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Fragmentos de Alverca

Fragmentos de Alverca | 1

Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo

Anabela Ferreira

FRAGMENTOS DE ALVERCAHistória e Património

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Fragmentos de Alverca

Fragmentos de Alverca: História e Património

Edição e PropriedadeJunta de Freguesia de Alverca do Ribatejo

AutoraAnabela Ferreira

Capa e PaginaçãoCarla Félix

Créditos FotográficosAnabela Ferreira (AF)Marco Aurélio (MA)Museu Municipal de Vila Franca de Xira Núcleo de Alverca (MMVFX-NA)Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA)

Impressão Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.

Tiragem1000 exemplares

ISBN978-989-20-1706-8

Depósito legal299 825/09

ImpressãoSetembro de 2009

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Fragmentos de Alverca

ÍNDICE

Afonso CostaPresidente da Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo ................................................................................... 7

Biografia da autora .................................................... 9

Introdução ................................................................ 11

Breve História do Concelho de Alverca ...................... 13

Interpretação da Simbologia Presente no Pelourinho Quinhentista de Alverca ........................................... 19

A Construção da Estrada Real de D. Maria I e Marco de IV Légua em Alverca ............................... 23

Alverca no decorrer das Invasões Francesas ............. 27

Conhecer o Núcleo Histórico de Alverca ................... 31

Misericórdia de Alverca ............................................ 39

Memórias de Alverca na Epigrafia Local ................... 45

Elementos para a História da Morte em Alverca ....... 49

Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila Franca de Xira ...................................................................... 53

Oficinas Gerais de Material Aeronáutico ................... 57

O Hangar de Balão das OGMA ................................. 61

Bibliografia .............................................................. 66

Anexos ..................................................................... 75

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Fragmentos de Alverca

Quando em 2005 assumi os destinos da freguesia

de Alverca do Ribatejo, uma das tarefas a que

me propus, foi a preservação e divulgação do

património histórico de Alverca. Uma preservação

não só física como do conhecimento.

Neste campo, deparámo-nos de imediato com uma

enorme falta de elementos, o que transformou

a minha intenção num desafio. Era essencial

compilar informações, investigar e apresentar aos

alverquenses uma obra rigorosa.

Este projecto contou desde o primeiro momento

com o apoio da Dra. Anabela Ferreira, actual

responsável pelo Núcleo Museológico de Alverca,

licenciada em História e cujo Mestrado incidiu em

Estudos do Património e Doutoranda em História

Moderna.

Senhora dum método de investigação rigoroso,

dotada dos conhecimentos necessários, deu corpo

à obra que agora vos apresento.

Ao longo destas páginas vamos encontrar o fruto

de um trabalho exaustivo de investigação profunda

que vai desde a atribuição (ou não) do foral, ao

brasão, a história do concelho de Alverca, o castelo,

a casa da câmara, a toponímia, lugares e quintas ou

a morte na freguesia, desvendando desta forma,

alguns elementos da nossa História, nunca antes

estudados a par de uma História recente, como é o

caso do estudo sobre as Oficinas Gerais de Material

Aeronáutico.

Espero que ler esta obra, vos dê o mesmo prazer que

nos deu editá-la e que a mesma sirva de incentivo, a

que outros se debrucem sobre o estudo de Alverca,

área onde há ainda um longo caminho a percorrer.

O Presidente da Junta de Freguesia

Afonso Costa

Fragmentos de Alverca: História e Património

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Bibliografia

Artigos de cariz científico “A Casa da Câmara de Alverca”, Alverca da Terra às Gen-tes, Catálogo da Exposição, Museu Municipal de Vila Franca de Xira – Núcleo de Alverca, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Novembro 2007, pp. 73-86.“Alverca no decorrer das Invasões Francesas”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 18, Outubro/Novembro 2007, pp. 10-12.“Breve História do Concelho de Alverca – Extinção”, Xira-press – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 16, Junho/Julho 2007, pp. 15-17.“Breve História do Concelho de Alverca – Fundação”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 15, Abril/Maio 2007, pp. 10-12.“Conhecer o Núcleo Histórico de Alverca – As Casas Pop-ulares e reminiscências de uma Arquitectura Camarária”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 23, Julho/Agosto 2008, pp. 12-14.“Conhecer o Núcleo Histórico de Alverca – As Ruas”, Xira-press – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 22, Maio/Junho 2008, pp. 12-14.“Conhecer o Núcleo Histórico de Alverca – Património Edificado”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 21, Março/Abril 2008, pp. 10-12.“Interpretação da simbologia presente no pelourinho quinhentista de Alverca”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 13, Janeiro/Fevereiro 2007, pp. 12-13.“Marco de IV Légua da estrada real e D. Maria I”, Xira-press – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 14, Março 2007, pp. 12-13.“Memórias de Alverca na Epigrafia Loca!”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 24, Novembro/Dezembro 2008, pp. 11-12.“Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila Franca de Xira”, Xirapress – Revista do Concelho de Vila Franca de Xira, Ano II, n.º 19, Dezembro 2007, pp. 10-12. “Projecto-Piloto em Vialonga: O Museu de Vila Franca de Xira e o trabalho com adultos”, em parceria com Clara Camacho e Inocêncio Casquinha, Boletim Cultural Cira 9, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maio 2005, pp. 63-71. “Quando o sol dá horas” – Notícias de Alverca [Jornal Regional do Concelho de Vila Franca de Xira - Mensal], Ano IX, nº 62, Setembro 1992, p. 4.

Publicações para a InfânciaHistórias do Palácio do Sobralinho, ilustrações de Paulo Monteiro, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira – Pelouro da Cultura – Museu Municipal em parceria com a Rede Portuguesa dos Museus, Maio de 2003.Lenda da Senhora do Bom Sucesso, ilustrações de Carla Félix, Alverca, Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo, Setembro 2009.Lenda da Fonte do Choupal, ilustrações de Carla Félix, Al-verca, Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo, Maio 2008.Lenda do Castelo de Alverca, ilustrações de Carla Félix, Alverca, Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo, Ou-tubro 2007.Lendas, Mitos e Histórias de Vila Franca de Xira, ilustra-ções de Paulo Monteiro, Vila Franca de Xira, Câmara Mu-nicipal de Vila Franca de Xira – Pelouro da Cultura – Mu-seu Municipal Maio de 2000.Mouras Encantadas e Outras Histórias, ilustrações de Paulo Monteiro, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira – Pelouro da Cultura – Museu Mu-nicipal Maio de 1999. Ploc e Outros Contos, Lisboa, DIFEL, Março de 1999.

Anabela FerreiraLicenciada em História, Mestre em Estudos do Património, Doutoranda em História Moderna. Integra o grupo de investigação Europa e o Mundo, do projecto europeu CLIOHnet 2 – Rede Temática Sócrates-Erasmus. Tutora da Universidade Aberta.Exerce funções no Museu Municipal de Vila Franca de Xira desde 1990, responsável pelo Núcleo de Alverca.

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Fragmentos de Alverca

INTRODUÇÃO

Fazer História é tarefa árdua. As fontes são

elementos indispensáveis. É necessário descobri-

las, analisá-las, seleccionar as que são relevantes

para o trabalho a realizar, cruzar informações. É só

o princípio. Nos estudos de História Local as fontes

podem ser um problema. Na maior parte das vezes

as fontes documentais são escassas, por vezes

encontram-se dispersas. Frequentemente temos

indicações da sua existência de forma indirecta,

quando referidas noutros documentos, tornando-

se um risco citá-las, afinal sabemos o quanto as

informações indirectas podem ser imprecisas.

Apesar de tudo isso a História Local, aos poucos

vai-se compondo.

Com este trabalho pretende-se contribuir não só

para o conhecimento dessa História, mas também

para o fornecimento de pistas que permitam outras

investigações, as quais possam complementar este

estudo.

Todos os textos presentes neste livro são fruto de

uma profunda investigação, levada a cabo ao longo

de vários anos, e todos eles dizem respeito à história

e património local. Apesar desses estudos há ainda

muito por investigar e por divulgar relativamente

à História de Alverca. O fundo do Concelho de

Alverca, guardado no Arquivo Histórico de Vila

Franca de Xira, e os livros dos Tombos das Capelas

de D. Afonso IV, que se podem encontrar na Torre

do Tombo, são apenas dois exemplos de conjuntos

de documentos, compostos por milhares de

páginas, respeitantes a essa História, que precisam

de análise mais profunda.

Embora a História de Alverca esteja, de facto,

ainda em construção, a investigação, que se tem

vindo a realizar, permite dar a conhecer uma série

de elementos para a sua compreensão. Muito se

avançou relativamente ao estudo do Concelho de

Alverca, hoje conhece-se a sua origem e os factores

que levaram à sua extinção. O património da cidade

tem vindo a ser valorizado como a antiga casa

da Câmara, o Pelourinho, o Marco de IV légua da

Estrada Real de D. Maria I. As memórias da antiga

povoação têm vindo a ser aprofundadas, como

aconteceu com a recente investigação relativa

ao convento de São Romão. A História recente

tem, também, sido alvo de atenção, aspecto

exemplificado com o estudo que incidiu sobre as

Oficinas Gerais de Material Aeronáutico.

A convite da Junta de Freguesia de Alverca,

juntam-se nesta edição, os artigos de investigação

que, desde 2007, têm vindo a ser editados pela

Xira Press (a revista do Concelho de Vila Franca de

Xira), e outros dentro do mesmo âmbito ainda não

editados, pois tornava-se pertinente uma edição

que desse a conhecer alguns dos estudos recentes,

de modo a que, de alguma forma, se pudesse

estimular futuras investigações, as quais possam

engrandecer, ainda mais, a História de Alverca.

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Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

A história do Concelho de Alverca era, até há bem

pouco tempo, quase desconhecida, os dados

referenciados na bibliografia disponível, eram

escassos e imprecisos. O estudo das fontes levou

à conclusão que, muito do que se acreditava ser

a história de Alverca, não passava do fruto da

imaginação de autores do século XIX. É o caso

do foral que, ao contrário daquilo que afirmam

muitos autores, não se encontram vestígios de

alguma vez ter existido semelhante documento

outorgado a esta povoação.

O primeiro autor a afirmar a doação de foral a

Alverca foi Pinho Leal, em 1873. Na obra Portugal

Antigo e Moderno, indica que o foral foi doado por

D. Afonso Henriques em 11601. Depois dessa data,

esta informação foi repetida vezes sem conta,

sem que se procurasse averiguar a sua veracidade.

Outros autores indicaram a doação de um foral por

D. Afonso IV, ou por D. Manuel, algo que as fontes

negam. Nem na chancelaria de D. Afonso IV,

nem nos índices de forais da reforma manuelina,

1 Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno, Volume I, Lisboa, Livraria Editora Mattos Moreira & Companhia, 1873.

se encontrou qualquer referência a tal doação a

Alverca. Um estudo cuidado, permitiu perceber

que se algum dia esta povoação teve foral tal

documento foi perdido de modo definitivo. Não

há como saber quem o doou ou quando o fez,

provavelmente nunca existiu.

Sem dúvida o foral é uma fonte importante, para o

estudo da formação dos concelhos medievais, no

entanto não é este documento que faz o concelho.

Existem diversos exemplos de concelhos instituí-

dos sem foral que, na maioria dos casos, servia para

confirmar o poder estabelecido e, sobretudo, para

incutir, na comunidade, a existência de um poder

maior que aquele constituído pelos povos: o poder

do rei.

Alexandre Herculano refere que algumas

comunidades podiam constituir-se concelho,

através de revolução popular2 adquirindo, desse

modo, autonomia administrativa. José Mattoso

adianta: “[…] a investigação recente tem mostrado

2 Cf Alexandre Herculano, História de Portugal – Desde o Começo da Monarquia até ao Fim do Reinado de Afonso III, Tomo VII, 8ª edição, Lisboa, Livraria Bertrand, s/d., pp. 70-71.

BREVE HISTÓRIA DO CONCELHO DE ALVERCA

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Fragmentos de Alverca

cada vez mais a capacidade organizativa de

grupos humanos locais independentemente de

qualquer autoridade ou sancionamento superior.

É indispensável, portanto, conceber a formação

dos concelhos como um processo autónomo.”3

Era então necessário procurar descobrir a

origem do concelho de Alverca. Até ao presente

o documento mais antigo, com referência à

povoação, data de 1206. Trata-se de uma carta

de doação de uma herdade4. Supõe-se que a

povoação se deverá ter desenvolvido no alto da

colina do castelo, no espaço correspondente ao

Núcleo Histórico. A época é imprecisa, contudo

tem-se hoje a certeza que, no mesmo espaço,

existiu uma rica povoação romana, conforme

atestam os achados arqueológicos exumados das

escavações realizadas no local. O mesmo não é

possível garantir relativamente à existência de

uma povoação árabe, os achados desse período

são escassos e inconclusivos. Embora o topónimo

derive, de facto de uma palavra árabe - alborca,

ou albirca, terra pantanosa e alagadiça – tal deve-

se à situação geografia da povoação. Assim, a

única certeza é que, na Idade Média, começou a

florescer uma pequena povoação, cuja população

se havia de organizar em concelho, de modo a

gerir a administração e justiça local.

A primeira referência ao concelho surge na

Chancelaria de D. Afonso IV, num documento datado

de 13385. Este permite percepcionar a existência

de uma sociedade organizada com concelho

instituído, pois fazendo-se representar pelo seu

procurador, o Concelho de Alverca fez uma petição,

informando que as suas rendas e degredos haviam

sido usurpados por um tal João Afonso, senhor do

povoado. Adianta o procurador que as coimas eram

devidas ao Concelho desde tempos imemoriais, até

o referido Senhor os haver extorquido pela força. 3 José Mattoso, História de Portugal, Segundo Volume, A Monarquia Feudal (1096-1480), Lisboa, Circulo dos Leitores, 1993, p. 216.4 Cf. ANTT, Mosteiro de São Vicente de Fora, mç. 1 N.º 29.5 Chancelarias Portuguesas – D. Afonso IV – Volume II - (1336-1340), Lisboa, Instituto Na-cional de Investigação Científica, Centro de Estudos Históricos Universidade de Lisboa, 1992, pp.184-186.

Após um período de conflito que terminou com a

prisão de moradores, tendo ainda sido ordenado

ao meirinho do lugar “[…] que todos os outros

que na mãao colhesse que os decepasse […]”, o

medo das represálias acabou por travar a revolta,

continuando a população a ver-se despojada dos

direitos às rendas. Com a morte de João Afonso o

senhorio do lugar voltara à posse da coroa, tendo D.

Afonso IV continuado a cobrar para si os degredos e

rendas, da mesma forma que o havia feito o antigo

senhorio. Devido às razões expostas, o Concelho

de Alverca, lavrara a petição, procurando provar o

direito a esses emolumentos.

Este documento sugere, implicitamente, que

os acontecimentos relatados teriam tido início

no reinado de D. Dinis (1279-1325). Sendo assim

confirma-se a existência de um povoado, conhecido

com o topónimo de Aluerca, com concelho

instituído possivelmente antes do século XIII. Em

nenhuma parte do texto é referida a apresentação

de um foral, o que faria sentido tratando-se de

um documento comprovativo da antiguidade do

concelho. Por outro lado, a sua análise parece

confirmar a formação autónoma do Concelho de

Alverca, tendo em conta a capacidade organizativa

Demarcação do primitivo Núcleo habitacional de Alverca, CMVFX,demarcação da autora

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Fragmentos de Alverca

da população, revelada no modo como se uniram

contra os poder abusivo do Senhor, em defesa dos

seus direitos enquanto comunidade.

Para além desta petição de 1338 e, possivelmente

na sequência desta, conhecem-se, relacionadas

com Alverca, três cartas de confirmação do

Concelho, emitidas pela coroa. São elas a carta de

D. Pedro I confirmando os privilégios do concelho

em 24 de Agosto de 13576; a carta datada de 19

de Abril de 1434, de D. Duarte, confirmando “ao

concelho d aluerca todos os seus priujllegios foros

liberdades e boons costumes de que sempre

husarom [...].”7; e uma outra emitida em 23 de

Abril de 1439, onde D. Afonso V confirma à Vila de

Alverca todos os Privilégios, Graças e Mercês8.

Sabendo então, sem sombra de dúvidas, que

Alverca era Concelho, pelo menos desde o século

XIII, onde se localizava a Casa da Câmara? É

comum a localização desse edifício, num largo ou

praça, no centro da povoação e na proximidade

da Igreja Matriz. De facto os edifícios municipais

conhecidos seguem essa localização, justificada,

inequivocamente, pelo facto de estes serem o

centro da vivência administrativa e judicial de

qualquer Concelho.

Procurar localizar e/ou caracterizar edifícios, há

muito desaparecidos é sempre uma tarefa difícil,

mesmo quando se trata de um espaço que em

tempos foi fulcral na vivência de uma comunidade.

Existia o conhecimento da construção dos paços do

concelho, no actual largo João Mantas, no século

XVI, tendo em conta a data do pelourinho: 1530.

No entanto, até há pouco tempo desconhecia-se

onde se localizavam os paços primitivos.

Num testamento, datado de 1867, pertencente ao

espólio documental do Núcleo de Alverca do Museu

6 Cf. Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I (1357-1367), Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1984.7 Chancelarias Portuguesas – D. Duarte, Volume I, Tomo 1, (1433-1435), Lisboa, Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lisboa, 1998, p. 131.8 Cf. ANTT, Chancelaria de D. Afonso V – Comuns, Livro 18 fl. 53, Microfilme 155.

Municipal de Vila Franca de Xira, encontrou-se uma

pista valiosa. O documento refere a propriedade

de umas casas ”[…] citas no largo do Pelourinho

desta villa d’Alverca […].”9 Esta referência nada

tem a ver com o pelourinho do largo João Mantas,

pois as referidas casas, tinham a porta voltada

para a antiga rua da Misericórdia, hoje conhecida

como rua Miguel Bombarda. De modo a esclarecer

qualquer dúvida, procurou-se o processo do

Registo Predial n.º 385, do Cartório de Vila Franca

de Xira, relativo à mesma propriedade, apresenta

a indicação de estar localizada junto ao largo do

Pelourinho Velho, actualmente conhecido como

largo Gregório Nunes. Sabendo que o pelourinho

era colocado em frente aos paços do concelho,

defende-se a possibilidade de, nesse largo, se ter

localizado, até ao século XVI, a Casa da Câmara de

Alverca.

Para além dos dados obtidos no testamento

citado, no Tombo das Capelas de D. Afonso IV, em

documentos datados da segunda metade do século

XVI, encontram-se referências à praça velha10,

dado acrescido mais adiante, num documento de

medição de uma casa, referindo a localização da

praça velha no “outeiro na rua onde está a câmara

desta vila”11. Estas referências permitem confirmar

9 MMVFX-NA, Testamento de Fortunata Augusta de Sousa, 1867/1868, doc. 2, fl 4v.10 Cf. ANTT, Núcleo Antigo, Tombo de Alverca, Livro XXIV, Parte I, Cx. 270,fl. 392.11 Idem, fl . 579. Idem, fl. 579.

Largo Gregório Nunes, AF

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Fragmentos de Alverca

a localização da antiga Casa da Câmara no actual

Largo Gregório Nunes.

Actualmente não restam vestígios nem dessa

antiga Casa da Câmara, nem do pelourinho velho,

contudo o estudo das fontes permitiram recuperar

parte da Memória e da História de Alverca.

Assim o largo Gregório Nunes, ganha uma nova

dimensão, pois agora há o conhecimento que

em tempos, naquele local, o povo se reunia para

ouvir o que os juízes e vereadores haviam decidido

relativamente, por exemplo, ao preço dos bens de

consumo. Ali se assistiam aos julgamentos, ali se

centralizavam todos os aspectos das vivências

concelhias.

No século XVI foram construídos os novos paços

do Concelho e edificado o novo pelourinho na

praça, actualmente, conhecida pelo topónimo

João Mantas. Deste edifício restam alguns

vestígios, descobertos na sequência das duas

intervenções arqueológicas, que antecederam as

obras de remodelação da antiga Casa da Câmara

de Alverca.

Dos vestígios arqueológicos encontrados nas

escavações de 2004 destaca-se a “presença de

restos de calçada com espinha e delimitada por

pedras maiores do lado Oeste.”12. Acredita-se

que esta calçada, identificada a Sudeste na antiga

casa da Câmara, pode ter constituído o pavimento

térreo do edifício quinhentista. Em 2005 a

descoberta acidental de uma sala subterrânea, a

Sudoeste do edifício, levou a uma nova intervenção

arqueológica. A observação do espaço revelou

tratar-se de uma construção distinta do edifício

setecentista, tanto relativamente às argamassas

utilizadas, como ao tipo de pedra da alvenaria,

facto que solidifica a hipótese de se tratar de um

elemento da construção do século XVI. O único

acesso ao compartimento era feito por uma

12 Nuno Ricardo de Oliveira Gamb�a, Nuno Ricardo de Oliveira Gamb�a, Relatório da Intervenção Arqueológica no Núcleo Museológico de Alverca, texto policopiado, 2004, p. 39.

pequena porta, cujo vão se localiza ao centro da

parede Sul13, actualmente inacessível.

Entre os materiais encontrados nesse compar-

timento – sobretudo cerâmicas e faianças –,

destaca-se uma tranca em ferro, bem como duas

chaves de dimensões consideráveis. Estes objectos

juntamente com o chão calcetado, exumados

pela intervenção na sala por cima desse espaço,

sugerindo uma utilização menos nobre, permitem

considerar que a sala, entulhada possivelmente

após Terramoto de 1755, poderia ser uma enxovia,

uma espécie de prisão dentro da prisão, um espaço

de isolamento. A falta de janelas, ou qualquer outro

meio de ventilação, parece apoiar esta hipótese.

Para além dos testemunhos arqueológicos nos

Tombos de Alverca das Capelas de D. Afonso

IV, num documento datado de 1575, é feita

referência a uma propriedade junto à Câmara

Nova 14. Com data de 1580, um outro documento

dá conta da medição de casas localizadas entre

a praça velha e a praça nova do pelourinho15. O

conjunto destes dados permitem, seguramente,

afirmar ter existido, no largo João Mantas, uma

Casa da Câmara construída na primeira metade

do século XVI, com prisão, de chão calcetado e

enxovia, de acordo com os modelos dos edifícios

camarários, comuns em todo o país e ao longo de

vários séculos. Este edifício terá funcionado como

centro da administração e justiça local até ao

dia 1 de Novembro de 1755, quando o Terramoto

abalou o reino de Portugal. Em Alverca, entre

outros edifícios civis e religiosos, a casa da

Câmara ficou arruinada, tornando-se necessária

a sua reconstrução de forma a regularizar a vida

administrativa e judicial da povoação. Uma vez

que Alverca fazia parte dos bens das Capelas de D.

Afonso IV competia, ao provedor dessa instituição,

providenciar a reconstrução do edifício.

