & Company em 2010, e identificou que houve uma

evolução significativa nos últimos anos, no Brasil, no que diz respeito ao

reconhecimento da importância da Governança Corporativa, no conhecimento em

relação ao tema e na adoção de melhores práticas de governança. Pode ser

observada uma melhora no relacionamento entre acionistas controladores e

minoritários, demonstrando uma relação mais colaborativa entre as partes, houve

também evolução no que diz respeito às políticas de proteção aos minoritários e nos

mecanismos que identificam situações conflituosas buscando saná-los de forma que

atenda os interesses de ambos;

Devido a essa evolução no conhecimento sobre o tema Governança Corporativa e

no reconhecimento de sua importância, empresas adotaram boas práticas de

Governança Corporativa e reconhecem os benefícios alcançados por tais práticas,

principalmente decorrentes de uma melhor gestão da empresa, uma melhorar

transparência, um melhor relacionamento através do alinhamento de interesses

entre acionistas e executivos, facilitar o acesso a capital e consequentemente uma

melhor imagem da empresa.

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3.3. A Importância da transparência nas organizações

A transparência é uma qualidade fundamental das boas práticas de governança

corporativa e exercem fortes influências sobre o preço das ações e

consequentemente na valorização da empresa. Segundo Bushman, Piotrosk e

Simith (2001), a transparência representa disponibilidade de informações de

qualidade, ou seja, informações importantes e fidedignas sobre a empresa, que

apresentem seus resultados de desempenho, sua situação financeira além de

demonstrar o risco, oportunidades e o valor da empresa.

Monforte (2004) afirma que, “investidores do mundo todo demonstram um apetite

crescente por ações de companhias que além de lucro e retorno sobre o capital,

asseguram respeitos aos direitos dos acionistas minoritários”. A partir desta

afirmação percebe-se que um alto nível de transparência pode ser considerado

como um diferencial competitivo por agregar valor, demonstrando confiabilidade e

facilidade de percepção da governança da empresa, ou seja, seu objetivo, diretrizes,

sua situação financeira e oportunidades de ganhos futuros, tornando desta forma, a

empresa mais atraente aos olhos dos investidores. Por outro lado a falta de

transparência na administração das empresas pode provocar o afastamento de

acionistas. Segundo Schadewitz e Blevins (1998), apud Lanzana (2004),

“investidores racionais, percebendo os potenciais riscos, evitam assumir posição

acionária em companhias cuja quantidade e qualidade de abertura de informações é

consistentemente abaixo das expectativas”. Desta forma percebe-se que a

insuficiência de transparência na divulgação de informações relevantes torna-se

uma problemática para a entrada de novos investidores, e consequentemente torna-

se uma barreira para empresa no que diz respeito a atrair capital para financiar seus

investimentos.

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A transparência das informações proporciona uma redução no custo de capital da

empresa decorrente de uma redução de risco percebida pelo fato de permitir que o

investidor reconheça se as decisões tomadas pela empresa estão alinhadas ao seu

interesse, podendo assim defender os seus direitos, portanto a transparência nas

organizações acaba por ser um fator decisivo na realização da escolha do investidor

no que diz respeito à decisão de investimento e contribui para a valorização das

ações da empresa.

3.4. A Nova Lei das S.A.

A Nova lei das sociedades anônimas, a Lei 10.303/01, foi promulgada em 31 de

outubro de 2001 e entrou em vigor no dia 7 de março de 2002. Esta nova lei

modifica e acrescenta dispositivos na Lei 6.404/76, antiga lei das Sociedades por

Ações, e na Lei 6.385/76 que regula o mercado de valores mobiliários.

Antônio Kandir, autor do projeto PL 1564/96 que contribuiu para a criação da Lei

10.303/01, a justifica por:

Como condição necessária para se atingir um mercado de capitais pleno, a experiência, no âmbito internacional, tem demonstrado ser imprescindível que o Poder (sic) Legislativo cumpra a função de instituir mecanismos legais adequados para a proteção dos interesses daquele que investe sua poupança em atividade produtiva, tornando-se acionista de uma sociedade anônima. Aquele que atende a um apelo público para capitalização de um empreendimento, confiando seus recursos a terceiros, de que dependerá o sucesso do empreendimento, faz jus a que seus

interesses tenham uma proteção minimamente adequada. (CANTIDIANO, 2002)

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A criação da referida lei teve como objetivo o fortalecimento do mercado de capitais

brasileiro através da entrada de novos investidores, teoricamente estimulados por

uma maior transparência e credibilidade no mercado e maior proteção legal aos

acionistas minoritários. De acordo com Silva (2002), apud Guerra (2005), “A premissa

básica para a reforma da Lei das S.A. foi que o alinhamento de interesse gera valores e

quanto mais equilibrada for a relação entre os acionistas mais valem suas ações.”

