·frutas do brasil, 33 melão...

4
·Frutas do Brasil, 33 Melão Produção , DISTURBIOS FISIOLÓGICOS INTRODUÇÃO Distúrbios fisiológicos são manifes- tações fisiológicas adversas, em geral de causa desconhecida, que ocorrem no me- loeiro, prejudicando a produtividade e o padrão comercial dos frutos. Os princi- pais são o amarelão, desordens fisiológicas do fruto e deterioração precoce de frutos. "AMARELÃO" DO MELOEIRO Esse distúrbio é freqüente na região do Submédio do Vale do São Francisco e está associado à deficiência de molib- dênio, principalmente em solos ácidos, solos de zonas semi-áridas com baixo teor de matéria orgânica e solos de dre- nagem deficiente (Faria & Pereira, 1982). A presença do íon sulfato no solo, em geral resultante da aplicação do fertili- zante sulfato de amônio, pode intensifi- car o "amarelão", bem como induzir o seu aparecimento em locais onde ainda não tenha ocorrido, uma vez que o íon sulfato interfere com a absorção do íon molibdato pelas plantas. Não confundir o distúrbio do amarelão causado pela deficiência de molibdênio, entre outros, com o amarelão causado pela deficiên- cia de nitrogênio. Henoque Ribeiro da Silva Clementino M. B. de Faria Nivaldo Duarte Costa Clero Chaves Ferreiro Sintomatologia Faria & Pereira (1982) descrevem os sintomas do distúrbio como um ama- relecimento das folhas de plantas jovens que evolui para o secamento dos bordos e, conseqüentemente, afetando o desen- volvimento da planta. Controle Usar molibdato de amoruo ou mo- libdato de sódio 0,05% (10 g produto/20 litros de água) em pulverização foliar quando ocorrerem os primeiros sinto- mas. Faria & Pereira (1982) observa- ram, em experimentos de campo que, após a aplicação foliar de molibdato de amônio 0,05%, os sintomas do amarelão desapareceram e as plantas retomaram o desenvolvimento. Similarmente, em casa de vegetação, a aplicação de molib- dato de sódio preveniu o aparecimento de sintomas do amarelão. Assim, além do controle via pulverização foliar, é recomendável acrescentar fertilizantes contendo o íon molibdato na adubação de plantio, bem como evitar o uso de fertilizantes nitrogenados a base de sul- fato de amônio, como forma de contro- le preventivo.

Upload: others

Post on 17-Feb-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ·Frutas do Brasil, 33 Melão Produção

    ,DISTURBIOSFISIOLÓGICOS

    INTRODUÇÃO

    Distúrbios fisiológicos são manifes-tações fisiológicas adversas, em geral decausa desconhecida, que ocorrem no me-loeiro, prejudicando a produtividade e opadrão comercial dos frutos. Os princi-pais são o amarelão, desordens fisiológicasdo fruto e deterioração precoce de frutos.

    "AMARELÃO" DO MELOEIRO

    Esse distúrbio é freqüente na regiãodo Submédio do Vale do São Franciscoe está associado à deficiência de molib-dênio, principalmente em solos ácidos,solos de zonas semi-áridas com baixoteor de matéria orgânica e solos de dre-nagem deficiente (Faria & Pereira, 1982).A presença do íon sulfato no solo, emgeral resultante da aplicação do fertili-zante sulfato de amônio, pode intensifi-car o "amarelão", bem como induzir oseu aparecimento em locais onde aindanão tenha ocorrido, uma vez que o íonsulfato interfere com a absorção do íonmolibdato pelas plantas. Não confundiro distúrbio do amare lão causado peladeficiência de molibdênio, entre outros,com o amarelão causado pela deficiên-cia de nitrogênio.

    Henoque Ribeiro da SilvaClementino M. B. de Faria

    Nivaldo Duarte CostaClero Chaves Ferreiro

    Sintomatologia

    Faria & Pereira (1982) descrevemos sintomas do distúrbio como um ama-relecimento das folhas de plantas jovensque evolui para o secamento dos bordose, conseqüentemente, afetando o desen-volvimento da planta.

