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PROTESTE auto 85 P oupar dinheiro suficiente para passar uma semana de férias no Algarve pode ser tão simples como conduzir melhor. A condução ecológica representa uma nova cultura na estrada baseada na otimização das tecnologias avançadas dos automóveis, na utilização eficiente do combustível e na maior segurança. Contribui para reduzir as emissões poluentes e visa a deslocação do carro com recurso à menor quantidade de energia, com pouco desgaste mecânico e o mínimo impacto ambiental. O conceito é simples, mas há mais-valias na formação. Não acredita? Grave estes números: menos 15 por cento de emissões de dióxido de carbono e menos um litro aos cem quilómetros de combustível, em média. Como mostramos na infografia da página 87, mudar hábitos dá-lhe um bom pé-de-meia. A nossa equipa frequentou o curso e acompanhou uma sessão de 16 funcionários de uma empresa com o apoio de quatro formadores a tempo inteiro. A ação decorreu a 15 de março, data em que celebramos os direitos do consumidor. A sessão teórica abre com a enunciação dos fatores com impacto na economia da condução. Somos alertados para a necessidade de planear e selecionar percursos, para Experimentámos e revelamos os melhores segredos da condução económica e ecológica. Formação Ecocondução “Basta mudar hábitos para poupar 300 euros.” Redator da PROTESTE Auto NUNO CÉSAR Sabe dançar com os pedais?

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Page 1: Formação Ecocondução Sabe dançar com os pedais? · como de condução defensiva. Para chegar a bom porto é preciso conhecer o perfil de condução. “O modo como ... Técnicas

PROTESTE auto 85

Poupar dinheiro suficiente para passar uma semana de férias no Algarve pode ser tão simples como

conduzir melhor. A condução ecológica representa uma nova cultura na estrada baseada na otimização das tecnologias avançadas dos automóveis, na utilização eficiente do combustível e na maior segurança. Contribui para reduzir as emissões poluentes e visa a deslocação

do carro com recurso à menor quantidade de energia, com pouco desgaste mecânico e o mínimo impacto ambiental.O conceito é simples, mas há mais-valias na formação. Não acredita? Grave estes números: menos 15 por cento de emissões de dióxido de carbono e menos um litro aos cem quilómetros de combustível, em média. Como mostramos na infografia da página 87, mudar hábitos dá-lhe um bom pé-de-meia.

A nossa equipa frequentou o curso e acompanhou uma sessão de 16 funcionários de uma empresa com o apoio de quatro formadores a tempo inteiro. A ação decorreu a 15 de março, data em que celebramos os direitos do consumidor. A sessão teórica abre com a enunciação dos fatores com impacto na economia da condução. Somos alertados para a necessidade de planear e selecionar percursos, para

Experimentámos e revelamos os melhores segredos da condução económica e ecológica.

Formação Ecocondução

“Basta mudar hábitos para poupar 300 euros.”Redator da PROTESTE AutoNUNO CÉSAR

Sabe dançar com os pedais?

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CONSUMOS

10 truques para reduzir o impacto das vi agens

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os momentos de poupança ou desperdício energético e para a monitorização do consumo.Na volta inicial, o objetivo dos instrutores é avaliar com precisão o desempenho individual em situação real para, no final, desenvolver uma gestão mais equilibrada do carro. Impõe-se detetar e implementar oportunidades de melhoria, sobretudo com técnicas de redução de consumos e emissões, bem como de condução defensiva.Para chegar a bom porto é preciso conhecer o perfil de condução. “O modo como cada um mexe nos pedais é uma impressão digital” que ajuda o formador a apontar o que pode melhorar. Como nos explicam, “podemos reconhecer um condutor através da dança nos pedais do carro.” Os instrutores identificam a matriz de

condução em estrada e autoestrada, com direito a montanha, subidas e ruas estreitas. As disparidades entre os valores obtidos antes e depois da formação são tanto mais estimulantes quanto mais “honesto” for o condutor no primeiro ciclo da formação. De volta à sala, são ensinadas estratégias para reduzir o consumo, antes da segunda volta.

