formação das almas

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Universidade Estadual do Norte do Paraná Resenha do livro: Formação das Almas – José Murilo de Carvalho José Murilo de Carvalho, nascido em 1939 em Minas Gerais, formou-se doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Standford, eleito em 2004 para a Academia Brasileira de Letras, atualmente é professor titular de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em sua obra intitulada “A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil” o autor retoma a afirmativa de que houve a falta de participação popular na implantação da República tratada no título “Os Bestializados”, e ainda indaga sobre a participação de “setores politicamente mobilizados” na consolidação do regime. No início da obra ele analisa três correntes ideológicas que se conflitam acerca da definição ideológica do movimento no novo regime, todas as três exportam ideologias consolidadas em outro momento histórico e o caso do liberalismo a americana, o jacobinismo à francesa, e o positivismo, todos os três de caráter utópico e tentavam se afirmar dentro da recém-criada República. Dessas correntes ideológicas possíveis para a implementação de um governo republicano, o novo regime poderia aderir as qualquer das três diretrizes, que contavam com dois conceitos divergentes de liberdade. A liberdade com a participação popular na política do Estado (conceito jacobino), e a liberdade representativa com um líder eleito na qual o povo tem garantida sua liberdade religiosa, liberdade de propriedade de opinião e liberdade individual (Positivistas e Liberalistas). O José Murilo salienta que é de grande importância analisarmos de que forma esses paradigmas utilizados pelas elites intelectuais, e também de que forma a população em geral comportam-se diante dos discursos

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Resenha - Formação Das Almas- José Murilo de Carvalho

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Universidade Estadual do Norte do Paran

