freguesia de arzila o paul e a comunidad
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JOO CARLOS SANTOS PINHO
FREGUESIADE ARZILA
O PAL E A COMUNIDADESEIS SCULOS DE HISTRIA
ARZILA COIMBRA2013
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JOO CARLOS SANOS PINHO
FREGUESIADE ARZILA
O PAL E A COMUNIDADE
SEIS SCULOS DE HISRIA
ARZILA COIMBRA2013
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FICHA TCNICA:
TTULO:Freguesia de Arzila O Pal e a Comunidade [Seis Sculos de Histria]
AUTOR:Joo Carlos Santos Pinho
EDITOR:Junta de Freguesia de Arzila
DESIGN E PAGINAO:Jorge Capelo
IMPRESSO: Tipografia Lousanense
TIRAGEM:600 exemplares
ISBN:
Depsito Legal n.
Nota: O autor totalmente contrrio ao assim denominado Novo Acordo Ortogrfico,
pelo que continua a escrever segundo a chamada norma antiga.
CAPA:Panormica de Arzila, por Didier Rougier
Copyright 2013Reservados todos os direitos de acordo com a legislao em vigor
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SUMRIO
PALAVRAS DE ABERTURA .............................................................................................. 11
MENSAGEM DO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA...................................... 13
AO LEITOR ......................................................................................................................... 17
ABREVIATURAS UTILIZADAS NA OBRA ..................................................................... 22
CRDITOS FOTOGRFICOS E DOCUMENTAIS ........................................................ 23
CRONOLOGIA ................................................................................................................... 24
ORDENAO HERLDICA ............................................................................................ 28
I ENQUADRAMENTO FSICO E HUMANO .............................................................. 29
II PROCURANDO A ANTIGUIDADE DE ARZILA .................................................... 42
1. Arqueologia ................................................................................................................. 43
2. A toponmia ................................................................................................................ 443. A Medievalidade ......................................................................................................... 47
III A QUINTA E PAL DE ARZILA ............................................................................... 51
1 Origens, documentos e proprietrios ....................................................................... 53
1.1 Terra rgia doada Condessa de Atouguia...................................................... 53
1.2 A Quinta de Arzila no domnio da famlia Ponte ........................................... 55
1.3 Arzila na posse dos Condes de Cantanhede Guiomar Coutinho,
Pedro de Menezes e seus descendentes ............................................................ 56
1.4 Os Condes de Sabugal: os novos senhores de Arzila e a intromisso
do Duque de Aveiro ......................................................................................... 62
1.5 O sequestro sobre o Pal de Arzila: 1663-1667................................................ 64
1.6 Arzila e a unio das casas de Sabugal, Palma e bidos ................................... 65
1.7 O patrimnio rgio e senhorial edificado em Arzila ....................................... 67
2 Outros poderosos em redor de Arzila ...................................................................... 69
3 A Quinta e Pal de Arzila na poca Contempornea: destino, posse e fruio ..... 70
3.1. A Justificao da Posse Imemorial de Arzila: 1833-1883 ................................... 703.2. A aldeia de Arzila no Tribunal, 1899 ................................................................ 81
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IV EVOLUO ADMINISTRATIVA DA FREGUESIA DE ARZILA ......................... 85
A NA MODERNIDADE .................................................................................................. 86
1 A criao da parquia e freguesia de Arzila .............................................................. 862 Origens do concelho de Arzila ................................................................................. 87
3 A importncia de Arzila no contexto militar: as Companhias de Ordenanas ....... 89
4 O relacionamento administrativo entre o local, o regional e nacional .................... 96
4.1 A nomeao do guardador ............................................................................... 96
4.2 A proteco Mata de Castanheiros ............................................................... 96
4.3 A oposio ao pagamento da jugada ............................................................... 97
5 Os primeiros progressos materiais ............................................................................ 98
5.1 A rede viria, as pontes e as barcas de passagem ............................................. 98
5.2 O Mondego e a imensa obra dos maraches ................................................... 100
B DA EXTINO CONCELHIA AO FINAL DO ESTADO NOVO .......................... 106
1 ltimos vestgios da actividade concelhia em Arzila; o Lanamento da Dcima
em 1818; a Receita e Despesa do Concelho de Arzila entre 1827-1835 (coimas)
e o Livro das Eleies das Justias ............................................................................ 106
2 A extino concelhia, a criao das juntas de parquia e o aparecimento
das Juntas de Freguesia ............................................................................................. 1103 As reformas administrativas ...................................................................................... 118
4 As estruturas materiais locais: aperfeioamento e progresso .................................... 123
4.1 Rede viria: caminho, estradas e pontes .......................................................... 125
4.2 Abastecimento de gua e iluminao .............................................................. 129
4.3 Educao e ensino ........................................................................................... 130
4.4 Sade, Higiene e Saneamento ......................................................................... 137
4.5 Transportes: o rio, o comboio e as carreiras .................................................... 138
4.6 Evoluo urbana .............................................................................................. 142
C DA REVOLUO DE ABRIL DE 1974 AOS NOSSOS DIAS.................................. 145
1 Introduo a transmisso de poderes e os novos tempos ...................................... 145
2 A continuidade com o passado ................................................................................ 153
2.1 Melhoramentos materiais: estradas, gua, iluminao e saneamento ............. 153
2.2 Os transportes .................................................................................................. 160
2.3 - A Sede da Junta de Freguesia ............................................................................ 162
2.4 Problemas de administrao local: o Casal de Arzila, limites administrativos, a carta militar oficial e a reviso do PDM ............................ 166
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2.5 O ensino a escola primria de Arzila e o Jardim-de-infncia
(ou Pr-Escola) .................................................................................................. 174
2.6 O Bairro da Junta ............................................................................................ 1812.7 A Sade e Higiene ........................................................................................... 182
3 Novos caminhos e decises em tempos democrticos.............................................. 186
3.1 Do Parque Infantil Casa (ou salo) Multiusos .............................................. 186
3.2 O apoio social .................................................................................................. 191
3.3 Participao em eventos e projectos culturais ................................................. 192
V DEMOGRAFIA E OCUPAO PROFISSIONAL .................................................... 199
1 A evoluo geral da populao da Freguesia de Arzila: 1527-2011 .......................... 200
1.1 Numeramentos, Cmputos e Informaes Paroquiais .................................... 200
1.2 De 1864 actualidade: estatsticas organizadas e programadas ...................... 202
2 Ocupao profissional .............................................................................................. 204
VI PATRIMNIO RELIGIOSO ...................................................................................... 211
1 Igreja de Nossa Senhora da Conceio (Matriz de Arzila) ....................................... 213
1.1 Da antiga matriz remodelao setecentista ................................................... 213
1.2 Descrio .......................................................................................................... 224
1.3 Relao de procos e residncia paroquial ...................................................... 2261.4 A Confraria do Santssimo Sacramento .......................................................... 229
2 O Cemitrio .............................................................................................................. 237
3 A Ponte do Pao ........................................................................................................ 242
VII PATRIMNIO NATURAL: O PAL DE ARZILA .................................................. 244
1 Enquadramento Geogrfico ..................................................................................... 245
2 Contextualizao histrica ........................................................................................ 246
3 O reconhecimento da importncia do Pal de Arzila .............................................. 254
4 O Pal de Arzila depois da criao da Reserva ........................................................ 258
5 A biodiversidade do Pal .......................................................................................... 266
VIII COLECTIVIDADES, ASSOCIAES E AGRUPAMENTOS .............................. 269
Introduo ....................................................................................................................... 270
1 Culturais ................................................................................................................... 272
Grupo Folcrico e Etnogrfico de Arzila (GFEA) .................................................... 272
O Grupo de Msica Popular Fonte Nova/Fonte da Pipa ........................................ 279
Gaiteiros de Arzila ..................................................................................................... 280Gaiteiros Os Amigos .............................................................................................. 280
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Grupo de Gaiteiros S-Pr-Qui ................................................................................. 281
Agrupamentos musicais extintos .............................................................................. 282
O Novo Cancioneiro................................................................................................. 282Os Trovadores do Mondego ..................................................................................... 283
Odeon Jazz ................................................................................................................. 284
Constelao ............................................................................................................... 285
2 Desportivos ............................................................................................................... 286
Juventude Desportiva e Recreativa de Arzila (JDRA) ............................................... 286
Centro Popular de Trabalhadores de Arzila (CPT de Arzila) ................................... 293
3 Outros ....................................................................................................................... 296
Clube de Caadores de Arzila ................................................................................... 296
Associao Amigos do Pal de Arzila (AAPA) .......................................................... 297
O Grupo de Jovens Os Lontras ................................................................................ 298
IX PERSONALIDADES COM HISTRIA .................................................................... 321
Domingos Antnio de Lara ...................................................................................... 322
Dr. Domingos Antnio de Lara (filho) ..................................................................... 326
As Santas Carmina Lara e Joaquina Lara ................................................................. 334
Dr. Joaquim Simes de Campos Jnior.................................................................... 338Dr. Jos Ferreira Rodrigues Figueiredo dos Santos .................................................. 342
Joo Correia Valrio .................................................................................................. 343
Dr. Joaquim Manuel Vilhena Simes de Campos ................................................... 344
X ETNOGRAFIA .............................................................................................................. 346
1 Artesanato ................................................................................................................. 347
1.1 As esteiras ......................................................................................................... 347
1.2 Cestaria ............................................................................................................ 354
2 A pesca e o barco do Pal ......................................................................................... 355
3 Tradies ................................................................................................................... 358
3.1 Tradio do Entrudo ........................................................................................ 358
3.1.1 Azurrar ..................................................................................................... 358
3.1.2 Paneladas ................................................................................................. 359
3.1.3 Mascarados .............................................................................................. 360
3.2 Tradies da Quaresma.................................................................................... 360
3.2.1 Serrar da Velha ........................................................................................ 3603.2.2 Amentar das Almas ................................................................................. 362
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3.2.3 Cantar os Martrios ................................................................................. 363
3.2.4 O Toque das Almas ................................................................................. 363
3.3 Tradies da Pscoa ......................................................................................... 3633.3.1 Queimar o Judas...................................................................................... 364
3.3.2 A sada do Senhor ................................................................................... 364
4 As Maias e o Dia da Bela Cruz ................................................................................. 364
5 As Lendas .................................................................................................................. 365
a) A lenda do lobisomem .......................................................................................... 365
b) Lenda da Mata da Vieira ...................................................................................... 365
c) Lenda dos Mouros ................................................................................................. 366
6 Medicina Popular ...................................................................................................... 366
a) O bucho virado ..................................................................................................... 366
b) O quebranto.......................................................................................................... 368
c) O cobro ................................................................................................................ 368
d) Responso a Santo Antnio ................................................................................... 369
7 Danas e Cantares .................................................................................................... 370
8 Trajes Caractersticos ................................................................................................ 370
9 Jogos e Brinquedos Tradicionais .............................................................................. 37210 Gastronomia ........................................................................................................... 372
a) Pratos tpicos ......................................................................................................... 372
b) Doces regionais ..................................................................................................... 373
11 Alcunhas.................................................................................................................. 373
XI FESTIVIDADES ........................................................................................................... 374
a) Festa a Nossa Senhora da Conceio .................................................................... 375
b) Feira Medieval ....................................................................................................... 375
c) Festival Nacional de Folclore ................................................................................ 376
d) Romarias ............................................................................................................... 376
LISTA BIBLIOGRFICA .................................................................................................... 377
1 ESTUDOS ................................................................................................................ 377
2 PUBLICAES ....................................................................................................... 381
3 PERIDICOS .......................................................................................................... 383
4 FONTES IMPRESSAS ............................................................................................. 383
5 FONTES MANUSCRITAS ..................................................................................... 384ANEXOS ............................................................................................................................... 389
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
PALAVRAS DE ABERTURA
Apresente monografia intitulada Freguesia de Arzila: O Pal e a Co-munidade (seis sculos de histria), do historiador Joo Pinho, mais um im-portante contributo para a Histria Local e Regional de Coimbra. Com efeito,a quem percorra as mais de trezentas pginas dedicadas memria de Arzila, oferecido um criterioso estudo desta freguesia de Coimbra, nomeadamente dasua Histria, do seu Patrimnio, das suas Gentes, com os seus costumes, dos
seus campos e terrenos, num enquadramento geogrfico e demogrfico comseiscentos anos. Ao longo de dez captulos, o autor pretende dar a conheceruma viso cabal sobre Arzila: pelo contexto fsico e humano; pela busca da an-tiguidade do territrio; pela histria da Quinta e do Pal e patrimnio natural;pela evoluo administrativa da Freguesia; pela sua demografia e ocupao pro-fissional; pelo seu patrimnio religioso; pelas suas colectividades, associaes eagrupamentos; pelas suas personalidades histricas; pela sua Etnografia.