´O trajeto é o mesmo para os ciclos inicial e final. São usados carros equipados com sistemas e programas de análise dinâmica. Os aparelhos instalados no carro recolhem os dados e fazem as medições. São cruciais para uma avaliação do perfil e para depois exibir e explicar as comparações aos alunos. A formação é realizada com os veículos do centro,

Planeamento. Sempre que

possível, partilhe o carro e escolha percursos mais suaves, recorrendo ao GPS para trajetos alternativos. Calcule a duração das viagens por excesso, para evitar stresse e acelerações furiosas. Escute as informações de trânsito na rádio e verifique o estado do tempo antes de sair.Evite zonas congestionadas e percursos muito longos.

Preparação. Mantenha os

pneus com a pressão adequada e retire do carro as cargas desnecessárias. Não precisa de aquecer o motor antes de iniciar a viagem. Assim que ligar a ignição, carregue no pedal da embraiagem e arranque em primeira, passando para segunda logo de seguida. Evite o ar condicionado, sobretudo em velocidades baixas.

Técnicas de condução.

Utilize o acelerador com suavidade e resista à tentação de “esmagar” o pedal. Evite acelerações com rotações acima das duas mil por minuto. Sempre que possível, tire o pé do acelerador e deixe o carro movimentar-se com a mudança engatada. Esta opção corta a admissão de combustível ou redu-la.

Táticas. Trave com o motor,

passando para uma mudança mais baixa. Para aumentar a velocidade, se o carro tiver movimento suficiente, mude para uma velocidade superior, ou seja, “destrave” com o motor. Em subida, precisa de acelerar. Mesmo antes de chegar ao pico, estabilize, retirando o pé do acelerador no momento certo.

Antecipação. Antecipe ao

máximo os movimentos do tráfego. Procure manter uma boa distância do carro da frente, evitando travagens desnecessárias. Ao aproximar-se de rotundas, interseções, passadeiras ou outros locais de paragem não obrigatória, antecipe o movimento dos outros e evite qualquer paragem desnecessária.

8% é quanto aumenta o consumo quando a pressão dos pneus é insuficiente.

mas também pode ser feita no automóvel dos alunos, se assim o desejarem.Quando há grandes grupos, metade permanece na sala e responde ao questionário sobre hábitos ao volante, enquanto a outra metade parte para a viagem. Os alunos recebem os resultados do teste teórico nas suas contas de correio eletrónico. A avaliação final de resultados é feita de forma individual e por equipa.

´Se alguns dos pontos focados na formação são de senso comum, outros nem tanto. Por exemplo, não será novidade que “puxar pelo motor” gasta mais. Ora, o que antigamente se aprendia pelo ouvido hoje, com motores mais silenciosos, pode verificar-se no conta-rotações. Até às 2000 rotações por minuto (RPM),

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Multiplique esta poupança pelo número de condutores em casa ou pelo número de funcionários que conduzem na sua empresa.

Cores. Ao aproximar-se

de um semáforo, se estiver verde, avance. Se estiver vermelho, aproxime-se devagar. Levante o pé do acelerador e deixe o carro desacelerar por si através do efeito travão-motor, se necessário reduzindo na caixa. Entretanto, pode ficar verde e, assim, poupa uma paragem. Ter este cuidado dezenas de vezes por dia fará a diferença.

Nota artística na

autoestrada. Aproveite as descidas para aumentar a velocidade a que circula. Não use o regulador de velocidade em percursos com muitas subidas, sobretudo longas e de declives acentuados ou com o tráfego intenso.Evite velocidades elevadas. Quando circular acima dos 110 quilómetros por hora, o consumo dispara.

Cortar a alimentação.

Se prevê uma paragem na fila ou no semáforo por mais de 30 segundos, desligue o motor. Nas descidas, prefira travar ou acelerar com o motor. Aproveite ao máximo a força da gravidade. Meter uma mudança mais rápida sem pisar o acelerador e soltando com suavidade apenas a embraiagem é simples.

Consumos. Utilize o

computador de bordo para verificar o consumo médio e aferir a eficiência económica da condução. Adapte a condução segundo a velocidade, a mudança usada, o local e a situação de tráfego.Em viagens longas, use o cruise-control para manter a velocidade, sempre que as condições assim o permitam.

Boleia de links úteis.

