fruto vivas, biografia
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ANA CLÁUDIA STANGARLIN FRÓES
CAROLINE SAMPAIO DE OLIVEIRA
DÉBORA ALICE PAULUK
JULIANA LUIZA CHOMA
ARQUITETURA DA VENEZUELA Um estudo de casos sobre o arquiteto Fruto Vivas
Trabalho da disciplina de Arquitetura
hispano-americana do Curso de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Federal do
Paraná para o Prof. José La Pastina Filho
CURITIBA
NOVEMBRO DE 2010
SUMÁRIO
A ARQUITETURA DA VENEZUELA – Um estudo de caso sobre o arquiteto Fruto
Vivas
Introdução.......................................................................................................... p. 3
1. ARQUITETURA DA VENEZUELA – ........................................................ p. 4
2. A ARQUITETURA DA VENEZUELA – 1950 A 1980 ................................ p. 6
3. A ARQUITETURA DA VENEZUELA – 1990 A 2010 ............................... p. 12
4. ARQUITETO VENEZUELANO – FRUTO VIVAS ...................................... p. 15
ANÁLISE DAS OBRAS .............................................................................. p. 21
a. Hotel Moruco – 1954 ........................................................................ p. 22
b. Igreja de La Concordia – 1954 .......................................................... p. 24
c. Clube Táchira – 1955 ........................................................................ p. 26
d. Casa Los Chorros ou Casa Fruto Vivas – 1955 ................................ p. 28
e. Casa Playa Grande – 1954 ................................................................ p. 30
f. Casa “El Tarantin” – 1977 ................................................................... p. 31
g. Árvore para viver – 1990 .................................................................... p. 33
. h.Flor de Hannover – 2000 .................................................................... p. 35
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 37
A ARQUITETURA DA VENEZUELA – Um estudo de caso sobre o arquiteto Fruto
Vivas
Introdução
Este trabalho analisa a arquitetura da Venezuela de um modo geral, focando e
relacionando posteriormente com a vida e a obra do arquiteto venezuelano Fruto Vivas.
Sem dúvida, para a arquitetura da Venezuela, Fruto Vivas foi um importante articulador
da arquitetura denominada Populista, assim como um importante intelectual da época.
A estruturação do trabalho está dividida basicamente em quatro partes:
1. Arquitetura colonial da Venezuela do século XX
2. Arquitetura da Venezuela dos período de 1950 a 1980
3. Arquitetura da Venezuela do período de 1990 a 2010
4. Arquiteto Venezuelano Fruto Vivas
1. ARQUITETURA DA VENEZUELA – COLONIAL AO SÉCULO XX
Antes da chegada dos europeus a região nordeste do continente Sul Americano,
onde atualmente se localiza a Venezuela, era habitada por vários povos dos quais se
destacam os índios caribes, os aruaques e os cumanagatos.
Em 1498 Cristóvão Colombo chegou à costa da Venezuela durante a sua terceira
viagem ao continente americano. A colonização espanhola iniciou-se em 1520, incidindo
nas ilhas e na região costeira. Em 1567 foi fundada a cidade de Caracas, que se tornaria
o centro mais importante da região.
A arquitetura colonial venezuelana é extremamente influenciada por aquela
praticada em sua metrópole colonizadora, a Espanha, principalmente no que diz respeito
a arquitetura barroca européia, carecendo de uma tradição pré-colombiana comum em
países vizinhos. A escolha do barroco tem variadas razões tais como o aspecto
grandiloqüente das edificações, evocando poder e o apelo persuasivo. As técnicas
construtivas, por sua vez, acabam por se adaptar aos materiais oferecidos pela região e
mesmo a técnicas utilizadas pelos povos locais.
As edifícações coloniais de caráter civil são desenhadas de acordo com padrões
importados da Andalucia, com portões ornamentados em pedra lavrada e gelosias de
madeira.
Durante o século XVII construíram-se diversos prédios barrocos, dos quais há
poucos sobreviventes, entre eles a Catedral, o Templo de São Francisco e a Candelária
em Caracas. Na segunda metade do século a prosperidade econômica do país propiciou
a construção de vários casarões e fazendas de acordo com os estilos europeus da
época, assim como prédios públicos de estilo neo-clássico, sobre tudo no centro de
Caracas.
