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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUCSP Gianete Dutra Meira FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA: Um estudo das contribuições da Psicologia DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA São Paulo SP 2016

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUCSP

Gianete Dutra Meira

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA:

Um estudo das contribuições da Psicologia

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

São Paulo – SP

2016

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUCSP

Gianete Dutra Meira

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA:

Um estudo das contribuições da Psicologia

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTOR EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Sonia Barbosa Camargo Igliori.

São Paulo – SP

2016

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Dedico este trabalho a

Elias Victor Meira Vieira, meu

neto, que representa a nova

geração, e a esperança de

mais um na batalha, por uma

verdadeira Educação para a

eternidade.

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus Criador do Universo, Aquele que é Onisciência, Onipotência,

Onipresença, pelo desejo de saber, pela energia para buscar o conhecimento e pelo prazer de aprender e compartilhar.

A orientadora Prof.ª Dr.ª Sonia Barbosa Camargo Igliori, pela postura otimista

em acreditar em minhas possibilidades, em todo o processo de orientação, e pela disponibilidade de realizar esse acompanhamento de forma criteriosa.

Aos professores do Curso de Doutorado em Educação Matemática: Profa. Dra. Barbara Lutaif Bianchini Profa. Dra. Celina Aparecida Almeida Pereira Abar Prof. Dr. Fumikazu Saito Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud Profa. Dra. Silvia Dias Alcântara Machado Aos membros da Banca Examinadora. À Universidade do Estado da Bahia, pelo investimento em nossa formação

profissional. À minha amiga, Professora Cinira Felix, pela cuidadosa correção da expressão

vernácula de nossas ideias, neste texto. Aos colegas de turma e colegas da UNEB, pelo companheirismo. Ao conselheiro Djonny Becker Andrade pelo suporte mediador no aprendizado

em lidar com as emoções, face aos desafios do gerenciamento de tempo na conclusão de uma etapa de estudos.

À minha prima-irmã, Naura Oliveira Ferreira, por cuidar dos meus queridos, em

minhas ausências do lar, para os estudos. À minha filha, Anete Dutra Meira Viera, e ao meu genro, Pedro Claudio Vieira,

pelo apoio constante. Ao Samuel Souza Meira, meu companheiro de jornada pessoal e profissional.

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A busca de compreensão do hoje

me remete ao passado e, o saber sobre

o hoje me leva a prospecção do futuro,

assim me constituo em aprendiz de

Psicologia da Educação Matemática.

Gianete Dutra Meira, 2014

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RESUMO

Esta investigação trata a temática da formação inicial do professor de Matemática e a Psicologia da Educação Matemática, no contexto da Educação Matemática. Analisa as possibilidades e potencialidades do conhecimento psicológico, em colaborar no enfrentamento dos desafios do processo de ensino e aprendizagem de Matemática. Teve como objetivo investigar as contribuições da Psicologia na profissionalização docente, em sua inserção no curso de Licenciatura em Matemática. Caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica, numa abordagem qualitativa, uma aproximação à compreensão da efetividade das contribuições da Psicologia, com base nos estudos já realizados nesse enfoque, nas concepções de formação do professor como profissional investigador prático reflexivo, e das teorias psicológicas de desenvolvimento e de aprendizagem mais significativas ao campo da Educação Matemática. Indica a importância da Psicologia da Educação Matemática para a formação do professor de Matemática, e defende a sua inserção como componente curricular em nível da Licenciatura.

Palavras-chave: Formação de professores de Matemática; Psicologia da Educação Matemática; Psicologia da Educação; Psicologia e Educação Matemática; Licenciatura em Matemática; Educação Matemática.

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ABSTRACT

This research deals with the issue of Mathematics teacher’s initial formation and the Psychology of Mathematics Education in the context of Mathematics Education. It analyzes the possibilities and potentialities of psychological knowledge in collaborating to face the Mathematics teaching and learning challenges. It aimed to investigate the contributions of psychology in teacher formation in their insertion in the Mathematics bachelor´s degree. It was characterized as a bibliographical research, in a qualitative approach, an incoming to understanding the effectiveness of the Psychology contributions, based on previous studies in this approach, in the teacher formation concepts as a reflective practitioner researcher professional, and the most significant learning and development psychological theories to the mathematics education field. It indicates the importance of Psychology of Mathematics Education for the mathematics teacher formation, and defends their inclusion as a curricular component for the bachelor´s degree level.

Key words: Mathematics teacher formation; Psychology of Mathematics Education; Educational Psychology; Psychology and Mathematics Education; Mathematics bachelor´s degree; Mathematics Education.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................... 17

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ..................................................................................... 17

TEMA DE PESQUISA ......................................................................................................... 17 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................. 18 PROBLEMATIZAÇÃO E QUESTÕES NORTEADORAS DE INVESTIGAÇÃO. ............... 19 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 23 OBJETO DE ESTUDO ........................................................................................................ 24 METODOLOGIA .................................................................................................................. 24

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................................... 25

DIMENSÕES METODOLÓGICAS ....................................................................................... 25

O CONTEXTO DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ....................................................... 25 O PROCESSO METODOLÓGICO ...................................................................................... 27 REFERENCIAL .................................................................................................................... 32 SOBRE A APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 36

CAPÍTULO 3 ....................................................................................................................... 38

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: RELAÇÕES HISTÓRICAS ........................ 38

NA CONSTITUIÇÃO DE SABERES ................................................................................... 38 ELES NOS DEIXARAM UM LEGADO ................................................................................ 41

3.2.1 WILHELM MAXIMILIAN WUNDT ....................................................................................... 42 3.2.2 FELIX CHRISTIAN KLEIN .................................................................................................. 45 3.2.3 WILLIAN HENRY YOUNG E GRACE CHISHOLM YOUNG .............................................. 51 3.2.4 JOHN DEWEY ..................................................................................................................... 56 3.2.5 JAMES ALEXANDER MCLELLAN .................................................................................... 61 3.2.6 ALBERT FLINTOFF AMES ................................................................................................. 66 3.2.7 GEORGIA ALEXANDER ..................................................................................................... 70 3.2.8 ELIAKIM HASTINGS MOORE ............................................................................................ 72 3.2.9 EDWARD LEE THORNDIKE .............................................................................................. 76

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONTRIBUIÇÕES HISTÓRICAS. ........... 81 3.3.1 TEORIA PSICOGENÉTICA DE JEAN PIAGET E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. .............................................................................................. 84 3.3.2 TEORIA SÓCIO-HISTÓRICA DE VYGOTSKY, LEONTIEV E LURIA E SUAS

CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. ................................................ 91 DA PSICOLOGIA A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. .............................. 94 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: ANTECEDENTES HISTÓRICOS ........ 100

CAPÍTULO 4 ..................................................................................................................... 105

CONCEPÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: PARADIGMAS

REFERENCIAIS ................................................................................................................ 105

A CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR, COMO TÉCNICO, NA

EDUCAÇÃO. ..................................................................................................................... 107 A CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR COMO PROFISSIONAL

REFLEXIVO. ...................................................................................................................... 110 4.2.1 SCHÖN .............................................................................................................................. 112 4.2.2 ZEICHNER ......................................................................................................................... 116

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4.2.3 SHULMAN ......................................................................................................................... 118 4.2.4 PERRENOUD .................................................................................................................... 121 4.2.5 TARDIF .............................................................................................................................. 123 4.2.6 NÓVOA .............................................................................................................................. 125

CAPÍTULO 5 ..................................................................................................................... 131

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA E AS CONTRIBUIÇÕES DA

PSICOLOGIA .................................................................................................................... 131

A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NO BRASIL. ................. 132 5.1.1 FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA NO BRASIL:

PROPOSIÇÕES E AVALIAÇÕES. ................................................................................... 134 5.1.2 A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA E A PSICOLOGIA

NO CONTEXTO DAS PESQUISAS NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO. ....... 141 5.1.3 A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA E A PSICOLOGIA,

EM ARTIGOS PUBLICADOS, EM REVISTAS ESPECIALIZADAS. ............................... 144 5.1.4 GRUPOS DE PESQUISA QUE ESTUDAM A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA NO ENFOQUE DA PSICOLOGIA. ........................................................... 145 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA. .................................................................................................................. 149 5.2.1 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO ESPAÇO DAS LICENCIATURAS EM

MATEMÁTICA: O QUE APRENDEMOS COM AS PESQUISAS. ................................... 150 5.2.1.1 Goulart ............................................................................................................................... 154 5.2.1.2 Fini...................................................................................................................................... 154 5.2.1.3 Montenegro ........................................................................................................................ 155 5.2.1.4 Castello Branco .................................................................................................................. 156 5.2.1.5 Urt....................................................................................................................................... 156 5.2.1.6 Caparroz ............................................................................................................................ 157 5.2.1.7 Ióris..................................................................................................................................... 158 5.2.1.8 Almeida .............................................................................................................................. 158 5.2.1.9 Guerra ................................................................................................................................ 160 5.2.1.10 Dias .................................................................................................................................... 161 5.2.2 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO COMPONENTE CURRICULAR DE PSICOLOGIA, NAS

LICENCIATURAS. ............................................................................................................. 162 5.2.3 FINALIDADES DO ENSINO DE PSICOLOGIA NA LICENCIATURA DE

MATEMÁTICA. .................................................................................................................. 168 5.2.4 A PSICOLOGIA COMO UM SABER NECESSÁRIO NA FORMAÇÃO INICIAL DE

PROFESSORES DE MATEMÁTICA ................................................................................ 171 5.2.5 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NA FORMAÇÃO INICIAL DE

PROFESSORES DE MATEMÁTICA. ............................................................................... 179 5.2.5.1 Dos conhecimentos de Psicologia para ação e reflexão pedagógica. .............................. 181 5.2.5.2 Da contribuição da Psicologia no desenvolvimento da identidade profissional do

professor de Matemática. .................................................................................................. 190 UMA AVALIAÇÃO PONTUAL DO COMPONENTE CURRICULAR DE

PSICOLOGIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA NO BRASIL. ... 194 5.3.1 DA INSERÇÃO DO COMPONENTE CURRICULAR NA LICENCIATURA EM

MATEMÁTICA. .................................................................................................................. 199 5.3.2 DAS CARACTERÍSTICAS DAS PROPOSIÇÕES DO ENSINO DE PSICOLOGIA A

PARTIR DAS EMENTAS APRESENTADAS NOS CURSOS DE LICENCIATURA

EM MATEMÁTICA. ............................................................................................................ 202 5.3.3 CONTRIBUIÇÕES DO CONHECIMENTO PSICOLÓGICO NA FORMAÇÃO

PROFISSIONAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA A PARTIR DA ANÁLISE DE

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PROJETOS PEDAGÓGICOS. .......................................................................................... 204

CAPÍTULO 6 ..................................................................................................................... 208

UMA VISÃO PROSPECTIVA DAS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS ............................................................ 208

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

DE MATEMÁTICA, UMA VISÃO CRÍTICA. ...................................................................... 209 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONTEXTO, CONCEITOS E

FUNDAMENTOS. .............................................................................................................. 218 6.2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................................... 218 6.2.2 CONCEITUAÇÃO .............................................................................................................. 222 6.2.3 ESTUDOS DE PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL.................. 226

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA COMO COMPONENTE

CURRICULAR NA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA: FINALIDADES,

POTENCIALIDADES E POSSIBILIDADES E DESAFIOS. .............................................. 228 6.3.1 POTENCIALIDADES E POSSIBILIDADES ...................................................................... 229 6.3.2 DESAFIOS ......................................................................................................................... 233

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA A

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA PESQUISADORES,

PRÁTICO REFLEXIVOS. .................................................................................................. 235

CAPÍTULO 7 ..................................................................................................................... 238

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 238

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 242

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Capas de Edições disponíveis de Elementarmathematik vom höheren

Standpunkte aus de Felix Klein. ........................................................................ 47

Figura 2 - Capa de Protocolos de Klein, volume 29 (1909-1012). ....................................... 49

Figura 3 - Anotações dos seminários de Klein .................................................................... 49

Figura 4 - Folha de Rosto de Beginner’s Book of Geometry Edição de 1970. ..................... 55

Figura 5 - Capa de The first book of Geometry ................................................................... 55

Figura 6 - Exemplares da The Colleted Works, 1882-1953 John Dewey, V 6 e V 2. ........... 59

Figura 7 - Folha de rosto (a), p.1- Introduction de Applied Psychology an to the Principles

and Pratice of Education (b) e p. 296 (c). .......................................................... 63

Figura 8 - Folha de Rosto de The Psychology of Number and Its Applications to Methods

of Teaching Arithmetic 1895. ............................................................................ 64

Figura 9 - Capa de The Psychology of Number and Its Applications to Methods of

Teaching Arithmetic 2013. ................................................................................ 64

Figura 10 - Folha de rosto The public school arithmetic (1897). .......................................... 68

Figura 11 - Folha de rosto The primary public school arithmetic (1899). ............................. 68

Figura 12 - Folha de rosto The public school mental arithmetic (1899). .............................. 68

Figura 13 - Folha de rosto The public school arithmetic for grammar grades (1902). .......... 68

Figura 14 - Folha de rosto: The Alexander-Dewey arithmetic-elementary book. Fonte:

Hathi Trust Digital Library. ................................................................................ 71

Figura 15 - Folha de rosto: The Alexander-Dewey arithmetic-intermediate book. ................ 71

Figura 16 - Folha de rosto: The Alexander-Dewey arithmetic - advanced book. Fonte:

Hathi Trust Digital Library. ................................................................................ 71

Figura 17 - Exemplo de Atividades de Aritmética propostas no The Alexander-Dewey

arithmetic-elementary book. .............................................................................. 72

Figura 18 - Mapeamento das pesquisas em formação de professores de Matemática no

Brasil. ............................................................................................................. 148

Figura 19 - Mapa Conceitual das pesquisas em Psicologia e Formação de Professores

que contemplam a Licenciatura em Matemática. ............................................ 153

Figura 20 - Distribuição de oferta de cursos de Licenciatura em Matemática por Regiões

no Brasil. MEC, 2015. ..................................................................................... 196

Figura 21 - Distribuição da amostra de oferta de cursos de Licenciatura em Matemática

cadastrados no MEC. ..................................................................................... 196

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Levantamento de Teses e Dissertações em Psicologia e Formação de

Professores que Contemplam as Licenciaturas em Matemática - Programas

de Pós-Graduação em Universidades Brasileiras, 1980 – 2014. ..................... 35

Quadro 2 - Levantamento das obras localizadas de Thorndike, relacionadas ao

conhecimento de Matemática. ......................................................................... 80

Quadro 3 - Enunciados das Propostas para formação docente de Nóvoa (2009) ............. 127

Quadro 4 - Orientações de Nóvoa (2014) para novas disposições para formação

docente. ......................................................................................................... 128

Quadro 5 - Perfil do bom professor. .................................................................................. 129

Quadro 6 - Proposições para a formação profissional do professor prático investigativo

reflexivo. ........................................................................................................ 129

Quadro 7 - Levantamento de Autores de Pesquisas em Psicologia e Formação de

Professores que Contemplam as Licenciaturas em Matemática nos Cursos

de Pós-Graduação em Universidades Brasileiras, 1980 – 2014. ................... 152

Quadro 8 - Nomenclaturas dos componentes curriculares da área de Psicologia que

aparecem nos Cursos de Licenciatura em Matemática. ................................. 199

Quadro 9 - Características das proposições do ensino de Psicologia a partir das

ementas. ........................................................................................................ 202

Quadro 10 - Eventos de Psicologia da Educação Matemática realizados no Brasil. ......... 219

Quadro 11 - Grupos/Linhas de pesquisa em Psicologia da Educação Matemática (PEM)

nas Universidades Brasileiras. Fonte: Diretório de Grupos de Pesquisas no

Brasil / CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento científico e

Tecnologia) 2013. .......................................................................................... 221

Quadro 12 - A atividade matemática como objeto tripartido e foco de análise da

Psicologia da Educação Matemática. ............................................................ 225

Quadro 13 - As habilidades matemáticas descritas por Krutetskii – 1976 ......................... 232

Quadro 14 - Síntese dos objetivos estabelecidos para o ensino e aprendizagem de

Matemática no Ensino Médio nos Parâmetros Curriculares Nacionais PCN,

Brasil,1998. .................................................................................................... 233

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição quanto à organização acadêmica das IES cadastradas no MEC

para oferta do curso de Licenciatura em Matemática – 2015. ......................... 197

Tabela 2 - Distribuição quanto à categoria administrativa das IES cadastradas no MEC,

para oferta do curso de Licenciatura em Matemática – 2015. ......................... 197

Tabela 3 - Distribuição quanto à modalidade de ensino das IES cadastradas no MEC

para oferta do curso de Licenciatura em Matemática em Municípios de cinco

Estados brasileiros – 2015. ............................................................................. 198

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LISTA DE SIGLAS OU ABREVIATURAS

AMS American Mathematical Society

ANPEPP Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia.

APA American Psychological Association.

APOS Action Process-Object-Schema.

BA Bachelor of Arts

CNE Conselho Nacional de Educação.

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento científico e Tecnologia.

EaD Educação a Distância.

EAD Educação à Distância.

GEPFPM Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores de

Matemática

GT Grupo de Trabalho.

ICME International Congress Mathematical Education.

ICMI International Commission on Mathematical Instruction.

IES Instituição de Ensino Superior /Instituições de Ensino Superior.

IFSP Instituto Federal de São Paulo.

IGPME International Group for the Psychology of Mathematics Education.

IMU International Mathematical Union.

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

MA Master of Arts.

MAA Mathematical Association American.

MEC Ministério da Educação.

MSP Mathematical Sciences Publishers.

NAS National Academic of Sciences.

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais.

PME International Group for the Psychology of Mathematics Education.

PUCSP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

SOLO Structure of Observing Learning Outcome.

SPM Sociedade Portuguesa de Matemática.

UEFS Universidade Estatual de Feira de Santana.

UFPA Universidade Federal do Pará.

UFSCar Universidade Federal de São Carlos.

UNEB Universidade do Estado da Bahia.

UNESP Universidade Estadual Paulista.

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas.

UNIPAMPA Universidade Federal do Pampa.

UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

UNIUBE Universidade de Uberaba.

URI Universidade Regional Integrada.

USP Universidade de São Paulo.

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CAPÍTULO 1

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

A Educação Matemática, como ciência e profissão, tem a formação de

professores como a sua função maior (KILPATRICK, 1996). Este foi o ponto de partida

e o ponto de chegada deste estudo, ao tecer as contribuições do conhecimento

psicológico, no processo da formação inicial de professores de Matemática.

Esta pesquisa foi pensada, no contexto do processo de desenvolvimento

histórico, das relações entre a Educação Matemática e a Psicologia. Foi concebida a

partir da percepção de que, desde os primórdios do processo de reconhecimento de

cada um desses campos científicos, se estabeleceram entre si as relações

interagentes, dialógicas, necessárias, e contínuas, contribuindo no desenvolvimento

do conhecimento, tanto no campo de Educação Matemática, como no campo de

Psicologia. Conhecimentos que se constituíram em saberes que servem para o ofício

de professor de Matemática.

Trata-se de um estudo, gerado no contexto da Licenciatura em Matemática.

Dos desafios da sala de aula, no ensino e aprendizagem de Psicologia, para futuros

professores de Matemática, e do comprometimento com o processo de

desenvolvimento profissional desses aprendizes. Assim, na condição de professora

formadora, duas grandes questões nos motivaram a esse trabalho: o desejo de

avançar no sentido da melhoria da qualidade da formação em Educação Matemática

dos futuros professores de Matemática, pelas vias das contribuições da Psicologia e

da Psicologia da Educação Matemática; e a resiliência em acreditar que é possível

(re)situar e (re)significar as contribuições do conhecimentos psicológicos, na formação

de professores, face às manifestações críticas explícitas ou veladas de psicologismo

no processo educacional, que, ainda, estão presentes nas representações sociais,

manifestas nas queixas dos aprendizes e dos professores formadores da área de

Matemática.

TEMA DE PESQUISA

Delimitamos como tema de pesquisa, a formação de professores de

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Matemática e Psicologia da Educação Matemática. A escolha fundamentou-se em três

pressupostos: primeiro, a existência da vinculação entre o campo científico e

profissional da Psicologia, e o campo científico e profissional da Educação

Matemática, presentes, desde o início do processo do seu desenvolvimento como

ciência, caracterizada por uma relação dialógica, interagente, interdependente;

segundo, a partir da compreensão de que Educação Matemática é uma ciência, de

natureza multidisciplinar e interdisciplinar e, que a Psicologia se insere na Educação

Matemática, pelas suas contribuições na constituição de saberes necessários a esse

campo científico, nas pesquisas nessa área e na formação profissional do educador

matemático; terceiro, a concepção da Psicologia da Educação Matemática, como um

campo de estudos iminentemente interdisciplinar, constituído na interseção entre a

Psicologia, a Educação e a Matemática, com o objetivo de ampliar o conhecimento

de ensino e aprendizagem de Matemática, com potencialidades e possibilidades para

contribuir na formação inicial dos professores de Matemática (CAVALCANTI, 2011;

BRITO, 2005; MEIRA; IGLIORI, 2013).

JUSTIFICATIVA

A temática formação de professores, como um processo de profissionalização

é objeto de pesquisa e discussão sobre vários aspectos. Investigações nessa área

temática têm crescido, tanto quantitativa quanto qualitativamente, como também, as

investigações relativas à inserção da Psicologia, como um dos componentes

curriculares que contribuem para a formação docente. Essas pesquisas realizadas

têm em comum a concepção do professor como profissional reflexivo, investigador de

sua prática, produtor de saberes, e apontam para a necessidade de mudanças e

transformações no paradigma de formação docente. Mas, ao mesmo tempo em que

essa temática tem gerado nas últimas décadas, a produção de estudos e pesquisas,

no campo de Educação, e de investimento em pesquisas especificamente na área de

Educação Matemática, ainda, continua sendo assunto de interesse, pela

complexidade que representam as mudanças de concepções e de práticas no

processo educacional, pelos desafios a serem enfrentados no movimento de

transformar o discurso em práticas efetivas, em fazer chegar ao processo de formação

de professores o conhecimento científico produzido (FIORENTINI, 2003; GATTI;

BARRETTO; ANDRÉ, 2011).

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Cientes da complexidade que se constitui o processo de formação docente, ao

considerar que o processo educacional se constitui numa prática social, inserida num

contexto político social (CANDAU, 1982), entendemos que esta investigação se

justifica como uma aproximação à compreensão das possibilidades de maior

consistência e efetividade, nas contribuições da Psicologia na Licenciatura em

Matemática, visando à melhoria da qualidade do processo de formação de

professores nessa área de conhecimento no contexto nacional.

Enfrentar o desafio de um processo de investigação, sobre as contribuições da

Psicologia na formação de professores de Matemática, foi uma experiência

oportunizada pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

PUCSP, na linha de pesquisa de História, Epistemologia e Didática. Um desafio que

se revestiu de um significado especial em minha vida profissional, do exercício da

docência em Psicologia ao longo de trinta anos; que representou uma possibilidade

de integração de conhecimentos construídos na ação-reflexão na prática. Uma

oportunidade ímpar, em buscar respostas às indagações que emergiram nessa

trajetória do ensino, no enfoque da contribuição do conhecimento psicológico na

formação de professores de Matemática. Uma possibilidade de contribuirmos para

que o conhecimento da Psicologia da Educação Matemática esteja presente na

Licenciatura em Matemática, para estudos que favoreçam à interdisciplinaridade e à

melhoria do desenvolvimento profissional dos licenciandos. Sobretudo, uma

expectativa de que as reflexões geradas, nesta pesquisa, sirvam para instigar que

novos estudos sejam realizados sobre profissionalização do professor de Matemática,

como educador matemático em ação.

PROBLEMATIZAÇÃO E QUESTÕES NORTEADORAS DE INVESTIGAÇÃO

A formação inicial de professores tem se constituído em uma problemática na

área de Educação, por sua complexidade, de forma dinâmica em que se estabelecem

as relações entre os elementos que compõem essa tessitura social. Estão presentes

nesse processo de desenvolvimento da formação de professores, como prática social:

professores formadores, professores aprendizes, pesquisadores, instituições e a

própria sociedade (BLANCO, 2003).

Consiste em um constante desafio, na formação inicial de professores e na

definição de um programa que possibilite a formação de profissionais do ensino, com

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a capacidade de desempenho de suas atribuições e, do seu próprio desenvolvimento

profissional, em resposta às demandas sociais; a busca de uma aproximação e

enfrentamento das questões que emergem nesse processo, continua sendo foco de

discussões e pesquisas.

A formação inicial de professores de Matemática trata-se de um tema que

suscita intensos debates, por ser associado como um dos principais fatores para os

resultados do desempenho insatisfatório dos estudantes, nas avaliações nacionais e

internacionais referentes ao conhecimento de Matemática.

No Documento Base da Sociedade Brasileira de Educação Matemática durante

o Seminário Nacional de Licenciaturas em Matemática, realizado em Salvador, em

2003; foram apresentados, como subsídios, para a discussão de propostas para os

cursos de Licenciatura em Matemática, uma definição do perfil de professor de

Matemática que se deseja formar, em que se evidencia um posicionamento de um

ideário para formação docente no modelo de racionalidade prática, sendo o professor

visto como profissional reflexivo, criativo e autônomo.

O professor de Matemática hoje deve ser um profissional com grande competência para formular questões que estimulem a reflexão de seus alunos, que possua sensibilidade para apreciar a originalidade e a diversidade na elaboração de hipóteses e de proposições de solução aos problemas. Além disso, deve ser criativo para criar ambientes e situações de aprendizagem matematicamente ricos. Também terá que possuir uma ampla capacidade para dar resposta ao imprevisto e desenhar modelos que se adaptem às incertas e mutantes condições de aprendizagem que ocorrem nas aulas de Matemática. (SBEM, 2003).

Nesse documento, são identificados os papéis a serem desempenhados por

um professor de Matemática, delineado um perfil profissional que implica em uma

postura teórica, coerente com as concepções que norteiam a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (BRASIL, 1996) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para os

Cursos de Matemática, Bacharelado e Licenciatura (BRASIL, 2002b), mas que se

contrapõem ao modelo de racionalidade técnica que, segundo Schön (1995) ainda

persiste nas universidades.

A partir do referencial desse perfil profissional, recomendado por uma

instituição da categoria e pela correspondente carência dos Cursos de Licenciatura

em Matemática, em atender as políticas educacionais que indicam mudanças de

modelo de ensino, muitas críticas têm sido levantadas aos currículos, sobretudo, às

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disciplinas específicas, às metodologias de ensino, ao distanciamento ou desconexão

entre as práticas de formação e as práticas de ensinar e aprender na Escola Básica,

à falta de diálogo ou inter-relação entre as disciplinas específicas e as de formação

didático-pedagógica ao isolamento do estágio, entre outras (FIORENTINI; OLIVEIRA,

2013). No contexto dos Cursos de Licenciatura, a inserção do componente Curricular

de Psicologia tem sido questionada a tal ponto que, ainda tem sido pertinente a

reflexão apresentada no artigo de Teixeira (2000), de forma representativa, com o

título – Ainda cabe a pergunta: Psicologia para quê?

Observamos pelos registros históricos que as críticas aos componentes

curriculares de Psicologia nos Cursos de Licenciatura em Matemática acentuaram-se.

a partir do final da década de 80, século XX. Queixas essas, relacionadas ao ensino

de Psicologia, tais como as que exemplificamos a seguir:

Das relações entre a Psicologia e a Educação Matemática, na Licenciatura em

Matemática, tenderem a se caracterizar pela transposição para a sala de aula,

de concepções de aprendizagem, construídas em laboratórios, e, muitas vezes

desligadas de qualquer conteúdo matemático, ou de interesse do

desenvolvimento cognitivo e aprendizagem de Matemática. O que se explica,

em parte, o porquê de muitos educadores matemáticos qualificarem qualquer

vinculação da Psicologia, como um intento de “psicologização” do ensino de

Matemática (GARCIA; SÁENZ, 2006). Provavelmente, por perceberem a

ausência de vínculo entre o conhecimento psicológico e conhecimento

matemático e o seu ensino.

Das graves limitações da Psicologia na Licenciatura, com relação à distância

entre o seu conteúdo de estudos propostos e a prática escolar. O que faz com

que, embora os licenciandos compreendam bem os aspectos das teorias

ministradas, continuam sem saber o que fazer quando estão em sala de aula,

ou ainda, muitas vezes, esse conteúdo dicotômico seja considerado um

conhecimento sem sentido para os desafios das situações educativas

(LIBÂNEO, 1989).

Do reducionismo da visão da Psicologia como fundamento para a prática

limitando a contribuição do conhecimento psicológico a uma aproximação dos

problemas da realidade educacional, sem contribuir para um trabalho

articulador com as questões emergentes do cotidiano escolar no ensino

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(LAROCCA, 2007a).

Sobretudo, das queixas dos licenciandos, dos egressos, e dos professores

formadores, por não perceberem o sentido desse componente curricular nos cursos

de formação de professores de Matemática; pela forma como vem sendo trabalhado

os conteúdos propostos (FINI, 1987; LAROCCA, 2000; BRITO, 2002).

Mas, nesse estudo, as exacerbações críticas em relação ao ensino de

Psicologia, referentes à formação inicial do professor, a sua profissionalização em

serviço, e as propostas de ensino pautada na articulação teoria e prática, são

entendidas no contexto das discussões, pesquisas e concepções que se

desenvolveram nas últimas décadas do século XX;

A situação de crise da Psicologia tem reflexos nos meios acadêmicos, até os

nossos dias; porque no contexto da estrutura organizacional dos Cursos de

Licenciatura a inserção dos componentes psicológicos, como um dos fundamentos de

Educação, caracteriza-se por uma mentalidade que se alinha na perspectiva racional

técnica, que permite a falta de conexão do ensino de Psicologia com as práticas

escolares, ficando na contramão das políticas educacionais que proclamam uma

concepção de racionalidade prática; perpetuando a imagem da Psicologia como

disciplina teoricamente eficaz, mas, na prática ineficiente, conforme foi o diagnóstico

de Goldberg, em sua pesquisa realizada em 1978 (GOLDBERG, 1978).

No confronto desse quadro, e na conscientização de que o reducionismo é um

risco que perpassa todas as áreas de conhecimento, a Psicologia não é uma exceção,

sendo que o cerne dessa problemática está na necessidade da superação do pecado

da inconsistência do ensino. Entendemos que é oportuno um estudo que faça a

tentativa de uma aproximação a redefinições sobre as contribuições da Psicologia

para formação de professores de Matemática.

O desafio, em elucidar o processo de construção e desenvolvimento das

relações entre Psicologia e Educação Matemática, no sentido das contribuições de

formação docente, visando o enfrentamento dos desafios do processo educacional de

Matemática está posto; na perspectiva das possibilidades do conhecimento

psicológico em colaborar no enfrentamento dos desafios do processo ensino e

aprendizagem de Matemática, na atualidade.

Nessa direção estabelecemos como questões norteadoras: Quais as

características das relações entre a Psicologia e Educação Matemática? Que

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contribuições a Psicologia tem apresentado à Educação Matemática, na perspectiva

da formação de professores de Matemática? Qual a importância da Disciplina

Psicologia da Educação Matemática no Currículo de Licenciaturas de Matemática?

OBJETIVOS

No contexto das relações entre Psicologia e Educação Matemática têm-se

como objetivo geral investigar as contribuições da Psicologia, no processo de

formação do professor de Matemática. Nesse propósito foram estabelecidos como

objetivos específicos:

Contextualizar as relações entre a Psicologia e a Educação Matemática,

numa perspectiva histórica, na função precípua de formação de professores

de Matemática;

Situar o processo evolutivo da Psicologia, passando pela Psicologia da

Educação até a Psicologia da Educação Matemática, no foco de suas

contribuições para formação do professor de Matemática;

Descrever as duas concepções de formação de professores, racionalidade

técnica e racionalidade prática, que se apresentam como paradigmas

referenciais presentes nos projetos pedagógicos de ensino, visando

contextualizar o processo de formação docente, pensado na Universidade

e nas expectativas de contribuições da Psicologia;

Identificar, analisar e avaliar as contribuições da Psicologia na formação

docente e sua inserção na realidade acadêmica com base nos estudos

realizados;

Situar e analisar a inserção e as características da Psicologia, nos

Currículos de Licenciatura em Matemática, na perspectiva de sua

contribuição na formação de docentes de Matemática para a Educação

Básica em 2015;

Analisar e refletir sobre as contribuições da Psicologia da Educação

Matemática, numa visão prospectiva, como componente curricular na

Licenciatura em Matemática, como uma possibilidade de colaborar para a

melhoria da formação profissional do professor de Matemática.

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OBJETO DE ESTUDO

Define-se aqui, como objeto de estudo, a formação inicial do professor de

Matemática no processo de interação entre Psicologia e Educação Matemática, tendo

como eixo a própria gênese da Psicologia da Educação Matemática como disciplina

ponte entre essas duas áreas de conhecimento, visando o enfrentamento dos desafios

no processo ensino e aprendizagem em Matemática.

METODOLOGIA

O processo metodológico desta investigação foi definido em uma abordagem

qualitativa de Pesquisa Bibliográfica e Documental, numa concepção construtivista; e

utilizamos para análise uma metodologia interpretativa, que se apresenta na forma de

descrição e reflexão, com base nos estudos desenvolvidos.

Apresenta inicialmente, uma visão mais abrangente, na perspectiva do

processo de desenvolvimento das relações entre Psicologia e Educação Matemática,

para depois buscar aprofundar a compreensão no âmbito específico da formação

inicial de professores de Matemática, no contexto brasileiro. E finalmente, apresenta

reflexões sobre as possibilidades das contribuições da Psicologia e da Psicologia da

Educação Matemática para a formação docente e o processo de melhoria do ensino

de Matemática.

O relato desta pesquisa foi organizado em sete capítulos: no primeiro, a

apresentação do estudo; no segundo, foi descrito o processo metodológico, e as

referências desta pesquisa; no terceiro, buscamos a compreensão das bases das

relações entre Psicologia e Educação Matemática; no quarto, foi feita uma síntese das

principais concepções sobre formação de professor em pauta, como referencial; no

quinto, focalizamos as relações entre a Psicologia e a formação de professores de

Matemática no Brasil, no enfoque das suas contribuições, no contexto do Curso de

Licenciatura em Matemática; no sexto, analisamos a importância da Psicologia,

especialmente da Psicologia da Educação Matemática, suas possibilidades e

potencialidades, numa proposta alternativa de superação da inconsistência do ensino

dos conhecimentos psicológicos, no plano teórico e empírico, para desenvolvimento

profissional do professor de Matemática; no sétimo, as considerações finais.

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CAPÍTULO 2

DIMENSÕES METODOLÓGICAS

Nosso propósito, neste capítulo, é descrever o processo teórico metodológico

de construção desta investigação. Apresentar os caminhos e os passos trilhados, os

métodos empregados, as estratégias e referenciais teóricos que nos ajudaram à

aproximação do tema – Formação de professores de Matemática e Psicologia da

Educação Matemática. Revelar os elementos mediadores para que fosse possível

ampliar a compreensão do objeto de estudo – as contribuições da Psicologia na

formação inicial do professor de Matemática.

O CONTEXTO DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO

"Se não há pergunta, não pode haver conhecimento cientifico. Nada é

evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído” (BACHELARD, 1996).

Esta pesquisa se insere num contexto da práxis como professora de Psicologia,

comprometida com a formação de professores de Matemática, na UNEB –

Universidade do Estado da Bahia. Nasceu dos desafios em sala de aula, de nosso

trabalho com ensino de Psicologia, inerentes à atuação no Curso de Licenciatura em

Matemática, um curso de formação inicial de professores. Desafios enfrentados em

nossa experiência pessoal e profissional, em buscar maior sintonia entre o ensino de

Psicologia e as necessidades dos aprendizes, no seu processo de formação, como

futuros professores. Desafios esses, no âmbito das clássicas questões relacionadas

ao perfil profissional sobre, “quem queremos formar?” “para que queremos formar?”

Mas, também, das questões emergentes: “em que os conhecimentos psicológicos

podem efetivamente contribuir na formação de professores-sujeitos na área de

conhecimento de Matemática?” “Que conhecimentos são necessários?” Desafios

gerados do desconforto, ao perceber o lugar da Psicologia no Currículo como

fundamento teórico básico, na formação de professor, com uma carga horária

reduzida, e desvinculada da relação teórico-prática que o próprio curso propõe em

seu Projeto Pedagógico. Como também, da inquietação sobre o sentido do

conhecimento de Psicologia, no contexto dessa Licenciatura, diante da queixa dos

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aprendizes referente ao descompasso entre o discurso sobre o ensino, pensado no

contexto dos especialistas da Psicologia e as relações de ensino de Matemática que

estão vivenciando, na experiência cotidiana, na sala de aula na própria Universidade.

Do questionamento referente ao sentido da Psicologia, como componente curricular,

num curso para formação inicial de professores de Matemática.

Com base em LAROCCA (2002a; 2002b), entendemos que o ensino de

Psicologia significativo para os futuros professores está relacionado à visão desse

conhecimento, como uma unidade dialética de ação e reflexão na prática educativa, e

que ultrapasse a noção de fundamento teórico num curso de formação, como um

conhecimento pronto, ou conhecimento a ser dado pelo formador. Defendemos que

esse conhecimento se efetive no desenvolvimento de concepções sobre ensino e

aprendizagem dos professores em formação, de sua atuação no planejamento e

práticas educacionais na sala de aula, na avaliação da aprendizagem e nas interações

interpessoais nas escolas. E, justamente, é com esse modo de pensar, que buscamos

desenvolver a mediação na construção do conhecimento, sobre o desenvolvimento

humano e a aprendizagem na perspectiva do ensino de Matemática, como ferramenta,

para melhor intervir, no processo de ensino de Matemática, seja nos espaços formais

ou não formais.

Aqui, nesta investigação, o sentido da busca de conhecimento constitui-se

numa atividade científica básica, ao indagarmos sobre a realidade da formação de

professores de Matemática, ao buscarmos a (re)construção dessa realidade, sentido

esse que se apoia na atividade de ensino, visualizando possíveis transformações

pelas ações multidisciplinares e interdisciplinares. Consideramos, portanto, que a

relevância dessa pesquisa está em que a sua problematização foi pensada na sala de

aula e voltada para a ação educativa. Um processo em que se vincula pensamento e

ação, pois, como explica Minayo (2001, p. 17), “nada pode ser intelectualmente um

problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática”.

Nesse contexto, com elevadas expectativas de que este estudo possa

contribuir para a área de Educação Matemática, nos limites do tempo de um programa

de estudos de pós-graduação, pretendemos contemplar na escolha da temática às

quatro regras de Eco (2012): atender aos interesses profissionais; desenvolver essa

investigação dentro das possibilidades de acesso às fontes de informações; ampliar o

domínio do conhecimento como aprendiz em Educação Matemática; e, o realizar no

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âmbito de uma metodologia viável.

Esta pesquisa se insere no contexto de estudos do Programa de Pós-

Graduação em Educação Matemática, e representou uma oportunidade ímpar em

nossa experiência acadêmica. Acreditamos que trará contribuições significativas para

ampliar a compreensão sobre a relação entre a Psicologia e a formação de

professores de Matemática, no contexto da formação inicial. Mas, sobretudo,

esperamos que suscite novas investigações que nos ajudem a aproximação da

realidade escolar e que contribua para a melhoria no processo de formação docente.

O PROCESSO METODOLÓGICO

"[...] creio ser tão impossível conhecer as partes sem conhecer o

todo como conhecer o todo, sem conhecer particularmente as partes" Pascal

(apud MINAYO, 1994, p. 9).

Optamos pela Pesquisa Bibliográfica e Documental, como procedimentos

metodológicos, na busca de soluções para as questões delineadas que norteiam esta

investigação: Quais as relações entre Psicologia e Educação Matemática? Que

contribuições a Psicologia tem apresentado à Educação Matemática, na

perspectiva da formação de professores de Matemática? Qual a importância da

Disciplina Psicologia da Educação Matemática no Currículo de Licenciaturas de

Matemática? Essa escolha foi definida diante da concepção de que a Pesquisa

Bibliográfica possibilita um amplo alcance de informações, permite a utilização de

dados dispersos em inúmeras publicações, e dá suporte para delinear um quadro

conceitual sobre o objeto de estudo. E, sobretudo, implica em constituir-se em um

procedimento metodológico importante na produção do conhecimento científico, por

ser capaz de elucidar temas pouco explorados e estabelecer bases para outras

pesquisas, como consideramos no caso a temática escolhida: Formação de

professores de Matemática e Psicologia da Educação Matemática (LIMA; MIOTO,

2007; ROMANELLI; BIASOLI-ALVES, 1998).

Entendemos que a realização de uma Pesquisa Bibliográfica, como método

científico de investigação, implica em desafios de sistematização de procedimentos

ordenados na busca de soluções ao focalizar o objeto de estudo e a necessidade de

definição de critérios e de procedimentos metodológicos próprios (LIMA; MIOTO,

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2007). Nesse sentido, ao desenvolver a aproximação ao objeto de estudo, procuramos

traçar os caminhos desta investigação.

Quanto à natureza da pesquisa, assumimos uma abordagem qualitativa,

concebendo que esta pesquisa se constitui em um empreendimento mais abrangente

e multidimensional, e que a metodologia nessa perspectiva traz um respaldo rigoroso

aos fenômenos, que não são passíveis de serem estudados quantitativamente

(MARTINS; BICUDO, 1989).

Na abordagem de uma metodologia qualitativa, propomo-nos seguir a lógica de

um processo circular, partindo da experiência, como elemento motivador, que nos

ajuda a visualizar, de forma contextualizada, o objeto de estudo; analisar sob diversos

pontos de vista implicados; e investigar seguindo um desenho aberto à obtenção de

dados, aos descobrimentos, e, assim, a partir da interpretação dos mesmos,

retornarmos para a realidade do processo ensino-aprendizagem em sala de aula, sob

novas perspectivas de perceber e de interagir (ROMANELLI; BIASOLI-ALVES, 1998).

Utilizamos o posicionamento de abordagem qualitativa, pela possibilidade de

compreensão dos fenômenos educacionais e psicológicos; entendendo que a

expressão fenômeno tem o significado de aquilo que se mostra em si mesmo, o

manifesto, uma entidade que se apresenta de várias formas, e depende do acesso

que se tem em cada caso. Como também, a compreensão de que na pesquisa

educacional e psicológica, a ideia de fenômeno assume o sentido de entidade que se

mostra, em um lugar situado (MARTINS; BICUDO, 1989; LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Assim, afirmamos que ao enfocarmos a formação docente, utilizamos a lupa das

contribuições da Psicologia para entendermos melhor esse fenômeno, situado num

contexto histórico.

Na condição de uma investigação qualitativa em Educação Matemática, é

importante lembrar, ainda, que estamos diante da especificidade de que o objeto da

pesquisa que se caracteriza pela identidade entre o sujeito e o objeto da investigação,

com o qual interage (MINAYO, 1994; MINAYO, 2001). Situa-se no contexto dos limites

e possibilidades das Ciências Humanas e Sociais em que: “[...] o observador é da

mesma natureza que o objeto, o observador é ele mesmo, uma parte de sua

observação” (LÉVY-STRAUSS, 1975, p. 215).

Nesse processo, destacamos que ao mesmo tempo em seguimos a opção

metodológica na perspectiva qualitativa, de forma complementar, consideramos os

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dados quantitativos; pois, embora tenhamos escolhido a abordagem qualitativa, como

um enquadre para as interpretações, não perdemos de vista que as relações entre o

quantitativo e o qualitativo são as faces de um todo, na compreensão dos fatos

observados (ROMANELLI; BIASOLI-ALVES, 1998). Como explica Minayo (1994, p.

32) “[...] as abordagens quantitativas e qualitativas têm encontro marcado tanto nas

teorias como nos métodos de análise e interpretação”.

No decorrer do processo dessa investigação, face aos desafios da amplitude e

da complexidade da temática, percebemos a necessidade de desenvolvermos um

trabalho de bricoleur, ou confeccionador de colchas, incorporando diversos pontos de

vista a respeito de um mesmo fenômeno, para uma aproximação possível à

compreensão do fenômeno educacional em estudo. Nesse sentido identificamo-nos

com a descrição de Denzin e Lincoln (2010, p. 18) ao afirmarem que o bricoleur é um

pesquisador “[...] que utiliza as ferramentas estéticas e materiais do seu ofício,

empregando efetivamente quaisquer estratégias, métodos ou materiais empíricos que

estejam ao seu alcance”.

Entendemos que, ao assegurarmos uma compreensão do fenômeno em

questão, com a bricolagem chegaríamos a um produto final de um conhecimento

produzido e assumidamente processual, em que se reconhece a existência de

diversas interpretações sobre o objeto, edificadas por meio de discursos e

construções sociais (NEIRA; LIPP, 2012). Assim, como confeccionadora de colchas,

propomo-nos reunir e costurar as partes em uma unidade de conhecimento para uma

experiência descritiva e interpretativa, no contexto da Licenciatura em Matemática

(DENZIN; LINCOLN, 2010).

Na multilogicidade que caracteriza esse processo metodológico, fazer a

bricolagem, implica selecionar métodos, estratégias e referenciais teóricos neste

processo de investigação. Em torno de um entretecimento, que é chamado de POETA

(do original POET, abreviatura de Point Of Entry Text), se constituiu a primeira

aproximação do fenômeno estudado, em que foram integradas as partes da produção

e foram traçadas rotas, para buscarmos as respostas possíveis às questões

formuladas, no sentido de definirmos posicionamentos e delimitarmos enfoques.

A partir das questões chave, essa Pesquisa Bibliográfica, foi pensada em uma

concepção construtivista de ensino e aprendizagem e na concepção de formação de

professores pesquisadores prático-reflexivos.

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Utilizamos um referencial construtivista de investigação, com base no

pressuposto de que o conhecimento se constrói num processo de interação sujeito-

objeto, e nas relações estabelecidas em um contexto sócio-histórico-cultural.

Seguimos um percurso teórico-metodológico em que a aproximação sucessiva, para

o desvendamento dos fenômenos, não é necessariamente linear, pois são elementos

produzidos sócio-historicamente e, se constituem em uma realidade complexa,

ontológica e dinâmica, cujos resultados são criados pela interação

pesquisador/pesquisado (ROMANELLI; BIASOLI-ALVES, 1998; CRESWELL, 2010;

ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998).

A partir das leituras da produção acadêmica selecionada, pertinente à temática,

a concepção de professor-pesquisador prático-reflexivo emergiu como um

direcionamento, durante o processo investigatório, como um referencial para

aprendizagem na profissionalização do professor de Matemática.

Assim, em um paradigma qualitativo de bricolagem, seguimos uma abordagem

interpretativa, partindo dos pressupostos de que “[...] as pessoas agem em função de

suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem

sempre um sentido, um significado e que não se dá a conhecer de modo imediato,

precisando ser desvelado” (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 131).

Essa postura implica responsabilidade e comprometimento intelectual e ético,

uma vez que, o pesquisador é o principal instrumento de investigação e necessita de

uma aproximação atenta e sensível ao discurso registrado dos autores em suas obras;

implica em não reprimir a subjetividade, mas buscar a autorreflexão e a

conscientização de suas próprias representações, para não ocorrer tendenciosidade,

mas com objetividade buscar respostas às questões da pesquisa; implica, também,

desenvolver a análise e a interpretação baseadas na hermenêutica crítica dos textos,

que servem de referência no processo de construção de valores e saberes sobre o

objeto de investigação.

Em decorrência desse posicionamento metodológico, quanto à forma,

identificamo-nos com a proposta de pesquisa, pautada na descrição e interpretação,

ao adotarmos uma visão voltada para ao ponto de vista dos pesquisadores, que estão

envolvidos nos fenômenos em estudo, seja na sua produção escrita, seja no registro

de suas experiências.

Tratando-se de uma Pesquisa Bibliográfica e Documental, ao investigarmos as

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respostas aos questionamentos, comprometemo-nos com a coleta de informações,

realizando um levantamento das bibliografias e dos documentos da legislação

brasileira pertinentes, em seguida a triagem, e depois o levantamento das informações

contidas nas referências, o que chamamos de uma garimpagem. Nesse processo,

tivemos o cuidado de explorar, ao máximo, as informações as quais tivemos acesso,

entendendo que os resultados da pesquisa dependem da quantidade e da qualidade

dos dados coletados.

Todo material recolhido foi submetido à triagem, sendo estabelecidos, na coleta

de dados, como critérios: o parâmetro temático, buscadas as produções relacionadas

mais diretamente ao objeto de estudo, e aquelas afins ou correlatas; o parâmetro

linguístico, inicialmente de obras portuguesas e espanholas, mas devido à percepção

de limites de informações nesses idiomas, utilizamos, também, a língua inglesa; o

parâmetro de fontes estabelecido em ordem de preferência foi de teses e

dissertações, livros, artigos de periódicos e de anais de eventos; o parâmetro

cronológico de publicação e de informação, considerando o final do século XIX, como

marco do reconhecimento da Psicologia como ciência e do surgimento da Educação

Matemática, até o presente; o parâmetro das relações estabelecidas entre a

Psicologia e a Educação Matemática, na perspectiva da Psicologia da Educação

Matemática e a formação docente.

No procedimento de coleta de dados, desenvolvemos uma aproximação

sucessiva, a partir de leituras exploratórias, seletivas, reflexivas e, na medida em que

o conjunto de informações permitia uma visão mais ampla, foram realizadas leituras

aprofundadas e interpretativas, para finalmente serem feitos os registros e serem

realizados o entretecimento das partes componentes desta pesquisa. Caracterizando-

se, assim, essas buscas em um crescente encadeamento e associação de referências

que possibilitaram a ampliação de conhecimento das possíveis contribuições das

produções para o estudo, e nessa busca destacamos que a localização e aquisição

de obras pertinentes, a mediação de bancos de dados e de sítios de busca, que

facilitaram o acesso às informações, e, a disponibilidade de documentos e de obras,

em sítios institucionais, foi de grande valia.

Nessa trajetória, recorremos a múltiplas leituras de diversos autores,

suscitando interessantes possibilidades, no foco da formação de professores e as

contribuições da Psicologia da Educação Matemática e no contexto das

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representações atribuídas à Educação Matemática, como prática social na formação

docente.

Agrupamos o material levantado inicialmente em quatro blocos: PEM –

Psicologia e Educação Matemática; MP – Metodologia da Pesquisa Bibliográfica; FD

– Formação de Professores, na perspectiva das contribuições da Psicologia; DOC –

documentos que informam sobre as disciplinas de Psicologia nos Cursos de

Licenciatura em Matemática, Legislação referente à Educação.

E, a cada um desses conjuntos de materiais foram sendo integradas novas

referências, na medida em que seletivas e reflexivas informações apontavam para

outras fontes.

A coleta dos dados não se processou de forma linear, seguindo uma sequência

de subtemas, ao explorarmos o material utilizamos a triagem, quanto à pertinência ou

não, como, também, foi feito o agrupamento dos temas específicos para leituras

seletivas e compreensivas.

Quanto ao nível de leitura compreensiva, os registros nos subtemas foram

feitos inicialmente de dois modos: por autores e por fontes diversas, no recorte; para

em seguida, integrarmos os dados e os analisarmos. Nesse processo, o uso de

quadros, tabelas, mapas conceituais, foram ferramentas auxiliares, para organização

dos dados.

Tanto ao conduzirmos a coleta, como, na análise dos dados, em uma

abordagem qualitativa, e ao examinarmos as descrições, percebemos a necessidade

de uma postura empática em relação aos autores, na busca de melhor compreensão

do significado, no tratamento dos dados, visando à integração das informações, para

análise e compreensão do objeto de estudo (DENZIN; LINCOLN, 2010). Assim, a

análise do discurso dos sujeitos foi situada e contextualizada: de onde se fala, com

quem se fala e de quem se fala; quem são os seus pares e a sua rede de relações;

quem foram seus contemporâneos; quem lhes influenciou e a quem ele influenciou.

E, sobretudo, ao desenvolvermos a descrição analisamos as partes sem perder de

visto o todo.

REFERENCIAL

Com relação à temática escolhida de formação de professores de Matemática

e Psicologia da Educação Matemática, delimitando o aspecto da formação de

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professores no enfoque das contribuições da Psicologia na Licenciatura em

Matemática, e das atribuições da Educação Matemática no processo de

profissionalização; registramos que, embora buscássemos exaustivamente, não

localizamos nos bancos de dados, como fontes em primeira mão, nenhuma tese ou

dissertação relacionadas à Psicologia da Educação Matemática, como também à

Psicologia e Educação Matemática. Têm-se produções acadêmicas, que pertencem

à área de Psicologia da Educação Matemática, relativas a produção desse

conhecimento, mas não encontramos um estudo na perspectiva da contribuição desse

conhecimento, na formação de professores no âmbito da Licenciatura em Matemática.

Como também, na busca com o termo Psychology of Mathematics Education ou

variações, só foram encontrados artigos ligados ao IGPME – International Group for

the Psychology of Mathematics Education, que, também, não enfocam a temática de

nossa investigação.

Especificamente, referente ao interesse em discutir as relações entre

Psicologia e Educação Matemática foi localizado o artigo de Cavalcanti (2011). As

reflexões que o autor trouxe nesse artigo nos têm sido uma inspiração, por se tratar

de um educador matemático, que declara a necessidade e a importância de uma maior

aproximação do diálogo, entre Educação Matemática e Psicologia, no espaço

acadêmico.

No intuito de resgatar as concepções, de forma pontual a esse enfoque, e

estabelecer as relações, foram selecionadas, como referências teórico-

metodológicas: as Teorias Psicológicas que contemplam o interesse específico, com

o desenvolvimento do pensamento matemático; o processo de ensino de Matemática

e a formação de professores de Matemática; e também, as ideias referentes à

formação docente.

Nesta investigação, construíram-se como referências basilares, em Psicologia

da Educação Matemática, no sentido da compreensão desse conhecimento e sua

importância na formação de professores de Matemática, as obras dos pesquisadores

brasileiros, Márcia Regina Ferreira de Brito, Alina Galvão Spinillo, Síntria Labres

Lautert, Jorge Tarcísio da Rocha Falcão, Luciano Meira e outros pesquisadores

associados.

No aspecto de como vem sendo pensada a formação dos professores,

encontramos, como referencial, os estudos de Antônio Nóvoa, Donald Alan Schön,

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Kenneth Zeichner, Lee Shulman, Maurice Tardif, Philippe Perrenoud; sendo que, no

contexto específico de Educação Matemática, encontramos os estudos de Dario

Fiorentini, Célia Maria Carolino Pires, e seus associados.

Referente à Licenciatura de Matemática no Brasil, no enfoque de formação de

professores e políticas educacionais, utilizamos os documentos oficiais do MEC, e,

encontramos em Bernardete Angelina Gatti, uma visão fundamentada, situada e

crítica, sobre essa realidade das últimas décadas do século XX, e as primeiras do

século XXI.

Com relação ao enfoque das relações entre a Psicologia e a Educação na

formação de professores e a contribuição dos componentes curriculares de Psicologia

nos Cursos de Licenciatura, encontramos como referência as pesquisas de Doutorado

e Mestrado de Instituições brasileiras, e obras de Ana Maria Falcão de Aragão Sadalla,

Priscila Larocca, e Roberta Gurgel Azzi, e seus associados. Nessa perspectiva, com

base em Larocca (2007a), afirmamos que temos uma produção histórica de cerca de

mais de três décadas sobre o ensino de Psicologia, como objeto de estudos e

pesquisas no contexto da realidade educacional brasileira, e a sua relação com a

formação propiciada aos futuros professores nas licenciaturas. Esses estudos

apontam os desafios enfrentados no sentido da superação das limitações

institucionais e curriculares, para que alcancemos uma contribuição para além da

metáfora de fundamentos de Educação.

Dentre as 31 pesquisas de teses e dissertações examinadas, foram

selecionadas aquelas cuja temática estava relacionada, especificamente, à Psicologia

e à formação docente de professores da Educação Básica, em que o estudo

contemplasse os sujeitos da Licenciatura em Matemática. Vide Quadro 1.

Como pode ser observado no Quadro 1, temos doze trabalhos selecionados

referentes às relações entre a Psicologia e a Educação, na perspectiva da reflexão

sobre a disciplina Psicologia, no processo de formação docente de professores de

Matemática, havendo maior quantidade de trabalhos registrados, na década de

noventa, do século XX; sendo a maioria das pesquisas realizadas nos programas de

Pós-Graduação em Educação, área de concentração Psicologia da Educação,

evidenciando-se a percepção dos educadores, quanto à relevância do ensino da

Psicologia nas Licenciaturas, no processo de formação docente.

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35

Quadro 1 - Levantamento de Teses e Dissertações em Psicologia e Formação de Professores que Contemplam as Licenciaturas em Matemática - Programas de Pós-Graduação em Universidades

Brasileiras, 1980 – 2014.

Ano Nível Autor Título Orientador Programa de Pós-

Graduação Instituição

1985 Doutorado GOULART, Iris

Barbosa.

Psicologia da

educação em Minas

Gerais: histórias do

vivido.

GATTI,

Bernarde

te

Angelina.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM PSICOLOGIA

SOCIAL –

PUCSP.

PUCSP

1987 Doutorado FINI, Lucila Diehl

Tolaine.

A situacionalidade da

psicologia

educacional:

adolescência nos

cursos de licenciatura

da UNICAMP.

MARTIN

S, Joel,

1920-

1993.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO:

PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO –

PUCSP.

PUCSP

1987 Mestrado MONTENEGRO,

Maria Eleusa.

A psicologia

educacional nas

licenciaturas no

estado de Goiás.

FINI,

Maria

Inês.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO

– UNICAMP.

UNICAMP

1988 Doutorado CASTELLO

BRANCO,

Lysandre Maria.

Psicologia para quê? -

a psicologia ensinada e

a psicologia praticada-

subsídios para a

compreensão do papel

do professor

VILLA

LOBOS,

Maria da

Penha.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO

– USP.

USP

1989 Mestrado URT, Sonia da

Cunha.

A Psicologia na

Educação: do real ao

possível.

ANDRE,

Marli

Eliza

Dalmazo

Afonso

de.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO:

PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO –

PUCSP.

PUCSP

1992 Mestrado CAPARROZ,

Aceli de Assis

Magalhaes.

A psicologia da

educação e os cursos

de licenciatura nas

Faculdades

particulares do

município de São

Paulo.

DAVIS

Cláudia

Leme

Ferreira.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO:

PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO –

PUCSP.

PUCSP

1993 Mestrado IÓRIS, Stela

Maris da Silva.

As contribuições da

psicologia da

educação na

formação de

professores do

Estado do Paraná.

RONCA,

Antonio

Carlos

Caruso.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO:

PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO –

PUCSP.

PUCSP

1993 Doutorado MONTENEGRO,

Maria Eleusa.

Psicologia histórico

dialética para os

cursos de

licenciatura.

FINI,

Maria

Inês.

PÓS-

GRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO

– UNICAMP.

UNICAMP

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36

Ano Nível Autor Título Orientador Programa de Pós-

Graduação Instituição

1999 Mestrado ALMEIDA,

Patrícia

Cristina

Albieri de.

A prática pedagógica

junto a alunos

adolescentes: as

contribuições da

psicologia.

AZZI,

Roberta

Gurgel.

PÓS-

GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO –

UNICAMP.

UNICAMP

2003 Doutorado GUERRA,

Clarisa

Terezinha.

O Ensino de Psicologia

na Formação Inicial de

Professores

Constituição de

Conhecimentos sobre

Aprendizagem e

Desenvolvimento por

Estudantes de

Licenciatura.

Leite,

Sérgio

Antônio Da

Silva.

PÓS-

GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO –

UNICAMP.

UNICAMP

2005 Doutorado ALMEIDA,

Patrícia

Cristina

Albieri de

Os saberes

necessários à

docência no contexto

das reformas

para a formação de

professores: o caso da

psicologia da

educação

AZZI,

Roberta

Gurgel.

PÓS-

GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO –

UNICAMP.

UNICAMP

2006 Mestrado DIAS, Luiz

Carlos de

Carvalho.

Falas que vem das

salas e falas que vêem

as salas: o que dizem

os professores de

ciências e Matemática

sobre Psicologia da

Educação na formação

docente.

ARAGÃO,

Rosália

Maria

Ribeiro.

PÓS-

GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS E

MATEMÁTICA –

UFPA.

UFPA

Fonte: Autora

As referidas pesquisas aparecem descritas no capítulo 5, com relação as suas

principais contribuições para a compreensão do tema investigado.

SOBRE A APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

No enquadre de uma Pesquisa Bibliográfica e Documental, desenvolvemos a

descrição e análise do objeto de estudo para elucidarmos as questões propostas e

favorecermos uma compreensão e reflexão sobre a problemática. Com base nas

afirmações dos autores selecionados, pertinentes ao tema em questão, foram

realizadas ao longo do trabalho as análises e a apresentação dos resultados, bem

como, as sínteses integradoras na organização dos capítulos e as proposições de

alternativas de soluções.

Aqui é importante ressaltar que “[...] é impossível produzir uma explicação

completa sobre determinado fenômeno social, pois a complexa natureza das relações

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embutidas em qualquer situação não permite que isso aconteça”. Pois, “[...] na

bricolagem, não existe explicação verdadeira, conclusão do estudo ou considerações

finais, pois, o conhecimento é transitório e está sempre em processo” (NEIRA; LIPP,

2012, p. 612).

A descrição dos caminhos teórico-metodológicos trilhados tem a finalidade de

favorecer a comunicação desta pesquisa. Situar o processo de construção,

contextualizar os resultados desta experiência, como pesquisadora na área de

Educação Matemática. E, com base nas ideias de Lüdke e André (1986, p. 5), nossa

expectativa é de que, embora este trabalho esteja imbuído e comprometido com todas

as nossas peculiaridades de pesquisadora, desempenhe o papel de “servir como

veículo inteligente e ativo entre esse conhecimento acumulado na área e as novas

evidências que serão estabelecidas a partir da pesquisa”.

Ao seguirmos a concepção de pesquisa qualitativa, crítica, questionadora e

dialética, nos propomos a fazer uma leitura de forma que as interpretações sejam

integradas e entretecidas, e, desejamos que represente uma contribuição significativa,

que alimente a reflexão e seja promotora da melhoria do ensino de Psicologia no

processo de formação inicial de professores de Matemática.

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CAPÍTULO 3

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA:

RELAÇÕES HISTÓRICAS

Este capítulo trata das relações entre a Psicologia e a Educação Matemática,

na perspectiva de seu processo histórico. Nele são concebidas as relações que se

estabelecem em sua trajetória como interagentes, dialógicas, necessárias e

contínuas, contribuindo para ampliação do conhecimento, tanto no campo de

Educação Matemática como no de Psicologia. Inter-relações de conhecimentos que

contribuíram na constituição de saberes e no desenvolvimento da função em comum

na formação de professores de Matemática.

Nosso propósito aqui é: contextualizar, analisar e discutir as contribuições da

Psicologia na formação de professores, em seu contexto histórico, do final do século

XIX até meados do século XX, no enfoque das relações de intersecção no

desenvolvimento da Psicologia e da Educação Matemática.

NA CONSTITUIÇÃO DE SABERES

"O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano."

Isaac Newton, 16871

A Psicologia e a Educação Matemática se desenvolveram como conhecimento

científico, no período do final do século XIX, princípio do século XX. Nesse início, é

preciso considerar o que se passava nessa época, para compreendermos a criação

dessas ciências, e suas relações nesse processo de delimitação do conhecimento,

situando-se no contexto histórico em que surgiu o conceito de ciência, tal como hoje

é de uso corrente. Ponderando, também, que a constituição de ser ciência, em geral,

como assinalam Figueiredo e Santi (2008, p. 14), trata-se de um processo muito

complexo sendo “[...] preciso mostrar que ela tem um objeto próprio e métodos

adequados ao estudo desse objeto, que ela é enfim, capaz de firmar-se como uma

1 Fonte: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Isaac Newton, obras de descobertas.

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ciência independente das outras áreas de saber”.

