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Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

614.1 S586g Silva, Mircia Betânia Costa e.

Gestão intermunicipal de saúde: uma análise dos interesses em jogo / Mircia Betânia Costa e Silva. — Recife, 2003. 141 p. : il., tabs., mapas

Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) — Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2003.

Orientador: Eduardo Freese de Carvalho. Co-orientador: Heleny de Oliveira Pena Machado.

1. Políticas de saúde. 2. Administração e planejamento em saúde. 3. Conflito de interesses. 4. Administração em saúde pública. 5.Desenvolvimento regional. I. Carvalho, Eduardo Freese. II. Machado, Heleny de Oliveira. III. Título.

CDU 614.1

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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA

GGGEEESSSTTTÃÃÃOOO IIINNNTTTEEERRRMMMUUUNNNIIICCCIIIPPPAAALLL DDDEEE SSSAAAÚÚÚDDDEEE :::

UUUMMMAAA AAANNNÁÁÁLLLIIISSSEEE DDDOOOSSS IIINNNTTTEEERRREEESSSSSSEEESSS EEEMMM JJJOOOGGGOOO...

MIRCIA BETÂNIA COSTA E SILVA

Dissertação apresentada ao Mestrado de Saúde Pública do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz, para obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública.

Orientador:

Prof. Dr. Eduardo Freese de Carvalho

Co-Orientadora:

Profª Ms. Heleny de Oliveira Pena Machado

Recife, abril de 2003

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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA

GGGEEESSSTTTÃÃÃOOO IIINNNTTTEEERRRMMMUUUNNNIIICCCIIIPPPAAALLL DDDEEE SSSAAAÚÚÚDDDEEE :::

UUUMMMAAA AAANNNÁÁÁLLLIIISSSEEE DDDOOOSSS IIINNNTTTEEERRREEESSSSSSEEESSS EEEMMM JJJOOOGGGOOO...

MIRCIA BETÂNIA COSTA E SILVA

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Freese de Carvalho

Co-Orientadora: Profª Ms. Heleny de Oliveira Pena Machado

BANCA EXAMINADORA:

1. Antônio Carlos Gomes do Espírito Santo Prof. Dr. em Saúde Pública, Deptº Medicina Social-CCS/UFPE

__________________________________________________________

2. José Luiz do Amaral Correa Araújo Jr. Prof. Dr. em Saúde Pública, CPqAM/FIOCRUZ

__________________________________________________________

3. Eduardo Freese de Carvalho

Prof. Dr. em Saúde Pública, CPqAM/FIOCRUZ

__________________________________________________________

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AAAGGGRRRAAADDDEEECCCIIIMMMEEENNNTTTOOOSSS

A Deus, por minha vida.

A meus pais, Bernadete e Vicente, pelo incentivo, dedicação e amor

empenhados na minha formação como pessoa e como profissional, não

medindo esforços para meu bem-estar físico, mental e emocional.

A Ulisses, por construir comigo uma nova história, que toma forma

nessa etapa de minha vida, e também por toda a paciência e compreensão

durante minhas prolongadas ausências, pelo carinho e pela força nos

momentos difíceis.

A Márcia e Mércia, por dedicarem toda a torcida e ajuda possíveis,

mesmo à distância.

A Eduardo Freese, pela orientação, acolhida e disposição em dividir

conhecimentos e discutir dúvidas acerca da construção coletiva deste trabalho.

A Heleny, pela amizade, pelo companheirismo no trabalho diário, e

pelo grande esforço e contribuições essenciais na construção desse “concreto

pensado”.

A meus familiares e amigos, pelo estímulo, consolo e apoio de cada

um, à sua maneira, durante esses dois anos.

A todos os colegas do mestrado, e especialmente a Marcílio, Solange

e Ana Maria, que compartilharam as mesmas aflições e alegrias, e se

mostraram amigos, acima de tudo, dividindo suas dúvidas, idéias e

conhecimentos ao longo dessa jornada.

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A todo o pessoal da família NESC, pela ajuda sempre disponível e

pela vibrante torcida.

Aos colegas dos cursos de Residência e Especialização, por

partilharem e acrescentarem conhecimentos e experiências de vida, em

especial a Cinthia, Ericka e Alessandra, pela convivência e amizade além do

nível acadêmico.

A todos os professores do NESC, por suas grandes contribuições

dentro e fora das salas de aula, e pela disponibilidade e apoio sinceros, em

especial à presteza do Prof. Petrônio.

Aos secretários municipais de saúde e técnicos da Microrregião de

Salgueiro, pela acolhida, atenção e dedicação em tornar real este trabalho.

Ao diretor e funcionários da 7ª DIRES e ao diretor do Hospital

Regional Inácio de Sá, por sua disponibilidade e valiosas contribuições.

Aos membros da banca examinadora, Profs. José Luiz, Antônio

Carlos e Rejane, pela disponibilidade, sugestões e discussões imprescindíveis

ao enquadramento deste produto no meio científico.

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LLLIIISSSTTTAAA DDDEEE QQQUUUAAADDDRRROOOSSS,,, MMMAAAPPPAAA eee TTTAAABBBEEELLLAAASSS

Pág.

QUADRO Nº 01 – Evolução da distribuição dos consórcios de saúde por estados - BRASIL - 1985 a 2000.............................................................45 QUADRO Nº 02 – Microrregião de Salgueiro segundo critério de Planejamento de ações e serviços de saúde..............................................58 MAPA Nº 01 – A Microrregião de Salgueiro – PE (NESC/CPqAM)................69 QUADRO Nº 03 – Desenvolvimento Humano na Microrregião de Salgueiro – Pernambuco, 2000.............................................................................71 TABELA Nº 01 – Dados gerais de Saneamento da Microrregião de Salgueiro – Pernambuco, 2000.............................................................................72 TABELA Nº 02 – Informações gerais de Educação da Microrregião de Salgueiro - Pernambuco, 2001...............................................................72 TABELA Nº 03 – População residente na Microrregião de Salgueiro – Pernambuco, 2000............................................................................74 TABELA Nº 04 – Equipamentos do SUS microrregional............................76

QUADRO Nº 04 – Distribuição dos secretários municipais de saúde da Microrregião de acordo com o interesse pela Gestão Intermunicipal.............91 QUADRO Nº 05 – Atores e interesses de expressão sobre a gestão intermunicipal de saúde na Microrregião de Salgueiro – Pernambuco de acordo com os princípios do SUS selecionados...................................117

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LLLIIISSSTTTAAA DDDEEE AAABBBRRREEEVVVIIIAAATTTUUURRRAAASSS EEE SSSIIIGGGLLLAAASSS

AIH – Autorização para Internação Hospitalar

AIS – Ações Integradas de Saúde

AMUSC – Associação Municipalista do Sertão Central

CIB – Comissão Intergestores Bipartite

CIS – Consórcio Intermunicipal de Saúde

CIT – Comissão Intergestores Tripartite

CMS - Conselho Municipal de Saúde

CNS – Conferência Nacional de Saúde/Conselho Nacional de Saúde

CONASEMS – Colegiado Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASS – Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde

COSEMS – Colegiado de Secretários Municipais de Saúde

DIRES – Diretoria Regional de Saúde

FNS – Fundo Nacional de Saúde

FPM – Fundo de Participação dos Municípios

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

MS – Ministério da Saúde

NOAS – Norma Operacional da Assistência à Saúde

NOB – Norma Operacional Básica

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

PAB – Piso da Assistência Básica

PIASS – Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento

PPI – Programação Pactuada e Integrada

PREV-SAÚDE – Previdência e Saúde

PSF - Programa de Saúde da Família

SAS – Secretaria de Assistência à Saúde

SEPLANDES – Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento

SES – Secretaria Estadual de Saúde SILOS – Sistemas Locais de Saúde

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

TFD – Tratamento Fora de Domicílio

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RRREEESSSUUUMMMOOO

Tendo em vista a possibilidade de adoção da gestão intermunicipal dentre os temas da agenda política municipal de saúde e a ação de uma tríade formada por políticos, médicos e prestadores privados de serviços durante a discussão do tema na Microrregião de Salgueiro-PE, buscou-se compreender como essa tríade expressa seus interesses na definição dessa agenda específica e se os princípios do SUS estão contemplados. Para tanto, caracterizou-se o contexto político e sanitário da microrregião, identificando os recursos microrregionais. A área de estudo incluiu o município-pólo de Salgueiro e mais 10 municípios vizinhos que demandam ações e serviços de saúde. Os sujeitos selecionados foram os secretários municipais de saúde dos municípios envolvidos e diretores da DIRES e Hospital Regional. Aplicaram-se três procedimentos: estudo documental; entrevistas semi-estruturadas; e observação participante. Os resultados foram obtidos através da Análise de Conteúdo. Concluiu-se que, apesar de expressarem interesse na articulação para garantir o acesso às especialidades médicas, nos limites microrregionais, bem como garantir a integralidade da assistência, os Secretários Municipais de Saúde não se mostram capazes de imprimir esse tema na agenda de discussão política local. A iniciativa permanece com os prefeitos que, por sua vez, não reconhecem esse tema como um problema. A posição do Secretário Estadual de Saúde alterna-se entre omissão e condução centralizada da discussão. O coordenador regional de saúde com vínculo político e empresarial na microrregião atua direcionando a discussão, ora para a política de governo do Estado, ora para os interesses da rede privada de serviços. Os médicos, atores de importância política e econômica na microrregião, não se expressam de forma homogênea. Os prestadores privados detêm grande influência no setor saúde microrregional compondo a rede complementar e suplementar ao SUS, constituindo acordos bilaterais com as secretarias municipais de saúde, e não parecem sensibilizados pela discussão do tema dentro do âmbito do SUS.

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AAABBBSSSTTTRRRAAACCCTTT

Having in sight the adoption possibility of the inter municipal administration between the subjects of the municipal political agenda for health and the action of a triad formed by politicians, doctors and private service providers during the discussion of the subject in the micro region of Salgueiro – PE, this study tried to understand how this triad expressed their interests in the definition of that agenda and if the SUS (Brazilian Public Health System) principles are taken into account. For doing that, the political and sanitary context of this micro region was defined and the micro regional resources were identified. The study area included the district-center Salgueiro and other 10 neighboring municipal districts that lacked health services and actions. The selected people involved were the municipal’s health secretaries and the directors of the DIRES (State Region) and of the Regional Hospital. Three procedures were applied: a documental study; semi-structured interviews; and participant observation. The results were obtained through the Analysis of the Content of these three procedures. It concluded that, in spite of their demonstration of interest in the articulation to guarantee access to medical specialties in micro regional limits, as well as guarantee medical integrality, the Municipal’s Health Secretaries do not show ability to bring that matter to the local political discussion agenda. The initiative is still up to the Mayors who don't recognize this subject as a problem. The State’s Health Secretaries position floats between omission and centralized conduction of the discussion. The regional health coordinator who is politically and managerially entailed in the micro region addresses the discussion, now for the State government's politics, then for the interests of the service private net. The doctors are agent of political and economical importance in the micro region, and they do not express themselves in a homogeneous way. Private service providers have great influence in the micro regional health sector and compose a SUS complementary and supplemental net, constitute bilateral agreements with the municipal’s health secretaries, and they don’t seem to be sensitized by the discussion of the subject in the SUS ambit.

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SSSUUUMMMÁÁÁRRRIIIOOO

Pág.

APRESENTAÇÃO..................................................................................01

1. INTRODUÇÃO...............................................................................04

1.1 Descentralização: Uma Breve Abordagem .........................................04

1.2 Centralização versus Descentralização no Brasil..................................09

1.3 Descentralização Político-Administrativa da Saúde no Brasil..................19

1.4 A Municipalização Atomizada e a Perspectiva Intermunicipal no SUS......34

1.5 Uma Proposta de Estudo de Gestão Intermunicipal de Saúde................48

2. SUJEITOS E MÉTODOS..................................................................56

3. A MICRORREGIÃO DE SALGUEIRO: Um Pedaço de Sertão.............63

3.1 Povoamento e Desenvolvimento da Microrregião..................................63

3.2 A Atenção à Saúde na Microrregião ...................................................76

4. OS ATORES E INTERESSES NA MICRORREGIÃO: como se posicionam

frente à Gestão Intermunicipal de Saúde........................................80

4.1 Os Políticos......................................................................................82

4.2 Os Médicos.....................................................................................109

4.3 Os Prestadores Privados...................................................................113

4.4 Síntese dos Atores e Interesses em Jogo............................................116

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................119

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................125

7. ANEXOS......................................................................................138

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1

AAAPPPRRREEESSSEEENNNTTTAAAÇÇÇÃÃÃOOO

O processo de descentralização político-administrativa do setor

saúde brasileiro tem trazido constantemente, à discussão, suas

potencialidades e limitações e exposto um complexo grupo de atores sociais e

diferentes contextos políticos e econômicos. Uma ampla normatização

implementa o Sistema Único de Saúde (SUS) e orienta as funções referentes

às diferentes esferas de governo responsáveis por sua efetividade.

O Ministério da Saúde (MS), as Secretarias Estaduais (SES) e as

Secretarias Municipais de Saúde (SMS) têm suas competências aí definidas

tendo por base as autonomias relativas definidas constitucionalmente, e a

descentralização como uma das grandes diretrizes organizativas do sistema

nacional de saúde. Em legislação específica do setor, tem-se o ordenamento

detalhado da criação de sistemas estaduais e municipais e dos serviços

organizados por hierarquia e regionalizados de forma a melhor atender aos

problemas de saúde das respectivas populações.

A implementação da descentralização político-administrativa, e o

cumprimento de princípios como a organização hierarquizada e regionalizada

das ações e serviços; a universalidade do acesso à saúde; a resolutividade; a

complementaridade na relação com o subsistema privado, dentre outros, tem

se dado de forma constantemente negociada entre os atores que têm

interesse no setor. Sejam do âmbito estadual ou societal, estes atores visam à

obtenção de poderes políticos.

O processo ora acentua o poder da esfera federal, ora das esferas

municipais. Dentre as propostas de regionalização da assistência e

racionalização de recursos destacam-se as iniciativas municipais de

implementação de consórcios intermunicipais de saúde, que buscam uma

gestão articulada de secretarias municipais, muitas vezes sob a coordenação

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do gestor estadual, para resolver, principalmente as dificuldades com a

assistência de média e alta complexidade.

Tendo em vista a existência de grande número de iniciativas desse

tipo no Brasil e a inexistência de experiências de gestão intermunicipal em

Pernambuco, essa dissertação busca identificar as características do jogo de

interesses no processo específico de discussão política em curso no interior do

Estado.

Os pressupostos deste estudo apontam a problemática atual da

“municipalização autárquica” no setor saúde, que produz o isolamento dos

sistemas municipais de saúde e a busca de sua superação pelas experiências

de gestão intermunicipal. Evidenciam, também, a pluralidade de interesses

representados por uma “tríade” de atores, detentores de recursos e envolvidos

no processo decisório das políticas de saúde, e sua atuação hegemônica nesse

processo.

O trabalho é um desdobramento da Pesquisa: “Uma proposta

inovadora em micro-área do Sertão Pernambuco: contribuindo para a gestão

intermunicipal da saúde”, realizada pelo Laboratório de Apoio ao Processo de

Municipalização da Saúde do Departamento de Saúde Coletiva que pertence

ao Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – Fundação Oswaldo Cruz.

A intenção é responder à seguinte questão central: Que atores e

interesses se expressam frente à perspectiva de gestão intermunicipal de

saúde e em que medida eles se norteiam pelos princípios do SUS?

A partir desta questão, desdobram-se outras questões mais

específicas, que são:

1. Qual o contexto social, político e sanitário da microrregião em estudo?

2. Quais os interesses dos atores envolvidos na discussão?

3. Os princípios do SUS têm a ver com esses interesses?

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4. Para que tipo de cenário a situação atual aponta?

O recorte temporal de análise corresponde ao ano de 2001,

coincidindo com o primeiro ano da nova gestão municipal.

Este estudo divide-se em cinco partes.

Na Introdução, discute-se a descentralização do setor saúde

brasileiro que resulta na “municipalização atomizada” e o resgate de

experiências de gestão intermunicipal como forma consolidada em muitos

estados brasileiros. O referencial teórico orienta os temas do coronelismo, dos

atores sociais e possíveis interesses presentes no setor saúde na tentativa de

visualizar-se o que se passa no âmago da política quando o tema envolve uma

articulação intermunicipal.

Na segunda parte, percorre-se a trajetória metodológica da

investigação, tecendo comentários acerca da constituição da área de estudo,

da amostra e dos procedimentos técnicos utilizados.

Na terceira, são apresentados e discutidos o contexto social, político

e sanitário do estudo, tratando-se do conjunto de recursos existentes na

Microrregião de Salgueiro.

Em seguida, realizamos uma análise dos atores identificados na

discussão do tema gestão Intermunicipal na Microrregião, apontando seus

interesses como favoráveis à operacionalização de princípios específicos do

SUS ou de outra natureza.

Por último, nas considerações finais, expõem-se as conclusões

acerca dos rumos evidenciados na discussão do tema Gestão Intermunicipal e

a sua contribuição para o SUS caso venha a concretizar-se.

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111... IIINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO

1.1 DESCENTRALIZAÇÃO: Uma Breve Abordagem

No campo da política, o termo Descentralização parece estar sempre

ligado a uma discussão bipolar, numa relação de co-existência com a

Centralização. Assim, a descentralização é entendida como um processo que

se mantém num dos extremos de um gradiente que nunca é completamente

puro em sua existência.

Essa discussão localiza-se em diferentes contextos históricos, desde

a constituição do Estado Moderno (TOBAR, 1991), e vincula-se,

profundamente, às discussões iniciadas na Inglaterra do séc. XIX, sobre os

direitos políticos e sociais dos cidadãos, os quais devem ser garantidos pelo

Estado Capitalista, através de uma individuação essencial para a

hierarquização do poder (FLEURY, 1994).

Apesar de reconhecer que esta é uma discussão bastante rica,

interessa, aqui, pontuar sua aplicação mais recente, a partir da década de

1970, em momentos distintos do processo de redemocratização e

descentralização do Estado Brasileiro.

Além disso, busca-se a aplicação do conceito de descentralização,

como tem sido entendido pelo campo progressista, como o processo que prevê

a transferência de competências e de função para níveis regionais e locais do

sistema político, implicando, com isso, maior distribuição do poder de decisão

(CASTRO, 1991).

Nesse entendimento, considera-se imprescindível realizar reformas

na área fiscal, econômica, financeira e administrativa, além de ampliar a

autonomia para a prestação de serviços públicos e estabelecê-la, de forma

plena, às estruturas regionais e locais em detrimento do nível central.

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Já no início da década de 1990, Tobar (1991) aponta a existência de

consensos e dissensos nos diferentes campos políticos envolvidos com a

discussão. Para ele, o consenso pode ser identificado nos seguintes pontos:

• o problema da descentralização é político e sua implementação é

administrativa;

• a descentralização implica na redefinição do papel do Estado;

• A descentralização sugere o fortalecimento da esfera local, seja ela

estadual ou municipal.

Esse último aspecto é aquele sobre o qual pretende-se discutir a

descentralização neste momento.

Do ponto de vista das controvérsias consideradas pelo autor, toma-

se, ainda, duas delas como importantes para orientar a discussão que ora se

faz.

Primeiro, é controverso o próprio conceito de Descentralização. Na

prática, a descentralização pode assumir graus ou formas diversas, em virtude

das estruturas, dos objetivos políticos e administrativos, como também, do

tipo de organização do sistema de governo (OMS, 1990).

Considerando a análise de Araújo Jr. (1994), pode-se classificar a

descentralização como resposta à questão “Como descentralizar?”, o que

sugere uma distinção por área ou por função de governo. Por outro lado, uma

classificação mais detalhada responderia à questão “Quanto poder e para

quem descentralizar?”.

Apesar das diferenças de conceitos entre os autores que tratam do

assunto, na prática, a classificação de acordo com o grau de poder e seu

movimento parece seguir quatro tipos principais de descentralização (CHEEMA

e RONDINELLI apud ARAÚJO JR., 1994): desconcentração, devolução,

delegação e privatização.

Existe desconcentração, quando há o deslocamento de

responsabilidades administrativas para níveis hierárquicos inferiores de uma

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mesma organização governamental, sendo por isso, também considerada de

descentralização administrativa. Há dois tipos de desconcentração.

Primeiramente, pode se dar de forma funcional, onde o ministério de governo

divide o país em áreas habilitadas para administrar funções específicas,

designando equipes para as responsabilidades locais mas não excluindo uma

estrutura coordenadora que garanta a dependência dos escritórios locais. O

outro tipo de administração local é a forma integrada (ou “prefeitoral”), onde

um representante local do governo central, seja ele prefeito, governador ou

oficial de distrito, dependente de um organismo central, assume a

responsabilidade de levar a cabo todas as funções governamentais em sua

área territorial.

Na devolução, há uma transferência de poder decisório de uma

organização governamental para outra, ou seja, do nível central para os níveis

locais de governo, os quais adquirem relativa autonomia política e

administrativa. Esta forma é considerada por Bobbio, Matteucci e Pasquino

(1992) como descentralização política, e geralmente caracteriza-se por

substancial autonomia e independência dos governos locais em relação ao

nível central quanto a um conjunto definido de funções. Normalmente, têm

uma personalidade jurídica clara; fronteiras geográficas de ação

governamental reconhecidas; e responsabilidade pela autoridade política,

legislativa e financeira de determinadas funções públicas.

Outra forma é a delegação, que implica na criação de relações entre

Estado e sociedade, com a transferência de responsabilidades gerenciais para

organizações não-governamentais. Controlando de forma indireta as ações

dessas organizações “paraestatais”, os governos podem evitar a ineficiência da

gestão governamental direta, aumentar o controle de gastos e estabelecer

uma organização ativa e flexível.

A privatização supõe a transferência de funções governamentais,

com um grau variável de controle governamental, à iniciativa privada, seja ela

lucrativa ou não. Também pode ocorrer com a transferência de instituições

estatais às organizações privadas, sob a venda de ativos públicos dentro das

regras do mercado.

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Tendo em vista que interessa, aqui, apontar para o nível ou esfera

de poder descentralizado e para a aquisição de autonomia política e

administrativa dessa esfera num processo de descentralização política, o

significado que se pretende tomar, neste trabalho, é aquele referido por Tobar

(1991), em que a descentralização implica em:

“Redistribuição do poder, uma transferência na alocação das decisões. Significa, portanto, mexer nos interesses dos grupos de poder” (TOBAR, 1991 p.38).

No entanto, Lobo (1988) destaca que, para dar certo, a

descentralização não implica apenas em ampliação da autonomia de gestão, o

que pressupõe sua dimensão político-institucional. Mas existe ainda uma

dimensão financeira que ocorre simultaneamente e tem sido privilegiada em

detrimento da primeira.

Há evidências de que a pura e simples redistribuição de recursos

financeiros entre as esferas de governo, por si só, não é capaz de garantir

melhor eficácia na ação do poder público, pois a manutenção dos

conhecimentos técnico-científicos centralizados prejudica as unidades locais

pouco desenvolvidas. Assim, o processo deve também incorporar a

transferência de responsabilidades (Id.)

Conforme a autora, a descentralização exige competência

administrativa local que deve ser adquirida, gradual e progressivamente,

através da assessoria técnica dos outros níveis de governo. Além disso, deve

haver flexibilidade, considerando as peculiaridades regionais e locais,

transparência no processo decisório, bem como controle e fiscalização pela

sociedade organizada.

Uma outra controvérsia diz respeito ao nível ou esfera ao qual se

dará essa transferência de poder, já que se acredita ser inoperante uma

descentralização fragmentada que não contemple a totalidade do sistema

político (TOBAR, 1991).

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Tendo em vista que, no Brasil, o município é a esfera de governo no

qual o centro decisório encontra-se mais próximo dos cidadãos, além de

verificar-se ali o exercício do poder político descentralizado, sustenta-se a

afirmativa de Soares (1991) de que o município caracteriza-se como uma das

esferas do Estado capitalista possuidora de uma “autonomia relativa”.

Para tanto, o município deve deter uma autonomia municipal que

abrange várias dimensões (NEVES, 2000):

• Autonomia administrativa - referente à capacidade de organização

de atividades, gestão e prestação de serviços de forma direta;

• Autonomia política - que implica em capacidade de governo e de

auto-organização por Lei Orgânica Municipal, com a impossibilidade

de intervenção de outras esferas de governo, salvo em casos

específicos;

• Autonomia legislativa - referente à capacidade de legislar no seu

âmbito de ação;

• Autonomia financeira - capacidade de instituir e arrecadar os

próprios impostos e aplicar recursos, com autoridade para elaborar,

aprovar e executar o próprio orçamento.

Diante do exposto, convém explicitar que, neste estudo de caso,

trata-se de identificar a autonomia política da esfera municipal, diante de

outros entes federativos, para o desempenho das funções e serviços

descentralizados numa área específica de política pública.

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1.2 CENTRALIZAÇÃO X DESCENTRALIZAÇÃO no Brasil: poderes conferidos aos municípios

Fazendo uma breve retrospectiva, para entender melhor o período

de nosso interesse, podem-se identificar movimentos e estruturas que

caracterizam, ora tendências centralizadoras, ora tendências

descentralizadoras, em direção ao poder municipal.

Como diz Goulart (1996):

“A história das relações entre esferas de poder, no

Brasil, é repleta de movimentos contraditórios. Embora o predomínio, quase constante, de fortes componentes autoritários e centralizadores na formulação e na execução das políticas sociais, aqui e ali, contudo, podem se perceber momentos de inversão de tal tendência” (GOULART, 1996 p.11).

A começar pelo período colonial, as funções políticas e

administrativas locais concentravam-se nas câmaras municipais, que

representavam os interesses dos grandes proprietários de terras e passavam,

muitas vezes, por cima dos interesses dos governadores. Desde esse período,

os municípios surgiam das lutas de chefes políticos representantes de elites

locais e regionais que se opunham a determinações políticas, tributárias e

jurídicas impostas pelos governos das capitanias e governo-geral e assim

pressionavam pelo desmembramento de um centro político já existente

(QUEIROZ, 1976).

Mesmo com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, e com

a criação de um centro político e administrativo que emanaria ordens para

províncias e comarcas municipais, o poder municipal ainda continua

preponderando através da força política das elites locais (Id.).

Com a independência constitui-se um movimento fortemente

centralizador do poder do Estado.

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Nesse contexto, o processo de formulação da primeira Constituição

Brasileira passa por vários contratempos até que, em 1824, é outorgada como

a “Constituição Política do Império”. Esta, com caráter fortemente conservador

e centralizador, submete as províncias ao poder imperial e ajusta-se aos

interesses das altas camadas sociais do país, mediante restrições de direitos

políticos. Do ponto de vista do poder local, fala-se em assembléias paroquiais.

“Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. (...)”

“Art. 2. O seu territorio é dividido em Provincias na fórma em que actualmente se acha, as quaes poderão ser subdivididas, como pedir o bem do Estado”.

“Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa Geral, e dos Membros dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas por Eleições indirectas, elegendo a massa dos Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia, e estes os Representantes da Nação, e Província”.

“Art. 165. Haverá em cada Provincia um Presidente, nomeado pelo Imperador, que o poderá remover, quando entender, que assim convem ao bom serviço do Estado” (BRASIL, 1824).

A economia brasileira, naquele período, encontra-se em dificuldades

financeiras, refletindo-se no plano político. Por conseguinte, o poder central e

absoluto do imperador é contestado pelo povo e se enfraquece em relação ao

poder das províncias.

Com a crescente oposição liberal ao imperador absolutista D. Pedro

I, este renuncia ao poder, dando margem ao Golpe da Maioridade, que eleva

D. Pedro II ao trono, iniciando-se o período de Regência, marcado por várias

insurreições, e caracterizando a crise geral que sacode o Império (TEIXEIRA,

2000).

No decorrer do processo de formação de municípios, a necessidade

de instalarem-se estruturas técnico-burocráticas e o intuito de resolver os

conflitos locais (SANTANA, 1989), surge a Guarda Nacional. Essa institui a

prática do Coronelismo, como um produto da dominação do poder local nas

mãos dos grandes proprietários de terras, os quais são instituídos pela

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Regência. Torna-se uma milícia especial para seu controle e usufruto, contra

os constantes protestos populares.

“Seu comandante no lugar seria o chefe político local

eleito pelos fazendeiros para a função de coronel, posto mais alto da nova força armada. Essa milícia era a Guarda Nacional” (TEIXEIRA, 2000 p. 182).

Além disso, a propriedade de fazendas naquela época é conferida,

inicialmente, aos coronéis arregimentados em comandos militares da Guarda

Nacional no interior do estado. Logo, outros segmentos sociais também

poderiam ocupar a patente, tais como: comerciantes, advogados, médicos,

burocratas, boticários e até mesmo padres (SANTANA, 1989).

Sousa (2001) defende que o poder político dos coronéis, além de

sustentar-se na propriedade de terra, dependia também do prestígio e da

honra social da parentela a qual pertencia, além de possuir milícias

particulares para a defesa de seus interesses.

Repercutindo o quadro político mundial, inicia-se uma luta pela

autonomia das províncias existentes, sob um governo republicano,

democrático e federalista. Esta campanha em que tomam parte

personalidades do meio político, agrário, intelectual e militar alia-se à luta pelo

abolicionismo os quais, juntos, terminam por abalar e enfraquecer o império

(TEIXEIRA, 2000).

Instaurando-se a Primeira República, os municípios passam a

receber relativa autonomia, numa gradual valorização do seu poder político

como entes federativos, embora continuem submetidos às instâncias

superiores.

