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Freitas

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    uma grande satisfao ter sido Convidado para participar dos debates que esto acontecendo aqui na Fundao Carlos Chagas. No pude participar nos outros momentos, e fiz questo de comparecer para dar uma possvel contribuio a essas temticas, que, acertadamente, a Fundao tem pautado.

    Tenho, na realidade, dois caminhos que tentarei combinar. Por um lado, ensaiamos um texto inicial, que tem alguns pontos em re-lao aos quais nem eu mesmo tenho tranquilidade. Por outro lado, temos o dilogo proposto pelo professor Nigel Brooke ontem. Ento, vou tentar transitar entre os desafios que o Nigel nos traz e o texto que foi elaborado. No sei se vai dar certo. Vou ter de improvisar um pouco na trajetria.

    Gostaria de antecipar uma percepo. No tenho nenhuma esperana de que escaparemos de passar pelo que pases como os Estados Unidos esto passando hoje. Acho que passaremos por isso. A razo que passar ou no por isso no est na dependncia da von-tade das pessoas aqui reunidas. Por mais que possamos concordar ou no com as polticas de avaliao associadas acccountability, no est nesta sala e nem na Academia o foco das decises. claro que preci-samos nos posicionar sobre isso; temos o dever, como profissionais da rea, de alertar para os caminhos que a Nao vai seguir nos pr-ximos anos. E acho que estamos num momento de definies sobre isso. Ento, muito importante que seminrios como este pautem a temtica e que possamos, cada um de acordo com sua viso, difundir seus alertas tcnicos e polticos das mais variadas formas.

    POLTICAS DE RESPONSABILIZAO:ENTRE A fALTA DE EvIDNCIA E A TICALUIZ CARLOS DE fREITAS

    temaS em DeBate

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    Minha reticncia quanto nossa capacidade de afetar as deci-

    ses que esto acontecendo no campo da poltica pblica educacional

    deve-se ao fato de que essas formulaes esto ligadas accountability

    forte. Ontem, o Nigel tentava estabelecer uma distino entre uma

    accountability light e uma accountability dura, pesada. Uma distino

    que ele faz entre a accountability do Brasil e a dos Estados Unidos. Os

    Estados Unidos teriam uma accountability dura, enquanto o Brasil teria

    uma accountability aculturada e, portanto, mais light. Vou voltar a isso

    mais adiante. O fato que, por trs dessa questo de accountability,

    existe um mercado educacional. Esse mercado hoje, nos Estados

    Unidos, da ordem de 1,4 trilho de dlares. E isso que sustenta a

    accountability americana. isso que est na base da accountability ame-

    ricana: uma grande engenharia de faturamento. Da a dificuldade de

    discutirmos academicamente e de pesarmos as decises.

    No Brasil, no temos uma estimativa do dinheiro envolvido.

    Mas acho que se chutarmos que j passamos da casa do bilho no

    estaremos muito equivocados. E o mercado ainda est se constituin-

    do, ou seja, as grandes empresas internacionais s agora comeam a

    olhar para esse mercado nascente. Portanto, deveremos ter um cres-

    cimento dessa atividade empresarial no campo da avaliao e da con-

    sultoria, que so duas reas que operam articuladas. H uma gama

    de empresas que avaliam e uma gama de empresas que se dispem a

    consertar aquilo que foi encontrado na avaliao; elas representam

    dois segmentos do mercado. No tenho nada contra as pessoas ganha-

    rem dinheiro na nossa sociedade fazendo consultoria, tendo empresa,

    tudo isso legal, no existe nenhuma irregularidade. Mas, obviamen-

    te, constitui-se em um poder dentro da sociedade que costuma falar

    com o chefe e no com tcnicos etc.; em suma, tem um poder real.

    E, obviamente, tem seus interesses tambm, independentemente at

    das consequncias que algumas polticas possam gerar.

    Quando digo que ramos ingnuos, porque no lidvamos

    com isso no comeo dos anos 1990, quando queramos ter uma me-

    todologia quantitativa que pudssemos aplicar nas redes, que nos

    possibilitasse retirar informaes mais sintticas e de larga escala e,

    com isso, contribuir para a poltica pblica. Ningum estava pensando

    que isso fosse virar um mercado com esse volume de implicaes de

    deciso.

    Ento, acho que seremos vencidos por isso. Mas acho tambm

    que temos de fazer nossa parte, analisar, colocar as implicaes, pelo

    menos para que no nos acusem de no termos apontado os caminhos

    possveis. No temos somente o caminho da accountability. E, mais, de

    uma accountability verticalizada. H outras concepes de accountability,

    e preciso desmistificar isso, porque as pessoas que discordam da

    accountability verticalizada so automaticamente enquadradas como

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    contrrias responsabilidade educacional como se quem no acei-

    tasse a responsabilidade da accountability desresponsabilizasse os ges-

    tores pela conduo dos processos educacionais e a melhoria das re-

    des. Obviamente, no se trata de desresponsabilizao, mas de outras

    formas de responsabilizao que existem, no to verticalizadas, mas

    combinadas com aes horizontalizadas. Mesmo porque, temos, na

    prpria lgica de medio que valorizamos, com tecnologia de ponta,

    dentro do prprio Pisa, no topo do Pisa, pases que so muito bem

    avaliados e que no adotam uma poltica de accountability. Ento, no

    estamos condenados a uma poltica de accountability verticalizada. H

    outras opes, e elas tm sido bem avaliadas tambm dentro do pr-

    prio Pisa.

    Mas sou ctico quanto s possibilidades de conseguirmos con-

    trolar isso, porque acho que, alm da questo econmica, de mercado,

    isso tambm faz ponte com a rea poltica. E os polticos hoje vivem

    o tempo de dois anos. Isso tudo o que eles tm de horizonte, porque

    este pas tem eleio a cada dois anos. Ento, a cada dois anos o go-

    verno tem de demonstrar que fez alguma coisa. Nada melhor do que

    mostrar que uma curva oscilou para cima. Se tiver o azar de oscilar

    para baixo, um desastre. E, muitas vezes, os governos ficam enros-

    cados: como divulgar isso, em que momento, por que, como divulgar

    na boca da eleio que a curva caiu? Ento, retrocede-se um pouco at

    o ano x e se traa uma curva de l para c para mostrar que, de fato,

    a curva no caiu tanto assim. Ficam enroscados nessas questes de

    prestao de contas nos processos eleitorais.