Catedral metropolitana de Caracas. Venezuela, 1665.
Igreja Candelária, Caracas. Venezuela, séc XVII
Devido a sua posição geográfica, onde são propícios terremotos e demais
catástofres devido a causas naturais, existe uma substituição e renovação constante de
sua arquitetura, devido a destruição das previamente existentes.
No início do século XX o país passa por um reflorescimento de sua arquitetura,
quando é adotado o estilo eclético, difundido até o advento do movimento moderno, de
grande importância para a arquitetura do país.
2. A ARQUITETURA DA VENEZUELA – 1950 A 1980
A arquitetura moderna na Venezuela pode ser explicada de forma simples como
uma divisão em duas etapas: uma primeira de bases sólidas modernistas, e a segunda
como busca de uma arquitetura essencialmente venezuelana.
Até fim dos anos 40, pouco se sabia a respeito dos trabalhos dos arquitetos no
país, sendo as obras essencialmente realizadas por engenheiros ou muito dependentes
deles. Os projetos eram tentativas de cópias do que se realizava no exterior, e apesar de
serem realizadas algumas obras - manifesto de grande repercussão, estas deixavam a
desejar em aspectos importantes do contexto local, como o climático, por exemplo. Nessa
época, houve ainda um grande crescimento da cidade de Caracas, com a ida de pessoas
do campo para a cidade, criando grande demanda de obras civis. Encontra-se, a partir
daí, o auge da arquitetura moderna venezuelana.
Assim, é dos anos 50 aos 70 que se verifica a maior quantidade de bons exemplos
arquitetônicos, em diversos campos. Na década de 50, a efervescência construtiva de
Caracas e influência da ida de diversos imigrantes europeus ao país foram fatores
determinantes para a Arquitetura. Grandes conjuntos habitacionais, para suprir a
demanda populacional e eliminar assentamentos precários nas colinas da cidade, foram
construídos. De 1952 a 1958, a ditadura de Marcos Pérez Jiménez não impediu o
desenvolvimento do país: a falta de liberdade política era compensada com apoio às
iniciativas arquitetônicas e de infra-estrutura. É nesse contexto que o empresário
Inocente Palácios, fundador do Partido Comunista da Venezuela, promoveria diversas
atividades culturais, entre elas a acolhida a Oscar Niemeyer, convidado a projetar o
Museu de Arte Moderna (1954). O edifício, se construído, criaria certa imagem
monumental em Caracas, com visualização autônoma na paisagem, o que influenciou
arquitetos locais a buscarem uma nova fase para a arquitetura.
Foi com o projeto de Carlos Villanueva para sua própria residência que ganhou-se
consciência pela busca de uma arquitetura essencialmente venezuelana. A obra é
essencialmente moderna, com grandes falhas de contexto, o que fez com que o próprio
arquiteto renovasse seu modo de projetar. Surge, então, uma arquitetura adaptada ao
local: o clima quente do país é bastante estável, com calor moderado no vale, o que faz
de Caracas uma cidade com clima ideal. As temperaturas, pouco variadas, e ventilação
adequada fazem com que os espaços não necessitem ser fechados para aquecer ou
esfriar o ambiente. O contato com o exterior torna-se maior.
Rompendo com o esquematismo do Internacional Style e os esquemas rígidos do
Movimento Moderno, os projetos passam a apresentar tetos generosos, grandes beirais,
fechamentos verticais leves, espaços intermediários. Há uma grande presença do verde,
com a admiração venezuelana por Burle Marx. Estuda-se sobre proteção solar e
condicionamento climático sem instalações artificiais; ventilação, grelhas protetoras nas
fachadas, sistemas de sombreamento, filtros de luz e ar. Em 1957, o desenvolvimento da
indústria siderúrgica e grande disponibilidade de aço no país criam um cenário ideal para
o intenso uso de estruturas metálicas. Destaca-se nesse contexto Tomás Sanabria,
arquiteto que utilizou-se de aço e revestimento em alumínio, com planos de fachadas
ventiladas por faixas livres de recobrimento, no projeto da Central Açucareira El Palmar e
no Hotel Humboldt, em Caracas.