    Controle

    Usar molibdato de amoruo ou mo-libdato de sódio 0,05% (10 g produto/20litros de água) em pulverização foliarquando ocorrerem os primeiros sinto-mas. Faria & Pereira (1982) observa-ram, em experimentos de campo que,após a aplicação foliar de molibdato deamônio 0,05%, os sintomas do amarelãodesapareceram e as plantas retomaramo desenvolvimento. Similarmente, emcasa de vegetação, a aplicação de molib-dato de sódio preveniu o aparecimentode sintomas do amarelão. Assim, alémdo controle via pulverização foliar, érecomendável acrescentar fertilizantescontendo o íon molibdato na adubaçãode plantio, bem como evitar o uso defertilizantes nitrogenados a base de sul-fato de amônio, como forma de contro-le preventivo.

  • Melão Produção

    DESORDENS FISIOLÓGICASDO FRUTO

    Desordens fisiológicas que resultamna má formação e deformação de frutossão, na maioria das vezes, causadas pordesequilíbrio hídrico, distúrbios nutrici-onais e polinização deficiente. Outras,no entanto, têm causas desconhecidas(pedrosa, 1995; Bernhardt, 1988).

    Crescimento irregular doovário

    Ocorre pela deposição deficiente oude pólen inativo nos lóbulos estigmáticos,promovendo o crescimento irregular doovário e ocasionando má formação defrutos que, em conseqüência, não atingemclassificação comercial (pedrosa, 1995;Bernhardt, 1988). Como medida de con-trole, recomenda-se distribuir colméiasem todo o campo a fim de tornar a polini-zação mais eficiente e eficaz. Recomenda-se distribuir um mínimo de quatro col-méias para cada hectare em idade de poli-nização, o que ocorre entre 25 e 50 dias deidade da cultura. Essas colméias devem serfortes e capazes de promover um mínimode 15 visitas por flor a cada hora. A conta-gem das visitas deve ser monitorada pelamanhã, no máximo até 9 horas (horário demaior eficiência da polinização), para queseja garantido o valor mínimo de 15 visi-tas. Caso contrário, aumentar a popula-ção de abelhas. Aplicações de boro viafoliar também são importantes para con-seguir polinização eficaz, pois tanto aprodução quanto o crescimento do tubopolínico podem ser afetados em condi-ções de deficiência desse nutriente.

    Frutos de formato globular

    Aparecem na base da planta e sãoformados quando esta é muito jovem,ainda sob o efeito dos hormônios juve-nis, sendo o sintoma típico a formação

    Frutas do Brasil, 33

    de estrias ou gomos similarmente a outrasespécies do gênero Cucumis. A causa édesconhecida, embora os sintomas sejamde ocorrência freqüente em plantios emque práticas culturais, tais como a capa-ção, a desbrota e o raleamento de frutosnão são realizadas (pedrosa, 1995). Algunspesquisadores atribuem esta ocorrência aum nível hormonal da planta que não ésuficiente para promover a diferenciaçãoperfeita das flores produzidas. Sabe-se queflores são folhas modificadas por açãohormonal e, quando plantas muito jovensflorescem precocemente, não conseguemproduzir flores completas e perfeitas, dan-do origem a frutos de formato globular.Esse distúrbio pode, também, aparecerem plantas muito prolíficas, provocandocompetição de desenvolvimento entre fru-tos que, em geral, resultam em menorconservação pós-colheita.

    Deformação dos frutos

    Desequilíbrio hídrico na fase inicialde desenvolvimento é a provável causa daocorrência de frutos denominados "ca-bacinha", que se caracterizam pelo afina-mento da região próxima ao pedúnculo.Na Região Nordeste do Brasil, frutos"cabacinha" são comuns em plantios ir-rigados pelo sistema de irrigação xiquexi-que. Em alguns campos, observa-se, tam-bém, a ocorrência de rachadura de frutos,expondo o seu interior e contribuindopara a penetração de microorganismos, oque, muitas vezes, se deve a prolongadosperíodos de déficit hídrico, seguidos deirrigação em excesso. Em solos arenosos,esse fenômeno pode também estar asso-ciado, à má distribuição da irrigação pelaausência de fracionamento da lâmina nashoras mais quentes do dia. A distribuiçãodos fertilizantes também é importantepara que se consiga diminuir o problema,sendo os principais o potássio e os micro-nutrientes. O potássio é especialmenteimportante para a planta regular a suaturgescência e resistir a déficits hídricos.