    Ora, ns temos um passivo educacional brutal, e esse passivo

    no pode ser resolvido em dois ou quatro anos. Para resolv-lo nessa

    velocidade, preciso adotar a responsabilizao verticalizada, porque

    com isso se consegue balanar essa curva positivamente por algum

    tempo. Todos sabemos que, quando se pega um sistema educacional

    desorganizado e o organiza minimamente, algum resultado positivo

    vir. A questo colocada ontem pela Professora Elba Siqueira de S

    Barretto : queimada essa gordura, quem mantm essa curva na as-

    cendente?. A comeam os problemas: empaca, vira paralela e as ex-

    plicaes mnguam.

    Quero dizer tambm que temos feito crticas accountability,

    no avaliao vamos separar bem. Uma coisa a cultura de ava-

    liao que defendemos, outra coisa a cultura de auditoria que a

    accountability traz. So duas coisas diferentes. Sou favorvel cultura

    da avaliao, mas no sou favorvel cultura da auditoria audito-

    ria pesada em cima da escola, dos profissionais, das redes. H outras

    maneiras de nos relacionarmos com esses profissionais. No precisa

    ser pela via da auditoria. Ento, o embate este: recusamos a cultura

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    de auditoria, mas aceitamos a cultura de avaliao. So duas formas

    diferentes de ver a questo.

    No sou avesso aos mtodos quantitativos. Sou pedagogo e no

    tenho nenhum problema com isso. Todo dia levanto, olho no espelho

    e falo: Espelho, espelho meu, existe algum que gosta mais da TRI

    do que eu?. E o espelho insiste em me dizer: Sim, existe. Indago,

    irritado: Quem esse?. Ele me responde: O Dalton. E eu replico:

    Ok, o Dalton pode.1 No tenho a capacidade que tem o Dalton, ou o

    Ruben,2 de manejar essas coisas, porque entendo que isso no uma

    necessidade. uma questo interdisciplinar, e no disciplinar. No

    temos por que nos tornar especialistas em TRI, especialistas em mode-

    los lineares e hierrquicos. Podemos trabalhar juntos nesse processo.

    assim que deve ser.

    Ento, no tenho nenhum problema com essas questes.

    Acho que a educao est em falta com os mtodos quantitativos.

    Cometemos um erro brutal ao abandonarmos o estudo desses mto-

    dos, e hoje pagamos um preo carssimo: somos obrigados a ver eco-

    nomistas nos dando lies de ler tabela.

    O Nigel trouxe ontem o dossi Polticas pblicas de res-

    ponsabilizao na educao, que publicamos na revista Educao e

    Sociedade.3 Ele foi montado na seguinte lgica: hoje, no Brasil, estamos

    fazendo uma srie de recomendaes de poltica pblica educacional,

    pois aqui no h apenas uma discusso sobre bonificao, e sim uma

    proposta de poltica educacional. Essa proposta traz em si a questo da

    bonificao que o Nigel separou para a anlise aqui, que de interesse

    dele. Isso est no bojo de uma poltica educacional muito mais ampla.

    Se as razes dessa proposta de poltica educacional de accountability

    esto nos Estados Unidos pas que a gerou e utilizou mais ampla-

    mente , nada melhor que examinarmos as consequncias dessa po-

    ltica no local de origem. Hoje temos ferramentas para fazer estudos

    comparativos e para verificar o que aconteceu em outros pases com a

    utilizao dessas ideias. At porque, no Brasil existe, sim, a indicao

    de que essas polticas so transferidas dos Estados Unidos para c.

    Lembro de um estudo da Fundao Ita Social, intitulado A reforma

    educacional de Nova York: possibilidades para o Brasil, dos pesquisa-

    dores Norman Gall e Patrcia Mota Guedes (2009), em que justamente

    se defende essa transferncia como fica explcito no subttulo.

    H evidncias de que o desenho dessa poltica educacional ba-

    seada em accountability tem origem nos Estados Unidos e, portanto,

    produziu efeitos l dentro. E hoje h uma farta literatura naquele pas

    que examina as consequncias dessa poltica.

    O Nigel faz uma radiografia das crticas expostas no dos-

    si citado, dividindo-as em crticas doutrinrias e efeitos colaterais

    e enfatizando a questo de se ela funciona ou no. E pede que no

    1Meno ao professor Dalton

    francisco de Andrade, que

    foi titular do Departamento

    de Informtica e Estatstica

    da Universidade federal de

    Santa Catarina, conhecido

    por sua atuao em relao

    aos mtodos estatsticos

    para avaliao educacional,

    rea na qual se tornou

    referncia por seu interesse

    e conhecimento sobre a

    Teoria da Resposta ao Item

    TRI , os modelos lineares

    hierrquicos e a anlise

    de dados longitudinais.

    (Nota da Apresentadora.)

    2Meno ao doutor Ruben

    Klein, consultor da

    fundao Cesgranrio com

    ampla experincia e atuao

    na rea de estatstica e

    que tem exercido um

    papel fundamental na

    consolidao dos sistemas

    de avaliao em larga

    escala no Brasil. (N. da A.)

    3ver Educao & Sociedade (2012).

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    condenemos essas polticas a priori. No vamos, de antemo, ser con-

    tra essas polticas, pede ele. A lgica do argumento dele que as po-

    lticas de responsabilizao ou de accountability no Brasil seriam dife-

    rentes das polticas de accountability americanas. Isso uma petio de

    princpio. Ou seja, ele pede que acreditemos que as polticas do Brasil

    so diferentes das polticas americanas. No entanto, alm do estudo

    da Fundao Ita Social, h outras evidncias que poderamos trazer

    para mostrar que h um vnculo, sim, e que as ideias tm uma origem

    muito clara dentro da poltica educacional americana.

    O Nigel separa as crticas em trs blocos. Analisa cada um de-

    les, mas depois continua raciocinando somente em relao ao ltimo.

    Ou seja, o que ele faz dividir as crticas, retirar aquelas relativas ao

    funcionamento do modelo e apagar as outras na sequncia de sua

    anlise. Ele passa por todas, mas abandona os dois primeiros blocos e

    segue trabalhando com a ltima crtica, que se refere questo da efi-

    ccia. Considera que seria legtimo, em nome de possveis benefcios,

    usar uma poltica que ele restringe bonificao. O Professor indaga

    se podemos compartilhar essa lgica das polticas de accountability e se

    ela pode produzir algum efeito positivo para a educao. Ele pergunta:

    por que no podemos usar? Indagao semelhante foi feita pelo eco-

    nomista Claudio de Moura Castro em artigo na revista Veja. Ele dizia

    algo assim: Que culpa temos se os empresrios desenvolveram me-

    lhor a teoria das organizaes? Se eles desenvolveram melhor a teoria

    das organizaes, temos de usar a teoria das organizaes onde existe

    organizao. Na viso dele, se a escola uma organizao, por que

    no usar o conhecimento top de linha que temos sobre organizaes?

