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FORMAÇÃO DE PROFESSORES x EXCELÊNCIA PEDAGÓGICA Regina Coeli Barbosa Pereira Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF. Professora Doutora da Faculdade de Educação da UFJF. [email protected] Rosilene de Oliveira Pereira Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF. Professora Doutora da Faculdade de Educação da UFJF. [email protected] Eduardo Vítor Miranda Carrão Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF. Professor Doutor da Universidade de Caratinga – UNEC. [email protected] A formação pedagógica para o exercício do Magistério é imprescindível para o encaminhamento técnico e desenvolvimento da consciência política dos profissionais da educação. Não se pode conceber na atualidade, que o profissional da educação exerça a função docente sem a devida formação profissional. Esta inclui, além do domínio dos conteúdos básicos, específicos oferecidos pelos cursos de graduação, a formação pedagógica para que o professor considere o aspecto técnico, instrumental na organização do ensino, e mais ainda, a dimensão política do ato pedagógico. Isso implica que o professor saiba o por que e o para que fazer de sua ação docente. Nos cursos de formação, o docente deverá receber subsídios teórico- metodológicos que lhe propiciem a compreensão do processo ensino-

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES

x EXCELÊNCIA PEDAGÓGICA

Regina Coeli Barbosa Pereira

Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF.

Professora Doutora da Faculdade de Educação da UFJF.

[email protected]

Rosilene de Oliveira Pereira Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF.

Professora Doutora da Faculdade de Educação da UFJF.

[email protected]

Eduardo Vítor Miranda Carrão Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF.

Professor Doutor da Universidade de Caratinga – UNEC.

[email protected]

A formação pedagógica para o exercício do Magistério é imprescindível

para o encaminhamento técnico e desenvolvimento da consciência política dos

profissionais da educação.

Não se pode conceber na atualidade, que o profissional da educação

exerça a função docente sem a devida formação profissional. Esta inclui, além

do domínio dos conteúdos básicos, específicos oferecidos pelos cursos de

graduação, a formação pedagógica para que o professor considere o aspecto

técnico, instrumental na organização do ensino, e mais ainda, a dimensão

política do ato pedagógico. Isso implica que o professor saiba o por que e o

para que fazer de sua ação docente.

Nos cursos de formação, o docente deverá receber subsídios teórico-

metodológicos que lhe propiciem a compreensão do processo ensino-

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aprendizagem e suas relações; sejam elas: educação-sociedade, finalidade-

objetivos, teoria-prática, conteúdo-forma, ensino-pesquisa, ensino-

aprendizagem, ensino-recursos didáticos, ensino-avaliação, dentre outros.

Esse conhecimento é necessário, para que possa articular o processo de

ensino a partir das determinações sociais, filosóficas, políticas, pedagógicas e

psicológicas.

As finalidades da prática educativa são sociais e contribuem para a

manutenção / ou transformação da prática social mais ampla.

A escola faz parte de uma rede institucional que contém muitas das

possibilidades do futuro da sociedade. Os professores têm que afirmar a sua

identidade num universo complexo de poderes e de relações sociais.

Não se pode alimentar utopias excessivas acreditando que a ação do

professor seja responsável pelo intrincado jogo que acontece na dinâmica da

sociedade. Ele não é o responsável pelas desigualdades sociais. Entretanto,

sua ação competente pode ser um grande diferencial na redução dessas

desigualdades.

A competência técnica do professor aliada ao seu compromisso político

com a transformação social oferece-lhe a possibilidade de contribuir para uma

ordem social mais justa, mais humana.

O professor não pode jamais ignorar os prolongamentos políticos de

sua ação educativa; deve entender-se membro do contexto social e não

apenas um executor de funções dentro de uma escola, de uma sala de aula. É

necessário que tenha uma tomada de posição frente aos interesses sociais em

jogo na sociedade; tenha consciência de sua ação e dos condicionantes que

nela interferem, do sentido de determinadas práticas pedagógicas (dos

conteúdos, dos procedimentos, da avaliação, por exemplo) para encaminhar

sua atividade profissional com metodologias adequadas aos objetivos que

propõe alcançar, de acordo com sua postura política.