Algumas das principais alterações e contribuições trazidas pela lei 10.303/01 foram:

Artigo 15. As empresas que abrirem capital terão, no máximo, 50% de ações

preferenciais, ou seja, de ações sem direito a voto. Contribuindo desta forma

para reduzir o conflito entre acionistas, onde anteriormente a menor parte das

ações que compunham o capital social era a que decidia o rumo da empresa.

Artigo 17. Assegura aos acionistas detentores de ações preferenciais (PN)

as vantagens que podem se:

I - Prioridade na distribuição de dividendo fixo ou mínimo;

II - Prioridade no reembolso do capital, com ou sem prêmio; ou

III - Cumulação das preferências e vantagens dos itens (i) e (ii) acima.

Ainda no artigo 17 são garantidos aos acionistas detentores de ações PN,

independente dos direitos acima citados, pelo menos uma das seguintes vantagens:

I – Direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo menos,

25% do lucro líquido do exercício, calculado na forma do art. 202, de acordo com o

seguinte critério:

a) Prioridade no recebimento dos dividendos mencionados neste inciso

correspondente a, no mínimo, 3% do valor do patrimônio líquido da ação; e

b) Direito de participar dos lucros distribuídos em igualdade de condições com

as ordinárias, depois de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo

prioritário estabelecido com a alínea a; ou

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II – Direito ao recebimento de dividendo, por ação preferencial, pelo menos 10%

maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou

III – Direito de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle, nas

condições previstas no art. 254-A, assegurando o dividendo pelo menos igual ao das

ações ordinárias.

O artigo 254-A foi outra contribuição da lei, no que se refere à proteção dos direitos

e interesses dos minoritários. Este artigo se refere à instituição do tag along, onde

acionistas minoritários detentores de ações ordinárias passam a se beneficiar, no

caso de mudança do controle, do direito de vender suas ações por no mínimo 80%

do valor pago pelas ações do controlador.

Artigo. 254-A. A alienação, direta ou indireta, do controle de companhia aberta

somente poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o

adquirente se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a

voto de propriedade dos demais acionistas da companhia, de modo a lhes assegurar

o preço no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do valor pago por ação com

direito a voto, integrante do bloco de controle.

Entre os benefícios trazidos pela nova lei pode-se destacar a ampliação do poder da

CVM – Comissão de valores Mobiliários, no que diz respeito à fiscalização,

passando a ter poderes de agência reguladora autônoma, permitindo maior

fiscalização do mercado acionário, introdução da arbitragem para solucionar

conflitos societários e a ampliação dos direitos aos acionistas minoritários,

garantindo-lhes maior respeito, transparência e participação nos assuntos da

administração, contribuindo muito para uma melhor funcionalidade da relação

existente entre as boas práticas de gestão empresarial e o relacionamento com os

acionistas.

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3.5. Níveis de Governança Corporativa na Bovespa

Para atrair novos investidores e desenvolver o mercado de capitais brasileiro a

BM&FBOVESPA percebeu a necessidade de criação de segmentos de listagem

para estimular boas práticas de Governança Corporativa através de regras rígidas,

proporcionando desta forma, um ambiente de negociação mais seguro.

Percebida esta necessidade, em dezembro de 2000, a BM&FBOVESPA criou os

segmentos especiais, ou também conhecidos como níveis diferenciados, Nível 1,

Nível 2 e Novo Mercado, os quais possuem um nível de exigência maior do que as

obrigações presentes na Lei das Sociedades por Ações. Ao aderirem

voluntariamente e se comprometerem com tais exigências, as empresas assumem

para o mercado um compromisso com as boas práticas de Governança Corporativa,

entre elas a transparência na divulgação de informações, na prestação de contas e o

respeito aos acionistas garantindo-lhes seus direitos. A decisão de uma empresa

aderir a um nível diferenciado reflete uma melhor imagem da mesma perante os

investidores, pois contribui para a redução de risco do investimento e incertezas

justamente pelo comprometimento com as exigências estabelecidas. Devido a esses

benefícios percebidos, muitas empresas que possuem suas ações negociadas na

BMF&BOVESPA têm se comprometido com as boas práticas de governança,

aderindo de forma voluntária a um nível diferenciado.

