formulação relativista do electromagnetismo através da

127
Formulação Relativista do Electromagnetismo através da Álgebra Geométrica do Espaço-Tempo de Minkowski Rafael Antunes Ferreira Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Professor Doutor José Bioucas Dias Orientador: Professor Doutor Carlos Paiva Co-Orientador: Professor Doutor António Topa Vogal: Professora Doutora Maria Hermínia Caeiro Costa Marçal Julho 2010

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Formulação Relativista do Electromagnetismo através da

Álgebra Geométrica do Espaço-Tempo de Minkowski

Rafael Antunes Ferreira

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Professor Doutor José Bioucas Dias

Orientador: Professor Doutor Carlos Paiva

Co-Orientador: Professor Doutor António Topa

Vogal: Professora Doutora Maria Hermínia Caeiro Costa Marçal

Julho 2010

II

III

Agradecimentos

Embora uma dissertação seja, pelo seu objectivo académico, um trabalho individual, existem

sempre contributos de natureza diversa que não podem nem devem deixar de ser realçados.

Em especial, gostaria de expressar o meu agradecimento ao meu orientador, Professor Carlos

Paiva, e co-orientador Professor António Topa, pelo apoio e disponibilidade sempre

demonstradas, com os seus conhecimentos nos mais diversos momentos, esclarecendo as

dúvidas existentes e atribuindo novas tarefas que permitiram uma evolução favorável do

trabalho.

Aos meus pais, irmã, família e amigos pelo apoio incondicional, compreensão e grande

sacrifício que fizeram para me possibilitarem a realização deste curso.

Às pessoas que conheci ao longo deste percurso que foram fundamentais não só na minha

formação académica, como também, na minha formação enquanto pessoa.

A todos eles deixo aqui o meu agradecimento.

IV

Abstract

The study moving media in relativistic electrodynamics is a very important topic in

electromagnetics research. Any subject studied within this field must be addressed using a

four-dimensional space, where the regular cross product is no longer valid. Therefore, this

study is done, in general, using algebraic manipulation with tensors. To avoid the use of this

complicated tensor algebra, a new mathematical formalism, called geometric algebra or

Clifford algebra, is addressed in this thesis.

The geometric algebra has given its first steps in the late nineteenth century, although it

remained almost forgotten in the years that followed. In 1963, the geometric algebra retrieves

its prominence with the work developed by David Hestenes, who reformulated it and gave it

the modern consistency. Since then, it has been gaining importance, and its strength is

recognized by the way one structure can serve as a basis for such unrelated topics in physics

and mathematics, in a clear and concise way.

This thesis begins with the fundamental properties of geometric algebra and its application to

the three-dimensional space with Euclidean metric.

Gradually, in a comprehensive way, one shifts into the Minkowski´s space-time, and its

application in relativistic electrodynamics which is the core of this dissertation.

The study of Minkowski´s space-time becomes more simpler due to the use of certain tools

such as the boost (or active Lorentz transformation) and vacuum form reduction.

In space-time algebra, Maxwell equation´s are reduced to only two, the homogeneous and the

inhomogeneous equations and; in vacuum, they can be written as a single equation.

In vacuum, as in other isotropic medium, the space-time constitutive relation, written in terms

of the Faraday and Maxwell bivectors, is the same either in the lab frame as in the proper

frame, since these two bivectors are not relative.

By itself, the theoretical formulation of geometric algebra proofs that this kind of algebra can

become, in the future, the unified language of modern physics.

Keywords: Geometric algebra; Bivector; Relativistic electrodynamics; Boost; Maxwell

bivector; Faraday bivector; Vacuum form reduction; Minkowski´s space-time; Moving

media.

V

Resumo

O estudo dos meios em movimento na electrodinâmica relativista é um ponto com muita

relevância no electromagnetismo. Quando se pretende estudar matérias nestes campos da

electrodinâmica relativista, e se passa para quatro dimensões, o produto externo deixa de ser

válido, e recorre-se à manipulação algébrica com tensores. Para evitar o uso desta complicada

álgebra tensorial, nesta dissertação é apresentado um novo formalismo matemático,

designado por álgebra geométrica ou de Clifford.

A álgebra geométrica deu os primeiros passos no final do século XIX, apesar de ter

permanecido no esquecimento nos anos que se seguiram. Em 1963 recupera o seu destaque

com os trabalhos desenvolvidos pelo professor David Hestenes que a reformulou e lhe deu a

consistência moderna. Desde então, tem ganho crescente importância, sendo a sua força

reconhecida pela forma como consegue numa única estrutura servir de base a temas tão

díspares da física e da matemática, de forma clara e concisa.

Nesta dissertação começa-se por estudar as propriedades fundamentais da álgebra

geométrica e a sua aplicação no espaço tridimensional da métrica euclidiana.

Progressivamente e de uma forma natural passa-se para o espaço-tempo de Minkowski, e a

sua aplicação na electrodinâmica relativista sendo esta o cerne desta dissertação. O estudo

deste espaço-tempo de Minkowski torna-se menos complexo devido ao uso de ferramentas

como o boost (ou transformação de Lorentz activa) e a redução à forma do vácuo.

Através da aplicação da álgebra do espaço-tempo reescrevem-se as equações de

Maxwell em apenas duas, a homogénea e a não homogénea, onde no vácuo se conseguem

integrar numa única. No vácuo a relação constitutiva do espaço-tempo, em termos dos seus

bivectores, é a mesma no referencial próprio e no de laboratório, pelo facto dos bivectores de

Faraday e de Maxwell serem não relativos. A formulação teórica da álgebra geométrica

potencia o facto desta álgebra se poder vir a tornar numa linguagem unificada da física

moderna.

Palavras-chave: Álgebra geométrica; Bivector; Trivector; Produto exterior; Produto

geométrico. Boost; Álgebra espaço-tempo de Minkowski; Lorentz; Electrodinâmica

relativista; Meios em movimento; Bivector Faraday; Bivector Maxwell; Redução à forma

vácuo.

VI

Índice

Lista de Figuras ...................................................................................................................... VIII

Lista de Símbolos ....................................................................................................................... X

Lista de Tabelas ...................................................................................................................... XV

1.Introdução ................................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento histórico................................................................................................... 2

1.2 Objectivos.......................................................................................................................... 6

1.3 Organização e estrutura ..................................................................................................... 6

1.4 Contribuições .................................................................................................................... 8

2.Alguns Aspectos da Álgebra Geométrica .............................................................................. 10

2.1 Produto Geométrico ou de Clifford ................................................................................. 11

2.2 Estrutura da Álgebra Geométrica 3C ............................................................................ 16

2.3 Contracções ..................................................................................................................... 20

2.4 Reflexões e rotações no plano ......................................................................................... 28

2.5 Reflexões e rotações no espaço ....................................................................................... 28

2.6 Conclusões ...................................................................................................................... 31

3.Álgebra Geométrica Aplicada ao Espaço-Tempo de Minkowski.......................................... 34

3.1 Contradicções da Métrica Euclidiana .............................................................................. 35

3.2 Estrutura da Álgebra Geométrica 1,3C .......................................................................... 39

3.3 Transformações de Lorentz................................................................................................. 44

3.3.1 Transformação de Lorentz activa ou Boost .............................................................. 44

3.3.2 Transformação de Lorentz passiva ........................................................................... 48

VII

3.4 Dilatação do tempo.......................................................................................................... 52

3.5 Contracção do espaço ...................................................................................................... 55

3.6 Adição de velocidades colineares ................................................................................... 57

3.7 Conclusões ...................................................................................................................... 60

4.Óptica Relativista ................................................................................................................... 63

4.1 Efeito Doppler Relativista ............................................................................................... 64

4.2 Efeito Doppler Relativista num plasma .......................................................................... 67

4.3 Conclusões ...................................................................................................................... 68

5.Electrodinâmica Relativista ................................................................................................... 69

5.1 Equação de Maxwell em 3C ......................................................................................... 70

5.1.1 Equações de Maxwell-Boffi em 3C ....................................................................... 71

5.2 Equações de Maxwell na álgebra 1,3C ......................................................................... 74

5.3 Meios em movimento ..................................................................................................... 77

5.4 Redução à Forma do Vácuo ........................................................................................... 81

5.5 Conclusões ..................................................................................................................... 90

6.Conclusões ............................................................................................................................. 93

6.1Conclusão final ................................................................................................................. 94

Referências ................................................................................................................................ 97

Créditos de Figuras ................................................................................................................... 98

Apêndice A-Paradoxo dos Gémeos .......................................................................................... 99

Apêndice B- Aplicação de um Boost ...................................................................................... 105

VIII

Lista de Figuras

Figura 1.1 - William Rowan Hamilton (1805-1865), [1]............................................................ 2

Figura 1.2 - Hermann G. Grassmann (1809-1877), [2] .............................................................. 3

Figura 1.3 - William Kingdom Clifford (1845-1879), [3] .......................................................... 3

Figura 1.4 - Josiah Willard Gibbs (1839-1903), [4] ................................................................... 4

Figura 1.5 - David Orlin Hestenes (1933-), [5] .......................................................................... 5

Figura 2.1 – Base ortonormada em 3C ................................................................................... 12

Figura 2.2 – Representação do produto exterior entre dois vectores ........................................ 14

Figura 2.3 - Representação do subespaço, 2

, dos bivectores que fazem parte de 3C ........ 14

Figura 2.4 – Representação do trivector unitário 123 1 2 3ˆ i V e e e e .............................. 15

Figura 2.5 – Dualidade entre o produto externo de Gibbs e o produto exterior de Grassmann 18

Figura 2.6 – Representação do produto geométrico de um vector a por um bivector B .......... 24

Figura 2.7 – Interpretação geométrica da contracção a B ..................................................... 25

Figura 2.8 – Reflexões do vector r em relação ao eixo caracterizado pelo vector a ................ 26

Figura 2.9 – Rotação de um vector r rcomo resultado de duas reflexões sucessivas. ....... 27

Figura 2.10 – Reflexões do vector r em relação ao eixo caracterizado pelo vector a ( r r ) e

em relação ao plano caracterizado pelo bivector 123A ae ( r r )......................................... 29

Figura 2.11 – Rotação do vector 3Ca de um ângulo no plano do bivector unitário B .. ......... 31

Figura 3.1 – Representação de 1vs para 2 0.5 ........................................................ 38

Figura 3.2 – Cone de luz ........................................................................................................... 42

Figura 3.3 – Representações paramétricas do vector u igual a -1. ............................................ 46

Figura 3.4 – Representações paramétricas do vector u igual a 1. ............................................. 46

Figura 3.5 – Diagrama de Minkowski ...................................................................................... 50

IX

Figura 3.6 – Linha de simultaneidade em ............................................................................. 51

Figura 3.7 – Linha de simultaneidade em ............................................................................. 52

Figura 3.8 – Diagrama de Minkowski onde os acontecimentos O e B são simultâneos para o

referencial , mas não o são para S. .......................................................................................... 53

Figura 3.9 – Diagrama de Minkowski, a dilatação do tempo ................................................... 54

Figura 3.10 – Diagrama de Minkowski, a dilatação do tempo ................................................. 54

Figura 3.11 – Diagrama de Minkowski, a contracção do espaço ............................................. 56

Figura 3.12 – Diagrama de Minkowski, a contracção do espaço. ............................................ 57

Figura 4.1 – Esquema representativo da relação entre o emissor e o receptor através de uma

rotação e um boost. ................................................................................................................... 65

Figura 4.2 – Efeito de Doppler no caso de um plasma estacionário em relação ao observador69

Figura 4.3 – Vista de uma rua a uma velocidade de 0.99c[6] ................................................... 71

Figura 5.1 – Relação constitutiva de um meio isotrópico visto de diferentes referenciais ....... 81

Figura 5.2 – Velocidade de fase normalizada para 0 4, 0n ............................................. 87

Figura 5.3 – Velocidade de fase normalizada para 0 4, 1n .............................................. 88

Figura 5.4 – Velocidade de fase normalizada para 0

0

14,n

n . .......................................... 89

Figura 5.5 – Velocidade de fase normalizada para 0

10,75

n ........................................... 90

Figura A.1 – Diagrama de Minkowski a evidenciar o percurso dos gémeos A e B do paradoxo

dos gémeos, encontrando-se o gémeo A sobre o referencial inercial ..................................... 100

Figura A.2 – Quebra do triângulo [ODC] em dois triângulos rectângulos [OEC] e [EDC]. .. 101

Figura A.3 – Diagrama de Minkowski do percurso dos gémeos A e B do paradoxo dos

gémeos, encontrando-se a primeira parte do movimento do gémeo B sobre o referencial

inercial (Situação 1). ............................................................................................................... 103

X

Lista de Símbolos

0e Vector unitário da álgebra geométrica associado à componente temporal;

1e Vector unitário da álgebra geométrica associado à componente espacial;

2e Vector unitário da álgebra geométrica associado à componente espacial;

3e Vector unitário da álgebra geométrica associado à componente espacial;

ij Delta de Kronecker;

Base ortonormada de um espaço;

F Bivector unitário;

F Bivector;

Produto interno;

Produto externo;

Produto exterior;

Produto geométrico;

, ,a b c Vector no espaço;

u Elemento genérico da álgebra: multivector;

nu Projecção de u em relação ao grau n ;

u Involução de grau;

u Dual de Clifford;

u Conjugação de Clifford;

23 Bivectores no espaço tridimensional;

33 Trivectores no espaço tridimensional;

XI

21,3 Bivectores no espaço-tempo de Minkowski;

31,3 Trivectores no espaço-tempo de Minkowski;

41,3 Quadrivectores no espaço-tempo de Minkowski;

Espaço unidimensional;

2 Espaço bidimensional;

3 Espaço tridimensional;

4 Espaço quadrimensional;

1,1 Espaço-tempo de Minkowski no espacial unidimensional;

1,3 Espaço-tempo de Minkowski;

V Trivector álgebra;

V Trivector unitário da álgebra;

Soma graduada;

2C Álgebra de Clifford do plano;

3C Álgebra de Clifford do espaço;

4C Álgebra de Clifford do espaço quadrimensional;

1,3C Álgebra de Clifford do espaço-tempo de Minkowski;

1,1C Álgebra de Clifford do espaço-tempo de Minkowski no espaço unidimensional;

C Parte par de uma álgebra de Clifford;

C Parte ímpar de uma álgebra de Clifford;

Cen() Centro de uma álgebra;

Contracção à esquerda;

Contracção à direita;

Componente paralela de um vector

XII

Componente perpendicular de um vector

R Rotor;

,n m Vectores unitários;

v Ângulo associado ao vector v;

u Ângulo associado ao vector u;

u Comprimento vector u;

v Comprimento vector v;

Ângulo entre dois vectores;

Factor das transformações de Lorentz;

r Acontecimento no espaço-tempo de Minkowski;

r Componente espacial do acontecimento r;

0x ct Coeficiente do versor temporal no referencial próprio;

1x Coeficiente do primeiro versor espacial no referencial próprio;

2x Coeficiente do segundo versor espacial no referencial próprio;

3x Coeficiente do terceiro versor espacial no referencial próprio;

0U Bivector;

0x ct Coeficiente do versor temporal no referencial relativo;

1x Coeficiente do primeiro versor espacial no referencial relativo;

2x Coeficiente do segundo versor espacial no referencial relativo;

3x Coeficiente do terceiro versor espacial no referencial relativo;

c Velocidade da luz no vácuo;

u Vector no espaço-tempo de Minkowski;

1u Vector no espaço-tempo de Minkowski;

2u Vector no espaço-tempo de Minkowski;

XIII

u Componente espacial do vector u;

1u Componente espacial do vector 1u ;

2u Componente espacial do vector 2u ;

1 Ângulo do vector 1u ;

2 Ângulo do vector 2u ;

Componentes do tensor correspondente à métrica do espaço quadrático;

Escalar;

T Trivector;

S Referencial próprio;

S Referencial relativo;

I Pseudo-escalar no espaço-tempo de Minkowski;

e Bivector unitário e e ;

Intensidade de um boost;

1 Intensidade de um boost;

2 Intensidade de um boost;

Ângulo associado a um vector;

L Distância no referencial próprio;

0L Distância no referencial relativo;

T Tempo decorrido no referencial próprio;

0T Tempo decorrido no referencial relativo;

k Vector de onda no espaço-tempo de Minkowski;

0k Componente temporal associada ao vector de onda;

k Componente espacial associada ao vector de onda;

n Índice de refracção do meio de propagação;

Frequência angular;

XIV

0n Índice refracção no vácuo;

e Frequência do emissor;

r Frequência do receptor;

rs Componente espacial do fotão no receptor;

es Componente espacial do fotão no emissor;

s Componente espacial do fotão na transmissão;

ˆeB Bivector no emissor;

ˆrB Bivector no receptor;

E Intensidade do campo eléctrico;

B Intensidade do campo magnético;

P Vector polarização eléctrica;

M Vector polarização magnética;

t Densidade total de carga eléctrica;

Densidade de carga eléctrica;

p Densidade de carga associada à polarização;

tJ Densidade total de corrente;

pJ Densidade de corrente associada à polarização;

mJ Densidade de corrente associada à magnetização;

J Densidade de corrente;

D Excitação eléctrica;

H Excitação magnética;

Permitividade eléctrica;

0 Permitividade eléctrica no vácuo;

r Permitividade eléctrica relativa;

XV

Permiabilidade magnética;

0 Permiabilidade magnética no vácuo;

r Permiabilidade magnética relativa;

0 Impedância no vácuo;

0E Intensidade do campo eléctrico numa região sem fontes;

0H Excitação magnética numa região sem fontes;

0D Excitação eléctrica numa região sem fontes;

0B Intensidade do campo magnético numa região sem fontes;

Operador de Dirac;

E Intensidade do campo eléctrico no espaço quadrático 0,3 ;

B Intensidade do campo magnético no espaço quadrático 0,3 ;

D Excitação eléctrica no espaço quadrático 0,3 ;

H Excitação magnética no espaço quadrático 0,3 ;

F Bivector de Faraday;

G Bivector de Maxwell;

vr Operador do espaço-tempo de Minkowski;

ur Operador do espaço-tempo de Minkowski;

0F Bivector de Faraday numa região sem fontes;

0G Bivector de Maxwell numa região sem fontes;

pv Velocidade de fase.