    E, novamente, o Nigel nos diz: Temos de pesquisar e verifi-

    car se ela boa ou no, e contornar as consequncias indesejveis.

    Ele cita o caso das tendncias de centro encontradas por Neal e

    Schanzenbach (2010) estudar a responsabilizao em Chicago. Ele esta-

    va numa posio privilegiada porque pegou a rede de ensino antes da

    entrada das polticas de accountability e depois da entrada das polticas

    de accountability. Processou os dados longitudinalmente e mostrou que,

    quando essas polticas entram em cena, provocam um afunilamento

    em direo ao centro. Ou seja, o professor passa a se preocupar com

    os estudantes que esto prximos da mdia como o Nigel j expli-

    cou ontem e isso significa lanar ao mar tanto os que j esto muito

    distantes da mdia para cima quanto os que esto muito abaixo da

    mdia, por uma questo de esforo e tempo do professor. Na medida

    em que tem 20, 30 alunos dentro da sala de aula, o professor sozinho

    no tem como dar atendimento individualizado a todos, e obrigado a

    fazer escolhas. Nessa escolha, ele concentra as atenes nos que esto

    prximos do nvel da proficincia. Esse um estudo bonito de Neal.

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    O Nigel diz: O problema no seria tanto lanar ao mar os que

    esto acima da mdia, mas os que esto abaixo da mdia. E comea

    a nossa discordncia. O problema com os dois lados, porque no

    posso dizer que, por a pessoa estar acima da mdia, eu no preciso ter

    tanta preocupao com ela. Essa postura remete defesa de que o im-

    portante garantir o bsico; garantindo o bsico, o resto optativo. E

    esse um problema, um dilema da educao no Brasil. Pedimos pouco

    para as escolas. Graduamos por baixo as escolas. Nossas exigncias s

    escolas so pelo mnimo. E sabemos que, pedindo o mnimo, vai sair

    menos do que o mnimo.

    diferente, por exemplo, quando se conversa com o pessoal

    da Finlndia, com os tcnicos. H inmeras entrevistas divulgadas a

    que se pode ter acesso. Os tcnicos dizem que discordam dessa viso

    americana de pedir o bsico, o mnimo. Eles pedem s suas escolas o

    mximo. Depois, se no der, eles estudam por que no est acontecen-

    do. Mas eles no partem de pedir o menos, porque, se pedirem pouco,

    tero pouco.

    Outro exemplo que o Nigel cita para contornar consequncias

    indesejveis o ndice de Desenvolvimento da Educao do Estado

    de So Paulo Idesp em relao ao ndice de Desenvolvimento da

    Educao Bsica Ideb. claro que o Idesp melhor que o Ideb. Sem

    dvida nenhuma. Mas temos o estudo do Cenpec4 que nos mostra

    que, alm das consequncias para as escolas individualmente, quando

    se implantam polticas de accountability, h consequncias territoriais

    para conjuntos de escolas. E essas consequncias levam especializa-

    o de escolas em certas funes. Por exemplo, a funo de atender

    os piores alunos de um conglomerado de escolas deslocada para

    uma delas especificamente, que passa a cumprir, no conjunto daquele

    territrio, a funo de acolher aqueles alunos que atrapalham o de-

    sempenho mdio das outras escolas. Isso So Miguel Paulista. Isso

    Brasil. No Nova York.

    Acho que, muitas vezes, temos a ideia de que a questo me-

    lhorar a frmula, de que, se melhorarmos a frmula, vamos ter l na

    frente o resultado que queremos. Esse um raciocnio tpico da rea

    empresarial, e faz sentido l. Porque os processos empresariais so pa-

    dronizveis. Eu posso padronizar. Se eu posso padronizar, posso con-

    trolar o processo. Porm, o fluxo da aprendizagem e da formao na

    educao no padronizvel. Essa a diferena fundamental. Eu no

    tenho como padronizar o fluxo. At posso padronizar os resultados

    no sentido de desejar resultados. Posso desejar uma meta. Mas no h

    como estabelecer essa padronizao no processo. E isso que leva ao

    apostilamento, que uma tentativa de controlar o processo: como o

    professor varia, ponho um monte de folhinhas nas mos dele e digo:

    hoje a folhinha 1, amanh a folhinha 2, depois a folhinha 3... E

    4O autor se refere ao estudo

    Educao em territrios

    de alta vulnerabilidade

    social na metrpole:

    um caso na periferia de

    So Paulo, de rnica e

    Batista (2011). (N. da A.)

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    assim vai. Tenta-se, portanto, padronizar o processo. muito duvido-

    so se obtenham resultados dessa maneira na educao.

    Quais so, ento, as consideraes que podemos colher da fala

    do Nigel? Primeiro, ela est eivada de petio de princpio. Na reali-

    dade, ele no nos trouxe dados que sustentassem ou suportassem as

    apreciaes. Ele nos pede de que acreditemos que o Brasil poder se-

    guir um caminho diferente dos Estados Unidos. um desejo. Mas est

    no campo da f, no est no campo da cincia. Eu acredito em certos

    princpios, da o termo petio de princpio, e peo que acreditem

    que criaremos um caminho diferente aqui no Brasil, que no o ame-

    ricano. Mas o Professor no mostrou nenhuma evidncia emprica

    tendencial que nos apontasse essa direo. Mais grave, a evidncia j

    disponvel aponta em outra direo.

    E o mundo caminha hoje muito mais para uma poltica pbli-

    ca baseada em evidncia emprica. Ainda no fazemos essa poltica no

    Brasil, mas seremos levados a faz-lo. E isso vai provocar um debate

    no pas sobre o que evidncia emprica. E eu adianto pelo negati-

    vo que evidncia emprica no apresentar um estudo, dois estudos,

    mas uma meta-avaliao. Se quisermos, s escolher uma base em-

    prica para justificar tudo; basta recorrer literatura para encontrar

    dois, trs estudos. por isso que a meta-avaliao o instrumento

    fundamental da poltica pblica: ela junta uma grande quantidade de

    estudos e mede a consistncia de uma determinada proposta ao lon-

    go do tempo considerando o que deu certo e o que no deu, e aquilo

    de que no se pode dizer absolutamente nada porque o estudo tem

    problemas metodolgicos, ou ento porque no se chegou a nenhuma

    concluso.