A formação pedagógica para o exercício do magistério vai propiciar o

preparo técnico e o desenvolvimento da consciência política do profissional da

educação. Ela deverá oferecer meios para organizar sua prática educativa de

modo reflexivo, consciente. O professor deve desenvolver suas atividades a

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partir de objetivos explícitos, expressos em seus planejamentos de ensino que

são elaborados conforme as possibilidades, necessidades e interesses dos

alunos e as peculiaridades do curso em questão. Precisa ter em mente que

planejar a marcha do processo ensino-aprendizagem se torna uma condição

sine qua non para desenvolver um ensino de qualidade, de acordo com o perfil

de homem desejado.

O progresso da ciência, das técnicas, da cultura, das relações sociais e

políticas modernas tendem a universalizar as suas formas de acesso, de

domínio, de controle e de difusão. A evolução da humanidade traz exigências,

necessidades e potencialidades que se dimensionam para além do espaço de

domínio do indivíduo e que só podem ser compreendidas no universo social. A

escola precisa se constituir em um centro dinâmico de circulação de

conhecimento, de produção de saber, de difusão de novas técnicas de

organização cultural.

Isso vem demonstrar a grande responsabilidade da escola e dos

professores na produção do saber na sua reelaboração e apropriação pelos

alunos. Deve, portanto, contribuir com a sua elevação cultural e científica, a fim

de que possa responder às suas necessidades e interesses mais imediatos,

como também à sua inserção num projeto de mudança da sociedade. Como

local de ampliação de oportunidades educacionais, de (re) elaboração crítica

de conhecimentos a escola deve cumprir finalidades não só pedagógicas, mas

também, sócio-políticas.

A prática pedagógica do professor envolve, portanto, a seleção de

conteúdos que contribuam na elevação cultural de seus alunos. O saber

escolar entendido como conjunto de conhecimentos selecionados entre os

bens culturais disponibilizados pelo patrimônio social e cultural da humanidade,

deve provocar efeitos formativos e instrumentais na formação do aluno. A

seleção de conteúdos a serem desenvolvidos no encaminhamento do processo

ensino-aprendizagem traz um grande diferencial para a formação de

determinado tipo de homem.

O conteúdo de ensino constitui, portanto, matéria responsável pelo

conhecimento do aluno. Refere-se ao conjunto de conhecimentos e envolve

informações, dados, fatos, conceitos, princípios e generalizações acumuladas

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pela experiência do homem em relação a determinado setor da atividade

humana. Mas, não basta que seja apenas ensinado; é preciso que se ligue de

forma indissociável à sua significação humana e social. Daí que o professor

não deve se preocupar apenas com o conteúdo, mas com o contexto no qual

se ensina.

O professor precisa ter domínio dos conteúdos e dos meios de

transmiti-los sob o risco de comprometer seus objetivos sócio-políticos.

O trabalho pedagógico não pode se realizar pela pura transmissão de

conhecimentos e nem pela crença de sua apropriação pelo aluno, de forma

espontânea. É um processo simultâneo de transmissão e assimilação em que o

professor e o aluno devem ser capazes de (re) elaborá-los criticamente para

sua aplicação e compreensão da realidade.

Um programa, nos dias atuais já não pode se constituir de um rol de

assuntos a serem desenvolvidos pelo professor, mas deve funcionar em

atendimento à realidade imediata e à cultura universal. Deve ser desenvolvido

de maneira tal que permita ao aluno adquirir experiências que o leve a um

bem-estar físico, mental e espiritual como também ao domínio do próprio meio.

É preciso refletir sobre os critérios de seleção de conteúdos que têm

sido utilizados pelos professores, lembrando que saber é instrumento de poder.

Daí a importância de dotar o aluno dos conhecimentos necessários, ou seja,

substancializá-los, instrumentalizá-los com as devidas ferramentas culturais a

fim de que possa enfrentar os desafios que lhe impõe a sociedade, com a

devida dignidade.

O conteúdo precisa fazer sentido para o aluno se se deseja que ele

agilize sua atividade mental e se torne parte da sua experiência cognitiva e

fundamento para sua atividade profissional.

Os conteúdos desenvolvidos em um curso de formação de professores

devem ser capazes de oferecer a devida instrumentalização técnica e política a

seus alunos; conteúdos que forneçam o embasamento necessário ao professor

para facilitar o processo de aprendizagem do aluno. Assim, os conteúdos

devem ser considerados prioritários e fundamentais para a aprendizagem;

devem ser relevantes, significativos, vivos e atualizados. Devem ser

trabalhados numa perspectiva crítica e conscientizadora, no enfoque sócio-

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politico. Portanto, devem ser politizados, criticizados, articulados ao momento

histórico-social.