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3.5.1. Nível 1

As regras estabelecidas como exigências para as empresas que aderirem ao nível 1

se preocupam principalmente com o comprometimento das empresas do que diz

respeito ao free float, buscando maior liquidez das ações, e com disclosure, ou seja,

a divulgação de informações relevantes e confiáveis. Desta forma as empresas

devem divulgar informações adicionais, além das exigidas pela lei. De acordo com

os dados fornecidos no site da BM&FBOVESPA as empresas que decidirem aderir

ao nível 1 deverão cumprir as seguintes características pertinentes a este nível:

Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação);

Exigência de no mínimo 25% de free float;

Realização de ofertas públicas que contribuam com uma maior dispersão

acionária;

Exigência de um mínimo de 3 membros para composição do Conselho de

Administração (conforme legislação);

É vedado uma mesma pessoa ocupar cargos de Presidente do Conselho e

diretor presidente ou principal executivo;

As demonstrações financeiras devem apresentar traduções para o inglês;

É obrigatória a realização de uma reunião pública anual e calendário de

eventos corporativos;

A divulgação adicional de informações deve ser feita conforme a política de

negociação de valores mobiliários e código de conduta;

Concessão de Tag Along de no mínimo 80% para ações ON (conforme

legislação);

Oferta Pública de aquisição de ações no mínimo pelo valor econômico,

(conforme legislação);

É facultativa a adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado.

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3.5.2. Nível 2

As obrigações para as empresas que decidirem por aderir ao nível 2 são:

Permite a existência de ações ON e PN (com direitos adicionais);

Exigência de no mínimo 25% de free float;

Realização de ofertas públicas que contribuam com uma maior dispersão

acionária;

È vedada à limitação de voto inferior a 5% do capital, quorum qualificado e

“clausulas pétreas”;

Exigência de um mínimo de 5 membros para a composição do conselho de

administração, com 20% dos membros independentes e com mandato

unificado de até 2 anos;

É vedado uma mesma pessoa ocupar cargos de Presidente do Conselho e

diretor presidente ou principal executivo;

É obrigatória a divulgação de informações sobre qualquer oferta pública de

aquisição de ações da empresa;

As demonstrações financeiras devem apresentar traduções para o inglês;

É obrigatória a realização de uma reunião pública anual e calendário de

eventos corporativos;

A divulgação adicional de informações deve ser feita conforme a política de

negociação de valores mobiliários e código de conduta;

No caso de alienação do controle todos os acionistas possuem o direito de

tag along de 100% para ações ON e PN, ou seja, direito de vender suas

ações pelo mesmo preço que as do controle;

Em caso de fechamento de capital ou saída do segmento é obrigatória a

oferta pública de aquisição de ações no mínimo pelo valor econômico;

É obrigatória a adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado.

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3.5.3. Novo Mercado (NM)

O Novo mercado é o segmento que apresenta o maior nível de exigências de boas

práticas de Governança Corporativa. Segundo a Bovespa (2011), o objetivo do Novo

Mercado é “criar um ambiente mais adequado para que as companhias possam, a

partir de melhores práticas de governança corporativa e maior transparência das

informações, proporcionar maior segurança aos investidores e, conseqüentemente,

reduzir seus custos de captação de recursos.”

Baseado na realização deste objetivo, o Novo Mercado além de exigir as mesmas

regras presentes no nível 2 ainda propõe uma grande mudança nas estruturas de

capital das empresas, tendo como destaque, a exigência de que as empresas

listadas neste nível tenham seu capital composto somente por ações com direito a

voto (ON). Este Nível representa o padrão mais alto de Governança Corporativa

tendo como premissa de que “a valorização e a liquidez das ações são influenciadas

positivamente pelo grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos

acionistas e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias.”

(BOVESPA, 2011).

O novo mercado pode ser considerado uma ferramenta que contribui muito para o

desenvolvimento e fortalecimento do mercado de capitais brasileiro, pois este,

através de suas regras, proporciona maior transparência das informações, respeito,

alinhamento de interesses e proteção aos acionistas, diminuição de incertezas e

consequentemente de risco. Com isso estimula o crescimento de novos

investimentos contribuindo para expansão das empresas e da economia como um

todo.