1

Capítulo 1

Introdução

Neste primeiro capítulo é inicialmente realizado um enquadramento histórico relativo à

álgebra geométrica. São especificados os objectivos, os contributos, assim como a estrutura e

organização desta dissertação.

2

1.1 Enquadramento histórico

A escrita de relações geométricas de uma forma algébrica teve o seu início na Grécia Antiga

onde Euclides ([1] e [2]) fundou a álgebra. Foi o uso destas entidades matemáticas que

permitiu a compreensão de certos fenómenos naturais. O conceito de vector foi criado

justamente para descrever grandezas que possuem propriedades geométricas tais como

direcção e sentido, e que por este motivo, não podiam ser completamente descritas por

números. A velocidade de um corpo, a força que nele actua, e o campo eléctrico gerado por

electrão, são alguns exemplos de grandezas vectoriais.

No início do século XIX a representação matemática de rotações a três dimensões

permanecia ainda um problema por resolver. Contudo o Sir William Rowan Hamilton (1805-

1865) [3] em 1843, que visava estender o conceito de números complexos a outras

dimensões, consegui-o apresentando os quaterniões de Hamilton, que representavam com

sucesso as rotações a três dimensões. Estes quaterniões de Hamilton são utilizados hoje em

dia para modelar problemas na maioria das ciências aplicadas: visão por computador,

robótica, realidade virtual, navegação, programação orientada por objectos [5].

Figura 1.1 - William Rowan Hamilton (1805-1865) [1].

Na mesma altura que Hamilton apresentou os seus quaterniões, outro matemático se

destacava, o alemão Hermann G. Grassmann (1809-1877) [6]. Este desenvolveu a sua própria

álgebra e apresentou em 1844 o produto exterior, sendo este a operação chave na álgebra que

hoje se conhece como “álgebra externa”. Importa ainda salientar, que o produto exterior de

3

Grassmann, existe em qualquer dimensão, com a vantagem adicional de não depender de

qualquer métrica adoptada.

Figura 1.2 - Hermann G. Grassmann (1809-1877) [2].

A álgebra geométrica de Clifford, ou simplesmente álgebra geométrica, como é

frequentemente designada, surge no século XIX, em 1878, pelo matemático e filósofo

William Kingdom Clifford (1845-1879) [8]. Com base nas descobertas de Hamilton e

Grassmann, Clifford unificou as referidas descobertas numa estrutura algébrica, formando

assim a álgebra geométrica. Nesta álgebra foi introduzido um novo produto entre estruturas

algébricas, o produto geométrico. Neste produto geométrico estão simultaneamente presentes

o produto interno (ou escalar) e o produto exterior. O produto geométrico goza de

propriedades como a associatividade e a invertibilidade, provenientes do produto exterior de

Grassmann e dos produtos da álgebra Hamiltoniana, respectivamente.

Figura 1.3 - William Kingdom Clifford (1845-1879) [3].

4

No final do século XIX surgiu o cálculo vectorial, introduzido por Josiah Willard

Gibbs (1839-1903) [10]. Esta ferramenta matemática tornava a teoria do electromagnetismo

mais simples de ser tratada, sendo utilizada até aos dias de hoje, dado que, seja essa talvez a

forma mais indicada de iniciar o estudo das equações de Maxwell. O facto acima

mencionado, a grande reputação de Gibbs, e a morte prematura de Clifford, foram tudo

factores que contribuíram para que os trabalhos de Clifford caíssem no esquecimento.

Figura 1.4 - Josiah Willard Gibbs (1839-1903) [4].

As descobertas apresentadas por Clifford foram subordinadas durante um longo

período de tempo pelo produto externo de Gibbs, que teve grande notoriedade face ao

produto exterior durante vários anos. Contudo o produto externo de Gibbs está confinado a

três dimensões, daí que seja limitado. O produto externo de Gibbs só existe em três

dimensões, uma vez que, em duas dimensões não é possível sair do plano para definir um

vector perpendicular ao mesmo, e em quatro dimensões a direcção ortogonal ao plano não

está univocamente determinada [7]. Todas estas dificuldades podem ser superadas se, em vez

da álgebra de Lie associada ao produto externo, se adoptar a álgebra proposta por Clifford.

Apenas quando no inicio do século XX, Einstein publica a teoria da relatividade

restrita (1905) e surge a necessidade de se trabalhar em quatro dimensões (uma temporal e

três espaciais), se coloca em causa a validade do produto externo de Gibbs para esta nova

métrica e consequentemente se levanta a questão da utilidade dos trabalhos anteriormente

desenvolvidos por Clifford. A álgebra geométrica restabelece de forma mais natural a

5

indissociável ligação do electromagnetismo à teoria da relatividade face a formulação

clássica do cálculo tensorial.

Desde o final do século XIX até meados do século XX, o avanço desta álgebra

permaneceu um pouco estagnado. Os estudos sobre esta matéria começaram a surgir com

mais frequência e aplicados a vários temas a partir do final do século XX, essencialmente a

partir de 1970 pelo matemático David Hestenes (1933-). Este a partir dos seus estudos no

campo da mecânica quântica apercebe-se do real potencial da álgebra geométrica,

recuperando as álgebras de Dirac e de Pauli [4]. Com efeito, David Hestenes com uma visão

mais abrangente da estrutura das álgebras mostrou que a álgebra geométrica ao ser

devidamente utilizada, podia ser utilizada para unificar várias áreas da mecânica quântica.

Figura 1.5 - David Orlin Hestenes (1933-) [5].

A álgebra geométrica é uma ferramenta matemática muito interessante, pois o produto

geométrico, definição essencial nesta álgebra, é a soma do produto interno com o produto

exterior e a sua aplicação não depende de qualquer métrica. É ainda importante salientar a

aplicação desta álgebra aos meios anisotrópicos, pois permite que se faça uma abordagem

livre de um sistema de coordenadas, a fácil e elegante apresentação de resultados que vão

desde a mecânica clássica até ao electromagnetismo, assim como a sua aplicação na mecânica

quântica, robótica, processamento de sinal, mecânica relativista, cristalografia, relatividade

restrita, relatividade geral, etc.

A álgebra geométrica tem vindo a desempenhar um papel fulcral na uniformização da

linguagem matemática, contribuindo para o avanço científico em várias áreas distintas, o que

6

torna a álgebra geométrica em algo mais do que um mero formalismo matemático. Toda esta

aplicabilidade da álgebra geométrica tem alimentado nos últimos anos a investigação,

destacando-se entre outros David Hestenes, Pertti Lounesto, Chris Doran and Anthony

Lasenby, Leo Dorst, Daniel Fontijne e Stephen Mann [1], [3], [6], [14].

No entanto a álgebra geométrica continua a ser uma ferramenta pouco conhecida no

seio da comunidade científica em geral, visto que muitos dos estudos nas várias áreas

anteriormente mencionadas ainda se encontram em fase inicial, não possibilitando por isso

que a aplicação da álgebra geométrica a essas áreas seja uma referência de destaque.

1.2 Objectivos

Como foi referido anteriormente, são diversas as aplicações da álgebra geométrica de

Clifford, quer seja em problemas de carácter científico ou de engenharia.

A realização desta dissertação de mestrado tem como objectivo principal estudar os

princípios base envolvidos nesta álgebra assim como algumas das aplicações, focando-se na

álgebra do espaço, e na álgebra do espaço-tempo de Minkowski.

É também o objectivo desta dissertação, o de compreender de que forma pode a

álgebra geométrica ser usada no estudo de matérias como, a óptica relativista, a

electrodinâmica relativista e a sua aplicação aos meios em movimento, abordando a

formulação teórica desta nova álgebra e estudando as suas principais vantagens.

Esta tese tem também como objectivo a obtenção do grau de mestre em engenharia

electrotécnica e de computadores no ramo de telecomunicações.

1.3 Organização e estrutura

Esta dissertação encontra-se estruturada em seis capítulos de forma a expor os conteúdos de

forma organizada e clara.

7

O primeiro capítulo, a Introdução, apresenta um enquadramento histórico da álgebra

geométrica onde seguidamente são apresentados os objectivos principais desta dissertação,

bem como as contribuições que resultam da mesma.

O segundo capítulo, Alguns Aspectos de Álgebra Geométrica, aborda as bases e

aspectos essenciais da álgebra geométrica, particularizando para a álgebra geométrica do

espaço. É inicialmente caracterizado o produto geométrico ou de Clifford assim como o

produto exterior ou de Grassmann. Surgem através do produto exterior novos objectos

geométricos, o bivector (segmento de plano orientado), resultado do produto exterior de 2

vectores, e o trivector (volume orientado), resultado do produto exterior de 3 vectores. Será

ainda dado destaque a conceitos de extrema relevância, tais como, rotores e contracções.

O terceiro capítulo, Álgebra Geométrica aplicada ao Espaço-Tempo de Minkowski,

permite a passagem da métrica euclidiana para uma métrica de Lorentz. Neste capítulo

caracteriza-se a álgebra do espaço-tempo de Minkowski, mostrando as suas vantagens

perante outras álgebras consideradas. Serão abordados conceitos bastante importantes, tais

como, boosts, diagramas de Minkowski, que por sua vez permitem demonstrar de uma forma

menos complexa a contracção do espaço, adição colinear de velocidades e dilatação do

tempo.

O quarto capítulo, Óptica Relativista, apresenta o efeito de Doppler Relativista, onde

se apresentam as vantagens do mesmo, particularizando-se com a aplicação deste efeito de

Doppler num meio plasma e abordando-se o fenómeno de aberração.

O quinto capítulo, Electrodinâmica Relativista, aborda as equações de Maxwell e

Maxwell-Boffi escritas na álgebra do espaço, e a sua passagem para uma equação. Na álgebra

do espaço-tempo de Minkowski, onde a componente temporal se relaciona com a

componente espacial, surgem os bivectores relativos E, B, D, H. Estes bivectores passam a

desempenhar um papel secundário com o aparecimento de dois novos bivectores (não

relativos): o bivector de Maxwell e o bivector de Faraday. É possível com o surgimento

destes novos bivectores, reescreverem-se as novas equações de Maxwell, em apenas duas, a

homogénea e a não homogénea. Neste capítulo são também estudados os meios em

movimento em meios isotrópicos.

A dissertação encerra com o capítulo da Conclusão, onde se sintetizam as principais

ideias desta tese e é ainda apresentada uma perspectiva de trabalhos futuros com a aplicação

da álgebra geométrica.

8

1.4 Contribuições

A álgebra geométrica, poderosa ferramenta matemática encontra-se em franca expansão,

ainda assim, tem tido uma aceitação lenta por parte da comunidade científica, quer em parte

por conformismo com modelos já existentes, quer por desconhecimento das suas

potencialidades e aplicações. Esta dissertação, pretende contribuir para a divulgação da

álgebra geométrica e da sua estrutura matemática, assim como da sua potencialidade em

particular no estudo da óptica e electrodinâmica relativista.

Para além da demonstração da dilatação do tempo, contracção do espaço, efeito de

Doppler relativista e adição relativista de velocidades, destaca-se o aspecto geométrico

atribuído ao electromagnetismo, quando tratado com a álgebra do espaço-tempo de

Minkowski, que possibilita a integração das equações de Maxwell em apenas uma no vácuo.

Ao nível de fundamentos apresentados nos conceitos demonstrados, felizmente, vários

autores têm contribuído para a sua consolidação e aperfeiçoamento, pelo que, a nível pessoal

apresento os resultados que obtive de uma vasta leitura e estudo de autores, apresentando-os

segundo a minha perspectiva crítica.

9

Equation Chapter (Next) Section 2

Capítulo 2

Alguns Aspectos de Álgebra Geométrica

Neste capítulo começa-se por abordar de forma sucinta a álgebra geométrica do espaço

ordinário tridimensional radicada no espaço linear , denominada por 3C . Esta álgebra do

espaço apresenta uma métrica euclidiana. O objectivo passa por caracterizar a estrutura

algébrica de 3C , e também por apresentar alguns dos seus conceitos fundamentais, tais

como produto geométrico, produto exterior, contracção, rotação, todos estes essenciais para

uma melhor compreensão desta álgebra. Será ainda feita a introdução de um novo objecto

geométrico, o bivector.

10

2.1 Produto geométrico ou de Clifford

O produto geométrico (ou de Clifford) entre vectores, faz parte do essencial quando se

pretende definir uma álgebra geométrica. Considere-se, então, o espaço linear com a

métrica euclidiana onde a base ortonormada deste espaço é 1 2 3{ , , }e e e , i.e.,

j

1,, {1, 2, 3}

0,k j k

j kj k

j ke e (2.1)

Onde 1 2 3| | | | | | 1e e e . Dado um vector 1 2 3x y zr e e e , o seu comprimento é

dado por:

2 2 2| | 0.x y z r r r (2.2)

Define-se agora o axioma fundamental de 3C onde se considera um produto entre vectores

(produto geométrico ou de Clifford), tal que, ao multiplicar o vector r por ele próprio, se

obtenha o quadrado do seu comprimento, isto é,

2 2| | .r r (2.3)

Particularizando, obtém-se 2 2 2 2 2 2

1 1 2 2 2 2| | 1, | | 1, | | 1 e e e e e e .

Se não se considerar, á partida, que este produto é (necessariamente) comutativo, tem-se,

2 2 2 2 2

1 2 3 1 2 3| | ( ) ( )x y z x y z x y z r r e e e e e e (2.4)

2 2

1 2 2 1 1 3 3 1 2 3 3 2| | ( ) ( ) ( )x y x z y z r r e e e e e e e e e e e e (2.5)

2 1 1 2

2 2

3 1 1 3

3 2 2 3

| | .

e e e e

r r e e e e

e e e e

(2.6)

Constata-se então que o produto geométrico não pode ser comutativo no caso geral, ainda

assim admite-se que é associativo, ou seja:

3( ) ( ), com , , ab c a bc a b c (2.7)

11

Obtém-se então

2 2 2

1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1 2( ) ( )( ) ( ) ( ) ( )( ) 1. e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e (2.8)

2

1 2( ) 1. e e (2.9)

Ao analisar-se cuidadosamente o resultado da equação (2.8), este mostra-nos que o objecto

geométrico 1 2e e não pode ser nem um escalar nem um vector, uma vez que o quadrado de

1 2e e é um número negativo. Dado isto, existiu necessidade de se introduzir um novo objecto

geométrico cujo nome é bivector. Um bivector é definido como um segmento de plano

orientado. Para uma melhor compreensão encontra-se abaixo representado o quadrado

orientado correspondente ao bivector unitário 12 1 2ˆ F e e e com o sentido de e1 para e2.

Figura 2.1 – Representação do bivector unitário F .

De modo análogo podemos definir os bivectores unitários 31 3 1e e e e 23 2 3e e e . Tendo em

conta os dois vectores a, b 3, a = a1e1 + a2e2 + a3e3 e b = b1e1 + b2e2 + b3e3 o produto

geométrico vem dado por:

. ab a b a b (2.10)

1 1 2 2 3 3 produto interno a b a b a b a b (2.11)

12 1 2ˆ F e e e

2e

1e

12

23 31 12

1 2 3

1 2 3

produto exterior ou de Grassmanna a a

b b b

e e e

F a b (2.12)

Analisando a expressão (2.10) apresentada para a definição do produto geométrico verifica-se

que o primeiro termo associado ao produto interno é conhecido ( a b ), tratando-se de

um escalar pertencente ao corpo onde o espaço linear 3 está definido. O segundo termo,

resulta de uma nova operação, designada produto exterior que é usado para definir o produto

geométrico. Este é anti-simétrico e associativo, e gera um bivector .baF

2

3

2 3 3 2 23 3 1 1 3 31 1 2 2 1 12( ) ( ) ( ) a b a b a b a b a b a b F a b e e e (2.13)

Importa salientar, que o produto exterior não é apenas válido em 3, como acontece no

produto externo. No entanto é possível relacioná-los no espaço euclidiano em 3 como

123( ) . a b a b e (2.14)

Conclui-se portanto que o objecto, u ab representa a soma graduada de um escalar com

um bivector F :

2

3 ab a b a b . (2.15)

Considerando a propriedade de simetria do produto interno e de anti-simetria do produto

exterior temos que:

a b b a

a b b a (2.16)

Pode-se escrever:

2 2 2 2

1( )

2( ) ( ) .