A passagem do século XIX para o século XX, foi um período de mudanças e

transformações ideológicas, políticas, econômicas, tecnológicas, sociais, religiosas e

culturais que favoreceram ao desenvolvimento do conhecimento científico.

Influenciadas pelas filosofias iluministas, as três Revoluções da Modernidade no

século XVIII, a Revolução Industrial (1760-1900), a Revolução Americana (1765-1783)

e a Revolução Francesa (1789-1799), representaram situações de crises e de

mudanças, e nesse contexto, trouxeram entre os países europeus e americanos a

necessidade de enfrentamento dos desafios sócio-político-econômico e culturais, pela

via da compreensão do homem, as suas relações com mundo, e a educação das

novas gerações.

As mudanças nos sistemas políticos e na organização social, e os avanços

tecnológicos geraram mudanças na economia e no sistema organizacional de

trabalho; logo a dinâmica desse processo histórico propiciou e demandou a

necessidade de trabalhadores qualificados e adaptados com a modernização e a

aquisição de equipamentos novos, e consequentemente a necessidade de uma

transformação na estrutura dos sistemas educacionais, das disciplinas de estudo, e

dos métodos de instrução, mobilizando aos educadores buscarem maior

compreensão dos processos de aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo.

Nos séculos XVIII e XIX, conforme analisam Figueiredo e Santi (2008), na

cultura ocidental, numa sociedade mercantil em pleno desenvolvimento, duas formas

de pensamento podem ser observadas: a ideologia liberal iluminista e a ideologia com

base no romantismo. Conforme a ideologia liberal, os homens são iguais em

capacidade e devem ser iguais em direitos, mas, para que esta liberdade não redunde

em caos, todos devem ser solidários e fraternos, uns com os outros, sem renunciarem

a essa liberdade, para defenderem seus interesses sem limitações. No romantismo,

aparece o reconhecimento de que a diferença entre os indivíduos e a liberdade é

exatamente a liberdade de ser diferente, e, ao mesmo tempo, em que sendo únicos,

buscam uma comunicação e identidade, entre os diferentes, nas expressões

humanas, como artes e patriotismo. Essas ideias expressam as questões em torno da

experiência da subjetividade privatizada, de sermos sujeitos capazes de decisões,

sentimentos e emoções privadas. Mas, justamente, quando os interesses particulares

levam a conflitos em que a liberdade de cada um, ao tratar de seu negócio,

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desencadeia crises, lutas e guerras, que fazem-se necessárias, em respostas às

questões sociais que emergem nessa trama, experiências entre as individualidades e

o coletivo.

Essas experiências são compreendidas como pré-condições que abrem

espaço para o projeto de previsão e de controle científicos do comportamento

individual, e da formulação de projetos de Psicologia Científica, na cultura ocidental.

Uma vez que, ao mesmo tempo em que temos a experiência da subjetividade

privatizada, confrontamo-nos com a experiência de que não somos tão livres, como

imaginávamos, e a suspeita de que a liberdade e a singularidade são ilusórias

(FIGUEIREDO; SANTI, 2008).

O século XIX foi marcado, sobretudo, pela busca do modelo científico, como

caminho para a melhoria da condição humana e a vida em sociedade. Assinalam-se,

nesse contexto, dois aspectos que são foco de interesse aqui: o desenvolvimento do

conhecimento matemático, (BOYER, 1974), e o período de desenvolvimento das

ciências humanas, em especial a Psicologia (HEIDBREDER, 1981).

De modo sem precedentes a todas as épocas, o crescimento do conhecimento

matemático foi elevado, no século XIX, sendo comparado ao desenvolvimento de uma

árvore, que cresce numa estrutura visível, acima da terra e que se espalha e ramifica

sempre mais, ao mesmo tempo em que suas raízes, cada vez mais, se aprofundam e

se alargam, em busca de fundamentos sólidos (BOYER, 1974). Tem-se, nessa fase

histórica, um elenco de nomes de construtores nos saberes matemáticos nos ramos

da Geometria, Álgebra e Análise, com extensa produção específica, em vários países

do mundo ocidental; a organização de sociedades especializadas nacionais, em

vários países e, o surgimento de encontros internacionais instituídos no início do

século XX.

No contexto do processo de desenvolvimento tecnológico, houve um

reconhecimento da contribuição da Matemática (BOYER, 1974; MIORIM, 1998). Os

rápidos avanços tecnológicos e o desenvolvimento industrial trouxeram desafios ao

ensino da Matemática ligado às questões da necessidade de universalização do

conhecimento, à relação educação-trabalho, à laicização e à estatização da educação

sobre o enfoque do ensino elementar.

Nesse mesmo período histórico, entre o século XIX e início do século XX, pode

ser observado surgimento da Psicologia, como uma das manifestações do modo de

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pensar científico, que caracterizou a vida intelectual no conjunto das ciências

humanas (HEIDBREDER, 1981). Embora o conhecimento psicológico estivesse

presente desde os primórdios da cultura ocidental, e viesse se desenvolvendo, ao

longo dos séculos, como um ramo da Filosofia, foi nessa virada de século, no contexto

de valorização das ciências para o desenvolvimento sócio-político-econômico e das

amplas reformas na educação superior, que a partir do desenvolvimento de pesquisas

em laboratórios universitários ocorreu o reconhecimento da Psicologia como ciência.

Face à demanda sócio-político-econômica, ocorre a renovação e criação de novas

universidades na Alemanha e outros países europeus, como também, no continente

americano, principalmente nos Estados Unidos, favorecendo ao desenvolvimento das

pesquisas na área de Psicologia (HEIDBREDER, 1981; FIGUEIREDO; SANTI, 2008;

ARAUJO, 2009b; ABIB, 2009).

A identificação da Educação Matemática, como um campo de investigação,

de concepções e de ações educativas específicas, ocorre, também, na transição

a do século XIX para o século XX, no meio universitário, em resposta à valorização

do conhecimento matemático, para a formação de profissionais e para o mercado de

trabalho. Os matemáticos vincularam a pesquisa científica ao ensino, criando uma

indissociabilidade, entre o professor e o pesquisador, e se preocuparam, mais

diretamente, com as questões de ensino e aprendizagem e a formação de

professores, como resposta à necessidade de uma maior quantidade de professores,

melhor preparados para atenderem à demanda social (MIORIM, 1998; KILPATRICK,

1998).

ELES NOS DEIXARAM UM LEGADO

"Cores desbotam, templos desmoronam, impérios caem, mas palavras sábias duram."

Thorndike2

Dentre aqueles que se destacaram no período histórico da virada do século XIX

para o início do século XX, elencaríamos muitos nomes, mas assinalamos, de forma

representativa, alguns personagens que influenciaram na construção do

conhecimento de Educação Matemática, numa inter-relação com a Psicologia, por

meio de sua atuação profissional docente e produção acadêmica.

2 http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ie2/infoeduc/teothorndike.html

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Nesse enfoque, consideramos os representantes das universidades alemãs e

das universidades norte americanas, personagens ligados a centros de pesquisa que

influenciaram de forma significativa na formação de pesquisadores e no ensino da

Matemática (IGLIORI; D’AMBROSIO, et al., 2004). Elegemos os nomes de: Wilhelm

Maximilian Wundt (psicólogo alemão, 1832-1920); Felix Christian Klein, (matemático

alemão, 1849-1925); William Henry Young, (matemático inglês, 1863-1942); Grace

Chisholm Young, (matemática inglesa, 1868-1944); John Dewey, (filósofo e psicólogo

estadunidense, 1859-1952); James Alexander McLellan, (educador canadense, 1832-

1907); Georgia Alexander (1868-1928); Eliakim Hastings Moore, (matemático

estadunidense, 1862-1932); e Edward Lee Thorndike, (psicólogo estadunidense,

1874-1949).

Apresentamos, a seguir, cada um desses pesquisadores, descrevendo

brevemente sua biografia e sua formação como professor pesquisador, no contexto

histórico sócio cultural em que se realizou o seu trabalho, quem foram seus pares, e

como se caracterizaram as suas contribuições para o desenvolvimento da Educação

Matemática e da formação de professores. Eles fizeram a diferença em sua época,

justamente, porque, em seus estudos e práticas de pesquisa e ensino, sejam eles

matemáticos ou psicólogos, estavam voltados para a relação entre: a Psicologia

aplicada ao ensino; a aprendizagem da Matemática; e a formação de professores de

Matemática.

3.2.1 Wilhelm Maximilian Wundt

Wilhelm Maximilian Wundt (Neckarau, Alemanha, 16 de agosto de 1832 –

Groβbothen, Alemanha, 31 de agosto de 1920) foi um médico, filósofo e psicólogo.

Destacou-se por ser considerado o fundador da Psicologia, como disciplina

acadêmica formal, como marco de uma nova ciência independente da Filosofia. Por

sua influência nas atividades como Diretor do Laboratório de Psicologia Experimental,

na Universidade de Leipzig; transformou-o em centro internacional de referência para

pesquisadores nessa área, orientando toda uma geração de psicólogos experimentais

das mais diversas nacionalidades, que contribuíram para o desenvolvimento do

conhecimento psicológico, ao voltarem aos seus países de origem (ARAUJO, 2009a;

ARAUJO, 2009b; ABIB, 2009).

O referido professor pesquisador em sua formação inicial optou pela Medicina.

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43

Frequentou a Universidade de Tübingen e a Universidade de Heidelberg, tendo

cursado Anatomia, Fisiologia, Física, Medicina e Química, e decidindo especializar-se

em Fisiologia. Na Universidade de Berlin, estudou com o fisiologista Johanes Müller

(1801-1858), e retornou à Universidade de Heidelberg, onde completou o doutorado

em 1855 (SHULTZ; SHULTZ, 2014).

Em Heidelberg, lecionou Fisiologia por dezessete anos. Nesse período Wundt

esteve envolvido com a pesquisa em Fisiologia, e demonstrou interesse pelos

processos mentais. Apresentou suas ideias nos livros: Contribuições para a teoria da

percepção sensorial, (1858); Lições de psicologia humana e animal, (1863). Com base

em suas aulas no curso de Psicologia Fisiológica, nessa Universidade, produziu

material para a publicação de Fundamentos da Psicologia Fisiológica, em dois

volumes, (1873-1874). Produção que foi considerada sua obra-prima, em que

estabeleceu a Psicologia como uma ciência de laboratório independente, com

problemas e métodos de experimentação próprios (SHULTZ; SHULTZ, 2014;

DAVIDOFF, 1983).

Nessa época, o campo da Psicologia não tinha domínio de conhecimento

próprio, pois seu objeto pertencia à Filosofia, por isso não foi na Faculdade de

Medicina que se destacou como professor. Em sua determinação, em fundar uma

nova ciência, aceitou a cátedra de Filosofia, primeiro em Zurique, em 1874, e depois

em 1875 em Leipzig, quando começou a mais importante fase de sua carreira, onde

trabalhou por 45 anos (SHULTZ; SHULTZ, 2014).

Em Leipzig, instalou em 1879 um laboratório de Psicologia Experimental,

lançou, em 1881 a revista chamada inicialmente de Estudos Filosóficos, que, a partir

de 1903, passou a se chamar de Estudos Psicológicos. Assim, com um Manual, um

laboratório e uma revista acadêmica especializada, o trabalho de Wundt foi divulgado

e atraiu uma enorme quantidade de estrangeiros que vieram de várias partes da

Europa, dos Estados Unidos e do Mundo. Muitos desses estudantes que trabalharam

com Wundt em Leipzig, foram orientados em estágios de Psicologia ou em suas teses

psicológicas, e ao retornarem aos seus países criaram os seus próprios laboratórios,

tornando-se vários deles pioneiros no desenvolvimento da Psicologia, como é caso

de Granville Stanley Hall (1846-1924), que exerceu influência nas origens da

Psicologia norte americana (ARAUJO, 2009b; SHULTZ; SHULTZ, 2014;

HEIDBREDER, 1981; MUELLER, 1968).

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44

No contexto deste estudo, nosso interesse foi enfocar na Psicologia de Wundt

as suas contribuições que influenciaram para os estudos em Educação Matemática.

Nessa direção, localizamos Gray (2006) que, no capítulo Enriques: Popularising

Science and the Problems of Geometry, do livro organizado por Hendricks et al (2006),

intitulado Interactions Mathematics, Physics and Philosophy, 1860-1930, que ao

analisar a obra do geômetra italiano Federigo Enriques, (1871-1946), assinala a

influência da Psicologia de Wundt no pensamento de Felix Klein, (1849-1925), e do

próprio Enriques. Ao referir-se a respeito do convite de Klein, para Enriques escrever

o artigo sobre os princípios da Geometria – Encyclopädie der Mathesmatischen

Wissenschaften, esse autor comenta que possuíam visões compartilhadas sobre a

importância da intuição na Geometria, e também a preferência para as explicações

psicofísicas da aquisição do conhecimento geométrico, conforme declarou Wilhelm

Wundt. Aqui é oportuno salientarmos que o referido autor assinala que Klein e Wundt

haviam sido colegas na Universidade de Leipzig, no começo da década de 1880.

Ao descrever as obras de Enriques, Gray (2006), contextualiza que a questão

principal para os matemáticos era a Geometria não-euclidiana e a natureza do espaço.

Nesse sentido faz a referência de que Enriques foi “arrebatado” pelos escritos de

Wundt, pois, atendiam aos seus interesses filosóficos, na década de 1890, no sentido

da questão - De que espécie de atividade intelectual é o estudo da Geometria,

considerado como apreciação fundamental do espaço?

Conforme explica Polizzi (2012), Enriques usou as ferramentas da Psicologia

Fisiológica para o estudo da epistemologia do espaço, encontrando, na dinâmica do

conhecimento, uma ligação entre três funções psicológicas, associativa, abstrativa e

genética, e entre três grupos de sensações (táteis, visuais e cenestésicas);

descrevendo os conceitos abstratos fornecidos pela Geometria métrica e projetiva, e

a teoria do continuum3.

Nesse momento, parece-nos que não cabe, aqui, a descrição abrangente das

ideias de Wundt, mas, os argumentos de que o estudo da experiência consciente,

utilizando-se os métodos experimentais das ciências naturais, as técnicas

empregadas pelos fisiologistas, adaptados para a Psicologia, contribuíram para a

compreensão das características do conhecimento geométrico, entendidas como

3 continuum – concepção física ou filosófica tradicionalmente associada a linha do espaço, do tempo ou de formas similares.

O termo continuum em matemática significa espaço topológico compacto e conexo. (SBARDELLINI, 2005, p.9).

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processos cognitivos significativos fundamentais. Como também, aparecem

evidências de que a Psicologia Experimental e Cultural de Wundt tenha influenciado

o matemático Klein.

3.2.2 Felix Christian Klein

Felix Christian Klein (Düsseldorf, Alemanha, 25 de abril de 1849 – Göttinger,

Alemanha, 22 de junho de 1925) é considerado uma das figuras centrais na

Matemática, entre os séculos XIX e XX, cujas pesquisas incidiram na Geometria não-

euclidiana, nas interligações entre a Teoria dos Grupos e a Geometria e nos estudos

em Educação Matemática. Embora, suas obras no conhecimento de Matemática

sejam importantes e suas orientações em relação ao ensino de Matemática sejam

significativas, limitamo-nos aqui a enfocar as contribuições, na perspectiva

interdisciplinar entre Psicologia e Educação Matemática.

Em 1965, ingressou na Universidade de Bonn para estudar Matemática e

Física. Nessa universidade, tornou-se assistente de Julius Plücker, (1801-1868),

tendo obtido o doutoramento em 1868, sob a supervisão de Plücker e Rudolf Lipschitz,

(1832-1903), com a tese de Geometria Über die Transformation der allgemeinen

Gleichung des zweiten Grades zwischen Linien-Koordinaten auf eine kanonische

Form. Em 1870, foi para Paris, e estudou com Sophus Lie, (1842-1899), a Teoria dos

Grupos. Regressa, em 1871, para Alemanha, devido à Guerra franco-prussiana,

tornando-se professor em Göttingen, e, no ano seguinte conquista um lugar na

docência em Erlangen.

Desde o início de sua carreira acadêmica, aos 23 anos de idade, Klein revelou

seu interesse nas atividades como pesquisador em Matemática e como pesquisador

em ensino de Matemática. Em 1872, ao assumir a cátedra de professor titular da

Faculdade de Filosofia e o cargo de membro do Conselho da Universidade de

Erlanger, conforme exigência Institucional na época realizou uma Conferência para os

membros de seu Departamento e a comunidade acadêmica, expondo as suas

intenções de pesquisa no campo matemático e seu plano de trabalho docente. Em

sua exposição, os principais temas que discorreu foram: o papel da Matemática no

sistema de ciências e na sociedade; aplicações práticas e a proposta geral para o

ensino de Matemática, no sentido em que era, naquele momento, uma aspiração para

as universidades alemãs. Revelou, assim, tanto a sua motivação por questões

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pedagógicas como o seu envolvimento com a pesquisa matemática (CHISLENKO;

TSCHINKEL, 2007).

Em 1875, casou-se com Anne Hegel, neta do filósofo Georg Hegel e se mudou

para Munique, sendo nomeado professor, na Tecnische Hoschschule, onde

permaneceu até 1880.

No período de 1880 a 1886, trabalhou na Universidade de Leipzig, período em

que conviveu com Wundt e suas pesquisas na área de Psicologia (GRAY, 2006).

A partir de 1886, retornou à Universidade de Göttingen, onde tinha começado

a carreira docente e se dedicou à pesquisa, formando um centro mundial de

investigação em Matemática, constituindo-se o seu trabalho numa referência em nível

internacional para a formação de pesquisadores e educadores em Matemática.

A coleção de livros de Klein foi publicada em 1908, com o título Matemática

Elementar de um Ponto de Vista Superior, sendo dividida em três volumes:

Elementarmathematik vom höheren Standpunkte aus, Vol. 1 – Arithmetik; Algebra;

Analysis, Vol. 2 – Geometrie, Vol. 3 – Präzisions-und Approximations mathematik.4

Essas obras mostram a sua preocupação com o ensino da Matemática e a formação

de professores, consistindo-se em Lições sobre o ensino da Matemática. Pode ser

observado a partir dessas publicações como Klein defendia o ensino de Matemática

com bases psicológicas; considerando-se o processo psíquico do aluno, para lhe

despertar o interesse, a diplomacia nas relações interpessoais e a apresentação

compreensível dos saberes matemáticos, como fatores de sucesso, na atuação do

professor (IGLIORI; D’AMBROSIO, et al., 2004; SCHUBRING, 2013; SOUZA, 2010).

A título de ilustração, apresentamos algumas concepções psicológicas de Klein

(1931, p. 282), em sua orientação com relação aos critérios para escolha de um livro

didático de Geometria.

Ponto de vista psicológico – O ensino não pode depender somente da matéria objeto de ensino, senão do sujeito a quem se ensina. Uma mesma coisa deve ser apresentada de modo distinto a uma criança de seis anos, a uma de dez e a um homem maduro. No que se refere especialmente a Geometria, esta deve reduzir-se no ensino secundário a intuição concreta, e passar depois pouco a pouco aos elementos lógicos: de uma maneira geral pode dizer-se que o método genético é o único apropriado, porque permite ao aluno ir penetrando nas coisas sem esforço. (tradução nossa)5

4 Vol. 1 – Aritmética, Álgebra e Análise, Vol. 2 – Geometria, Vol. 3 – Precisões e aproximações matemáticas. 5 Punto de vista psicológico – La ensiñanza no puede depender solamente de la materia objeto de la ensiñanza, sino sobre todo del sujeto a quien se enseña. Una misma cosa debe ser presentada de distinto modo a um muchacho de seis años que uno de diez y a éste que a un hombre maduro. Em lo que se refiere especialmente a la Geometria, éste debe reducir-se em la ensiñanza secundária a la intuición concreta, y passar después poco a poco a los elementos lógicos: de uma manera general puede decirse que el método genético es el único apropriado, porque permite al alumno ir penetrando em las cosas sin esfuerzo.

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Essa obra é considerada seminal no processo de desenvolvimento do

conhecimento de Educação Matemática, sendo traduzida em vários idiomas, inclusive

se encontra disponível para aquisição em nossos dias. Está disponível na língua

original, alemão, em inglês, espanhol, nas livrarias internacionais, e inclusive, em

língua portuguesa, pela SPM – Sociedade Portuguesa de Matemática. Vide a

ilustração de capas dos exemplares, figura 1.

Figura 1 - Capas de Edições disponíveis de Elementarmathematik vom höheren Standpunkte aus de Felix Klein. Fonte: Amazon Books, 2015.

Com base em suas obras entendemos que Klein dispensava importância ao

processo de ensino e à formação do professor de Matemática, considerando as

concepções psicológicas. De modo significativo, seus escritos assinalam que as

relações entre Psicologia e Educação Matemática estão presentes e se entrelaçam

numa relação interativa, desde os primórdios da constituição dessas áreas do

conhecimento (MEIRA; IGLIORI, 2013).

Para entendermos melhor as raízes dessas relações e suas contribuições

basilares, tem-se nas propostas de Klein e em sua práxis de 40 anos de ensino de

Matemática, uma representação emblemática de evidências, de seu reconhecimento

da necessidade de fundamentos psicológicos para a formação do professor, tanto em

suas publicações como no registro de suas atividades docentes.

Klein, de forma sistematizada, deixou cuidadosamente registrado em livros

manuscritos, chamados Klein Protokolle, o relato das apresentações de seminários

realizados, desde verão de 1872 até o verão de 1912. Eram realizados dois

seminários/encontros, a cada ano, no âmbito de uma temática. Aparecem também,

nesses livros, os registros de aulas ministradas (CHISLENKO; TSCHINKEL, 2007).

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Temos disponível esse patrimônio histórico, em imagens digitalizadas no Clay

Mathematics Institute – CMI; uma fundação dedicada ao desenvolvimento e

divulgação dos conhecimentos matemáticos. Todos os volumes de Klein Protokolle

estão digitalizados para consulta e contam com mais de 8000 páginas. É uma fonte

importante que documenta a rica panóplia de ideias de Klein; os registros do passo a

passo do desenvolvimento de um dos grandes educadores, ao longo da sua carreira.

A própria existência dos 29 volumes representa um monumento a um professor

comprometido com o ensino, em que valoriza a importância do que os próprios

aprendizes dizem (CHISLENKO;TSCHINKEL, 2007).

No Klein Protokolle, estão incluídos vários relatórios dos seminários e de

anotações de discussões informais, registradas de forma resumida pelo próprio Klein,

sobre temas referentes aos métodos de trabalho de matemáticos e o desenvolvimento

desses profissionais, a construção de axiomas matemáticos, os erros matemáticos e

a posição da Matemática nas ciências. Observamos que nessas discussões Klein

utilizou a experiência de seu próprio desenvolvimento matemático, e a análise do

desenvolvimento do pensamento de Gauss (1777-1855), de Lie (1842-1899) e outros

matemáticos (CHISLENKO; TSCHINKEL, 2007). O que pode ser inferido que o relato

de experiências era uma das metodologias usadas para a análise e compreensão dos

processos de desenvolvimento do conhecimento de Matemática.

Conforme também descrevem Chislenko e Tschinkel (2007, p. 966), o Klein

Protokolle, volume nº 29, contém as anotações de quatro seminários realizados entre

1909 a 1912, três deles dedicados especificamente à Psicologia e o ensino da

Matemática. O tema geral desses três seminários foi: os pontos de interseção da

Matemática e da Filosofia; em que se propõe a discussão dos processos mentais que

acompanham os processos lógicos; em que Klein chama, simplesmente, de

psicológicos, como são vistos nas imagens digitalizadas, vide figura 2 e figura 3.

Observamos que se refere à interseção entre Matemática e Filosofia, mas trata

de assuntos de Psicologia, o que pode ser compreensível no sentido de que nesse

período a Psicologia como ciência estava ainda em processo de consolidação, sendo

vista como parte da Filosofia. O importante aqui é destacar que, na visão de Klein, a

aquisição do conhecimento de Matemática necessita ser analisada também à luz da

Psicologia.

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Figura 2 - Capa de Protocolos de Klein, volume 29 (1909-1012). Fonte: CLAY MATHEMATICS INSTITUTE – CMI, 2014

Figura 3 - Anotações dos seminários de Klein Fonte: CLAY MATHEMATICS INSTITUTE – CMI, 2014

Em relação ao processo de ensino da Matemática na escola secundária6, Klein

defendia que deveriam ser considerados os últimos resultados das pesquisas em

Psicologia, no desenvolvimento das aulas de Matemática, levando-se em

consideração o interesse do aluno, a aplicação dos conceitos e a graduação do

ensino, que deveria partir do intuitivo, ao abstrato, para que fosse facilmente

assimilável. Sua proposta era de que a Matemática fosse ensinada de maneira viva,

de modo mais significado, apresentada de forma relacionada com tudo aquilo que o

aprendiz pudesse se interessar, e com que utilizaria em sua vida. Essa era uma

compreensão do ensino relacionado, a partir dos níveis elementares, aos níveis

educacionais superiores (MIORIM, 1998; KLEIN, 1927). Essas concepções nos

remetem às teorias de ensino e aprendizagem que foram desenvolvidas mais tarde.

Klein afirmava que as universidades deveriam se preocupar com o ensino

preparatório, nas escolas. Necessitavam modificar a sua proposta de ensino nos

cursos de formação docente, levando-se em consideração as necessidades dos

futuros professores, de forma a lhes possibilitar não apenas o contato com assuntos

que iriam ensinar, mas, também, com os últimos desenvolvimentos da Matemática,

6 Níveis de ensino secundário e primário são termos utilizados equivalentes ao ensino médio e fundamental no contexto brasileiro

atual.

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em seus avanços científicos e tecnológicos. Acreditava que estudos avançados

estavam relacionados à mudança de qualidade de ensino nas escolas secundárias.

Defendia que o avanço no ensino da Matemática moderna, deveria reverter à

tendência de abordagens formais, abstratas unilateralmente à instrução matemática,

promovendo a instrução prática e o desenvolvimento da intuição espacial. E, que, os

novos princípios metodológicos de ensino possuíam a predominância de fundamentos

do ponto de vista psicológico (MIORIM, 1998; KLEIN, 1927; KLEIN, 1931;

SCHUBRING, 2013).

Referente à sua preocupação com a formação de professores notamos que o

seu interesse perpassou por todos os níveis educacionais e que deixou um legado de

sua experiência, no preparo de professores de Matemática, tanto em suas

publicações, como em palestras e cursos ministrados. Nesse sentido, destaca-se, na

descrição do perfil de Klein, registrado atualmente na Universidade de Göttingen. Na

galeria dos professores que pertenceram a essa Universidade, Klein é apresentado

como um pesquisador na ciência Matemática, um especialista em Geometria que

tornou esta Universidade centro de referência estudos da Matemática, em uma visão

global; e um professor de Matemática comprometido com o ensino, por ser um

defensor da reestruturação das aulas de Matemática, nas escolas, assumindo o cargo

de professor de Didática da Ciência Matemática, em Göttingen, sendo considerado o

primeiro professor nessa área em Universidades alemãs (GÖTTINGEN, 2014).

Com base nos estudos de Miorin (1998) e de Chislenko e Tschinkel (2007),

observamos que Klein dispensava importância ao processo de ensino e à formação

do professor de Matemática, considerando a Psicologia, em suas concepções, como

educador. Em toda a sua trajetória acadêmica, Klein revelou um comprometimento

com o desenvolvimento do conhecimento matemático avançado, tanto no fazer

ciência como no processo de tornar acessível esse conhecimento para todos. Os

registros históricos documentam ações efetivas, no sentido de promover pesquisas

matemáticas e de estabelecer reformas educacionais, no ensino de Matemática, em

todos os níveis educacionais, evidenciando-se que esses processos se

fundamentavam em uma visão interdisciplinar do conhecimento matemático e do

conhecimento da Psicologia, da época.

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3.2.3 Willian Henry Young e Grace Chisholm Young

Willian Henry Young (Londres, Inglaterra, 20 de outubro de 1863 — Lausanne,

07 de julho de 1942) e Grace Chisholm Young (Haslemere, Inglaterra, 15 de março

de 1868 – Croydon, Inglaterra, 29 de março de 1944), casal de pesquisadores que

formou uma parceria especial e produziu cerca de 220 artigos matemáticos, vários

livros, sendo seis voltados para crianças. Seus nomes estão registrados na galeria

dos pioneiros nos estudos de Educação Matemática.

Com relação à formação de Willian, precocemente foi reconhecido seu talento

e incentivado para os estudos em Matemática, pelo professor Edwin Abott Abott,

(1838-1926), Diretor de City of London School, onde iniciou sua vida escolar

(O'CONNOR; ROBERTSON, 2003; TANNER, Sd; YOUNG, Sd).

Em 1881, Willian foi para a Faculdade Peterhouse, na Universidade de

Cambridge para iniciar os seus estudos de graduação em Matemática. Embora fosse

uma das mais antigas Escolas, Hardy (1943) descreve que o sistema de educação

em Cambridge era deplorável e que o ensino universitário era de pouco valor, pois, os

professores eram inacessíveis e os estudantes necessitavam de um tutor privado de

Matemática. No caso dele, teve o acompanhamento do matemático Edward Routh

(1831-1907). Foi considerado um estudante excepcional, mostrando altas habilidades

em Matemática, destacando-se em relação aos demais. Mas, não conseguiu cumprir

as exigências da Universidade de Cambridge, em concluir com honras de primeira

classe, no terceiro ano do Tripos7 de Matemática. Ele concluiu no quarto ano, em

1884. O'Connor e Robertson (2003) explicam que ele, de modo consciente decidiu

que esse desafio era menos importante para ele, do que atender aos interesses

acadêmicos diversos.

Willian nem sequer apresentou um ensaio em Matemática para concorrer ao

Smith's Prize in Mathematics8, mas concorreu e ganhou o Prêmio Theological

Peterhouse. Uma decisão que pode ser associada à amizade com colegas, em

Peterhouse, com os irmãos George Herbert Westcott (1862-1928) e Foss Westcott

7 Tripos – era um exame escrito de cunho classificatório distintivo de estudantes de graduação da Universidade de Cambridge no Curso de Matemática.

8 Prêmio de Smith era o nome de cada um dos dois prémios atribuídos anualmente a dois estudantes de pesquisa em matemática e física teórica na Universidade de Cambridge a partir de 1769.

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(1863-1949), que o influenciaram, ao longo de sua carreira, levando-o a se interessar

por Teologia. Mais tarde, esses seus amigos que se tornaram bispos, na Índia, Foss

Westcott, em Calcutá, e George Herbert, em Lucknow, incentivaram Willian a trabalhar

nesse país como professor (HARDY, 1943).

Willian decidiu permanecer em Peterhouse e deliberadamente investiu no

ensino privado, prestando serviços como tutor, preparando os estudantes para o

Tripos de Matemática. Foi eleito membro do corpo docente de Peterhouse, designado

Professor Assistente, com vínculo institucional temporário, para ensino e pesquisa,

mas, no período de 1886 a 1892 em que permaneceu nessa instituição, ele não

apresentou nenhuma investigação em Matemática (HARDY, 1943; O'CONNOR;

ROBERTSON, 2003).

Willian foi descrito por Hardy (1943), em seu obituário, como o mais profundo e

original dos matemáticos, no período de 1917-1942. Os registros sobre sua carreira

profissional mostram que exerceu a docência nas matérias de Matemática, de História

da Matemática e de Filosofia, junto às Universidades de Cambridge, Universidade do

País de Gales, (1902-1905), Universidade de Londres, Universidade de Calcutá,

(1913-1917), Universidade de Liverpool, (1913-1919), como também prestou tutoria e

foi examinador em bancas de Matemática (O'CONNOR; ROBERTSON, 2003). Com

relação, ainda, à vida profissional Hardy (1943), e sua filha Rosalind Cecily Tanner

(S/d) chamam a atenção de que Willian Young não teve o reconhecimento na posição

de professor universitário no quadro permanente de uma faculdade ou universidade e

foi somente em 1939, em sua senescência, que a Faculdade Peterhouse, elegeu-o

como Professor Honorário.

Dentre os estudantes, tutelados por Willian, quando prestou serviços em

Cambridge, destacou-se Grace Chistolm; que, após retornar do doutoramento, em

1895, na Alemanha, estabeleceu uma profícua parceria na realização de pesquisas

em Matemática, a partir de 1896 pelo vínculo do casamento.

A seguir, descrevemos brevemente a formação acadêmica de Grace, para em

seguida, analisar a contribuição do casal, para a Educação Matemática.

Sobre a formação educacional inicial de Grace Chistolm, tem-se o registro de

que, como era costume da época na Inglaterra, ela e a irmã foram educadas em casa

pela mãe. Aos 10 anos de idade, teve uma governanta que passou a instrui-las, e

essa se constituiu em sua única educação formal inicial, uma preparação suficiente,

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para que pudesse, aos 17 anos de idade ser aprovada nos exames em Cambridge.

No interesse de continuar os estudos, aos 21 anos, desejou estudar Medicina, mas a

família achou que não era uma escolha adequada, o que pode ser entendido no

contexto da discriminação de gênero, na época. Consentiram que fosse estudar

Matemática em Girton College, a primeira faculdade para mulheres, estabelecida em

1869, pela Universidade de Cambridge (ALCAIDE, 2006/2007; OGILVIE; HARVEY,

2000).

Em 1889, quando ingressou em Matemática, o Girton College era o melhor

centro de estudos de Matemática, da época. Seu tutor de Matemática, como já

citamos anteriormente, foi William Henry Young, e teve como professor Arthur Cayley

(1821-1895). Assim, em 1892, graduou-se em Matemática, com as honras de primeira

classe (ALCAIDE, 2006/2007; OGILVIE; HARVEY, 2000; TANNER, S/d; YOUNG,

S/d).

Conforme relatou sua filha, uma vez que as mulheres não tinham a permissão

para os estudos de pós-graduação, nas universidades inglesas, naquela época, para

poder continuar seus estudos, Grace foi para Alemanha, sendo admitida pelo

Ministério da Cultura da Alemanha e aceita pela Universidade de Göttingen. Teve a

oportunidade de ser orientada por Felix Christian Klein (1849-1925), tornando-se sua

“discípula predileta”. Em 1895, concluiu o doutorado com a tese Algebraisch-

gruppentheoretische Untersuchungen zur sphärischen Trigonometrie, sendo a

primeira mulher a receber esse título, de modo formal, na Alemanha, (TANNER, S/d;

ALCAIDE, 2006/2007; RIDDLE, 2014a). Retornou logo para a Inglaterra, e em 1896

casou-se com William Henry Young.

Como descreve sua filha, Rosalind, (TANNER, S/d) teve início, então, uma

parceria por 44 anos, pessoal e profissional. Antes do casamento, seu pai Willian não

havia mostrado muito interesse em investigação, mas que, para a sua mãe Grace, a

pesquisa significava tudo para ela. Assim, formaram uma parceria de pesquisadores,

que se complementavam, um ao outro, na produção de trabalhos, de tal modo que é

provável que muitos dos artigos por ele publicado fossem os resultados de uma

colaboração de marido e mulher. Mas, o quanto foi o trabalho de um ou outro,

provavelmente, nunca será conhecido. Assim, embora Grace não empreendesse uma

carreira pública, dedicou-se aos estudos de Medicina e Línguas Estrangeiras, e às

pesquisas em Matemática e, também, à Educação Matemática e ao ensino de

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Ciências, (TANNER,S/d).

Entre as obras principais, identificadas pertencentes ao casal, The First Book

of Geometry, The Theory of Sets of Points, The Fundamental Theorems of the

Differential Calculus, destacamos a primeira. Esse livro The First Book of Geometry,

publicado em 1905, em Londres, foi também traduzido para o alemão e publicado em

Leipzig em 1908, sob o título - Der Kleine Geometer, e para o hebraico em Drenden

em 1921. Em 1970, foi reeditado sob o título – Beginner’s Book of Geometry,

textualmente manteve a mesma edição original exceto correções de erratas, e, após

65 anos em relação à primeira edição, causou surpresa pela sua modernidade,

(ALCAIDE, 2006/2007), sendo a edição atual de 2012, de The first book of Geometry,

apresentada em 46 páginas, em inglês, com ilustrações em preto e branco. Vide

ilustrações, Figura 4 e Figura 5. Ao considerarmos o contexto em que foi escrito esse

livro é importante lembrar que o período de passagem, do século XIX para o século

XX, foi um período em que ocorreram crises e conflitos referentes a reformas

educacionais, que estimularam os pesquisadores matemáticos a se interessarem pelo

ensino de Matemática, como o casal Young, que, provavelmente, também, foram

motivados pelos desafios inerentes à educação de seus filhos. Registra-se que, três

de seus seis filhos optaram pela carreira em Matemática: Rosalind Cecily Young,

(1900-1992, matemática, historiadora da Matemática); Helen Marion Kinnear Young,

(1903-1947, matemática); Laurence Chisholm Young, (1905-2000, matemático).

Na introdução desse livro, os autores apresentam uma avaliação do processo

metodológico do ensino de Geometria e os desafios enfrentados para a aprendizagem

de Geometria, que vinham ocorrendo nas escolas de Ensino Básico, em função da

formação dos professores e dos especialistas, ao afirmarem que:

O estudo de Geometria nas escolas secundárias e primárias padece consideravelmente a partir do fato de que os especialistas ainda não tenham adquirido o hábito de observação geométrica. Que na sua formação tem sido verificado, em sua maioria, que não tem sido incentivada, a prática natural de pensar em três dimensões. Em um certo sentido a Geometria Plana é mais abstrata do que a tridimensional, ou a chamada Geometria Sólida, (YOUNG e YOUNG apud RIDDLE 2014b). Tradução nossa.9

9 The study of Geometry at the secondary and primary schools suffers considerably from the fact that the scholars have not

previously acquired the habit of geometrical observation. What training they have had, has, for the most part, checked, and not encouraged, the natural practice of thinking in three dimensions. In a certain sense Plane Geometry is more abstract than three-dimensional, or so-called Solid Geometry (YOUNG; YOUNG, 1970, apud RIDDLE, 2014b).

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Figura 4 - Folha de Rosto de Beginner’s Book of Geometry Edição de 1970. Fonte: RIDDLE, 2014

Figura 5 - Capa de The first book of Geometry Edição de 2012. Fonte: Amazon Books, 2015

O Casal Young explica a importância de uma sequência didática, mais próxima

das experiências concretas, da prática do cotidiano, de uma percepção tridimensional

em contraposição à sequência didática usual que tem sido mantida, por considerar

que a Geometria tridimensional estava mais perto da experiência, por isso orientam

que é melhor começar o ensino de Geometria como uma parte de um sistema natural.

Sobre essa situação didática, explicam que uma das razões pelas quais a Geometria

Plana tem sido mantida em sua posição, como um caminho preliminar e independente

de estudo, é, provavelmente, por causa do valor didático do método de desenhar

diagramas, no plano no papel, ou no quadro-negro, ou seus equivalentes (YOUNG;

YOUNG apud RIDDLE, 2014b).

A proposta apresentada pelos autores é de que os estudantes devem construir

figuras espaciais, utilizando-se de: papel, lápis, pinos e tesoura. O livro traz muitos

diagramas de figuras tridimensionais, para serem recortados e construídos, com o

propósito de que o aprendiz se familiarize com as propriedades dessas figuras e que

as utilize como uma ajuda para visualizar os teoremas da Geometria.

Os autores argumentam que a proposta da prática que apresentam para as

atividades educacionais é potencialmente viável, porque não requer nenhum

equipamento especial e favorece o processo de ensinar e aprender. Destacam que a

forma de intervenção orientada somente necessita de cuidados e prática. Sobretudo,

mostram as vantagens de que os diagramas sugeridos poderão ser reproduzidos,

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quantas vezes forem necessárias, para que o escolar adquira a destreza, e, ao mesmo

tempo, torne-se familiarizado com as verdades que representam todos os diagramas.

Enfatizam que não se trata de um livro-texto, mas, um recurso para o professor ou

uma pessoa adulta que deseje dar assistência em orientar e dar suporte, e não

simplesmente instruir.

A partir do que observamos no texto, que tivemos acesso, desse pequeno livro,

percebemos que trouxe contribuições significativas para a época e para o presente,

pelas concepções psicológicas e didáticas implícitas. Esse material traz orientações

sobre o ensino de Geometria ao professor ou ao adulto que está interessado no

processo de formação de conceitos do aprendiz. Nesse sentido, evidenciamos a

concepção de que o ensino mediado pela experiência, por meio da manipulação de

objetos concretos, favorece a construção dos conceitos de Geometria. Entendemos

que essa proposta metodológica de ensino aponta caminhos para a formação de

conceitos científicos de Geometria, considerando-se o desenvolvimento do aprendiz.

Acreditamos que essa obra não tem apenas um valor histórico, mas, representa

um legado deixado por educadores que, pela reflexão de sua experiência na prática,

como pais e professores pesquisadores de Matemática, contribuíram para o

desenvolvimento daqueles aprendizes que estavam sob a sua responsabilidade, e, ao

compartilharem os seus conhecimentos, promoveram o desenvolvimento do

conhecimento de Educação Matemática, sobretudo, na perspectiva da formação de

professores de Matemática.

3.2.4 John Dewey

John Dewey (Burlington, Estados Unidos, 20 de outubro de 1859 – New York,

Estados Unidos, 01 de junho de 1952) foi reconhecido, nos registros históricos, como

filósofo, psicólogo e educador, por suas contribuições: na fundação da corrente

filosófica do pragmatismo; na formação da primeira escola psicológica americana, o

funcionalismo; no desenvolvimento da Psicologia da Educação, no final do século XIX

e metade do século XX; e no desenvolvimento da Escola Progressista (MARX; HILLIX,

1973; HEIDBREDER, 1981; HALL, 2003; BREDO, 2003; WESTBROOK; TEIXEIRA,

2010; WARDE, 2013). Seu nome foi incluído aqui pela influência de suas concepções

educacionais na formação de professores, na metodologia de ensino e na produção

de livros didáticos para o ensino de Matemática.

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Estudou na Universidade de Vermont, no período de 1875-1879, concluindo

Bachelor of Arts - BA. Em 1882, Dewey deu início a dois anos de estudos na

Universidade de John Hopkins, a primeira instituição nos Estados Unidos a organizar

os estudos universitários, com base no modelo alemão (BREDO, 2003) e

(WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010). Sob a orientação de George Sylvester Morris,

(1840-1889), um idealista neo-hegeliano, Dewey realizou todos os cursos por ele

oferecidos, obtendo o título de Doctor of Philosophy, com uma tese sobre a Psicologia

de Kant, em 1884. Chama a atenção pelo fato de que, na sua época, foi um dos

poucos intelectuais a realizar todo o seu ciclo de formação nos Estados Unidos

(BREDO, 2003; WARDE, 2013).

Iniciou sua carreira docente na área de Filosofia, na Universidade de Michigan,

ensinando no período de 1884-1888, acompanhando Morris. Em 1888, foi para a

Universidade de Minnesota, e atuou como professor de Filosofia Mental e Moral, por

apenas um ano. Posteriormente retornou para a Universidade de Michigan e assumiu

a direção do Departamento de Filosofia, em 1889, após a morte de Morris. Em 1894,

a partir do convite de William Rainey Harper, (1856-1906), primeiro reitor da

Universidade de Chicago, torna-se Diretor do Departamento de Filosofia, Psicologia e

Educação (BREDO, 2003; WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010).

No período em que trabalhou na Universidade de Chicago, Dewey além da

Direção desse Departamento, também foi responsável pela Escola Laboratório

(Laboratory School) e o Departamento de Pedagogia. Ministrou disciplinas de

Filosofia, Psicologia e Educação e, sob a sua coordenação departamental, promoveu

o desenvolvimento de estudos conjuntos de: Filosofia, Psicologia e Pedagogia.

Em 1904, foi para Universidade de Columbia onde deu continuidade ao ensino

e pesquisa, permanecendo até 1930 (WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010).

Para que possamos contextualizar as contribuições de Dewey, foram

assinalados, dentre os seus contemporâneos, três pessoas que tiveram influência

marcante sobre o seu pensamento, a saber: Granville Stanley Hall (1844-1924),

psicólogo, professor na Universidade Johns Hopkins, cujos seminários foram

acompanhados por Dewey, na época da sua formação, e que o influenciou para que

adentrasse nas pesquisas com experimentos, uma tendência em fins do século XIX,

nos Estados Unidos, baseada na Psicologia Experimental e Teórica de Wilhelm Wundt

(1832-1920), da Alemanha, chamada de Nova Psicologia, para distinguir da

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Psicologia, como ramo, ou tópico da Filosofia; William James (1842-1910), médico e

psicólogo americano, da Universidade de Harvard, com seu livro Principles of

Psychology, publicado em 1890, que o conduziu a mudanças no direcionamento dos

estudos em Psicologia e no seu pensamento filosófico; Georg Herbert Mead (1863-

1931), da Universidade de Chicago, filósofo e psicólogo, pertencente à Escola de

Sociologia de Chicago, de quem foi colega de docência e amigo particular, que o

influenciou no enfoque da Psicologia Social, para uma mudança de direcionamento

em seus estudos, voltando-se aos temas sociais (DEWEY, 1939; BREDO, 2003;

WARDE, 2013).

Dewey criou a University Laboratory School, ou demonstration school (termo

traduzido por diversos autores por escola laboratório ou escola experimental) como

um meio de testar as novas teorias psicológicas e pedagógicas na prática, voltadas

para o nível do Ensino Básico. Apresentava o propósito de estabelecer as relações

entre teoria e prática, em um centro de experimentação, com o objetivo de testar

princípios e métodos de ensino, defendidos por ele, e de desenvolver a teoria junto à

prática.

A partir da concepção da escola, como comunidade, a Educação, como

processo de interação, em que se desenvolvem as práticas de cooperação e as

atividades escolares como um estágio intermediário entre o lar e sociedade, Dewey

defendeu uma escola ativa, que propunha a aprendizagem, por meio das atividades

pessoais, em que fossem apresentadas questões problema significativas para o

aprendiz, para serem resolvidas por ele. Dewey se contrapôs, ao contexto escolar de

transmissão de conhecimento, em recitar, repetir e memorizar e enfocou o processo

de ensino e de aprendizagem, numa perspectiva psicológica, em que a experiência

concreta é vital, por ser um meio para a formação de conceitos e para se aprender a

aprender (DEWEY, 1976; WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010; SHULTZ; SHULTZ, 2014).

A produção acadêmica de Dewey foi extensa e significativa, versando, em

várias temáticas da Filosofia, Psicologia e Educação, conforme pode ser observado

numa coletânea de suas obras, organizada por Jo Ann Boydston (2008) The Colleted

Works, 1882-1953 John Dewey, contendo 16 volumes e hoje está disponibilizada

também na forma eletrônica10. Essa coletânea é composta de artigos nos enfoques

10 http://www.nlx.com/collections/133

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de Psicologia da Educação e Filosofia da Educação. Identificamos dois dentre os seus

artigos que são relacionados à Matemática, em que Dewey estabelece a relação entre

a Lógica e a Psicologia, no ensino de Matemática – The Psychological and the logical

in the Teaching Geometry (1903)11 e Mathematical Discourse (1938). Relacionados

ao ensino de Psicologia para a formação de professores, localizamos as obras Text-

Book of Psychology (1884) e Psychology (1887), e de modo representativo, para o

conhecimento de Educação Matemática identificamos o livro The Psychology of

Number and Its Applications to Methods of Teaching Arithmetic (1895), sendo que,

nesse último Dewey foi co-autor de James Alexander McLellan. Pela sua relevância,

na história da Educação Matemática e pela visão deweniana, de que os livros são

instrumentos na experiência e aprendizagem, apresentamos no próximo item 3.2.5 os

comentários sobre as contribuições dessa obra. A seguir vide figura 6, ilustrações de

capa de exemplares da Colleted Works, 1882-1953 John Dewey.

Dewey influenciou, de forma determinante o pensamento pedagógico

contemporâneo americano, principalmente, nas primeiras décadas do século XX. A

sua preocupação de uma Educação que visa à formação do “homem completo”:

focando o processo de desenvolvimento e não o produto; e tendo, como objetivo, o

processo de reconstrução e reconstituição da experiência na direção da melhoria do

processo contínuo de busca da eficiência individual (CAMPOS; PESSOA, 2011).

Figura 6 - Exemplares da The Colleted Works, 1882-1953 John Dewey, V 6 e V 2. Fonte: Indiana University Libraries

11 Since this article was written there has appeared in print (Science, March 13, 1903) the identical adress of Professor E. H. Moore, entitled “On the Foundations of Mathematics”.

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Associado às concepções da Educação de Dewey, está o movimento

crescente de uma prática reflexiva docente (SCHÖN, 1995). Conforme explicam

Campos e Pessoa (2011, p. 190), na concepção de Dewey “[...] o processo de reflexão

de professoras e professores se inicia no enfrentamento de dificuldades que,

normalmente, o comportamento rotineiro da sala de aula não dá conta de superar. ”

O desafio de uma situação inusitada gera a instabilidade e a análise das experiências

anteriores. O desenvolvimento de uma análise reflexiva tem uma função instrumental,

envolvendo a intuição, a emoção e a paixão, visando, de forma intensa, ativa e

persistente, a encontrar caminhos para práticas racionais, baseadas em suas

concepções e crenças educacionais. Sua finalidade é prover meios mais adequados

de comportamento, para enfrentar essas situações de desafios, no cotidiano escolar.

Dorigon e Romanowski (2008, p. 10), ao explicarem o processo de reflexão,

na perspectiva deweniana descrevem que:

O pensamento reflexivo tem uma função instrumental, origina-se no confronto com situações problemáticas, e sua finalidade é prover o professor de meios mais adequados de comportamento para enfrentar essas situações. Quando surge uma situação que contenha uma dificuldade ou perplexidade, podemos contorná-la ou enfrentá-la e assim começamos a pensar e refletir, forçosamente, começamos a observar para analisarmos as condições. Essas condições constituem-se em fatos a serem tratados, e, tecnicamente, esses fatos observados são chamados de dados. Esses dados formam o material a ser interpretado, explicado; as soluções que a observação sugere para resolver as dificuldades formam as ideias, sendo assim, os dados (fatos) e as ideias, são os dois fatores indispensáveis e correlativos da atividade reflexiva e são, respectivamente, providos pela observação e pela inferência.

O pensamento reflexivo, segundo Dewey, requer esforço consciente e

voluntário do sujeito, e nele está atrelada a lógica da razão e a emoção. A ação

reflexiva possibilita uma visão mais ampla na percepção dos problemas e das

alternativas viáveis de soluções. Nessa perspectiva, com base nas ideias de Dewey,

Schön desenvolveu os seus estudos sobre a formação de profissionais reflexivos

(LAROCCA, 2002a; GUERRA, 2003; CAMPOS; PESSOA, 2011).

Portanto, o legado de Dewey se constitui em uma concepção de Educação, que

enfoca o processo de desenvolvimento do aprendiz, em sua experiência concreta, na

direção de melhoria do processo contínuo, da eficiência individual e da compreensão

do processo de reflexão de professores, na prática, favorecendo o desenvolvimento

profissional do professor, em sua própria experiência.

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3.2.5 James Alexander McLellan

James Alexander McLellan (Shubenacadie, Canadá, 1832 – Toronto, Canadá,

11.08.1907) educador e escritor. Foi descrito, no final de sua vida em 1907, como um

dos educadores mais importantes do Ontário, conforme registros nos documentários

históricos de Lanning (2003). Em sua atuação docente, ao longo dos anos, passou

por todos os níveis educacionais, e se destacou por seu papel na formação de

professores, trazendo contribuições na área de Educação, principalmente às áreas de

Matemática e Psicologia.

Iniciou seus estudos na Nova Escócia, e começou cedo sua carreira de

professor, aos 15 anos de idade, bem como também de forma precoce iniciou uma

trajetória como administrador escolar, aos 24 anos, assumindo, em 1956, o cargo de

Diretor da Central School em Oshawa, no Canadá. Obteve o certificado da Normal

School, em 1857, e, em 1858, foi nomeado professor para a Central School em St

Marys, onde permaneceu até 1960, quando ingressou na Universidade de Toronto.

Em 1861, lecionou na St Marys Grammar School e, no ano seguinte, 1862, e tornou-

se Diretor nesta instituição. Concluiu o curso de Bachelor of Arts – BA, em 1862, e o

de Master of Arts – MA, em 1863.

No período de 1864 a 1869, McLellan foi o Diretor do Yarmouth Seminary, onde

ensinou Matemática, História Inglesa e Gramática. Em 1869, voltou para Ontário e foi

professor no Upper Canada College, por dois anos.

Em 1871, foi nomeado inspetor da High Schools e, em 1875, Diretor da Normal

Schools em Ontário. Mudou-se para Toronto, em 1890, ao ser nomeado Diretor da

School of Pedagogy e depois, transferiu-se para Hamilton, em 1897, exercendo a

direção do Ontario Normal College e a docência em Psicologia, História e Filosofia da

Educação.

Lanning (2003), descreve que a contribuição de McLellan, como educador foi

principalmente em Matemática e Psicologia. O seu lema – “Learn to do by Knowing

and to Know by Doing12” (MCLELLAN, 1889, p. folha de rosto) revela as suas

concepções psicológicas e educacionais, ligadas ao pragmatismo americano, como

12 “Aprenda fazer pelo conhecimento e conhecer pelo fazer” (tradução nossa)

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John Dewey.

McLellan publicou as seguintes obras, na área de Matemática: Mental

Arithmetic – Part I Fundamental Rules, Fractions, Analysis – (1878); Mental Arithmetic

– Part II Percentage and its Applications Various Rules, General Analysis; The

teacher's hand-book of algebra; containing methods, solutions and exercises

illustrating the latest and best treatment of the elements of algebra – (1878). Trata-se

de livros de atividades em Aritmética e em Álgebra, como proposta inicial, de acordo

aos princípios metodológicos defendidos, na perspectiva pragmatista.

Suas obras revelam o seu envolvimento com o processo de Educação

Matemática, sobretudo, evidenciando em suas explicações o valor da Psicologia no

ensino da Matemática. O seu livro Applied Psychology an Introduction to the Principles

and Pratice of Education (MCLELLAN, 1889), é um compêndio escrito, a partir de suas

palestras para professores e inspetores, sobre Psicologia, Princípios e Práticas de

Educação. Esse livro foi utilizado como texto básico na Normal College, ou seja, aos

estudos de formação de professores, em uma abordagem pragmática. Evidencia, no

prefácio, uma intencionalidade de fazer uma mediação introdutória entre o

conhecimento de Psicologia, na época, e uma Psicologia aplicada ao cotidiano do

Ensino Fundamental, tendo como referência o livro Psychology de Dewey (1887).

Observamos que de forma explícita, no capítulo XII Outline Methods in Special

Subjects, na parte em que trata sobre Aritmética propõe um trabalho em consonância

com os princípios psicológicos para o ensino da Aritmética, como pode ser visto no

sub-título: Remarks on General Principles of the Method.—It is strictly in line with

psychology (MCLELLAN, 1889, p. 296). Vide

Figura 7.

McLellan e Dewey publicaram, em parceria, em 1895, The Psychology of

Number and Its Applications to Methods of Teaching Arithmetic, o exemplar 33

pertencente ao volume XXXIII da International Education Series, em 1895, organizada

por William Torrey Harris, (1835-1909), da United States Commissioner of Education,

um projeto com o propósito de agrupar, de forma organizada, os melhores escritos,

antigos ou novos sobre Educação, apresentando um curso completo de leitura e

preparação de professores, em geral.

Na época em que o livro foi publicado, Dewey ainda era professor, na

Universidade de Chicago e McLellan era Diretor da School of Pedagogy, em Toronto.

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(a) (b) (c)

Figura 7 - Folha de rosto (a), p.1- Introduction de Applied Psychology an to the Principles and Pratice of Education (b) e p. 296 (c). Fonte: INTERNET ARCHIVE

Essa obra, em especial, é citada como um dos passos para o desenvolvimento

da Educação Matemática, como novo campo de pesquisa (IGLIORI; D’AMBRÓSIO,

et al, 2004). Figura em diversas publicações de artigos, em dissertações e teses na

área de Educação Matemática, como um dos ícones relativos à constituição da área

de Educação, embora, sem um aprofundamento a respeito de sua relevância histórica

e contribuições ao desenvolvimento dessa área. Nesse sentido, os estudos de Rabelo

(2012a; 2013; 2014) apontam que, ainda, têm sido escassos os comentários ou as

análises sobre as questões propostas nesse livro, e as informações se restringem,

basicamente em pontuar como referência histórica.

Essa obra não foi traduzida para o português, mas está disponível e de fácil

acesso em língua inglesa. Chama atenção, também, pelo fato de que continua sendo

reimpressa, até atualidade, evidenciando que existe certo interesse histórico, ainda

hoje, em seu conteúdo educacional. Vide Figura 8 e Figura 9.

Ao examinar a primeira edição de 1895, observamos que o livro é composto de

16 capítulos, e 309 páginas, que tratam a respeito do conceito de número e os

métodos de ensino de Aritmética. William Torrey Harris (1835-1909), o editor, no

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prefácio, destaca a relevância desse livro para o ensino de Aritmética, por apresentar

novos métodos com bases psicológicas, e os autores, em seu prefácio, enfatizam a

contribuição social da obra, para inclusão dos aprendizes no conhecimento de

Aritmética.

Figura 8 - Folha de Rosto de The Psychology of Number and Its Applications to Methods of Teaching Arithmetic 1895. Fonte: Harvard University

Figura 9 - Capa de The Psychology of Number and Its Applications to Methods of Teaching Arithmetic 2013. Fonte: Amazon.com

Os autores apresentam, no primeiro capítulo, a importância do conhecimento

de Psicologia para a preparação do professor - What psychology can do for the

teacher. Postulam que a educação é um processo racional, em harmonia com as leis

do desenvolvimento psíquico, argumentam a relevância do estudo em primeiro lugar

pelo valor disciplinar para o professor e, em segundo lugar, pelo valor para o professor,

em sua escuta, na formação prática profissional. O que revela a preocupação dos

autores, no convencimento aos professores, para a realização de uma metodologia

de trabalho educacional, pautada no conhecimento científico e que, nesse sentido

tem-se a contribuição da Psicologia da Educação. A partir do segundo capítulo, é

destacada a relação do conhecimento psicológico, na compreensão do

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desenvolvimento do conceito de número e de operações, referentes aos conteúdos

de adição, subtração, multiplicação, divisão, medida, fração e porcentagem. Segue

uma proposta teórico-metodológica pautada em concepções psicológicas e

educacionais, do pragmatismo deweiniano, para o ensino de operações aritméticas.

É interessante notar que, de modo semelhante ao livro Applied Psychology an

Introduction to the Principles and Pratice of Education de McLellan (1889) inicia

enfatizando a importância da Psicologia para a Educação e as bases dos

conhecimentos psíquicos, para o professor.

A partir da afirmação “Whe have here tacitly assumed that number is a psychical

product, and has a psychical reason for its origen”13 (MCLELLAN; DEWEY, 1895, p.

23) Rabelo (2014), em seus estudos analisa que os autores afirmam que, quanto à

origem, o número é de natureza psíquica, constituindo-se num processo racional e

não senso-perceptivo. Ao considerar que objetos e sua percepção, bem como a

percepção da multiplicidade das coisas, não se constituem em número, e nem implica

a consciência do número. Quanto à formação do conceito de número, Rabelo (2014),

interpreta que para os autores a consciência de número se desenvolve no processo

de quantificar, numerar e medir.

Os autores propõem que as relações entre aluno e professor sejam

cooperativas, e orientam que o ensino de Aritmética ocorra de forma integrada às

outras disciplinas, em oposição ao formalismo do ensino de Matemática (IGLIORI;

D’AMBROSIO, et al., 2004).

Aparece também nesse livro, como em outros escritos de Dewey, o conceito

de reflexão, como um processo que envolve abstração e generalização. O

pensamento reflexivo tem uma função instrumental, e o conhecimento de Psicologia

contribui para o desenvolvimento do pensamento reflexivo, favorecendo a preparação

e autonomia dos professores para uma experiência na prática reflexiva.

Assim, percebemos que é um livro destinado à formação de professores que

ensinam Matemática, em nível da Escola Básica. Entendemos a proposta

metodológica dos autores para a aprendizagem da conceptualização de número,

calcada na experiência do aprendiz e na reconstrução da experiência, a partir de

resolução de problemas, na perspectiva das ciências psicológicas.

13 Nós temos aqui tacitamente assumido, que o número é um produto psíquico, e tem uma razão psicológica para origem dele, (tradução nossa).

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As obras de Dewey e McLellan se constituíram em referencial, para que outras

obras, no enfoque do ensino na área de Matemática, fossem produzidas. O livro The

Psychology of Number and Its Applications to Methods of Teaching Arithmetic, serviu

de base, nessa mesma época, para a publicação de livros didáticos elaborados para

uma prática educacional de Matemática, na perspectiva do pragmatismo funcionalista.

Foram localizadas as seguintes publicações de James Alexander McLellan, em

parceria com Albert Flintoft Ames, no período de 1897-1902: The public school

arithmetic, (MCLELLAN; AMES, 1897); The primary public school arithmetic,

(MCLELLAN e AMES, 1899); The public school mental arithmetic, (MCLELLAN;

AMES, 1899); e, The public school arithmetic for grammar grades, (MCLELLAN;

AMES, 1902).

Nessas séries didáticas de Matemática, conforme são enunciados, na folha de

rosto e no prefácio, os autores seguem o método de ensino proposto por Dewey e

McLellan, e segundo os próprios autores, esse seria o diferencial em relação a outros

livros do gênero. Respondem, em especial, à demanda dos professores que

estudaram as propostas metodológicas de The Psychology of Number.

Portanto, aqui, afirmamos que James Alexander McLellan nos deixou um

legado, em relação à contribuição da Psicologia, no ensino de Matemática e na

formação de professores, que ensinam Matemática.

3.2.6 Albert Flintoff Ames

Albert Flintoff Ames (Ontário, Canadá, 1861 – 1931) foi matemático,

administrador escolar, e coautor de livros de Matemática com McLellan, baseados nas

ideias de Dewey.

Frequentou a Universidade de Toronto (1878-1882), onde obteve a sua

formação inicial como matemático, concluindo o Bachelor of Arts – BA, aos 21 anos

de idade. Foi professor de Matemática, no St Thomas Institute Collegiate em Toronto,

Ontário, durante seis anos (1882-1888), período em que se presume que tenha

conhecido McLellan, já, na condição de educador mais experiente, com o qual,

posteriormente, tenha mantido a correspondência e parceria na produção dos livros

didáticos. Aos 27 anos, foi nomeado pelos Membros do Conselho de Educação de

Riverside, superintendente The Village in a Park, no subúrbio de Riverside em

Chicago, Illionois. Permaneceu nesse cargo, administrando a Riverside Public

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Schools District 96, durante 43 anos, permanecendo, até o final da vida, aos 70 anos

de idade (AMES, 1976).

