fragmentos da realidade

1
Fragmentos da realidade Por: Jéssica Bastianini Durante anos crianças iraquianas morreram em uma guerra sem sentido, mas bastou um pequeno atentado aos poderosos americanos para a população mundial se solidarizar com as famílias das vitimas. Pouco importa a cor, seja azul ou vermelho, todo inocente é prisioneiro de uma guerra que não escolheu. Invasões, tanques de guerra, atentados terroristas, etc., são irrefutavelmente tragédias, então teoricamente deveríamos nos sensibilizar com todos os lados da situação. A questão é que os acontecimentos são fragmentos da história geral e todo acontecimento é um prisma de possibilidades, cada um pode priorizar o que achar relevante. O problema esta na maneira como a grande mídia interpreta o fato e ao se tratar de mídia a relevância não deveria estar na popularidade de um acontecimento, mas sim no que isto pode agregar a humanidade. Recentemente no atentado de Boston ficou evidente a priorização pela interpretação de determinadas versões do acontecimento. Ao conversar com um amigo a respeito das vitimas, priorizei a morte de inocentes, que pagaram com a própria vida o preço da ignorância das pessoas. Era a minha versão do fato, eu já havia desistido de tentar entender o porquê ou encontrar um culpado, então priorizei o lado sentimental, tão exposto nas mídias. Acontece que meu amigo é libanês legitimo e foi necessário ver nos olhos dele a indignação com tudo que ele via na mídia; antes de calar minha pseudo preocupação quando ele me recordou que muitos inocentes já morreram em outros lugares do mundo sem identidade alguma, como números muitas vezes nem divulgados. Criticar os EUA e sua ideologia de dominação não vai resolver o problema, porque eles são sim a maior potencia da atualidade. O que não quer dizer que devemos ficar calados e aplaudir qualquer passo dos americanos. A ocidentalização deve ser combatida diariamente. A ideologia do jornalismo não pode ser apenas uma moldura de belas palavras, o verdadeiro jornalista é aquele que busca a noticia na subjetividade de um acontecimento, tudo é relevante até que se prove o contrario, ou até que o editor ignore seu texto simplesmente porque não vende. Não existem verdades absolutas, e a impressa precisa urgentemente se lembrar disso. Ser jornalista é ter nas mãos o destino de uma sociedade, construir histórias e moldar padrões; mas ainda falta aquele diferencial que poderia salvar o país de uma alienação sem precedentes.

Upload: jessica-bastianini

Post on 25-Jul-2015

70 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fragmentos da realidade

Fragmentos da realidade

Por: Jéssica Bastianini

Durante anos crianças iraquianas morreram em uma guerra sem sentido, mas bastou um

pequeno atentado aos poderosos americanos para a população mundial se solidarizar com as

famílias das vitimas. Pouco importa a cor, seja azul ou vermelho, todo inocente é prisioneiro de

uma guerra que não escolheu. Invasões, tanques de guerra, atentados terroristas, etc., são

irrefutavelmente tragédias, então teoricamente deveríamos nos sensibilizar com todos os lados da

situação.

A questão é que os acontecimentos são fragmentos da história geral e todo acontecimento é

um prisma de possibilidades, cada um pode priorizar o que achar relevante. O problema esta na

maneira como a grande mídia interpreta o fato e ao se tratar de mídia a relevância não deveria estar

na popularidade de um acontecimento, mas sim no que isto pode agregar a humanidade.

Recentemente no atentado de Boston ficou evidente a priorização pela interpretação de

determinadas versões do acontecimento. Ao conversar com um amigo a respeito das vitimas,

priorizei a morte de inocentes, que pagaram com a própria vida o preço da ignorância das pessoas.

Era a minha versão do fato, eu já havia desistido de tentar entender o porquê ou encontrar um

culpado, então priorizei o lado sentimental, tão exposto nas mídias.

Acontece que meu amigo é libanês legitimo e foi necessário ver nos olhos dele a indignação

com tudo que ele via na mídia; antes de calar minha pseudo preocupação quando ele me recordou

que muitos inocentes já morreram em outros lugares do mundo sem identidade alguma, como

números muitas vezes nem divulgados.

Criticar os EUA e sua ideologia de dominação não vai resolver o problema, porque eles são

sim a maior potencia da atualidade. O que não quer dizer que devemos ficar calados e aplaudir

qualquer passo dos americanos. A ocidentalização deve ser combatida diariamente.

A ideologia do jornalismo não pode ser apenas uma moldura de belas palavras, o verdadeiro

jornalista é aquele que busca a noticia na subjetividade de um acontecimento, tudo é relevante até

que se prove o contrario, ou até que o editor ignore seu texto simplesmente porque não vende.

Não existem verdades absolutas, e a impressa precisa urgentemente se lembrar disso. Ser

jornalista é ter nas mãos o destino de uma sociedade, construir histórias e moldar padrões; mas

ainda falta aquele diferencial que poderia salvar o país de uma alienação sem precedentes.