1( )

2

a b ab baab a b a b

a b a b a bba a b a b

a b ab ba

(2.17)

Sendo produto interno dado como | || | cos a b a b , onde ( , ), a b conclui-se que:

Simetria

Anti-simetria

13

2 2 2 2 2 2 2 2 2( ) cos sin a b a b a b a b (2.18)

| | | | | | sin . a b a b (2.19)

Figura 2.2 – Representação do produto exterior entre dois vectores.

Assim como o produto exterior entre dois vectores dá origem a um segmento de plano

orientado, o produto exterior de 3 vectores origina um trivector, ou também designado,

volume orientado. A definição do produto geométrico u a b a b entre dois vectores a ,

b 3 codifica geometricamente a relação entre eles, como é indicado de seguida:

F a b

a

b

sinb

cosb

ab = ba a b a b = 0 ab = a b

ab =- ba a b a b = 0 ab =

a b

14

Figura 2.3 - Representação do subespaço, 2

3, dos bivectores de 3C

O subespaço 2

3 dos bivectores tem uma base 23 12 31, , e e e pelo que tem dimensão 3,

ou seja,

2

3dim 3 (2.20)

Em relação ao produto exterior o produto geométrico tem a enorme vantagem de ser

invertível. Contudo, ao contrário do produto exterior de Grassmann, o produto geométrico

depende de uma métrica.

Dependência de uma métrica 2 2 3| | para a a aa a a a

11

1

1 1 1 1

Invertibilidade

u

u u

u

2

2

aa ba

aab b a

bb b a

b

(2.21)

23 2 3e e e

12 1 2e e e

31 3 1e e e

3e

1e

2e

15

A invertibilidade é uma propriedade que não se encontra presente, nem no produto interno

nem no produto exterior, uma vez que para ambos não é possível obter uma caracterização

unívoca para ambos, ou seja, não é possível determinar apenas uma única solução, mas sim

um conjunto de soluções (no caso de 3 , um plano e uma linha, respectivamente).

O produto exterior de três vectores dá origem ao objecto geométrico denominado por

trivector, ou volume orientado, como foi dito previamente. Nesta álgebra tem-se que, o

trivector unitário é, 123 1 2 3ˆ i V e e e e , e tal como acontece no caso do bivector o seu

quadrado é negativo.

Figura 2.4 – Representação do trivector unitário 123 1 2 3ˆ i V e e e e .

Considerando deste modo a, b, c 3 o produto exterior entre os três vectores vem dado por,

1e

2e

3e

123 1 2 3 1 2 3ˆ i V e e e e e e e

16

1 2 33

3

1 2 3 123

1 2 3

ˆTrivector ou pseudoescalar

a a a

b b b

c c c

V a b c e V i (2.22)

2 2 2 2 2( ) ( ) . V a b c i (2.23)

O produto exterior é associativo, quer isto dizer:

( ) ( ) . a b c a b c a b c (2.24)

É importante salientar que o trivector ( ) V a b c é o dual do (pseudo)escalar na álgebra

de Gibbs, a que se dá o nome de triplo produto escalar (ou produto misto)   a b c tal que:

1 2 3

1 2 3

1 2 3

a a a

b b b

c c c

a b c (2.25)

que, como é sabido, observa permutação cíclica

( )= . a b c b c a c a b (2.26)

2.2 Estrutura da Álgebra Geométrica 3C

A álgebra geométrica 3C encontra-se definida no espaço tridimensional euclidiano 3 . Esta

álgebra compreende quatro subespaços, cujos mesmos, fazem dela uma soma graduada.

Subespaços de 3C

Escalares Vectores Bivectores Trivectores

3 2

3 3

3

17

2 3

3 33

3C

Recorrendo ao triângulo de pascal é possível concluir que esta álgebra tem uma dimensão de

8.

dim( 3C ) = 1 3 3 1 8

1 escalar

3 vectores

3 bivectores

1 trivector

.

Base de 3C 1 2 3 12 23 31 123{1, , , , , , , }. e e e e e e e

Multivector – Dá-se o nome de multivector a um elemento genérico u da álgebra. É habitual

chamar-se pseudoescalar a qualquer multivector homogéneo da álgebra com o maior grau

possível.

0

13

2

3

escalar

vectormultivector: .

bivector

trivector

u

uu C

u

u

aa F V

F

V

(2.27)

Notação: Representa-se por k

u a projecção de u em relação ao grau k (i.e., a dimensão do

subespaço 3K

).

Dualidade – Dado um multivector genérico 3u C define-se o correspondente dual de

Clifford como sendo o novo multivector 123 3v u C e tal que

123 123 123 123 123 .u v u a be e e b ae e (2.28)

Constata-se então que, o dual de um escalar é um pseudoescalar e vice-versa. O dual de um

vector é um bivector e vice-versa, como de resto é possível ver em (2.29).

A introdução do conceito de dualidade permite estabelecer de que forma é que o

conhecido produto externo de Gibbs se relaciona com a álgebra geométrica 3C . Apenas em

1

1 1

1 2 1

1 3 3 1

18

3 é que é possível definir produto externo, como já foi referido no capítulo anterior,

contrariamente ao que acontece com o produto exterior de Grassmann. A dualidade destes

dois produtos pode ser observada na figura 2.5, e nas equações (2.30) e (2.31).

Figura 2.5 – Dualidade entre o produto externo de Gibbs e o produto exterior de Grassmann

1 2 3 23 31 12

1 2 3 1 2 3 123 123

1 2 3 1 2 3

( )a a a a a a

b b b b b b

e e e e e e

c a b e a b e (2.29)

123 123( ) ( ) . a b a b e a b a b e (2.30)

Reverso123 123 3 2 1 1 3 2 1 2 3 123

.u u

e e e e e e e e e e e e

ab ba (2.31)

Lâmina- k : Uma lâmina-k da álgebra 3C é um elemento ku tal que k k ku u , onde

k ku é um elemento homogéneo de grau k e resulta do produto exterior de um ou

mais vectores.

Grau máximo: Em 3C não podem existir lâminas-4, ou seja, dados quatro vectores a, b,

c, d 3 tem-se necessariamente 0. a b c d Significando então, que só três

a

b

123 c a b Fe

123 F a b ce

Produto

externo

de Gibbs

19

vectores é que podem ser linearmente independentes, se existir um quarto vector este é

necessariamente uma combinação linear dos outros três. O grau máximo de uma lâmina

3C é, portanto, o grau 3.

Involução de grau

0 1 2 3

u u u u u (2.32)

Conjugação de Clifford

0 1 2 3

.u u u u u (2.33)

A álgebra 3C compreende várias estruturas algébricas dentro de si. Deste modo pode-se

definir a parte par da álgebra, 3C , como sendo a parte composta pelos elementos de 3C

que resultam do produto geométrico de um número par de vectores de 3 . Analogamente

define-se a parte ímpar, 3C , como a parte composta pelos elementos de 3C que

resultam do produto geométrico de um número ímpar de vectores de 3 , isto é,

23

3

33 3

3

C

C

(2.34)

Um conceito bastante importante neste âmbito é o conceito de centro da álgebra. O centro de

uma álgebra constitui o conjunto dos elementos que comutam com todos os elementos dessa

álgebra. Assim sendo, no caso particular de 3C o centro é,

3

3

3Cen( )C (2.35)

Apenas a parte par 3C e o centro da álgebra constituem duas subálgebras de 3C , a parte

ímpar como não é fechada em relação ao seu produto geométrico não constitui.

Por fim, é possível verificar-se a existência de um isomorfismo da parte par 3C e do centro

da álgebra 3Cen( )C com o anel de divisão dos quaterniões de Hamilton e com o corpo dos

complexos, respectivamente.

20

3

3

Cen( )C

C

(2.36)

Define-se spinor ou rotor a um elemento u da parte par da álgebra 3C , tal que:

3spin(3) : 1C u uu (2.37)

Este elemento spin(3) é responsável pelas rotações no espaço, que serão analisadas

detalhadamente mais à frente.

2.3 Contracções

A contracção é uma operação bastante importante na álgebra geométrica. Podem-se definir

dois tipos de contracções, a contracção à esquerda e a contracção à direita.

Começando pela contracção à esquerda, começa-se por analisar o produto geométrico de um

vector a por um bivector B b c .

3( ) .u C aB a b c (2.38)

1 1 1

( ) ( ) ( ) ( )2 2 2

a b c a bc cb ab c ac b (2.39)

1 1

[2( ) ] [2( ) ]2 2

a b ba c a c ca b (2.40)

1

( ) ( ) ( ).2

a b c a c b bac cab (2.41)

Sendo que

1

( ) ( ) ( ) ( ) ,2

bac cab a c b a b c b c a (2.42)

Pode-se escrever

21

( ) ( ) ( ) [( ) ( ) ( ) ] a b c a b c a c b a c b a b c b c a (2.43)

( ) ( ) 2( ) 2( ) . a b c b c a a b c a c b (2.44)

Conclui-se então

32( ) 2( ) aB Ba a b c a c b (2.45)

Define-se, então, a contracção à esquerda:

1

( ).2

a B aB Ba (2.46)

Desta definição resulta imediatamente a regra fundamental da contracção à esquerda

( ) ( ) ( ) . a b c a b c a c b (2.47)

A referida operação a B faz com que o grau 2 do bivector B se reduza ao grau 1 do vector

a. Analogamente temos a contracção à direita:

1

( )2

B a Ba aB (2.48)

É possível notar através das expressões da contracção direita (2.49) e da contracção esquerda

(2.47), que existe anti-simetria entre as duas, isto é,

a B B a (2.49)

Abaixo estão representados alguns casos particulares de contracções:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

.( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

a b c d a d b c a c b d

a b c d a b c d a c b d a d b c (2.50)

Definidas que estão as contracções será interessante falar mais detalhadamente do produto

geométrico entre um vector e um bivector (ou vice-versa), uma vez que envolve a noção de

contracção à esquerda (ou à direita resp.) como de resto já foi visto. Para isso escreve-se o

produto geométrico de um vector por um bivector como resultado da soma da parte ímpar

com a parte par:

22

1 1

( ) ( )2 2

u aB aB Ba aB Ba

(2.51)

O produto geométrico de um vector a por um bivector B é, em geral, a soma (graduada) de

um vector com um trivector. Para compreender melhor esta afirmação considere-se a

decomposição do vector a na sua componente paralela e perpendicular, em que a se

encontra no plano definido por B :

a a a (2.52)

Considerando um vector b perpendicular a a 0 a b localizado também em B , tal que

B a b a b , vem 2a B a b , que é um vector.

Por outro lado, ( ) a B a a b a a b é o produto de três vectores ortogonais entre si,

ou seja, é um trivector, obtendo-se consequentemente:

3

2 3 3( ) . aB a a B a b a a b (2.53)

Concluí-se, deste modo, que o produto geométrico de um vector por um bivector origina de

facto a soma graduada de um vector com um trivector.

Figura 2.6 – Representação do produto geométrico de um vector a por um bivector B.

Simetricamente se define o produto geométrico de um bivector por um vector, ou seja, Ba .

B a b a b

a a a

a

a

b

23

Posto isto e recapitulando tem-se o seguinte:

3

3 31 1( ) ( ) .

2 2u aB aB Ba aB Ba (2.54)

vector trivector

Conclui-se que,

3

3

31( ) Parte ímpar é um vector

2.

1( ) Parte par é um trivector

2

aB Ba a B

aB Ba a B

(2.55)

Note-se que,

( ) ( ) ( ) ( ) a B a b c a b c b a c b c a B a (2.56)

a B B a (2.57)

.

aB a B a B

Ba B a B a (2.58)

Para interpretar geometricamente a operação contracção considere-se

1 1 1 1( ) ( ) ( ) ( ) .

a a B B aB B a B B a B B

a a

(2.59)

1

1

ˆ ˆ( ) ( ).ˆ ˆˆ ˆ( ) ( )

ˆ ˆ

a B a B

a B a Ba a B B a B B

a B a Ba a B B a B B

a B a B

(2.60)

Simetria do produto exterior de

um vector com um bivector

Produto geométrico de um vector

por um bivector

24

Na figura representada abaixo encontra-se o vector a 3 decomposto nas suas duas

componentes paralelas e perpendiculares. Sendo que a componente paralela esta contida no

plano B e a perpendicular é perpendicular a esse mesmo plano. O vector b a é a contracção

à esquerda de a B a B , que é diametralmente oposta à contracção à direita B a a B .

Figura 2.7 – Interpretação geométrica da contracção a B .

2.4 Reflexões e rotações no plano

Os rotores são os operadores da álgebra geométrica responsáveis pela geração de rotações.

Estas rotações podem ser rotações no plano (no caso de 2C ), rotações espaciais (no caso de

3C ), ou rotações espaciais e transformações de Lorentz activas ou boosts (no caso de 1,3C ).

A álgebra geométrica do 2C permite tratar de forma simples reflexões e rotações no plano

2 . Comece-se por determinar a reflexão de um vector r em relação a um dado vector

: a r r , em que os vectores r, a e r pertencem ao mesmo plano.

b a B a B

1

2

a

aa

a

a

a

1 1 B a b a b

25

Figura 2.8 - Reflexões do vector r em relação ao eixo caracterizado pelo vector a.

1 1

2

1, r r a a a a

a (2.61)

1 1( )

r r r ra r a a r a a (2.62)

1 1 1( )

r r r r a r a a a r a r a ara (2.63)

Pelo que, tem-se para a reflexão do vector r em relação ao vector a:

1 r r ara (2.64)

De seguida, representar-se-á uma rotação de um vector r r como o resultado de duas

reflexões sucessivas: primeiro em relação ao vector a, 1

r r ara , depois em relação ao

vector b, 1

r r br b .

r

r

r

r

ar

26

Figura 2.9 – Rotação de um vector r r como resultado de duas reflexões sucessivas.

Note-se que 2 cos(2 )r r r e 2 cos(2 )r r r , por conseguinte, fazendo

cos2

a b a b

, vem 2

. Infere-se deste modo, que o ângulo entre r e r é o

dobro do ângulo entre a e b :

22 cos(2 2 ) cos( ). r r r r (2.65)

A rotação r rde um ângulo , em que ( , )2

a b , é:

1 1 r r ara r br b (2.66)

Uma vez que 1 1 1( )ba a b

tem-se:

1 1 1( ) ( ) ( ) r b ara b ba r ba (2.67)

Se os vectores a e b forem unitários, ou seja, ˆa a e ˆb b com 2 2ˆˆ 1a b , tem-se 1ˆ ˆa a

e 1ˆ ˆb b .

Posto isto, está-se em condições de caracterizar devidamente um rotor em 2C .

a

b

r

r

r

P

P

P

O

27

ˆ ˆ

ˆˆ

RR R

R

bar r r

ab (2.68)

ˆ ˆ ˆˆ ˆcos , sin2 2

a b a b B (2.69)

ˆˆˆ ˆ ˆ ˆ ˆ ˆˆ ˆ ˆ cos sin expˆ 2 2 2ˆ

a bB ab a b a b B B

a b (2.70)

12

ˆ ˆ ˆ ˆˆ ˆexp cos sin exp2 2 2 2

R ab e B R ba B (2.71)

Ao multivector R, tal que 1R R e que permite determinar r a partir de r , dá-se o nome de

rotor.

Rotação de r para r através do rotor ˆ ˆbaR .

R R r r r (2.72)

Verifique-se ainda que como o vector r se encontra no plano definido pelo bivector B ,

constata-se que r anti-comuta com B , logo ˆ ˆrB Br .

R R r r (2.73)

Pode-se ainda escrever:

2 ˆexp( )R r r r B r (2.74)

28

2.5 Reflexões e rotações no espaço

Na secção anterior determinou-se a reflexão de um vector em relação a um eixo (vector), no

entanto, também é possível determinar a reflexão de um vector em relação a um plano

(bivector).

Na figura abaixo representam-se as reflexões de um vector r em relação ao eixo

caracterizado pelo vector a ( )r r e em relação ao plano caracterizado pelo bivector

123A ae ( )r r .

Figura 2.10 – Reflexões do vector r em relação ao eixo caracterizado pelo vector a ( r r ) e em relação ao

plano caracterizado pelo bivector 123A ae ( r r ).

Comece-se por analisar a reflexão do vector r em relação ao vector a , ou seja, o vector r :

1 1 1

1 1

,

r r r r r r

r r a a r r r r a r a a r a a

r a r a r a r ar a

(2.75)

Por outro lado, a reflexão do mesmo vector r mas agora em relação ao bivector 123A ae

(dual do vector a ) é o vector r . Tem-se que, r r = -r +r ,

a

r

1 r ara

1 r ara

123A ae

29

1 1

123 123

1 1 1 1

123 123 123 123

1

( ) ( )

( ) ( ) ( ) ( )

r r r r

r ar a Ae r Ae

Ae r e A Ae r e A

r ArA

(2.76)

Supondo que a seja um vector unitário, ou seja, 2 1a .