Contudo, seja-nos permitido salientar dois temas especficos: a origem do
topnimo e o Pal. Quanto ao primeiro, concordamos ser na procura das suasrazes que um povo alicera a sua identidade. Da que as monografias, como a
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
que ora se apresenta, sejam alvo de considervel ateno por parte das popula-es, pois indagam, no tempo e no espao, as memrias primeiras que servem
de esteio ao momento presente. Arzila no quis ser excepo. Todavia, a ori-gem do topnimo permanece obscura. Evocao de glrias antigas por terrasde frica? Reflexo das qualidades argilosas que sempre caracterizaram os seusterrenos? Talvez um pouco de tudo.
Como povoao dos campos do Mondego, Arzila sobressai, indiscutivel-mente, pelo seu famoso Pal, emblemtico patrimnio natural da regio. Porisso, Joo Pinho, dedicou-lhe parte substancial da obra, incluindo-o no sub-ttulo. Citando o autor, o Pal de Arzila , certamente, o patrimnio mais
conhecido e divulgado de toda a freguesia a nvel nacional e internacional umdos ltimos pais do que foi o imenso corredor biolgico do Vale do Mondego,e uma das maiores zonas ininterruptas de canavial no pas. Uma refernciaindelvel de Arzila que no podia deixar de ser mencionada.
A leitura desta monografia leva-nos homenagem a uma terra de trabalhoe de sacrifcio. Seduz-nos pelo amor secular e orgulho das suas Gentes pela suaterra.
Sado o autor pela sua obra com a qual refora a identidade e a memria
de todos os Arzilenses. , tambm, de saudar o entusiasmo e pundonor comque o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Arzila estimulou e acompanhoua produo deste livro.
A Vice-Presidente da Cmara Municipal de Coimbra,Maria Jos Azevedo Santos
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
MENSAGEM DO PRESIDENTEDA JUNTA DE FREGUESIA
Um mandato autrquico pode ser definido como o perodo de tempodurante o qual um cidado, eleito, exerce funes de gesto ao nvel de umaAutarquia Local, com o objetivo primeiro de trabalhar em prol do bem comum,
de modo a melhorar as condies de vida das populaes, tendo sempre emconta o superior interesse pblico.Foi isso o que tentei fazer durante o mandato que me foi confiado, no
exerccio do cargo de Presidente da Junta de Freguesia de Arzila.A durao do mandato tem que ser analisada de duas formas: a longa,
pelos 1460 dias que engloba; e a curta, para resoluo de grande parte dosproblemas com que uma freguesia e a sua populao se deparam.
As exigncias que se colocam na gesto de uma Freguesia aumentaram
consideravelmente nos ltimos anos. s Freguesias est atribudo essencialmenteo trabalho de formiga, ficando para outros o papel de cigarras.
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
A interveno permanente da Junta de Freguesia no dia-a-dia da populaopode no se notar, mas representa, sem dvida, uma parte considervel dos
esforos do Executivo: as limpezas, o atendimento administrativo, a gesto docemitrio, a interveno na Escola, o apoio s famlias e ao Associativismo, asrelaes com outras Instituies, a representao da Freguesia, entre outras,necessitam de um acompanhamento muito prximo e dedicado. Acresce, nanossa Freguesia, o facto de ser detentora de algum patrimnio imobilirio, oque representa mais tarefas.
O voluntarismo na aco das Juntas de Freguesia faz com que substituammuitas vezes outras entidades nas suas competncias, como seja na educao ouna conservao de infraestruturas, acabando, em muitos casos, por ficar como nus dessas responsabilidades. Tudo isto resulta num considervel nvel deactividade, tanto em termos de trabalho como financeiros.
No meu entendimento, as Juntas de Freguesia tm, tambm, um papelimportante no apoio a actividades dinamizadas por terceiros no seu espaoterritorial. Nestes quatro anos a Junta de Freguesia apoiou sempre todos aquelesque lhe dirigiram pedidos de colaborao. Neste campo de destacar o apoio
prestado s Colectividades e Associaes, desde o apoio ao funcionamento aapoios especficos para as actividades desenvolvidas. Neste quatro anos foramcerca de 20 000 de apoio direto ao Associativismo, a que acresce apoios aonvel logstico ou administrativo.
Existem obras que, pelo seu impacto, ou dimenso, merecem serreferenciadas. Neste grupo podemos incluir, para alm da melhoria dascondies de vrias valetas (Rua da Fonte a caminho da Lameira, Rua Aveiro,Rua da Fontinha, Rua de Condeixa e Rua Nova), e do alargamento da rede
de drenagem de guas residuais e renovao da rede de abastecimento degua realizado pela empresa municipal guas de Coimbra, a construo demuro no Barroco e alargamento da Rua da Fonte, a requalificao dosBecos em calada da Freguesia (Beco B, Beco Pega e Beco junto Igreja), ainstalao de rede wirelessde acesso internet, com cobertura de grande parteda rea da Freguesia e a Requalificao da Fonte Velha e colocao de ParqueInfantil e de zona de merendas. At final do mandato ser ainda realizadaa requalificao do Largo da Igreja e ordenamento do mesmo, bem como
construo de um colector pluvial na Rua da Fontinha, no mbito de umaempreitada daguas de Coimbra.
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
Podendo parecer pouco, posso garantir que foi necessrio, para alm deuma gesto cuidada e rigorosa, muito trabalho e dedicao de todo o Executivo
para a sua concretizao. Com certeza que muito mais fica por fazer, mas,atendendo aos recursos financeiros disponveis, estou certo de no ser possvelfazer muito mais mas, pelo que quem faz o que pode faz o que deve.
Quero transmitir aqui que o exerccio das funes de Presidente daJunta de Freguesia de Arzila foi para mim uma experincia marcante, muitoenriquecedora, e seguramente das que mais prazer me deu at hoje. Sinto-me,de facto, orgulhoso por os meus conterrneos me terem confiado a conduodos destinos da Freguesia. Estou convicto que, apesar dos erros que sempre secometem, o balano ser extremamente positivo.
Relativamente presente obra O Pal e a Comunidade (Seis Sculos deHistria), quero fazer uma referncia muito especial. No meu entendimentorepresenta o corolrio do trabalho desenvolvido durante 4 anos pelo seuautor, pela Junta de Freguesia, e por todos aqueles que colaboraram na suaelaborao. com enorme satisfao que vejo a Histria da nossa Freguesiaregistada em Livro. Arzila de facto uma Terra especial. Tenho para mim que
o seu segredo a simplicidade das suas gentes, s assim se poder explicar asua to rica Histria. esta simplicidade que sempre acompanhou as gentesdesta Freguesia, que ainda hoje faz com que muito do que existe seja autnticoe tenha fora. Todas as pessoas de Arzila se devem sentir orgulhosas do localonde nasceram ou habitam , de facto, um lugar magnfico!
Atendendo aos tempos que atravessamos, esta obra ser um marco muitoimportante para a Freguesia, justificando plenamente a opo tomada de levara cabo esta empreitada. O reconhecimento do passado permite compreender
melhor o presente e preparar o futuro. A deciso de levar a efeito a elaborao dapresente monografia foi, seguramente, uma das medidas mais marcantes destemandato. Um desafio assumido pelo Executivo e estimulado pela Vereadora daCultura Prof. Dr. Maria Jos Azevedo Santos. Contudo, ao escrever este textoainda no certo o apoio da Cmara Municipal de Coimbra, sendo no entantoseguro que, no ser pela sua ausncia ou por atraso na sua atribuio, que aobra no ser editada.