Isso é ilustrado já na Constituição Republicana de 1891, que não

entra em detalhes quanto aos termos dessa autonomia, tais como os termos

da criação de municípios, a instituição dos poderes executivo, legislativo ou

judiciário, ou a atribuição de serviços públicos específicos. Em seu único artigo

que versa sobre os municípios, diz apenas que:

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“Os Estados organizar-se-ão de forma que fique

assegurada a autonomia dos Municípios em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse” (BRASIL, 1891 Art. 68).

Conforme análise de Teixeira (2000), a república traz avanços

significativos com a eliminação do Poder Moderador, do Senado Vitalício e do

Conselho de Estado. Introduz o federalismo e as províncias passam a

constituir os estados, mas essas mudanças não vêm acompanhadas de

expansão da cidadania política, resultando no domínio do poder político por

oligarquias agrárias, originárias do coronelismo vigente desde o império.

As relações dos coronéis com os governos estadual e federal

ocorrem pela troca de favores políticos, resultando na concessão de “carta

branca” a estes, para uma atuação assistencialista e clientelista, em relações

afetivas, familiares e de amizade que ultrapassavam os limites formais da

administração, sobrepondo-se mesmo aos partidos políticos e aos interesses

nacionais (SOUSA, 2001).

Na verdade, a falta de uma rede de serviços públicos bem

estruturada favorece o domínio coronelístico, onde as lideranças julgam-se,

como os principais defensores dos interesses locais, responsabilizando-se,

perante a sociedade, pelo desenvolvimento da região como um todo (Id.).

Assim, a população, desamparada, carente dos serviços, sem

resposta ao recorrer à família, aos amigos e aos “patrões”, recebe ajuda e

proteção dos chefes políticos, fomentando seu prestígio, à medida que lhes

presta fidelidade política (WANDERLEY, 1970).

No decorrer dos anos, a economia brasileira cresce e, impulsionado

pela urbanização, pelo crescimento da população e pela expansão das

ferrovias, afirma-se o setor industrial. Nesse contexto, o crescimento da classe

média urbana, e do operariado industrial, constituem ameaça ao regime

oligárquico.

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Devido à insatisfação das classes médias e populares urbanas com a

imensa gama de problemas sociais existentes no país, surgem, no final da

década de 1920, as idéias socialistas, anarquistas e comunistas de revolução

política. Além desses movimentos, o tenentismo se sobressai, abalando as

bases de sustentação do governo republicano vigente.

A insatisfação com o cenário político e econômico generaliza-se na

sociedade como um todo, chegando a ponto de ocorrerem, também, rupturas

internas às grandes oligarquias. Aproveitando-se dos movimentos de 1930,

tomam espaço novos interesses sociais e novas forças políticas, em especial,

aqueles ligados ao desenvolvimento do capital nacional. Aliados ao estadista

Getúlio Vargas, esses atores abrem caminho para uma nova era, recheada de

centralismo político-administrativo, industrialismo, intervencionismo estatal e

nacionalismo econômico.

Do ponto de vista da autonomia dos entes federativos, nesse

período, há grandes retrocessos, tais como: a destituição de governadores

estaduais, substituídos por interventores, e a dissolução do Congresso

Nacional, bem como dos legislativos estaduais e municipais.

A Carta de 1934 discorre mais detalhadamente sobre algumas

características relativas à autonomia dos Municípios, pode-se assim dizer,

dispondo sobre atividades específicas de interesse municipal:

“Art 13- Os Municípios serão organizados de forma que lhes fique assegurada a autonomia em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse; e especialmente: I - a eletividade do Prefeito e dos Vereadores da Câmara Municipal, podendo aquele ser eleito por esta; II - a decretação dos seus impostos e taxas, a arrecadação e aplicação das suas rendas; III - A organização dos serviços de sua competência. § 1º-O Prefeito poderá ser de nomeação do Governo do Estado no Município da Capital e nas estâncias hidrominerais (...)".

Apesar desses princípios, aos governos estaduais é facultado intervir

em casos de real necessidade ou ineficiência das municipalidades,

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“Art 13 (...) § 3º - É facultado ao Estado a criação de um órgão de assistência técnica à Administração municipal e fiscalização das suas finanças. § 4º - Também lhe é permitido intervir nos Municípios a fim de lhes regularizar as finanças, quando se verificar impontualidade nos serviços de empréstimos garantidos pelos Estados, ou pela falta de pagamento da sua dívida fundada por dois anos consecutivos (...)” (BRASIL, 1934).

Há, ainda, uma referência à intervenção da União nos Estados, em

demonstração ao poder de autoridade do nível central no que diz respeito à

garantia dos princípios já dispostos acerca dos direitos municipais.

“A União não intervirá em negócios peculiares aos Estados, salvo: para assegurar a (...) autonomia dos Municípios (...) (Art. 7 e 12)” (BRASIL, 1937).

Em 1937, é anunciada uma “nova ordem” institucional, e implantado

o “Estado Novo”, regime autoritário centrado na ditadura de Getúlio Vargas,

com o apoio de alguns governadores, parlamentares, lideranças “integralistas”

e chefes militares.

A Constituição criada no mesmo ano substitui a democracia liberal-

representativa e federativa por um regime centralizado e unitário, destituindo

os estados de autonomia e extinguindo os partidos políticos, bem como as

instâncias legislativas e judiciárias (TEIXEIRA, 2000).

Através desta constituição – também chamada de “polaca”, por

inspirar-se na Carta fascista da Polônia –, o governo federal passa a controlar

os estados pela nomeação de interventores, passando os prefeitos a serem

nomeados por estes. Sua marca maior, no entanto, é apresentar o presidente

da República como autoridade suprema (BRASIL, 1937):

“Art.73 - O Presidente da república, autoridade suprema do Estado, coordena a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirige a política interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional, e superintende a administração do País" (Brasil, 1937).

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Apesar da cooptação de amplos setores das classes trabalhistas

através de benefícios sociais, as resistências ao totalitarismo de Getúlio Vargas

crescem no meio político e intelectual, em face à entrada do país Segunda

Guerra Mundial para lutar pela democracia e contra o fascismo.

Em meio à forte pressão, Getúlio Vargas é deposto e inicia-se um

novo período democrático no país, resgatando um pouco da autonomia

conferida aos estados e municípios.

“Os Estados não intervirão nos Municípios, senão para lhes regularizar as finanças (...)” (BRASIL, 1946 Art 23)

Neste momento, com o apoio de entidades internacionais, de

caráter cooperativo intermunicipal, e sob flashs de descentralização política

nacional, é lançada no Brasil, a Campanha Municipalista, a qual traz grandes

contribuições para o restabelecimento da autonomia municipal na Constituição

Federal de 1946 e em promulgações subseqüentes de constituições estaduais

(MELLO, 1997).

Mas o período de liberdades, mudanças sociais e inovações dura

pouco tempo. O populismo e a mobilização popular são vistos como ameaças

aos interesses das classes dominantes; a elite conservadora e as Forças

Armadas acusam o governo federal de subversão; o crescimento econômico

reduzido e o descontrole da inflação afetam investimentos e salários. Como se

já não bastasse, os Estados Unidos pressionam por conspirações em nome da

“segurança” no contexto da guerra fria (TEIXEIRA, 2000).

Daquele momento até meados da década de 1960, busca-se a

diminuição dos conflitos internos e a sustentação da democracia no país, mas

uma sucessão de fatos dramáticos e tempestuosos marca os mandatos

presidenciais que se seguem.

O Regime Militar instituído em 1964 reprime todos os movimentos

sociais em favor da descentralização e democratização. Os Atos Institucionais

desse novo governo suspendem mandatos e direitos políticos em todos os

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níveis e áreas de governo, dissolvem partidos políticos e impõem uma grande

censura sobre diversos setores.

“O modelo político, autoritário, implantado em 1964,

de forma coerente, buscou, com algum êxito, diminuir e/ou eliminar algumas características descentralizadas que o Estado brasileiro federativo possuía anteriormente” (MÜLLER NETO, 1991 p.57).

Em 1967, sob protestos da oposição minoritária, é promulgada uma

nova Constituição Federal, a qual confere máxima autoridade aos militares.

Quanto aos municípios, há uma supressão de sua autonomia,

camuflada por uma dependência, em última instância, das deliberações dos

governos estaduais e governo federal, tendo estes o poder de intervir nos

municípios quando descumprirem suas obrigações, além do poder de nomear

prefeitos das capitais e outros.

“Art 15 - A criação de Municípios, bem como sua divisão em distritos dependerá de lei estadual. A organização municipal poderá variar, tendo-se em vista as peculiaridades locais”. “Art 16 - A autonomia municipal será assegurada: I - pela eleição direta de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores realizada simultaneamente em todo o País (...) II - pela administração própria, no que concerne ao seu peculiar interesse, especialmente quanto: a) à decretação e arrecadação dos tributos de sua competência e à aplicação de suas rendas (...(); b) à organização dos serviços públicos locais” (...) § 1º - Serão nomeados pelo Governador, com prévia aprovação: a) da Assembléia Legislativa, os Prefeitos das Capitais dos Estados e dos Municípios considerados estâncias hidrominerais em lei estadual; b) do Presidente da República, os Prefeitos dos Municípios declarados de interesse da segurança nacional, por lei de iniciativa do Poder Executivo” (BRASIL, 1967).

Na década de 1970, o Brasil alcança um apreciável desenvolvimento

econômico, às custas de elevados investimentos públicos, estes dependentes

do capital estrangeiro em áreas estratégicas para o desenvolvimento

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capitalista. Entretanto, em meio a uma virada no cenário econômico mundial,

com a elevação dos preços do petróleo e a alta de juros nos países

industrializados, a dívida externa do país torna-se crítica, forçando, na década

seguinte, uma correção às custas de aumentos no desemprego e na inflação.

Isto, somado aos movimentos sociais reivindicatórios, em luta pelo retorno da

democracia ao país, propicia o processo de abertura lenta e gradual que atinge

seu ponto culminante com a promulgação da Constituição de 1988.

No que concerne à situação municipal, esta Constituição Federal,

vigente até os dias atuais, promove um fortalecimento dessas esferas, à

medida que o poder local de decisão é o fator primordial para a emancipação

municipal.

“A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei” (BRASIL, 1988 Art. 18)

O município passa a reger-se por uma lei própria, aprovada e

instituída por um conjunto de vereadores, submetidos às mesmas regras que

vigoram para o nível legislativo estadual e federal, e cuja representatividade é

conferida por eleições diretas. Da mesma forma, o prefeito, eleito por pleito

direto, está sujeito a julgamentos perante o Tribunal de Justiça, e não mais

submetido ao governo estadual (Ibid. Art.29).

Dentre as funções de responsabilidade municipal, vigoram: a

legislação específica e suplementar à federal e estadual; a instituição de

impostos e aplicação de renda; a organização administrativa de seu território;

e a prestação de serviços públicos (Ibid. Art.30).

O controle externo passa a ser exercido pelo Tribunal de Contas

Municipal (quando houver) e Estadual (Ibid. Art.31).

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Com a nova ordem, o governo federal mantém sua posição de

interventor em defesa dos municípios, de forma a garantir o livre exercício de

seus poderes perante os governos estaduais. A estes cabe intervir, nas

administrações municipais, em caso de inadimplências nas relações financeiras

e na prestação de serviços, através de ordem judicial (Ibid. Art. 34,35).

Segundo Farah (2001), a partir da década de 1990, há uma

crescente ação da esfera municipal na área social, a qual pode ser atribuída a:

transferência de atribuições e competências das outras esferas; resposta às

reivindicações e demandas da população; ênfase da descentralização na

agenda de reforma de diferentes correntes políticas, bem como de organismos

financiadores; aumento da participação municipal na repartição dos recursos

fiscais; e insuficiência do modelo neoliberal promovido pelo governo federal,

com exigência de atitudes no nível local.

Neste período, os governos municipais vêem crescer seu

relacionamento de diálogo com as outras esferas de poder. Além disso, são

criadas relações democráticas com a sociedade, seja no sentido privatista ou

popular.

Entretanto, para Neves (2000), após dez anos, apesar da

valorização do poder e governos locais, e dos avanços constitucionais, o

município ainda não recebe o merecido reconhecimento na federação

brasileira, tendo em vista a cultura política centralizadora do país.

Estudos desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisas Econômicas

Aplicadas (IPEA) (BRASIL, 1995), mostram o contexto da descentralização

político-administrativa no Brasil constituído de várias situações-problema:

municípios com altas taxas de crescimento demográfico, principalmente,

aqueles situados no perímetro de regiões metropolitanas e aglomerados

urbanos; municípios e microrregiões com indicadores sociais críticos e

estagnação econômica; municípios de pequeno porte demográfico (abaixo de

dez mil habitantes); e pólos metropolitanos, por suas tensões e indicadores

sociais críticos.

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Esse contexto aponta para efeitos favoráveis e adversos à

descentralização, motivados pelas peculiaridades locais e regionais do país.

Pode-se dizer que no gradiente estabelecido entre descentralização e

centralização, os municípios parecem vir ganhando espaço político, apesar das

limitações existentes.

1.3 Descentralização Político-Administrativa da Saúde

no Brasil

De acordo com Braga e Paula (1981), é a partir de 1930 que

começa a tomar forma uma política nacional de saúde no Brasil, justamente

porque são instalados os aparelhos necessários à sua efetivação.

O papel desenvolvido pelo Estado, à época, as transformações

políticas e a necessidade de controle das massas trabalhadoras determinaram

a criação de um conjunto sistemático de políticas.

No plano político, o Estado nacional passa por um período de

centralismo, com diminuição da autonomia dos estados e municípios, o que,

na saúde, pode se identificar com: a criação do Ministério de Educação e

Saúde; a instituição de campanhas sanitárias; e a intervenção de assistentes

técnicos do governo federal nos serviços estaduais de saúde (BRAGA e PAULA,

1981).

Em 1941 inicia-se uma reorganização do Ministério da Educação e

Saúde, o que vem a criar a estrutura básica para constituir, mais tarde, o

Ministério da Saúde (1953).

A partir daí têm início as Conferências Nacionais de Saúde,

constituindo-se como o foro de discussão sobre a situação sanitária nacional e

a necessidade de “reformas de base”. Ao longo dos anos, tais eventos passam

por questões centrais como o alcance e dimensões da saúde pública e sua

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estrutura administrativa, de onde parte a implementação de mudanças

consideráveis no setor saúde brasileiro (BRAGA e PAULA, 1981).

Do ponto de vista da questão administrativa, o debate gira em torno

das alternativas de centralização ou descentralização da estrutura sanitária,

com os primeiros indícios de uma possível municipalização de serviços.

A necessidade de reformas setoriais aparece também nos discursos

presidenciais e ministeriais daquele período, constatando-se, por vezes,

interferências sanitárias transitórias do governo federal sobre os estaduais e

destes, sobre os municipais; e por outras, tratando-se da ingerência

acentuada do poder central na política setorial desenvolvida nos estados

(BRAGA e PAULA, 1981; GOULART, 1996; TEIXEIRA et al., 1988).

A discussão sobre descentralização político-administrativa do setor

saúde se intensifica com o nascimento do Movimento Sanitarista

Desenvolvimentista, em meio às lutas pela defesa do industrialismo, do

nacionalismo e do intervencionismo desenvolvimentista (TEIXEIRA et al.,

1988).

Na verdade, alguns médicos sanitaristas, desde a década de 1930,

já vêm colocando suas idéias e debatendo propostas de construção de um

sistema sanitário com bases progressistas e nacionalistas, que atendessem, ao

mesmo tempo, às necessidades da população e as possibilidades econômicas

do país. Mas é de fundamental importância que as propostas desse movimento

sejam discutidas no interior da saúde pública oficial, a partir da criação do

Ministério da Saúde, em 1953.

Entre suas mais diversas teses e doutrinas, este movimento

denuncia a continuidade dos problemas de saúde pelo esvaziamento das

funções executivas dos municípios, constatando que:

“Os programas sanitários atuam no vazio, alheios às

necessidades das comunidades, salvo em algumas grandes capitais” (TEIXEIRA et al., 1988 p. 17).

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Teixeira e colaboradores (1988) identificam dois marcos importantes

dos esforços despendidos pelo Sanitarismo Desenvolvimentista, em resposta à

situação posta.

Primeiro, a Política Nacional de Saúde, formulada em fins de 1961,

com a intenção de transformar o Ministério da Saúde. De órgão formulador

este passaria a cooperador junto às secretarias estaduais e municipais.

Em segundo lugar, a III Conferência Nacional de Saúde (CNS),

realizada em 1963, que apresenta, entre suas deliberações, uma posição

favorável do governo nacional à descentralização e transferência de poder aos

municípios (GOULART, 1996; MÜLLER NETO, 1991).

Com o advento do Golpe Militar (1964), no entanto, há uma

estagnação desse processo. O Estado é novamente centralizado e o sistema

de saúde passa, de uma questão social, para assumir um caráter meramente

técnico.

Em meio aos problemas sociais resultantes das políticas econômicas

de alta concentração de renda do regime militar, e da repressão imposta aos

diferentes movimentos sociais democráticos, verifica-se uma resistência em

várias dimensões.

No setor saúde, ao longo da década de 1970, verifica-se uma crise

no sistema previdenciário responsável pela atenção à saúde e centralizado no

Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS). Com

as pressões em favor da universalidade da assistência e a sobrecarga e

endividamento do Estado, organizam-se núcleos de combate ao modelo

vigente, em favor de sua descentralização (GERSCHMAN, 1995).

Há uma forte reação prefeitos, profissionais de saúde e outros

interessados no setor, pelo incremento no nível de administração e gerência

dos serviços de saúde, objetivando melhores condições de saúde para a

população e melhores condições do exercício profissional em saúde, de tal

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forma que as políticas federais e estaduais nunca haviam conseguido

(GOULART, 1996)

“...Um verdadeiro movimento municipal de saúde, no sentido de as prefeituras assumirem cada vez mais compromissos com a resolutividade, levando à população a extensão de cobertura, não mais meramente preventivista e contemporizadora...” (SANTOS apud GOULART, 1996, p.17).

Difunde-se, por todo o país, o pensamento crítico da saúde, e

implementam-se políticas de saúde alternativas em Secretarias Municipais do

interior de alguns Estados, cujas prefeituras são conquistadas pela oposição

nas eleições de 1976 (GERSCHMAN, 1995; MÜLLER NETO, 1991).

De acordo com Müller Neto (1991), o advento da transição

democrática propicia às administrações municipais e estaduais a formulação e

implantação de políticas sociais, dessa forma, entrando em choque e

disputando competências com o governo federal.

Simultaneamente, em nível de política nacional, são propostos

alguns programas reformadores regionalistas, em resposta á crise do modelo

econômico e do poder autoritário (MÜLLER NETO, 1991), tais como o

Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), entre

1976-77, que proporciona a instalação de uma rede básica e regionalizada de

saúde para as comunidades do Nordeste do país, além de amenizar a

burocracia do setor e envolver as prefeituras nas ações de saúde e

saneamento.

Outro deles é o PREV-SAÚDE (Previdência e Saúde), entre 1980-81,

com o intuito de descentralizar o sistema, pela criação de uma rede

regionalizada e hierarquizada, a partir de investimentos na atenção primária.

No entanto, devido a fortes resistências, o projeto não chega a sair do papel

(NASCIMENTO, 1991).

Além destes, as Ações Integradas de Saúde (AIS), 1982, são

implementadas em alguns Estados e Municípios, concedendo a estes a posição

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de atores da política nacional de saúde, como participantes dos fóruns de

discussão oficiais e também como receptores de “novas” responsabilidades no

sistema de saúde (GOULART, 1996).

Seguindo a proposta do Movimento Sanitário, o V Simpósio da

Política Nacional de Saúde − 1984 −, delibera pela criação de “um Sistema

Unificado Federativo e Democrático para a saúde, com as características de

descentralização, integralidade, participação social, controle do privado

mediante contratos de concessão e definição precisa de atribuições entre as

três esferas do governo” (GOULART, 1996, p.19;).

Em 1986, o governo federal convoca a VIII CNS, cujos resultados

conduzem à formação da Comissão Nacional de Reforma Sanitária, que

fornece toda a base para o estabelecimento do Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (SUDS), em 1987, como proposta de texto à

Assembléia Nacional Constituinte. Embora a proposta não seja implementada

conforme sua idealização, o Movimento Sanitário mantém sua atuação, junto

aos parlamentares, contribuindo fortemente para o novo texto constitucional

da saúde, que institui, então, o SUS, organizado de forma regionalizada e

hierarquizada, em todo o território nacional, sob a diretriz da descentralização,

entre outras.

Definida e instituída pela Constituição Federal de 1988, a

descentralização política do setor saúde assume, então, a forma de devolução

aos municípios (ARAÚJO JR., 1994).

A partir daí, o município é considerado o novo executor das ações de

saúde dirigidas a uma clientela universal, constituindo-se “a porta de entrada

do sistema”. Além disso, recursos e serviços da rede estadual e federal são

transferidos para a esfera municipal; a responsabilidade de efetuar contratos,

convênios e credenciamentos da rede privada de serviços fica a cargo do

próprio município; e abre-se a possibilidade dos sistemas municipais de

pequeno porte efetuarem consórcios intermunicipais de saúde (MEDICI,

1991).

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Cria-se também uma legislação específica do setor saúde e a

implementação do SUS, em todo o território nacional, submete-se, agora, às

Leis Orgânicas da Saúde (Nº 8.080/90 e Nº 8.142/90).

Mediante a nova legislação, o desenvolvimento das ações e serviços

públicos e os serviços privados (complementares) de saúde passam a

obedecer às diretrizes previstas na Constituição Federal, adicionando-se,

ainda, princípios específicos, dentre os quais, destacam-se (BRASIL, 1990a,

Art. 7): universalidade de acesso em todos os níveis de assistência;

integralidade de assistência, quanto às ações e serviços preventivos e

curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis

de complexidade do sistema; descentralização político-administrativa, com

direção única em cada esfera de governo, ênfase na descentralização dos

serviços para os municípios, regionalização e hierarquização da rede de

serviços de saúde; e capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis

de assistência.

Nesse processo regulador, o Ministério da Saúde utiliza-se de uma

orientação padronizada para a gestão descentralizada das ações e serviços de

saúde em todo o território nacional, implantando as Normas Operacionais

Básicas do SUS (NOB-SUS 01/91; NOB-SUS 01/93; NOB-SUS 01/96; NOAS-

SUS 01/2002; e NOAS-SUS 01/2002).

A primeira destas, editada em 1991 mostra-se altamente

centralizadora (CORDEIRO, 1991; MEDICI, 1991; GOULART, 1996;

LEVCOVITZ et a.l, 2001), o que se justifica pelo processo de sua elaboração,

com a direção do INAMPS.

Questionando a inviabilidade conjuntural da Lei Orgânica da Saúde,

que prevê a transferência regular e automática de recursos financeiros, do

fundo nacional aos fundos estaduais e municipais, esta norma redefine toda a

lógica de financiamento do SUS, consolidando uma transferência negociada

(LEVCOVITZ et al., 2001), onde os serviços de natureza pública tanto

estaduais como municipais, são transformados em prestadores a serem

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ressarcidos conforme a sua produção, igualando-se àqueles de natureza

privada e filantrópica (OLIVEIRA Jr., 1998).

Além disso, cria-se um relacionamento direto entre a União e os

Municípios, por meio dos “convênios de municipalização” (HEIMANN et al.,

2000 p.33).

Tudo isso, enfim, destitui as secretarias municipais de sua própria

operatividade, ao passo que se encontram, agora, na corrida por recursos.

Sua criatividade e capacidade de implementar políticas especiais são trocadas

pela necessidade de agilidade na prestação de serviços.

De acordo com Uga (1991), esse movimento de re-centralização

disfarçado, define quais municípios poderão ingressar neste sistema

descentralizado de financiamento. Por outro lado, o novo sistema também

afasta do cenário os governos estaduais e municipais, centralizando os fluxos

financeiros, numa relação direta do INAMPS com as unidades prestadoras de

serviços de saúde.

Alguns autores ressaltam o apoio dos municípios a essa norma

devido à percepção da oportunidade de receber recursos diretamente da

União, sem intermédio das secretarias estaduais (MENDES, E. 1998, 2001;

LEVCOVITZ et al., 2001), e isto acaba “consolidando o caminho para a

radicalização da municipalização dos serviços de saúde” (MENDES, E. 2001 p.

27).

Outro aspecto das mudanças apontadas pela norma é a criação de

sistemas centralizados de informação que permitiriam à União acompanhar,

controlar e avaliar o desempenho dos serviços estaduais e municipais de

saúde (LEVCOVITZ et al., 2001).

A NOB-SUS de 1993, gestada na IX CNS − 1992 − , cujo tema

central é a Municipalização dos Serviços de Saúde, chega como proposta de

consenso sobre a condução equivocada do processo de financiamento das

ações e serviços (OLIVEIRA Jr., 1998).

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Propõe-se o desenvolvimento progressivo e flexível da

descentralização, de acordo com as realidades estaduais e municipais, os

quais podem aderir à Norma de acordo com suas possibilidades.

Criam-se, assim, três modalidades de gestão da saúde a serem

adotadas pelos municípios (incipiente, parcial ou semiplena). Para o

gerenciamento deste processo, todos os estados devem contar com o

planejamento integrado nos fóruns de negociação e pactuação entre os

gestores do sistema As Comissões Intergestores Bipartite (CIB), ao nível

dos estados e as Comissões Intergestores Tripartite (CIT), a nível nacional.

Além disso, fica acertado que a negociação e deliberação de

políticas, em cada nível, deve submeter-se à aprovação dos respectivos

Conselhos de Saúde. A partir deste momento, os municípios que cumprirem

critérios específicos serão considerados “municipalizados” (Brasil, 1993).

Com a implantação desta norma, a relação da gestão estadual com

a União em quase nada é modificada, permanecendo os estados na condição

de prestadores de serviços, assim como os municípios, o que termina

configurando um quadro de “descentralização tutelada”, tendo em vista a

maioria dos municípios não atingir a modalidade de gestão mais avançada

(OLIVEIRA Jr., 1998).

Oliveira Jr. (1998) destaca ainda outros obstáculos que a norma

não consegue superar: o ritmo da descentralização com transferência

financeira fundo a fundo aquém do esperado; a transferência de recursos

ocorre apenas na área da assistência, continuando o restante das ações

dependentes de convênios; a existência de uma tabela de pagamento nacional

e única limita tanto as relações com o setor privado – complementar –, como

a reorganização da atenção no próprio setor público.

Na prática, mesmo na vigência do mecanismo de transferência

“fundo a fundo”, não há rompimento com a lógica do “pós-pagamento”, tendo

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em vista os recursos estarem vinculados ao valor da produção apresentada

pelos Sistemas Nacionais de Informação (LEVCOVITZ et al., 2001).

As Comissões Intergestores são instaladas em todo o país, porém

vigora uma relação conflituosa entre os gestores estaduais e municipais,

especialmente quanto à questão financeira. Além disso, o Planejamento

Pactuado e Integrado (PPI), na maioria dos estados não é colocado em prática

(HEIMANN et al.,2000).

Seguindo esta lógica, uma avaliação do Ministério da Saúde,

realizada em 1995, verifica que o processo de descentralização desencadeia-

se, no país, através de vários modelos. A classificação criada por Lucchese

(1996), aponta diferentes graus: uma gestão altamente centralizada, com

uma administração ainda centrada nos estados; partilha entre estados e

municípios, de acordo com interesses específicos, e por isso fragmentada e

sem racionalidade; concentrada nos municípios, de forma atomizada e com

ações dispersas, isoladas e deficientes; descentralizada com ênfase na

regionalização e participação do estado na coordenação e regulação das

relações intermunicipais; e descentralizada por níveis de hierarquia,

permanecendo o estado como responsável pela administração de unidades

mais complexas.

Em geral, o modelo ideal representaria aquele que une uma

municipalização com ênfase na regionalização, mantendo as secretarias

estaduais em sua função coordenadora, o qual permanece, ainda, muito

distante da grande maioria dos municípios (Id.).

Para Mendes (1998), a forma diferenciada com que a

descentralização ocorre, no país, tem explicação na existência de grande

diversidade nas realidades estaduais e municipais brasileiras, “porque, assim

como os brasis são muitos, são muitas as descentralizações” (Id. p.18).

No final da década de 1990, a municipalização, que já vinha

aumentando, acelera-se de tal forma que a polarização institucional entre o

governo federal e os municípios isola as Secretarias Estaduais de Saúde (SES),

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que entram em crise de identidade sem recursos organizacionais e financeiros

(LEVCOVITZ et al., 2001), caracterizando uma descentralização com

características municipalistas.

Com a municipalização da rede ambulatorial, as SES não conseguem

reciclar-se para as novas funções de regulação. Isso dificulta o

acompanhamento da dinâmica que se estabelece entre um Ministério da

Saúde cada vez mais concentrador de recursos, e as Secretarias Municipais de

Saúde, cada vez mais ágeis.

A concentração do financiamento na União, sem a participação dos

estados, consolida um paradigma organizacional que vem a ser denominado

por Mendes (2001) de “municipalização autárquica”. Esse fenômeno

caracteriza-se pela expansão descontrolada da atenção médica, com aplicação

de recursos sem o mínimo de articulação e racionalidade administrativa,

onerando, assim, os cofres municipais com a perda de escala em

investimentos ineficientes.