De acordo com informações divulgadas pela Revista Bovespa, o IGC – Índice de

Ações com Governança Corporativa Diferenciada, composto pelas empresas que

aderiram aos segmentos especiais, Nível 1, Nível 2 e Novo mercado, “valorizou-se

em média cerca de 27,8% ao ano desde 2001, tendo Ibovespa, índice composto

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pelas empresas mais negociadas, no mesmo período um crescimento de 22,8% ao

ano. O índice ITAG, índice composto pelas empresas que ofereçam melhores

condições aos acionistas minoritários, aumentou desde 2002 54,3% ao ano e o

Ibovespa subiu 35,5% ao ano”, (GOMEZ, 2006).

Alexandre Di Miceli (2002), afirma que “com o reaquecimento do mercado de

capitais brasileiro, a partir de 2004, muitas das companhias listadas na Bovespa

aderiram voluntariamente aos níveis diferenciados de governança corporativa,

visando à valorização da cotação de suas ações”. O reconhecimento dos benefícios

alcançados pelas empresas comprometidas com as boas práticas de Governança

Corporativa tem contribuído para que novas ofertas públicas de ações – IPOs sejam

feitos em, pelo menos, algum segmento especial da Bovespa, sendo destacado e

crescente o número de empresas que se comprometem com as exigências do Novo

Mercado. Abaixo é apresentado um gráfico que demonstra o histórico da quantidade

de empresas pertencentes ao nível 1, nível 2 e novo mercado de 2001 até fevereiro

de 2011.

Empresas listadas nos segmentos especiais de 2001 a fev de 20011

Fonte: Bovespa

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4. DECISÕES FINANCEIRAS PARA A GERAÇÃO DE VALOR

Para realizar novos investimentos como, por exemplo, expansão da empresa,

diversificação de produtos ou serviços, modernização de equipamentos e sistemas

ou até mesmo para realizar uma reestruturação dos seus passivos, através do

refinanciamento, a empresa necessita de recursos financeiros. Para captar esses

recursos as empresas de capital aberto realizam a oferta pública de suas ações.

Para conseguir viabilizar as captações necessárias a empresa precisa ser capaz

atrair investidores de longo prazo de forma sólida e sustentável. Com o interesse de

levantar capital próprio através da emissão de ações, as organizações precisam

“seduzir” os investidores a comprarem ações da empresa, para isso elas precisam

criar para o investidor a perspectiva de distribuição de dividendos futuros e de

potencial aumento do valor de suas ações, além de demonstrar compromisso com

os princípios das boas práticas de Governança Corporativa.

As decisões de investimento, ou seja, as decisões de aplicação de recursos

disponíveis, e as decisões de financiamento, que representam a forma de captação

de recursos necessários para a empresa, são duas estratégias fundamentais para a

geração de valor, pois tanto investimentos eficientes, quanto uma forma de captação

apropriada, são fatores que podem vir a agregar valor para a empresa.

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Portanto as empresas devem utilizar o planejamento financeiro de forma adequada

para este venha a criar valor para a empresa. Segundo Groppelli e Nikbakht (1999):

O planejamento financeiro envolve os prazos adequados dos investimentos a fim de evitar a expansão excessiva e uso ineficiente de recursos. O uso ótimo dos recursos disponíveis significa explorar diferentes opções e selecionar aquela que resulte no maior valor total. Isso também significa adotar meios efetivos de determinar quanto captar a fim de reduzir os riscos financeiros. O financiamento usado para levantar fundos deve incluir clausulas de segurança que permitirão aos administradores refinanciarem a divida quando as

condições de mercado se tornarem favoráveis. (GROPPELLI E NIKBAKHT, 1999).

O objetivo principal da gestão e planejamento financeiro é a realização de tomada

de decisões mais eficientes possíveis, de forma que estas venham a gerar riquezas

maximizando o valor da empresa e consequentemente o valor para os acionistas,

além de proporcionar benefícios econômicos para a sociedade, contribuindo para o

desenvolvimento da economia como um todo.

Além das decisões de investimento e financiamento outra decisão importante para a

maximização de valor se refere à decisão de alocação de recursos, ou distribuição

dos resultados da empresa, onde o gestor deverá decidir quanto será distribuído na

forma de dividendos para os acionistas e quanto será ser reinvestido na empresa.

Os próximos itens irão abordar essas três estratégias, decisões de investimento,

financiamento e alocações de recursos, porém não é o foco deste trabalho o estudo

aprofundado de métodos e cálculos, mas sim o reconhecimento da importância

destas para a geração de valor.