Termino deixando um agradecimento a todos aqueles que comigo
colaboraram neste mandato autrquico, comeando pelos restantes membrosda Junta de Freguesia; Joo Seia e Carlos Pocinho, passando pelos membros
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
da Assembleia de Freguesia, Adelino Vilo, Filipe Vaz, Jorge Seia, ManuelaTaborda, Manuela Loureno, Rui Fernandes e Teresa Margarida, e ainda por
todos aqueles que de alguma forma estiveram comigo nestes 4 anos, finalizandocom um agradecimento muito especial a todo a populao de Arzila.
Arzila foi, e ser sempre a minha Terra.Viva Arzila, a nossa Freguesia!
Nuno Filipe Reis da Silva,
Arzila, Junho de 2013
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
AO LEITOR
AMonografia de Arzila resulta de uma unio de vontades: por umlado, a do actual executivo da freguesia, presidido pelo Dr. Nuno Silva; e a daminha pessoa que desde 2002 vem trilhando o caminho acidentado, mas em-polgante, da Histria Local e Regional de Coimbra, traduzido na publicao dealgumas obras sobre freguesias do Municpio.
Desde a primeira hora que o executivo de Arzila assumiu esta monografia
como projecto prioritrio do seu mandato, promovendo-o de forma exemplar,o que aumentou a responsabilidade do autor e investigador sobre o trabalho aproduzir. Alm de rigoroso, pretendemos que fosse o mais exaustivo possvel.
Na busca das origens da freguesia de Arzila procurei seguir todas as pistase fontes disponveis, com a competncia e profissionalismo que se exige a quemdeseja oferecer comunidade, um precioso bem cultural: a sua histria emlivro. Sei que no consegui obter respostas para todas as questes, mas estoucerto de ter alcanado algumas, por sinal bem interessantes e inesperadas. Aci-
ma de todas destaco a prova da existncia de uma Bula, datada de 1521, crian-do a Freguesia de Arzila, por insistncia de D. Guiomar Coutinho, esposa do
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
Conde de Cantanhede, D. Pedro de Meneses. Apesar das muitas diligncias fei-tas junto dos principais arquivos nacionais e internacionais, com redobrada
tristeza, que a tenho de dar como perdida. A incria dos homens e o desleixodas instituies resultaram na sua perda, que talvez seja um dia reparvel. Umvalioso documento cuja leitura poderia alumiar, um pouco mais, o estudo dosprimrdios de Arzila.
De qualquer modo, os documentos no deixam rstia de dvida sobre ainter-relao entre o Pal e a Comunidade que em seu redor se fixou e cresceu,dando origem ao lugar e freguesia de Arzila. Foi a vida agrcola que atraiu asgentes, beneficiando da circunstncia excecional de concorrerem proximamen-
te e num mesmo sentido: campos frteis, linhas de gua, clima ameno, fauna eflora em abundncia.
Mais difcil foi concretizar, como era desejo antigo das gentes desta fre-guesia, qualquer relao directa entre Arzila portuguesa e a sua homnimade Marrocos. A toponmia, a etimologia, os estudos e publicaes trazidos apblico, e a documentao coeva entretanto reunida, no permitiram obter ne-nhuma concluso definitiva a esse respeito. Temos apenas indcios de supostasligaes, mas nenhuma prova irrefutvel.
Esta obra, com mais de 300 pginas, procurou abordar em captulos espe-cialmente criados para o efeito, reas chave para o conhecimento da freguesiae regio em que est inserida ao longo dos ltimos 600 anos de Histria e est-rias: Enquadramento Fsico e Humano, Antiguidade de Arzila, Medievalidade,Modernidade, Contemporaneidade, Demografia, Patrimnio, Personalidades,Colectividades e Etnografia, constituem os grandes pilares da arquitectura des-ta monografia.
Um destaque muito especial mereceu o incontornvel Pal que juntamen-
te com a Comunidade deram, inclusivamente, o subttulo da obra. Ao autorfoi tambm muito gratificante construir um captulo a partir da base; o das Per-sonalidades. Pginas onde se destacam, em especial, as famlias Lara e Simesde Campos, que tanta relevncia tm para a compreenso da vida econmica,social e poltica de Arzila nos finais do sc. XIX, princpios do XX e que perma-necem no imaginrio colectivo recente como os donos de Arzila.
Passados quatro anos do incio da caminhada em prol da Histria de Ar-zila, com satisfao que devolvo aos arzilenses parte substancial do que lhes
pertence a sua identidade e memria para orgulho dos antigos e vindouros.Que encontrem nestas pginas a mesma satisfao que me animou a prosseguir
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FREGUESIA DE ARZILA: o Pal e a Comunidade [seis sculos de Histria]
e se sintam orgulhosos do passado (e tambm do presente) duma comunidadeque passou por imensas dificuldades, mas que conseguiu sempre reerguer-se e
sobreviver, apesar de algumas rasteiras que lhe tentaram pregar, em pleno sc.XIX, com as tentativas de a extinguirem administrativamente.
Uma obra desta natureza no resultou de um esforo nico. Os agradeci-mentos so alargados e comeam pelo executivo da freguesia, sempre dispon-vel para acompanhar o autor, esclarecendo suas dvidas, programando encon-tros, deslocaes freguesia, estabelecendo pontes institucionais, agindo narectaguarda comostaffadministrativo.
Uma palavra de apreo para a Comisso de Apoio elaborao da mo-
nografia constituda pelos arzilenses: Antnio Gabriel, T-Z Pimentel, NunoSilva, Joo Seia e Carlos Pocinho.
Agradeo, ainda, a todos aqueles que me concederam pequenas entrevis-tas, na maioria populao idosa, mas jovem de espirito! A eles lhes devo aconfirmao de dados que no se colhem em documentos, e que s pela viada oralidade ganham sentido e vigor. Refiro-me aos arzilenses: Joaquina FilipeCarramanho, Joaquina Vaz, Professora Maria Felipe, Maria Ferreira Albuquer-que, Maria Manuela Gabriel, Joaquim Ribeiro Seia, Jos Taborda, Antnio
Pescante Ferreira, Firmino Correia Valrio e Jos Gabriel Ferreira.So tambm dignos de apreo os contributos tcnicos do Mestre Lus Lei-
to (apoio Cartografia) e da Arquitecta Luisa Correia (responsvel pela elabo-rao da Planta da Igreja).
Vereadora da Cultura da Cmara Municipal de Coimbra, Prof. MariaJos Azevedo Santos, agradeo o estmulo continuado investigao sobre Ar-zila, e o interesse renovado pelo projecto.
Ao Mestre e Etngrafo Antnio Gabriel, pioneiro no interesse pela Etno-
grafia de Arzila, agradeo o imprescindvel apoio tcnico na reviso da obra e adisponibilidade para a apresentar ao pblico.
Por fim, um pequeno louvor minha famlia, da Adlia ao Manelito, pas-sando pela Mariana, dado o tempo precioso que lhes subtra e a compreensoe pacincia que tiveram comigo e com as exigncias deste empreendimento.
Joo Carlos Santos Pinho,
Dia da Nossa Senhora da Conceio, 2012
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Este foi o ano de arranque do estudo sobre a origem da Freguesia e a suahistria, pelo Dr. Joo Pinho. D-se, assim, continuidade ao trabalho j reali-zado em 2010, de pesquisa sobre os limites da Freguesia. Pretende-se que esteestudo conduza edio da Monografia da Freguesia no ano 2013.
[Relatrio de Actividades da Junta de Freguesia de Arzila, 2011, Pg. 3]
Se a gente de agora passasse o que a gente passou, no aguentava nemmetade!
[Joaquina Filipe Carramanho, 95 anos, uma vida de agricultora,entrevistada por Joo Pinho a 26/06/2012]
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ABREVIATURAS UTILIZADAS NA OBRA
AF Assembleia de FreguesiaAlq. AlqueireAHMC Arquivo Histrico Municipal de CoimbraAHP Arquivo Histrico ParlamentarAJFA Arquivo da Junta de Freguesia de ArzilaANTT Arquivo Nacional da Torre do TomboAPA Arquivo Paroquial de ArzilaATL Actividades de Tempos LivresAUC Arquivo da Universidade de Coimbra
BGUC Biblioteca Geral da Universidade de CoimbraCit. CitadoCMC Cmara Municipal de CoimbraCompil. CompilaoCx. CaixaDep. DepartamentoDir. DirecoDoc. DocumentoERSUC Resduos Slidos do Centro, SAFl. FolhasGFEA Grupo Folclrico Estrelas de Arzila / Grupo Folclrico e Etnogrfico de Arzila
Ha. hectaresHab. HabitantesINE Instituto Nacional de EstatsticaIPSS Instituio Particular de Solidariedade SocialJAE Junta Autnoma das EstradasJF Junta de FreguesiaKm quilmetroN. NmeroOb. ObraOf. OfcioOrg. Organizao
Pg. PginaPgs PginasRev. RevisoRNPA Reserva Natural do Pal de ArzilaSep. SeparataSMASC Servios Municipalizados de gua e Saneamento de CoimbraSMC Servios Municipalizados de CoimbraSMTUC Servios Municipalizados de Transportes Urbanos de CoimbraTranscr. Transcrio
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CRDITOS FOTOGRFICOS
E DOCUMENTAISArquivo Nacional Torre do Tombo Fotos n.s 5, 6 e 8Arquivo da Universidade de Coimbra Foto n. 22Cmara Municipal de Coimbra (Departamento de Cultura / Arquivo Histrico Municipalde Coimbra) Foto n. 9Gaiteiros Os Amigos Fotos n.s 37 e 38Gaiteiros S-Pr-Qui Foto n. 39Grupo Folclrico e Etnogrfico de Arzila Fotos n.s 33, 57 e 68Famlia Correia Valrio Foto n. 63Famlia Folhadela Campos Fotos n.s 9, 51, 52, 53, 58, 59 e 60Fonte Nova Fonte da Pipa Foto n. 36Herdeiros Dr. Jos Ferreira Fotos n.s 60, 61 e 62Lus Leito Mapas n.s 1, 2 e 3Joo Ferro Fotos n.s 67 e 69Joo Pinho Fotos n.s 3, 4, 7, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 23, 24, 25, 26, 27,28, 29, 30, 31, 32, 34, 35, 42, 43, 44, 45, 47, 48, 49, 50, 54, 55, 56, 64, 65, 66, 70, 71, 72,73, 74, 75, 76 e 77Jos Taborda Fotos n.s 40 e 41Junta de Freguesia de Arzila Fotos n.s 1, 2 e 20
Mrio Teixeira Foto n. 46
Nota: as fotos no numeradas contm referncia fonte na prpria pgina de texto.