Após longo processo de discussão, no Conselho Nacional de Saúde

(CNS), Comissão Intergestores Tripartite (CIT), Conselho Nacional de

Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) e Colegiado Nacional de Secretários

Municipais de Saúde (CONASEMS), além de várias oficinas de trabalho e

encontros que envolvem diversos segmentos da sociedade, é elaborada a

NOB-SUS 96.

Esta norma coloca como finalidade promover e consolidar o exercício

do poder público municipal, conferindo-lhe plena responsabilidade por sua

competência ou ausências, porém numa co-responsabilidade com os poderes

público estadual e federal. São redefinidos os papéis de cada esfera de

governo na organização de ações e serviços de forma regionalizada e

hierarquizada. Dessa forma, constitui-se um SUS para cada município, porém,

interligado a outros pela distribuição de estabelecimentos com ações e

serviços de referência (Brasil, 1997).

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O município passa a assumir a responsabilidade de gerir o seu

próprio sistema mediante o exercício de funções de coordenação, articulação,

negociação, planejamento, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria.

A partir deste momento, o financiamento do SUS municipal, além de contar

com recursos do próprio tesouro municipal, é reforçado por transferências, da

União e dos Estados, condicionadas à responsabilidade dos governos

municipais.

Tendo em vista o risco de desenvolvimento de alguns sistemas

municipais em detrimento de outros, “ameaçando a unicidade do SUS”, o

papel do poder público estadual passa a ser o de mediar as relações

intermunicipais, visando “integrar, harmonizar e modernizar, com equidade,

os sistemas municipais” (Brasil, 1997).

Oliveira Jr. (1998) afirma que, a partir desta norma, a habilitação

dos estados deixa de ser “virtual”, passando estes a incorporar a

responsabilidade correspondente ao seu nível de gestão.

No entanto, outros autores sustentam que a mesma norma não

resgata os papéis dos diferentes gestores, quanto ao exercício de suas

funções, permanecendo o foco no sistema de financiamento, ao qual

direcionam-se as novas condições de gestão (Gestão Plena da Atenção Básica

e Gestão Plena do Sistema Municipal). Assim, verifica-se que as Secretarias

Estaduais de Saúde reduzem sua participação relativa, o que vem ocasionar,

mais tarde, problemas de equidade e de eficiência no Sistema de Saúde como

um todo (HEIMANN et al., 2000; MENDES, E. 1998, 2001; SOARES, 1991).

Além disso, observa-se o avanço na privatização do sistema de

atenção médica supletiva, devido à ausência de regulação estatal; o gasto

irracional de recursos que mantém descontroladas as doenças preveníveis, à

medida que cresce a prevalência de doenças crônico-degenerativas; a perda

de escala, em função do aumento de unidades hospitalares e equipamentos

especializados com pouca utilização; e o aumento exagerado da força de

trabalho estatal, contradizendo a Lei de Responsabilidade Fiscal (1999) em

vigor (MENDES, A. ,2001).

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Para Oliveira Jr. (1998), entre seus aspectos positivos, a NOB 96

proporciona o rompimento com o pagamento por produção de serviços, ao

menos na atenção básica. Isso implica em maior responsabilização pela saúde

de seus munícipes, de forma que passa a exercer avaliação e controle, de

forma mais apurada, sobre os serviços que oferece.

A norma também faz uma crítica à municipalização autarquizada e

enfatiza a necessidade de organização regionalizada da atenção à saúde, no

que se refere às relações entre os sistemas municipais:

“A criação e o funcionamento desse sistema

municipal possibilitam uma grande responsabilização dos municípios, no que se refere à saúde de todos os residentes em seu território. No entanto, possibilitam, também, um elevado risco de atomização desordenada dessas partes do SUS, permitindo que um sistema municipal se desenvolva em detrimento de outro, ameaçando, até mesmo, a unicidade do SUS. Há que se integrar, harmonizar e modernizar, com eqüidade, os sistemas municipais” (BRASIL, 1997a, p. 8).

Mantém-se a proposta dos fóruns de negociação e pactuação entre

os gestores para integração das esferas de governo, ainda que a relação

intermunicipal seja mediada pelo estado:

“Os sistemas municipais de saúde apresentam níveis

diferentes de complexidade, sendo comum estabelecimentos ou órgãos de saúde, de um município, atenderem usuários encaminhados por outro. Em vista disso, quando o serviço requerido para o atendimento da população estiver localizado em outro município, as negociações para tanto devem ser efetivadas exclusivamente entre os gestores municipais”.

Essa relação, mediada pelo estado, tem como

instrumento de garantia a programação pactuada e integrada na CIB regional ou estadual (...) “(BRASIL, 1997a, p.9).

Em que pese a implementação maciça desses fóruns de negociação,

Ribeiro e Costa (2001) observam a criação de uma forte dependência dos

gestores municipais, em torno deles, devido a pouca capacidade de

dissolverem seus conflitos entre si.

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Assim, as decisões políticas sobre demandas específicas ficam a

cargo desses organismos colegiados, bem como dos Conselhos Estaduais de

Saúde, CNS e, muitas vezes, das próprias Secretarias Estaduais e Ministério

da Saúde.

Algumas vezes, também, as Secretarias Estaduais acabam

controlando os rumos das negociações, ainda mais diante da pouca

expressividade de alguns Colegiados de Secretários Municipais de Saúde

(COSEMS). Além disso, centralizam decisões e praticam o insulamento técnico.

Outra falha constatada por esses autores é o foco quase que

exclusivo das Secretarias Estaduais na provisão de assistência aos municípios

que permanecem na Gestão Plena da Atenção Básica. Além do mais, verifica-

se o baixo comprometimento de alguns gestores estaduais, justificado pelo

aumento de investimentos da União e dos Municípios em políticas de saúde.

A criação do CARTÃO SUS-MUNICIPAL é outra proposta que

pretende controlar o atendimento de urgência por qualquer serviço de saúde

em todo o país. Tal processo constitui-se, atualmente, como uma parceria do

Ministério da Saúde com as secretarias estaduais e municipais de saúde

devendo beneficiar aproximadamente quatro milhões de usuários num projeto

piloto desenvolvido em 44 municípios (BRASIL, 2002b;2002c).

Essa estratégia, apesar de prometer a resolução das conflituosas

relações intermunicipais quanto ao ressarcimento por atendimentos prestados,

mais uma vez, geradas em torno da questão dos recursos, permanece em

situação virtual para a maior parte dos municípios brasileiros. Muitos deles

com o processo de cadastramento iniciado permanecem à espera de

implementação.

Em 1997, o Ministério da Saúde formula um conjunto de medidas

para a melhoria dos indicadores de saúde no país, apontando para a

necessidade de parcerias na construção de políticas públicas, nas quais inclui a

criação de consórcios, desde que estes sejam coordenados pelos estados e

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que pretendam integrar na gestão plena os municípios de regiões

metropolitanas (BRASIL, 1997b).

Diante da heterogeneidade dos municípios, espelhada na

incapacidade de alguns e na transformação de outros em pólos de atração

regional, cria-se a Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS-SUS,

editada em 2001, a qual propõe um processo de regionalização que contempla

a lógica de planejamento integrado para identificação de prioridades de

intervenção em novos “sistemas funcionais de saúde”. Para isto, deve ser

elaborado um Plano Diretor de Regionalização, no qual as Secretarias

Municipais de Saúde, junto à Secretaria Estadual, construam proposta de fluxo

de referência e contra-referência ideais para ampliação do acesso à assistência

de média complexidade.

Essa norma pretende ampliar as responsabilidades dos municípios

conferindo qualidade à Atenção Básica e fortalecendo a capacidade de gestão

do SUS, com novos critérios de habilitação dos estados e municípios: Gestão

Plena da Atenção Básica Ampliada e Gestão Plena do Sistema Municipal.

Enfatiza os avanços no processo de programação integrada e o fortalecimento

do controle e avaliação.

Agora, cabe às Secretarias Municipais o compromisso no

atendimento à população referenciada por outros municípios aos

estabelecimentos localizados em seu território. Aos gestores estaduais cabe a

coordenação do planejamento global no seu âmbito de ação, bem como a

responsabilidade sobre a atenção de alta complexidade, junto ao Ministério da

Saúde.

As recomendações ora apresentadas, por seu lançamento ainda

recente, estão em fase de implantação, sendo já encaminhadas em todos os

estados brasileiros, com a pactuação das três esferas de governo. Esta

pactuação tem já, como produto, a edição da NOAS-SUS 01/2002, com

revisões e aprofundamentos das estratégias de ação apresentadas para a

regionalização da assistência à saúde na norma anterior (BRASIL, 2002d).

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Em avaliação do processo de implementação da NOAS/2002, nos

estados, a Comissão Intergestores Tripartite informa que, até meados do ano

de 2002, oito estados foram habilitados à Gestão Plena do Sistema e um à

Gestão Avançada do Sistema Estadual. Dentre os dezenove estados que estão

movimentando-se com relação à norma, oito encontram-se ainda sem

perspectivas, e dois já encaminharam seus cronogramas ao Ministério da

Saúde. A conclusão do colegiado é que a movimentação política dos estados,

pela proximidade das eleições, tende a estancar esse processo. Passando-se à

segunda fase de sua implementação, a NOAS/2002 tem, na Secretaria de

Assistência à Saúde (SAS/MS) a preocupação com a urgência na condução do

processo, tendo em vista os prazos estipulados para a redução automática de

repasses financeiros para a Atenção Básica (BRASIL, 2002a).

De modo geral o que tem ocorrido é uma pulverização dos serviços

de saúde, pelo vasto e heterogêneo universo de municípios, com capacidades

e recursos tão variados que os impede, muitas vezes, de suportar os novos

encargos e responsabilidades (JUNQUEIRA, 1997; GUIMARÃES NETO et al.,

1999; HEIMANN et al., 2000; MENDES, 1998; NEVES, 2000; TOBAR, 1991).

A reduzida autonomia financeira de alguns municípios, resulta da

baixa capacidade que têm, na arrecadação de impostos, somada à

dependência das transferências de recursos federais. Estas restringem as

condições municipais de governabilidade do SUS, pois assim, os municípios

renunciam à possibilidade de compor seu próprio modelo assistencial. Isso

implica na parcela de responsabilidade que têm os municípios, ao endossar,

junto à União, uma lógica de descentralização econômica que tende a diminuir

o gasto público (ARAÚJO, 2001).

Mas, quando superam a condição de prestadores e assumem a de

gestores, os sistemas municipais tornam-se alvo de maior valorização

financeira pelo nível federal. Uma atenção voltada para a participação social,

na qualificação de Conselhos de Saúde e a adoção se recomendações das

Conferências de Saúde, bem como a implementação pactuada de planos de

cargos, carreiras e salários, são exemplos de como os municípios podem

dispor de recursos financeiros e humanos, e o fazem, consolidando sua rede

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municipal de serviços, sem a necessidade de esperar por políticas verticais

(HEIMANN et al., 2000).

Além disso, a iniciativa municipal de organizar consórcios de saúde

traz, para seus livres associados, uma baixa normatividade aliada a ganhos

simétricos (RIBEIRO e COSTA, 2001).

1.4 A Municipalização Atomizada e a Perspectiva

Intermunicipal no SUS

Segundo Guimarães Neto, Porsse e Soares (1999), a

descentralização pela via da municipalização tem dividido as opiniões em dois

pólos. De um lado, sustenta-se que ela é favorável porque promove a

redistribuição dos recursos públicos no país valorizando a atuação do poder

público municipal, sendo aquele mais próximo às reais necessidades de cada

comunidade. Por outro lado, a municipalização pode significar ineficiência e

clientelismo, incorrendo em risco de irresponsabilidades das instâncias locais,

quando se trata de recursos.

Na opinião de alguns autores, a municipalização, na forma que tem

sido implementada, cria sistemas locais sem equidade ou resolutividade e,

além disso, que dependem de transferências federais para sua manutenção

(ARAÚJO Jr., 1994; BRASIL, 2001; JUNQUEIRA, 1997; MENDES, 1998).

Outros autores já atentam ao fato de que a proliferação de

municípios pequenos (10 a 20 mil habitantes) tratada como um “bom negócio

político”, é um forte determinante da deterioração da qualidade e da

efetividade dos serviços, resultando em custos para a sociedade (BRASIL,

2001; CORDEIRO, 2001; GUIMARÃES NETO et al., 1999; JUNQUEIRA, 1997;

PINHEIRO, 1999; TOBAR, 1991).

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De acordo com Araújo Jr. (1994), o setor saúde brasileiro, em

formação, é centralizado e fragmentado em muitas instituições isoladas,

conduzindo ao desperdício de recursos, à exclusão e até à corrupção.

O autor atribui ao processo de municipalização em curso, no país,

um caráter de desconcentração, fortemente orientado pela tradição e cultura

centralizadora das instituições brasileiras, o que gera ligações estáveis entre

diferentes grupos de interesse e o poder central. Dessa forma, torna-se fácil

ao governo federal manipular o sistema de saúde, tendo em vista outros

objetivos, tais como o crescimento econômico e a legitimação política.

O movimento descentralizador das políticas sociais, no Brasil, traz

consigo o desenvolvimento da autonomia das esferas subnacionais de governo

e, portanto, a discussão sobre alternativas de gestão que compensem os

longos períodos de prática centralizada e também os efeitos adversos da

municipalização atomizada.

Assim, a necessidade de romper os limites territoriais dos

municípios torna-se um fato irreversível, seja pela regionalização como prática

de reorganização dos níveis secundário e terciário de atenção à saúde, seja

pela união de esforços municipais.

No campo das políticas sociais, a união de governos municipais ou

locais para solução de problemas comuns, tem sido tratada sob diversas

denominações. Entre estas, destacam-se: o Consórcio intermunicipal (BAHIA,

1997; MISOZCKY e BASTOS, 1998; CARNEIRO, 1992, 2000, 2001; COELHO e

VELOSO, 1997; CRUZ, 2001; FALCÃO, 2001; GUIMARÃES e GOMES, 2001;

INOJOSA, 2001; JULIÃO e BRAGA, 1998; KEINERT e ROSA, 2001; LAHÓZ e

BROCHI, 2001; LEITE et al., 2001; LIMA, 2000; MACHADO, 1998;

MANTOVANI, 2001; MELLO, 1997; MENDES, 1996, 1998, 2001; RIBEIRO,

1994; SALGUEIRO, 2000); a Cooperação intermunicipal (MOELLER, 2000;

SEIXAS, 2001; MOISÉS, 2001), a Articulação Intermunicipal (BRASIL, 2002e);

a Associação Intermunicipal, a Gestão Compartilhada (DANIEL e SOMEKH,

2001), a Rede de Cidades (INOJOSA, 2001; SOUZA, 2001); a Aliança

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(PINHEIRO, 1999); a Parceria (PINHEIRO, 1999); os Sistemas Locais (OMS,

1990); os Sistemas Microrregionais (MENDES, 2001); a Gestão Intermunicipal

(ARAÚJO, 2001); e a Gestão Descentralizada de Redes e Organizações

(RIBEIRO e COSTA, 2001).

A experiência Internacional de união intermunicipal para a prestação

de serviços públicos tem, na Alemanha, um dos exemplos mais bem-

sucedidos. Lá, os Kreise são unidades político-administrativas que reúnem

várias administrações de municípios de pequeno e médio porte, criadas

regionalmente, como um novo nível de governo (MELLO, 1997), e regidas

pelas mesmas normas do Direito Público e pela mesma Constituição Nacional a

que se submetem os entes estaduais e municipais (CARNEIRO, 2001).

Outras experiências internacionais podem ser apontadas. Na

Finlândia, os consórcios intermunicipais são previstos em lei nacional e

considerados como pessoas jurídicas de direito público. A Holanda e a Espanha

adotam tanto consórcios voluntários como compulsórios. Na França, cerca de

80% dos municípios têm menos de mil habitantes, e têm, geralmente, como

solução para a prestação de serviços os consórcios. A Constituição da Áustria

autoriza a criação de associações intermunicipais para a prestação de serviços

mediante autorização dos governos estaduais respectivos. Nos Estados

Unidos, existe, desde 1947, uma normatização rigorosa para o sistema de

venda de serviços entre municípios. Na Argentina, as Constituições de

algumas Províncias autorizam os municípios a constituírem consórcios e outros

organismos intermunicipais para a realização de serviços em vários setores.

No Canadá, a institucionalização da associação intermunicipal vigora desde

1937, sendo ativa em vários setores e reivindicando ações por parte do

governo federal e governos provinciais. No Líbano, é permitida, pelo governo

central, a criação de consórcios municipais, com personalidade jurídica e

finanças próprias. Em Marrocos, os consórcios intermunicipais também têm

personalidade jurídica e recursos próprios e estão sujeitos às mesmas leis

nacionais referentes aos municípios. Na Tunísia, os consórcios intermunicipais,

bem como as juntas comerciais municipais têm autonomia financeira para a

prestação de serviços públicos com a aprovação do Ministério do Interior. O

Japão (1898) e a Austrália (1982) possuem uma associação nacional voltada

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para a formação de consórcios intermunicipais, entre outras finalidades (Mello,

1997).

No Brasil, é aberto aos municípios o direito de agrupar-se, desde a

Constituição Federal de 1937, em seu Art. 29, ao dispor que:

“Os Municípios da mesma região podem agrupar-se para a instalação, exploração e administração de serviços públicos comuns. O agrupamento, assim constituído, será dotado de personalidade jurídica limitada a seus fins. (...) Caberá aos Estados regular as condições em que tais agrupamentos poderão constituir-se, bem como a forma de sua administração ”(BRASIL, 1937).

Ainda que abordada, desde aquele período, a união entre municípios

permanece vinculada, ao longo dos anos, à coordenação das ações municipais

pelos estados. Isto pode ser constatado na Constituição atual (1988), que

trata o assunto da seguinte forma, no seu Art. 25:

“Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum” (BRASIL, 1988).

No plano prático, experiências vêm sendo desenvolvidas desde a

década de 1960 (MISOCZKY e BASTOS, 1998). A gestão intermunicipal está

presente no setor político, econômico e social, destacando-se as seguintes

áreas de aplicação: construção, reparação e manutenção de estradas;

planejamento urbano e regional e micro-regional; gestão de resíduos sólidos;

coleta e disposição de lixo; abastecimento de água potável; implementação de

cadastros urbanos; planejamento ambiental e gestão do meio ambiente;

esgotamento sanitário e tratamento de esgotos; desenvolvimento agrícola;

alimentação e produção de alimentos; informática e apoio administrativo;

turismo; assistência social; indústria; educação; saúde; recursos humanos e

materiais; e construção civil (BAHIA, 1997; CARNEIRO, 2001; CRUZ, 2001;

DANIEL e SOMEKH, 2001; FALCÃO, 2001; INOJOSA, 2001; LAHÓZ e BROCHI,

2001; MANTOVANI, 2001; MELLO, 1997; MENDES, E., 1996; MISOCZKY e

BASTOS, 1998; MOELLER, 2001; MOISÉS, 2001).

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Quanto a sua aplicação no setor saúde, especialmente, na vigência

do SUS, dois estudos apresentam diferentes modalidades de gestão

intermunicipal.

Costa e Mendes (2001) usam a denominação de “gestão

descentralizada de redes e organização” e identificam três modalidades: os

consórcios, as microrregiões e a regionalização, via Programação Pactuada

Integrada e Comissões Intergestores. Os autores analisam experiências

ocorridas no país em cada uma das três modalidades, apontando vantagens e

limitações de cada uma delas.

Araújo (2002), por sua vez, usa a denominação de “Gestão

Intermunicipal de Saúde” e aponta a existência de quatro modalidades

diferentes de gestão intermunicipal. A primeira delas, as instâncias de

negociação intergestores e planejamento integrado, instituídas pela esfera

federal do SUS, com a NOB 01/93. A segunda forma constitui-se nos Sistemas

Locais de Saúde (SILOS), os quais são desencadeados no Brasil pela

Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) desde 1980 e implementados,

na prática, sob a forma de Distritos Sanitários. Apesar de predominar a

aplicação dessa estratégia entre microrregiões de um mesmo município,

aplicar-se-ia, também, em relações entre municípios vizinhos. A terceira

modalidade desenvolve-se a partir de orientação do Programa Nacional de

Microrregionalização, de onde alguns estados realizam projetos de governo

baseados na regionalização e hierarquização da assistência. Cria-se um

agrupamento de municípios de acordo com características geo-econômicas e

epidemiológicas no qual incide um planejamento mais racional. A quarta

modalidade verificada é a experiência dos Consórcios Intermunicipais de

Saúde, desde a década de 1980, que, na sua maior parte, decorre de

iniciativas municipais, atuando como personalidade pública de direito privado,

mas que pode vir a acontecer num arranjo, sob a cooperação

institucionalizada entre estados e municípios.

Essa última modalidade é hegemônica na prática da gestão

intermunicipal no país, em diversos setores, inclusive o da saúde. Dessa

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forma, também é mais avaliada e polemizada pela literatura (BAHIA, 1997;

MISOCZKY e BASTOS, 1998; CARNEIRO, 1992; 2000; 2001; COELHO e

VELOSO, 1997; CRUZ, 2001; FALCÃO, 2001; GUIMARÃES e GOMES, 2001;

INOJOSA, 2001; JULIÃO e BRAGA, 1998; KEINERT e ROSA, 2001; LAHÓZ e

BROCHI, 2001; LEITE et Al., 2001; LIMA, 2000; MACHADO, 1998;

MANTOVANI, 2001; MENDES, E. 1996, 2001; RIBEIRO, 1994; SALGUEIRO,

2000).

Além disso, a legislação específica da saúde, no Brasil, desde a

instituição do SUS, em 1990, trata do assunto como um fato incontestável da

realidade:

“Art. 10 - Os municípios poderão constituir consórcios para desenvolver em conjunto as ações e os serviços de saúde que lhes correspondam”. § 1º Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o princípio da direção única, e os respectivos atos constitutivos disporão sobre sua observância.”(BRASIL, 1990 a).

“Art. 18 – à direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete: (...)VII – formar consórcios administrativos intermunicipais “(Id.)”.

Tendo por base a descentralização político-administrativa do

sistema, com direção única em cada esfera de governo, a partir deste

momento, faz-se reconhecer um novo nível de gestão – o microrregional –,

figurando entre os cinco níveis então explicitados pela referida Lei: federal,

estadual, microrregional, municipal e distrital. Assim, constata-se a

possibilidade da gestão pública das ações e serviços de saúde na forma

intermunicipal.

A referida Lei não dispõe sobre os consórcios de forma a

regulamentar sua estrutura e funcionamento, a não ser, no que diz respeito à

alocação de recursos do Fundo Nacional de Saúde e, portanto, numa

cooperação financeira intergovernamental:

“Art.2. Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão alocados como:

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(...) IV – Cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal. Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo destinar-se-ão a investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde” (BRASIL, 1990b).

“Art.3, §3º - Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execução de ações e serviços de saúde, remanejando, entre si, parcelas de recursos previstos no inciso IV do art. 2º desta lei" (Id.)

Desta forma, a legislação deixa grande margem de ambigüidade

quanto às responsabilidades das três esferas de governo em toda a

organização dos consórcios, a não ser, pelo discurso do Ministério da Saúde,

com a prerrogativa de que estes sejam coordenados pelos estados e que

pretendam integrar na gestão plena os municípios de regiões metropolitanas

(BRASIL, 1997).

Se no aspecto formal, os consórcios já se destacam como forma de

articulação intermunicipal, no aspecto doutrinário, as discussões sobre o

assunto indicam que a organização do SUS deve ser, essencialmente, regional.

"A organização do SUS é, do ponto de vista de sua

racionalidade, necessariamente intermunicipal, ou seja, a célula do sistema não são os municípios isolados, mas a região sanitária [...]. O grande desafio gerencial e técnico do processo de municipalização hoje é realizar a integração regional" (OLIVEIRA apud MENDES, 1998 p. 50).

“A governabilidade ampla do município (...) só

pode ser pensada e entendida a partir de um modelo assistencial de saúde integrado, hierarquizado, regionalizado e intercomplementar” (ASSIS, 1998 p.32).

Além disso, a maneira como o desenrolar da regulamentação do

SUS situa a gestão intermunicipal da saúde é condição fundamental para

orientar a interpretação do tema em questão. Desta forma, segue-se uma

análise das Normas Operacionais do sistema de saúde.

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A primeira delas – a NOB-SUS 01/91 –, contempla a gestão

intermunicipal quando se refere aos consórcios, como uma das etapas

passíveis de organização da cobertura ambulatorial, com o intuito de

promover a articulação e integração da assistência à saúde. Dispõe sobre a

estruturação de uma rede assistencial em torno de um município-pólo, o qual

deve ser ressarcido pelo atendimento das demandas de outros municípios que,

em comum acordo, se utilizam desta mesma rede. Isso, por intermédio do

então órgão federal coordenador – o INAMPS.

Os consórcios administrativos intermunicipais são apresentados,

nesta norma, como “acordos firmados entre entidades da mesma espécie,

para realização de objetivos de interesse comum dos partícipes”, dependendo

de autorização legislativa para funcionar, e com direção individual, indicada

pelos representantes de cada município participante. Aos mesmos, também se

aplicam todos os princípios e preceitos que regem os convênios passíveis de se

firmar com o governo federal (BRASIL, 1991).

A NOB-SUS 01/93, aborda a regionalização da assistência, que é

entendida como “articulação e mobilização municipal que leve em

consideração características geográficas, fluxo, e vontade política expressa

pelos diversos municípios de se consorciar ou estabelecer qualquer outra

relação de caráter cooperativo”.

Propõe o planejamento integrado através das Comissões

Intergestores, cujas principais funções incluem a viabilização compensatória

da circulação de autorizações para internações hospitalares (AIHs) entre os

municípios, considerando a existência de unidades de referência locais que

atendem municípios vizinhos.

A NOB 01/96 reconhece a necessidade da organização de redes

regionalizadas e hierarquizadas, constituídas de subsistemas municipais, os

quais podem manter estabelecimentos não necessariamente situados em seus

territórios, contanto que estejam garantidos, à população, o acesso e o

atendimento integral.

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Esta norma preocupa-se, explicitamente, com o risco de

“atomização” do SUS e o desenvolvimento desigual de municípios, retomando

o caráter universal do SUS:

“A criação e o funcionamento desse sistema municipal possibilitam uma grande responsabilização dos municípios, no que se refere à saúde de todos os residentes em seu território. No entanto, possibilitam, também, um elevado risco de atomização desordenada dessas partes do SUS, permitindo que um sistema municipal se desenvolva em detrimento de outro, ameaçando, até mesmo, a unicidade do SUS. Há que se integrar, harmonizar e modernizar, com eqüidade, os sistemas municipais” (BRASIL, 1997a p.8).

Neste documento, as Comissões Intergestores são corroboradas,

avançando no sentido das PPIs, instrumentos através dos quais os poderes

públicos estaduais mediam as relações entre os sistemas municipais:

“Os sistemas municipais de saúde apresentam níveis diferentes de complexidade, sendo comum estabelecimentos ou órgãos de saúde de um município atenderem usuários encaminhados por outro. Em vista disso, quando o serviço requerido para o atendimento da população estiver localizado em outro município, as negociações para tanto devem ser efetivadas exclusivamente entre os gestores municipais”.

“Essa relação, mediada pelo estado, tem como

instrumento de garantia a programação pactuada e integrada na CIB regional ou estadual e submetida ao Conselho de Saúde correspondente” (BRASIL 1997a. p.9).

Também é apresentado o Cartão SUS, como um recurso que visa ao

registro dos fluxos de atendimento como subsídio para o acompanhamento da

saúde das pessoas e o planejamento de ações de saúde pelos gestores,

possibilitando uma melhor referência intermunicipal (Ibid. p.15).

A NOAS-SUS 01/2001 traz uma revisão dos avanços mais

significativos ocorridos na organização de redes mais articuladas e resolutivas

de serviços no SUS. Dentre elas, estão a organização de consórcios

intermunicipais e os planos de regionalização, promovidos pelas Secretarias

Estaduais de Saúde (SES), de acordo com as normas anteriores. Além disso, o

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documento coloca em evidência a existência de uma série de entraves

políticos e operacionais à consolidação do SUS, principalmente no tocante às

administrações municipais.

“Os estados, e mais ainda os municípios, são

extremamente heterogêneos e será sempre mera casualidade que o espaço territorial-populacional e a área de abrangência político-administrativa de um município correspondam a uma rede regionalizada e resolutiva de serviços com todos os níveis de complexidade, ou mesmo que esta se localize dentro de um estado sem exercer poder de atração para além de suas fronteiras legais” (BRASIL, 2001b p.28).

O documento registra a existência de municípios pólos de atração

regional, em todo o território nacional, e propõe um processo de

regionalização que seja responsável pela organização de “sistemas funcionais

de saúde”, fazendo referência às redes microrregionais.

A implementação da norma implica em criar novas regiões de saúde

diversas daquelas oriundas da divisão administrativa do estado. A delimitação

proposta segue características demográficas, sócio-econômicas, geográficas,

sanitárias, epidemiológicas, oferta de serviços, relações entre municípios,

entre outras. Com a possibilidade destas se dividirem em microrregiões, a

base territorial definida para o planejamento regionalizado da saúde, vem

constituir-se de módulos assistenciais, formado por um ou mais municípios,

dentre os quais, destaca-se um município-sede. Este deve estar capacitado a

ofertar a totalidade de serviços com suficiência para a população do conjunto

de municípios a ele vinculados. Destaca-se, ainda, a condição de município-

pólo, como aquele que apresenta o papel de referência para outros municípios

em qualquer nível de atenção (BRASIL, 2001b).

No campo prático, Lima (2000) observa que, durante a década de

90, os consórcios surgem maciçamente, destacando-se entre as diversas

formas de gestão intermunicipal.