    Na nossa rea, isso frequente, porque no existe experimen-

    to crucial. No temos como testar certas ideias de forma definitiva,

    algo como: agora vamos tirar a limpo essa histria do bnus com

    um experimento controlado, e, no final, saberemos se o bnus fun-

    ciona ou no. No mximo, podemos dizer: nesse experimento, nesse

    contexto as coisas aconteceram assim. A meta-avaliao importante

    porque rene uma coleo grande de estudos e vai dizendo: em mdia

    as coisas seguem tal tendncia. Ou seja, ela cria uma tendncia. Ento,

    interessam-nos, em poltica pblica, evidncias empricas tendenciais

    que persistam numa certa lgica para podermos ter algum elemento.

    Quando se fazem estudos isolados, qualquer coisa se justifica.

    O discurso do Nigel separa a questo da eficcia dos efeitos co-

    laterais. At entendo que deixssemos de lado os problemas doutrin-

    rios, pois no to crucial discuti-los, embora tenham consequncias.

    Mas os efeitos colaterais no podem ser separados da pergunta sobre

    se funciona ou no; eles so parte componente desse estudo. Na outra

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    ponta, no vi a apresentao de dados tendenciais que pudessem su-

    gerir que estamos no caminho correto.

    O Nigel nos diz: Precisamos de pesquisa, ainda no sabemos

    bem. Portanto, temos de pesquisar mais. Ou seja, deixem em suspen-

    so essa poltica para trabalharmos. Mas a temos um problema lgico,

    porque a proposta dele : faamos poltica pblica de accountability.

    Ele afirma isso. E ao mesmo tempo diz: no me julguem, esperem,

    deixem os dados aparecerem. O que significa isso? Que essa poltica

    no tem dados? Se tivesse, ele no precisava pedir que esperssemos.

    Ele poderia arrol-los de imediato: estas so as minhas bases empri-

    cas e aqui que estou sustentando minha proposta de poltica pbli-

    ca. Mas ele no tem dados.

    O Professor pegou um estudo com onze casos, separou dois,

    Israel e ndia, pases onde certamente a accountability pode ter um

    diferencial porque seus sistemas educacionais so pouco elaborados.

    Aplicar na ndia a accountability muito provvel, assim como no

    Brasil provvel que encontremos algum resultado nesse processo.

    Mas isso no tendencial. Ento, existe a um problema de lgica. O

    Nigel diz: tem de fazer poltica pblica de accountability. Ao mesmo

    tempo em que afirma isso, ele diz: aguardem por minha evidncia

    emprica antes de me julgar. E os estudos que nos traz no so estudos

    tendenciais. Ao contrrio, os dois casos dele, destacados de um con-

    junto reunindo outros 13 casos, mostram que no tm efeito.

    Esse outro problema. Imagine que estamos no campo da sa-

    de, Nigel, e o senhor Secretrio de Sade do Municpio. Eu chego e

    digo: Tenho uma cura para o cncer. No me julgue imediatamente.

    Aguarde. Ns aplicaremos o procedimento nos postos de sade e va-

    mos ver. Mas acredite. Teremos bons resultados. J apliquei. Eu me

    curei de um cncer, portanto, acredite em mim. E ns vamos obter

    dados que comprovem a nossa teoria na prtica. Ora, isso implica-

    ria um problema tico grave, porque estamos lidando com a vida de

    pessoas com uma proposta de poltica pblica para a qual no temos

    uma evidncia emprica consistente, com uma mera petio de prin-

    cpios: Acredite no princpio porque pode ser que obtenhamos uma

    evidncia emprica favorvel e, se obtivermos, a se justifica ainda

    mais aplicarmos.

    Ento, h um problema lgico e tico no meio disso. No sou

    contra fazer estudos sobre bonificao. Liberdade acadmica! Sou

    contra transferir para redes inteiras propostas que no esto bem

    documentadas e entendidas e o Nigel reconhece isso. Os estudos

    tendenciais tambm reconhecem isso, como da National Academy

    of Science,5 que ele mesmo nos trouxe. O estudo, intitulado Pay for

    performance: evaluating performance appraisal and merit pay, chega exa-

    tamente a estas concluses: no sabemos como fazer bonificao; os

    5ver Milkovich e

    Wigdor (1991).

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    resultados so praticamente nulos. H outros estudos apontando difi-

    culdades, e mesmo assim queremos aplicar isso a redes inteiras. No.

    Lamento muito. H um problema tico. No posso mexer com a vida

    de milhares de escolas, milhares de professores, milhares de alunos,

    pais de alunos com uma ideia que no tem suporte tendencial. No

    mnimo, o que posso reconhecer, Nigel, que vale a pena investigar.

    Faam estudos, sem dvida nenhuma. No tenho nada contra. Estudos

    controlados, estudos localizados, para entendermos bem como isso

    funciona. E no dia em que tivermos um entendimento de como isso

    funciona, podemos tentar passos maiores.

    Mas o problema tico de pesquisa insolvel: no podemos

    aplicar procedimentos duvidosos a redes inteiras com base em uma

    petio de princpio: pede-se que se acredite, que se tenha f de que

    se alcanaro bons resultados. Nisso no posso acompanh-lo, embo-

    ra compartilhe da liberdade acadmica que todos temos em nossas

    universidades e instituies para fazermos as pesquisas que acharmos

    convenientes, desde que respeitadas tambm as repercusses nos su-

    jeitos. A questo da tica na pesquisa importante.

    O Nigel faz uma anlise das vrias crticas teoria da

    accountability e algumas ele aceita. Por exemplo, a questo de estreita-

    mento curricular. No o ouvi argumentar que isso no seria uma rea-

    lidade. Ele at mostra o estreitamento em vrios nveis: curricular etc.

    S por isso, j haveria motivos suficientes para descartamos essa po-

    ltica at novo exame. Porque estreitamento curricular no pouco.

    No entanto, h um fenmeno novo aparecendo na rea de pro-

    duo de evidncia emprica que precisamos analisar. que institutos

    independentes e algumas fundaes empresariais produzem evidn-

    cia emprica sem reviso de pares acadmicos. Porque, at agora, evi-

    dncia emprica aquela que passou por reviso de um par. Ou seja,

    eu tenho uma pesquisa que quero publicar, mando para uma revista,

    ela encaminha para um parecerista competente na rea que analisa

    a proposta e verifica se a metodologia e o estudo so consistentes, se

    possvel publicar. Ento, h uma reviso de par que valida o estu-

    do. Institutos e fundaes privadas, empresariais, como tm muito

    dinheiro, fazem relatrios vultosos, bonitos, bem impressos e do um

    aspecto de verdade cientfica a eles. No pode ser assim.