O filho de Ames (AMES, 1976, p. 7 e 12), no registro das memórias sobre o pai,

descreve que sua especialidade era a Matemática, e que seu interesse profissional foi

o ensino da Aritmética, destacando que os textos produzidos em coautoria com

McLellan foram revolucionários em seu tempo, e que foram largamente publicados e

usados na virada do século XIX para o século XX. Explica que a colaboração

McLellan-Ames surgiu, a partir do respeito mútuo, pela competência acadêmica, de

um para com o outro, e de um interesse profissional compartilhado. Tinham o

propósito, em comum, de experimentar novos métodos destinados à melhoria no

campo da Pedagogia da Matemática. Refere que eles utilizaram uma abordagem

pragmática, e fizeram do estudo da Aritmética, uma atividade que trouxesse satisfação

ao aluno, ao invés de um trabalho penoso. Esse propósito se aplica especialmente

aos livros didáticos que publicaram, entre 1897 e 1902.

Em parceria com James Alexander McLellan, registram-se as obras de Albert

Flintoft Ames, no período de 1897-1902: The public school arithmetic (MCLELLAN;

AMES, 1897); The primary public school arithmetic (MCLELLAN; AMES, 1898); The

public school mental arithmetic (MCLELLAN; AMES, 1899); e, The public school

arithmetic for grammar grades (MCLELLAN; AMES, 1902). Vide Figura 10, Figura 11,

Figura 12 e Figura 13.

Com relação às suas realizações, além de superintendente, foi mestre de

gerações de alunos e formador de professores, em Riverside. Valorizava a qualidade

de ensino, criando oportunidades para que os professores participassem de

conferências sobre metodologia de ensino. Promovia uma política educacional de

oportunidades de formação em serviço, condições de salas especiais de trabalho,

salários atrativos e crescimento profissional aos professores, de modo inovador para

a época (AMES, 1976).

Sobre as suas concepções, a sua filosofia educacional foi fundamentada na

ênfase sobre qualidade do ensino e sobre a consideração da capacidade de um

professor em conduzir cada criança, em seu melhor desempenho, que essa criança

seja capaz. Evidencia, na apresentação dos seus livros, uma concepção de que o

ensino da Aritmética deve ser centrado na criança, e de que a mera memorização, é

um desperdício de tempo e talentos, gerando mal-estar. Inclusive no sistema

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Riverside era considerada a possibilidade de o processo educativo ser acelerado, era

permitido ao estudante pular classes, se o nível de aprendizagem justificasse essa

promoção.

Figura 10 - Folha de rosto The public school arithmetic (1897). Fonte: Internet Archive.

Figura 11 - Folha de rosto The primary public school arithmetic (1899). Fonte: Internet Archive.

Figura 12 - Folha de rosto The public school mental arithmetic (1899). Fonte: Internet Archive.

Figura 13 - Folha de rosto The public school arithmetic for grammar grades (1902). Fonte: Internet Archive

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A metodologia proposta teve como objetivo despertar o interesse do aluno e

melhorar a capacidade do professor em desenvolver o assunto de Aritmética por "um

meio incomparável de disciplina mental" (AMES, 1976, p. 9 e 14). Desenvolveu, na

prática, a filosofia de Dewey, no sentido de transformar a Aritmética, de um exercício

ensinado mecanicamente em um conhecimento significativo, ao considerar a idade e

a experiência do aluno. Essa proposta foi realizada em Riverside com uma

organização de salas para as atividades docentes e para as diversas atividades

integradas ao ensino de Aritmética e de Gramática, tais como: Música, Economia

Doméstica, Artes e Ofícios.

É interessante, ainda, com base nos registros, destacar que eram realizados

em Riverside, trabalhos de pesquisa educacional com o uso de testes de inteligência,

como guias, para avaliar o crescimento dos alunos; e também as filosofias e métodos

foram desenvolvidos, de forma fundamentada, nos estudos de Dewey, sem que os

educadores fossem dogmáticos, sendo os métodos adequados à viabilidade do

sistema de Reverside (AMES, 1976).

Como também, é importante ressaltar a influência das obras de Dewey e

McLellan. William C. Lowry, professor da Educação no Curry Memorial School of

Education, da Universidade da Virgínia, em Charlottesville (1975, apud AMES, 1976,

p.16) faz uma análise afirmando que:

Parece que o impacto do trabalho de Dewey e McLellan e seus seguidores tendeu a ser eclipsado pela teoria conexionista de Thorndike durante a primeira parte do século 20. Muitas pessoas percebem hoje que foi lamentável a aceitação da psicologia de Thorndike e a sua influência na aritmética da escola primária durante a primeira metade do século 20.

No memorial sobre Ames, aparece a expressão – morreu “no chicote” aos 70

anos, isto é, estava em plena atividade de trabalho (AMES, 1976).

A contribuição de Ames foi sintetizada, na descrição feita em seu memorial,

escrito por seu filho – Ele foi quem ajudou a aplicar a filosofia do educador John

Dewey pela transformação do ensino do exercício aritmético em termos significativos

em relação à idade e à experiência do estudante (AMES, 1976).

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3.2.7 Georgia Alexander

Georgia Alexander (1868-1928) superintendente distrital das escolas de

Indianapolis, esse nome é citado nessa tese devido às suas publicações realizadas

em parceria com John Dewey, relacionadas ao ensino de Matemática.

Poucas informações foram possíveis localizar na trajetória dessa educadora,

além das suas publicações no período de 1921-1922, os três livros: The Alexander-

Dewey arithmetic-elementary book – (ALEXANDER, 1921a); The Alexander-Dewey

arithmetic-intermediate book (ALEXANDER, 1921b); e The Alexander-Dewey

arithmetic - advanced book (ALEXANDER, 1921c). Mas, consideramos relevante por

suas obras estarem relacionadas à concepção do ensino da Matemática. Vide Figura

14, Figura 15 e Figura 16.

Com base na folha de rosto/contracapa dos livros consultados da autora é

possível identificar que era superintendente distrital das escolas de Indianapolis. No

Prefácio das obras Alexander (1921-1922) é esclarecido que, entre a autora e o editor

John Dewey, houve parceria na produção dos livros didáticos. Avaliou o texto, orientou

os princípios norteadores, fez sugestões e foi corresponsável pela sua edição final.

Apresenta que a série de livros foi desenvolvida a partir da compreensão de como o

ensino da Matemática na escola democrática deve funcionar; em que se evidencia o

ideário defendido sobre a formação dos estudantes, no sentido de um pensamento

autônomo para preparação para a vida, a habilidade de cálculo e o exercício da

cidadania, culminando, mais tarde, com sua aplicação a situações novas e concretas.

Explica que, para elaboração do texto, os exercícios propostos foram testados,

previamente, em sala de aula sob a supervisão direta da autora; sendo consideradas

as críticas e sugestões, até que estivessem satisfatórios; e que a concepção

metodológica do livro é indutiva, contendo exercícios para que a criança resolva

sozinha. Vide Figura 17, ilustração da folha de rosto.

Lennes e Jenkins (1921), na edição de 8 de outubro de 1914, do The Journal

of Education, comentam que, nos livros didáticos da época mostravam-se duas

tendências características: a ênfase na socialização de materiais de Aritmética, e; a

ênfase na perspectiva do movimento de mensuração, com a apresentação de uma

grande quantidade de exercícios práticos padronizados, e testes para verificação do

progresso do aluno.

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Na série de livros de Alexander e Dewey os autores nos informam que pode

ser encontrado um material preparado, com ênfase na socialized recitation, para se

desenvolver a iniciativa de julgamento, nos alunos. Foram utilizadas narrativas de

histórias de situações familiares, e do cotidiano, na apresentação de exercícios, e

cinquenta por cento do trabalho é proposto para ser executado sem o uso do lápis.

Vide Figura 17, como exemplo, uma atividade matemática proposta nesse livro.

Figura 14 - Folha de rosto: The Alexander-Dewey arithmetic-elementary book. Fonte: Hathi Trust Digital Library.

Figura 15 - Folha de rosto: The Alexander-Dewey arithmetic-intermediate book. Fonte: Hathi Trust Digital Library.

Figura 16 - Folha de rosto: The Alexander-Dewey arithmetic - advanced book. Fonte: Hathi Trust Digital Library.

Com relação aos livros desses autores, Lennes e Jenkins (1921) avaliam que,

a parceria entre uma diretora educacional e um brilhante filósofo educacional resultou

na produção de um livro didático como resultado de suas experiências e de teorias

voltadas para realização dos ideais da promoção educacional eficiente, no ensino

elementar de número.

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Figura 17 - Exemplo de Atividades de Aritmética propostas no The Alexander-Dewey arithmetic-elementary book. Fonte: Alexander (1921a).

3.2.8 Eliakim Hastings Moore

Eliakim Hastings Moore (Marietta, Estados Unidos, 1862 - 1932) matemático,

retratado nos registros da AMS (American Mathematical Society), como profissional

na fronteira dos interesses entre pesquisa em Matemática e os métodos pedagógicos

de Matemática, em todos os níveis educacionais.

Moore estudou em Woodward High School, em Cincinnati, Ohio, nos anos de

1876-1879, e nesse período foi assistente de Ormond Stone (1847-1933), Diretor do

Observatório de Cincinnati. Esse professor valorizava a Matemática, sendo uma

inspiração para despertar o interesse pelos estudos de ciência. Em 1879, Moore

ingressou na Universidade de Yale, nos cursos de Matemática e Astronomia. Teve um

desempenho acadêmico, com brilhantismo e premiações, e se definiu pela área de

Matemática recebendo o Bachelor of Arts – BA, em 1883. Permaneceu em Yale, para

estudar para o doutorado, sob a orientação de Hubert Anson Newton (1830-1896),

concluindo o estudo, em 1885. Em seguida, seu orientador, profundamente

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impressionado com a capacidade do jovem matemático, financiou uma viagem de

estudos para Moore, na Alemanha (BLISS; DICKSON, 1935; BLISS; DICKSON, 2012;

O'CONNOR; ROBERTSON, 2001; CHANG, 2010; HERN, S/d).

Com relação aos estudos, nas Universidades de Göttingen e Berlim, os autores

Bliss e Dikson (1935; 2012) referem-se que encontraram escassas informações sobre

esse ano que Moore passou na Alemanha. Os dados registram que ele foi primeiro

para Göttingen, no verão de 1885, onde estudou a língua alemã e se preparou para o

inverno de 1885-6, em Berlim. Entre os professores de Matemática mais proeminentes

em Göttingen, naquela época, destacavam-se Wilhelm Eduard Weber, (1804-1891),

Herman Amandus Schwarz (1843-1921), e Feliz Klein (1849-1925), e em Berlim, Karl

Weierstrass (1815-1897) e Leopold Kronecker (1823-1891); o trabalho de Kronecker

o impressionou, assim como os métodos rigorosos de Weierstrass e Klein, no período

que estavam em Leipzig. Evidencia-se que, esse ano no exterior, influenciou a sua

carreira, como matemático, educador e pesquisador, bem como o colocou no círculo

internacional de matemáticos (O'CONNOR; ROBERTSON, 2003; CHANG, 2010;

HERN, S/d)

Quando Moore retornou aos Estados Unidos, iniciou a carreira como professor

e pesquisador. Seu primeiro cargo docente foi como instructorship na Universidade

de Northwestern, entre 1886-1887. A seguir, foi tutor de Matemática, por dois anos,

na Universidade de Yale. Em 1889, voltou a Northwestern, como professor assistente,

e, em 1891, assumiu o cargo de professor assistente. No ano seguinte, 1892, casou-

se com Martha Morris Young, e mudou de unidade de trabalho. O primeiro reitor da

recém-fundada Universidade de Chicago, William Rainey Harper (1856-1906) nomeia-

o como professor e chefe interino do Departamento de Matemática. E desde 1896, até

sua aposentadoria em 1931, permaneceu na posição de responsável por esse

Departamento (BLISS; DICKSON, 1935; BLISS; DICKSON, 2012; O'CONNOR;

ROBERTSON, 2003; CHANG, 2010; HERN, S/d).

Moore é reconhecido como um dos matemáticos seminais de sua época, pela

sua contribuição como pesquisador, mas, como o foco deste estudo não é

especificamente as suas obras em ciência matemática, apenas indicamos que as

referências, sobre sua profícua produção, estão destacadas no memorial elaborado

por Bliss e Dikson (1935; 2012), e grande parte desse material é encontrado em

Celebratio Mathematica, uma organização que disponibiliza publicações e

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documentos valorizados, em Matemática e áreas afins, com acesso aberto na web

acadêmica, com o apoio da Mathematical Sciences Publishers (MSP).

Como professor de Matemática e pesquisador, em relação ao ensino da

Matemática, Moore destacou-se por sua liderança na Universidade de Chicago e nas

associações da categoria de matemáticos, sobretudo, pelas contribuições entre

aqueles que fizeram a história da Educação Matemática. Parshall (1988), ao

apresentar a atuação de Moore, situa que o período entre a última década do século

XIX e a primeira década do século XX, foi marcado pelo crescimento da Matemática

americana, em muitas universidades. Faz referência, também, que Moore, na posição

de líder, no departamento da Universidade de Chicago, e de Presidente da AMS –

American Mathematical Society, e de membro da NAS – National Academic of

Sciences, foi um grande defensor da reforma no ensino de Matemática escolar.

Para compor a sua equipe de professores no Departamento de Matemática na

Universidade de Chicago convidou, Oskar Bolza (1857-1942) e Heinrich Maschke

(1853-1908), ambos ex-alunos e doutores pela Universidade de Göttingen, orientados

por Klein. Juntos se complementaram e fortaleceram o Departamento com pesquisa

e práticas pedagógicas inovadoras. Com a finalidade de incentivar os estudantes à

pesquisa eles organizaram o University of Chicago Math Club, que funciona até os

dias atuais. Rowe (2003) comenta que com o trabalho desse triunvirato, rapidamente

se estabeleceu uma escola dominante, na virada para o século XX. Sob a liderança

de Moore, sua equipe de professores, modificou os métodos de ensino de graduação

em Matemática, e influenciou na formação de gerações de matemáticos na América.

Parshall (1988, p. 169), descreve que Moore, como educador, percebeu

grandes diferenças nos níveis de preparação dos alunos que entravam na

Universidade, no início do século XX. Também reconheceu que a formação

matemática nas faculdades ou universidades variava de instituição para instituição.

Como encaminhamento para essa situação de falta de uniformidade, defendia o

estabelecimento de pré-requisitos nacionais de Matemática para admissão nas

faculdades e escola técnicas, como também, a definição de normas para licenciaturas

em Matemática. Assim, durante o seu mandato de Presidente da American

Mathematical Society, montou comitês para estudar e fazer recomendações sobre o

assunto.

Moore era comprometido com a pedagogia da Matemática. Foi um seguidor de

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John Dewey (1859-1952), que foi docente na Universidade de Chicago. Renunciou ao

método expositivo, padrão de ensino de Matemática, passando a desenvolver o

método laboratorial, no sentido deweiniano, fundamentado nas ideias propostas de

que o estudante para aprender deverá sempre ser motivado pela experiência

(PARSHALL, 1988, p. 169).

Aqui é importante contextualizar que, filiada à Universidade de Chicago, foi

criada uma Escola Laboratório, no Departamento de Pedagogia, em que os

professores programaram em nível experimental, o ensino das crianças baseado na

filosofia educacional de Dewey. Nessa perspectiva, referindo-se aos desafios para o

ensino, o próprio Dewey (apud PARSHALL, 1988, p. 170) admitiu que:

[...] a primeira pessoa que conseguir elaborar a verdadeira correlação da matemática com a ciência e de forma avançada, na prática vai ter feito mais para simplificar os problemas da educação secundária do que qualquer outra coisa que eu posso pensar.14 (tradução nossa)

Moore respondeu ao desafio de Dewey, com a adaptação do método de

laboratório; para instruções de nível secundário, e universitário, em Matemática e

Física. Nesse processo, solicitava o relato dos conceitos de Matemática e Física, na

realidade da experiência dos alunos, para conseguir envolve-los, ativamente, na

experimentação de natureza intrínseca interessante. Assim, no laboratório de Física,

dispensou a introdução para experimentos, sobre o ensino do uso compassos de

calibre (compassos de vernier ou paquímetros) ou do uso de régua de cálculo. Sua

proposta era de que, em vez de tais instruções desinteressantes, e de propósitos

limitados, os estudantes deveriam ser orientados para problemas extremamente

próximos à realidade concreta deles e que envolvessem o uso desses instrumentos.

Assim, cada estudante passava a aprender seu uso, como instrumento/ ferramenta, e

não como uma “matéria difícil”. Para depois do conhecimento experimental, na prática,

desenvolver o conhecimento mais amplo e aprofundado do compasso e da régua de

cálculo. Com relação a teoremas e suas demonstrações, não prevalecia como uma

experiência desinteressante, nesse sentido, o instrutor convenceria primeiro o

estudante da verdade do teorema em um nível intuitivo, seja por experimentação

significativa, ou cálculos, ou representação gráfica. E, depois a prova deveria ser

14 […] the first person who succeeds in working out the real correlation of mathematics with science and advanced form of,

manual training will have done more to simplify the problems of secondary education than any other one thing that I can think of.

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garantida pelo trabalho de pesquisa, em si mesmo (PARSHALL, 1988).

Moore (1903) publicou um artigo intitulado On the Foundations of Mathematics

que representou um marco para Educação Matemática, por se tratar de uma proposta

de um novo programa para o ensino de Matemática. Difundiu a adoção do método de

ensino de Matemática em laboratório, nos níveis: elementary, secondary e university.

Utilizou a AMS – American Mathematical Society, para instituir suas propostas de

mudança, defendendo que a Educação Matemática americana necessitava de

reforma e deveria garantir que as mudanças fossem de baixo para cima. Procurou

apresentar suas ideias, de forma coerente entre seu discurso e sua prática, no

exercício de sua função como chefe do Departamento de Matemática, na

Universidade de Chicago, desde a sua fundação, até a sua aposentadoria em 1931,

e investiu no seu ideário educacional, até a sua morte em 1932.

3.2.9 Edward Lee Thorndike

Edward Lee Thorndike (Williamsburg, Estados Unidos, 31 de Agosto de 1874 –

Montrose, Estados Unidos, 09 de Agosto de 1949) foi um psicólogo, considerado um

dos maiores pesquisadores americanos nas áreas de Psicologia e de Educação.

Trouxe contribuições significativas ao desenvolvimento no campo de conhecimento

da Psicologia Educacional, e nesse contexto, demonstrou especial interesse pelo

ensino de Matemática e da Língua Inglesa, influenciando na construção do

conhecimento de Educação Matemática, no início do século XX.

Sobre a formação de Thorndike, registramos que, aprendeu a ler em casa, mas

frequentou a escola regularmente, a partir do momento em que ele completou cinco

anos de idade. A partir dos doze anos de idade, frequentou as escolas secundárias

de Lowell, Boston e Providence. Seus estudos de graduação foram na área de

Literatura, na Universidade de Wesleyan (Connecticut), de 1891 a 1895, e, em

seguida, na Universidade de Harvard, estudos de pós-graduação, nessa mesma área.

Em 1896, recebeu mais um Bachelor of Arts - BA e em 1897 o Master of Arts – MA,

na Universidade de Harvard (WOODWORTH, 1952; MAYER, 2003; SHULTZ;

SHULTZ, 2014).

Seu interesse por Psicologia foi despertado pela leitura da obra de Willian

James (1842-1910), The Principles of Psychology (1891), ainda, quando era

estudante da graduação, em Wesleyan, por uma obra pioneira em conhecimento

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psicológico como ciência, que combinava elementos de Filosofia, Fisiologia e

Psicologia. Mais tarde, quando na Universidade de Harvard, ao participar das

conferências de James, durante o seu primeiro ano de estudos, optou pela mudança

na área de pesquisa de Literatura, para Psicologia. A partir do segundo ano, em

Harvard, investigou sobre a aprendizagem, sob a orientação de James, realizando

pesquisa experimental, com animais, porque nessa Universidade estava proibido

utilizar crianças, como sujeitos de pesquisa. Mas, como também, não eram permitidos

os animais no laboratório, fez os experimentos, em seu próprio quarto, e, mais tarde,

no porão da casa do professor James, utilizando pintinhos. Ele conseguiu resultados

e o método experimental provou-se frutífero, mas, não completou o doutoramento em

Harvard, por motivos pessoais (WOODWORTH, 1952; SHULTZ; SHULTZ, 2014).

Matriculou-se, em 1898, na Universidade de Colúmbia, e a convite de James

McKeen Catell (1860-1944), como bolsista, foi incentivado a prosseguir com as

pesquisas, na mesma linha de trabalho, em aprendizagem, utilizando como sujeitos

pintos, pombos, gatos e cachorros, e usando instrumentos, por ele mesmo projetados,

tais como, a caixa-problema para pesquisa com animais. Concluiu seu doutorado, em

1898, com o trabalho intitulado Animal intelligence: an experimental study of

associative processes in animals. Esse trabalho foi considerado um marco na história

da Psicologia, no sentido de que o laboratório de estudos de aprendizagem de

animais, inaugurado na Universidade de Columbia, demonstrou que o comportamento

animal, observado em condições experimentais ajudaria a enfrentar os desafios gerais

do conhecimento de Psicologia. Posteriormente, Thorndike publicou várias pesquisas

referentes à aprendizagem associativa, envolvendo animais, mas não permaneceu

por muito tempo nessa linha de investigação, pois os estudos de Psicologia aplicada

lhe ofereciam mais oportunidades de trabalho (WOODWORTH, 1952; SHULTZ;

SHULTZ, 2014).

Thorndike, em 1898, assumiu o seu primeiro trabalho como professor de

Educação, no College for Women of Western Reserve University. Em 1899 foi

nomeado docente de Psicologia, no Teachers College da Universidade de Columbia,

e desenvolveu suas atividades profissionais, por 50 anos, nessa instituição. Dedicou-

se, principalmente, às áreas de Psicologia Educacional, Psicometria e Educação. Na

sua relação bibliográfica, consta a quantidade expressiva de 507 itens, o que se

mostra extraordinário, para um único homem. Escreveu livros de Psicologia e de

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Educação, livros didáticos, artigos, monografias, e elaborou testes psicológicos e

medidas de avaliação educacionais padronizadas (WOODWORTH, 1952; MAYER,

2003; SHULTZ; SHULTZ, 2014).

Marx e Hillix (1973) classificam-no de funcionalista, por sua ênfase nos

aspectos utilitários da Psicologia. Em sua história e obras, ficou o registro de uma vida

dedicada à construção do conhecimento científico para o enfrentamento dos desafios

inerentes ao processo educacional. De comprometimento e coerência em fazer

ciência psicológica, com a finalidade de levar a ciência para a sala de aula, pela

formação de professores e pela aplicação do conhecimento científico, no processo de

aprendizagem.

Warde (2002, p. 9) informa que Thorndike defendia que “era preciso fazer

experimentos para produzir conhecimentos sobre a natureza humana.” Identifica-o

como pesquisador de tendência empirista, por buscar abstrair resultados de

experiências com crianças e jovens para aplicação no campo da Educação.

Destacamos aqui, que para Thorndike a definição de Psicologia era acima de

tudo o estudo das conexões ou vínculos estímulo-reação. Chamando de

conexionismo a metodologia experimental para o estudo das associações. Explica

que, na análise da mente humana, é importante considerar as conexões das variáveis

as situações e as respostas.

[...] se eu tentar analisar a mente de um homem, eu encontro conexões de intensidade variáveis entre (a) as situações, e os seus respectivos elementos e componentes (b) as respostas e os seus respectivos facilitadores e inibidores, a prontidão às respostas e as direções das respostas. Se conseguir identificar todos os elementos, definindo o que pensa ou faz o homem e o que satisfaz ou aborrece em cada situação imaginável, parece que nada será deixado de lado. [...] Aprendizagem é o estabelecimento de conexões. A mente é um sistema de conexões do homem. (THORNDIKE, 1931, p. 122, tradução nossa)15

Em 1905, formaliza as leis de aprendizagem, a Lei do Efeito e associada a ela

Lei do Exercício, em seu livro, The Elements of Psychology afirmando que:

[...] qualquer ato que executado em determinada situação, produz satisfação, fica associado a ela de tal modo que, quando ela se repete, a probabilidade de o ato também se repetir é maior do que antes. Inversamente, qualquer ato que produza desconforto em uma situação específica vai dela se dissociar de

15 […] If I attempt to analyze a man’s entire mind, I find connections of varying strength between (a) situations, elements de

situations, and compounds of situations and (b) responses, readiness’s to respond, facilitations, inhibitions and directions of responses. If all of these could be completely inventoried, telling what the man would think and do and what would satisfy and annoy him, in every conceivable situation it seems to me that nothing would be left. […] Learning is connecting. The mind is man’s connecting. The mind is a man’s connection-system.

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maneira que, quando ela se repetir, a probabilidade de o ato se repetir também é menor do que antes (THORNDIKE, 1905, p.203, tradução nossa).16

Isso quer dizer que, a simples repetição da resposta, em determinada situação,

fortalece a resposta. Mas, na continuidade de suas pesquisas, Thorndike convenceu-

se de que as consequências da recompensa, a uma resposta, são mais eficazes que

a mera repetição da resposta.

Na perspectiva da história da Psicologia da Educação, encontramos na

descrição de Mayer (2003) que o empreendimento dos programas de pesquisa de

Thorndike representou uma contribuição marcante para Psicologia da Educação.

Suas obras têm gerado diversos estudos, inclusive, até os nossos dias, principalmente

pela objetividade com que conduziu as suas pesquisas, servindo de bases para o

desenvolvimento de teorias da aprendizagem e, principalmente, ao desenvolvimento

do sistema psicológico behaviorista.

Robert Ladd Thorndike (1910-1990), psicólogo e psicometrista refere-se que

grande parte da carreira do seu pai foi dedicada à tarefa de coletar dados, analisar e

interpretar quantitativamente. Para ele, a diferença qualitativa era apenas uma

diferença quantitativa, que o homem ainda não tinha aprendido a medir. Fazer ciência

psicológica deveria atingir a certeza e a exatidão. Relata que seu pai nunca teve um

curso de cálculo ou Matemática avançada, mas se comprometeu à medição de tudo,

desde o sucesso escolar, medidas de inteligência, à qualidade das cidades.

No contexto histórico do desenvolvimento do conhecimento da Psicologia e da

Educação, no início do século XX, e dos desafios dos movimentos de reformas

educacionais que implicaram discussões referentes ao ensino do conhecimento de

Matemática, Thorndike teve grande projeção no cenário educacional dos Estados

Unidos, principalmente, na primeira metade do século XX, pela aceitação de suas

obras (RABELO, 2012a).

Esse professor-pesquisador desenvolveu as suas teorias de Conexionismo e

das Leis da Aprendizagem, propondo uma vasta aplicação do associacionismo às

questões psicológicas. Em seu processo de investigação, buscou o rigor científico de

pesquisas experimentais, numa abordagem quantitativa, utilizando-se de métodos

16 [...] any act which in a given situation produces satisfaction become associated with that situation, so that when the situation

recurs the act is more likely than before to recur also. Conversely, any act which in given situation produce discomfort becomes dissociated from that situation, so that when the situation recurs the act is less likely than before to recur (THORNDIKE, 1905, p.203).

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estatísticos. Suas pesquisas se caracterizaram pela aplicação do conhecimento

psicológico à Educação, especialmente à metodologia de ensino e à melhoria da

formação de professores, com a finalidade de contribuir para a construção de um

sistema educacional, baseado na ciência, como pode ser observado, nas obras

Educational Psychology (1903), The Elements of Psychology (THORNDIKE, 1905) e

Human Learning (THORNDIKE, 1931), em que apresenta as suas concepções

psicológicas e os princípios fundamentais de aprendizagem humana, voltados para a

formação de professores.

Os resultados de suas pesquisas foram divulgados, por meio de livros e artigos.

Sua produção acadêmica científica foi ampla e abrangente. Dentre a suas obras,

encontramos um número significativo de publicações que tratam do ensino de

Matemática, constituindo-se em manuais para professores e livros didáticos. Inclusive

livros didáticos que foram adotados nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do

século XX (RABELO, 2012a; RABELO, 2012b; SANTOS, 2006).

Destacamos, a seguir, títulos produzidos que evidenciam a contribuição do

psicólogo Thorndike, para a Educação Matemática e que se encontram, em sua

maioria, disponíveis aos pesquisadores interessados, em sítios que preservam esse

material histórico. Vejam, em destaque, no Quadro 2, os livros referentes ao ensino

e à aprendizagem de Matemática.

Quadro 2 - Levantamento das obras localizadas de Thorndike, relacionadas ao conhecimento de Matemática.

Ano Título Características

1917 The Thorndike of Arithmetic Coleção de três volumes de Manuais de Aritmética, destinado ao

estudante em nível elementary no qual o autor apresenta como

resultado das principais descobertas de Psicologia uma

propostas de estudos na perspectiva da prática de uma

Educação Experimental.

1921 The New Methods in Arithmetic Manual para professores e estudantes dos cursos de formação

de professores visando a compreensão de novos métodos de

ensino usando as condições comuns ou suais encontradas em

salas de aula. (traduzido e editado para o português em 1936).

1922 The Psychology of Arithmetic Manual apresentando aplicações da Psicologia para o ensino de

Aritmética direcionado aos professores do ensino fundamental e

estudantes dos cursos de formação de professores.

1923 The Psychology of Algebra Manual apresentando as orientações baseadas na pedagogia da

Álgebra e nos princípios de psicologia da aprendizagem.

1927 The Thorndike of Algebra Manual destinado ao estudante em nível high school no qual o

autor apresenta como resultado das principais descobertas de

Psicologia uma proposta de estudos na perspectiva da prática

de uma Educação Experimental.

Fonte: Thorndike (vide as referências correspondentes)

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Encontram-se a disposição, também, diversos artigos que relatam e discutem

as investigações sobre a aprendizagem de Matemática com base nas contribuições

da Psicologia da Aprendizagem. Como pode ser observado nos títulos elencados a

seguir.

1910 Practice in the Case of Addition

1914 An Experiment in Grading Problems in Algebra

1915 The Form of the Curve of Practice in the Case of Addition

1921 The Psychology of Drill in Arithmetic: The Amount of Practice

1921 A Note on The Failure of Educated Persons to Understand Simple Geometrical Facts

1921 The Constitution of Arithmetical Abilities

1922 The Constitution of Algebraic Abilities

1922 The Nature of Algebraic Abilities

1922 The Psychology of Problem Solving

1922 The Psychology of The Equation

1922 The Strength of The Mental Connections Formed in Algebra

No empreendimento acadêmico de Thorndike, são percebidos os liames das

relações, entre a Psicologia e a Educação, e, especificamente os vínculos

estabelecidos, com a aprendizagem e o ensino da Matemática.

Nessa perspectiva, Santos (2006), com base em sua tese de doutoramento

defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política e

Sociedade, da PUCSP, com o título Edward Lee Thorndike e a conformação de um

novo padrão pedagógico para o ensino de Matemática (Estados Unidos primeiras

décadas do século XX), assinala que, por meio das suas pesquisas e escritos,

Thorndike estabeleceu um diálogo entre a Psicologia, a Educação e a Educação

Matemática.

Em síntese, Thorndike, deixou um especial legado, pois, apontou caminhos

para as possibilidades de investigações em Psicologia e Educação Matemática.

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONTRIBUIÇÕES HISTÓRICAS

Eu acredito que todos os níveis do ensino de Matemática, desde seus primórdios na escola elementar, até o nível mais avançado de pesquisa,

devem ser organizados, como um todo e único corpo orgânico. Isto foi ficando cada vez mais claro para mim que, sem esta perspectiva geral,

mesmo a mais pura pesquisa científica sofreria, na medida em que, aliena-se do que se sucede em diversos e vívidos desenvolvimentos culturais, isto

seria o mesmo que condenar uma planta a sofrer com a secura, estar abafada em um porão sem luz solar." Felix Klein 192317 (tradução nossa).

17 I believed that the whole sector of Mathematics teaching, from its very beginnings at elementary school right through to the most advanced level research, should be organized as an organic whole. It grew ever clearer to me that, without this general perspective, even the purest scientific research would suffer, inasmuch as, by alienating itself from the various and lively cultural developments going on, it would be condemned to the dryness which afflicts a plant shut up in a cellar without sunlight. Felix

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A Educação Matemática, em sua trajetória, vincula-se, especialmente, com a

Psicologia. As relações entre a Psicologia e a Educação Matemática estão presentes

ao longo do processo histórico de desenvolvimento, dessas áreas de conhecimento,

sendo reconhecida a influência da Psicologia, no processo de institucionalização da

Educação Matemática como campo científico e profissional.

Na virada do século XIX para o século XX, o movimento entre pesquisadores

cujo objeto de estudo era o ensino de Matemática, visando à melhoria no sistema

educacional, estabelece as bases para a Educação Matemática. Nas pesquisas, as

questões ligadas à Psicologia exercem influência nesse movimento e, os primeiros

passos na construção desse campo de conhecimento foram dados, a partir das

discussões e parcerias na produção acadêmica entre matemáticos, professores e

psicólogos interessados no ensino e aprendizagem da Matemática, como por

exemplo, os trabalhos de Dewey, McLellan, Ames e Alexander.

A fundação de associações de profissionais da Matemática, dedicados à

pesquisa e ao ensino de Matemática, nesse período, tiveram papel relevante para o

desenvolvimento da Educação Matemática, pelo incentivo à pesquisa, à promoção ao

debate e, à divulgação do conhecimento matemático. Tais como: London

Mathematical Society, fundada em 1865; American Mathematical Society – AMS,

fundada em 1888; Mathematical Association Americam – MAA, fundada em 1915; e a

Internacional Mathematical Union – IMU, fundada em 1920. Instituições de cunho

científico, que têm, como objetivo, promover os interesses da pesquisa matemática,

servindo a comunidade nacional e internacional por suas publicações, reuniões,

congressos e outros programas. Nesse período, também, observamos um marco

representativo, que foi a formação da International Commission on Mathematical

Instruction – ICMI, 18 no IV Congresso Internacional de Matemática, realizado em

Roma, em 1908. Nesse congresso, foi aprovada uma resolução, apresentada por

iniciativa do matemático, educador americano, professor e historiador da Matemática,

David Eugene Smith (1860-1944), para criação de uma Comissão Internacional, com

o propósito inicial de fazer um estudo comparativo teórico e prático, sobre os métodos

Klein, 1923. Fonte: http://www.icmihistory.unito.it/

18 Comissão Internacional de Instrução Matemática, ou Comission Internacionale de L’Enseignement Mathématique (CIEM), ou

Internationale Mathematische Unterichtskommission (IMUK).

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e planos do ensino da Matemática, nas escolas do Ensino Básico, face ao interesse

de investigação sobre reformas educacionais, vistas como necessárias, vivenciadas

pelos matemáticos naquele momento, em seus respectivos países. O primeiro

presidente da ICMI foi o eminente matemático alemão, Felix Klein (1849-1925), que

revelava interesse pelo ensino da Matemática. O primeiro secretário-geral foi Henri

Fehr (1870-1954), matemático suíço e um dos co-fundadores da L'Enseignement

Mathématique, revista internacional instituída desde o início, como o órgão oficial do

ICMI.

O ICMI, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), passou a ser uma

comissão vinculada à Internacional Mathematical Union – IMU, uma organização

científica não-governamental internacional e sem fins lucrativos, cujo objetivo é

promover a cooperação internacional em Matemática. Uma das atividades principais

da ICMI é o International Congress Mathematical Education – ICME; evento voltado

para o desenvolvimento da Educação Matemática, em todos os níveis, organizado,

em 1969, pelo presidente do ICMI, na época, Hans Freudenthal, (1905-1990),

atendendo à demanda das comunidades de pesquisadores interessados na

investigação em Educação Matemática, e às próprias necessidades da área de

estudos e a sua complexidade.

Assim, a consolidação da Educação Matemática ocorre com a fundação da

International Commission on Mathematical Instruction (IGLIORI; D’AMBRÓSIO, et al.,

2004). Surge, como movimento multidisciplinar, em cujas bases incluem a Psicologia

em seu processo de institucionalização. Mas, embora as relações fossem evidentes,

é importante destacar que, nesse período histórico, o interesse em comum, tanto de

psicólogos como de matemáticos em relação ao processo de ensino-aprendizagem

de Matemática não implicava necessariamente em um diálogo sistemático e

colaborativo, mas, apenas em enfoques de questões pontuais, conhecimentos

fragmentados (CAVALCANTI, 2011).

Mas, desde os primórdios do desenvolvimento do campo de Educação

Matemática, observamos pelos registros históricos, que se evidenciavam dois

aspectos em comum entre os pesquisadores matemáticos e pesquisadores

psicólogos: o interesse pelos processos de ensino e aprendizagem de Matemática; e

a formação de professores, para o ensino da Matemática. A história dos pioneiros e

suas obras testificam uma visão multidisciplinar, mesmo que incipiente, em que a

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Psicologia é valorizada nos estudos dos fenômenos educacionais em Matemática.

Mas, verificamos que ocorreu um contexto favorável ao diálogo entre Psicologia

e Educação Matemática, a partir da segunda metade do século XX, após a

reorganização das comunidades de matemáticos, num período de avanço significativo

do conhecimento educacional em todo cenário mundial. Observamos historicamente,

que foi um período de produção intelectual intenso na área de Psicologia e um período

de desenvolvimento da Educação Matemática, progressos que podem estar

associados; se considerarmos que o crescimento significativo nas pesquisas

psicológicas contribuiu para as Ciências da Educação, com a elaboração de Teorias

Psicológicas sobre o desenvolvimento humano e sobre aprendizagem, servindo de

referenciais para as Teorias de Educação Matemática.

Dentre as Teorias Psicológicas que contribuíram para a Educação Matemática,

selecionamos de forma representativa a Teoria de Jean Piaget e Teoria Sócio-

Histórica de Vygotsky, Leontiev e Luria, pelas abordagens explicativas, numa

perspectiva psicogenética, pelas bases psicológicas, da aprendizagem e do

desenvolvimento, estabelecidas por essas teorias e suas implicações na

compreensão do ensino e do desenvolvimento do pensamento matemático.

3.3.1 Teoria Psicogenética de Jean Piaget e suas contribuições para a

Educação Matemática

Dentre as abordagens construtivistas que contribuíram para a Educação

Matemática, encontramos na Teoria Psicogenética de Piaget uma das principais

referências, como concepção da construção do conhecimento, sendo as concepções

dessa teoria consideradas revolucionárias, com relação ao desenvolvimento da

inteligência e o processo de aprendizagem.

Jean William Fritz Piaget (Neuchâtel, Suíça, 09 de agosto de 1896 – Genebra,

Suíça, 16 de setembro de 1980) é um nome reconhecido nas áreas de Psicologia e

de Educação Matemática. Definiu a si mesmo como um antigo-futuro-filósofo que se

transformou em psicólogo e investigador do conhecimento (PIAGET, 1983). Tem um

registro da história de vida de dedicação ao estudo, à produção de suas obras e ao

investimento na fundação e administração do Centre international d’épistémologie

génétique, em Genebra, até o final de sua vida. Essa Fundação de pesquisa, criada

em 1976, voltada para a investigação psicológica e epistemológica, continua com a

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finalidade de apoiar e promover atividades científicas, nessas áreas, até hoje.

Como analisam Plaisance e Vergnaud (2003), Piaget apresentou em sua obra,

uma originalidade que contrasta com as correntes empiristas e behavioristas

dominantes na época, principalmente na América do Norte. Identificam em suas obras

os benefícios da influência, na área de Psicologia, de: Alfred Binet, (1857-1911); Henri

Paul Hyacinthe Wallon, (1979-1962); Pierre Marie Félix Janet, (1859-1947). Como

também, recebeu influência de filósofos neokantianos, como Léon Brunschvicg (1869-

1944) e Émile Meyerson (1859-1933); e de epistemólogos da Matemática e da Física.

Nosso objetivo nesta tese não é analisar a ampla e complexa produção teórica

de Jean Piaget, com o registro de mais de 75 livros e várias centenas de trabalhos

científicos que têm servido de fundamentos para um paradigma educacional

construtivista, nos países ocidentais, desde a segunda metade do século XX até aos

dias atuais. Pretendemos, apenas, assinalar dois aspectos que consideramos

relevantes, como argumentos das contribuições dos conhecimentos psicológicos na

formação de professores de Matemática: o desenvolvimento humano, no enfoque do

pensamento matemático e a aquisição do conhecimento matemático, e suas

implicações, na formação de docentes que ensinam Matemática.

Piaget trouxe contribuições ao estudo do desenvolvimento e aprendizagem,

que são relevantes para o ensino. Conduziu estudos e elaborou complexas análises

teóricas sobre conceitos matemáticos e científicos, tais como: número, espaço, tempo,

causalidade, probabilidade, razão e proporção, função, força velocidade, aceleração,

reação química e outros. Conceitos que ajudam aos professores que ensinam

Matemática a compreenderem o desenvolvimento do pensamento e os desafios

enfrentados no processo de aprendizagem, dessa área de conhecimento

(SCHLIEMANN, CARRAHER, et al., 1997).

No enfoque da Educação Matemática, nos escritos de Jean Piaget localizamos:

o artigo Comments on mathematical education (1973)19; e o livro Introduccion a la

Epistemologia Genética, (1) El pensamento matemático (1987), versão espanhola de

Introduction à L’Epistemologie Génétique (I) La pensée mathématique (1950). Na

abordagem da formação de professores, destacamos Psicologia e Pedagogia (1988),

versão brasileira de Psychologie et Pedagogie (1969). Buscamos, a partir desse

19 Tradução de texto por Eduardo Britto Velho de Mattos e Paulo Francisco Slomp, UFRGS para uso em sala de aula.

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material, a compreensão das relações da Psicogenética, de Jean Piaget, e a

Educação Matemática.

Em 1935, Piaget (1988) faz análises a respeito das relações entre Psicologia e

os desafios nos processos de ensino e aprendizagem que continuam com um cunho

atual. Afirma que a formação de professores se constitui numa questão chave para a

melhoria da área de Educação. Explica que “As mais perfeitas reformas ficam sem

conclusão se não há professores disponíveis, em qualidade e número suficientes”,

(PIAGET, 1988, p. 129). E, nesse sentido, pontua que todos concordam em admitir

que a preparação dos professores supõe uma formação psicológica, e que os desafios

se tornam maiores, quanto menor for o nível de desenvolvimento cognitivo dos

estudantes, defendendo a Psicologia como um saber necessário ao professor, em

todos os níveis educacionais (PIAGET, 1988).

Piaget (1973) argumenta que o conhecimento das teorias psicológicas é

importante para os professores; porque, na medida em que ampliassem esse

conhecimento, facilitariam o trabalho, pois seria de grande utilidade, ajudando-os

numa intervenção pedagógica, de forma mais simples, fundamentada nas concepções

epistemológicas, e essa conscientização favoreceria a realização de vocações

criativas dos alunos, ao invés, de serem considerados, simplesmente, como

mero instrumentos de recepção.

Explica que, a orientação dada ao processo do ensino da Matemática, depende

naturalmente da interpretação do desenvolvimento psicológico, da aquisição das

operações e das estruturas lógico-matemáticas, em função das concepções do

professor. Assim, o sentido epistemológico dado direciona as suas ações

pedagógicas. Explica que a psicogênese e a significação epistemológica são

estreitamente relacionadas, e, que existe como uma função do desenvolvimento

global da inteligência, espontânea e gradual construção das estruturas lógico-

matemáticas elementares (PIAGET, 1973).

Assim, ao conceber que existe, como uma função do desenvolvimento global

da inteligência, uma espontânea e gradual construção das estruturas lógico-

matemáticas elementares, constituindo-se em estruturas 'naturais' ('naturais' no

mesmo sentido em que falamos dos números 'naturais'), Piaget (1973) propõe

que sejam consideradas essas estruturas no processo metodológico de ensino.

Esse autor afirma que, para o professor de Matemática avançar é importante

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considerar as ideias defendidas por ele, sobre a relação entre linguagem e ação.

Explica que psicologicamente pareceria evidente que a lógica não surgiria fora da

linguagem, mas que é importante entender que surge de uma fonte mais profunda,

que é encontrada, na coordenação geral de ações. Apresenta a descrição dos

processos de formação de esquemas, e de como esses esquemas se organizam no

primeiro estágio de desenvolvimento, o sensório-motor. Lembrando-nos que se refere

ao período que vai do nascimento até a aquisição da linguagem, que é marcado, por

extraordinário desenvolvimento mental, período em que a criança passa, de um nível

de inteligência sensório-motora para a inteligência representacional (PIAGET, 1973;

1989).

Assinala que, nesse período, no processo de construção do conhecimento e

desenvolvimento das estruturas cognitivas há toda uma lógica da ação que comanda

a construção de certas identidades, e esse processo acontece além da percepção

(por exemplo, a permanência de objetos ocultos), conduzindo à elaboração de

certas estruturas. Piaget (1973, p. 79-87) elucida que:

De fato, anteriormente a qualquer linguagem, num nível puramente sensório-motor, as ações são suscetíveis a repetições e depois a generalizações, constituindo o que pode ser chamado de esquemas de assimilação. Estes esquemas se auto organizam de acordo com certas leis e parece impossível negar a relação entre eles e as leis da lógica. Dois esquemas podem ser coordenados ou dissociados (reunião), um pode ser parcialmente incluído no outro (inclusão), ou somente ter uma parte em comum com o outro (intersecção); as partes de um esquema ou a coordenação de dois ou mais esquemas podem permitir uma ordem invariante de sucessões, ou certas permutações (tipos de ordem), assim como correspondência um-a-um, um-a-muitos ou muitos-a-um (bijeção, etc.). Considerando que um esquema impõe um objetivo para uma ação, é contraditório para o sujeito ir em sentido oposto.

Entendemos que, nos comentários explicativos de Piaget (1973) sobre

Educação Matemática, citados acima, ele enfatiza que o professor, que ensina

Matemática deve valorizar as atividades com o uso de objetos para a compreensão

da Aritmética, assim como das relações geométricas, e propõe que sejam

oportunizadas experiências que estejam relacionadas às ações dos sujeitos.

Lembrando-se que na concepção piagetiana, existem dois tipos de experiências

diferentes relacionadas às ações do sujeito: a experiência física e a experiência lógico

matemática. A experiência física, no sentido amplo, consiste em agir sobre os objetos

para descobrir as propriedades dos próprios objetos, constitui-se no conhecimento

das propriedades físicas de objetos e eventos: tamanho, forma, textura, peso e outras.

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Uma criança adquire conhecimento físico sobre um objeto, manipulando-o e agindo

sobre ele com os seus sentidos. Pela atuação sobre os objetos, é possível, construir

suas propriedades. A experiência lógico-matemática consiste em retirar informação, a

partir das ações sobre os objetos, ou, mais precisamente, de sua coordenação de

ações executadas sobre os objetos. Temos os conceitos de número, como exemplos

de conhecimentos lógico-matemáticos.

Para ilustrar as relações das experiências físicas e experiências lógico-

matemáticas, Piaget (1973) faz um relato:

Um amigo meu e matemático muito conhecido disse que o começo de seu interesse pela matemática foi provocado por uma experiência do segundo tipo que lhe aconteceu quando ele tinha cerca de quatro ou cinco anos de idade. Sentado no jardim ele começou a entreter-se colocando pedrinhas em linha e contando-as, por exemplo de um a dez, da esquerda para a direita. Após ele contou-as da direita para a esquerda e, para a sua grande surpresa, ainda encontrou dez. Então colocou-as em um círculo e, entusiasmado contou novamente -- dez! Contou-as no sentido oposto e eram dez em ambos os sentidos. Continuou organizando as pedrinhas de variados modos e terminou convencendo- se de que a soma, dez, era independente da disposição ou organização das pedrinhas. É evidente que nem a soma nem a organização são propriedades físicas das pedrinhas, até aquele momento em que a criança de fato as tenha organizado ou colocado todas juntas. Neste instante a criança descobriu que a ação de reunir pedrinhas produz resultados e estes resultados são independentes do ato de ordenação das mesmas. Ela pode observar isso com qualquer objeto sólido. As propriedades físicas das pedras não representaram papel particular algum (além do fato de que as pedrinhas ‘aceitavam’ estas ações, a natureza delas, não obstante, permaneceu inalterada, isto é, foi conservada; e a própria conservação também proporciona uma experiência lógico-matemática) (PIAGET, 1973, p. 79-87)20.

Piaget (1973, p. 79-87) descreve, ainda, que o papel inicial das ações e das

experiências lógico-matemáticas constitui-se na preparação necessária para o

desenvolvimento do pensamento dedutivo, por duas razões: primeira, porque

“as operações mentais ou intelectuais, que participam dos processos de

raciocínio dedutivo subsequentes, originam-se das ações”; segunda, porque “as

coordenações das ações e a experiência lógico-matemática, enquanto se

interiorizam, proporcionam a criação de uma variedade particular de abstração que

corresponde precisamente à abstração lógica e matemática”. Esclarece que:

[...] a abstração lógico-matemática refere-se à abstração reflexionante e isso por duas razões relacionadas. De um lado, está abstração ‘reflete’ (no mesmo sentido que um refletor ou projetor) tudo que estava em um plano inferior (por exemplo, esse plano das ações) e projeta para um plano superior, o do pensamento ou representação mental. Por outro lado, é uma abstração reflexionante no sentido de uma reorganização da atividade mental que

20 Tradução do texto utilizado na disciplina EDU01136 Psicologia da Educação B, pelo professor Paulo Francisco Slomp.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação.

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reconstrói em um nível superior tudo que foi extraído da coordenação das ações (PIAGET, 1973, p. 79-87).

Piaget (1973), explica que são necessários o período entre o desenvolvimento

das ações materiais e o período das experiências lógico-matemáticas, anterior ao

estágio ao estágio operatório concreto propriamente dito. E que, no período em que o

pensamento abstrato começa a se tornar possível, início do estágio operatório formal,

(o período dos 7 e 11/12 anos de idade), poderá ocorrer um desenvolvimento

espontâneo de operações dedutivas, com suas características de conservação,

reversibilidade, e outras; que permite a elaboração da lógica elementar de classes

e relações, a construção operacional de toda a série dos números, pela síntese das

noções de inclusão e ordem. Nesse nível intermediário entre as ações do pensamento

pré-operatório concreto e o pensamento abstrato, no nível das operações concretas,

a criança não pode raciocinar a partir de puras hipóteses expressas verbalmente, e,

para atingir a dedução coerente e a formação de conceitos precisa desenvolver seu

raciocínio, a partir de objetos manipuláveis, seja no mundo real, ou na sua imaginação.

Entendemos que a compreensão dessas características é interessante aos

professores que ensinam Matemática.

Na perspectiva da teoria Psicogenética, o professor de Matemática deve

considerar alguns princípios psicopedagógicos básicos para compreender os estágios

de desenvolvimento do aprendiz.

O primeiro é que “[...] uma compreensão real de uma noção ou uma teoria

implica na reinvenção desta teoria pelo sujeito”. Isto quer dizer que a verdadeira

compreensão será observada, nas novas aplicações espontâneas em que se

manifesta uma generalização ativa, pois, evidenciam que o sujeito foi capaz de

descobrir por si mesmo, porque somente compreendemos verdadeiramente aquilo

que somos capazes de explicar, ou seja, refazer, reinventar, pelo menos parcialmente

(PIAGET, 1973, p. 79-87; DOLLE, 2000).

O segundo é que “[...] em todos os níveis de desenvolvimento, e de forma

sistemática nos níveis mais elementares, o aluno será sempre mais capaz de ‘fazer’

e ‘compreender fazendo’ do que unicamente expressando-se de forma verbal”

(PIAGET, 1973, p. 79-87). O aprendiz realiza uma ação, muito antes de se tornar

realmente ‘consciente’ do que está envolvido e o ‘conhecimento’ ocorre, muito

depois da ação (PIAGET, 1973).

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O terceiro, no ensino de Matemática, “[...] as representações ou modelos

usados devem corresponder à lógica natural dos níveis dos alunos em

questão, e a formalização deve ser guardada para um momento posterior como um

tipo de sistematização das noções já adquiridas”. A formalização será feita seguindo

as tendências naturais do pensamento espontâneo, no momento apropriado, e não

prematuramente. Isso significa que, no processo de ensino, o professor necessita

avaliar os níveis de desenvolvimento cognitivo, considerando os esquemas e as

estruturas cognitivas do aprendiz, em suas intervenções pedagógicas (PIAGET, 1973,

p. 79-87; DOLLE, 2000).

Diante desses princípios, o professor fará a sua mediação na construção do

conhecimento, ajudando o aprendiz à tomada de consciência de suas ações,

mediante situações de discussão, trabalhos em equipe, dentre outros. Com relação à

formação docente, Piaget (1988) coloca como ponto essencial a iniciação psicológica

do professor. Nessa orientação, parece-nos que a sua obra que trata da epistemologia

genética, no enfoque do pensamento matemático, contribui significativamente por

apresentar os resultados e seus estudos voltados ao conhecimento das ciências

exatas (PIAGET, 1987).

Na obra, Introduccion a la Epistemologia Genética, El pensamento matemático,

Piaget (1987) coloca que se trata de uma comparação entre a psicogênese das

operações intelectuais e o desenvolvimento histórico das ciências, nesse volume I,

em pauta, intitulado “O pensamento matemático”. Propõe-se a utilizar em seu estudo

de epistemologia genética: a análise formalizante de problemas de estrutura formal

dos conhecimentos e a validade desses sistemas; a análise psicogenética (as

questões referentes às características dos sucessivos níveis distintos de

conhecimento e os mecanismos da passagem de um nível ao outro); a análise

histórico-crítica (FERREIRO; GARCIA, 1987). Assim, na perspectiva da epistemologia

genética, apresenta os resultados de seus estudos sobre o pensamento matemático,

descrevendo a construção operacional do número, a construção operatória do espaço,

e as relações entre o conhecimento matemático e a realidade.

Nas contribuições das concepções piagetianas para a formação de professores

de Matemática, evidenciamos a necessidade de estudo interdisciplinar e de que é

preciso ser desenvolvido o conhecimento da psicogênese, de modo integrado à

epistemologia do pensamento matemático.

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3.3.2 Teoria Sócio-Histórica de Vygotsky, Leontiev e Luria e suas contribuições

para a Educação Matemática

Segundo Lompscher e Joachim (2002) uma das concepções psicológicas que

é, cada vez mais discutida, internacionalmente, é a escola sócio-histórica, vinculada

à Vygotsky, à Leontiev e à Luria, no campo das pesquisas em aquisição do

conhecimento matemático. Essa tendência de uma aproximação entre a Educação

Matemática e essa teoria, conforme explica Moysés (2004), surgiu por ocasião do

terceiro Congresso Internacional de Educação Matemática, na Alemanha, em 1976, e

tem trazido contribuições para o ensino de Matemática. Embora em 1959 já se tenha

sido publicado, por Bogoyavlensky e Menchinskaya, um ensaio no livro Psicologia da

Aprendizagem Escolar, em que os autores abordam a aquisição de conceitos

matemáticos (BOGOYAVLENSKY; MENCHINSKAYA, 2005).

Lev Semionovich Vygotsky (Orsha, Bielorrússia, 17 de novembro de1896 –

Moscou, Rússia, 11 de junho de 1934) foi o fundador da escola soviética da Psicologia

Sócio-Histórica. Viveu no período de valorização da Psicologia como ciência e, nesse

contexto, buscou desenvolver uma abordagem abrangente que possibilitasse a

descrição e a explicação das funções psicológicas superiores, em termos aceitáveis,

para as ciências naturais. Lançou as bases para uma Psicologia unificada,

(GONZALES, 1991). Desenvolveu uma abordagem que busca uma síntese

integrando “[...] numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e mente,

enquanto ser biológico, enquanto membro da espécie humana e participante de um

processo histórico” (OLIVEIRA, 1993, p. 23). Apesar de um reconhecimento tardio,

principalmente no ocidente, foi considerado um dos mais importantes psicólogos do

século XX pela influência e repercussão que suas obras tiveram na Psicologia da

Educação e na Educação Inclusiva.

O trabalho desenvolvido em equipe possibilitou a divulgação de suas ideias e

continuidade de suas pesquisas. Seus principais companheiros foram: Alexander

Romanovich Luria, Alexei Nikolaievich Leontiev, que ajudaram a sistematizar e

organizar as produções de Vygotsky, após sua morte, e trouxeram novas

contribuições.

As teses defendidas por Vygotsky enunciam que as funções psicológicas têm

um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral; os processos

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psicológicos superiores têm sua origem, nos processos sociais, nas relações entre o

indivíduo e o mundo exterior, as quais se desenvolvem, num processo histórico; os

processos mentais são entendidos, somente através da compreensão dos

instrumentos e dos signos que atuam como mediadores na relação homem/mundo.

Suas ideias contribuíram para ampliar a compreensão dos processos de

desenvolvimento e aprendizagem, numa concepção construtivista.

Mas, nosso enfoque aqui é assinalarmos as contribuições da Psicologia de

Vygotsky para formação de professores de Matemática, para tal, utilizamos como

referência o estudo de Moysés (2004), com relação às aplicações da abordagem

psicológica de Vygotsky à Educação Matemática, no sentido de suas implicações na

formação docente.

Moysés (2004) analisa as aproximações entre Educação Matemática e a ideias

de Vygotsky. Primeiro apresenta a importância da contextualização no ensino de

Matemática e o papel da contextualização, no tipo de operação mental, utilizado pelo

indivíduo na realização de cálculos matemáticos. Nesse sentido, conclui que, para um

ensino de qualidade é preciso:

contextualizar o ensino de Matemática, fazendo com que o aluno perceba o significado de cada operação mental que faz;

levar o aluno a relacionar significados particulares com o sentido geral da situação envolvida;

que nesse processo, se avance para a compreensão dos algoritmos envolvidos;

proporcionar meios para que o aluno perceba, na prática, possibilidades de aplicação desses algoritmos (MOYSÉS, 2004, p. 73).

Moysés (2004) explica que os estudos desencadeados pelo enfoque sócio-

histórico da Psicologia estão voltando-se para as questões do conhecimento escolar.

Esses estudos reuniram dados que apontam que os conceitos se desenvolvem na

atividade situada e contextualizada, o que se explica pelo fato do estudante ao realizar

uma determinada atividade, ele forma representações a respeito dos conceitos, e

essas representações permitem que o aprendiz vá além da memorização ou

descrição. As representações servem de instrumentos do pensamento, e ampliam a

percepção de relações estabelecidas que favoreçam a resolução de problemas.

No estudo realizado por Moysés (2004), com o objetivo de verificar as reais

possibilidades da teoria sócio histórica da Psicologia, são indicados indica suportes

para melhorar a qualidade do ensino de Matemática, nas escolas de Ensino

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Fundamental. A autora conclui que, o trabalho pedagógico orientado pelos

pressupostos dessa teoria favorece a aprendizagem dos alunos, com relação à

aquisição do conhecimento e ao desenvolvimento das funções psíquicas.

Observamos que as conclusões do estudo de Moysés (2004) evidenciam a

confirmação das ideias defendidas pelas concepções sócio-históricas (LURIA;

LEONTIEV; VYGOTSKY, 2005) referentes à importância da comunicação e da

relação entre aprendizado e desenvolvimento. Uma vez que a aprendizagem está em

função da comunicação e do nível do desenvolvimento alcançado. Vygostsky (2005),

ao apresentar uma formulação geral da relação entre os processos de aprendizagem

e desenvolvimento, explica que, nas investigações experimentais sobre a natureza

psicológica dos processos de aprendizagem de Aritmética, demonstram que a

aprendizagem escolar nunca parte do zero; ou seja a aprendizagem escolar da

criança começa muito antes dela ingressar na escola. Por sua vez, os processos de

aprendizagem estão vinculados ao desenvolvimento do sistema nervoso central.

Assim, o aprendizado direciona e estimula processos internos de desenvolvimento,

no contexto escolar.

Como destacam Plaisance e Vergnaud (2003, p. 69), dentre as contribuições

de Vygostsky, temos “[...] um longo estudo sobre as diferenças entre conceitos

cotidianos e conceitos científicos, estudo no qual ele liga de maneira bipolar os

conceitos cotidianos à experiência espontânea e à ação; os conceitos científicos, à

escola e a linguagem.” Como também, temos o conceito de mediação simbólica e de

mediação social, e de zona de desenvolvimento proximal – o que o aprendiz é capaz

de fazer com a ajuda de outros, que ele não poderia fazer sozinho. Conceitos que

influenciaram em novas propostas educacionais, no final do século XX, e em relação

ao papel do professor e, da importância das experiências de trabalho em grupo.

Luria, Leontiev e Vygotsky (2005, p.41) defendem que “[...] o processo de

desenvolvimento não coincide com o da aprendizagem, o processo de

desenvolvimento segue o da aprendizagem, que cria a área de desenvolvimento

potencial”. Essa hipótese é fundamental, para a concepção de formação de

professores, revela a importância do papel do adulto no processo de aprendizado, que

estrategicamente no processo pedagógico deverá intervir na zona de

desenvolvimento proximal de desenvolvimento dos alunos, provocando avanços que

não ocorreriam espontaneamente. Entendendo-se, nessa abordagem, que o único

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bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento.

Schliemann, Carraher, et al (1997, p. 9) , com relação ao acesso às pesquisas

de Vygotsky, avaliam que:

[...] passamos também a reconhecer a necessidade de empreender e estudos mais diretamente relacionados aos contextos sócio culturais da escola e da atividade profissional e a atividade de conteúdos matemáticos específicos, que supostamente deveriam ser aprendidos na escola.

Observaram que as suas ideias influenciaram a valorização dos

conhecimentos, o desenvolvimento e a aprendizagem, para o ensino de Matemática.

As implicações dessas concepções de Vygotsky para a formação do professor

podem é ser sobretudo, da compreensão do futuro professor em relação a sua função

profissional, como mediador, no processo de interação dos aprendizes, no processo

de construção e reconstrução do conhecimento científico na escola, como no caso de

Matemática.

DA PSICOLOGIA À PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA.

Com o objetivo de situar as relações entre Psicologia e Educação Matemática,

faremos um breve esboço do processo histórico de aproximação entre essas áreas

de conhecimentos, assinalando alguns marcos nesse processo, desde a instituição

da Psicologia científica, passando pela Psicologia da Educação, até a Psicologia da

Educação Matemática.

A Psicologia foi reconhecida como ciência no início do século XX,

desvinculando-se da Filosofia, ao utilizar os métodos das ciências físicas e naturais,

no desenvolvimento de pesquisas sobre os fenômenos psicológicos. Essa tendência

de se distanciar da Filosofia, também se manifesta na teoria educativa buscando uma

fundamentação científica, sendo reforçada no mundo ocidental pela implantação

progressiva de uma escolarização generalizada e obrigatória para a maioria da

população. Surge, nesse momento histórico a necessidade de mudanças qualitativas,

no ensino, face às demandas percebidas pelos professores e governantes, de

políticas educacionais, nos grandes centros, o que demanda a mobilização, na busca

de respostas às questões que emergem diante dos novos desafios, pelas instituições

educacionais e de pesquisas (COLL, 1999).

A Psicologia foi considerada como uma fonte de informações para a elaboração

de uma teoria educativa, de fundamento científico, para a melhoria do ensino e o

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enfrentamento dos desafios de escolarização. Com o reconhecimento da Psicologia

científica, as expectativas já existentes anteriormente, com relação às potencialidades

de contribuições do conhecimento psicológico, aumentaram, sendo depositadas as

esperanças de que o uso de conhecimentos psicológicos no processo educativo

favorecesse o reconhecimento de cientificidade às intervenções educacionais (COLL,

1987; 1999).

Assim, a Psicologia configura-se como uma área denominada de Psicologia da

Educação, desde a primeira década do século XX, com o interesse em aplicar o

conhecimento psicológico no campo educativo, no âmbito escolar (COLL, 1987;

1999).

Posicionamento esse, manifesto por Thorndike (1903;1910), primeiro psicólogo

educacional americano que, em seu livro Educational Psychology e em seu artigo The

Contribution of Psychology to Education, defendia a necessidade de fundamentar as

propostas educacionais, nos resultados das pesquisas psicológicas de caráter

experimental, identificando a Psicologia, como uma ciência básica para Educação.