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4.1. Decisões de investimento

Assaf Neto (2003) apud Rocha (2008), afirma que “a decisão de investimento é

considerada a mais importante de todas, envolvendo todo o processo de

identificação, avaliação e seleção das alternativas de aplicações de recursos. Tal

decisão envolve riscos, podendo criar ou não valor para a empresa”. As decisões de

investimento são fundamentais para agregar valor à empresa. Esta decisão se refere

à aplicação de recursos disponíveis pela empresa e envolve fatores decisivos como,

escolha do valor dos recursos que serão aplicados, onde serão aplicados e em que

momento deve ser feitos tais investimentos.

A falta de recursos para a realização de investimentos pode atrapalhar a empresa na

participação em boas oportunidades limitando a realização de novos investimentos e

proporcionando ganhos insuficientes. Por outro lado a disponibilidade excessiva de

recursos pode contribuir para que o gestor direcione uma quantidade de recursos

além da ideal e com isso realize investimentos não lucrativos. Esta decisão precisa

ser muito bem planejada para que o investimento seja realizado na quantidade

adequada, no melhor momento e em investimentos que proporcionem maior

geração de valor.

De acordo com Brealey e Myers (1998), é considerada uma decisão de investimento

eficiente aquela que é capaz de gerar um retorno maior do que o custo de capital do

investimento. Portanto o administrador precisa saber avaliar os recursos disponíveis

na empresa e ser capaz de identificar oportunidades de investimento no mercado

financeiro, sendo verificada a relação de risco e retorno, de modo que os

investimentos maximizem o valor da empresa. Neste sentido ao maximizar o valor

da empresa o administrador estará também gerando valor para os acionistas. Além

de avaliar a quantidade do montade a ser aplicado, o custo de capital e o momento

em que deve ser feito o investimento, o gestor deve também analisar como será feito

o investimento levando-se em conta os prazos de aplicação.

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Lemes Junior (2005) cita, entre outros, alguns meios de investiementos, são eles:

Aplicações financeiras de médio e longo prazo;

Empréstimos outorgados;

Participação em outras empresas

Terrenos, Moveis, utensílios e instalações;

Máquinas e equipamentos;

Segundo Kassai (1999), para avaliar a viabilidade de um investimento podem ser

utilizados os seguintes métodos de avaliação:

VPL: Este é o método do valor presente líquido, ele verifica a diferença entre

as entradas de caixa e o valor do investimento no presente. O resultado

positivo demonstra que o investimento é viável.

Vantagens: É um dos melhores métodos e o mais utilizado para a avaliação quanto

à viabilidade de um projeto de investimento, ele permite fazer comparação entre

projetos, identifica se o investimento aumentará ou não o valor da empresa

demonstrando seu resultado em valor monetário, permitindo o reconhecimento mais

direto da riqueza gerada, leva em consideração o custo de capital, todas as entradas

e saídas de caixa.

Desvantagens: Dificuldade em conhecer a taxa do custo de capital (k).

Pay Back: Este método estima o tempo que irá levar para que a empresa

tenha o retorno do investimento inicial através da utilização do fluxo de caixa,

ou seja, considerando o valor do investimento inicial, os retornos periódicos e

a taxa.

Vantagens: Existe uma complexidade em se identificar os fluxos de caixa de anos

muito posteriores, para o pay back basta reconhecer os primeiros anos do projeto,

ele identifica o tempo necessário para que o projeto passe a ter VPL positivo.

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Desvantagens: Não se preocupa com fluxos de caixa após o período de

recuperação do capital investido, tem seu enfoque somente no tempo de retorno,

não leva em consideração a taxa mínima de atratividade (TMA).

IL: O índice de lucratividade demonstra uma proporção do retorno em

relação ao capital investido através da divisão entre o valor presente das

entradas de caixa e o valor presente das saídas de caixa, o resultado do IL

maior ou igual a 1 (um) torna o investimento viável.

Vantagens: por se tratar de um índice é fácil de ser compreendido.

Desvantagens: Não permite a comparação entre projetos de tamanho diferentes

TIR: A taxa interna de Retorno representa a taxa mínima que deve ser

realizado o investimento para que este seja viável, caso a TIR seja menor do

que o custo de capital o investimento não irá recuperar nem o valor investido.