    O Centro de Poltica Nacional de Educao da Universidade

    do Colorado em Boulder derruba um relatrio desses por ms de fun-

    daes privadas inclusive do Bill Gates. um trabalho excepcio-

    nal. Precisamos de algo assim no Brasil. Acho que a Fundao Carlos

    Chagas poderia fazer esse papel, ser um lugar de pesquisadores inde-

    pendentes que pegam relatrios de governo, relatrios de empresas, e

    fazem uma anlise da metodologia, dos resultados etc. E que criticam

    quem tiver de ser criticado: isso no tem fundamento, est errado,

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    no tem metodologia adequada etc. H capacidade aqui dentro para

    isso. E tem de ser pesquisadores independentes mesmo. As universi-

    dades tambm podem e deveriam cumprir esse papel de independn-

    cia em relao ao vasto material que circula como verdade. O relatrio

    da McKinsey,6 de repente, vira verdade e na verso resumida, em

    seis pginas, tal como circula nas redes. No d. Temos de discutir o

    que evidncia emprica. E temos de discutir o que fazer pesquisa

    com reviso de pares, porque as coisas esto escapando de controle.

    No d para pr a poltica na praa e s depois ir atrs da

    evidncia emprica isso que eu quero dizer. Ento, Nigel, no d

    para concordar com sua proposta, com sua solicitao de que aguar-

    demos para julgar as polticas. Do ponto de vista acadmico, at pos-

    so entender e concordar: vamos dar uma chance para as polticas de

    accountability mostrarem sua eficcia do ponto de vista acadmico,

    dentro da universidade, usando o direito liberdade de pesquisa.

    Como poltica pblica, que mexe com a vida das pessoas, no d, tem

    um problema tico nisso. A no tem jeito. a questo do cigarro:

    mata ou no mata? Se perguntar para quem vende, diz que no. Se for

    ver o que acontece com quem fuma, diz que sim. Quem tem razo?

    So esses os problemas de evidncia emprica. No fcil encontrar

    evidncia emprica. Falar muito tempo no celular cozinha o cre-

    bro ou no? Quem vende celular diz que uma bobagem. Quem est

    do outro lado pesquisando corpos se pergunta: teremos de esperar

    aparecerem mais corpos sobre a mesa para acreditar que celular faz

    mal? uma interrogao que est no ar. Portanto, no d para fazer a

    poltica primeiro e s depois medir a consequncia, examinar e dizer:

    bom, no bom. Porque j se produziram efeitos. E a tica tem

    a ver com os efeitos que produzimos ao fazer poltica pblica.

    Temos de aprender com a experincia dos outros, sim. Qual

    o problema de a accountability brasileira ser diferente da accountability

    americana? Idade. S isso. A americana tem 30 anos ou mais. A brasi-

    leira comeou outro dia. A accountability americana s foi se instalar de

    fato em 2001, mas surgiu em 1983, com o relatrio A nation at risk.7 Ela

    ganhou corpo com a Lei de Responsabilidade Educacional americana

    No Child Left Behind,8 que tem mais de mil pginas e estabelece todas as

    regras da accountability dura nos Estados Unidos. Est tudo legislado.

    Quando se fecha uma escola, est na lei que pode ser fechada.

    A nossa Lei de Responsabilidade Educacional ainda est tra-

    mitando no Congresso.9 No est pronta. Estamos apenas no comeo.

    No que seja diferente, mas que os estgios de desenvolvimento da

    accountability tm idades diferentes. E se no aprendermos com a expe-

    rincia das polticas de accountability mais velhas, se entendermos que

    isso no conosco, que os erros dos americanos so s deles e que ns

    faremos certo, que garantia temos? D para acreditar numa petio

    6Trata-se do relatrio

    How the worlds best-performing schools systems come out on top (BARBER; MOURSHED,

    2007). (N. da A.)

    7ver United States (1983).

    8ver United States (2001).

    9Trata-se do Projeto de

    Lei n. 7.420, de 2006,

    da professora Raquel

    Teixeira, que dispe sobre

    a qualidade da educao

    bsica e a responsabilidade

    dos gestores pblicos na

    sua promoo. (N. da A.)

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    de princpio de que nossa accountability ser diferente da americana?

    Pode ser que sim, pode ser que no. E se no? E se sim? Quais sero

    as consequncias? Novamente, os problemas ticos se apresentam.

    Ento, acho que temos de aprender com a experincia dos outros,

    sim. Porque no existe uma grande diferena de procedimentos, mas

    apenas uma questo de idade. Estamos comeando. Agora, por exem-

    plo, temos a PEC 82,10 que eu chamo de PEC da Meritocracia. Ela vai

    fazer uma alterao na Constituio brasileira para introduzir o prin-

    cpio da meritocracia entre os outros princpios que regem o servio

    pblico, como independncia e impessoalidade.

    Note-se, ento, que estamos em processo de criao desses ins-

    trumentos legais. Alm da PEC 82 e do PL 7.420, temos os Arranjos

    de Desenvolvimento Educacional ADE , que o Conselho Nacional

    de Educao j aprovou. Trata-se de uma engenhosa articulao en-

    tre a iniciativa privada no campo horizontal com a iniciativa pblica

    no campo vertical que tambm um componente fundamental da

    proposta de accountability. Isso ainda est sendo produzido. Lembro

    que a anlise que se faz hoje da Lei de Responsabilidade Educacional

    americana indica que um fator decisivo da aprovao da lei no

    Congresso americano foi a experincia do Texas quando George Bush

    era governador do estado. E o Texas produziu resultados sensacionais

    com a accountability. Hoje, a accountability texana conhecida como o

    milagre do Texas. E hoje sabemos porque aqueles resultados eram

    milagrosos: fraude. O Texas uma fraude. Mas uma fraude que con-

    venceu cada um dos republicanos e democratas a contrariar seus pr-

    prios princpios unindo-se aprovao da Lei de Responsabilidade

    Educacional americana.

    Temos a nossa lei no Congresso. Vamos ver a que vem e o que

    est dizendo. Ela saiu do ministrio no incluindo responsabilizao

    por metas acadmicas. Tentava controlar o gestor. Hoje, foram apen-

    sados a essa lei 14 projetos que estavam em tramitao na Cmara e

    j se discute incluir a responsabilizao por metas acadmicas. Veja-se

    o caso americano. A lei diz: em 2014 todos os estudantes americanos

    sero proficientes. No um ou outro. No uma escola ou outra.

    So todos. Todos sero proficientes. Durante dez anos, tentou-se con-

    vencer os sucessivos governos de que isso era uma idiotice, que no

    havia como garantir nem implementar a meta de todos os alunos dos

    Estados Unidos proficientes at 2014. No adiantou. Ela foi mantida.

    At que, no incio de 2012, o Ministro da Educao americano foi aos

    jornais dizer que, numa anlise otimista das escolas americanas, 50%

    no conseguiro cumprir a lei em 2014. O Presidente Obama ficou

    numa situao complicada e resolveu instituir um perdo aos es-

    tados porque eles no vo conseguir. Nos Estados Unidos, quem no

    respeita a lei sofre as consequncias, deixa de obter recursos. Para

    10Referncia Proposta de

    Emenda Constituio n.