O resultado das sucessivas reflexões é correspondente a rodar 2 no plano do bivector, ou

seja, no plano n m onde cos n m . Considerando-se n, m 3 dois vectores unitários,

i.e., tais que 122 mn , define-se por rotor como sendo o produto geométrico,

.R nm (2.77)

O grupo de spin que gera rotações espaciais é escrito como 3spin (3) { : 1}R C R R

e o

rotor R verifica:

2 2( )( ) 1 1.RR RR nm mn n m (2.78)

É possível escrever-se o multivector R 3C como a soma de um escalar com um bivector,

ou seja, 20

RRR onde

0

2

cos .

ˆ sin

R

R

n m

n m B (2.79)

Anteriormente foi demonstrado que nesta álgebra o quadrado do bivector unitário é 1ˆ 2 B ,

logo obtém-se a generalização da forma de Euler para a álgebra geométrica:

ˆ ˆexp( ) cos sin B B (2.80)

3ˆrotor em exp( ).C R nm B (2.81)

Segue-se a demonstração da forma de Euler em 3C , tendo em consideração que:

2

12ˆ 1 B 2ˆ 1k k B 2 1ˆ ˆ1 .

kk B B

30

2 2 1

0 0 0

ˆ ˆ ˆ( ) ( ) ( )ˆexp( )! ( 2 )! (2 1)!

k k k

k k kk k k

B B B

B (2.82)

2 2 1

0 0

ˆ ˆ ˆexp( ) 1 1 cos sin .(2 )! (2 1)!

k kkk

k kk k

B B B (2.83)

É fundamental a compreensão da acção de um rotor sobre um vector, para tal faz-se

ˆ sin2

m n B , e considere-se

ζ ζˆ( , ) cos sin

2 2 2

θR n m nm n m m n B (2.84)

ˆ, exp( ).2

R R R

a a a B (2.85)

O rotor ˆexp2

B

R descreve a rotação directamente em termos do plano e do ângulo,

especificamente, a expressão (2.82) corresponde a uma rotação do vector 3Ca de um

ângulo no plano do bivector unitário B , tal que, 2 2ˆ , 1

sin2

m nB m n . O sentido da

rotação é dado pela orientação deste bivector, ou seja, de m para n.

31

2.6 Conclusões

A álgebra geométrica euclidiana compreende a álgebra geométrica do plano 2C e a álgebra

geométrica do espaço 3C .

Neste capítulo foram abordados os fundamentos base para a compreensão da álgebra

3C . A definição base desta álgebra do espaço tal como na álgebra do plano, assenta no

produto geométrico. Este produto resulta da soma do produto interno com o produto exterior,

e é em geral não comutativo, no entanto é associativo e invertível

Em relação ao produto exterior (de Grassmann) foi verificado que este é definível em

n dimensões e é independente de qualquer métrica, ao contrário do produto externo de Gibbs

que é definível apenas em três dimensões e necessita de uma métrica.

O uso do produto geométrico permite definir dois objectos totalmente novos, o

bivector (plano orientado) e trivector (volume orientado). Um elemento genérico em álgebra

geométrica é denominado por multivector, visto que pode ser a soma graduada de vários

objectos diferentes, ou seja, no caso de 3C pode ser a soma graduada de escalares, vectores,

bivectores e trivectores.

a a

a a

123 u Be

B m n

Figura 2.11 – Rotação do vector 3

Ca de um ângulo no plano do bivector unitário B .

32

Como foi visto, os rotores e as contracções são dois operadores de extrema

importância em álgebra geométrica. Os rotores permitem que se façam rotações espaciais e

rotações planares de vectores, já as contracções por sua vez, são úteis para definir o produto

geométrico de vectores por bivectores e vice-versa.

33

Capítulo 3

Álgebra Geométrica Aplicada ao Espaço-

Tempo de Minkowski

Neste primeiro capítulo sobre o espaço-tempo de Minkowski, aborda-se a Álgebra

Geométrica aplicada ao espaço-tempo de Minkowski nos seus aspectos fundamentais,

permitindo assim construir a ponte para que nos capítulos futuros, esta seja uma ferramenta

bastante importante na electrodinâmica relativista.

O capítulo inicia-se com a análise da métrica euclidiana a quatro dimensões e da sua

inviabilidade para uma correcta caracterização do espaço-tempo, onde é apresentada como

solução a métrica de Lorentz. Daí parte-se para a análise do espaço de Minkowski e a sua útil

representação em diagramas. Serão também analisadas as transformações de Lorentz na

forma activa – boosts – e na sua forma passiva. Analisa-se a acção do operador boost sobre

um vector e demonstra-se a contracção do espaço, a dilatação do tempo, e a adição de

velocidades.Equation Chapter (Next) Section 3

34

3.1 Contradições da Métrica Euclidiana

As leis de newton consideram que o tempo e o espaço são os mesmos para os diferentes

observadores dum mesmo fenómeno físico. No entanto Hendrik Lorentz e outros

investigadores verificaram que as leis do electromagnetismo não respeitavam a física

newtoniana, já que observações do fenómeno podiam diferir para duas pessoas que se

estivessem movimentando, uma em relação à outra, próxima da velocidade da luz. Assim

sendo, enquanto uma pessoa observa um campo magnético, a outra interpreta aquele como

um campo eléctrico.

Lorentz sugeriu a teoria do éter onde afirmava que os objectos e os observadores

estariam imersos num fluido imaginário, designado por éter, dando-se assim um

encurtamento físico (hipótese da contracção de Lorentz) e mudanças na duração do tempo

(dilatação no tempo). Esta teoria, embora permitisse manter intactas as leis de Newton, não se

conseguiu impor no mundo da fisica.

Einstein resolve este aparente problema com a teoria relatividade restrita, onde se

afasta a ideia de espaço e tempo independentes, pela ideia de interdependência entre espaço-

tempo, sendo esta vista como uma entidade geométrica. A teoria da relatividade baseia-se em

dois postulados:

A velocidade da luz c é constante em todos os referenciais de inércia.

Todos os referenciais de inércia são equivalentes.

A esta interdependência entre o espaço e tempo designa-se espaço-tempo de Minkowski e é

assim que se consegue superar a aparente contradição entre a mecânica newtoniana e as leis

do electromagnetismo.

O espaço linear de base para a construção da álgebra geométrica do espaço tempo de

Minkowski terá de ser, assim, não o espaço linear 3 mas o espaço linear 4 , uma vez que a

métrica euclidiana não é aceitável para a descrição do espaço-tempo, sendo três das

componentes são espaciais e uma é a componente temporal.

Ao definir-se um espaço linear para esta álgebra, a primeira ideia remete para a

continuação do uso da álgebra geométrica com métrica euclidiana, 4C , tendo como base

35

0 1 2 3{ , , , } e e e e em que, 2 2 2 2

0 1 2 3 1 e e e e . Porém, esta métrica conduz a problemas

físicos inadmissíveis, logo, a utilização de uma relatividade euclidiana não é válida.

Para melhor compreensão dos problemas da “relatividade euclidiana” comece-se por

considerar a trajectória (comummente designada por linha de universo)

4

0( ) ( ) ( )t k t r t r e , com 3

1 2 3( ) ( ) ( ) ( )r t x t y t z t e e e no espaço descrito por

4C . A constante k é uma constante com dimensões de velocidade, e uma constante

universal, caso contrário haveria diferentes factores de conversão conforme o referencial de

inércia em análise. Uma partícula pode ser descrita no seu referencial próprio, 0( ) ( )t kr f ,

ou por outro referencial, 0( ) ( ) ( ).t k t r t r e

Sendo

Velocidade

Própria

d d dt

d dt d

r ru (3.1)

Fazendo

0 0

( )

( ) ( ) .

dtt

dt k u k

d ru

dt

u e f (3.2)

Ficamos com u em função de cada um dos referenciais, de laboratório e próprio. Assim

temos que em 4C

2 2 2 2 2( )

| |

k u k

u u

v

k

u

(3.3)

Conclui-se

2

1

1

(3.4)

36

É necessário a escolha da raiz positiva de modo a que quando 0 se tenha 1. Ao fazer

cos

tansin

(3.5)

0

02

0

cos sin ( ).

( ) 1

u k uk u

u

u v (3.6)

Seja U0 um bivector, tal que, 0 0 0 0 0u u U e e conclui-se que numa álgebra euclidiana a

velocidade de uma partícula vista de um dado referencial resulta da aplicação de uma rotação

0exp( ) U à velocidade própria dessa mesma partícula, i.e,

0 0cos sin ( ) (cos sin )U u v U v v (3.7)

0 exp( ) . u U v (3.8)

Ao considerar-se as duas partículas com velocidades próprias

1 1 0

2 2 0 1 0 0

2 2 0 1 0

exp( ) exp( )exp( ) exp( )

exp( ) exp( )

u U vu U U v U v

u U u U v(3.9)

Analisando as equações anteriores é possível concluir que a velocidade vista do referencial de

laboratório, 2u , é o resultado da aplicação de duas rotações sucessivas a uma partícula com

velocidade própria v.

1 2 0 0exp[( ) ] exp( ) U U (3.10)

1 2 (3.11)

Recorrendo a simples manipulações algébricas tem-se que

1 2 1 21 2

1 2 1 2

tan tantan( )

1 tan tan 1

(3.12)

37

1 21 1 1

1 2

22 2 2

u| | u ..

1| |

| |

u

ku

u ku u

u kk

u k

u

u

u

(3.13)

De forma a compreender melhor as expressões anteriormente referidas, está representado na

figura 3.1 a variação de β com 1 para

2 1/ 2 .

Figura 3.1 – Representação de 1vs para

2 0.5 .

Estes resultados são fisicamente inaceitáveis e levam a questionar esta relatividade

euclidiana. Analisando o gráfico acima, a composição de duas velocidades positivas pode

originar uma velocidade resultante negativa, e não obedece a nenhum limite máximo para a

velocidade resultante desta composição, ou seja, os resultados entram em contradição com a

física actual, que oferece provas muito fidedignas para a velocidade máxima da luz no vácuo.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 -20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

1

1/2

-1/2

38

Estes resultados conduzem à impossibilidade de aplicar uma métrica euclidiana no

espaço-tempo de Minkowski, sendo portanto necessário entrar com uma métrica não

euclidiana, onde a velocidade apresenta a velocidade da luz como limite máximo.

3.2 Estrutura da Álgebra Geométrica 1,3C

Na secção anterior, foi visto que a relatividade euclidiana conduz a problemas inadmissíveis,

mesmo usando métricas como a definida positiva e negativa, esses problemas levam a

contradições físicas.

4,0 2 2 2 2

4,0 4 0 1 2 3

4,0 2 2 2 2

4,0 0,4 0 1 2 3

1

1

Cl Cl

Cl Cl

e e e e

e e e e (3.14)

Os modelos físicos que levam a obter conclusões físicas aceitáveis são os espaços quadráticos

com métricas semi-definidas positivas e negativas. Com estas métricas podemos aplicar a

física da relatividade restrita de Einstein sem quaisquer problemas.

3,1 2 2 2 2

3,1 0 1 2 3

1,3 2 2 2 2

1,3 0 1 2 3

1, 1

1, 1

Cl

Cl

e e e e

e e e e (3.15)

Como nada existe do ponto de vista físico que permita fazer umas distinção entre 1,3C e

3,1C , assume-se a convenção e usa-se a métrica semi-definida negativa como modelo

matemático para a relatividade restrita de Einstein, ou seja, para o espaço-tempo Minkowski.

A álgebra 1,3C está definida no espaço quadrático 1,3 e a sua métrica corresponde ao tensor

cujas componentes são onde }3 ,2 ,1 ,0{, .

0 1 2 3

Base{ , , , }

ortonormada e e e e

ee

1000

0100

0010

0001

Esta álgebra compreende cinco subespaços que origina entre si uma soma graduada.

Métricas definidas

(positivas e negativas)

Métricas semi-definidas

(positivas e negativas)

39

1,3

2 2 3 41,3 1,3 1,3 1,3 1,3

1,3

3 Soma directa graduada1,3

41,3

escalares

vectores

Subespa os bivectores

trivectores

quadrivectores

ç Cl

(3.16)

Base de 1,3Cl 0 1 2 3 01 02 03 12 13 23 012 013 023 123 0123{1, , , , , , , , , , , , , , , } e e e e e e e e e e e e e e e (3.17)

Esta álgebra é composta por 1 escalar, 4 vectores, 6 bivectores, 4

trivectores e 1 quadrivector ou pseudoescalar, num total de 16 elementos

como podemos ver pelo triângulo de pascal.

4

3dim( ) 1 4 6 4 1 2 16Cl (3.18)

01,3

01,3

21,3

1,3

31,3

41,3

multivectoru C

a

F a F T V

T

V

(3.19)

O pseudoescalar representa-se normalmente pela letra 0123I e

Importa agora salientar algumas regras e definições desta álgebra não euclidiana, para uma

melhor compreensão.

Em 1,3C os vectores anti-comutam com o pseudoescalar unitário I e os bivectores

comutam com I.

Quadrado

2 2 2 2 2

0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3( )( ) 1 I I I I I e e e e e e e e e e e e (3.20)

1

1 1

1 2 1

3 1 1 3

1 4 6 4 1

40

Reverso

123 3 2 1 1 2 3 123 e e e e e e e e (3.21)

3 2 1 0 0 3 2 1 0 1 3 2 0 1 2 3 I e e e e e e e e e e e e e e e e I ; (3.22)

.u u a F bI I a F bI I (3.23)

Dualidade: Dado um multivector genérico 1,3u C define-se o dual de Clifford como

sendo o novo multivector 0123 1,3v u u C e I .

u v u a F bI I I b FI aI I (3.24)

Involução de grau:

0 1 2 3 4

u u u u u u (3.25)

Conjugação de Clifford:

0 1 2 3 4

u u u u u u (3.26)

A algébra do espaço-tempo de Minkowski também se associa uma parte par e uma parte

ímpar.

Parte par: 2 4

1,3 1,3

1,3C

Parte ímpar: 3

1,31,3

1,3C

Um acontecimento no espaço-tempo de Minkowski é descrito por

1,3

0 1 2 3 0 0 1 1 2 2 3 3

3 2 2 2 2 2

0 1 2 3

( , , , )

( )

x x x x x x x xC

x x x x

r e e e e

r (3.27)

Sabe-se que 0x ct representa a componente temporal ao passo que 1 1 2 2 3 3r x x x e e e

representa a componente espacial, logo é possível escrever

41

0(c )t r r e . (3.28)

tem-se que

2 22

2 2

c

r | |

t r

r

r. (3.29)

Deste modo o quadrado dos vectores no espaço-tempo de Minkowski pode ser positivo, zero

ou negativo, ou seja, existem as seguintes três possibilidades de classificação dos vectores:

2 2 20 (c ) ( )t r r ↦ vector parabólico (ou do tipo luz);

2 2 20 (c ) ( )t r r ↦ vector hiperbólico (ou do tipo tempo);

2 2 20 ( ) ( )ct r r ↦ vector elíptico (ou do tipo espaço);

Ao ser desprezada uma coordenada espacial ficamos num espaço tridimensional, o que

permite a representação do conhecido cone de luz. Este cone de luz, ou hipercone quando a

quatro dimensões, ajuda a descrever a evolução temporal de uma partícula no espaço-tempo

de Minkowski. Os pontos exteriores, designados por algures absoluto, e são pontos que

apenas são atingíveis quando a velocidade supera a velocidade da luz c.

Algures Absoluto y

cT

x

Observador

Cone de Luz do Futuro

Cone de Luz do Passado

Algures Absoluto

Figura 3.2 – Cone de luz.

42

Os intervalos do tipo luz dividem o espaço-tempo em três regiões: o cone do passado, o cone

do futuro e o algures absoluto tal como está representado na figura anterior. O cone do futuro

tem uma relação causalista com o cone do passado e ambos são formados por intervalos do

tipo tempo (intervalos com velocidade inferior à da luz e em que consequentemente 2 0r ).

No algures absoluto residem todos os intervalos do tipo tempo (2 0r ), sem qualquer

conexão causal com o observador, uma vez que tal implicaria a existência de sinais supra

luminosos.

Ao contrário de 3C em que todos os bivectores são simples, (correspondem a

lâminas com um quadrado negativo), em 1,3C nem todos os bivectores são simples.

Considere-se a título de exemplo o seguinte bivector:

0 1 2 3 F e e e e (3.30)

2 2 2 2

01 23 01 0123 2301 232 2 2

01 0 1 0 1 0 1

2 2 2

23 2 3 2 3 2 3 2 4 1,3

( )( )( ) 1

1 1( )( ) 1

2 .

F e e e e e ee e e e e e e

I Ie e e e e e e

F I

(3.31)

⇒ 2 4 1,32 F I ⇒ bivector não simples. (3.32)

Os bivectores simples podem ser, tal como os vectores, classificados como

2Parabólicos 0; F (3.32)

23 23Elípticos   geram rotações exp( ) cos sin .          e e (3.32)

10 10Hiperbólicos geram boosts exp( ) cosh sinh . e e (3.32)

A grande diferença entres os bivectores elípticos e hiperbólicos reside no facto dos primeiros

gerarem rotações, ao passo que os segundos geram “boosts”(ou transformações activas de

Lorentz).

43

3.3 Transformações de Lorentz

As transformações de Lorentz, são um grupo de transformações que assegura a covariância

(numa mudança de referencial) das equações da mecânica e do electromagnetismo. Os

membros de uma igualdade entre uma força mecânica e electromagnética transformam-se

então da mesma maneira, subsistindo o significado que anteriormente possuíam.