Vantagens: Não precisa do custo de capital para ser calculado, seu resultado é

apresentado em forma de taxa o que torna fácil ser compreendido e comunicado.

Desvantagens: Sua interpretação só é possível em fluxos de caixa clássicos, a TIR

assume como taxa de reinvestimento a própria TIR e não pode ser usado para

comparar projetos com valores diferentes

TIRM: A taxa interna de retorno modificada corrige o problema de considerar

a TIR como taxa de reinvestimento, portanto a TIRM considera mudanças na

taxa real de investimento.

Vantagens: Corrige o erro de assumir a TIR como taxa de reinvestimento,

permite a comparação com outras taxas de mercado.

Partindo do pressuposto que as decisões de investimento são as decisões mais

importantes para a geração de valor em uma organização, os gestores responsáveis

por tomar estas decisões devem analisar as oportunidades presentes no mercado

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através da aplicação dos métodos de avaliação buscando investimentos que, além

de viáveis, apresentem o retorno esperado por seus proprietários, de modo que os

recursos disponíveis para a realização de investimentos sejam aplicados com maior

eficiência aumentando o valor da empresa e gerando riqueza para os acionistas.

4.2. Decisões de financiamento

As empresas necessitam de recursos financeiros, que podem ser utilizados para

reestruturar o seu passivo financeiro e para realizar novos investimentos, (ROSS

(1995). A captação desses recursos é feita através da decisão de financiamento,

que se refere à escolha da fonte de captação de recursos mais adequada e a

quantidade de recursos que a empresa necessita. As decisões de financiamento

possuem grande importância na geração de riqueza tendo em vista que a empresa

destinará parte desses recursos, em forma de investimento, ao seu ativo.

As decisões de financiamento devem avaliar a forma de captação dos recursos,

tendo em vista que esta pode ser feita através de capital próprio e capital de

terceiros. A teoria financeira apresenta o autofinanciamento, a emissão de ações e a

emissão de dívidas como as principais fontes de recursos para as empresas,

(FERREIRA, 1999). As fontes de capital próprio podem ser divididas em internas e

externas, internas quando são realizadas através da retenção de lucro líquido e

externas quando realizadas através de “subscrição, integralização de aumentos de

capital, recebimento de ágio na emissão de ações alienação de bônus de subscrição

ou de partes beneficiárias, prêmio na emissão de debêntures, doações e

subvenções para investimento”. Os recursos de capital de terceiros considerados de

origem interna são “os salários, contribuições sociais, impostos e dividendos”. Já as

fontes externas de capital de terceiro são “créditos disponibilizados por

fornecedores, os adiantamentos de clientes e as operações de leasing”. (OLIVEIRA,

AMARAL, 2001).

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No planejamento para a tomada de decisão de financiamento são utilizados

principalmente os métodos de avaliação baseado no valor presente líquido do fluxo

de caixa (VPL) e no Custo médio ponderado de capital - CMPC, que representa

percentualmente o custo médio do financiamento já que a captação de recursos

pode ser feitas através de diversas fontes e com custos variados.

De acordo com Ross (2002), é muito raro que uma decisão de financiamento

apresente um valor presente líquido positivo, sendo assim quase inexistente a

possibilidade de que uma decisão de financiamento venha a criar valor em

mercados eficientes. O autor apresenta ainda três maneiras onde, apesar da

escassez de oportunidades, há a possibilidade de que decisões de financiamento

possam vir a ter VPL positivo, são elas: (a) enganar os investidores, (b) reduzir

custos ou aumentar subsídio e (c) criar um novo título.

(a) Enganar os investidores. Onde a empresa tentaria emitir títulos com um valor

maior do que eles realmente valem, tendo o objetivo de conseguir captar o Máximo

possível de recursos permitindo que a empresa consiga captar mais do que o valor

justo. Porém as empresas não devem tentar gerar riquezas enganando os

investidores e estes não são facilmente enganados.

(b) Reduzir custos ou aumentar subsídios. Refere-se à estratégia de buscar

alternativas de financiamento que reduzam custos como, impostos e pagamento de

juros do financiamento entre outros, com o objetivo de minimizar os custos

existentes e obter subsídios aumentando seu VPL.

(c) Criar um novo título. As empresas geram valor ao emitirem novos títulos que

possuam alguma característica ou benefício diferenciado que atenda as

necessidades dos investidores. Os investidos atualmente insatisfeitos e interessados

pelos benefícios da inovação estarão dispostos a pagar por estes títulos, sendo

possível vende-los por um preço mais alto. Porém outras empresas poderão também

passar a emitir títulos com as mesmas características fazendo com que a empresa

que iniciou tal emissão tenha que baixar o valor desses títulos, não oferecendo desta

maneira geração de valor no longo prazo.