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CRONOLOGIA
DATA ASSUNTO
22 de Maio de 1452Carta da Doao da quinta darzilla, passada em vora por D. Afonso V CondessaD. Guiomar, em pagamento de mil dobras e conta de maior soma de dinheiro queo Infante D. Pedro devia aos Condes de Atouguia, a quem a dita quintapertencera
8 de Agosto de 1454D. Afonso V doa a Quinta de Arzila, com seial, juncal e Mata do Espinhal a D. Guiomarde Castro, Condessa de Atouguia. Refere, ainda, a Pomte do Paao Velho
Finais do sc. XVD. Joana de Castro, esposa do marechal Fernando Coutinho, doa em testamento aQuinta e Pal de Arzila a Helena da Ponte, sua criada
1501-1504A Quinta de Arzila comprada, atravs de diversas operaes, pela famlia Coutinho,aos herdeiros da famlia Ponte
1507 Os Condes de Cantanhede aforam um casal na sua Quinta de Arzila a Pedro Eannes esua mulher Catharina Gil
1513-1521 Data provvel para a edicao do templo cristo primitivo de Arzila
1521Bula do Papa Leo X, erigindo a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceio deArzila, criando a parquia e freguesia, a solicitao de D. Guiomar de Castro, Condessade Cantanhede
1525Colao de Sebastio Gomes como Prior da Igreja de Nossa Senhora da Conceio deArzila
9 de Setembro de 1526D. Joo III atende favoravelmente o requerimento de Guiomar Coutinho, fazendo-lhedoao do Pal de Arzila
24 de Outubro de 1532 Carta da conrmao da doao de um Pal comum seisal e juncal junto da quintadArzila, no termo de Coimbra, a D. Guiomar Coutinho, Condessa de Cantanhede
Sc. XVIIContenda judicial entre o Ducado de Aveiro e os Conde do Sabugal pela posse dos bense rendas de Arzila
1602Os lavradores de Arzila obtm sentena favorvel contra a Cmara Municipalde Coimbra que os queriam obrigar ao pagamento da jugada
1663-1667A Coroa sequestra o Pal de Arzila devido posse ter vagado por morte de D. LuizCoutinho
1672 Concluso das obras de reforma da Igreja Matriz de Arzila
5 de Janeiro de 1699Os mestres Diogo Fernandes e Manuel Rodrigues arrematam por 2 mil cruzados e300.000 reis a obra em pedra da Ponte do Pao
8 de Dezembro de 1669D. Brites de Mascarenhas, Condessa do Sabugal, contrai matrimnio com D. Fernando deMascarenhas, Conde de bidos reunio de duas importantes casas senhorias numa s
1698 Joo Mendes surge como rendeiro de Arzila
1719Aparecem como ociais do Concelho de Arzila: Miguel de Campos (Juiz), ManoelFrancisco de Seica (Escrivo) e Joo Francisco (Procurador)
1831Nascimento de Domingos Antnio Lara, na Freguesia de Reboreda, (concelho de VilaNova de Cerveira)
06 de Novembrode 1850
exonerado o mais antigo (e conhecido) regedor da freguesia e parquia de Arzila:Jos Antnio de Seia Ribeiro
05 de Janeiro de 1865 A Comisso Comarc encarregue do arredondamento das freguesias do Municpio deCoimbra, determina que a freguesia de Arzila fosse anexada do Ameal, e o Casal dasFigueiras a Anobra.
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30 de Outubro de 1865Uma representao dos habitantes de Arzila presente reunio da ComissoComarc, pedindo que se conserve a sua freguesia
19 de Agosto 1871O Governo Civil de Coimbra aprova o Compromisso da Confraria do SantssimoSacramento
1874-1883Contenda Judicial sobre os direitos dominicais relativos Quinta e Pal de Arzila: dumlado o Conde de Sabugal e bidos; do outra alguns proprietrios preponderantes comoJoo Correia Aires de Campos (Conde do Ameal) e Domingos Antnio Lara
9 de Junho de 1887 Nascimento do Dr. Jos Ferreira em Vila Pouca do Campo (Freguesia do Ameal)
12 de Agosto de 1891 Domingos Antnio de Lara contrai segundas npcias com Maria de Assuno de Campos
19 de Maio de 1892 Nascimento do Dr. Domingos Antnio de Lara
28 de Julho de 1892Nasce no lugar da Melhora (Freguesia de Anobra) o Dr. Joaquim Simes de CamposJnior
11 de Outubro de 1893 Nascimento de Joaquina Lara (Santa Quininha)
16 de Setembro de 1895 Nascimento de Carmina Lara (Santa Carmininha)
Agosto 189943 habitantes de Arzila so presentes a tribunal e julgados por oposio a arrolamentoe cobrana de foros, sob acusao de crime de sedio armada
02 de Agosto de 1903Inaugurao da ento designada nova escola de Arzila na presena do Dr. BernardinoMachado
Finais 1903 Inicio provvel da construo do cemitrio de Arzila
20 de Junho de 1916 Falecimento de Joaquina Lara (Santa Quininha)
22 de Maro de 1917 bito de Carmina Lara (Santa Carmininha)
Dezembro de 1925 O Dr. Domingos Antnio de Lara eleito deputado por Coimbra
28 de Maio de 1949 Inaugurao da Escola Primria de Arzila, integrada no Plano dos Centenrios
1951 Finalizam-se os trabalhos de construo da Fonte Nova
28 de Julho 1970Escritura de doao Junta de Freguesia, de um lote de terreno para construo, com9.130 m2, feita pelo Dr. Jos Ferreira, onde se veio a construir o Bairro da Junta
04 de Maio 1971Escritura de doao de 11.870 m2 de terreno, para ampliao do Bairro da Junta, feitapelo Dr. Jos Ferreira Junta de Freguesia
25 de Junho de 1971 Fundao do Juventude Desportiva e Recreativa de Arzila (JDRA)
24 de Fevereiro de 1974 Fundao do Grupo Folclrico e Etnogrco de Arzila (GFEA)
16 de Agosto 1974Escritura de venda de um terreno com 7.000 m2, feita pelo Dr. Joaquim Vilhena Juntade Freguesia, para construo do Campo de Jogos
Junho de 1975O Ministrio das Comunicaes e ransportes aprova a carreira pblica entre Coimbrae Arzila
13 de Fevereiro de 1978
Em reunio do executivo da freguesia, com parte dos habitantes de Arzila, constituiu--se uma comisso, designada Grupo para a Diviso Administrativa, que tinha comoobjectivo principal resolver os problemas dos limites administrativos com a Freguesiado Ameal
14 de Junho de 1980A Assembleia de Freguesia de Arzila aprova a localizao e o arranque da obra para oParque Infantil (hoje Casa Multiusos)
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8 de Junho de 1986 Realizao da primeira edio do Grande Prmio de Atletismo de Arzila
11 de Novembro 1986 Fundao do Grupo de Caadores de Arzila
Abril de 1987 Segue para publicao em Dirio da Repblica aviso de abertura de Concurso Pblicopara adjudicao da obra de saneamento de Arzila (1. fase)
27 de Junho de 1988 Criao da Reserva Natural do Pal de Arzila, regulada pelo Decreto-Lei n 219
31 Janeiro de 1990 Concluso da construo da EAR de Arzila
1990Durante este ano decorrem escavaes arqueolgicas no stio da Igreja dos Mouros queconcluem pela ausncia de esplio signicativo
19 de Agosto 1992Escritura de venda de um prdio urbano Junta de Freguesia, feita por Alberto PalmaPereira Viseu e sua esposa Palmira Viseu, para instalao da sede da freguesia
3 de Julho de 1993 Inaugurao do Jardim-de-infncia de Arzila e da Sede da Freguesia
1994 Incio dos primeiros ensaios do Grupo de Musica Popular Fonte Nova
Agosto de 1997O Governo lana o Concurso Pblico Internacional para a empreitadaEstrada Nacional 341 Arzila/aveiro
8 de Agosto de 1997Inaugurao do Centro de Interpretao da RNPA, por Elisa Ferreira,Ministra do Ambiente
26 de Maro 1998 A Freguesia de Arzila delibera liar-se na ANAFRE
8 de Fevereiro de 2001 O executivo da Freguesia de Arzila aprova a Ordenao Herldica
24 de Novembrode 2001
Inaugurao do Edifcio Centro Social Cultural Sede do Grupo Folclricoe Etnogrco de Arzila
Julho de 2006Novas sondagens arqueolgicas efectuadas por tcnicos da CMC no sitio da Igreja dosMouros (sem concluses de relevo)
Maro de 2008 Concluso das obras de beneciao da Fonte Velha
19 de Abril de 2009 Inaugurao do Centro Escolar de Arzila aps obras de requalicao
26 de Agosto 2009 Incio das obras de saneamento na Zona Sul de Arzila
Setembro 2009 Concluso das Obras de Beneciao Geral e Ampliao da Fonte Nova
15 de Outubro de 2011 Inaugurao do Piso Articial do Juventude Desportiva e Recreativa de Arzila
24 de Maro de 2013 Inaugurao do Parque Infantil da Fonte Velha aps obras de requalicao do espao
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BRASO DA FREGUESIA DE ARZILA, 2001
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ORDENAO HERLDICA
Os rgos autrquicos da freguesia de Arzila aprovaram a OrdenaoHerldica elaborada pela Dicria Editora L.d no ano 2001: a Junta de Fregue-
sia, na sua reunio de 8 de Fevereiro e a Assembleia de Freguesia a 16 de Maio.A 26 de Julho receberam-se os smbolos herldicos: carimbo, selo branco egalhardetes.