13 Cf. Sandra Brazuna, Relatório dos Trabalhos Arqueológicos – Escavação Arqueológica Núcleo Museológico de Alverca – Intervenção Arqueológica no Compartimento Subterrâ-neo, texto policopiado, ERA-Arqueologia, S.A., 2005, embora seja referida que a porta ficava na parede Norte, na realidade está orientada a Sul.14 Cf. ANTT, Núcleo Antigo, Tombo das Capelas, Livro XXIV, Parte I, Cx. 270,fl. 104.15 Cf. Idem, fls. 392-393.

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Fragmentos de Alverca

Brasões e lápide na fachada da antiga casa da Câmara, AF

A única fonte encontrada, até ao momento,

relativa a este facto encontra-se na fachada Norte

da casa da Câmara, na lápide epigráfica embutida

na parede, onde se lê que o edifício foi reedificado

por ordem de Paulo de Carvalho e Mendonça,

irmão do então conde de Oeiras, Sebastião José

de Carvalho e Melo. Para além de outros cargos

eminentes, Paulo de Carvalho era provedor das

capelas instituídas por D. Afonso IV e pela Rainha

D. Beatriz em 1354, na Sé de Lisboa, de cujos bens

faziam parte os rendimentos de alguns concelhos,

entre os quais se encontrava Alverca.

O edifício reconstruído incluía uma sala de

sessões, uma sala de audiências e tribunal, no piso

superior. No rés-do-chão ficava a cadeia de tectos

abobadados, de chão lajeado, com quatro salas

de janelas gradeadas, uma das quais destinada

ao encarceramento de presos masculinos, outra

funcionando como prisão feminina. Uma terceira

divisão servia de enxovia e a última, possivelmente,

como área de recepção dos presos.

Na fachada da casa foram colocados os brasões

da rainha Mariana Victória e do provedor Paulo

de Carvalho e Mendonça, encimando a lápide

epigráfica já referenciada. No mesmo período foi

embutida, ao nível do rés-do-chão, uma estela

funerária romana, por cima de um pequeno

oratório, recentemente colocado à vista.

Ao longo da segunda metade do século XVIII o

concelho de Alverca, gerido por juízes e vereadores,

governava administrativa e judicialmente um

território que incluía, de acordo com as Memórias

Paroquiais, escritas pelo cura Manuel Henriques

em 1758, os lugares de Adarce, A-dos-Melros,

A-dos-Potes, Arcena Grande e Pequena, Brandoa,

Moinho de Vento, Ponte, Proverba, Vale de Ranas,

Verdelha16 e Sobral, o actual Sobralinho.

Neste período os concelhos subsistiam fechados

16Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, volume 3, memória 43, fls. 329-330.

sobre si, sem grandes contactos com as

comunidades vizinhas e, em alguns casos, com

raros contactos com a administração central.

Administrativamente deviam subsistir das rendas

geradas pelo próprio Concelho o que, para os

pequenos concelhos como Alverca, se tornava,

por vezes, muito difícil. No final do século XVIII a

estrutura concelhia começou a sofrer alterações.

Em 21 de Abril de 1795 foi emitido o Alvará de

criação do lugar de Juiz de Fora de Alhandra e Alverca.

A partir desse momento o Concelho de Alverca,

que havia sido presidido por juízes ordinários,

eleitos entre os homens que compunham a elite

local, passa a estar sob a alçada de um juiz de fora

nomeado pela coroa.

Ao longo do século XIX várias mudanças políticas,

sociais e administrativas, ocorridas a nível

nacional, vão transformar de forma definitiva

e irreversível o poder local. Uma das iniciativas

das reformas liberais foi a criação de uma nova

Page 20: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

divisão administrativa do território português,

visando um maior controlo da realidade local por

parte do Estado. Em 1827 existiam 806 concelhos

espalhados pelo território português, a maioria

arreigada a velhas tradições, na maior parte dos

casos sem condições de subsistência.

O processo de modernização levado a cabo pelo

Liberalismo foi lento. Ao longo desse século

vários decretos visaram a redução dos concelhos,

integrando os mais pequenos em outros próximos,

com melhor capacidade de gestão. Por volta

de 1846 foi composta a Comissão Encarregada

de Propor o Plano da Nova Divisão Eclesiástica e

Administrativa17. O quadro Organização do Districto

Administrativo de Lisboa incluía o concelho de

Alverca, composto pelas freguesias Alverca/

Sobral e “S. Iria da Povoa”18, apresentado como

integrando os “Concelhos que fica existindo”.

Na lista dos trinta e cinco concelhos existentes

no distrito de Lisboa, contava-se, entre os quatro

mais pequenos, o de Alverca com um total de

803 fogos. Para além do factor populacional,

economicamente o concelho encontrava-se

em grandes dificuldades para obter receitas

suficientes de modo a suportar todas as despesas.

Esta realidade deverá ter contribuído para que o

Concelho de Alverca fosse suprimido pelo decreto

de 24 de Outubro de 185519.

Para além de Alverca foram extintos, os Concelhos

de Povos (1836), Castanheira (1837) e Alhandra

(1855). Todos estes territórios passaram a integrar

o Concelho de Vila Franca de Xira. Há que ter em

conta o facto de, entre todos os cinco concelhos

originais, Vila Franca ser o mais populoso e o que

apresentava maior desenvolvimento desde há

muitos anos.

17 AHMOP, AHMOP, Comissão Encarregada de Propor o Plano da Nova Divisão Eclesiástica e Administrativa – Quadros da Organização dos Distritos Administrativos do Continente do Reino e Seus Fogos, Ca. 1846, CEPPND 10.18 Idem, p. 54.19 Cf. José Máximo de Castro Neto Leite e Vasconcellos, Colecção Official da Legisla-ção Portugueza, Lisboa Imprensa Nacional, 1856, pp. 361 (Art. 2º), 388-389.

Deste modo em vez de cinco pequenos concelhos,

cuja subsistência se tornava cada vez mais difícil,

formou-se um Concelho maior e, sobretudo, mais

capaz de assegurar o desenvolvimento da sua

economia e população, o qual havia de contribuir,

também, para o crescimento do país.

Extinto o Concelho, Alverca tornava-se uma

freguesia, a qual ao longo de cerca de cento e

cinquenta anos, cresceu em termos de população

e economia, chegando à categoria de cidade.

Actualmente é das povoações mais bem sucedidas

do Concelho de Vila Franca de Xira sem, no

entanto, deixar cair no esquecimento a História e

o Património que a tornam singular.

Page 21: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Os pelourinhos são símbolos da jurisdição e da

autonomia dos Concelhos. Era no pelourinho que

se executavam algumas das penas do direito e se

fixavam os decretos régios e municipais. Segundo

Lino de Macedo: “Não havia a mínima uniformidade

na construção dos pelourinhos, cada câmara

mandava fazer os seus, como queria, e segundo a

habilidade do pedreiro, ou a quantia que para isso era

aplicada.”1 A identificação de diversos pelourinhos,

datados do mesmo período, muito idênticos ao

de Alverca, permite depreender terem sido todos

construídos pelo mesmo canteiro, ou na mesma

oficina. A reforçar esta hipótese, é de acrescentar

localizarem-se todos esses pelourinhos em regiões

muito próximas. São exemplo os pelourinhos de

Azambuja, Colares, Povos e Vila Franca de Xira.

O pelourinho de Alverca datado de 1530 ergue-se

de uma plataforma de quatro degraus octogonais.

De base cilíndrica de forma oitavada c�ncava, de

secção estrelar. O fuste é cilíndrico helicoidal, de

1 Lino de Macedo, Antiguidades do Moderno Concelho de Vila Franca de Xira, [1893], Vila Franca de Xira, Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 1992, p. 36.

estrias espiraladas, com dois registos que torcem

em sentidos opostos, separados por nó oitavado,

saliente, com anel central. O primeiro registo é

original e está decorado com rosetas. Quanto ao

segundo é desprovido de decoração, tratando-se de

uma reconstrução.

O capitel prismático octogonal é decorado com

quatro cabeças, cada uma agarrando na boca duas

alcachofras, intercaladas por quatro escudos: um

deles com esfera armilar; do lado oposto o brasão

real encimado por coroa, utilizado desde o reinado

de D. Manuel I; um outro apresentando um rosto

masculino, com cartela saindo-lhe da boca, onde se

vê a inscrição da data.

O quarto escudo encontra-se oposto à data,

tratando-se de um segundo brasão com três torres

e muralha durante muito tempo identificado

como sendo o brasão de Santarém2, contudo,

2 Cf. Luís Chaves, «Os Pelourinhos no actual concelho de Vila Franca de Xira, na pro-víncia da Estremadura e Distrito de Lisboa», 25º Aniversário da Biblioteca-Museu Munici-pal Dr. Vidal Baptista, Boletim Comemorativo, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 1972, p. 166.

INTERPRETAÇÃO DA SIMBOLOGIA PRESENTE NO PELOURINHO

QUINHENTISTA DE ALVERCA

Page 22: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

investigações recentes revelam outra realidade. De

facto o brasão no pelourinho de Alverca apresenta

algumas semelhanças com o brasão de Santarém,

todavia a simbologia do castelo com três torres

é comum a outros brasões. Para além disso uma

observação atenta dos brasões quinhentistas de

Santarém permite descartar a hipótese daquele

estar representado no pelourinho de Alverca3. Por

outro lado, os pelourinhos eram erigidos às custas da

Câmara, e até finais da Idade Moderna, os concelhos

viviam encerrados em si mesmo. Assim, porque se

trata de um símbolo de autonomia, não é possível

que os edis alverquenses, no século XVI, tivessem

pretendido, no pelourinho do seu Concelho,

simbologia que o ligavam a um outro, bem maior

e, como se não bastasse, tão distante como seria o

de Santarém. Como argumento conclusivo há ainda

a referir que em nenhum pelourinho conhecido se

apresenta o brasão de outro concelho.

Nos pelourinhos são muitas vezes representados

brasões, nomeadamente o de Povos que apresenta, no

remate, o brasão dos Ataídes, Condes da Castanheira,

senhores desse concelho. Outros pelourinhos mostram

poder ser comum não só a inclusão do brasão dos

senhores da terra, como o do próprio concelho, como

é exemplo o de Azambuja,que inclui, na simbologia

heráldica do remate, dois brasões de armas reais e

dois do município. 3 Cf. Estrela Branco, A Heráldica do Município de Santarém, Santarém, Câmara Munici-pal de Santarém, Novembro 2001.

Em vista disto deve ponderar-se a hipótese do

brasão presente no pelourinho de Alverca ser o do

próprio concelho. Afinal tratava-se de povoação

acastelada no século XVI, como indicam as fontes

e testemunham as ruínas que restam do castelo

medieval. Citando José Mattoso: “[…] o concelho

procura e encontra símbolos que exprimem a sua

unidade, e os ostenta face ao exterior, nas suas

bandeiras, selos e escudos.”4 Mesmo os concelhos

mais modestos não dispensavam esta simbologia.

Deste modo o brasão do concelho, como “símbolo

de poder” local, era representado também na

arquitectura municipal. Assim, seria coerente

fazê-lo representar num dos símbolos maiores da

autonomia concelhia, como é o pelourinho.

Entre finais do século XIX, princípios do século XX,

grande parte destes elementos patrimoniais foram

derrubados, sob diversos pretextos, tendo alguns

deles acabado por desaparecer5. No actual concelho

de Vila Franca de Xira os pelourinhos não ficaram

incólumes ao tempo e ao vandalismo.

O pelourinho de Alverca é mencionado, em 1881,

no Relatório e mappas acerca dos edifícios que

devem ser classificados monumentos nacionaes,

apresentados ao governo pela real associação dos

architectos civis e archeologos portugueses6, onde se

refere tratar-se de um dos exemplares a necessitar

de salvaguarda. Este documento revela o facto dos

pelourinhos portugueses terem sido caracterizados

como monumentos, na legislação de salvaguarda do

património desde o século XIX, tendo sido alvo das

primeiras campanhas de classificação, como se pode

constatar no Relatório mencionado e no “decreto

nº 23122 de 11 de Outubro de 1933, logo à partida

classificados na categoria de monumento de quinta

classe, descritos como “[…] «imóveis de interêsse

público» todos aqueles que não estivessem àquela

4 José Mattoso, Obras Completas – Identificação de um País: Oposição, Volume 2, Rio de Mouro, Círculo de Leitores e Autor, Janeiro de 2001, p. 316.5 Cf. Mário Guedes Real, “Pelourinhos dos Extintos Concelhos Estremenhos – II Pelou-rinhos Demolidos”, Estremadura Boletim da Junta de Província, Série II, Números XXIX/XXX/XXXI, Janeiro/Dezembro 1952, pp. 8-10.6 Cf. Diário de Governo nº 62, 19 de Março de 1881.

Remate do pelourinho, pormenor, Carranca com data, AF

Page 23: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Antiga Casa da Câmara e pelourinho, finais do séc.XIX, MMVFX-NA

Remate do pelourinho, pormenor,Brasão de Alverca, AF

data já classificados, e tomando providências para a

sua conservação e reconstituição.”7

Em finais do século XIX, o pelourinho de Alverca

terá sido derrubado8. Desconhecem-se até à

data os motivos da sua queda, o Coronel Edgar

Cardoso indica ter sido derrubado pelo “tempo e

as intempéries”9, embora esta seja uma informação

escassa é, até ao momento a única disponível. No

inicio do século XX Alberto Pimentel adianta “[…]

havia no meio da praça [João Mantas] um pelourinho,

symbolo da antiga autonomia municipal; foi apeado

e está guardado na cadêa.”10 Cerca de trinta anos

depois o Boletim da Junta de Provincia do Ribatejo

dá conta de restarem somente a base e o capitel11,

informação incompleta, pois existia também uma

parte da coluna original.

Segundo o IGESPAR12, este pelourinho foi

classificado como Imóvel de Interesse Público

pelo Decreto n.º 23.122, DG 231, de 11 de Outubro

de 1933, encontrando-se à data ainda derrubado.

Alguns elementos permaneceram junto ao edifício

da antiga Câmara, até 1988, quando – num esforço

7 Garcez Teixeira, “Inquérito Sobre Pelourinhos”, Revista de Arqueologia, Tomo III, 1936, p. 52.8 Cf. José do Carmo Pacheco, Op. Cit., p. 109.9 Edgar Pereira da Costa Cardoso, O Jubileu das Oficinas Gerais de Material Aeronáuti-co, Alverca, Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, 1968, p. 22.10 Alberto Pimentel, Alberto Pimentel, Portugal Pittoresco e Illustrado – A Extremadura Portugueza – Primeira Parte – O Ribatejo, Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, 1908, p. 146.11 “Freguesias do Concelho de Vila Franca de Xira - Freguesia de Alverca”, “Freguesias do Concelho de Vila Franca de Xira - Freguesia de Alverca”, Boletim da Junta de Provincia do Ribatejo, n.º 1, anos de 1937-1940, Lisboa, Oficinas Bertrand (Irmãos), L.da, 1940, p. 662.12 Cf.http://www.monumentos.pt/scripts/zope.pcgi/ipa/frameset?nome=ipa&upframe=upframe3&downframe=ipa.html

Pelourinho de Alverca, AF

conjunto entre a antiga DGEMN, Câmara Municipal

de Vila Franca de Xira e Junta de Freguesia de

Alverca – foi reconstruído e reimplantado no local

de origem13. A reconstrução foi possível devido ao

facto de existirem três elementos originais, para

além de uma fotografia, datada do século XIX,

indispensável para a reconstrução dos elementos

em falta excepto no respeitante ao remate. A pouca

nitidez da imagem, relativamente a esse elemento,

terá tornado impossível a sua reconstituição14.

O pelourinho de Alverca é um testemunho do

antigo Concelho, constitui memória das acções

administrativas e judiciais daquela Câmara até

1855. Actualmente é um dos mais belos elementos

patrimoniais da freguesia. Ao passar por ele é difícil

deixar de reflectir sobre a importância da História e

Patrimónios locais.

13 Cf. Paula Monteiro, “Os Pelourinhos do Concelho de Vila Franca de Xira”, catálogo da exposição Memórias de Pedra e Cal, Vila Franca de Xira, MMVFX, 2001, p. 87.14 Sobre o processo de recuperação do pelourinho de Alverca consultar documento Sobre o processo de recuperação do pelourinho de Alverca consultar documento on-line da DGEMN: http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B1.aspx.

Page 24: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Modernizar as vias de comunicação do reino foi um

dos projectos relevantes no reinado de D. Maria I

[1777-1792]. Tratava-se de um importante factor

para o desenvolvimento económico de Portugal,

na verdade, a melhoria das estradas traduzia-

se num crescimento dos meios de transporte e

comunicação, estreitando laços entre os povos

e incrementando o comércio. A Estrada Real de

Lisboa a Santarém foi uma das obras realizadas

nesse âmbito.

Numa primeira disposição real, o troço que ia de

Sacavém a Alverca foi alargado e em ambos os

lados mandaram-se plantar oliveiras1. De modo a

assinalar o termo da cidade de Lisboa – localizado

no limite do ribeiro da Alfarrobeira, na Verdelha

– foram erguidos dois padrões, um em cada

lado da estrada, em cuja base está gravado um

texto comemorativo. A sua leitura permite saber

que, pelo menos até aos padrões, a estrada era

1 Cf. Luís de Oliveira Ramos, D. Maria I, Lisboa, Círculo dos Leitores e Centro de Estu-dos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Janeiro/Fevereiro 2007, p. 273.

calcetada, confirma o plantio de oliveiras com a

justificação de “o frvcto das ditas oliveiras servir p.a

a Real Casa Pia e illvminaçaõ da cidade de Lisboa.”

O texto indica ainda que, aquele troço de obra,

com a data de 1782, estava a cargo do Intendente

Pina Manique. De acordo com Luís Vasconcelhos

“A extensão total das estradas do Intendente mal

atingirá os 25 km. Pina Manique deu execução

àquilo que estava dentro da sua competência

– o termo de Lisboa –, e em proporção com o

rendimentos de que dispunha.”2

2 Idem, p. 472.

Padrões do termo de Lisboa. AF

A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA REAL DE D. MARIA I E O MARCO

DE IV LÉGUA EM ALVERCA

Page 26: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Posteriormente procedeu-se à construção do

troço da Estrada Real de Lisboa a Santarém,

correspondente a 14 léguas. A construção daquele

troço da estrada, estava a cargo de D. José Luís de

Meneses e Abranches Castelo Branco, sexto Conde

de Valadares e inspector-geral do Terreiro Público

de Lisboa, o qual obedecia a um Aviso, datado de

7 de Maio de 1784, o qual “[…] mandava preparar

a estrada entre Alverca (sitio da Verdelha, limite

do termo de Lisboa) e Vila Franca de Xira, a fim

de por ela transitar a Soberana na sua jornada a

Salvaterra.”3 A obra terá sido construída, em parte,

com a contribuição monetária das Câmaras4, entre

as quais se encontrava a de Alverca. Dos mapas

de despesas destaca-se o de 1789/1790, o único

encontrado que apresenta referência, não só às

colunas dos marcos, como aos relógios de sol

que as rematam. A análise desses mapas permite

perceber que, para além da construção da estrada,

se procedeu ao arranjo de caminhos, de pontes, de

fontanários e ao plantio de árvores nas bermas da

nova estrada, como se pode verificar pelo extracto

em baixo5.

De acordo com a correspondência que deixou,

dirigida à rainha e ao governo, o Conde de Valadares

contou com a colaboração de alguns homens de

3 Luís Vasconcelos, “O Fomento de Estradas no reinado de D. Maria I”, Sven Sk�dsga- Luís Vasconcelos, “O Fomento de Estradas no reinado de D. Maria I”, Sven Sk�dsga-ard; John Kuhlmann Madsen, Hispanismen omkring Sven Skydsgaard: studier i spansk og portugisisk sprog, litteratur og kultur til minde om Sven Skydsgaard, Museum Tusculanum Press, 1981, p. 475.4 AMOP, Ministério do Reino – Correspondência Recebida do Conde de Valadares como Encarregado das Obras do Ribatejo, Carta de 29 de Maio de 1784, Bobine 41, Mr. 43, p. 91.5 AHMOP, Ministério do Reino – Correspondência Recebida do Conde de Valadares como Encarregado das Obras do Ribatejo, Bobine 41, Mr. 43, p. 624.

confiança, naturais das zonas próximas das obras

de construção. De acordo com palavras suas “Logo

que me foi dirigida a ordem de S. Majestade em

aviso de 7 de Maio de 1784 para mandar concertar

a estrada do fim do Termo de Lisboa até Vila Franca

de Xira, me foi necessário nomear um homem capaz

de dirigir aquela dita obra, pagar a despesa dela,

e receber do Cofre do Terreiro o dinheiro para isso

necessário.”6 Em Alverca escolheu para esse papel

José da Rocha, Capitão de uma das Companhias de

Ordenança7, por considerar tratar-se de uma “[…]

pessoa ágil, pratica, e fidedigna […]”8.

Devido ao bom desempenho nessas funções, por

diversas vezes o Conde de Valadares solicitou à

Rainha que recompensasse José da Rocha pois, tal

como afirma numa carta datada de 13 de Fevereiro

de 1786, “Este homem que até ao presente tem

trabalhado de dia e de noite, com incómodo de

sua casa e família, e despendendo da sua fazenda,

exposto a todo o rigor do tempo, com incansável

desvelo no Serviço do Público, e de Sua Majestade

[…]”9 merecia ser agraciado com um ofício ou

uma qualquer indemnização. Em 28 Agosto 1788

reforçava essa intenção indicando que o “[…]

Capitão José da Rocha, não só se empregou no

Pagamento dos Operários desde Julho de mil

setecentos, e oitenta e quatro, principiando no sitio

da Verdelha , primeiro Lugar depois do termo desta

Cidade, e continuando até Azambuja, Alenquer,

Caldas, Nazaré, Alcobaça, Batalha, Engenho dos

Vidros e Leiria, não só cumpriu com a sua obrigação

de pagador mas dirigiu e assistiu a todas as obras,

que nestes Lugares se tem feito, de noite e de dia,

com criados e cavalos a sua custa, os quais fazia

girar por muitas partes em beneficio das Obras e

da Condução dos dinheiros para satisfação delas.”10

Perante estes dados fica-nos a certeza que para o

6 AHMOP, Ministério do Reino – Correspondência Recebida do Conde de Valadares como Encarregado das Obras do Ribatejo, Bobine 41, Mr. 43, p. 154.7 Cf. Anabela Ferreira, CASA DA CÂMARA DE ALVERCA – Conhecer a sua História, Valorizar um Património (1755-1855), Volume de Anexos, Dissertação do Mestrado em Estudos do Património, texto policopiado, Centro de Documentação do Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 2007, p.112. 8 AHMOP, Ministério do Reino – Correspondência Recebida do Conde de Valadares como Encarregado das Obras do Ribatejo, Bobine 41, Mr. 43, p. 154.9 Idem, Ibidem10 Idem, p. 270.