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Segundo Lemes Junior (2005), as principais fontes de fincanciamento utilizadas

pelas empresas são:

Empréstimos em instituições financeira;

Financiamentos e leasing;

Recursos de capital próprios;

Emissão de Títulos.

Com base no que foi demonstrado neste item pode-se perceber a importância do

gestor planejar e avaliar as condições de financiamento para que este ocorra da

forma menos onerosa possível. Ele deve estar atento as oportunidades de obtenção

de subsídios, com o objetivo de que os financiamentos possuam custos mais baixos

e o VPL mais alto possível, buscando assim agregar valor para empresa.

4.3. Decisões de alocação de recursos

De acordo com Ross (2002), as decisões de alocação de recursos devem ser muito

bem planejadas para que a determinação do montante a ser distribuído na forma de

dividendos seja adequada, maximizando deste modo o retorno dos acionistas e

definindo o montante do lucro que ficará retido para financiar novos investimentos,

sejam eles direcionados para e empresa ou para o mercado financeiro. No entanto

os proprietários das empresas preferem aplicar esses recursos de capital próprio no

mercado financeiro tendo em vista o risco que os acionistas detentores de ações

ordinárias possuem, sendo os últimos a recebem seus direitos no caso de liquidação

da companhia. Portanto o reinvestimento na empresa só é preferido quando este

oferecer um retorno maior que o de mercado.

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No que diz respeito à decisão da empresa sobre a distribuição de dividendos, a

Teoria da sinalização defende que a decisão da empresa de que irá ou não distribuir

e ser for distribuir qual montante será distribuído, pode transmitir aos acionistas e

potenciais investidores uma idéia relativa ao seu desempenho. Portanto as

empresas podem, através de políticas de dividendos transmitirem informações aos

investidores que venham a gerar uma perspectiva de rentabilidade futura,

(BREALEY E MYERS, 1998).

Existem algumas teorias que se referem à influência da política de distribuição de

dividendos para a geração de riqueza. De acordo com a Teoria da Relevância dos

Dividendos, a distribuição de dividendos contribui sim para o aumento do valor de

mercado da ação, tendo em vista que acionistas tem preferência por ganhos

correntes, pois reduziria a incerteza, e consequentemente o risco dos mesmos,

justamente pelo fato de que ganhos de capital são mais incertos. Dessa forma um

aumento na distribuição elevaria o preço das ações e uma redução na distribuição

de dividendos aumentaria a incerteza dos acionistas, refletindo na queda das ações,

(LINTER,1956) e (GORDON, 1959). Por outro lado, a Teoria da Irrelevância dos

Dividendos considera que a política de distribuição de dividendos não influencia na

maximização de riqueza para o acionista nem para a empresa, o que exerceria uma

influencia na geração de valor é a capacidade da empresa de gerar lucros futuros,

(MODIGLIANI e MILLER, 1961).

Existem vários estudos sobre os reflexos das políticas de distribuição de dividendos

utilizadas pelas empresas no seu valor de mercado, porém ainda não houve um

consenso sobre os reais efeitos destas no valor das empresas. Portanto, na decisão

de alocação de recursos deve ser determinado que destino terão os recursos de

capital próprio disponíveis, ou seja, o lucro da empresa, tendo em vista que este é

uma fonte de financiamento para a realização de novos investimentos . Deve ser

determinado quanto será destinado a pagamento de dividendos, quanto será

aplicado no mercado financeiro ou se será reinvestido na empresa, de forma que

haja uma adequada alocação desses recursos visando à maximização de riqueza

para os acionistas e uma valorização da empresa.

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5. CONCLUSÃO

Procurei no desenvolvimento deste trabalho, apresentar estratégias baseadas em

boas práticas de Governança Corporativa e nas decisões financeiras de

investimento, financiamento e alocação de recursos, que são utilizadas pelas

empresas no intuito de maximizar o valor das mesmas e, consequentemente, gerar

valor para os acionistas. Para tal compreensão da utilização das estratégias

utilizadas pelas empresas foi apresentado também o que os acionistas buscam ao

comprar ações de uma empresa e quais são os fatores geradores de valor para eles.