Essas experiências retratam as iniciativas municipais de

racionalização do sistema vigente, visto que as propostas de pactuação

intergovernamentais dispostas nas normas regulamentares do SUS, bem como

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a forma de repasse dos recursos instituídos na legislação de saúde, não têm

funcionado efetivamente. Nesse processo, a autora verifica que 75% dos

consórcios criados naquela década contam com a participação da Secretaria

Estadual de Saúde na sua constituição.

Os consórcios intermunicipais de saúde, como forma inovadora de

gestão têm, como principais vantagens: estruturar a rede básica; evitar

grandes deslocamentos da população para atendimento; viabilizar e agilizar o

acesso dos usuários do SUS à sua máxima tecnologia; promover a

integralidade das ações; reduzir a ociosidade de vários equipamentos; facilitar

a troca das mais diversas experiências entre os municípios; promover maior

articulação entre prefeitos e gestores municipais de saúde; favorecer a

captação de recursos para a região; permitir a uniformização e o

aprimoramento da política de recursos humanos; facilitar a elaboração de

programação orçamentária e planos municipais de saúde com linhas básicas

de ação semelhantes; otimizar os mecanismos de referência e contra-

referência; permitir o desenvolvimento conjunto de avaliação e controle de

ações e serviços; maximizar a utilização dos recursos, inclusive com processos

licitatórios comuns (MISOCZKY e BASTOS, 1998; COELHO e VELOSO, 1997;

LIMA e PASTRANA, 2001).

Alguns autores apresentam como características gerais dos

consórcios: surgimento espontâneo, a partir das necessidades apontadas pelos

municípios; composição dos agrupamentos, em sua maior parte, por

municípios de pequeno porte; constituição como sociedade civil de direito

privado, sem fins lucrativos; criação com o objetivo de organizar, hierarquizar

ou ampliar a oferta de serviços de atenção secundária e terciária; estruturação

com base em Conselho de prefeitos, Conselho Fiscal ou Curador, e Secretaria

Executiva; tendência à formação de Conselho Intermunicipal de Saúde;

financiamento decorrente de recursos federais, na lógica do SUS, além de

municipais, deliberados pelo conjunto de membros (GUIMARÃES e GOMES,

2001; LEITE et al., 2001; LIMA, 2000; MENDES, E. 1996; MENDES, A. 2001;

RIBEIRO, 1994).

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O panorama da distribuição atual dessas experiências, no país

(QUADRO Nº 01) mostra que se realizam, de fato, em grande quantidade

(141), principalmente na região Sudeste, onde surge com mais apoio estadual

(GUIMARÃES e GOMES, 2001).

QUADRO Nº 01 - EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS

CONSÓRCIOS DE SAÚDE POR ESTADOS - BRASIL – 1985 a 2000.

ESTADOS 1985

(1) 86 89 90 91 92 93

94

(2)

95

(1)

96

(1)

97

(2)

98

(2)

99

(3)

2000

(4)

NORTE 02 01 01 Rondônia — — — — — — — — — — — 01 — — Pará — — — — — — — — — — — 01 01 01 NORDESTE 01 10 10 10 Bahia — — — — — — — — — — — — 02 02 Rio Grande do Norte — — — — — — — — — — — — 01 01 Paraíba — — — — — — — — — — 01 10 07 07 CENTRO-OESTE 01 01 03 09 10 09 Goiás — — — — — — — — — — — 03 01 01 Mato Grosso — — — — — — — — 01 01 03 06 09 08 SUDESTE 01 02 02 01 01 01 06 29 20 82 88 94 91

Espírito Santo — — — — — — — — — — 05 07 07 10 Minas Gerais — — — — — — 01 02 28 20 63 71 72 70 Rio De Janeiro — — — — — — — 02 — — — 01 04 04 São Paulo 01 02 02 — 01 01 — 02 01 — 14 09 11 07 SUL 01 04 04 05 07 23 38 38 30

Paraná — — — — — 01 03 03 05 03 16 20 20 18 Rio Grande do Sul — — — — — — 01 01 — — 02 09 09 03 Santa Catarina — — — — — — — — — 04 05 09 09 09

TOTAL 1 2 2 — 1 2 5 10 35 28 109 147 153 141

FONTE: (1)1985 a 1993; 1995, 1996 - Lima, 2000 ; (2) - Guimarães e Gomes, 2001; (3) - Lima, OPAS 2000; (4) - Lima e Pastrana, OPAS, 2000

São Paulo, por sua tradição no associativismo, desenvolve o

primeiro consórcio, em 1985, com sede no município de Penápolis (GONTIJO

et al., 1994; LIMA, 2000; RIBEIRO e COSTA, 2000), mas, com o passar dos

anos, a prática vai gradualmente à falência, devido a insustentabilidade

financeira do sistema em contínua dependência da Secretaria Estadual de

Saúde (EHEALTHLA, 2002).

Em Minas Gerais, tem crescido a importância dos consórcios, ao

longo do tempo, com o apoio do governo estadual e a parceria de Instituições

de Ensino Superior em alguns casos, tal como a primeira experiência,

desenvolvida em 1993. Nacionalmente, é o estado onde se verifica a maior

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parte das experiências (COELHO e VELOSO, 1997; EHEALTHLA, 2002;

GUIMARÃES e GOMES, 2001; MACHADO, 1998; MINAS GERAIS, 1999).

No Sul do país, grande parte dos municípios paranaenses tem se

dedicado à prática, sendo o maior exemplo de organização para a região

(KEINERT e ROSA, 2001; GUIMARÃES e GOMES, 2001; PARANÁ, 1996;

RAGGIO e GIACOMINI, 1996).

Na região Centro-Oeste, Mato Grosso é o estado que mais presta

serviços por meio de consórcios, com bastante experiência já acumulada

(MATO GROSSO, 2000,2001a; 2001b, 2002; MÜLLER NETO, 2002).

As regiões Norte e Nordeste, no entanto, têm permanecido à

margem da implementação desta prática, tendo em vista as dificuldades que

impõe a política partidária, nestas regiões, o que tende a desacelerar o

processo, ainda que não o impeça (LIMA, 2000; GUIMARÃES e GOMES, 2001),

como se vê nas experiências desenvolvidas na Bahia, Paraíba e Rio Grande do

Norte.

Na identificação das dificuldades de implementação dos consórcios,

Misoczky e Bastos (1998) apontam que, em primeiro lugar, surgem aquelas de

caráter estrutural e funcional. Assim, ocorrem falhas no repasse de recursos

pelos municípios consorciados e por outros entes governamentais; deficiências

no planejamento estratégico; omissão de apoio técnico pelo gestor estadual; e

pouca utilização dos sistemas oficiais de informação para subsidiar o

planejamento e as ações (LIMA e PASTRANA, 2001).

Outros problemas identificados têm caráter político, relacionando-

se, principalmente, à desarticulação entre municípios devido a: dificuldades

financeiras; desinteresse pela prática associativa; falta de integração regional;

e falta de análise crítica sobre a não atuação do gestor estadual (MIZOCSKY e

BASTOS, 1998).

Alguns autores ainda chamam a atenção para a dificuldade de

sustentabilidade política dos consórcios, enquanto fruto da rivalidade político-

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partidária que os torna vulneráveis às mudanças de governo (BAHIA, 1997;

JULIÃO e BRAGA, 1998; RIBEIRO, 1994).

Para Misoczky e Bastos (1998), há, também, a falta de

entrosamento com a máquina administrativa das prefeituras e a desarticulação

com o governo estadual, esta última relação, muitas vezes necessária, para

uma coordenação, sem ferir a autonomia municipal. Para os autores, a

desarticulação com empresas privadas e O.N.G.s, por sua vez, representa um

déficit em apoio financeiro e equacionamento adequado de problemas

específicos.

Segundo Lima e Pastrana (2001), o próprio processo de

implementação do SUS desfavorece os consórcios, pela incompreensão do

gestor federal e gestores estaduais, os quais ausentando-se da regulação

sobre esta prática deixam vulneráveis os critérios de utilização de recursos

públicos e a prestação de contas. Além disso, observa-se que a participação

dos Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde nas atividades de

monitoramento e fiscalização do processo de consorciamento é ainda,

incipiente.

Muitos desses consórcios funcionam com delicado equilíbrio

financeiro, dependendo fortemente dos níveis estadual e federal para

sustentarem-se (RIBEIRO, 1994; EHEALTH, 2002).

Em alguns casos, há uma compra de serviços ao sistema privado,

num processo de barganha de preços menores que os da prática do mercado

(LIMA e PASTRANA, 2001). Muitas vezes, por pressão das corporações

profissionais (MIZOCSKY e BASTOS, 1998) esse processo dá margem a uma

cobrança ilegal dos pacientes pela prestação destes serviços.

Dentre as críticas dirigidas aos consórcios, Mendes (1998) afirma

que surgiram de maneira forçada e “anárquica”, e Cordeiro (2001) acredita

que tendem a apresentar, em médio prazo, um sucesso questionável e até

mesmo resultados desastrosos.

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Na prática, as relações intermunicipais continuam sendo vistas como

um problema gerencial do SUS (BRASIL, 2001), e tratadas, simplesmente,

como um mecanismo de referência e contra-referência entre municípios. De

maneira ainda mal resolvida, produz ainda o que muitos chamam de “invasão

de pacientes dos outros municípios” (HEIMANN et al., 2001 p.94).

1.5 Uma Proposta de Estudo de Gestão Intermunicipal

de Saúde

O olhar a que se propõe este trabalho busca identificar os atores e

interesses em jogo na discussão que vem a embasar a constituição de uma

proposta de gestão intermunicipal.

O ator social, segundo Matus (1987), é a personalidade ou

organização que possui um projeto; controla recursos relevantes; participa do

processo de produção social; tem presença forte e estável no sistema; e é

capaz de atrair um coletivo social com suas idéias.

Este pode ser individual ou coletivo, mas sempre justificado por

possuir interesses no setor político em questão e ocupar uma posição de peso

dentro do mesmo.

É possível identificar comportamentos diversos entre os atores que

participam do processo de descentralização das políticas de saúde no país.

No plano nacional, referindo-se à discussão sobre recursos

financeiros, Vianna e Piola (1991) identificam seis atores. Primeiro, o

Ministério da Saúde, a quem não interessa ceder poder político; os

parlamentares, que se vêem excluídos de exercer sua função legítima de

intermediação no processo automático de repasse de recursos instituído; as

secretarias estaduais de saúde, cujas atribuições não se expressam

claramente na lei Orgânica da Saúde, perdem espaço, diante da política

polarizada entre as secretarias municipais e o Ministério da Saúde; o

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empresariado setorial não vinculado ao SUS, que trabalha com o objetivo de

manter a segurança de sua liberdade de expansão no mercado; o setor

privado integrante do SUS, ao qual já interessa a negociação de preços com

apenas um interlocutor; e as corporações profissionais, que lutam para

assegurar a estabilidade conquistada historicamente.

No plano municipal, determinados atores vêem certas vantagens

como, por exemplo, prefeitos, vereadores e deputados que começam a fazer

parte das arenas decisórias da política de saúde. Estes podem passar a

implementar inovações ou reafirmar antigas formas de prover serviços apenas

com a perspectiva eleitoral, já que o setor é considerado, hoje, como um

grande depositário de votos (VIANA, 1998).

A atuação dos atores, disposta dessa forma, leva à discussão sobre

o seu poder dentro do sistema. Atualmente, este é considerado uma das

variáveis fundamentais em todos os setores de estudo da política. Nos

sistemas políticos nacionais e locais, o enfoque do poder passa pela natureza e

composição das elites políticas e das relações que existem entre elas e outros

setores da população (BOBBIO et. al, 1992).

Testa (1995), referindo-se ao caso da saúde, define, como os tipos

principais de poder: o técnico, o administrativo e o político, justificando que

“cada um deles é uma capacidade de um indivíduo, grupo social, instituição”

(TESTA, 1992 p.118).

Considerando o tema em questão, é imprescindível concentrar a

discussão sobre o poder político, pois, dada sua preponderância nas relações

sociais, esse tipo de poder

“tem a sua disposição uma gama ampla de recursos de tipo muito distinto que as diversas circunstâncias das conjunturas sociais definem e que incluem os votos, as filiações, as discussões em âmbitos decisórios – o parlamentário, por exemplo –, as mobilizações, o apoio de grupos sociais, a pressão que se pode exercer em forma corporativa – o lobbysmo –, a violência” (TESTA, 1995 p.38).

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Dessa forma, o poder político faz-se presente nas mais diversas

situações que requerem mudanças, sejam elas benéficas a toda sociedade ou

somente a uma parte dela.

De acordo com Moreira Neto (1992) o poder não se encontra

institucionalizado somente no Estado, e este não foi a primeira instituição

política, e nem será a última a detê-lo.

Conseqüentemente, em toda sociedade, evidencia-se o embate de

forças de toda ordem, que atuam com maior ou menor poder, frente umas às

outras.

Segundo o mesmo autor, na relação entre os poderes, a autonomia

de cada um deles é considerada num contexto dinâmico:

“Se ambos têm condições de utilizar plenamente

seus meios na prossecução de seus objetivos, sem restrições nem limitações, temos uma relação de independência.

“Se um ou ambos, estão impossibilitados de

empregar plena e irrestritamente seus próprios meios, temos uma relação de dependência” (MOREIRA NETO, 1992 p.184).

O autor conclui, portanto, que numa relação interpessoal qualquer,

não há possibilidade de existir identidade de poderes em cada pólo da relação.

Assim, nenhuma relação é, assim, absolutamente equilibrada.

Em decorrência disso, convém falar-se na existência de um sistema

hegemônico na sociedade política, cujas relações de cooperação são muito

intensas dentro de um mesmo grupo social, sendo estas equilibradas pela

dependência ao superior poder do Estado-líder (MOREIRA NETO, 1992).

Isto se constata, por exemplo, no sistema oligárquico, presente no

país, desde sua colonização, através dos grupos de parentela orientados pelos

coronéis governantes.

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Trazendo a discussão para o setor saúde, Viana (1998) identifica

uma tríade hegemônica no nível local, composta por partidos políticos,

médicos e prestadores de serviços privados, os quais se revezam em

disputa pelo poder, como líderes e gestores ora da situação, ora da oposição.

Em segundo plano, aparecem outros atores, como os trabalhadores

de saúde, organizados corporativamente, por categorias profissionais, ou por

atividade/emprego no funcionalismo público. Também os usuários, podem

atuar de forma direta, por meio de seus movimentos sociais, ou

indiretamente, conforme a existência de representantes legítimos no

legislativo municipal, além do que podem também permanecer alheios aos

poderes que lhes são de direito.

Agregado a isso, Neves (2000) aponta que os projetos políticos vêm

sofrer alterações em função de relações estabelecidas com os poderes

econômicos e sociais.

“Embora o município como instância local de governo e administração, possa exercer um papel central e privilegiado na configuração e no exercício do poder local, esse poder não é só detido por ele, mas se espraia pela rede de relações sociais que existe em sua jurisdição territorial, e é partilhado por uma multiplicidade de atores e organizações com diferentes e, às vezes, contraditórios interesses, valores e formas de atuação“ (NEVES, 2000 p.15).

Além do mais, há toda uma conjuntura que extrapola o nível

municipal, seja por influência de atores de nível estadual, regional ou federal,

seja por crises políticas ou econômicas. Nisto consiste o fato de que o território

de um município pode ser maior ou menor do que o visualizado, podendo,

muitas vezes, compreender vários municípios, implicando a necessidade de

articulações intergovernamentais.

Tendo em vista que, quando se fala nas relações entre poderes,

estão subentendidas relações entre os interesses dos atores envolvidos

(MOREIRA NETO, 1992), o estudo destes últimos também tem, aqui, uma

grande importância.

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Os interesses dispostos nessa discussão refletem, tanto uma

percepção quanto a existência real de fatores que venham afetar o ator social

em situação (NOGUEIRA e NUNES, 1993).

Em processos de mudanças, tais como a descentralização da saúde

no Brasil, é preciso “conhecer os interesses e conflitos que aparecem nas

diversas forças sociais que se encontram em relação como setor” (TESTA,

1995). Assim, na política, de uma forma geral, podem transparecer ou

ocultarem-se as motivações e explicações da consciência de um ator, nos

diversos momentos de constituição da agenda pública.

De acordo com o mencionado acima, cabe, aqui considerar como de

maior importância, no conjunto dos interesses inerentes ao projeto de gestão

intermunicipal de saúde, os seguintes princípios do SUS:

A universalidade do acesso é considerada como “garantia a todo e

qualquer cidadão do direito ao acesso a todos os tipos de serviços públicos de

saúde, sejam eles estatais, privados, conveniados ou contratados pelo SUS”

(CARVALHO e SANTOS, 1992 p. 74).

O acesso aos serviços de saúde, por sua vez, relaciona-se à

obtenção da atenção à saúde, avaliando-se: a disponibilidade de recursos de

saúde; a capacidade da rede de serviços; os obstáculos à obtenção da

atenção; e as características da população a qual se dirige a atenção

(GIOVANELLA e FLEURY, 1996).

Regionalização, apontada como princípio organizativo, é entendida

como a “distribuição espacial de serviços de saúde, de qualquer nível de

complexidade, organizados para atender à população de uma região”

(CARVALHO e SANTOS, 1992).

Hierarquização de serviços implica em prover os mesmos à

população através de uma rede conformada em níveis de complexidade

tecnológica crescentes (IBAM, 1991).

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Os serviços devem ter, ainda uma resolutividade própria, ou seja,

“A exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência” (IBAM, 1991 p.14).

A descentralização, conforme discussão realizada anteriormente,

consiste numa redistribuição do poder decisório, dos recursos e das

competências quanto ás ações e serviços de saúde entre os vários níveis de

governo.

Além destes princípios, a Lei Orgânica do SUS ainda recomenda a

participação complementar dos serviços privados de assistência à saúde. Essa

complementaridade implica na celebração de contratos ou convênios com

serviços privados no caso de insuficiência do setor público (IBAM, 1991).

Tendo por base o disposto acima, uma aproximação do contexto de

estudo destaca que as principais vias de acesso ao poder, no interior do país,

até pouco tempo, eram: a herança, o casamento e o comércio (QUEIROZ,

1976). Isso também pode ser verificado no sertão pernambucano.

Aliado a estes fatores, o uso da máquina pública, com a adoção da

política assistencialista paternalista e clientelista são os elementos que

possibilitam, enfim, a caracterização de sistemas hegemônicos constituídos

pela entrada e permanência de grupos familiares no cenário político local e

regional, como demonstram estudos de caso em diversos municípios (SOUSA,

2001).

Nesse novo sistema, Santana (1989), verifica que alguns municípios

tornam-se verdadeiras propriedades das grandes famílias.

Outro fator observado é que, numa localidade onde vigora uma

política coronelista, o líder político torna-se um “atravessador” do exercício da

política como um empecilho à cidadania. Na realidade, é como se vê no

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processo de participação social da formulação de políticas públicas,

principalmente nos pequenos municípios.

No que concerne às políticas públicas sociais desenvolvidas no sertão

de Pernambuco, dentre elas a de saúde, historicamente, ocorrem casos em

que a capacidade técnica do grupo familiar que controla o sistema local alia-se

à sua generosidade.

“O grupo passou a investir em educação, saúde, saneamento, infra-estrutura, irrigação, comércio e indústria, aliada às relações afetivas, de trocas” (SOUSA, 2001, p.294).

“Se incutiu na população, não só a percepção de que o grupo é o maior impulsionador do desenvolvimento da região e constituído por administradores públicos capazes, mas também que é um grupo generoso, bondoso, que não se nega a atender as demandas prementes da população carente, muitas delas através de partidários/cabos eleitorais” (Id.).

Atualmente, as lideranças locais estão readaptadas ou adequadas às

novas conjunturas, sejam elas a industrialização, a proliferação partidária, a

urbanização ou a democratização dos serviços públicos. Assim, a ampliação

dos aparelhos públicos dilui sua autoridade por outros atores. Pode-se ver,

agora, em determinados segmentos dos funcionários públicos, a imagem dos

novos coronéis, com o mesmo paternalismo e clientelismo.

Considera-se, a partir do exposto, que este estudo aborda o poder

político no setor saúde, numa microrregião em que, historicamente, está

sedimentada uma forma coronelista, clientelista e assistencialista de fazer

política. Isso vem a ser analisado em meio a uma proposta, levada à discussão

na microrregião, sobre constituição de uma gestão intermunicipal de saúde

para a atenção de média complexidade, como forma de resolver a necessidade

microrregional ilustrada pelo fluxo contínuo de pacientes a longas distâncias,

na procura por atendimento.

Tendo em vista a iniciativa de propor o tema partir de um dos

secretários municipais de saúde, cujo município assume a posição de pólo

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microrregional, e assim, tem grande afluência de usuários à sua rede de

serviços de saúde, verifica-se a possibilidade de co-existirem forças favoráveis

e contrárias à continuidade da situação. Esta, no entanto, vem a ser definida

de acordo com a autonomia dos governos municipais em jogo e também

mediante a posição do gestor estadual. Além destes, não se pode negar a

influência oligárquica e o empreendedorismo da rede privada na microrregião.

Em referência às questões centrais levantadas inicialmente e tendo

em vista a tríade hegemônica atuante no setor saúde local, o estudo propõe-

se a analisar a relação entre os interesses dos atores envolvidos na discussão

sobre gestão intermunicipal de saúde e os princípios norteadores do SUS na

microrregião de Salgueiro do Estado de Pernambuco.

Para tanto, foi necessário caracterizar o contexto social, político,

econômico e sanitário da microrregião; identificar os recursos e interesses dos

atores envolvidos no processo de reorganização das ações e serviços de saúde

da microrregião; e estabelecer relações entre os princípios do SUS e os

interesses contemplados na discussão sobre gestão intermunicipal de saúde.

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222... SSSUUUJJJEEEIIITTTOOOSSS EEE MMMÉÉÉTTTOOODDDOOOSSS

O presente estudo tem o caráter de um estudo exploratório de caso

(TRIVIÑOS, 1987; RICHARDSON et all, 1999), já que aborda um tema cujo

conhecimento tem diversos caminhos ainda pouco sistematizados.

A pesquisa, neste caso, é qualitativa (DEMO, 1995), tendo em vista

as especificidades exigidas no tratamento metodológico que procura elucidar

uma realidade social, necessitando de um olhar crítico político e da produção

do conhecimento através do método do diálogo.

Como requer tal abordagem, a amostra deve conter características

de representatividade que possibilitem o aprofundamento e a abrangência da

compreensão da realidade de um grupo social (MINAYO, 1999).

A amostra utilizada foi, assim, definida intencionalmente, por:

privilegiar os sujeitos sociais cujos atributos pretende-se conhecer; ser

considerada em número suficiente para permitir tanto a reincidência como a

singularidade de informações; admitir diversificação dentro do conjunto de

atributos de homogeneidade relativos ao objeto da pesquisa; e conferir

viabilidade à obtenção de informações relevantes à investigação (Id.).

Considerando o dito acima, escolheu-se tratar com os secretários

municipais de saúde por serem a personalidade municipal que deveria deter o

poder político no setor saúde, e assim, sendo o principal responsável pelo

desenrolar da discussão sobre gestão intermunicipal.

O processo de adesão dos sujeitos à pesquisa se deu conforme

assinatura do Termo de Consentimento (ANEXO Nº 01) dirigido àqueles

gestores a quem interessaria um envolvimento na discussão em questão.

Assim, do total de sujeitos pretendidos a integrar a amostra, apenas um foi

excluído, por recusa, desde o momento inicial da pesquisa.

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A área designada para exploração foi chamada de Microrregião de

Salgueiro, devido à indicação partir deste município num momento anterior,

estando localizada em meio a duas Mesorregiões do Estado de Pernambuco: o

Sertão Pernambucano e o São Francisco Pernambucano.

Pelo fato de haver grande diversidade de recortes da área a qual o

estudo se refere, faz-se necessário explicar os critérios de sua delimitação.

Primeiramente, sabe-se que o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) define uma divisão do território nacional em macro, meso e

micro regiões até situar os estados e municípios que as integram.

A atual delimitação do Sertão em microrregiões vigora desde 1968, à

época da institucionalização da divisão territorial do Estado de Pernambuco.

Essa, como resultado de estudos geo-econômicos desenvolvidos pelo IBGE

considera como critérios de homogeneidade: as condições climáticas; o

processo de ocupação e utilização do solo; e o grau de urbanização dos

municípios. Neste traçado, figura a Microrregião de Salgueiro, caracteríizada

por situar-se numa área propícia a grande aglomerado populacional, em torno

do município de Salgueiro (Pernambuco, 2001a).

O Governo do Estado de Pernambuco – Gestão 1999 - 2002, através

da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento (SEPLANDES), por sua vez,

cria as chamadas “Regiões Administrativas de Desenvolvimento do Estado”.

Estas são desenhadas tendo por base a existência de municípios-pólo de

desenvolvimento em áreas diversas da economia. O município de Salgueiro

vem a se constituir num dos 11 pólos do Estado, e sede da Região de

Desenvolvimento Nº 11, que corresponde ao Sertão Central (PERNAMBUCO,

2001).

No campo da política estadual de saúde, também é necessária uma

delimitação, seguindo as demandas epidemiológicas de cada canto do estado,

o que confere a Salgueiro a sede da 7ª Diretoria Regional de Saúde

(PERNAMBUCO, 1990).

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O estudo “Identificação e Caracterização dos Aglomerados de Saúde

do Estado de Pernambuco”, desenvolvido pelo Núcleo de Economia Social,

Urbana e Regional da Universidade de Campinas, identifica nove municípios

em torno de um Aglomerado de Saúde, caracterizado pelo volume de

internações hospitalares que o município de Salgueiro recebe (UNICAMP,

2000).

A pesquisa "Análise Situacional e Proposições para o Processo de

Municipalização da Saúde em Pernambuco", desenvolvida pelo Laboratório de

Apoio à Municipalização da Saúde do NESC/CPqAM/FIOCRUZ teve sua

contribuição decisiva na definição desta área.

A partir dos resultados de suas oficinas locais, o gestor municipal de

saúde de Salgueiro aponta a intenção de “lançar e consolidar politicamente a

idéia de desenvolver consórcio intermunicipal de saúde na microrregião”

(Salgueiro, 2000). Ao mesmo tempo em que define um conjunto de municípios

cujo fluxo assistencial teria como epicentro o município de Salgueiro.

Observa-se que as composições microrregionais que abordavam o

fluxo local de assistência à saúde para o município de Salgueiro guardavam

uma certa coerência com aquelas que justificavam a atração de outros

municípios, por critérios geográficos, políticos ou econômicos (QUADRO Nº

02). QUADRO Nº 02 - Microrregião de Salgueiro segundo critério de

Planejamento de ações e serviços de saúde

Nº Microrregião de Salgueiro

(1)

Região de Desenvolvimento

(2) VII DIRES (3) Aglomerado

de Saúde (4) Microrregião de Salgueiro (5)

01 Cedro Cedro Belém de São Francisco Belém de S. Francisco

Belém de São Francisco

02 Mirandiba Mirandiba Carnaubeira da Penha

Cabrobó

Cabrobó 03 Parnamirim Parnamirim Cedro

Cedro

Carnaubeira da Penha 04 Salgueiro Salgueiro Floresta

Mirandiba

Cedro

05 São José do Belmonte

São José do Belmonte

Itacuruba

Parnamirim

Mirandiba

06 Serrita Serrita Mirandiba

Salgueiro

Parnamirim 07 Verdejante Terra Nova Salgueiro

Serrita

Orocó

08 Verdejante São José do Belmonte

Terra Nova

Salgueiro

09 Serrita

Verdejante

Serrita

10 Terra Nova

Terra Nova 11

Verdejante

Verdejante

TOTAL 08 08 11 09 11

FONTES: (1) FIDEM-PE, 2001; (2) SEPLANDES-PE, 2001; (3) SES-PE, 1991. (4) UNICAMP, 2000; (5) Salgueiro, 2000.

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Definida, como descrito, a Microrregião constitui-se de Salgueiro,

como o centro, e mais 10 (dez) municípios circunvizinhos que, segundo a

percepção do secretário municipal de saúde de Salgueiro, geram demandas

populacionais por ações e serviços de saúde inexistentes nas suas redes

locais. Os municípios que compõem esta microrregião são, portanto: Belém de

São Francisco, Cabrobó, Carnaubeira da Penha, Parnamirim, Cedro, Mirandiba,

Orocó, Salgueiro, Serrita, Terra Nova e Verdejante.

O trabalho ora apresentado é parte da pesquisa “Uma proposta

inovadora em micro-área do Sertão Pernambuco: contribuindo para a gestão

intermunicipal da saúde”, realizada pelo Laboratório de Apoio ao Processo de

Municipalização da Saúde do Departamento de Saúde Coletiva que pertence

ao Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – Fundação Oswaldo Cruz,

constituindo-se como um desdobramento do projeto antes referido.

Para apreensão da realidade desejada, foram aplicadas à coleta de

informações: o estudo documental, a entrevista semi-estruturada e a

observação participante. Essas técnicas constituíram um conjunto

complementar de ferramentas que proporcionaram á pesquisa uma

triangulação metodológica, através da combinação e cruzamento de

informações obtidas de múltiplos pontos de vista (DENZIN apud MINAYO,

1999 p. 241).

O estudo documental foi realizado, primeiramente, como um

suporte para a contextualização do estudo. A seguir, foram pesquisados

indícios que complementassem as informações obtidas pelos outros métodos.