    82, de 2011, de autoria de

    Edmar Arruda (PSC/PR), em

    tramitao no Congresso,

    que prope a alterao do

    artigo 206 da Constituio

    federal para inserir o inciso

    IX prevendo a meritocracia

    como um dos princpios

    norteadores do ensino

    pblico no Brasil. (N. da A.)

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    evitar a falncia, Obama est concedendo o perdo. Mas o perdo

    condicionado aceitao da sua poltica educacional. Ele diz aos es-

    tados: concedo-lhes perdo, mas vocs usam a minha poltica na sua

    poltica educacional. Alguns estados aceitaram, outros esto batendo

    o p e no querem aceitar. Essa a situao que se criou dentro dos

    Estados Unidos com uma lei irrealista, sem nenhum fundamento, ti-

    rada da cabea do Sr. Bush.

    Tem mais. Eu no vi meno ao Chile. O Chile sumiu. O Chile,

    que sempre lembrado por uma poltica de accountability na Amrica

    Latina antiga filial dos americanos. Ns temos o Chile aqui per-

    tinho. O que aconteceu com as polticas de accountability dentro do

    Chile? Criaram um dos sistemas mais segregados do mundo. Um pro-

    blema serssimo de equidade. Cem mil pessoas na rua, entre pais e

    alunos, protestando. Criaram um sistema em que se temescolapbli-

    caparapobre, escola subvencionada para remediado e escola privada

    para rico. Observe-se o resultado do Pisa e se ver que o nvel socioe-

    conmico acompanha o tipo de escola. A escola subvencionada chile-

    na no outra coisa seno reflexo da escola charter11 americana. E o

    Chile? Sumiu?

    Com o bnus em So Paulo foi a mesma coisa. Primeiro, o

    bnus individual no funcionou. Nova York mudou, passou de indivi-

    dual para escola. O Estado de So Paulo fez a mesma coisa. Nova York,

    ento, fechou a poltica de bnus. O Estado de So Paulo mantm a

    poltica de bnus. Ou seja, a evoluo da ideia de bnus em So Paulo

    a mesma daquela de Nova York. Como estamos fazendo diferente de

    Nova York? Como essa diferena de Nova York? Eles tambm fazem

    clculo de nvel socioeconmico. No fomos ns que inventamos isso.

    Nvel socioeconmico bsico em qualquer pesquisa da rea educa-

    cional. No uma inovao brasileira. Alis, ns aprendemos isso com

    os americanos.

    No existe para mim essa ideia de meia responsabilizao e

    responsabilizao plena ou responsabilizao light e responsabiliza-

    o dura. At porque o conceito de responsabilizao, segundo Kane

    e Staiger (2002), trs elementos: testes para os estudantes e eventu-

    almente tambm professores; divulgao pblica do desempenho; e

    recompensa e sanes. Esses so os trs elementos de um sistema

    de accountability. O ncleo da definio est na existncia de teste e

    na existncia de recompensa. A divulgao pode ser tcita, indireta

    como algum apontava aqui ontem: se eu divulgo s quem recebeu

    bnus, eu divulguei quem no recebeu. Alis, se eu entrar no site do

    Inep, saberei o Ideb das escolas. Os elementos esto presentes. Que a

    idade da nossa accountability no nos faa nos reconhecer plenamente

    na accountability americana no significa que no a tenhamos aqui.

    Temos, sim. E mais, no acho que se possa destacar da accountability

    11As escolas charter so construdas e geridas

    por entidades privadas,

    mas o Estado arca com

    as despesas relativas a

    matrcula e mensalidades

    dos alunos e se

    responsabiliza por monitorar

    seu desempenho. (N. da A.)

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    a questo dos resultados e converter isso num pagamento de resulta-

    do diferente de accountability. Os trs elementos continuam presentes.

    O resultado sozinho, isolado, no cumpre efeito nenhum. E no h,

    inclusive, como estabelecer o resultado sem ter uma aferio. Ento,

    no h como separar. Visto que no h como separar a questo da me-

    ritocracia, ela est imbricada nisso. Est automaticamente envolvida

    nesse processo.

    Agora, uma coisa curiosa. Donald Campbell advertiu sobre

    tudo isso antes das polticas de accountability, em 1976. Ele dizia: se

    voc associa um indicador a recompensas ou consequncias determi-

    nadas, vai gerar provavelmente uma corrupo do prprio indicador.

    Isso foi dito l atrs. Ns no queremos dar ouvidos advertncia de

    Campbell, mas foi muito clara.

    Voltamos ao exemplo do Chile. Estive l h alguns anos e a

    discusso no Congresso era a seguinte: as escolas subvencionadas no

    queriam pobre, a menos que o Estado pagasse mais porque pobre

    era mais caro para ensinar. Ento, ningum queria pobre. O Estado

    teve de flexibilizar pagamentos e pagar mais por alunos de risco. So

    aspectos que a poltica pblica vai gerando. E o Chile est a para ser

    analisado, com todas as repercusses. E no Brasil j temos tambm

    consequncias proporcionais idade da responsabilizao que existe

    obviamente.

    Tenho algumas outras observaes a fazer no pouco tempo

    que me resta.

    A primeira : por que tudo isso? Por que a accountability chega

    neste momento com essa fora? Por que a cultura da auditoria se so-

    brepe cultura da avaliao, modulando-a, aprisionando-a? Essa mis-

    tura de accountability com avaliao, a meu ver, vai ser danosa para a

    rea de avaliao, porque, inclusive, no entrar na rea da educao.

    Continuar fora da rea da educao se for colocada dessa maneira.

    Na rea da educao no existe ganhador e perdedor. A rea da educa-

    o rea de direito, e rea de direito no tem ganhador e perdedor. A

    rea do mercado, sim. Eu jogo na bolsa, sei que posso ganhar e posso

    perder. E se perder, no tenho direito de reclamar, assinei at um con-

    trato. Se eu investir 100 e cair para 70, o problema meu. Faz parte

    do jogo. O mercado lida dessa forma. Na rea da educao, no pode

    haver perdedor. O problema comea a: a lgica de funcionamento

    no se adapta lgica da rea educacional porque no podemos con-

    viver com perdedores.