Nos anos 60 e 70, a descoberta do petróleo foi de grande importância ao país.
Grandes rodovias de alta velocidade (autoestradas) e gigantescas torres, das quais se
destacam o conjunto do Parque Central (1979), foram construídas. Assim, com a
possibilidade financeira em mãos, outro projeto de grande repercussão pôde ser
concluído: a Cidade Universitária de Caracas, de Carlos Villanueva, que obteve grande
destaque internacional em uma época em que as notícias do exterior buscavam excluir os
países “periféricos”.
A obra pode ser entendida em duas etapas – as mesmas da arquitetura
venezuelana. A primeira fase teve influência de outras obras da América Latina, como a
Cidade Universitária do Rio de Janeiro (1936), com plano geral de Le Corbusier, e a da
Cidade do México. Sofreu grande pressão da ditadura militar, especialmente com relação
a prazos, que pareciam impossíveis de serem cumpridos. Foram 25 anos até que se
chegasse à fase de conclusão do projeto, já bastante maduro, e apresentando certas
características dessa arquitetura mais venezuelana. São 40 edifícios que integram com
maestria a arte moderna aos espaços arquitetônicos, com a participação de diversos
artistas plásticos estrangeiros renomados, que mal conheciam o país.
Embora trouxesse pontos muito positivos, o boom do petróleo também apresentou
empecilhos à arquitetura venezuelana. Centros urbanísticos foram completamente
destruídos e substituídos por desenhos de vanguarda; edifícios coloniais foram
esquecidos, e, portanto, demolidos. A desordem urbanística e a presença opressora das
autopistas tornavam quase impossível a vida social urbana; o apelo ao uso do carro
deixava a cidade inabitável para os pedestres. Por fim, nos anos 60, o Helicóide, centro
comercial com escala do automóvel, começou a ser construído. A proposta sem nexo não
foi concluída, e tornou-se um “elefante branco” no alto das colinas de Caracas.
Foi nos anos 70 que o urbanismo tentou resgatar a “humanidade urbana” e a
integração social e espacial perdidas por esse processo. A criação do metrô em Caracas
valorizava o transporte público e procurava integrar os grupos sociais. As estações
também eram elementos de revitalização urbana, criando áreas para os pedestres, muito
necessitadas, especialmente no centro. Surge o projeto de Carlos Gómez de Llarena
para preencher o vazio da Avenida Bolívar com prédios culturais que articulavam o centro
tradicional (Palácio da Justiça) com a expansão das classes baixas ao Leste. Destaca-se
o Parque Central, o qual já foi citado en passant, de Siso & Shaw, com duas torres de 59
andares, cinco edifícios residenciais de 44 andares e elaborado complexo de serviços e
infra-estruturas.
Nos anos 80, o rompimento com o pensamento elitista concretizou-se com a
proibição do uso do automóvel no centro tradicional, em Caracas, e a transformação do
eixo comercial para um local de passagem apenas de pedestres. Destaca-se o Parque
Vargas, como uma grande praça, de Carlos Gómez de Llanera.
3. A ARQUITETURA DA VENEZUELA – 1990 A 2010
Cidade expoente da arquitetura venezuelana é a sua capital, Caracas. Seus
maiores ícones arquitetônicos foram construídos entre os anos 1940 e 1960. Com o
passar dos anos, a cidade se tornou extremamente consumista e isso se manifesta no
ambiente construído através de símbolos, como o a logomarcas de refrigerante e xícaras
de café no alto de edifícios, que são elementos bastante agressivos e autoritários para a
paisagem da cidade, além de não possuírem valor agregado.
Ainda há a questão política muito evidente na arquitetura, contrastando com os
símbolos capitalistas, a forte ideologia socialista no país, manifesta na comunicação
visual e no fenômeno da expropriação de edifícios promovida pelo governo vigente. Além
disso, há a nítida influência de Colombo na arquitetura venezuelana, o responsável por
promover o choque de culturas européia e latino americana.
A ideologia socialista aparece também no fato de edifícios antes pertencentes a
proprietários privados serem absorvidos pelo estado, e muitos deles perderem seu
caráter original, como por exemplo, supermercados que não o são mais e simbolizam o
monopólio do governo sobre a importação e distribuição de produtos de primeira
necessidade.