No decorrer do desenvolvimento do conteúdo é que ocorrerá uma

prática real, objetiva, vinculada à vida cotidiana do aluno, tendo em vista a sua

aplicabilidade.

O requisito indispensável a uma prática comprometida do professor

(seu compromisso político), é a consciência de que a prática pedagógica é uma

prática situada, contextualizada, historicizada e, portanto, em íntima relação

com a realidade do contexto do país.

Não se pode pensar a educação hoje como algo neutro em relação ao

mundo. Em sua própria dinâmica, a educação produz caminhos diferenciados

para a ação social concreta em função de interesses e necessidades dos

próprios educandos. Se o que facilita ao homem sair de seu estado de

alienação é a sua conscientização e possibilidade de decisão, pode-se

considerar emergente que os professores proporcionem em suas salas de aula

a emersão dos alunos na construção de uma educação formadora da pessoa

humana.

As estratégias utilizadas pelos professores ao encaminharem a

aprendizagem dos alunos, em situação real e de forma ativa, têm condições de

possibilitar mais efetivamente a apropriação do conhecimento pelo aluno, além

de prolongar os efeitos da aprendizagem, tornando-o duradouro. Para que os

conteúdos sejam assimilados e tenham efeitos permanentes é preciso sua

apropriação ativa pelo aluno, o que não deve ser confundido com um mero

ativismo do fazer pelo fazer.

É importante que o aluno participe do processo de ensino, muitas

vezes ele mesmo provocando sua auto-aprendizagem. Para o professor

exercer uma prática humanizadora, libertadora, precisa acreditar na

capacidade de busca e de aprendizagem do aluno; orientá-lo na apropriação

do conhecimento. Daí a necessidade de metodologias participativas onde

alunos e professores estejam constantemente interagindo, resguardando ao

professor o papel de condutor / facilitador do processo, especialista no

conteúdo e nas adequações. Através de metodologias ativas o professor pode

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estimular a ação do aluno e contribuir com isso para a sua participação cada

vez mais organizada e ativa na sociedade.

Ao desenvolver a prática educativa, o professor deve provocar a

reflexão crítica; ajudar o aluno a perceber a realidade dos fatos em

profundidade; a crescer no seu entendimento, no desenvolvimento de sua

capacidade de compreensão, no conhecimento da realidade; contribuir no

desenvolvimento de sua consciência crítica para que possa processar um

autêntico desvelar da realidade.

Através de metodologias interativas, o professor deve procurar

desenvolver nos alunos uma atitude indagadora, científica frente aos dados da

realidade; desenvolver, ainda, um processo de reflexão-crítica que propicia ao

aluno pensar para além da mera aparência dos fatos, à desvelação do real, à

desmitificação, ou seja, à leitura de sua essencialidade.

O professor deve assegurar a aprendizagem do aluno. Se existe

ensino, subentende-se que deva haver aprendizagem. O professor deve

acompanhar o processo de aquisição dos conhecimentos pelo aluno,

oferecendo-lhe as condições de uma aprendizagem efetiva. Os momentos de

reflexão oferecidos pelos professores, mediados por conteúdos dotados de

realismo e significância, estratégias de ensino participativas e recursos

didáticos adequados, certamente, conduzem os alunos a uma aprendizagem

duradoura, efetiva.

A orientação da aprendizagem tem como principal finalidade propiciar a

modificação do comportamento do aluno, o que leva o professor a uma tomada

de decisão sobre a natureza da mudança que deseja processar. Daí a

importância de indagar: o que quero fazer de meus alunos? A partir dessa

resposta vai organizar atividades que propiciem a consecução dos objetivos

que estabelece alcançar. Vai selecionar procedimentos (métodos e técnicas) e

recursos de ensino para viabilizar o processo ensino-aprendizagem. O

professor vai planejar ações a serem desenvolvidas para colocar o aluno em

contato direto com coisas, fatos ou fenômenos capazes de modificar sua

conduta em função dos objetivos previstos. Eles devem, no entanto, incluir

atividades que possibilitem a participação efetiva do aluno a fim de que torne a

aprendizagem um processo dinâmico. A interação professor-aluno deve incluir

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processos (ou comportamentos) através dos quais o professor irá atuar sobre a

pessoa que aprende, orientando, controlando as condições externas que

favorecem a aprendizagem.

