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__________________________________________________________________________________________ Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU FREQUÊNCIA DE ACIDOSE RUMINAL EM REBANHOS DE BOVINOS DA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL DAGA, Paola D. Leidens Bordin¹ [email protected] LANFREDI, Carine¹ [email protected] SCOLARI, Cibeli Casanova¹ [email protected] ZORTEA, Letícia Salete¹ [email protected] COLET NETO, Luiz [email protected] OLIVEIRA, Daniela dos Santos de [email protected] FACCIN, Ângela² [email protected] SEBEM, Juliana Gottlieb² [email protected] ALMEIDA, Mauro Antônio de [email protected] MAHL, Deise Luiza [email protected] OLIVEIRA, Franciele de [email protected] ¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 6 2016/2- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso Medicina Veterinária, Nível 6 2016/2- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. RESUMO: Objetivou-se avaliar a frequência dos casos de acidose ruminal, realizando-se análises em bovinos leiteiros com diferentes métodos de criação, comparando com bovinos de corte em confinamento, da região norte do Rio Grande do Sul. Foram utilizados cinco animais de cada propriedade, totalizando 20 cabeças, sendo que cada propriedade tem sistemas de criação distintos: o local (A) tem criação em semi extensivo, já o (B) é freestall e o (C) é compost barn (bovinos de leite); na propriedade (D) os bovinos de corte eram confinados. A acidose ruminal é um distúrbio metabólico que ocorre pela fermentação de carboidratos não fibrosos que aumentam a produção de ácidos graxos no rúmen, ela pode ser aguda ou subaguda. Para verificar a acidose coletou-se a urina dos animais e mediu-se o pH utilizando fitas específicas. Dos animais avaliados nas propriedades de bovinos de leite apenas um deu positivo e na de bovinos confinados todos deram positivos para acidose subclínica. Nas propriedades onde o sistema é freestall (B) e compost barn (C), não foi encontrado casos de acidose, mesmo sendo comum o aparecimento desta doença.Contudo, por mais que se use tamponantes, deve- se manter um manejo adequado com a alimentação, adaptar fêmeas no pós-parto e ter uma nutrição balanceada, visando uma redução nos casos de acidosee consequentemente redução de prejuízos que a mesma causa na bovinocultura de leite e corte. Palavras-chave: sistemas de criação, distúrbio metabólico, pH urinário. ABSTRACT: This study object to assess the prevalence of cases of ruminal acidosis, performing analysis in dairy cattle with different rearing methods, compared to confinement in beef cattle, the northern region of Rio Grande do Sul. We used five animals each property, totaling 20 heads, each property has different farming systems: the location (a) has created semi-extensive, as the (B) is free stall and (C) is compost barn, all relating to dairy cattle breeding; the property (D) beef cattle was confined. Ruminal acidosis is a metabolic disorder occurs by the fermentation of non-fibrous carbohydrates that increase fatty acid production in the rumen, leading

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FREQUÊNCIA DE ACIDOSE RUMINAL EM REBANHOS DE

BOVINOS DA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL

DAGA, Paola D. Leidens Bordin¹

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LANFREDI, Carine¹

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SCOLARI, Cibeli Casanova¹

[email protected]

ZORTEA, Letícia Salete¹

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COLET NETO, Luiz

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OLIVEIRA, Daniela dos Santos de

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FACCIN, Ângela²

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SEBEM, Juliana Gottlieb²

[email protected]

ALMEIDA, Mauro Antônio de

[email protected]

MAHL, Deise Luiza

[email protected]

OLIVEIRA, Franciele de

[email protected]

¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 6 2016/2- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

² Docentes do Curso Medicina Veterinária, Nível 6 2016/2- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