Aborrece e poucos o fazem, mas vale o tempo despendido. Consulte o manual de instruções do carro. Encontra muitos conselhos na matéria. Veja uma seleção de dicas que reservámos emwww.deco.proteste.pt/automoveis: Vale também a pena visitarwww.ecodrive.org ewww.ecodriver-project.eu.

5,4 l /100 km

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4,5 l /100 km

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ANTES DA FORMAÇÃO

APÓS A FORMAÇÃO

A HORA DA VERDADE EM NÚMEROS

Volta a Portugal a poupar

* Poupança por ano, em euros e litros de gasóleo, no cenário de 30 000 km/ano.

está na zona de poupança.Para pequenas manobras, em estacionamento, nem precisa de pisar ou tocar no acelerador. Com a mudança engatada, levante o pé suavemente da embraiagem. O veículo inicia o movimento de imediato. Não acredita? Experimente e surpreenda-se!Com a observação atenta de tudo o que existe à volta do condutor, evita paragens desnecessárias em cruzamentos, rotundas, passagens de nível ou de peões e semáforos. Também as acelerações bruscas são de evitar: “A condução deve ser tão confortável quanto necessário para no banco de trás se conseguir assinar um cheque no sítio correto.” A condução agressiva é, assim, um fator a combater. Tal como o travão, o acelerador deve ser operado suave e

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Na segunda volta aos comandos, são postas em prática as sugestões dos instrutores. O resultado entre os dois ciclos serve para avaliar as áreas de melhoria de cada condutor ao nível da eficiência energética na condução.

Ao contrário do que se possa pensar, a condução ecoeficiente permite ganhar tempo útil, pois aumenta a velocidade média do percurso, ou seja, reduz o tempo necessário para efetuar o mesmo trajeto.

Cada participante realiza dois ciclos de condução. No primeiro, o programa mede consumos, emissões, utilização da caixa, aceleração e travagem e avalia o estilo. O segundo é orientado para aplicar as técnicas de condução ecoeficiente e avaliar os ganhos.

progressivamente, não como um “interruptor”. Ajuda saber que um veículo consome mais energia a acelerar até uma dada velocidade do que a mantê-la. Calçado confortável com sola baixa aumenta a sensibilidade sobre o pedal. Por sua vez, as acelerações intensas desgastam mais os pneus, a embraiagem, os amortecedores e o motor.Respeitar os limites de velocidade e manter a velocidade estável (por exemplo, usando o cruise-control em autoestrada) beneficiam o consumo.Se precisar de travar muitas vezes, e bruscamente, é porque gastou energia a mais com a aceleração. A solução?

Manter a velocidade do motor o mais baixa possível, usando mudanças mais altas que confiram baixa rotação. Aumentar a distância face ao veículo da frente também evita travagens bruscas e dá-lhe margem para reduzir a velocidade levantando apenas o pé do acelerador.Em suma, os gestos que mais contribuem para o aumento do consumo são os arranques com demasiada aceleração, as travagens bruscas em cidade e conduzir com mudanças baixas em autoestrada. É importante conduzir com a mudança mais elevada possível. Assim que conseguir meter a segunda, suba de relação tão depressa quanto

puder. A 40 quilómetros por hora pode já ter a quarta engrenada, e para a sexta chegam 60 quilómetros por hora. Contudo, a partir dos 80 quilómetros por hora, mesmo já em sexta velocidade, terá de exercer mais pressão no acelerador, o que significa injetar mais combustível para o motor, aumentando o consumo. No arranque, não tem de esperar que o motor aqueça, nem acelerar em ponto morto. Assim que ligar a ignição, carregue no pedal da embraiagem e arranque em primeira, passando para segunda logo que percorra a distância equivalente ao comprimento de um carro.

40% é o aumento do consumo com uma condução agressiva.

Antes de entrar, verifique a pressão dos pneus. Evite utilizá-los se tiverem pouca profundidade. Também não deve sobrecarregar o automóvel: distribua a carga de modo equilibrado pela bagageira. Se levar uma mala no tejadilho, penalizará bastante o consumo de combustível. Muitos condutores deixam o carro deslizar em ponto morto em zonas com grandes descidas, o que é um erro. Com a caixa desengatada, o motor continua a consumir. A ação correta é manter engrenado o carro e utilizar o motor como travão. Ao retirar o pé do acelerador, não consome combustível. A alimentação é cortada.