As tarefas propostas aos alunos devem, portanto, ser executadas com

a orientação do professor que deve oferecer estímulos que conduzam os

alunos à aprendizagem, desenvolvendo-lhes a capacidade de processar

informações, lidar com os estímulos do ambiente, facilitar a aquisição da

aprendizagem de conteúdos básicos, necessários para a vida social e

profissional.

Os professores facilitadores organizam as atividades; ouvem o aluno;

observam; fazem perguntas; monitoram o tempo; pedem e fornecem exemplos

e ilustrações; encorajam e recebem contribuições dos alunos; acompanham os

alunos, indistintamente. Mas, acima de tudo oferecem situações-problemas

desafios, capazes de agilizar as “energias cognoscitivas” de seus alunos e

dividem com eles sua mestria por meio de métodos apropriados para tal. A

metodologia didática constitui a sistematização e a racionalização do ensino. O

professor precisa ter domínio dos procedimentos de ensino; fazer uso de

estratégias inteligentes, adequadas, capazes de conduzir todos os alunos à

aprendizagem. Deve constantemente refletir sobre os possíveis efeitos dos

métodos e das técnicas de ensino. Paulo Freire já nos advertia sobre o cuidado

com as técnicas, pois, para ele, a mesma técnica que humaniza o homem pode

desumanizá-lo. Por isso, o professor deve ser criterioso na escolha do método

pois é ele que direciona o ensino. A técnica operacionaliza o método e se

restringe às formas de apresentação da matéria.

O professor, pode, por exemplo, fazer uso da abordagem dedutiva em

que apresenta uma generalização (que pode ser um conceito, uma idéia ou um

fato) e pede os alunos para operacionalizá-lo, experienciá-lo por meio de uma

técnica. Ou, então, pode fazer uso da abordagem indutiva, partindo do

particular para o geral. Nessa abordagem o professor oferece meios para que o

próprio aluno conclua, formule conceitos, chegue por si mesmo a uma

generalização. O grande desafio do ensino é de possibilitar ao aluno se

constituir em construtor ativo, descobridor dos conhecimentos, e, o professor

planejador, facilitador de ambiente de trabalho, cooperativo, colaborativo.

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As características pessoais dos alunos precisam ser analisadas pelo

professor ao selecionar os métodos e as técnicas de ensino, pois nem todos os

alunos chegam à aprendizagem pelo mesmo procedimento ou mesmo tipo de

atividade. Da mesma forma, há de se considerar que, o aluno não aprende,

efetivamente, pelo simples fato de executar uma tarefa. É preciso pensar sobre

o ato que pratica. Nessa perspectiva, é a atividade cientificamente orientada

pelo professor que possui o domínio dos métodos e das técnicas, que irá

favorecer a compreensão do conteúdo aprendido, pelo aluno.

A competência do professor é fator crucial na escolha e manuseio dos

métodos e das técnicas e na adequação às exigências educacionais, políticas

e sociais. O professor que desconhece o valor dos procedimentos pode

obscurecer questões essenciais ao ensino e impedir o verdadeiro progresso do

aluno, seu engajamento e inserção crítica na realidade. Pode contribuir na

formação de indivíduos críticos, criativos, independentes, dinâmicos,

empreendedores, ou não. Os professores devem procurar contribuir no

desenvolvimento de habilidades dos alunos oferecendo situações em que, ao

invés de simplesmente darem respostas memorizadas, procurem respostas,

descubram maneiras de encontrá-las.

Para RONCA (1986) a didática, ao exercer o seu papel específico,

apresenta-se como elo tradutor de posicionamentos teóricos em práticas

educacionais, isto é, serve como mecanismo da tradução prática, de decisões

filosóficas, políticas, epistemológicas de um projeto histórico de

desenvolvimento do povo.

Além de resultados pedagógicos, os métodos e as técnicas de ensino

produzem efeitos políticos e sociais. Cabe ao professor refletir sobre os

possíveis efeitos do trabalho pedagógico na prática social. E deve ser

preocupação dos cursos de formação de professores formar profissionais

competentes técnica e politicamente, capazes de atuar de forma eficiente,

tendo consciência de seu posicionamento filosófico-ideológico. Isso porque

precisa pensar onde está, onde quer chegar e que caminhos deve percorrer

para chegar onde pretende.