RESUMO: Objetivou-se avaliar a frequência dos casos de acidose ruminal, realizando-se análises em bovinos

leiteiros com diferentes métodos de criação, comparando com bovinos de corte em confinamento, da região norte

do Rio Grande do Sul. Foram utilizados cinco animais de cada propriedade, totalizando 20 cabeças, sendo que

cada propriedade tem sistemas de criação distintos: o local (A) tem criação em semi extensivo, já o (B) é

freestall e o (C) é compost barn (bovinos de leite); na propriedade (D) os bovinos de corte eram confinados. A

acidose ruminal é um distúrbio metabólico que ocorre pela fermentação de carboidratos não fibrosos que

aumentam a produção de ácidos graxos no rúmen, ela pode ser aguda ou subaguda. Para verificar a acidose

coletou-se a urina dos animais e mediu-se o pH utilizando fitas específicas. Dos animais avaliados nas

propriedades de bovinos de leite apenas um deu positivo e na de bovinos confinados todos deram positivos para

acidose subclínica. Nas propriedades onde o sistema é freestall (B) e compost barn (C), não foi encontrado casos

de acidose, mesmo sendo comum o aparecimento desta doença.Contudo, por mais que se use tamponantes, deve-

se manter um manejo adequado com a alimentação, adaptar fêmeas no pós-parto e ter uma nutrição balanceada,

visando uma redução nos casos de acidosee consequentemente redução de prejuízos que a mesma causa na

bovinocultura de leite e corte.

Palavras-chave: sistemas de criação, distúrbio metabólico, pH urinário.

ABSTRACT: This study object to assess the prevalence of cases of ruminal acidosis, performing analysis in

dairy cattle with different rearing methods, compared to confinement in beef cattle, the northern region of Rio

Grande do Sul. We used five animals each property, totaling 20 heads, each property has different farming

systems: the location (a) has created semi-extensive, as the (B) is free stall and (C) is compost barn, all relating

to dairy cattle breeding; the property (D) beef cattle was confined. Ruminal acidosis is a metabolic disorder

occurs by the fermentation of non-fibrous carbohydrates that increase fatty acid production in the rumen, leading

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to acidosis, it can be acute or subacute. To verify acidosis collected to animal urine and measuring the pH, we

used specific tapes. Animals evaluated in dairy cattle properties only one was positive and confined cattle in all

tested positive for subclinical acidosis. On properties where the system is free stall (B) and compost barn (C) was

not found cases of acidosis, even though the appearance of this common disease. However although to use

buffering should maintain an appropriate management with food adapt females postpartum and have a balanced

nutrition aiming at a reduction of cases of acidosis and hence reduction in the damages that it causes in the dairy

production and cut.

Keywords: creation system, metabolic disorders, urinary pH.

1 INTRODUÇÃO

A acidose ruminal é um distúrbio metabólico causado pela fermentação ruminal de

carboidratos não fibrosos, que aumenta a produção de ácidos graxos voláteis no rúmen,

gerando acúmulo destes no local, devido anão remoção pela absorção através do epitélio

ruminal ou neutralização por agentes tamponantes. Mudanças na forma de manejo alimentar,

como aumento do fornecimento de grãos sem adaptação prévia, ou ainda suspenção do

alimento concentrado e um dia após deixar livre o acesso a este, podem causar a acidose

ruminal (BERCHIELLI et al., 2011).

A doença pode se manifestar de forma aguda, onde o animal apresenta incoordenação

motora, ataxia, anorexia, fraqueza e depressão rapidamente, e posterior a esses sinais, ocorre

timpanismo, cólica, desidratação severa, infecções fúngicas e sequelas neurológicas,

normalmente levando à morte. Também pode se manifestar na forma subclínica, sendo de

difícil diagnóstico por apresentar sinais mais brandos como: diarreia moderada com presença

de grãos pouco digeridos, inapetência e perda de peso, podendo desenvolver complicações

como a laminite, doença podal frequente que agrava as consequências, como a queda na

produção leiteira e infertilidade (ANDREWS et al. 2008).

A prevenção e tratamento se dá com a remoção do problema e restabelecimento do

equilíbrio da microbiota ruminal, através da oferta de alimentos volumosos e concentrados em

proporções de 60:40. Taxas maiores de concentrado somente podem ser fornecidas mediante

tempo de adaptação superior a três ou quatro semanas gradativamente (GONZÁLEZ &

CAMPO, 2003). Segundo Berchielliet al. (2011), deve-se evitar que os animais sofram

restrição alimentar de concentrados por longos períodos, a utilização de aditivos alimentares,

como agentes tamponantes, é bastante eficaz e a observação da granulometria da ração

oferecida também é importante, tendo em vista que quanto maior for o tamanho do grão,

maior a produção de saliva, ajudando a neutralização de ácidos.