As transformações de Lorentz diferem das rotações, porque enquanto as primeiras são

funções lineares que mantêm constante o intervalo entre eventos do espaço-tempo

(desenrolam-se em 1,3C ), as rotações mantêm invariante a distância entre pontos no espaço

(acontecem em 3C ).

As transformações de Lorentz organizam-se em dois grupos: transformação de

Lorentz passiva e transformação de Lorentz activa ou Boost. A transformação passiva, refere-

se à transformação de um acontecimento ao ser registado por diferentes observadores,

enquanto na transformação activa, um vector é transformado noutro. De seguida trata-se de

forma mais pormenorizada cada uma das transformações de Lorentz.

3.3.1 Transformação de Lorentz activa ou Boost

Como foi referido na secção anterior, na álgebra do espaço-tempo de Minkowski os

bivectores simples podem ser parabólicos, elípticos ou hiperbólicos, estes dois últimos vão

gerar rotações e boosts, respectivamente. A acção de um rotor sobre um vector já foi estudada

na álgebra euclidiana 3C .

De forma a facilitar a compreensão da acção de um boost, a análise é feita recorrendo

à álgebra 1,1C , uma vez que é mais perceptível e é equivalente ao usar a álgebra 1,3C .

Em 1,1C tem-se

0 1 10{1, , , } e e e

2

0

2

1

1

1

e

e 2

10 1e (3.32)

Sejam u e v dois vectores tais que

44

0 0 1 1

0 0 1 1

.u u

v v

u e e

v e e (3.32)

Analisa-se o boost

10exp( )δu v e u (3.32)

Onde 0 c u t é a componente temporal e 1 xu é a componente espacial. Nesta análise

considere-se que o vector u é unitário, i.e.,

2 2 2

0 1| | 1u u u (3.33)

Uma vez que esta métrica é indefinida do tipo 1, 1 1 1 é necessária a normalização

das componentes do vector u, de modo a que seja sempre unitário. Tem-se que

02 2

0

11

2 2

sin

| sin cos |tan

cos

| sin cos |

uu

uu

(3.34)

Como o bivector 2

10 1e , implica uma geometria hiperbólica, logo

2 2cosh sinh 1. (3.35)

Recorrendo às seguintes representações paramétricas, é possível descrever o vector unitário

u, no âmbito de uma transformação passiva. Considere-se , ,

0 2 2 2 2

1

c coshc 1

sinh

u tt x

u x

u (3.36)

0 2 2 2 2

1

c coshc 1

sinh

u tt x

u x

u (3.37)

0 2 2 2 2

1

c sinhc 1

cosh

u tt x

u x

u (3.38)

45

0 2 2 2 2

1

c sinhc 1

cosh

u tt x

u x

u (3.39)

Figura 3.3 – Representações paramétricas do vector u igual a -1.

Figura 3.4 – Representações paramétricas do vector u igual a 1.

As representações paramétricas das figuras 3.3 e 3.4 geram parábolas e não circunferências

de raio unitário, ao contrário do que seria esperado. Tal facto deve-se ao uso da métrica semi-

definida negativa que obriga ao uso de parametrizações hiperbólicas, enquanto na métrica

46

euclidiana essas parametrizações seriam elípticas. Se o espaço fosse quadrimensional eram

obtidos os hipercones.

Note-se que o comprimento do vector u é unitário entre a origem e qualquer ponto da

parábola.

A aplicação do boost

10 10exp( ) cosh sinh e e (3.40)

Dá origem a um vector v, tal que

0 0 0 10

1 1 0 11

cosh sinh cosh sinh.

sinh cosh sinh cosh

v v u uu

v v u uu

(3.41)

Demonstração:

Como 2

10 1e , tem-se 2

10 1k e e 2 1

10 10

k e e , pelo que

2 2 1

10 10 10

10

0 0 0

( ) ( ) ( )exp( )

! (2 !) ( 2 1)!

k k k

k k kk k k

e e e

e (3.42)

2 2 1

10 10 10

0 0

exp( ) cosh sinh(2 !) (2 1)!

k k

k kk k

e e e (3.43)

Sendo o ângulo do vector v, tem-se

0

1

v tan tanh δtan .

v 1 tanh δ tan

(3.44)

Em suma tem-se que, ao aplicar um boost de intensidade a um vector unitário u com um

ângulo irá originar um novo vector unitário v com um ângulo .O comprimento deste

referido vector v é igual ao comprimento do vector u, ou seja, têm ambos comprimentos

unitários.

2 2 2 2

0 1 0 1| | | | 1.v uv v u u (3.45)

47

Importa referir os casos em que o comprimento não se mantém unitário. Para 4/ tem-

se 0u , logo, não é possível definir a direcção de um vector nulo. Saliente-se ainda que se

considera , e 0, . Quando 0 obtém-se a transformação identidade e

quando tem-se 4/ .

A acção de um boost é facilmente interpretada por um Diagrama de Minkowski. A

título de exemplo considere-se o caso particular em que 0eu , ou seja, 2/ , ou quando

1u e onde 0 , aplicando sobre estes vectores o boost 10exp( ) e obtém-se

0 0 1 0

1 0 1 1

cosh sinh .

sinh cosh

u e v e e f

u e v e e f (3.46)

Pode-se ainda escrever

0 0 0 0

1 1 1 1

cosh sinh cosh sinh

sinh cosh sinh cosh

f e e f

f e e f (3.47)

0 0

0 1 0 1

1 1

cosh sinh

sinh coshv v v v

e fv

e f (3.48)

0

0 1 0 0 1 1

1

u u u u

fv v f f

f (3.49)

No Apêndice B1 representa-se a aplicação de um boost de intensidade 2/1 a um vector

unitário u com ângulos: (i) º180 ; (ii) º150 ; (iii) º120 ; (iv) º90 ; (v)

º60 ; (vi) º30 ; (vii) º0 ; (viii) º30 ; (ix) º60 ; (x) º90 ; (xi)

º120 ; (xii) º150 ; (xiii) º180 .

3.3.2 Transformação Lorentz passiva

A transformação passiva refere-se à transformação de um acontecimento ao ser registado por

diferentes observadores. A compreensão da transformação de Lorentz passiva, baseia-se no

princípio da relatividade, ou seja, usando-se o primeiro postulado de Einstein.

48

1º Postulado – Princípio da relatividade restrita – As leis da física são equivalentes em todos

os referenciais de inércia. Por referencial de inércia entende-se um sistema de coordenadas

(kt,x,y,z) 4 onde, de acordo com a primeira lei de Newton, uma partícula continua o seu

estado de movimento com velocidade constante, ou seja, estes mesmos referenciais não se

encontram sujeitos a qualquer tipo de aceleração.

Para simplificar considere-se y=z=0. Escreve-se

0 1

0 1

(c ) Referencial S

(c ) Referencial S

t x

t x

r e e

r f f (3.50)

Foi visto anteriormente que a acção de um boost 0 1 0 1e e f f vem dada por:

0 0 1

1 01

cosh sinh

cosh sinh

f e e

f e (3.51)

Pelo que considerando

cosh

tanh

sinh

(3.52)

Vem que

0 1 0 1

0 0

0 1 1 0

1 1

0 1

( ) (c )1

(c ) ( ) ( )1

γ (c ) (c )

c t x t xβ

γ γ t β γ x ββ

t β x γ x β t

e e f ff e

e e e ef e

e e

(3.53)

Infere-se, deste modo, que a transformação de Lorentz passiva será

49

c (c ) c (c )

(c ) (c )

t γ t β x t γ t β x

x γ x β t x γ x β t

(3.54)

A transformação de Lorentz passiva, permite de forma fácil construir os c t e x do diagrama

de Minkowski. O eixo c t corresponde a ter-se 0x , logo depreende-se

0 0 [ ( )] ( )x x ct x ct (3.55)

Pelo que

eixo tan .x

c tct

(3.56)

Analogamente, sobre o eixo x corresponde a ter 0ct , pelo que:

0 0 [( ) ]ct ct x ct x (3.57)

Pelo que

eixo 0 tanct

xx

(3.58)

Após a exposição de conteúdos acerca das transformações activa e passiva de Lorentz é

possível representar-se os resultados obtidos de forma esquemática. Essa interpretação

origina o diagrama de Minkowski.

50

Figura 3.5 – Diagrama de Minkowski.

Com o estudo das transformações passivas e activas de Lorentz é possível tirar algumas

ilações bastante importantes na álgebra do espaço-tempo.

Através destes diagramas de Minkowski é possível ilustrar de forma fácil temas como

o caso da adição de velocidades, da contracção do espaço e da dilatação do tempo. Antes de

abordar estes temas, é importante concluir sobre as consequências relativas ao diagrama de

Minkowski, representado na figura 3.5.

O conceito de simultaneidade passa a ser um conceito relativo, ou seja, irá depender

do observador em questão. Considerem-se dois quaisquer acontecimentos A e B que ocorrem

numa linha paralela (também conhecida como linha de simultaneidade ) ao eixo (definido

como ), acontecem simultaneamente no ponto de vista de um observador colocado em .

O mesmo não é valido, quando se considera um observador que está colocado em S. A

diferença no tempo dos acontecimentos vem dada por que é diferente de

zero. A figura que se segue, pretende ilustrar a ideia acima descrita.

51

Figura 3.6 – Linha de simultaneidade em

Analogamente, dois quaisquer acontecimentos A e B que ocorrem numa linha paralela

ao eixo do x, (definido como ) normalmente designada por linha de simultaneidade em S,

acontecem simultaneamente no ponto de vista do observador colocado em S. Pelo mesmo

raciocínio, isto não é válido para um observador colocado em . A diferença no tempo dos

acontecimentos vem dada por que é diferente de zero.

Figura 3.7 – Linha de simultaneidade em

x

1e

x

ct

ct

Act

Bct

0f

1f

0e

0ct B A

1e

x

ct

ct

x

Act

Bct B

A

0f

1f

0e

52

Com a nova métrica não euclidiana, adoptada no espaço-tempo de Minkowski, surge uma

inclinação entre os eixos como se observa no diagrama de Minkowski da figura 3.5, no

entanto os referenciais continuam ortogonais. Apenas não são rectangulares, uma vez que, os

seus eixos formam um ângulo de 90º. Considerem-se dois casos particulares:

0 - Acontece quando a velocidade relativa entre os referenciais é nula, ou seja,

0.

4

- Acontece quando a velocidade relativa entre os referenciais se aproxima de

c, ou seja, 1 .

3.4 Dilatação do tempo

A interdependência entre espaço e tempo e consequentemente a existência de um limite

superior de velocidade, resulta em conclusões que não são expectáveis e compreensíveis do

ponto de vista do senso comum. A contracção do espaço e a dilatação do tempo, são dois

exemplos disso mesmo, embora sejam contra intuitivas, tornam-se evidentes quando

analisadas sob ponto de vista do diagrama de Minkowski.

Comece-se pela dilatação do tempo. A dilatação do tempo na relatividade restrita da teoria de

Einstein, é um fenómeno descrito pela transformação de Lorentz, em que referenciais com

movimento relativo uniforme, apresentam desacordo no intervalo de tempo registado entre

dois acontecimentos.

Tomando dois acontecimentos aleatórios O e B (representados na figura 3.8) e

relembrando que acontecimentos simultâneos a S se encontram sobre linhas paralelas ao eixo

x e que acontecimentos simultâneos a se encontram em linhas paralelas a , conclui-se que

enquanto o acontecimento O é simultâneo aos dois referenciais, o acontecimento B é

simultâneo a O para o referencial , mas acontece posteriormente a O quando visto de S.

Torna-se então evidente que ⇒ ⇒

. O intervalo de tempo registado pelos relógios que acompanham os

referenciais não é portanto coincidente.

53

Figura 3.8 – Diagrama de Minkowski onde os acontecimentos O e B são simultâneos para o referencial , mas

não o são para S.

A dilatação do tempo assim verificada, pode facilmente ser quantificada bastando para isso

atender a simples considerações geométricas. Analise-se para o efeito a figura que se segue.

Figura 3.9 – Diagrama de Minkowski, a dilatação do tempo

O ponto B pode ser escrito visto do referencial S B ( , )cT vT e do referencial

0S B ( ,0)CT , isto significa que o ponto B está em repouso no referencial S .

x

ct ct

x

cT 0cT

vT

O

C B

x

ct ct

x

B

O

54

0 1 0 0 ( ) ( ) ( )OC CB OB cT vT cT e e f (3.59)

O produto interno destes vectores pelo vector base 0e , faz surgir:

0 0 1 0 0 0 0( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )cT v T c T e e e e f e (3.60)

Onde se obtém a conhecida forma dilatação do tempo:

0T T (3.61)

Seguindo o mesmo fio de raciocínio, pode considerar-se que o ponto que se encontra em

repouso é o ponto C no referencial S. Tem-se que: 0C ( T , 0)S c e C ( T, T)S c .

Figura 3.10 – Diagrama de Minkowski, a dilatação do tempo

Pela análise do diagrama de Minkowski escreve-se

0 0 1 0 ( ) ( ) ( )OC CB OB cT vT cT e f f (3.62)

0 0 0 1 0 0 0( )( ) ( )( ) ( )( )cT vT cT e f f f f f (3.63)

0.T T (3.64)

x

ct ct

x

0cT

cT

vT

O

C B

55

Partindo do que foi aqui anteriormente demonstrado, é possível concluir que, se existir

velocidade relativa entre dois quaisquer referenciais, ao passar de um para o outro será

necessário ter em conta a dilatação do tempo. No apêndice A encontra-se a análise de um

caso muito conhecido no que diz respeito à dilatação do tempo, o paradoxo dos gémeos.

Importa ainda referir, ainda que saia fora do âmbito desta tese, que na Teoria da

Relatividade Geral, uma vez que a gravitação pode ser equiparada à aceleração, dois

observadores a alturas diferentes em relação a um campo gravítico concordam na dilatação

temporal verificada: relógios com baixa energia potencial andam mais lentamente [9].

3.5 Contracção do Espaço

À semelhança da análise anterior sobre a dilatação temporal, pode prever-se que também a

noção de distância deva depender do referencial observador.

Considere-se para o efeito dois referenciais S (ct, x) e S ( ct , x ) que se movem com

velocidade relativa. Sobre o referencial S (ct, x) encontra-se uma régua em repouso. Na figura

seguinte encontra-se enunciada esta situação num diagrama de Minkowski onde se pretende

comparar os registos dos dois observadores na medição do comprimento da régua.

Figura 3.11 – Diagrama de Minkowski, a contracção do espaço

x

ct ct

x

O

0L

0L

L B

C

56

Considere-se o ponto B representado no diagrama de Minkowski, este é visto do referencial

0 0S B( , )L L e do referencial S B(0, )L . Assim, pode-se escrever

0 1 0 0 1CB OB ( ) ( ) ( )OC L L L e e f (3.65)

Faz-se o produto interno de ambos os membros pelo vector de base 1e , obtém-se a conhecida

forma da contracção do espaço.

0 1 1 0 0 1 1 1( )( ) ( )( ) ( )( )L L L e e e e f e (3.66)

0LL

(3.67)

Da mesma forma, pode considerar-se que a fotografia é tirada no referencial S, tendo em

0ct um comprimento L. Temos assim: C (0, )S L e 0 0C ( , )S L L .

Figura 3.12 – Diagrama de Minkowski, a contracção do espaço.

De acordo com o diagrama de Minkowski tem-se que:

0 1 0 0 1CB OB ( ) ( ) ( )OC L L L e e f (3.68)

x

ct ct

x

O

0L

L

0L

B

C

57

0 1 1 0 0 1 1 1( )( ) ( )( ) ( )( )L L L e e e e f e (3.69)

0

 F rmula da contrac o espacial

/ .

ó çã

L L (3.70)

Verifica-se portanto, que a contracção do espaço, à semelhança da dilatação do tempo, é um

efeito recíproco registado por ambos os referenciais. A contracção do espaço não é contudo

um efeito real e resulta simplesmente do conceito de simultaneidade ser definido de forma

diferente pelos dois observadores.

Pode-se concluir que em relatividade restrita não existem escalas absolutas para a

distância e para o tempo, mas escalas relativas a cada referencial de inércia.

3.6 Adição de Velocidades Colineares

Segundo Einstein, a composição de velocidades próprias, medidas por referenciais diferentes,

não segue a usual regra da adição de vectores obtida pela transformação do grupo de Galileu.

Já foi analisada a composição de velocidades segundo uma métrica euclidiana, que

como se verificou, não respeita o limite máximo para a velocidade de uma partícula e permite

que duas velocidades positivas possam dar origem a uma velocidade negativa. Faça-se agora

a mesma análise para a métrica de Minkowski.

Um acontecimento pode ser descrito no seu referencial próprio como 0( )c r f , ou

noutro referencial de laboratório, como 0(c ) rt r e composto pela soma da componente

temporal com a componente espacial.