Devido a isso, é muito complicado estabelecer-se uma nova rede de bancos ou de
supermercados na cidade, é mais fácil tomar o que já existe e transformar. Então, há uma
nova onda de edifícios antigos que são controlados pelo Estado, estes outrora tiveram
uma expoente importância econômica e foram expropriados.
Pode-se dizer também que se está entrando em um novo momento da arquitetura
venezuelana, em que monumentos e edifícios são construídos com a específica intenção
de refletir temas ligados ao governo de Chavéz, os quais dão um novo significado aos
lugares.
Porém, nem todo edifício é proveniente de uma reciclagem. Pode-se citar o
exemplo o novo laboratório de produção de vacinas e o edifício administrativo do Instituto
Nacional de Higiene da Venezuela. O projeto provem de um concurso organizado pela
Faculdade de Arquitetura da Universidade Central da Venezuela. O projeto dos
arquitetos Roberto Puchetti e Max Rengifo foi selecionado como o esquema ganhador,
em 2007.
4. ARQUITETO VENEZUELANO – FRUTO VIVAS
O arquiteto venezuelano José Fructuoso Vivas é um dos poucos profissionais com
grande experiência e arquiteto renomado quando se refere a habitação coletiva popular.
Seu principal objetivo durante a sua vida, foi a de buscar soluções populares,
economicamente viáveis com as tecnologias modernas e a sociedade. Nessa luta, o
arquiteto Fruto Vivas não está sozinho. Vários arquitetos latino-americanos estão se
destacando no cenário mundial tal como Carlos González Lobo no México, Cláudio
Caveri, Victor Pelli e Jaime Nisnovich na Argentina, Fernando Castillo no Chile, Álvaro
Ortegana Colômbia, João Figueiras Lima(Lelé), Joan Villà e Johan van Leghen no Brasil.
Nasceu, no ano de 1928, num pequeno vilarejo da cordilheira dos Andes. Por ser
de uma família humilde(pai trabalhava na construção de uma rodovia) teve contato muito
próximo com a vida dos camponeses venezuelanos. Experimentou as particularidades da
casa tradicional rural e se interessou pelos fenômenos naturais(verificado ainda hoje em
seus conceitos e partidos arquitetônicos). Indagava a essência dinâmica das estruturas
orgânicas, tanto dos pássaros quanto das árvores. O interesse pelo desenho e pela
arquitetura, fizeram com que com 18 anos, Fruto Vivas pudesse trabalhar em uma
construtora e ganhar em 1956(antes do curso universitário) o concurso para o projeto de
um centro social em Barquisimeto(quarta maior cidade da Venezuela). Depois disso,
durante os anos de 1961 a 1955 torna-se aluno do curso de arquitetura na Universidade
Central de Venezuela em Caracas. Teve como professor Carlos Raul Villanueva,
importante articulador entre a s manifestações artísticas comos escultores cinéticos
locais. Assim, tanto Villanueva como Fruto Vivas possuem como ideologia a não
existência de uma arquitetura sem um conteúdo social.
Fruto Vivas em viajem de campo com companheiros de faculdade, Puerto Cumarebo, . 1956. Foto: Mariano Goldberg
Durante a ditadura de Marcos Pérez Jiménez(1952-1958) houve limitação da
liberdade política e ao mesmo tempo incentivos em infra-estrutura(modernização do
país); tal como ocorreu na ditadura de Vargas no Brasil(1930-1945). A década dos anos
1950 foi bem produtivo para a construção civil em Caracas. Houve oportunidades para a
construção de diversos conjuntos habitacionais e do projeto da Cidade Universitária de
Villanueva. É nesse momento que se definem as preocupações conceituais de Fruto: unir
a tecnologia high tech e seu interesse pelo regionalismo. Aparentemente contraditório,
Fruto Vivas buscava no regionalismo a utilização de materiais locais e adaptação dos
projetos ao clima tropical utilizando-se da tecnologia e das estruturas high-tech como
expressão dos avanços científicos da contemporaneidade.