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O objetivo do trabalho foi avaliar a frequência dos casos de acidose ruminal,

realizando-se análises em bovinos leiteiros com diferentes métodos de criação, comparando

combovinos de corte em confinamento, da região norte do Rio Grande do Sul.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foram avaliados animais de produção de leite e outros destinados à produção de carne

em um período de 10 a 25 de setembro. Os bovinos leiteiros pertenciam a três propriedades

dos municípios de Gaurama e Água Santa, criados em diferentes sistemas de produção; e os

bovinos de corte pertenciam a Faculdade IDEAU do município de Getúlio Vargas no norte do

Rio Grande do Sul, criados em confinamento.

Buscaram-se essas diversidades nos sistemas de criação de bovinos leiteiros e a

comparação com bovinos de corte para melhor avaliar a ocorrência de acidose ruminal nas

propriedades, sendo que se tratava de sistemas: semiextensivo na propriedade (A), sistema

intensivo – freestall na propriedade (B), compost barn na propriedade (C) e confinamento na

(D) no caso dos bovinos de corte (Figura 1), onde foram avaliados cinco animais de cada

local.

Figura 1: Sistema de criação semiextensivo (a), sistema intensivo – freestall(b), compost barn (c) e confinamento

(d). Fonte: Zortea, L. S., 2016, Gaurama (a) e (b), Água Santa (c) e Getúlio Vargas (d), RS.

(a) (b)

(c) (d)

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Para verificar a acidose coletou-sea urina dos animais, para posterior análise do pH

utilizando-se fitas específicas para a medição do mesmo (Figura 2).

Figura 2: Fitas para medição de pH com valores de 7 – 14 (a) e 0 – 7 (b). Fonte: Daga, P. D. L. B.,

2016,Gaurama, RS.

Nas propriedades (A), (B) e (C) coletou-se a urina mediante processo fisiológico de

micção, visando minimizar o estresse dos animais e consequente queda na produção leiteira,

após, mediu-se o valor do pH mergulhando-se as fitas na urina por dois segundos (Figura 3),

para posteriormente comparar os resultados com os parâmetros padrões de pH.

Figura 3: Imersão da fita de medida de pH em urina bovina. Fonte: Lanfredi, C., 2016, Gaurama, RS.

Na propriedade (D) onde se encontravam os bovinos de corte, as medidas do pH

urinário foram efetuadas da mesma maneira (Figura 4), já a coleta foi com massagem navulva

(a) (b)

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para reflexo de micção,(ORTOLANI, 2003), tendo em vista que a produção destes animais é

menos afetada pelo estresse se comparados aos bovinos de leite.

Figura 4: Avaliação do pH através da comparação das fitas com os padrões de cores indicados na embalagem.

Fonte: Lanfredi, C., 2016, Getúlio Vargas, RS.

Os bovinos leiteiros avaliados estavam sendo alimentados na propriedade (A), com

silagem de milho, ração e a campo pastagem consorciada de azevém e aveia preta. Na

propriedade (B) são alimentados com silagem de milho, polpa cítrica e ração, na (C) são

alimentados com silagem de milho, ração e pré-secado. Já os bovinos de corte em

confinamento (D) se alimentam de silagem de milho com proteinado.

3 RESULTADOS E ANÁLISE

Os pHs obtidos das análises de urina dos animais indicaram a ocorrência de acidose

em apenas duas propriedades, com valor igual a sete (7,0), indicativo da forma subclínica da

doença (Tabela 1).

Tabela 1: Demonstrativo do pH urinário por animal em cada propriedade.

Propriedade

A

Propriedade

B

Propriedade

C

Propriedade

D

Animal 1 9,0 8,0 8,0 7,0

Animal 2 8,0 9,0 8,0 7,0

Animal 3 7,0 8,0 8,0 7,0

Animal 4 8,0 9,0 9,0 7,0

Animal 5 10,0 9,0 8,0 7,0

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Na propriedade (A), de bovinos de leite a frequência foi de 20% dos casos de acidose

ruminal, tendo em vista que o animal acometido encontrava-se no período pós-parto (Figura

5) e estava recebendo uma maior quantidade de concentrado na ração para aumentar a

produção, o que de acordo com Noronha Filho (2013), este período predispõe a ocorrência da

doença devido à transição da alimentação pelo aumento das exigências nutricionais,

diferentemente do período seco onde a quantidade alimentar é reduzida.