0

0

Velocidade própria do referencial de laboratório

Velocidade própria do referencial próprio

c

c

v e

u f

Escreve-se:

0 0( ) , onde

d d dt dt dc u c u

d dt d d dt

r r ru e f (3.71)

58

Onde

2

2 2 2 2( )dt

c u cd

u (3.72)

Conclui-se que

2

1, onde

1

dt v

d c

(3.73)

Pelo que a velocidade da partícula vista de um referencial de laboratório é

0( )u c u v f (3.74)

0 0 0( 1 )( )u c u e e (3.75)

0 0 0 0 0(1 ) , onde .c u u f U v U e (3.76)

Dado que 2

0 0exp ( ) (1 )R U U , pode-se afirmar que a passagem do referencial

próprio para o de laboratório se faz através de um boost.

Considerem-se duas velocidades em que, a velocidade 1u pode ser exposta como um boost

aplicado ao referencial de laboratório, enquanto, a velocidade 2u pode ser considerada como

um boost aplicada ao referencial 1S .

1 1 10

2 2 10 1

exp( ).

exp( )

u e v

u e u (3.77)

Por outro lado

2 0 10(c ) exp( ) .u u e e v (3.78)

Tem-se portanto

2 2 10 1 10 10exp( ) exp( ) exp ( ) u e e v e v (3.79)

2 1 2 10 10exp ( ) exp ( ) u e v e v (3.80)

59

21 . (3.81)

Estas equações que levaram ao resultado da equação 1 , permitem mostrar

que, ao aplicar um boost com intensidade 1 seguido de outro com intensidade 2 é o mesmo

a aplicar um boost com intensidade 21 .

É de notar que estes resultados apenas são válidos, quando se consideram velocidades

que estão segundo a mesma direcção, ou seja, quando os dois boost são colineares.

Quando se aplicam sucessivamente dois boosts não colineares obtém-se uma

transformação que combina uma rotação com um único boost, a chamada rotação de Thomas

[10].

Uma vez que

tanh ( )v

c (3.82)

pode escrever-se

1 21 2

1 2

tanh tanhtanh tanh ( )

1 tanh tanh

. (3.83)

Sendo 1 1 1 2

2 2 1 2

tanh.

tanh 1

(3.84)

1 2

1 2

2

.

1

v vv

v v

c

(3.85)

Chega-se assim, à conhecida fórmula de adição relativista de velocidades usando uma

métrica semi-euclidiana. Como foi possível verificar a adição colinear de velocidades excede

a simples soma vectorial de Newton e é caracterizada pela adição dos ângulos hiperbólicos,

resultando a soma de velocidades relativistas numa rotação no espaço hiperbólico. Na

equação obtida, a composição das velocidades tende para o valor limite c (quando pelo

menos uma das velocidades é igual a c) e que, ao contrário da composição obtida pela

métrica euclidiana, duas velocidades positivas originam sempre uma velocidade também ela

positiva, caracterizando-se por existir um limite superior de velocidade, a velocidade da luz.

60

3.7 Conclusões

Este capítulo apresentou ideias fulcrais, necessárias na compreensão desta dissertação de

mestrado. Começou-se por concluir que a álgebra geométrica com o uso da métrica de

Lorentz resolveu os problemas anteriormente impostos pela métrica euclidiana. A álgebra

1,3C tal como a 3C , é caracterizada pela soma graduada dos seus subespaços. Esta álgebra

1,3C não possui uma métrica euclidiana, e tem-se que os vectores podem ser do tipo espaço,

tempo e luz. Para além disso os bivectores, para lá das habituais rotações, permitem gerar

boosts, ou também designados por transformações activas de Lorentz.

Os diagramas de Minkowski, facilitam a compreensão dos efeitos relativistas mais

simples como os que acabámos de referir e portanto neste caso a álgebra geométrica, serve de

reforço ajudando à quantificação do fenómeno.

Constatou-se que os sinais não se propagam instantaneamente, diferentes

observadores registam de maneira diferente a sequencialidade entre eventos. A discrepância

nas linhas de simultaneidade, de referenciais diferentes, abre espaço para fenómenos como a

dilatação temporal e a contracção do espaço.

A contracção do espaço, à semelhança da dilatação temporal, é um efeito recíproco

registado por ambos os referenciais. A contracção do espaço, não é contudo um efeito real e

resulta simplesmente do facto do conceito de simultaneidade ser definido de maneira

diferente pelos dois observadores. Reforça-se que, a relatividade restrita veio demonstrar não

existir escalas absolutas para a distância e para o tempo, mas escalas relativas a cada

referencial de inércia.

Na adição de velocidades relativistas, usando uma métrica semi-euclidiana, a

composição das velocidades tende para o valor limite c (quando pelo menos uma das

velocidades é igual a c) e duas velocidades positivas, originam sempre uma velocidade

também ela positiva.

61

Capítulo 4

Óptica Relativista

A álgebra geométrica do espaço-tempo de Minkowski na óptica relativista, evita o uso de

uma matemática tensorial bastante complexa. O uso desta ciência, apesar de recente,

demonstra notórias vantagens, no que diz respeito à simplicidade matemática envolvida. O

efeito de Doppler é um exemplo clássico onde podemos aplicar a álgebra do espaço-tempo

para reduzir a complexidade do problema, relacionando este mesmo efeito de Doppler com o

fenómeno da aberração. Define-se um novo objecto geométrico: o quadrivector 1,3k , que

representa o vector de onda correspondente a uma harmónica temporal de uma onda

electromagnética

Equation Chapter (Next) Section 4

62

4.1 Efeito Doppler Relativista

O objecto geométrico k pode ser descrito como 0 0k k k e , onde c

k 0

w é a

componente temporal e k k s a componente espacial. Pode escrever-se 0k nk , onde n é o

índice de refracção do meio onde a onda se propaga.

Atendendo ao facto de que a álgebra do espaço-tempo de Minkowski tem uma métrica semi-

definida negativa tem-se que

2 2 2 2 2

0 0 0( ) ( )k k k nk k (4.1)

Como será feito no exemplo que se segue o efeito de Doppler relativista surge naturalmente

quando utilizada a álgebra do espaço-tempo. Para tal, considere-se um acontecimento em

1,3C como 0( )ct r r e 1,3

e que o vector de onda é

1,3

0( )w c k k e (4.2)

No vácuo 0kk pelo que o vector 02 k é o vector nulo, ou seja, reside no cone de luz.

Considere-se a propagação de ondas planas com a forma:

exp[ ( )]i k r , onde wt k r k r . (4.3)

Se por hipótese se estivesse perante um meio estacionário caracterizado por um índice de

refracção 0n em que 0 0 0 0 0( / )k k s n k s n w c s tinha-se que:

0 0 0( / ) ( )w c n s k e . (4.4)

Onde 0s 0,3 é um vector unitário, tal que,

2

0( ) 1s .

Considere-se a emissão de uma onda plana entre dois observadores, os quais se designam por

receptor e emissor. Os vectores de onda associados a cada referencial são:

Emissor → 0( )c

e

e

ws k e , (4.5)

63

Receptor → 0( )c

r

r

ws k f . (4.6)

O emissor é caracterizado por uma base 0 1 2 3{ , , , } e e e e enquanto o receptor tem uma

base '

0 1 2 3{ , , , } f f f f . O vector k é igual visto de ambos os referenciais e a frequência do

emissor é ew k v e a do receptor é rw k u , onde

0cv e e 0cu f .

O esquema é representativo da situação descrita [9]:

Emissor Receptor

U L

Figura 4.1 – Esquema representativo da relação entre o emissor e o receptor, através de uma rotação e um boost.

A relação entre os dois referenciais surge quando se aplica um boost simples, tal que:

0 0 0 0 0ˆ ˆexp( ) cosh sinh ( )r r e f B e e B e (4.7)

O bivector 0 0ˆ

r s s B e e é um bivector hiperbólico, i.e., 2ˆ 1r B .

A velocidade relativa da partícula que vai do emissor para o receptor é:

.u c s (4.8)

Sendo es s , define-se que coses s , uma vez que, apenas para 0 se tem es s .

Contudo a aplicação de um simples boost não é de todo suficiente para obter o efeito

desejado, é ainda necessário aplicar uma rotação. Pelo que, para relacionar ω com ωe r

realiza-se a operação rotação e de seguida a operação boost.

0cv e

e esB e

ew k v

0cv e

r sB e

coses s

0cu f

r rsB f

rw k u Rotação Boost

64

2

0

2

2

2

0 0

ˆ ˆ ˆ ˆRotação:

ˆ ˆcos sin exp( )

ˆ ˆ ˆ ( ) ( )

e e r e e

e e e e e

e e e

e r e e e

s U U U

s s s s s U s U U s

U s s s s s s

U s s s s

B e B B B

B B

B B B e e

(4.9)

2

0 0 0 0 0 0 0 0

2

0 0

0 0 0 0

0 0

Boost : ( )

ˆ ˆcosh sinh exp( )

ˆ ˆ ( ) ( ) ( )

ˆ

r r

r r r

r r

L L L

L

s L s L L L L s L s

s s

e f f e e e e e

f e B B

B f B e e e

B f e

L

(4.10)

Conclui-se que a rotação espacial transforma o bivector ˆ eB no vector ˆ rB . O boost por sua

vez transforma 0 0e f .

Assim, escreve-se

0 0c c ( ).s u f u e (4.11)

Portanto

0 0

ω[c ( ) ] [ ( ) ] ω (1 cos )

c

ee es s k u e e (4.12)

e como ω r k uconclui-se que a relação entre as frequências é

r

2e

ω 1 cos(1 cos )

ω 1

. (4.13)

No caso particular de termos 0 , ou seja, os vectores são colineares, ess

, obtém-se a

conhecida forma do efeito Doppler longitudinal [9]:

r

e

ω 1

ω 1

. (4.14)

65

4.2 Efeito Doppler Relativista num plasma

Considere-se um referencial S no qual um plasma de índice de refracção

2

2

ω(ω) 1

ω

pn ,(

pω é a frequência do plasma) e um observador se encontram em repouso. Seja ainda S um

referencial que se move em relação a S com velocidade v e no qual uma fonte

monocromática emite um sinal de frequência sω .

Considerando novamente o quadrivector de onda (ω , )ck k onde ω é a frequência e k o

vector de onda. No caso das ondas electromagnéticas propagando-se num meio de índice de

refracção (ω)n n , tem-se

(ω)

(ω)=ω

kn c (4.15)

onde a dependência de k com ω se deve à natureza dispersiva do meio considerado neste

caso homogéneo e isotrópico. Assim tem-se

ω ˆ= (1, (ω) )k nc

k (4.16)

Numa transformação de Lorentz S S , em que S se desloca com velocidade

ˆc c v v em relação a S , pode-se escrever

ω ω

. .ˆ ˆ ( 1)

c c

β

β I vvkk

(4.17)

Pelo que, para um observador em repouso em relação ao meio de índice de refracção

(ω)n n , vem em particular

ω= ω 1 (ω)cosn (4.18)

onde é o ângulo entre a velocidade relativa v e a constante de propagação k, quer isto dizer,

66

ω ωˆˆβ (ω) β (ω)cosn nc c

β k vk (4.19)

Quando o meio é um plasma frio sem colisões em que

2

2

ω(ω) 1

ω

pn (4.20)

sendo ω p a frequência do plasma, obtém-se então das equações (4.18) e (4.20) que

2 2ω ω β ω ω cos .p (4.21)

A fonte monocromática emite um sinal de frequência ωs no referencial S , é ω ωs pelo

que

2 2ω ω β ω ω cos .s p (4.22)

Quando a fonte (em S ) se aproxima do observador (em S) é 0 e aω=ω ;

Quando a fonte (em S ) se afasta do observador (em S) é e rω=ω ;

Logo, da equação (4.22) resulta

2

ω ω ω0 β 1

ω ω ω

s

p p p

(4.23)

2

ω ω ω +β 1

ω ω ω

s

p p p

(4.24)

As equações (4.23) e (4.24) são o efeito de Doppler para o caso dum plasma estacionário em

relação ao observador para um emissor de frequência ωs que se aproxima ( 0 ) ou que se

afasta ( ).

67

A figura que se segue representa graficamente estas equações 4.23 e 4.24 para o caso

em que =2. O ramo 0 encontra-se com o ramo correspondente a no ponto A em que

s pω ω e ω=ωp. O ramo tem um mínimo no ponto B em que

pω ωs e ω= ωp .

Figura 4.2- Efeito de Doppler no caso de um plasma estacionário em relação ao observador

Analisando a figura acima verifica-se que, para sω >γωp

, se obtém um único valor ω =ωr

quando a fonte se afasta e um único valor ω =ωa quando a fonte se aproxima. Depreende-se

também que, para γω ω ωp s p , a onda proveniente da fonte que se afasta está abaixo do

corte, enquanto que a onda proveniente da fonte que se aproxima se divide em duas, dando

assim origem a dois valores distintos de ωa .Uma das referidas frequências é sempre superior

a ωs , ao passo que a outra pode ser superior ou inferior a ωs dependendo da proximidade

entre ωs e ω p .

A

B

0

ωωP

ωω

S

P

2 sω ω

68

4.4 Conclusões

Neste capítulo a álgebra geométrica voltou a demonstrar grande importância para chegar a

conclusões de forma eficaz. Analisando a óptica relativista em particular, nomeadamente no

efeito de Doppler relativista, concluiu-se que a relação entre frequências entre um emissor e

um receptor colocados em referenciais diferentes se obtém aplicando uma rotação simples, U,

seguida de um boost, L e é dada por 2

ω 1 cos(1 cos )

ω 1

r

e

69

Capítulo 5

Electrodinâmica Relativista

Como comprovado, a álgebra geométrica possui inúmeras técnicas para estudar problemas de

electrodinâmica e electromagnetismo. Neste capítulo serão aplicadas as ferramentas das

álgebras aplicadas ao plano, espaço e espaço-tempo de Minkowski, às leis do

electromagnetismo, mais especificamente às equações de Maxwell, de forma a enfatizar as

enormes vantagens destas álgebras face a outras álgebras tradicionais.

Começa-se por reescrever as equações de Maxwell nas álgebras 3C e 1,3C . São definidos

os dois bivectores fundamentais do campo electromagnético, o bivector de Maxwell e o

bivector de Faraday. Através destes, é possível reescrever as quatro equações de Maxwell

iniciais para apenas duas equações, a homogénea e a não homogénea, e no vácuo integrar as

quatro equações de Maxwell em apenas uma equação. São estudadas as relações constitutivas

dos meios, vistas de referenciais diferentes e por fim recorre-se a ferramenta da redução à

forma do vácuo, para completar esse estudo e facilitar a análise dos meios em movimento.

70

5.1 Equações de Maxwell em 3C

As equações de Maxwell, assim designadas em honra de James Clerk Maxwell, descrevem o

comportamento dos campos eléctricos e magnéticos, bem como as suas interacções com

matéria.

Antes de escrever as equações de Maxwell é importante apresentar algumas

considerações matemáticas que facilitam a sua escrita. Comece-se por definir , conhecido

por operador nabla. Este operador nabla está presente em todas as equações de Maxwell mas

possui uma acção específica sobre cada uma delas. A equação que se segue caracteriza o

operador mencionado.

Equation Chapter 5 Section 5

0,3

1 2 3

1 2 3

.x x x

e e e (5.1)

Seguem-se duas operações matemáticas, divergência e o rotacional, cujo as mesmas usam o

operador nabla, e quando aplicadas sobre um dado vector 3F vêm escritas como:

ˆ ˆ ˆ

Rotacional .

x y z

x y z

F F F

x y z

F (5.2)

Divergência yx z

FF F

x y z

F (5.3)

Dá-se atenção agora a algumas grandezas que a partir deste momento passaram a ser de uso

comum, como tal, de seguida são feitas algumas considerações sobre essas grandezas.

Note-se que:

E 3 – representa a intensidade do campo eléctrico;

B 3 – representa a intensidade do campo magnético;

P 3 – representa o vector polarização eléctrica;

M 3 – representa o vector polarização magnética;

71

A densidade total de carga eléctrica é t p , e a densidade total de corrente é

t p m J J J J 3, onde são válidas as seguintes relações:

p

p

m

t

P

PJ

J M

(5.4)

De recordar que as equações de Maxwell são aquelas que contem não só os campos de

grandeza intensiva ( E , B ) mas também os campos de grandeza extensiva ( D , H ).

Os vectores H e D representam a excitação eléctrica e a excitação magnética

respectivamente,

0 . D E P (5.5)

0

1.

H B M (5.6)

As equações de Maxwell escritas na linguagem vectorial comum no espaço linear 3 usando

o produto externo de Gibbs são as seguintes:

Lei de Gauss

Lei de Gauss Magnética 0

Equação de Maxwell-Faraday

Equação de Maxwell-Ampère

t

t

D

B

BE

EH J

(5.7)

5.1.1 Equações de Maxwell-Boffi em 3C

Note-se que é possível escrever as equações de Maxwell como sendo as equações de

Maxwell-Boffi. Nestas equações especificamente não entram os campos D e H, ou seja,

ignoram a quantidade de excitação dos meios materiais. É dada uma perspectiva reducionista

onde o único meio a ter em conta é o vácuo. Importa referir que num meio reducionista, o

72

meio mantém-se invariável, onde a única variação observável é a quantidade de cargas que lá

existem.