    A questo como evitar os perdedores, como no gerar perde-

    dores. Isso vale para o aluno, para o professor, para a escola, para todo

    o sistema. O que mais nos choca levantar uma placa de Ideb na porta

    da escola. Mas h outras coisas muito mais duras do que isso e que

    so feitas no interior das escolas em nome das avaliaes. Algum me

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    dizia outro dia que houve aumento em 100% de crianas com dficit

    de ateno h indicao disso nas avaliaes. Como que aumenta

    assim em 100% a indicao de crianas com TDAH? Temos de investi-

    gar isso, pois parece um efeito de poltica. As escolas sustentam que

    o problema est na criana, que ela que tem distrbio. Um mdi-

    co americano, em uma entrevista recente, dizia que no concordava

    muito com essa histria de medicalizar os problemas das crianas,

    mas a sociedade americana havia optado por no gastar onde era ne-

    cessrio para resolver o problema. Ento, s lhe restava medicar. E ele

    medicava. Houve uma exploso de medicalizao.

    Precisamos examinar por que tudo isso, entender o momen-

    to pelo qual estamos passando. Eu resumiria da seguinte maneira: o

    Brasil foi escolhido, ao longo dos ltimos dez anos, como plataforma

    de investimento internacional. Hoje faz parte dos Brics, ao lado da

    ndia, China, Rssia e frica do Sul, todos pases com alta densidade

    de mo de obra. E sabemos que, para manter um negcio rentvel,

    preciso encontrar mo de obra barata. H outras formas: introduzir

    inovaes para reduzir custos. Mas o grosso da tropa que conta, e

    preciso dar um jeito de diminuir o custo mdio salarial. Por isso, em

    Nova York, uma empresa que faz avaliao cardaca prefere mandar

    o resultado por internet para ser examinado em Taiwan, onde um

    mdico ganha a metade do que ganha um mdico americano. Feito

    o diagnstico, ele remetido de volta a Nova York onde impresso e

    entregue ao paciente. O que importa reduzir custo.

    H implicaes gravssimas para a rea da educao quando

    se coloca a lgica empresarial dentro da escola, dentro da rea educa-

    cional. O que significa para uma empresa educacional manter-se no

    mercado? Ela tem de derrubar custos. Como que est a discusso

    americana? Hoje o problema das escolas charters passou para outro

    patamar. Uma escola charter que em Washington responde por 43%

    da rede pblica e em Nova York por quase 50% est se virtualizan-

    do para poder ser competitiva. H 500, 600 alunos dependurados em

    um professor on-line. Ela virtualizou porque a nica maneira de ser

    competitivo na rea educacional aumentar o tamanho de turmas e

    precarizar o professor.

    So essas duas lgicas que permitem ser competitivo. Ento,

    tem consequncia quando se diz que vamos introduzir a lgica priva-

    da dentro da rea educacional, porque teremos de seguir as regras do

    mercado, e elas so implacveis: ou as seguimos ou vamos falncia.

    Para no falir, introduz-se essa lgica dentro das empresas educacio-

    nais, porque se as empresas administrarem as escolas pblicas preci-

    saro ter maior nmero de turmas e precarizar o professor. A Teach

    for America joga 10 mil professores precarizados no mercado ameri-

    cano, com cinco semanas de treinamento em cinco semanas tem um

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    professor pronto para jogar no mercado. Joga 10 mil deles durante o

    ano para abastecer o mercado, reduzir custo e poder sustentar isso.

    Voltando questo econmica, o fato que o Brasil, nesses

    ltimos dez anos, por uma questo de conceito de desenvolvimento e

    posio internacional, terminou sendo plataforma de investimento e

    recebeu mais de 70 bilhes de investimentos produtivos diretos, que

    mais do que recebeu nos ltimos 60 anos. Esse dinheiro que entra tem

    de ser valorizado. E h um problema: a estratgia que o Brasil seguiu

    foi de crescer gerando elevao salarial. Da termos jogado 40 milhes

    de novos consumidores no mercado que alguns chamam de nova

    classe mdia, mas h uma discusso muito grande sobre isso. Ento,

    h 40 milhes de novos consumidores que tiveram seu salrio me-

    lhorado. Os economistas chamam isso de armadilha da renda mdia.

    Por que armadilha da renda mdia? Porque, obviamente, quando se

    eleva a renda mdia, perde-se competitividade internacional, porque

    o salrio fica mais caro e no se consegue ganhar da China, ganhar da

    Rssia, onde a mo de obra mais barata, a mdia salarial menor.

    O Brasil fez esse movimento e no possvel dar marcha a

    r, porque isso causaria um problema srio: provavelmente perda

    de eleio. Qual a sada? Aumento de produtividade no tem jeito.

    Para aumentar a produtividade, tem de introduzir tecnologia e tem

    de mexer com a educao do trabalhador, com a formao dele. Muito

    provavelmente, hoje a questo educacional mudou de status. Se at

    agora podamos rolar com a barriga a questo da educao, porque

    as estratgias de valorizao do capital eram outras, agora s resta a

    produtividade, j que os bolses de misria, que poderiam ser usados,

    esto escasseando. O campo s tem 16% de pessoas, a mulher j est

    incorporada na produo, cerca de 75%. Portanto, no tem mais como

    empurrar com a barriga. Est a o ensino mdio explodindo. Isso signi-

    fica que os empresrios consideram hoje que a educao algo muito

    srio para ficar s na mo de educadores profissionais. E eles vo pr

    a mo nisso, e j esto pondo a mo nisso com a tica deles. E na tica

    da empresa accountability que faz funcionar, porque precisa de resul-

    tados rpidos, inclusive.

    Ento, temos a um fechamento de interesses entre os polti-

    cos, que precisam de respostas rpidas a cada dois anos para a eleio.

    Na outra ponta, temos o movimento na economia que precisa acelerar

    os processos de formao no sou contra, no estou falando a favor

    ou contra, estou constatando. Acho que os empresrios tm direito a

    influenciar as polticas educacionais. Mas no tm direito de fazer po-

    ltica s para eles, porque tem mais gente na sociedade alm dos em-

    presrios. Obviamente, eles so legtimos participantes dessa poltica

    mas no para defini-la sozinhos, porque assim no democrtico. Se

    colocarmos a educao nas mos de um fragmento, de uma faco da

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    sociedade, que so os empresrios, no democrtico. No podemos

    deixar que uma faco da sociedade defina qual a poltica pblica. Ele

    pode participar desse processo. Mas, alm de preparar para a empre-

    sa, para a indstria, para as necessidades da indstria, existem outras

    necessidades do pas para a sua juventude, outros objetivos que temos

    de garantir na formao da nossa juventude. Portanto, temos de abrir

    um debate muito maior do que s essa questo da implicao econ-

    mica. Temos de discutir o que entendemos por uma boa educao.