Figura 5: Vaca do sistema semiextensivo com acidose subclínica, em período pós-parto. Fonte: Colet Neto, L.,

2016, Gaurama RS.

Em bovinos criados em sistemas semiextensivos (A) a prevalência de acidose ruminal

é baixa por causa da elevada ingestão de fibras, pois segundo Santana Neto et al. (2014), ela

estimula a ruminação ocorrendo uma maior produção de saliva, isso neutraliza os ácidos

orgânicos do rúmen pela alta concentração de solutos tamponados contidos na mesma, mas

pelo agravante da fêmea da propriedade (A) se encontrar em período pós-parto verificou-se o

distúrbio metabólico. De acordo com Ortolani (2009), no período pós-parto é fornecida uma

grande quantidade de concentrado visando o aumento da produção leiteira e normalmente é

oferecida sem adaptação e acompanhada de dieta pobre em fibra bruta, pré-dispondo as vacas

recém-paridas à acidose ruminal.

Nas propriedades onde o sistema é freestall (B) e compost barn (C), não foi

encontrado casos de acidose nos animais avaliados (Figura 6), mesmo sendo comum o

aparecimento desta doença caso não ocorra o manejo adequado com uso de tamponantes

(Maruta & Ortolani, 2002).

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Figura 6: Fitas dos cinco animais avaliados na propriedade (C). Fonte: Daga, P. D. L. B., 2016, Getúlio Vargas,

RS.

Na propriedade (B) era oferecido para os animais silagem de milho, ração e polpa

cítrica (Figura 7), onde de acordo com Carvalho (1995) a utilização desta substitui o consumo

de milho, barateando a alimentação dos animais e também reduzindo os índices de acidose

por estimular a ruminação e salivação dos bovinos.

Figura 7: Polpa cítrica semelhante a que era fornecida para os bovinos de leite da propriedade (B). Fonte: Zortea,

L. S., 2016, Gaurama, RS.

Na propriedade (C) a alimentação fornecida aos bovinos a fim de melhorar a produção

leiteira era à base de volumoso (silagem e feno) à vontade, suplementação com concentrado

na quantidade de um quilograma para cada três litros de leite produzidos, este é composto por

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proteína bruta a 20% e nutrientes digestíveis totais (NDT) acima de 70%, bem como mistura

de minerais, vitaminas e bicarbonato de sódio a 1% da dieta total. Segundo Berchielli et

al.(2011), esta composição de nutriente, desde que bem homogênea, fornece aos animais a

energia e proteína necessária para a mantença e produção do animal, já a utilização do

bicarbonato é de forma tamponante, que tem função de neutralizar os ácidos produzidos no

rúmen que junto com a distribuição uniforme de componentes impede o desenvolvimento da

acidose.

O tamanho das partículas fornecidas também pode levar ao quadro de acidose, pois

quando muito pequenas não disponibilizam fibra efetiva suficiente, reduzindo a ruminação

(CHAMBELA NETO et al., 2011), a fim de evitar este problema a propriedade supracitada

adquire rações prontas para que a granulometria e mistura estejam adequadas. Segundo Soest

(1994), o tempo gasto para mastigação e ruminação de concentrados é menor do que

alimentos que possuem fibras o que acarreta menor produção de saliva, devido a isto se

verificam a importância da oferta de volumoso de boa qualidade junto ao concentrado.

No confinamento de bovino de corte (D), todos os animais avaliados foram

diagnosticados como positivos para acidose ruminal subclínica encontrando-se valores de pH

equivalentes a 7,0 (Figura 8).

Figura 8: Fita marcando valor de pH = 7,0 o que caracteriza uma acidose subclínica.Fonte: Zortea, L. S., 2016,

Getúlio Vargas, RS.

Na propriedade (D), observou-se apatia e alteração na consistência das fezes, estas,

segundo Andrews et al. (2008), são causadas, pois, a alteração do alimento leva a uma

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mudança na microflora do rúmen, o pH também diminui porque a maioria das bactérias gram-

negativas e protozoários são destruídos, predominando as gram-positivas (Streptococcus spp.

e Lactobacilos).

As lesões químicas na membrana mucosa ruminal permitem a penetração de bactérias

e fungos na parede do rúmen e, na acidose crônica induzem a formação de abcessos hepáticos

que são observados com frequência em bovinos de corte criados em dieta exclusivamente a

base de cereais, sendo que na referida propriedade é fornecido silagem de milho e proteinado

(CALSAMIGLIA & FERRET, 2002).