Nessa orientação, assinalou a necessidade de um profissional que atue como

intermediário entre a ciência psicológica e a arte de ensinar, e incentivou os estudos

da aprendizagem escolar, pela pesquisa experimental. Atribui à Psicologia, a principal

contribuição, para a matéria Educação, no sentido de melhorar a compreensão dos

objetivos educacionais; ajudar a medir a probabilidade de que o objetivo é atingível;

ampliar e aprimorar o objetivo da educação; ampliar a compreensão dos meios de

educação e do reconhecimento de métodos de ensino. Ilustrou a sua percepção, nas

relações entre Psicologia e Educação, ao afirmar que o caráter da contribuição da

Psicologia para a Educação seria comparado ao papel que desempenha a Química e

a Biologia para a Agricultura – Assim como a ciência e a arte da agricultura depende

de química e botânica, a arte da educação depende de fisiologia e psicologia.

(THORNDIKE, 1910, p. 6).21

Em meio aos avanços das pesquisas psicológicas na primeira metade do

século XX, ocorre a valorização principalmente da Psicologia da Educação, no campo

educacional, ao se desenvolverem os estudos das primeiras teorias de aprendizagem

com Thorndike, Hull, Tolman e Lewin; os estudos da Psicometria com Binet, Simon e

21 Just as the Science and art of agriculture depend upon chemistry and botany, so the art of education depends upon physiology and psychology.

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Terman; e os estudos da Psicologia do desenvolvimento com Gesell, Baldwin,

Claparéde, Piaget, Wallon, Vygotsky (COLL, 1987).

Em seu processo histórico, o desenvolvimento da Psicologia da Educação foi

delimitado em quatro fases, conforme as funções mais significativas que foi ocupando

no contexto das suas contribuições entre às Ciências da Educação (OCHANDO,

1998).

Caracterizou-se a primeira etapa, no final do século XIX, até 1920, pela

preocupação com os estudos sobre as diferenças individuais e a administração de

testes úteis, para diagnóstico e tratamento das crianças com deficits, sendo em sua

origem, marcada pelo vínculo, com a identificação das dificuldades de aprendizagem

do aluno, e de ensino diferenciado de acordo às necessidades individuais.

Na segunda etapa, de 1920-1955, a Psicologia da Educação foi considerada,

como nuclear da teoria educativa, tendo o status de “rainha das ciências da educação”

(WALL, apud COLL, 1987, p.167)22 As pesquisas, nessa área, trouxeram

contribuições à Educação, em três âmbitos de estudo: a medida das diferenças

individuais, (testes psicométricas da inteligência geral, testes de personalidade e

testes de rendimento escolar); análises dos processos de aprendizagem; e estudos

sobre o desenvolvimento infantil (COLL, 1999).

Mas, nessa época, também, aumentaram as demandas em relação a

Psicologia da Educação. Associado ao impacto do movimento de saúde mental, foi

promovida a necessidade de serviços psicológicos, para tratar dos problemas infantis

dentro e fora da escola, numa perspectiva mais ampla e contextualizada da situação

escolar, não se limitando ao enfoque de diagnóstico e tratamento dos problemas de

aprendizagem, mas, voltada para os aspectos emocionais, afetivos e sociais do aluno.

Como também, a situação de guerras mundiais, e suas consequentes questões

sociais, mobilizaram os movimentos de reforma, dos planos educacionais, e a

preocupação com o atendimento de crianças, com necessidades educacionais

especiais, requisitando aos psicólogos as soluções para os problemas educativos

mais práticos (OCHANDO, 1998). Consequentemente, na metade da década de 1950,

o panorama que a Psicologia da Educação apresentava era complexo e contraditório.

22 Nota: Foi Localizada a referência, mas, não foi possível o acesso.

Wall, W. D. Psychology of Education. International Rewiew of Education / Revue Internationale de Pédagogie, XXV, 1979, p. 367-391.

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Por um lado, os desafios a ela atribuídos “de elaborar uma teoria educativa e de

fundamentar uma prática que responda a critérios científicos e esteja preparada para

tarefa de abordar todos os aspectos, todas as dimensões e todos os fatores do

processo educativo”, (COLL, 1999, p. 29). Por outro, as críticas relativas à pertinência

das pesquisas psicológicas para as questões educacionais e as críticas de outras

áreas de conhecimento, de que a problemática educacional não se esgota nas

análises da Psicologia.

Na terceira etapa (1955-1970), apesar da crise da Psicologia da Educação,

como disciplina nuclear, esse ramo da Psicologia recebe grande impulso, no contexto

dos desafios educacionais, face às mudanças político-econômicas, no final dos anos

50, a competitividade entre os dois blocos econômicos, liderados pelos Estados

Unidos, e pela União Soviética, e os interesses pelos temas educacionais, trazendo

investimento governamental em pesquisas visando às reformas, como instrumentos

para o desenvolvimento científico, e o crescimento econômico. Consequentemente,

nesse período, aumenta o número de pesquisas psicológicas, que trazem em seus

resultados implicações educacionais; e, de certa forma, são neutralizadas as críticas,

sobre o alcance das contribuições da Psicologia para Educação (COLL, 1987).

No final desse período são valorizados os modelos baseados nas teorias

cognitivas, sistêmicas, organizacionais e ecológicas, buscando-se uma superação do

modelo tradicional individualizado por um modelo interacionista, considerando-se a

importância do contexto, tanto instrucional como das relações sociais, (OCHANDO,

1998). No contexto das reformas educacionais e do desenvolvimento de estudos de

Psicologia da Educação, destacamos a necessidade da formação de professores,

numa abordagem integrada dos conhecimentos psicológicos à Didática, como

assinalou Piaget, em sua obra Psicologia e Pedagogia, em 1988. Destacamos,

também, que nessa época ocorre, de forma exacerbada, uma onda de criticismo em

relação às contribuições da Psicologia, decorrente de que as altas expectativas

depositadas nessas contribuições, na teoria e na prática educacional, não foram

concretizadas, sendo questionadas pelos educadores e pelos próprios psicólogos.

Essa crise gerou, no mundo acadêmico, o desenvolvimento da Psicologia da

Educação, numa visão crítica, de que é uma das disciplinas que têm a finalidade de

estudar fenômenos educativos, dentre as das Ciências Humanas, que surgiram com

força nesse período. A Psicologia passa a contribuir no âmbito de uma orientação

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multidisciplinar no que se refere ao estudo dos fenômenos psicológicos nos processos

educativos.

No Brasil, como na Europa e nos Estados Unidos, a Psicologia desenvolveu-se

estreitamente ligada à Educação. Mas, com a peculiaridade de que em território

brasileiro, conforme o registro histórico, não foi a Psicologia que derivou a Psicologia

da Educação, mas o inverso, porque desde o início do século XX a Psicologia da

Educação tornou-se o fundamento básico da Educação (GOULART, 2011). Esse fato

é compreendido na perspectiva de que o desenvolvimento científico aconteceu em um

quadro histórico, político, econômico e social, e sofre influências para que certas

teorias sejam dominantes.

A Psicologia foi tratada como uma disciplina obrigatória nos cursos de

licenciaturas, a exemplo do que foi determinado, por decreto Lei 9092, no Brasil ,1946,

evidenciando-se um grande impacto sobre a Educação e, em especial sobre a

formação de professores, com a expectativa de que pudesse responder às demandas

sobre as explicações do processo educativo, e de que possibilitasse um status

científico à intervenção pedagógica. Continuou presente, evidenciando-se a

representação social, de que a Psicologia é um dos saberes necessários, ao se

manter, de forma implícita e explícita, no discurso da Legislação Educacional e nos

Planos Nacionais de Educação, como um dos fundamentos para prática educacional

(BRASIL, 1946; 1996).

No esforço de explicarmos e de compreendermos os fenômenos educativos,

desde a década de 60, (século XX), são observadas em síntese duas concepções da

Psicologia da Educação: a da Psicologia aplicada à Educação e a da Psicologia da

Educação como disciplina-ponte. Embora, ambas tenham em comum a ideia de que

a finalidade da Psicologia da Educação é utilizar os conhecimentos e aplicar os

princípios e os métodos da Psicologia, para a análise e o estudo dos fenômenos

educativos, essas concepções divergem em relação à importância atribuída, por cada

uma delas, aos componentes psicológicos na compreensão e na explicação dos

fenômenos educativos (COLL, 1999).

A primeira concepção estaria fazendo uma catalisação dos conhecimentos

úteis e relevantes da Psicologia, para utilizá-los, de forma aplicada à Educação, sejam

da Psicologia do Desenvolvimento, da Psicologia Social, da Psicologia da

Aprendizagem, da Psicologia do Ensino, ou ainda nas diversas abordagens teóricas

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da Psicologia, ao serem aplicadas à Educação, seja cognitivista, condutista,

humanista, psicanalítica ou outras.

A segunda concepção apresenta Psicologia da Educação como uma disciplina-

ponte entre a Psicologia e a Educação, apresenta um objeto de estudo próprio, com

o propósito de gerar um novo conhecimento (HUNT; SULLIVAN, 1974). Compreende

as relações entre o conhecimento psicológico, a teoria e a prática educativa, numa

perspectiva dialética, e de reciprocidade, em que o conhecimento psicológico contribui

para a explicação dos fenômenos educativos e os estudos educacionais podem

favorecem a ampliação e aprofundamento do conhecimento psicológico. Nesse

sentido, está em condições de contribuir, tanto para o desenvolvimento do

conhecimento psicológico, como para a melhoria do processo educativo, uma vez que

se estabelecem relações de interdependência e interação, entre Psicologia e

Educação (COLL, 1996; COLL, 1999).

As relações entre Educação Matemática e Psicologia, especialmente com

Psicologia da Educação, são vistas como interagentes, desde o início do

desenvolvimento da Educação Matemática, como área de conhecimento.

No âmbito da comunidade de pesquisadores em Educação Matemática,

instituíram-se as relações entre Psicologia e Educação Matemática, ao ser criado um

grupo internacional o IGPME, International Group for the Psychology of Mathematics

Education, em 1976, no ICME 3 — International Congress on Mathematical Education

III. Esses estudos surgem, com a finalidade de promover o intercâmbio científico e as

pesquisas interdisciplinares, na tentativa de aprofundar a compreensão dos aspectos

psicológicos do ensino e da aprendizagem da Matemática, conforme descritos, no

item 3.5. (GUTIÉRREZ; BOERO, 2006).

Aqui podemos estabelecer uma analogia, entre a Psicologia da Educação

Matemática e a proposta de Hunt e Sullivan (1974), de que a Psicologia da Educação

é compreendida como disciplina-ponte entre Psicologia e a Educação, ela ocupa esse

lugar de <disciplina ponte>, uma vez que simultaneamente apresenta o compromisso

de que é uma disciplina psicológica e educativa, fazendo a ligação entre Psicologia e

Educação. Assim, a Psicologia da Educação Matemática pode ser concebida,

também, como uma <disciplina-ponte> entre a Psicologia e a Educação Matemática.

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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: ANTECEDENTES

HISTÓRICOS

A Psicologia da Educação Matemática se constituiu, como área de

conhecimento específico, nas relações estabelecidas entre a Psicologia, a Educação

e a Matemática. Como explicam Spinillo e Lautert (2006, p. 52), [...] “surge como uma

área de intersecção entre a Matemática, a Educação e a Psicologia buscando

aprofundar a compreensão sobre os aspectos psicológicos do ensino e da

aprendizagem de matemática”.

Esse campo de pesquisa nasce, justamente, num momento em que se

encontrava no auge, a crise no ensino de Matemática e, nesse contexto histórico, em

face dessa situação, tornou-se necessário impulsionar um grande programa de

pesquisa, em Psicologia e em Didática, e analisar, de maneira mais refinada, as

especificidades conceituais e pragmáticas do ensino da Matemática. Assim, essa área

de estudos surge de modo emergente e inadiável, buscando respostas aos desafios,

no ensino de Matemática, numa perspectiva interdisciplinar (SPINILLO; ACIOLY-

REGNIER; BRITO MENEZES, 2008; SPINILLO; LAUTERT, 2012).

No decorrer do século XX, houve um progressivo e marcante interesse pela

investigação no processo ensino-aprendizagem da Matemática, da parte de

pesquisadores interessados nas contribuições da Psicologia Educacional, (SOARES;

MORO, 2011). Entende-se que esse interesse esteja associado à problemática da

crise no ensino de Matemática.

Essa crise parece-nos estar relacionada à crise ocasionada pelo fracasso das

correntes fundamentalistas, no final do século XIX e início do XX. Como fruto da crise

filosófica, novas propostas surgiram no sentido de compreender o saber matemático

(PASSOS, 2009).

A concepção de um novo campo de estudos, eminentemente interdisciplinar no

foco da análise da atividade matemática, desenvolveu-se diretamente relacionada aos

avanços da Psicologia Educacional, pelas influências teóricas oriundas da Psicologia

da Aprendizagem, da Psicologia do Desenvolvimento, e da Psicologia Cognitiva,

(FALCÃO, 2008; BRITO, 2005). Contribuíram, sobretudo, para o surgimento e

continuidade da Psicologia da Educação Matemática as mudanças ocorridas na

concepção e atuação da Psicologia Escolar que, sofreu influência das mudanças na

Psicologia da Aprendizagem (FALCÃO, 2008).

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A evolução histórica da Psicologia Escolar e da Psicologia da Aprendizagem

refletiu nas reformulações teóricas, influenciando em mudanças nas concepções

educacionais. Destacamos uma significativa virada “[...] pela passagem de uma

psicologia da aprendizagem no intransitivo para uma psicologia da aprendizagem de

alguma coisa [...].” No caso da Matemática, desenvolver uma compreensão de

“psicologia do ensino e da aprendizagem da Matemática” (FALCÃO, 2008, p. 17). O

modelo de Psicologia Escolar de intervenção clínica, com a utilização e a interpretação

indiscriminada e aligeirada das teorias e técnicas psicológicas, dá lugar a uma atuação

comprometida com a concepção de educação inclusiva. A tendência psicologizante

é criticada e denunciada, devido ao posicionamento interpretativo de

responsabilização da criança e de sua família, pelos fracassos escolares, em nome

de problemas ditos de ordem emocional, para justificar o desempenho do aluno na

escola e, com essa forma de intervenção, reduzindo o entendimento dos processos

pedagógicos aos fatores de natureza psicológica. A Psicologia Escolar muda o seu

perfil de identificar os “diferentes” e buscar “normatização”, para uma contribuição

centrada no trabalho da sala de aula, na participação direta das questões didático-

pedagógicas da escola, concebendo que o processo educativo como uma totalidade

multideterminada, e que o desempenho do sujeito aprendiz não será compreendido

sem considerar o dinamismo e a complexidade de fatores de natureza: histórica,

social, cultural, política, econômica e, sobretudo, pedagógica, na determinação do

processo educativo (FALCÃO, 2008; ANTUNES, 2008; PATTO, 1997).

A construção do conhecimento da Psicologia da Educação Matemática está

relacionada, principalmente, ao estudo do desenvolvimento da Psicologia da

Educação e da Educação Matemática, daí a importância de uma visão interdisciplinar,

sobre a própria constituição desse novo campo de estudos. Compreendendo que há

uma contínua interação entre esses saberes, e que a Matemática, a Educação e a

Psicologia possuem pontos que se aproximam e se fundem em um conjunto de

conhecimentos, como também possuem as concepções próprias que as definem,

como ciências peculiares.

Nesse processo de interação entre conhecimentos instituídos, entendemos o

surgimento da Psicologia da Educação Matemática, como uma construção de um

novo saber na intersecção de saberes, ampliando o conhecimento psicológico para

responder as demandas da Educação Matemática, que por sua vez, a Educação

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Matemática traz desafios para avanços no conhecimento da Psicologia.

O marco histórico significativo, que definiu esse campo de estudos, foi a criação

do IGPME, International Group for the Psychology of Mathematics Education - Grupo

Internacional de Psicologia da Educação Matemática, em 1976, em Karlsruhe na

Alemanha, durante o ICME 3 — International Congress on Mathematical Education III

- Congresso Internacional de Educação Matemática (NICOL, LERMAN, et al., 2008).

A sua organização representou o desejo de parcela importante da comunidade de

pesquisadores do ICME, em promover e estimular o intercâmbio científico e a

pesquisa interdisciplinar, em Educação Matemática, com a cooperação de psicólogos,

matemáticos e educadores matemáticos, com o objetivo de aprofundar a

compreensão dos aspectos psicológicos, do ensino e da aprendizagem da

Matemática (SCHLIEMANN, CARRAHER, et al., 1997; FALCÃO, 2002; NICOL,

LERMAN, et al., 2008).

O Grupo Internacional de Psicologia da Educação Matemática, que passou a

ser chamado pelo nome abreviado de PME desde 1980, foi gerado desde 1969, num

processo de mobilização de participantes do I International Congress on Mathematical

Education (ICME1) em Lyons, França. Nicol et al (2008) relatam que Efraim Fischbein

(1920-1998) foi convidado por Hans Freundenthal (1905-1990), então presidente do

ICME, para organizar e presidir uma mesa redonda sobre os problemas psicológicos

da educação matemática. Fischbein, na condição de psicólogo cognitivista, na

oportunidade, mostrou-se interessado em assumir o chamado de Freudenthal, com o

propósito de contribuir para a melhoria da educação matemática nas escolas, numa

perspectiva para além das discussões filosóficas do ensino e aprendizagem da

Matemática, para defender a investigação científica empírica no campo.

No segundo ICME, em 1972 (Exeter, Grã-Bretanha), foi organizado um grupo

de trabalho (GT), dedicado à Psicologia da Educação Matemática. Mas, somente

quatro anos depois, os participantes decidiram organizar um grupo permanente de

estudos que se reunisse anualmente, para discutir e explorar questões de Educação

Matemática, relacionadas ao enfoque psicológico (NICOL, LERMAN, et al., 2008).

Evidenciando-se, portanto, que o conhecimento de Psicologia esteve presente entre

os construtores da Educação Matemática, representado por influentes pesquisadores,

como Fischbein, evidenciando-se elos entre a Psicologia e a Educação Matemática

(ALVES; BORGES NETO, 2011).

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Tirosh e Dreyfus (1998) descrevem que esse pioneiro se tornou conhecido por

sua contribuição criativa, sistemática, coerente e influente para o conhecimento e a

compreensão do papel da intuição, na aprendizagem e ensino da Matemática. Suas

contribuições estabeleceram uma estrutura de ligação entre Psicologia e Educação,

suas produções foram publicadas em revistas internacionais de ambos os domínios

do conhecimento. O seu trabalho foi reconhecido como um grande avanço na

pesquisa da Psicologia do Desenvolvimento, no enfoque cognitivo, com possibilidades

de beneficiar o ensino da Matemática. Em sua obra publicada em 1987, Intuition in

science and mathematics: an educational approach, trouxe uma visão abrangente,

teórica, do domínio da intuição, identificou e organizou os achados experimentais

relacionados, descritos e discutidos em suas implicações educacionais e didáticas.

Destaca-se a sua contribuição para o domínio da Educação Matemática: a inspiração,

a criação e organização do grupo de PME; sendo o primeiro presidente e um membro

honorário. Enquanto viveu participou ativamente em quase todas as reuniões anuais,

denominou o nome do grupo e deixou de forma marcante a sua impressão pela efetiva

atuação.

O PME é subgrupo oficial da International Commission for Mathematical

Instruction – ICMI. Nasceu com aproximadamente 100 membros participantes e na

conferência anual PME 38, 2014, a estimativa foi da presença de 800 membros, de

cerca de 60 países (NICOL; LERMAN, et al., 2008; PME38, 2014). Isto representa

um registro do significativo crescimento do número de pesquisadores que se dedicam

ao estudo da Psicologia da Educação Matemática. O PME oportuniza uma

aproximação dos pesquisadores, das diversas partes do mundo, e uma integração do

conhecimento que está sendo produzido, pela diversidade de países representantes,

e pela realização da Conferência anual, que cada vez ocorre em um dos países

participantes, entre os cinco continentes. Constituindo-se, assim, as conferências do

PME, em um dos eventos de referência, de nível Internacional para pesquisadores em

Educação Matemática interessados no enfoque nessa área de conhecimentos, pois,

pertence ao Organismo de investigação de maior prestígio nesse campo.

Os principais objetivos dessa Organização desde o seu início até hoje são:

promover as relações internacionais e intercâmbio de informações científicas no

campo da Educação Matemática; promover e estimular a pesquisa interdisciplinar na

referida área; além de possibilitar o aprofundamento das investigações sobre os

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aspectos psicológicos entre outros do ensino e aprendizagem da Matemática e suas

implicações. Esses objetivos, certamente direcionam o desenvolvimento do

conhecimento na área de Psicologia da Educação Matemática, em função das

emergentes demandas discutidas nas Conferências anuais do PME.

Como explicam Soares e Moro (2011) da ampla e significativa produção

resultante desse movimento, firmou-se, e delimitou o enfoque reconhecido hoje como

campo da Psicologia da Educação Matemática. Como destacam Meira, Shliemann,

et al. (1994) e Schliemann, Carraher, et al. (1997) é significativo que o PME não

definiu esse novo campo como, pertencendo exclusivamente à Educação, à

Matemática ou à Psicologia, mas como uma área de interseção, entre essas áreas de

conhecimento.

As contribuições dos estudos de Psicologia da Educação Matemática têm tido,

ao mesmo tempo um caráter teórico e práxis, no sentido de que a construção de novos

conhecimentos, pela pesquisa, predominantemente, oferece subsídios, no focus

psicológico, para o debate e ações interdisciplinares no âmbito de Educação

Matemática. Nesse sentido, contribuem, tanto para a o desenvolvimento das

pesquisas em Psicologia, quanto para as investigações em Educação Matemática.

Essa relação de interação entre a Psicologia e a Educação Matemática pode ser

observada ao longo da história do desenvolvimento de cada uma dessas áreas do

conhecimento, e de forma representativa aparece instituída, desde os trabalhos

pioneiros de Fischbein, caracterizando a Psicologia da Educação Matemática.

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CAPÍTULO 4

CONCEPÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE

PROFESSORES: PARADIGMAS REFERENCIAIS

As concepções sobre formação inicial de professores norteiam e direcionam os

projetos pedagógicos de ensino, em sua concretização, nas relações aluno-professor-

saber, em cada um dos componentes que compõem o currículo de uma Licenciatura.

Essas concepções estão presentes no processo de formação docente. Manifestam-

se no planejamento, no processo metodológico de ensino, nas relações interpessoais

e na atuação docente, no cotidiano da sala de aula, e, se constituem em modelos

referenciais, na formação inicial dos futuros profissionais.

Ao pensar sobre o processo de formação profissional do professor de

Matemática e sua prática docente, na perspectiva das contribuições da Psicologia, na

dimensão do curso de Licenciatura, é preciso, como professor formador,

identificarmos as características de algumas das principais tendências, na forma de

conceber esse processo, e assinalar as questões/enfoques temáticos que norteiam

as discussões na contemporaneidade. Faz-se necessário percebermos o contexto em

que nos inserimos, e as concepções que referenciam as nossas práticas

educacionais.

As concepções sobre a formação de docentes são diversificadas, em função

dos diferentes paradigmas, abordagens, orientações e referenciais teórico-

epistemológicos e metodológicos. Em cada uma delas, são delineadas as imagens do

professor, em relação aos saberes, para o desenvolvimento profissional e suas

práticas educacionais. Torna-se relevante a identificação dessas concepções, porque

influenciam, de modo determinante, nos conteúdos, nos métodos e nas estratégias

dos projetos pedagógicos de Cursos de Licenciatura em Matemática, mas, sobretudo,

na atuação profissional docente.

Pérez Gómez (2007) ao discutir a função docente e os processos de formação

e desenvolvimento profissional, explica que são consideradas as distintas

perspectivas ideológicas básicas, perspectivas essas que, de acordo com Zeichner e

Liston (1990), estiveram em conflito, ao longo da história, na maioria dos programas

de formação do professorado.

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Embora reconheçamos que as classificações são imperfeitas, e que ocorram

no enquadre dos tipos de concepções, intersecções entre algumas delas,

apresentamos as quatro perspectivas ideológicas básicas, identificadas por Pérez

Gómez (2007). São elas: Acadêmica; Técnica; Prática; Reflexão na Prática para a

Reconstrução Social.

A perspectiva Acadêmica caracteriza-se por conceber que “o ensino é um

processo de transmissão de conhecimento e de aquisição da cultura pública que a

humanidade acumulou” (PÉREZ GÓMEZ, 2007, p. 354), sendo o professor

considerado um especialista nas diferentes disciplinas que compõem a cultura, um

intelectual que se apoia nas teorias produzidas na sua área de ensino. Nessa visão,

a formação profissional do professor é vinculada ao domínio das disciplinas, cujos

conteúdos ele precisa transmitir, e estará centrada na aquisição dos resultados das

investigações científicas, seja, no aspecto disciplinar, ou didático das disciplinas

(PÉREZ GÓMEZ, 1995; 2007).

Na perspectiva Técnica, o docente “é um técnico que deve aprender

conhecimentos e desenvolver competências e atitudes adequadas à sua intervenção

prática” (PÉREZ GÓMEZ, 2007, p. 357), e se fundamentará, no conhecimento

produzido pelos cientistas básicos e cientistas aplicados, e dominar as rotinas de

intervenção técnica. A formação de professores é desenvolvida pelo modelo de

treinamento, e/ou modelo de tomada de decisões, com o objetivo de formação de

competências técnicas específicas e competências estratégicas observáveis,

concebidas como habilidades de intervenção, visando uma prática eficaz de ensino.

Com relação à perspectiva Prática, Pérez Gómez (2007, p. 363) descreve que

– “A formação do professor se baseará prioritariamente na aprendizagem da prática,

para a prática e a partir da prática”. Essa perspectiva baseia-se no pressuposto de

que o ensino é uma atividade complexa, que se desenvolve num contexto

determinado, e que seu locus torna-se singular. Os seus resultados são imprevisíveis,

e envolve desafios que exigem opções éticas e políticas, diante de conflitos de valores.

A profissão de professor é vista como de: artesão, artista, clínico; que se desenvolve

de modo experiencial com docentes mais experientes, no enfrentamento de

circunstancias e situações novas, e que necessitam realizar a intervenção criativa;

adaptada ao que aquelas circunstâncias específicas exigem (PÉREZ GÓMEZ, 1995;

2007).

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A perspectiva de Reflexão, na Prática, para a Reconstrução Social está

calcada na concepção do ensino como uma prática social, como uma atividade crítica,

que exige dos seus atores um posicionamento de caráter ético, perpassando nos

procedimentos docentes os valores que direcionam suas ações. Nessa perspectiva,

“[...] O professor/a é considerado um profissional autônomo que reflete criticamente

sobre a prática cotidiana para compreender tanto as características dos processos de

ensino-aprendizagem quanto do contexto em que o ensino ocorre [...]” (PÉREZ

GÓMEZ, 2007, p. 373). A finalidade da atuação docente, nessa concepção, é

promover desenvolvimento autônomo e emancipador dos que participam do processo

educativo.

No contexto atual, entendemos que essas perspectivas serão compreendidas

como duas grandes forças: um movimento que concebe o processo de formação de

professores, como profissionais reflexivos, influenciando no sentido de mudanças

educacionais; e, um movimento de formação de professores como profissionais

técnicos, no sentido de conservação de modelos cristalizados, que resistem às

mudanças. Esses movimentos se constituem em dois modelos teórico-

epistemológicos, que influenciam o processo de formação de professores. A

compreensão de cada um desses paradigmas torna-se importante para reflexão e

posicionamento dos professores formadores.

Apresentamos, aqui, sínteses de algumas das ideias principais que

caracterizam o paradigma de formação da racionalidade técnica dos professores e o

paradigma de formação reflexiva dos professores, considerando que o

desenvolvimento dessas tendências internacionais para a formação dos professores

são as que mais influenciaram/influenciam o processo das Licenciaturas em

Matemática.

A CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR, COMO TÉCNICO, NA

EDUCAÇÃO.

Como explica Shön (1983), em seu livro The Reflexive Practitioner; How

Professionals Think in Action, o modelo de racionalidade técnica tem sido uma

concepção do conhecimento profissional que tem mais influenciado o nosso

pensamento sobre as profissões e as relações institucionais de pesquisa e de

Educação. Sob esse ponto de vista, a atividade profissional consiste na aplicação

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instrumental rigorosa da teoria científica e da técnica na resolução de problemas,

exercendo grande influência na produção acadêmica, no exercício das profissões.

Ressaltando-se que essa concepção tem sido alvo de crítica com relação ao papel

das profissões, na sociedade em geral.

O paradigma racionalidade técnica é uma concepção epistemológica da

prática, herdada do positivismo, cuja atividade profissional é instrumental, dirigida para

a solução de problemas, mediante a aplicação rigorosa de teorias e técnicas

científicas (SCHÖN, 1983; PÉREZ GÓMEZ, 1995). Essa concepção predominou no

século XX, influenciando a Educação e a formação de profissionais e, em particular,

a formação de docentes.

Portanto, nessa concepção de formação profissional, a prática docente é

entendida como aplicação da ciência. Todo o sistema educacional está pautado na

lógica da racionalidade técnica. O professor é considerado como um técnico, que

domina as aplicações do conhecimento científico, produzido pelos pesquisadores e

transformados em modelos de atuação. A atividade docente é instrumental, voltada à

aplicação de princípios derivados da investigação científica de ensino e

aprendizagem. A qualidade do ensino é avaliada a partir das categorias de eficácia e

eficiência, sendo a qualidade do ensino evidenciada na qualidade dos produtos e dos

resultados educacionais.

O docente, na perspectiva da epistemologia da prática, “é um técnico que deve

aprender conhecimentos e desenvolver competências e atitudes adequadas à sua

intervenção na prática, apoiando-se no conhecimento que os cientistas básicos e

aplicados elaboram” (PÉREZ GÓMEZ, 2007, p. 357). Assim, como técnico, não

necessita desenvolver o conhecimento científico, mas dominar as práticas de

intervenção técnica geradas pelo conhecimento produzido. Nesse sentido, é

estabelecida uma divisão hierarquizada de trabalho. Os especialistas e pesquisadores

são os que produzem o conhecimento; e os professores, em sala de aula, os que

aplicam o conhecimento. Ocorrendo, portanto, a divisão entre a investigação e a

prática: os que pensam e os que aplicam. Esse processo implica na hierarquia de

status acadêmicos e sociais, sendo o professor reconhecido como técnico, em

subordinação aos pesquisadores e especialistas. Assim, o sentido da formação de

professores constitui-se em dominar rotinas de intervenção técnica, que se derivam

do conhecimento científico produzido por cientistas básicos e aplicados (PÉREZ

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GÓMEZ, 2007).

Schein (1973 apud PEREZ GOMEZ, 2007) explica que no enfoque da

racionalidade técnica, observamos uma hierarquia nos níveis de conhecimento, e

identifica três componentes referentes ao conhecimento profissional: o componente

de ciência básica, ou disciplina, que fundamenta a prática; o componente de ciência

aplicada, ou engenharia, do qual se deriva a didática; e o componente de

competências e atitudes, que utiliza o conhecimento básico e aplicado em sua

intervenção e atuação profissional. Assim, identificamos que o conhecimento técnico

depende das especificações geradas pelas ciências aplicadas e essas, por sua vez

baseiam-se nos princípios fundamentais e gerais, desenvolvidos pelas ciências

básicas.

Os limites da perspectiva técnica evidenciaram-se para a formação de

professores, principalmente na proposta do desenvolvimento prioritário de

competências e habilidades técnicas. A realidade social resiste ao encaixe de

esquemas preestabelecidos, dos tipos taxionômicos ou procedimentais. Embora a

racionalidade técnica tenha trazido contribuições resultantes da investigação básica e

aplicada, em que se aplicam às teorias e às técnicas, e se desenvolvam intervenções

eficazes, não quer dizer que consideremos a atividade profissional dos professores,

de forma prioritária ou exclusivamente técnica (PÉREZ GÓMEZ, 1995).

O uso da tecnologia educativa não dá conta da resolução dos problemas do

cotidiano escolar, pois, na prática profissional, o enfrentamento de desafios nas

relações de ensino e aprendizagem, face às características de complexidade,

incerteza, singularidade, instabilidades e conflito de valores, não se reduz à solução

de problemas identificados previamente, mas a situações problemáticas da prática

que se apresentam com frequência como casos peculiares e únicos (PÉREZ GÓMEZ,

2007).

As críticas principais a essa concepção é de que, por si só, a racionalidade

técnica não representa uma solução para a formação docente, porque qualquer

situação de ensino é única, incerta, variável, complexa e portadora de conflitos de

valores no processo de definição dos objetivos e metodologias, e porque não existe

uma teoria científica única, objetiva, para identificação de caminhos, regras e técnicas

de desenvolvimento profissional docente (PÉREZ GÓMEZ, 1995).

Schön (1995) observa que no meio acadêmico há um movimento crescente

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voltado para uma prática reflexiva, mas nesse movimento identifica duas grandes

dificuldades: a epistemologia dominante na universidade, pautada na racionalidade

técnica; e a presença de um currículo profissional normativo. Dificuldades essas

caracterizadas pelo paradigma – primeiro ensinam-se os princípios científicos

relevantes, depois a aplicação desses princípios e, por último, tem-se um praticum,

cujo objetivo é aplicar à prática cotidiana os princípios da ciência aplicada.

A racionalidade técnica está a ressurgir na universidade, observa Schön (1995),

mas, simultaneamente, estamos mais conscientes das suas inadequações, por si só,

não apenas na formação de professores, mas em todas as profissões, uma vez que

esse modelo demonstra a incapacidade para resolvermos e tratarmos tudo o que é

novo e inusitado. Sobretudo, ao pensarmos que, na formação de professores, e no

processo educacional, as situações tendem a ser imprevisíveis, pois se tratam de

relações interpessoais, entre seres humanos, que se constituem em suas

personalidades, como únicos.

Essa tendência epistemológica influenciou a formação de professores ao longo

do século XX, na própria configuração do desenvolvimento dos projetos pedagógicos

nas licenciaturas.

A CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR COMO PROFISSIONAL

REFLEXIVO

A concepção do professor como profissional reflexivo desenvolveu-se no final

da década de 80, no século passado, embora suas origens remontem a séculos

anteriores, com: John Dewey, Montessori, Tolstoi, Froebel, Pestalozzi e Rousseau.

Constituiu-se, segundo Zeichner (1993) num movimento internacional crescente no

ensino e na formação de professores sob a bandeira da reflexão.

Esse movimento da prática reflexiva desenvolveu-se a partir de duas

motivações básicas. Uma reação a um tecnicismo já instalado, uma crítica

generalizada à racionalidade técnica, em que os professores são vistos como técnicos

que se limitam a cumprir ordens. Como também, uma rejeição às reformas

educacionais, cujas decisões são feitas de cima para baixo, e os professores são

meros participantes passivos. Representa um manifesto para o reconhecimento do

trabalho docente, como um processo reflexivo, e que os professores são profissionais

que desempenham um papel ativo na formulação de políticas e projetos educacionais

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a serem realizados. Esse fato é o reconhecimento de que o ensino precisa voltar às

mãos dos professores (ZEICHNER, 1993; ZEICHNER, 1995; ZEICHNER, 2011).

Dorigon e Romanowski (2008, p. 8) descrevem que a abordagem reflexiva nas

concepções de John Dewey e de Donald Schön, tem se constituído numa das

tendências dominantes e “[...] o conceito de prática reflexiva surge como um modo

possível dos professores refletirem sobre suas práticas de ensino”. Os autores

explicam que “[...] na análise da prática reflexiva, é necessário rever a constituição do

pensamento reflexivo, inerente ao ser humano, que ocorre nas relações sociais,

constituindo-se em um processo historicamente situado” (DORIGON;

ROMANOWSKI, 2008, p. 8), compreendendo-se que a profissão de professor, em sua

natureza, exige a realização de reflexão. O professor trabalha com o ensino, e, suas

atividades profissionais se estabelecem nas relações de interação entre professor,

aprendiz e o conhecimento. Desse modo, ao considerar que a reflexão oportuniza ao

professor repensar os acontecimentos, as práticas educacionais e o seu

desenvolvimento profissional, concebemos que a profissão docente se constitui social

e historicamente em suas ações. Ao refletir sobre sua prática, seu fazer, seu pensar

educativo, suas condições de trabalho, sua identidade como profissional, o professor

apropria-se de sua própria formação, ao constatar o que faz, ao reinventar e

protagonizar a sua ação (DORIGON; OMANOWSKI, 2008).

O substantivo “reflexão” e seu correspondente adjetivo “reflexivo” são

protagonistas de investigações e debates na Educação, assim, termos como

pensamento reflexivo, ensino reflexivo, e prática reflexiva são frequentemente

associados à investigação, sobre as práticas dos professores. O termo é chave,

representativo de uma das tendências dominantes na área de formação de

professores (DORIGON; ROMANOWSKI, 2008).

Porém, segundo Zeichner (1993; 2008) há diversas interpretações, gerando

grande confusão sobre o significado do uso do termo reflexivo. Embora tenha ocorrido

uma explosão de interesse, em relação à ideia dos professores, como profissionais

reflexivos, e aparente semelhança entre aqueles que abraçaram o slogan reflexivo,

existem diferenças em relação às suas perspectivas de ensino, aprendizagem e

educação escolar, e o que significa uma boa sociedade.

Na perspectiva do movimento da concepção de formação da racionalidade

prática, apresentamos, como referencial, dentre outros, os nomes de: Shön, como um

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dos destacados autores, que propõem a formação do professor como prático reflexivo

e os practicum, como modelos de formação; Zeichner, pelo desenvolvimento do

modelo de prática reflexiva e a visão da pesquisa-ação; Shulman, pela análise dos

tipos de saberes docente; Perrenoud, pela compreensão sobre as competências

identificadas para prática reflexiva no ofício de professor; Tardif, pela valorização dos

saberes cotidianos dos professores, para a compreensão da formação, identidade e

papeis profissionais; Nóvoa, pelos seus estudos referentes à formação do professor

construída no âmbito da profissão e pela retomada de estudos do perfil do bom

professor e das propostas de programas formativos, visando ao desenvolvimento

pessoal e profissional.

Selecionamos esses autores por estarem entre as referências dos nomes

indicados pelos pesquisadores brasileiros da área de Educação Matemática que

investigam a formação de professores de Matemática, bem como pelos pesquisadores

em Psicologia, que estudam a formação de professores. De forma sucinta

destacamos aqui as principais ideias defendidas por esses teóricos e suas

contribuições, no contexto desse movimento.

4.2.1 Schön

O pensamento de Donald Alan Schön (1930-1997) começou a ser discutido no

meio acadêmico como mais uma contribuição para a formação de professores no

Brasil, no início da década de 90, século XX. Resgataremos as suas concepções, nos

aspectos em que contribua para a compreensão da formação inicial do professor.

No capítulo, “Formar professores como profissionais reflexivos”, que faz parte

do livro coordenado por Antônio Nóvoa – Os professores e sua formação, Schön

(1995, p. 79-80), assinala que, em meio aos debates sobre reformas educacionais,

emergem três questões:

Quais as competências que os professores deveriam ajudar as crianças a desenvolverem? Que tipos de conhecimento e de saber fazer permitem aos professores desempenhar o seu trabalho eficazmente? Que tipos de formação serão mais viáveis para equipar os professores com capacidades necessárias ao desempenho do seu trabalho?

O contexto das reformas educacionais constituiu-se, assim, numa oportunidade

de reexaminar essas questões para o enfrentamento de conflitos epistemológicos da

docência.

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Schön (1995, p. 80) avalia que o que acontece na Educação reflete o que

acontece em outras áreas: “uma crise de confiança no conhecimento profissional,

despoleta a busca de uma nova epistemologia da prática profissional”. Diz que, no

caso da Educação essa crise no processo de conhecimento profissional, centra-se

num conflito entre o saber escolar e a reflexão na ação dos professores e alunos

(SCHÖN, 1983; 1995; 2000).

Esse autor apresenta o saber escolar, como um tipo de conhecimento, suposto

saber dos professores, para transmitir aos alunos. Trata-se de uma visão dos saberes,

como fatos e teorias aceitas, propostas e estabelecidas pelas pesquisas. Um

conhecimento privilegiado que se caracteriza como: molecular, certo, factual e

categorial. Um saber estruturado hierarquicamente em níveis elementares e níveis

mais avançados. Um saber que se organiza em categorias, desde as unidades

básicas até a combinação de elementos complexos de conhecimentos (SCHÖN,

1995).

Explica que reflexão na ação é vista em termos da interação do professor com

a compreensão do aluno, em relação a uma determinada matéria, que poderá ser nas

relações interpessoais com um aluno, ou um grupo de alunos. Implica que o professor

reconheça o conhecimento tácito, espontâneo, intuitivo, experimental, do cotidiano do

aprendiz, que exige do professor uma capacidade de individualizar, percebendo o

grau de compreensão e de dificuldades de seus alunos (SCHÖN, 1995).

Com base no que Schön (1995) explicita, entendemos que a superação desse

conflito, entre o saber escolar e reflexão na ação, é compreendida pela via do

desempenho dos professores como profissionais reflexivos e do desenvolvimento de

uma prática educacional reflexiva.

Na concepção de desenvolvimento de uma prática reflexiva, o conceito de

reflexão é importante. Para compreendermos melhor esse complexo componente da

atividade do profissional prático, é necessário distinguir três conceitos: conhecimento

e pensamento prático na ação; reflexão na ação; reflexão sobre a ação e sobre a

reflexão na ação (SCHÖN, 1983).

Conhecimento na ação – Schön (2000, p. 37) explica que “o processo de

conhecer na ação de um profissional tem suas raízes no contexto social e

institucionalmente estruturado do qual compartilha uma comunidade de profissionais.”

Assim, o conhecimento na prática, é desenvolvido nos ambientes institucionais

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particulares da profissão. Trata-se de um conhecimento que orienta toda a atividade

humana e se manifesta no saber fazer, mostrando-se como conhecimento implícito

em toda a ação inteligente, fruto da experiência e das reflexões passadas, e, que se

vincula à percepção, à ação e ao julgamento, nas ações do cotidiano (PÉREZ

GÓMEZ, 2007). Shön (2000) ao usar essa expressão refere-se aos tipos de

conhecimentos, em que o ato de conhecer está na ação, em que se revela pela

execução, uma performance, um saber que está presente nas ações profissionais,

que, por sua vez, está imbuído de um saber escolar. Isso quer dizer que, na formação

profissional, há “uma noção de saber escolar [...] um tipo de conhecimento que os

professores são supostos possuir e transmitir aos alunos” (SCHÖN, 1995, p. 81). É

com esse saber escolar que o profissional transitará, a priori. As descrições que são

feitas do ato de conhecer na ação, são sempre construções, tentativas de

explicitarmos, de forma simbólica e representativa, um tipo de inteligência que começa

por ser tácita e espontânea. “Conhecer sugere a qualidade dinâmica de conhecer na

ação, a qual, quando descrevemos, convertemos em conhecimento na ação”

(SCHÖN, 2000, p. 32).

Reflexão na ação, ou durante a ação – implica refletir no meio da ação,

durante a ação, sem interrompê-la. Trata-se de processo dialógico de reflexão na

situação problemática, ou seja, de reflexão, diante da surpresa de um resultado

inesperado, agradável ou desagradável e que não se encaixa em nosso conhecer na

forma de ação usual. É um processo de interação, com intervenção específica, a essa

situação. Na relação de ensino e aprendizagem, essa relação será em termos da

interação do professor com a compreensão do aluno, referente a uma determinada

matéria, como pode ser um momento de interação interpessoal com um aluno ou um

grupo de alunos (SCHÖN, 1995; SCHÖN, 2000; PÉREZ GÓMEZ, 2007).

Reflexão sobre a ação, e sobre a reflexão na ação – é considerada a análise

realizada pelo ser humano, a posteriori, sobre as características e processos de sua

própria ação e esse processo de reflexão implica descrever, analisar, e avaliar os

registros que correspondem à intervenção realizada. Processo este que tem sido

denominado de reflexão sobre as representações ou reconstruções a posteriori da

própria ação.

Em síntese, ao nos depararmos com situações problemáticas, incertas ou

conflitantes, três processos compõem o pensamento prático do profissional: Um

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conhecimento de primeira ordem, o conhecimento prático, tácito e técnico, o seu

conhecimento na ação; um conhecimento de segunda ordem, ou meta cognição, ao

realizar a reflexão na ação; e um conhecimento de terceira ordem, a reflexão sobre a

ação, ao analisar o conhecimento desenvolvido na ação, e, a reflexão na ação.

Lembrando-se que os três processos são interdependentes, estão inter-relacionados

e se completam entre si para garantirem uma intervenção prática racional.

O professor é visto por Schön (1983; 1995; 2000) como um profissional prático

reflexivo. Um profissional que enfrenta desafios referentes ao desenvolvimento de

uma prática reflexiva, eficaz, integrada ao contexto institucional. Na medida em que o

professor busca criar condições para uma prática reflexível, é provável que se defronte

com a burocracia escolar, que está organizada como um sistema regulador da escola,

e construída em torno do modelo do saber escolar. “O professor tem de se tornar um

navegador atento à burocracia da escola”. “[...] aprender a ouvir os alunos e aprender

a fazer da escola um lugar no qual é possível ouvir os alunos”. Como também, os

professores formadores, ou os dirigentes escolares que queiram incentivar os

professores aprendizes, a se tornarem profissionais reflexivos, devem criar espaços

em que o processo de reflexão na ação, seja possível (SCHÖN, 1995, p. 87-88).

A formação inicial de professores, para que se tornem capazes de refletir a sua

própria aprendizagem profissional, contém as características de um practicum

reflexivo. Compreendendo “practicum reflexivo” como um tipo de experiência de

aprender, fazendo com que os aprendizes efetuem práticas profissionais, na presença

de um tutor, e na interação com ele, em palavras e ações; entende-se que os

practicums reflexivos ocorrem para os professores em diferentes estágios de

formação e em diferentes etapas da prática profissional. Schön (1995) propõe uma

epistemologia da prática, calcada na reflexão na ação, que propicie uma reflexão e

uma ação eficaz.

Campos e Pessoa (2011), com base nas concepções de Schön, comentam

que, apenas a aplicação de teorias e técnicas não dá conta da complexidade dos

desafios, próprios do exercício profissional, uma vez que lidar com situações de

conflito, não é uma tarefa somente técnica, e que somente uma nova epistemologia

da prática, baseada na reflexão do profissional sobre a sua prática, possibilita o

enfrentamento dos problemas que surgem na prática.

Para Zeichner (1993; 2008), Schön foi importante, porque além de fazer a

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crítica à racionalidade técnica, propôs a reflexão como parte do processo de trabalho

profissional. Considera relevante a sua produção, especialmente, por propor a

reflexão na ação e sobre a ação de ensinar, produzindo um espiral de apreciação,

ação, reapreciação, que adiciona textura e substancia a compreensão de Dewey.

Suas publicações estimularam a produção de outros educadores, no mundo.

4.2.2 Zeichner

Kenneth M. Zeichner (1947 - ) coloca-se como professor-pesquisador que tem

“[...] desenvolvido esforços para promover a causa da profissionalização dos

professores em paralelo com a construção de uma sociedade justa e decente”

(ZEICHNER, 1993, p. 14).

Faz um depoimento significativo de sua própria experiência, que ilustra sobre

as suas ideias, defendidas ao descrever, como chegou à hipótese do professor, como

prático reflexivo, ao afirmar que:

[...] toda a minha experiência em escolas oficiais como estudante, professor e formador de professores, teve lugar em escolas onde as coisas só poderiam ocorrer normalmente se houvesse muita reflexão por parte dos professores. Desde os meus dias de aluno no liceu, rodeado por guerras entre bandos rivais, protestos e apatias e desespero, até os meus dias de professor em escolas onde ninguém podia fingir que tudo ia bem, porque era nítido que tal não acontecia [...] estive constantemente envolvido em situações nas quais os males de nossa sociedade estavam bem à vista e nas quais os professores, os pais, e a comunidade tinham um papel muito importante. Nessas situações, é muito fácil que se verifique a problematização na prática [...]. O único papel que conheço bem, e no que me sinto à vontade, é aquele em que os professores se afirmam relativamente aos que estão fora da sala de aula e trabalham apaixonadamente para a realização de seus objetivos (ZEICHNER, 1993, p. 14).

Esse autor demonstra, em sua trajetória de professor-pesquisador, uma prática

reflexiva. Argumenta que no processo de reflexão na prática, além do saber na ação

que acumulamos, ao longo do tempo, quando pensamos no nosso cotidiano, também,

estamos a criar saber. As estratégias que usamos, na sala de aula, tornam-se teorias

práticas. Face aos desafios dos vários problemas pedagógicos, os docentes estão

continuamente a teorizar sobre a realização de objetivos educacionais, na medida em

que refletem durante a ação, acerca dessa ação, de seu ensino e das condições

sociais de suas práticas pedagógicas (ZEICHNER, 1993; ZEICHNER, 1995). Este

autor aponta que nesse processo os futuros professores desenvolverão com clareza

as suas propostas a serem alcançadas no sentido de: saberem por que ensinam, para

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que ensinam, para quem e como ensinam.

Zeichner descreve que o movimento da prática reflexiva envolve o

reconhecimento de que os professores exercem, juntamente com outras pessoas, um

papel ativo na formulação dos propósitos e finalidades de seu trabalho e que assumam

lideranças nas reformas escolares. Explica que na sua atuação profissional, os

professores necessitam refletir sobre os seus objetivos e os resultados de seu ensino,

desde a sua formação inicial. E que “[...] independente do que fazemos em nossos

programas de formação de professores e de quão bom o fazemos, nós podemos

apenas, e quando muito, conseguirmos preparar professores para iniciarem na

profissão” (ZEICHNER, 1993; ZEICHNER, 1995; ZEICHNER, 2008, p. 539).

Para o referido autor, o posicionamento de uma proposta de formação de

professores, implica assumir os seguintes pressupostos: para o desenvolvimento da

prática, exige-se continuamente uma reflexão sobre a experiência de vida escolar do

professor, sobre as suas crenças, posições, valores imagens e juízos pessoais.

Entendendo-se que a formação docente é um processo que se desenvolve durante

toda a carreira docente, em sua experiência de vida, e, sobretudo, inicia-se antes da

formação inicial de professor; que cada professor é responsável pelo seu próprio

desenvolvimento profissional; que é importante que o processo de reflexão ocorra em

grupo, e aconteça além da reflexão individual, para que se estabeleça a relação

dialógica; e que a reflexão se processa de forma contextualizada às condições

sociopolíticas e culturais em que se insere o ensino prático (GERALDI; MESSIAS;

GUERRA, 2011).

Destacamos, nas obras de Zeichner, um caráter político, ao afirmar que diante

do mundo em que vivemos nenhum ensino e nenhuma educação será neutra. Esse

autor declara que o seu propósito, no sentido da formação de professores, tem sido

de que a reflexão seja uma dimensão do trabalho pedagógico, de forma

contextualizada as condições sócio-político-econômicas, ao desenvolver o trabalho

docente. Relata que tem trabalhado para ajudar professores a examinarem os

aspectos morais e éticos de suas práticas, e a tomarem decisões no ensino,

elucidando suas condições sócio-políticas (ZEICHNER, 1993).

Zeichner (1993) diz que sua abordagem se distingue de outros trabalhos, por

empregar três princípios básicos, em articulação com o conceito de professor prático

reflexivo. O primeiro princípio refere-se à prática de ensino. O foco da atenção do

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professor está tanto voltado para si, para a sua prática, como para as condições

sociais nas quais se situa essa prática. O segundo princípio considera as questões

que levam a situações de desigualdade e injustiça, na sala de aula, a uma perspectiva

democrática e emancipatória. O terceiro princípio trata do compromisso com a

reflexão como prática social.

Uma das contribuições mais relevantes de Zeichner, para a concepção de

professor prático reflexivo, é a sua visão de pesquisa-ação. Em sua proposta de

pesquisa-ação para professores dos diferentes níveis de ensino, e para alunos da

graduação, considera os professores, como sujeitos do processo de produção do

conhecimento. O autor defende, nesse processo, três dimensões: a do

desenvolvimento profissional; a prática social e política; e a luta, para tornar mais

conhecido e valorizado, o conhecimento produzido pelos professores.

Zeichner (2011, p. 207) aponta “a necessidade de eliminar a separação que

existe atualmente entre o mundo dos professores-pesquisadores, e o mundo dos

pesquisadores acadêmicos”[...], e propõe uma maior aproximação e cooperação nos

estudos educacionais, num processo de interação nas investigações.

Enfim, as ideias de Zeichner parecem-nos uma referência obrigatória, para

quem se dedica à formação de professores.

4.2.3 Shulman

Lee S. Shulman (1938 – ) é hoje um dos nomes mais citados em revistas

especializadas sobre formação de professores. Suas pesquisas enfocam a relevância

do conhecimento disciplinar e pedagógico, como dimensões do conhecimento

profissional docente. Suas concepções, na perspectiva do saber docente, tornaram-

se conhecidas e se constituem como propriedade do discurso educativo internacional.

Shulman (1986), em seus estudos, propõe que na formação de professores

sejam desenvolvidas três categorias quanto aos tipos de conhecimento: conteúdo

específico da disciplina; conteúdo pedagógico; e curricular.

No processo de ensino na formação profissional do professor, o referido autor

identifica três formas de apresentação do conhecimento: a proposicional, a de caso e

a de estratégica. Para melhor compreensão descrevemos os tipos de conhecimento

e as formas de apresentação enunciadas.

Quanto aos tipos de conhecimento:

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Conhecimento do conteúdo específico – diz respeito à área de

conhecimento específica do professor. No caso aqui, a Matemática. O professor de

Matemática, em seu ensino, precisa transformar o conhecimento próprio dos

matemáticos, em conhecimento compreensível para os seus alunos, no nível de

escolaridade em que se encontram. Assim, nessa transformação, configura-se o

conhecimento pedagógico.

Conhecimento do conteúdo pedagógico – trata-se de um conhecimento

pedagógico da disciplina, a ser ensinada, e se refere a todas as formas que o

professor lança mão para transformar o conteúdo específico, em aprendizagem de:

representações, explicações, demonstrações, deduções, exemplos e

contraexemplos; inclusive, a compreensão da estruturação dos conteúdos e suas

relações. Esse tipo de conhecimento constrói-se na relação com os aprendizes, ao

manifestarem suas formas de pensar, seus conhecimentos anteriores e seus conflitos.

Assim, no processo de mediação do professor, entre os seus conhecimentos prévios

e os conhecimentos dos aprendizes, está o conhecimento pedagógico do

conhecimento específico.

Conhecimento curricular – diz respeito ao conjunto de conteúdos a ser

ensinado, nos diferentes níveis, em cada uma das séries de escolaridade, e os seus

respectivos materiais didáticos correspondentes, para serem utilizados, visando à

aprendizagem. Em relação a esse conhecimento, Shulman (1986) orienta sobre a

necessidade de se contextualizar, de forma inclusiva, a experiência de ensino, seja

em aula, na escola, na família, na comunidade, ou na sociedade.

Quanto às formas de apresentação do conhecimento:

Conhecimento proposicional – é a apresentação de três tipos de posições:

princípios, máximas e normas que correspondem fundamentalmente a tipos de

árvores do conhecimento proposicional no ensino. Esses tipos de posições são

correspondentes a três fontes principais de conhecimentos sobre o ensino:

investigação filosófica ou empírica sistematizada; experiência prática; e

fundamentação moral ou ética. Essas proposições orientam o trabalho do professor,

não porque elas sejam verdadeiras, em termo científico, ou porque trabalhem em

termos práticos, mas porque são moral ou eticamente corretas. Shulman (1986, p.

10, tradução nossa) destaca que – “Muito do que é ensinado aos professores está na

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forma de proposições”.23 Mas, embora as proposições apresentem a potencialidade

de ser uma forma econômica de contemplar a simplificação, combinada com a

complexidade de um conteúdo, possuem a fragilidade, por serem

descontextualizadas, não terem significado para o aprendiz e não estabelecerem

relações com as suas experiências anteriores, sendo de difícil memorização. Uma

determinada proposição, portanto, precisa estar associada às outras formas de

apresentação, como a de caso.

Conhecimento de caso – é a forma em que o professor apresenta o conteúdo

por meio de casos, favorecendo a articulação entre a teoria e a prática, ilustradas no

próprio caso. Shulman (1986, p. 11, tradução nossa) explica que:

Conhecimento de caso é o conhecimento de um acontecimento específico, bem documentado e descrito detalhadamente. Considerando-se que os casos em si são relatos de eventos ou sequência de eventos, o conhecimento que eles representam é que os torna em casos. Os casos podem ser exemplos de situações específicas da prática – descrição detalhada de como um evento instrucional ocorreu – de modo completo com contextos particulares, pensamentos e sentimentos. Por sua vez, eles podem ser exemplares de princípios, exemplificando em seus detalhes uma proposição mais abstrata ou confirmação teórica.24

Assim, também, o autor faz proposições de três tipos de casos: Protótipos que

exemplificam os princípios teóricos; Precedentes, que capturam e comunicam os

princípios da prática, ou máximas; Parábolas que transmitem normas e valores.

Podendo um caso possuir mais de uma dessas funções.

Ao professor optar pela apresentação do conteúdo, na forma de casos,

favorece, no processo de ensino e aprendizagem, a articulação entre a teoria e a

prática. Uma vez que essa relação se mostra entrelaçada, num relato de caso

(GONÇALVES; GONÇALVES, 2011).

Conhecimento estratégico – é um tipo de conhecimento do professor que se

manifesta durante a ação docente. O conhecimento estratégico aparece em situações

práticas, da sala de aula, em que ocorrem desafios, ou problemas específicos, de

ordem teórica, prática ou moral, que exigem uma decisão docente, face ao confronto

de situações em que os princípios se mostram contraditórios, e que não se evidencia

23 “Much of what is taught to teachers is in the form of propositions”. 24 Case knowledge is knowledge of specific, well-documented, and richly described events. Whereas cases themselves are reports of events or sequences of events, the knowledge they represent is what makes them cases. The cases may be examples of specific instances of practice – details descriptions of how an instructional event occurred – complete with particulars of contexts, thoughts, and feelings. On the other hand, they may be exemplars of principles, exemplifying in their detail a more abstract proposition or theoretical claim.

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uma solução simples. Um conhecimento que se constrói, na ação docente, no

enfrentamento dos desafios presentes no ensino, que implica em reflexão na ação,

como explica Schön (1995).

Destacamos que as contribuições de Shulman tornam-se significativas, em

relação à formação inicial do professor de Matemática, ao descrever os

conhecimentos do professor e as formas de saber proposicional, estratégico e de

caso, essas orientações nos ajudam a entender que os conhecimentos docentes

desenvolvidos, em sua formação, é que, permitem refletir criticamente e perceber as

relações mais complexas da prática. Sobretudo, nos ajudam a entender que a

capacidade do professor em produzir conhecimento, na reflexão e na prática, depende

de sua formação epistemológica (FIORENTINI; SOUZA JUNIOR; MELO, 2011).

4.2.4 Perrenoud

O nome de Philippe Perrenoud (1954 – ) está associado aos pesquisadores

que defendem a concepção de professores, como profissionais reflexivos, tanto para

a formação inicial, como para formação contínua, considerando-se uma estratégia de

profissionalização do ofício de professor. Suas pesquisas contribuem, principalmente,

para a perspectiva da compreensão da construção de saberes e competências para

ensinar, e do desenvolvimento da identidade profissional.

Perrenoud (2002, p. 16) considera que, na Educação, a vinculação ao

paradigma reflexivo é desafiante, por ser complexo, pois, se trata, ao mesmo tempo

de “[...] ampliar as bases científicas da prática, onde elas existam, e lutar contra a

ignorância ainda muito ampla das ciências humanas, da psicologia e, acima de tudo,

das ciências sociais.” Como também, por se fazer necessário “[...] desenvolver

formações que articulem a racionalidade científica e a prática reflexiva não como irmãs

inimigas, mas como duas faces da mesma moeda”.

Esse autor enfatiza que na preparação de profissionais reflexivos não é

possível se fazer de tudo na fase da formação inicial, mas recomenda que seja

desenvolvida uma relação, com os saberes e a profissão estará calcada no

desenvolvimento de uma postura reflexiva. Considera que “[...] A dimensão reflexiva

está no centro de todas as competências profissionais, tendo em vista que ela constitui

seu funcionamento e seu desenvolvimento” (PERRENOUD, 2002, p. 20).

Destacaremos aqui algumas ideias e conceitos que pareceram relevantes para

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nosso estudo, no sentido da formação docente.

Noção de prática reflexiva – A prática reflexiva será entendida como “[...] a

reflexão acerca da situação, dos objetivos, dos meios, do lugar, das operações

envolvidas, dos resultados provisórios, da evolução previsível do sistema de ação”

(PERRENOUD, 2002, p. 30). Compreende dois processos mentais, distintos, e ao

mesmo tempo, interligados: refletir durante a ação e refletir sobre a ação. No primeiro,

indagamos sobre o que está acontecendo ou o que vai acontecer; no segundo, é

tomada a nossa própria ação como objeto de reflexão.

Desenvolvimento de postura reflexiva – A postura reflexiva desenvolve-se,

na prática reflexiva, em interação com a experiência da prática, pela aquisição de

métodos, ferramentas conceituais, fundamentados em diversos saberes e na

interação com outros profissionais. Trata-se de disposição e competência para uma

prática reflexiva, que se constitui a base de uma análise metódica, sistemática,

instrumentalizada e efetiva. Desenvolvida mediante experiências dedicadas à análise

na prática e ao procedimento clínico25 no decorrer de sua formação inicial e contínua.

Considerando-se que, no processo de formação devem ser desenvolvidas

capacidades de autorregulação e aprendizagem, de autosocioconstrução do habitus,

do saber fazer, das representações e dos saberes profissionais. Isto é, “uma relação

reflexiva a respeito do que fazemos” (PERRENOUD, 2002, p. 44-45).

Formação de Habitus – para Perrenoud (2002) o habitus é um conjunto de

disposições interiorizadas, e que será observado pelas suas manifestações por meio

dos nossos atos, e da nossa forma de inserção no mundo. Evidencia-se pela

frequência e estabilidade, com que se manifestam as condutas do profissional, em

situações semelhantes; e em face dessas ações, o observador pode fazer inferências

de esquemas de um sistema de pensamento e de ações.

Desenvolvimento de competências para ensinar – Para Perrenoud (2000) a

noção de competência refere-se a uma capacidade de mobilizar diversos recursos

cognitivos para enfrentar um tipo de situações. Perrenoud e Thurler (2002, p. 19)

apresentam a seguinte definição de competência.

[...] define-se uma competência como uma aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida pertinente ou criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção,

25 Procedimento clínico – segundo Perrenoud (2002) trata-se da proposição de resolução de problemas, em que se utiliza de

forma sistematizada e metódica a análise reflexiva da prática profissional.

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de avaliação e de raciocínio.

Essa definição compreende que: as competências mobilizam, integram e

orquestram os recursos, como saberes, saber fazer ou atitudes; a mobilização é

pertinente a cada situação em sua singularidade, mesmo que seja vista em analogias

com outras situações; está relacionada a operações mentais complexas,

subentendidas por esquemas de pensamento; desenvolve-se num processo de

formação teórico-prático acadêmico e de experiência da prática profissional

(PERRENOUD, 2000).

Nessa perspectiva, esse pesquisador identifica 10 competências básicas para

ensinar (PERRENOUD, 2000) e propõe que a formação de professores para a

construção de competências se desenvolva em uma verdadeira articulação entre a

teoria e a prática (PERRENOUD; THURLER, 2002).