EXTRACTO DO MAPA DE DESPESAS

DAS OBRAS DO RIBATEJO

1789 e 1790Dispendido na reforma das calçadas de Alverca.. 43$200 Idem de Vila Franca ....................................... 28$880Idem da Castanheira ....................................... 17$980Idem de Povos ............................................... 4$240Idem de Alhandra ........................................ 364$900Dispendido em pedestais e relógios................ 455$932Dispendido na reforma dos caminhos .......... 1.863$810Dispendido na fonte de Vila Franca ................ 374$280Dispendido em plantações nas estradas ....... 1.113$485Idem no cais de Povos ............................. 4.618$360

Page 27: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

sucesso das obras da Estrada Real muito contribuiu

o Capitão José da Rocha, excedendo aquilo que

se esperava dele, não se limitando a cuidar do

troço que passava por Alverca, mas cuidando de

toda a estrada, por certo por perceber que só a

obra concluída haveria de trazer benefícios ao,

então pequeno Concelho, onde exercia funções de

Capitão.

Ao longo da Estrada Real foram dispostos marcos

com indicação das léguas11. No Concelho de Vila

Franca de Xira conhecem-se três desses exemplares:

o marco de IV légua localizado em Alverca; o de

V em Vila Franca de Xira; o de VI na Castanheira.

De acordo com a inscrição da coluna deste último

marco – localizado no muro exterior da Quinta do

Fidalgo, a Norte da Castanheira – no ano de 1788,

D. Maria I ordenou a demarcação da estrada, com

padrões indicando as léguas de distância com a

capital do reino, correspondendo cada uma a “três

mil oitocentos e Quatro passos geométricos”.

Todos estes marcos são muito semelhantes,

esculpidos em calcário, compõem-se de: base

cúbica; corpo central, talhado num paralelepípedo

rectangular; remate constituído por duas peças,

sendo a inferior uma estrutura piramidal de

base quadrada, encimada por uma esfera,

onde se incorpora um relógio de Sol, de tipo

vertical-fixo, apresentando algumas diferenças

relativas ao traçado do mostrador entre os

vários marcos mencionados. As linhas de horas

e a numeração romana, que as indica, são

gravadas na pedra, possibilitando a leitura das

horas e meias horas. O gnómon – geralmente um

esquadro ou estilete, cuja sombra é projectada

no mostrador, pela luz do sol permitindo a leitura

da hora solar, também designada como hora

local – era de bronze, de acordo com vestígios

ainda persistentes no exemplar de Alverca.

11 � época a légua correspondia a 6179m � época a légua correspondia a 6179m Cf. Zeferino, “Estrada de Lisboa a Santarém – Demarcação”, Vida Ribatejana, Número Especial, 1964, p. 142.

Marco de VI Légua, Castanheira. AF

Relativamente ao estudo de impacto que terá tido

a obra de construção deste troço da estrada

real, ainda há muito por investigar, pois parte

da documentação ainda não está disponível ao

público, é possível que outros dados venham a ser

conhecidos relativamente à história de Alverca. Já

no que respeita à valorização do nosso património

os Marcos de Légua foram classificados, em 1943,

como Imóveis de Interesse Público12, deste modo

encontram-se protegidos contra qualquer tipo

de acção que vise a sua destruição ou deturpação

arquitectónica. Contudo, tal protecção não

impediu que os marcos de IV e de V légua fossem

derrubados.

O marco de IV légua encontrava-se, originalmente,

na berma norte da Estrada Nacional 10, ao

quilómetro 16.810, à saída de Alverca. Após um

acidente de viação, ocorrido em 1985, os vários

elementos foram desagregados. A coluna foi

guardada no armazém da Junta de Freguesia

12 Decreto n.º 32973, 18-8-1943. Decreto n.º 32973, 18-8-1943.

Page 28: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

de Alverca. O relógio de sol foi colocado numa

pequena área ajardinada, em frente ao Mercado

Municipal.

Em relação ao marco de V légua, localizava-se

originalmente na rua 5 de Outubro, junto da casa

do Sr. Dr. Clemente dos Santos. Desconhece-se o

motivo do seu derrube, embora se possa equacionar

a hipótese de se ter tratado de um acidente de

viação, tal como ocorreu com o marco de Alverca.

A base e o corpo central encontram-se guardados

num depósito da Câmara Municipal de Vila Franca

de Xira, o remate com relógio de sol foi colocado

no Jardim Municipal. Até há pouco tempo, o único

marco intacto e in situ, era o de VI légua, à saída da

Castanheira.

Tratando-se de elementos classificados, teste-

munhos da arquitectura civil do século XVIII, a sua

recuperação tornava-se imperativa. Em resultado

disso, numa iniciativa da Câmara Municipal de Vila

Franca de Xira, com apoio da Junta de Freguesia

de Alverca, em Fevereiro de 2007, foi restaurado o

marco de IV légua. A sua recuperação incluiu limpeza

da pedra, construção de um gnómon, de modo a

possibilitar a leitura da hora local, e a implantação a

cerca de oitenta metros do local de origem, decisão

que se prendeu com a sua valorização, permitindo

maior visibilidade e melhor acesso.

De novo erguido em toda a sua imponência,

o marco de IV légua recupera a sua dignidade

como elemento do património nacional. Para

além de recuperar um monumento do património

arquitectónico, resgatou-se a memória de um

elemento importante da História de Alverca,

pois a construção da Estrada Real terá por certo

contribuído para a evolução económica, ocorrida

a partir século XIX, traduzida num aumento de

produção e da população da localidade.

Marco de IV Légua, após a recuperação. AF.

Page 29: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Relativamente às Invasões Francesas, episódio

marcante da nossa História, são inúmeros os

estudos publicados relativos a este assunto, de

facto a bibliografia é extensa, contudo, como

acontece em tantos outros casos, ainda há muito

por investigar no que concerne à História Local.

Por essa razão pretende-se lançar algumas

luzes relativas às consequências das Invasões

Francesas em Alverca, embora se mencionem os

acontecimentos gerais, a investigação centrou-se

nesta localidade.

A primeira invasão, sob o comandado do general

Junot, ocorreu em Novembro de 1807. Os relatos

conhecidos reflectem casos ocorridos em Vila

Franca de Xira1, embora se possam encontrar breves

referências a Alverca, uma vez que esta, como as

povoações vizinhas, se encontrava no percurso

de passagem das tropas invasoras a caminho de

Lisboa, de onde a corte havia fugido poucos dias

1 Cf. Lino de Macedo, Antiguidades do Moderno Concelho de Vila Franca de Xira, [1893], Vila Franca de Xira, Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 1992, p. 94; e João José Miguel Ferreira da Silva Amaral, Ofertas Históricas Relativas à Povoação de Vila Franca de Xira para Instrução dos Vindouros [1856], I vol., Vila Franca de Xira, Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 1991.

antes. Tomando posse do reino, de imediato Junot

começou a expedir ordens. Entre Dezembro de

1807 e Fevereiro de 1808 foram emitidos diversos

decretos obrigando a população à entrega de ouro

e prata oriundos das Confrarias. Os concelhos de

Alhandra, Alverca, Arruda, Castanheira, Povos e

Vila Franca de Xira depositaram os seus tesouros

na sede da Comarca do Ribatejo – localizada na

Castanheira – os quais foram, depois, remetidos

para Lisboa. Segundo João Amaral, desta comarca

saíram 30 arrobas – o equivalente grosso modo a

459 quilogramas – de prata2.

Para além do referido, uma das primeiras acções

de Junot, em Dezembro de 1807, foi a tentativa de,

progressivamente, destruir o exército português,

começando por ordenar a entrega de armamento

das milícias aos capitães-mores que as deviam

conduzir ao arsenal de Lisboa, ordem cumprida de

forma lenta e inconclusiva3. Em Alverca existiam,

2 Cf. João José Miguel Ferreira da Silva Amaral, Op. Cit., pp. 144-145.3 Cf. Pires Nunes, “As Milícias e as Ordenanças em Portugal durante a Guerra Penin-sular”, Guerra Peninsular – Novas Interpretações – Actas do Congresso Realizado em 28 e 29 de Outubro de 2002, Lisboa, Instituto da Defesa nacional, Tribuna, Setembro 2005, p. 230.

ALVERCA NO DECORRER DAS INVASÕES FRANCESAS

Page 30: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

à época três Companhias de Ordenança, sendo a

primeira localizada na vila, a segunda no termo e

a terceira na aldeia de São Fernando a qual, pelo

que foi possível apurar, se tratava de um reguengo

sujeito a este antigo concelho4. As Companhias de

Ordenança eram responsáveis pelo policiamento

da povoação e, sobretudo, pelo recrutamento

militar, constituindo uma das esferas de poder do

concelho5. Desconhece-se até que ponto as ordens

de Junot foram ou não cumpridas, o certo é que no

Livro de Registo de Mancebos Capazes de entrarem

no Concurso das Sortes6, onde se registavam a

acções das companhias, sobretudo no respeitante

à recruta, pode observar-se um interregno dos

registos entre 1807/1808. De acordo com o tenente-

coronel Pires Nunes, as Companhias de Ordenança

constituíram a terceira linha defensiva do exército

português, tendo tido um papel meramente

patriótico e clandestino, numa primeira fase, que

posteriormente havia de ocupar uma posição mais

relevante, tendo integrado o exército português7.

Em 30 de Agosto de 1808, após as batalhas da

Roliça e do Vimeiro, é assinada a convenção de

Sintra obrigando à retirada das tropas invasoras.

Em Março de 1809 dava-se a segunda invasão, a

qual assombrou o norte do país, apesar do curto

período em que o exército francês permaneceu

dentro das nossas fronteiras, antes de ser expulso

a 17 de Maio.

Entretanto, certos que haveria de ocorrer uma

terceira invasão francesa, o exército luso-britânico,

sob o comando do general Wellington, dava início

à construção das três linhas defensivas, que viriam

a ser conhecidas como Linhas de Torres Vedras, as

quais visavam impedir o acesso do inimigo a Lisboa.

A povoação de Alverca ficava localizada entre as

duas primeiras linhas defensivas, a primeira tinha

início em Alhandra, a segunda, mais a sul, iniciava-

4 Cf. Anabela Ferreira, Op. Cit., 2007, p. 147.5 Cf, Idem, pp. 145-148.6 AHVFX, Livro de Registo de Mancebos Capazes de entrarem no Concurso das Sortes, de 8 de Dezembro de 1764 a 8 de Fevereiro de 1814, Concelho de Alverca, H/006.7 Cf. Pires Nunes, Op. Cit., p. 231.

se na Quintela, na actual freguesia do Forte da

Casa. Embora não existam dados concretos,

relacionados com Alverca, sabe-se que o esforço de

defender o território de uma nova invasão exigiu da

população sacrifícios extremos, que se traduziram

no envolvimento da construção das fortificações

e no abandono de casas e terras, uma vez que

parte da estratégia militar consistia na política

de terra queimada, com o objectivo de impedir o

reabastecimento das forças invasoras8.

No trabalho de construção das fortalezas,

redutos e estradas militares estavam envolvidas

mulheres, velhos e crianças, sendo que a maior

parte dos homens válidos foram alistados nas

companhias de ordenança e reencaminhados

para os vários regimentos do exército9, embora 8 A.H. Norris, R.W. Bremner, As Linhas de Torres Vedras – As três primeiras linhas e as fortificações a Sul do Tejo, Torres Vedras, Câmara Municipal de Torres Vedras/Museu Municipal Leonel Trindade/British Historical Societ� de Portugal, 2001, p. 16 e 39.9 Cf. A.H. Norris, R.W. Bremner, As Linhas de Torres Vedras – As três primeiras linhas e

Reduto do Chão da Oliveira AF

Page 31: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

o já referido Livro das Sortes, do antigo Concelho

de Alverca, revelar que, entre 1809 e 1812, não

foram efectuados registos de qualquer actividade

por parte das companhias de ordenança. Contudo

tal facto pode não significar inactividade mas, pelo

contrário, um período de intenso envolvimento

não só na construção das fortificações defensivas

como também nas campanhas militares de um

modo geral. De facto num memorando do general

Wellington, datado de 6 Outubro de 1810, este dá

conta de que as tropas luso-britânicas, na região,

foram reunidas em seis distritos, sendo que o quarto

ia “[…] do Tejo, junto a Alverca, pelo caminho de

Bucelas inclusive [...]”10 com quartel-general nessa

segunda povoação, sendo composto por cinco

mil homens, dos quais quinhentos provinham das

ordenanças11. Faz todo o sentido que, entre esses

homens, estivessem o sargento-mor e mais oficiais

das companhias de ordenança de Alverca, embora

até ao momento não tenha sido possível confirmar

esse dado.

De concreto existe o conhecimento de que a antiga

Casa da Câmara terá sido arruinada neste período,

pois diversos documentos apontam esse facto.

Logo no início das Audiências de Capítulo ocorridas

em 1812, o escrivão dava conta que o corregedor, e

oficiais da Câmara, se haviam reunido numa casa,

onde o primeiro estava hospedado, “[...] por se

achar arruinadas as casas da Camera [...].”12 Mais há

frente, tendo sido questionados sobre a segurança

da cadeia, os oficiais “Responderaõ estar muito

a Ruinada [sic] por cauza das Tropas.”13 O texto,

parece sugerir a utilização da Casa da Câmara

como aquartelamento de tropas aliadas. Por um

lado porque, de modo algum é referida a presença

do “inimigo”, como geralmente são referenciadas

as tropas invasoras francesas nos textos coevos,

as fortificações a Sul do Tejo, Torres Vedras, Câmara Municipal de Torres Vedras/Museu Municipal Leonel Trindade/British Historical Societ� de Portugal, 2001, p. 16 e 39.10 Lieut Colonel Gurwood, Lieut Colonel Gurwood, The despatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. – During his various campains in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818, vol. VI, London, John Murra� – Albemarle Street, 1836, p. 462.11 Cf. Idem, pp. 462-463.12 AHVFX, AHVFX, Livro de Registo das Audiências de Capítulos que os Corregedores das Comar-cas Fizeram na Vila de Alverca, 1810-1832, Concelho de Alverca, J/A 001.1, fl. 4.13 Idem, fl. 4v.

por outro lado há referências que permitem supor

a existência de um posto de aquartelamento em

Alverca. Um despacho de 11 de Outubro de 1810

refere o envio de duzentos voluntários da artilharia

de Bucelas para Alverca14.

Também numa obra de memórias da Guerra

Peninsular, editada por W. H. Maxwell em 1845,

existem indicações que, em 1813, um contingente

de tropas aliadas, estava estacionado em Alverca15.

Deste modo, embora as informações a esse respeito

sejam escassas, e não seja feita referência à casa da

Câmara, se de facto as tropas estavam aquarteladas

na localidade, aquele edifício podia ter sido utilizado

para as albergar. A verdade é que, de acordo com a

análise de outras fontes, se sabe que pelo menos

desde Janeiro de 1811 a Maio de 1816, devido à

ruína do edifício, não foi possível realizarem-se as

funções habituais na Casa da Câmara16.

14 Lieut Colonel Gurwood, Lieut Colonel Gurwood, Op. Cit., p. 487.15 Cf. W. H. Maxwell (ed.), Peninsular Sketches by Actors on the Scene, Volume II, East Sussex, The Naval & Militar� Press, Lda., 2002, p. 369. Esta obra teve a sua primeira edição em 1845.16 Cf. Anabela Ferreira, Op. Cit, 2007, p. 93.

Forte dos Sinais, AF

Page 32: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Deste conturbado período da História nacional e

local permaneceram, até aos nossos dias, alguns

vestígios das fortificações que constituiriam

as linhas defensivas que impediram o general

Massena de chegar a Lisboa, no decorrer da

terceira invasão francesa, contribuindo para a

definitiva derrota das tropas de Napoleão. Estes

baluartes militares, constituem elementos do

nosso património, embora muitos já tenham sido

destruídos pelo tempo e pela incúria do Homem.

Dentro dos limites do antigo Concelho de Alverca

nos montes a nordeste da Calhandriz e de A-dos-

Melros, foram construídos: o Reduto Subida da

Serra, a Baterias dos Melros, ambos actualmente

destruídos, o Reduto do Chão da Oliveira, o Reduto

das Sarnadas, o Forte do Moinho Branco (conhecido

como “dos Sinais”) e o Reduto do Casal da Entrega

dos quais restam ainda vestígios, sendo possível a

sua conservação.

De modo a prover o inventário e consequente

classificação destes elementos patrimoniais

foi criada, há alguns anos, uma plataforma

intermunicipal, envolvendo os concelhos de

Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de

Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.

Da acção conjunta destes concelhos, para além do

esforço dispendido na sensibilização e divulgação

deste património, alguns dos fortes estão em

vias de classificação e, no momento, procura

promover-se a classificação dos vestígios da linha

defensiva como um todo, de modo a garantir uma

protecção mais efectiva.

Em Alverca continua a promover-se a investigação,

de modo a permitir um conhecimento mais amplo

da nossa História e do nosso Património. Deste

modo foi possível reunir os dados agora expostos,

os quais permitem perceber a relação da localidade

e das suas gentes durante o período das Invasões

Francesas, revelando que a população do antigo

Concelho de Alverca fez parte do grupo de heróis

anónimos, que sacrificaram as suas casas e as suas

terras, dedicando-se à defesa do país. Embora

os seus nomes sejam desconhecidos, as suas

acções ainda hoje podem ser recordadas quando

se avistam, no cume dos montes, o que resta das

fortificações que ajudaram a construir.

Page 33: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

A TOPONÍMIA

O primitivo núcleo habitacional de Alverca localiza-

se numa das áreas mais elevadas da povoação.

O traçado sinuoso das ruas estreitas, calçadas

com paralelepípedos de calcário ou basalto1, os

topónimos, o tipo de construção, são memórias

da antiga vila. Tanto quanto é possível observar no

local, o povoado primitivo incluía as actuais Rua

do Castelo (Este-Norte), Largo Gregório Nunes

(Oeste), Calçada do Terreirinho (Sul), Rua do

Açougue Velho, Rua do Outeiro, as Travessas do

Traquite e da Cumeira. Fora da muralha ficavam

as actuais ruas João Mantas, Dr. Miguel Bombarda

e Boca Lara. Esta toponímia está intimamente

relacionada com as vivências e com o património

do antigo Concelho de Alverca, por essa razão o

seu conhecimento contribui para a valorização e

preservação do núcleo histórico.

1 Provavelmente originários da região. A área localizada a noroeste do concelho é de composição maioritariamente calcária, embora numa área próxima de Alverca – Pe-dreira da Moita Ladra – o terreno seja constituído por basalto.

Iniciemos a visita ao Núcleo Histórico subindo a

Escadinha do Adro a qual desemboca no adro

da Igreja Matriz. No sentido Norte encontra-se a

Rua do Castelo. No cimo dessa rua encontra-se

a travessa com mesmo nome, ao fundo da qual

aparece um portão de ferro, que dá acesso a uma

área com pequenas hortas, onde se localizam as

ruínas do castelo medieval, origem do topónimo.

CONHECER O NÚCLEO HISTÓRICO DE ALVERCA

Travessa do Castelo AF

Page 34: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Toda a área da colina é conhecida como Colina

do Castelo. Da rua do Castelo pode seguir-se pela

Ladeira das Pias, que desce no sentido Oeste,

cujo nome tem origem nos lavadouros públicos

construídos ao fundo da ladeira, nos anos 50 do

século XX.

Em vez da Ladeira das Pias, pode antes optar-se por

seguir pela Rua da Cumeira, assim denominada

por ser a que se encontra mais acima na antiga

povoação. Esta rua é mencionada nos Tombos de

Alverca das Capelas de D. Afonso IV, em documentos

do último quartel do século XVI2.

Nas memórias paroquiais manuscritas em 1758 pelo

Padre Manuel Henriques lê-se “Dentro na villa havia

huma Irmida de Santo António Portuguez chamado

por antornomazia [sic] da Come�ra, por estar no

alto da villa com o mesmo nome inter muros da

quinta de Donna Josepha Caetana Barbosa de

Mello […]”3. Desta ermida só resta a memória, pois

foi derrubada pelo terramoto de 1755.

Um pouco mais abaixo encontramos o largo do

Açougue Velho, o qual desemboca na rua com o

mesmo topónimo. Os açougues eram estruturas

camarárias, controladas pela Câmara, ali se abatia

o gado e se comercializava a carne.

Segue-se, no sentido Sul, a Rua do Outeiro,

passando por cima do Largo Gregório Nunes. Nela

se destacam alguns edifícios bastante arruinados,

a necessitar de intervenção urgente, para além

do edifício onde actualmente funciona a sede da

União Columbófila de Alverca, fundada em 1947. O

largo, com escadaria, surge um pouco mais acima

a Sudoeste. Este topónimo era já conhecido no

século XVI, sendo diversas vezes referenciado nos,

já referidos, Tombos das Capelas4. Também num

dos livros de lançamento da décima, datado de 1762

2 Cf. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Núcleo Antigo, Tombo de Alverca, Livro XXIV, Parte I, Cx. 270, fl. 231.3 ANTT, Memórias Paroquiais, Dicionário Geográfico, volume 3, memoria 43, pp. 329-342.4 Cf. ANTT, Núcleo Antigo, Tombo de Alverca, Livro XXIV, Parte I, Cx. 270, fls. 40, 47, 88 e 89.

surge referência a esta rua. A análise do documento

permite perceber que grande parte dos moradores,

ali registados, eram marítimos e pagavam décima

pela habitação e pela bateira5.

Um pouco mais adiante encontra-se a Travessa do

Traquite, da qual até ao momento não foi possível

averiguar a origem do topónimo. Já a calçada e o

largo do Terreirinho, um pouco mais em baixo,

têm o topónimo justificado pelo pequeno terreiro

ali localizado.

No Largo Gregório Nunes encontramos, numa

plataforma plana, um antigo fontanário, há muito

desactivado. De acordo com o Sr. Arnaldo Barros,

foi o primeiro fontanário com água canalizada da

povoação6. No século XIX o largo tinha o topónimo

de Pelourinho Velho7. Aqui terão estado localizados

os primitivos Paço do Concelho de Alverca.

Relativamente a Gregório Nunes (1786-1835/40),

era natural do Lugar do Moinho de Vento, em

Alverca, a tradição local recorda-o como herói da

Guerra Peninsular8.

5 Arquivo Histórico do Tribunal de Contas, V.ª de Alverca Prédios Maneyos, Juros do 4º Qtel de 1762 e anno de 1763, Décima da Estremadura, Mç. 358, n.º 10, fls. 23-26.6 Em entrevista efectuada em 2005.7 MMNA, Testamento de Fortunata Augusta de Sousa, 1867/1868, doc. 2, fl 4v.8 Cf. José do Carmo Pacheco, Monografia de Alverca, Alverca, Junta de Freguesia de Alverca, 1998, p. 98.

Largo do Outeiro AF

Page 35: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Em baixo, no sentido Sul, localiza-se Rua da Boca

Lara. A origem do topónimo é, até ao momento,

desconhecida. Em tempos formava com a rua

Miguel Bombarda uma única artéria. A Oeste surge

a Rua do Moinho, numa zona onde o casario antigo

começa a desaparecer. A rua íngreme vai dar a um

aglomerado habitacional moderno. Do moinho só

resta o topónimo.