Integra-se rapidamente no grupo de jovens arquitetos dessa década – Henrique
Hernández, José Miguel Galia, Tomás Sanabria, Jorge Castillo, entre outros – pois
consegue facilmente dialogar, desde a época de estudante, com os ideais e pensamentos
do período. Consegue neste período importantes encargos que vão desenrolar sua vida
profissional. O ditador Peréz Jiménez solicita para que Fruto Vivas faça sua casa de
praia. Não foi a única casa de grande porte que projeta neste período. Essas duas
grandes resdências de grande porte – a de Peréz Jiménez em Playa Grande(1954) e de
Inocente Palácios em Rio Chico(1857) – reinterpretam as tradições construtivas
populares, utilizando-se de cobertura de telhas, estrutura de madeira, paredes de pedra e
tijolos emboçadas com cal.
Interessa-se não só pela liberdade plástica permitida pelas estruturas laminares de
concreto armado mas também pelas estruturas tridimensionais de aço, sempre buscando
as “estruturas limites de máxima eficiência”. Assim, em 1955, participa no projeto do
Museu de Arte Moderna de Caracas juntamente com o arquiteto brasileiro Osacar
Niemeyer. Fruto absorveu rapidamente tanto o método de projetar de Niemeyer como
também a capacidade inovadora no uso do concreto armado. A proposta do grupo foi a de
evidenciar o volume puro, invertendo a pirâmide já conhecida pela arquitetura antiga.
Essa subversão a forma fica ainda mais evidenciada pelo fato de a obra estar
praticamente pousada sobre uma colina.
Ainda no ano de 1955, projeta a sede do Clube Táchira(ver detalhamento da obra
nas páginas seguintes), situada no topo das Colinas de Bellomonte e Ávila.
Caracterizada por uma série de plataformas e de espaços de vida cobertos por
parabolóides hiperbólicos. Devido a essa forma, foi denominado “pássaro de concreto”
pelo famoso arquiteto espanhol Eduardo Torroja, responsável pelo calculo estrutural.
Com ele, Fruto Vivas aprofundou seu conhecimento técnico e construtivo, em 1956, na
viagem à Espanha.
Com o desenvolvimento do país, a indústria siderúrgica ganhou destaque e a
disponibilidade de aço no país aumentou. Assim, iniciou suas experiências nesse novo
material que se desenvolvia e ganhava espaço no mercado mundial. Iniciou-se com os
projetos de hotéis como o Caroni em Puerto Ordaz(1957) e o de Santo Tomé de
Guayana(1957). Esses projetos são caracterizados por possuírem coberturas de formas
livres definidas por tetraedros de tubos metálicos. Assimila, assim, as experiências de
Buckminster Fuller, Konrad Wachsmann, Jean Prouvé e Feliz Candela. Sem dúvida, a
obra que merece destaque devido a originalidade de sua solução foi a da igreja de
Zapara em Maracaibo(1957), que é “quase como uma folha flutuante sobre o luminoso
espaço interno”.
Nos anos de 1960, há uma radicalização da postura política de Fruto. Essa
postura de apoio aos movimentos populares e revolucionários na América Latina é
mantida até hoje. Retoma e aprofunda sua antiga tese de “criar homens livres é a maior
obra de arquitetura do nosso tempo”. Realiza diversas propostas para a habitação
popular tanto na Venezuela como fora de seu país(Cuba e Nicarágua). Ao defender que a
arquitetura deve ser feito para as massas, afirma que a colaboração do usuário é
essencial na definição do projeto como um todo. Nessa época experimenta diversas
combinações entre técnicas avançadas e tradicionais. Se de um lado forma-se um grupo
de estruturas leves metálicas básicas remete ao futuro, do outro o uso da madeira, do
tijolo, do concreto e da cerâmica em painéis de preenchimento remete à tradição local.
Na década de 1970, há uma maturidade conceitual e criativa de Fruto. Nessa
época, sintetiza as tradições populares da cultura latino-americana e a adaptação local
da tecnologia avançada. Surge então sua proposta para uma nova forma de habitar: as
“árvores para viver”. Assim como a idéia da cabana primitiva de Vitruvius, defende que a
definição dos espaços utilizando-se de instrumentos contemporâneos, principalmente a
tecnologia e a analogia com os sistemas estruturais encontrados na própria natureza.
