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  • 7/29/2019 FSP2003-Demais, De Menos e Na Conta

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    Demais, de menos e na conta

    Fbio Wanderley Reis

    O governo FHC pode ser criticado por seu realismo excessivo. Eleito

    em circunstncias singularmente favorveis, Fernando Henrique abriu mo do

    necessrio investimento intelectual e acomodou-se de maneira preguiosa e

    autocomplacente aos imperativos reais e aparentes da cena mundial.

    O governo petista de Lula comeou rodeado de dificuldades vrias.

    Alm do que h de real nos constrangimentos do quadro econmico-financeiro

    mundial e da herana fernandista de insero vulnervel nele, h a prpria

    origem revolucionria do partido e as expectativas que suscitava. Na

    perspectiva dessa dificuldade, bom lembrar que o Lula do discurso de 1987

    no ganhou a eleio presidencial, e se ganhasse provavelmente no

    governaria por muito tempo. E cabe festejar o aprendizado que desemboca na

    moderao e no realismo da ltima campanha eleitoral e do comeo do

    governo atual, capazes de neutralizar as ameaas mais imediatas e dramticas

    que cercavam o acesso de Lula Presidncia.

    Reconhecida a necessidade do realismo, fica, para a avaliao da

    atuao dos chamados radicais do PT, a questo dos limites do realismo e de

    como combin-lo com a fidelidade a princpios e idias que ajudou a

    singularizar o partido at aqui. Obviamente, no se trata, para o governo, de

    quatro ou cinco meses de encenao para enganar investidores e depois fazer

    a revoluo (da mesma forma que no parece haver razo para tomar coisas

    como a oposio contribuio de inativos como dogma de f esquerdista).

    Os constrangimentos reais de vrios tipos que o governo Lula defronta,includos os relativos democracia como valor verdadeiro, exigem redefinio

    mais profunda das idias e compromissos antes impensveis.

    Mas h, sim, a necessidade de que se possa contar com melhor

    equilbrio do que temos tido sempre entre princpios e realismo, ideologia e

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    pragmatismo. Os radicais do partido podem ter papel positivo a cumprir

    aqui, desde que no se transformem em quinta-coluna, caso em que no

    haver alternativa seno exclu-los. De todo modo, o governo precisa estar

    atento possibilidade de que o realismo degenere em acomodao preguiosa

    ao estilo de FHC. Como, alis, adverte ponderado documento da FundaoPerseu Abramo (Os caminhos da transio), um encorajador indcio do

    empenho de reflexo interna.

    Folha de S.Paulo, 25/5/2003

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