A Rua Miguel Bombarda foi, durante séculos, a

principal artéria de Alverca. A Estrada Real de D.

Maria I passava por ali. Aí se encontravam as casas

nobres, como o actual edifício da Junta de Freguesia,

os estabelecimentos comerciais, e a Misericórdia.

Nessa rua nos números 39 e 40 funciona a mercearia

tradicional do Sr. Luís Cipriano, proprietário desde

19669, a qual mantém os traços característicos

das mercearias dos anos 50/60, constituindo um

testemunho do comércio tradicional, já a rarear

neste país. Miguel Augusto Bombarda (1851-

1910), foi médico, escritor e político. Fundador da

Liga Nacional contra a Tuberculose. Republicano

empenhado, foi assassinado pouco antes da

revolução10.

À direita do edifício da Junta de Freguesia encontra-

se a Travessa do Guerreiro. É possível que este

topónimo esteja ligado a uma antiga família de

Alverca cujos membros, provavelmente com

residência na travessa, se ocuparam por diversas

vezes de importantes cargos da antiga Câmara.

Destacam-se Luís Guerreiro, que foi administrador

do Concelho de Alverca em 1836 11 e presidente em

185012, e Manuel Guerreiro que, em 1842, D. Maria I

nomeava “[...] Attendendo ao que me representou

[…], e aos serviços que prestara a favor da cauza

da Liberdade: Houve por bem fazer-lhe Mercê do

Officio d’escrivaõ, e tabelliaõ do Juizo Ordinário

9 Cf. Inocêncio Casquinha; Mariana R. Ortigão, “Lojas Tradicionais”, O Comércio em Vila Franca de Xira, catálogo, Museu Municipal de Vila Franca de Xira, Junho 1995, p.13310 Cf. Joel Serrão (Dir.), Dicionário de História de Portugal, Vol. I, Porto, Livraria Figuei-rinhas, s/d, p. 356.11 AHVFX, AHVFX, Livro de entráda e Sahida de Dinheiro do Coffre da Recibedoria dos rendimen-tos pertencentes às Reaes Cappelas do Senhor Rei D. Aff.º 4º, 1839, Concelho de Alverca, E/A.003, fl 1v12 AHVFX, Correspondência recebida das CM para a Administração do Concelho, 20 AHVFX, Correspondência recebida das CM para a Administração do Concelho, 20 Dezembro 1851, Concelho de Alverca, C/A 003.

[...]”13. Em 1855, ano da extinção do Concelho de

Alverca, o mesmo Manuel Guerreiro detinha o cargo

de vereador.A última rua ligada ao núcleo histórico

tem, actualmente o topónimo de João Mantas.

Na praça, conhecida no século XIX como Praça do

Pelourinho14, localiza-se o próprio pelourinho e a

antiga Casa da Câmara de Alverca, actualmente

dependências do Núcleo de Alverca do Museu

Municipal de Vila Franca de Xira. Na rua, podem

ver-se a Casa de São Pedro, actualmente um lar de

terceira idade, para além de alguns outros edifícios

do século XVIII. João Mantas terá sido natural de

Alverca, viveu aparentemente no século XIX, seria

proprietário da Quinta do Galvão e da Casa de São

Pedro15.

PATRIMÓNIO EDIFICADO

Após se ter caracterizado o Núcleo Histórico de

Alverca no que respeita à toponímia do lugar e

se haver referido que, parte dessa toponímia, se

encontra relacionada com o património existente,

vai procurar, agora, caracterizar-se esse mesmo

património, começando pelo elemento que se julga

ser o mais antigo na povoação:

Castelo

O castelo de Alverca encontra-se a Noroeste do

aglomerado urbano. Dele restam duas paredes e

uma lenda, pouco se conhece da sua origem. Há

quem afirme poder tratar-se de uma construção

ainda do período islâmico, embora só uma

intervenção arqueológica o possa confirmar. A

referência, mais antiga, encontrada até à data,

encontra-se na carta de D. Pedro I de confirmação

do Concelho de Alverca, emitida em 24 de

Agosto de 1357, onde se lê que “[…] o dito Senhor

confirmou e outorgou ao castelo e homens bons

de Alverca todos os seus privilégios […]”16. Outra

fonte importante, para o conhecimento do

13 ANTT, ANTT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, Livro 18, fl. 154.14 Cf. Conservatória do Registo Predial de Vila Franca de Xira – 2ª Repartição – Alverca, Descrição Predial n.º 2:175, fl. 59.15 Cf. José do Carmo Pacheco, Op. Cit., p. 99.16 Chancelaria de D. Pedro I – Comuns, Livro 1, fl. 11 v.

Page 36: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

castelo, encontra-se nos Tombos de Alverca das

Capelas de D. Afonso IV, em documento datado

de 20 Março 1588, lê-se: “[...] este castelo esta no

alto da Vila por sima da igreja [...] tem de comprido

pola banda do sul simquoenta e huã varas de canto

ha canto da qual banda temos serventias e janelas

principaes que caem sobre ho adro [...].”17 Durante

o tempo em que se realizou o Tombo das Capelas

de D. Afonso IV, serviu de pousada ao Juiz dessa

instituição18.

O alcaide do castelo de Alverca era o provedor das

mesmas Capelas de D. Afonso IV, como guardião

do castelo era responsável pela sua segurança e

manutenção. José do Carmo Pacheco recorda: “No

princípio deste século [na zona envolvente entre

o Castelo e a Igreja] ainda eram visíveis ruínas de

muros desmoronados, a que os antigos chamavam

“Praça de Armas do Castelo”.19 Alguns autores

afirmam que a decadência e ruína do castelo se deve

em muito à acção do Terramoto de 1755. Contudo

as Memórias Paroquiais não lhe fazem referência, o

que pode não ser prova de coisa alguma, visto que

nesse documento também não refere a ruína da

Casa da Câmara, nesse mesmo período. É possível

que, à época, o castelo já estivesse em decadência e

o terramoto tenha contribuído para a sua derrocada.

De qualquer modo num documento com referência

às propriedades ainda pertença das Capelas de D.

Afonso IV, datado de 1860, faz-se menção ao estado

de ruína em que se achava o castelo e à necessidade

de se providenciar a reedificação de casas que ali se

encontravam20.

Encostado às paredes da muralha foi construído

um conjunto de edifícios. Entre esses edifícios,

voltado para a Rua do Castelo, no nº 3, ficava um

dos lagares de azeite de Alverca. O azeite foi uma

das produções mais rentáveis da povoação e uma

17 ANTT, ANTT, Tombo de Alverca, Livro XXIV, Parte I, NA 270, fl. 663v18 Cf. Idem., fl. 385.19 José do Carmo Pacheco, José do Carmo Pacheco, Monografia de Alverca, Alverca, Junta de Freguesia de Al-verca, 1998, p. 108.20 Cf. AHVFX, Auto para avaliaçaõ de varias propriedades pertencentes às Capellas do Senhor Rei D. Affonso 4º …, 1860, Administração do Concelhor de Vila Franca de Xira, D.001.1.

das actividades referidas nas Memórias Paroquiais,

juntamente com a produção de sal, de árvores de

fruto e cereais.

Açougue Velho

Em frente ao antigo lagar ergue-se o templo

religioso da “Igreja de Jesus Cristo dos Santos

dos Últimos Dias”. Para possibilitar a construção

do templo foi demolido – em 1986 – um

conjunto de casas. Tratando-se de um conjunto

localizado no centro histórico, foi realizada uma

intervenção arqueológica de emergência, sob

a responsabilidade do arqueólogo Rui Parreira.

Segundo palavras suas, desse conjunto de edifícios

“[…] fazia parte precisamente o antigo açougue

da vila, onde António Coelho Gasco (v. ed. 1924)

localizava um miliário romano, provavelmente da

via Scalabis-Olisipo.”21 Embora fisicamente nada

reste do açougue velho, este faz parte da história

da localidade. Os açougues eram estruturas

ligadas à Câmara Municipal e situavam-se na sua

proximidade22. À Câmara competia gerir a matança

do gado e posterior venda e distribuição de carne.

A identificação do açougue velho, mencionado

nos Tombos das Capelas de D. Afonso IV23, vem

apoiar o facto dos primeiros Paços do Concelho

21 Rui Parreira, “Intervenção Arqueológica no Centro Histórico de Alverca do Ribatejo, Rui Parreira, “Intervenção Arqueológica no Centro Histórico de Alverca do Ribatejo, 1986 – Relatório sucinto dos trabalhos realizados.”, Boletim Cultural 3, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 1987/8, p. 91. 22 Cf. Carlos Caetano No rasto de um monumento perdido do património do Faial: a antiga Casa da Câmara da Horta, texto policopiado, 2004, p. 12.23 Cf. ANTT, Núcleo Antigo, Tombo de Alverca, Livro XXIV, Parte I, Cx. 270, fl. 248v.

Ruínas do Castelo, AF.

Page 37: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

se encontrarem nas proximidades, um pouco

mais abaixo a Este, no antigo Largo do Pelourinho

Velho. A palavra Açougue caiu em desuso na língua

Portuguesa – como tantas outras – embora seja

utilizada no norte do país, no Brasil e noutros países

onde o português é lingua oficial.

Apesar de se ter conhecimento da data de demolição

do açougue, pouco se sabe relativamente ao período

de actividade, embora seja possível ter funcionado

no mesmo local pelo menos desde o século XVI,

tendo em conta um documento presente no Tombo

de Alverca, datado de 1586, referente à medição de

umas casas que “[...] estaõ nazinhagna Q uai da rua

Q uem do asougue para o ribeiro a qual azinhagna

deçe para a rua direita [...]”24 A rua direita, actual

Miguel Bombarda, é paralela à rua do Açougue

Velho, pelo que a descrição do Tombo das Capelas,

parece localizar o açougue existente no século

XVI no local conhecido, ainda hoje como Largo do

Açougue Velho.

As instalações do novo açougue foram licenciadas

em 188025 e construídas na actual Rua Miguel

Bombarda, em frente ao edifício onde funciona a

Junta de Freguesia. Em 1926 o espaço funcionava

como “arrecadação” da Câmara Municipal e foi

depois ocupado pela corporação dos Bombeiros

Voluntários de Alverca26. Actualmente serve de

apoio à Junta de Freguesia.

Igreja de São Pedro

A Igreja Matriz de Alverca tem como padroeiro o

Apóstolo São Pedro. Ignora-se a data da construção

primitiva, embora vários factores apontem para

a Idade Média27. Seja como for, três dias após a

batalha da Alfarrobeira, a 23 de Maio de 1449, o

corpo do Infante D. Pedro terá sido sepultado,

temporariamente, na Igreja de Alverca28.

24 ANTT, ANTT, Núcleo Antigo, Tombos de Alverca, Livro XXIV, Parte I, Cx. 270, fls. 248v. 25 Cf. AHVFX, Instalações da Câmara do Extinto Concelho de Alverca, CMVFX, M/A.001. 26 Cf. José do Carmo Pacheco, Op. Cit. p. 16927 Cf. Alfredo Marujo, Paróquia de S. Pedro de Alverca – Elementos para a sua História, Alverca, Paróquia de S. Pedro de Alverca, 1999, p. 21.28 Cf. Alberto Pimentel, Portugal Pittoresco e Illustrado – A Extremadura Portugueza – Primeira Parte – O Ribatejo, Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, 1908, p. 147

Esta é, ao momento, a data mais antiga alusiva

à Igreja. Por cima da porta está inscrita a data de

1687, de uma das muitas reconstruções do templo.

Segundo as Memórias Paroquiais foi bastante

danificada pelo terramoto de 175529.

Actualmente, na Igreja, são visíveis elementos

arquitectónicos que marcam várias épocas.

Do século XVII temos, por exemplo, o portal

seiscentista; a pia baptismal; três pias de água

benta em mármore rosa; as duas telas, de autor

desconhecido, que ladeiam a capela-mor. Do século

XVIII, para além de outros elementos, encontramos,

os azulejos de albarradas e figurativos – alusivos à

vida de São Pedro e, na sacristia, pode ver-se um

lavabo em pedra mármore com embutidos30.

No largo da igreja realizam-se todos os anos

em Junho as festas de São Pedro. Numa lápide

originalmente colocada por baixo de uma janela

brasonada, do palácio da quinta do Galvão, hoje

desaparecido, a inscrição revela que D. Pedro II

e seus filhos estavam em Alverca por ocasião

das festas, em Julho de 1699. Na primeira metade

29 ANTT, ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], fl. 331.30 Cf. Alfredo Marujo, Op. Cit., pp. 21-27, para uma descrição em pormenor da Igreja de São Pedro.

Igreja de São Pedro, AF.

Page 38: Fragmentos de Alverca

| 38 |

Fragmentos de Alverca

do século XIX, entre 23 e 25 de Junho de 184031 e de

novo de 23 a 26 de Junho de 184232 D. Maria II e D.

Fernando visitaram Alverca, coincidindo estas datas

com os festejos dedicados ao santo padroeiro.

Estas festas marcavam uma data de extrema

importância, envolvendo toda a comunidade de

Alverca e para a qual contribuíam, os diversos

poderes locais. No núcleo de Alverca do Museu

Municipal existe uma fotografia destas festas,

datada do início do século XX, onde se pode

observar a afluência de pessoas no adro da Igreja

e o coreto, construído para a ocasião. Actualmente

nesse mesmo adro existe um coreto fixo, edificado

em 1926 para a banda da Sociedade Filarmónica

de Recreio Alverquense, uma das mais antigas do

concelho de Vila Franca de Xira.

Misericórdia

Embora se vá abordar a história da Misericórdia

de Alverca, no próximo capítulo, por se tratar de

um elemento patrimonial integrado no Núcleo

Histórico, é necessário fazer-se-lhe referência,

embora breve. Como se verá em 8 de Setembro de

1583 foi lançada a primeira pedra para a edificação

da Misericórdia de Alverca. Na porta da Igreja,

encontra-se a data de 1597, pelo que se depreende

terem sido necessários mais de dez anos para

a construção de todo o complexo que incluía a

Igreja, um albergue para receber os peregrinos e

hospital.

AS CASAS POPULARES E REMINISCêNCIAS DE UMA ARQUITECTURA CAMARáRIA

Para além do património edificado de cariz

religioso ou camarário, é possível verificar-se no

Núcleo Histórico, um conjunto de casas populares,

construídas em diversas épocas, as quais constituem

31 Cf. AHVFX, Livro de Contas do Concelho nos annos de 1839 e 1840, Livros de Registo Diários de Receitas e Despesas, 1811/1849, Concelho de Alverca, E/A 039.3, fl. 64. 32 Cf. AHVFX, Livro de Contas do Concelho desde 1º de Janeiro de 1841 ate áo ultimo de Junho de 1842, Livros de Registo Diários de Receitas e Despesas, 1811/1849, Concelho de Alverca, E/A 039.3.

o mais antigo aglomerado da povoação de Alverca,

razão pela qual a sua abordagem é importante.

Por todo o país as casas eram construídas de acordo

com o clima, com a rocha e outras matérias-primas

próprias da região. O aglomerado populacional era

disperso ou denso, condicionado pela história e pela

geografia. Rocha Peixoto afirma que “A habitação

entre nós é “[…] uma consequência da adaptação

às várias circunstâncias naturais e sociais que a

condicionam […].”33 Assim se criaram tipologias

diferentes, sendo possível identificar padrões de

construção que caracterizam determinadas regiões

do país. Outras, no entanto, apresentam-se com

características indefinidas.

Na “vasta zona que se estende para o Sul e Norte do

Tejo, a casa ora se aproxima da alentejana, ora ganha

feição regional mais definida.”34As construções

populares em Alverca, não possuindo uma

arquitectura marcante ou inerente a uma tipologia

específica, enquadram-se, maioritariamente,

no tipo de casas da Estremadura e do Alentejo.

Constituindo um testemunho da nossa história e

património, torna-se importante caracterizá-las

dado o seu valor intrínseco.

33 Rocha Peixoto, Rocha Peixoto, Etnografia Portuguesa, Lisboa, Publicações D. Quixote, Fevereiro 1990, p. 160.34 Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, Arquitectura Tradicional Portuguesa, Publicações D. Quixote, Fevereiro 2003, p. 177.

Edifício nº 5 do Largo do Terreirinho AF

Page 39: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Na sua maior parte as casas que se podem encontrar

no Núcleo Histórico de Alverca, apresentam

planta rectangular simples com piso térreo e eram

destinadas exclusivamente para habitação, como

são exemplos algumas casas localizadas na Rua da

Cumeira e do Outeiro. Existem também casas com

dois pisos, em que a habitação se situava no piso

superior e o comércio no piso térreo. Outras ainda,

possuindo igualmente dois pisos, eram propriedade

de famílias mais abastadas. Tanto as casas com

funções comerciais como as de habitação burguesa

podem ser encontradas na Rua Miguel Bombarda e

no Largo Gregório Nunes.

Alguns registos permitem localizar, temporal-

mente, a origem destas construções no século

XIX, princípios do XX, sendo contudo possível

encontrar-se alguns exemplos de construção

anteriores. O edifício nº5 da Calçada do Terreirinho

apresenta na fachada, ao nível do primeiro andar

um painel de azulejos, com a imagem de N. Sr.ª da

Conceição, datado do século XVII. Embora tenha

sido ampliado em época posterior, parte daquele

edifício terá resistido ao Terramoto de 1755. Podem

também encontrar-se edifícios datados do século

XVIII, como são exemplos o edifício actualmente

ocupado pela Junta de Freguesia e o número 35-37

da Rua Miguel Bombarda.

Algumas das casas mais antigas, devido ao

estado de degradação em que se encontram,

servem de testemunhos relativamente ao tipo

de materiais utilizados na construção As paredes

exteriores eram construídas em alvenaria, com

utilização de rocha calcária, abundante na

região. A pedra utilizada não era trabalhada,

apresentando tamanhos diversos e disposição

irregular. Por vezes misturavam-se fragmentos

de cerâmica, sobretudo de telha, embora tenham

sido identificados fragmentos de panças e asas de

pote, para além de tijolo compacto – vulgarmente

conhecido como tijolo de burro – de forma dispersa.

Estes vestígios indiciam a reutilização de pedra,

e outros materiais, aproveitados de construções

arruinadas.

A argamassa, utilizada na junção da pedra e no

reboco final, era constituída por partes de areia,

cal e água. A cal era também usada para caiar as

paredes, o que se fazia com regularidade, não só

por motivos estéticos, mas também porque este

material protege a casa da luz e do calor35. Os fornos

de cal eram abundantes na região36, sendo assim

um material bastante acessível. À semelhança das

casas alentejanas, em algumas eram pintadas uma

barra amarela ou azul no rodapé e nos cunhais.

As janelas e portas em madeira têm moldura em

cantaria. As varandas, das casas mais nobres, exibem

gradeamento de ferro forjado. Os telhados, de duas

a quatro águas, eram construídos com aplicação de

telha de canudo (também denominada portuguesa

ou meia-cana). No Adarce, junto ao moinho de

maré, num lugar conhecido por Charneca do Telhal

existia “[…] um prédio urbano e rústico composto

de um telhal para fabricar telhal […]”37material que,

eventualmente se utilizavam na construção das

habitações da região.

Em alguns dos telhados ainda se podem observar

chaminés tradicionais da Estremadura38 de

forma rectangular, terminando em três ou

quatro triângulos, dispostos verticalmente, umas

vezes abertos, outras fechados com argamassa.

Curiosamente, algumas casas foram construídas

utilizando como base a própria rocha, como se

pode encontrar numa das casas da Rua do Outeiro,

em que se percebe, ao longo da base da fachada

Norte, uma extensa rocha calcária onde, inclusive,

são visíveis inúmeros elementos fósseis de espécies

bivalves marinhas.

35 Cf. Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, Arquitectura Tradicional Portugue-sa, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2003, pp. 151-152.36 Cf. Alberto Pimentel, Portugal Pittoresco e Illustrado – II – A Extremadura Portu-gueza – Primeira Parte – O Ribatejo, Lisboa, Sociedade Editora Empreza da Historia de Portugal, 1908, p. 146.37 Ministério da Marinha, Ministério da Marinha, Comissão do Domínio Público Marítimo, Processo nº 3554/77, parecer nº 4435, p. 538 Cf. J. Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa – Tentame de sistematização, Vol. VI, Lisboa, Imprensa Nacional da Casa da Moeda, s/d, p. 231.

Page 40: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

De acordo com Francisco Silva “A arquitectura

urbana […] diferencia-se [da construção rural] no

tratamento das fachadas, que assumem a função

de virar o edifício para o exterior, através de janelas

e varandins de ferro debruçados para a rua […]”39 o

que pode ser encontrado, sobretudo, nas habitações

da Rua Miguel Bombarda, possivelmente devido ao

facto daquela ter sido a principal artéria do antigo

concelho de Alverca.

Algumas casas merecem destaque por

apresentarem pormenores que as distinguem das

restantes. É o caso do n.º 5/5A da rua da Boca Lara,

a qual sobressai pela existência de um pórtico, no

qual existem duas portas de acesso a um pátio

interior e a uma casa modesta. O pórtico é caiado,

apresentando uma barra em rodapé, ombreiras das

portas e friso pintados de cinzento. No edifício nº

7 do largo Gregório Nunes, pode observar-se que o

telhado é rematado em cauda de andorinha, aspecto

comum a muitas casas da Estremadura. Na rua

Miguel Bombarda podem ver-se em alguns edifícios

a nível do piso térreo um revestimento exterior a

imitar blocos de pedra, pintados de cinzento com

39 Francisco Silva “A Importância da Arquitectura Vernacular na Preservação do Pa- Francisco Silva “A Importância da Arquitectura Vernacular na Preservação do Pa-trimónio” Memórias de Pedra e Cal, catálogo da exposição, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Junho 2001, p. 143.

Chaminé estremenha, Largo do Outeiro, AF

recortes pintados a negro, a lembrar casas beirãs.

Note-se ainda a existência de trapeira na fachada

norte do edifício nº 3 da rua do Açougue Velho.

Destaque ainda para a mercearia localizada

nos números 39-41, na rua Miguel Bombarda,

propriedade de Luís Cipriano Carvalho, um dos

últimos testemunhos do comércio tradicional em

Alverca, a qual mantém os armários de madeira,

pintados de verde, o balcão em pedra e toda

a restante estrutura da mercearia construída

no século XIX. Este tipo de mercearias está em

extinção, sobretudo devido ao facto de dificilmente

poderem competir com os grandes hipermercados.

Lamentavelmente tendem a desaparecer. Esta é

um exemplo de um património sobre o qual há que

tomar medidas para a sua preservação.