Para tanto, houve um exaustivo levantamento de informações relevantes,

extraídas a partir de documentos da gestão municipal e regional de saúde, tais

como: Planos de Saúde; Relatórios de Gestão; Leis e Portarias; Atas de

Reunião; Relatórios de Conferências de Saúde; Mapas e plantas; Relações de

equipamentos da rede de saúde, entre outros.

A técnica de entrevistas semi-estruturadas foi utilizada para

descobrir determinadas experiências, opiniões e comportamentos dos atores

mediante aspectos definidos previamente pela pesquisa, dispostos num roteiro

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orientador que teve como objetivo captar os atores e interesses dispostos na

discussão atual sobre gestão intermunicipal de saúde (Anexo Nº 02). Foi

imprescindível atentar para a atenção constante em proceder à coleta de

informações na perspectiva do contexto social local. Dessa forma, evitou-se a

abordagem dos sujeitos em situações isoladas ou artificiais, procedendo-se a

interlocução no seu processo natural de produção social. Assim, a maior parte

das entrevistas foi realizada à medida que se efetuava uma visita à rede local.

Algumas, no entanto, só tiveram a oportunidade oferecida em reuniões do

grupo. Dado o fato que a pesquisa mexe com as forças políticas em situação,

não foi possível a entrevista com um dos secretários municipais. Mas, além

dos 10 secretários, buscou-se a informação proveniente de alguns sujeitos-

chave para o processo. Portanto, foram também entrevistados, o Diretor e

funcionários da 7ª Diretoria regional de Saúde, bem como o Diretor do

Hospital Regional Inácio de Sá, ambos situados no município de Salgueiro.

A observação-como-participante, através de anotações com caráter

descritivo e analítico, foi aplicada em todo o trabalho de campo, mas

principalmente como estratégia complementar à técnica de entrevistas. A

variação do método de observação se deu pela formalidade e o curto espaço

de tempo das visitas à microrregião (CICOUREL, 1990). Assim, o observador

assumiu um papel de participante na relação com os sujeitos da pesquisa,

quando lhe foi oportuno, tendo realizado mais observações formais do que

informais ou participativas

As atividades foram executadas pela equipe de Pesquisa do

Laboratório de Apoio à Municipalização pertencente ao Departamento de

Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, cabendo a

realização de treinamento em relação aos diversos procedimentos por parte da

Coordenação da pesquisa “Uma Proposta Inovadora em Micro-Área do Sertão

Pernambuco: contribuindo para a Gestão Intermunicipal da Saúde”.

O tratamento das informações obtidas no campo foi realizado

através de uma Análise de Conteúdo, que corresponde a:

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“Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos ás condições de produção/recepção destas mensagens” (BARDIN, 1979 p.42).

Seguindo a proposta de Minayo (1999), o processo de análise

desdobrou-se nos seguintes passos:

• A Ordenação dos dados – com a apreensão de documentos pertinentes;

a transcrição de fitas-cassete; a organização ordenada dos relatos e

dados de observação; e a releitura do material. Nesta fase, foi montado

um mapa horizontal, para a exposição das informações colhidas no

campo.

• A Classificação dos dados – realizada através da leitura exaustiva e

repetida dos textos, nos quais se verificou a existência de atores

específicos e suas respectivas idéias. O confronto dos resultados com as

categorias explicativas fez com que surgissem novas categorias de

análise. A partir daí, procedeu-se à sistematização de “Corpus” de

informações relativas às categorias definidas.

• A análise final – foi o momento de interpretação e de exercício da práxis

do pesquisador, com abordagens dicotômicas do material. Nesta fase foi

direcionado sobre o material um olhar crítico entre a objetividade e a

subjetividade, outras vezes, entre a exterioridade e a interioridade, e,

ainda, entre a análise e a síntese. Disso resultaram descobertas e

significações contidas na fala dos sujeitos, expressando suas reais

idéias, necessidades e interesses.

Utilizaram-se, para o plano de análise, as categorias explicativas:

Descentralização, Poder político e Coronelismo. Assim, a revisão

bibliográfica procurou dar conta da posição que concerne aos municípios na

evolução política e administrativa que hoje vislumbra novas formas de gestão,

dentre elas, a articulação intermunicipal, inferindo seus méritos e riscos, em

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se tratando das peculiaridades locais e regionais que, talvez, estejam ainda

bastante presentes em sua história.

Como categorias analíticas, foram definidos os atores sociais, com

as subcategorias: políticos, prestadores privados de serviços de saúde e

médicos; e os interesses em jogo, tendo como subcategorias, os princípios

específicos do SUS: descentralização hierarquizada e regionalizada,

universalidade do acesso, resolutividade e complementaridade, além

de interesses de outra natureza..

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333... AAA MMMIIICCCRRROOORRRRRREEEGGGIIIÃÃÃOOO::: UUUmmm pppeeedddaaaçççooo dddeee SSSeeerrrtttãããooo

3.1 Povoamento e Desenvolvimento

A Microrregião que, no presente estudo, intitula-se “Microrregião de

Salgueiro” está inserida num território pernambucano que faz parte do Semi-

Árido Nordestino, área também denominada de Polígono das Secas, a grande

distância do litoral. Os municípios que a constituem, integram a região natural

do Sertão de Pernambuco, que, por sua vez, desmembra-se em duas

mesorregiões: Sertão Pernambucano e São Francisco Pernambucano, em

função da delimitação hidrográfica conferida pelo Rio São Francisco.

Essa Microrregião, assim como o Sertão de maneira geral, começa a

ser povoada a partir do século XVII, por criadores de gado que partem da

Bahia e do litoral pernambucano, subindo o curso do Rio São Francisco, haja

vista sua ligação com o Oceano Atlântico, entre os estados de Alagoas e

Sergipe, e seu percurso, banhando o Estado de Pernambuco (PERNAMBUCO,

1976a).

A conquista do Sertão Nordestino é, então, motivada pela

necessidade de formação de zonas produtoras de alimento e animais para o

trabalho como atividade complementar ao sistema açucareiro de exportação

em plena expansão. Os portugueses que não dispunham de capital para

instalar engenhos ou fazer o plantio de cana-de-açúcar, dedicam-se, portanto,

à criação, sobretudo de bovinos. A pecuária, portanto, expande-se para áreas

bem distantes, a fim de que os animais não danificassem os canaviais.

Outro fato que contribui para a penetração do sertão é a invasão

holandesa, numa guerra que dura cerca de 24 anos (PERNAMBUCO, 1976a).

O Rio São Francisco também era um convite à penetração também

pela esperança de se encontrar ouro, prata e pedras preciosas (Id.).

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Assim, a interligação com Recife concretiza-se desde o século XVIII,

e nos dois caminhos percorridos chegando-se à povoação de Cabrobó, hoje,

um município.

“Assim, o do Norte partia do Recife seguindo o vale

do Capibaribe até as suas nascentes, atravessava o divisor de águas, alcançava o alto curso do rio Pajeú, descendo este rio até o São Francisco, onde se dirigia por via fluvial, apesar das corredeiras, até Cabrobó. O outro, partindo do Recife, alcançava o vale do Ipojuca, atravessando o Planalto da Borborema até as nascentes do mesmo. Passava para o alto curso do Ipanema e deste, por colo existente em Mimoso, para o vale do Riacho do Mel, descendo para o Moxotó e daí para o São Francisco, por onde seguia para Cabrobó (Mello Neto apud PERNAMBUCO, 1976a p.30)”.

Ao longo dos séculos XVIII e XIX, novos fatos desencadeiam

mudanças no modo de ocupação do espaço sertanejo: a revolução industrial e

a demanda internacional por algodão. Surge, assim, uma nova cultura feita

em larga escala que provoca um maior adensamento da população local

(PERNAMBUCO, 1976a).

Na segunda metade do século XVIII, já existiam, no Sertão, alguns

núcleos de povoados que foram gradativamente elevados à categoria de vilas,

criando novos municípios.

No início do século XIX, já se registra a vila de Boa Vista, de grande

extensão territorial, e população dispersa, constituída de várias “freguesias”.

Por sucessivos desmembramentos, ao longo do tempo, originam-se novos

municípios, dentre estes, Cabrobó e Salgueiro, de cujos territórios criam-se,

vários outros (PERNAMBUCO, 1976a).

No processo de criação dos diferentes municípios da microrregião,

apresentados por ordem de emancipação, destacam-se os seguintes traços

históricos:

a) O primeiro município emancipado na microrregião é Salgueiro,

que surge de uma fazenda de criação de gado, denominada Sítio Boa Vista, de

propriedade do capitão Manuel de Sá, que mandou construir em suas terras,

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embaixo de um salgueiro, uma capela dedicada a Santo Antônio, como

pagamento de uma promessa a Santo Antônio de Pádua, pela recuperação de

seu filho perdido. Logo se multiplicaram as casas e, no ano de 1843, ocorre a

criação da freguesia. Em 1853, passa a distrito, então denominado Santo

Antônio do Salgueiro. A vila é criada em 1864, desmembrada do município de

Cabrobó. Em 1879, cria-se a comarca. Mas somente em 26 de abril de 1898

esta se eleva a foro de cidade (PERNAMBUCO, 1982e; AMUPE, 2001).

b) O segundo, Belém de São Francisco, forma-se a partir de um

povoado construído em volta de uma igrejinha da antiga aldeia da ilha Araxá

(hoje Ilha da Missão), onde se erigia a imagem de N. Sra. de Belém. Com a

chegada das Santas Missões na fazenda de Antonio de Sá Araújo, situada à

margem esquerda do rio São Francisco em terras do Município de Cabrobó,

aproximadamente em 1830, foi iniciada a construção da capela consagrada a

Nossa Senhora do Patrocínio, benta em 1842. Ali foram construídas casas de

adobe para residência paroquial e de filhos do fazendeiro. A povoação passa à

categoria de distrito em 1885, fazendo parte do município de Cabrobó. Em

1902, eleva-se à categoria de vila e, em seguida, assume a sede Municipal

transferida de Cabrobó. Em 1911, a cheia do rio São Francisco demole quase

toda a cidade. Ela é então reconstruída, num local mais elevado. Em 1904 o

Município toma o nome de Belém do Cabrobó, passando a simplesmente

Belém, em 11 de setembro de 1928, quando se desmembra de Cabrobó. O

Município chega a denominar-se Jatina, e, depois, Belém de São Francisco

(PERNAMBUCO, 1982c; AMUPE, 2001).

c) O povoado de Cabrobó, como já mencionado, vem da metade do

século XVIII, em torno de uma aldeia de índios. Em 1762, foi criada uma

paróquia. O nome "Cabrobó", de origem indígena, vem significar "arvore" ou

"mato" de "Urubus" ou mesmo originar-se de "Capra-boi" - lugar de cabras

negras. Daí se dá o ajuste para Cabrobó. O distrito de Cabrobó é criado em

1786. A vila é criada, com sede na povoação de Cabrobó, em 1854, tendo sido

desmembrada do Município da Boa Vista (hoje Santa Maria da Boa Vista).

Passa à categoria de comarca em 1862 e conquista as prerrogativas de cidade

em 1892. Porém, no ano de 1903, a sede é destituída e transferida para a vila

de Belém. Coincidindo com a história do município de Belém de São Francisco

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neste ponto, Cabrobó tem a restituição de sua condição de sede municipal e é

reinstalado como município em 01 de janeiro de 1929 (PERNAMBUCO, 1982d;

AMUPE, 2001).

d) Serrita deve a sua criação à Divisão Administrativa do Estado,

realizada em 1911. No ano de 1928, o distrito de Serrinha, que integrava o

Município de Salgueiro, aparece como sede do recém-criado Município de igual

nome. Foi temporariamente extinto, em 1931, sendo restaurado em 27 de

junho de 1934 - data de emancipação -, e recebendo parte do território do

extinto Município de Leopoldina. Em 1943, o Município e o distrito de Serrinha

passam a denominar-se Serrita.

e) A origem de Parnamirim está ligada ao ciclo econômico da

pecuária. Numa antiga região chamada Saco de Martinho - um núcleo

habitacional evolui a ponto de, em 1867, constituir o distrito de Santana do

Saco, mudando seu nome depois, para Leopoldina. Anos mais tarde, é criada a

freguesia de Leopoldina, que é elevada a município em 1938, o qual instala-

se, oficialmente, em 01 de janeiro de 1939. O termo e o Município de

Leopoldina passam a denominar-se Parnamirim em 1943. Pela divisão

territorial judiciária - administrativa do Estado, a partir de 1953, é criada a

comarca de Parnamirim, continuando na mesma situação até os dias atuais

(AMUPE, 2001).

f) O município de Terra Nova é criado com sede na povoação de

Pau Ferro, em 1893. Anteriormente, integrando o território do Município de

Leopoldina, hoje Parnamirim. A sede é transferida para a povoação de

Mocambo, em 1904, passando para o nome de Terra Nova em 19 de janeiro

de 1911. Com a extinção do Município de Leopoldina, o distrito de Terra Nova

passa a integrar o território do Município de Serrinha (hoje Serrita). Em 1938,

o distrito de Terra Nova volta para o Município de Leopoldina, que é

restaurado. A 31 de dezembro de 1958, cria-se, então, o Município de Terra

Nova, cuja instalação ocorre em 01 de março de 1952 (Id.).

g) Mirandiba, originalmente, é um distrito do Município de São José

do Belmonte. Já denominado de São José de Campos, muda seu nome para

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Mirandiba em 1938. É constituído em Município autônomo em 1958. Sua

instalação ocorre em 11 de marco de 1962 (Id.).

h) Verdejante, que integrava o território do Município de Salgueiro,

tem, primitivamente, denominação de Bezerros e, posteriormente, de Riacho

Verde. Em 1938, o distrito de Riacho Verde adquire parte do território do

extinto distrito de Lagoa, do Município do Salgueiro, e perde parte do território

para o novo distrito de Vasques, também pertencente àquele Município. Em

1943, o distrito de Riacho Verde passa a denominar-se Verdejante. Só no ano

de 1958, é criado o Município de Verdejante, instalado em 25 de março de

1962 (Id.).

i) Orocó é, inicialmente, integrante do território do Município de

Cabrobó. É constituído em Município autônomo em 1963, cuja sede eleva-se à

categoria de cidade, instalando-se em 24 de marco de 1964 (Id.).

j) Cedro, inicialmente, denominado de Caririzinho, depois recebe o

nome de Caririmirim, enquanto distrito. Criado em 1920, a partir do então

Município de Granito, ao qual pertencia. Com a criação do Município de

Serrinha (hoje Serrita), o distrito passa à sua jurisdição administrativa. Em

1963, é elevado à categoria de Município autônomo, desmembrando-se de

Serrita, e passando a denominar-se Cedro. É oficialmente instalado em 18 de

maio de 1964 (Id.).

l) O município de Carnaubeira da Penha, o mais recentemente

criado, é um antigo distrito do município de Floresta, elevando-se à categoria

de município autônomo e instalando-se em 1991 (Id).

A vocação de pólo microrregional do município de Salgueiro

consolida-se ao longo do tempo. Constitui-se como o mais populoso da

microrregião; dispõe de indústrias em seu território; situa-se no centro da

região; e constitui-se como sede de escritórios regionais dos mais diversos

setores administrativos.

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Salgueiro também sedia uma estação da estrada de ferro que “liga o

Recife ao São Francisco”, construída no início do séc. XX, a qual, espera-se vir

a integrar a ‘Transnordestina “– projeto nacional de interligação do Nordeste

ao Sudeste do Brasil, para o escoamento da produção econômica nordestina,

pelo eixo da ferrovia Norte-Sul, já existente (PERNAMBUCO, 1982a).

Outro fato é que justamente no território deste município, cruzam-se

dois importantes eixos rodoviários (a BR-116 sentido Norte-Sul e a BR-232

sentido Leste-Oeste), constituindo passagem e ponto de convergência de

pessoas e mercadorias oriundas do Sudeste para Fortaleza e outras cidades

nordestinas. Além disso, na microrregião abre-se espaço para a implantação

de pequenos aeroportos e aeródromos, um dos quais localiza-se em Salgueiro

e outro em Belém de São Francisco (PERNAMBUCO, 2001).

O Mapa Nº 01 identifica os municípios que integram a microrregião

descrita e sua malha viária, bem como destaca a localização central do

município de Salgueiro.

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Mesorregião Metropolitana do Recife

Mesorregião da Mata Pernambucana

Mesorregião do Agreste Pernambucano

Mesorregião do São Francisco Pernambucano

Mesorregião do Sertão Pernambucano

Microrregião de Salgueiro

MAPA Nº 01 - A Microrregião de Salgueiro - Pernambuco

FONTE: CONDEPE, 2002.

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Analisando-se as características econômicas da microrregião,

verifica-se que quanto à agropecuária (principal atividade), nos períodos em

que as secas não paralisam as atividades, na maior parte dos municípios da

referida microrregião, a produção permanece com fraco retorno. Assim, cai o

desempenho das atividades industriais, agroindustriais, comerciais e de

serviços vinculados. Assim, evidencia-se que a grande dificuldade de geração

de empregos, principalmente por causa das secas que acometem a região:

“O nível de emprego é consideravelmente reduzido, dispondo, no entanto, de um nível de emprego temporário considerável, isto nos anos de pluviometria normal” (TERRA NOVA, 2000).

Grande parcela da população que vinha, continuamente, sendo

castigada pelas secas ao longo dos anos, além da perda de rebanhos inteiros,

com sede e fome, migrou à procura de melhores oportunidades de vida e

trabalho, para as capitais mais próximas, para o Amazonas e, principalmente,

para o sudeste do país.

A agricultura, na microrregião, sustenta-se em culturas

permanentes, como: mamona, banana, laranja, mamão, coco, goiaba e uva; e

temporárias, como: tomate, mandioca, palma, batata doce, feijão, arroz,

milho, cebola, e cana-de-açúcar, melão, melancia e hortaliças, entre outras.

O papel de sede microrregional desempenhado por Salgueiro se

expressa, mais fortemente, no Setor de Serviços, bastante expressivo neste

município, destacando-se o setor de Hospedagem e o de Alimentação.

Seguem-se, com média expressão, os serviços de reparo e manutenção e os

serviços pessoais. No que concerne aos serviços de diversão, radiodifusão,

televisão e promoção de festas, têm atividade menos expressiva.

Além destes, Salgueiro conta com a maior rede de serviços de saúde

privada, e possui também a maior rede bancária da microrregião, seguido por

Serrita.

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Aliado ao crescimento econômico, o desenvolvimento na

microrregião é razoavelmente bom, o que se traduz nos índices de

desenvolvimento humano municipais, que permanecem em valores próximos a

0,650, enquanto os parâmetros internacionais apontam o intervalo entre

0,500 e 0,700 como situações de médio desenvolvimento. Porém, em relação

ao conjunto de municípios brasileiros, os municípios desta microrregião

situam-se entre os 50% mais pobres, estando apenas o município de

Salgueiro acima da linha de pobreza (IPEA, 2002) (QUADRO Nº3).

QUADRO Nº 03 –Desenvolvimento Humano na Microrregião de Salgueiro – Pernambuco, 2000.

MUNICÍPIO IDH-M Classificação

na UF Classificação Nacional

Salgueiro 0,708 14 2860

Cabrobó 0,677 32 3346

Cedro 0,672 33 3421

Belém de São Francisco 0,669 36 3479

Orocó 0,667 38 3513

Terra Nova 0,666 39 3520

Parnamirim 0,665 40 3535

Verdejante 0,650 51 3778

Serrita 0,645 55 3847

Mirandiba 0,636 67 4002

Carnaubeira da Penha 0,537 180 5388

FONTE: IPEA, 2002.

A esperança de vida ao nascer, como um dos indicadores desse

desenvolvimento, atinge na microrregião a marca dos 71,03 anos,

correspondendo à população do município de Parnamirim (IPEA, 2002).

A respeito das condições vida, na microrregião, exemplifica-se que

os serviços domiciliares tais como abastecimento d'água, esgotamento

sanitário e coleta de lixo são inadequados (TABELA Nº 01).

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TABELA Nº 01 – Dados gerais de Saneamento da Microrregião de Salgueiro – Pernambuco, 2000.

Domicílios particulares permanentes

Abastecimento dágua Existência de banheiro Destino do Lixo MUNICÍPIOS

Total Rede geral

Poço ou nascente Outra Total

Rede geral

Não tinham Coletado

Outro destino

Belém de São Francisco 4 325 2 583 238 1 504 2 369 877 1 956 1 891 2 434

Cabrobó 6 137 4 173 657 1 307 3 513 2 966 2 624 3 228 2 909

Carnaubeira da Penha 2 038 263 1 060 715 447 01 1 591 249 1 789

Cedro 2 060 1 267 358 435 1 366 911 694 787 1 273

Mirandiba 2 808 1 600 381 827 1 476 575 1 332 983 1 825

Orocó 2 244 1 516 317 411 1 237 621 1 007 690 1 554

Parnamirim 4 155 1 813 1 594 748 1 769 1 342 2 386 1 178 2 977

Salgueiro 11 824 10 007 442 1 375 8 874 6 243 2 950 6 420 5 404

Serrita. 3 636 1 299 662 1 675 1 387 622 2 249 984 2 652

Terra Nova 1 652 1 287 22 343 921 554 731 652 1 000

Verdejante 2 005 1 240 345 420 882 397 1 123 343 1 662

TOTAL 42 884 27 048 6 076 9 760 24 241 15 109 18 643 17 405 25 479

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Apesar de contar com uma rede educacional com grande número de

escolas públicas municipais e estaduais, além de escolas particulares de

ensino infantil e fundamental (SERRITA, 2000), a microrregião convive com

altas taxas de analfabetismo e evasão escolar, principalmente por

incorporação precoce ao trabalho verificado em atividades agropecuárias de

subsistência (TABELA Nº 02).

TABELA Nº 02 - Informações gerais de Educação da Microrregião de Salgueiro - Pernambuco, 2001.

FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000. (*) Dados FIDEM/PE, 2001

População residente de 5 anos ou mais Evasão escolar (*) MUNICÍPIO

Total Alfabetizada % Não

Alfabetiz. %

Fundam.

(%)

Médio

(%) Belém de S.Francisco 17 644 11 123 63,04 6 521 36,96 19,40 18,00

Cabrobó 23 540 15 233 64,71 8 307 35,29 21,60 22,10

Carnaubeira da Penha 8 962 4 758 53,09 4 204 46,91 29,40 14,80

Cedro 8 396 5 450 64,91 2 946 35,09 19,10 12,00

Mirandiba 11 522 7 329 63,61 4 193 36,39 13,90 9,60

Orocó 9 458 5 728 60,56 3 730 39,44 13,50 20,80

Parnamirim 17 133 11 507 67,16 5 626 32,84 19,20 9,40

Salgueiro 46 042 34 322 74,54 11 720 25,46 16,60 18,40

Serrita 15 680 9 785 62,40 5 895 37,60 15,20 21,50

Terra Nova 6 692 4 683 69,98 2 009 30,02 20,00 11,80

Verdejante 7 826 5 128 65,53 2 698 34,47 13,50 9,60

TOTAL 172895 115046 57849 — — —

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Há uma infra-estrutura deficiente com relação às estradas de acesso

à maior parte da microrregião, observando-se a sua má-conservação e pouco

policiamento. Devido a uma insegurança latente nos arredores dos municípios,

verifica-se uma alta freqüência de assaltos, principalmente nas estradas de

pouco asfalto e movimento. Além disto, há, na microrregião, atividades de

plantio e tráfico de maconha, bem como de outras drogas.

Os municípios da Microrregião de Salgueiro totalizam uma população

de 195.923 habitantes (IBGE, 2000), distribuídos numa área territorial de

12726,70 km2 (FIDEM, 2000), em números aproximados, haja vista que não

há um acordo entre os registros nacionais e estaduais sob este aspecto.

Apesar disso, é possível verificar que, ali, existem municípios ainda

muito pequenos, porém expressivos, como o município de Cedro, com a maior

densidade demográfica (55,21 hab/km2). Parnamirim, o mais extenso,

apresenta uma área de 2.598,5 km2 (FIDEM, 2000) e possui uma pequena

taxa de urbanização, fato comum a maior parte da microrregião.

Dentre os municípios desta microrregião, apenas Salgueiro

apresenta população acima de 50.000 habitantes, portanto de maior porte

populacional. No extremo oposto, o menos populoso é o município de Terra

Nova, com 7.518 habitantes (IBGE, 2000).

Em Belém de São Francisco, Cedro e Terra Nova e Salgueiro, a

população urbana se sobressai, com mais de 50% de seus habitantes vivendo

na zona urbana, destacando-se este último com 77,35% de urbanização.

Alguns contingentes rurais da microrregião, por sua vez, atingem altas taxas,

como é o caso de Carnaubeira da Penha, com 89,22% da população municipal

habitando a área rural (TABELA Nº 03).

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TABELA Nº 03–População residente na Microrregião de Salgueiro – Pernambuco, 2000.

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO

RESIDENTE

ÁREA

(Km2)

Densidade Demográfica (hab./km2)

Belém de São Francisco 20 208 1842,70 10,97

Cabrobó 26 741 1629,90 16,41

Carnaubeira da Penha 10 404 999,40 10,41

Cedro 9 551 173,00 55,21

Mirandiba 13 122 773,30 16,97

Orocó 10 825 562,6 19,24

Parnamirim 19 289 2598,50 7,42

Salgueiro 51 571 1733,70 29,75

Serrita 17 848 1602,30 11,14

Terra Nova 7 518 362,20 20,76

Verdejante 8 846 449,10 19,70

TOTAL 195 923 12726,70 15,39

FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000. (1) A área corresponde à indicação do FIDEM-PE, 2000.

Acerca de experiências de articulação intermunicipal consta, na

microrregião, a existência da Associação Municipalista do Sertão Central

(AMUSC), com sede no município de Verdejante, da qual participam, além

deste, os seguintes municípios: Cedro, Mirandiba, Parnamirim, Salgueiro,

Serrita e Terra Nova (SERRITA, 2000).

Somado a isto, está em andamento, o Consórcio Intermunicipal de

Desenvolvimento Sustentável do Sub- Médio São Francisco (CINDESF), no

qual tomam parte alguns dos municípios da microrregião de estudo: Cabrobó,

Salgueiro e Orocó , enquanto outros começam a entrar na discussão.

Na sociedade microrregional, atualmente, podem ser identificadas

três classes sociais que determinam a dinâmica econômica: a oligarquia

tradicional – formada por fazendeiros e segmentos afins, tais como

comerciantes, industriais e profissionais liberais; os empresários de pequenos

negócios em ascensão, aliados a segmentos de profissionais liberais e

assalariados de renda média e alta, tanto do setor público como do privado; e

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o setor popular composto de trabalhadores, sejam eles rurais ou urbanos,

autônomos, com pouca qualificação e baixa renda (BARROS, 2002).

Nesta microrregião, tal como ocorre, geralmente, no interior do

Estado, não é possível inferir a posição político-partidária predominante nos

respectivos municípios. Isso decorre da desvalorização do perfil ideológico das

legendas, comum na história política do Estado, pela situação de dependência

que a maioria dos municípios de pequeno porte mantém frente ao governo

estadual, em função de benefícios específicos.

Ainda assim, verifica-se que a forte presença de partidos aliados à

coligação do governo estadual, no executivo e legislativo municipais, traz

maiores proporções de apoio político ao governo (PERNAMBUCO, 2002).

Pode-se, ainda, constatar a relativa facilidade de garantia eleitoral

das legendas governistas, no âmbito da Assembléia Legislativa e da Câmara

de Deputados, subentendendo-se a existência de uma relação de troca entre

os políticos locais e o governo do Estado (Id.).

Salgueiro e Mirandiba destacam-se do conjunto de municípios

porque possuem maior diversificação político-partidária em seu quadro

legislativo e, atualmente, apresentam na situação, uma gestão da frente de

oposição ao governo do Estado. Além disso, seu eleitorado tem sido capaz de

marcar a forte presença das legendas de esquerda nos cargos legislativos

estaduais e federais, avançando em quantidade de votos na microrregião

Cabrobó também se destaca, pois, apesar da gestão municipal posicionar-se

entre as legendas da frente de oposição à política estadual, internamente, vive

sob constantes conflitos entre suas secretarias setoriais de governo (Id.).

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3.2 A Atenção à Saúde na Microrregião

Os municípios organizam sua assistência básica e especializada,

através de uma rede de serviços em contínua transformação, seja

incorporando estratégias orientadas pelo Ministério da Saúde, seja adequando-

se à disponibilidade de serviços na microrregião, pela relação com os

prestadores privados (TABELA Nº 04).

TABELA Nº 04 – Equipamentos do SUS microrregional

MUNICÍPIO PS USF CS UDPu UDPr CPr UM HPr

Belém de São Francisco 04 — 01 01 — — 01 —

Cabrobó 08 06 01 01 — 02 01 —

Carnaubeira da Penha 07 05 — 01 01 — 01 —

Cedro 04 02 — 01 — — 01 —

Mirandiba 04 02 01 02 — — 01 —

Orocó 07 04 01 01 — — — —

Parnamirim 05 04 — 01 01 01 01 —

Salgueiro 13 08 02 — 05 25 — 02

Serrita 11 04 — 01 01 01 01 —

Terra Nova 03 01 — — — — 01 —

Verdejante 06 03 — 01 — — 01 —

TOTAL 72 39 06 10 08 29 09 02

LEGENDA: PS – Posto de Saúde; USF – Unidade de Saúde da Família; CS – Centro de Saúde; UDPu – Unidade de diagnóstico pública; UDPr – Unidade de diagnóstico privada; CPr – Clínica privada; UM – Unidade mista; HPr – Hospital privado. FONTE: Relatório de Campo

O que muitos enfatizam como um incremento dos níveis de saúde da

população é a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), apesar da

dificuldade de fixação de profissionais de saúde na região. Em decorrência

disso, é comum, por exemplo, que alguns profissionais se dividam na

assistência a mais de um município ou atuem nos diversos processos do

trabalho em saúde.