Concepção de professor – na visão de Perrenoud (2000; 2001; 2002) o

professor será um engenheiro de situações de aprendizagem, o organizador de uma

pedagogia construtivista, desenvolvendo o processo de mediação, para que os

aprendizes construam o conhecimento e encontrem o sentido para a aquisição de

saberes necessários, para sua própria formação. Apresenta como exemplo, a situação

em que os alunos não veem sentido na Matemática, e em face desse desafio o

professor necessita ser capaz de justificar e ligar esse conteúdo às práticas sociais,

aos problemas da humanidade, a um uso filosófico e prático desse saber.

O professor ser capaz de realizar acompanhamentos individualizados, ao

administrar a heterogeneidade emergente, e presente na sala de aula, sejam de

origens sociais, ou de níveis de escolaridade, no contexto atual, dos sistemas

escolares.

Portanto, nessa concepção de professor, estabelece-se o desafio de que –

“Formar um profissional competente significa formá-lo para reagir adequadamente no

lapso de tempo deixado pelas circunstancias da ação” (PERRENOUD, 2001, p. 175).

4.2.5 Tardif

Maurice Tardif, em seus estudos sobre formação profissional, traz contribuições

significativas ao considerar os saberes cotidianos dos professores para a

compreensão da formação, em relação a identidade, e aos papeis profissionais.

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Destacamos, a seguir, algumas de suas ideias que nos parecem relevantes para esse

estudo.

Concepção de professor – segundo Tardif (2014) o professor é um sujeito do

conhecimento, é ator competente, que detém saberes específicos do seu trabalho,

desenvolve e constrói teorias, conhecimentos e saberes, considerando-se que a

prática desenvolvida é um espaço de aplicação de saberes da teoria e da produção

de saberes específicos, oriundos dessa mesma prática.

Tardif (2014, p. 39) afirma que, em suma “[...] o professor ideal é alguém que

deve conhecer a matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos

conhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia e desenvolver um

saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos”.

Esse autor concebe a profissão docente, em sua unidade, como uma categoria

de ofício, do nível pré-escolar ao nível universitário. Entende que o reconhecimento

social dos professores, como sujeitos do conhecimento e atores sociais, está

relacionado ao reconhecimento entre os próprios professores, em todos os níveis, ao

perceberem uns aos outros, como pares iguais, e aprenderem, na interação uns com

os outros, e desenvolvendo a aprendizagem, para a melhoria do ofício de professor

(TARDIF, 2014).

Formação de professor – com base na concepção do professor, como sujeito

do conhecimento, o autor argumenta sobre a formação de professores a partir de três

reflexões: a participação do professor ou do futuro professor, de modo que possa atuar

em sua própria formação como sujeito ativo; a formação de professores deveria, em

boa parte, ser desenvolvida num processo de aprendizagem com aqueles que

efetuam o trabalho docente, para o qual está se preparando, uma vez que, os

conhecimentos específicos, oriundos da profissão, serão mais bem desenvolvidos,

numa relação teoria e prática, junto àqueles que atuam na docência; a organização

das disciplinas dos cursos de formação docente deveria seguir a lógica profissional,

cada uma das áreas de conhecimento estaria em função das práticas dos profissionais

docentes, e precisariam ser levadas em conta as condições de trabalho e as

possibilidades de ação para o desenvolvimento da prática, no enfoque reflexivo.

Epistemologia da prática profissional – Tardif (2014, p. 255) denomina por

epistemologia da prática profissional “[...] o estudo do conjunto dos saberes utilizados

realmente pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar

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todas as suas tarefas”. Utiliza o termo saberes de forma ampla, contemplando

conhecimentos, competências, e habilidades, no sentido de saber, saber-fazer, saber-

ser.

4.2.6 Nóvoa

António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa (1954 – ), educador português, é

considerado um dos nomes de referência sobre formação de professores. Identifica-

se como professor pesquisador, e defende a necessidade das abordagens sobre a

formação docente deslocarem-se de uma perspectiva centrada nas dimensões

acadêmicas para uma perspectiva de formação centrada nas práticas e na análise

dessas práticas. Entendemos nessa direção os compêndios, produzidos na década

de 90 (século XX) em que foi o organizador, Os professores e a sua formação

(NÓVOA, 1995), Vida de Professores (NÓVOA, 2007a) e Profissão Professor

(NÓVOA, 2014). Apresentamos a seguir sínteses do pensamento de Nóvoa sobre a

concepção de professor e de formação de professor.

Concepção de professor – o autor ao considerar que, nesse início de século

XXI, está havendo um retorno aos estudos e discussões, com o enfoque dos

professores no centro das preocupações educativas, propõe que seja retomada a

pergunta “O que é um bom professor?” Para responder a essa questão reconhece a

importância da definição do bom professor, pelo trabalho exaustivo, ao elencar as

competências desejáveis para esse profissional, e apresenta algumas características

do bom professor, utilizando-se o termo “disposição”, para argumentar a favor de um

processo de formação de professores, construído dentro da profissão, compreendido

nas dimensões pessoais e profissionais, na produção identitária dos professores. A

partir dessa percepção, classifica cinco disposições ou facetas para a descrição do

que é um bom professor: o conhecimento; a cultura profissional; o tato pedagógico; o

trabalho de equipe; o compromisso social. Destaca, nesse sentido, que o domínio

científico na área de conhecimento específico de ensino é imprescindível, e faz

propostas de trabalho sugestivas para os programas de formação de professores

(NÓVOA, 2009).

Formação de Professor – Nóvoa (1995) concebe o desenvolvimento dos

professores, tendo como eixo de referência, uma formação em dupla perspectiva, do

professor individual e do coletivo docente, ou seja, do desenvolvimento pessoal e do

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desenvolvimento profissional, compreendendo, sobretudo, que necessita ser

promovida a interação entre as dimensões pessoais e profissionais para que os

professores apropriem-se dos seus processos de formação e encontrem o sentido de

sua profissionalidade na sua história de vida.

De modo contundente, com relação à formação de professor Nóvoa (2009, p.

44-45) afirma:

No essencial, advogo uma formação de professores construída dentro da profissão, isto é, baseada numa combinação complexa de contributos científicos, pedagógicos e técnicos, mas que tem como âncora os próprios professores, sobretudo os professores mais experientes e reconhecidos.

Nóvoa (2009, p. 14) argumenta sobre a importância de medidas na formação

de professores, para que se concretizem na prática, os discursos consensuais de

formação de professor reflexivo, tendo como linha de metodológica caminhos, tais

como:

Articulação da formação inicial, indução e formação em serviço numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida; Atenção aos primeiros anos de exercício profissional e à inserção dos jovens professores nas escolas; Valorização do professor reflexivo e de uma formação de professores baseada na investigação; Importância das culturas colaborativas, do trabalho em equipe, do acompanhamento, da supervisão e da avaliação dos professores; etc.

Na direção de avanços, para materializar na prática, o consenso que vem

sendo construído em torno da aprendizagem docente e do desenvolvimento

profissional, propõe três medidas: passar a formação de professores para dentro da

profissão; promover novos modos de organização da profissão; reforçar a dimensão

pessoal e a presença pública dos professores (NÓVOA, 2009).

Assim, Nóvoa (2009) a partir da concepção de que a profissionalidade docente

se constrói no interior de uma pessoalidade do professor coloca como essenciais à

definição dos professores nos dias de hoje, quatro (pré)disposições: o conhecimento

do que se ensina; a cultura profissional; o tato pedagógico; o trabalho em equipe; O

compromisso social.

A partir da contextualização da formação de professores do ensino secundário

europeu, Nóvoa (2009) com base nos princípios de valorização práxica, apresenta o

pressuposto de que os futuros professores percorram três momentos em seu

processo de formação: Licenciatura em disciplina específica, Mestrado em ensino, e

um período probatório profissional.

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Nesse contexto, o autor faz cinco propostas, para inspirar uma renovação dos

programas e das práticas de formação docente, marcadas com a letra P: Práticas;

Profissão; Pessoa; Partilha; Público. Assinalamos aqui essas proposições, ao

considerarmos que servem de referências para diretrizes na formação de professores

brasileiros. Veja no Quadro 3, os enunciados dessas propostas.

Quadro 3 - Enunciados das Propostas para formação docente de Nóvoa (2009)

Práticas – A formação de professores deve assumir um forte componente de prática,

centrada na aprendizagem dos alunos e no estudo de casos concretos, tendo como

referências o trabalho escolar;

Profissão – A formação deve passar para <dentro> da profissão, isto é, deve basear-se na

aquisição de uma cultural profissional, concedendo aos professores mais experientes um

papel central na formação dos mais jovens;

Pessoa – A formação de professores deve dedicar uma atenção especial às dimensões

pessoais da profissão docente, trabalhando essa capacidade de relação e de comunicação

que define o tato pedagógico.

Partilha – A formação de professores deve valorizar o trabalho em equipe e o exercício

coletivo da profissão, reforçando a importância de projetos educativos na escola;

Público – a formação de professores deve estar marcada por um princípio de

responsabilidade social, favorecendo a comunicação pública e a participação profissional

no espaço público da educação. (NÓVOA, 2009).

Fonte: Autora

Consideramos importante, ainda, ressaltar que Nóvoa (2014) ao argumentar

sobre a “a escola como o lugar da formação”, situa-a no contexto das tendências da

sociedade em que vivemos e que demandam a necessidade de novas disposições:

relacionais, respondendo à sociedade do espetáculo; organizacionais,

respondendo à sociedade da competição; reflexivas, respondendo à sociedade do

consumo; e deliberativas, respondendo à sociedade do conhecimento.

Em função desse contexto, os programas de formação serão pensados no

sentido de atenderem as novas disposições, seguindo as quatro orientações que

aparecem no Quadro 4.

Especificamente, em relação à formação docente na dimensão do

desenvolvimento pessoal, salientamos a compreensão de Nóvoa (1995; 2007a; 2009)

de que o professor é a pessoa, e que a pessoa é o professor, e que precisamos

avançar para uma compreensão do ensino como profissão do humano e do relacional,

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e de que nessa experiência exige-se que os professores sejam vistos, como pessoas

inteiras. A construção de uma identidade pessoal é por meio de um trabalho de

reflexão crítica sobre as práticas. Considera, nesse sentido, necessário que os futuros

professores desenvolvam hábitos de autoconhecimento, autorreflexão, autoanálise,

sejam estimuladas às práticas de autoformação, que favoreçam à construção de

narrativas, sobre as suas próprias histórias de vida pessoal e profissional. Considera,

também, que os programas de formação precisam promover uma perspectiva crítico-

reflexiva que forneça os meios de um pensamento autônomo e que facilitem as

dinâmicas de autoformação participada. Considera que no processo de estar em

formação, implica em um investimento pessoal num trabalho livre e criativo sobre os

percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma identidade pessoal,

que é também uma identidade profissional.

Quadro 4 - Orientações de Nóvoa (2014) para novas disposições para formação docente.

FORMAÇÃO-ACOMPANHAMENTO nos primeiros anos de exercício profissional.

FORMAÇÃO-EM-SITUAÇÃO (in situ) centrada na própria escola e no seu projeto

educativo.

FORMAÇÃO-MÚTUA (inter-pares) baseada na cooperação e no diálogo profissional.

FORMAÇÃO-ANÁLISE que prepare os professores para uma “transposição deliberativa”

dos saberes.

Fonte: Autora

Nóvoa (2007a) afirma que a vida do profissional é, antes de qualquer coisa, a

vida da pessoa que trabalha, como professor, que, no desenvolvimento profissional,

o mais importante do que formar, é formar-se e, que todo o conhecimento é

autoconhecimento e que toda a formação é autoformação.

As concepções teórico-epistemológicas e metodológicas que fundamentam a

formação inicial de professores apresentadas aqui nesse capítulo representam

perspectivas ideológicas básicas que foram discutidas e geradas no movimento de

profissionalização, caracterizando-se no âmbito da Educação como uma tentativa de

reformulação e renovação dos fundamentos epistemológicos do ofício de professor

(ONUCHIC; HUANCA, 2013).

As concepções de Schön, Zeichner, Shulman, Perrenoud, Tardif, e Nóvoa têm

como eixo em comum um paradigma reflexivo para o desenvolvimento profissional,

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na concepção da formação de professores. Esses teóricos traçam o ideário da

preparação de professores, para iniciarem a profissão, na perspectiva da prática

reflexiva articulada à racionalidade científica. Apresentamos no

quadro 5 uma síntese do ideário das concepções do bom professor, e no

Quadro 6 uma síntese das características da sua formação docente nessa

perspectiva.

Quadro 5 - Perfil do bom professor.

O bom professor é o profissional prático reflexivo que:

Desenvolve uma prática educacional reflexiva – pelo conhecimento na ação, reflexão

na ação ou durante a ação, reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação.

Desenvolve um papel ativo na formulação de propósitos e finalidades serem atingidas

em seu trabalho, sabe por que ensina, para que ensina, para quem e como ensina.

Posiciona-se como sujeito do conhecimento, ator, artífice.

Reconhece a escola como um lugar de formação.

Apresenta domínio de conteúdo da disciplina específico, conteúdo pedagógico e

curricular.

Desenvolve o habitus e competências para ensinar em articulação teoria e prática.

Organiza o ensino na perspectiva construtivista.

Favorece a construção do conhecimento fazendo a mediação entre os conhecimentos

prévios dos aprendizes e os novos conhecimentos científicos, de modo que esses

encontrem o sentido para a aquisição de saberes necessários para sua própria

formação.

Produz saberes, pela atuação como de professor-pesquisador, considera a prática

desenvolvida como um espaço de aplicação de saberes da teoria e da produção de

saberes específicos oriundos dessa mesma prática.

Busca o desenvolvimento pessoal e profissional na perspectiva do autoconhecimento e

autoformação.

Assume o comprometimento e a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento

profissional.

Desenvolve uma postura reflexiva e reconhece a sua formação profissional como um

continium em sua carreira.

Fonte:Autora

Quadro 6 - Proposições para a formação profissional do professor prático investigativo

reflexivo.

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A formação profissional do professor será idealizada no sentido de:

Promover o desenvolvimento pessoal e do desenvolvimento profissional, pela formação profissional

centrada nas práticas e na análise dessas práticas.

Organizar o ensino de modo a favorecer a construção do conhecimento do conteúdo específico,

pedagógico e curricular da matéria de ensino.

Desenvolvimento de competências para ensinar, pela prática reflexiva em interação com a

experiência da prática, pela aquisição de métodos, ferramentas conceituais fundamentadas em

diversos saberes, e em interação com outros profissionais.

Criar espaços para o desenvolvimento de uma nova epistemologia da prática, baseada na reflexão

do profissional sobre a sua prática que possibilite o enfrentamento dos desafios e dos problemas

que vão surgindo na prática educacional.

Promover a inserção do profissional de forma comprometida com a reflexão como prática social.

Incentivar hábitos de autoconhecimento, autorreflexão, autoanálise, sejam estimuladas às práticas

de autoformação.

Estabelecer estratégias educacionais que possibilitem experiências na relação teoria e prática junto

àqueles que atuam na docência.

Incentivar as práticas de interação entre professores-pesquisadores e pesquisadores acadêmicos.

Fonte: Autora

As proposições para a formação profissional do professor prático investigativo

reflexivo, assinaladas no Quadro 6, se constituem em referencial teórico-metodológico

para os professores formadores. Acreditamos que ao ser desenvolvido o processo de

ensino e de aprendizagem, em cada um dos componentes curriculares na Licenciatura

em Matemática nessa perspectiva, poderemos avançar no sentido da melhoria do

processo de profissionalização docente e do ensino de Matemática.

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CAPÍTULO 5

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA E

AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA

Neste capítulo, investigamos a formação inicial do professor de Matemática, no

contexto do sistema educacional brasileiro e as contribuições da Psicologia, como

componente curricular em Cursos de Licenciatura em Matemática.

Com base nas pesquisas selecionadas, referentes às relações entre a

formação de professores de Matemática e a Psicologia, nessa formação, no período

das últimas décadas do século XX, e início do século XXI, traçamos um panorama

descritivo com o propósito de: identificar o lugar e o papel da Psicologia, como

componente curricular que se insere nas Licenciaturas em Matemática, como locus

de formação de docentes em Matemática para a Educação Básica; analisar as

contribuições da Psicologia na formação dos futuros profissionais do ensino de

Matemática; e avaliar componentes curriculares da área de Psicologia no contexto da

Educação Superior brasileira.

Quanto ao processo de investigação ao desenvolver essa análise

consideramos três dimensões: teórica, metodológica e avaliativa.

Teórica, na perspectiva de estabelecermos como referências as principais

concepções sobre formação de professores; as políticas nacionais de formação

docente, regulamentação, instruções e diretrizes para Licenciaturas em Matemática;

os conhecimentos produzidos pelas pesquisas brasileiras, no contexto dos estudos

de formação docente, voltadas para a inserção da Psicologia nos cursos de

Licenciaturas, que contemplem a especificidade da formação inicial de professores de

Matemática.

Metodológica, no sentido da sistematização das informações observadas, na

literatura, e produções acadêmicas, no mapeamento das informações relativas aos

saberes psicológicos nos Cursos de Licenciatura em Matemática, do cruzamento dos

registros entre os dados documentais e os estudos realizados e suas constatações.

Nesse sentido, com relação ao processo de formação profissional, foram

desenvolvidas as reflexões sobre a relevância do conhecimento de Psicologia, os

resultados das pesquisas sobre a Psicologia, as críticas e os desafios enfrentados

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concernentes à presença dessa disciplina nos cursos de Licenciatura em Matemática.

Avaliativa, ao buscar fazer um diagnóstico do componente curricular da

Psicologia, nos Cursos de Licenciatura em Matemática, e os desafios, a serem

enfrentados pelo professor de Psicologia, na busca de que esse componente cumpra

o seu papel, como um dos elementos formadores significativos. Apresentando uma

apreciação sobre a contribuição da Psicologia, na formação do docente que ensina

Matemática.

A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NO BRASIL

A formação de professores ainda tem a honra de ser,

simultaneamente, o pior problema e a melhor solução em educação. Michael Fullan, 1993

Pensar a formação inicial de professores é pensar em aprendizes profissionais,

que em suas experiências de vida estabeleceram como um marco inicial à escolha

dessa ocupação no mundo do trabalho, seja essa uma decisão, mais, ou menos

autônoma. Essa escolha implica em envolvimento num processo contínuo de

desenvolvimento profissional, em função dos próprios desafios relacionados ao seu

“o que fazer”, e ao contexto sócio-cultural e econômico em que se insere.

A temática da formação inicial de professores de Matemática mostra-se

significativa, pelo que representa para a melhoria na qualidade do ensino, a inovação

no processo educacional, os avanços significativos na escola.

Neste estudo, na perspectiva da formação de profissionais reflexivos

pesquisadores, compreendemos que o processo de formação e constituição de ser

professor resulta da interação entre as dimensões: pessoal e sociocultural. A primeira

atende a uma aspiração e ao desejo de cada um, em querer ser professor, e a

segunda, diz respeito aos programas e às instituições de formação de professores

(FIORENTINI; COSTA, 2002).

Assim, cientes de que essas dimensões sejam processos interdependentes,

analisamos as contribuições dos conhecimentos psicológicos, no desenvolvimento

profissional docente, no contexto das orientações indicadas nas políticas brasileiras,

de formação inicial de professores, nas Licenciaturas em Matemática.

Observamos que a formação de professores de Matemática, a partir da

concepção de formação como um processo de construção de conhecimento

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profissional, tem sido objeto de pesquisa, e vem sendo discutida sobre vários

aspectos. Investigações nessa área temática têm crescido, tanto quantitativa como

qualitativamente. No entanto, Fiorentini (2003) avalia que esses estudos têm pouca

sustentação investigativa e consistência teórica. Trouxeram a mudança no âmbito do

discurso. Tem sido propalada a concepção do professor, como profissional reflexivo,

investigador de sua prática, produtor de saberes, elemento-chave das inovações

curriculares na escola e principal responsável pelo seu próprio desenvolvimento

profissional. Mas, apesar da mudança do discurso, persiste a continuidade de uma

prática predominantemente retrógrada e centrada no modelo da racionalidade técnica,

que reveste as relações teoria e prática. Esse autor conclui que:

A verdade é que ainda sabemos muito pouco sobre como transformar o discurso em práticas efetivas, ou melhor, em como produzir discursos autênticos, sem ambiguidade semântica, a partir de investigações e experiências concretas que contemplem as novas concepções do professor como profissional autônomo e investigador de sua própria prática (FIORENTINI, 2003, p. 9).

Nesse contexto, percebemos que, ao mesmo tempo em que essa temática tem

crescido nas últimas décadas (GATTI; BARRETTO; ANDRÉ, 2011), tenha ocorrido

investimento em pesquisas, especificamente na área de Educação Matemática, ainda,

continua a constituir-se em assunto de interesse. Acreditamos que se mantenha,

como foco de investigação, pela sua complexidade instigante e pelas situações de

crises vivenciadas, na área educacional em nosso país, e pelos próprios desafios

inerentes ao estudo da formação de professores.

Diante da complexidade do processo de formação de professores, Candau

(1982) defende que os estudos, nessa área, necessitam ser trabalhados numa

perspectiva multidimensional, em que o conhecimento seja construído numa visão

integrada, partindo de uma perspectiva de que Educação é uma prática social,

inserida num contexto político social, e as pesquisas necessitam ser desenvolvidas

de modo articulado com a prática educativa cotidiana, em suas dimensões técnica,

humana e contextual.

Como também, Blanco (2003) a partir da visão de complexidade da temática

de formação inicial de professores, afirma que a área de estudos tem sido percebida

como problemática, uma vez que, intervém distintos elementos, tais como: formadores

de professores, professores aprendizes, pesquisadores, instituições e sociedade.

Fatores que se apresentam numa relação dinâmica, em interação, em continuo

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desenvolvimento, consistindo, assim, num constante desafio, na formação inicial de

professores; na definição de um programa que possibilite a formação de profissionais

do ensino, com a capacidade de desempenho de suas atribuições e do seu próprio

desenvolvimento profissional, em resposta às demandas sociais.

5.1.1 Formação inicial de professores de Matemática no Brasil: proposições e

avaliações

Apresentamos, neste item, a questão da formação inicial dos professores de

Matemática, no contexto da Licenciatura, como o locus da formação docente no país,

considerando-se que esse processo de profissionalização envolve diretamente as

Instituições de Ensino Superior, em especial as universidades.

Buscamos a compreensão dessa questão, sem perdermos de vista que a

formação de professores se desenvolve num contexto sócio cultural político e

econômico; bem como a sua complexidade, no propósito de formação de professores

para Educação Básica, abrangendo Educação Infantil e Ensino Fundamental e Ensino

Médio, perpassa de modo transversal, o ensino profissionalizante, a educação de

jovens e adultos, e a educação especial.

Com o objetivo de descrever o contexto em que a disciplina de Psicologia se

insere no processo de formação de professores, analisamos aqui os seguintes

aspectos: as políticas nacionais de formação inicial de professores, expressa na

legislação educacional vigente; o perfil do aprendiz/professor; as características dos

Cursos de Licenciatura em Matemática; e os desafios observados. Abordaremos,

estes enfoques com base nas pesquisas sobre formação de professores, baseando-

nos, principalmente, nos estudos de Gatti e seus colaboradores, no que diz respeito

às constatações sobre as Licenciaturas em Matemática.

Na atualidade, temos como marcos que redefiniram as políticas públicas de

formação de professores, no Brasil, a LDBEN nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (BRASIL, 1996), as Diretrizes Curriculares para Formação de

Professores da Educação Básica (BRASIL, 2002a), e as Diretrizes Curriculares

Nacionais para os Cursos de Matemática Bacharelado e Licenciatura (BRASIL,

2002b), como a expressão de uma busca de reformas e mudanças de modelo

formativo que prevaleceu, desde a criação dos cursos de Licenciatura. Essas

normatizações, em princípio, representaram para as Instituições de Ensino Superior a

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necessidade de adequação às propostas aprovadas.

Com base na LDBEN, nº 9.394/96, a Licenciatura em Matemática caracteriza-

se como a exigência legal para a formação inicial, ou seja, a exigência profissional, a

Habilitação para professores de Matemática, para a Educação Básica, no Brasil. Os

cursos de Licenciaturas serão ofertados pelas Universidades, Centros Universitários,

Faculdades Integradas, Faculdades Isoladas, ou Institutos de Educação. Conforme o

artigo 61º dessa Lei, a finalidade da formação de profissionais docentes na área de

conhecimento específico é atender aos diferentes níveis e modalidades de ensino, e

às características de cada fase do desenvolvimento do educando (BRASIL, 1996).

Destaca-se, também, no referido artigo, dessa Lei, a concepção de que a

formação docente, para que alcance as suas finalidades será desenvolvida, numa

perspectiva de associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação

em serviço e aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições

de ensino, e outras atividades, valorizando os conhecimentos prévios dos aprendizes/

professores desenvolvidos em suas experiências, na docência (BRASIL, 1996).

No âmbito do Ensino Superior, mostra-se que a Licenciatura em Matemática,

como uma entre as demais graduações, tem como finalidade a formação profissional,

como está indicada no artigo 43º da LDBEN (BRASIL, 1996).

Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito

científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos

para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural

e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

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Mostra-se, explicitada, nesse propósito, a concepção de formação de

profissional reflexivo, pesquisador, autônomo, comprometido com a continuidade de

sua própria formação, e sintonizado com os desafios da sociedade brasileira, e os

problemas do mundo presente. Estabelecendo-se a meta de formação de

profissionais envolvidos, no desenvolvimento científico e tecnológico.

Assim, observarmos nas normatizações vigentes, as referências instituídas de

princípios norteadores, que orientam o desenvolvimento dos cursos para formação do

professor de Matemática, de um direcionamento para o exercício da profissão

docente.

Entendemos que as Diretrizes Curriculares para Formação de Professores da

Educação Básica (BRASIL, 2002a), e as Diretrizes Curriculares Nacionais para os

Cursos de Matemática Bacharelado e Licenciatura, concebem o desenvolvimento de

competências, como núcleo norteador do curso de formação inicial de professores.

Compreendemos que, nessa perspectiva da política educacional,

evidenciamos a concepção de uma formação docente como processo de

desenvolvimento profissional contínuo, e a orientação para formação de um

profissional reflexivo, pesquisador, inovador, com competências para sua inserção e

atuação profissional e sociocultural. Traçando-se, especificamente, na docência, o

perfil de um profissional que tenha condições de se confrontar com desafios

complexos e diversificados, na sala de aula, estando capacitado para construir

soluções em sua ação, mobilizando seus recursos cognitivos e afetivos. Entendendo-

se esse processo de profissionalização, acompanhado de autonomia crescente, pelo

desenvolvimento profissional de competências, para tomada de decisões e

construção de estratégias (PERRENOUD, 2000).

Assim, face aos desafios propostos da regularização e adequação do preparo

dos professores, nas áreas de conhecimento específico, atuando em todas as regiões

do Brasil, diante das normatizações, e com o estímulo do Governo Federal ocorre um

crescente aumento da oferta de Cursos de Licenciatura em Matemática, nas últimas

décadas. A oferta de cursos, na primeira década do século XXI aumentou em mais

de 50% (BELTRÃO; MANDARINO, 2014). Mas, embora tenha havido uma explosão

de oferta de Cursos de Licenciatura, ainda se fez necessário, para atender a demanda

e as dificuldades de acesso à formação docente, a regulamentação das licenciaturas

a distância, e a implementação dos programas especiais junto às universidades

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brasileiras, tais como, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação

Básica (PARFOR). Projetos, como este, com a finalidade de que os professores que

já estão em serviço nas redes estaduais e municipais, possam tornar-se habilitados

ao exercício profissional docente, pela Licenciatura, como prevê a Legislação.

Apesar da expansão da oferta dos cursos e da expansão proporcional do

número de matrículas, o aumento do número de concluintes não tem ocorrido de modo

equivalente. O aumento constante da quantidade de cursos e de alunos pode ser

observado, como também a ampliação de desafios, no ensino de Matemática, pelos

registros de alta evasão. Situação que contribui para a continuidade da carência de

docentes habilitados, para atender à demanda de expansão da Educação Básica

(BELTRÃO; MANDARINO, 2014).

Com relação ao perfil dos estudantes, Gatti (2010), e Gatti, Barretto e Andre

(2011) argumentam que é importante considerar as características dos licenciandos,

uma vez que essas têm peso sobre as aprendizagens e seus desdobramentos na

atuação profissional. Descreve que, em relação à idade, a maioria dos acadêmicos

de Matemática encontra-se na faixa etária de 18 a 24 anos de idade (51,6%), situando-

se as demais faixas etárias, em torno de 20%, respectivamente, nos conjuntos de 25

a 29 anos, e de 30 a 39 anos. Quanto ao sexo desses estudantes, informa sobre

feminização da docência como um fenômeno, que não é recente.

O perfil dos licenciandos, no estudo de Beltrão e Mandarino (2014), realizado

com base nas respostas ao questionário sócio econômico do Exame Nacional de

Cursos (ENADE), no período de 2004-2011, revela que os concluintes de Matemática

estão entre os que possuem, em média, menor afluência sócio econômica, dentre

todas as Licenciaturas de áreas de conhecimento, avaliadas pelo ENADE.

Caracterizando-se o licenciando em Matemática, em menor afluência, ainda se

comparado, com o os graduados do Bacharelado em Matemática. Mas, são os

concluintes de Matemática, dentre as licenciaturas, que representam as áreas de

formação de professores com mais autonomia financeira, o que significa que, no final

do curso, em média, esses licenciandos já estão colocados, no mercado de trabalho.

Esses resultados confirmam o que observaram Gatti e Barreto (2009), sobre a

prevalência de que, a escolha pela docência tem sido percebida como uma espécie

de ‘seguro desemprego’, ou seja, querer ser professor, como uma alternativa que

traga certa garantia de sobrevivência, no caso de não haver possibilidade de outra

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atividade.

Também, sobre o perfil dos licenciandos em Matemática constamos que, a

maioria provém da escola pública (GATTI, 2010). Quanto à sua bagagem cultural,

tomando-se como indicador, a bagagem cultural familiar de que provêm os

estudantes, pela escolaridade dos pais, observamos que entre os estudantes dessa

licenciatura, 10% vêm de lares de pais analfabetos, e que se somando, aos lares em

que os pais que cursaram até a 4ª série do Fundamental, têm-se aproximadamente

50% dos acadêmicos nessa condição familiar. Evidenciando-se que o fato de estarem

matriculados no Ensino Superior, representa uma ascensão em relação ao seu meio

cultural.

No diagnóstico efetuado por Beltrão e Mandarino (2014), com base no Censo

2010, registramos que dentre os profissionais de Matemática, a ocupação principal de

trabalho mais recorrente é o magistério, havendo mudança de nível de ensino em que

atuam, conforme aumenta o seu grau de formação e isso quer dizer, que entre os

concluintes evidencia-se uma inserção no ensino da Matemática.

As políticas, em nível internacional (UNESCO, 2010), que concebem a

Educação como uma necessidade e um direito de todo ser humano, serviram de

fundamentação às Políticas Nacionais, que promoveram o aumento de modo

significativo, o acesso de alunos nas salas de aulas. Permanece, no entanto, o desafio

de oferecer educação de qualidade, sobretudo na formação docente.

Os estudos referentes à formação de professores intensificaram-se nos últimos

30 anos, porém, embora os desafios tenham sido diagnosticados, e desenvolvidas

novas concepções e proposições, entendemos que as mudanças na área educacional

demandam tempo. Gatti (2010), com relação a todos os tipos de licenciaturas avalia

que, a formação de professores para a Educação Básica é feita de modo fragmentado

entre as áreas disciplinares e os níveis de ensino, e isto implica em maior desafio aos

concluintes para sua inserção profissional, pois, dificulta que o processo de formação

inicial alcance aos objetivos a que se propõe de ensino de qualidade.

Os estudos de Gatti e Barretto (2009), Gatti (2010) e Gatti, Barreto e André

(2011), no que abordam o caso dos Cursos de Licenciatura em Matemática, analisam

que a estrutura curricular aparece com certo equilíbrio, na proporção das ofertas de

disciplinas, na área de conhecimento específico de Matemática e na de

conhecimentos específicos de docência, porém quanto à proporção de horas aulas

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constata-se uma desproporcionalidade, predominando mais aulas de conhecimento

especializado da área. O que se repete em relação à maior quantidade de optativas,

na área específica de Matemática. Embora nesse quadro, apareçam pequenas

variações nas diversas regiões do país.

Acreditamos que esses resultados diferenciados em relação aos cursos de

Matemática, estão associados ao desenvolvimento do conhecimento de Educação

Matemática. Como afirma Fiorentini (2003, p. 10) apesar das críticas em relação aos

professores de Matemática, por serem vistos como seguidores da tradição e,

resistentes às inovações curriculares e à integração com outras disciplinas, “os

educadores matemáticos, talvez, constituem um dos grupos profissionais que mais

procuram se aventurar por novos caminhos e com outros olhares em relação à

formação do professor, aos seus saberes e a sua prática docente”.

Quanto às ementas, os cursos analisados apresentaram conteúdos

considerados comuns a todos os cursos de Licenciatura em Matemática. As

fragilidades observadas nesses cursos são relativas à formação pedagógica, pela

forma em que se apresentam as ementas e o desenvolvimento de disciplinas de

Prática de Ensino e Estágio, e a falta de integração entre os contextos formativos da

Escola Básica e do Ensino Superior nos projetos pedagógicos, e também, pelas

situações vulneráveis, referentes à falta de articulação entre as disciplinas de

formação específica. Observou-se entre as matrizes curriculares analisadas que um

grupo considerável de cursos apresenta disciplinas, pouco específicas, quanto aos

nomes, as ementas são enunciadas de modo vago, com redundâncias de conteúdos

em distintas disciplinas (GATTI; BARRETTO, 2009; GATTI, 2010; GATTI;

BARRETTO; ANDRÉ, 2011).

Com base nessas pesquisas constatamos, sobretudo, que a formação de

professores, no Brasil, vem se apresentando com currículos fragmentados, com

conteúdos excessivamente genéricos e com grande dissociação entre teoria e prática,

estágios fictícios, e avaliação precária, interna e externa.

Gatti, Barretto e André (2011, p. 98 e115) apresentam as seguintes conclusões

em suas investigações, afirmando que:

Adentramos o século XXI em uma condição de formação de professores nas áreas disciplinares em que, mesmo com as orientações mais integradoras quanto à relação “formação disciplinar/formação para a docência”, na prática ainda se verifica a prevalência do modelo consagrado no início do século XX para essas licenciaturas [...]. Fica visível, nas estruturas curriculares, a

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permanência na maioria desses cursos do modelo ‘3+1’ [...].

Nesse sentido, os autores apontam que, em termos de institucionalização, nos

organismos formadores, pouco mudou até agora, e que se evidenciam as

discrepâncias entre o currículo efetivamente realizado nas Licenciaturas e as

diretrizes propostas pelo MEC e CNE, entre as políticas públicas e a formação de

professores. O que quer dizer que, embora as relações teoria e prática sejam

consideradas como necessárias em nossas normatizações e nas políticas

educacionais, essas relações não se encontram refletidas nos currículos praticados

pelas Instituições, no desenvolvimento da formação inicial de professores de

Matemática (GATTI; BARRETTO; ANDRE, 2011; GATTI, 2013).

Por outro lado, na própria discriminação entre bacharelado e licenciatura nas

Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática, percebemos a

dicotomia entre o perfil de pesquisador e o perfil de professor. Uma visão distorcida,

pois, ao indicar que a finalidade do Bacharelado é a preparação para a carreira

acadêmica de Pós-graduação, visando à pesquisa e ao Ensino Superior, seria preciso

incorporar à formação do professor-pesquisador as competências de ensino; ao

mesmo tempo em que, no caso da Licenciatura, qualquer professor deveria ter na

formação uma postura investigativa para desenvolver-se como professor-pesquisador

da própria prática (BELTRÃO; MANDARINO, 2014).

Observamos certa incoerência entre as orientações das Diretrizes Curriculares,

para Formação de Professores da Educação Básica (BRASIL, 2002a) e as indicações

das Diretrizes Curriculares Nacionais, para os Cursos de Matemática, Bacharelado, e

Licenciatura (BRASIL, 2002b), referente à concepção desenhada da primeira, no que

se relaciona ao ideário de professor pesquisador e reflexivo na prática, e a visão da

segunda, em que separa a formação de pesquisadores e de professores de

Matemática, quando, efetivamente, a maioria entre esses profissionais estarão na

prática do ensino.

A formação inicial de professores é ainda um tema que suscita intensos

debates, por ser apontada como um dos principais fatores intervenientes nos

resultados alarmantes do desempenho obtido pelos estudantes, do Ensino

Fundamental e Médio, nas avaliações nacionais e internacionais referente à qualidade

do Ensino Básico no Brasil.

Justamente nesse contexto, em que ainda existe a tendência na Licenciatura

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em Matemática de que os componentes curriculares se apresentem

compartimentalizados e o conhecimento da área de formação para docência

fragmentada, está inserida a Psicologia, como disciplina, tanto nos cursos presenciais

como nos cursos na modalidade de ensino a distância, sendo considerada como um

dos componentes chamados teóricas, entre um reduzido número de disciplinas.

Os desafios, diante desse panorama da formação inicial de professores de

Matemática são múltiplos, evidenciam-se, desde a formação de formadores a

reformulações dos componentes curriculares, passando pelas questões

organizacionais, de estrutura curricular, e de metodologia, como também, se

encontram em diversas dimensões sejam políticas, sociais, econômicas e

educacionais.

Com base no discurso de Gatti (sd), quando apresenta as perspectivas de um

novo modelo para a formação de professores, sobretudo, destacamos entre os

desafios com relação à melhoria da formação de professores de Matemática, a

importância da integração das pesquisas desenvolvidas nas Psicologias

(Educacional, Cognitiva, e Social), e, em especial na Psicologia da Educação

Matemática no ensino de Psicologia na Licenciatura em Matemática, uma vez que, os

conhecimentos psicológicos oferecem contribuições para concretizar as ações no

ensino e favorecem a construção de conhecimentos importantes para o

desenvolvimento humano e social, relacionados à construção de domínios e

competências sócio cognitiva.

5.1.2 A formação inicial do professor de Matemática e a Psicologia no contexto

das pesquisas nos Programas de Pós-Graduação.

Ao observarmos as pesquisas referentes à formação de professores de

Matemática, chamou-nos a atenção que nos estudos que fazem uma retrospectiva

das investigações em Educação Matemática, tais como as de Fiorentini (2002; 2003),

Xavier (1996) e Ferreira (2003), não se registram pesquisas que relacionem

diretamente a Psicologia na formação de professores. Aparecem entre as categorias

de pesquisa as temáticas: formação de professor de Matemática, Psicologia,

Cognição e Aprendizagem Matemática. Isto é, não foram identificados trabalhos que

façam uma relação do conhecimento psicológico e formação docente. Está explícito o

conhecimento psicológico nos estudos que enfocam o desenvolvimento cognitivo e o

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processo de ensinar e de aprender em Matemática, e de modo implícito nos métodos

de ensino de Matemática.

Para uma visão sobre os estudos realizados sobre a formação de professores

que ensinam Matemática, os trabalhos de Fiorentini são referência, tanto em sua tese

Rumos da Pesquisa em Educação Matemática, como em seus livros, artigos

produzidos e pesquisas, mas, sobretudo pela coordenação do GEPFPM - Grupo de

Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores de Matemática, da UNICAMP.

Fiorentini fez um inventário detalhado da produção acadêmica no Brasil em Educação

Matemática, abrangendo dos anos 60 ao início dos anos 90 (século XX). Ao identificar

204 trabalhos de teses e dissertações, encontrou 34 trabalhos na área temática de

Formação de Professores de Matemática, sendo que são observadas entre esses

estudos, 14 pesquisas que trataram especificamente da formação inicial de

professores, equivalente a 6,8% dos trabalhos, em Educação Matemática,

selecionados por esse autor. Evidenciando-se que, nas últimas décadas do século

XX, já se percebia um crescente interesse específico sobre esse foco, em questão

(FIORENTINI, 1994).

Entre os 14 estudos, catalogados por Fiorentini (1994), na categoria formação

inicial do professor de Matemática, foram agrupados 5, como Licenciatura em

Matemática, 2 como Magistério do 2º grau, e 7 como Estágio e Prática de Ensino de

Matemática. Ao examinarmos cada uma das sínteses desses trabalhos referenciados,

observamos que enfocam a formação pedagógica, o estágio e as práticas de ensino

no contexto dos cursos oferecidos na época, sem haver em nenhum deles uma

associação direta com o conhecimento de Psicologia.

O Mapeamento de Educação Matemática no Brasil, em 1995, organizado e

difundido pelo INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais,

apresenta, na categoria temática, Formação de Professores, 12 trabalhos

catalogados, que têm a ênfase nas atribuições profissionais, no que fazer do professor

de Matemática, mas também, nesse estudo não está relacionada essa temática com

a Psicologia, na condição de matéria que tenha a potencialidade de contribuição na

formação desse profissional (XAVIER, 1996).

Outro estudo, realizado por um grupo de pesquisadores, sob a liderança de

Fiorentini, Nacarato, et al. (2002), fez um balanço das pesquisas brasileiras relatadas

nas 112 teses e dissertações registradas no período de 1978, até fevereiro de 2002;

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cujo objeto de estudo é a formação ou o desenvolvimento profissional do professor

que ensina Matemática, considerando-se todos os que investigaram na área de

Matemática, incluindo os professores da Educação Infantil, e os das séries iniciais da

Educação Fundamental. Nesse levantamento, os trabalhos foram selecionados pelo

critério de duas categorias, formação inicial e formação continuada, sendo

descartadas as pesquisas que tratavam da prática docente, comportamento ou

pensamento do professor, sem uma relação explícita com a formação ou

desenvolvimento profissional. Dentro do enfoque de nosso interesse, a formação

inicial, em nenhum deles foi contemplada a presença da Psicologia.

Ferreira (2003), em seu estudo do estado da arte da pesquisa brasileira, cujo

objeto é a formação de professores de Matemática, identificou o conjunto de 103 teses

e dissertações de mestrado e doutorado produzidas, no Brasil, no período de 1970 a

2000, compreendendo de fato, o período de 25 anos de pesquisas, porque foram

identificadas pesquisas somente a partir de 1975. Nessas pesquisas, pode ser vista

a preocupação, em conhecer a licenciatura, identificar seus problemas e propor

alternativas de mudanças curriculares. No quadro apresentado pela autora, referente

às pesquisas nos anos 90, observamos o aumento significativo de investigações, e

uma nova tendência, no foco da formação de professores, na perspectiva de

formadores, e, da importância do trabalho colaborativo entre professores e

pesquisadores. A autora analisa que a ênfase nos estudos realizados tem sido a

formação acadêmica de professores que ensinam Matemática, que, no decorrer das

três décadas, persiste a tendência, em investigar programas de formação de

professores. Informa que, embora sejam levantadas novas questões e abordagens, e

tenham utilizado métodos qualitativos de investigação, os pesquisadores apontam

deficiências, no processo de formação inicial, e apresentam alguma perspectiva para

melhoria. Indicam como pontos fundamentais para a mudança o desenvolvimento de

um trabalho colaborativo que promova uma relação dialógica e equilibrada, entre a

teoria e prática, e entre os componentes estruturais do currículo para superação das

necessidades evidenciadas.

No estudo de Melo (2006), com o título – Três Décadas de Pesquisa em

Educação Matemática na UNICAMP: um estudo histórico a partir de teses e

dissertações, a autora propôs-se a mapear e a descrever a pesquisa acadêmica nesta

Instituição, nesse campo de investigação, identificando as principais tendências

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temáticas ou eixos temáticos, que permearam a produção acadêmica no período

investigado de 1976 a 2003 e, em especial, a pesquisa sobre formação de professores

que ensinam Matemática. Como resultado dessa pesquisa foi traçado um panorama

da pesquisa em Educação Matemática na UNICAMP, em que os dez eixos temáticos

diferentes foram analisados em seu processo histórico. Nesse estudo constatamos,

como destaque, a década de 1990, em que a ênfase nas pesquisas recaiu na

formação de pesquisadores em Educação Matemática e de formadores de

professores de Matemática.

Observamos que os estudos realizados apresentam um panorama das

pesquisas em Educação Matemática, e apontam um crescente interesse na temática

formação de professores de Matemática, mas, não aparecem estudos, com enfoque

interdisciplinar com a Psicologia, embora, no mesmo período histórico, também tenha

se sobressaído a quantidade de estudos desenvolvidos relativos à Psicologia, na

Educação Matemática (atitudes, aprendizagem e desenvolvimento conceitual).

5.1.3 A Formação Inicial do Professor de Matemática e a Psicologia, em artigos

publicados, em revistas especializadas

Com relação às publicações pertinentes à formação de professores de

Matemática, Passos (2009) realizou um estudo analisando a produção bibliográfica

constituída por artigos utilizando como referência o período de 1976 a 2007, e como

fonte de pesquisa, cinco periódicos da área de Educação Matemática, de âmbito

nacional: Gepem; Bolema; Educação Matemática em Revista; Zetetiké; e Educação

Matemática Pesquisa.

Nesses periódicos, identificados por Passos (2009), observamos que, só em

1980, aparece a primeira publicação e que o quantitativo de artigos publicados

relacionados ao tema formação de professores, revela uma curva de crescimento

acentuada no período de 1996 a 2005. Nesses 10 anos, encontram-se 79,5% dos

artigos catalogados e se constituem em produções bibliográficas. No cômputo geral,

57,6% do total de artigos, em formação de professores estão concentrados nos

últimos seis anos, (a partir de 2000), do período pesquisado.

Nas análises da autora, os artigos catalogados revelam que a formação de

professores é caracterizada por meio:

[...] da definição de formação, de seus objetivos e funções; do que se espera

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do professor ao final do processo formativo; dos conteúdos matemáticos e/ou pedagógicos propostos; da proposição de atividades práticas; da sugestão de cursos e suas estruturas curriculares; da reflexão sobre seus limites e as possibilidades inerentes ao próprio campo. (PASSOS, 2009, p. 308).

Nesse estudo sistematizado de artigos, por meio de uma leitura integrada e

comparativa, a autora verificou que é possível encontrar subsídios provenientes das

problemáticas investigadas, que contribuam para construção dos saberes necessários

aos professores para atuação em sua profissão, para o enfrentamento de desafios

escolares pertinentes ao ensino de Matemática (PASSOS, 2009).

Relacionado ao eixo temático, formação de professores, na pesquisa de

Passos (2009), encontramos a citação da Psicologia da Educação, como uma das

palavras-chave catalogadas, nos estudos dos periódicos, e algumas citações

secundárias, em que a Psicologia é vista como pertencente aos conteúdos

pedagógicos da formação docente. Aparece, também, a citação do conhecimento de

Psicologia como um dos atributos para formação docente em um dos artigos

analisados. No contexto dessa investigação destacamos, ainda, em um dos títulos

registrados – A psicologia educacional e a formação do professor-pesquisador:

criando situações desafiadoras para a aprendizagem e o ensino de matemática

(PASSOS, 2009, p. 325). Trata-se de um artigo, escrito por Brito (2002), que

consideramos representativo, com relação à contribuição do conhecimento

psicológico na formação do professor de Matemática.

5.1.4 Grupos de pesquisa que estudam a formação de professores de

Matemática no enfoque da Psicologia

Realizamos um levantamento junto ao CNPq, dos grupos e/ou linhas de

Pesquisa existentes, com a especificidade de formação de professores de

Matemática, referente ao período de 1980, quando aparece o primeiro registro, até o

ano de 2014. Na categoria selecionada formação de professores de Matemática,

localizamos 10 grupos de pesquisa, e identificamos entre os grupos de pesquisa do

CNPq o total de 103 grupos que desenvolvem esse estudo como linha de pesquisa.

Dentre esses grupos, localizamos apenas um que desenvolve a linha de investigação

em Psicologia da Educação Matemática.

Esses dados revelam que a quantidade de grupos que estudam a relação

Psicologia e Formação de Professores de Matemática, na perspectiva interdisciplinar,

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é muito restrita. Embora os grupos de pesquisa em Psicologia da Educação no âmbito

de suas pesquisas, trabalhem com a Matemática como uma das Licenciaturas, de

modo geral, não contemplam em suas investigações em formação de professores o

enfoque do desenvolvimento e aprendizagem do conhecimento em Matemática e as

relações entre Psicologia e Educação Matemática. O que é um indicativo da

necessidade de maior aproximação entre os pesquisadores para estudos nessa

perspectiva interdisciplinar.

Tomemos aqui, como referência, as inquietações manifestas entre os

pesquisadores, no Seminário II, Formação de Professores e Educação Matemática,

em 2014, organizado pelo Programa de Estudos Pós-graduados em Educação

Matemática da PUCSP. Na convocação e na apresentação das propostas foram

levantados os seguintes questionamentos: O que significa pesquisar “Formação de

Professores” numa área como a Educação Matemática? Sobre quais questões

precisamos nos debruçar, para oferecermos conhecimentos novos ao debate da

formação docente?

São questões instigadoras aos pesquisadores e aos professores formadores

que confirmam a percepção de Fiorentini (2003), de que precisamos avançar no

conhecimento sobre formação de professores de Matemática, no sentido de uma

praxis efetiva de pesquisas que promovam mudanças e transformações.

Como apresentamos aqui, nas últimas décadas, a temática formação de

professores, no contexto de Educação Matemática, tem se destacado, e é vista como

um caminho para o desenvolvimento da Educação Matemática no processo escolar.

Com relação às pesquisas desenvolvidas em Educação Matemática, Pires

(2014), analisa o processo de construção desse conhecimento via pesquisas

realizadas e a inserção da linha de pesquisa, formação de professores. Refere-se

que a motivação inicial para compreender, como se dá a construção de

conhecimentos matemáticos, procurando alternativas de melhoria no processo ensino

e aprendizagem do conhecimento matemático, constituiu-se num primeiro movimento

das investigações, nessa linha de pesquisa. E, muito apropriadamente, sintetiza a

trajetória evolutiva e a identificação quanto aos tipos de pesquisa, situando as

investigações relativas à formação de professores de Matemática entre as pesquisas

correlatas, conforme mostra a figura 18.

Pires (2014), na Figura 18, indica as relações necessárias de interação entre

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as vertentes de Pesquisas Nucleares e de Pesquisas Correlatas. Denomina de

Pesquisas Nucleares, as que têm como objeto de estudo, o ensino e aprendizagem

de Matemática, e que focalizavam dimensões biopsicológicas, e as dimensões

culturais e sociais, e de correlatas ao conjunto de pesquisas, em que se destacam as

investigações sobre formação de professores, tecnologias, organização e

desenvolvimento curricular, estudos históricos e filosóficos, e outros, sobre a

Matemática e Educação Matemática.

A autora faz uma crítica referente às pesquisas em Educação Matemática,

levantando o questionamento sobre a situação atual da predominância das pesquisas

correlatas sobre as nucleares. Aponta que as pesquisas nucleares perderam espaço

para as correlatas de tal forma que parece que não temos questões a responder sobre

aprendizagem, e que esse campo de investigação não avançou para além das críticas

pertinentes aos pensadores como Piaget, Vygotsky, Van Hiele. Acrescenta que não

têm sido apresentadas propostas que relacionem os conhecimentos sobre

aprendizagem, contextualizados aos conhecimentos matemáticos. Como também,

critica que, na análise dos fenômenos didáticos não há articulação entre fatores

biopsicológicos e as relações sociais e culturais, e a ênfase na investigação é

dicotomizada, sem se considerar a interação entre esses fatores.

Com relação ao lugar que ocupam as pesquisas, em “Formação de

Professores”, no contexto de Educação Matemática, levanta questões em torno das

necessidades e possibilidades de se oferecer conhecimentos novos ao debate.

Apresenta o questionamento: O que significa pluralidade e heterogeneidade, no caso

dos saberes dos professores que ensinam Matemática? De que saberes se está

falando quando nos referimos ao professor que ensina Matemática? O que podem ser

consideradas competências profissionais, específicas do professor, que ensina

Matemática? As investigações que vem sendo produzidas sobre a formação docente

se fundamentam e incorporam os conhecimentos desenvolvidos e disponíveis em

Educação Matemática? Considerando, assim, que é preciso avançar nessas

discussões, para ampliar o conhecimento e promover mudanças, no próprio processo

de formação de professores.

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Figura 18 - Mapeamento das pesquisas em formação de professores de Matemática no Brasil. Fonte: PIRES (2014).

Entendemos que, para avançar nessa discussão, faz-se necessária uma maior

aproximação e esforço conjunto de pesquisadores, numa perspectiva multidisciplinar,

e nesse contexto, acreditamos que as pesquisas em Psicologia da Educação

Matemática, nessa direção, contribuirão significativamente para ampliação do

conhecimento de formação de professores de Matemática.

No contexto do Programa de Pós-Graduação, em Educação Matemática da

PUCSP, e da linha de “A Matemática na Estrutura Curricular e Formação de

Professores”, Pires (2014) relata que fez um levantamento entre os orientadores

desse Programa sobre trabalhos concluídos que tivessem como expressão-chave

“Formação de Professores” ou que trouxessem contribuições específicas para esse

tema. O resultado desse levantamento mostrou que foram produzidos 102 trabalhos,

sendo 25 doutorados, 46 mestrados acadêmicos e 31 mestrados profissionais,

envolvendo o tema da formação de professores. Essas informações confirmam o que

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já havia sido indicado nas pesquisas de Fiorentini (1994), Fiorentini, Nacarato, et al.

(2002), Melo (2006), e Passos (2009) sobre a tendência do aumento de pesquisas,

no enfoque de formação de docentes que ensinam Matemática, o que representa que

esse interesse continua presente na busca de respostas para a melhoria na formação

dos professores que ensinam Matemática.

Especificamente, sobre a formação inicial, Pires (2014, p. 7) refere:

[...] que a literatura sobre o tema evidencia a dificuldade em se desenhar formas mais criativas e inovadoras nos cursos de Licenciatura em Matemática, marcados por configurações bem tradicionais e que não incorporam o que já se sabe sobre a formação inicial para a docência.

O que mostra o descompasso entre produção acadêmica e os projetos

pedagógicos em ação, nas Instituições de Ensino Superior. Parece-nos que falta um

processo de mediação, para se implementarem reformas e mudanças, para se

concretizar nas Licenciaturas em Matemática, o que tem sido concebido, como

potencialidade, nos estudos sobre formação de professores.

Concordamos com Pires (2014), quando afirma que Educação Matemática está

“devendo” propostas, baseadas em pesquisas, que conduzam transformações

desejáveis e possíveis na formação inicial, pela constatação de que os projetos

pedagógicos de cursos de formação de professores de Matemática continuam

apresentando as desarticulações clássicas, tais como: conhecimentos específicos e

conhecimentos pedagógicos, conhecimentos teóricos e conhecimentos práticos.

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA

O sentido do ensino de Psicologia, no curso de Licenciatura em Matemática tem

sido questionado pelos educadores matemáticos, no contexto acadêmico, face as

queixas dos estudantes em relação aos saberes psicológicos, que são desenvolvidos

em classe pelos professores formadores. Aparecem queixas relativas à

obrigatoriedade ao estudo de conteúdo insípido, das abordagens de teorias de

aprendizagem e desenvolvimento humano, descontextualizadas da realidade

educacional, e da especificidade do licenciando de Ciências Exatas. Sendo essa

disciplina tratada, como se fosse de tamanho único para todos os cursos de

licenciaturas, o que tem sido desestimulante aos licenciandos (IÓRIS, 1993;

BARREIRO, 1994).

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No cotidiano dos cursos de formação de professores no Ensino Superior, a

insatisfação continua sendo manifesta nas salas de aula, seja em discussões formais

ou informais, evidenciando-se que ao procurar compreender sobre as contribuições

da Psicologia, observamos que ainda cabem as indagações na formação docente –

Psicologia para quê? Qual o sentido desse conhecimento? Quais são os objetivos?

Quais são as finalidades? Qual a validade? Quais são as tendências contemporâneas

no ensino de Psicologia nas Licenciaturas? Essas questões nos ajudam a refletir

sobre o sentido do estudo da Psicologia na formação do professor de Matemática.

Nessa perspectiva, analisamos aqui as relações entre Psicologia da Educação

e formação de professores de Matemática, ao considerar que, dentre os componentes

curriculares da área de Psicologia, predominantemente, é ofertado o componente de

Psicologia da Educação.

5.2.1 Psicologia da Educação no espaço das Licenciaturas em Matemática: O

que aprendemos com as pesquisas

Nesse estudo, constatamos que durante um histórico processo de três

décadas, em nossa realidade educacional brasileira, foram realizadas pesquisas

especificamente no enfoque da Psicologia, como um componente curricular, na

formação inicial de professores nas Licenciaturas, cujo objeto de estudo é o ensino de

Psicologia, os seus desafios e as suas contribuições.

Em nossa experiência, na condição de docente de Psicologia da Licenciatura

em Matemática, na Universidade do Estado da Bahia, UNEB, identificamo-nos com

as questões levantadas, por essa extensa produção acadêmica, tanto pela

semelhança dos desafios descritos que enfrentamos em nossa prática de ensino

como, também, pelo aprendizado desenvolvido na reflexão sobre a atuação em sala

de aula. Observamos que a situação vivenciada por nós, empiricamente, apresenta-

se confirmada pelas investigações realizadas.

Larocca (2007a) registra que as pesquisas brasileiras que analisam o ensino

de Psicologia, na formação de professores, no espaço das Licenciaturas

intensificaram-se a partir da década de 80 (século XX), em diferentes Estados

brasileiros e instituições formadoras. Entendemos essa demanda, associada às

tendências nacionais e internacionais, para o foco de estudos sobre formação docente

e o desenvolvimento de concepções sobre a profissão professor, ocorridas nesse

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período, e que também aparecem no âmbito das pesquisas na área de Educação

Matemática, conforme registram as pesquisas já citadas de Xavier (1996), Fiorentini,

Nacarato, et al. (2002; 2003), Ferreira (2003) e Melo (2006).

Assim, na perspectiva do diálogo entre Psicologia e Educação Matemática, no

enfoque de formação inicial de professores de Matemática, desenhamos inicialmente

um panorama do que nos revelam as pesquisas realizadas sobre as contribuições da

Psicologia, na formação inicial de professores, nos Programas de Pós-Graduação em

Educação, Psicologia, Psicologia da Educação e afins. Selecionamos, nesse enfoque,

entre as teses e dissertações produzidas, apenas os estudos que envolveram as

Licenciaturas em Matemática, e/ou os sujeitos inseridos nessa área, sejam

professores formadores, licenciandos e egressos.

No Quadro 7, apresentamos as pesquisas selecionadas por autores de acordo

com os critérios estabelecidos e referentes ao período, em que se desenvolveram,

desde 1985, a primeira a ser localizada, até a última, em 2006. A concentração

dessas pesquisas aparece no Programa de Pós-Graduação em Educação da

UNICAMP, na linha de pesquisa Psicologia da Educação, e no Programa de Pós-

Graduação em Educação: Psicologia da Educação da PUCSP.

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Quadro 7 - Levantamento de Autores de Pesquisas em Psicologia e Formação de Professores que Contemplam as Licenciaturas em Matemática nos Cursos de Pós-Graduação em Universidades Brasileiras, 1980 – 2014.

PERÍODO PÓS-GRADUAÇÃO EM

PSICOLOGIA SOCIAL –

PUCSP

PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO – PUCSP

PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO – UNICAMP

PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO – USP

PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS E

MATEMÁTICA – UFPA

1980 - 1989 1985, GOULART, Iris Barbosa;

GATTI, Bernardete Angelina.

1987, FINI, Lucila Diehl Tolaine;

MARTINS, Joel

1987, MONTENEGRO, Maria

Eleusa; FINI, Maria Inês.

1988, CASTELLO

BRANCO, Lisandre Maria;

VILLA LOBOS, Maria da

Penha.

1989, URT, Sonia da Cunha;

ANDRE, Marli Eliza Dalmazo

Afonso de.

1990 - 1999 1992, CAPARROZ Aceli de Assis

Magalhaes; DAVIS, Cláudia

Leme Ferreira.

1993, IÓRIS, Stela Maris da

Silva; RONCA, Antonio Carlos

Caruso.

1999, ALMEIDA, Patricia Cristina

Albieri de; AZZI, Roberta Gurgel

2000 - 2010 2003, GUERRA, Clarisa Terezinha;

LEITE Sergio Antonio da Silva.

2005, ALMEIDA, Patricia Cristina

Albieri de; AZZI, Roberta Gurgel

2006, DIAS, Luiz Carlos

de Carvalho; ARAGÃO,

Rosália Maria Ribeiro de.

Fonte: Autora

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Na Figura 19 observamos a tessitura dos diversos enfoques, compondo o

desenvolvimento de estudos que apontam as problemáticas estudadas, relativas ao

ensino de Psicologia na formação de professores. Ocorrendo uma malha de inter-

relações em suas referências de citações, entre os pesquisadores.

Figura 19 - Mapa Conceitual das pesquisas em Psicologia e Formação de Professores que contemplam a Licenciatura em Matemática. Fonte: Autora.

Essas pesquisas discutem os desafios enfrentados e as possibilidades de

contribuições mais efetivas da Psicologia, como um saber necessário, no processo de

Licenciatura. A retrospectiva dessas pesquisas, indagando o que nos trazem de

aprendizado e quais os problemas que persistem no meio acadêmico, também, nos

ajudam a formularmos novas perguntas e ações para melhoria do ensino e

contribuições na formação docente.

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5.2.1.1 Goulart

Goulart (1985), com o objetivo de compreender a situação atual da Psicologia

da Educação, especialmente nos cursos destinados à formação de educadores, e

oferecer subsídios para a redefinição dessa área de estudos, investigou a Psicologia

da Educação em Minas Gerais, junto aos profissionais que atuavam nessa área de

ensino. A partir da visão da Educação, como tarefa social, e que se trata de um macro

fenômeno caracterizado pela multidisciplinaridade, aponta que a Psicologia somente

oferecerá contribuições efetivas à Educação, se resgatar o aspecto específico de sua

competência, no sentido da “utilização de conclusões obtidas em diversas áreas da

ciência psicológica sobre os assuntos que interessam especificamente à Educação e

à investigação de problemas relacionados às pessoas sob a ação educativa”

(GOULART, 1985, p. 14). Destacando que a Psicologia da Educação precisa proceder

a uma revisão de seus conteúdos e métodos, no sentido de uma articulação entre

Teoria e Prática no ensino das Licenciaturas.

5.2.1.2 Fini

Fini (1987), em sua investigação – A Situacionalidade da Psicologia

Educacional, a partir de suas inquietações e perplexidades, relacionadas à docência

em cursos de Licenciatura na UNICAMP, interroga qual tem sido o papel da Psicologia

da Educação ao abordar as questões relativas à adolescência e quais as suas

contribuições na formação de professores, tal como se mostra para aos estudantes.

Esse estudo com o objetivo de esclarecer a contribuição dessa disciplina, para a

compreensão do fenômeno educativo, no processo de formação inicial de

professores, permitiu compreender que esse componente curricular tem sentido

quando é considerada a necessidade de desenvolver uma atitude reflexiva, situada à

realidade dos aprendizes, na condução do ensino das teorias psicológicas.