Um outro aspecto a salientar no Núcleo Histórico é

a presença de vestígios da arquitectura concelhia,

reminiscências do concelho extinto em 1855. As ruas

calcetadas e as escadarias são testemunhos dessa

arquitectura. Nos livros de registos da Câmara de

Alverca podem encontrar-se referências ao arranjo

das ruas e de outras estruturas do concelho. Assim,

em 1829, “Despendeu-se de hum mandado para

concerto das Estradas interiores que se achavaõ

aruinadas a quantia de dois mil, e quinhentos

reis[...]”40 e em 1830 realizou-se “[…] o concerto da

Calçada que vai para a Igreja Matris [...].”41

As ruas estreitas, calcetadas com pedra basáltica

e calcária são, então, testemunhos do concelho

extinto, algo que deve ser preservado como parte

do património alverquense, assim como as casas

antigas do Núcleo Histórico, herança do nosso

passado que a todos compete defender.

40 AHVFX, AHVFX, Alverca – Receitas e Despesas do Concelho – Livro de Contas N.º 1, Concelho de Alverca, Livros de Registo Diários de Receitas e Despesas, 1811/1849, E/A 039.3, fl. 36.41 Idem, fl. 39.

Page 41: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Nos anos 40 do século XX, Fernando Torres afirmava,

sobre as Misericórdias de Portugal, serem poucos os

estudos documentados e pormenorizados relativos

a esse assunto. “Impõe-se há muito o estudo

metódico de t�das elas. Sem isso é impossível

valorizá-las devidamente.”1 Ainda hoje, a grande

maioria desses estudos, estão por fazer. No actual

concelho de Vila Franca de Xira existem três

Misericórdias, cujo estudo necessita ser realizado

em profundidade: a Misericórdia de Vila Franca de

Xira, fundada em 15612; a Misericórdia de Alhandra

cuja fundação data de 15773; e a de Alverca, objecto

deste trabalho.

As Memórias Paroquiais, escritas pelo Padre Manuel

Henriques em 1758, é o único documento conhecido

onde se dá a saber a origem da Misericórdia de

Alverca de acordo com esta fonte “Pelo que se vê

dos seos Livros fundouçe esta caza no anno de mil

1 Fernando Correia, Estudos sôbre a História da Assistência – Origens e Formação das Misericórdias Portuguesas, Lisboa, Henriques Torres Editor, 19442 Cf. Lino de Macedo, Antiguidades do Moderno Concelho de Vila Franca de Xira [1856], Vila Franca de Xira, Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 1992, p. 433 Cf. Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno, Vol. I, Lisboa, 1873, p. 131

quinhentos e oitenta e três e principal-mente do

livro com que está encadernado o Compromisso,

confirmado pelas suas reformaçõis pelos Re�s, que

governaraõ esta Monarchia”4.

O Compromisso aqui referido é, sem dúvida, o

Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de

Lisboa.

O primeiro data de 1516, rapidamente adoptado

com modelo em todas as Misericórdias do país,

tendo sido alvo de várias reformas, a primeira

datada de 15775.

Voltando ao manuscrito das Memórias, e à fundação

da Misericórdia de Alverca, o autor transcreveu

o texto manuscrito, possivelmente anexo pela

irmandade ao volume do Compromisso, o qual

referia: “He de saber, que falecendo nesta Villa huma

Dona honrráda, que nella vivia natural da ilha da

Made�ra, por nome Sollana Te�xeira, cazada com

4 ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], p. 333.5 Cf. André Ferrand de Almeida, «As Misericórdias», História de Portugal, Dir. José Mat-toso, 3º Vol., Circulo dos Leitores, Lisboa, Dezembro 1993, p. 189.

MISERICÓRDIA DE ALVERCA

Page 42: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Vasco Martins não havia nunca nesta villa memoria

de se tratar se fazer caza da Mizericordia nem haver

pessoa que tal esperasse nem cuidasse, que tal

podia ser; ella fazendo seu tesstamentro [sic] disse

nelle por – huma Verba, que ella de�chava as suas

casas em que estavão os prezos para Mizericordia,

e dezo�to mil reis para huma Bande�ra, fazendosse

a obra em – dez annos; o que visto se entendeo

por inspiração do Espiritto Santo, e que era sua

vontade, que houvesse nesta Villa caza e Irmandade

da Santa Mizericordia, tomando os prezentes isto

por argumento, com este principio fundarão a Caza

da Mizericordia, não nas que a defunta para isso

deichou, mas em outras, que lhes déram por ellas,

mais acomodádas para additta obra, e se põz a

prime�ra pedra dia da Natividade de Nossa Senhora

do anno de mil quinhemtos e oitenta e tres, e dal�

em diante fo� em-crescimento como Deos quezera

que ja cadda vez mais.”6

Aqui termina a transcrição feita pelo Padre Manuel

Henriques. Dela salientamos o dia de lançamento

da primeira pedra da Misericórdia – 8 de Setembro

de 1583. Na porta principal da Igreja encontra-se

a data de 1597, tomada por alguns como sendo a

de término das obras de edificação da Igreja7. Para

além dos aspectos indicados no texto mais nada se

sabe sobre Solana Teixeira, ou sobre o seu marido,

o qual é possível ter sido natural de Alverca, onde

possuía algumas propriedades deixadas à sua viúva

e por ela legadas para a fundação da Misericórdia,

a qual foi construída voltada para a antiga Estrada

Real, actualmente conhecida como Rua Dr. Miguel

Bombarda, a mais importante artéria da antiga

povoação de Alverca.

Ainda com referência à Misericórdia, nas suas

Memórias o Padre Manuel Henriques descreve

a existência de “hum miracoloso Santuario de

sagradas Relíquias”8, o qual terá sido obra de um dos

6 ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], pp. 333-334 7 Cf. José do Carmo Pacheco, Op. Cit. p. 1268 ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], p. 334.

provedores da Misericórdia, Sebastião Barbosa de

Souza Pegado, natural e baptizado em Alverca, filho

de Paulo de Sousa Brandão, familiar do Santo Oficio,

que na primeira metade do século XVIII exercia o

cargo de sargento-mor de uma das Companhias de

ordenança de Alverca9.

O Santuário descrito pormenorizadamente, seria

de estimação da Irmandade, considerado como

prodigioso, saía em procissão “[...]em ocaziõis de

seccas rigurozas, ou de innundaçõis perjudiçiáis, e

sempre que se sahio com o santuario em proçissaõ a

de preccar chuva ou postullar serenidade se alcansou

do Ceo favoravelmente o que se-lhe pedio, de que há

testemunhas de vista dos tempos antigos, como se

esprimentou no anno de mil e sette centos e trinta e

sette, no qual sahindo a Irmandade da Mizericordia

com devotta, e decoroza proçiçaõ de preçes com

este Santuário, quando mais se careçia de chuva

logo ve�o muitto copioza como com individual

clareza […].”10

A referência às condicionantes ditadas pelo tempo

é curiosa, pois de facto Alverca encontrava-se numa

região frequentemente assolada por períodos de

seca e de enchentes, embora sejam mais frequentes

as notícias das cheias, talvez pela dimensão trágica a

elas associadas11. Uma carta do Prior Manoel Bento

Lopes, da vila de Alhandra, datada de 20 de Abril de

1889, é exemplo das acções religiosas, envolvendo

as Misericórdias, ocorridas por estas ocasiões. Nela

se pode ler que “As tempestuosas chuvas, que

continuam a prejudicar a agricultura a ponto de

nos proporcionarem a esterilidade na região, que

habitamos, levaram o nosso Em.mo e Ile.mo Prelado

a derigir a todos os parochos e fieis d’esta diocese

úma carta […] ordenando preces publicas, em todas

as egrejas conventuaes e procissoês de penitencia

nas terras onde seja possivel fazerem-se […]”12

9 Cf. ANTT, Habilitações da Ordem de Cristo, Letra J, Mç. 30, Doc. 5.10 ANTT, ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], pp. 334-335. 11 Sobre as cheias no Tejo Sobre as cheias no Tejo Cf. José do Carmo Pacheco, Op. Cit., pp. 198-19912 AHVFX, AHVFX, Oficio do Prior Manoel Bento Lopes ao provedor da Misericórdia de Alhandra, 20 de Abril de 1889, fundo da Santa Casa da Misericórdia de Alhandra, Correspondência Recebida, C/A – 003.

Page 43: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Fachada Oeste da Igreja da Misericórdia, MMVFX-NA, Sd

desse modo pedia-se ao provedor da Misericórdia

de Alhandra para “[…] dar as providencias, para

que a irmandade […] tome logar n’aquella solene

procissão, arvorando a cruz com o senhor das

Mesericordias, que é a sua principal insígnia […]”.

Mesmo tratando-se de um documento dirigido à

Misericórdia de Alhandra, acredita-se ser possível

algo semelhante ter acontecido em Alverca, mesmo

porque o documento faz referência ao facto da

carta pastoral ter sido enviada a todos os párocos

da diocese.

Voltando às relíquias do santuário, adianta o Padre

Manuel Henriques não se saber ao certo a sua origem,

ou data “[...]e só por tradição se cre, que as deu huma

virtuosa Dona Missia Pimenta, ou Pimentel, que

dizem ser oriunda desta villa de Alverca e que vindo

de Roma a H�erúzalem a onde fo� em pirigrinação

trouçéra aquellas Reliquias.”13 Do Santuário, e

respectivas relíquias, resta a descrição deixada nas

Memórias. Até ao momento foi impossível descobrir

qualquer outra informação sobre o seu paradeiro.

13 ANTT, ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], p. 335.

Em relação à caracterização da Santa Casa da

Misericórdia de Alverca o mesmo documento

informa-nos que “Tem esta Villa Caza da

Mizericordia, com Hospital, que só serve de

albergaria aos peregrinos, e suposto que as rendas

da Mizericordia já foçem menores, contudo por

hora só-mente se favoreçem os viandantes de carta

de guia e se acode as indispensaveis despezas de

Andante, Cappellaës, e mais obrigaçois.”14 Sobre a

existência de um hospital, muito comum associado

às Misericórdias, as informações são escassas. É o

próprio Padre Manuel Henriques que nos informa

que o hospital só servia de albergaria, deixando

antever que a Irmandade, já então, sofria de

algumas carências económicas, não lhe permitindo

manter um hospital no verdadeiro sentido do

termo. Da albergaria temos notícias de se localizar

no edifício anexo à Igreja, a qual para “[…] além de

uma camarata bastante ampla, possuía também

quatro quartos bem providos e asseados.”15 Costa

Goodolphim numa tabela criada a partir de um

documento de 1859, indica não existir hospital

na Misericórdia de Alverca16. Testemunhos orais

referem a existência de um pequeno posto de

médico no primeiro andar do edifício anexo à Igreja

em pleno século XX.

Há ainda uma última referência à Misericórdia nas

Memórias, ao descrever os danos causados pelo

Terramoto de 1755 na Igreja de São Pedro, o padre

Manuel Henriques informa que “[...]as imagens

dos santos, como o santissimo sacramento se

transferirão p.a a Igreja da Mizericordioa, que desde

o ditto terramoto, ate o prexente serve a freguezia

inte�rmente, menos na sepultura dos defuntos

porque este settem enterrado nos covais da Igreja

Parochial [...]”17

O Terramoto de 1755 terá causado enormes

14 ANTT, ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], p. 333. 15 José do Carmo Pacheco, José do Carmo Pacheco, Op. Cit., p. 16116 Costa Goodolphim, Costa Goodolphim, As Misericórdias, Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 22917 ANTT, ANTT, Memórias Paroquiais – Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memória 43 [Alverca], pp. 330-331.

Page 44: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

danos no então Concelho de Alverca. Entre os

edifícios danificados encontrava-se a Casa da

Câmara situada, na actual Praça João Mantas, a

cerca de quinhentos e cinquenta metros a sudoeste

da Misericórdia; e a Igreja Matriz a cerca de

quatrocentos metros, a oeste. Na Rua João Mantas,

à esquerda da fachada tardós da Misericórdia, existe

um edifício setecentista provavelmente construído

após o Terramoto, tal como a maioria dos edifícios

próximos, levando-nos a aventar a hipótese de, a

haver algum edifício anterior, também ele ter sido

derrubado quando do Terramoto. Curiosamente,

entre os escombros de Alverca arruinada, erguia-se

a Misericórdia, intacta18. As razões desse fenómeno

talvez se possam averiguar através de estudos

geomorfológicos, para o que seria necessária uma

intervenção arqueológica no local.

Um dos documentos mais interessantes do Arquivo

da Associação de Assistência e Beneficência da

Misericórdia de Alverca (AABMA), é o volume

composto por uma série de documentos diversos,

impressos e manuscritos, colados e encadernados

em conjunto, com uma capa de cor azul onde se lê,

numa etiqueta manuscrita: Compromisso da Santa

Caza.

Na folha de rosto, manuscrita, lê-se: “Compromisso

pelo qual se regula actualmente a Irmandade da

Meziricordia da Villa d’Alverca na que lhe pode ser

aplicavel, assim como varias Ordens e Regulamentos

do Governo para Orçamentos e prestaçaõ de contas

[…]”19 Um pouco mais abaixo foi acrescentado, em

época posterior, manuscrito a lápis: “Não se tem

seguido a doutrina deste compromisso por ser

impossivel na actualidade.”20

Segue-se, impresso, o Alvará, por que Vossa

Alteza Real Há por bem Determinar que as Casas

18 Cf. Alfredo Marujo, Paróquia de S. Pedro de Alverca – Elementos para a sua História, Alverca, Paróquia de S. Pedro de Alverca, 1999, p. 2919 AAABMA, AAABMA, Compromisso da Santa Casa, Villa d’Alverca, Irmandade da Misericór-dia, compromisso pelo qual se regula actualmente a irmandade da Misericórdia da Villa d’Alverca na que lhe pode ser aplicável, assim como várias ordens e regulamentos do Go-verno para acentos apresentados de contas, como se regem, 1836, Capa.20 Idem, Ibidem.

de Misericordias das Cidades, e Villas destes Reinos,

e seus Dominuis, se regulem pelo Compromisso da

Santa Casa da Misericordia de Lisboa. Este Alvará

do Príncipe Regente D. João datado de 18 de

Outubro de 1806, estipula “Que todas as Casas de

Misericordia das Cidades, e Villas destes Reinos, e

seus Dominios se regulem pelo compromisso da

Santa casa da Misericordia de Lisboa, no que for

accommodado ao estado das suas rendas, á natureza

da applicação dos seus Bens, e mais circunstancias

dignas de attenção [...].”21 Notoriamente, após a

leitura do Compromisso, entende-se que muitos dos

parágrafos dificilmente poderiam ser aplicados à

Misericórdia de Alverca, já para não referir aqueles

que só competem mesmo à Misericórdia de Lisboa,

como é o caso do Capitulo XL sobre a administração

e governo do Hospital de Todos os Santos.

Ainda no Alvará é feita referência à obrigatoriedade

de se realizarem registos: “[...] E em todas [as

Casas e Hospitais] haverá hum livro separado, em

que estejam descritos todos os Bens móveis, e de

raiz, direitos e acções pertencentes à mesma Santa

Casa [...].”22 A existir um tal livro na Misericórdia

de Alverca este desapareceu, como tantos outros.

No entanto é possível conhecer-se alguns dos seus

bens a partir do estudo de testamentos e, sobretudo

dos Mappas estatísticos dos Juristas Foreiros e

rendeiros da Irmandade da Misericórdia de Alverca

do Ribatejo. Embora esses dados abarquem uma

época muito curta desta instituição – século XVIII

a XIX, sensivelmente –, trata-se de um estudo que

será importante realizar.

Logo a seguir ao Alvará surge o Compromisso da

Misericordia de Lisboa. Impressa em Lisboa, na

Oficina de Joseph da Silva Natividade, em 1745.

Como já foi referido anteriormente, o primeiro

Compromisso data de 1516. O rápido crescimento

das Misericórdias por todo o reino e para além

21 AABMA, AABMA, Compromisso…, Alvará, p. 122 AABMA, AABMA, Compromisso…, Alvará, Cap. VI, p. 3

Page 45: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Fachada Norte da Igreja da Misericórdia, MMVFX-NA, Sd

dele, assim como o aumento das suas acções e

responsabilidades levou à necessidade das reformas

de 1577 e 161823. A presente edição de 1745 procurava

abarcar toda e qualquer acção das Misericórdias,

substituindo inteiramente as anteriores. Fala-se

nos deveres das Irmandade, do modo como se

procedia à escolha dos seus membros, aos cuidados

a observar quando em qualquer missão específica. A

sua leitura transmite-nos uma imagem muito clara

das actividades das Misericórdias no século XVIII.

No Capitulo I fala-se «Do numero, e qualidades, que

hão de ter os Irmãos da Misericordia», refere-se na

existência de seiscentos irmãos «trezentos nobres,

e trezentos officiaes»24. É duvidoso que fosse esse

o número de irmãos na Irmandade de Alverca. Este

é um dos exemplos indicativos da necessidade

de cada Irmandade adaptar o Compromisso à sua

realidade específica.

No terceiro parágrafo traça-se o carácter e as

condições necessárias para alguém se tornar

Irmão da Misericórdia. Deviam ser “[...] homens

de boa consciencia, e fama, e tementes a Deos,

modestos, caritativos, e humildes [...]25. Para além

disso deviam reunir sete condições, bem definidas,

como ser limpo de sangue; encontrar-se livre de

toda a infâmia de feito, e de Direito; devia ter a

idade conveniente, maior de 25 anos; não podia

ser assalariado da Misericórdia, no caso de exercer

um ofício devia ser proprietário“[…] e izento de

trabalhar por suas mãos”; devia ser pessoa sensata

e, o mais importante devia ser abastado26.

A admissão na Irmandade era realizada sobre

rigoroso segredo, ficando os candidatos sujeitos

a cuidadas averiguações, no sentido de se apurar

serem possuidores de todas as condições exigidas.

A votação, realizada em Junta, fazia-se através de

um sistema de favas brancas e favas negras, não só

para os casos de admissão de novos membros na 23 Cf. André Ferrand de Almeida, Op. Cit., p. 18924 AABMA, AABMA, Compromisso…, Cap. I, § 1, fl.125 Idem, Cap. I, § 3, fl. 1 v.26 Cf. Idem, Cap. I, § 3 fl. 1 v.

irmandade, mas também para qualquer outro caso

em que a eleição por sufrágio fosse necessária27.

No Capitulo II: Das Obrigações dos Irmãos, refere-

se a obrigação dos membros da Irmandade de se

dirigirem à Misericórdia sempre que chamados, para

além da obrigação de se reunirem cinco vezes em

cada ano no “[…] dia da Visitação de nossa Senhora

à tarde, para escolherem os eleitores; Dia de S.

Lourenço à tarde, para elegerem os Definidores […]

dia de todos os Santos à tarde, para acompanharem

a Procissão com que se vão buscar as ossadas dos que

padecerão por Justiça […], dia de S. Martinho pela

manhã ao saimento que se faz por todos os Irmãos

defuntos […,] quinta feira de Endoenças à tarde

para acompanharem a Procissão dos penitentes [...]

e visitarem o Santo Sepiuchro em algumas Igrejas

que ficarem em commodidade.”28

No Capitulo IV fala-se da eleição dos Oficiais. No

parágrafo 2 lê-se. «Para este effeito se porá huma

mesa redonda na Igreja na nave do meyo debaixo

do Coro, e nella se assentará o Provedor, e mais

Irmãos [...].»29 De acordo com testemunhos orais30,

em meados do século XX, as reuniões da AABMA,

realizavam-se na nave da Igreja da Misericórdia. Os

membros da Associação acomodavam-se em redor

de uma mesa rectangular comprida, possivelmente

uma reminiscência do disposto no Compromisso.

27 Cf. Idem, Cap. I, § 7, fls. 2 e Cap. III, § 2 fl.5, por exemplo 28 Idem, Cap. II, p. 3 v.29 AAABMA, AAABMA, Compromisso…, Cap. IV, § 2, fl. 630 Entrevista realizada ao Sr. Arnaldo Barros, em 2005, aquando da investigação para Entrevista realizada ao Sr. Arnaldo Barros, em 2005, aquando da investigação para este trabalho.

Page 46: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Um pouco mais à frente, nesse documento,

informa-se ser a Mesa da Irmandade composta

por treze cargos eleitos anualmente. Por ordem

de importância, eram o Provedor, o Escrivão, o

Recebedor de Esmolas, oito Conselheiros (quatro

nobres e quatro oficiais), o Mordomo da Bolsa e o

Mordomo da Capela31. Todas estas pessoas tinham

o compromisso de se reunir aos “Domingo à tarde,

para tratarem [...] o que pertence aos prezos, e

seus livramentos”, às “quarta feira pela manhã,

para darem esmola aos pobres que não forem da

visitação ordinaria, e despacharem as petições”

e à sexta-feira, de manhã para tratar de assuntos

vários32.

Sobre as características do Provedor, o cargo maior

da Irmandade, é referido que “[…] será sempre hum

homem fidalgo, de authoridade, prudencia, virtude,

reputação, e idade de maneira, que os outros Irmãos

o possão reconhecer por cabeça, e lhe obedeção

com mais facilidade [...] naõ poderá ser eleito de

menos idade de quarenta annos.”33 Já o escrivão

“[…] será huma pessoa nobre; de tal virtude,

prudencia, e condição, que possa dar expedição aos

negocios com certeza, e facilidade; será de quarenta

annos de idade [...].”34 Uma análise dos documentos

disponíveis pode indicar-nos o nome dos provedores

e escrivães da Misericórdia de Alverca, muitos

dos quais é possível associar a ofícios exercidos

na Câmara e nas Companhias de Ordenança. De

facto os “grandes da terra” dominavam o poder

local em mais que uma das suas manifestações.

Tome-se como membro Sebastião Barbosa de

Sousa Pegado, já mencionado. Para além do

seu nome foram encontrados, nos documentos

do Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de

Lisboa35, documentos com a assinatura de José

de Sousa Pegado Serpa (1779), Miguel de Sousa

Barbosa Pegado Serpa (1788) e de Álvaro Xavier

de Sousa Pegado Serpa (1819), revelando que,

31 Idem, Cap. V, § 4, fl. 732 Cf. Idem, Cap. VII, § 7, fl. 933 Idem, Cap. VIII, § 1, fl. 1034 Idem, Cap. IX, § 1, fl. 11-1235 Cf. ASCML, Maço n.º 21 – Alverca – 1778/1826.

para além do papel desempenhado em diversos

ofícios camarários, e da ligação, de alguns

desses homens, às Companhias de Ordenanças,

esta família estendia a sua influência também à

Misericórdia.