´ As contas só se fazem no fim. Vejamos: em condições normais, metade do tempo ao volante é passado em velocidade estável, a cortar a alimentação e a fazer o corte do motor, e a outra metade em paragem, aceleração e travagem. Depois desta formação, pode facilmente dedicar até 70 por cento do tempo ao primeiro período,

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ENTREVISTA

“Os modos ECO ajudam a equilibrar a condução”

Qual é o retrato-tipo dos alunos?A maioria dos formandos são colaboradores de empresas nacionais e multinacionais, das áreas farmacêutica, de combustíveis e de distribuição. Os nossos clientes são na maioria condutores de viaturas ligeiras de passageiros. Cerca de 20 por cento conduzem veículos comerciais.

Quantos alunos já frequentaram a formação? E quanto custa a inscrição?Desde 2011, cerca de cinco mil condutores. O custo varia em função da quantidade de participantes e da tipologia de formação: no caso de ações de quatro horas para grupos de quatro, oito, 12 ou 16 utilizadores, em média, a formação por participante ronda 60 a 75 euros.

Nota algum crescimento no número de formandos?No último ano, motivada pela baixa do preço dos combustíveis, tivemos uma ligeira quebra, de cerca de sete por cento face a 2014. O aumento do ISP poderá fazer a procura voltar a aumentar.

A condução ecoeficiente já faz parte do ensino nas escolas convencionais de condução?Em vigor desde o final de 2015, existe um módulo teórico e prático obrigatório designado “Ecocondução”, que deve ter a duração de uma hora no programa de formação. A CR&M participou na elaboração das fichas técnicas do ensino da condução para as escolas de condução através de um projeto iniciado em 2009.

Como estão os portugueses face aos outros países? Qual a sensibilidade para estas questões?

A Europa já há vários anos que se preocupa com o tema. As normas em vigor para as emissões dos veículos são disso um forte exemplo. No que toca à ecocondução, faz parte da formação de muitas empresas europeias, muito por força da redução de emissões implementada depois da convenção de Quioto.

O que existe no mercado que os consumidores podem aspirar a ter no carro ao nível de tecnologia direcionada à ecologia?Muitos ou quase todos os veículos fabricados depois de 2010 possuem indicadores de ecocondução associados ao computador de bordo. Estes ajudam o condutor a adaptar o estilo para uma condução mais equilibrada. PA

Manter a eficiência ao nível dos consumos e das emissões implica uma condução defensiva e proativa. Foi nesta tecla que foram bater as duas sessões de formação a que António Macedo, da CR&M, nos abriu as portas.

António Macedo, responsável da CR&M, respondeu às nossas dúvidas e abriu-nos as portas a duas sessões de formação.

ou seja, a seguir viagem com uma velocidade estável!Com o apoio do instrutor, depois da primeira volta aumentámos esta fase de 52,6 por cento para 60 por cento, ainda com uma grande margem de melhoria. Os instrumentos de medição não enganam: fizemos claramente um menor número de passagens de caixa e um menor número de travagens e cometemos menos excessos acima das 2000 RPM. E se, em relação ao consumo, quase todos os alunos notam a diferença, a surpresa é geral quando se fala em poupar tempo: nalguns casos, os resultados demonstram que se pode demorar menos a efetuar o mesmo percurso se for adotada a ecocondução. Poupa-se a carteira, ganha-se conforto e não se demora mais, bem pelo contrário.

´Os sistemas avançados de apoio ao condutor obrigarão em breve os centros de formação a repensar a sua atividade. Em cinco a dez anos, as tecnologias de condução autónoma entrarão nestas contas. Para já, temos os nossos truques. Dicas simples como engrenar a mudança mais elevada tão depressa quanto possível e evitar acelerações e travagens súbitas são a base da condução eficiente. A poupança chega aos 20 por cento, o que equivale a mais de 300 euros se fizer 30 mil quilómetros por ano. Se forem dois condutores em casa, poupa 600 euros!

´O resultado não poderia ser melhor. No total, foram oito horas de treino valioso que provou como é fácil poupar e mudar hábitos. Recebemos, com orgulho e um sabor especial a poupança, o certificado de participação. A partir de agora, poupar está nas nossas mãos e só depende das decisões certas em cada trajeto ao volante. PA