123

123

equação de Maxwell-Faraday 0

lei de Gauss magnética 0

equação de Maxwell-Ampère

lei de Gauss

t

t

Be E

B

DHe J

D

(5.8)

Reescrevendo-se as equações de Maxwell-Boffi no âmbito da álgebra do espaço, considere-se

o vácuo e que:

123 123( ) ( ) E E e B e B (5.9)

1 2 3

0 0

1c .

x y z

e e e (5.10)

Aplicam-se estas equações acima às equações de Maxwell e obtêm-se as chamadas equações

de Maxwell-Boffi em 3C :

0

123 0

123

123

10

1 11

1 12 0

3 0

t

t

c

Jc t c

c t c

E

E B e

B e E

B e

(5.11)

Cada uma das quatro equações de Maxwell-Boffi em 3C representadas em 5.11 apresentam

um grau distinto, de zero a três, ou seja, será escalar, vector, bivector e trivector

respectivamente. Deste modo, e graças às propriedades da álgebra geométrica, é possível

fazer-se a soma graduada das quatro equações, e integrar numa única equação para

representar as equações de Maxwell-Boffi em 3C .

73

Temos que a impedância do vácuo é:

00

0

(5.12)

Por isso as seguintes equações podem ser obtidas

0

0

00

εμ

c

c

(5.13)

123 0

1 1 1t t

c t c c

E B e J (5.14)

Esta nova equação, está escrita na forma mais compacta usando álgebra 3C . Com esta nova

notação é possível reescrever as equações de Maxwell como é mostrado de seguida:

123equação de Maxwell-Faraday 0

.

lei de Gauss magnética 0

t

B e E

B

(5.15)

123equação de Maxwell-Ampère ( )

.

lei de Gauss

t

DHe J

D

(5.16)

74

5.2 Equações de Maxwell na álgebra 1,3C

A álgebra geométrica aplicada ao espaço-tempo de Minkowski permite estudar as equações

de Maxwell aplicadas à relatividade restrita com uma complexidade menor, apresentando-as

de forma clara e sucinta.

Comece-se por escrever as equações vectoriais na álgebra do espaço, onde se considera o

espaço quadrático 0,3 , onde as grandezas vectoriais eE, B, D, H J pertencem a esse espaço

e temos:

0,3

1 2 3

1 2 3

.x x x

e e e (5.17)

2 2 2

2

2 2 2

1 2 3

.x x x

(5.18)

Pelo que, as quatro equações de Maxwell no espaço 0,3 são na forma:

grupo de Faraday

0

BE

t

B

(5.19)

grupo de Maxwell

DH J

t

D

(5.20)

Para escrever as equações de Maxwell em 1,3C há que começar por introduzir os

correspondentes vectores relativos (que, como foi visto anteriormente, são tecnicamente

bivectores hiperbólicos ou do tipo tempo) e definir o operador de Dirac.

75

2 1,3

0 0

2 1,3

0 0

2 1,3

0 0

2 1,3

0 0

vectores relativos

E E

B B

D D

H H

E e e

B e e

D e e

H e e

(5.21)

a densidade de carga-corrente

1,3

0

1.J

c J e (5.22)

e o operador de Dirac

1,3

0

1.

c t

e (5.23)

Introduzem-se, por fim, os dois bivectores fundamentais do campo electromagnético, F e G.

O bivector F é designado por Faraday (ou da intensidade electromagnética) e o G designado

de bivector de Maxwell (ou da excitação electromagnética):

1

1

c

c

F E I B

G D I H

(5.24)

Tendo em conta que:

0 1 10 2 20 3 30

0 1 10 2 20 3 30

E E E E

B B B B

E e e e e

B e e e e (5.25)

10 23

20 31

30 12

I e e

Ie e

Ie e

(5.26)

76

Estamos então em condições de escrever os bivectores de Faraday e de Maxwell como

1 10 2 20 3 30 1 23 2 31 3 12

1 10 2 20 3 30 1 23 2 31 3 12

1( ) ( )

1( ) ( )

E E E B B Bc

D D D H H Hc

F e e e e e e

G e e e e e e

(5.27)

Os dois bivectores F e G representativos das equações de Maxwell são fundamentais no

campo electromagnético, uma vez que, ao contrário dos outros quatro envolvidos na sua

constituição (E, B, D e H), estes não são relativos, quer isto dizer, que não dependem do

observador. Dois observadores distintos vêm os mesmos valores de F e G, no entanto a

decomposição destes em função dos seus vectores relativos é diferente [7].

Após apresentados todos os elementos importantes, é agora possível escrever as duas

equações de Maxwell da relatividade restrita:

1,3

(i) Equação homogénea 0

(ii) Equação não-homogénea C

F

G J (5.28)

A equação homogénea apresentada anteriormente descreve a conservação do fluxo magnético

ao passo que a equação não-homogénea descreve a conservação da carga eléctrica.

A relação constitutiva do vácuo em 1,3 C :

0

1.

G F (5.29)

Dado que é possível escrever o produto geométrico

F F F (5.30)

77

As duas equações de Maxwell passam a uma única equação no vácuo em 1,3 C :

0 . F J (5.31)

5.3 Meios em movimento

Fazendo aqui um ponto da situação tem-se que, até ao momento descreveram-se as equações

de Maxwell no espaço-tempo de Minkowski recorrendo a dois novos bivectores, o bivector

de Faraday e o bivector de Maxwell. Estes permitiram escrever as quatro equações de

Maxwell iniciais, mas apenas com recurso a duas, designadas por, homogénea e não-

homogénea. Particularizando para a propagação no vácuo, consegue-se representar as duas

referidas equações em apenas uma única, ou seja, a equação de Maxwell no vácuo.

Para dar continuação ao estudo das equações de Maxwell no espaço-tempo de Minkowski,

abordar-se-à um problema clássico da electrodinâmica: os meios em movimento.

Comece-se por considerar um meio isotrópico simples, ou seja, um meio ilimitado, linear e

sem perdas onde não existe acoplamento electromagnético ( 0M ), logo, D E .

O meio isotrópico simples, em termos de 1,3 C , apresenta as seguintes relações

constitutivas

0

0

meio isotrópico simples .D E

B H

(5.32)

Em termos dos vectores relativos, obtém-se então sucessivamente

0

0

0

0

1 11

c

D E

D I H E I BH B

(5.33)

78

1

10

2

2

0

1.

1 c c

G D I H E I B (5.34)

Ao considerar 0cv e o referencial próprio do meio, ou seja, onde este se encontra em

repouso, tem-se que

0 0 0 0 0 0 0 0

1 1E B

c c

-1

vF v F v e Fe e E I B e e e I e e (5.35)

0 0

1 1.E B

c c vF e I e E I B (5.36)

Pelo que, para uma combinação linear de F com vF , surge

1 2 1 2 1 2 1 2

1 1 1( ) ( )

c c c

vF F I B E I B E I B (5.37)

logo, fazendo

1 1 2

01 2 1

1 2 2

2 1 2

1 1 1( )

2 2

1 1( )

2

. (5.38)

Desta forma obteve-se a chamada relação constitutiva do espaço-tempo de Minkowski, que

permite relacionar o bivector de Faraday com o bivector de Maxwell utilizando as relações

constitutivas do meio:

0 0

1 1 1 1.

2 2

vG F F (5.39)

79

É no entanto possível dar a esta relação constitutiva uma forma mais elegante fazendo

2

0

2 2

0

200

0

11 1cosh

2 2 cosh sinh 1 .

cosh sinh exp( )11 1sinh

2 2

n

n

nn

n

(5.40)

Onde 0n é o índice de refracção do meio, isto é,

0ln ( ).n (5.41)

Nestas condições infere-se que 0

0

0

e ( ) -1

vF F v F vvr pode-se

simplificar a forma local da relação constitutiva universal:

0 0

1 1 1 1

2 2

1 ( cosh sinh )

1 ( cosh sinh )

1 exp( )

v

v

G F F

F F

F

F

v

v

r

r

(5.42)

forma local da relação 1

exp( ) . constitutiva universal

G Fvr (5.43)

A equação (5.43) é designada por forma invariante da relação constitutiva e permite passar de

forma imediata do referencial próprio do meio para o referencial de laboratório onde todas as

partículas se deslocam com uma velocidade própria u, tal que:

0 0 0 0 0 0exp( ) ( ) .u v u U e f u U v v (5.44)

80

Ao fazer-se a substituição v u obtém-se a relação constitutiva do meio em estudo mas

agora no referencial do laboratório.

forma geral da relação 1

  exp( ) constitutiva universal

G Fur (5.45)

Onde, neste caso, se tem

( )u u -1F F v Fur (5.46)

e em que

1 1

0 0 02

1exp( ) exp(-δ ) exp( )

c u U v u v U U v (5.47)

u 2

1( ) u u

c F Fr . (5.48)

Os bivectores de Faraday e de Maxwell não são relativos, logo a relação constitutiva é vista

do mesmo modo por ambos os referenciais, a diferença reside na velocidade que têm. No

referencial próprio a velocidade vem dada por 0cv e , ao passo que no referencial de

laboratório a velocidade é vista como 0( )c v v f .

Para se obter a velocidade vista do referencial de laboratório, basta para isso aplicar uma

transformação de Lorentz passiva, onde, à velocidade é adicionada a componente relativa v ,

e de um boost que transforma 0 0e f .

Na figura que se segue é possível analisar a relação constitutiva de um meio isotrópico visto

de diferentes referenciais.

Figura 5.1 – Relação constitutiva de um meio isotrópico visto de diferentes referenciais

Referencial próprio

do meio

0cv e

1exp ( )

vG Fr

Referencial de

laboratório

0( )c v v f

1exp( )

vG Fr

81

A relação constitutiva no referencial de laboratório ( )G FG , do espaço-tempo de

Minkowski, é possível de ser decomposta em duas relações constitutivas:

( , )

( , )

D D E B

H H E B

(5.49)

Constata-se observando estas duas relações constitutivas que se está na presença de um meio

bianisotrópico, pois ambos os campos e D H dependem simultaneamente de e E B .

Infere-se deste modo que um meio isotrópico simples no seu referencial é visto como um

meio bianisotrópico no referencial de laboratório, ou seja, onde o mesmo é visto em

movimento [9].

5.4 Redução à Forma do Vácuo

Para auxiliar o estudo dos meios em movimento não será necessário trabalhar de forma

explícita com as relações constitutivas ( , ) e ( , )D D E B H H E B caso se utilize um novo

método: a redução à forma de vácuo.

De modo, a escrever as relações constitutivas do meio de forma análoga às do vácuo são

realizadas as seguintes transformações:

exp exp2 2

exp exp2 2

F F' F' F

G G' G' G

u u

u u

r r

r r

(5.50)

daqui obtém-se

1

exp exp( ) exp2 2

G' F'u u ur r r (5.51)

82

1

G' F' (5.52)

Aplicando as transformações indicadas em que e F F G G , obtém-se uma relação

constitutiva que tem a mesma forma que a relação constitutiva do vácuo. É por esta razão que

se designou essa transformação por redução à forma do vácuo.

É importante referir que ao proceder a esta alteração, se alterou a própria estrutura do espaço-

tempo de Minkowski, que agora passa a ser um espaço fictício, diferente do original. Perante

isto, importa perceber o que acontece às equações de Maxwell.

Neste novo espaço-tempo fictício tem-se que

0 1 2 3 0 1 2 3{ , , , } { , , , } e e e e e e e e (5.53)

0 0

1 1.

c t c t

e e (5.54)

Tem-se neste novo espaço fictício,

1,3

0C

F FF

G GG J

J J

. (5.55)

Devido ao facto da estrutura graduada da álgebra geométrica e a aplicação da nova relação

constitutiva às duas equações de Maxwell obtém-se uma única equação.

equa homogénea 0

equaç o não homogénea

ção

ã

F

F J

F F J F J . (5.56)

83

Para o caso em que há ausência de fontes do campo, vem simplesmente

0 F . (5.57)

Considere-se que o estudo da propagação de ondas planas monocromáticas neste meio é

realizado recorrendo a uma onda do tipo:

0{ exp [ ( )]}i F F k r . (5.58)

Para uma zona sem fontes as equações de Maxwell surgem na forma

0 0

0

0 0

0 00

0 0

k F k Fk F

k G k F, (5.59)

o o vector de onda resulta da transformação, exp2

k kur . Ao multiplicar ambos os

membros da equação pelo vector de onda, k , obtém-se

2

0( ) 0 k F . (5.60)

Como tal, para soluções diferentes do bivector de Faraday ser nulo, obtemos um resultado

extremamente importante:

2( ) 0 k . (5.61)

Através da análise do resultado da equação (4.59) conclui-se que no espaço-tempo de

Minkowski equivalente o vector de onda é nulo. Este resultado é igual ao que se verifica no

vácuo, no entanto, é importante referir que apesar de o vector de onda ser nulo não estamos

no vácuo.

Para concluir mais acerca do vector de onda nulo, faz-se

exp 2 cosh 2 sinh 2 .u k k k k kur (5.62)

Atendendo à forma anterior e ao definir

84

0

0

0

0

1cosh 1cosh

2 2 2

1cosh 1sinh

2 2 2

n

n

n

n

, escreve-se 0 0

0

1[( 1) ( 1) ]

2un n

n k k k . (5.63)

Como o vector de onda é nulo tem-se 2( ) 0 k , pelo que

2

2

0 0

0

1( ) [( 1) ( 1) ] 0

2un n

n

k k k (5.64)

2 2 2 2 2

0 0 0( 1) ( 1) 2( 1)( ) 0u un n n k k k k . (5.65)

De modo a retirar a dependência de uk , sabe-se que:

2 2 2

2 2

2 2

2

1 1 1( ) ( ) ( )

1 1 [ ( ) ( ) ] [ ( ) ( ) ]

1 2 [ ( ) ( ) ( ) ] ( )

2 ( )

uc c c

c c

c c

c

k k uk u u k u u k u k u

k u u u k u k u u u k u

k u u u k u u u k u k u k

u k u k

ur

(5.66)

2 1 1 2

2 2

2 2

( ) ( )

2 2( ) ( )

u

uc c

k u k u u k u k

k k k u k u k u k k. (5.67)

Logo, fazer 2( ) 0 k é o mesmo que:

2 2 2 2

02

1( ) 0 ( 1) ( ) 0.n

c k k u k (5.68)

É importante realçar que esta equação se aplica a uma onda plana monocromática no espaço-

tempo de Minkowski equivalente, ou seja, quando se faz a redução à forma do vácuo.

85

Assim no referencial de laboratório u e k podem ser vistos como:

2 2 2

00

22 2 2 2

0 0 0

(1 ) ( ).

( ) ( ) 1

k nc

k n c k n

ku e

k e u k (5.69)

onde

2 2

0

( , )

( 1)

n

n

, (5.70)

e como cosn n temos

2 2 2cos 1 2 cos (1 ) 0.n n (5.71)

Resolve-se a equação em ordem ao índice de refracção do meio no referencial do laboratório,

n , são obtidas duas soluções

2 2

2 2

cos 1 (1 cos ).

cos 1n

(5.72)

Nota: As soluções desta equação quadrática não são independentes. Como se tem

( ) ( )n n

as duas soluções correspondem, de facto, a uma única solução.

Quando no referencial de laboratório a velocidade do meio em análise em relação ao

laboratório é nula, então está-se na presença de um caso particular em que 0 . Neste caso

o índice de refracção efectivo do meio no referencial de laboratório é igual ao índice de

refracção do meio no seu referencial próprio, ou seja, 0nn . Será portanto necessário

escolher a parte negativa da raiz, logo

2 2

2 2

1 (1 cos ) cos( ) .

1 cosn

(5.73)

86

Simplificando,

2 21 (1 cos ) 1

( ) 1cos

a a b

nb

, (5.74)

A velocidade de fase normalizada sendo o seu vector relativo correspondente

00 sn

cs

k

wv p

, onde 2

0( ) 1s , vem dada por:

2 2( ) 1 (1 cos ) cos

1

pv

c

. (5.75)

De seguida apresentam-se as figuras correspondentes a diagramas polares para valores

diferentes de que representam a variação de pv

cem função do ângulo

i. 0

( ) 10

pv

c n

.Observa-se a situação estacionária como seria previsível.

Figura5.2 – Velocidade de fase normalizada para 0 4, 0.n

87

ii. ( )

1 cospv

c

. Neste caso tal como acontecia no caso anterior a sua

representação em função de resulta numa esfera.

Figura 5.3 – Velocidade de fase normalizada para 0 4, 1.n

iii. 2 2

0 0

2

0 0

( ) sin cos1

1

pv n n

n c n

. Nesta situação a velocidade do meio, em

relação ao laboratório, tem o mesmo valor que a velocidade de fase da onda no seu

referencial próprio do meio, 0n

cv p .

88

Figura 5.4 – Velocidade de fase normalizada para 0

0

14, .n

n

Quando a velocidade vista do referencial de laboratório é superior à velocidade de fase da

onda no referencial próprio do meio, entra-se numa zona designada zona de Cerenkov,

0

1

n , onde existe uma superfície de velocidade dupla que se auto-intersecta na origem.

Um quarto caso também importante acontece quando a velocidade vista do referencial de

laboratório é superior à velocidade de fase da onda no referencial próprio do meio, 0

1

n ,

entra-se na chamada zona de Cerenkov, onde passa a existir uma superfície de velocidade

dupla que se auto-intersecta na origem.