Em 1990, a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco lança

uma organização da rede de assistência à saúde em módulos. A proposta

apresentada pelo Estado propõe uma ênfase à municipalização das ações de

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saúde, em curso naquele momento, levando em consideração a capacidade

dos municípios em gerenciar seus recursos e assumir ações de saúde

dispostas em seus territórios. Neste sentido, destacam-se os serviços de

referência de maior complexidade prestados por alguns municípios: o Hospital

regional Inácio de Sá, em Salgueiro; Unidades Mistas de Saúde, em Mirandiba,

Parnamirim e Serrita; Hospitais locais, em Belém de São Francisco, Cabrobó e

Orocó; e Centros de Saúde, em Cedro, Terra Nova e Verdejante. Destes,

Salgueiro é escolhido como município-pólo, em função da sua ampla rede de

serviços de saúde, grande número de habitantes, além da facilidade de acesso

e do fluxo natural da população microrregional (PERNAMBUCO, 1990).

Quanto aos atendimentos de urgência, emergência e procedimentos

de média complexidade, grande parte das Secretarias Municipais de Saúde

referencia pacientes, primeiramente, ao Hospital Regional Inácio de Sá, de

gestão estadual, localizado no município de Salgueiro.

Este, em atividade desde 1990, tem uma capacidade atual de 110

leitos e uma média de 356 internações/mês. Realiza pequenas cirurgias e

atende às especialidades de Traumatologia, Pediatria, Cardiologia, Psiquiatria,

Ginecologia e Obstetrícia.

Além deste hospital, os pacientes, residentes na microrregião, são

referenciados para unidades privadas conveniadas ao SUS, em Salgueiro, e

outras, sejam públicas ou privadas, localizadas nos municípios de Petrolina,

Serra Talhada, Caruaru, Arcoverde e Recife. O envio de pacientes corresponde

tanto ao atendimento ambulatorial quanto ao de internações.

Alguns municípios têm a questão das fronteiras como um fator de

definição do sentido do fluxo de atendimento de média e alta complexidade.

Mantêm, portanto, um movimento interestadual de envio e recebimento de

pacientes com o Ceará e a Bahia, tendo em vista a localização geográfica dos

municípios e seus serviços de referência.

A maioria dos municípios utiliza a máxima capacidade do Tratamento

Fora de Domicílio (TFD) e, ainda assim, recorrem a investimentos da receita

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municipal, no atendimento à média e alta complexidade em localidades que os

oferecem.

Apesar dessas dificuldades, os municípios se dispõem a negociar

trocas de atendimentos específicos. Negociação esta que é feita nos

bastidores, traduzindo-se num “SUS subterrâneo” entre Secretarias Municipais

e destas com prestadores privados conveniados ou não.

Verifica-se a ocorrência de Conferências Municipais (SERRITA, 2000;

MIRANDIBA, 2000) e outros Fóruns locais de participação com grande

abrangência de representantes da população (SALGUEIRO, 2001). A maior

participação nestes fóruns se deve a integrantes de sindicatos de pequenos

trabalhadores rurais, que chegam a somar um número em torno de 25

entidades com este fim, em alguns municípios (SERRITA, 2000).

Com relação ao andamento da descentralização das ações e serviços

de saúde na microrregião, no ano de 1996, à época de vigência da NOB/SUS

01/93, que exigia dos municípios uma estruturação para a classificação em

níveis de gestão específicos à sua capacidade de ações e serviços, verifica-se

que os referidos municípios mantêm-se atrasados, em relação ao total de

municípios do estado e em ritmos diferenciados na adequação ao instrumento

legal. Do conjunto, Cabrobó, Belém de São Francisco, Mirandiba, Orocó,

Parnamirim, Serrita e Terra Nova encontram-se, ainda na condição de Gestão

Incipiente, enquanto Salgueiro ainda inicia o processo e os demais:

Carnaubeira da Penha, Cedro e Verdejante, nem o iniciaram (Pernambuco,

1996).

Atualmente, na vigência da NOB/SUS 01/96, todos os municípios da

microrregião tem a Gestão Plena da Atenção Básica de Saúde. E, enquanto

alguns trabalham para assumir em breve a Gestão Plena do Sistema

Municipal, como Salgueiro e Serrita, outros preferem a permanência da

situação, como é o caso explícito de Belém de São Francisco.

Quanto à implantação da NOAS em PE, de uma forma geral, o

processo ainda é lento. Conforme justificado pelo próprio gestor estadual,

numa reunião da Comissão Intergestores Tripartite, isto deve-se às

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dificuldades que os municípios, mesmo em Gestão Plena pela NOB/96,

enfrentam com a Atenção Básica. Além disso, sabe-se que o Estado de

Pernambuco já apresentou à secretaria de Assistência à Saúde (SAS/MS) o

seu cronograma de execução (BRASIL, 2002a).

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444... AAATTTOOORRREEESSS EEE IIINNNTTTEEERRREEESSSSSSEEESSS::: CCCooommmooo ssseee pppooosssiiiccciiiooonnnaaammm fffrrreeennnttteee ààà GGGeeessstttãããooo IIInnnttteeerrrmmmuuunnniiiccciiipppaaalll dddeee SSSaaaúúúdddeee...

Buscando identificar atores sociais e interesses hegemônicos

existentes na microrregião, pode-se deparar com uma diversidade destes nos

diversos momentos da formulação de políticas de saúde. E por mais que se

considere o grande poder técnico e administrativo, relativo ao setor saúde as

atividades desenvolvidas neste âmbito têm um caráter eminentemente

político. Assim, dentre os atores sociais que compõem o sistema de saúde

microrregional, são tratados, aqui, também como políticos influentes, o

Secretário de Saúde do Estado, o diretor da 7ª DIRES, o diretor do Hospital

Regional e os Secretários Municipais de Saúde.

Na discussão do tema Gestão Intermunicipal de Saúde, o Secretário

de Saúde do Estado é considerado o ator mais importante. Apesar de eximir-

se publicamente da discussão, mantém-se informado, intervindo,

ocasionalmente e de forma centralizadora no modelo de gestão

microrregional.

Em nível microrregional, o Diretor da 7ª Diretoria Regional de Saúde

(7ª DIRES) tem grande influência política sobre a gestão da saúde nos

municípios, trazendo suas contribuições também para o processo de gestão

intermunicipal.

A seguir, situam-se os respectivos executivos municipais, nos quais

estão incluídos o prefeito e as demais secretarias setoriais, atuando dentro de

uma política oligárquica.

O diretor do Hospital Regional Inácio de Sá é outro ator importante

por manter-se na posição de gerente e mais um representante dos interesses

do gestor estadual na microrregião.

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Aos Secretários Municipais de Saúde da Microrregião cabe a grande

responsabilidade pelo SUS microrregional, tendo em vista sua posição de

gestores dos próprios sistemas de saúde, ainda que, na prática, sua atuação

seja influenciada pela política partidária da gestão municipal.

Em nível da assistência propriamente dita, é importante a influência

dos médicos na discussão da política microrregional de saúde, como uma das

categorias profissionais que mais agem corporativamente e desempenham

forte papel político na microrregião. No entanto, quanto à discussão sobre

gestão intermunicipal, encontram-se sem uma posição definida.

Os prestadores privados de assistência à saúde em nível secundário

são grandes detentores de poder na microrregião, porém não se expressam

publicamente na discussão do tema em questão. A não ser quando estão

acumulando diversas funções, ora como médicos, ora como prefeitos e ora

como secretários de saúde.

Por fim, dentre os prováveis atores do processo de implementação

de uma política intermunicipal na microrregião, as Câmaras Municipais −

apesar de sua atuação clientelista −, e os CMS − com atuação legitimadora de

seu direito de participação social − não assumem posições de peso neste

processo.

A análise das diversas falas, observadas no meio social de inserção

da pesquisa, tenham estas advindo de entrevistas individuais ou de reuniões

do grupo, traz a constatação de que existem atores sociais estáveis na

microrregião. Alguns expressam interesses na perspectiva do SUS, outros se

omitem e, ainda há os que representam obstáculos à gestão intermunicipal,

com interesses de outra natureza.

Assim, uma parte dos secretários municipais de saúde esforça-se

bastante pela concretização da gestão intermunicipal. Alguns se omitem.

Dentre os prefeitos, há tanto omissão quanto resistência ao assunto, sendo

esta última atribuída ao receio do comprometimento de recursos financeiros.

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Os gestores estaduais criam obstáculos de forma passiva, e o diretor do

Hospital tem uma posição dúbia. Quanto aos médicos, preocupa a

possibilidade de sua oposição pela grande atividade política e econômica que

lhes confere grande poder nos sistemas municipais, atuando ora como

prestadores privados de serviços, ora como políticos e gestores de saúde.

4.1 OS POLÍTICOS

Dentre os protagonistas da discussão sobre gestão intermunicipal na

microrregião, os políticos têm maior destaque. Aqui, são considerados o

Secretário de Saúde do Estado (SES), o diretor da 7ª Diretoria Regional de

Saúde (7ª DIRES), os Secretários Municipais de Saúde (SMS), os prefeitos e o

diretor do Hospital Regional Inácio de Sá. Esses atores e ainda os políticos

locais, lotados nas Câmaras Municipais, de certo modo ainda atuam nos

moldes de uma política oligárquica microrregional. Não menos importante,

mas com pouca expressão na microrregião, está a população organizada em

Conselhos Municipais de Saúde, que não se expressa como ator nessa

discussão.

4.1.1 O SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO

Retratando a situação geral vivenciada no país nos últimos tempos a

imagem geral percebida pelos gestores municipais a respeito do gestor

estadual é de uma coordenação menor diante do Ministério da Saúde.

Para eles, fica bem clara a força do gestor federal e a intermediação

do governo estadual. Este último, por sua vez, é visto em sua missão de

oferecer assessoria técnica de programas e projetos definidos pelo nível

federal, mas é como se desculpassem essa fragilidade:

“Olhe, eu não culpo nem tanto o estado, sabe...porque é

como o Ministério vem, manda...faz os programas e eles mandam de cima pra baixo, a gente tem que engolir e eles só fazem repassar” (Entrevista 06).

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Entretanto, no processo de implementação da NOAS/02, e portanto

numa discussão sobre gestão intermunicipal da saúde, essa coordenação é

reforçada, tendo em vista a subordinação do processo à intermediação do

Estado. Assim, em meio à nova proposta de regionalização da assistência à

saúde, pode-se dizer que se visualizam interesses políticos do gestor estadual,

traduzindo-se a atitude dúbia de, algumas vezes, omitir-se de discussões

locais e outras vezes, conduzir o processo de forma centralizada.

“Nas reuniões que eu me lembro de ter participado com o

Secretário de Saúde do Estado, ele sempre diz que saúde não tem partido.” (Entrevista Nº 02).

“É bom que todo mundo saiba e apóie o secretário

Robalinho, que se prontificou em vir até aqui ouvir para depois tomar as decisões” (Sampaio, 2001).

De fato, em seus pronunciamentos, em reunião na microrregião, o

gestor estadual parece defender a idéia de um relacionamento intermunicipal,

desde que esteja dentro da perspectiva da microrregionalização proposta pelo

Ministério da Saúde (MS).

“Entre dois caminhos, um que você está só, e outro que

você esteja acompanhado, escolha o segundo, aceite parceiros. Faça uma coisa que já dá certo. Não vamos inventar nada” (Robalinho, 2001).

Assim, parece que interessa ao secretário negar apoio aos

consórcios como redes articuladas a partir dos municípios, pois considera

outros modelos mais viáveis, defendendo, assim, a regionalização pela

NOAS/02 como aquele mais apropriado ao momento atual, proposta essa que

pressupõe um papel destinado à SES. Mas na prática ele não implementa a

NOAS de acordo com o cronograma proposto pelo MS

“O consórcio é uma estratégia que poderá ser implantada

daqui a dois ou três anos” (Robalinho, 2001).

Argumenta com os gestores municipais de que uma gestão

intermunicipal tenderia a diminuir o poder dos municípios.

“A figura do consórcio não se superpõe à figura do

município” (Robalinho, 2001)

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Troca o argumento da parceria pela ameaça do conflito, caso os

secretários municipais optem por um consórcio.

“Hoje falta base legal para os consórcios. Em Minas Gerais

houve muitos conflitos” (Robalinho, 2001)

Mas, efetivamente, alguns gestores municipais ainda vêm

obscuridade na posição da Secretaria Estadual sobre a gestão intermunicipal

na microrregião, tendo em vista não haver debate franco e aberto com

quaisquer dos grupos de oposição na microrregião, e por se tratar as

mudanças no setor saúde de maneira lenta e distante.

Além disso, há uma insatisfação latente, por parte de alguns

secretários municipais, com a política de regionalização orientada pelo gestor

estadual.

“O que me intrigou, foi que falaram lá, que era apenas um exercício, mas a tarde o Secretário e Saúde falou que tinha ficado muito feliz por saber que de manhã tinha sido definido Floresta como módulo...Para mim isso é uma brincadeira! “ (Entrevista 05).

Outro interesse explicitado na fala do gestor estadual é prover a

região de profissionais capacitados, o que, para o diretor da 7ª DIRES, seu

representante local, não é devidamente reconhecido e valorizado pelos

municípios.

A política governista do desenvolvimento, que contempla a

interiorização de programas e serviços, pelo aumento de acesso viário para o

desenvolvimento do agreste e sertão do Estado, inclui, entre os projetos para

a saúde, a formação de profissionais pela Universidade de Pernambuco. Assim,

o secretário estadual de saúde propõe, em longo prazo, melhorar o nível da

assistência à saúde com maior permanência de profissionais na microrregião.

O interesse estadual na centralização de serviços, em seu âmbito de

ação, é transparente, mas tenta encobrir-se pelas críticas sobre o processo de

municipalização, acusando a gestão municipal de contribuir, muitas vezes para

a diminuição do acesso pelo monopólio e isolamento dos serviços.

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“Os Hospitais regionais tem que ser administrados pelo

Estado, para não acontecer o que aconteceu em Petrolina” (Robalinho, 2001).

O secretário refere-se a evitar uma semelhança com o caso do

Hospital Dom Malan, situado no município de Petrolina, o qual passou à gestão

municipal e fechou as portas a pacientes de outros municípios.

O interesse estadual na centralização de unidades de referência

mostra certa desconsideração pela autonomia administrativa municipal. Por

outro lado, na visão do governo, apesar de suas deficiências e insuficiências,

os hospitais regionais distribuídos por todo o Estado constituem as estruturas

que atualmente suportariam uma reforma hierarquizada e regionalizada na

assistência á saúde. Justificadamente, expõe-se que estas unidades

encontram sua debilidade na sobrecarga resultante da baixa assistência

municipal.

“Quem tem estrutura, pra funcionar [...] são os hospitais regionais, sucateados ou não. Em reforma agora a grande maioria [...]. Estão sendo reestruturados. Mas eles é que ainda levam muitas coisas nas costas“ (Entrevista 11).

Considerando o exposto acima, pode-se concluir que o Secretário de

Saúde do Estado age como um ator na discussão. Tem posição estável e

grandes recursos no Estado e microrregião. Consegue convencer grande parte

dos demais atores da microrregião para sua posição de que esse não é um

problema a ser resolvido em curto prazo e que CIS não é uma solução a ser

adotada. Seus interesses mais contundentes são de outra natureza que não o

atendimento aos princípios do SUS selecionados, mas pertencem ao âmbito da

política regional e estadual e extrapolam o setor saúde.

4.1.2 O DIRETOR DA 7ª DIRETORIA REGIONAL DE SAÚDE

O diretor da 7ª DIRES é visto como um ator de peso, na discussão

local sobre gestão intermunicipal, mesmo porque tem desempenhado um

papel político e social na microrregião, haja vista relacionar-se bem com

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personalidades do meio político, do âmbito municipal, regional e estadual,

além de ser um conhecedor e difusor de acontecimentos regionais, através da

estação de rádio “Asa Branca”, da qual tem a concessão de uso.

Para uma parte dos secretários municipais, esse ator é peça

fundamental na discussão sobre Gestão Intermunicipal, principalmente,

porque, dentre outras coisas, o órgão regional promove os meios para a

fixação de profissionais de saúde na microrregião e sua ligação com o

empresariado médico lhe daria influência política nesse processo.

Apoiando a posição do secretário de saúde do Estado, o diretor da

DIRES diz interessar-se por numa modalidade de gestão intermunicipal, de

acordo com os trâmites da NOAS, que prevê a coordenação do processo pela

esfera estadual do SUS.

Em sua explícita adesão à posição do gestor estadual, o diretor da

DIRES também questiona o formato jurídico do modelo consorcial, tornando

evidente sua opinião sobre o tema. Daí ser possível se inferir a existência de

discussão prévia do assunto no âmbito da Secretaria de Saúde do Estado. Se,

por um lado, ela é descartada na prática, em tese, essa posição não é

assumida nas discussões públicas.

Embora defenda, em reuniões, a necessidade de articulação

intermunicipal, pode-se deduzir da fala do diretor da DIRES uma forte

resistência, já que ele vem atribuindo atitudes futuras a supostas secretarias

municipais que tenderiam, na vigência de um consórcio, a um abuso de poder

com atitudes de desmando político.

“É você chegar e ver o cara [um suposto secretário] achar

que aquilo vai ser uma grande conquista. “Agora é nosso [...]. Agora eu vou poder botar o diretor, vou poder fazer isso, vou poder fazer aquilo[...] vou poder mandar e desmandar.” (Entrevista 11).

Isso é apontado como um fator de peso na inviabilidade de uma

gestão intermunicipal, nos moldes consorciais, o que demonstra a expectativa

de uma tendência constante de ação que lembra o velho coronelismo no setor

saúde, passível de gerar conflitos entre forças políticas que sempre querem

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manter seu prestígio na microrregião. Nesse caso, representaria um embate

entre o prestígio de secretários e prefeitos, e o secretário estadual.

Afirma, assim, que os gestores municipais utilizam-se, de seu poder

político, através da prática autoritária, em detrimento do poder técnico que

lhes é exigido. O gestor regional tenta encobrir a posição centralizada do

gestor estadual em relação à descentralização de unidades, alegando possíveis

atitudes de incompetência municipal.

“É a municipalização que é errada? Não. É a coisa que é

feita errada. Municipaliza, muitas vezes, sem que o cara [Secretário Municipal] tenha estrutura pra encampar uma unidade mista que funcionava pelo menos razoável “ (Entrevista 11).

Para o diretor da DIRES, é clara a contínua dependência dos

municípios, por sua baixa autonomia administrativa e política. O gestor

regional critica os sistemas municipais caracterizando-os de desordenados e

pouco resolutivos quanto a problemas de impacto coletivo e, assim, não

contemplam a integralidade de assistência à saúde, o que, inegavelmente, em

sua opinião, vem necessitar de reforço pelo órgão regional.

“Eu acredito que a gente tem que reestruturar a questão

do básico nesses municípios pra que a gente comece a acertar” (Entrevista 11).

A dependência técnica continuada das secretarias municipais à

DIRES, que parece uma forma de aumentar a autonomia do nível municipal,

expõe, também, o interesse na continuidade da centralização do poder técnico

do órgão regional

“O que a gente oferece é um corpo técnico pra dar suporte

a esses municípios em todas as áreas” (Entrevista 11).

Pode-se perceber, na fala desse gestor, o interesse pela

resolutividade dos serviços de saúde oferecidos pelos municípios da

microrregião, justificando a responsabilidade estadual com as unidades de

saúde no período anterior à municipalização.

“Nós temos hospitais aqui que quando unidade mista, a

gente andava lá, a gente fazia supervisão, fazia cirurgias, se atendia pacientes com muito mais resolutividade em todas as clínicas, seja

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ela médica, pediátrica ou obstétrica, não se fazia tanta ambulancioterapia. Hoje é muito maior” (Entrevista 11).

Afirma que a diminuição na resolutividade municipal fere a

hierarquização dos serviços e diminui também o acesso aos níveis mais

especializados.

Dessa maneira, explica a sobrecarga do hospital regional com a

atenção básica que as secretarias municipais não resolvem, o que prejudica a

qualidade dos serviços. Essa situação compromete a missão de urgência e

emergência daquele hospital, e mais ainda, a possibilidade de que ele venha a

se constituir em referência especializada.

“Agora, como Dr. Guilherme Robalinho falou, e é justo o

que ele diz, e é de se pensar [...] quando você vê um hospital em fila tá sabendo que ele [o município] não tá dando solução pra nada” (Entrevista 11).

Quando o assunto diz respeito à competência municipal, o diretor da

DIRES, parece interessado em estimular maior resolutividade das políticas de

saúde na microrregião, retomando, para isso, a idéia de descentralização

regionalizada e hierarquizada. Dessa forma, chama os gestores municipais de

saúde à responsabilidade pela parte que lhes cabe resolver, reforçando a

necessidade urgente de algumas secretarias municipais reestruturarem suas

ações e agirem com maior racionalidade

“Muitas vezes quando você não conhece o sistema você

desperdiça. Às vezes, até gasta quando poderia resolver dentro de casa, porque não tem conhecimento do potencial que você tem” (Entrevista 11).

De outro lado, está muito atento aos interesses do sub-setor privado

quando sugere o incremento da rede assistencial, com uma afirmativa sobre a

participação desses atores num rearranjo organizacional que envolve a rede

conveniada e a medicina suplementar.

“Se o Estado não consegue mas tem através de um

conveniado de suprir as carências do Estado [...], com certeza o governo vai avaliar e isso é o instrumento óbvio [...] Eu acredito que deve ser feito, [...] que é outra forma de se pensar, é através das clínicas conveniadas (Entrevista 11).

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Seu discurso é contraditório. Não lidera a institucionalização da

NOAS ou de um consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) mas critica o uso

irracional de tecnologias pelas Secretarias Municipais, porque vai contra a

integralidade na assistência, efetuando-se um atendimento fracionado e pouco

humanizado.

“Porque, muitas vezes, um prefeito acha que comprar um

eletroencefalógrafo vai resolver o problema dele, mas não vai, porque aquele aparelho vai ficar lá parado pra quando o médico for uma vez por mês, ou de 15 em 15 dias fazer uma análise de um eletro, muitas vezes sem o paciente junto pra fazer uma anamnese, pra conversar [...] pra sentir a vida do paciente” (Entrevista 11).

Para o diretor da DIRES, em tese, a gestão intermunicipal deve

organizar-se a partir da atenção básica nos municípios menores, direcionando

a responsabilidade e a absorção de tecnologias mais sofisticadas para o pólo

regional.

Aliado a esse perfil, o diretor regional afirma descarta a

possibilidade de uma oferta de atendimentos de alta complexidade na

microrregião.

Além disso, é necessário tempo para o planejamento da assistência e

a organização das demandas microrregionais. E isso implica justo acordo com

as deliberações da Secretaria de Saúde do Estado.

“O Hospital Regional tem que se estruturar pra atender a

demanda de uma média complexidade pelo menos da região, [...] pra atender as urgências e emergências (Entrevista 11)”.

Neste processo, insiste no aumento da resolutividade dos

ambulatórios municipais, como forma de “desafogar” o Hospital Regional.

Para o diretor da DIRES, é imprescindível manter o Hospital

Regional sob Gestão Estadual, considerando a importância de unidades desse

porte para o SUS em Pernambuco. Quanto à participação do mesmo hospital

numa gestão intermunicipal, enfatiza que ainda é cedo para tal ação, tendo

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em vista os planos do governo estadual, já em andamento, com o processo de

reforma em grandes unidades do estado.

O que se entende da posição desse gestor é que o hospital regional

tem a missão de agir como suporte para os municípios pequenos e pouco

estruturados.

O diretor da DIRES assume a baixa resolutividade do Hospital

Regional ao mesmo tempo em que almeja a hierarquização dos serviços

microrregionais de tal forma que se ganhe o tempo necessário à viabilização

da atuação desse hospital na urgência e emergência. Após este primeiro

passo, a médio ou longo prazo, sugere que o hospital venha oferecer

assistência especializada aos municípios da microrregião.

“Que o hospital realmente venha a propiciar, se não de

todas as especialidades, porque a gente sabe que tem dificuldades, sabe que infelizmente não vai ser uma realidade pra coisa de curto prazo, pelo menos, o hospital poder ofertar clínicas especializadas...” (Entrevista 11).

Enquanto os planos estaduais não encontram vazão, o representante

regional oferece resistência à implementação de qualquer modalidade de

gestão intermunicipal, questionando sua concretização legal e também as

divergências possíveis entre os próprios entes municipais. Dessa forma, tenta,

discretamente, desestimular os municípios.

“Que os municípios se estruturem procurando uma gestão

integrada, eu acredito que também é outra saída, agora isso passa pela questão jurídica, isso passa pela questão da adequação pra que não se cometa erros que já aconteceram em outras localidades por aí” (Entrevista 11).

“Se eu não conhecesse os nossos gestores de saúde eu

poderia ser até um grande otimista, mas por conhecer é que eu sei que a gente ainda vai ter algum tempinho pra tentar melhorar“(Entrevista 11).

O diretor da DIRES é um ator de grande peso na microrregião. Com

posição central na discussão de gestão intermunicipal de saúde, oferece

resistência à articulação intermunicipal embora na sua fala expresse o

contrário.

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4.1.3 OS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE

A maioria dos secretários municipais de saúde tem uma visão

positiva acerca da necessidade de uma gestão intermunicipal. Acredita-se que

o poder de recursos municipais aumentaria, em função do reforço nas

negociações com o nível federal.

Com a gestão intermunicipal, haveria maior capacidade de absorver

profissionais para a rede SUS, bem como, também diminuiriam os custos

excedentes com TFD e com serviços profissionais particulares suplementares.

No entanto, quando se fala da viabilidade, o número de otimistas diminui.

Do ponto de vista do interesse pela gestão intermunicipal, os

secretários municipais de saúde da microrregião podem ser divididos em

quatro categorias (QUADRO nº04):

QUADRO Nº 04 – Distribuição dos secretários municipais de saúde da Microrregião de acordo com o interesse pela Gestão Intermunicipal

Têm interesse e agem como Atores

São neutros e não agem como

Atores

Tem interesse mas não age como Ator

Não têm interesse

Salgueiro Mirandiba Serrita Cedro

Carnaubeira da Penha Terra Nova Verdejante

Cabrobó Belém de São Francisco

Parnamirim Orocó

(1) Secretários Municipais que criam um sistema de saúde próprio; articulam-

se bilateralmente buscando organizar a assistência especializada em outro

município de maior porte; participam das reuniões da Bipartite Regional e têm

interesse em articular um consórcio na região, contanto, para tanto, com

apoio verbal dos respectivos prefeitos. São aqueles dos municípios de

Salgueiro, Mirandiba, Serrita e Cedro. Nesse caso, têm posição de atores no

tocante à discussão da gestão intermunicipal de saúde.

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(2) Secretários Municipais que desenvolvem pequena autonomia gestora,

permanecendo na dependência das decisões da esfera estadual; dependem do

Hospital Regional para atendimento de urgência e emergência. São os

secretários de Carnaubeira da Penha, Terra Nova e Verdejante. Nesse caso,

não têm se expressado como atores na discussão da gestão intermunicipal de

saúde.

(3) Secretário que compartilha a idéia do primeiro grupo, mas não possui

autonomia política frente ao executivo municipal para a definição da política

municipal de saúde: Cabrobó.

(4) Secretários Municipais que não têm interesse por essa discussão devido a

não se sentirem parte da microrregião delimitada para o estudo: Belém de

São Francisco, Parnamirim e Orocó.

Há interesses alheios à gestão intermunicipal, tendo em vista os

movimentos isolados de alguns municípios, estando desarticulados do

conjunto e não interessando, portanto, uma integração regional.

“Sinceramente, quanto a Salgueiro eu não sei lhe dizer muita coisa, não (...) Eu não tenho nenhum contato com Salgueiro, assim, pra eu lhe dizer que eu sei como é o atendimento” (Entrevista 06).

Na verdade, constata-se que, na região há uma falta de vivência da

prática associativa, evidenciada pela omissão na participação de alguns

gestores em fóruns de discussão e negociação intermunicipal.

“Mesmo em relação a NOAS, houve aquela palestra lá em

Petrolina, essa agora em Caruaru, onde eu senti a ausência de muitos colegas daqui da 7ª DIRES, poucos estavam presentes” (Entrevista 07).

Uma das questões que constitui obstáculo aos avanços na

negociação por uma gestão intermunicipal é a desconfiança municipal com as

falhas da pactuação intergestores instituída desde a NOB 01/93.

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Assim, alguns gestores municipais criam resistência à possibilidade

de integrarem uma gestão intermunicipal devido ao acúmulo de falhas nas

pactuações buscadas em reuniões das CIBs regionais, principalmente quanto

ao não pagamento por serviços intermunicipais prestados.

Em alguns casos, há uma negação do próprio poder técnico e político

da SMS, verificando-se um certo conformismo com uma gestão centralizada

no nível estadual.

“A DIRES era quem tinha condição de fazer essa

articulação [...] A gente vai àquelas reuniões e já está todo mundo atropelado, cheio de coisas pra fazer. Então, se já tiver alguém com uma proposta organizada de custos” (Entrevista 08).