Assim, interage uma nova dimensão social com a ecologia e a biologia; criando a bio-
arquitetura, expressão de uma solução inédita latino-americana, leve e dinâmica aberta
ao mundo exterior.
Fruto Vivas concretizou essas idéias em um conjunto de residências projetadas
nas décadas de 1970 a 1980. Essa casas foram concebidas como volumes suspensos no
ar por uma leve estrutura metálica. Aproveitava assim a declividade do terreno além de
obter um engenhoso sistema de ventilação ao deixar um quadrado livre com ranhuras. A
entrada constante de ar fresco(devido ao efeito chaminé natural, facilitado pelas
aberturas no teto e nas fachadas), facilita ainda a implantação de jardins internos, uma
vez que permitem uma brisa constante no interior da residência. Uma característica
inegável destas casas é a simplicidade formal e volumétrica, definida pelos painéis
inseridos na estrutura metálica modulada e a riqueza espacial dos interiores(garantida
pelos filtros e painéis de madeiras).
A simplicidade da estrutura leve de aço se transforma na procura de novas
expressões plásticas da década de 1980. Fruto Vivas defendeu intensamente a idéia de
que cada época possui sua linguagem própria baseada nas transformações econômicas,
culturais e cientificas da sociedade. Na América Latina, a grande desigualdade social é o
grande desafio que enfrenta-se neste século. Participar de alguma forma para mudar
essa realidade, humanizando o ambiente construído e concretizar a integração entre a
modernidade e a tradição é o grande ideal do arquiteto Fruto Vivas.
A mais recente contribuição do arquiteto Fruto é do pavilhão da Venezuela na
Exposição Universal de Hannover, Alemanha(2000). Na obra, conhecida como “uma flor
da Venezuela para o mundo”, sintetiza esteticamente o encontro entre a tradição e a
modernidade.No ano de 2010, Fruto Vivas completou 80 anos, e suas idéias continuam
trazendo a tona problemas sociais da América Latina como um todo. Sua contribuição, é
sem dúvida, a concretização de idéias e utopias sociais, sempre buscando um bem-estar
social coletivo.
Fotos do ano de 2008, durante uma entrevista para Informe Del Decano. Fotos: Germán Lugo
Convidado especial Arq. Fruto Vivas. 08 de fevereiro de 2010 numa entrevista para o Rayas radio #158
Assim, a partir da biografia descritiva, pode-se fazer um quadro resumo dos
principais fatos que aconteceram na vida do arquiteto Fruto Vivas:
1928 – Nasce o arquiteto Fruto Vivas
1954 - Ganha a competição por construir um Clube Táchira de Caracas, com colaboração do engenheiro
Eduardo Torroja
1656 - Gradua-se como arquiteto pela Universidade Central da Venezuela, em Caracas. Recém-formado,
colabora com o projeto do Museu de Arte Moderna de Caracas, com o arquiteto Oscar Niemeyer. Ganha
ainda o concurso para o projeto da cidade Olímpica de Cútuta(construído parcialmente), com o arquiteto
Juan José Yañes, Colombia. Começa a trabalhar como professor da Universidade Central da Venezuela
(U.C.V.) e funda ainda a Escola de Arquitetura da Universidade Católica Andrés Bello na cidade de
Caracás.
1961 - Desenha e constrõe o edifício de ferrocimento autoportante para o plano de emergência de
habitação popular, edifícios pré-fabricados do Bosque Experimental El Vale, em Caracás.
1966 a 1968 - Torna-se o diretor do Departamento de Técnicas Construtivas do Ministério da Construção
em La Habana, Cuba. Desenha o plano piloto de aplicação da “Arquitetura de Massas”. 1968 - Muda de
departamento e começa a trabalhar como diretor do Departamento de Técnicas Construtivas do Ministério
da Construção(em La Habana, Cuba).
1980 – Dedica-se a investigação das habitações populares com biomateriais, argila e ferro e ao projeto
Árvores para viver. Ainda, tem interesse na investigação e no desenho de sanitários e sistemas de
desagues para a habitação popular.