Outro dos cargos referenciados no Compromisso era

o de Recebedor de Esmolas, ao qual competia, entre

outras funções, receber e fazer registo de qualquer

testamento que beneficiasse a Misericórdia. O

documento Escritura de Compozição e obrigação

do vinculo de huma capela, que fazem Matheus

Rodrigues, por poder vocal que tem de sue filho

Raimundo Rodrigues Roza, com o Provedor, e mais

Irmaons da Meza da Santa Caza da Mizericordia desta

vila de Alverca, datado de 14 de Abril de 1789 relata

que Jerónimo Correa Florim, morador no Brasil

deixou em testamento a quantia de novecentos mil

reis para que: “[…] se fizera per Sua alma e de dezer

defuntos huma missa cotidiana neste Reino de

Portugal, em alguma das cazas da Santa Mizericordia

delle que melhor paressesse a seu Testamenteiro[…

]”36 O testamenteiro, também a viver no Brasil,

terá incumbido o seu pai para providenciar as

disposições do defunto, o qual terá escolhido a

Misericórdia de Alverca como beneficiária. Outro

testamento, o de Maria da Glória da Silva Monteiro,

de 1866, é o exemplo, comum na época, de legado

às Misericórdias. Neste caso específico pode ler-se

“Deixo à Mesiricórdia da Villa d’Alverca por huma

só vez a quantia de doze mil reiz”37, sem qualquer

indicação de utilização especifica da verba38.

Relativamente às obrigações do Mordomo dos

Presos, cargo de extrema importância visto “[…] que

esta fo� a primeira obra, em que se enpregaraõ os

primeiros Irmão, que instituirão esta Irmandade”39,

é indicado que este devia estabelecer um rol de

36 AAABMA, Escritura de Compozição e obrigação do vinculo de huma capela, que AAABMA, Escritura de Compozição e obrigação do vinculo de huma capela, que fazem Matheus Rodrigues, por poder vocal que tem de sue filho Raimundo Rodrigues Roza, com o Provedor, e mais Irmaons da Meza da Santa Caza da Mizericordia desta vila de Alverca.37 MMNA, Testamento de Maria da Glória da Silva Monteiro, falecida a 22 de Novem- MMNA, Testamento de Maria da Glória da Silva Monteiro, falecida a 22 de Novem-bro de 1864, moradora da Villa d’Alverca, filha legítima de António Francisco Monteiro e dona Luiza Thereza Jose e Silva, Sentença Cível de 25 de Agosto de 1866, p. 638 O assunto dos Testamentos é retomado no Capitulo XXVIII, folhas 29 a 30, onde se O assunto dos Testamentos é retomado no Capitulo XXVIII, folhas 29 a 30, onde se especificam os modos de aceitação dos mesmos. 39 AAABMA, AAABMA, Compromisso…, Cap. XI, §1, fl. 14.

Page 47: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

presos necessitados, seguindo alguns preceitos

especificados, como seja ter-se em conta a pobreza

e desamparo da pessoa, a qualidade da causa

devido à qual estavam condenados – excluíam-se os

presos por dividas, fianças e os fugidos ao degredo

–, e a situação em que se encontram na prisão,

não podendo ser admitidos presos com menos de

trinta dias. Uma das funções do cargo de mordomo

seria a de tratar do “livramento” dos presos,

cuidar da sua espiritualidade, providenciando

confissões e comunhão em datas certas, cuidar da

sua alimentação e saúde, e fazer “[...] por alcançar

perdão das partes, que accusão os prezos, se os

casos forem de qualidade, que soffrão pedirem-lho

sem escandalo; e se for necessario, daráõ aviso à

Mesa, para que as mande chamar, na fórma que lhe

parecer conveniente.”40

No Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

existe uma carta da Misericórdia de Alverca, datada

de 1778, ilustrativa deste assunto. Nesse documento

a Irmandade de Alverca informava ter conseguido

que a “[…]Confraria do Gloriozo Mart�r S. Sebastião,

cuja Hermida he situada nos confins desta Villa

[…]”41 concedesse “[...] perdão do roubo que fez

Jeronimo Tavares dos adornos da mesma gloriosa

Imagem [...]”42, deste modo a Irmandade de Alverca

havia dado resposta à solicitação da Misericórdia

de Lisboa a qual “[…]caritativamente solicita em

beneficio do mizeravel Reo em cujo livramento se

interessa […]”43.

Para além das disposições relativamente aos

presos, também era importante que a Misericórdia

tomasse especiais actuações relativamente ao

sepultamento das pessoas falecidas na povoação,

sobretudo no que concerne àqueles que faziam

parte da irmandade. No Compromisso pode ler-se:

“[...] E por quanto em muitas das sobreditas Mise-

40 Idem, Cap. XI, §5, fl. 1541 ASCML, Carta dirigida ao Provedor e Irmão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ASCML, Carta dirigida ao Provedor e Irmão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de perdão do roubo que fez Jerónimo Tavares dos adornos das Hermida de S. Sebastião. Agosto de 1778, Alverca, Maço nº 21.42 Idem, Ibidem.43 Idem, Ibidem.

ricórdias está estabelecido o terem hum Campo

Santo para Cemiterio: Permitto que em todas ellas

o possão estabelecer do mesmo modo, o que farão,

sendo possivel, fóra das Povoações, requerendo

para esse effeito ás authoridades Ecclesiasticas a

que competir; e lhes Hei por facultada a licença

para a acquisição do Terreno, que para esse fim for

necessario.”44 Apesar desta disposição, o cemitério

de Alverca seria construído muito depois, segundo

uma ordem do Governador Civil do distrito, datada

de 4 de Novembro de 183545.

Ainda uma das missões da Misericórdia chama a

atenção, trata-se “Do Modo com que se hão de ir

buscar as ossadas do que padecerão por justiça”.

Sobre este assunto é estipulado o modo e o dia em

que se devia executar: “Dia de Todos os Santos,

acabada a Missa do dia, mandará o Mordomo da

Capella correr as Insignias da Irmandade, para se

ajuntarem os Irmãos, conforme a obrigação que

tem, para irem buscar à forca de Santa barbara as

ossadas dos que padecem por justiça, e com esta

demonstração de piedade Chistã obrigar aos mais

fieis a lembrarse dos defuntos, ainda que sejão tão

desamparados como estes parecem.”46 Descreve-

se, depois, o modo como os irmãos deviam seguir

em procissão e das tarefas de cada um. Esta

deveria ter sido uma das missões da Misericórdia de

Alverca, embora ainda não tenha sido encontrada

documentação que o comprove. O facto é ter

Alverca um local, situado à saída da povoação,

popularmente conhecido como Lugar da Forca, por

ali, de acordo com a tradição, ser construída a forca

de execução dos condenados à morte, pela justiça

do Concelho.

Muitas outras disposições podem ser encontradas

no Compromisso, embora não seja possível,

neste momento encontrar dados específicos

relativamente à Misericórdia de Alverca.

44 AAABMA, AAABMA, Compromisso…, Alvará, p. 645 Cf. PACHECO, José do Carmo, Op. Cit., p. 197. Este tema será retomado em capítulo próprio.46 AAABMA, AAABMA, Compromisso…, Cap. XXVII, § 1, fl. 38

Page 48: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Relativamente às acções desta Irmandade, é

possível que futuras investigações revelem novos

dados. Quanto à sua história sabe-se que, com o

advento da República e a extinção de grande parte

destas instituições locais, os bens da Misericórdia

deveriam ser entregues ao Hospital de Vila Franca

de Xira, ainda a ser construído. De modo a manter

esses bens em Alverca, a Irmandade procurou criar

uma Associação a qual, em Alvará de 26 de Agosto de

1915, ganhava o nome de Associação de Assistência

e Beneficência da Misericórdia de Alverca47.

No arquivo da AABMA encontra-se o livro de actas,

com três entradas, datado de 1916/1748. A primeira

sessão, de Junho de 1916, refere a “[…] entrega de

todos os bens e valores da extinta Irmandade da

Misericórdia de Alverca.”49 Nele pode ler-se ter a

extinta Irmandade apresentado “[...] o inventario de

todos os bens e valores da referida Irmandade, bem

como livros de receita e despesa dos ultimos annos;

o que estes, se prestaram da melhor vontade [...]”50

Infelizmente não se encontrou qualquer relação do

inventário desses bens, impossibilitando conhecer,

com exactidão, qual a verdadeira extensão das

propriedades e bens da Irmandade da Misericórdia

à data da sua extinção.

O espaço da antiga Santa Casa da Misericórdia,

pertencente ainda à AABMA, tem servido para

vários fins. A Igreja serve de salão de ensaios de

47 Cf. Idem, Ibidem.48 AAABMA, AAABMA, Livro de actas, 1916/1749 Idem.50 Idem.

Aspecto do interior da Igreja da Misericórdia, AF, 2005.

um grupo coral, sala de reuniões e convívio. No

primeiro andar chegou a funcionar um posto de

saúde51, depois transformado, em 1980, em Centro

de Dia e Apoio à Terceira Idade. Actualmente não

tem qualquer função específica, servindo de apoio

às actividades da AABMA. O espaço da antiga

albergaria, no rés-do-chão, foi transformado numa

lavandaria nos anos 80, do século XX.

Na Igreja sobressaem os azulejos do século XVII,

sujeitos a uma recente intervenção de restauro

pelo IGESPAR, com acompanhamento do Gabinete

de Conservação e Restauro do Museu Municipal

de Vila Franca de Xira. O altar, entaipado por uma

estrutura de aparite, é acessível através de uma

porta geralmente trancada. O espaço estreito entre

a aparite e altar, serve de arrumação. Do altar vê-se

a pintura lateral e a moldura de estuque onde,

aparentemente, existiria um retábulo. Lateralmente

vêem-se espaços para quatro telas mais pequenas.

A igreja necessita de intervenção urgente,

nomeadamente no que se refere ao restauro no

altar e do tecto, o qual apresenta graves problemas,

ameaçando ruir. Uma intervenção profunda – só

possível com apoio conjunto entre Câmara, Junta de

Freguesia, Associação e IGESPAR – não só resolvia

os problemas eminentes, como poderia solucionar

alguma das dúvidas em relação à estrutura

arquitectónica, para além de poder fornecer novos

dados, após uma intervenção arqueológica.

Apesar disto aquele espaço emana ainda uma

aura de poder. No âmbito dos domínios locais, as

irmandades da Misericórdia eram promotoras de

acções de assistência social. Em Alverca, como

noutros concelhos, a Misericórdia consumava,

sobretudo no respeitante às questões de justiça,

as funções da própria Câmara. Deste modo tanto

histórica como patrimonialmente a Misericórdia é

um elemento que valoriza esta cidade, pelo que a

sua preservação é indispensável.

51 Cf. José do Carmo Pacheco, Op. Cit. p. 162 e ficha de entrevista nº 3, anexo p. 75

Page 49: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Ao longo da história da humanidade o Homem

procurou sempre eternizar os seus feitos, utilizando

a pedra como meio privilegiado de transmissão de

memórias. Desde o tempo em que se gravava na

rocha símbolos e desenhos, cuja mensagem mal se

consegue interpretar e que hoje são testemunhos

do Homem do Paleolítico, passando – já com a

invenção da escrita – pelas primeiras civilizações,

verifica-se que todos os povos deixaram, inscritas na

pedra, memórias da sua passagem pela História.

Em Alverca, como em todo o lado, a História

inscreve-se também na pedra. Os vestígios mais

antigos de Alverca datam do período de ocupação

romana. Tudo indica ter existido nesse local uma

povoação com alguma importância, situada no

cruzamento de três vias de comunicação: uma via

terrestre que ligava Sacllabis (a actual Santarém) a

Olissipo (que hoje conhecemos como Lisboa); uma

outra via terrestre que seguia o percurso da várzea

saloia, que corresponde hoje às povoações entre

Vialonga e Lumiar; e a mais importante de todas

as vias o Tagus (Tejo), por onde transitavam as

embarcações romanas, carregadas com produtos

que eram comercializados por todo o vasto Império

Romano.

Testemunho da ocupação romana do território

que é hoje Alverca – para além de uma diversidade

de vestígios encontrados, nas escavações

arqueológicas realizadas na povoação – é a cupa

funerária romana, encontrada fora do seu contexto

original, no lugar de São Romão, datável entre o

século I e II, esculpida em calcário. De acordo com

os arqueólogos1, este tipo de cupas está, na maioria

dos casos estudados, associada a indivíduos que

ascenderam socialmente, tornando-se cidadãos

romanos. Este achado cimenta a hipótese de ter

existido, no local, uma povoação com alguma

importância.

Marcando uma época muito posterior conhece-se a

lápide que se encontrava, originalmente, por baixo

de uma janela brasonada, do palácio da quinta do

1 Informação gentilmente fornecida pelos arqueólogos João Pimenta e Henrique Men- Informação gentilmente fornecida pelos arqueólogos João Pimenta e Henrique Men-des.

MEMÓRIAS DE ALVERCA NA EPIGRAFIA LOCAL

Page 50: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Galvão hoje desaparecido. O palácio datava do

século XI, bastante arruinado no século XX, terá

sido destruído na década de setenta. A lápide

partida foi guardada, durante anos, numa garagem.

Em 1990 foi doada ao Núcleo de Alverca do Museu

Municipal de Vila Franca de Xira, tornando-se

um dos objectos patentes na primeira exposição

permanente desse núcleo museológico. A sua

leitura revela a passagem por Alverca, em 1699, de

D. Pedro II, acompanhado por dois dos seus filhos.

Teriam vindo assistir às festas em honra do São

Pedro, padroeiro da vila – que ainda se realizam

actualmente. Outro dado revelado pela epígrafe

é o facto dos membros da realeza terem sido

acomodados no palácio do Galvão, possivelmente

o único na vila com condições dignas para receber o

rei. Não foi encontrado qualquer outro documento

que refira a presença de D. Pedro II em Alverca, a

lápide epigráfica é, até ao momento, a única fonte

disponível para o conhecimento desse facto.

Quando a 1 de Novembro de 1755 o grande

Terramoto atingiu Alverca, os Paços do Concelho

caíram por terra, assim como tantos outros

edifícios religiosos e civis. Alverca estava vinculada

às Capelas de D. Afonso IV, pelo que coube ao

provedor daquela instituição a edificação da nova

Casa da Câmara. Único testemunho do processo é a

lápide epigráfica da fachada do edifício. Encimada

por dois brasões – o da rainha Mariana Vitória,

esposa de D. José I e o do bispo Paulo Carvalho

de Mendonça – a lápide revela que o edifício terá

sido construído em 1764, à custa do fundo das

Capelas de D. Afonso IV e por indicação de Paulo

de Carvalho e Mendonça: Conselheiro dos reis

D. João V e D. José I, Conselheiro Geral do Santo

Ofício, Presidente e Vedor das Reais Fazendas e da

Casa da Rainha Mariana Vitória, Comissário Geral

Apostólico da Bula da Santa Cruzada, Prior da Real

Colegiada de Guimarães, Provedor e Administrador

das Capelas de D. Afonso IV e, algo que a lápide

não refere, irmão do ministro do reino Sebastião

José de Carvalho e Melo que, a partir de 1769, seria

Marquês de Pombal.

Na fachada do edifício pode ver-se, mais em baixo,

uma outra lápide epigráfica. Trata-se de uma

estela funerária romana, em mármore branco com

nódulos rosados. Actualmente fora do seu contexto

original, alguns autores defendem que terá sido

encontrada aquando da demolição da porta de ferro

da Cerca Moura do Castelo de São Jorge em Lisboa,

embora a análise das fontes permitam considerar

a hipótese de ser original de Alverca2. Embutida

no edifício da Câmara, como elemento decorativo,

parece enquadrar-se no espírito da época, pois

era costume evidenciar-se a epigrafia quando esta

servia de testemunho da antiguidade da povoação.

A lápide constitui a memória de Marco Lícinio

Quadrato, cidadão romano da tribo Galéria3.

2 Cf. Anabela Ferreira, CASA DA CÂMARA DE ALVERCA – Conhecer a sua História, Va-lorizar um Património (1755-1855), Dissertação do Mestrado em Estudos do Património, texto policopiado, Centro de Documentação do Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 2007, pp. 77-78.3 Cf. A. M. Dias Diogo, “Notícias de Dois Vestígios Romanos no Concelho de Vila Franca de Xira”, Boletim Cultural 1, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 1986, p. 110.

Janela do Palácio do Galvão. MMVFX-NA

Page 51: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Estela Funerária Romana AF

Ainda uma outra epígrafe, esta no velho cemitério

de São Sebastião em Alverca, é a lápide funerária

mais antiga actualmente existente no local. Recorda

a memória de José Evaristo da Silva. Nascido em

Alverca em 1784, aí terá aprendido o ofício de

barbeiro. Posteriormente ingressou os quadros do

Hospital Real de S. José, em Lisboa, como barbeiro

e praticante sangrador. Mais tarde havia de se

formar cirurgião. Foi cirurgião do exército durante

a Guerra Peninsular. É um dos nomes citados como

sendo um alverquense ilustre na Monografia de

Alverca de José do Carmo Pacheco. Faleceu em 17

de Dezembro de 1837, a família mandou gravar a

memória em pedra4.

Qual é, afinal, a importância destas memórias

em pedra? A História de Alverca agita-se, faz-se

presente no Núcleo do Museu Municipal, nas ruas

do Núcleo Histórico e, também, nessas lápides,

algumas das quais ainda no seu local original,

com séculos de existência, guardiãs das palavras

gravadas, fontes históricas com anseios de

eternidade.

4 Cf. José do Carmo Pacheco, Monografia de Alverca, Alverca, Junta de Freguesia de Alverca, 1998, p. 96.

Lápide de José Evaristo da Silva AF

Actualmente a informação corre célere. Tantos

meios escritos, falados, visionados. Multiplicam-se

arquivos. A informação é entendida como algo a

preservar. No entanto, é na pedra que se continua

a gravar a memória daqueles que morrem. Na

pedra se regista a inauguração de edifícios sociais

ou culturais. Também na pedra são ainda inscritos

os topónimos das ruas. Existem meios técnicos,

como jamais os antigos poderiam imaginar existir.

Actualmente os registos são realizados não só em

papel mas também em suportes digitais, no entanto

estes veículos de informação são falíveis e possuem

um curto período de vida. Por esse motivo a pedra

continua a servir de instrumento de escrita onde se

imprimirem as mensagens que queremos deixar às

gerações futuras.

Page 52: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Page 53: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Numa altura em que se processa a primeira fase da

desactivação do velho cemitério de São Sebastião,

considera-se importante dar a conhecer algumas

pistas que possibilitam a percepção do culto

da morte em Alverca, ao longo da História. Os

vestígios mais antigos de um culto aos mortos

neste território, datam do Campaniforme, um

dos períodos da Pré-história, como testemunha

o vaso, datado dessa época, encontrado no Alto

do Pinheiro e, actualmente, parte do espólio

arqueológico do Núcleo de Alverca do Museu

Municipal de Vila Franca de Xira. Desse espólio

faz parte, também, a cupa funerária romana,

encontrada no Bom-Sucesso, a qual, juntamente

com a estela funerária embutida na fachada

principal da antiga Casa da Câmara, testemunham

o culto aos mortos no período de ocupação

romana.

Na era cristã, desde a Idade Média o enterramento

no interior das igrejas estava reservado à nobreza,

que pagava somas avultadas por tal honra. A

restante população era sepultada nos adros ou

terreiros próximos, por vezes designados por cováis

conforme se pode ver nas Memórias Paroquiais,

datadas de 1758. Neste documento pode ler-se

que todos os rituais religiosos se realizavam na

Igreja da Misericórdia excepto o que dizia respeito

às “[…] sepulturas dos defuntos porque estes se

têm enterrado nos cováis da Igreja Parochial […]”1

a qual havia sido derrubada pelo terramoto de

1755. Na Igreja Matriz de São Pedro podem ainda

observar-se algumas pedras tumulares, junto ao

altar, cujas inscrições, quase sumidas, estão ainda

por investigar.

Também por investigar estão os registos paroquiais

de Alverca, os quais constituem um dos fundos

depositados na Torre do Tombo. Este fundo é

composto por 139 livros, datados de 1591 a 1897,

incluem os registos de baptismo, casamento e

óbitos. Embora constituam uma fonte privilegiada

para o conhecimento da população de Alverca

ainda não foram completamente estudados. A

1 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Memórias Paroquiais – Dicionário Geo-gráfico de Portugal, volume 3, memória 43, [Alverca], fl. 331.

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DA MORTE EM ALVERCA

Page 54: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

análise dos registos de óbitos deverá lançar novos

dados sobre o tema agora abordado.

Em finais do século XVIII o célebre intendente

José Inácio de Pina Manique seria dos primeiros

a lançar o alerta para os perigos de insalubridade

pública provocado pelos enterramentos nas

igrejas e a ordenar, num decreto datado de 5

de Abril de 1796, a procura de terrenos, fora

da povoação para a construção de cemitérios.

Contudo, só anos mais tarde se criaram medidas

para a efectivação dessa realidade. Em 10 de

Fevereiro de 1844, o governo emitia a carta de

lei proibindo o enterramento dentro das igrejas,

a qual provocou diversas contestações populares,

como a ocorrida no Minho, originando o célebre

levantamento popular conhecido como Maria da

Fonte, motivado pela resistência da população em

alterar os usos e costumes, que vinha perpetuando

ao longo de largos séculos. Há que recordar que

a população, maioritariamente analfabeta, não

entendia a questão de saúde pública, por outro

lado a própria Igreja resistia à mudança, pois uma

parte das rendas vinha não só das cerimónias

fúnebres, que se haviam de manter, mas também

dos próprios sepultamentos. Apesar da resistência,

aos poucos começavam a aparecer, por todo o

reino, os primeiros cemitérios.

Uma ordem, datada de 4 de Novembro de 1835,

emanada pelo Governador Civil do distrito, dava

início ao processo de construção do cemitério

do então concelho de Alverca, obra que ficava

a cargo da Câmara Municipal. A 30 de Agosto

de 1837, fazia-se o pagamento de dois mil e

quinhentos réis da escritura de aforamento do

“[...] chão para o Cemitério da Freguesia de S.

Pedro em virtude da deliberação da Câmara [...]”2, a

propriedade pertencia ao Conde de Farrobo o qual,

em finais do século anterior, havia adquirido, por

2 Arquivo Histórico de Vila Franca de Xira (AHVFX), Livro d’ Receitas, e Despeza do Con-celho d’ Alverca nos annos de 1837 e 1836, Concelho de Alverca, Livros de Registo Diários de Receitas e Despesas, 1811/1849, E/A 039.3, fl. 20

arrematação publica e compra directa a particulares,

uma grande quantidade de terras em Alverca3.

Na posse do terreno, de imediato se iniciaram as

obras, conforme se pode observar pelo pagamento

de diversas despesas relacionadas, como aquela

registada em 31 de Outubro de 1837, referindo que

o Concelho entregou “[...] a João Paulo Delgado

de Mattos a quantia de mil e duzentos para

pagamento da pedraria do Pórtico do Cemitério

de S. Sebastião[...].”4 Depois da obra concluída,

os livros de receitas e despesas da Câmara de

Alverca mostram que de 1838 até 1844, se pagava,

anualmente, ao Conde de Farrobo a quantia de dois

mil reis do foro do Cemitério, o qual vencia a 15 de

Agosto5. Esta quantia era o equivalente, na altura,

ao vencimento mensal do contínuo da Câmara6.