Uma grande preocupação que se faz necessária entre os docentes é

articular saber e fazer, teoria e prática, na tentativa de não dicotomizar um ato

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que envolve dois sentidos. É imprescindível trabalhar com situações

diversificadas, pois além de possibilitar ao aluno utilizar suas capacidades e

habilidades, contribui para aplicar os conhecimentos de forma compreensiva e

crítica.

Teoria e prática precisam caminhar juntas durante o desenvolvimento

do processo ensino-aprendizagem, sendo que a ação do aluno deve ser

acompanhada da reflexão sobre ela. A vinculação da teoria visa a crítica da

teoria e da própria prática. Nesse sentido, toda prática precisa ser analisada,

questionada.

A teoria, ou seja, o conhecimento é um guia que dá direcionamento à

ação. A prática é a própria ação, a produção. É a ação que transforma o real de

tal modo que pode negar a própria teoria. Assim, as operações didáticas que o

educando exerce no decorrer de uma aula pode levá-lo a assimilar criticamente

aquela aula, aquele conteúdo e transcender àquela situação, criando novos

conhecimentos, e até mesmo, refletindo sobre suas conseqüências.

A unidade teoria-prática promove alternativas pedagógicas

multidimensionalizadas eliminando a dicotomia contexto histórico e realidade

escolar; entre saber cotidiano e saber escolar; entre os objetivos e a ação

didática, contribuindo para a implantação de uma autêntica práxis pedagógica.

A atividade teórico-prática do homem é que motiva e promove,

criticamente, transformações na realidade objetiva e no próprio homem, além

de assegurar as condições sócio-culturais e as bases materiais de sua própria

existência.

“O ato relacional teoria-prática teoria é, assim, um ato que se supera

continuamente em razão de o homem ser um constante produtor de novos

conhecimentos, de novos significados, de novos fenômenos e de novos

objetos, que acabam se incorporando no modo de ser da humanidade” (RAYS,

1996:37).

A conjugação teoria-prática favorece o surgimento de novos valores e

de novas atitudes na prática pedagógico-educativa e faz processar a

articulação dialética entre a realidade sócio-cultural e as variáveis internas do

espaço escolar.

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Daí tornar-se imperioso que a ação pedagógica escolar promova a

atividade “cognoscitiva-prática” (RAYS, 1996, p. 40), no sentido de garantir

resultados de qualidade em relação ao desenvolvimento integral do educando.

Ao mesmo tempo, que faz superar a fragmentação do processo global da

prática pedagógica não reduzindo o universo escolar a apenas uma de suas

partes.

A conexão correta entre teoria e prática possibilita ao educando

transcender à realidade imediata e penetrar na essência do ato educativo. Isso

significa “realizar operações críticas e criativas, de análise, de síntese, que

esclareçam a dimensão mediata-imediata da ação e do conhecimento contidos

no ato educativo” (RAYS, 1996, p. 47).

A forma como o professor articula teoria e prática permitirá o

enriquecimento da teoria tornando o ensino mais real e concreto. A

organização do trabalho pedagógico envolve a avaliação da aprendizagem do

aluno. Mas, a maneira como os professores encaram essa prática, muitas

vezes a transforma em obstáculo ao encaminhamento do processo ensino-

aprendizagem.

Para Hoffman (1994), os professores não podem dar aulas sem se

preocupar em ver o que o aluno sabe ou não, até que ponto atingiram o que se

desejava alcançar por meio do ensino.

O significado da avaliação na escola nem sempre coincide com o

sentido que se atribui a essa palavra, pois avaliar o aluno é tarefa mais

complexa que dar teste ou notas.

A avaliação é um processo amplo e que envolve definição clara de

objetivos, uso de estratégias capazes de detectar as evidências da

aprendizagem, como também registro e interpretação dessas evidências.

A avaliação é parte do processo ensino-aprendizagem, portanto, um de

seus elementos constitutivos. Não pode se constituir em fragmentação do

trabalho pedagógico, acontecendo de forma autoritária e classificatória. Através

da avaliação, o professor acompanha o desenvolvimento da aprendizagem dos

alunos detectando em que medida os alunos estão se desenvolvendo dos

modos desejados.