Braso:Escudo de Ouro, Monte de Verde Movente dos Flancos, entre Esteira de
Azul, realada do Campo, em Chefe e trs burelas ondadas de Prata e Azul, esta
carregada de uma Enguia de Ouro Nadante, em ponta. Coroa Mural de pratade trs torres. Listel Branco, com a legenda a negro: ARZILA.
Bandeira:
Azul. Cordo e borlas de Ouro e Azul. Haste e lana de ouro. Simbologia:A bandeira azul representa o manto da Nossa Senhora da Conceio, padroeirada Freguesia.
Selo:Nos termos da Lei, com a legenda: Junta de Freguesia de Arzila
Coimbra.
Documentos Oficiais:Parecer emitido a 20 de Fevereiro de 2001.D.R. N 130 de 05 de Junho de 2001.DGAL, N 202/2001 de 19 de Junho de 2001
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IENQUADRAMENTOFSICO E HUMANO
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Ameal e Arzila esto to prximas que quase no se despegam as casas deuma outra povoao; mas enquanto o Ameal se espalha pelos campos baixosque marginam o leito artificial do Mondego, Arzila encarrapita-se no outeiroque sobe at Inculca, j na freguesia de Anobra. A poente situa-se o Pal quetem o seu nome arbico, irrigado pela Ribeira de Cernache. L mais na distn-cia se avistam as terras e povoaes do Campo e ainda o lendrio castelo deMontemor-o-Velho.
[Nelson Correia Borges Coimbra e Regio, Novos Guias de Portugal, N. 6,Editorial Presena, Lda., Lisboa, 1987, Pg. 129]
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AFreguesia de Arzila localiza-se na parte Poente do Municpio de Coimbra,sendo constituda pelos lugares de Arzila e Lameira de Cima (parcialmente). Esta 12 km da cidade, na margem esquerda do Mondego, e situa-se em pleno Baixo--Mondego uma rea marcadamente rural, a que um rio, uma fachada martimae uma cidade imprimem uma unidade muito prpria. Esse rio marca geografica-mente todo o espao opondo, no mundo rural, as terras do campo s do monte e
une, como meio de comunicao, o litoral com o interior () o elo referenciadorcomum das caractersticas morfolgicas, hidrogrficas e climticas1.
Arzila foi um dos lugares do termo da cidade de Coimbra que a vereaoda Cmara Municipal assinalou, em 1705, como pertena da unidade campocoimbro, o qual em termos espaciais ficou balizado pelas seguintes povoa-es: Taveiro, Ribeira de Frades, Arzila, Ameal, Casais do Campo, Montesso,Corujeira, S. Martinho do Bispo, P de Co, Fala e Casas Novas2.
Ocupa a rea de 3,45 km2, apresenta uma populao residente de 655
hab e 783 eleitores, e uma densidade populacional de 531,4 hab/km2 (censos2011). O aglomerado populacional do tipo concentrado, instalado em peque-na elevao, ladeado de Sul para Norte pelo Pal de Arzila e terrenos agrcolasdo Vale do Mondego acusando significativo crescimento nas ltimas dcadas(vide fotos n.s 1, 2 e 3).
1 Maria Helena da Cruz Coelho O Baixo Mondego nos finais da Idade Mdia, Vol. I, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 1989, Pgs 1-22 Srgio Soares O Municpio de Coimbra da Restaurao ao Pombalismo, Vol. I, Geografia do Poder Muni-cipal, Centro de Histria da Sociedade e da Cultura, Coimbra, 2001, Pg. 59
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Os limites administrativos de Arzila (ver mapas 1 e 2) confrontam com asseguintes freguesias: Ameal, do Municpio de Coimbra, pelo Norte e Nascente;
Anobra, Municpio de Condeixa-a-Nova pelo Sul e Sudeste; Pereira, Municpiode Montemor-o-Velho, pelo Poente e Noroeste.
Em 1758, o proco da freguesia, Vicente de Oliveira, redigiu nas memriasparoquiais (foto n. 5) uma descrio geogrfica da rea, no inserindo algunslugares bem prximos como Ameal, Vila Pouca do Campo ou Anobra, e refe-rindo outros bem mais distantes, o que no deixa de ser curioso:
Est esta Freguezia cituada em huma pequena plancie levantada e desta se des-cobrem da parte do Norte, as povoassoens seguintes, o lugar de Sam Silvestre; que dis-
ta desta Freguezia quazi huma legoa, o lugar de Sam Martinho de Arvore, o lugar deSendelgas, A Villa de Tentgal; distante deste lugar de Arzilla meya legoa, o lugar daCarapinheira, e a Villa de Montemor-o-velho, que distam deste lugar, duas legoas3.
O clima de Arzila temperado, com Veres no excessivamente quentesnem secos e os Invernos so, por norma, suaves e chuvosos, incluindo-se nadenominada regio climtica de tipo martimo da fachada Atlntica4. Con-tudo, por vezes, sucedem excepes como a do ciclone de 1941, bem gravadona memria dos mais antigos. A sua passagem pelo territrio nacional, a 15
de Fevereiro do dito ano, deixou um assinalvel rasto de destruio, como de-monstra o relatrio dos prejuzos causados pelo evento, enviado por DomingosPereira, na altura presidente da junta de freguesia, para a CMC: Prdios Urba-nos: 8960$00; Oliveiras: 658 ps = 54.950$00; Eucaliptos: 112 ps = 1.280$00;Sobreiros: 3 ps = 210$00. Total dos prejuzos: 65.400$005.
Na realidade, e de forma cclica, sempre que as condies climatricas ten-dem para o extremo, a agricultura da zona acusa negativamente a variabilidade.Assim aconteceu no Vero de 1988, motivando o envio por um grupo de agri-
cultores da freguesia, duma exposio ao Delegado Regional de Agricultura daBeira Litoral, na qual relatavam os prejuzos causados nas suas sementeirase colheitas, motivadas pelas ms condies atmosfricas que assolaram o Pas,agravado pelo deficiente escoamento das guas concentradas nas denominadasVala do Sul e Vala Nova. A acompanhar a exposio seguia, em anexo, um of-
3ANTT - Dicionrio Geogrfico de Portugal, 1758, Tomo 5, N 24, Pg. 7014 Suzanne Daveau e col Dois mapas climticos de Portugal, Centro de Estudos Geogrficos, L. G. Fis., Rel.N. 8, Lisboa, 19805A.H.M.C. - Diversos, Mao IV, Doc. I
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cio de confirmao passado pela JF, solicitando aos responsveis medidas paraindemnizao dos prejuzos causados6.
Geologicamente, a freguesia insere-se na orla meso-cenozica ocidental,com predomnio de rochas argilo-arenosas e calcrios, com idades variveis en-tre os 240 e os 5 milhes de anos7. Nela definem-se duas unidades morfolgicasprincipais: a plancie aluvial do Mondego e as colinas gresosas, correlacionadascom as duas ocorrncias fsico hidrolgicas que marcam a freguesia desde sem-pre: a Ribeira de Cernache e o Rio Mondego onde aquela desagua.
A esta diversidade o homem respondeu com uma desigual apropriao eocupao do espao:
O campo, que corresponde parte baixa da freguesia, plana, noutrostempos frequentemente inundvel. Tem sido utilizada para a prtica da agricul-tura devido elevada rentabilidade e capacidade de resposta dos solos, consti-tudos por seixos, calhaus, e materiais arenosos. Apresentam comprovado valormineral e orgnico, devido fertilizao pelos depsitos aluvionares, resultan-tes da acumulao de materiais associados dinmica hidrolgica, por parte doRio Mondego e Ribeira de Cernache.
O Mondego, que consigo transporta esses depsitos, nasce na Serra da Estrela a 1425 metros de altitude e o seu percurso at foz de 227 Km. Nos ltimos 48 km quemedeiam da Portela at Figueira da Foz, o rio encontra-se j na sua fase de velhice. Correem plancie de aluvio e as mars vm ao seu encontro cerca de Montemor. Alimentadosobretudo pelas guas das chuvas, so acentuadas as suas caractersticas torrenciais noVero torna-se um fio de gua, enquanto no Inverno oscila entre as simples enchentes e asgrandes cheias. E como de Coimbra para jusante segue lentamente e fraca a oscilao donvel das guas, logo as cheias espraiam pelos campos marginais.
()Os frteis campos ribeirinhos eram um dom do Mondego, se bem que a impiedade
das suas cheias levasse muitas vezes as culturas. Os terrenos apaulados, onde a gua perma-necia sem escoamento, proliferavam, bem como algumas nsuas que emergiam do rio. Aplancie situa-se, sensivelmente, entre 0 e 30 metros, sobretudo a parte inundvel
[Maria Helena da Cruz Coelho O Baixo Mondego nos finais da Idade Mdia, Vol. I,Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1989, Pgs. 2-3]
O RIO MONDEGO
6AJFA - Livro de Actas da Junta de Freguesia de Arzila, 1987-1993, acta n. 27, 14/07/19887 Pedro Dias; Fernando Rebelo - Introduo Geogrfica, In Problemas do Vale do Mondego, IV ColquioIbrico de Geografia, Coimbra, 1986, Pg. 17
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O monte, com posio privilegiada face fria mondeguina, gozandode panormicas nicas para o Baixo Mondego e ptima exposio solar, ficou
reservado ao povoamento e edificao. Entre o campo e o monte, surgiu umaadmirvel complementaridade; paisagstica e socioeconmica.
Alguns estudiosos definem, tambm, duas zonas diferenciadas quanto aocultivo do solo, de certo modo coincidentes com a diviso atrs menciona-da: podendo falar-se de uma agricultura de encosta, alternando a matacom a actividade agrcola praticada em pequenos valeiros e uma agriculturalocalmente designada de fundo de rio, praticada de uma e outra margem doMondego, tirando-se partido dos terrenos de aluvio que aqui tm um certo
desenvolvimento8.Tal como se verifica na maior parte do pas, a vegetao existente
difere bastante do coberto vegetal natural. De facto, a vegetao bravia,com espcies dominantes de carvalho alvarinho, carvalho cerquinho esobreiro em associao com o estrato arbustivo rico em espcies de medro-nheiro, urze, tojo ou carqueja, entrou em regresso, fruto da interfernciahumana. O aumento da populao e a crescente necessidade de arrotearterras para a alimentar, tm sido apontados como as principais causas do
recuo.Os documentos do sc. XVI testemunham algumas transformaes no co-
berto vegetal: em 1537, no contrato de aforamento de D. Guiomar Coutinhoa Afonso Gomes, refere-se em Arzila, o stio onde chamo as seregeiras; em1584 menciona-se a matta de Castanheiros bravios que D. Pedro Coutinhotinha no limite do lugar dArzila9.