Pode-se ver, também, que muitos dos secretários municipais de

saúde da microrregião apóiam as ações do governo estadual, o que

transparece também sua posição nada crítica quanto às responsabilidades que

cabem àquele nível de governo.

Por outro lado, vêem-se alguns depoimentos de incredulidade para

com as estratégias da Secretaria de Saúde do Estado. Numa das falas, fica

bem clara a insatisfação com a Secretaria Estadual no que se refere à

condução de um apressado processo de regionalização, orientado pela

NOAS/2001, o qual foge à real direcionalidade de fluxo microrregional,

gerando um autoquestionamento das Secretarias Municipais, quanto a sua

condição de atores nesse processo.

“E o que me intrigou é que falaram lá, que era apenas um

exercício [...] Pra mim isso é uma brincadeira, não é?” [...] As coisas vêm prontas, aí faz de contas que nós estamos participando, faz de conta que somos nós que estamos construindo “(Entrevista 05)”.

Contrapondo-se a todo esse conformismo, um dos gestores chama à

atenção para a real necessidade e importância da efetividade de estratégias

articuladas como o Cartão Nacional de Saúde e o consorciamento entre

municípios, principalmente na atenção de média e alta complexidade.

“É fundamental a implantação do cartão SUS, pra que a

gente possa ter dados mais precisos com relação a isso, e o

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desenvolvimento desse consórcio [...] para que possamos trabalhar juntos e dividir despesas” (Entrevista 07).

Mas o fato é que algumas Secretarias Municipais ainda convivem

com a dependência administrativa da Secretaria de Saúde do Estado, numa

afirmação da centralização do poder político da esfera estadual. Assim,

continuam mantendo, como referência técnica, política e administrativa, a

estrutura de saúde localizada na capital do Estado.

Essa relação de dependência da esfera municipal de governo faz-nos

inferir a improbabilidade de mudanças, quanto ao exercício da autonomia

municipal relativa, em curto prazo, na microrregião.

No que se refere à possibilidade de implementar uma gestão

intermunicipal para assistência especializada na microrregião, de acordo com

os secretários municipais, seu sucesso extrapola a inclusão de mais

profissionais, mas principalmente influi na criação de mais oportunidades de

trabalho capazes de absorvê-los. Por exemplo, diante da possibilidade de

interiorização da universidade estadual, os secretários vislumbram uma

melhoria da assistência à saúde, na microrregião, somente com um aumento

real e simultâneo de médicos especialistas e de outros profissionais de saúde.

“Então, tem a proposta, por parte do secretário estadual,

que diz sanar esse problema com a questão da universidade, da UPE. Só que, assim eu não sei se seria tão fácil [...] porque pra trazer, precisa fazer programas e serviços” (Entrevista 03).

Pode-se constatar, como unanimidade, e também com bastante

ênfase por todos os secretários municipais, o interesse na garantia de acesso

à assistência especializada próximo à moradia do usuário, contribuindo para

racionalizar recursos e humanizar o atendimento.

Relatam que a localização mais próxima da família e a oferta pela

rede pública, tornam o atendimento ao paciente muito mais satisfatório.

Considerando que haja uma espera por atendimento, esta será também mais

suportável pela companhia de familiares. Dessa forma, os usuários seguem

encaminhados pelos critérios de “quem recebe”, “onde é mais perto” e “qual

serviço custa menos”.

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Os secretários assumem que, até mesmo a Atenção Básica precisa

de uma revisão racionalizadora. Isto se deve ao assistencialismo, ainda

comum na microrregião, que une a capacidade técnica à aparente atitude de

generosidade dos governos municipais, o que tende a direcionar politicamente

a aplicação de recursos.

“Já fiz contato com o médico de lá que atende [...] a gente

dá o dinheiro pro paciente, aquele carente, daí ele vai lá e faz o exame particular” (Entrevista 08).

Questionada por alguns dos entrevistados, a atividade técnica das

Secretarias Municipais de Saúde se desenvolve em meio à cultura política

tradicional, na região, baseada no clientelismo. De certa forma, isso é

ilustrado em alguns municípios, com inchamento do funcionalismo público.

“Então eu acho que enquanto não acabar essa questão de

empreguismo, essa coisa, aí, deprimente, na área de saúde e de educação, né, incha a máquina e fica difícil de mostrar um trabalho” (Entrevista 02).

Essa política, assistencialista por natureza, resolve os problemas de

saúde da população de tal maneira que acaba criando um círculo vicioso, em

que o gestor “negocia” com a população, ocasionando dividendos futuros.

“E aí a gente conhece todo mundo, né [...] e quando as

pessoas chegam, aí a gente tem que atender, tem que ouvir [...] e aí a gente vai conversando e negociando com o próprio paciente” (Entrevista 08).

Dessa forma, mostra-se presente o poder oligárquico na política

microrregional, encontrando-se casos de irmãos distribuídos entre as

secretarias setoriais, chefias de departamentos e direção de unidades públicas

de serviços. Em alguns municípios, a primeira dama, irmão ou primo do

prefeito exerce o cargo de secretário de saúde.

As dificuldades financeiras do setor saúde municipal são uma queixa

constante em toda a microrregião, e isso dá margem à política mercenária que

se pratica em alguns sistemas municipais, com a falta de ética na prestação de

serviços hospitalares que geram recursos aos municípios.

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“E aí é onde entra a falta de bom senso inclusive de

alguns colegas secretários que eu já fiz plantão em algumas cidadezinhas , o secretário chegavam pra mim; rapaz interna, interna...Interna muito, que a gente tá precisando” (Entrevista 07).

Tendo em vista as dificuldades colocadas pelos trâmites financeiros,

no interior das prefeituras, e burocráticos, de acordo com a Política Nacional e

Estadual de Saúde, algumas secretarias trocam favores entre si, constituindo

uma prática intermunicipal “subterrânea”.

“A gente já fecha convênios com as prefeituras que podem

mais [...] É o que a gente faz nos bastidores, hoje [...] Eu recebo, mas em compensação, manda um pedido pra cada um... Manda tanto de lençol [...] Manda tanto disso [...] É uma ajuda” (Entrevista 01).

Neste sentido, constata-se atualmente, que algumas secretarias

municipais de saúde já se relacionam bilateralmente por acordos temporários,

envolvendo hospitais e clínicas credenciadas pelo SUS além de clínicas

privadas não conveniadas. Este sistema é remunerado com recursos da receita

própria municipal ou mesmo do Piso da Assistência Básica (PAB).

Só assim estes serviços de saúde estão abertos a pacientes de

outros municípios. Deslocam pacientes para municípios distantes, inclusive de

outros estados, através de uma negociação prévia, entre o secretário do

município de origem e os serviços demandados, fora do sistema hierarquizado,

regionalizado e gratuito proposto no ideário do SUS.

Teoricamente, todos os secretários municipais defendem a garantia

da universalidade de acesso ao SUS e, assim, o dever que todos os municípios

têm de receber pacientes à procura de atendimento, especializados ou não.

Por outro lado, essa mesma universalidade pode significar uma

sobrecarga para alguns municípios, quando não há responsabilidade de alguns

secretários com as respectivas populações municipais e estas recorrem

àqueles locais que lhes oferecem os serviços necessários, ocasionando um

fluxo conturbado entre estes municípios.

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Regionalizar o acesso, para os secretários municipais, significa

valorizar o poder técnico da microrregião, reduzindo drasticamente a noção de

que o porte municipal é o único responsável pelo seu desenvolvimento.

“A gente tá totalmente isolado de Recife. Esse processo

está tentando acabar com esse negócio de tudo ir pra Recife” (Entrevista 03).

Além do mais, busca-se a redução do risco com filas de espera às

portas dos grandes centros de referência, já se formando um pensamento de

otimização da rede microrregional.

Então tem que fazer nosso pólo, aqui mesmo [...] Quanto

mais se fixar na região, melhor [...] O que, decididamente, não puder ser feito aqui, infelizmente, a gente tem que mandar pra outro lugar” (Entrevista 03).

Para esta regionalização de acesso à saúde, entretanto, é

fundamental que todos os municípios tenham interesse na efetivação de sua

autonomia financeira, que os capacita a desenvolver ações e parcerias.

Visando ainda o acesso à assistência especializada e o aumento da

resolutividade do sistema todos os secretários municipais da microrregião

(excetuando-se Belém de São Francisco, Orocó e Parnamirim) consideram a

situação geográfica e econômica do município-pólo de Salgueiro, excelente

para a condição de pólo regional de saúde.

Na prática, entretanto, recorrer às unidades de referência do pólo

microrregional para internação, pode significar perda de tempo além do risco

de agravamento dos problemas de saúde. O problema maior é quando os

municípios da microrregião vizinha também não dispõem dos serviços

requisitados.

“Quando se manda pra Salgueiro, não tem o ortopedista,

tem que mandar pra Serra Talhada, E daí em diante, né. Vamos pulando de galho em galho” (Entrevista 03).

Há uma insatisfação geral dos sistemas municipais quanto ao

funcionamento e recursos escassos do sistema TFD. Chama a atenção o caso

de Petrolina, relatado por alguns secretários, onde se passou a negar

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atendimentos por se considerar a municipalização de uma unidade hospitalar

regional uma justificativa para impedir a “invasão municipal”.

“Nós estamos encaminhando sim, para Petrolina. Agora

esses custos estão ficando totalmente pela secretaria sem retorno nenhum, porque os casos que são cobertos pelos TFD lá não aceitam [...] Nós estamos encaminhando...clandestinamente” (Entrevista 09).

Assim, em alguns casos, a clandestinidade é a via de acesso de

muitos pacientes àquele serviço, consolidado como referência regional.

Como se não bastasse essa dificuldade, muitas vezes o atendimento

especializado é encontrado apenas no Recife, e daí vem a preocupação com

todo um conjunto de despesas no encaminhamento de pacientes.

“Você paga passagem de ida , paga passagem de volta,

tem uma diária que você tem que pagar pra essa pessoa se manter lá em Recife e muitas das vezes há necessidade de um acompanhante também que aí dobra esse custo. Então sai muito caro” (Entrevista 07).

Tendo em vista as demandas por saúde na microrregião, alguns

gestores relatam o interesse em viabilizar uma rede microrregional

hierarquizada, com os atendimentos de média complexidade, tais como

cirurgias e partos de risco no Hospital Regional, enquanto as Secretarias

Municipais de Saúde, com estrutura suficiente, continuem a resolver a atenção

básica.

“Como a gente tem assistência básica...o que eu acho que

necessita mais são os exames especializados como ultra-sonografia, mamografia... E geralmente tomografia é um caos...os médicos não podem passar...porque isso é passado pelo neurologista” (Entrevista 06).

“Ao pólo, a gente tem que levar paciente com apendicite, com alguma coisa assim, pancreatite, infecções generalizadas que poderia ser uma cirurgia pequena e podia ter uma resolução bem mais rápida, não é [...]. Obstetrícia e ligaduras...essas coisas poderiam ser feitas aqui se o bloco cirúrgico funcionasse, que já existe e tudo, né?” (Entrevista 06).

Todos os secretários têm interesse pela organização de uma rede

microrregional de referência e contra-referência que garanta a universalidade

do acesso a seus pacientes, além do que, resulte uma otimização de recursos.

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“Com certeza, diminuiria os custos a partir do momento

que o especialista está aqui na região. O TFD se reduziria a um mínimo de pacientes que teriam que ser enviados pra fora” (Entrevista 07).

Os interesses municipalistas e não regionais, levam alguns

secretários a interessarem-se por localizar serviços de referência em seus

territórios e em alguns casos, assumir a condição de sede na prestação desses

serviços.

“Quando, na verdade, eu vou precisar... eu vou, muito,

precisar desse ortopedista aqui, uma vez por semana. E, num caso de emergência, eu mandaria pra Salgueiro” (Entrevista 01).

Apesar do aumento na resolutividade do sistema municipal, e

facilidade do acesso que essa política acarreta, alguns excessos municipais

servem como demonstração de poder diante de seus pares e incrementam o

isolamento municipal.

“Um bloco cirúrgico que nós já temos, e que não funciona

porque nós não temos condições de AIH, não pra fazer grandes cirurgias, mas pra fazer uma cesariana...uma ligadura de trompas...pequenas cirurgias”(Entrevista 06).

Isto se configura como um assunto da política doméstica e

clientelista, na qual usa-se de forças políticas aliadas no momento atual, em

que se discute a microrregionalização orientada pela NOAS/2001.

Por outro lado, a deficiência microrregional, em se tratando de

profissionais especializados, induz as secretarias municipais à compra de

serviços particulares, em negociações as mais diversas. Essa dificuldade de

contratação de profissionais é explicada pela indisposição dos mesmos em

alocar-se na região. E isto tem, como fortes determinantes, a falta de

oportunidades de crescimento, resultante do estigma criado com os problemas

sociais que acometem a região, tais como: os flagelos da seca e a violência

gerada pelo tráfico de drogas.

Pode-se ver, pela fala de um gestor, que há obstáculos concretos à

suficiência de profissionais especializados na rede pública microrregional. E

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isso é agravado pela ênfase no mercado privado, ao qual não é facilitado o

acesso à maior parte da população.

“Porque a comunidade aqui é carente, não existe plano de

saúde...Todo mundo precisa do SUS...A gente aqui tem dificuldade por ortopedista [...], uma área que poderíamos ter, aqui, com mais facilidade” (Entrevista 05).

A captação de recursos humanos para o município tem, também,

como impedimento a escassez de recursos próprios do município. Isso dificulta

a ampliação do acesso a serviços especializados.

“A dificuldade nossa, realmente, é essa contratação desse

profissional. É o valor a ser pago por esse profissional, que a prefeitura não tem como arcar essa despesa. A prefeitura que não arrecada, a prefeitura, hoje, que sobrevive de FPM [Fundo de Participação dos Municípios]...” (Entrevista 01).

Para alguns secretários, o nível de qualidade dos serviços

profissionais já existentes e da capacidade de atrair novos especialistas

prejudica a reorganização da rede local de média complexidade no pólo

Salgueiro.

“A imagem de Salgueiro é muito negativa. Para mudar

precisa-se de médicos de fora” (Entrevista 04).

Para esse grupo de secretários, a solução tem sido encontrada no

pólo cearense representado pelos municípios de Barbalha e Crato.

A ausência de especialistas médicos ou clínicos gerais no Hospital

Regional tem dificultado o preenchimento do quadro de médicos nos

municípios.

“É impossível conseguir colocar os colegas trabalhando 40

horas no PSF sem fechar o Hospital...” (Entrevista 07).

Um depoimento isolado se destaca, entre os secretários municipais,

resgatando o interesse de que os municípios se associem para cuidar da

promoção da saúde.

“A gente não pode querer mudar a cara da saúde nesse

país inteiro sempre aplicando só em PSF, só em medicina , só em

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medicamento , só em farmácia básica, só em programa de leite, isso é só paliativo” (Entrevista 07).

A captação de profissionais de saúde para a microrregião parece ser

urgente e ligada ao aumento da resolutividade e à qualidade dos serviços.

“A gente deveria se unir pra pressionar que o Ministério da

Saúde arrumasse um meio, uma lei [...] que exija que eles passem, pelo menos 2 anos, fazendo especialização nesses PSFs [...]. Mas aí a gente questiona: Será que, por ser pressionado, médico vai trabalhar direito?” (Entrevista 06).

Aumento de resolutividade, para alguns secretários municipais, seria

o uso de tecnologias. Nesse caso, adquirir um aparelho sofisticado é motivo de

orgulho e de votos. No entanto, logo se torna um problema administrativo de

improdutividade.

“Todo mundo quer um aparelho de ressonância magnética,

todo mundo quer uma série de tecnologias, mas nem todo mundo tem condições de segurar a barra” (Entrevista 01).

De uma forma geral, os secretários municipais almejam um

incremento na área de diagnóstico, com a aquisição de tecnologias e recursos

humanos para sua operacionalização, além da racionalização do uso por toda a

rede pública microrregional, já que a existência desses equipamentos encarece

a prestação da assistência se adquiridos isoladamente, e acabam tornando-se

obsoletos ao longo do tempo.

Outro interesse polêmico é uma possível municipalização do Hospital

Regional por parte da SMS de Salgueiro. O destino que os secretários da

microrregião almejam para este hospital, diferente do que ocorreu com a

municipalização do Hospital Regional situado em Petrolina, é a prestação de

serviços de média e, para alguns, de alta complexidade para toda a

microrregião.

O secretário municipal de saúde de Salgueiro, por sua vez, reclama

maior poder sobre aquele hospital, antecipando a pretensão de colocá-lo como

parte da sua rede própria, baseado nos argumentos de subutilização daquela

unidade, falta de recursos humanos especializados e sua localização

geográfica.

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“Capacidade instalada que não é suficiente, ainda, para

atender toda a população, principalmente no tocante a recursos humanos, ressaltando-se que, por estar localizado no centro da região e sediar o Hospital regional, ainda tem que atender aos municípios vizinhos” (Salgueiro, 2000).

A municipalização daquele hospital, de fato, é uma discussão que

entra por questões de ingerência, comodidade e responsabilidade. Assim, os

demais secretários reclamam os direitos de sua população usufruir os mesmos

serviços, com a justificativa de um quase monopólio do município de Salgueiro

que fere a missão regional do mesmo.

Em resumo quanto à posição desses atores, considerando o grupo

de secretários que leva adiante o interesse pelo tema gestão intermunicipal,

em sua maior parte, não administram a discussão tanto quanto lhes caberia

enquanto gestores dos sistemas municipais de saúde e conhecedores das

demandas e serviços de referência aos quais podem recorrer. O fato é que

ainda atendem aos interesses do executivo municipal antes da preocupação

com a operacionalização do SUS microrregional. De outro lado, apesar de

estarem inseridos num contexto político-partidário diversificado, não há

oposição franca à política centralista da SES, com intermédio da DIRES, e sim

uma relação cordial à espera de benefícios futuros.

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4.1.4 OS PREFEITOS

Na visão dos secretários municipais de saúde, os prefeitos da

microrregião têm opiniões diversas a respeito da gestão intermunicipal de

saúde.

Há os que apóiam, expressamente, a perspectiva de gestão

intermunicipal de saúde, por conhecerem experiências de consórcios

intermunicipais nesse setor (Salgueiro, Cedro, Mirandiba e Serrita). Alguns,

apesar de não consultados, tenderiam a apoiar a iniciativa de gestão

intermunicipal a exemplo dos consórcios intermunicipais de saúde,

demonstrando atualização sobre o tema (Cabrobó e Terra Nova). Outros ainda

precisam ser consultados, por não conhecerem as características dos

consórcios como modalidade de gestão intermunicipal mais freqüente no país

(Verdejante e Carnaubeira da Penha). E, por fim, há os prefeitos excluídos da

discussão pela posição da gestão municipal de não integrar a microrregião em

questão, permanecendo os municípios restritos à divisão administrativa

definida pelo governo estadual (Parnamirim, Orocó e Belém de São Francisco)

De acordo com a fala dos secretários, há uma grande preocupação

dos prefeitos dessa microrregião quanto ao acesso da população aos serviços

de saúde, considerando que alguns municípios possuem grandes extensões

rurais e comunidades isoladas.

“Tem um carro da própria prefeitura, quando falta carro da prefeitura, a gente aluga carro, mas nunca deixamos de atender” (Entrevista 03).

Assim, todos os secretários entrevistados (exceto Parnamirim,

Orocó e Belém de São Francisco) afirmam que os prefeitos vão aderir à

proposta de uma gestão intermunicipal, à medida que for apresentada como

uma real racionalização de gastos e uma organização das demandas.

Por outro lado, a alguns municípios interessa apenas uma

descentralização financeira do setor saúde, trazendo-lhes os recursos possíveis

de redirecionar para outras políticas.

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“Porque a quantidade de internações desnecessárias que são feitas [...]. É aí que entra a falta de bom senso [...] O secretário chegava pra mim: “ Rapaz, interna... interna...Interna muito, que a gente tá precisando...” (Entrevista 07).

Para a maioria dos entrevistados, os diferentes partidos políticos em

situação de governo na microrregião também não impõem barreiras à gestão

intermunicipal. Na visão deles, não haveria empecilho a esta prática pelo fato

de que se pensaria primeiro na oferta de serviços à população. Alguns colocam

a existência de divergências, mas entende-se que, nesse contexto não se

incluam as políticas de saúde.

Há quem sugira que “vaidades” entre prefeitos pode ser um

empecilho à associação municipal.

Apesar do clima amistoso, também há quem afirme que pode vir a

existir interferência negativa de forças políticas de projeção regional e até

estadual.

Segundo a maioria dos secretários, dentre os políticos da região,

pelo menos aqueles com atuação no âmbito legislativo estadual, há forte apoio

ao processo de gestão intermunicipal, desde que se demonstre o

favorecimento da população. No entanto, não se considera esse apoio mais

importante do que a articulação entre prefeitos.

Na microrregião, encontram-se vestígios da prática coronelista,

evidenciada pela permanência de políticos anos a fio no poder, e pela

existência de famílias de prestígio político ocupando cargos nas prefeituras.

Essa prática usa como capacidade de governo a generosidade, o que faz dessa

política visível aos olhos da população. Dessa forma, é imprescindível que a

população reconheça o empenho do prefeito.

“O prefeito sempre coloca lá, no plano 9%, mas ele

sempre dá muito mais do que isso. É 30% é 40%. Varia muito. O próprio Conselho toma conhecimento do tanto que o município ajuda na parte da saúde” (Entrevista 08).

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Na microrregião de Salgueiro o setor saúde é considerado um grande

depositário de votos e um espaço suscetível à provisão de serviços de forma

conservadora.

“A maioria dos colegas “inteligentes” ainda dá mais valor a

uma política que apareça aos olhos do povo, [...] o esgoto fica por debaixo da terra” (Entrevista 07).

Assim, critica-se a prática governista que ainda objetiva uma política

assistencial em vez do trabalho pela promoção da saúde. Além disso, há um

desabafo quanto à pressão exercida pela oposição.

“Na Câmara, a oposição hoje tem maioria e adota essa

política de quanto pior melhor” (Entrevista 07).

Mas, pelo menos na opinião do diretor da DIRES, os interesses

assistencialistas para obtenção de apoio político da população estão sob risco

de não surtirem mais o efeito desejado, tendo em vista o desenvolvimento do

poder político local.

“Eu sou sertanejo, e não poderia deixar de dizer que... se

você não pode, faça o seu feijão com arroz, mas faça bem feito. É melhor do que você tentar enganar, porque você não engana o povo. “ (Entrevista 11).

O problema do Hospital Regional é tomado pelos prefeitos como

uma questão crucial para a reestruturação da rede de serviços. Se, por um

lado, há nos municípios uma oferta maior de clínicos e médicos generalistas, a

emergência hospitalar fica desfalcada e, assim, todos perdem.

Dessa forma, no caso de se efetuar uma gestão microrregional,

alguns acham que a movimentação e força política influirão na alocação de

profissionais especializados no Hospital ou em quaisquer dos municípios,

correspondendo a vaidades governistas.

Isto se sustenta no fato de que as prefeituras mantêm uma relação

de controle sobre os profissionais de saúde, do seu âmbito, que atuam noutros

municípios e, também, no Hospital Regional.

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Junto aos prefeitos, as Secretarias Municipais de Finanças são

aquelas que delimitam o raio de ação de todas as outras secretarias

municipais.

“Se vai querer fazer uma coisa aí tem o freio dos recursos”

(Entrevista 02).

Assim, as secretarias municipais de saúde da microrregião, na sua

maior parte, têm este fato como um obstáculo à gestão intermunicipal desde o

processo de discussão da viabilidade.

Tendo em vista seu poder político local, os prefeitos são atores

estratégicos para o andamento do processo de gestão intermunicipal, porque

procuram atender exigências partidárias, mas almejam também o prestígio

político advindo de uma administração que eleve as políticas sociais. São

atores determinantes ao processo, por centralizarem os recursos financeiros

municipais. Assim, permanecem atentos ao momento oportuno em que

possam avaliar argumentos concretos para o convencimento sobre a

racionalidade financeira inerente à proposta de gestão intermunicipal.

4.1.5 O DIRETOR DO HOSPITAL REGIONAL INÁCIO DE SÁ

Para o diretor do Hospital Regional é claro o reconhecimento da

diferença entre gestão e gerência, e assim, este confirma sua subordinação às

deliberações da direção regional.

“A partir do momento que tiver alguém do setor dos

municípios que encare isto, nós estamos prontos para sentar e conversar com todos eles. Claro, eu não posso é tomar atitude definitiva, sem passar pela DIRES “(Entrevista 12).

A administração do Hospital Regional, hoje, é bastante criticada,

porque a referida unidade tem estrutura para o atendimento microrregional,

mas resta, ainda, resolver a questão de suficiência de profissionais, e isso não

está nas mãos do gerente da unidade, cuja opinião é favorável à gestão

intermunicipal, como forma de fazer funcionar, efetivamente, o atendimento

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em todas as especialidades médicas quantas o hospital tem capacidade. Para

isso, basta que se transponham as barreiras burocráticas que dificultam a

contratação de profissionais especializados.

Dessa forma, responsabiliza o funcionamento público como

responsável pelas dificuldades administrativas

“Hoje, tudo que é do estado é burocrático [...] Eu acho

que uma das principais coisas que faltam é a desburocratização da coisa, pois uma coisa dessa não teria nem que marcar para amanhã, era só bater o martelo ai na hora e depois oficializar” (Entrevista 12).

Dentro de uma hierarquia administrativa, reivindica mais autonomia

diante do secretário estadual de saúde, e manifesta, também, uma

desconfiança em relação aos municípios que venham participar de uma

possível gestão intermunicipal, tendo aquela unidade como referência

especializada.

“Eu acho que os prefeitos vão querer mandar no hospital,

e vai perder um pouco a autonomia do diretor do hospital neste sentido de muita gente querendo mexer aqui dentro”(Entrevista 12).

Bem próxima a esta reivindicação de poder com a gestão

intermunicipal, pode-se perceber, também, o desejo do diretor em satisfazer

anseios particulares de notoriedade.

Diz que na sua gestão, o hospital melhorou 100% em produção, em

manutenção e em aquisição de novas tecnologias.

“Eu acho que... e uma garantia de o hospital ter aparelhos

mais sofisticados [...] o paciente vir no hospital fazer uma consulta de oftalmologia e aproveitar e fazer um ultrassom [...]” (Entrevista 12)

No entanto, ainda preocupa-se com a forte expectativa que recai

sobre aquela unidade, cuja assistência ambulatorial tem suprido as

deficiências da atual rede microrregional, com o acúmulo de atendimentos de

nível básico, o que não considera missão do hospital.

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“Nós fazemos ambulatório, aqui, devido às deficiências dos postos. A pessoa chega à noite...o posto está fechado...vem pra o hospital“ (Entrevista 12)

Para esse ator, a missão do hospital consiste na Urgência e

Emergência, podendo ser acrescida de algum atendimento especializado, o

que mostra sua simpatia com a idéia de uma gestão intermunicipal.

O diretor do Hospital Regional atua como um coadjuvante, podendo

alternar suas alianças entre os secretários municipais, quando ameaçado em

sua prestação de serviço de diagnóstico privado, e o gestor estadual, como

forma de manter seu cargo político-administrativo de destaque na

microrregião.

4.1.6 OUTROS (IM)PROVÁVEIS ATORES

Quanto aos políticos locais, mais precisamente, os que atuam nas

Câmaras Municipais, pode-se concluir que são bastante combativos em seus

questionamentos tempestivos a respeito das políticas de saúde.

No entanto é a satisfação de vaidades que endossa atitudes

reivindicatórias desses sujeitos.

“Geralmente, quando a gente começa a fazer um trabalho

, eles já começam a cobrar, pra ter o nome depois: “Fui eu que pedi, fui eu que exigi, fui eu que cobrei...” (Entrevista 03).

Dessa forma, muitos desses políticos almejam a popularidade

explorando as deficiências do setor saúde.

O mais comum, na microrregião, é que a maior bancada pertence às

coligações de apoio ao governo municipal, inclusive contando com

profissionais de saúde entre seus membros, e nesse caso, apóiam a decisão

do executivo municipal.

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De acordo com alguns gestores, a acomodação, o desinteresse e o

desconhecimento do tema gestão intermunicipal, por parte da Câmara de

Vereadores, é o que leva a crer que estes sujeitos não representam oposição a

esta prática.

Outros gestores acreditam que isso acontece porque ainda não se

reconhece o poder da Câmara Municipal no processo de implementação das

políticas saúde.

Quanto aos CMS, a discussão sobre gestão intermunicipal e fluxos

intermunicipais de assistência à saúde não é contemplada nas suas reuniões.

Dessa forma, não se constitui como ator coletivo capaz de reforçar a inclusão

da gestão intermunicipal de saúde na agenda dos municípios da microrregião.

4.2 OS MÉDICOS

Dentre os profissionais de saúde, considerados atores importantes

do processo de organização de uma gestão intermunicipal, os médicos

poderiam vir a ser os protagonistas.

A principal justificativa para essa afirmação é o caráter técnico e

político da atuação desses profissionais. A medida em que se revezam nos

diferentes postos de atendimento, ora públicos ora privados, de nível básico

ou especializado, também promovem suas alianças políticas e galgam cargos

de prestígio político em nível municipal ou estadual.

“Assim, alguns médicos pediram para ser candidatos a

prefeito...” (Entrevista 12).

Além disso, interesses pessoais se misturam a interesses partidários

e, conforme alguns, isso pode trazer conflitos para a cobertura assistencial.