1987 - Desenha e constrói casas populares com sistemas de pórticos de ferro e técnicas de construção de
auto-gestão no bairro de La veja, em Caracas.
1991 - Dirige o projeto VEN-90-014 das Nações Unidas para o abrigo de Comunidades Produtivas. Dos
seus seis projetos propostos, quatro são efetivamente realizados: um em Pueblo Llano, dois em
Barquisimeto e um em Tucupita, na Venezuela.
1996 - Recebe um postulado para o Prêmio Principe de Asturias, na Espanha. No ano seguinte, para o
Premio Gabriela Mistral da Organização dos Estados Unidos.
1998 - Desenha e produz as estruturas da Escola Ecológica Simón Rodriguez em Fuerte Tiuna, Caracas.
1999 - Desenha e dirige a construção do Pavilhão da Venezuela na EXPO 2000 HANNOVER, na
Alemanha. No mesmo ano, projeta e constrõe o pavilhão com a arquipe de arquitetos formado por Frei
Otto, Bodo Rash, Bradash, Llorens e Popen House em Caracas, na Venezuela e Hannover(Alemanha).
2000 - Projeta e dirige a reabilitação do bairro de Los Anaucos no bairro de San Bernardino, Caracas.
Não se pode esquecer que Fruto Vivas, constantemente dialoga com alunos, e se
mantém sempre atualizado. Participou do grupo docente de diversas Universidades. Já
foi professor honorário da Universidade dos Andes na cidade de Mérida, Venezuela; da
Universidade Autônoma de Santo Domingo, na República Dominicana; na Universidade
Centro Veracruz, no México; da Universidade de Cuzco, no Peru e da Universidade
Centro Ocidental Lisandro Alvarado(UCLA), em Barquisimeto, na Venezuela. Convidado
diariamente para conferências sobre habitação popular e para ser juri de concursos de
diversos países, como Espanha, Itália, Ilhas Canárias, México, Guatemala, Nicarágua,
Honduras, Costa Rica, Panamá, Colombia, Peru, Equador, Bolívia, Brasil, Chile,
Argentina, Uruguai, Cuba, Porto Rico, República Dominicana, Granada e Estados
Unidos.
a. ANÁLISE DAS OBRAS
Este trabalho ainda, pesquisou algumas obras que o arquiteto realizou durante a
sua vida. As obras selecionadas são as seguintes:
1954 Hotel Moruco
Igreja de La Concordia
Casa Zaira Andrade
Casa Playa Grande
1955 Clube Táchira
Casa Los Chorros
1980 Casa “El Tarantín”
1991 Árvores para viver
Casa Riccio
Prêmio Nacional de Arquitetura, Caracas
2000 Prêmio Nacional do Habitat outorgado por CONAVI(Consejo Nacional de la Vivenda),
Caracas.
Foram detalhadas algumas obras do arquiteto, assim como a obtenção de fotos de
suas obras para melhor compreensão do projeto, propostas e materiais. A seguir, as
obras acima listadas com maior detalhamento:
a. Hotel Moruco – 1954
Localização: Santo Domingo de Barinas, Estado de Barinas
Corresponde aos primeiros hotéis feitos durante o governo de marcos Péres Jimenés que
se inseriu para iniciar os planos de Turismo da Venezuela. Este hotel faz referência a
tradição da arquitetura popular venezuelana, denominada posteriormente como
“Arquitetura Populista”. Foi construída gralas a artesãos portugueses que fizeram a
estrutura, um trabalho de grande qualidade em madeira .
b. Igreja de La Concordia – 1954
Localização: Urbanização do bairro Obrer, San Cristóbal, Estado Táchira.
Esta é uma igreja realizada em apenas 3 meses por artesãos venezuelanos e
colombianos correspondentes aos planos de obras realizadas na época de Marcos Péres
Jiménez. A estrutura é de concreta armado. É envolvida por uma pele de tijolos e seu
desenho cumpre todos os princípios litúrgicos das igrejas. Consiste em um muro, que
envolve a casa paroquial e no altar da igreja, que se eleva para formar uma torre
helicoidal do campanário. O Cristo, também desenhado por Fruto Vivas, foi talhado
totalmente em madeira por artesãos colombianos.
c. Clube Táchira – 1955
Localização: urbanização Colinas de Bello Monte, Caracas
Este projeto foi vencedor de um concurso quando Fruto Vivas era ainda estudante de
arquitetura. As imagens correspondem ao que se chama de o “Rancho” do clube, já que a
edificação principal, calculada pelo engenheiro Torroja, não foi construída.