89

Figura 5.5 – Velocidade de fase normalizada para 0

10.75 .

n

90

5.5 Conclusões

Pode-se afirmar que a equação de Maxwell na álgebra geométrica do espaço-tempo de

Minkowski, F J , constitui a forma mais inovadora para se expressar. Não só pela

simplicidade, mas também pela quantidade de informação que apreende.

Na álgebra do espaço as equações Maxwell-Boffi foram reescritas e devido à soma graduada

característica da álgebra geométrica, as quatro equações podem agregar-se numa só:

123 0

1 1 1.t t

c t c c

E Be J

Através da algebra espaço-tempo de Minkowski foi possível reescrever as equações de

Maxwell e torná-las mais gerais. Foram definidos dois novos bivectores, F e G, fundamentais

do campo electromagnético. Estes bivectores são não relativos, que possibilitaram a escrita

das equações em apenas duas e no vácuo apenas uma. Deste modo, reduziu-se as equações de

Maxwell da relatividade restrita a apenas duas: A equação homogénea, 0 F , e a equação

não-homogénea, G J . A equação homogénea expressa a conservação do fluxo

magnético enquanto a não-homogénea expressa a conservação das cargas eléctricas. No caso

particular do vácuo foi simples relacionar-se os bivectores F e G através da relação

constitutiva do vácuo em 1,3C : 0(1/ )G F . Uma vez que F e G são bivectores não

relativos, estes tornam-se independentes do observador, isto é, diferentes observadores vêem

os mesmos bivectores.

Quanto ao estudo dos meios em movimento, foi demonstrada a relação constitutiva de um

meio isotrópico simples, e é dada por (1/ ) exp( ) G Fvr . Foi possível concluir, que

esta relação constitutiva é a mesma quer seja vista do referencial próprio do meio ou do

referencial de laboratório, devido aos bivectores de Faraday e Maxwell serem não relativos.

Neste caso apenas a velocidade difere, sendo que, a velocidade no referencial de laboratório é

vista como 0( )c v v f , resultado de uma transformação passiva de Lorentz e de um

boost.

No que concerne à decomposição nos seus bivectores relativos, um meio isotrópico simples

no seu referencial próprio é visto como um meio bianisotrópico no referencial de laboratório.

Com o intuito de simplificar a complexidade apresentada nos cálculos a álgebra geométrica

91

permitiu apresentar uma solução: redução à forma do vácuo. Esta ferramenta enunciada

possibilitou a escrita de uma relação constitutiva de um meio isotrópico como se

estivéssemos no vácuo: (1/ )G' F' .

Esta transformação altera o espaço-tempo de Minkowski, para um espaço-tempo fictício, pelo

que foram reescritas novamente as equações de Maxwell, que vêm dadas por: ' ' 0 F e

' ' ' G J . Atendendo à nova relação constitutiva entre ' ' e F G essas equações reduzem-se

a apenas uma: ' ' ' F J .

Quanto ao estudo da equação de Maxwell para um meio isotrópico com ausência de fontes do

campo: ' ' 0 F , obteve-se para uma onda plana e monocromática que a solução do campo

corresponde a um vector de onda nulo, isto é, 2( ) 0 k . Por manipulação algébrica vimos

que um observador colocado no referencial de laboratório vê o índice de refracção efectivo

do meio como 2 2

2 2

1 (1 cos ) cos( )

1 cosn

e uma velocidade de fase

normalizada dada por

2 2( ) 1 (1 cos ) cos

1

pv

c

.

92

93

Capítulo 6

Conclusões

Este sexto e último capítulo apresenta as conclusões essenciais referentes à dissertação de

mestrado, fazendo uma sinopse face aos objectivos iniciais e sugerindo possíveis trabalhos

futuros.

94

6.1 Conclusão final

Esta dissertação permitiu compreender de que forma a álgebra geométrica se tornou numa

ferramenta matemática elegante e eficaz no estudo do electromagnetismo. Concluiu-se que

esta álgebra compreende uma métrica euclidiana e uma métrica não euclidiana (métrica de

Lorentz). Na métrica euclidiana analisou-se a álgebra do espaço, ao passo que, na métrica não

euclidiana, foi abordada a álgebra do espaço-tempo de Minkowski, sendo esta álgebra, uma

ferramenta ideal para clarificar a relação entre a mecânica e o electromagnetismo.

A definição essencial destas álgebras reside no produto geométrico ou de Clifford

entre vectores, que representa a soma do produto interno com um novo produto, o produto

exterior. Ao contrário do produto externo de Gibbs, o produto exterior é definível em n

dimensões, e gera novos objectos geométricos tais como, o bivector e o trivector.

Na teoria da Relatividade Restrita a álgebra geométrica mostrou destacar-se da

álgebra tensorial pela sua independência de qualquer sistema de coordenadas, muito

importante no mundo da física, e principalmente vantajoso no electromagnetismo.

Concluiu-se que a álgebra do espaço-tempo de Minkowski serve de ferramenta

unificadora da matemática, uma vez que, não separa o tempo do espaço. Através da álgebra

do espaço-tempo de Minkowski a complexidade inerente no estudo da electrodinâmica

relativista foi reduzida. A álgebra geométrica viabilizou a escrita das equações de Maxwell de

uma forma mais geral e simplificada.

Os meios em movimento constituem um tema clássico da teoria electromagnética,

onde se conclui que, ao invés de se usar cálculos tensoriais, que são bastante complexos,

recorre-se à Redução à Forma do Vácuo, obtendo-se os mesmos resultados, mas de forma

mais simples. Importa ainda salientar que aplicando-se estes resultados a uma onda

propagando-se num meio isotrópico (no seu referencial), este pode ser considerado como um

meio bianisotrópico num referencial de repouso.

Esta dissertação pretende divulgar a álgebra geométrica como estrutura clara, intuitiva

e geométrica, assim como, torna-se uma linguagem universal e unificadora para o estudo e

aplicação nas diferentes áreas da Física e da Engenharia.

A álgebra geométrica está a dar passos importantes na comunidade científica, tendo já

sido aplicada à Mecânica Quântica, Computação, Processamento de sinal, entre outras.

95

Dada a natureza do tema, e como perspectivas de trabalhos futuros esta tese deixa em aberto

um sem número de áreas por explorar. Salientam-se algumas delas:

Rotação de Thomas pois permite calcular a composição da velocidade de referenciais

não colineares.

Utilização da álgebra geométrica no estudo dos meios em movimento para meios não

isotrópicos.

Paradoxo dos gémeos através do Efeito Doppler.

Utilização da álgebra geométrica no estudo dos meios em movimento para meios não

isotrópicos.

Teoria da Relatividade Geral

96

97

Referências

[1] D. Hestenes, New Foundations for Classical Mechanics. Dordrecht: Kluwer Academic

Publishers, 2nd ed., 1999.

[2] C. Doran and A. Lasenby, Geometric Algebra for Physicists. Cambridge: Cambridge

University Press, 2003.

[3] L. Dorst, D. Fontijne and S. Mann, Geometric Algebra for Computer Science. San

Francisco, CA: Morgan Kaufmann / Elsevier, 2007.

[4] http://www.springerlink.com/content/pq71607n604u5240/, 10-12-09

[5] http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/6766, 13-12-09

[6] P. Lounesto, Clifford Algebras and Spinors. Cambridge: Cambridge University Press, 2nd

ed., 2001.

[7] C. R. Paiva, “Aspectos Geométricos do Electromagnetismo,” Departamento de

Engenharia Electrotécnica e de Computadores, Instituto Superior Técnico, 2008.

[8] C. R. Paiva, "Álgebra Geométrica do Espaço". Departamento de Engenharia

Electrotécnica e de Computadores, Instituto Superior Técnico, 2008/2009

[9] C. R. Paiva and M. A. Ribeiro, “Relativistic optics in moving media with spacetime

algebra”, Eur. Phys. J. Appl. Phys. 49, 33003 (2010)

[10] W. Rindler, Introduction to special relativity, Oxford: Oxford University Press, 2nd

ed., 1991.

[11] D. K. Cheng, Field and Wave Electromagnetics, Reading, MA: Addison-Wesley, 2nd

ed., 1989.

[12] J. D. Jackson, Classical Electrodynamics, New York: Wiley, 3rd ed., 1999.

[13] C. R. Paiva and M. A. Ribeiro, “Doppler shift from a composition of boosts with

Thomas rotation: A spacetime algebra approach”, J. Electromagn. Waves Appl. 20, 941-953,

2006.

[14] C. R. Paiva, "Lição de Síntese", Departamento de Engenharia Electrotécnica e de

Computadores, Instituto Superior Técnico

98

Créditos de Figuras

[1] http://en.wikipedia.org/wiki/File:WilliamRowanHamilton.jpeg, 24-11-09.

[2] http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hgrassmann.jpg, 30-11-09.

[3] http://en.wikipedia.org/wiki/File:Clifford_William_Kingdon.jpg, 06-12-09.

[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gibbs_Josiah_Willard.jpg, 07-12-09.

[5] http://modeling.asu.edu/modeling/staff_pix/DavidHestenes.jpg, 12-12-09.

99

Apêndice A

Paradoxo dos Gémeos

100

O paradoxo dos gémeos surge em 1911 e foi durante algumas décadas um caso inexplicável

colocando em causa a teoria da relatividade. O paradoxo dos gémeos não só provou tratar-se

de um problema paradoxal que envolve a dilatação temporal, como veio demonstrar que as

contribuições de Einstein ultrapassam as simples considerações matemáticas de Lorentz,

revestindo toda a sua teoria de profundas implicações a nível de conceitos de espaço e tempo.

Movimento relativo uniforme

Considerem-se dois gémeos A e B, em solo terrestre, onde um dos gémeos resolve fazer uma

viagem pelo espaço com uma nave que se descola a uma velocidade constante próxima da

velocidade da luz. Num dado instante, esse mesmo gémeo inverte instantaneamente o sentido

do movimento, regressando ao ponto inicial onde o irmão o aguarda. O gémeo A, uma vez

que vê o irmão a afastar-se devido à dilatação temporal, afirmará que o tempo decorre mais

lentamente para o gémeo B. Contudo, uma vez que a velocidade é relativa e assumindo-se

que B não sofre qualquer tipo de aceleração, este gémeo B irá ver o gémeo A também a

afastar-se. A questão que se coloca é, qual a idade dos gémeos quando estes se voltam a

encontrar em solo terrestre?

Figura A.1 - Diagrama de Minkowski a evidenciar o percurso dos gémeos A e B do paradoxo dos gémeos,

encontrando-se o gémeo A sobre o referencial inercial.

O

C

D

E

ct

0T

ctO

ct

x

0T

2

T

2

T

Gémeo A Gémeo B

101

O diagrama da Figura A.1 mostra explicitamente que não existem qualquer simetria de

referenciais no deslocamento dos gémeos, ou seja, enquanto o gémeo A permanece sempre

num referencial inercial coincidente com o eixo ct, o gémeo B inverte o seu movimento no

ponto C, dando-se portanto uma mudança de referencial. Dado que a situação dos gémeos

não é simétrica, então pode-se afirmar que não existe paradoxo.

Na figura A.1 está presente o percurso dos gémeos A e B, considerando que o gémeo A se

encontra sobre um referencial inercial. Anteriormente já se calculou a dilatação temporal de

dois referenciais com movimento relativo uniforme:

v

2

21

c

T T00

TT

O 0

T é o tempo medido entre os mesmos eventos mas segundo um referencial que se afasta a

uma velocidade v do referencial inercial. O T é o tempo medido entre pares de eventos que

ocorrem no mesmo local segundo um referencial inercial. A figura que se segue esquematiza

o nosso problema em concreto:

Figura A.2 - Quebra do triângulo [ODC] em dois triângulos rectângulos [OEC] e [EDC].

Comece-se por dividir o problema em duas etapas de forma a facilitar a explicação:

A primeira etapa resume-se ao movimento representado pelo triângulo rectângulo [OEC]. A

equação (A.1) apresenta a dilatação sofrida, uma vez que os referenciais apresentam

movimento relativo uniforme. Considere-se que na origem ambos os relógios se encontram no

instante zero, logo segundo o gémeo terrestre, o gémeo viajante terá envelhecido no trajecto

[OC].

C

O

D

Gémeo A

aA

Gémeo B E

(A.1)

102

v

2

21

2 c

T0T

em que 2

Té o tempo a que o gémeo A regista o acontecimento E.

A segunda etapa definida pelo triângulo rectângulo [EDC] é idêntica à primeira. Note-se que

[EDC] = [OEC] e portanto a dilatação temporal sofrida pelo gémeo viajante no percurso total

segundo o gémeo terrestre é o dobro da primeira. O gémeo espacial envelheceu:

2

22 2 1

c T

v0 0

T' T

Para garantir que não se trata de um paradoxo, irar-se-á provar-se que ambos os gémeos estão

de acordo com a dilatação temporal que se verifica. Para tal, analise-se a mesma situação pela

perspectiva do gémeo espacial.

O gémeo espacial ao longo do seu trajecto vai sofrer aceleração ou desaceleração a

determinado momento, tal facto, não permite afirmar que o gémeo se encontra

permanentemente num referencial inercial durante todo o percurso.

Considerem-se duas situações distintas em que o gémeo espacial estará parcialmente num

referencial inercial:

Uma vez que o gémeo espacial sofre aceleração ou desaceleração a determinado

momento do seu trajecto, este não se pode considerar permanentemente num referencial

inercial durante todo o percurso. Podemos no entanto considerar uma outra situação distinta

em que o gémeo espacial estará parcialmente num referencial inercial:

Situação : O gémeo B encontra-se inicialmente num referencial inercial e observa o gémeo

terrestre a afastar-se. A dado instante, este tenta alcançar o gémeo terrestre, e para isso

acelera numa fase inicial, mantendo posteriormente uma velocidade constante. A situação

descrita encontra-se esquematizada na figura A.3.

(A.3)

(A.2)

103

Figura A3 - Diagrama de Minkowski do percurso dos gémeos A e B do paradoxo dos gémeos, encontrando-

se a primeira parte do movimento do gémeo B sobre o referencial inercial (Situação 1).

Na situação acima representada tem-se que o gémeo espacial encontra-se inicialmente no

referencial inercial e observa o gémeo terrestre que se afasta à velocidade v. Em certo

momento o gémeo espacial, tenta alcançar o outro gémeo (T0), só que para isso necessita de

uma velocidade superior que o faça alcançar quando na terra tiver passado T e no referencial

inercial tiver passado

1 2

21

c

v

TT

de forma a ter-se uma situação análoga À anterior.

Ou seja o gémeo espacial terá de percorrer uma distante d igual a

Gémeo A Gémeo B

E

T’’

0

T

x O

ct

ct'

x'

x ct

F

C’’

T1- T0

T0

(A.3)

104

1 2

21

c

v

vTd = vT

Ou seja terá de imprimir à nave uma velocidade de:

2

21

21 0 1 0

02 02

2

1c

T T T TT 1 T

c1

c

v

v

v

vT

vTd vTv' = =

TT -

até atingir o gémeo. Nesta segunda fase o gémeo espacial vai envelhecer

2

1 0 2T T 1

c

v'0

T''

No total o gémeo vai envelhecer a soma do primeiro percurso com a do segundo:

0 0 02 . 0T'' T =T' T

Verifica-se portanto que ambos os gémeos concordam com a dilatação temporal sofrida:

destronando o título de paradoxo. Independentemente do referencial inercial considerado,

ambos os gémeos concordam com a dilatação temporal.

Apesar da dilatação temporal ser um efeito registado reciprocamente por referenciais que se

afastam, o paradoxo dos gémeos não é na realidade um paradoxo, uma vez que, existe uma

quebra de simetria quando um dos referenciais inverte o movimento.

Embora classicamente se analise o paradoxo dos gémeos considerando referenciais

que se afastam a velocidade relativa uniforme, a mesma análise é possível para referenciais

uniformemente acelerados desde que se considere que a aceleração não altera o

funcionamento dos relógios ideais e que estes dependem apenas da velocidade instantânea e

não do ritmo a que essa velocidade varia.

(A.7)

(A.5)

(A.4)

(A.6)

105

Apêndice B

Aplicação de um Boost

106

Apêndice B1

No Apêndice B1 representa-se a aplicação de um boost de intensidade 2/1 a um vector

unitário u com ângulos: (i) º180 ; (ii) º150 ; (iii) º120 ; (iv) º90 ; (v)

º60 ; (vi) º30 ; (vii) º0 ; (viii) º30 ; (ix) º60 ; (x) º90 ; (xi)

º120 ; (xii) º150 ; (xiii) º180 .

( ) 1/ 2, 180ºi

( ) 1/ 2, 150ºii

107

( ) 1/ 2, 120ºiii

108

( ) 1/ 2, 90ºiv

( ) 1/ 2, 60ºv

109

( ) 1/ 2, 30ºvi

( ) 1/ 2, 0ºvii

110

( ) 1/ 2, 30ºviii

( ) 1/ 2, 60ºix

111

( ) 1/ 2, 90ºx

( ) 1/ 2, 120ºxi

112

( ) 1/ 2, 150ºxii

( ) 1/ 2, 180ºxiii