Resenha do livro: Formao das Almas Jos Murilo de Carvalho

Jos Murilo de Carvalho, nascido em 1939 em Minas Gerais, formou-se doutor em Cincias Sociais pela Universidade de Standford, eleito em 2004 para a Academia Brasileira de Letras, atualmente professor titular dehistria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Em sua obra intitulada A Formao das Almas: O Imaginrio da Repblica no Brasil o autor retoma a afirmativa de que houve a falta de participao popular na implantao da Repblica tratada no ttulo Os Bestializados, e ainda indaga sobre a participao de setores politicamente mobilizados na consolidao do regime. No incio da obra ele analisa trs correntes ideolgicas que se conflitam acerca da definio ideolgica do movimento no novo regime, todas as trs exportam ideologias consolidadas em outro momento histrico e o caso do liberalismo a americana, o jacobinismo francesa, e o positivismo, todos os trs de carter utpico e tentavam se afirmar dentro da recm-criada Repblica. Dessas correntes ideolgicas possveis para a implementao de um governo republicano, o novo regime poderia aderir as qualquer das trs diretrizes, que contavam com dois conceitos divergentes de liberdade. A liberdade com a participao popular na poltica do Estado (conceito jacobino), e a liberdade representativa com um lder eleito na qual o povo tem garantida sua liberdade religiosa, liberdade de propriedade de opinio e liberdade individual (Positivistas e Liberalistas). O Jos Murilo salienta que de grande importncia analisarmos de que forma esses paradigmas utilizados pelas elites intelectuais, e tambm de que forma a populao em geral comportam-se diante dos discursos polticos derivados desses paradigmas. O autor deixa claro assim como em sua outra obra intitulada Os Bestializados que a sociedade brasileira que naquele momento no constitui uma nao homognea, no tem sentimento de unidade ou de sem identidade nacional e que tem que se adequar a uma nova realidade e tambm aos novos modelos de polticos vindos de alm mar.A ausncia de um povo, que o autor aborda no uma falta de populao no sentimento matemtico, por assim dizer, mas falta povo do que concerne na falta de unidade, de identidade nacional, na falta de coletividade e conscientizao da populao sobre os acontecimentos, ou seja em sua maioria o que se configurava era inoperncia poltica do povo. No momento posterior a 15 e novembro de 1889 a maioria da populao, estava ainda muito mais ligada monarquia paternalista que havia sucumbido, do que com os ideais democrticos e libertadores importados de terras alheias.Nesse contexto o autor aponta a necessidade por parte das trs correntes ideolgicas em tempos de implementao do novo regime, a criao de smbolos e alegorias para a constituio de um coletivo social, uma identidade que pudesse englobar a sociedade como um todo e criar um imaginrio social comum, de acordo com valores republicanos recm-importados. Para tanto se arquitetaram diferentes verses oficiais devido necessidade que a nova repblica tinha de ter uma histria oficial, a fim de se criar um elemento que se caracterizasse como unificador da sociedade, o mito de origem, ao qual o autor apresenta trs vertentes a positivista a liberal e a militar, para cada dessa apresenta-se um heri em contraposio aos outros heris apresentado que teriam como intento atravs da figura de um mrtir criar uma identidade que englobasse toda a sociedade. As trs verses apresentadas pelas correntes ideolgicas que permeavam o cenrio no novo regime eram: a repblica militar de Deodoro, a repblica sociocrtica de Benjamin Constant e a repblica liberal de Quinto Bocaiva. A linha positivista apresentou como seus heris, salvadores do povo Benjamim Constant, Jos Bonifcio e Tiradentes, enquanto que os militares apresentam como seu salvador da ptria o Marechal Deodoro da Fonseca e por fim a elite civil que estava aqum dos ltimos acontecimentos.Embora tenham sido utilizadas vrias estratgias por parte de cada uma das vertentes, nenhuma delas conseguiu subsistir nas veias da sociedade brasileira e nenhum de seus heris galgaram-se como o mito fundador desta sociedade, pois nenhumas das trs correntes conseguiram alcanar o elemento necessrio para tal consolidao, que era o apelo popular, as massas no os afirmavam como mitos elas no viam neles os tais propostos heris da unificao do povo. Este mrtir de surgir dentre o seio popular, e representado por Tiradentes, ele foi o smbolo que se mostrou mais capaz de promover a unificao social a tal falada universalidade. Ele era visto como o heri pelo povo, um mrtir que perpassa desde o processo de abolio da escravatura, a Independncia e a Proclamao da Repblica. Tambm possua com um forte apelo religioso, e cuja vida era muitas vezes associada com a vida do prprio Cristo na terra, isso tudo em uma sociedade de um predomnio do catolicismo inveterado.Mas que depressa as correntes republicanas trataram de tentar utilizar a figura de Tiradentes como curador de sua ideologia, havendo fervorosa disputa entre as trs correntes pelo uso da alegoria do mrtir na consolidao de seu modelo de repblica e unificao popular trazendo para a figura de Tiradentes um carter ambguo que se consolidaria como heri da nao. O autor tambm aborda a manipulao da figura feminina como personificao da Repblica, como elemento simblico possibilitador da criao de uma aura favorvel na constituio de uma representao de uma alegoria, mesmo no tendo a mulher sido ativa na consolidao da Repblica, ela viria remontar alegorias utilizadas na Frana e Roma e seria amplamente utilizada pelos artistas e at mesmo pela igreja afim de formar smbolo no imaginrio popular que pudesse concretizar a Repblica na conformao social. Jos Murilo ainda destaca outros agentes que foram criados em consonncia com a criao de uma unidade, a bandeira nacional e tambm o hino que tambm passaram pelo processo de articulao dentre das correntes que disputavam a autoria de criao de um elemento englobante que visava unificar o povo segundo referncias estrangeiras.No ultimo captulo o autor d a nfase a forma que os positivistas atuaram em todos os momentos da conformao do mito popular acerca do novo regime e de que forma agiram para inculcar no imaginrio popular, preceitos positivistas para modelo de uma Repblica.O autor termina afirmando que: os ideais republicanos falharam por falta de apelo popular de engajamentos das massas, que no participava do cenrio poltico e tambm por no conseguirem se desvencilhar de dogmas imperiais e religiosos. E finaliza apontando dois mitos que conseguiram de alguma forma subsistirem no imaginrio popular seria justamente foi o multifacetado Tiradentes que embora tenha agradado gregos e troianos no perdeu sua identidade e Aparecida que melhor conseguiu dar sentido a comunho nacional e que despertou comoo em uma grande parte da populao, e segundo Jos Murilo [...] na ausncia de um civismo republicano, s poderia vir de fora do domnio da poltica. Tiradentes esquartejado nos braos de Aparecida: eis o que seria a piet cvico religiosa brasileira [...](1990,p.142) A obra de Jos Murilo nos deixa claro a intencionalidade por de trs da "propaganda" de constituio da Repblica, atravs de seu livro refletir que por mais que esses ideais utpicos no tenham conseguido penetrar nas "veias" da sociedade brasileira no momento da consolidao da Repblica, ela ainda permeia o imaginrio popular, com a alegoria de Aparecida, mesmo que j desvinculada do carter que assumiu naquele periodo.Tambm atravs dessa obra podemos observar que mesmo em pocas posteriores e at mesmo em dias atuais essa mesma ttica de criao de cones para comoo popular.