Assinala que o ensino de Psicologia fica prejudicado pela falta de integração e

inter-relação entre as próprias disciplinas de cunho pedagógico, e de articulação com

as disciplinas de conteúdo específico. Como também, pela situação em que as

disciplinas de Psicologia aparecem, como conhecimentos, em compartimentos

estanques. Registra que os estudantes, participantes do estudo em seus depoimentos

criticam as incoerências da disciplina em relação ao que é prometido e o que é

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realizado, entre a teoria e a prática dos professores, como também a fragilização e

superficialidade dos conteúdos. Contraditoriamente, esses estudantes revelaram

posturas de descaso pelas disciplinas de cunho pedagógico, ao mesmo tempo em

que seus discursos fazem uma avaliação de que os conteúdos psicológicos são

importantes e úteis. Os resultados do estudo de Fini (1987) apontam que a disciplina

de Psicologia da Educação, no estudo da Adolescência, só tem sentido quando no

processo de ensino e aprendizagem dessa disciplina se enseja a reflexão sobre o

mundo vivido, e se descortinam as possibilidades do desenvolvimento do ser humano,

focalizando as perplexidades dos estudantes e problemas relacionados às

experiências de vida.

5.2.1.3 Montenegro

Montenegro (1987) faz questionamentos relativos à Psicologia Educacional nas

Licenciaturas, no Estado de Goiás, e traz à discussão a polêmica da seleção de

conteúdos de Psicologia, presentes nos cursos de formação de professores. Analisa

as principais questões que preocupam os professores formadores: a seleção dos

conteúdos psicológicos a serem adotados, para o ensino nas licenciaturas, diante da

pluralidade teórica que se constitui o próprio conhecimento psicológico; a postura

teórica que o professor formador assume na sua prática docente; a presença ou não

de interdisciplinaridade do componente curricular; e a vinculação da disciplina no

contexto social, à prática pedagógica, e ao movimento de reformulação do papel do

educador em pauta de discussão, na década dos anos 80.

A autora apresenta que os resultados dessa pesquisa quanto à seleção de

conteúdos, evidenciam a primazia do enfoque piagetiano, seguido de uma postura

eclética, na seleção dos conteúdos psicológicos para ensino, embora os professores

tenham manifestado dúvidas quanto à decisão de privilegiar uma teoria ou optar por

várias. Explica que, em suma, não há consenso quanto ao conteúdo de Psicologia a

ser trabalhado. No aspecto da interdisciplinaridade, informa que aparecem tentativas

de aproximação, principalmente com a Sociologia, em todos os sujeitos participantes

da pesquisa, mas de modo insipiente. Destaca que os professores assumem uma

postura teórica (entendendo postura teórica como conjunto de crenças e ações do

professor, tendo como decorrência suas concepções de homem e de mundo), e

revelam em seus depoimentos, participar do movimento de reformulação do papel do

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educador, (inspirados na corrente de psicologia progressista). Conclui que o professor

formador está comprometido em esclarecer as diferentes alternativas de abordagens

teóricas, como possibilidades de compreensão dos fenômenos educativos, mas,

sobretudo, que o importante não é se usar uma ou mais teorias, mas, ministrar suas

aulas de forma contextualizada à realidade dos aprendizes.

Em continuidade aos seus estudos, Montenegro (1993) defende a tese – A

Psicologia Histórico-Dialética para os Cursos de Licenciatura, apresentando como a

abordagem teórica, a Psicologia proposta pelos soviéticos, considerando sua

relevância pelos saberes psicológicos produzidos. Argumenta que a proposta de

Vygotsky e seus seguidores representou um avanço no sentido de uma explicação

interacionista, construtivista e sócio-histórica do desenvolvimento mental e da

aprendizagem, numa visão de homem, na sua totalidade, considerando os aspectos

subjetivos e objetivos no estudo do homem psicológico. Aponta esses saberes como

fontes de reflexão para os professores aprendizes e para os professores formadores,

ao enfrentarem as questões educacionais brasileiras.

5.2.1.4 Castello Branco

Em 1988, Castello Branco em sua tese – Psicologia Para Quê? A Psicologia

Ensinada e a Psicologia Praticada, Subsídios para a Compreensão do Papel do

Professor, traz a sua contribuição no sentido de propor que se repense o ensino de

Psicologia nas Licenciaturas, fazendo o confronto entre os conteúdos ensinados, o

conhecimento esperado pelas instituições educacionais e o conhecimento praticado.

Nesse estudo, a autora reafirma “o reconhecimento tácito da importância da

Psicologia para o processo de formação de professores”, considerando que essa

disciplina se justifica como componente curricular, na medida em que favorece ao

professor que “com olhos da ciência possa enxergar com mais apuro o que se passa

na situação de ensino-aprendizagem” (CASTELLO BRANCO, 1988, p. 242).

5.2.1.5 Urt

Urt (1989), com o objetivo de conhecer, analisar e questionar a disciplina

Psicologia Educacional, ministrada nos cursos de Licenciatura em Goiás, realizou uma

pesquisa, junto aos professores desta disciplina, com a finalidade de contribuir para a

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compreensão da situação percebida de crise da Psicologia da Educação, e de propor

alternativas possíveis para superação dessa situação. Enfoca, no âmbito do

conhecimento psicológico, a Adolescência tal como se mostra para os alunos, nos

Programas de Formação de Professores do Fundamental e do Ensino Médio, com

base no depoimento dos professores especialistas em Psicologia da Educação. Os

resultados da análise apontam duas questões significativas.

Primeiro que, nas relações entre Psicologia e Educação é [...] “a Educação que

deve definir qual Psicologia é necessária”. “E é a partir dos questionamentos

colocados pela prática educacional que a Psicologia pode ser revista” (URT, 1989, p.

86).

Segundo, coloca a necessidade de repensarmos a prática de ensino de

Psicologia quando refere que:

[...] é preciso buscar novas alternativas metodológicas para o ensino da Psicologia, que não fragmentem o homem em áreas e aspectos distintos. A contribuição da Psicologia à Educação não depende apenas do referencial teórico que se adote, mas, essencialmente, da "maneira" como se trabalha esses conteúdos. (URT, 1989, p. 89).

Suas conclusões apontam para a necessidade de melhoria no processo

teórico-metodológico do ensino de Psicologia nas Licenciaturas.

5.2.1.6 Caparroz

Caparroz (1992) realizou um estudo com título – A Psicologia da Educação e

os Cursos de Licenciatura, nas Faculdades Particulares do Município de São Paulo,

tendo, como objetivos: identificar como as Licenciaturas e os cursos de Psicologia da

Educação encontravam-se organizados; identificar quais as concepções psicológicas

mais frequentemente veiculadas; verificar a existência ou não de articulação entre tais

concepções e a concepção de que a prática de sala de aula no Ensino Fundamental

e Médio, pretendida ou não, pelos professores dessa disciplina, a partir dos programas

adotados. Nesse trabalho, a autora procurou conhecer a contribuição da Psicologia

da Educação na formação dos professores, quando oferecida à rede privada, nas

Instituições de Ensino Superior na cidade de São Paulo, e a partir dos resultados

obtidos declara:

Os dados por nós analisados demonstram que a disciplina psicologia da educação nos cursos de Licenciatura oferecidos pelas seis faculdades particulares pesquisadas não está organizada de forma a contribuir para

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fundamentar a prática pedagógica dos futuros professores. Ao contrário, composta por diferentes conceitos e teorias psicológicas selecionadas de maneira idiossincrática, encontra-se, na maioria dos casos, desarticulada da formação que ali pretende e dos conhecimentos acumulados nas áreas de estudo. Este isolamento manifesta-se, ainda na adoção de estratégias de aula e de avaliação que não contemplam o profissional que se quer alcançar (CAPARROZ, 1992, p. 178).

Nesse sentido, as conclusões apresentam uma situação que instiga a reflexões

e discussões, pois, embora os conhecimentos psicológicos sejam necessários,

precisam ser mais bem utilizados. As considerações de Caparroz (1992) indicam que

o ensino de Psicologia da Educação nos cursos de Licenciatura, como no caso de

Matemática, precisa de ser repensado quanto a sua inserção e desenvolvimento nos

cursos de formação de professores.

5.2.1.7 Ióris

Ióris (1993), a partir das preocupações com a realidade da Escola Pública do

Estado do Paraná, investiga as contribuições da Psicologia da Educação, na formação

de professores, nesse Estado. Esse estudo traz uma análise crítica da situação dessa

disciplina, nas Licenciaturas e serve de referência para uma avaliação da atuação dos

professores formadores, ao retratar aos problemas constatados no processo de

ensino de Psicologia: discurso fragmentado e superficial; visão abstrata e

descontextualizada do sujeito-aluno; ausência de concepção sobre o professor a ser

formado; e a falta de comprometimento com a escola pública. Aponta a necessidade

de se compreender a disciplina Psicologia da Educação, numa perspectiva mais

integradora, que supere os reducionismos e as dicotomizações no ensino dessa

disciplina, advindas das perspectivas objetivistas ou subjetivistas das teorias

psicológicas.

5.2.1.8 Almeida

Almeida (1999), retoma a temática “adolescência” trabalhada por Fini (1987)

(1987) e Urt (1989). Estuda as contribuições da Psicologia à formação de professores

nos cursos de Licenciatura na perspectiva da tríade: professor-licenciado, formação

inicial, aluno-adolescente. Investiga a percepção que os professores têm sobre

adolescência/adolescentes e o modo como descrevem e analisam a sua atuação

pedagógica junto ao aluno-adolescente, como via para elucidar as contribuições dos

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conhecimentos psicológicos para a prática educativa. Os resultados permitiram

identificar uma visão pouco otimista do professor, em relação ao adolescente, pois, os

sujeitos da pesquisa apresentaram imagens negativas e estereotipadas relativas aos

adolescentes. Revelam a premência da questão, uma vez que se evidencia que está

sendo dada pouca ênfase aos saberes referentes à adolescência, nos cursos de

licenciatura, e que a produção acadêmica em torno do ensino do adolescente é

proporcionalmente menor, que em relação à criança. Embora os participantes da

pesquisa afirmem que tenham estudado o assunto em seus respectivos cursos de

licenciatura, e esses respondentes, em sua atuação docente, reconheçam a

importância dos temas transversais para a formação do adolescente, não conseguem

justificar essa proposta, e nem se posicionar em relação a projetos de intervenção na

escola. Projetos esses, que proporcionem ao adolescente, uma integração de suas

vivencias diversificadas e facilitadoras no processo de construção de sua identidade

pessoal e profissional, junto aos componentes curriculares específicos. Isso é, a

definição desses projetos transversais implica no conhecimento do fenômeno

adolescer, e essa compreensão lhes falta.

Almeida (2005), em continuação as suas pesquisas, desenvolve a sua tese

doutoral sobre as contribuições da Psicologia da Educação, para a formação docente,

no contexto das políticas educacionais de formação de professores da Educação

Básica, como decorrência da nova LDBEN e das regulamentações promovidas pelo

Conselho Nacional de Educação. Considerou o momento de transição em que as

Instituições de Ensino Superior tiveram que se adequar às normatizações vigentes e

elaborar novas propostas de formação, tendo em vista a superação do modelo

formativo racional-técnico, pelo modelo racional prático-reflexivo preconizado pelas

Diretrizes Educacionais. Investiga como a disciplina integra os saberes básicos tidos

como necessários à formação inicial, nas reformas para a formação de professores,

trazendo uma análise amostral da realidade dos projetos formativos de quatro

instituições, e uma discussão profícua sobre o papel do ensino de Psicologia e, os

desafios que se apresentam à prática interdisciplinar nos cursos de licenciaturas, para

que se efetive a articulação do ensino de Psicologia com as outras áreas de

conhecimento e disciplinas específicas dos cursos, como na Licenciatura em

Matemática.

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5.2.1.9 Guerra

Guerra (2003), partindo do pressuposto de que os saberes sistematizados

possuem papel importante, na construção ou ressignificação de concepções, que

influenciam, na orientação das práticas educativas, investiga o ensino de Psicologia

da Educação na formação inicial de professores, com o objetivo de analisar a

constituição dos conhecimentos sobre aprendizagem e desenvolvimento de

estudantes de cursos de licenciatura numa instituição pública de ensino superior.

Nessa pesquisa, a autora visa revalidar as contribuições provenientes da relação da

Psicologia com a Educação, considerando-se a influência do ensino dessa disciplina

na formação inicial.

Em sua investigação, Guerra (2003), mostra a importância de valorizar os

licenciandos como sujeitos que vivenciam um processo de desenvolvimento pessoal

e profissional. A autora reafirma as considerações feitas por Fini (1987) e Ióris (1993),

de que as aprendizagens dos conhecimentos psicológicos desses estudantes ocorrem

“[...] sobre uma base dos saberes anteriormente adquiridos, quer seja por meio das

vivências do seu cotidiano ao longo de toda a trajetória de vida, quer seja num

processo sistematizado de educação” (GUERRA, 2003, p. 314). Assinala que as

crenças, sentimentos, representações e os saberes espontâneos dos estudantes,

precisam ser considerados pelos professores formadores como pontos de partida para

a constituição de um saber científico.

Os resultados obtidos por Guerra (2003), nessa investigação, apontam que: os

licenciandos, embora continuem valorizando o ensino de Psicologia, sobre os

processos de aprendizagem e desenvolvimento, e manifestem em relação à disciplina,

a expectativa em obter uma formação profissional e pessoal que contribua para o

exercício mais competente da função docente, reivindicam a necessidade de que seja

apresentada mais coerência entre conteúdos e procedimentos de ensino; logo, são

necessárias mudanças macro estruturais dos sistemas de ensino e na estrutura

curricular dos cursos, pois, existem situações críticas que necessitam ser modificadas

pelos próprios professores, no contexto da sala de aula, na condução do processo de

ensino, pela mediação dos formadores.

Em suas conclusões a respeito das contribuições dos conhecimentos

psicológicos, no processo de qualificação docente, afirma que, nos limites da

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realidade em que esse estudo foi realizado, constata-se que muitos dos velhos

problemas ainda persistem, mas se observam tentativas de superação por parte de

alguns professores e foram obtidos dados muito importantes sobre as condições

necessárias, para que o ensino da disciplina garanta as contribuições que são de sua

competência no processo de formação, sobretudo, de que a mediação dos formadores

é fundamental no aprendizado e no desenvolvimento dos licenciandos.

5.2.1.10 Dias

Dias (2006) investigou, junto aos professores formadores de um curso de

especialização em Educação Matemática, e de um curso de Mestrado em Educação

de Ciências e Matemáticas, os aspectos da Psicologia da Educação que foram

considerados importantes, na sua formação inicial como professores, referentes à

atribuição efetiva de valor, sentido e significados para sua atuação docente,

considerando o processo de Pós-graduação como um momento de formação

continuada em que possibilitaria observar indicativos da formação inicial. Utilizou a

abordagem metodológica narrativa – autobiográfica para as análises e interpretações

da coleta de dados, em relatos dos professores, nas entrevistas coletivas e

questionários. Constatou nas falas dos professores a demanda de auto(re)

conhecimento, para o (re)conhecimento do outro, no processo de formação inicial. Isto

é, observar a experiência de vida, a formação e os contextos que facilitaram ou

fraturaram seus aprendizados, e promover o desenvolvimento de atitudes reflexivas

dos sujeitos em seu processo de formação.

Diante do panorama apresentado, portanto, como discute Larocca (2007a) não

é falta de estudos e pesquisas sobre o ensino de Psicologia, na formação dos

professores, a causa da persistência de muitos de nossos problemas e desafios, no

sentido da sua inserção e contribuições nas Licenciaturas, inclusive em Matemática.

Observamos pela rede de citações dos trabalhos acadêmicos que os estudos

entre si estiveram referenciados pelas produções anteriores, revelando uma

integração de esforços, no sentido de ampliar o conhecimento no âmbito das

pesquisas nos Programas de Pós-Graduação. A temática Psicologia e a formação

de professores, relativa às Licenciaturas, em geral, gerou extensa produção que tem

servido de base, para discussões em grupos de pesquisa e grupos de trabalho

institucionais, além de várias publicações.

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No entanto, nessa temática, envolvendo a Psicologia da Educação e as

Licenciaturas em Matemática, chamou-nos atenção, dentre os trabalhos identificados,

que começam a aparecer teses ou dissertações, a partir de 1985 e não encontramos

teses após o ano de 2006. Esse fato pode estar relacionado à situação de que os

pesquisadores que estejam estudando a disciplina de Psicologia, no contexto da

formação de professores, não tenham enfocado, nesses últimos anos, o ensino de

Matemática. Como também, essa constatação estará relacionada às considerações

de Pires (2014), de que os estudos de formação de professores que ensinam

Matemática, estão voltados para outros aspectos, e os estudos da Psicologia estão

sendo negligenciados. O fato, de não serem localizadas mais pesquisas nessa inter-

relação, é uma questão que precisa ser mais bem compreendida, pois, o

conhecimento psicológico apresenta potencialidades, para contribuir na compreensão

e superação dos desafios, para a formação de professores de Matemática numa

perspectiva interdisciplinar. Talvez faltem elos para que sejam realizados estudos que

integrem pesquisadores da Psicologia da Educação e pesquisadores da Educação

Matemática.

5.2.2 Avaliação crítica do componente curricular de Psicologia, nas

Licenciaturas

Larocca (2000), com o objetivo de conhecer as problemáticas do ensino de

Psicologia em relação à formação de professores, realizou um estudo, coletando

dados com licenciandos egressos e acadêmicos dos últimos anos de vários cursos, e

que já se encontravam em pleno exercício profissional (incluindo os de Matemática).

Procurou, nessa pesquisa, identificar as queixas e falhas referentes ao ensino de

Psicologia. Foram evidenciados como resultado do estudo quatro aspectos principais

em sua análise crítica: desarticulação entre teoria e prática; insuficiência da carga

horária disciplinar nos currículos de licenciatura; insatisfação na organização e

condução do ensino de Psicologia da Educação; e ausência de vínculo entre a

Psicologia da Educação e a área de conhecimento específica do curso.

Esse estudo traz uma síntese representativa das questões que têm sido

discutidas e persistem até os nossos dias. Indagações que implicam a necessidade

de mudanças e transformações no processo de ensino, para que seja alcançada a

finalidade de contribuir na formação de professores de Matemática com os saberes

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psicológicos.

Essas constatações coadunam com queixas e críticas observadas pelos

pesquisadores, que investigaram junto aos aprendizes do ofício de professor ou de

egressos dos cursos de Licenciatura em Matemática. No resultado desse estudo, ficou

registrada a falta de articulação entre teoria e prática no ensino de Psicologia, fazendo

com que não correspondesse à expectativa dos aprendizes. As queixas quanto à

organização, metodologia e a inserção da disciplina foram relativas à: apresentação

dos conteúdos de forma reducionista, fragmentada, superficial, abstrata, sendo

descontextualizados da realidade educacional das escolas brasileiras e públicas;

seleção de conteúdos seguindo as preferências do professor formador, quanto à

abordagem teórica e calcada em manuais estrangeiros; realização de estudos de

modo arbitrário, dicotomizado, desarticulado das disciplinas de cunho pedagógico e

das de cunho específico; manifestação de incoerência entre os conteúdos e os

procedimentos de ensino, entre o proposto e o realizado (LAROCCA, 2000).

As críticas convergem às conclusões de Caparroz (1992), sendo respeitados

os limites da amostra estudada, indicam que o ensino de Psicologia nas Licenciaturas

não atende as necessidades do conhecimento psicológico, na formação profissional

daqueles que estão se preparando para ensinar Matemática.

Portanto, o componente curricular de Psicologia da Educação está presente na

formação de professores num contexto contraditório, visto como necessário no

discurso e indesejado na prática. Esses resultados, de certo modo, explicam, dentre

outros fatores, a tendência em ser diminuída a carga horária desse componente no

currículo das Licenciaturas.

Nessa avaliação, destacamos como pontos cruciais: a compreensão dos

desafios enfrentados na relação Psicologia e formação de professores; a concepção

da Psicologia da Educação como disciplina teórica no contexto das licenciaturas; o

modo de inserção desse componente nos currículos das Licenciaturas; o processo

metodológico de ensino de Psicologia.

O paradigma da Psicologia da Educação, como disciplina eminentemente

teórica, cujos fundamentos são aplicados à Educação, instituiu-se na nossa realidade

educacional nos anos 70, do século XX, de que somos testemunhas pela experiência

vivenciada na formação profissional inicial de psicóloga, justamente nesse período

histórico, pois, a formação de professores de Psicologia da Educação ocorria em

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departamentos distintos, havendo separação, não só pelo espaço físico institucional,

mas, também pelo status quo em que a formação de especialista era privilegiada em

relação à formação de docente, por ser uma profissão reconhecida e regulamentada

por Conselho próprio.

Predominava o modelo educacional calcado nos fundamentos epistemológicos

do cientificismo cartesiano. Dentro do pressuposto da dicotomia teoria e prática, a

produção do conhecimento ficava a cargo dos especialistas pesquisadores

psicólogos, e aos professores de todas as especialidades ficava a aquisição de teorias

psicológicas para aplicação na sua prática de ensino. Cabia aos Centros de Pesquisa

especializados, sejam de Educação ou de Psicologia, gerar os conhecimentos

científicos que se aplicariam, de modo racional, à resolução dos problemas no âmbito

educacional. Constituindo-se, nesse contexto, para formação de professores, o

domínio de técnicas educacionais para a transmissão do conhecimento científico. A

distinção ficava bem clara dentro nas escolas, entre os técnicos educacionais

(Psicólogos Escolares, Orientadores Educacionais, Orientadores Pedagógicos e

outros) e os professores, numa relação em que os técnicos acompanhavam e

orientavam o processo educacional desenvolvido pelos professores.

As licenciaturas, nesse período, modeladas na racionalidade técnica,

desenvolviam uma organização curricular, apresentando a sequência em que primeiro

eram oferecidas as disciplinas teóricas, consideradas básicas, com a função de

interpretar, avaliar e prescrever os modos de lidar com os problemas, e as disciplinas

práticas, depois, no espaço de discussão e aproximação dos licenciandos, no campo

educacional, seu futuro espaço profissional. A partir dessa concepção, as disciplinas

de Psicologia (Psicologia Geral, Psicologia da Educação, Psicologia do

desenvolvimento, Psicologia da aprendizagem e etc...) eram consideradas como

fundamentos educacionais e oferecidas no início dos cursos de Licenciatura. No caso

dos especialistas ou bacharéis que desejassem atuar como professores eram

oferecidas disciplinas pedagógicas, como estudos complementares, para habilitação

ao ensino.

Aqui, é importante destacar que Goldberg (1978) já questionava as relações

entre Psicologia da Educação e Educação, na perspectiva de avaliação da presença

da Psicologia na formação de educadores. Apresentou como ponto de partida em seu

estudo, a discussão referente à incoerência entre o lugar de prestígio dos

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conhecimentos psicológicos, no conjunto de fundamentos científicos da Educação, as

expectativas geradas em torno desse conhecimento científico, como bases para o

ensino, e a onda de criticismo levantada em relação à Psicologia, no final da década

de 70. As evidências de que as promessas fomentadas de soluções para problemas

pedagógicos pelas contribuições da Psicologia ficaram aquém do esperado.

Nessa direção, a autora traz como eixo da discussão o questionamento

levantado pelos educadores – “Por que a relação entre Psicologia da Educação e

Educação, embora teoricamente eficaz, tem se revelado praticamente ineficiente?”

Assinalou a inconsistência, tanto no plano teórico como no empírico da Psicologia

Educacional. No plano teórico, traduz-se pela coexistência de teorias de

aprendizagem e teorias de ensino com orientações diferentes, entre o que é a

aprendizagem e o que deve ser a aprendizagem. Bruner (1976, p. 47-48) explicou

que: quanto a sua natureza uma teoria de aprendizagem é “prescritiva”, por

estabelecer orientações concernentes à melhor maneira de obter conhecimento, ou

técnicas, e, é “normativa”, por estabelecer critérios e condições para atendê-los.

Enquanto que, uma teoria de ensino se caracteriza por apontar as experiências mais

efetivas para implantar num indivíduo a predisposição para a aprendizagem,

especificar como deve ser estruturado um conjunto de conhecimentos para melhor ser

aprendido pelo estudante, e indicar qual a sequência mais eficiente para apresentar

as matérias a serem estudadas.

Diante desses questionamentos, Goldberg (1978), explicava que apesar de

uma Psicologia da Educação centrada numa abordagem do ensino, aparentar

potencialmente ser mais promissora aos professores, as publicações de Psicologia da

Educação, em geral e particularmente no Brasil, estão mais centradas numa

abordagem em aprendizagem, e, consequentemente, menos satisfatórias as

necessidades dos professores. Como também, esclareceu que no plano empírico as

pesquisas de Psicologia da Educação apresentaram um quadro geral de

fragmentação, atomização e dispersão de focos de interesse, o que corroborava para

a relativa inefetividade das relações entre Psicologia da Educação e Educação.

Goldberg (1978) descreveu que ainda existia um vasto abismo entre o que a

Educação pode e/ou deve ser, e o que vem sendo, uma vez que conhecimentos

existentes e disponíveis são subutilizados pelos educadores que persistiam em suas

práticas, sem considerar as proposições já consolidadas com certo grau de

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comprovação científica. Proposições essas que resultaram das ciências da Educação,

inclusive da própria Psicologia da Educação. Sendo entendida a inoperância das

relações entre Psicologia e Educação, de ambas as partes. Concluindo-se que para

superação das insatisfações entre educadores e psicólogos educacionais, é preciso

subtrair a influência dos “ismos” à Educação. Faz-se necessário que a Educação seja

o ponto de partida e o ponto de chegada, o centro de estudos na formação de

educadores. O desafio é que se estabeleçam novas bases nessa relação para que a

Psicologia da Educação se torne tão eficiente quanto eficaz para a Educação.

Nesse contexto, faz-se necessário analisar que a Psicologia da Educação ao

ser concebida, como disciplina por direito próprio, não se trata de uma simples

aplicação da Psicologia aos problemas educacionais. Revela status científico como

qualquer outra área da Psicologia, caracterizando-se como ciência aplicada à

Educação. Porém até os anos 70, como consequência de sua característica de ser

ciência, foi percebida através da metáfora tradicional de fundamentos sem

questionamentos. A disciplina era considerada, na sala de aula, como um conjunto de

conhecimentos, a serem aprendidos pelos professores, servindo de base para a sua

atuação profissional, uma ferramenta para conduzir a sua prática educacional

(BZUNECK, 1999; COLL, 1996).

Com base nos problemas apresentados, as lições que os estudos sobre o que

o ensino de Psicologia nos oferece, apontam para manutenção dessa ideia de

metáfora de fundamento em sua inserção nas Licenciaturas. A permanência da ideia

de metáfora significa que o lugar que ocupa com o formato de fundamento condiciona

à continuidade dos problemas, e “configuram um ensino sobrenadante, com grandes

dificuldades em atingir a concretude da escola” (LAROCCA, 2007a, p. 302). Reduz o

ensino da Psicologia, à assimilação de conceitos, princípios e teorias que os

aprendizes apenas devem reproduzir, nas aulas, nos textos e nas avaliações.

Apresenta-se como situação artificial, na relação entre o componente curricular e o

estudante, porque o ensino nessa perspectiva, no máximo aproxima-se dos

problemas da prática, mas não trabalha efetivamente com os desafios enfrentados

pelos licenciandos.

Entendemos que as queixas e as críticas em relação às contribuições da

Psicologia ainda persistem, porque esse modelo de fundamento não dá conta da

complexidade existente, na realidade educacional. Como também, essa inserção da

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Psicologia, como fundamento, está associada e/ou é derivada “da mentalidade que se

formou em função do modus operandi das licenciaturas, baseado no modelo racional

técnico, que promove e mantém as dicotomias entre a teoria e prática, pensar e fazer,

fundamentos, conteúdos e metodologias” (LAROCCA, 2007a, p. 300).

Compreende-se que ensinar, no paradigma racional técnico, é desconhecer a

relação teoria e prática como categorias indissociáveis. É desconsiderar as práticas

educativas em seus fins políticos e sociais e, perceber o papel do professor como

mero executor de procedimentos e regras, concebidos e gerenciados de forma

descontextualizada de sua prática profissional.

Essa é uma compreensão limitada, que desconsidera que a contribuição da

Psicologia da Educação não se encerra nela mesma. Como explica Larocca (2007a,

p. 301):

Faz-se necessário, portanto, considerar a Psicologia da Educação como uma unidade dialética, cujos polos estão em contínuo movimento, num ir e vir entre o domínio da ciência Psicologia, que fornece as teorias, e o domínio da Educação, que é prática social que desejamos ver transformada com a interferência dos professores que se formam nas licenciaturas.

Mas, a raiz do problema da concepção de disciplina teórica da Psicologia da

Educação, na Licenciatura em Matemática, como nas demais, calcada em teorias

psicológicas, está na própria natureza das teorias. Primeiro, a relação entre teoria e

aplicação não é linear e não há uma correlação unívoca entre certa teoria e aplicações

práticas, face aos desafios singulares, enfrentados na sala de aula (BZUNECK, 1999).

Segundo os relatos das pesquisas referentes às relações entre a Psicologia e

a formação de professores, e conforme a nossa experiência como docente da área, a

Psicologia ocupa no fluxograma das Licenciaturas o lugar no início do curso, por ser

tratada como fundamento, sendo considerada disciplina teórica, na lógica racional-

técnica de formação de professores; reforçando a tendência de primeiro ser

apresentada à teoria, como instrumentação, a partir de diversas concepções e

princípios de desenvolvimento humano, aprendizagem e ensino, esperando-se que os

conhecimentos de Psicologia aprendidos sejam devidamente aplicados, como

ferramentas, às diversas situações de ensino da Matemática.

Mas, como mostram as pesquisas nesse enfoque, a formação de professores

exige mais que simplesmente tomar conhecimento das teorias e princípios

psicológicos, pois, esse tipo de embasamento não é suficiente; porque para se aplicar

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na prática o conjunto de conhecimentos teóricos de Psicologia é preciso desenvolver

algo mais que esses conhecimentos teóricos (BZUNECK, 1999). Nesse sentido,

relacionamos a queixa de carga horária disciplinar insuficiente nos currículos de

licenciatura. Embora seja privilegiada a sua carga horária, se comparada com as

demais que compõem as disciplinas consideradas de fundamentos de Educação, o

lugar que ocupa e as horas de estudos não atendem às finalidades propostas para a

sua contribuição na formação de professores.

5.2.3 Finalidades do ensino de Psicologia na Licenciatura de Matemática

Analisar a finalidade do ensino de Psicologia na formação de professores de

Matemática, implica em considerar a disciplina Psicologia Educação no contexto de

um curso superior de formação inicial docente, numa área específica. Implica em ter

uma visão das peculiaridades de organização da estrutura desse curso e a condução

do ensino pelos professores formadores em sua totalidade, numa relação figura e

fundo, em que há uma alternância no foco de atenção, percebendo-se como figura,

ora o ensino, ora o curso. Implica compreender que o sentido do ensino de Psicologia

está integrado à formação profissional a que se propõe contribuir.

Com base no ideário do bom professor, proposto pelo sistema educacional

brasileiro, compreendemos que a finalidade da Psicologia da Educação é contribuir

na formação da identidade docente do professor de Matemática na perspectiva de

profissionais reflexivo-pesquisadores, na condição de uma parceria dialógica com a

Educação Matemática.

Nesse contexto, concebendo-se a identidade docente como um processo

intersubjetivo que se desenvolve durante toda a vida, como um fenômeno relacional

inserido no jogo do reconhecimento, constituído por dois pólos, o do

autoreconhecimento (como o sujeito se reconhece) e o do alter-reconhecimento

(como é reconhecido pelos outros), estabelecendo-se uma complexa e dinâmica

busca de equilíbrio, em que a própria imagem, como profissional, necessita se

harmonizar com a variedade de papéis, que os professores sentem que devem

desempenhar (BEIJAARD; MEIJER; VERLOOP, 2004).

Nessa concepção, o indivíduo define-se, a partir de como se reconhece no

desempenho de papéis sociais e de como é reconhecido pelos outros, no meio social.

Assim, “é preciso entender sobre o conceito de identidade docente como uma

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realidade que evolui e se desenvolve, tanto pessoal como coletivamente” (MARCELO,

2009b, p. 112).

A identidade é influenciada por aspectos pessoais, sociais e cognitivos, e

contribui para a percepção da autoeficácia, motivação, compromisso e satisfação no

trabalho de docência. Considerando-se hoje, que não mais se caracteriza por uma

resposta à pergunta quem eu sou, mas pela questão “o que quero vir a ser”

(MARCELO, 2009b).

Os desafios inerentes à necessidade de respostas inovadoras aos problemas

educacionais que se apresentam em nossos dias requerem a identificação com a

profissão docente como a profissão do conhecimento. Pois, “o conhecimento, o saber,

tem sido o elemento legitimador da profissão docente e a justificação do trabalho

docente tem-se baseado no compromisso em transformar esse conhecimento em

aprendizagens relevantes para os alunos” (MARCELO, 2009b, p. 8).

O ideário no desenvolvimento do professor é saber por que se ensina, para que

se ensina, para quem e como se ensina; porque isso é essencial na sala de aula, pois,

direciona e dá sentido ao seu, o que fazer. Nessa perspectiva, percebe-se o

professor, como principal protagonista, no processo de desenvolvimento profissional,

necessitando estar em constante formação e processo de reflexão sobre seus

objetivos e sobre o seu desempenho, durante a sua própria formação, construindo

seus saberes práticos (TARDIF, 2014).

A partir dessa concepção sobre a formação de professor reflexivo, em que o

professor é sujeito no processo de construção da identidade profissional, entendemos

que a identificação é precursora nesse processo, e que o estabelecimento de um

vínculo, como o objeto de estudo e de ensino, passa a ser constituinte desse sujeito,

e, é o que o motiva para o enfrentamento das dificuldades profissionais, na medida

em que, “ser professor” torne-se a causa que identifica como sua.

Assim, pensar sobre a formação docente, num sentido amplo, remete-nos à

reflexão sobre o processo de construção da identidade docente, pois o mesmo está

contido no conjunto de processos para o desenvolvimento docente. Tardif (2014, p.

108) em relação à docência faz a descrição abaixo.

[...] se é verdade que a experiência do trabalho docente exige um domínio cognitivo e instrumental da função, ela também exige uma socialização na profissão e uma vivência profissional através das quais a identidade profissional vai sendo pouco a pouco construída e experimentada, e onde entram em jogo elementos emocionais, de relação e simbólicos que permitem que um indivíduo se considere e viva como

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professor e assuma assim, subjetiva e objetivamente, o fato de realizar uma carreira no ensino.

Ressaltamos aqui, que no processo de formação profissional, “o saber não

existe para ser simplesmente transmitido; ele é transmitido com uma finalidade,

segundo convicção unânime” (MOSCOVICI, 1978, p. 101). A aceitação de um

conhecimento implica a participação do indivíduo no grupo, bem como em sua

dependência em relação ao grupo com qual se identifica, vincula e agrega, sob o seu

nome. Nessa perspectiva, a tarefa com a qual os professores se comprometem está

em função dos fins a serem alcançados. Os professores formadores quando atuam

na docência de Psicologia, na Licenciatura, precisam entender que essa tarefa não é

psicológica e sim, educativa, portanto, o seu fazer deve ser pensado em uma esfera

crítico-social (LAROCCA, 2007b). Sua identificação ao grupo de Educação é

significativa para a difusão e a aceitação da ciência psicológica, integrada ao processo

da formação profissional dos professores de Matemática.

A análise da finalidade da Psicologia, no Curso de Licenciatura em Matemática

remete-nos ao nosso compromisso com a formação profissional de professores de

Matemática, contribuindo para o ensino de Psicologia numa relação dialética com a

Educação Matemática. Destacando-se que, em nossa atuação necessitamos estar

atentos à dimensão que se tem em sala de aula, pela influência de nossa própria

forma de intervenção no processo de formação e identidade docente, pois, no papel

de docente, no processo de ensino e aprendizagem servimos de referência, e

influenciamos na construção da identidade docente, seja de forma explícita, quando

apresentamos de modo formal um planejamento de estudos de Psicologia da

Educação e uma proposta teórico metodológica de ensino, ou de forma implícita

através dos processos interativos, em que é feita uma “leitura” consciente ou

inconsciente da nossa atuação docente, de nossas atitudes, sentimentos, crenças,

valores e concepções, sobre ensinar e aprender e de ser professor.

Aqui é importante lembrar que a compreensão sobre o ensino de Psicologia e

seus fins na Licenciatura em Matemática nos leva a reflexão de que a nossa própria

construção de identidade profissional docente é contínua e se renova num processo

de reprofissionalização – da necessidade de clareza do sentido do que “eu quero vir

a ser”, das respostas <para quê> Psicologia para Educação Matemática.

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5.2.4 A Psicologia como um saber necessário na formação inicial de

professores de Matemática

A Psicologia como área de conhecimento científico, que contribui para

compreensão das práticas educativas, ao longo de sua história, sempre esteve

relacionada com a formação de professores e se constituiu no interesse em comum

para Psicólogos da Educação e para professores formadores dos futuros professores

de Matemática. Desde que os cursos Licenciaturas em Matemática no Brasil foram

estruturados, em 1930, fica claro o reconhecimento tácito da Psicologia para o

processo de formação de professores. Essa área de conhecimento tem sido incluída,

constantemente, nos currículos, tradicionalmente como uma das disciplinas das

Ciências da Educação; visando subsidiar a atuação docente com teorias de

desenvolvimento e de aprendizagem; constituindo-se como componente curricular de

formação docente (BZUNECK, 1999; CASTELLO BRANCO, 1988; GOULART, 1985;

GUERRA, 2003).

A partir do pressuposto de que todo o ofício profissionalizado é composto de

saberes amplamente organizados, reconhecidos, compartilhados, e transmissíveis

aos futuros profissionais, considera-se a Psicologia como uma, entre outras áreas de

conhecimentos dos saberes necessários na formação inicial da categoria docente.

Com base na conceituação de saber como um conjunto de conhecimentos

adquiridos por meio da aprendizagem e da experiência, que apresentam certa unidade

em virtude de suas fontes e objetivos (PERRENOUD, 2001) e da definição de saber

docente, “[...] como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos

coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares,

curriculares, e experimentais” (TARDIF, 2014, p. 6), entendemos que os saberes

psicológicos, representados usualmente pela disciplina de Psicologia da Educação,

configuram-se como um conjunto de conhecimentos que se integram aos saberes da

profissionalização docente, constituindo-se em uma das necessidades formativas do

professor (MAURI; SOLÉ, 1996; ALMEIDA, 2005; ALMEIDA; BIAJONE, 2007;

ALMEIDA; AZZI, 2007; AZZI; BATISTA; SADALLA, 2000; AZZI; SADALLA, 2002).

Mas, a questão sobre o que os acadêmicos da Licenciatura em Matemática

necessitam de saber sobre Psicologia é extremamente complexa, caracterizando-se

como desafiante, polêmica, e sujeita a debates. A complexidade decorre de fatores

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inerentes ao aprendiz, ao professor, à instituição de ensino, à comunidade na qual se

insere o processo de ensino. Desafiante, porque incorpora diferentes perspectivas de

análise, no contexto das pesquisas, sobre docência e saberes, que estão na base da

profissão docente. Polêmico, não pelo fato de estar presente nessa Licenciatura, mas

no sentido das discussões, e ao se estabelecer qual a natureza, a profundidade e

amplitude com que deve ser tratado esse saber (BRITO, 2002; ALMEIDA; AZZI, 2007;

MAURI; SOLÉ, 1996). Acirrando-se as discussões pela influência das tendências e

dos modismos educacionais preferenciais em determinados contextos históricos e

sócio-políticos.

A partir do pressuposto de que o conhecimento psicológico configura-se como

uma das necessidades formativas do professor e é constitutivo no processo de sua

profissionalização, aqui descreveremos como esses saberes se caracterizam e têm

sido percebidos, nos Cursos de Licenciatura em Matemática.

Na direção da apropriação/produção dos saberes psicológicos, como

conhecimentos científicos, no processo de profissionalização inicial, as questões

pertinentes são – Que formação teórico-epistemológica de Psicologia deve possuir os

professores de Matemática? O que os licenciandos em Matemática precisam saber

de Psicologia para o seu desempenho profissional? Qual a natureza desse

conhecimento psicológico necessário? Qual a profundidade e amplitude que devem

ser tratados esses conhecimentos?

Ao considerar que, em todas as profissões uma das características em comum

é a de que “a construção da teoria, seja o saber erudito ou científico que se relaciona

diretamente com a prática, ou os saberes da experiência, ou mesmo do senso comum,

e vice versa” (SADALLA; BACCHIEGGA; PINA, 2002 , p. 58), percebemos que essa

é uma tendência de superação dos problemas antigos da ambiguidade entre saberes

ditos teóricos e da prática, da separação, entre o que aprendi na faculdade e o que

aprendi na prática; a partir da visão de que a teoria constrói a prática e essa reconstrói

a teoria, num movimento dialético, na profissionalização do ofício de ensinar

(PERRENOUD, 2001; SADALLA; BACCHIEGGA; PINA, 2002).

Nesse contexto, é importante ressaltar que cada licenciando, com sua história

de vida, possui uma concepção sobre a profissão “professor”, construída e

desconstruída em sua prática, como aluno e como filho no processo educativo escolar

e familiar. Assim, é importante relembrar que a apropriação de saberes psicológicos

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pelos aprendizes da profissão de professor de Matemática, processa-se de forma

peculiar e subjetiva na interação entre os conhecimentos prévios, os conhecimentos

científicos, referentes ao ensino de Matemática e as representações sociais da

profissão de Professor de Matemática.

Concordamos com Brito (2002, p. 57), quando afirma que a Psicologia da

Educação comparece nos cursos de formação de professores de Matemática, e sua

obrigatoriedade “[...] se expressa pela estreita relação entre o desenvolvimento e a

aprendizagem do indivíduo e a aquisição, manutenção e uso do conhecimento

matemático, adquirido tanto dentro como fora do contexto escolar”. Portanto, deve

estar inserida no contexto da Licenciatura, sendo trabalhada de forma mais próxima

às demais disciplinas.

Nessa perspectiva, na condição de professor formador atuando na Licenciatura

em Matemática, descrevemos como se caracterizam os saberes psicológicos, para a

formação inicial do futuro professor de Matemática, faz-se necessário

compreendermos a estrutura do conteúdo específico da formação em si, conhecermos

acerca da Matemática, na visão do matemático, considerando que é o estudo da inter-

relação entre o conteúdo matemático e o pensamento humano, que define quais os

saberes da Psicologia são necessários, ao ensino de Matemática nesse contexto. O

objetivo do ensino é de que o futuro professor, a partir de seus conhecimentos,

analisará os fenômenos relativos ao processo de aprendizagem e ensino de

Matemática, explicando-os à luz das teorias psicológicas, no contexto das situações

escolares (BRITO, 2002; BRITO, 2005).

Ao refletir sobre a inserção dos saberes psicológicos no processo de formação

docente concordamos com a concepção de Shulman (1987) quando afirma que o

conhecimento do conteúdo é a primeira fonte de base para o professor. Isso quer dizer

que o professor de Matemática precisa conhecer bem a estrutura dessa disciplina,

objeto de ensino. Mas, ao mesmo tempo, estar ciente de que esse conhecimento não

é suficiente, pois, precisa do conhecimento curricular para se familiarizar com as

formas de organização do conhecimento, para o ensino da disciplina específica, e se

situar no conjunto dos materiais curriculares do curso e as disciplinas que o compõem.

Com relação a esse conhecimento-base para ensino Schulman (1986)

classifica-os em três categorias: conhecimento da disciplina, conhecimento curricular

e conhecimento de conteúdo pedagógico. Explica que a chave para o conhecimento

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docente está no conhecimento de ensino, ou seja, na intersecção de conteúdos dos

conhecimentos de Matemática e de Pedagogia. O conteúdo pedagógico compreende

a dimensão do conhecimento de Matemática como matéria de ensino, no sentido de

apresentar e abordar a matéria de modo que seja compreensível para os aprendizes,

e nesse processo, estão incluídas as concepções de quem ensina, quais são os seus

conhecimentos e as suas crenças em relação à própria Matemática (SHULMAN,

1986). Assim, na perspectiva do desenvolvimento do conhecimento pedagógico e da

identidade docente, os saberes psicológicos se tornam relevantes para a construção

do conhecimento do ensino e da aprendizagem da Matemática.

Percebemos a congruência entre as ideias defendidas pelos pesquisadores

brasileiros em Psicologia da Educação, que serviram de referência neste estudo, e as

ideias de Shulman (1986; 1987), com relação à concepção de formação docente como

um processo multidisciplinar. Como também, observamos que esses estudos

acadêmicos que tratam da relação entre a Psicologia e formação docente inicial, a

partir do ano de 2000, têm em comum a tendência de uma concepção de professor

reflexivo, como referencial para o desenvolvimento do ensino de Psicologia da

Educação, a partir da compreensão do processo educacional como prática social e da

reflexão na prática docente para a reconstrução social.

Defendemos que a Psicologia esteja presente na Licenciatura de Matemática

de forma integrada à Educação Matemática, considerando-se o conteúdo específico

de seu ensino. Os saberes psicológicos necessitam estar inseridos nessa

Licenciatura, numa relação dialógica com a Educação Matemática, visando cumprir a

sua finalidade em contribuir na formação de profissionais reflexivo-pesquisadores que

ensinam Matemática. Entendemos que, no conjunto de componentes curriculares que

integram a grade curricular desse curso, tanto os componentes de conteúdo

matemático quanto os componentes pedagógicos deveriam promover o

desenvolvimento do pensamento matemático, e a compreensão do ensino. Os

saberes psicológicos precisam ser organizados para atender as finalidades dos

processos educativos e dos objetivos que perseguem os aprendizes no seu processo

de desenvolvimento profissional.

A formação teórico-epistemológica de Psicologia que os professores de

Matemática necessitam para seu desenvolvimento profissional como professores

prático-reflexivos precisa estar focada na compreensão de: Como pensam indivíduos

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quando estão envolvidos na aprendizagem e no ensino de Matemática; Como se

desenvolvem os processos de compreensão de conceitos matemáticos; Como

identificar estrategicamente, no processo de desenvolvimento intelectual, os

momentos particularmente favoráveis para se apresentarem desafios e determinados

tipos de materiais (RESNICK; FORD, 1981).

Nesse sentido Brito (2002) orienta sobre a importância do conjunto das teorias

cognitivas, para a construção do conhecimento dos vários aspectos do

desenvolvimento do pensamento matemático e da aprendizagem e ensino dos

conteúdos matemáticos; bem como, a autora recomenda que os estudos de

Psicologia da Educação sejam realizados numa perspectiva ampla e teórico-prática,

e que contemplem as várias teorias e as abordagens de diversos autores.

Localizamos com base nos estudos de Brito (2002) documento produzido pela

APA – American Pshychological Association em 1997, chamado Learner-Centered

Psychological Principles: A Framework for School Reform & Redesign. Trata-se de um

guia destinado aos professores formadores, identificando 14 princípios para o ensino

de Psicologia da Educação nos programas de formação de professores. Nesse

documento, observamos que estes princípios são centrados no estudante e os

processos de aprendizagem foram estabelecidos a partir das várias perspectivas de

pesquisa e fundamentados em evidências empíricas. Abordam fatores cognitivos e

metacognitivos, fatores afetivos, emocionais, fatores de desenvolvimento sociais, as

diferenças individuais, os critérios e a avaliação na aprendizagem. Na condição de

uma organização científica e profissional, essa instituição ao instituir estes princípios,

propõe um referencial sobre os saberes psicológicos necessários ao processo de

formação docente, servindo de referencial aos professores formadores para o

processo decisório no planejamento de ensino.

Mauri e Solé (1996), pesquisadoras espanholas, explicam que dentre a ampla

gama de especialidades em que o conhecimento psicológico aparece organizado, na

atualidade, a Psicologia do Desenvolvimento e a Psicologia da Educação, de forma

mais direta, são contempladas na formação inicial do professor. Descrevem que a

partir da sustentação do paradigma cognitivista, e de sua utilização na interpretação

dos fenômenos psicológicos, ocorreu uma aproximação entre ambas as disciplinas,

favorecendo a confluência de orientação para uma seleção dos conhecimentos

psicológicos mais adequados, para a formação de docentes.

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Entre os pesquisadores brasileiros, Montenegro (1987), em seu estudo sobre o

ensino de Psicologia da Educação no Estado de Goiás, percebeu que, embora não

houvesse consenso quanto aos conteúdos necessários para o futuro professor,

constatou que, nos resultados de sua investigação, nas abordagens referentes ao

desenvolvimento humano, ou aos modelos de aprendizagem, se evidenciou a

primazia do enfoque piagetiano, seguido de uma postura eclética. Resultados estes

que compreendemos como uma tendência nos cursos de licenciaturas, a partir da

década de 80, com a inclusão dos saberes psicológicos pertencentes a matrizes do

pensamento construtivista, como concepção epistemológica predominante; embora

sem abandonar as contribuições das outras concepções, ou seja, das teorias e

sistemas de abordagens comportamentais, humanistas, psicanalistas. A concepção

construtivista evidenciou-se nas áreas da Psicologia da Educação e da Educação a

partir do período histórico do final do governo militar brasileiro, período em que as

teorias de Piaget e de Vygotsky passaram a ser estudadas nas universidades

brasileiras. O que indica que nesse grupo investigado, a posição teórica manifesta é

considerada representativa de que os professores formadores tendem a valorizar os

saberes psicológicos necessários para a formação de professores de Matemática, na

perspectiva construtivismo, seguindo uma da tendência do final do século XX.

Nesse enfoque, também, Almeida (2005) ao realizar uma pesquisa sobre

saberes psicológicos necessários à docência em quatro Instituições de Ensino

Superior em São Paulo, analisando o que revelam as propostas pedagógicas de

Licenciaturas em Matemática, no contexto das exigências das Diretrizes Curriculares

Nacionais, com relação à Psicologia da Educação. A autora observou que

predominantemente os conhecimentos contemplados estavam voltados à temática

sobre crianças, jovens e adultos e, também, à temática de conhecimentos

pedagógicos. Registrou que os participantes relataram sobre a importância de se

introduzir os conhecimentos psicológicos a partir da História da Psicologia e que entre

os autores mais citados como referência, foram: Piaget, Vygotsky, Ausubel, Wallon,

Bandura, Skinner. Dados que revelam a tendência ao estudo de teorias de matrizes

construtivistas e comportamentalistas, entre os docentes participantes dessa

investigação.

Com base, ainda, na pesquisa de Almeida (2005), destacamos com relação à

inserção da Psicologia, como um saber necessário à docência, quanto perspectiva de

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teórico-metodológica, duas proposições relevantes: primeiro, que a disciplina

Psicologia da Educação seja uma das fontes que estão na base do conhecimento do

ensino, a partir da intersecção com outras ciências e com a prática; segundo, que os

conteúdos dos saberes psicológicos, para formação dos professores de Matemática,

precisam ser escolhidos para atender às peculiaridades e às necessidades de cada

curso e de cada turma, criando-se dispositivos para promover uma articulação, não

só na teoria e prática dentro da disciplina, mas também, na intersecção entre as

demais disciplinas da licenciatura e das disciplinas com a prática, e dos

conhecimentos dos professores/aprendizes.

Com relação à natureza dos saberes psicológicos necessários para formação

docente, observamos que se caracteriza pela sua utilidade e aplicabilidade.

A utilidade dos saberes psicológicos está relacionada ao desenvolvimento dos

saberes pedagógicos e à possibilidade de sua aplicabilidade, em oferecer elementos

de análise da prática educativa para a formação do professor de Matemática.

Consistindo os conhecimentos de Psicologia da Educação, como uma disciplina

psicológica e educativa, como mediadora, na construção de conhecimentos para o

desempenho profissional docente, justamente por se tratar de uma disciplina de

natureza aplicada. Na medida em que esses saberes não cumprem essas funções

não são reconhecidos como necessários e o componente curricular de Psicologia será

visto, apenas, como uma obrigatoriedade da legislação.

O ideário é que o desenvolvimento dos saberes psicológicos, seja numa

perspectiva psicológica útil, entendendo-se essa perspectiva, como modo de vermos

que os conhecimentos psicológicos sejam construídos, em sala de aula, pelos

aprendizes, percebendo-os em sua real utilidade para o seu desenvolvimento

profissional (BZUNECK, 1999).

Neste sentido, deve-se favorecer com que os licenciandos, em sua atuação

docente, compreendam a utilização dos conhecimentos psicológicos que possibilitem

estabelecer as relações com o processo de ensino e aprendizagem da Matemática,

sendo relevante que o professor formador selecione os conhecimentos psicológicos

que se mostrem mais potentes, para interpretarem as práticas educativas, e que

mantenham certa afinidade e coerência, em relação aos processos de ensino sobre

desenvolvimento e aprendizagem do conhecimento de Matemática.

Mauri e Solé (1996), também nessa perspectiva, orientam que deve ser

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considerada a utilidade dos conhecimentos psicológicos para a prática educativa, ao

oferecerem possibilidades de análise nas ações pedagógicas. Argumentam que pela

potencialidade descritiva e explicativa dos conhecimentos proporcionados pelas

disciplinas psicológicas. Os conhecimentos psicológicos desempenhem um papel

importante de parâmetro nas ações de planejar o ensino de forma autônoma e criativa

e analisar a sua própria prática, por isso, a relevância para os futuros professores

disporem de um núcleo de teorias e conceitos específicos relativos à atividade

docente.

Assim, a utilidade do conhecimento psicológico na formação dos docentes,

reside em sua capacidade de ser erigido como instrumento de análise da prática, e

por isso mesmo, como elemento indispensável para revisão e melhoria do processo

de desenvolvimento da prática educacional.

Com relação à amplitude e ao aprofundamento dos saberes psicológicos

necessários, encontramos no estudo de Almeida (2005), que trata dos saberes

psicológicos necessários à docência, no contexto das reformas educacionais

brasileiras, para a formação de professores, uma discussão pertinente. A autora

observou que, no planejamento de ensino dos professores formadores, que ensinam

Psicologia da Educação, nas licenciaturas em Matemática, esses professores

vivenciam na seleção de conteúdos de ensino, um dilema entre o aprofundamento e

a abrangência. Uma vez que, se por um lado, for proposto, no plano de ensino

desenvolver uma teoria, ou um conjunto de teorias que compartilhem os mesmos

princípios, como referência de análise das práticas educativas, essa escolha,

implicará, na renúncia a outras teorias; e não se pode perder de vista que nenhuma

teoria psicológica, ou mesmo um conjunto delas, será capaz de atender aos diversos

fatores e dimensões psicológicas, que compõem a prática educativa. Por outro lado,

se for proposto uma diversidade de pressupostos teóricos, que partam de abordagens

diferentes, e de matrizes epistêmicas diversas, implica na renúncia ao

aprofundamento desses pressupostos; correndo risco de que uma leitura simplista,

reducionista e superficial leve a compreensões equivocadas.

Diante, desse dilema, em que se destaca que cada uma das perspectivas

possui vantagens e desvantagens, acreditamos que os critérios de escolha dos

saberes psicológicos necessários para a formação de professores de Matemática, em

relação à amplitude ou ao aprofundamento, deverão estar vinculados às teorias que

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trazem contribuições mais consistentes, para o desenvolvimento do conhecimento de

Educação Matemática e o exercício da docência.

Em síntese, ao refletirmos sobre a Psicologia como saber necessário na

formação inicial de professores de Matemática, compreendemos que a inserção desse

componente curricular na formação docente, somente adquire relevância e sentido

quanto é considerada em sua interação com as outras disciplinas e com a prática.

Convergimos com o pensamento de Brito (2005), de que a inserção da Psicologia na

Licenciatura em Matemática precisa se deslocar do lugar de Psicologia da Educação

com caráter mais geral para uma compreensão específica. Acreditamos que os

estudos de Psicologia da Educação nos Cursos de Licenciatura em Matemática

precisam se voltar para as relações entre Psicologia e Educação Matemática.

5.2.5 Contribuições da Psicologia na formação inicial de professores de

Matemática

Ao analisarmos as contribuições da Psicologia na formação de professores de

Matemática é preciso enunciar que formação está sendo concebida. Nesse sentido

Alves e Sass (2004, p. 202), apropriadamente dizem:

Os caminhos a serem percorridos na busca da formação do professor devem ser os que levam a plenitude do ser humano. Isto entendido como libertação das coerções sociais, não pela ausência de determinações, mas pela busca de autodeterminação, de se aproximar da condição de ser-para-si. Se isto significa tornar-se autor, ou melhor, coautor de sua história, significa também se tornar ator que desempenha papéis sem cristalização, ou seja, sendo capaz de criar os seus próprios personagens, como articulação entre o imposto e o desejado, expressão de ser crítico e ser criativo.

As colocações desses autores apontam caminhos, ao mesmo tempo,

motivadores e desafiadores aos professores formadores, apresentam uma visão do

sentido de, para quê e de devir, aos sujeitos em interação no processo de

desenvolvimento profissional. Traz uma concepção com a qual nos identificamos.

Consideramos que o desenvolvimento do ser humano deve ser buscado em sua

plenitude, para a atuação docente, para formação da identidade de ser professor

como: ser autônomo e emancipado; ser sujeito ativo, no processo de crescimento e

de formação contínua.

A essa concepção de formação de professor associamos as explicações de

Fiorentini e Costa (2002), ao afirmarem que a formação e a constituição profissional

do professor resultam de duas dimensões interdependentes: pessoal e sócio-cultural.

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Entendendo-se a dimensão pessoal como um posicionamento do sujeito, atendendo

ao desejo de ser professor, que embora idiossincrático, recebe influência sócio-

cultural, sendo moldada por valores e pela experiência; e a dimensão sócio-cultural,

referente aos programas e às instituições de formação de professores, no caso em

foco, as Licenciaturas em Matemática, especificamente, como programas concebidos,

num conjunto de práticas e saberes reconhecidos, como fundamentais à formação

profissional. Constituindo-se, portanto, as dimensões de formação pessoal e formação

formal e teórica em saberes inter-relacionados e estruturantes para a docência.

Em correspondência ao ideário do bom professor, que se estabelece em um

determinado meio sócio-cultural, com base no desenvolvimento das ciências sociais,

apresentam-se as propostas para a formação docente. Observamos que, desde a

década de 80, no século XX, a formação de professor na concepção de profissional

investigador reflexivo tem sido um ideário de consenso entre as pesquisas em

Psicologia da Educação, como também, que é uma tendência nas pesquisas em

Educação Matemática. Esse referencial é indicado, como um caminho, para o

desenvolvimento profissional docente e para as reformas e mudanças educacionais,

como um paradigma defendido por educadores em geral e educadores matemáticos

(ORTEGA; SANTOS, 2008; FIORENTINI; COSTA, 2002; LAROCCA, 2002a;

GUERRA, 2003; ALMEIDA, 2005; DIAS, 2006).

A imagem projetada do professor de Matemática, a partir desse referencial, é

de um profissional interativo, autônomo, prático reflexivo e investigativo. Um

profissional situado, consciente, que sabe por que ensina, para que ensina, para quem

e como ensina. As expectativas das contribuições da Psicologia, nesse processo

formativo profissional, são de que os conhecimentos psicológicos se integrem aos

saberes da docência.

Embora, muitas vezes, nas últimas décadas, tenha sido questionada a

perspectiva psicologizadora da Educação, nas suas potencialidades e limites a

Psicologia se caracteriza como uma das áreas importantes para a formação docente,

e as críticas não subtraem, de modo algum, a importância do conhecimento

psicológico para esse processo (LAROCCA, 1999). Lembrando-se que, em cada área

existem limites, e que, os fenômenos educativos requerem uma compreensão

multidisciplinar e interdisciplinar, para lidar com a complexidade dos desafios, no fazer

pedagógico. Portanto, a partir do seu processo histórico do desenvolvimento, como

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uma das áreas da Psicologia, a disciplina Psicologia da Educação revelou-se em seu

potencial de contribuições, pela sua condição epistemológica, como conhecimento

científico, que é o conhecimento psicológico, e por estar a serviço da Educação,

definindo o seu papel na construção de um projeto social (LAROCCA, 1999).

Para compreensão das contribuições da Psicologia da formação do professor

de Matemática desenvolvemos a análise sob dois aspectos: Os conhecimentos da

Psicologia para ação e reflexão pedagógicas, e a construção da identidade

profissional docente.

5.2.5.1 Dos conhecimentos de Psicologia para ação e reflexão pedagógica

Com relação aos conhecimentos psicológicos para a formação de professores

de Matemática, a maior contribuição que a Psicologia oferece é no sentido da

compreensão de como as pessoas aprendem e ensinam a Matemática.

Considerando-se que o entendimento do desenvolvimento do pensamento

matemático e as relações com o desenvolvimento humano, a aprendizagem e o

ensino da Matemática são estruturantes para a construção de saberes psicológicos à

prática educacional (BRITO, 2002; BRITO, 2005).

Embora, com todos os desafios enfrentados no ensino, no contexto das

estruturas das licenciaturas, a Psicologia, como componente curricular, proporciona

contribuições para construção de saberes docentes e para desenvolvimento de

competências para ensinar; seja como área de conhecimento, prática de intervenção,

disciplina formadora, e possibilidades de ajudar na compreensão e transformação da

prática educativa (SADALLA; BACCHIEGGA; PINA, 2002).

Os registros históricos revelam que a Psicologia contribui, desde o início do

desenvolvimento do campo de Educação Matemática, para a formação de

professores. Nesse sentido, para elucidar as contribuições da Psicologia da

Educação, é necessário analisar sob três dimensões: do conhecimento científico, da

intervenção na prática e do componente curricular, nos cursos de formação docente

(COLL, 1996; LAROCCA, 1999).

Na dimensão teórico-conceitual o conhecimento psicológico desenvolve-se nas

relações de interdependência e interação entre conhecimentos da Psicologia e

conhecimentos da Educação, a disciplina Psicologia da Educação faz a mediação,

como disciplina ponte, entre conhecimentos psicológicos e conhecimentos

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educacionais, a partir de contribuições vindas da Psicologia da Aprendizagem, da

Psicologia do Desenvolvimento, da Psicologia Cognitiva, da Psicologia da Motivação,

da Psicologia Social e da Psicologia Geral e conhecimentos de Educação; isso é, a

Psicologia da Educação nutre-se das preocupações, métodos e explicações que

proporcionam os diversos ramos da Psicologia, para ajudar na compreensão mais

aprofundada da natureza da tarefa educacional, da sua complexidade e da variedade

de elementos constitutivos da esfera educativa (COLL, 1996).

Pontuamos aqui, algumas contribuições que evidenciam, nessa dimensão, a

abrangência e a consistência para a compreensão dos processos cognitivos voltados

ao ensino e aprendizagem de Matemática, considerando-se que os fenômenos

cognitivos não se produzem isolados dos outros fenômenos psíquicos. Os processos

cognitivos envolvem as demais funções psicológicas superiores, tais como:

percepção, atenção, memória, imaginação, linguagem, inteligência, afetividade. As

funções psíquicas têm um suporte biológico, pois são produzidas pela atividade

cerebral. Assim, ao analisar as contribuições é oportuno lembrar a dinâmica da prática

educativa e suas demandas, a necessidade de que na atuação docente desenvolva a

capacidade de reflexão e criticidade.

A Psicologia, por suas vertentes teóricas significativas, trouxe contribuições

para a formação de professores de Matemática, ao longo da história da Educação

Matemática. Destacam-se principalmente as abordagens cognitivistas, representadas

pelas teorias de Jean Piaget, Jerome Bruner, David Ausubel e Klausmeier; e as

abordagens sócio-histórico-cultural, representada pelas ideias de Lev Semenovitch

Vygotsky.

A partir da concepção de que a Psicologia Cognitivista tem como objetivo

entender o funcionamento da mente humana, e que sua definição é de um “estudo de

como as pessoas percebem, aprendem, lembram-se, e pensam sobre a informação”

(STERNBERG, 2012, p. 1), chamamos atenção para o significado das suas

contribuições nas relações entre Psicologia e a Educação e especificamente a

Educação Matemática.