No que diz respeito ao estudo sobre as decisões de financiamento, os fundamentos

apresentados neste trabalho, baseados em Ross (2002), contribuíram para o

entendimento de que estas por si só não criam valor para a empresa, devido à

quase inexistência de oportunidades que venham a permitir que o VPL seja positivo.

Porém esta é uma decisão de grande importância para as organizações, pois é

através da captação de recursos que a empresa poderá realizar seus investimentos.

Ao planejar uma decisão de financiamento o gestor deve buscar no mercado fontes

menos onerosas e verificar possibilidades de obtenção de subsídios, de modo que

estes venham a reduzir os custos do financiamento.

Tomada de decisões de financiamento eficientes contribuem para a saúde financeira

da empresa e para a realização de novos investimentos buscando retornos que

proporcionem o aumento do valor da empresa. Pelo fato de gerar riqueza, as

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decisões de investimento são consideradas as de maior importância nas

organizações. Uma vez analisadas as oportunidades de investimentos presentes no

mercado e selecionada através dos métodos de avaliação, tem-se um planejamento

para a tomada de decisão, que permite as organizações realizem investimentos com

maior eficiência. A execução adequada desse processo de decisão possibilita obter

os maiores retornos de acordo com os existentes no mercado.

Ao tomar decisões de investimentos eficientes, a empresa gera retornos que

contribuem para o aumento do valor da empresa, como reflexo gera nos investidores

a perspectiva de distribuição, na forma de dividendos, de parte dos lucros obtidos

pela empresa. Por sua vez, essa perspectiva criada pelos investidores gera valor

para empresa através da valorização das suas ações, principalmente em empresas

que demonstram solidez financeira e continuidade de crescimento nos resultados.

Os recursos disponíveis pelas empresas, decorrentes do seu resultado financeiro,

devem ser alocados de modo que estes venham a trazer os melhores resultados

possíveis, equilibrando os interesses dos acionistas no que diz respeito à

remuneração do capital investido por eles e a necessidades das empresas.

A maior facilidade nos meios de comunicação com o uso da internet e na realização

de transações financeiras, conseqüências da globalização, têm tornado possível a

realização de investimentos por todo o mundo. Essa facilidade proporciona uma

imensa gama de opções para a realização de investimentos, tanto para os

investidores institucionais quanto para os investidores individuais permitindo que

estes se tornem mais exigentes e analíticos nas decisões de investimento. Este

trabalho mostrou que essas exigências vão além de apenas maiores retornos dos

recursos aplicados. Os investidores têm se mostrado atraídos e dispostos a

pagarem um pouco mais caro por ações de empresas que possuem boas práticas

de Governança Corporativa, justamente por oferecerem principalmente

transparência, qualidade na divulgação de informações e um maior grau de

segurança aos acionistas, fatores considerados muito relevantes no momento de

uma decisão de investimento por reduzirem o seu custo de capital, contribuindo

desta forma, positivamente para a valorização das ações destas empresas.

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Este trabalho permitiu também a compreensão de que as empresas não devem se

preocupar somente com uma ou outra estratégia, mas devem buscar oferecer aos

investidores uma combinação de diversas estratégias que agreguem valor as suas

ações para que as empresas se mostrem sólidas, eficientes em sua gestão e

ofereçam além de bons retornos, transparência, prestação de contas, equidade e

responsabilidade corporativa, demonstrando ao mercado sua confiabilidade.

5.1. Pesquisas que podem ser realizadas futuramente

Para a continuidade do estudo deste tema, seria interessante a realização de uma

pesquisa que venha a buscar o reconhecimento das influências causadas nas ações

das empresas que ingressem no Novo Mercado. Verificando suas valorizações ou

desvalorizações anuais e confrontando-as com variáveis econômicas como, por

exemplo, crises ou desenvolvimentos nos segmentos da empresas no período

pesquisado. Outro tipo de continuação do presente trabalho seria a investigação dos

métodos e estratégias mais usados por gestores com vistas a agregar valor para a

empresa. Uma pesquisa de campo com investidores poderia ajudar a reconhecer se

a Governança Corporativa é de fato relevante na hora de serem atraídos a investir

em empresas com boas praticas de Governança Corporativa. Estas possíveis

continuações do presente trabalho não foram aprofundadas, pois o trabalho estaria

saindo de seu foco que foi investigar algumas das decisões estratégicas que as

empresas utilizam para maximizar o valor da empresa ao atrair os acionistas.

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