  • Frutas do Brasil, 33

    DETERIORAÇÃO PRECOCE DEFRUTOSLiberação precoce desementes ou fruto comsemente solta

    A ocorrência desse distúrbio podeestar associada a desequihbrios nutricio-nais (pedrosa, 1995), como na relaçãonitrogênio / cálcio, em decorrência de tem-peraturas noturnas elevadas, dificultandoa migração do cálcio para as folhas. Exces-so de água próximo à colheita, provenien-te da irrigação ou das chuvas, também estáassociado à ocorrência desse distúrbio.Em geral, os produtores de melão provo-cam estresse hídrico nas plantas próximoda colheita (7 a 10 dias antes da colheita,recomenda-se redução de até 50% da lâmi-na de irrigação aplicada) como forma decontrole preventivo. Outro fator que con-tribui para a soltura das sementes é oexcesso de cloro na adubação, como oproveniente dos fertilizantes cloreto depotássio e cloreto de cálcio. Diversos tra-balhos de pesquisa demonstram que ocloro afeta negativamente a qualidade defrutos de melão, o que também ocorrequando os teores de cálcio no solo, sobre-tudo nos arenosos, são baixos. Produtoresde melão em solos calcários da Chapadado Apodi têm menos problema do queaqueles que se localizam em áreas de solosarenosos. Entretanto, por causa dos exces-sos de água e nitrogênio próximo da co-lheita, essas áreas são historicamente maispropensas a apresentar o distúrbio defrutos com soltura de sementes, o que serátanto mais verdade quanto mais quenteestiver o clima por ocasião da colheita.Frutos que iniciaram o processo de soltu-ra de sementes, se colhidos nas horas maisfrescas do dia (até as 9 horas da manhã eapós as 3 horas da tarde) e levados paracâmara fria, têm o problema amenizado.Em épocas de muito calor, os produtoressabem da importância de fazer a aplicaçãodo nitrogênio somente até os 45-48 dias dacultura e aplicar o máximo de cálcio foliar

    Melão Produção

    possível. A ocorrência desse distúrbio émais comum a partir do mês de outubroquando a temperatura, em regiões produ-toras do Nordeste, atinge valores altoscom diminuta amplitude térmica diária.

    Podridão apical

    É causada por condições adversas domeio ambiente. Ocorre na parte apical dofruto, que desenvolve uma coloração es-cura que pode progredir provocando oapodrecimento da região afetada. Essedistúrbio fisiológico está associado a defi-ciências de cálcio e altemâncias de perío-dos úmidos e secos. Danos no sistemaradicular da planta podem induzir o apa-recimento deste problema. Contudo, osseus efeitos podem ser minimizados pelacobertura do solo com o intuito de manterconstante a umidade, bem como pela aplica-ção de fertilizantes contendo cálcio e man-tendo-se baixos os níveis de nitrogênio (Ber-nhardt, 1988). A maior freqüência destedistúrbio é observada quando frutos corta-dos longitudinalmente apresentam a regiãoestilar com polpa afinada e sensibilidade aoaperto com os dedos. A seleção dos frutospara embalagem pode ser feita somente peloaperto com os dedos e, caso apresentemáreas moles na região estilar, são descartadospelas embaladeiras de melão.

    Queimadura de folhas

    Os sintomas deste problema são maisevidentes em melões de casca lisa, queapresentam pequenas manchas de cor amar-ronzada dispersas sobre a superfície dofruto. Esses sintomas também podem ocor-rer em folhas e ramas. O distúrbio ocorrequando as condições ambientais favore-cem o fenômeno da gutação. Assim, cadapequena mancha no' fruto corresponde àformação de uma gota por gutação. Essaqueimadura pode ser controlada pela redu-ção da irrigação à medida que se aproximaa maturação do fruto (Bernhardt, 1988).

  • Melão Produção

    Queimadura pelo solouescaldadura

    Frutos expostos diretamente à luzsolar e a altas temperaturas desenvolvem

    Frutas do Brasil, 33

    áreas de aspecto esbranquiçado. Esse tipode queimadura pode ser minimizado man-tendo-se uma folhagem mais exuberantepróximo da colheita que proporciona mai-or cobertura dos frutos (Bernhardt, 1988).