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Como controle de qualidade, a avaliação vai expressar a cada passo

do processo ensino-aprendizagem o que está dando certo ou não, ou seja, a

efetividade ou não do processo e, em caso negativo, que mudanças devem ser

feitas para alcançar resultados favoráveis. Ela permite que as falhas ou desvios

sejam evidenciados e corrigidos no momento em que acontecem.

O significado da avaliação deve ser o da percepção do conhecimento

do aluno, seu raciocínio, seus argumentos, sua compreensão e interpretação

dos fatos e situações, na busca de alternativas para uma educação que

promova a autonomia do aluno, sua independência de pensamento. A tarefa

avaliativa serve para perceber como o aluno aprende, porque não aprende, o

que interfere em seus desentendimentos. Serve para sondar as dificuldades

não só do aluno em termos de aprendizagem como também as deficiências do

ensino. A avaliação da aprendizagem se constitui em avaliação do ensino.

É importante que o professor, ao iniciar seu trabalho procure constatar

se os alunos apresentam ou não o domínio dos pré-requisitos necessários; se

possuem os conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas

aprendizagens. Esse diagnóstico vai contribuir com o professor para que possa

oferecer o ensino adequado aos seus alunos, ao seu nível maturacional, propor

atividades a fim de superar as deficiências e elevar sua capacidade

cognoscitiva (Hoffmann, 1994). Romão (1998, p. 49) critica a atual avaliação

escolar afirmando que “nas escolas avalia-se apenas o conhecimento adquirido

pelo aluno, desprezando-se os aspectos de seu amadurecimento físico e

emocional”.

Uma avaliação, com sentido de mediadora, se apóia em princípios da

teoria cognitivista acreditando que o desenvolvimento do indivíduo se dá por

estágios evolutivos a partir de sua maturação e vivências. Acredita que a

aprendizagem acontece numa sucessão de contínuas aquisições em

conformidade aos estímulos que o meio oferece. O desenvolvimento se dá por

fases as quais dependem sempre de suas antecessoras. Isso significa que o

professor precisa considerar os estágios de desenvolvimento cognitivo do

aluno sob o risco de não se viabilizar adequadamente o processo de ensino-

aprendizagem comprometendo a avaliação. Daí que as respostas dos alunos

devem ser respeitadas, considerando suas possibilidades em relação às fases

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de seu desenvolvimento. O erro se transforma em expressão da realidade e se

torna “erro construtivo” (Hoffmann, 1994). A compreensão do erro é o

fundamento para sua superação, para o desenvolvimento e aprendizagem do

educando. As tarefas avaliativas se transformam em elementos essenciais para

conhecimento do aluno, para se compreender qual é a dimensão de seu

entendimento. Daí que a intervenção do professor deve ser retificadora e não

coercitiva, ao mesmo tempo contribuindo para a verdadeira aprendizagem do

aluno. O erro deve ser ponto de partida para o trabalho pedagógico do

professor e fonte de desenvolvimento do aluno. O tempo de reflexão do

professor “não é o de olhar para trás, explicando o que o aluno não fez, não

alcançou ou não sabe, mas o de projetar o futuro, tempo de prospecção

(Vygotsky apud Hoffmann, 2005). Por isso, a prática avaliativa requisita

envolvimento do professor com o aluno, observação sobre as formas de

aprender, de fazer, de construir, de ser.

É importante também que o professor envolva sempre o aluno no

processo de avaliação, permitindo-lhe analisar os resultados de sua

aprendizagem. Por meio da avaliação, o aluno pode perceber suas falhas,

necessidades e progressos. A avaliação deve se processar como uma

comprovação, para o aluno, do seu progresso.

O professor precisa permitir que o aluno participe do processo de

avaliação através, por exemplo, da auto-avaliação, da avaliação coletiva e

compartilhada. Essa avaliação é importante na medida em que se acredita que

a avaliação não deve acontecer de maneira individualizada, segmentada e

isolada. Com isso, o professor deve ensinar ao aluno tanto a avaliar como a

receber a avaliação do outro, o que pode contribuir para que o aluno tenha uma

percepção mais autêntica do seu julgamento e do seu saber e que possa

investir mais esforços na busca do conhecimento.