3 Cf. ANTT, Fundo do Morgado do Farrobo, Livros 7 e 8.4 AHVFX, Livro d’ Receitas, e Despeza do Concelho d’ Alverca nos annos de 1837 e 1836, Concelho de Alverca, Livros de Registo Diários de Receitas e Despesas, 1811/1849, E/A 039.3, fl. 37.5 AHVFX, Livro de Contas do Concelho (1842-1845), Concelho de Alverca, Livros de Re-gisto Diários de Receitas e Despesas, 1811/1849, E/A 039.3, fl. 16 e 90.6 Idem, fl. 35.

Carreta Funerária AF

Page 55: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

A Misericórdia de Alverca detinha também um

importante papel na sepultura dos mortos.

Esta instituição, criada em Alverca no ano de 1583,

tinha como uma das suas missões primordiais o

acompanhamento dos enterros dos pobres, dos

membros dessa instituição e seus familiares, tal como

vem inscrito no Compromisso. Nesse documento

o capítulo XXXV tem como título esclarecedor Do

modo, com que se hão de fazer os enterramentos. Entre

outras medidas, nele se estipulava que existissem

na Misericórdia três tumbas “Huma servirá para

enterrar os pobres, e pessoas ordinárias; a segunda

servirá para enterrar as pessoas de ma�or qualidade;

a terceira de enterrar os Irmãos, e mais pessoas, que

houverem de ser acompanhadas pela Irmandade […]

e todas estas tumbas teraõ sua cuberta de veludo

com huma Cruz no me�o e borcado, e hum pano

de veludo com o mesmo feitio”7, algumas pessoas

recordam-se de existir em Alverca este pano de

veludo a cobrir os esquifes.

Para além dos esquifes a Misericórdia de Alverca

possuía uma carreta funerária, destinada, em tempos

a transportar os defuntos, algo que aconteceu pelo

menos até aos anos 60 do século XX. Com o advento

do carro funerário automóvel deixou de se utilizar a

carreta. Esta foi sendo deixada em vários lugares,

até ser guardada no depósito da Junta de Freguesia

de Alverca. Em 2008, este importante elemento do

nosso património móvel, foi finalmente recuperado,

7 Compromisso da Misericórdia de Lisboa, Lisboa, Offic. de Joseph da Silva da Nativida-de, 1745,fl. 36.

Evocação à agricultura, AF

por iniciativa conjunta da Junta de Freguesia de

Alverca e da Divisão de Património e Museus da

Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, estando

agora visitável no cemitério novo.

Ainda relacionados com a Misericórdia, no cemitério

de São Sebastião podem ver-se dois jazigos a cargo

dessa instituição: o de Henrique Ferreira Ruivo e

esposa e o de António Guerreiro e sua mulher Maria

da Ressurreição, servindo de testemunho ao facto

que, por vezes, as pessoas deixavam em testamento

disposições para que fosse aquela instituição a

cuidar dos seus restos mortais, deixando generosas

quantias para esse efeito.

A sepultura, com a sua inscrição rodeada de ele-

mentos iconográficos, terá como objectivo primeiro

a sacralização do ente querido, individualizando o

túmulo inserindo elementos que o distinguem. O

estudo dessa iconografia possibilita o conhecimento

de dados etnográficos, nomeadamente relacionados

com as profissões, constituindo um importante

elemento para o estudo da população. Sobre este

aspecto no cemitério velho de Alverca pode ser

encontrada iconografia relacionada com a aviação,

com a música, com a agricultura e com a vinicultura.

Para além de elementos relacionados com as

actividades profissionais, podem ser observadas,

em algumas sepulturas, iconografia, relacionada

com a religião, com a política e com a imagética

simbólica. Da iconografia religiosa podem ver-se

diversas imagens de Nossa Senhora, Jesus Cristo,

anjos e crucifixos símbolos de pureza, redenção e

esperança.

A iconografia simbólica é vasta, pelo que se

seleccionaram os elementos mais significativos,

como as rosas, por vezes associadas à imagem da

Virgem, ambas as representações simbolizando

a pureza; as alcachofras símbolo da ressurreição,

num caso particular rodeada por uma serpente,

mordendo a própria cauda, símbolo de eternidade;

Page 56: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

o ramo de oliveira símbolo de paz, também

associado à árvore da vida que é a oliveira e o livro

ou carta abertos, simbolizando uma vida sem

segredos e sem culpas.

Estas manifestações simbólicas estão a desaparecer

um pouco por todo o mundo. Os túmulos mais

antigos constituem não só memória daquele que

partiu, mas também de uma época específica.

Lugar sagrado, espaço de ultimo repouso, elo

entre a vida e a morte, seja como for que se veja o

cemitério, ele é também a ligação com o passado,

logo um importante veículo para o conhecimento

da nossa História.

Evocação à vinicultura, AF

Page 57: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Quando da extinção do concelho de Alverca, em

1855, a Casa da Câmara, perdeu a dignidade de sede

do município, deixando de poder exercer as funções

para a qual havia sido construída. Em pouco tempo

servia outras utilidades, mantendo um papel central

no seio da comunidade alverquense, continuando a

constituir um importante elemento do património

da freguesia1. Ali foi instalado o posto do telégrafo-

postal e correio, que funcionou entre 1901 e 19582.

Em salas anexas funcionava uma escola mista entre

1856 e 1900, depois unicamente feminina até 19053.

No dia 16 de Junho de 1963 foi inaugurado o novo

quartel da Guarda Nacional Republicana, ocupando

toda a antiga Casa da Câmara de Alverca4. Em 1976,

no primeiro andar, instala-se a Junta de Freguesia,

que ocupou o espaço até 19885. No piso térreo, de

1 Cf. Anabela Ferreira, CASA DA CÂMARA DE ALVERCA – Conhecer a sua História, Va-lorizar um Património (1755-1855), Dissertação do Mestrado em Estudos do Património, texto policopiado, Centro de Documentação do Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 2007, pp. 207-208.2 Cf. Idem, pp. 209-211.3 Cf. José do Carmo Pacheco, Monografia de Alverca, Alverca, Junta de Freguesia de Alverca, 1998, p. 179.4 Cf. Vida Ribatejana, [Jornal Regional], Número Especial, Ano de 1964, p. 8.5 José do Carmo Pacheco, Op. Cit., p. 114.

Antiga casa da Câmara, AF

NÚCLEO DE ALVERCA DO MUSEU MUNICIPAL

DE VILA FRANCA DE XIRA

Maio de 1978 até 1992, foi instalada a Biblioteca

Bento Jesus Caraça6. Finalmente, em 1989,

iniciaram-se as obras de adaptação do primeiro

andar para o Núcleo de Alverca do Museu Municipal

de Vila Franca de Xira7.

6 Cf. AHVFX, Divulgação do património Artístico e Cultural do Município, 4 de Junho de 1979, Biblioteca de Alverca, CAS-C/79-001 e José do Carmo Pacheco, Op. Cit., p. 183.7 Cf. AHVFX, Orçamento – Obra de Instalações do Núcleo Museológico de Alverca, 8 de Maio de 1990, Instalações da Câmara do Extinto Concelho de Alverca, CMVFX, M/A.001.

Page 58: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Produto da politica de polio-nuclearização do

Museu Municipal de Vila Franca de Xira, o projecto

do Núcleo de Alverca, veio ao encontro do interesse

da comunidade e da autarquia local, como um meio

de preservar a memória da localidade8, embora

integrado no Concelho, valorizava a história e o

património de Alverca. Fruto da investigação da

equipa do Museu Municipal, a sua organização

teve a colaboração da população alverquense, que

se traduziu na recolha e doação de grande parte

do espólio etnográfico e fotográfico. O projecto

de adaptação do primeiro andar do edifício para

o Núcleo de Alverca do Museu Municipal teve a

autoria do designer Américo Ferreira da Silva, com

poucas alterações relativamente à estrutura do

edifício.

Em 17 de Maio de 1990 inaugurava a exposição de

longa duração “Do Quotidiano ao Museu – Alverca

– Séculos XVII a XX”9, ocupando grande parte do

primeiro andar. No sótão foi instalada a reserva,

onde se mantiveram conversados todos os objectos

do espólio. Ao longo de aproximadamente doze

anos, embora tenha mantido a mesma exposição,

o Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila

Franca de Xira foi sendo inovado com projectos

de acção educativa, tornando-se uma referência,

sobretudo entre o público sénior e escolar, com

primazia do primeiro ciclo do ensino básico.

Em 2002 o espaço foi provisoriamente encerrado de

modo a dar início ao novo projecto da remodelação e

ampliação do museu, da autoria do arquitecto José

Cid, ficando a obra a cargo da empresa LNRibeiro.

Este projecto abrangia a área de um antigo edifício

entretanto adquirido pela Câmara Municipal, onde,

em tempos, funcionou uma oficina de ferrador,

tendo sido construído um novo edifício, com três

pisos, primeiro para recepção e sala de exposições,

8 Cf. Maria Clara de Fraião Camacho, A propósito do Núcleo de Alverca do Museu Munici-pal de Vila Franca de Xira: reflexões sobre uma experiência de Musealização e Intervenção na Comunidade, dissertação para o Curso de Pós-graduação em Museologia Social, texto policopiado, Centro de Documentação do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, 1991, p. 7.9 Cf. Maria Clara de Fra�ão Camacho, Op. Cit., p. 24.

o segundo com outra sala de exposições de longa

duração e o terceiro funcionando como sala

polivalente. No edifício da antiga Casa da Câmara

ficaram instaladas no rés-do-chão uma sala de

Serviço Educativo e o Centro de Documentação; no

primeiro andar, para além dos gabinetes técnicos,

existe uma outra sala para exposições de curta

duração, no sótão mantêm-se a reserva e uma sala

de conservação preventiva.

Actualmente o espólio do Núcleo de Alverca do

Museu Municipal é, em parte, constituído por

objectos etnográficos e industriais, fotografia e

documentação, doados por instituições e pela

população alverquense, sendo a outra parte do

espólio constituído por materiais exumados nas

diversas intervenções arqueológicas realizadas

em Alverca. Todo o espólio tem vindo ao longo

dos anos a ser alvo de tratamento de conservação

preventiva e curativa (sempre que tal se justifique),

estando devidamente acondicionado em reserva.

Contudo, embora a colecção seja significativa,

ainda faltam muitos elementos que caracterizam a

vida e a história da povoação.

Deste modo, o Núcleo de Alverca continua a

necessitar do apoio da população. Os objectos

etnográficos podem ser doados em definitivo, ou

simplesmente depositados. Quando o objecto

é doado passa a fazer parte do espólio do Museu

de forma definitivo, onde será devidamente

conservado podendo figurar em exposições. O

depósito permite que o objecto seja conservado

devidamente, podendo ser exposto, continuando

contudo a pertencer ao proprietário. Já no caso

de documentos e fotografias, actualmente, com

a utilização de novas tecnologia já não se apela à

doação, uma vez que podem ser digitalizados com

qualidade. Este método permite um substancial

crescimento da colecção, possibilitando a

investigação, a qual constitui um dos objectivos

mais importantes do museu. Ao colaborar com o

Núcleo de Alverca a pessoa que doou, deixou em

Page 59: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Aspecto da Exposição Alverca da Terra às Gentes

depósito, ou simplesmente emprestou um objecto

estará a ligar, permanentemente, o seu nome

àquele espaço.

O Núcleo de Alverca reabriu ao público no dia 24 de

Novembro de 2007, com uma exposição de longa

duração intitulada “ Alverca da Terra às Gentes”, a

qual se divide em dois momentos chave. O primeiro

momento, desenvolvido no piso térreo da antiga

Casa do Ferrador, apresenta a história do edifício,

que inclui a presença de um agulheiro, parte

da memória do espaço que, no século XVIII, foi

registado como sendo um prédio rústico com lagar

e adega. Faz também parte deste piso a exibição do

espólio exumado nas intervenções arqueológicas,

que precederam as obras. Num segundo momento,

no primeiro andar do mesmo edifício, desenvolve-

se o tema das actividades tradicionais, destacando-

se a produção do queijo de Alverca, a extracção de

sal, a produção de azeite e de vinho.

Para além dos espaços expositivos e de reserva o

público terá acesso ao Centro de Documentação,

o qual reúne uma série de obras bibliográficas

centradas em temática específicas como:

museografia, património e história local, para além

de obras de referência que permitirão aprofundar

as temáticas exploradas nas exposições. Neste

espaço poderá ainda encontrar-se um conjunto

de pastas de arquivo contendo o resultado de

diversas pesquisas, realizadas ao longo dos anos,

pelos técnicos do Museu Municipal de Vila Franca

de Xira.

Deste modo a população de Alverca tem, à sua

disposição, um espaço cultural que no fundo lhe

pertence, pois ali se reúne a História e a Memória

de Alverca, não só no que respeita à localidade,

mas também às suas gentes. Está nas mãos de

todos os alverquenses fazer deste Núcleo, do

Museu Municipal de Vila Franca de Xira, um espaço

privilegiado de cultura.

Page 60: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Page 61: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

OFICINAS GERAIS DE MATERIAL AERONáUTICO

A partir de quando se pode falar da história

das OGMA? Sabemos as datas precisas da sua

instalação em Alverca, no entanto, como em

toda a História, há sempre uma causa, um efeito,

uma razão para ter sucedido dessa forma e não

de outra. Poderá considerar-se o ano de 1915,

como início da história das OGMA. Nessa data foi

aberto concurso “para seis oficiais do Exército ou

da Armada, serem enviados ao estrangeiro, a fim

de praticarem em escolas de aviação.”1 Entretanto

iniciavam-se, nesse mesmo ano, os trabalhos

de instalação na Quinta do Queimado, em Vila

Nova da Rainha, da Escola Aeronáutica Militar.

Aquele local havia sido escolhido em detrimento

de Alverca. Julgou-se então ser o lugar ideal para

fundar a escola “Pela sua situação permitia, como

se pretendia, dar instrução de hidroavião [...].”2

Entretanto eram escolhidos os homens para

formação no estrangeiro. Entre esses oficiais

destacam-se, pela sua ligação posterior às OGMA,

1 Coronel Edgar Cardoso, Escola de Aeronáutica Militar em Vila Nova da Rainha (1916-1920), Alverca, OGMA, 8 de Novembro de 1967, p. 52 Idem, p 11

os então Primeiro-Tenente da Marinha Sacadura

Cabral (1881-1924), o Tenente de Infantaria José

Barbosa dos Santos (1884 – 1928) e o Alferes de

Cavalaria Leite João Barata Salgueiro Valente

(1888 – 1928)3. Quatro oficiais seguiram para os

Estados Unidos onde frequentaram a Signal Corps

Aviation Scool, terminando a formação em França

no Centre d’Aviation Militaire de Chartres onde já

estavam dois dos oficiais admitidos no concurso.

Os diplomas de voo foram obtidos em Fevereiro

de 1917. Após a formação a maior parte daqueles

homens exerceram funções de instrutores em

Vila Nova da Rainha, actividade iniciada em 2 de

Novembro de 1917.

Pouco tempo passado a situação em Vila Nova da

Rainha tornava-se insustentável. “A insalubridade

na região, flagelada pelo anofeles e o paludismo

incubados nos sapais e nos terrenos pantanosos

dos arrozais das duas margens do Tejo, tornou im-

3 Sacadura Cabral visitava com alguma regularidade as OGMA, o seu avião foi ali repa- Sacadura Cabral visitava com alguma regularidade as OGMA, o seu avião foi ali repa-rado pelo menos uma vez. Salgueiro Valente e Barbosa dos Santos exerciam o cargo de experimentadores de aviões das OGMA. Faleceram ambos em 30 de Novembro de 1928, quando o avião embateu no cabo metálico do balão da Companhia de Aerosteiros.

Page 62: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Entrada das OGMA, AF

periosa a mudança das instalações para paragens

mais salubres.”4 Em 1918 as oficinas começaram

a ser transferidas para Alverca. Em 1920 a Escola

de Aeronáutica Militar mudava-se para Sintra. “Ao

mudar-se para Sintra, a Escola, trouxe consigo

os hangares e Vila Nova da Rainha, deixou

de ser um aeródromo e foi esquecida quase

completamente.”5

Para instalação das oficinas foi escolhido o terreno

na propriedade do conde de Ribeira Nova, à época

arrendados a Augusto Câncio6. Eram terras de

cultivo sem qualquer habitação. A instalação, nesse

espaço, obedecia a vários factores: a proximidade

do rio Tejo e dos caminhos-de-ferro, com a estação

muito perto e, sobretudo a proximidade com

Lisboa.

Em Setembro de 1918 era criado o Parque

de Material Aeronáutico. Na construção dos

primeiros edifícios provisórios, para alojamento

de pessoal, foram utilizados caixotes de madeira,

vindos de Vila Nova da Rainha. O aspecto

abarracado das instalações terá sido responsável

por, popularmente, se começar a designar aquele

espaço por Feira do Major. O Major era Pedro Fava

Ribeiro de Almeida, director do Parque.

4 António Dias Lourenço, Vila Franca de Xira – Um Concelho no País, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Abril de 1995, p. 905 Coronel Edgar Cardoso, Op. Cit., 8 de Novembro de 1967, p. 20.6 Cf. Coronel Edgar Pereira da Costa Cardoso, O Jubileu das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, Alverca, OGMA, 1968, p. 30.

Acompanhavam-no como adjuntos o tenente de

engenharia João de Almeida Meleças – natural de

Alverca – e o tenente Ernesto Videira. Estes eram

alguns dos oficiais designados para proceder à

instalação do Parque de Materiais Aeronáuticos,

inaugurado em Outubro de 1919.

A parte fabril seria dividida, neste primeiro ano,

em quatro secções, sendo a primeira composta

por oficina de carpintaria civil; de electricidade,

de pintura; de correeiro e depósito de madeiras;

a segunda por oficina de motores; de serralharia

mecânica; de forjas e de caldeireiros. A terceira

secção incluía o armazém de material de aviação,

tendo adstrito o depósito de ferramenta e material

de consumo. A quarta secção era composta pela

coluna automóvel e oficina de reparação auto.7

Para além da fábrica, foi instalada no Parque a

Companhia de Aerosteiros, responsável pela

aquisição e posterior manobra de balões suspensos,

como mais adiante se verá. Entretanto os trabalhos

no Parque de Material Aeronáutico progrediam.

Os primeiros aviões, modelo Caudron, começaram

a ser construídos em 1922. Nesse mesmo ano

começam a construir-se bombas “para exercícios

e de indutos”8. Por esta altura o Parque procurava

torna-se, tanto quanto possível, auto-suficiente. As

salinas foram mantidas em actividade. A produção

chegou a atingir os 700 moios de sal, com lucro de

18 mil escudos9. Era permitido o acesso a rebanhos

de ovelhas para limpeza de pistas, ajudando desse

modo a produção do Queijo de Alverca10. Foi

criado um forno de tijolo. Os campos de terra fértil

eram cultivados, “ [...] o Parque passou a organizar

a sua exploração agrícola, criando para o efeito

um edifício que comportava uma abegoaria,

um aviário e um pombal, o que numericamente

significava um benefício de cerca de 30 mil escudos

7 Coronel Edgar Cardoso, Op. Cit., 1968, p. 988 Coronel Edgar Cardoso, Op. Cit., 1968, p. 1049 Cf. Idem, p. 10510 Devido à proximidade do estuário do Tejo, as ervas eram salgadas, daí que na produ- Devido à proximidade do estuário do Tejo, as ervas eram salgadas, daí que na produ-ção do queijo não era necessária a adição de sal. Dizem os mais antigos dever-se a esse factor o sabor particular do Queijo de Alverca. Embora continue a ser produzido sobre-tudo nas terras altas de Arcena, em pequenas quantidades e para consumo dos próprios produtores - seguindo a forma tradicional, terá perdido sabor e fama.

Page 63: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Edificio do Esquadrão de Aeroesteiros, AF.

anuais.”11 Foi, ainsa, construída “uma fábrica de

hidrogénio obtido por processos electrolíticos e

consequentemente quase puro, destinado aos

Serviços de Aerostação e Meteorologia.”12

Em 1928 o Parque passou a designar-se como

Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, com

autonomia em relação ao Estado. O fabrico

de aviões requeria um significativo número de

operários, os quais foram chegando oriundos

de todo o país. Neste período as OGMA foram

responsáveis pela chegada de famílias, vindas de

todas as regiões do território nacional. Começava

a assistir-se ao rápido crescimento de Alverca.

Com o desenvolvimento da aviação durante a

segunda Guerra Mundial, houve a necessidade de

readaptar as OGMA, estabelecendo-se contactos

com o estrangeiro, nomeadamente com Inglaterra,

Estados Unidos e França de modo a adaptar a

indústria a novas tecnologia. Os contactos com

França terão sido privilegiados, numa primeira

fase de adaptação: “[...] a nossa indústria

aeronáutica foi influenciada pelas facilidades de

colaboração com a indústria francesa, devido aos

contactos na primeira guerra mundial, à facilidade

de língua, metrologia e outras.”13 Recorde-se que

a formação dos engenheiros e pilotos portugueses

foi realizada em França. Posteriormente, numa 11 Coronel Edgar Cardoso, Coronel Edgar Cardoso, Op. Cit., 1968, p. 105.12 Idem, ibidem. Idem, ibidem.13 OGMA, Ofi cinas Gerais de Material Aeronáutico – Alverca do Ribatejo – Portugal, Al- OGMA, Oficinas Gerais de Material Aeronáutico – Alverca do Ribatejo – Portugal, Al-verca, OGMA, Dezembro 1958. pp. 1-2.

segunda fase a influência britânica tornou-se

notória: “[...] com adaptação aos seus standards,

medidas e aproveitamento das suas publicações

técnicas.”14 Este contacto com os ingleses assim

como posteriormente com os americanos terá

levado à necessidade de formação de técnicos

na língua inglesa de modo a facilitar o acesso a

bibliografia especializada. De facto, a instrução e

formação é, até aos nossos dias, umas das missões

das OGMA.

Nas décadas seguintes o progresso das OGMA

seria notório. Nos anos 70 do século XX, assiste-

se a uma viragem. A conquista da liberdade

leva a alguns anos de menor desenvolvimento

económico, reveladores da conjuntura nacional.

Ao mesmo tempo assinala-se a participação da

empresa em exposições internacionais, aspecto

que contribuiria para uma gradual recuperação

económica.

Em 1994 as Oficinas Gerais de Material

Aeronáutico torna-se sociedade anónima.

Actualmente as actividades principais da empresa

traduzem-se na manutenção, reparação e revisão

geral de aeronaves, motores, aviónicos, acessórios

e equipamento de terra; na modernização,

modificação e integração de aeronaves, e na

fabricação e montagem de componentes e

estruturas de aeronaves15

A privatização da OGMA em 2005, resultou na

aquisição de 65% das acções pela Airholding SGPS,

consórcio composto pela EMBRAER – Empresa

Brasileira de Aeronáutica S.A. – fundada em

1969 é actualmente uma das maiores empresas

aeroespaciais16 – e EADS – European Aeronaitic

Defense and Space Compan�.