Na actualidade, a ocupao do solo divide-se em dois usos predominantes:o agrcola (campos de cultivo) e o florestal (onde se assinala a expanso do pi-
nheiro e, mais recentemente, do eucalipto).No campo (terrenos mais baixos) cultivam-se, em especial e desde tempos
antigos, os cereais (milho e trigo), feijo e, desde meados do sc. XIX, o arroz.No monte (encostas), a predominncia vai para as hortas, culturas arvenses desequeiro, olival e vinha. Refira-se, em particular, que o milho e o feijo so as
8 Irene Maria Vaquinhas Violncia, Justia e Sociedade Rural: os campos de Coimbra, Montemor-o-Velho ePenacova de 1858 a 1918, Biblioteca das Cincias do Homem, Edies Afrontamento, Histria, N 11,Porto, 1995, Pg. 229ANTT - Casa de Santa Iria: Sumrio alfabtico dos documentos existentes no Cartrio da Ill.mae, Exm.a Casados Senhores Condes de Palma, bidos e Sabugal, Fls 7v. e 226
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duas culturas ou frutos que h nesta freguezia, mencionadas nas memriasparoquiais de 1758.
Com 100% de abastecimento de gua e 95% de saneamento, a fregue-sia servida pela rede de transportes pblicos dos SMTUC e recolha de lixopela ERSUC. Tem distribuio diria de correio, agente dos CTT e Centro deSade em Taveiro. O apoio social na freguesia prestado por instituies defreguesias vizinhas, que disponibilizam as valncias: Centro de Dia, Servio deApoio Domicilirio e A.T.L.
Os principais servios prestados comunidade pela freguesia so: Atestados, certides e declaraes
Registo e licenciamento de candeos Venda de sepulturas e terrenos para capela Certificao de documentosO edifcio sede da freguesia localiza-se na Rua de Coimbra, n 17,
3045-360 Arzila. O atendimento ao pblico realiza-se s tera-feiras, entreas 21h00 e as 23h00. Outras formas de contacto possveis: atravs do telefo-ne (239-985582) ou mail ([email protected]). Dispe, desde Abrilde 2007, de site acessvel a partir do endereo: www.freguesiadearzila.eu
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MAPA N. 1LIMITES ADMINISTRATIVOS DA FREGUESIA DE ARZILA
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ANOBRA
ARZILA
PEREIRA
MA
PAN.2
MOD
ELODIGITALDO
TERRENO(READEARZILA)
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Foto1Vista
areadeArzila,1989
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Foto2Vista
areadeArzila,1999
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Foto 3 Lugar de Arzila visto da Ponte do Pao, 2012
Foto 4 O local conhecido como Igreja dos Mouros
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Foto 5 Memrias paroquiais 1758 (Fl. 1)
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IIPROCURANDO A ANTIGUIDADE
DE ARZILA
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1. Arqueologia
Ao contrrio do verificado em grande parte das freguesias do munic-
pio, como Ameal ou Taveiro, em Arzila no foram detectados, at ao presente,quaisquer vestgios materiais de civilizaes anteriores, como a romana ou ra-be. No entanto, sabe-se que a ocupao romana fixou os homens na planciee as villae romana sucederam-se regularmente nas margens do Mondego deque foram exemplos S. Joo do Campo, S. Silvestre, S. Martinho de rvore,Tentgal, Taveiro, Ameal ou Formoselha.
O nico stio arqueolgico referenciado na freguesia a Igreja dos Mouros(vide foto n. 4), uma parcela de terreno com vestgio de construo, situadana zona conhecida por Outeiro. Em 1990, foi alvo de escavao arqueolgicaconduzida por Corte Real que descreveu a operao do seguinte modo:
A desmatagem e a limpeza permitiu observar um edifcio cujo compri-mento apresenta dimenses invulgares. As estruturas foram construdas emtaipa. De facto, para alm do aparelho ser constitudo por argamassa de cal eareia, com seixos rolados, dispostas em fiadas contnuas, apresenta, com maiorevidncia na parede Oeste, vestgios de cofragem, tcnica caracterstica nestetipo de construo. Verificou-se uma total ausncia de esplio arqueolgico10.
Em Julho de 2006, tcnicos do municpio procederam a levantamento decampo, que confirmou o estado ruinoso do edificado que parecia definir umaestrutura rectangular e a poca de construo11Ao stio arqueolgico atribu-ram o n. de inventrio da CMC 180368 e grau de proteco 2, com qualquer
10Cit. por Ana Gervsio; Crmen Pereira; Raquel Santos Patrimnio Edificado com Interesse Cultural, Con-celho de Coimbra, Cmara Municipal de Coimbra, Departamento de Cultura, Gabinete de Arqueologia,Arte e Histria, Junho 2009, Pg. 11111 Id.
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trabalho que implique remoo do subsolo a estar condicionado por sonda-gens arqueolgicas.
Sobre esta estrutura, e tendo em conta os dados recolhidos e consultadosno decurso desta investigao, cremos que tais runas possam ser o que restade uma antiga construo com finalidade agrcola, eventualmente um celeiroedificado nos finais do sc. XVII, princpios do XVIII, onde se recolhiam asrendas cobradas pelos rendeiros de Arzila, centralizando a administrao doterritrio senhorial local.
2. A toponmia
Aorigem do nome Arzila cedo atraiu a ateno dos curiosos e in-vestigadores. Ao longo dos tempos, paralelamente, procurou-se relacionar eidentificar a designao da freguesia com o nome da Praa de Arzila, emMarrocos12. Hiptese que Pinho Leal, em 1873 j afastava: Diz-se que foi umcapito portuguez que lhe deu este nome pela similhana que o seu territriotinha com o da praa de Arzilla no reino de Marrocos, na Africa. Entendoque isto erro, e que foram os rabes que lhe deram este nome, quando eramsenhores destes stios13.
Embora a toponmia e a documentao reunida no permitam estabelecer
qualquer relao directa entre Arzila marroquina e Arzila portuguesa, existem
12 Referncias a Arzila do Norte de frica so antiqussimas: Estrabo, um autor da antiguidade, mencio-na a cidade de Zilis, que se presume seja actualmente aquela povoao; o gegrafo rabe Ibne Haucal, nosc. X, descreve a povoao de Arzila, constituindo tal registo a mais antiga notcia sobre o povoado. Maistarde, o toponmio Arzila identifica-se em diversas obras geogrficas de mbito europeu: no Portulano dePetrus Vesconte (1318) na Carta Catal (1375) e no Atlas da Biblioteca Pinelli (1384-1400).13Augusto S.A.B de Pinho Leal Portugal antigo e moderno diccionario geographico, estatstico, chorographico,herldico, histrico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas, e freguezias de Portugal, Lisboa, 1873, Vol.
I, Pg. 244A. Ferraz de Carvalho Toponmia de Coimbra e arredores: contribuio para o seu estudo, Sep. de O Instituto,Vol. 87, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1934, Pg. 65
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curiosas coincidncias envolvendo os senhores da nossa Arzila, a partir domomento em que os Condes de Cantanhede se tornam dela donatrios: na
batalha de Arzila, de 24/8/1471 faleceria o valente guerreiro D. Joo Coutinho,Conde de Marialva e primo de D. Pedro de Meneses; de Arzila, em Marrocos,foi Governador o 3 irmo do Conde de Cantanhede D. Joo de Menezes, pro-movido pelo Rei Afonso V; e sua irm D. Catarina casou-se com D. Vasco Cou-tinho, 1 Conde de Borba e Redondo e famoso General de Arzila. Tambm aonvel da Condessa Guiomar Coutinho se detecta relevante relao com Arzilaafricana. D. Rodrigo Coutinho, capito em Arzila, era seu primo e ali faleceuem 1495 no ataque praa conduzido pelos mouros Barraxe e Almandarim14.
Acrescente-se, tambm, que as relaes dos Coutinhos com as expediesmilitares ao Norte de frica no se resumem a Arzila. De facto, algum tempoantes da batalha de 1471, deu-se o escalamento de Tnger, comandado peloInfante D. Fernando, irmo do monarca D. Afonso V. Tal assalto, na noite de18 para 19 de Janeiro de 1464, redundou em desastre para as hostes portugue-sas, com mais de 300 mortos e cativos e uma elevada factura no campo daalta nobreza, especialmente a casa dos Coutinhos, que a perdeu, entre os seusprincipais mortos, D. Gonalo Coutinho, 2 conde de Marialva [tio-av de D.
Guiomar Coutinho] e neto do marechal D. Fernando Coutinho, o Velho, D.Rodrigo, filho bastardo daquele, e Gomes Freire de Andrade (marido de D.Isabel Coutinho, filha de D. Gonalo Vaz Coutinho ()
Dos prisioneiros feitos, os nomes so tambm muito significativos, sobres-saindo, uma vez mais, os Coutinhos, citando-se o marechal D. Fernando Cou-tinho, o Velho 15.
Pelos dados expostos ser legitimo questionar at que ponto alguma destascuriosidades/coincidncias teve implicao directa na afirmao do topnimo
portugus de Arzila, na medida em que se estabeleceram relaes no s econ-micas e senhoriais mas tambm emocionais, entre o povoado, seus habitantese donatrios.