É preciso que o professor adquira novo olhar, nova forma de encarar o

processo avaliativo, veja esse processo de forma ampla e multidimensional,

veja o aluno como sujeito único e singular. É preciso, portanto, ressignificar a

prática avaliativa, torná-la participativa, dialógica, formadora do aluno e de

desenvolvimento de seu pensamento lógico-crítico-reflexivo.

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O professor precisa ter consciência de que a prática avaliativa é um

dos instrumentos de manutenção do “status quo” da sociedade e de exclusão

social do aluno. A avaliação pode se tornar uma das armas mais perigosas de

discriminação e exclusão social. Por ela, o aluno passa a ser considerado

incompetente, incapaz, marginalizado pelo sistema e pela sociedade. O

processo avaliativo faz com que o aluno se torne rejeitado pelo sistema

educacional e a conseqüência mais imediata é a evasão do processo ensino-

aprendizagem (o aluno deixa de participar, de aprender por introjetar uma

incapacidade que lhe é imposta) e a evasão escolar (em que o aluno abandona

fisicamente a escola).

Na atualidade, a avaliação educacional, em muitas escolas, tem se

constituído em um dos mais sérios instrumentos do aproveitamento de

oportunidades educacionais e sociais e de dissimulação de um processo de

seleção, coberta por um manto de ingenuidade e de neutralidade. Ela tem

legitimado a cultura da classe dominante favorecendo aos educandos que

pertencem a essa classe e se tornando um fator de desigualdade social.

Declara estar medindo os méritos naturais do educando, mas na verdade o que

está medindo é o resultado do processo de socialização (SOARES, 1978),

reproduzindo a dinâmica da sociedade.

É preciso superar a avaliação classificatória que é utilizada

historicamente e fazer dela o mecanismo de controle dinâmico da qualidade da

educação. Realizar uma avaliação libertadora com função diagnóstica e

formativa considerando o aluno como um “devir” constante, reconhecendo-o

como um sujeito histórico e contribuindo no seu desenvolvimento pessoal e

social. A avaliação escolar precisa, realmente, se constituir em parte do

processo ensino-aprendizagem e cumprir as finalidades que lhe são

específicas.

CONCLUSÃO

A Pedagogia, considerada como “Ciência da Educação”, com o passar

do tempo tem modificado seu olhar em relação à educação e ao processo

ensino-aprendizagem. Hoje em dia reconhece a relação entre educação e

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sociedade e analisa a prática docente considerando seus possíveis efeitos na

formação do indivíduo e da sociedade.

O educador da atualidade não pode prescindir dessa análise no

momento em que organiza e encaminha seu trabalho estabelecendo objetivos

pedagógicos e políticos para a sua prática.

Competência técnica e compromisso político se articulam de tal

maneira que o professor por mais que queira esconder sua neutralidade em

relação ao ato pedagógico, sua ação, se expressa nas posturas que o aluno

adota na prática social evidenciando seu posicionamento filosófico-ideológico.

Quando o professor sabe, ele ensina e o aluno aprende e certamente terá um

posicionamento diferenciado na sociedade; como também pode acontecer o

contrário.

A formação pedagógica, para o exercício do magistério se torna

imprescindível para que o professor tenha domínio das teorias de ensino e de

aprendizagem, aprenda organizar o processo educativo de forma adequada,

planejada, refletida, crítica; que desenvolva a habilidade de pensar sobre os

possíveis efeitos dos métodos e das técnicas de ensino (domesticação /

libertação); que se prepare pedagógica e metodologicamente para oferecer ao

aluno um ensino de qualidade (com instrumentalização do “como fazer”), mas,

que acima de tudo se conscientize de que a prática pedagógica é política a fim

de que possa se responsabilizar pelos resultados de seu trabalho pedagógico.

Já não se pode mais, nos dias atuais, permitir que os professores

sejam apenas transmissores ingênuos, acríticos dos conhecimentos. Uma

sociedade democrática requisita professores que saibam “como fazer”, “por

que fazer” e “para que fazer”, para qual sociedade educar. E, só em cursos que

ofereçam formação pedagógica os professores encontrarão orientações que

lhes propiciem a devida competência técnica e favoreçam na abertura de seus

horizontes políticos.

Referências Bibliográficas

HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da

pré-escola à universidade. 4. ed. Porto Alegre: Educação e Realidade, 1994.

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