A teoria epistemológica contemplada na obra de Piaget, traz no seu bojo uma

teoria do desenvolvimento cognitivo, e uma concepção de aprendizagem. Embora não

se constitua numa teoria pedagógica, contribui como um quadro básico de análise no

processo pedagógico, pelas explicações sobre a gênese do conhecimento humano.

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Constata-se que, muitas das produções nas linhas investigativas da Educação

Matemática têm suas raízes no construtivismo piagetiano. Os estudos desenvolvidos

no enfoque da epistemologia do número, influenciaram a Didática das Matemáticas

(MORO, 1990; MORO, 2007). As concepções sobre desenvolvimento e

aprendizagem, na perspectiva da epistemologia genética, geraram inúmeros estudos

que contribuíram para a compreensão sobre representação notacional matemática e

conceitualização, no processo de ensino e aprendizagem de Matemática; e para uma

proposição construtivista/interacionista como referencial teórico-metodológico, para o

professor de Matemática.

O quadro teórico apresentado por Ausubel e seus colaboradores Novak e

Hanesian revela uma das mais completas e interessantes teorias a respeito da

aprendizagem no contexto escolar, focada no ensino. A Teoria da Aprendizagem

Verbal Significativa traz a contribuição no sentido da compreensão da importância da

organização do ensino e da formação de conceitos, na escola (AUSUBEL; NOVAK,

1980; BRITO, 2005). Segundo Ausubel (1980; 2003), a aprendizagem significativa é

um processo em que uma nova informação relaciona-se de maneira não arbitrária e

substantiva (não literal), a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do aprendiz, e

essa nova informação interage com uma estrutura de conhecimento específica,

chamada de subsunçor, existente na estrutura cognitiva do aprendiz. Sendo o

subsunçor, um conceito, uma ideia, uma proposição que já existe na estrutura

cognitiva, que serve de ‘ancoradouro’ para novas informações, de modo que tenham

significado para o aprendiz.

No enfoque das concepções de Ausubel (1980; 2003) observamos que ao

aluno ingressar na escola evidencia-se que conceito de número já existe na estrutura

cognitiva do aluno, pelas experiências de aprendizagem anteriores no meio familiar.

Assim, o conceito prévio servirá de subsunçor para novas informações para um

determinado tipo de número, por exemplo, um número real. Esse processo de

ancoragem da nova informação resulta na ampliação e modificação do conceito

subsunçor (número). O subsunçor existente na estrutura cognitiva poderá ser

abrangente, bem elaborado, claro, estável ou limitado, pouco desenvolvido, instável,

dependendo da maneira como serviram de ancoradouro para novas informações

referentes a números: inteiros, racionais, reais e complexos. Mas, na medida em que

esses novos conceitos forem aprendidos, de maneira significativa, o resultado será a

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ampliação e elaboração do conceito subsunçor inicial. Isso indica que o conceito de

número ficará mais abrangente, elaborado e mais capaz para servir de subsunçor para

novas informações relativas ao conceito de números (MEIRA, 2015). A compreensão

do processo de assimilação contribui para a organização de ensino e de intervenções

pedagógicas, para a mediação na construção de conceitos matemáticos.

Klausmeier e Goodwin (1977) propuseram um modelo analítico-descritivo da

aprendizagem e desenvolvimento conceitual, conhecimentos que são significativos

para os futuros professores. Devem aprender os principais conceitos, no campo de

estudo específico de sua área de ensino e do campo da Educação, ao nível

classificatório e, ao nível formal, para que possam no exercício profissional analisar

um conceito e suas aplicações, ou desenvolver uma análise de probabilidade de

exemplos. As concepções de Klausmeier e Goodwin (1977) favorecem a valorização

no desenvolvimento processo de conceitualização pelo próprio professor, visando ao

desenvolvimento de suas competências para acompanhamento na formação de

conceitos e domínio de conteúdos pelos aprendizes, em nível de usar bem os

conceitos para resolução de problemas e para a compreensão de princípios. Como

assinala Brito (2005, p. 82) “[...] existe uma relação estreita entre os conceitos de uma

dada disciplina e a maneira como eles se organizam, formando estruturas cada vez

mais complexas”. Por exemplo, para efetuar a potenciação (15x + 1/3y)², o aprendiz

precisa do conhecimento prévio relacionado (a+b)², além da compreensão dos

princípios comutativos, distributivos e associativos, dentre outros. Como a prática

educacional está relacionada com o uso e extensão de conceitos, nesse mister, os

conceitos psicológicos contribuem no processo de ensino.

Para ilustrar apresentamos alguns exemplos das relações entre as teorias

psicológicas e teorias de Educação Matemática, e das relações teoria e prática no

ensino de Matemática, em que se observam as contribuições dos conhecimentos

psicológicos no desenvolvimento da compreensão do pensamento matemático, e da

construção dos conceitos matemáticos pelos aprendizes.

Observamos que ao estudar sobre o conceito de reificação de Sfard (1991), as

ideias defendidas nos remetem: à Teoria da Gestalt, quanto à apreensão súbita,

eureka ou insight de aprendizagem; à Teoria sócio histórica de Vygotsky, em relação

a conceitos científicos; à Teoria psicogenética de Piaget, quanto ao processo de

equilibração e formação de esquemas; à Teoria da Aprendizagem Significativa de

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Ausubel; e à Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud. Evidenciamos no estudo

da educação Matemática a necessidade de uma integração dos conhecimentos

multi/interdisciplinares das ciências, para que se possa cada vez mais, elucidar sobre

a compreensão do homem como aprendiz, especificamente no enfoque de aprendiz

das ciências matemáticas, tendo a Psicologia, nesse bojo, importante contribuição a

oferecer.

A teoria psicogenética de Piaget serviu de mediação para o desenvolvimento

de novas teorias, para a compreensão da construção de conceitos e desenvolvimento

do pensamento matemático, tais como a teoria APOS (Action-Process-Object-

Schema) de Dubinsky, e a teoria SOLO (Structure of Observing Learning Outcome)

de Biggs e Collis.

Ao se referir sobre a origem da teoria APOS, Dubinsky (1991) explica que essa

teoria surgiu na tentativa de compreender o mecanismo da abstração reflexiva,

introduzido por Piaget, para descrever o desenvolvimento do pensamento lógico nas

crianças, e estender essa ideia aos conceitos matemáticos mais avançados.

Pegg e Tall (2005), no PME-29 (29th Annual Conference of the International

Group for the Psychology of Mathematics Education), afirmam que a teoria SOLO tem

suas raízes na tradição epistemológica de Piaget, e que sua estrutura pode ser

considerada subordinada aos descritores de modelos neo-piagetianos, ao discutirem

os vários quadros teóricos psicológicos, com o propósito de buscar um embasamento

para avançar na compreensão dos ciclos de desenvolvimento cognitivo dos

estudantes, que permitam oferecer insights sobre as questões relativas à

aprendizagem da matemática.

Amantes e Borges (2007), também afirmam que, no propósito de fornecer um

modelo para o desenvolvimento cognitivo, a teoria SOLO, pode ser vista no enquadre

teórico da descrição de um modelo neopiagetiano, ao considerar que: Biggs e Collis

desenvolveram uma teoria apoiada em pressupostos piagetianos; basearam sua

teoria na noção de que a aprendizagem processa-se na interação complexa entre os

procedimentos de ensino e as características dos próprios aprendizes; concebem que

os sujeitos aprendem um novo conhecimento, por meio de estágios ascendentes, que

envolvem estruturas cognitivas, cada vez mais complexas, à semelhança dos estágios

piagetianos, e, também, classificam em etapas o desenvolvimento do modo de

pensamento, reconhecendo a importância da identificação, embora fazendo a

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distinção entre as etapas pelo modo de representar o conhecimento aprendido, não

pela estrutura da totalidade de tarefas, com que se lida em cada estágio.

Entendemos que a visão de ciclo, no processo de construção do conhecimento

e do desenvolvimento do pensamento matemático, em suas diversas formas de

classificar em estágios, níveis, modos, modalidades, sejam na perspectiva de ciclos

globais ou ciclos locais, em suas abordagens com seus enfoques específicos,

contribuem para compreender os significados implícitos em cada teoria e ver onde

cada um lança luz sobre a outra, favorecendo a ampliação do entendimento de como

se processa a aprendizagem da Matemática (PEGG; TALL, 2005).

A teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, uma teoria cognitivista

neopiagetiana, e calcada nas ideias de Vygotsky, apresenta um potencial para

descrever, analisar, e interpretar as situações de aprendizagem de Matemática em

sala de aula. Podendo ser considerada como ferramenta para elucidar as dificuldades

dos alunos na resolução de problemas. Vergnaud (2011) ao descrever sobre o

desenvolvimento a longo prazo e a curto prazo em aprendizagem Matemática,

caracteriza a situação de “a longo prazo”, pela aquisição de uma nova competência

ou conceituação, ao longo de vários anos de escola, e de experiência; e a curto prazo

as situações suscetíveis de serem propostas úteis aos alunos, em um ou outro

momento, do seu desenvolvimento, em função de competências já adquiridas ou

parcialmente adquiridas. Apresenta um exemplo ilustrativo de estruturas aditivas, em

que aparece a decomposição de uma transformação composta conhecida em duas

transformações sucessivas, das quais uma é conhecida e outra desconhecida.

Henrique jogou duas partidas de bolinhas de gude, uma pela manhã, outra à tarde. Ele não se lembra mais do que aconteceu pela manhã. À tarde, ele... (aqui, cabe uma primeira variável do enunciado). À noite, fazendo suas contas, ele percebe que tem... (a segunda variável do enunciado). O que aconteceu pela manhã? Henrique ganhou ou perdeu bolinhas de gude e quantas? (VERGNAUD, 2011, p. 19).

Vergnaud (2011) descreve que ao manipular os valores das duas variáveis do

enunciado, são observados fenômenos surpreendentes:

A. Ganha 6 pela manhã; ganha 15 ao todo. O problema é resolvido sem dificuldade.

B. Ganha 15 à tarde; ganha 6 ao todo. Já é caso sensivelmente mais complicado.

C. Perde 6 à tarde; perde 15 ao todo. É resolvido sem dificuldade. D. Perde 15 à tarde; perde 6 ao todo. É caso mais delicado. E. Ganha 6 à tarde. Perde 15 ao todo. O problema ocasiona um fracasso

quase geral ao final da escola elementar. F. Ganha 15 à tarde; perde 6 ao todo. Da mesma forma, insucesso quase

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geral. G. Perde 6 à tarde; ganha 15 ao todo. Idem ao caso anterior. H. Perde 15 à tarde; ganha 6 ao todo. Idem ao caso anterior.

A família das situações descritas permite mostrar a continuidade e a ruptura entre a aritmética e a álgebra. É possível, por exemplo, utilizar-se dos casos acima expostos para mostrar que as equações x+a=b podem representar situações algebricamente bem diferentes:

x + 6 = 15; x + 15 = 6; x – 6 = - 15 (VERGNAUD, 2011, p. 19).

Como próprio autor explica, foi no campo da aritmética básica que se

desenvolveu a maior parte das suas observações e reflexões, sobre a progressiva

complexidade das situações matemáticas; contudo, essa dupla escala de tempo, de

longo prazo e de curto prazo, é igualmente válida para a álgebra e a geometria

(VERGNAUD, 2011).

Schliemann, Santos e Costa (1992) ao analisarem o desenvolvimento do

pensamento matemático no processo da compreensão do sistema decimal à

construção do conceito de algoritmos, para resolução das operações aritméticas, nos

primeiros anos da criança na escola, revelam a importância da contribuição das ideias

piagetianas para o ensino da Matemática. Com relação à concepção construtivista

sobre o desenvolvimento cognitivo, assinalam que deveriam ser considerados três

princípios gerais no processo de ensino:

A compreensão real de uma noção ou de uma teoria implícita na reinvenção desta teoria pelo sujeito; A criança, em todos os níveis, é sempre mais capaz de fazer e compreender na ação do que expressar verbalmente e conscientemente os princípios nos quais se baseiam suas ações; As representações ou modelos matemáticos utilizados deveriam corresponder à lógica natural da criança e a formação deveria ser deixada para mais tarde com uma espécie de sistematização das noções já adquiridas (SCHLIEMANN, SANTOS; COSTA, 1992, p. 101).

Nesse sentido as autoras enfatizam que experiências de manipulação de

objetos concretos, embora possam ser úteis, só efetivamente contribuem se as

situações de aprendizagem têm significado para a criança.

Referente às contribuições das concepções de sócio-históricas, em sua

investigação Moysés (2004) analisa as aplicações das ideias de Vygostsky à

Educação Matemática, com o objetivo de verificar as reais possibilidades dessa

abordagem psicológica, visando fornecer subsídios para melhorar a qualidade de

ensino de Matemática, nas escolas do ensino fundamental. Destaca que a Psicologia

Sócio-Histórica é a principal área de conhecimento a contribuir para o

desenvolvimento do conhecimento, na tendência Etnomatemática. Conclui que as

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ações educativas orientadas pelos pressupostos dessa teoria psicológica, favorecem

à aprendizagem e ao desenvolvimento do aprendiz. Nessa experiência, evidenciaram-

se as contribuições em relação à aquisição do conhecimento e ao desenvolvimento

das funções psicológicas, a partir de uma intervenção pedagógica considerando as

ideias de mediatização, de contextualização e formação de conceitos.

Em 2005, Lerman em sua participação no PME-29 (29th Annual Conference of

the International Group for the Psychology of Mathematics Education), apresenta um

quadro síntese, a partir de referencial teórico, nos estudos realizados em Educação

Matemática. A análise desse quadro revela que entre a ampla variedade de teorias,

que estão sendo usadas por pesquisadores, aparece a preferência por teorias sociais,

sobre as teorias cognitivas. Evidenciando-se a vertente teórica vygostskiana, entre

uma das principais contribuições, para o desenvolvimento dos saberes docentes.

Lompscher e Joachim (2002), no contexto dos estudos da Psicologia do

pensamento matemático, mostra a importância da contribuição de um ramo da Escola

Sócio-Histórica de Vygotsky, representadas pelas teorias da Formação das Ações

Mentais por Estágios de Galperin, referente a utilização de ferramentas cognitivas,

como recursos auxiliares para o pensamento e a promoção da aprendizagem.

Descreve sobre os estágios, na aquisição de conceitos matemáticos elementares, tais

como a formação do conceito de número e de operações com número, na educação

infantil e no ensino fundamental.

Fica evidente que as abordagens cognitivistas se constituíram em fundamentos

para o desenvolvimento de teorias em Educação Matemática. Nessa perspectiva os

estudos das teorias psicológicas que contribuíram para compreensão do processo de

ensino e aprendizagem da Matemática tornam-se relevantes, pelas possibilidades de

contribuição significativa no processo formação de professores de Matemática.

Em sua dimensão de intervenção na prática a Psicologia contribui, pela

possibilidade de oferecer elementos para análise da prática educativa, e juntamente

com as demais áreas de conhecimento educacional, buscar subsídios para

compreender e atuar em locus (LAROCCA, 1999; SADALLA; BACCHIEGGA; PINA,

2002; ALMEIDA; AZZI, et al., 2003). Nessa dimensão, é importante o entendimento

de que, além de instrumento a serviço da prática pedagógica, caracteriza-se como um

conjunto de conhecimentos que, no diálogo com a prática constitui-se em um dos

elementos construtivos dos saberes e competências do professor (SADALLA;

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BACCHIEGGA; PINA, 2002 ).

Portanto, o conhecimento desenvolvido pela Psicologia da Educação,

subsidiam as leituras da prática pedagógica, contribuindo para elaborar/reelaborar

modalidades de intervenção. Mas sua potencialidade efetiva-se, na medida em que

se coloca à disposição do professor, em sua formação a pluralidade de que necessita

das “armas analíticas”, para o enfrentamento eficaz das situações colocadas na

Educação, e como disciplina curricular, seja compreendida como uma unidade

dialética de ação e reflexão, superando a noção de fundamentos teóricos (ALMEIDA,

2007).

Como componente curricular na Licenciatura em Matemática, contribui, na

medida em que favoreça a construção do conhecimento psicológico significativo para

os futuros professores, para a compreensão, planejamento, e melhoria dos processos

educativos numa perspectiva multidisciplinar, visando à prática reflexiva.

A contribuição da Psicologia, nesse enfoque, está na mediação da construção

de conhecimentos psicológicos em sua pluralidade, favorecendo a uma visão ampla

de possibilidades de quadros teóricos disponíveis. Essa pluralidade teórica oportuniza

várias formas de elucidar a prática e re-significar conceitos e princípios psicológicos

no enfrentamento dos desafios do cotidiano, nas intervenções, no trabalho docente

(ALMEIDA, 2007). Nesse processo de formação, em que se articula a relação teoria

e prática, constroem-se as competências profissionais.

Nessa direção, ao pensar no processo de formação docente de Matemática, as

pesquisas mostram que os desafios do componente curricular Psicologia da

Educação, situam-se em como tem sido desenvolvido esse conhecimento nos

currículos de Licenciatura em Matemática, e na necessidade de superação do

processo de teórico-metodológico pautado na racionalidade técnica que tem sido

desenvolvido nessa disciplina (GOULART, 1985; FINI, 1987; MONTENEGRO, 1987;

MONTENEGRO, 1993; CAPARROZ, 1992; IÓRIS, 1993; ALMEIDA, 1999; ALMEIDA,

2005; GUERRA, 2003; DIAS, 2006).

Assim, a valorização de que os conhecimentos provenientes da Psicologia,

serão potencialmente significativos ao serem desenvolvidos numa compreensão

teórico-prática e articulados ao contexto das situações educativas, leva-nos ao

entendimento das contribuições dos conhecimentos psicológicos reconhecidos como

úteis, e da melhoria da qualidade de ensino. Compreendemos que o ensino de

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Psicologia na formação docente precisa promover vivências que possibilitem a

articulação dialógica, entre conhecimento teórico e o saber prático, de forma

contextualizada ao ensino de Matemática, e que a própria experiência dos processos

de ensino e aprendizagem desse componente curricular necessita ser desenvolvida

de modo coerente às teorias psicológicas, e que as atividades docentes possibilitem

a aprendizagem, pelo exemplo, nas interações professor e aprendiz.

Entendemos que o desenvolvimento do conhecimento psicológico contribui

para construção de esquemas de pensamentos norteadores nas operações mentais

complexas, necessários ao exercício de competências para organizar e dirigir

situações de aprendizagem. Defendemos que as teorias psicológicas servem para

ampliar a compreensão dos fenômenos e do desenvolvimento de competências, para

administrar o processo de ensino e aprendizagem, de mobilizar trabalhos em equipe,

de lidar com a heterogeneidade e os princípios da inclusão escolar, de gerenciar

conflitos sejam nas relações interpessoais ou intergrupais (PERRENOUD, 2000).

Enfim, com base na concepção de Perrenoud (2000) afirmamos que os

conhecimentos psicológicos contribuem, sobretudo, para o desenvolvimento de

competências para administrar a sua própria formação inicial e contínua, pela reflexão

na sua prática profissional, autorreflexão, autoconhecimento e autoavaliação.

Inclusive para que o professor que hoje está em sua formação inicial, no futuro acolha

a formação dos colegas e avance em sua própria formação continua, como

professores formadores.

5.2.5.2 Da contribuição da Psicologia no desenvolvimento da identidade profissional

do professor de Matemática

A identidade não é algo que se possua, mas sim algo que se desenvolve durante a vida. A identidade não é um atributo fixo para uma

pessoa, e sim um fenômeno relacional. O desenvolvimento da identidade acontece no terreno do intersubjetivo e se caracteriza como um processo

evolutivo, um processo de interpretação de si mesmo como pessoa dentro de um determinado contexto. (MARCELO, 2009b, p. 112).

Ao longo do processo de formação inicial do professor de Matemática,

transcorre o processo de desenvolvimento de identidade profissional, sendo

construído, no contexto dos componentes curriculares, de forma explícita, seja na

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forma de um currículo oculto, na interação entre aprendizes e professores formadores.

A partir da definição de que a identidade é o ponto de referência, a partir do

qual surge o conceito de si, e que é aprendida pelo processo das representações de

si mesmo, em resposta ao questionamento, quem sou eu (JACQUES, 1998),

consideramos a identidade profissional, como marco de referência, para a ação

docente e as relações do professor, com a própria profissão, desenvolvida pelas

representações sociais da categoria profissional – professor de Matemática, e, das

representações de si mesmo, como docente nessa área de conhecimento e ensino.

A construção da identidade profissional, como fenômeno social, caracteriza-se

por “um processo complexo graças ao qual cada um se apropria do sentido da sua

história pessoal e profissional” (CIAMPA, 1989; DIAMOND, 1991, apud NÓVOA,

2007a, p.16).

Nóvoa (2007a, p. 16; 2007b, p. 34) descreve que “a identidade é um lugar de

lutas e de conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e estar na

profissão”. Prefere denominar de processo de identitário, que expressa a relação

dinâmica entre a maneira como cada um se sente e se diz professor, a interação

continua entre o desenvolvimento pessoal e social.

Em nossa experiência na docência no curso de Licenciatura em Matemática da

UNEB, observamos que alguns dos calouros escolhem esse curso pela valorização

do conhecimento matemático e do seu desempenho anterior na aprendizagem da

disciplina; porém muitos, apenas, consideram o curso pela oportunidade de ingresso

na Universidade, ocorrendo a redução do número de alunos matriculados, entre o

primeiro e o segundo ano, na medida em que se conscientizam de que o objetivo

principal desse curso é a formação de professores da Educação Básica. De modo

semelhante, também, Onuchic e Huanca (2013, p. 313) relatam que nos cursos de

Licenciatura em Matemática, “muitos alunos que ingressam nesses cursos não estão

conscientes ou convencidos de que seu objetivo principal é a formação de professores

ou, até mesmo, não reconhecem isso”.

Essa situação torna-se um desafio aos professores formadores,

principalmente, no início do curso, pois o processo identitário implica na adesão dos

ingressantes aos princípios e aos valores educacionais, ao investimento pessoal

voltado para o desenvolvimento e a aprendizagem do conhecimento matemático de

jovens e adultos, a autoconsciência do processo formativo docente (NÓVOA, 1995;

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NÓVOA, 2007a).

Ao refletir sobre as contribuições da Psicologia no processo de formação inicial

do professor de Matemática, na dimensão da construção da identidade docente,

consideramos como pressupostos: o ideário do bom professor, na perspectiva de

profissional reflexivo; a importância epistêmica dos conteúdos a serem assimilados,

para aprendizagem e ensinagem de conceitos matemáticos, para as atividades

profissionais; a percepção de que o desenvolvimento profissional faz parte do

desenvolvimento pessoal, numa relação de interação contínua; a concepção da

formação profissional como um investimento pessoal, imbuída de percursos e projetos

subjetivos e objetivos, no processo de construção e reconstrução de uma identidade;

e que a formação inicial é um momento chave no processo de identificação

profissional.

O ponto de partida para possíveis contribuições da Psicologia está na

identificação dos conhecimentos prévios do futuro professor, de suas vivências

referentes ao processo de desenvolvimento e aprendizagem, e, do conjunto de

representações construídas sobre a profissão de professor de Matemática. A partir

desse diagnóstico inicial, como componente inicial no contexto dos estudos propostos,

esperar-se que colabore no sentido de estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que

forneça aos estudantes os meios de um pensamento autônomo e que facilite as

dinâmicas de autoformação participada, visando à construção da identidade

profissional (NÓVOA, 2007a).

Os conhecimentos sobre o desenvolvimento do ciclo de desenvolvimento

humano possibilitam a autopercepção e a reflexão sobre si mesmo aos futuros

professores, em seu desenvolvimento pessoal, a partir de suas histórias de vida e da

conscientização de suas experiências da infância e da adolescência. O estudo do

tema, articulado à realidade de cada um, favorece uma nova perspectiva, para as

relações interpessoais com adolescentes e adultos. O deslocamento de se perceber,

como aluno, para a autoimagem de professor-aprendiz, contribui para construção da

identidade profissional.

Os modelos de aprendizagem e de ensino apresentados pelas teorias

psicológicas contribuem para repensar as crenças e superação de concepções

errôneas, favorecendo a um posicionamento fundamentado para um referencial do

bom professor e do ensino eficaz, favorecendo aos estudantes a construção da sua

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identidade profissional, a sua definição dos modos distintos de ser professor,

marcados pelos seus ideais educativos próprios, pela adoção de métodos e práticas

que melhor se adequam com a sua maneira de ser, pela escolha de estilos pessoais

de reflexão sobre a ação (MARCELO, 2009a; MARCELO, 2009b).

O diálogo com o conhecimento psicológico contribui para a percepção de que

formação profissional não se constrói, simplesmente, por acumulação de cursos, de

conhecimentos, e de técnicas, mas sim, através de um trabalho de reflexividade crítica

sobre as práticas e de reconstrução contínua de uma identidade pessoal (NÓVOA,

1995). Esse diálogo ajuda a visualizar a importância de se investir no saber da

experiência, construído numa relação teoria-prática dos conhecimentos psicológicos,

e a desenvolver uma contínua autoavaliação do próprio desenvolvimento profissional.

Mas, principalmente, a se dar conta de que como professores, somos seres em

relação, com outrem, somos seres em movimento, seres em “metamorfose” (CIAMPA,

1989).

As experiências nas aulas de Psicologia favorecem à compreensão do próprio

conceito de identidade docente, como um processo evolutivo que se desenvolve, tanto

pessoal como coletivamente.

As teorias de aprendizagem e as concepções de desenvolvimento humano da

infância à senescência ajudam-nos entender o processo identitário. Como afirma

Nóvoa (2007a, p. 16) “Um processo que necessita de tempo”. Ao longo da experiência

profissional, transcorrem as mudanças e transformações pelas aprendizagens, ao

longo da vida, e se renova a identidade profissional na superação dos conflitos, na

construção do ser e estar na profissão docente, a cada momento presente,

acomodando-se as inovações e assimilando as mudanças no meio educacional.

Cada ser humano é único. A trajetória de formação de cada um é única, os

professores formadores podem ser mediadores na construção do conhecimento, mas

cada professor faz o seu caminho, caminhando. Por isso... “[...] não há dois

professores iguais e” “[...] a identidade que cada um de nós constrói como educador

baseia-se num equilíbrio único entre as características pessoais e os percursos

profissionais (NÓVOA, 2007b, p. 33)”.

O modo de ser professor revela-se em nossas ações na prática. Nas ações

pedagógicas revelamos as nossas concepções de ensino e aprendizagem para além

do discurso. “Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és” (NÓVOA, 2007b, p. 33). Mas,

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194

sobretudo, a reflexão na prática e sobre a prática, é um caminho para o contínuo

desenvolvimento profissional.

UMA AVALIAÇÃO PONTUAL DO COMPONENTE CURRICULAR DE

PSICOLOGIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA NO

BRASIL

Apresentamos nos itens anteriores, nesse capítulo, uma descrição das relações

entre a Psicologia e a formação inicial de professores de Matemática no contexto das

Licenciatura em Matemática, fundamenta em estudos já realizados. Buscamos a

compreensão da inserção desse componente curricular, de suas finalidades, de sua

relevância como saber necessário e de suas contribuições para processo de

profissionalização docente.

Para ampliar a compreensão da inserção da Psicologia no âmbito das

Instituições de Educação Superior (IES) brasileiras, após a aprovação da atual LDBEN

(BRASIL, 1996) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

Matemática, Bacharelado e Licenciatura (BRASIL, 2002b), realizamos uma avaliação

pontual do componente curricular de Psicologia nos cursos de Licenciatura em

Matemática. Entendendo-se que, no sistema educacional brasileiro, o espaço

principal para a formação inicial de professores de Matemática para Educação Básica

é o Curso de Licenciatura em Matemática; que, em princípio, é nesse processo

educacional que se estabelecem as bases para o desenvolvimento profissional; e que

o contexto desse Curso se trata de um locus significativo, para investigação das

contribuições da Psicologia, no momento presente.

Com base nos Projetos Pedagógicos ou Planos de Curso da Licenciatura em

Matemática, fluxogramas e ementários a que tivemos acesso, realizamos essa

avaliação com a finalidade de ampliar a compreensão a respeito das contribuições da

Psicologia, a partir de uma visão mais próxima da situação atual.

Estabelecemos como objetivo, coletar informações sobre os componentes

curriculares na área de Psicologia, no enfoque da formação de professores de

Matemática, a partir da análise e interpretação dos registros acadêmicos, divulgados

nos sítios institucionais. Delimitamos como objetivos específicos: identificar as

características da inserção do componente curricular Psicologia, nos cursos de

Licenciatura em Matemática, no Brasil; descrever as características das proposições

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de ensino dos conhecimentos psicológicos, considerados necessários, a partir das

ementas e programas dos componentes curriculares; e descrever os possíveis

indicativos de contribuições do conhecimento psicológico, quanto ao conteúdo e às

abordagens teóricas propostas, voltadas para o desenvolvimento da formação

profissional do professor de Matemática, na visão dos registros documentais dos

educadores, que conceberam esses respectivos cursos.

Nesta direção, trabalhamos com os dados das IES, cadastradas no Ministério

de Educação do Brasil (MEC), para a oferta do Curso de Licenciatura em Matemática,

na modalidade presencial e na modalidade de Educação a Distância (EAD) instituídos,

sem considerarmos os cursos de programas especiais e temporários, promovidos

para habilitação da profissão docente. Coletamos os dados referentes à identificação

institucional e informações contidas nos documentos acadêmicos destas IES, tais

como: identificação institucional, matrizes curriculares, fluxogramas, ementas,

programas de ensino e Projetos Pedagógicos, ou Planos de Curso; que estavam

disponibilizados ao público, pelos sítios institucionais.

Foi estabelecido como referência o mês de fevereiro de 2015 para coleta das

informações. Nos registros do MEC foram encontrados nesse período: 740 cadastros

de IES, que disponibilizavam a oferta do Curso de Licenciatura em Matemática, no

território brasileiro.

Quanto à distribuição de Cursos cadastrados por Região foram localizados os

seguintes registros: 108 na Região Sul; 275 na Região Sudeste; 174 na Região

Nordeste; 90 na Região Centro Oeste; e 93 na Região Norte (Figura 20).

Do total de 740 cursos, cadastrados em 2015, observamos que a maior

concentração de oferta se situa na Região Sudeste, com índice porcentual significativo

de 37,16%, indicando a influência dessa Região para a formação de professores de

Matemática.

Selecionamos um Estado para cada uma das cinco Regiões da Federação,

escolhendo-se aquele que apresentasse o maior número de cadastros como

representante dessa Região. Com base nesse critério, foram escolhidos os registros

dos seguintes estados: Bahia, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul, e São Paulo.

Totalizando-se 258 cadastros, que representam 34,86% dos registros em nível

nacional; e que apresenta a seguinte distribuição de oferta de cursos: Bahia/Nordeste

14,34%; Goiás/Centro Oeste 10,08%; Pará/Norte 7,75%; Rio Grande do Sul/Sul

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15,45%; São Paulo/Sudeste 53,33%; (Figura 21).

Figura 20 - Distribuição de oferta de cursos de Licenciatura em Matemática por Regiões no Brasil. MEC, 2015. Fonte: Autora.

Figura 21 - Distribuição da amostra de oferta de cursos de Licenciatura em Matemática cadastrados no MEC. Fonte: Autora.

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Esses dados revelam que a maior concentração de oferta de cursos de

Licenciatura em Matemática situa-se na Região Sudeste e no Estado de São Paulo.

Nos registros selecionados com relação às características das IES,

apresentamos na Tabela 1 e Tabela 2, a distribuição de frequência das IES, quanto à

organização acadêmica, e quanto à categoria administrativa.

Destaca-se na Tabela 1, que a maioria das ofertas de cursos em 2015 está

sendo proposta por Centros Universitários ou Faculdades, embora seja representativa

a oferta inserida em Universidades, sejam públicas ou privadas. Esses dados indicam

que a formação inicial de professores, predominantemente, ocorre em situações de

ensino, em que os estudantes não têm acesso à convivência no ambiente

universitário, ao espaço acadêmico pautado na concepção da integração entre ensino,

pesquisa e extensão, para desenvolvimento profissional. Isso é, a maioria dos cursos

se desenvolve calcada, apenas no ensino, principalmente se considerarmos que, em

parte dessas ofertas, em nível das Universidades, os estudantes interagem em salas

virtuais, por se tratarem de Cursos na modalidade a distância.

Tabela 1 - Distribuição quanto à organização acadêmica das IES cadastradas no MEC para oferta do curso de Licenciatura em Matemática – 2015.

Estado Centro

Universitário

Faculdade Instituto Federal

de Educação,

Ciência e

Tecnologia

Universidade

BAHIA 06 07 02 22

GOIÁS 06 05 02 13

PARÁ 03 03 01 13

RIO GRANDE DO SUL 08 07 02 23

SÃO PAULO 31 62 02 40

Total 54 84 09 111

Fonte: Autora

Tabela 2 - Distribuição quanto à categoria administrativa das IES cadastradas no MEC, para oferta do curso de Licenciatura em Matemática – 2015.

Estado Pública Privada

Municipal Estadual Federal Total Com fins

lucrativos

Sem fins

lucrativos

Total

BAHIA 00 04 06 10 17 10 27

GOIÁS 00 01 03 04 11 11 22

PARÁ 00 01 04 05 09 06 15

RIO GRANDE DO

SUL

00 00 07 07 11 22 33

SÃO PAULO 06 03 06 15 57 63 120

Total 06 09 26 41 105 112 217

Fonte: Autora

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Os dados na Tabela 2, com relação à oferta de Cursos de Licenciatura em

Matemática, confirmam a tendência que ocorre, desde a década de 90, em que a

maioria das vagas no Ensino Superior pertence à rede privada de IES.

Em cada um dos Estados, dentre os que foram selecionados, chama a atenção

o quantitativo de oferta da modalidade de educação a distância, por instituições com

suas respectivas matrizes em outros Estados, sendo cadastradas para o ensino

naquele Estado, por isso destacamos na Tabela 3 a distribuição de oferta quanto a

modalidade de ensino.

Tabela 3 - Distribuição quanto à modalidade de ensino das IES cadastradas no MEC para oferta do curso de Licenciatura em Matemática em Municípios de cinco Estados brasileiros – 2015.

Estado Modalidade EAD Modalidade Presencial Total de Oferta

BAHIA 17 20 37

GOIÁS 14 12 26

PARÁ 13 07 20

RIO GRANDE DO SUL 13 27 40

SÃO PAULO 14 121 135

Total 71 187 258

Fonte: Autora.

A Tabela 3 indica que a formação inicial de professores de Matemática tem sido

predominantemente presencial, entre os cursos regulares, destacando-se o Estado

de São Paulo, que proporcionalmente, oferece maiores oportunidades de cursos

nessa modalidade. Mas, aqui, é importante ressaltar que a rede no sistema de ensino

a distância, tem sido uma oferta complementar, com um quantitativo de oferta

representativo, segundos os registros aqui levantados de 27,5%. Essa modalidade de

ensino contribui para a qualificação profissional, tanto em lugares distantes dos

grandes centros metropolitanos, como também, tem sido uma alternativa para

estudantes já inseridos no mercado de trabalho, que precisam de flexibilidade de

horários para os estudos.

Entre as 71 ofertas, cadastradas de Curso de Licenciatura em Matemática, na

modalidade a distância, constatamos que 86%, aproximadamente provêm de IES com

matrizes administrativas nos Estados das Regiões Sul e Sudeste. Observamos que

as ofertas de cursos a distância são feitas por 25 IES, que atendem em diversos

Estados brasileiros e em municípios, no interior do próprio Estado. Todos os cinco

Estados de referência têm oferta de Cursos EAD, mas, verificamos que a Bahia é o

que tem maior quantidade, contando com a presença de 17 IES de outros estados.

Evidenciando-se, diante desse quadro, que os programas de ensino propostos são

semelhantes entre os diversos Estados brasileiros que fazem parte da rede de ensino

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a distância.

Em síntese, os cursos que servem de referência para essa avaliação

caracterizam-se por ser na maioria presenciais e ofertados pela IES privadas.

5.3.1 Da inserção do componente curricular na Licenciatura em Matemática

O componente curricular da área de Psicologia está presente em todos os

Cursos de Licenciatura nos Estados selecionados. Embora receba uma denominação

diversificada, conforme apresentamos no Quadro 8. A terminologia “Psicologia da

Educação” tem sido utilizada de modo mais frequente, mas encontramos uma

diversidade de nomenclaturas. Entendemos que a própria terminologia expressa de

forma implícita às concepções psicológicas pensadas pelos educadores, que

elaboraram os projetos pedagógicos, ou seja, as áreas da Psicologia que são

valorizadas nesse processo de formação profissional.

Quadro 8 - Nomenclaturas dos componentes curriculares da área de Psicologia que aparecem nos Cursos de Licenciatura em Matemática.

Aprendizagem: Teorias e Práticas

Concepções de Aprendizagem e Temas Atuais da Adolescência e Juventude

Desenvolvimento Cognitivo (I e II) Desenvolvimento das relações educativas: formação bio-psico-social

Desenvolvimento Humano e Aprendizagem

Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem

Fundamentos Psicológicos da Educação

Processos de aprendizagem e Desenvolvimento Cognitivo Psicologia

Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento da Adolescência

Psicologia da Aprendizagem e Psicologia do Desenvolvimento Humano

Psicologia da Educação ( I e II)

Psicologia da Educação e da Aprendizagem

Psicologia da Educação: Desenvolvimento Humano e Aprendizagem

Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

Psicologia e Educação Psicologia, Educação e Temas Contemporâneos

Teorias da Aprendizagem

Trabalho de construção da aprendizagem

Fonte: Autora.

Dentre as 258 ofertas de cursos de Licenciatura em Matemática analisadas,

identificamos, apenas, quatro casos, que especificam de forma diferenciada a

Psicologia, para a formação do professor de Matemática, em seu fluxograma

enfocando a especificidade da formação profissional. Nesses casos aparecem as

seguintes denominações: Psicologia e Educação Matemática, na UEFS/BA; Ensino e

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Aprendizagem da Matemática, na UNIUBE/MG/EAD (que oferta cursos nos Estados

selecionados na amostra); e na UNISINOS/RS; e, Psicologia da Aprendizagem

Matemática na URI/RS. Observamos, portanto, nesses registros uma proposta

específica de conhecimentos de Psicologia, voltados ao ensino e à aprendizagem de

Matemática.

Os componentes curriculares da área de Psicologia na maioria dos cursos

estão vinculados ao núcleo chamado de formação pedagógica, ou formação

profissional docente.

Quanto à sua inserção, os componentes curriculares da área de Psicologia, na

maioria dos cursos, pertencem ao núcleo de formação pedagógica, ou seja, é tratado

como um dos componentes de formação específica dos saberes pedagógicos; porém,

não havendo uma articulação ou vinculação direta, com os demais componentes na

maioria dos fluxogramas. São ofertados, de modo anual, semestral, modular,

conforme a estrutura curricular; sendo trabalhados os conteúdos psicológicos em um

ou dois componentes.

Quanto à carga horária dos componentes de Psicologia nos cursos avaliados,

observamos que, no total, a carga horária aula varia entre 30 a 180 horas, sendo o

índice de maior frequência a oferta de componentes de 80 horas. A média entre os

registros de oferta é de 77 horas, sendo que em 33% dos Cursos a carga horária é

igual ou abaixo de 60 horas. Constamos, também, que na maioria dos cursos de

Licenciatura em Matemática os conteúdos da área de Psicologia são trabalhados em

apenas um componente curricular.

Quanto ao período em que são ofertados os componentes de Psicologia a

maior incidência é entre primeiro e o terceiro semestre; sendo a prevalência no

primeiro semestre ou primeiro ano de estudos.

Nos projetos pedagógicos, é enunciada a proposta idealizada de que as

disciplinas do eixo pedagógico, tais como, Educação, Psicologia e Filosofia sejam

articuladas aos saberes da Matemática, visando favorecer o desenvolvimento de uma

instrumentalização teórico-metodológica que auxilie ao futuro professor na elaboração

de suas estratégias de ensino e de aprendizagem em suas atividades pedagógicas,

porém, na maioria dos cursos não se evidencia como isso seja possível, uma vez que,

a proposta de disciplinas sequenciais se mantém fragmentada em suas

especificidades, sem ocorrerem estudos integrados na maioria dos casos.

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201

Observamos, também, que na maioria das ofertas de curso, o componente curricular

da área da Psicologia apresenta a possibilidade de ser cursado ao longo do curso em

qualquer semestre ou período anual, pois não é considerado pré-requisito para

nenhum dos demais componentes.

Pela inserção, nos primeiros semestres a posição que ocupa no fluxograma de

curso, sugere que Psicologia se mantém nos Projetos Pedagógicos dos Cursos de

Licenciatura em Matemática na condição de um componente curricular de

fundamentos teóricos para formação docente. Estas informações indicam que o

paradigma racional técnico continua como referência na estruturação dos cursos.

A Psicologia permanece nos Projetos Pedagógicos, mas, os registros nos

fluxogramas dos cursos mostram que a carga horária total dos componentes de

Psicologia foi reduzida, ao compararmos com a que ocupava nos fluxogramas dos

Projetos Pedagógicos de cursos nas últimas décadas, do século XX, no contexto

brasileiro; em que o mínimo proposto de carga horária era de 120 horas para esse

estudo, distribuída em dois componentes curriculares. Entendemos que essa

diminuição da carga horária está associada às críticas que a Psicologia tem sido

objeto, nas últimas décadas, principalmente em relação à efetividade do seu papel na

formação profissional docente, conforme vimos nos estudos de Goldberg (1978) e de

Larocca (1999; 2000; 2002a), a crítica tem gerado, em algumas instituições, propostas

e encaminhamentos concretos, tais como, a diminuição da carga horária dos

componentes curriculares de Psicologia nos currículos dos cursos.

Atualmente, a tendência à redução de carga horária de Psicologia se mantém,

apesar das propostas para a reformulação dos programas dos componentes

curriculares nas Licenciaturas, em adequação as propostas da LDBEN/1996,

expressarem a valorização dos conhecimentos psicológicos para formação docente.

Isso significa certa ambivalência, daqueles que decidem as propostas curriculares, em

relação à oferta do (s) componente (s) de Psicologia. O componente continua

presente, porque as próprias Diretrizes do curso de Licenciatura em Matemática

indicam os aspectos da Psicologia como relevantes para a formação docente, mas,

ao mesmo tempo é feito o corte da quantidade de horas de estudo.

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5.3.2 Das características das proposições do ensino de Psicologia a partir das

ementas apresentadas nos cursos de Licenciatura em Matemática.

Com base nas informações disponibilizadas, nos sítios institucionais ao público

interessado, apresentamos aqui uma visão do que tem sido proposto no ensino de

Psicologia, no contexto dos cursos de Licenciatura em Matemática, nas ementas e

nos projetos pedagógicos. Fazemos a ressalva aqui de que a maioria das IES não

disponibiliza o seu projeto pedagógico e nem explicita suas ementas em seus sítios

institucionais. No entanto, as instituições públicas são as que mais favorecem essas

informações ao público, possibilitando-lhes acesso ao que tem sido proposto para o

ensino de Psicologia para futuros professores de Matemática.

Examinamos as ementas disponíveis, porque entendemos que se constituem

em eixos norteadores de estudos, e traçam uma visão geral e abrangente do conteúdo

proposto para ensino, ao apresentarem uma descrição discursiva que resume o

conteúdo conceitual ou conceitual/procedimental de um componente curricular.

Descrevemos, a seguir, em linhas gerais as características das proposições de ensino

observadas nas ementas de Psicologia a que tivemos acesso, nos sítios investigados.

Com relação às proposições do ensino de Psicologia, para as Licenciaturas em

Matemática identificamos as seguintes características apresentadas no quadro 9.

Quadro 9 - Características das proposições do ensino de Psicologia a partir das ementas.

As ementas na maioria dos Cursos são apresentadas de forma genérica, numa proposta comum para formação de professor, de qualquer área de conhecimento específico.

As descrições apontam para articulação entre a Psicologia e a Educação, como também a importância de que esse estudo seja contextualizado a situação escolar.

Aparece uma tendência em apresentar os conteúdos de Psicologia, em apenas um componente curricular, principalmente nos cursos que foram reformulados ou implantados mais recentemente.

Observa-se que nos Cursos em que é contemplado o estudo de Psicologia, a partir de um componente curricular, há uma superposição das temáticas de desenvolvimento e de aprendizagem, não sendo apresentado como processos em interação. Como também, a maioria apresenta como abordagens distintas o desenvolvimento e a aprendizagem, nos Cursos em que oferecem dois componentes curriculares de Psicologia.

As ementas de Psicologia Cursos valorizam de forma explícita e implícita a concepção de construtivista para processo educacional, porém, apenas algumas ementas evidenciam a compreensão de desenvolvimento e aprendizagem numa relação de interação.

A ênfase sobre o processo de desenvolvimento cognitivo se sobressai nas proposições das ementas.

O conteúdo conceitual da maioria das ementas explicita a ênfase nos processos de ensino e aprendizagem em inter-relação.

Ao enunciar sobre desenvolvimento humano em vários casos aparece a ênfase para estudo da adolescência.

A maioria das ementas revela que a finalidade do componente Psicologia é a formação do professor.

Fonte: Autora

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203

As características observadas indicam uma tendência para um ensino de

Psicologia apresentar-se de forma generalizada para formação de professores, sem

apresentar nas ementas um direcionamento específico de conhecimentos

psicológicos voltados para a formação de professores de Matemática.

Destacamos que dentre todas as ementas analisadas, nos componentes

curriculares obrigatórios, aparece uma exceção, em que são explicitados os estudos

direcionados a compreensão do desenvolvimento dos processos cognitivos e dos

processos de ensino e aprendizagem da Matemática. A ementa do componente de

Psicologia da Educação, no caso explicita – “Este componente curricular apresenta

as principais contribuições da Psicologia para o campo educativo, dando ênfase nas

contribuições para a compreensão dos processos cognitivos referentes ao ensino e a

aprendizagem de Matemática” (IFSP, 2011, p. 152).

Como também, tem sido exceção os casos em que é feita a oferta opcional de

um segundo componente curricular da área de Psicologia, focado em conteúdos de

Psicologia da Educação Matemática, com o direcionamento para estudos no sentido

de uma contribuição específica para a formação de professores de Matemática, como

é o exemplo da ementa da URI, Erechim, RS.

A natureza do conhecimento lógico matemático: diferentes concepções psicológicas. Psicogênese das noções lógicas, espaciais e algébricas. Relações psicogenéticas e sociogênicas do número e das notações numéricas. Tópicos relacionados ao processo educativo (URI, 2012, p. 192).

Com base na análise da organização dos fluxogramas, observamos que no

conjunto das ementas, em relação às concepções implícitas dos conteúdos propostos,

pela sequência e organização dos conhecimentos de Psicologia, evidenciam-se três

tipos de concepções sobre desenvolvimento e aprendizagem: a empirista, em que a

escolha do primeiro componente de Psicologia, é voltada para os estudos de

aprendizagem; a racionalista, apresentando o desenvolvimento como conhecimento

prévio para a compreensão da aprendizagem; e a concepção interacionista em que

desenvolvimento e aprendizagem são vistos como processos em interação.

Verificamos que as ementas apresentam, como eixo temático dos conteúdos,

o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem, na perspectiva das ideias de Piaget e

de Vygotsky, confirmando as características relativas à seleção de referenciais

teóricos semelhantes aos que foram descritos nos trabalhos de Montenegro (1987) e

de Almeida (2005). Mas, embora, se manifeste no discurso o referencial construtivista,

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a prática da organização do ensino se mantém, em posições empiristas ou posições

racionalistas. Na distribuição dos conteúdos referentes a aprendizagem e ensino

evidencia-se a visão de processos interagentes, mas em relação os conteúdos no que

tratam de desenvolvimento e de aprendizagem não é percebido como processos em

interação, de modo coerente a concepção que enunciam ter elegido.

Observamos que nos cursos ofertados, em parte, permanece o paradigma da

formação de racionalidade técnica de professores, enfatizando a perspectiva da

Psicologia como fundamentos. Mas, já aparece uma transição para uma concepção

de formação da racionalidade prática, principalmente nos componentes em que revela

uma proposição de conceptualização construtivista e sócio cultural.

Mas, diante das estruturas curriculares propostas, lembramos que, no contexto

específico das ementas de Psicologia, o professor formador, ao desenvolver a

mediação, no processo de construção de saberes psicológicos, na formação de

professores de Matemática, orienta o ensino no sentido das concepções de

desenvolvimento e de aprendizagem que defende, uma vez que as ementas

representam o referencial dos conhecimentos esperados, permitem certa flexibilidade

no direcionamento e condução no processo pedagógico.

Assim, ao examinarmos as ementas, avaliamos que, de modo geral elas

contemplam os objetivos da Psicologia na formação de professores de Matemática,

na dimensão sociocultural, com relação as contribuições genéricas e básicas dos

conhecimentos psicológicos; porém falta ser contemplado um enfoque específico.

Como também, faltam indicativos explícitos no aspecto do desenvolvimento pessoal,

embora, seja possível que estejam presentes no contexto das relações entre professor

e aprendiz e não apareça nas ementas dos documentos examinados.

5.3.3 Contribuições do conhecimento psicológico na formação profissional do

professor de Matemática a partir da análise de Projetos Pedagógicos

Dentre os 258 Cursos de Licenciatura em Matemática, selecionados nessa

investigação, localizamos 27 Projetos Pedagógicos disponíveis ao público interessado

em seus respectivos sítios institucionais.

Ao examinarmos cada um desses projetos, observamos que, na maioria deles

as contribuições dos conhecimentos psicológicos apresentam-se na delimitação,

apenas das respectivas ementas dos componentes curriculares da área de Psicologia

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205

e, como já mencionamos, numa visão para a formação de professores em geral.

Dentre os Projetos Pedagógicos examinados destacamos dois Projetos,

respectivamente pertencentes ao IFSP e a UNESP; em que observamos aspectos

indicativos do reconhecimento das contribuições do conhecimento psicológico no

conjunto de componentes curriculares de caráter pedagógico, relacionados à

formação de competências profissionais para a docência em Matemática.

A percepção da Psicologia como um dos componentes que contribuem para a

formação do professor de Matemática foi observada nas descrições apresentadas nos

textos desses Projetos Pedagógicos, ao justificarem a presença desse componente

no currículo, como conhecimentos necessários para o desenvolvimento profissional.

A contribuição da Psicologia aparece, também, no contexto do ideário do perfil

profissional, defendido pelo Curso, como um dos elementos para a formação docente,

conforme verificamos, nas seguintes argumentações extraídas de projetos

pedagógicos, de três IES:

Os fundamentos das teorias pedagógicas, da filosofia da educação, da psicologia e das práticas de ensino se justificam no mesmo contexto que o Cálculo ou a Álgebra, pois ao professor reflexivo que se quer formar não interessa fragmentar o conhecimento científico. Almejamos assim o profissional completo, consciente de suas ferramentas e dos conteúdos próprios de sua área de trabalho (IFSP, 2011, p. 22).

[...] As disciplinas: Didática, Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio, Psicologia da Educação e da Adolescência, e as de Metodologias e Práticas de Ensino, com suas inter-relações, têm o objetivo de destacar e promover uma visão abrangente do papel social do educador, assim como a reflexão sobre sua prática e sobre a necessidade do aprendizado e do aperfeiçoamento contínuo do futuro professor. (UFSCAR, 2010, p. 63).

O que se pretende é formar um profissional competente, criativo, crítico, que domine os aspectos filosóficos, históricos, culturais, políticos, sociais, psicológicos e metodológicos que se relacionam com o trabalho do professor, com a gestão da escola, com a educação de jovens cidadãos brasileiros e com a construção de uma sociedade democrática e includente, buscando respostas aos desafios e problemas existentes nas escolas brasileiras (UNESP, 2007, p. 10).

Ressaltamos, ainda, que localizamos um caso em que se registra uma breve

descrição, indicando como é concebido o sentido da Psicologia no Curso, afirmando

que:

A Psicologia da Educação, por sua vez, tem como primeiro objetivo fornecer instrumentos aos licenciandos para refletir sobre os processos cognitivos, afetivos e emocionais em termos do conhecimento psicológico e do pedagógico. A análise dos processos de aquisição do conhecimento matemático é também aqui privilegiada assim como os temas fundamentais

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da Psicologia da Educação em função do cotidiano escolar e da formação do

professor (UFSCAR, 2010, p. 55).

Nesse Projeto Pedagógico, evidencia-se a importância de uma visão integrada

da Psicologia, aos demais componentes curriculares, para a formação didática do

professor e a sua qualificação profissional, indicando que a aquisição do

conhecimento deve estar em relacionado a instituição escola, como espaço de

atividade docente. Nesse sentido, é enfatizada a análise dos processos de aquisição

do conhecimento matemático de modo privilegiado entre os temas fundamentais da

Psicologia da Educação (UFSCAR, 2010).

Encontramos evidências de valorização das contribuições do conhecimento

psicológico para formação de professores Matemática, nas declarações referentes as

características esperadas para atuação profissional, abaixo citadas:

Domínio da forma lógica, característica do pensamento matemático e conhecimento dos pressupostos da Psicologia de modo a compreender as potencialidades de raciocínio em cada faixa etária em relação ao processo de desenvolvimento e aprendizagem do educando (UNIPAMPA, 2014, p. 19).

Analisar aspectos psicológicos e sociológicos relativos ao aprendizado de crianças, adolescentes, jovens e adultos, a fim de capacitar-se a formular situações adequadas de ensino e aprendizagem e identificar momentos de intervenção (UFSCAR, 2010, p. 64).

Reflexão contínua da própria prática docente, estabelecendo aspectos que devem ser priorizados nas dimensões cognitivas epistemológicas/ metodológica, política e humana, na busca da qualidade do processo educacional (UNIPAMPA, 2014, p. 19).

Dentre os Projetos Pedagógicos examinados, temos alguns exemplos em que

aparecem avanços no sentido de práticas pedagógicas articuladas às várias visões

teórico-metodológicas para a Educação, desenvolvidas pelos componentes

curriculares de caráter pedagógico, dentre eles a Psicologia da Educação. A partir da

concepção de que essas visões se concretizem em aulas teórico-práticas, realizadas

na Universidade e nos Projetos Integrados às Escolas, é proposto que os

componentes de Psicologia contribuam para a análise das práticas pedagógicas

referentes: às relações na escola, entre seus membros (aluno-aluno, professor-aluno,

professor-professor); à motivação; e à ética.

A partir da análise dos Projetos Pedagógicos, confirmamos que é preciso

buscar a melhoria do ensino de Psicologia para a superação da contradição entre as

potencialidades das contribuições da Psicologia, com estudos específicos para

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formação do professor de Matemática, e a oferta de conteúdos psicológicos

generalizantes, que cabem em qualquer curso de formação de professores.

Evidenciam-se nesse breve levantamento que são necessárias mudanças

curriculares e metodológicas, nas propostas dos Cursos de Licenciatura de

Matemática, para que os objetivos da formação inicial desse profissional se efetivem,

visando a preparação de professores reflexivo-investigadores na prática.

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CAPÍTULO 6

UMA VISÃO PROSPECTIVA DAS CONTRIBUIÇÕES DA

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, PARA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA:

POSSIBILIDADES E DESAFIOS

Nenhum saber é por si mesmo formador. Os mestres não possuem mais saberes - mestres (filosofia, ciência positiva, doutrina

religiosa, sistema de normas e de princípios etc) cuja posse venha garantir sua mestria; saber alguma coisa não é mais suficiente, é

preciso também saber ensinar. O saber transmitido não possui, em si mesmo, nenhum valor formador. Maurice Tardif (2014, p. 43-44).

As investigações e discussões sobre profissionalização docente, desde a

década de 80, nos conduzem à necessidade de repensar a formação de professores

na busca da superação de um modelo técnico; encaminhando à proposta para a

formação, segundo um modelo reflexivo, como uma das questões centrais na

problemática desse processo de formação profissional (SCHÖN, 1995; PÉREZ

GÓMEZ, 2007; GERALDI; FIORENTINI; PEREIRA, 2011). Nessa direção, foram

apresentados os resultados das pesquisas que localizamos que tratam de estudos

das relações entre Psicologia e formação de professores de Matemática.

Nos capítulos anteriores, descrevemos e discutimos as contribuições da

Psicologia para a formação do professor de Matemática, no contexto das relações

estabelecidas entre Psicologia e Educação Matemática no passado e no presente.

Nessa última parte de nosso trabalho, nos propomos a refletir sobre as contribuições

da Psicologia da Educação Matemática, numa visão prospectiva em relação ao

processo de profissionalização inicial, no âmbito da Licenciatura em Matemática.

Iniciaremos apresentando uma avaliação da situação atual, em que se

evidenciaram prementes necessidades de mudanças no ensino da Psicologia, no

enfoque da especificidade de formação de professores de Matemática, a partir do

ideário de profissional pesquisador prático reflexivo. Para, a seguir, descrever sobre o

conhecimento de Psicologia da Educação Matemática, analisar suas potencialidades

e possibilidades de contribuições, na inserção desse conhecimento na formação inicial

de docentes que ensinam Matemática.

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PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE

PROFESSORES DE MATEMÁTICA, UMA VISÃO CRÍTICA

A Psicologia e a Educação Matemática, no contexto da Licenciatura em

Matemática, interseccionam-se na função de formação de professor de Matemática e

no propósito de promover o desenvolvimento de habilidades e competências para

ensinar. Portanto, ao refletir sobre a situação da Psicologia na formação desse

professional, entendemos que o sentido de sua inserção, nessa Licenciatura, é a

Educação Matemática.

Ao analisar a formação de professores de Matemática segundo um modelo

reflexivo, Pavão (2006) propôs que a Licenciatura em Matemática seja repensada e,

estruturada em três eixos: “formação específica em conhecimentos de Matemática,

formação pedagógica e formação em Educação Matemática” (PAVÃO, 2006, p. 166).

Esse autor indica como resultado de sua investigação, os seguintes aspectos

fundamentais para o curso de formação de professores de Matemática:

[...] a definição do papel das Licenciaturas na formação profissional; o curso como um momento propício para o repensar de concepções dos futuros professores; a composição das disciplinas do curso de modo que a relação teoria-prática se configure como eixo central nos programas; a formação do professor em Educação Matemática; a universidade entendida como espaço de produção de saberes e de experiências significativas de aprendizagem (PAVÃO, 2006, p. 1661).

Nesse contexto de mudanças, para um modelo reflexivo de formação de

professores, a Psicologia precisa redefinir o seu papel em sua inserção nessa

Licenciatura, e repensar, também, a sua atuação numa relação teoria e prática.

Goldberg (1978) constatou a situação crítica da Psicologia, em que se

comprovou que as suas contribuições, em relação à Educação, eram teoricamente

eficazes, mas praticamente ineficientes, porque tolerava o pecado da inconsistência,

tanto no plano teórico como no plano empírico, e cometia o pecado da inocência, em

seus ensinamentos, em classe.

Na perspectiva da melhoria do ensino, entendemos que a Psicologia, como um

dos componentes da Licenciatura em Matemática, necessita ser ministrada de forma

interligada aos demais componentes e estar integrada ao eixo de formação

pedagógica. Não perdendo de vista, que: “[...] Cada uma das áreas de formação deve

sustentar e subsidiar a outra, num movimento em que a teoria sirva de elemento

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orientador e impulsionador da prática e a prática como elemento de investigação da

teoria (PAVÃO, 2006, p. 166)”.

Concordamos com Pavão (2006), ao defender que, o processo de formação

inicial desse profissional é um momento oportuno para que esse aprendiz tenha

acesso ao estudo de Educação Matemática; porque desempenha a dimensão chave,

na articulação entre os conhecimentos específicos de Matemática, e os

conhecimentos da formação pedagógica; inclusive no nosso enfoque da Psicologia.

Pois, como faz referência Bertoni (1998), na educação formal, a formação do

educador matemático dá-se em nível de cursos de mestrado e doutorado; mas, os

professores formadores na Licenciatura em Matemática e os futuros professores de

Matemática necessitam do conhecimento da Educação Matemática para a sua

atuação profissional, o que implica na importância de que esse conhecimento seja

desenvolvido na formação inicial do ofício de professor de Matemática.

Como professores formadores, se defendermos, como Fiorentini (1998), que a

prática pedagógica concebida, a partir do trabalho investigativo-reflexivo do professor,

sobre o seu próprio trabalho, é a melhor maneira de promover a formação e o

desenvolvimento profissional deles, nos confrontamos com o desafio da mudança em

nossa prática. O que representa a necessidade de uma mobilização para transpor a

prática de formação do professor como mero transmissor de conhecimento, para a

prática de formação do professor que constrói/reconstrói o conhecimento, num

processo de investigativo de ação-reflexão na prática; não apenas no discurso, mas

na experiência vivenciada na sala de aula.

Nesse modelo de formação de professores, entendemos a proposta dos três

eixos em inter-relação, para formação inicial (PAVÃO, 2006), e percebemos as

necessidades de mudanças na estruturação e organização dos cursos.

No foco de nosso objeto de estudo, a formação de professores de Matemática,

na perspectiva das relações entre a Psicologia e a Educação Matemática,

constatamos que os registros das pesquisas revelam uma situação desafiante nessas

relações. Com base na avaliação da inserção da Psicologia, nas Licenciaturas em

Matemática nos cursos nos quais foram realizadas as pesquisas (capítulo 5), temos a

discussão referente aos aspectos indicativos da necessidade de melhoria na

efetividade das contribuições da Psicologia, no processo de formação docente.

Por um lado, observamos certa garantia da presença do componente curricular,

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Psicologia, nos Cursos de Licenciatura em Matemática, como possibilidade de

contribuição na formação docente, mas, por outro lado evidenciam-se os temores

reais ou imaginários de psicologização nesse processo; e os obstáculos nas relações

entre a disciplina Psicologia e os componentes curriculares específicos e pedagógicos

do Curso; como também, na própria estrutura curricular em que insere-se a Psicologia,

ocupando o lugar de fundamentos educacionais.

Primeiro ponto a ser tratado aqui, é a superação dos “ismos” e o desafio de

ressignificar as contribuições da Psicologia, no contexto da formação de professores

de Matemática (GOLDBERG, 1978).

Os receios e críticas em relação ao psicologismo, inclusive com um significado

pejorativo, aparece em diversas perspectivas.

Na filosofia o psicologismo se define como:

[...] concepção que atribui à Psicologia um lugar central, colocando-a como base de todas as ciências, já que estas se constituem através de processos cognitivos que são em última análise explicáveis pela Psicologia. O psicologismo é um reducionismo na medida em que busca explicar todos os elementos da experiência humana a partir da dimensão psicológica dessa experiência. Assim, a própria Lógica, ou a Metafísica ou a experiência estética, poderiam ser reduzidas a formas do pensamento humano, a modos de operar da mente, (JAPIASSÚ, 2001, p. 159).

Nessa abordagem, por exemplo, temos em relação ao contexto da discussão

sobre a existência da Matemática, a crítica à concepção filosófica construtivista. Os

construtivistas compreendem que “os objetos aos quais os enunciados matemáticos

se referem só existem quando apropriadamente criados, eles passam a existir na

atividade matemática” (SILVA, 2007, p. 20). Descrevem que os objetos matemáticos

habitam, no interior da consciência, na estrutura formal do psiquismo do sujeito, ao

conceberem a Matemática como uma atividade mental. Os críticos chamam de

“psicologismo”, pelo caráter de subjetivismo que implica; embora essa vertente

filosófica compreenda que subjetividade e objetividade estão sempre presentes, na

atividade matemática (SILVA, 2007). Entendemos que é uma expressão pejorativa,

para contestar essa própria concepção.