Com base na obra de Fr. Joo de Sousa deu-se palavra Arzila a signifi-cao de coisa desprezvel, humilde e pobre, fazendo-a derivar do verbo raza-
14 D. Rodrigo Coutinho era filho de D. lvaro Gonalves Coutinho, 5 marechal de Portugal (irmo deTristo Coutinho, pai da condessa Guiomar Coutinho) e de Brites Soares de Melo.15 Sal Antnio Gomes Tnger, tantas vezes sepultura de Yfantes de Portugal, 1463-1464, In D.Afonso V, O Africano, col. Reis de Portugal, Crculo de Leitores, 2006, Pg. 188
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la (desprezar). Uma hiptese colocada de lado pelo Dr. David Lopes, que aoreferir-se povoao do Norte de frica com o mesmo nome, afirma ter origem
portuguesa e castelhana assentando na forma arabizada, Acila ou Azila, tendo--se empregue ambas as formas. Jos Machado acrescenta que tanto num casocomo noutro, o r ...teria sido intercalado como em alferce, alicerce, estrela,Gibraltar, etc., assinalando, tambm, e baseado no estudo de G. Marcy, o pa-rentesco entre Arzila e o berber Az-zila - lugar de vinhas16.
Estes dados seriam refutados pelo o estudioso Ferraz de Carvalho, queprocurou afincadamente a origem do topnimo:
Em documentos antigos nada consegui averiguar a seu respeito, mas pa-
rece-me dever pr-se de lado a hiptese de ste nome nos ter sido deixado pelosmoiros. Poderia talvez derivar-se de arcella, deminutivo de arca, mas na histriada lngua no vejo casos anlogos em que se estribe esta derivao. Resta-nosainda sup-lo proveniente dalgum nome de pessoa, como os de Argelo, Argiliou Argilo, mencionados no Onomstico de Corteso17.
O topnimo poder tambm derivar do latim argilla, isto ; de terra ricaem argila (terra de oleiro, talvez) hiptese que se coaduna com as propriedadesdo solo, na sua maioria argiloso e lamacento.
Em reforo da opinio em cima expressa, uma palavra ainda para o top-nimo da outra povoao que faz parte da freguesia, Lameira de Cima. Lameiratrata-se de um topnimo frequente no Norte e na Galiza. Equivalente a Lamei-ro, derivando de lama, zona lamacenta.
16Jos Pedro Dicionrio Onomstico, Etimolgico da Lngua Portuguesa, Vol. I, (A-D), Livros Horizonte,Lisboa, 1993, Pg. 7417A. Ferraz de Carvalho Toponmia de Coimbra e arredores() Imprensa da Universidade, Coimbra, 1934,Pg. 65.
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3. A medievalidade
Para este perodo histrico, e na zona em que Arzila se insere, o Baixo
Mondego, avulta muita informao.Depois da reconquista definitiva de Coimbra entrou-se numa fase de in-
tenso repovoamento, com migraes de gente do Norte ou de morabes, parafazer frente investida sarracena, aproveitando os incentivos ao povoamento,tais como proteco das vilas e castelos de Coimbra, a certeza da posse das ter-ras desbravadas, privilgio que D. Sesnando18havia concedido aos habitantesde Coimbra.
Contudo, foi no sc. XIII que se deu importante passo na zona de Arzila:muitos lugares, em qualquer destas regies, tiveram carta de povoao
logo no sculo XII, muitas vezes reformuladas no seguinte. O arroteamento ecolonizao do espao intermdio, em particular a Sul do Mondego, essen-cialmente obra da centria de Duzentos19.
Aos poucos, as margens do Mondego, de Coimbra foz, foram-se cobrin-
18 Governador de Coimbra at 109319 Maria Helena da Cruz Coelho O Baixo Mondego nos finais da Idade Mdia, Vol. I, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 1989, Pg. 41
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do de povoados que gravitavam na rbita das vilas de Coimbra e Montemore que tinham uma dinmica muito prpria intimamente ligada com o rio e
necessidades comerciais:De facto, o Mondego sujeito a frequentes inundaes, a um crescente asso-
reamento e correndo muito irregularmente pelo seu leito, necessitava do esforocontnuo do homem para o controlar. Esta obra era secular e, logo no sculo XIII,esforos de eclesisticos e particulares tentaram regularizar o rio de Anos, cons-truir uma aberta em Migalh e ainda abrir canais nos areais prximos de Coim-bra, como em Requeixada, Raval ou entre Vila Pouca e Ameal [canal de FernandoOoriz, cit em documento do Mosteiro de Santa Cruz, de 2 de Fevereiro de 1225].
O movimento no podia parar e tinha dois sentidos manter as abertas, canais evalas com capacidade de escoamento e erguer outras, sempre que as condies opermitissem. Os custos destas obras, desde logo pela mo-de-obra de que careciam,no eram aliciantes em pocas de dificuldades. Sente-se, por isso, ao longo dossculos XIV e seguinte, que boa parte do xito se deveu a uma aco muito directados reis que fomentaram as construes e procuraram mant-las em bom estado,controlando-as de perto, no intuito de preservar as suas herdades. Numa reacoem cadeia estes interesses batiam com os dos outros proprietrios, no geral eclesis-
ticos, que por sua vez constrangiam os seus caseiros a participar nesta actividade.20Paralelamente, e ao longo do rio, foram-se plantando rvores que no con-
junto constituiram uma paliada face s cheias, com boa capacidade de aborodas guas nas zonas alagadas.
Ter sido nos momentos fundacionais do reino que a zona de Arzila seconstituiu como reguengo do Rei, ou seja, um espao que a Coroa reservava erentabilizava em seu proveito e ao qual alude a documentao da zona datadade finais da Idade Mdia, princpios da poca Moderna. Pela mesma documen-
tao percebe-se que uma parte do reguengo seria uma coutada21, possivelmen-te parte da zona paludenta, ento revestida de mata.
Acrescente-se que, por estes anos e bem perto de Arzila, pertencia ao reidesde tempos antigos, 2 casais na aldeia do Ameal e inseridos no Reguengo doBolo.
20 Maria Helena da Cruz Coelho O Baixo Mondego nos finais da Idade Mdia, Vol. I, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 1989, Pg. 10921 Uma coutada seria neste caso, uma mata, talvez cercada, onde se faria criao de caa, reservada ao seuproprietrio (aos monarcas).
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Para os sculos XIII-XIV, os lavradores das terras do campo promoveramum conjunto de culturas entre as quais se destacam os cereais, a vinha e a oli-
veira. O cereal panificvel est omnipresente em todo o espao, detendo o trigoa primazia por motivos bvios:
As melhores terras do campo dedicam-se a esta cultura e mesmo nou-tras reas se lhe devia reservar os terrenos mais frteis. Os detentores depropriedades, ao afor-las em troca de uma renda parciria, tinham todo ointeresse em fomentar esta cultura que lhes guarnecia a sua mesa de po alvo.Mas tambm atravs de rendas fixas ou dos foros se asseguravam de algumaparte de trigo22.
Cultivam-se as variedades trigo galego e tremes, bem como o mourisco, deorigem rabe, um pouco mais duro que aqueles. A subsistncia dos campone-ses, baseava-se assim no po, no o tipo alvo, mas antes o escuro, confeccionadocom cereais de segunda, especialmente o milho23, os quais serviam ainda aossenhores para alimentar o gado ou pagar ao pessoal. Nos solos frteis, e deforma rotativa, o trigo dava lugar ao milho, especialmente nas terras do monte.
Tal como em tantas outras regies, a cultura cerealfera andava proxima-mente relacionada com a cultura da vinha, dada a complementaridade do po
e vinho na dieta alimentar medieva. Aos poucos, o cultivo da vinha foi-se difun-dindo: no comeo do sculo XII, a vinha estava implantada, em proporesconsiderveis, volta de Coimbra, progrediu de seguida ao longo de todo ocurso do Mondego, para atingir, em meados do sculo XIII, as regies maisrecuadas e de mais elevadas altitudes24.
Outras culturas, como a oliveira, tambm assumiam certa importncia,em especial no anel urbano, bordejando vinhas ou a elas associada.
A pouco e pouco estabeleceu-se uma economia regional, que ao nvel da
circulao, tinha no Mondego o eixo fulcral, a grande via de todo o movimentode transporte nesta rea:
Esta rede de povoados e terras de cultivo implicava uma necessidade demovimentao dos homens e at dos produtos. No deixa pois de ser reveladorque o nmero de portos (que agora encaramos apenas como pontos de passa-
22 Maria Helena da Cruz Coelho O Baixo Mondego nos finais da Idade Mdia, Vol. I, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 1989, Pg. 13123 Na cobrana de foros exigidos pelos senhores, o milho emerge como o cereal de segunda com maiorpredominncia.24 Cruz Coelho, ob. cit. Pg. 152
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gem) se avolume ao longo dos sculos - um porto nos surge no sculo X, quatrono XI, sete no XII e catorze no XIII25.
Com o rio navegvel de Coimbra Figueira, e vice-versa, a maioria dosportos situavam-se nas margens do Mondego ou nos seus afluentes, dandopassagem aos homens e seus haveres, destacando-se o entreposto fluvial deMontemor-o-velho, ou os portos em redor de S. Martinho do Bispo e Taveiro:Porto de Areia, Porto de Marrondos, Porto de Ossa e Porto de Alvime26. Umdestes seria, eventualmente, o porto de Arzila.
Pelas guas do Mondego e, por alguns afluentes, escoavam os produtospara comercializao em feiras e mercados da regio. Em alguns locais a ligao
entre as margens dos rios ou ribeiras era assegurada por barcas de passagem epontes como as da Cidreira, Alvade, Alcarraques, S. Facundo, Lavariz, Pereira,Quinhendros ou Almeara.
Paralelamente grande via fluvial de transporte, comeou a desenvolver-seuma rede viria terrestre. Taveiro destacava-se a Sul j que uma via ligava An-tanhol a Taveiro, da mesma forma que existia uma estrada pblica de Coimbrapara Taveiro, a qual poderia j vir do Ameal27.
25 Maria Helena da Cruz Coelho O Baixo Mondego nos finais da Idade Mdia, Vol. I, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 1989, Pg. 1026 Id. Pg. 40227 Id. Pgs. 412-413
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IIIA QUINTA E PAL DE ARZILA
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Bem repetira muitas vezes aos ros um procurador dos auctores, talvez o
mais ardiloso do bando, vocs melhor comporem-se: olhem que os homens(os auctores) tem o diabo na Relao!.