    No texto,12 fao uma sugesto. A alternativa presso aquela

    que Bryk13 ensaiava em Chicago nos anos 1990; a sada pela con-

    fiana relacional um conceito criado por ele que envolve vrios ele-

    mentos e implica lidar com as relaes do interior das organizaes.

    Ou seja, se no cuidarmos das relaes que acontecem no interior das

    escolas entre alunos, entre professor e alunos, entre professor e pro-

    fessor, entre diretor e professor, diretor e aluno relaes muito com-

    plexas para serem administradas pura e simplesmente pela incidncia

    de presso , se isso no for adequadamente tratado, no se liberam

    foras positivas, consistentes e duradouras no interior da escola.

    Querem partir para a presso, querem colocar a accountability

    em cima de um sistema falido? Porque ningum discute o professor

    horista neste pas. Eles esto no ensino mdio e no fundamental da

    5 9 srie. Professor horista uma inveno pela qual um professor

    atende 700 alunos em uma semana. O que se pode fazer com ele?

    Envolv-lo em qu? S se for na presso mesmo. Mas isso impede que

    se faa um trabalho dentro da escola. Isso no discutido no Brasil. O

    professor horista uma excrescncia que aceita. Dados que o profes-

    sor Neto e outros14 trazem sobre a infraestrutura das escolas so alar-

    mantes. Alis, achei fantstico o estudo. S o Neto para inventar uma

    proficincia de infraestrutura acho genial isso. Fantstico. Eles

    mostram que h 48% das escolas no nvel de infraestrutura elementar.

    E na hora de fazer a poltica, esquecemos tudo isso, colocamos pres-

    so no sistema. Os estudos mostram que 50% a 60% das variveis que

    afetam a proficincia dos alunos so externas s escolas. Resta quanto

    para elas: 40%, 50%? Desse total, 17% a 20% dizem respeito ao profes-

    sor. Queremos atuar em 17% ou 20% sendo generoso dos efeitos

    que definem a aprendizagem, e deixamos os outros 60% debaixo do

    tapete. Reconhece-se que assim, os estudos disponveis dizem que

    assim, mas, na hora de fazer a poltica, aumenta-se a presso sobre o

    professor.

    Nessa linha, temos a definio do pagamento do professor

    pelo resultado do aluno nos testes, algo que o Brasil no faz ainda,

    por uma questo de idade de accountability, mas que os americanos

    esto aplicando mesmo contra o parecer dos melhores estatsticos e

    avaliadores do pas, os quais se manifestaram no New York Times, em

    12Referncia do autor ao

    texto que enviou como

    base de sua fala no Ciclo de debates. O texto, intitulado Caminhos da avaliao

    de sistemas educacionais

    no Brasil: o embate entre

    a cultura da auditoria e a

    cultura da avaliao ser

    publicado brevemente

    em livro. (N. da A.)

    13Referncia ao pesquisador

    Antony Bryk, presidente

    da The Carnegie

    foundation e ex-docente

    da Universidade de

    Chicago e da Universidade

    de Stanford. (N. da A.)

    14Referncia pesquisa

    realizada por Joaquim Jos

    Soares Neto, Girlene Ribeiro

    de Jesus, Camila Akemi

    Karino, da Universidade de

    Braslia UnB , e Dalton

    francisco de Andrade, da

    Universidade federal de

    Santa Catarina UfSC,

    intitulada Estudos de fatores associados queinfluenciam o aprendizadoestudantil, que tem como um dos seus

    produtos a escala

    mencionada. (N. da A.)

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    uma carta pblica, denunciando que no h estabilidade dos modelos

    de clculo de valor agregado para efeitos de pagamento de professor.

    Mas os estados implementam porque tm f. No evidncia emp-

    rica, f. Em Nova York, decidiu-se agora que 60% do pagamento dos

    professores do estado posso estar confundindo porque cada estado

    tem um nmero, vai de 40 a 60% sero baseados nos testes dos alu-

    nos. O salrio do professor definido a partir dos testes dos alunos,

    com os melhores estatsticos e tericos de medida do pas, nos jornais,

    dizendo que no h base para se fazer esse clculo estvel.

    H ainda o escndalo de Los Angeles, onde os professores fo-

    ram ranqueados no jornal Los Angeles Times essa histria de governo

    no ranquear no inveno brasileira tambm, cpia de l. Por que

    eu vou ranquear e levar pancada se posso disponibilizar para o jornal

    ranquear? O Los Angeles Times fez isso, publicou a lista dos 8 mil profes-

    sores de Los Angeles com sua avaliao. O pessoal de Colorado partiu

    do modelo de anlises deles e mostrou que havia variaes brutais no

    sistema que mudavam radicalmente a posio dos professores.

    Nova York no se contentou, pegou seus 18 mil professores,

    ranqueou e publicou no New York Times. E destruram de novo o ran-

    queamento feito em Nova York. Mas no adianta. f. No cincia.

    Sabe como isso conhecido l? Junk science, lixo, garbage.

    Ento, ns temos de ter cuidado com as polticas que estamos

    implantando por aqui. No porque bom para os americanos que

    bom para o Brasil. At porque nem to bom assim nem para eles.

    Acho que essa fase j passou h algum tempo.

    refernCias

    BARBER, Michel; MOURSHED, Mona. How the worlds best-performing schools systems come out on top. McKinsey & Company, set. 2007.

    CAMPBELL, Donald T. Assessing the impact of planned social change. 1976. Disponvel em: . Acesso em: 15 fev. 2011.

    RNICA, Mauricio; BATISTA, Antnio A. Gomes. Educao em territrios de alta vulnerabilidade social na metrpole: um caso na periferia de So Paulo: Cenpec, 2011. (Informe de Pesquisa, n. 3)

    FREITAS, Luiz Carlos (Org.). Dossi Polticas pblicas de responsabilizao na educao. Educao & Sociedade, Campinas, v. 33, n. 119, abr./jun. 2012.

    GALL, Norman; GUEDES, Patrcia Mota. A reforma educacional de Nova York: possibilidades para o Brasil. So Paulo: Fundao Ita Social, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 14 fev. 2011.

    KANE, Thomas J.; STAIGER, Douglas O. The promise and pitfalls of using imprecise school accountability measures. Journal of Economic Perspectives, v. 16, n. 4, p. 91-114, 2002.

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    UNITED STATES. Congress. No child left behind act. Washington, 2001. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2013.

    UNITED STATES. The Commission on Excellence in Education. A nation at risk: the imperative for educational reform. Washington, D.C, 1983.

    LUIZ CARLOS DE FREITASProfessor titular da Faculdade de Educao da Universidade Estadual de Campinas FE/[email protected]

    Recebido em: JANEIRO 2013 | Aprovado para publicao em: MARO 2013