Outra perspectiva para o termo psicologismo, situa-se no contexto educacional,

para expressar, por meio de uma imagem de extremismo, a crítica à pretensão de

pesquisadores em Psicologia, do início do século XX, em transferir para a sala de aula

princípios gerais de aprendizagem, construídos em situações de laboratórios, muitas

vezes, desvinculados de qualquer conteúdo matemático. Na ânsia pelo status no

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meio da comunidade científica, isolaram a pesquisa da prática e dos que a praticam,

e apresentaram os resultados das suas investigações de forma prescritiva, como

elemento único para a preparação dos professores, a fim de garantir uma

aprendizagem eficaz (BZUNECK, 1999; GARCIA; SÁENZ, 2006).

O Psicologismo refere-se, frequentemente, à tendência para tentar fazer com

que prevaleça o ponto de vista da Psicologia sobre o de outra ciência qualquer, numa

questão comum ou com o uso abusivo de conceitos psicológicos científicos

explicativos. O termo tem sido usado, ainda, como expressão do uso de um conceito

psicológico, num contexto não técnico ou de senso comum.

Referente às relações entre Psicologia e Educação, Urt (1989, p. 13) assinala,

ainda, que a Psicologia tem sido alvo de uma série de críticas, relativas a

psicologismo, pela sua forma de utilização dos conteúdos psicológicos na Educação,

“[...] críticas estas que denunciam seu caráter ideológico e psicologizante, a distância

entre seu conteúdo e a prática escolar, e a descontextualização e, abstração do

homem nas suas relações sociais”.

Assim, em decorrências das críticas, no meio acadêmico, instaurou-se uma

situação de crise, que gerou um contexto impregnado de preconceitos e estereótipos

acerca das contribuições da Psicologia, e de desprestígio, a ponto de ser indagado –

Para que Psicologia? Uma posição extrema de questionamento a respeito do sentido

da dimensão psicológica, que é colocada para reflexão no processo de formação

docente (TEIXEIRA, 2000; LAROCCA, 1999; ALMEIDA, 1999; CASTELLO BRANCO,

1988; FINI, 1987).

As implicações dessa situação de crise fazem-se sentir, ainda em nossos dias,

pela contradição no tratamento do componente curricular nos cursos de Licenciatura.

Tem-se o registro das pesquisas, na área de Educação, e amplas discussões

que apontam que a superação do psicologismo não reside na negação da Psicologia,

mas, em mudanças e transformações que explorem novas formas de ensinar e de

contribuir na formação de professores (FINI, 1987). O direcionamento e o significado

dos conhecimentos psicológicos precisam ser redefinidos no contexto da prática

educativa.

Consideramos que os componentes curriculares de Psicologia precisam ser

inseridos nos cursos de Licenciatura em Matemática, como um dos componentes que

integram o propósito de formação de professores, voltados para a Educação

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Matemática. Sendo sua presença obrigatória, para além, da normatização, e estar

inserida, simplesmente, pelas suas possibilidades de contribuições reconhecidas no

processo de formação do professor de Matemática.

Segundo ponto, a concepção de que se faz necessário que a Educação

Matemática seja o ponto de partida e o ponto de chegada da Psicologia, no contexto

da Licenciatura em Matemática. A Psicologia deve estar inserida no curso de

formação de professores, buscando trabalhar de forma interdisciplinar com os

componentes curriculares de formação pedagógica e com os componentes de

conhecimento de Matemática e, sobretudo, com os conhecimentos de Educação

Matemática.

A produção do conhecimento de Psicologia tem avançado, os resultados dos

trabalhos apresentados oferecem conhecimentos significativos, mas, o ensino de

Psicologia na formação de professores, com frequência, tem sido considerado

inoperante em relação à expectativa de suas possibilidades de contribuição (MORO,

2005). O desafio é avançar, na direção de uma transposição dos conhecimentos

psicológicos produzidos nas pesquisas, e já consolidados, para que estejam

presentes no processo de formação de professores, e cheguem às salas de aula de

Matemática.

Moro (2005) reafirma que na área de Psicologia da Educação as pesquisas

brasileiras apresentaram, nas décadas anteriores, as discussões e as propostas para

a melhoria do ensino de Psicologia, e assinala que, em geral, persiste a distância entre

a produção científica na área, e a divulgação/utilização desta produção. Avalia que os

professores que ensinam Psicologia não têm trabalhado com o conhecimento

disponível da área ou desenvolvem um ensino de forma ineficiente, apresentando, de

modo formal, os conteúdos psicológicos reduzidos e fragmentados. Também, Urt

(1989) e Almeida (2005) avaliam em suas pesquisas que a questão está no ‘como

ensinar’, mais do que no ‘o que ensinar’ em Psicologia; o que implica na necessidade

da melhoria do ensino nos cursos de Licenciatura em Matemática, pois a contribuição

da Psicologia não depende apenas do referencial teórico adotado, mas

essencialmente da ‘maneira’ como são trabalhados os conteúdos.

Na busca de saída do impasse, de uma disciplina ineficiente e inoperante,

encontramos nos estudos realizados sobre o ensino de Psicologia na formação de

professores (GOULART, 1985; FINI, 1987; MONTENEGRO, 1987; MONTENEGRO,

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1993; CAPARROZ, 1992; IÓRIS, 1993; ALMEIDA, 1999; ALMEIDA, 2005; GUERRA,

2003; LAROCCA, 2002a; DIAS, 2006), uma visão crítica e algumas proposições para

o enfrentamento aos desafios, referentes ao modo como fazer acontecer o

conhecimento psicológico no ensino e aprendizagem de Matemática.

Nessa direção, esses pesquisadores observaram a tendência de ensino dos

componentes curriculares de Psicologia, numa abordagem teórico-metodológica,

pautada na racionalidade técnica, e que a manutenção desse modelo tem

comprometido a aquisição do conhecimento psicológico e do conhecimento específico

de Matemática. A prática de ensino, segundo a lógica da racionalidade técnica, está

baseada na concepção do professor, como técnico, que aplica com rigor as regras

derivadas dos princípios científicos psicológicos. Por isso, nessa tradição de formação

de professores verificamos, no âmbito educacional, um afastamento entre o

conhecimento científico e o mundo da prática, um distanciamento entre a teoria e a

prática.

Isso se evidencia, de forma explícita, na própria estrutura dos Cursos de

Licenciatura em Matemática, (como vimos na avaliação da inserção dos componentes

de Psicologia no capítulo anterior); os componentes curriculares da área de Psicologia

por serem considerados como conhecimentos teóricos, são ofertados nos primeiros

semestres, ficando a prática para o final do curso, nos estágios. Período em que se

supõe que o futuro professor já tenha adquirido todos os conhecimentos necessários

para aplicar em sala de aula, e que utilizará os conhecimentos psicológicos adquiridos,

como ferramentas para a sua atuação docente; isso é, fazer a aplicação em outro

momento e espaço.

A partir dos questionamentos levantados, nessas investigações, são

apresentadas algumas indicações relativas a melhoria do ensino, para que as

contribuições da Psicologia se concretizem e o conhecimento psicológico seja

significativo na formação dos futuros professores de Matemática. Nessa direção,

levantamos as seguintes orientações, para o processo de formação de professores

de Matemática:

A Psicologia da Educação precisa proceder à revisão da escolha de seus conteúdos

e métodos, para que possa contribuir efetivamente para a construção dos

conhecimentos pedagógicos;

Faz-se necessária uma aproximação da realidade e a superação da dicotomia, entre

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teoria e prática, e das desarticulações entre as teorias psicológicas, o cotidiano escolar

e o trabalho docente, para que não continue a apresentar as teorias e transferir para

o aluno a responsabilidade de articulação com sua prática profissional;

O conhecimento de Psicologia precisa chegar de modo contextualizado à realidade

escolar, sendo realizada uma mediação entre o discurso acadêmico e a prática

profissional dos professores;

Face ao conhecimento psicológico, ser de natureza multifacetada e plural, é

importante que seja promovido o desenvolvimento de uma consciência crítica e

explícita das diferenças e semelhanças, entre as diversas abordagens da Psicologia

pelo aprendiz, uma vez que a pluralidade é inerente à ciência psicológica, pois, na

verdade, não se tem Psicologia, mas, Psicologias, cada sistema teórico constitui o seu

objeto de maneira diferente.

Os resultados, dos estudos realizados no enfoque das contribuições da Psicologia

para a formação docente, evidenciam que as aprendizagens dos conhecimentos

psicológicos dos estudantes, de cursos de Licenciatura de Matemática, ocorrem sobre

uma base de saberes anteriormente adquiridos; quer seja por meio das vivências do

seu cotidiano, ao longo de toda a trajetória de vida; quer seja no processo

sistematizado de educação; por isso, os conhecimentos prévios precisam ser

considerados, para que se desenvolva uma aprendizagem significativa;

Ao considerarmos que os licenciandos de Matemática trabalharão na Educação

Básica com adolescentes, entendemos que a disciplina de Psicologia só tem sentido,

quando no processo de mediação da aprendizagem, pelo professor formador, se

enseje a reflexão à prática da sala de aula e à escola, nas situações vividas pelos

alunos e professores, no seu cotidiano, nas suas perplexidades e nos problemas

verdadeiros;

Na formação inicial de profissionalização docente, evidenciamos que os

conhecimentos teóricos sistematizados necessitam estar associados à experiência da

prática, para favorecer ao desenvolvimento de saberes, para atuação docente;

As teorias explicativas de aprendizagem precisam ser compreendidas, de forma

contextualizada à realidade brasileira, numa relação teoria e prática.

Sobretudo, esses estudos indicam que se faça um resgate da práxis, no próprio

processo de ensino de Psicologia, que se realize um trabalho ‘vivo’, no

desenvolvimento do saber psicológico (MORO, 2005). Como afirma Almeida (1999),

os conhecimentos psicológicos, como qualquer outro conhecimento, devem ser

apresentados aos futuros professores num processo dialético de movimento e busca

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que, implica em um esforço do permanente confronto entre a teoria e a prática real.

Terceiro ponto, esses estudos realizados pelos pesquisadores, na área de

Educação, recomendam que o ensino de Psicologia seja desenvolvido numa

concepção de formação de professor como profissional pesquisador-reflexivo.

Indicam a necessidade da superação do modelo racional técnico, que coloca a

Psicologia como fundamentos e distanciada da prática educacional, e que

avancemos, de modo coerente, ao preconizado pelas políticas educacionais e

reformas nacionais para o ensino.

Tradicionalmente, a formação de professores desenvolveu-se no contexto da

lógica da racionalidade técnica, concebendo o professor como técnico que precisa ser

instrumentalizado para a sua prática docente. Nesse contexto os conhecimentos

psicológicos são considerados teóricos e seguem a tendência de serem

apresentados, numa perspectiva linear, em que concebe que os princípios, conceitos

e teorias, sejam aprendidos, num primeiro momento e aplicados em outro momento,

caracterizando-se pelo distanciamento entre a teoria e a prática (PAVÃO, 2006;

ALMEIDA; AZZI, 2007).

O ideário da proposição de formação inicial do professor, como profissional

prático reflexivo, mostra-se como um referencial para desempenho de uma das

funções principais da Educação Matemática – formação docente. Portanto, com

explica, Pavão (2006, p. 163) entende-se que:

“[...] o estabelecimento de uma proposta de formação do professor reflexivo supõe uma formação centrada na prática, sendo esta entendida como um processo de investigação e articulação permanente na relação com a teoria e ocupando o eixo central”.

Nessa proposta, são necessárias mudanças no processo de ensino de todos

os componentes que compõem o curso de formação. O movimento de transpor a

tradicional formação do professor transmissor de conhecimento para a formação do

professor que é construtor do conhecimento precisa ser compreendido a partir da

tríade: o professor-formador; a formação psicológica para o ensino reflexivo; e o futuro

professor de Matemática (ALMEIDA, 1999; PAVÃO, 2006).

Nesse contexto, partindo do pressuposto de que todo o professor tem uma

postura teórica que compreende um conjunto de conhecimentos e de crenças, uma

concepção de homem e de mundo, que se evidencia em suas ações pedagógicas,

que são transmitidas aos seus alunos pelo conteúdo selecionado e a bibliografia

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indicada, entendemos que as teorias implícitas do professor formador influenciam na

sua prática educativa, seja essa postura consciente ou não, (MONTENEGRO, 1987).

Como também, que o posicionamento docente, influencia a aprendizagem pela

modelação, por observação direta ou vicária.

Como explicou Piaget (1988), as reformas dependem da disponibilidade de

professores, envolvidos na implantação de mudanças educacionais. Assim, a

proposição de um novo paradigma implica em mudanças, na postura teórica dos

professores formadores de modo coerente a esse modelo, em mudanças no ensino.

Todos os componentes do processo de Licenciatura precisariam ser desenvolvidos

nessa concepção. Nesse bojo, estaria o ensino de Psicologia integrando-se às

reformas, como uma das fontes do conhecimento a contribuir, nesse processo.

Nesse sentido, Almeida e Azzi (2007), argumentam que os conhecimentos

provenientes da Psicologia, ao serem articulados ao contexto das situações

educativas, presentes na prática, serão potencialmente significativos, numa

compreensão teórico-prática. Para tal, o ensino de Psicologia na formação docente

promoverá vivências, que permitam aos futuros professores, perceberem, em

situações do cotidiano escolar, as possiblidades de mobilização dos conhecimentos

acadêmicos, permeados por uma reflexão crítica, que promovam a articulação

dialógica entre conhecimento teórico e saber prático, a partir do contexto da própria

experiência.

Compreendemos no desenvolvimento deste estudo, que o grande desafio é

fazer com que a aprendizagem dos conteúdos de Psicologia tenham sentido para os

licenciandos em Matemática; e que a Psicologia da Educação Matemática, por sua

constituição, como campo de estudos interdisciplinares, e sua relação histórica e

dialógica com a Educação Matemática, torne-se uma via de mediação importante

entre os conhecimentos sobre o desenvolvimento e a aprendizagem de Matemática,

os conhecimentos da didática da Matemática, e a compreensão da construção do

conhecimento específico de Matemática.

Assim, na tríade desse processo educativo no contexto da Licenciatura temos

que: o professor formador, na área de Psicologia da Educação Matemática, deverá

saber o que ensina, para que ensina, porque ensina, para quem ensina e como

ensinar; o futuro professor precisa saber o que está estudando, para que e porque

está estudando, como aquele conhecimento foi desenvolvido, para que serve, como

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pode ser utilizado, em que contexto contribuirá para a docência; e o conhecimento de

Psicologia da Educação Matemática, pelas suas características, irá favorecer a

construção de saberes para o ensino de Matemática.

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONTEXTO, CONCEITOS E

FUNDAMENTOS

Aqui estabelecemos como linha de reflexão, contextualizar, conceituar e

identificar as bases do conhecimento de Psicologia da Educação Matemática, como

campo conhecimento interdisciplinar, com possibilidades de contribuição na formação

de professores de Matemática.

6.2.1 Contextualização

Como mostram as evidências e fatos relatados nos capítulos anteriores, desde

a passagem do século XIX, para o século XX, ocorreu uma contínua aproximação

entre a Psicologia e a Educação Matemática, um relacionamento que favoreceu ao

desenvolvimento na institucionalização, como conhecimento científico de ambas as

áreas. Embora, inicialmente, fosse uma relação em função de questões mais pontuais

e de forma desarticulada, foi se estabelecendo uma relação mais dialógica a partir da

segunda metade do século XX (CAVALCANTI, 2011).

No contexto das relações entre Psicologia e Educação Matemática,

desenvolveu-se como campo de pesquisa a Psicologia da Educação Matemática, que,

no Brasil, surge no final dos anos 70, do século XX, nos meios acadêmicos, como

enfoque de pesquisa. O processo de desenvolvimento dessa área está associado à

influência das pesquisas, em nível internacional; a formação de grupos de pesquisa;

a pesquisas realizadas, no âmbito dos Cursos de Pós-Graduação nos Programas de

Educação Matemática, Psicologia da Educação, Psicologia Cognitiva, e Educação; e

aos grupos de trabalho – GT, da ANPEPP – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-

Graduação em Psicologia.

Aqui, é importante destacar que, desde 1996 foi estabelecido um Grupo de

Trabalho – GT Psicologia da Educação Matemática, na Associação Nacional de

Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia – ANPEPP, com a participação em

Simpósios de Pesquisa e Intercâmbio Científico em Psicologia, que acontecem de

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forma bianual. A ANPEPP é uma associação científica criada em 1983, com o apoio

da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, do Diretório dos Grupos

de Pesquisa no Brasil – CNPq, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior – CAPES. A presença do GT de Psicologia da Educação Matemática

nessa Associação significa o reconhecimento dessa área de estudos, no contexto

brasileiro, pois este é um espaço que incentiva a pesquisa, a formação de redes de

pesquisa, e de formação de associações científicas da Psicologia. Esse GT

representa o esforço conjunto para o desenvolvimento do conhecimento de Psicologia

da Educação Matemática, no Brasil, numa perspectiva interdisciplinar, por

pesquisadores das áreas de Psicologia, Educação e Matemática.

Assim, constituíram-se como marcos para Psicologia da Educação Matemática

no Brasil, dois tipos de eventos realizados em território nacional: Simpósio Brasileiro

de Psicologia da Educação Matemática I, e II, realizados na Universidade Federal do

Paraná; e a realização das Conferências PME19, e PME34, ocorridas no Brasil

(FALCÃO, 2002). Cada um desses eventos, no âmbito de suas dimensões e

propósitos, influenciou os avanços nas pesquisas; a busca de transposição para os

espaços educacionais; e a criação de grupos de pesquisa. No quadro 10, pode ser

visualizado em ordem cronológica o registro desses eventos.

Quadro 10 - Eventos de Psicologia da Educação Matemática realizados no Brasil.

Evento Local Ano Instituição(es)

PME19 Recife 1995 UFPE

I Simpósio Brasileiro de Psicologia da Educação Matemática

Curitiba 2001 UFPR

II Simpósio Brasileiro de Psicologia da Educação Matemática

Curitiba 2010 UFPR

PME34 Belo Horizonte 2010 UFMG/ UFPE/ UNESP

Fontes: Autora

Identificamos na área de Psicologia da Educação Matemática, com base nos

relatórios da ANPEPP, os nomes de autores brasileiros: Alina Galvão Spinillo; Jorge

Tarcísio da Rocha Falcão; Leny Rodrigues Teixeira; Luciano de Lemos Meira; Márcia

Regina Ferreira de Brito; Maria Helena Fávero; Maria Lúcia Faria Moro; Maria Tereza

Carneiro Soares; Nelson Antonio Pirola; Sandra Maria Pinto Magina; Sintria Labres

Lautert. Pesquisadores, que têm contribuído na construção dessa área de

conhecimento, ao longo de duas décadas aproximadamente.

Nesse contexto do desenvolvimento da Psicologia da Educação Matemática, é

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relevante, também, observarmos que foram criados grupos registrados no Diretório

de Grupos de Pesquisas no Brasil/CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnologia), ou linhas de pesquisa, nessa área, em grupos de áreas afins,

entre as Universidades Brasileiras, dados que revelam que as atividades de pesquisa

nessa área, identificadas com essa nomenclatura específica, continuam avançando.

Vide o Quadro 11.

Embora, com base na avaliação de Falcão (2008), se reconheça que esse

campo de investigação, ainda, seja incipiente no Brasil, e a Psicologia da Educação

Matemática seja considerada um domínio de conhecimento recente de pesquisa,

entendemos que, tanto em nível nacional como em nível internacional a produção de

pesquisas e os conhecimentos produzidos são ricos e consistentes para contribuírem

no processo de formação docente. Trata-se de uma área de conhecimento que tem

contribuído para a Educação Matemática, e é relevante a sua presença, de forma mais

efetiva, no Curso de Licenciatura em Matemática.

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221

Quadro 11 - Grupos/Linhas de pesquisa em Psicologia da Educação Matemática (PEM) nas Universidades Brasileiras. Fonte: Diretório de Grupos de Pesquisas no Brasil / CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento científico e Tecnologia) 2013.

Grupo/Linha(s) de Pesquisa(s) Instituição/Unidade Área Predominante de Vínculo

Líder(es) Quantidade de Pesquisadores

em PEM

Ano de Formação do

Grupo

Psicologia da Educação Matemática PSIEM

Afetividade: Crenças, atitudes e ansiedade matemática;

Avaliação Educacional;

Educação estatística e construção de instrumentos de medida;

Gênero e matemática;

Habilidades matemáticas e verbais.

Universidade Estadual de Campinas –

UNICAMP / Campinas

Departamento de Psicologia Educacional

Ciências Humanas;

Psicologia.

Marcia Regina F de Brito

Claudette Maria Medeiros

Vendramini

12 1989

Psicologia e Educação /

Psicologia da Educação Matemática

Universidade Federal de Pernambuco –

UFPE/ Recife

Departamento de Educação

Ciências Humanas;

Educação.

Lícia de Souza Leão Maia (líder)

3 2000

Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática, Cultura e

Contemporaneidade/

Psicologia de Educação Matemática

Universidade Estadual do sudoeste da

Bahia – UESB/ Jequié.

Departamento de Química e Exatas

Ciências Exatas e da

Terra; Matemática

Jorge Costa do Nascimento 1 2004

Núcleo de Pesquisa em Psicologia da Educação Matemática - NUPPEM/

Educação Matemática e Científica

Universidade Federal de Pernambuco –

UFPE / Recife

Departamento de Psicologia

Ciências Humanas;

Psicologia.

Síntria Labres Lautert

Alina Galvão Spinillo

13 2006

Psicologia da Educação Matemática/

Atitudes em relação à Matemática/

Atitudes em relação à Matemática;

Formação de Professores que ensinam Matemática;

Processos de ensino e aprendizagem de Geometria;

Resolução de problemas e a Matemática escolar

Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho – UNESP/ Bauru

Departamento de Educação

Ciências Humanas;

Educação.

Nelson Antonio Pirola

Fernanda de Oliveira Soares Taxa

Amaro

4 2009

Fonte: Autora

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222

6.2.2 Conceituação

Psicologia da Educação Matemática define-se como um campo de estudos

iminentemente interdisciplinar, constituindo-se na interseção entre a Psicologia, a

Educação e a Matemática. Investiga o processo de interação entre a Matemática e o

pensamento humano, em determinados contextos (FALCÃO, 2008; BRITO, 2005).

A Psicologia da Educação Matemática tem como objetivo precípuo ampliar o

conhecimento sobre o ensino e aprendizagem da Matemática, bem como os fatores

cognitivos e afetivos relacionados à aquisição do conhecimento de Matemática

(BRITO, 2005). Contribui para da melhoria do ensino e aprendizagem da Matemática

em todos seus níveis.

Portanto, na amplitude do campo da Educação, a Matemática e a Psicologia

se aproximam, no objetivo de estudar o ensino e a aprendizagem da Matemática,

bem como os demais fatores cognitivos e afetivos relacionados a essa disciplina.

A partir da concepção, de que o conhecimento matemático é o resultado de

construções que os indivíduos realizam em seus contextos específicos, ao nos

referirmos a respeito da intersecção entre Psicologia e Matemática, entendemos que

é no processo de construção do conhecimento matemático que se estabelecem essas

relações, tanto na aquisição do conhecimento, como na criação científica.

Encontramos, no estudo do matemático Jacques Hadamard (1865-1963) sobre

a invenção em Matemática, uma ilustração das relações entre a Psicologia e a

Matemática. Esse autor relata que a Conferência de Henri Poincaré (1854-1912),

realizada na Sociedade de Psicologia em Paris, foi uma inspiração ao seu estudo da

criatividade em Matemática. Hadamard (2009) ressalta que Poincaré foi o maior gênio

que a ciência matemática conheceu, na metade do século XIX, e que, ao expor sobre

as condições de invenção estudadas, em seu depoimento da experiência de uma de

suas maiores descobertas, a teoria dos grupos fuchsianos e das funções fuchsianas,

ele explicou que a soluções encontradas, nas circunstâncias apresentadas, são

indícios de um longo trabalho inconsciente. Hadamard (2009, p. 26) descreve ainda

sobre a Conferência afirmando que: “As observações de Poincaré esclareceram de

modo brilhante as relações entre o consciente e o inconsciente, entre o lógico e o

fortuito, relações que estão na base do problema”.

Ao se dirigir ao seu público, na referida Conferência, Poincaré (apud

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223

HADAMARD, 2009, p. 27) elucida:

Se eu disser que encontrei a demonstração de tal teorema em tais circunstâncias, o teorema pode ter um nome estranho que muitos de vocês nem conhecem; mas isso não tem importância; o que interessa ao psicólogo não é o teorema, são as circunstâncias.

Nessa perspectiva de inter-relação das ideias dos matemáticos e dos

psicólogos em sua época, Hadamard (2009) em seu livro, Psicologia da Invenção na

Matemática, examina os resultados obtidos em suas investigações sobre o processo

de desenvolvimento do pensamento criativo em Matemática, enfatizando os

processos inconscientes e subconscientes que produzem soluções súbitas de

problemas não resolvidos, no investimento consciente, mas, que emergem em

circunstâncias inusitadas ou inesperadas. Resgata as experiências de matemáticos

de destaque na história, de matemáticos contemporâneos, e da sua própria

experiência.

Os estudos de Poincaré, e os de Hadamard, em sua amplitude e riqueza das

análises, em que investigam justamente no foco das intersecções entre a Psicologia

e a Matemática, na busca de compreensão do processo de construção do

conhecimento matemático, por matemáticos, não é o enfoque específico de nosso

estudo, mas servem de referências para exemplificar a importância dessas relações

vistas em um estudo interdisciplinar, pelos matemáticos citados e por psicólogos,

como os exemplos de Édouard Claparède (1873-1940) Théodore Flournoy (1870-

1954) que junto com Henri Fehr (1870-1954) publicaram em 1906 na revista

L’Enseignement Mathématique a Enquête L'Enseignement de mathématique sur la

méthode de travail des mathématiciens.

Hadamard (2009, p. 124), ao tratar sobre os estágios do pensamento

matemático afirma que: “Entre o trabalho do aluno que tenta resolver um problema de

geometria ou de álgebra e o trabalho de criação, pode dizer-se que existe apenas uma

diferença de grau, uma diferença de nível, tendo ambos os trabalhos uma natureza

semelhante”. Essa afirmação nos remete ao significado do conhecimento psicológico

na formação do professor de Matemática, no sentido do acompanhamento do

desenvolvimento do aluno, e do “dar-se conta” de seu próprio processo de

aprendizagem. Com relação à intersecção entre a Psicologia e a Educação já foi

amplamente discutida nos capítulos anteriores, a partir das possibilidades relativas às

contribuições da Psicologia da Educação como resultante de um conhecimento dessa

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224

intersecção. Como também as relações entre Matemática e Educação estão

demonstradas no próprio desenvolvimento do campo de estudos de Educação

Matemática.

Referente à interseção entre a Psicologia, a Educação e a Matemática, nossa

leitura é de que face aos desafios em entendermos como se desenvolve o

pensamento matemático, como se desenvolve a compreensão de conceitos

matemáticos, e os processos de ensino e aprendizagem de Matemática, temos a

conjugação de esforços em buscar no campo da Psicologia, os conhecimentos

necessários para atender a essa demanda, na perspectiva da especificidade do

processo de conhecimento da ciência Matemática, no foco da Educação em

Matemática, expresso na interdisciplinaridade da Psicologia da Educação

Matemática.

Destacamos que se constituem como saberes psicológicos necessários à

compreensão da construção do conhecimento matemático, no processo ensino e

aprendizagem as contribuições da: Psicologia da Educação; Psicologia do

Desenvolvimento; Psicologia da Aprendizagem; Psicologia da Cognição e Psicologia

Social. Como também, que são necessários, especificamente, os estudos sobre

memória, atenção, afetividade, motivação e processos cognitivos complexos numa

dimensão psicobiológica, no sentido de oferecer subsídios mais consistentes para

teorização, pesquisa e prática, no âmbito da Educação Matemática.

Ao mesmo tempo, em que, no processo de profissionalização, os professores

formadores precisam dos conhecimentos psicológicos, os psicólogos interessados em

responder as questões sobre a aprendizagem de Matemática, e o desempenho de

Matemática, necessitam, também, compreender a estrutura do conhecimento

matemático e de como os matemáticos concebem a Matemática, para contribuírem

na formação de docentes de Matemática (RESNICK; FORD, 1981).

Nesse sentido, a Psicologia da Educação Matemática caracteriza-se por ser de

natureza interdisciplinar, teórica e aplicada. Foi concebida como uma área de

investigação, para oferecer subsídios especificamente psicológicos, para a

compreensão interdisciplinar, referente ao campo mais amplo da Educação

Matemática. Tem em seus objetivos básicos, a natureza pragmática, por ter em vista

a melhoria na qualidade da aprendizagem da Matemática, e a natureza de cunho

científico visando à construção/desenvolvimento do conhecimento de Psicologia da

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225

Educação Matemática (FALCÃO, 2008).

Constituem-se como objetos de estudos da Psicologia da Educação

Matemática: a atividade matemática; os processos de desenvolvimento do

pensamento matemático; o ensino e aprendizagem do conhecimento matemático; a

conceptualização como processo psicológico complexo em Matemática; os aspectos

afetivos no âmbito da atividade matemática; e as representações sociais do

conhecimento de Matemática (FALCÃO, 2002; FALCÃO, 2008; BRITO, 2005).

Assim, no foco das atividades matemáticas, segundo Falcão (2008; 2002), a

Psicologia da Educação Matemática traz contribuições específicas referentes à

explicação dos processos de desenvolvimento cognitivo e aprendizagem em

Matemática; compreendendo-se as atividades que abarcam a Matemática escolar, a

Matemática extraescolar e a Matemática dos matemáticos; percebendo-se as

atividades matemáticas com o foco tripolar a ser recoberto por essa área de

conhecimento, como ilustra o Quadro 12, elaborado por Falcão (2002, p. 212).

Quadro 12 - A atividade matemática como objeto tripartido e foco de análise da Psicologia da Educação Matemática.

Atividade Matemática

Matemática Escolar Matemática Extra-Escolar Matemática dos Matemáticos

Conjunto de iniciativas

estruturadas voltadas para a

negociação, em contexto cultural

específico (sala de aula), de

atividades voltadas para o

desenvolvimento conceitual.

Conjunto de atividades envolvendo

conhecimentos matemáticos no

contexto de situações extra-

escolares culturalmente

significativas (comércio, práticas

profissionais)

Corpo de conhecimento

socialmente compartilhado

epistemologicamente delimitado

e praticado por grupos

profissionais- institucionais

específicos: os centros de

produção acadêmicos.

Didática de conteúdos específicos

Psicologia Escolar

Psicologia Social

Antropologia da Matemática

Epistemologia da Matemática

História da Matemática

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Fonte: FALCÃO, 2008, p. 18

A Psicologia da Educação Matemática mostra-se voltada para a práxis do

ensino, uma vez que, desenvolve pesquisas com a finalidade de contribuir nos

esforços conjuntos para ampliar o conhecimento psicológico no processo de

Educação Matemática; nos domínios dos processos psicológicos de aprendizagem e

desenvolvimento e nos processos de aprimoramento do ensino específico de

Matemática. O conhecimento construído, nessa área, serve como uma das dimensões

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226

às políticas educacionais e às ações docentes em Matemática em todas as etapas

dos processos educacionais, desde o planejamento até a avaliação.

Em cada um dos objetos da Psicologia da Educação Matemática, são

encontradas pesquisas, como por exemplo, pesquisas com relação à formação de

conceitos, com a ênfase na investigação do processo de aquisição de conceitos

matemáticos e a compreensão do processo apreensão e retenção desses conceitos;

pesquisas referentes à afetividade, no processo de aprendizagem de Matemática, em

aspectos, como autoestima, ansiedade, motivação, no desempenho da Matemática;

pesquisas sobre as representações sociais em relação à Matemática que elucidam as

relações professor e aluno, no processo de ensino e aprendizagem da Matemática,

com relação às crenças e às atitudes diante da aprendizagem e do ensino do

conhecimento da Matemática, tanto dos aprendizes como dos educadores. Estudos

que se constituem em referencial para o processo de ensino e aprendizagem dos

conhecimentos psicológicos, para futuros professores de Matemática.

6.2.3 Estudos de Psicologia da Educação Matemática no Brasil

Com relação à produção brasileira da Psicologia da Educação Matemática, os

estudos sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem do conhecimento

matemático são diversificados, conforme as diversas abordagens psicológicas, mas

observamos uma tendência à investigação de base construtivista, marcada por raízes

piagetianas, seguindo a mesma vertentes teóricas do movimento de Educação

Matemática da segunda metade do século XX liderado por Gerárd Vergnaud e Guy

Brousseau (MORO, 2005; ARTIGUE; GRAS; LABORDE, 1994, apud MORO, 2005).

Nas obras de pesquisadores brasileiros constatamos nos relatos de pesquisa,

que as bases estabelecidas são de um referencial teórico, apoiado no construtivismo

piagetiano e vygotskiano (SCHLIEMANN; CARRAHER, et al., 1997; BRITO, 2005;

FALCÃO, 2008; SPINILLO; LAUTERT, 2012).

No livro, Psicologia da Educação Matemática, organizado por Brito (2005), são

utilizados os seguintes quadros teóricos, nos dos trabalhos apresentados: David

Ausubel (1918-2008) e seus colaboradores que tratam do ensino e aprendizagem

significativa; a proposta de Herbert Klausmeier (1915–2014), sobre a elaboração de

conceitos e a compreensão da estrutura cognitiva do aprendiz; a Teoria dos Campos

Conceituais de Gérard Vergnaud, que constitui-se em subsídios para compreensão

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da elaboração de conceitos matemáticos; os estudos de Gagné e os domínios de

aprendizagem; e, associada à Teoria Psicogenética de Piaget aparece Arminda

Aberastury (1910-1972) e Erik Erikson (1902-1994), da linha psicanalítica nos estudos

voltados à avaliação das dimensões afetivas, sociais e atitudinais, no contexto do

ensino de Matemática.

Nos estudos de Falcão (FALCÃO, 2005; FALCÃO, 2008), de Meira e Spinillo

(2006), de Schliemann, Carraher, et al. (1997), de Spinillo e Lautert (2012) na área

Psicologia da Educação Matemática aparecem pesquisas cujos quadros referenciais

teóricos são: a Teoria Psicogenética de Piaget; a Teoria Sócio-Cultural de Vygotsky;

a Teoria dos Campos conceituais de Vergnaud; e Teoria das Representações Sociais

de Serge Moscovici26.

Quanto às pesquisas produzidas no Brasil, no enfoque da Psicologia e

Educação Matemática, localizamos três fontes de referência: as produções

apresentadas no GT da ANPEPP, o estudo realizado por Barbosa e Ferreira (2007),

e os registros nos Núcleos e ou linhas de Pesquisa já mencionados que se identificam,

com a denominação desse campo de pesquisa.

Os pesquisadores brasileiros, vinculados ao GT Psicologia da Educação

Matemática da ANPEPP, desenvolvem estudos de cunho científico, e pragmático,

registram em seus relatórios que, no bojo de suas reflexões, entre outros, são

discutidos os seguintes questionamentos: Como se caracteriza a compreensão de

conceitos matemáticos em crianças/ adolescentes/ adultos, dentro e fora da escola?

Quais as dificuldades que enfrentam em relação a estes conceitos? Como propiciar

situações que auxiliem a superação dessas dificuldades e que promovam a aquisição

e desenvolvimento do conhecimento matemático?

Nesse Grupo de Trabalho, observamos que, por se tratar de um campo

epistemologicamente interdisciplinar, o estudo da Psicologia da Educação Matemática

engloba um diversificado quadro teórico. Nesse âmbito, muitas contribuições têm

dado suporte ao desenvolvimento do conhecimento na área. Os quadros teóricos

advindos da Psicologia, que apresentam maior intersecção entre as investigações

realizadas pelos dos membros do grupo, são: os estudos de Piaget, sobre a

construção dos números e do pensamento lógico-matemático; a concepção

26 Serge Moscovici (1925-2014).

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228

vygotskiana, no que tange à formação de conceito, interação entre conceitos

espontâneos e formais, e a zona de desenvolvimento proximal; os estudos de Nunes,

Schliemann e Carraher, pioneiros no Brasil, no campo da Psicologia da Educação

Matemática; a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, principalmente na

relação com às estruturas algébricas, aditivas e multiplicativas; a Teoria das Situações

Didáticas, de Brousseau; a Teoria dos Saberes de Referência, de Chevallard; e a

Teoria de Registros de Representação, de Duval (LAUTERT; MAGINA, 2012, p. 176).

Barbosa e Ferreira (2007) fazem um breve levantamento relativo pesquisas

realizadas em Psicologia da Educação Matemática, no Brasil no período de 1975 a

2003, e no total identificaram 60 trabalhos, nas universidades brasileiras. Com base

nos dados encontrados, temos alguns indicativos. Ao fazerem, um levantamento das,

nos Programas de Pós-graduação, relativo ao período de 1975 a 2000, observaram

que, houve o aumento da produção de pesquisas, nessa área de estudos, havendo

uma maior produtividade acadêmica, no período de 1980-2000. Tendo essas

investigações o enfoque temático cognição sido o mais frequente, com um índice de

64%, em relação ao conjunto de temas apresentados nos trabalhos.

Esses dados mostram certa sintonia da Psicologia com relação aos desafios

que se propõe a Educação Matemática. Desafios em ampliar o conhecimento, de

como os sujeitos realizam e organizam tarefas matemáticas; quais habilidades são

requeridas, para solução de problemas; quais os diferentes mecanismos do

pensamento são usados pelos sujeitos, em meio à solução desses problemas; que

relações existem entre as diferentes variáveis psicológicas, como a habilidade

matemática, a representação mental, o raciocínio lógico, a competência nas

operações matemáticas (COSTA, 2007).

O desenvolvimento do conhecimento de Psicologia da Educação Matemática

tem representado avanços significativos para a formação de professores de

Matemática, o que falta é fazer chegar esse conhecimento na Licenciatura e na sala

de aula, junto aos aprendizes de Matemática.

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA COMO COMPONENTE

CURRICULAR NA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA: FINALIDADES,

POTENCIALIDADES E POSSIBILIDADES E DESAFIOS

O que os estudantes de Licenciatura em Matemática precisam saber sobre

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229

Psicologia em seu processo inicial de formação profissional? Na direção da resposta

a esse questionamento, entendemos que é preciso um posicionamento dos

professores formadores, de forma coerente, a esse processo de profissionalização.

Os conhecimentos de Psicologia Geral e de Psicologia da Educação se fazem

necessários, como uma iniciação ao conhecimento psicológico. Apresentam

contribuições relevantes e significativas, desde que estejam voltados para a Educação

Matemática, e que esses conhecimentos tenham como eixo o desenvolvimento do

pensamento matemático, o ensino e a aprendizagem de Matemática e sejam

trabalhados numa visão teórico-prática (BRITO, 2005). Esse é um primeiro passo,

mas precisamos avançar e investir e garantir um novo componente curricular no curso

– Psicologia da Educação Matemática.

Percebemos na inclusão da Psicologia da Educação Matemática no currículo

da Licenciatura em Matemática, a potencialidade e a possibilidade do

desenvolvimento de uma abordagem teórico-prática no processo de ensino e

aprendizagem de Psicologia, e de incrementar a pesquisa a prática-pedagógica, no

campo de Educação Matemática, por se constituir num conhecimento interdisciplinar,

e por possuir uma função de disciplina ponte entre a Psicologia e a Educação

Matemática.

Como componente curricular que se caracteriza pela relação dialógica entre os

conhecimentos da Psicologia e da Educação Matemática, favorece a motivação para

os estudos dos conhecimentos psicológicos na Licenciatura, e, consequentemente, o

desenvolvimento do conhecimento básico, para a ação e reflexão pedagógica e o

desenvolvimento da identidade docente, na formação do profissional.

6.3.1 Potencialidades e possibilidades

Dentre as potencialidades de contribuição do componente de Psicologia da

Educação Matemática, destacamos a compreensão sobre conceptualização e

resolução de problemas; o desenvolvimento de habilidades e competências; as

representações sociais do conhecimento; autorregulação e metacognição, na

aprendizagem e no ensino de Matemática.

O fato dos conhecimentos de Psicologia serem estudados na perspectiva do

desenvolvimento do conhecimento matemático, faz a diferença. A título de exemplos

de estudos, temos: A formação de conceitos de número; A abstração reflexiva na

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resolução de problemas; A ansiedade na aprendizagem de Matemática; A

representação simbólica dos conceitos matemáticos.

No sentido das contribuições para a compreensão dos processos de

desenvolvimento e aprendizagem, especificamente, temos o processo de

conceituação. Falcão (2002; 2005) analisa as especificidades de conceituação em

Matemática, ao explicar que, os conceitos matemáticos não dispõem de

contrapartidas empíricas, não podem ser abordados na perspectiva de conceitos

substanciais calcados na experiência, em que é possível mobilizar, no mundo

empírico, um exemplo ou protótipo. Ilustra que o conceito de número em Matemática,

é um exemplo típico, “números são construções mentais sem contrapartida no mundo

empírico” (FALCÃO, 2002, p. 209). Assim, a Psicologia da Educação Matemática

oferece possibilidades de novas abordagens para a compreensão desse processo.

Falcão (2005) analisa, também, em relação à importância da à compreensão

do desenvolvimento conceitual numa perspectiva sócio-cultural no processo de

aprendizagem matemática. Descreve que nenhum aluno “sozinho” aprende conceitos

matemáticos, como também, nenhum conceito matemático se estabelece como se

fosse uma “roupa pronta” cognitiva, como conhecimento disponível, o aluno deverá

conjecturar, hipotetizar, tentar, refinar num processo de interação entre os

conhecimentos prévios, e os conhecimentos formalizados, pelo ensino proporcionado

no contexto do processo educacional.

Brito (2005, p. 78) explica que, “[...] para se obter um ensino efetivo é essencial

que o professor compreenda o conceito de significado e de aprendizagem significativa

e como esses se relacionam e podem ser aplicados a cada um dos conceitos a serem

ensinados e aprendidos”. Justamente, é nessa perspectiva que percebemos as

possibilidades das contribuições do conhecimento de Psicologia da Educação

Matemática para a formação profissional para docência em Matemática.

No ofício de professor de Matemática, o profissional necessita desenvolver

habilidades e competências no domínio do conhecimento matemático, e do

conhecimento do ensino de Matemática. Nesse segundo aspecto é que se inserem,

principalmente, as possibilidades de avanços da contribuição da Psicologia.

Os estudos das habilidades matemáticas têm como pontos de intersecção, a

Psicologia e a Educação Matemática; uma vez que a Psicologia contribui para a

ampliação do conhecimento sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem

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231

dessas habilidades e, à Educação interessa, como promover, estrategicamente,

situações e ações que efetivamente sejam mediadoras, no desenvolvimento e

aprendizagem dessas habilidades (BRITO, 2005).

Embora, conforme explica Brito (2005), não exista um acordo de quais seriam

as habilidades matemáticas básicas, entre as diversas propostas apresentadas, nem

ocorra um consenso de uma listagem, aceita pela maioria dos educadores

matemáticos, temos a referência de Krutetskii (1976, apud BRITO,2005).

Krutetskii, (1976, apud BRITO, 2005), ao investigar a habilidade matemática,

identificou quatro componentes ligados ao processo de pensamento, durante a

solução de problemas: Obtenção da informação matemática; Processamento da

informação matemática; Retenção da informação matemática; Existência de um

componente geral sintético, que está ligado à existência de tipo de “mente”

matemática. Esses componentes correspondem às etapas do processo solução de

problemas, e cada um deles corresponde a um conjunto de habilidades específicas e

compõe a habilidade matemática. Apresentamos, a seguir, de forma ilustrativa, no

Quadro 13, uma síntese com o intuito de mostrar que o conhecimento das habilidades

básicas auxilia o licenciando na construção do conhecimento pedagógico.

No processo da Licenciatura, ao mesmo tempo em que os estudantes

necessitam desenvolver a sua habilidade matemática, necessitam desenvolver a

habilidade para ensinar, numa relação dialética entre os conhecimentos básicos de

conteúdo matemático e de conteúdo pedagógico. No enfrentamento desses desafios,

entendemos que a Psicologia da Educação Matemática contribui, como um dos

elementos curriculares, para que o futuro docente conheça e seja capaz de trabalhar

formalmente, com as mesmas, para conseguir um bom desempenho profissional.

Como ilustração, também, temos o que os objetivos estabelecidos para o

ensino e aprendizagem de Matemática no Ensino Médio nos Parâmetros Curriculares

Nacionais PCN (BRASIL, 1998) apresentam. Vide Quadro 14.

No desempenho docente, ao buscar a realização desses objetivos o

profissional será desafiado a desenvolver o pensamento matemático, a compreensão

de conceituação, resolução de problemas e metacognição, e a adquirir o conjunto de

habilidades e competências apresentados nas legislações nacionais referentes à

atuação profissional, conforme o art. 4 das Diretrizes Nacionais de Formação para a

Educação Básica (BRASIL, 2002a) e, os item 2 e 3, das Diretrizes Curriculares para

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232

Cursos de Matemática (BRASIL, 2002b).

Quadro 13 - As habilidades matemáticas descritas por Krutetskii – 1976

As habilidades matemáticas

Obtenção da informação matemática - Habilidade para formalizar a

percepção do material matemático e para compreender a estrutura

formal do problema.

Processamento da informação matemática - Habilidade de elaborar

estruturas matemáticas

Habilidade para pensar logicamente na área das relações

espaciais e quantitativas, números e símbolos/alfabéticos e

a habilidade de pensar em símbolos matemáticos;

Habilidade para generalizar de forma abrangente e rápida os

conteúdos matemáticos, as relações e as operações;

Habilidade de resumir os processos matemáticos e os

sistemas correspondentes de operações, além de pensar

através de estruturas reduzidas;

Flexibilidade dos processos mentais de matemática;

Tendência para claridade, simplicidade, economia e

racionalidade da solução;

Habilidade para uma rápida e livre reconstrução mental.

Retenção da informação matemática - Refere-se à existência de uma

memória matemática.

Existência de um componente geral sintético, que está ligado à

existência de tipo de “mente” matemática.

Fonte:Autora

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233

Quadro 14 - Síntese dos objetivos estabelecidos para o ensino e aprendizagem de Matemática no Ensino Médio nos Parâmetros Curriculares Nacionais PCN, Brasil,1998.

Objetivos propostos para o ensino e aprendizagem de Matemática

Os aprendizes deverão ser levados a:

Compreender os conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas que permitam a ele

desenvolver estudos posteriores e adquirir uma formação científica geral;

Aplicar seus conhecimentos matemáticos a situações diversas, utilizando-os na

interpretação da ciência, na atividade tecnológica e nas atividades cotidianas;

Analisar e valorizar informações provenientes de diferentes fontes, utilizando ferramentas

matemáticas para formar uma opinião própria que lhe permita expressar-se criticamente

sobre problemas da Matemática, das outras áreas do conhecimento e da atualidade;

Desenvolver as capacidades de raciocínio e resolução de problemas, de comunicação, bem

como o espírito crítico e criativo;

Utilizar com confiança procedimentos de resolução de problemas para desenvolver a

compreensão dos conceitos matemáticos;

Expressar-se oral, escrita e graficamente em situações matemáticas e valorizar a precisão

da linguagem e as demonstrações em Matemática;

Estabelecer conexões entre diferentes temas matemáticos e entre esses temas e o

conhecimento de outras áreas do currículo;

Reconhecer representações equivalentes de um mesmo conceito, relacionando

procedimentos associados às diferentes representações;

Promover a realização pessoal mediante o sentimento de segurança em relação às suas

capacidades matemáticas, o desenvolvimento de atitudes de autonomia e cooperação.

Fonte: PCN (BRASIL,1998)

Concebemos que, principalmente, nesse sentido, o conhecimento psicológico

voltado para Educação Matemática, na forma desse novo componente curricular,

contribuirá juntamente com os demais componentes curriculares, para a formação

docente.

6.3.2 Desafios

Ao propormos que seja implantado o componente curricular de Psicologia da

Educação Matemática, na Licenciatura em Matemática, identificamos, no contexto

acadêmico, possíveis desafios a serem enfrentados, que elencamos a seguir:

A resistência dos educadores, responsáveis pela elaboração dos Projetos

Pedagógicos, em função das críticas a Psicologia, no âmbito das

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Licenciaturas, nas últimas décadas, sendo interpretada a ampliação de

carga horária nessa área como psicologismo, e considerada um fator

negativo e reducionista para a compreensão das práticas educacionais;

A oposição dos dirigentes à ampliação da carga horária da área do Curso

de Licenciatura, pela tendência em apresentar currículos, cada vez mais a

“enxutos”, contemplando o total de horas do Curso, no limite das exigências

do MEC. Uma vez que, acrescentar mais um componente psicológico

representa, mais investimentos de recursos, para a sua viabilização;

O risco de ser aceito como um modismo, e ser criada a expectativa de que

esse novo componente apresente soluções redentoras, para as questões

de Educação Matemática. A necessidade de evitar os estereótipos, ou a

visão de panaceia, em relação aos conhecimentos psicológicos;

A maioria dos Cursos de Licenciatura, ainda, mantém uma organização

estrutural de forma dicotomizada, tradicionalmente, separando os

componentes em teóricos e práticos, a inclusão de um novo componente

psicológico numa concepção teórico-prática implicará em mudanças na

estrutura curricular, e por ser da área da Psicologia os riscos de que seja

tratado como mais um componente teórico;

A formação de professores formadores, na área de Psicologia da Educação

Matemática, implica na disponibilidade e interesse dos profissionais de

estudos psicológicos sobre a compreensão do desenvolvimento e

aprendizagem na perspectiva da atividade matemática, e em desenvolver

empatia com os matemáticos, em suas concepções da Matemática.

A disponibilidade dos professores formadores em trabalharem de forma

interdisciplinar, no contexto dos cursos de Licenciatura em Matemática,

diante dos obstáculos referentes à remuneração do professor formador e

dos vínculos empregatícios temporários estabelecidos com as IES.

O próprio desenvolvimento de estudos de Psicologia da Educação

Matemática, como componente curricular em processo de construção, que

exigirá uma postura de professor reflexivo investigador na prática.

Acreditamos que os possíveis desafios no processo de implantação de

Psicologia da Educação Matemática, não podem ser negados, mas enfrentados, na

prática da sala de aula. Desafios que se integram as propostas de mudanças no

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âmbito dos componentes de Psicologia, no sentido das modificações possíveis, que

dependem do desempenho dos professores formadores no contexto educacional, na

forma como conduzem o processo de ensino de Psicologia, sintônica, interessante, e

motivadora aos futuros docentes.

Temos a convicção de que a Psicologia da Educação Matemática tem um papel

relevante na formação de professores de Matemática, que se justifica por:

Constituir-se em um domínio de conhecimento, construído num processo

de investigação, reflexão teórica e de aplicação prática, com a função

mediadora entre os campos de Psicologia e de Educação Matemática;

Evidenciar as possibilidades de estudos de forma fecunda, sobre o

desenvolvimento do pensamento matemático, a aprendizagem dos

conteúdos matemáticos, e as concepções de ensino de Matemática numa

perspectiva prático reflexiva.

Portanto, consideramos importante que seja garantida a aprendizagem da

Psicologia da Educação Matemática na formação do docente em Matemática, por ser

estruturante, nesse processo de desenvolvimento profissional.

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA A

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA PESQUISADORES,

PRÁTICO REFLEXIVOS

Percebemos que a Psicologia da Educação como <disciplina ponte>, uma vez

que simultaneamente apresenta o compromisso de uma disciplina psicológica e

educativa, fazendo a ligação entre Psicologia e Educação (HUNT; SULLIVAN, 1974).

Neste estudo, a partir de uma projeção, entendemos que função semelhante pode ser

percebida em relação à Psicologia da Educação Matemática e a Educação

Matemática.

Garcia e Sáenz (2006), no contexto do grupo de estudos, Projeto de Prática,

na Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica Javeriana (Bogotá,

Colômbia), fazem algumas considerações de como se entendem as relações entre

Psicologia e Educação Matemática; uma vez que, essa é a delimitação do campo de

investigação desse grupo. Concebem a relação entre Psicologia e Educação

Matemática, como a inter-relação entre dois polos estabelecidos, a partir de seus

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elementos. Do lado esquerdo, apontam a Psicologia, concebida como “disciplina

fonte” com o aporte de conhecimentos e princípios gerais que contribuem para o

ensino de Matemática. Do lado direito, se situam a Educação Matemática, e ao centro,

a Psicologia da Educação Matemática, como uma disciplina ponte entre a Psicologia

e a Educação Matemática.

Esses autores ressaltam a importância de reconhecer o caráter paradigmático

da Psicologia; que exige pensarmos que as relações entre si, dependem do modelo

teórico que utiliza um enfoque particular. Descrevem que os aprendizes vivem

processos específicos e diferenciados de construção de sistemas de conceitos

particulares, no contexto de condicionamento sócio-cultural e de suas estruturas

cognitivas, e argumentam que os estudos desses processos serão ponto de referência

obrigatória para a Educação Matemática, considerando que quanto mais claras e

precisas forem as explicações, maiores serão as possiblidades de oferecermos

acompanhamento adequado aos estudantes.

A Psicologia da Educação Matemática, como disciplina ponte, fará a diferença

na Licenciatura em Matemática, desde que atenda as condições defendidas por

Goulart (1985); de que a Psicologia só oferecerá contribuições efetivas à Educação,

se resgatar o aspecto específico de sua competência de trazer os conhecimentos

construídos nas diversas áreas das Ciências Psicológicas, para serem utilizadas nas

questões de interesse da Educação, e, no enfrentamento de desafios relacionados às

pessoas no processo educativo específico. Contribuirá ao desempenhar o seu papel,

colocando-se a serviço da Educação na formação inicial e desenvolvimento

profissional dos professores, com seu conteúdo teórico-metodológico, e seu

comprometimento social.

Na especificidade da formação de docentes de Matemática, o potencial de

contribuições da Psicologia da Educação Matemática está marcado por dupla face: a

primeira, pela sua própria condição epistemológica que é o conhecimento psicológico

do desenvolvimento e aprendizagem do sujeito no processo de construção do

conhecimento matemático; a segunda, pelo fato de que esse conhecimento

psicológico servirá à Educação Matemática como prática social. Assim, a Psicologia

da Educação Matemática, no processo de formação docente precisa, ao mesmo

tempo, de fortalecer a sua episteme, e cumprir a sua responsabilidade social.

Entendemos que a formação consistente no campo da Psicologia da Educação

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Matemática instrumentalizará os professores de Matemática, para uma postura

profissional mais crítica e engajada. Mas, para que cumpra o seu papel, o

conhecimento psicológico precisa ser internalizado e útil, pois, aprender alguns

conceitos no campo da Psicologia não basta. A contribuição será relevante, se o

conhecimento psicológico se constituir de referenciais teórico-metodológicos, que

propiciem à compreensão do fenômeno educacional, de forma articulada, à

construção do conhecimento matemático, (BZUNECK, 1999; SCHLINDWEIN, 2010).

Em suma, vemos na Psicologia da Educação Matemática, uma via de resgate

dos “pecados” da inoperância e da inocência da Psicologia na formação docente,

assinalados por Goldeberg (1978). Representa uma saída pela possibilidade de

contribuição, gerada por um conhecimento construído na interação entre o campo de

estudos dos professores formadores de Psicologia, e os campos de interesse dos

aprendizes, Matemática e Educação Matemática, pela potencialidade de um processo

de formação de professores, numa perspectiva prática investigativa-reflexiva, e de um

trabalho educacional interdisciplinar.

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CAPÍTULO 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando,

a certeza de que precisamos continuar, a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.

Portanto devemos: fazer da interrupção, um caminho novo;

da queda, um passo de dança; do medo, uma escada; do sonho, uma ponte;

da procura, um encontro. Fernando Sabino

As relações entre a Psicologia e a Educação Matemática estiveram presentes

ao longo do processo histórico de desenvolvimento desses campos de conhecimento,

e seus vínculos foram estabelecidos no processo de construção do conhecimento de

Educação Matemática, como no processo do conhecimento de Psicologia. Uma

relação interativa e desafiante entre si, em que na constituição dos saberes,

influenciaram e foram influenciados, no desenvolvimento de pesquisas, e na função

de formação profissional.

Nesses laços estabelecidos temos, de forma expressiva, a constituição da

Psicologia da Educação Matemática, como a representação dessa inter-relação,

conhecimentos profundamente relevantes, que tem trazido contribuições significativas

para a ampliação do conhecimento dos processos de ensino e aprendizagem de

Matemática e, sobretudo, para a formação docente.

Vínculos esses, que nos parecem indissociáveis na perspectiva de que, os

professores de Matemática na condição de educadores matemáticos em ação,

necessitam dos conhecimentos psicológicos no desempenho e desenvolvimento

profissional, assim como os profissionais de Psicologia necessitam do conhecimento

de Educação Matemática nos processos de ensino e aprendizagem dos

conhecimentos psicológicos; vínculos estabelecidos na realização das pesquisas na

interface do desenvolvimento do conhecimento e aprendizagem de Matemática.

Conscientes da complexidade da compreensão do processo de

profissionalização, bem como dos desafios que representa a todos os envolvidos na

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formação inicial de professores de Matemática, apresentamos nesta tese as

contribuições da Psicologia, nesse processo. Desenvolvemos uma aproximação,

possível, às questões norteadoras nessa investigação: ao caracterizar as relações

entre a Psicologia e a Educação Matemática, na trajetória histórica e na

contemporaneidade; ao descrever as contribuições da Psicologia, na perspectiva da

formação inicial de professores de Matemática, no passado, no presente, e na

prospecção de suas potencialidades e de suas possibilidades futuras; ao defender a

Psicologia da Educação Matemática, no Currículo de Licenciaturas em Matemática,

como uma contribuição necessária e possível à Educação Matemática, em sua função

de formação docente.

Nesta pesquisa, observamos que a presença de componentes curriculares da

área de Psicologia, nos Cursos de Licenciatura em Matemática é uma constante, ao

verificarmos na oferta de cursos das IES, a existência de, no mínimo, um componente

com o direcionamento para a aquisição de conhecimentos psicológicos. Confirmamos

que essa inserção ocorreu desde as primeiras normatizações e regulamentações

curriculares, para a formação de professores de Matemática, no sistema educacional

brasileiro.

Constatamos que na legislação vigente, como também, nas recomendações

apresentadas no Documento Base da SBEM (2003) são indicadas as necessidades

de reformulações nos cursos de Licenciatura em Matemática, visando à melhoria do

processo de formação inicial de docentes de Matemática. Apontam caminhos para as

mudanças, no sentido da concepção da formação de professor como profissional

reflexivo.

Nesse contexto, entendemos que o objetivo de investigar as contribuições da

Psicologia no processo de formação do professor de Matemática, se insere nessas

discussões e reflexões para a superação dos desafios de profissionalização docente.

Desafios esses, enfrentados, sejam em nível organizacional, pelo distanciamento

entre as Instituições de Ensino, que oferecem os cursos de formação de professores,

e os sistemas de ensino da Educação Básica, sejam no campo curricular, no

desenvolvimento de um projeto pedagógico que considere os conhecimentos prévios

dos ingressantes, a seleção de conteúdos para as constituições das competências, e

o desenvolvimento profissional do aprendiz.

Em síntese, defendemos a tese de que, as contribuições da Psicologia à

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Educação Matemática, na perspectiva da formação de professores de Matemática,

em sua inserção nas Licenciaturas em Matemática, se caracterizam por

conhecimentos estruturantes, no processo de profissionalização, desenvolvido num

processo de interação, entre as dimensões pessoal e sociocultural. Os conhecimentos

psicológicos servem, como uma das referências teórico-metodológicas, para a ação-

reflexão pedagógica, desenvolvimento da identidade, e desenvolvimento profissional.

O estudo das diferentes Teorias Psicológicas, do desenvolvimento humano e

da aprendizagem, situado e focado no processo de ensino de Matemática, contribui

para compreensão das diferentes concepções e práticas pedagógicas nas relações

interpessoais entre professor-aluno, nas relações entre ensino e aprendizagem, e no

processo pedagógico, de planejamento, intervenção e avaliação.

A partir da concepção da Psicologia da Educação Matemática, como disciplina

ponte, que tem a função mediadora entre Psicologia e Educação Matemática,

defendemos aqui a importância de sua implantação, como componente no Currículo

de Licenciatura de Matemática, pelas suas possibilidades e potencialidades para a

efetividade desse conhecimento, em ampliar a utilidade e a aplicabilidade dos saberes

psicológicos, no processo de profissionalização do professor de Matemática.

A Psicologia da Educação Matemática tem contribuído, tanto para a Psicologia,

onde se enraíza, quanto para a Educação Matemática. Os conhecimentos construídos

têm demonstrado a pertinência, e a produtividades desse campo de trabalho teórico-

metodológico e de pesquisa. Embora cientes de que temos um longo caminho de

desenvolvimento desse conhecimento, entendemos que o desafio está na

transposição desses saberes para a sala de aula, pelo ensino desse conhecimento,

na Licenciatura em Matemática, e no desenvolvimento de novas pesquisas.

Recomendamos que a inserção da Psicologia da Educação Matemática esteja

relacionada ao processo necessário de repensar os Cursos de Licenciaturas em

Matemática, que não seja inclusa de forma arbitrária, mas, a partir da avaliação, e da

reflexão do elenco de atores que compõe as ações educativas, e se constituem em

partes integrantes do projeto pedagógico do curso. Pois, esse conhecimento em sua

origem, e desenvolvimento, se inscreve na interdisciplinaridade, e só será profícuo,

num ambiente que favoreça a interlocução com os professores formadores engajados

na Educação Matemática.

Recomendamos também, que esse componente curricular seja pensado na

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concepção de ensino de prática reflexiva, num processo de da pesquisa-ação, a partir

de uma visão piagetiana, de que em Psicologia, mais do que em outros campos, só

se compreende realmente os fatos e as interpretações quando o ensino é mediado

pela prática de pesquisa. Isso é, pela prática de ensino que favoreça a construção de

conhecimentos, pelas experiências de pesquisa-ação, estabelecendo-se uma relação

teoria e prática.

Entretecer, neste estudo, a formação inicial de professores de Matemática

constituiu-se num trabalho desafiante, pelo investimento necessário de articulação

entre saberes de Psicologia e de Educação Matemática, pela necessidade de

desenvolver uma visão interdisciplinar.

Esperamos que essa composição, que integra pontos de vista a respeito de

das contribuições do conhecimento psicológico e das concepções de formação

docente, para uma aproximação possível à compreensão do processo de

profissionalização inicial, no ofício de professor de Matemática, incentive a reflexão

do processo de formação do docente que temos, e as possibilidades de reformulações

que desejamos, para que se concretizem as propostas de programas formativos,

visando ao desenvolvimento pessoal e profissional, concebidos por Uri, Resnick,

Nóvoa, Perrenoud, Schön, Schulman, Tardif, Zeichner. Como também, seja

significativo em instigar outras pesquisas, baseadas na concepção de formação de

professores de Matemática como profissionais investigadores reflexivos.

Enfim, nessa pesquisa nosso propósito foi demonstrar a pertinência dos

conhecimentos psicológicos na Licenciatura em Matemática, e a relevância do estudo

de Psicologia da Educação Matemática para os aprendizes do ofício de professor de

Matemática.

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A excelência só se conjuga no condicional. Nunca se pode considerar

uma coisa completamente boa, sob todos os pontos de vista. A incompletude

e a imperfeição faz parte da natureza humana. Este trabalho representa o

melhor de mim, uma leitura no aqui e agora, em meio as minhas

circunstâncias e os meus limites de tempo e espaço no contexto de estudos

no Programa de Doutorado em Educação Matemática (2015).