É uma estrutura treliçada metálica cobertas com painés de madeiras. O desenho é uma
membrana em parabolóide em forma de conoidal, revestida por madeira em ambos os
lados.
O acesso ao pavimento superior acontece por meio de uma escada laminar de 4cm de
espessura com os degrais engastados na membrana.
d. Casa Los Chorros ou Casa Fruto Vivas – 1955
Localização: urbanização de Los Chorros, Caracas
Dentro de um grande bosque, esta casa presta uma homenagem ao arquiteto
norte-americano Charles Eames. A estrutura é de treliça metálica, trechos e pisos de
madeira e paredes de pedra do próprio local. Totalmente aberta aproveita ao máximo uma
paisagem de árvores, utilizando-se nos entrepisos madeiras de ébano(uma das madeiras
consideradas mais duras).
No dormitório principal tem uma parede de cristal. Em todos os cantos se formam jardins.
Foi a primeira proposta de que o arquiteto posteriormente chamaria de “árvores para
viver”
e. Casa Playa Grande – 1954
Localização: Playa Grande, Estado Vargas
Esta casa foi construída como uma casa de praia para o presidente da república Marcos
Peréz Jiménez. Está dentro da categoria “Arquietura Populista” realizada com as
madeiras mais nobres de Guayana: Zapatero, Cartán, Cusavire.
É como se fosse uma grande sacada sobre o mar, onde todas as áreas da casa
desfrutam da paisagem do local. A estrutura dormitórios está apoiada em apenas 4
colunas com 2 grandes vigas vierendel. O conjunto é uma estrutura bastante audaz com
grande trabalho de artesanato no trabalho com as madeiras.
f. Casa “El Tarantin” – 1977
Localização: Colinas de Santa Rosa, Barquisimeto, Estado Lara
Esta casa é formada por uma estrutura extremamente leve, com um impacto de apenas
12 kg/m². Isso só foi possível pois toda a estrutura, paredes e piso são de aço
galvanizado. Está desenhado como uma árvore para viver em todo o trecho coberto de
vegetação, com plantas frutíferas e pátios que contribuem para a melhor ventilação do
interior da casa. As fachadas norte e sul são de vidro totalmente abertas para um grande
bosque tropical.
g. Árvore para viver – 1990
Localização: Lecherias, Estado Anzoategui
É a primeira proposta para habitação popular realizada não em edifícios verticais,
mas sim em volumes horizontais de três pisos e corredor intermediário que se cruzam
entre si a alturas distintas conectadas com os sistemas de circulação vertical. A estrutura
metálica de pórticos de três pisos. Ao unir cada um, forma-se um cubo modular que se
repetem para resolver seis tipos de apartamentos diferentes. Os apoios são estruturas
laminares de 13m de alturas desenhadas seguindo as tendências das forças estruturais.
Isso forma uma grande escultura. É um edifício de ventilação cruzada policromado com
as cores da arquitetura do Caribe.
h. Flor de Hannover – 2000
Localização: Feira Mundial de Hannover 2000, Alemanha
O conceito do é a de uma “flor” da Venezuela para o mundo. O projeto é formado por uma
grande flor de 16 pétalas que são suportadas por pistões hidráulicos que se abrem e
fecham de acordo com o clime dominante, de maneira automatizada. As pétalas são
feitas por uma estrutura tubular com lonas de cor violeta. Assim, as 4 fachadas formam 4
orquídeas gigantes, que é a flor nacional da Venezuela. Ao redor há um grande jardim
com as plantas da flora venezuelana. Os três pisos são utilizados para expor a tecnologia
venezuelana, o artesanato e o desenvolvimento do país. Esteve aberta durante 6 meses
em Hannover e foi visitada por 5 milhões de pessoas, somente superada pelo pavilhão
alemão.
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