[Aires de Campos e Domingos Lara - Os suppostos direitos dominicaes do Conde do Sabugale bidos no Campo e Monte do logar de Arzilla do Concelho de Coimbra, In Questes Forenses,
Coimbra, Imprensa da Universidade, 1885, Pg. 133]
E porque a aco principal, de que procede esta liquidao, se acha ainda pen-dente do recurso de revista no Sup. Tribunal, declaram os executados que, pelo factode contestarem a dicta liquidao, nem reconhecem o imaginado domnio directo doConde dObidos nas suas propriedades do monte e campo dArzilla, acerca do qualpodem ser vencidos, mas nunca convencidos, nem prescindem, quando o recurso noseja provido (o que no de esperar) de qualquer direito que lhes possa competir.
[Aires de Campos e Domingos Lara - Os suppostos direitos dominicaes do Conde do Sabugale bidos no Campo e Monte do logar de Arzilla do Concelho de Coimbra, In Questes Forenses, Coim-
bra, Imprensa da Universidade, 1885, Pg. 149]
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1. Origens, documentos e proprietrios
1.1 Terra rgia doada Condessa de Atouguia
Areferncia documental mais antiga sobre Arzila colhe-se na Cartada Doao da quinta darzilla, do dia 22 de Maio de 1452, passada em vorapor D. Afonso V Condessa D. Guiomar, em pagamento de mil dobras e conta de maior soma de dinheiro que o Infante D. Pedro devia aos Condes deAtouguia, a quem a dita quinta pertencera.
Por esse documento ordenou-se ao corregedor e justias da Comarca quedessem posse da quinta mesma condessa, com todas as suas casas, herda-des, vinhas, pomares, rendas e direitos como os havia possudo o mencionadoinfante. O que se promoveu por Alvar do Corregedor, Diogo Gomes dAbreu,
passado em Pereira aos 7 de Setembro, para o tabelio Fernam Roiz dar pos-se da dicta quinta, e Certido passada pelo mesmo em como nesse dia alipublicou a carta de doao e deu posse a Condessa D. Guiomar, representadapelo seu criado e procurador lvaro Vaz assy per telha como madeira e vinhase pomares e assentamentos de casas e herdamentos, foros e direitos, e rendas,entradas e sahidas, direitos e pertenas della28.
28Aires de Campos e Domingos Lara - Os suppostos direitos dominicaes do Conde do Sabugal e bidos
no Campo e Monte do logar de Arzilla do Concelho de Coimbra, In Questes Forenses, Coimbra, Impren-sa da Universidade, 1885, Pg. 20. Estes 3 documentos faziam parte do instrumento da posse, lavrado emPereira, pelo tabelio Fernam Roiz a 6 de Dezembro de 1452.
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Ainda neste dia, e na porta da Igreja do Ameal, e perante testemunhas,notificou-se da doao Estvo Velho, criado que fora do Infante D. Pedro, e
provedor e guardador da dicta quinta, a quem se pediram as chaves que logoforam entregues.
O Rei D. Afonso V, confirmaria esta cedncia, pela carta que firmouem Sintra, no dia 8 de Agosto de 1454 (vide foto n. 6), e pela qual dooua dita quintam dArzilla - uma quinta de grandes dimenses - ento umreguengo29, a D. Guiomar de Castro, Condessa de Atouguia comsidera-mdo a muita rrazom que teemos a condessa Dona Guiomar e a linhagemde que descemde e os muytos e grandes seruios que nos h fectos o conde
d Atouguya sseu marido que Deus aja e os que della e de sseus filhos espe-ramos aver30.
Como se pode ler noutro local, esta doao vinha saldar uma divida empagamento da grande soma de dinheiro q.`o Infante D. Pedro ficara devendoa d.ta Condea e a seu marido j falecido p. ella e seus successores o poderemvender, dar etr31.
A doao feita condessa, depois da morte de seu marido, e a todos osdescendentes por linha direita masculina, sem imposio de tributos, e compre-
endeu no s a quinta como tambm um juncal32, ceial33e a mata do Espinhal(tambm designada por Mata d Arzila), descrevendo em pormenor as confron-taes dos espaos doados:
ceial com sua terra em brauyo que nos avemos junto com a sua quintad Arzilla assy como uay da parte de Sant Ilifomso dessa pomte do paao velhoata alem huu pouco do Coruo da Boua. E esso mesmo lhe fazemos meereedo juncal com sua terra brauya assy como uaay de sob o outro da vinha da dictaquintaa d Arzilla que parte com a terra dos cassaaes de Ssam Justo da parte do
soao e corre ataa outra coutada qu fez o jfamte Dom Pedro e corre da parte dossoao a caram da sergemte da uarzea e uay terre na ualla do dicto eial a uallaem menos e vensse per a ualla uelha ao bico de Ual Travesso e pella carreira
29 Bem prprio do rei, pertencente ao patrimnio rgio.30 C.M.L Baeta Neves (direco); Maria Teresa Acabado (Transcrio e reviso); Maria Lusa Esteves (com-pilao, sumrio e ndices) - Historia Florestal, Aqucola e Cinegtica, Vol. II, 1439-1481, Ministrio da Agri-cultura, Comrcio e Pescas, Direco Geral de Florestas, Lisboa, 1982, Pg. 10231ANTT - Casa de Santa Iria: Sumrio alfabtico dos documentos existentes no CartrioFl. 23632 Terreno hmido onde predominam juncos33 Local onde predominavam pedras, cascalho e seixos.
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uelha que ueem teer a rrua de Ssam Justo ataa cruz da fomte de Ssam Justo edaly aa ualla aa pomte do paao.
Com o ceiall a tomar progressivamente a designao de paul, a centriaavana sucedendo-se os novos proprietrios e gestores da quinta. Em 1461, D.Guiomar de Castro, toma posse da dita quinta, passando posteriormente paraseu filho, D. Martinho de Atade, 2 Conde de Atouguia, o qual vender, a 2de Agosto de 147434, apenas o Pal (caicall ejumcall), a D. Fernando Coutinho,4 Marechal de Portugal. e sua mulher D. Joana de Castro35.
1.2 A Quinta de Arzila no domnio da famlia Ponte
Posteriormente acontece um facto inesperado, com a quinta e paul a
transitarem para Helena da Ponte, criada de D. Joana de Castro que lhe fizera doaam da dita quintam e paull per seu testamento36. Com a Quint deArzila na posse da famlia Ponte, deu-se a disperso da propriedade pelos her-deiros nascidos do casamento entre Helena da Ponte e Pedro Alvares: Gomesda Ponte, Ferno da Ponte e Margarida da Ponte.
No final da vida e j viva, Helena da Ponte instituiu seu irmo, Onofreda Ponte, como herdeiro universal de todos os seus bens, mveis e de raiz, por
doao de 1497.Falecida em 1502, Onofre toma posse da parte da Quinta dArzila e de
hua terra junto a Valla dArzilla, q chamo Condeixinha, 37. Esta terra jun-
34 Carta de venda feita no Tabelio pblico de Cernache, Joamne Anes. Ser confirmada pelo monarcaD. fonso V, em Montemor-o-novo, a 27/01/147735 Dados extrados de Carta de confirmao da doao de um paul, seixal e juncal junto da Quinta deArzila, 24/10/1532, Chancelaria D. Joo III, L.19, Fls. 21-22 In Histria Florestal, Aqucola e Cinegtica,Vol. V, Fasc. II, 1528-1564, Lisboa, 1990, Pg. 10536 Id. Pg. 10737ANTT - Casa de Santa Iria: Sumrio alfabtico dos documentos existentes no CartrioFl. 296v.
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tamente com a Vrzea pegada quinta, foram objecto de acesa disputa, comsentenas favorveis (respectivamente em 1483 e 1486) a Pedro Alvares contra
Afonso Pires e outros que as reclamavam para si38.
1.3 Arzila na posse dos Condes de Cantanhede;Guiomar Coutinho, Pedro de Menezes
e seus descendentes
A quinta, com os vrios qui-nhes em que se encontrava organizada,ser comprada pela famlia Coutinho aosherdeiros da famlia Ponte entre 1501 e150439, por intermdio de Henrique Cou-
tinho e sua sobrinha Guiomar Coutinho,respectivamente filho e neta do j referido D. Fernando Coutinho, marechal dePortugal e de Joana de Castro - uma aco familiar concertada de recuperar aquiloque fra da famlia: a Quinta de Arzila.
Assim, entre 1501 e 1502 detectamos a actividade compradora de HenriqueCoutinho sendo de destacar o movimento realizado em 1501, pela qual comprou aGomes da Ponte e sua mulher Brites Valadares o quinho q. tinho na quintame cazaes dArzilla40, a mais antiga referncia ao encabeamento das terras de Arzila.
Posteriormente emerge D. Guiomar Coutinho, Condessa de Cantanhede,casada com D. Pedro de Meneses, 1 Conde de Cantanhede41, e filha de TristoCoutinho e Isabel Fogaa. No entanto, tanto a doao feita a Helena da Pontepor Joana de Castro, como a venda acima referida realizaram-se sem outorgua
38 Id. Fls. 296-296v.39 Casa de Santa Iria: Sumrio alfabtico dos documentos existentes no CartrioFls. 99-10140 Casa de Santa Iria: Sumrio alfabtico dos documentos existentes no CartrioFl. 9941
Ttulo nobilirquico portugus criado em 1479, por D. Afonso V, a favor de D. Pedro de Meneses,substituindo o ttulo de Senhor de Cantanhede. D. Pedro de Meneses, ter casado com D. Guiomar em1460 (3 casamento). Faleceu em Novembro de 1518.
Armasdos Condes
de Cantanhede
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dell Rey, ou seja; sem o beneplcito Real, a sua autorizao e validao. A quintavoltava assim posse rgia, pelo que D. Guiomar Coutinho requer a legalizao da
situao, isto , lhe fizesse delle merc pera ella () e pera todos que della desemde-sem per linha direita mascolina, e se possvel nas mesmas condies que delle forafeyta doaam ha dita comdessa datouguia [Guiomar de Castro] e o tinha e pesuyaho dito marichall [Fernando Coutinho].
De acordo com Theodozio de Santa Martha no seu Elogio Histrico da Illustrissima e Excelents-sima Casa de Cantanhede, os Telles e Menezes derivam da descendncia do Rei D. Fruella II, deLeo e no de