8/19/2019 Formatura 2 2008 Anestesia

1/2

Bom, aqui estão vocês todos, formandos, me olhando, um pouco diferente

do primeiro dia de aula, um pouco igual, talvez. No meio dessas diferenças

e semelhanças, quatro anos. E o primeiro dia de aula aqui, para mim, tem

um significado especial, porque dei aula para vocês no primeiro período do

curso, e depois para parte da turma, no sexto período. uando olho para

vocês, para mim mesmo aqui em cima, sinto que nesse tempo todo o que

marcou a relação de vocês conosco, e vice!versa, foi sempre uma vontade

de não parar por aqui, de não dar a conversa por terminada, de não parar de

se envolver com as coisas que viveram e que vivem. E foi essa sensação,

esse sentimento, que vocês recuperaram em mim no dia em que me

convidaram para ser paraninfo. Não que eu houvesse perdido esse

sentimento, mas eu estava anestesiado, e me anestesiando para v"rias

coisas. # melhor prova disso foi que não consegui entender a dimensão do

que estava acontecendo no momento do convite, e tudo o que aconteceu na

hora s$ me fez perce%er como estava me escondendo de coisas que

considero fundamentais na vida, no tra%alho com comunicação, nas duascoisas, porque não dissocio uma da outra, por isso tra%alho com

comunicação.

& convite de vocês e aquela noite me deixaram com uma marca que agora

quero dividir com todos, e que apareceu no momento em que voltei para

casa, ap$s a escolha que vocês fizeram. 'ensei muito em como estava me

anestesiando e fiquei preocupado com esse movimento. #final, anestesia

 pode significar um alívio para evitar a dor, quando ( provocada de

 prop$sito, mas anestesia significa tam%(m a perda total ou parcial da

sensi%ilidade consciente. E se isso se aplica aos sentidos do corpo mais

diretamente, o que senti aquele dia foi que estava me anestesiando

mentalmente tam%(m. E ao pensar em vocês, nessa turma, vi como o que

eu estava vivendo era paradoxal. #final, quando lem%ro de cada um, com

8/19/2019 Formatura 2 2008 Anestesia

2/2

mais ou menos detalhes, sinto que o que não deixei de viver, com vocês, foi

 )ustamente a capacidade de sentir intensamente, em função da hist$ria que

vocês criaram e da qual n$s pudemos participar de um pedaço.

#ssim, sinto que o convite de vocês e esses quatro anos deixaram aqui a

 percepção do que ( essencialmente tra%alhar com comunicação. 'enso que

( uma %usca permanente pela não!anestesia, ou, dizendo de outra maneira,

uma %usca por sempre se implicar e se contagiar naquilo em que se

tra%alha.

*ito isso, dese)o a vocês que não se anestesiem porque a vida parecesempre igual, porque essa, sim, ( a anestesia que teimamos em acreditar.

ue vocês consigam sempre provocar palavras a mais+ que não se

acomodem no calor frio das conversas repetitivas+ dos olhares vazios de

quem teima em não ver mais nada. *ese)o que consigam despertar a

sensi%ilidade quando as hist$rias parecerem cansadas de si mesmas, porque

estão )" se anestesiando em anncios des%otados de força, em imagens de

tele)ornais que apenas esperam a hora de sair do ar, em pro)etos de

comunicação que se esgotam por si s$.

*ese)o, enfim, que a vida se dê por inteiro para vocês, porque vocês

aprenderam a ser s$ sentimento. *ese)o que sai%am contar hist$rias porque

sa%em tam%(m vivê!las, dese)o que as desco%ertas so%re o mundo se)am

desco%ertas de si mesmos, porque ( s$ quando nos desnudamos para o

mundo que ele realmente se revela para n$s.

Enfan, é isso.