De povoação economicamente voltada para o

sector primário, Alverca tornou-se no século XX

14 OGMA, OGMA, Op. Cit., Dezembro 1958. p. 215 Cf. OGMA, OGMA, Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.- Apresentação Institucional, Alverca, OGMA, mod. 0808 2/05, 2005.16 Cf. www.embraer.com.br

Page 64: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Hangar de aviões, AF

numa localidade industrial. Actualmente assiste-se

a uma viragem para o sector terciário. O comércio

e os serviços são dominantes. Desde a década de

90 do século XX têm-se assistido, em Alverca e por

todo o Concelho, ao encerramento de indústrias de

grande porte como a MAGUE – metalomecânica –

a Fábrica de Descasque de Arroz, em Vila Franca de

Xira e tantas outras. As Oficinas Gerais de Material

Aeronáutico têm vindo a contrariar essa tendência,

conseguindo encontrar modos de sobreviver e de

se expandir.

Sobre a história fica muito para relatar. Não cabia

neste trabalho uma abordagem mais exaustiva.

Contudo é importante sublinhar o facto da grande

maioria dos trabalhadores das OGMA serem,

naturais e/ou moradores de Alverca. A marca

da indústria sai do complexo dos edifícios para

o coração da cidade, de onde sobressai o bairro

operário construído nos anos 60, na Avenida

Infante Dom Pedro, e que subsiste apesar de

algumas tentativas para o demolir.

A memória das OGMA está também presente na

toponímia. O capitão João de Almeida Meleças

(1890-1921), já mencionado, dá o seu nome a uma

das principais avenidas da cidade. José Antunes

(1912-1966), foi chefe de secção das OGMA, onde

começou a trabalhar com onze anos. Tem o seu

nome numa das ruas de Alverca, embora isso se

deva mais ao seu desempenho como membro

do associativismo e da política local17. A Rua

Brigadeiro Fernando Alberto de Oliveira evoca

o director das Oficinas entre 1957 e 1967. Deste

modo, é notório que a história das Oficinas Gerais

de Material Aeronáutico é indissociável da história

de Alverca.

17 Cf. José do Carmo, Op. Cit., Alverca, Junta de Freguesia de Alverca, Julho de 1998, p. 100

Page 65: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

O Hangar de Balão das OGMA é o único exemplar a

existir, actualmente, no mundo tendo sido o único

construído em Portugal. A sua forma arquitectural

de construção geodésica é singular. Existe um

hangar com algumas semelhanças em Santa Cruz,

no Brasil, construído em 1935 – por iniciativa alemã

– de dimensões maiores, em relação ao das OGMA,

porque se destinava à manutenção de dirigíveis1.

O Hangar, construído nas OGMA em 1925, possui uma

altura máxima de 13,10 metros. Têm de largura 14,65

metros e de comprimento 40 metros. É revestido por

22.800 telhas de fibro-cimento. No interior existem

dois pisos superiores de onde se acedia à tela dos

balões. Toda a estrutura interna é composta por traves

de madeira dispostas diagonalmente, lembrando o

casco de um navio invertido, “ [...] era considerada

modelar na época. A disposição de elementos

diagonais evita o contravento, permitindo uma

grande economia de espaço, tal como era necessário

para o alojamento de balões.”2.

1 Cf. www.aerofans.com.br2 OGMA, Hangar de Balão, [programa do 80º aniversário], Alverca, OGMA, s/ data [1998].

Operações junto ao Hangar com balão cativo. S. d. OGMA

O HANGAR DO BALÃO DAS OGMA

Page 66: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

Este Hangar servia à manutenção de balões de

hidrogénio, suspensos. A sua construção naquele

espaço deve-se ao facto do primeiro batalhão de

aerosteiros estar estacionado no Parque. Para

além das leituras meteorológicas, os aerosteiros

usavam os balões para outros fins. Em 1922 os

comandantes da Companhia, capitão Costa França

e o tenente José Machado de Barros, lançaram-se,

com pára-quedas, de um balão cativo em ascensão,

de uma altura de 500 metros. Seria os primeiros

salto de pára-quedas realizado em solo nacional,

por portugueses3.

Em 1924 passaria a denominar-se Companhia de

Aerostação e Observação. De acordo com António

Dias Lourenço “A aerostação entre nós, apenas ao

nível dos balões cativos, destinava-se unicamente a

missões de observação e meteorologia.”4 Em 1926

a Companhia possuía “ [...] vários balões cativos

zodiac e um esférico para voos livres.”5

Até à data não foi possível determinar quando terão

cessado os trabalhos de recuperação de balões no

Hangar, ou quando terminaram as actividades da

Aerostação nas OGMA. O certo é que, de acordo com

a memória dos funcionários da empresa, durante

várias décadas o Hangar serviu como arrecadação

de “coisas velhas”. No andar superior guardavam-

se arquivos, em baixo acumulava-se lixo, os portões

deixaram de fechar em condições. Em 1993, no

âmbito das comemorações dos 75 anos das OGMA,

providenciou-se a sua recuperação, começando

pela limpeza do espaço. Alguma documentação

terá sido perdida nesta altura, confundida com

lixo.

Neste período recuperou-se o chão. Antes era de

madeira, para absorver qualquer tipo de líquidos,

sobretudo óleos. Por altura da recuperação do espaço

a madeira estava podre, razão porque foi retirada

3 Cf. Coronel Edgar Pereira da Costa Cardoso, O Jubileu das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, Alverca, OGMA, 1968., , pp. 33-34.4 António Dias Lourenço, Vila Franca de Xira – Um Concelho no País, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Abril de 1995, p. 94.5 Coronel Edgar Pereira da Costa Cardoso, Op. Cit, 1968, p. 33.

tendo-se cimentado o pavimento. Repararam

algumas telhas partidas e partes da estrutura de

madeira que se encontrava danificada. Apesar

das recuperações efectuadas mais de noventa por

cento da estrutura é de origem, não apresentando

até à data, qualquer problema de conservação.

A madeira da estrutura é resistente e de grande

qualidade, tendo sido alvo de um tratamento

anti-caruncho, pois na base de uma coluna, junto

à escada de acesso aos pisos superiores, foi

detectado indícios de ataque de xilófagos. Após o

tratamento nunca mais se detectou qualquer tipo

de ataque às madeiras. Foi aplicada uma camada

de tinta protectora, não havendo qualquer outra

intervenção.

Este hangar de balão testemunho único do

Património Industrial do país, e de Alverca em

particular, é utilizado pela empresa como espaço de

memórias, onde se encontram expostas fotografias

e objectos intimamente relacionados com a

história das OGMA. Pelo que foi possível apurar a

necessidade de expor a sua história e o seu trabalho,

parece ser uma constante nas OGMA. Em diversas

ocasiões, sobretudo por altura dos aniversários,

foram realizadas exposições comemorativas. Num

artigo publicado pela Revista do Ar, quando das

comemorações do 40º aniversário das OGMA em

1958, lê-se: “Um dos números das comemorações

tinha sido uma Exposição documental das

actividades levadas a cabo pelas O.G.M.A. durante

40 anos da sua laboração.”6. Em 1963 criava-se

6 “Oficinas Gerais de Material Aeronáutico”, Revista do Ar, n.º 242, Ano XXI, Dezembro de 1958, p. 93.

Estruturas de travamento laterais. AF

Page 67: Fragmentos de Alverca

| 67 |

Fragmentos de Alverca

uma exposição permanente com maquetas de

instalações, motores, modelos de aviões, entre

outros. Sobre esta exposição diz o Coronel Fernando

Alberto Oliveira: “Para preservar o que ainda resta,

para mostrar aos jovens de hoje que, antes deles,

outros labutaram e concretizaram ideias e sonhos

[...], se iniciou a colecção das Oficinas Gerais de

Material Aeronáutico onde cada peça exposta

recorda um facto da sua vida fabril.”7

Em 1969 era criado o Museu do Ar, em instalações

cedidas pelas OGMA. Muito do seu acervo foi

cedido por esta empresa: materiais (aviões e

réplicas construídos, uns e outros, na empresa)

e documentação (manuais de aeronaves,

publicações técnicas, documentação interna,

revistas, fotografias, entre outros)8. Apesar desse

facto, o Museu do Ar está desvinculado das OGMA.

É o Museu da Força Aérea Portuguesa e da História

da Aeronáutica em Portugal. Como organismo da

Força Aérea é um museu de Estado.

Embora o Museu do Ar, cumpra o seu papel como

espaço de memória da aviação portuguesa, sentia-

se a necessidade, por parte dos funcionários e

administradores das OGMA, da existência de um

espaço onde a história da empresa e dos seus

trabalhadores pudesse ser revelada. Deste modo,

em 1993, nascia a Comissão de Conservação do

Património Histórico-cultural das OGMA, composta

por cinco elementos: Brigadeiro Alberto Fernandes,

Engenheiro Lima Bastos, Couto dos Santos, João

Carvalho e Mário Ascensão9. Esta Comissão tinha

como objectivo principal recolher materiais,

dispersos pela empresa, para a instalação de um

Museu Industrial OGMA.

Uma das primeiras acções da Comissão pren-

deu-se com a recolha e selecção do espólio. Os

trabalhadores foram informados da iniciativa

7 Coronel Fernando Alberto Oliveira, Como Nasce um Avião, Alverca, OGMA, 1963, p. 19.8 Cf. OGMA, Museu Industrial da OGMA, folheto, Alverca, OGMA, s/ data.9 Destas cinco pessoas restam actualmente os dois últimos nomes citados, os outros foram sendo reformados, não fazendo actualmente parte dos efectivos da empresa.

e sensibilizados para a necessidade de recolha

de material. Em todas as secções estavam

armazenados materiais, que foram sendo entregues

à Comissão, tendo a maioria desses materiais sido

identificada pelos próprios trabalhadores. Para

além dos trabalhadores no activo, contaram com o

“ [...] valoroso apoio de pessoal […] na situação de

reforma, assim como da APOGMA - Associação de

Pessoal da OGMA.”10 O espólio é então composto por

documentação, fotografias e objectos relacionados

sobretudo com o fabrico de aviões, mas também

oriundos de outros sectores da empresa.

Para além das acções de recolha, alguns materiais

foram doados, como foi o caso do espólio de Augusto

Antunes Simões, antigo trabalhador da empresa,

inventor de alguns instrumentos patenteados e

galardoados com vários prémios internacionais.

Entre os inventos encontram-se uma Descravadora

e dois modelos de Descravadora-Chanfradora, os

quais serviam para retirar os rebites de ligação de

várias componentes dos aviões.

O local escolhido para a instalação do

museu foi o Hangar do Balão e, após a sua

recuperação, começou a preparar-se uma

exposição, inaugurada em 1993, no âmbito das

comemorações do 75º aniversário das OGMA. A

exposição estava direccionada tanto para o interior,

como para o exterior, com mostra de projectos

desenvolvidos pela empresa. Tratando-se de uma

grande campanha de marketing, com vista a dar a

conhecer o funcionamento das OGMA também ao

público exterior. Depois de inauguração do espaço,

o Hangar passou a ser utilizado periodicamente,

no decurso das festas da empresa.

Mais tarde, nas comemorações dos 80 anos de

actividade, em 1998, o Hangar voltou a abrir com

uma exposição diferente, ainda sem os aviões que

hoje se vêem, mas com alguns simuladores de voo.

Nesta nova exposição abordavam-se as origens,

10 Cf. OGMA, Museu Industrial da OGMA, folheto, Alverca, OGMA, s/ data.

Page 68: Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

contava-se a História. Nesse ano foi estabelecido

um protocolo entre o Museu do Ar e as OGMA, para

a cedência temporária de materiais destinados à

exposição11.

Desde essa altura, à medida que as administrações

se vão sucedendo, assim é maior ou menor o

interesse pelo projecto. De qualquer forma,

sempre que se comemora o aniversário, ou há

um evento especial, uma visita de importância,

é realizada uma revisão da exposição, de modo

a permitir a reabertura do Hangar. A exposição

actual foi realizada para as comemorações do 86º

aniversário, em 2004.

Nesta exposição podem ver-se alguns aviões,

como o Chipmunk, avião de treino básico,

fabricado nas OGMA, sob licença britânica, na

década de 50 do século XX, período em que foram

fabricados cinquenta e seis desses aviões12, o

exemplar exposto foi o último a ser fabricado a

nível mundial. Ao longo das paredes vêem-se os

expositores, encimados por uma grande ampliação

fotográfica – quase todas datadas dos anos iniciais

da empresa – ladeadas por retratos de todos os

directores e administradores, até à privatização

em Março de 2005. Nos expositores são visíveis

diversos elementos relacionados com o trabalho

da empresa.

11 Cf. Idem12 Aero Club de Portugal, Aero Club de Portugal, Lisboa e o Tejo na Aeronáutica Nacional – Exposição Biblio-Iconográfica e de Propaganda da Aeronáutica Portuguesa, catálogo, Lisboa, Aero Club de Portugal, Dezembro de 1959, p. 84

Aspectos da exposição, AF

Embora seja um espaço importante para o

conhecimento da História de Alverca e do seu

Património Industrial, o facto é que o acesso ao

museu não é fácil, pois o Hangar do Balão encontra-

se dentro da área militar. Seja como for tem sido

aberto ao público em vários momentos, para além

das comemorações dos aniversários.

De um modo geral o Hangar é aberto a visitas

institucionais de órgãos ligados ao governo e

escolas, sobretudo, secundárias e universitárias,

tendo despertado o interesse junto de pessoas da

especialidade na área de fabrico e manutenção de

aviação e da aeronáutica em geral. Em relação ao

público geral, para além das dificuldades referidas,

acresce o facto deste projecto ser, em grande parte,

desconhecido.

A possibilidade de se abrir as portas do Hangar

para um público mais vasto, haveria de despertar

o interesse das pessoas, não só pela história que

encerra como pela própria estrutura do espaço,

cuja arquitectura impressionante é única. Mesmo

faltando uma série de requisitos para fazer do

Hangar do Balão um verdadeiro museu ele já

possui algo de essencial: pessoas interessadas e

empenhadas em fazê-lo progredir.

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Fragmentos de Alverca

BIBLIOGRAFIA

Page 70: Fragmentos de Alverca

| 70 |

Fragmentos de Alverca

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Compromisso da Santa Casa, Villa d’Alverca,

Irmandade da Misericórdia, compromisso

pelo qual se regula actualmente a irmandade

da Misericórdia da Villa d’Alverca na que lhe

pode ser aplicável, assim como várias ordens

e regulamentos do Governo para acentos

apresentados de contas, como se regem,

1836.

Declaração de todos os livros e mais papeis

pertencentes a esta irmandade feita no anno

de 1817 pelo escrivão da Meza.

Escritura de Compozição e obrigação do vinculo de

huma capela, que fazem Matheus Rodrigues,

por poder vocal que tem de sue filho

Raimundo Rodrigues Roza, com o Provedor,

e mais Irmaons da Meza da Santa Caza da

Mizericordia desta vila de Alverca, 14 de Abril

de 1789.

Escritura de reconhecimento que fez João Rodrigues

Caldas da cidade de Lisboa à Santa Casa da

Misericórdia desta villa de Alverca de huma

vinha chamada o Cochão, 1795.

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D. Affonso 4º …, 1860, Administração do

Concelhor de Vila Franca de Xira, D.001.1

Correspondência recebida das CM para a

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Receitas e Despesas, 1811/1849, E/A 039.3.

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Alverca, Livros de Registo Diários de Receitas

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Page 71: Fragmentos de Alverca

| 71 |

Fragmentos de Alverca

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Livro de Registo de Mancebos Capazes de entrarem

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1764 a 8 de Fevereiro de 1814, Concelho de

Alverca, H/006.

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provedor da Santa Casa da Misericórdia de

Alhandra, 26 de Agosto de 1852, fundo da

Santa Casa da Misericórdia de Alhandra,

Correspondência Recebida, C/A – 003

Oficio do Prior Manoel Bento Lopes ao provedor

da Misericórdia de Alhandra, 20 de Abril de

1889, fundo da Santa Casa da Misericórdia

de Alhandra, Correspondência Recebida,

C/A – 003

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de Alverca, CMVFX, M/A.001.

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de Xira – 2ª Repartição – Alverca

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Ministério da Marinha

Comissão do Domínio Público Marítimo, Processo

nº 3554/77, parecer nº 4435.

Museu Municipal de Vila Franca de Xira – Núcleo

de Alverca (MMNA)

Testamento de Maria da Glória da Silva Monteiro,

falecida a 22 de Novembro de 1864, moradora

da Villa d’Alverca, filha legítima de António

Francisco Monteiro e dona Luiza Thereza Jose

e Silva, Sentença Cível de 25 de Agosto de

1866.

Diz Fortunata Augusta herdeira habilitada por este

juizo, escrivão Roque, em os autos de inventario

dos bens da fallecida D. Maria da Gloria Silva

Monteiro, que para poder discrever no registro,

os dominios directos, e mais propriedades,

que da dita herança pertencem a suppta,

precisa que se lhe passe por certidão, as verbas

da descripção de todas as propriedades, e

dominios que herdou da dita fallecida, e como

para de lhe passar careça de despacho [...],5

de Abril de 1867.

Page 72: Fragmentos de Alverca

| 72 |

Fragmentos de Alverca

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John Kuhlmann Madsen, Hispanismen

omkring Sven Skydsgaard: studier i spansk og

portugisisk sprog, litteratur og kultur til minde

om Sven Skydsgaard, Museum Tusculanum

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Número Especial, 1964, pp. 142-144.

TEIXEIRA, Garcez, “Inquérito Sobre Pelourinhos”,

Revista de Arqueologia, Tomo III, 1936.

DOCUMENTOS ON-LINE•

Aero Fans (www.siteaerofans.hpg.com.br)

Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos

Nacionais (www.monumentos.pt)

Embrarer – Brasil (www.embraer.com.br)

Instituto Português do Património Arquitectónico

(www.ippar.pt)

Observatório Astronómico de Lisboa

(www.oal.ul.pt)

Oficinas Gerais de Material Aeronáutico

(www.ogma.pt)

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Fragmentos de Alverca

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Fragmentos de Alverca

ANEXOS

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Fragmentos de Alverca

Topónimo Vizinhos

Vila dAlverqa 108

Aldea da Panasqueira 6

Aldea da Pêro Berba 6

Aldea de Ramas 5

Aldea das Arecenas 18

Aldea das Verdelhas grãde e pequena 13

Aldea do Adarço 19

Aldea do Moinho de Veto 3

Aldea do Soveral Grâde 43

Aldea do Soveral Pequeno 18

Aldea dos Potes 14

Casaes do Valle 5

Estalage da ponte dAlhãdra 1

TOTAL 259

Topónimo Fogos

Adarço 6

Alverca 167

Ponte d’Alhandra 12

Soboral 45

A dos Melros 8

Aresena 20

A dos Potes 16

Verdelha 8

Pêro Berba 10

Val de Vasias 10

TOTAL 302

Topónimo Designação Fogos

Adarçe Aldeia 24

Allverqua Vila 150

Arecenas (Grande e Piquena)

Aldeias 26

Dos Mellros Aldeia 16

Dos Potes Aldeia 23

Moinho de Vento Aldeia 10

Panasqueira Aldeia 5

Peroverba Aldeia 17

Ponte da Azanha Aldeia 9

Soltas Cazais quintas e moinhos 22

Soverais (Grande e Piqueno)

Aldeia 80

Vall de Rana Aldeia 10

Verdelha Aldeia 14

Total 406

Topónimo Designação Vizinhos Pessoas

Adarse Lugar 8 35

A-dos-Melros Lugar 28 108

A-dos-Potes Lugar 25 98

Alverca Freguesia 180 727

Arcena Grande Lugar 37 121

Arcena Pequena Lugar 9 35

Brandoa Lugar 11 29

Moinho de Vento Lugar 13 62

Ponte Lugar 31 127

Proverba Lugar 7 27

Vale de Ranas Lugar 6 25

Verdelha Lugar 6 15

TOTAIS 361 1409

POPULAÇÃO DA VILA E LUGARES

DE ALVERCA EM 15271

POPULAÇÃO DA VILA E LUGARES

DE ALVERCA EM 15882

POPULAÇÃO DA VILA E LUGARES

DE ALVERCA EM 16403

POPULAÇÃO DA VILA E LUGARES

DE ALVERCA EM 17584

___________

1 Cf. Bramcamp Freire, Archivo Histórico Portuguez, Vol. VI, Anno de 1908, p. 258.2 Cf. ANTT, Núcleo Antigo, Tombo de Alverca, Livro XXV, Parte II, Cx. 271, fls. 1139-1140

___________

3 Cf. ANTT, Tombo de Alverca, Lista das Comarcas do Reino, 1640, Manuscrito 1194, Livraria4 Cf. ANTT, Memórias Paroquiais - Dicionário Geográfico de Portugal, volume 3, memó-ria 43 (Alverca), fls. 329-330.

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Fragmentos de Alverca

“Aos quinze dias do mez de Novembro do anno

de mil oito centos cincoenta e cinco nesta Villa

d’Alverca e Paços do Concelho aonde se achava

reunida a Camara Municipal composta do seu

Prezidente e mais vereadores abaixo assignados,

ahi tratou de calcular o preço medio dos seguintes

generos relativo áo corrente anno a saber – Alhos

a restia cincoenta reis – Azeite o almude tres mil e

quatro centos reis – Azeitona o alqueire duzentos

e quarenta reis – Cabritos cada um cento e secenta

reis – Carneiro siscentos reis – Cordeiros duzentos

reis – Ceb�llos o cento cem reis – Centeio o alqueire

trezentos e vinte reis – Cevada o alqueire trezentos

reis – Chixaros duzentos reis – Damascos o cento

cento e quarenta reis – Fava o alqueire trezentos

e quarenta reis – Feijaõ seiscentos reis – Frangaõs

cada um oitenta reis – Galinhas duzentos e quarenta

reis – Graõ de bico o alqueire sete centos reis – Laã

a arrouba dois mil e cem reis – Laranja o cento

duzentos reis – Linha a carrada mil e duzentos reis

– Limaõ o cento oito centos reis – Macçaas [sic]

o cento cento e vinte reis – Ovos a duzia oitenta

reis – Palha pam de quatro arroubas duzentos e

secenta reis – palha de centeio o feixe quarenta reis

– Patos cada um duzentos reis – Pecêgos o cento

quinhentos e cincoenta reis – Pêras o cento cento

e cincoenta reis – Perus cada um sete centos reis –

Porcos a arrouba dois mil e quatrocentos reis – Sal

o moio dois mil reis – Tremocos o alqueire cento e

vinte reis – trigo seiscentos reis – Vinagre o alqueire

mil e duzentos reis – Vinho cozido o almude mil

e oitocentos reis – Vinho mosto naõ o houve por

isso se naõ calcula preço medio. E para cosntar se

lavrou a prezente acta que depois de lida todos

a assignaraõ eu Joze Peres Chaves Escrivaõ da

camara que escrevi.”

[assinatura]

1 AHVFX, Livro de Registos de Actas das Sessões – Acórdãos, Concelho de Alverca, B/A.002.

ÚLTIMA ACTA DE SESSÃO DA CÂMARA DE ALVERCA 1

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