“Existe, às vezes, uma tentativa de desestabilizar o

hospital [...]. Alguém que não tenha interesse que o hospital cresça [...]. Os próprios médicos do hospital, que pedem licença para

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atrapalhar o movimento do hospital [...]. Pedem licença e denunciam que o hospital não tem médico” (Entrevista 12).

Evidencia-se também que a maioria dos médicos empresários no

sistema de saúde microrregional são servidores do Hospital Regional e de

outras secretarias municipais. São, portanto, os nós da rede microrregional de

saúde.

Além disso, são beneficiados com a alta demanda microrregional por

serviços de saúde, em detrimento de um pequeno número de profissionais, o

que lhes confere certo poder de barganha, deixando os secretários e prefeitos

à mercê de um leilão permanente “de quem dá mais”.

Na opinião de outros, há, ainda, a deficiência de capacidade da rede

quanto a algumas especialidades médicas, incluindo-se aí os serviços privados

conveniados, o que vai de encontro à insuficiência de profissionais. Isso tem

produzido um excesso de trabalho para poucos profissionais. Daí falar-se na

evasão dos mesmos por uma incapacidade própria da rede.

Simultaneamente, os profissionais da rede pública contribuem

fortemente para o absenteísmo em alguns serviços municipais. A partir daí,

vê-se que os problemas de saúde são resolvidos quando há procura na rede

privada, o que remonta o círculo vicioso das secretarias municipais em

recorrer aos serviços particulares prestados por profissionais que também

fazem parte de sua rede pública de assistência.

Há, também, quem dirija seu questionamento para o próprio médico

e sua falta de compromisso com a saúde pública e com o funcionamento de

suas estratégias, como o PSF. Para eles, este é o motivo louvável pelo qual

deveriam fixar-se estes profissionais na região.

“Usa o serviço público como título [...] Atualmente tava

querendo usar PSF também [...] ganhar R$ 3.500,00, R$ 4.000,00 e ir lá 3 vezes por semana [...] faz ambulatório de 2 horas e volta” (Entrevista 07).

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Na realidade, parece prevalecer o interesse financeiro de se

acumular plantões e vínculos de 40 horas para obter vantagens salariais.

Nesse caso, vigorando o interesse pessoal e não na organização do sistema

microrregional de saúde.

Em síntese, os médicos advindos de municípios maiores buscam a

inserção na rede microrregional de saúde. Mas, o que rege este processo de

contratação são as possíveis vantagens referentes a salário e gratificações.

Mantêm-se por algum tempo na microrregião, até que alcancem

suas metas de experiência profissional e procurem melhores remunerações,

onde possam fixar-se permanentemente.

Assim, ocasionalmente, os secretários municipais de saúde

mencionam o interesse no crescimento profissional quando se trata da

migração destes profissionais de saúde para o interior do Estado.

Permanece, portanto, na cultura local, a descrença na mudança

desse perfil profissional, que apenas leva em conta a proporcionalidade entre

o porte municipal e a oportunidade de desenvolvimento.

“A gente até agora não encontrou ainda um anestesista

que queira vir pra aqui, pra morar [...]” (Entrevista 02) “O médico não quer vir pra Salgueiro pra não perder

profissionalmente, também...Eles querem ficar no Recife, porque lá eles têm condições de amanhã crescer mais [...] eles tem receio de vir pra o interior...” (Entrevista 09).

Para alguns secretários, o interesse médico está, ainda, vinculado à

centralização das políticas de saúde no nível federal, sem reconhecer a

autonomia conferida aos municípios.

“Eu creio que se tivesse um fomento do governo federal e

estadual na rede pública pra melhoria dessa saúde, eu acredito que com certeza os médicos aceitariam...” (Entrevista 02)

Assim, muitos profissionais somente esperam e acreditam no

fomento de programas e serviços através dos níveis supramunicipais de

governo.

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Como a equipe de saúde muitas vezes é constante no local, acredita-

se que os médicos, em geral, aprovariam uma gestão intermunicipal, mas não

há um embasamento concreto para isto.

O interesse profissional nesta nova realidade estaria baseado no fato

de que uma gestão intermunicipal vai de encontro ao reconhecimento pelos

usuários da própria região, visto que a maior parte das referências e da

confiabilidade popular recai sobre os profissionais de saúde lotados na capital

e em municípios de grande porte.

Assim, alguns médicos aprovariam uma gestão intermunicipal que

venha facilitar o encaminhamento a especialidades e o acesso a tecnologias

que requerem estruturas organizadas de referência para o usufruto por todos

os municípios.

A gente está no sertão, está isolada, e tenta fazer a parte

básica, mas, quando precisa de outro nível de atenção, de especialidade, a gente procura e não tem” (Entrevista 03).

Na prática, estes profissionais não assumem a posição de atores,

revertendo seu poder técnico e político na defesa da gestão intermunicipal.

Agem por interesses pessoais e corporativos e preocupam-se,

primeiramente, com o rendimento dos serviços privados, considerada a

atividade principal da maior parte dos médicos da microrregião.

Os médicos são atores importantes no processo de implementação

de políticas. Na prática, não agem como atores na discussão sobre gestão

intermunicipal de saúde, mas são vistos como possíveis interessados nesse

processo, sejam eles prestadores privados ou do setor estatal.

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4.3 OS PRESTADORES PRIVADOS

A prestação de serviços pela rede privada conveniada ao SUS tem

bastante força na microrregião, e poderia justificar-se pela situação de

insuficiência e deficiência da rede pública, mais especificamente, do hospital

regional de gestão estadual.

A participação dos prestadores privados no sistema de saúde

microrregional já é evidente pela pressão exercida em reuniões da Comissão

Intergestores Bipartite Regional, onde é possível presenciar o questionamento,

principalmente quanto a resolutividade da única unidade hospitalar estatal da

microrregião.

No entanto, são os prestadores privados, conveniados ou não ao

SUS, situados em Petrolina, em Serra Talhada e no Ceará os mais citados.

Como apresentado no contexto do estudo, a realidade, quanto a

algumas especialidades, é a de que não existe oferta de serviços públicos num

raio de vários quilômetros de distância. Isto reforça a necessidade da rede

complementar do SUS, justificando aqueles que apostam na

complementaridade público-privado do SUS microrregional como uma

alternativa para as deficiências do inter-relacionamento entre municípios.

Mais do que isso, cria-se uma rede de relações SUS−serviços

privados não conveniados, para dar vazão à demanda microrregional. Os

atendimentos especializados seguem acordos e tabelas de preços,

convencionadas entre SMS e prestadores privados. Os prestadores privados já

atendem aos municípios como rede suplementar ou num sistema de acordo

bilateral entre o secretário municipal e o consultório ou clínica privada, nesse

último caso de forma gratuita.

Assim, a regionalização, proposta pelos secretários, também

pressupõe uma racionalização da relação de complementaridade com os

serviços privados de saúde, tendo em vista estes serem utilizados devido à

ineficiência da rede pública.

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“Antes mesmo do Regional. Barbalha sempre foi um

município que ajudou muito essa região inteira. Porque lá temos... o Hospital “X”, que tem muita coisa...e o Hospital “Y”. São dois hospitais que são, assim, muito completos” (Entrevista 08).

O acesso aos serviços de saúde é interpretado, também, pela

agilidade e aplicação da tecnologia necessária à obtenção do atendimento,

primando pela sua qualidade.

“Não convém mandar aquele paciente pra Recife....eu

mando pra eles e demora, porque é mais tempo na estrada com uma urgência. [...] Então... desloco um paciente pra um particular...e mando pra lá, porque o paciente sai num dia, já resolve e vem embora no outro...” (Entrevista 08).

Um dos gestores considera as unidades privadas conveniadas mais

resolutivas, comparativamente às estatais, propondo-as como unidades de

referência opcionais em caso de articulação intermunicipal.

“Se a gente não fizesse através do Hospital Regional, a

gente talvez já começasse através do Pronto – Socorro [...]. A gente achou uma estrutura muito boa pra centralizar os atendimentos obstétricos “ (Entrevista 09).

O diretor da DIRES é um dos defensores dessa idéia, mas sustenta

ainda a opinião de que os serviços da rede privada ainda estão aquém do

ideal, quando se trata da microrregião.

“Talvez esteja faltando empreendedorismo nas clínicas

privadas...acredito que não estão se estruturando para isso, aqui na região” (Entrevista Nº11).

De opinião contrária, um dos secretários de saúde nega a solução

dos problemas por esta via, tendo em vista representar a compra e venda de

ações e serviços de saúde como produtos de mercado.

“Esses hospitais conveniados correm em cima de

produção, de forçar a barra em internações, em algo que possa dar um pouco de lucro. Então, eu não acredito no SUS enquanto hospital conveniado...” (Entrevista 07).

Do ponto de vista da gestão Intermunicipal de Saúde, as unidades

privadas que já possuem convênios ou contratos com o sistema público

microrregional continuam ganhando.

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Caso o Hospital Regional assumisse a missão de atender à demanda

especializada dos municípios, poderia surgir alguma insatisfação com a

reorganização da oferta de serviços, caso estas unidades venham a ser

desvinculadas, ou mesmo haja uma diminuição de sua clientela de

atendimento particular.

“Eu acredito que pode ter alguma resistência, mas talvez

nem tenha... Porque vai tender a diminuir a procura nos hospitais privados, com certeza “ (Entrevista 05)

Assim, poder-se-ia esperar uma indiferença quanto à participação

destes atores na organização de uma rede microrregional, desde que já não se

verifica grande adesão ao SUS municipal, mas há uma dubiedade.

Em se tratando da posição que os prestadores privados venham

assumir numa possível gestão intermunicipal, a maioria dos secretários ainda

acha que a perda de clientela e, conseqüentemente, de lucro, é uma

justificativa plausível para acreditar em resistências.

Em conclusão, acredita-se que a posição aparentemente passiva dos

prestadores privados esteja baseada na inexistência de serviços especializados

na rede pública e na previsão de continuidade da sua condição hegemônica na

prestação de serviços à microrregião.

Eles não estão interessados nessa discussão dentro do âmbito do

SUS a não ser quando ponta para o Hospital Regional, enquanto Unidade de

referência, de cujo quadro muitos fazem parte.

Dessa forma, alguns profissionais de saúde que possuem serviços

particulares, também atuam na rede pública, seja em ambulatórios municipais

ou no hospital regional. Estes, sim, podem fazer diferença, em apoio à gestão

intermunicipal, para afirmação de seu vínculo na microrregião.

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4.4 SÍNTESE DOS ATORES E INTERESSES EM JOGO

Em resumo, apresenta-se, a seguir, a identificação dos atores

presentes no contexto microrregional da discussão sobre gestão intermunicipal

de saúde, junto a seus respectivos interesses, dispondo-se o que está em

consonância com os princípios do SUS selecionados (descentralização

hierarquizada e regionalizada, universalidade do acesso, resolutividade e

complementaridade), ou com interesses de outra natureza (QUADRO Nº 05).

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QUADRO Nº 05 – Atores e interesses de expressão sobre a gestão intermunicipal, na Microrregião de Salgueiro - Pernambuco, de acordo com os princípios do SUS selecionados

ATOR INTERESSES

POLÍTICOS FAVORÁVEIS À OPERACIONALIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS DO SUS DE OUTRA NATUREZA

1. SES - Reforma e aquisição de equipamentos para o Hospital Regional Inácio de Sá; - Contratação de novos médicos para clínicas básicas do Hospital Regional;

- Centralização da discussão da NOAS microrregional; - Demora na implementação da NOAS; - Resistência à aprovação de CIS microrregional; - Centralização administrativa do Hospital Regional;

2. Diretor da 7ª DIRES

- Aumento da resolutividade dos sistemas municipais

- Hierarquização dos serviços; - Qualidade do atendimento; - Humanização do atendimento;

- Uso racional de tecnologias; - Atenção Básica nos municípios; - Direcionamento exclusivo do Hospital Regional para Urgência e Emergência;

- Suporte ambulatorial do Hospital regional para os pequenos municípios.

- Desestímulo com relação à gestão intermunicipal; - Centralização do poder técnico; - Expansão da Rede privada suplementar do SUS no município-pólo

como referência especializada; - Centralização administrativa do Hospital Regional;

3. SMS

- Universalidade do acesso às ações e serviços; - Acesso à assistência especializada , com agilidade e disponibilidade de tecnologias, próximo à moradia do paciente;

- Humanização do atendimento; - Qualidade do atendimento; - Ética nos procedimentos de assistência à saúde;

- Regionalização do fluxo intermunicipal de referência e contra-referência, com a concentração de serviços especializados no município-pólo e a hierarquização com Atenção Básica nas redes municipais e média complexidade no Hospital Regional;

- Municipalização do Hospital Regional (Salgueiro);

- Permanência da missão regional do Hospital Inácio de Sá;

- Racionalização dos recursos destinados à saúde, com redução dos gastos com TFD, aumento da resolutividade dos sistemas municipais e complementaridade e suplementaridade da rede privada mediante convênios e contratos;

- Suficiência de médicos especialistas; - Fixação de profissionais pela rede pública do SUS microrregional;

- Manutenção do clientelismo político municipal; - Desenvolvimento da capacidade técnica microrregional; - Desenvolvimento de sistemas municipais de saúde isolados; - Acordos bilaterais de prestação de serviços especializados; - Afirmação de poder perante outros municípios; - Interesses partidários.

4. Prefeitos - Atendimento das demandas de saúde da população; - Acesso à assistência especializada; - Efetividade do atendimento do Hospital Regional; - Descentralização financeira;

- Racionalização dos recursos aplicados à saúde; - Prestígio político; - Apoio a políticos regionais/estaduais de expressão; - Legitimação visando reeleição; - Controle sobre os profissionais da rede municipal compartilhados

pela gestão intermunicipal.

5. Diretor do Hospital Regional

- Atendimento de Urgência e Emergência no Hospital Regional; - Pequena abertura ao atendimento especializado no Hospital Regional; - Efetividade da assistência ambulatorial nos municípios.

- Desburocratização da rede pública de assistência à saúde; - Autonomia administrativa perante a SES e as SMS; - Manutenção da atividade profissional paralela entre o sistema

público e privado de serviços de saúde; - Notoriedade política.

MÉDICOS - Organização da Referência e Contra-referência, com acesso do usuário a tecnologias; - Qualidade do atendimento.

- Melhores condições de trabalho; - Acúmulo de vantagens salariais; - Flexibilidade de vínculos profissionais; - Prestígio político; - Geração de fluxo de pacientes para seus serviços privados; - Reconhecimento pelos usuários; - Confiança na relação médico-paciente.

PRESTADORES PRIVADOS

- Assistência médica complementar e suplementar ao SUS; - Resolutividade dos serviços.

- Manutenção da clientela particular proveniente de outros municípios; - Hegemonia na assistência especializada microrregional; - Influência técnica e política dentro do Hospital Regional;

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Como pode ser visto, em se tratando da gestão intermunicipal,

dentre os atores definidos como políticos, no setor saúde microrregional,

somente os secretários municipais de saúde e o diretor da 7ª DIRES

acumulam, com maior teor, em relação aos de outra natureza, interesses

relacionados aos princípios específicos do SUS abordados: descentralização,

regionalização hierarquizada, universalidade do acesso, resolutividade e

complementaridade, destacando-se os secretários pela maior proximidade da

discussão.

Os prefeitos e a SES, como é de se esperar por sua posição mais

partidária e centralizadora, no momento atual, demonstram maior ocupação

com interesses de outra natureza.

O diretor do Hospital Regional confere à discussão uma preocupação

com o SUS mas não deixa dúvidas de sua posição político-administrativa

intermediária entre os interesses centralizadores da política estadual e os

interesses hegemônicos partilhados pelos prestadores de serviços privados.

Quanto aos médicos, seus interesses variam conforme sua atividade

como prestadores públicos ou privados de serviços de saúde, resultando em

interesses dos mais diversos fins, porém com menor ênfase aos princípios do

SUS.

Por fim, aos prestadores privados cabe, principalmente, resguardar

seus rendimentos e hegemonia dentro da microrregião.

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555... CCCOOONNNSSSIIIDDDEEERRRAAAÇÇÇÕÕÕEEESSS FFFIIINNNAAAIIISSS

Em relação aos objetivos propostos, considera-se que a abordagem

qualitativa utilizada foi extremamente satisfatória, bem como os métodos

empregados para a coleta de informações foram bastante adequados ao tipo

de estudo. Entretanto, tendo em vista o tempo disponível para realização da

pesquisa, reserva-se a um momento posterior a ampliação da compreensão da

realidade estudada, com uma abordagem que focalize os sujeitos já

transformados em atores sociais numa gama maior de segmentos sociais.

Tratando-se de uma microrregião do Semi-árido Nordestino, a

Microrregião de Salgueiro, que tem na agropecuária sua principal atividade,

possuindo, por isso, um grande contingente rural, apresenta um índice de

desenvolvimento humano abaixo da média brasileira e ainda convive com um

alto índice de criminalidade ligada ao tráfico de entorpecentes. Esta

microrregião agrupa municípios que vêm gradativamente, se desmembrando

de municípios-pólos, de maneira muitas vezes precoce, aumentando o

contingente de municípios de pequeno porte no país. Todos eles se encontram

sob Gestão Plena da Atenção Básica e verifica-se que suas demandas não são

atendidas pela rede própria de serviços. Por isso, observa-se uma relação

ainda de dependência do governo estadual, o que torna a discussão sobre

gestão intermunicipal também centralizada na esfera estadual.

Certamente que outras experiências com características estruturais

semelhantes vieram a obter sucesso na implementação de uma gestão

intermunicipal, em alguns estados, mas o jogo de poder e interesses presente

na microrregião estudada não permite alavancar concretamente o processo.

Portanto, na Microrregião de Salgueiro, a constatação de que

existem poucos atores com poder de decidir os rumos de vários municípios,

com baixa autonomia relativa, tem por base:

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• A gestão centralizada exercida pela esfera estadual;

• A alta dependência de alguns secretários municipais de saúde em

relação à SES, à DIRES e às prefeituras;

• A competição entre os pólos regionais de Salgueiro e do Ceará;

• A ineficiência do Hospital Regional Inácio de Sá, em Salgueiro;

• O crescimento dos serviços privados de saúde na microrregião,

oferecendo serviços não gratuitos aos usuários do SUS;

• A continuidade do sistema oligárquico;

• A indiferença dos médicos pela política municipal, regional e estadual de

saúde e a manutenção de interesses corporativos;

• E a reduzida fixação de profissionais de saúde pela rede pública

microrregional.

Além dessas, verificam-se causas mais estruturais, como: a atitude

centralizadora que mantém o Ministério da Saúde como um formulador de

políticas e programas verticais, e os secretários municipais de saúde como

meros executores das políticas de saúde. Aliam-se a este fato a permanência

não resolvida da pobreza no semi-árido e todas as suas mazelas; e a

repercussão negativa do tráfico de entorpecentes para a microrregião,

favorecendo o isolamento, o medo e a despolitização dos CMS.

Verifica-se ainda que os atores, no sentido matusiano do termo,

influindo na condução da política regional, como o governo do estado, ao qual

não interessa uma movimentação de municípios no sentido da gestão

intermunicipal, tendo em vista os investimentos que faz na transformação de

unidades hospitalares microrregionais em grandes centralizadoras do

atendimento de média complexidade no estado. Além do mais, o

prosseguimento da microrregionalização regida pela NOAS/2001 oferece-lhe o

tempo que precisa para consolidar sua posição de coordenador das ações

municipais, estas impedidas de crescer além do que é referência ditada pela

Secretaria de Saúde do Estado. A posição do secretário estadual de saúde a

respeito do tema em questão, alterna-se entre omissão e condução

centralizada da discussão, além do descrédito e adiamento da discussão sobre

gestão intermunicipal.

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O diretor da 7ª DIRES, com vínculo político e empresarial na

microrregião, direciona a discussão, ora para a política de governo do estado,

ora para os interesses da rede privada de serviços, mantendo também um

discurso de descrédito na capacidade do ator municipal.

De certa forma, os prefeitos buscam responder às demandas de

saúde, autorizando acordos com a rede privada mediante a utilização de

recursos do PAB e do tesouro municipal, com o encaminhamento de pacientes

a municípios distantes, e também para atendimento em outros estados.

Alguns acreditam na perspectiva intermunicipal, mas são impedidos e

limitados pela escassez de recursos, pela política local e pelos resquícios de

uma política coronelista n região. Entretanto, este último fato vai além dos

limites aqui trabalhados. Boa parte deles ainda ignora as possibilidades de

uma gestão intermunicipal de saúde e oferecem resistência passiva a essa

discussão. Em síntese, os prefeitos não reconhecem a gestão intermunicipal

como uma questão que mereça destaque como ação planejada.

Com a submissão de alguns secretários de saúde, desenvolve-se um

trabalho isolado, buscando incessantemente soluções custosas, extra SUS e,

às vezes, anti-SUS.

Dentre os secretários municipais de saúde, identifica-se aqueles

interessados em articular uma gestão intermunicipal de saúde, esforçando-se

de diversas maneiras para isso em sua prática cotidiana; os indiferentes, que

permanecem na dependência do nível estadual e da prefeitura; um que se

interessa pelo tema, mas também tem pouca autonomia política frente ao

executivo municipal ; e aqueles que decididamente, não se interessam pelo

tema por não cultivarem um sentimento de pertencimento à microrregião em

questão.

A partir desse contingente de atores, conclui-se que, apesar de

todos expressarem interesse na articulação para garantir o acesso às

especialidades médicas, nos limites microrregionais, bem como garantir a

integralidade da assistência, portanto, os secretários municipais de saúde não

se mostram capazes de agir como atores e convencerem as prefeituras da

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importância de uma gestão intermunicipal de saúde na microrregião e de se

articularem convencendo-se e atuando como ator coletivo.

Assim, os Secretários Municipais de Saúde não contribuem para o

exercício da autonomia relativa constitucionalmente conferida aos municípios.

Pode-se inferir, portanto, que o momento não promete mudanças a curto ou

médio prazo. Tem prevalecido a posição do secretário estadual, mesmo que a

maioria dos secretários municipais pense no sentido contrário.

O despreparo e a pretensão de alguns secretários municipais

também contribuem para estancar o processo, pois há estruturas físicas

demais e recursos humanos de menos para movimentá-las nos territórios

municipais, bem como no Hospital Regional.

Os médicos, atores de importância política e econômica na

microrregião, não evidenciaram interesses contrários ao tema, porém, não se

expressam de forma homogênea. Observa-se que existem alguns francamente

favoráveis e outros que parecem indiferentes. Mantêm-se, geralmente, em

seus interesses corporativos.

Um ator coletivo que tem conquistado poder, junto aos gestores

públicos e à população usuária, são os prestadores privados de serviços. Estes

detêm grande influência no setor saúde microrregional, compondo as redes

complementar e suplementar ao SUS, mas não parecem sensibilizados pela

discussão da gestão intermunicipal, mesmo porque, até então, não parece

ameaçá-los ou atraí-los.

Mediante o exposto, acredita-se que no setor saúde microregional, a

irracionalidade da aplicação de recursos pode não ser acidental ou fruto da

inexperiência, mas sim, uma forma de perpetuar o sistema que alimenta o

depósito de votos em promessas da próxima campanha eleitoral, seja para

prefeito, vereador, deputado ou governador do Estado.

As oligarquias continuam presentes no meio político microrregional e

isso tem grande influência nas políticas de saúde. Os grupos de “parentela”

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exercem seu poder político, no setor saúde microrregional, confundindo-se

com o poder técnico que lhes cabe.

Embora haja uma estreita relação entre o comando que algumas

famílias exercem e as práticas clientelistas e assistencialistas, alguns

municípios nos quais se verifica a existência de grupos de parentela no

governo há o desenvolvimento de uma certa capacidade. A generosidade, o

clientelismo, a parentela, o desejo de ampliar o acesso, a necessidade de

racionalização dos recursos se confundem no SUS municipal da microrregião e

se sobrepõem aos princípios idealizados para o SUS.

Apesar de tudo, o SUS é teoricamente valorizado nas falas. Todos

os sujeitos enfatizam a necessidade de ampliar o acesso universal e até

mesmo garanti-lo, em casos específicos, bem como oferecer à população a

devida e integral assistência à saúde com qualidade. Tem destaque a

preocupação com a humanização, para que a resolução dos problemas de

saúde se dê próximo à família e ao local de moradia do usuário.

O que parece estar longe de concretizar-se é uma descentralização

regionalizada e hierarquizada das ações e serviços de saúde na microrregião.

Esta pode ainda vir a sofrer muitos percalços, devido às divergências e

descompromissos, evidenciados a respeito do que deve, precisa, pode ou não

ser municipalizado, tendo em vista as demandas, necessidades, vontades e

relações em jogo.

Soma-se a estes fatos, também, a iminência de uma regionalização

promovida ainda nos moldes centralizadores do governo federal, via

normatização, e do governo estadual, via articulação política inoperante, o que

inibe tentativas frágeis de organização autônoma de pequenos municípios,

como a que se mostrou nesta microrregião.

É de se pensar que a regionalização em curso, definida sem

planejamento conjunto e desrespeitando o exercício da autonomia relativa

municipal, acaba tolhendo a livre negociação entre os gestores, e favorecendo

a continuidade do modelo de municipalização atomizada, a medida em que os

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sistemas municipais bem-estruturados se isolam, pensando na excelência de

sua própria rede de serviços. Dessa forma, os municípios menos abastados

continuam com reduzido acesso e baixa resolutividade nos serviços prestados,

enquanto sobrecarregam seus recursos com procedimentos extra-SUS.

De outro lado, também se vê problemas futuros, advindos da

política centralizada no nível estadual, tendo por base o acúmulo de aliados e

correligionários, e pouca atenção à real necessidade de organização da

assistência especializada na região. Nesse meio, corre-se o risco de uma

privatização ainda maior do SUS microrregional com a oferta de serviços que

não correspondem às demandas e ao investimento racional de recursos.

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777... AAANNNEEEXXXOOOSSS

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139

77..11 TTEERRMMOO DDEE CCOONNSSEENNTTIIMMEENNTTOO LLIIVVRREE EE EESSCCLLAARREECCIIDDOO

Eu, ________________________________________, Secretário

Municipal de Saúde de _____________________________________, declaro

estar de acordo com a proposta de estudo sobre o tema Gestão

Intermunicipal da Saúde. Foi-me esclarecido que a minha participação no

referido estudo consistirá em responder algumas perguntas numa entrevista,

além de disponibilizar documentos e acompanhar a equipe de pesquisa em

visita aos estabelecimentos da gestão municipal de saúde, correspondendo ao

objetivo de levantar as informações e os indicadores necessários ao estudo.

Estou ciente de que minha participação no estudo poderá beneficiar o processo

de discussão sobre constituição de gestão intermunicipal de saúde, na medida

em que vem traçar o interesse e as dificuldades acerca do tema, visando um

enfrentamento conjunto da situação. Minha participação é voluntária e eu

poderei deixar de participar a qualquer momento, sem que isto acarrete

qualquer prejuízo a minha pessoa. Estou ciente do recebimento do relatório

final, quando os resultados deste estudo forem divulgados, e que meu nome,

assim como quaisquer formas de identificação, serão mantidos em total sigilo.

Por ora, quaisquer dúvidas, esclarecimentos e contribuições serão conduzidos

pelo contato com Mircia Betânia Costa e Silva, a qualquer momento e

pessoalmente, através do endereço: Av. Moraes Rego, s/n - Campus da

Universidade Federal de Pernambuco - Caixa Postal nº 7472 - CEP: 50670-420

Tel: (81) 3302-6510/ 9933-4208 - fax: (81) 3302-6514, Recife/Pernambuco;

e do endereço eletrônico: [email protected] .

_____________________________, _____ de _______________ de 2001

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77..22 RROOTTEEIIRROO DDEE EENNTTRREEVVIISSTTAA

I. Identificação

Data:___/___/______

Município: ____________________________________________________

Nome do gestor: ______________________________________________

Especialidade: ________________________________________________

Nome do prefeito: _____________________________________________

Partido político do prefeito/alianças: _______________________________

II. O gestor em relação à pesquisa

1- Você considera interessante o município participar da pesquisa ? 2- Há interesse pela temática da gestão microrregional ?

III. Os interesses envolvidos - tríade hegemônica 1- O que o Sr. pretende com a Gestão Microrregional de Saúde aqui na

região? 2- Quais problemas do SUS ela ajudaria resolver? (o entrevistador deve

pensar em acesso, resolutividade, equidade, universalidade, integralidade)

3- Qual a posição do prefeito e outros secretários nas discussões sobre a

constituição de uma Gestão Microrregional de Saúde ? (São contra ou a favor?)

4- Os políticos locais e regionais teriam interesse nessa discussão?

Porque? (fazer falar sobre os políticos da situação e oposição)

5- E o governo estadual?

6- Na sua opinião os prestadores privados de saúde tem interesse na Gestão Microrregional? (São contra ou a favor?)

7- É possível identificar alguns deles ? 8- Na sua opinião os profissionais (médicos e outros) da rede pública

estariam a favor de uma reorganização nestes moldes?

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IV. A direcionalidade do discurso no sentido dos princípios do SUS

(pensando como interesse dos usuários) 1- O Conselho Municipal de Saúde (CMS) tem discutido esse assunto? Se

tem, que segmento se expressa mais?

2- Que especialistas seriam necessários para melhoria do atendimento e em que municípios eles deverão estar alocados ?

3- Na sua opinião em que aspectos a Gestão Microrregional pode melhorar

a atenção aos usuários do SUS? (caso o gestor já tenha mencionado pedir que ele retome com alguns itens resumindo)