Juntamente com a coleta de urina, deve ser realizada a anamnese, que de acordo com

Rockett& Bosted (2011),deve ser realizada com o proprietário, questionando-o

principalmente sobre o manejo alimentar, pois este é relevante para o desenvolvimento da

doença, e exame físico, observando os possíveis sinais clínicos demonstrados pelos animais.

Como a acidose encontrada foi subclínica não tinha manifestações sintomatológicas

consideráveis.

No caso de apresentar sinais clínicos, pode ser confundida com outras doenças, onde o

diagnóstico diferencial pode ser indigestão simples por também apresentar distensão

abdominal, deslocamento de abomaso e cetose pela queda da produção leiteira, ausência de

corpos cetônicos e som timpânico na percussão e doenças que também cursam com

endotoxemia como mastite, metrite e peritonite. As mesmas podem ser diferenciadas pelo

exame físico, pela coleta do líquido ruminal observando pH, odor e cor ou pela coleta da urina

analisando o pH (DIRKSEN et al., 1993).

Para controlar a acidose ruminal, pode-se utilizar ionóforos como a monensina ou

salinomicina, os quais atuam sobre as bactérias gram-positivas que produzem lactato,

reduzindo a produção e o possível acúmulo destas no rúmen. O teor de fibras na dieta é uma

importante forma de controle, pois estimula a ruminação e posterior produção de tampões

endógenos como bicarbonato de sódio, tornando a saliva essencial no equilíbrio do pH

ruminal (NORONHA FILHO,2013).

O uso de tampões exógenos pode ser empregado na prevenção da enfermidade, os

quais auxiliam no controle do pH ruminal, podendo ser citado como exemplo, o bicarbonato

de sódio, mas conforme Calsamiglia & Ferret (2002) o potencial da saliva em ser tamponante

é muito maior do que o bicarbonato, para isso se usa partículas fibrosas maiores para

estimular a sialorréia.Outra forma de prevenção é a adaptação gradual da dieta sempre que

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houver alterações na alimentação. Na propriedade (A), onde a vaca estava em período pós-

parto, realizou-se uma adaptação, diminuíndo o uso do concentrado e aumentando

gradualmente, juntamente com tamponantes, e ainda inserindo maior quantidade de fibras na

alimentação, para manter o equilíbrio.

O tratamento, segundo Leal (2007), consiste de infusão intravenosa de solução

isomolar de bicarbonato (150mmol/l) adicionados em água destilada. Na maioria das vezes,

de acordo com Gonzáles & Campos (2003), a acidose ruminal vem acompanhada por

desidratação, sendo necessária a reposição eletrolítica com solução fisiológica, logo após ter

corrigido o distúrbio. Mas o fator mais importante para a correção deste problema é adequar a

dieta alimentar, com o fornecimento de fibras e adaptação gradual ao concentrado

(SANTANA NETO et al., 2014). Nas propriedades (A) e (D), onde se observou a forma

subclínica, o tratamento é dispensável, sendo necessário somente o ajuste na dieta.

4 CONCLUSÃO

Notou-se, na avaliação dos animais, um caso positivo de acidose no sistema

semiextensivo de bovinos leiteiros, devido o animal estar em período de transição, ocorrendo

um desiquilíbrio no organismo, o que contribuiu para a acidose subclínica. Nas demais

propriedades de bovinos de leite não foram encontrados nenhum caso de acidose, pelo uso de

tamponantes à base de bicarbonato na ração. Já no confinamento de bovino de corte todos os

animais foram positivos, explicado pelo fato de receberem muito concentrado, pois são

animais destinados ao abate.

Contudo devem ser utilizados métodos preventivos, como adaptação na troca da

alimentação, adaptação de fêmeas no período pós-parto e principalmente uma nutrição

balanceada e com a quantidade de nutrientes necessários, pois a acidose ruminal é um

distúrbio metabólico que causa prejuízos não só pela diminuição da produtividade e

crescimento corpóreo dos animais, mas também pelo custo do tratamento.

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 12

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI

FACULDADES IDEAU

SOEST P. J. V. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. Ithaca: Cornell UniversityPress.,

1994. p. 231-280.